Texto de Luiz Gonzaga Motta

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  • 8/12/2019 Texto de Luiz Gonzaga Motta

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    A Anlise Pragmtica da Narrativa JornalsticaLuiz Gonzaga Motta*

    Resumo: O artigo advoga que narrativas so dispositivos argumentativos que utilizamosem nossos jogos de linguagem. Prope o estudo das narrativas como estratgiasorganizadoras do discurso jornalstico. Sugere a anlise da construo de significadosatravs da reconfigurao do acontecimento jornalstico, seus conflitos, episdios

    funcionais, personagens, estratgias de objetivao (efeitos de real) e subjetivao (efeitospoticos) e do contrato cognitivo entre jornalistas e audincia. Argumenta que a anlisepragmtica da narrativa jornalstica permite a interpretao simblica e revelametanarrativas culturais pr-jornalsticas.

    Palavras chave: narrativa jornalstica, pragmtica, narratologia, efeitos de sentido

    * Luiz Gonzaga Motta jornalista, mestre pela Indiana University (USA), doutor pelaUniversity of Wisconsin (USA), estgio de ps-doutorado na Universidade Autnoma deBarcelona (Espanha). pesquisador do CNPq, coordenador do Ncleo de Estudos sobreMdia e Poltica (NEMP), do Ncleo de Estudos da Narrativa (NENA) e professor daUniversidade de Braslia, onde desenvolve pesquisas sobre as narrativas jornalsticas,

    histria do presente e a construo social da realidade.

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    I.Introduo: mdia e comunicao narrativaA narrativa traduz o conhecimento objetivo e subjetivo do mundo (o conhecimento

    sobre a natureza fsica, as relaes humanas, as identidades, as crenas, valores e mitos,etc.) em relatos. A partir dos enunciados narrativos somos capazes de colocar as coisas emrelao umas com as outras em uma ordem e perspectiva, em um desenrolar lgico e

    cronolgico. assim que compreendemos a maioria das coisas do mundo.Isso quer dizer que a forma narrativa de contar as coisas est impregnada pelanarratividade, a qualidade de descrever algo enunciando uma sucesso de estados detransformao. a enunciao dos estados de transformao que organiza o discursonarrativo, que produz significaes e d sentido s coisas e aos nossos atos.

    Ao estabelecer seqncias de continuidade (ou descontinuidade), as narrativasintegram aes no passado, presente e futuro, dotando-as de sequenciao. O relatotemporal perspectiva os estados e as aes em momentos histricos (mudanas evolutivas).Psiclogos culturais afirmam que a nossa tendncia para organizar a experincia de formanarrativa um impulso humano anterior aquisio da linguagem: temos uma

    predisposio primitiva e inata para a organizao narrativa da realidade (J. Bruner, 1998).

    A nossa biografia, por exemplo, no apenas uma autoperceo do nosso eu. Ser um eucom passado e futuro no ser um agente independente, mas estar imerso em relaes, emseqncias globais dirigidas a metas (K. Gergen, 1996).

    As narrativas miditicas podem ser tanto fticas (as notcias, reportagens,documentrios, transmisses ao vivo, etc.) quanto fictcias (as telenovelas, videoclipesmusicais, filmes, histrias em quadrinho, alguns comerciais da TV, etc.). Produtosveiculados pela mdia exploram narrativas fticas, imaginrias ou hbridas procurandoganhar a adeso do leitor, ouvinte ou telespectador, envolve-lo e provocar certos efeitos desentido. Exploram o ftico para causar o efeito de real (a objetividade) e o fictcio paracausar efeitos emocionais (subjetividades). Jornalistas, produtores e diretores de TV ecinema, roteiristas e publicitrios sabem que os homens e mulheres vivem narrativamente

    o seu mundo, constroem temporalmente suas experincias. Por isso, exploram com astciae profissionalismo o discurso narrativo para causar efeitos de sentido.

    II. A anlise pragmtica e cultural da narrativa

    A narratologia a teoria da narrativa. Abarca tambm os mtodos e osprocedimentos empregados na anlise das narrativas humanas. , portanto, um campo eum mtodo de anlise das prticas culturais. Como a concebemos aqui, a narratologia umramo das cincias humanas que estuda os sistemas narrativos no seio das sociedades.Dedica-se ao estudo das relaes humanas que produzem sentidos atravs de expressesnarrativas, sejam elas factuais (jornalismo, historia, biografias) ou ficcionais (contos,filmes, telenovelas, videoclipes, histrias em quadrinho). Procura entender como ossujeitos sociais constroem os seus significados atravs da apreenso, compreenso eexpresso narrativa da realidade.

    Os discursos narrativos miditicos se constroem atravs de estratgias comunicativas(atitudes organizadoras do discurso) e recorrem operaes e opes (modos) lingsticose extralingsticos para realizar certas intenes e objetivos. A organizao narrativa dodiscurso miditico, ainda que espontnea e intuitiva, no aleatria, portanto. Realiza-seem contextos pragmticos e polticos e produzem certos efeitos (consciente ouinconscientemente desejados). Quando o narrador configura um discurso na sua formanarrativa, ele intro0duz necessariamente uma fora ilocutiva responsvel pelos efeitos quevai gerar no seu destinatrio.

    Assim, a comunicao narrativa pressupe uma estratgia textual que interfere naorganizao do discurso e que o estrutura na forma de seqncias encadeadas. Pressupe

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    tambm uma retrica que realiza a finalidade desejada. Implica na competncia e nautilizao de recursos, cdigos, articulaes sintticas e pragmticas: o narrador investe naorganizao narrativa do seu discurso e solicita uma determinada interpretao por partedo seu destinatrio.

    A partir desse entendimento nos damos conta de que as narrativas miditicas no so

    apenas representaes da realidade, mas uma forma de organizar nossas aes em funode estratgias culturais em contexto. As narrativas e narraes so dispositivos discursivosque utilizamos socialmente de acordo com nossas pretenses. Narrativas e narraes soforma de exerccio de poder e de hegemonia nos distintos lugares e situaes decomunicao. O discurso narrativo literrio, histrico, jornalstico, cientfico, jurdico,

    publicitrio e outros participam dos jogos de linguagem, todos realizam aes eperformances scio-culturais, no so s relatos representativos.

    Desde esse ponto de partida, a narratologia no pode ser concebida como um ramodas cincias da linguagem apenas nem um desdobramento da teoria literria. Torna-se umaforma de anlise e um campo de estudo antropolgico porque remete cultura dasociedade e no apenas s suas expresses ficcionais. A narratologia passa a ser utilizada

    no somente para a crtica de romances, contos, novelas como ocorre predominantemente,mas como um procedimento analtico para compreender os mitos, as fbulas, os valoressubjetivos, as ideologias, a cultura poltica inteirade uma sociedade.

    III. Procedimentos de anlise pragmtica da narrativa jornalstica

    Existem muitas notcias e reportagens que so narrativas integrais, histrias mais oumenos completas, com princpio, meio e fim. Podem ser isoladamente analisadas comonarrativas fechadas porque possuem uma unidade integral. Entretanto, a nossa opo aqui pela anlise de um conjunto de notcias isoladas sobre um mesmo tema publicadas diaaps dia, que aparentemente no possuem narratividade. Propomos integrar essas notciasisoladas em um conjunto significativo solidrio, como uma histria nica: um

    acontecimento. Juntar o que a dinmica da atividade jornalstica separa. Reunir as notciasdirias em episdios e seqncias maiores, como se fossem um acontecimento nico esingular.

    A realidade recriada adquire ento nova estrutura, clmax e desfechos de histriasque se encaixam em uma narrativa indita e completa. As notcias unitrias passam a ser

    parte de um acontecimento integral. assim que percebemos e construmos, atravs damemria, a nossa realidade no mundo da vida: a vida se transforma em arte (em narrativasdramticas) e a arte se converte em um veculo atravs do qual a realidade se tornamanifesta. Construmos ento as nossas identidades, a nossa biografia, a nossa histria, onosso passado, presente e futuro.

    Tomar o texto como ponto de partida e buscar as conexes no prescinde de umaanlise do contexto, entretanto. O texto e suas significaes so apenas os nexos entre a

    produo e o consumo, entre o ato de enunciar e o ato de interpretar (atos de algum, dealgum sujeito). So apenas a forma que assume a relao entre atores humanos histricos.Concebemos a anlise da narrativa como caminho rumo ao significado porque osignificado uma relao, no h significado sem algum tipo de troca. As narrativas soformas de relaes que se estabelecem por causa da cultura, da convivncia entre seresvivos com interesses, desejos, vontades e sob os constrangimentos e as condies sociaisde hierarquia e de poder.

    Quem narra tem algum propsito ao narrar, nenhuma narrativa ingnua. A anlisedeve, portanto, compreender as estratgias e intenes textuais do narrador, por um lado, e

    o reconhecimento (ou no) das marcas do texto e as interpretaes criativas do receptor,por outro lado. A nfase est no ato de fala, na dinmica de reciprocidade, na pragmtica

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    comunicativa, no na narrativa em si mesma. Pretende-se observar as narrativasjornalsticas como jogos de linguagem, como aes estratgicas de constituio designificaes em contexto, como uma relao entre sujeitos atores do ato de comunicao

    jornalstica. A narrativa no vista como uma composio discursiva autnoma, mascomo um dispositivo de argumentao na relao entre sujeitos.

    Nos procedimentos anunciados adiante propomos uma perspectiva fenomenolgicaque procura interpretar dinmica e sistematicamente a essncia do fenmeno observado,compreender as diversas camadas significativas do objeto emprico como objetointencional de nossa percepo. Neste processo, no h objetos isolados, tudo semprerelacionado ao todo no qual ganha significao e para o qual contribui, tornando-o maissignificativo. 1 A ordem que percorremos abaixo no precisa nem deve ser seguida peloanalista, ela no um modelo nem uma ordem gradual de aproximao, atende apenas aexigncia da exposio.

    1. Movimento: Recomposio da intriga ou do acontecimento jornalsticoAlguns assuntos aparecem e permanecem no noticirio por perodos consecutivos

    curtos ou longos. Outros surgem, se interrompem por alguns dias, semanas ou meses evoltam novamente ao noticirio mais adiante, de acordo com a seleo decorrente dosvalores notcia. Diferente dos romances ou filmes, onde as histrias so integrais e o ciclocronolgico da intriga se completa, as notcias dirias so fragmentos desconexos desentido, dificilmente contam uma histria completa. As notcias so assim, fragmentosdispersos e descontnuos de significaes parciais..

    Sem uma histria completa a anlise da narrativa impossvel. Como proceder entose as notcias so parcelas descontnuas de significao? Na anlise da narrativa

    jornalstica preciso, pois, conectar as partes, identificar a serialidade temtica e oencadeamento narrativo cronolgico para compreender o tema como sntese (compreendera diegese ou a projeo de um mundo a partir do enredo e das sugestes que dele

    emanam). 2Para reconstituir de forma coerente uma narrativa jornalstica o analista precisa

    observar a continuidade e justaposies temticas a partir da recorrncia de um mesmotema nas notcias isoladas. Essa recorrncia pode ser procurada tambm nas circunstncias,

    personagens, cenrios, situaes e nos encaixes (ganchos) da sucesso de estados detransformao. Algumas vezes, a determinao do incio e do final dessa nova narrativa

    precisa ser decidida pelo analista de forma mais ou menos arbitrria. Mas, sempre demaneira rigorosa, coerente e justificada.

    Essa nova sntese deve ser reescrita como uma nova histria, como umacontecimento jornalstico singular. O analista precisar recompor retrospectivamente oenredo completo da histria. Essa recomposio constituir uma nova sntese, uma nova

    1 Como observa apropriadamente Alfred Schutz (1995,120/1), a fenomenologia deve elaborar uma teoriamuito importante da semntica. A fenomenologia, diz ele, no estuda os objetos mesmos, mas sim estinteressada em seus significados. Para ele, necessrio distinguir com nitidez o objeto do mundo externo queser interpretado como um signo, seu significado, seu significado dentro do sistema do universo do discurso,seu significado especfico dentro do contexto que se est considerando.2Pires afirma que dois mecanismos intervm na narrativa: a narrao (o discurso que formaliza a evocaode um mundo) e a diegese (a projeo de um mundo considerado como real que vai servir de referente). Eleapresenta trs exemplos: linguagem jornalstica: h uma pedra no meio da estrada, impedindo o trnsito;linguagem potica: no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho; linguagemnarrativa (do romance ficcional): A viagem no pode prosseguir porque o motorista encontrou uma pedra

    no meio do caminho. O primeiro referente corresponde ao real/verdadeiro; o segundo, uma verdademeramente potica; o terceiro irrealidade ficcional admitida como real. Orlando Pires (1981), Manual deteoria e tcnica literria, Presena, Rio de Janeiro.

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    histria diferente e mais completa que as notcias isoladas. Chamamos essa snteserecomposta pelo analista de acontecimento jornalstico, que ir reorientar toda a anlise a

    partir de ento. importante observar como operam os encaixes (ganchos) que estruturam o

    encadeamento dos incidentes fragmentados em seqncias cronolgicas coerentes. Eles

    podem revelar aspectos interessantes das estratgias narrativas jornalsticas e dos efeitos desentido pretendidos: retardamento do desfecho, ritmo da narrao, explicaes causais eoutras atitudes organizativas do texto que vo indicar como ele pretende ser compreendido

    pelo receptor (as intenes do narrador).Com a reconfigurao das seqncias em um enredo coerente, o que antes parecia

    desconectado vai ganhando continuidade e coeso, vai surgindo uma nova intrigacomplexa que confere ao objeto outra significao. Essa re-significao surge notranscorrer da montagem da serialidade do enredo, da identificao do fundo moral oufbula que vai se tornando cada vez mais ntida e do descobrimento das estratgiasnarrativas utilizadas em cada caso ou situao comunicativa.

    Na medida em que reconstri a intriga, esse primeiro passo indutivo se constitui em

    uma apropriao analtica do objeto. Ao recompor a histria, privilegiam-se certoselementos de composio, como a sintaxe e a lgica narrativa decorrentes da estratgiatextual. Pode-se j observar de maneira sistemtica e rigorosa as conexes e associaesque o objeto (a recomposio narrativa) vai sugerindo. Essa remontagem da histria

    permite a observao de um fundo de significaes parciais da narrativa que modificam oobjeto observado. medida que se remonta a intriga reconstri-se o objeto. O ato analticoem curso uma interpretao reflexiva, uma experincia em si mesmo.

    2. Movimento: identificao dos conflitos e da funcionalidade dos episdiosO conflito o elemento estruturador de qualquer narrativa, particularmente da

    narrativa jornalstica, que lida com rupturas, descontinuidades e anormalidades (o

    discordante no dizer de P. Ricoeur). O conflito o ncleo em torno do qual gravita tudo omais na narrativa. So os conflitos que abrem o espao para as novas aes, seqncias eepisdios, que prolongam e mantm a narrativa viva. a expectativa em torno dodesenlace das histrias que mantm as notcias nos jornais ou telejornais.

    A situao inicial de uma narrativa jornalstica , quase sempre, um fato deconotaes dramticas imediatas e negativas, que irrompe, desorganiza e transtorna. ,

    portanto, uma situao dramtica desde o incio, um conflito ou situao problema quedesestabiliza, rompe o equilbrio, traz ambigidades. Pode ser a falta ou o excesso dealguma coisa, pode ser uma inverso ou transgresso, pode ser um conflito manifesto ouimplcito: um crime, um golpe, uma infrao, um choque, um rompimento, umaanormalidade climtica, a ecloso de um fenmeno fsico ou social de impacto.

    H sempre pelo menos dois lados em confronto em quase todo acontecimentojornalstico. H sempre interesses contraditrios, algo que se rompe a partir de algumequilbrio ou estabilidade anterior e que gera tenso. Em torno do ciclo equilbrio-desequilibrio gira a narrativa jornalstica. Cabe ento ao analista identificar os conflitos

    principais e secundrios da histria recomposta (da nova sntese). Eles podem ser polticos,econmicos, psicolgicos, familiares, jurdicos, policiais, etc. O analista trabalha agoracom a sua prpria recomposio do acontecimento, que confrontar permanentemente comas notcias originais para construir sua interpretao.

    A identificao dos conflitos permitir discernir e compreender a funcionalidade dosepisdios do novo enredo, que podem reunir uma ou muitas notcias unitrias e no

    necessariamente guardam relao direta com a ordem das notcias que lhes deram origem.Episdios so unidades narrativas analticas intermedirias que relatam conjuntos de aes

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    relativamente autnomos (motivos) correspondentes s transformaes no transcorrer dahistria. Conectam-se ao todo, no qual significativamente se inserem. Devem recebernomes para designar essa funcionalidade. Por exemplo, situao estvel (equilbrio),complicao, clmax, resoluo, vitria, desfecho, punio, recompensa e assim por diante.Assemelham-se s funes na anlise da narrativa literria.

    O termo funo foi introduzido por V. Propp e modificado posteriormente por outrosautores. 3 Refere-se a aes levadas a cabo por personagens que desempenham um papelfuncional na histria. o ncleo bsico da progresso narrativa. Nos romances e contos,

    pode estar em uma nica frase, em um pargrafo ou em vrias pginas. Na narrativajornalstica essas funes s tornam-se claras aps a recomposio da histria peloanalista. Podem estar em uma nica notcia ou em um conjunto delas.

    Na narrativa jornalstica normal a histria comear pelo seu clmax, um corterepentino in media res na situao estvel. Os fatos saltam sobre o leitor. Por isso, comum os jornais terem de explicar o que est acontecendo (as infografias, os entenda ocaso, etc.). Observar que essas situaes correspondem, com algumas particularidades, analepse (flashback) das narrativas ficcionais. So reforos para memria cultural do

    receptor, conexes que faltam e precisam ser trazidas para a compreenso das relaes. Htambm depoimentos de autoridades, tcnicos, etc., que recuperam fragmentos anterioresde significao necessrios reconstituio semntica do enredo. So estratgias delinguagem, movimentos retrospectivos para recuperar a memria de eventos ou episdiosanteriores ao presente da ao e tm uma funcionalidade orgnica na histria. Por isso,merecem ateno especial do analista.

    Na anlise da narrativa jornalstica particularmente importante identificar e analisara funcionalidade dos episdios de suspense que deixam significados suspensos, retardam aconcluso da histria, aumentam a tenso e as expectativas do leitor ou ouvinte. 4 Istorevelar estratgias textuais pouco claras sem o processo analtico. O jornalismo vive decriar expectativas. Enquanto permanecem abertos, esses episdios capturam o esprito,

    seqestram e reforam o contato com o leitor. Observar especialmente como oretardamento (enquanto estratgia) cria tenso, gera expectativas e estabelece um tipo decomunicao singular.

    3 Movimento: a construo de personagens jornalsticas (discursivas)

    3Propp, Vladimir: Morfologia do conto maravilhoso (1984), Forense, Rio de Janeiro. Propp analisou contosmaravilhosos russos procurando encontras constantes cientficas que pudessem ser aplicadas universalmenteem anlises da narrativa. Para ele, por funo compreende-se o procedimento de um personagem, definidodo ponto de vista de sua importncia para o desenrolar da ao (pg 26). As funes seriam limitadas em

    nmero. Ele enumerou 31 funes. Por exemplo: (1) um dos membros da famlia sai de casa; 2) impe-se aoheri uma proibio; 3) a proibio transgredida; e assim por diante. Sua proposta inspirou e continuainspirando inmeros estudos, embora tenha sido bastante modificada e ampliada posteriormente. Greimasreduziu as 31 funes de Propp a 20 (ausncia, proibio, procura, decepo, vilania, ordem, partida, prova,recepo de adjuvante, deslocamento espacial, combate e vitria, marca, dissoluo, retorno, perseguio elibertao, chegada incgnita, atribuio de tarefa e logro, reconhecimento, revelao do traidor ou heri,

    punio ou prmio (casamento). Definitivamente, preferimos deixar que cada anlise diga, por si mesmo,empiricamente, quais e quantas funes compem a estrutura da histria.4Abdala Jnior (1995, 36/37) observa que na estrutura de um conto tradicional, a tenso costuma ser mnimanos segmentos iniciais, sobe quando se configura o conflito, pode crescer ou seguir alta durante acomplicao da histria e confluir para o clmax onde a tenso ser mxima, caindo no desfecho. Ele sugereum grfico interessante onde a linha vertical do ngulo o eixo de tenso dramtica (efeito no leitor) e alinha horizontal o eixo do desenvolvimento da narrativa (da apresentao at o desfecho). Na estrutura do

    conto tradicional discutido pelo autor a linha de tenso vai subindo progressivamente em 14 episdiosenumerados por ele em letras que vo de aat o, momento do clmax, quando ento decai rapidamente.

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    O reconhecimento das personagens e de sua dinmica funcional ocorreconcomitantemente com a identificao dos episdios porque as personagens so atoresque realizam coisas (funes) na progresso da histria. Sua anlise depende da apreensoda histria integral como sugerido, embora possa ser realizada paralelamente a ela.

    A identificao e anlise dos conflitos sugeridos acima particularmente til para a

    atribuio dos papis das personagens. Por fora de sua interveno na histria, aspersonagens podem ser identificadas como protagonistas, antagonistas, heris, anti-heris,doadores, ajudantes, etc. O analista estar movendo-se sempre entre a sua prpriareconstituio da histria e o texto original das notcias.

    No jornalismo as personagens costumam ser fortemente individualizadas etransformar-se no eixo das histrias. Os designantes das personagens, tais como nomes,identificadores e co-referncias devem ser particularmente observados. Porm, importante lembrar que mesmo na narrativa realista do jornalismo as personagens sofiguras de papel, ainda que tenham correspondentes na realidade histrica. Lembrar queestamos analisando uma narrativa jornalstica, como as notcias constroem personagens,conflitos, combates, heris, vilos, mocinhos, bandidos, punies, recompensas. No

    estamos fazendo uma anlise da realidade histrica em si mesma. Nosso objeto a verso,no a histria.

    Na narrativa jornalstica h sempre uma relao ntima entre personagens e pessoasfsicas porque personagens representam pessoas reais. Na anlise da narrativa, entretanto,no interessa o quem o poltico ACM, o que fez ou deixou de fazer na vida real. Interessacomo a narrativa jornalstica construiu certa imagem de ACM e o que a personagem fez notranscorrer de uma narrativa jornalstica.

    Deve-se, portanto, evitar a anlise psicologista ou social da personagem e concentraras observaes de sua representao como figura do discurso jornalstico, observar como onarrador imprime no texto marcas com as quais pretende construir a personagem na mentedos leitores/ouvintes. por outras vias que chegaremos s questes polticas e sociais.

    Uma rara reflexo sobre a personagem jornalstica desenvolvida por Mesquita(2002). Valendo-se das idias da teoria da recepo esttica ele observa que h umaambivalncia na personagem jornalstica na medida em que os modelos de identificao doreceptor projetam tambm imagens de heris e viles no ato de relao comunicativa.Personagens do mundo do espetculo, da poltica, da aristocracia e dos esportes retratadoscada dia pelo jornalismo operam uma circulao permanente entre o mundo daidentificao e o da projeo e suscitam simpatias, compaixes, dores e angstias, comoocorre na arte (na literatura). A personagem constitui uma construo no apenas do texto,mas igualmente uma reconstruo do receptor. Nesse aspecto, suas idias coincidem comas que estamos desenvolvendo neste captulo.

    A questo mais controversa da anlise da personagem jornalstica refere-se, portanto,ao fato de no ser ela uma entidade puramente ficcional e arbitrria a gosto da criao doautor como ocorre na arte, mas produto de uma narrativa ftica. A personagem jornalsticaguarda uma relao estreita com a pessoa, com o ser real objeto da narrao. Isso gera umacomplexidade singular. Mesquita defende, com o que concordamos, que a narratividade uma caracterstica dominante do texto jornalstico, guardando um parentesco com anarrativa da histria e biogrfica. Por isso, o investimento ideolgico no texto no menorque nas artes

    No caso do jornalismo sabemos que a personagem representa uma pessoa comexistncia real. A pessoa real sempre irredutvel s narrativas que se contam a seurespeito. Sucede, continua ele, que sabemos dessa pessoa apenas a personagem que os

    mdia nos oferece. Os receptores do jornalismo conhecem as figuras pblicas e do

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    A personalizao da vida poltica e social e do discurso dos mdia constitui o verso eo reverso da mesma medalha, prossegue Mesquita. O referente histrico s acessvelatravs de elaboraes anteriores, entre as quais se situam as representaes de natureza

    jornalstica. O jornalista, diz Mesquita, deve respeitar os dados do real mais que oromancista e isso porque responsvel pelas imagens que esto em construo. Noentanto, a personagem jornalstica constitui igualmente uma construo do seu autor namedida em que ele possui autonomia de escolha entre os elementos que lhe so propostos

    pelo real e na respectiva elaborao. Tal como o cidado comum ordena os dados de seucurriculum vitae de acordo com seus objetivos, o jornalista possui igualmente liberdade aomodelar o retrato que constri de uma pessoa pblica. O perfil ou retrato jornalsticoenvolve uma dimenso de pesquisa e inqurito, mas no mera reproduo ou reflexo doreal, uma construo que mobiliza a subjetividade do reprter. O seu papel no selimita a descrever pessoas que existem na vida real. A subjetivao pressupe que seapresente a personagem como uma interpretao e uma construo e no como uma iluso

    referencial, destinada a abolir a conscincia da mediao jornalstica.Nas democracias atuais, conclui o autor, o debate pblico est pervertido pela

    excessiva fulanizao que marginaliza as questes politico-ideolgicas e incide nasescolhas e esteretipos divulgados pela mdia. Mas, a personalizao da vida poltica esocial, por um lado, e a proliferao de personagens jornalsticas, por outro, constituem overso e o reverso da mesma medalha.

    Ives Reuter (2002, 41-43) sugere seis categorias para distinguir e hierarquizarpersonagens de acordo com o seu fazer (suas aes), o seu ser, sua posio e suadesignao: 1) qualificao diferencial: concerne natureza e qualificaes atribudas s

    personagens; 2) funcionalidade diferencial: diz respeito no ao ser, mas ao fazer dapersonagem relativo ao seu papel na histria; 3) distribuio diferencial (articula o ser e o

    fazer): concerne s aparies mais ou menos freqentes, por mais ou menos tempo; 4)autonomia diferencial: combinao das possibilidades de aparecer s ou de encontraroutras personagens; 5) pr-designao convencional (tambm combina o ser e o fazer): ostatus da personagem identificado por marcas genricas, traos fsicos, tipo de ao, quetorna-a familiar ao leitor de acordo com os gneros (o detetive no romance policial, ocowboy no western, etc.); 6) comentrio explcito: diz respeito ao discurso do narrador a

    propsito da personagem, que a qualifica. Prevemos pouco uso dessas categorias naanlise pragmtica da narrativa jornalstica, mas elas servem para observar as instruesde leitura que categorizam as personagens.

    4. Movimento: Estratgias comunicativasO discurso narrativo subjetivo (a fico) distingue-se pela presena (implcita ou

    explcita) do narrador, de um sujeito que narra. A narrao como dispositivoargumentativo evidente. O discurso objetivo do jornalismo, ao contrrio, define-se pelodistanciamento do narrador. Ele narra como se a verdade estivesse l fora, nos objetosmesmos, independente da interveno do narrador: dissimula sua fala como se ningumestivesse por trs da narrao.

    Assim, o jornalista opera constantemente um processo de de-subjetivao do real. Aretrica jornalstica trata de dissimular as estratgias narrativas. O jornalista , pornatureza, um narrador discreto. Utiliza recursos de linguagem que procuram camuflar seu

    papel como narrador, apagar a sua mediao. um narrador que nega at o limite a

    narrao. Finge que no narra, apaga a sua presena. Faz os fatos surgirem no horizonte

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    como se estivessem falando por si prprios. Por isso, reconhecer a narrativa jornalsticacomo dispositivo argumentativo torna-se uma tarefa analtica complexa.

    Estudar as narrativas jornalsticas descobrir os dispositivos retricos utilizadospelos reprteres e editores capazes de revelar o uso intencional de recursos lingsticos eextralingsticos na comunicao jornalstica para produzir efeitos (o efeito de real ou os

    efeitos poticos). Neste sentido, afirmamos que o jornalismo uma linguagemargumentativa e no h um estilo jornalstico, mas sim uma retrica jornalstica. Quemnarra tem sempre algum propsito ao narrar: nenhuma narrativa ingnua, muito menos anarrativa jornalstica.

    A presena de recursos narrativos no jornalismo est em todas as partes. Mesmos ostextos mais duros da editoria de economia, por exemplo, recorrem frequentemente a

    breves interregnos narrativos com a finalidade de aproximar o leitor dos episdiosnarrados, de tornar mais humano o texto frio. Outras vezes, os textos jornalsticosescancaram seu carter narrativo, como em muitas reportagens e no jornalismo literrio.Em geral, h muito hibridismo de gnero.

    No , entretanto, o carter mais ou menos narrativo que vai revelar a narratividade

    do texto jornalstico. o leitor ou o ouvinte, no ato de recepo das notcias, que conclui aobra, recompe a tessitura da intriga conforme sugerimos anteriormente. O texto umconjunto de instrues que o leitor recria de modo ativo. O texto s se torna obra nainterao entre ele e o receptor. O analista, portanto, deve colocar-se na posio de umleitor e decifrador arguto.

    Entendemos que a narrativa jornalstica um permanente jogo entre os efeitos de reale outros efeitos de sentido (a comoo, a dor, a compaixo, a ironia, o riso, etc.), mais oumenos exacerbados pela linguagem dramtica das notcias. Procura sempre vincular osfatos ao mundo fsico, mas cria incessantemente efeitos catrticos. um permanente jogoentre as intenes do jornalista e as interpretaes do receptor. polissmica,intersubjetiva, hbrida, transita contraditoriamente nas fronteiras entre o objetivo e o

    subjetivo, denotao e conotao, descrio ftica e narrao metafrica, realia e potica.Transita entre premissas verossmeis (eiks) ou menos verossmeis (ndoxon), logos emythos.

    A anlise que propomos pretende, portanto, observar as narrativas jornalsticas como jogos de linguagem, estratgias de constituio de significaes em contexto, independentedo seu carter real ou fictcio. Cabe ao analista capturar as sutilezas desse jogo decontrrios, observar os efeitos de real e os efeitos poticos do jornalismo.

    a) Estratgias de objetivao: construo dos efeitos de realA estratgia textual principal do narrador jornalstico provocar o efeito de real.

    Fazer com que os leitores/ouvintes interpretem os fatos narrados como verdades, como seos fatos estivessem falando por si mesmos. Esse efeito de real no jornalismo se obtm comdiversos recursos de linguagem e com uma fixao do centro do relato no aqui e no agora,no momento presente. O jornalismo observa o mundo desde o atual, ancora seu relato no

    presente para relatar o passado e antecipar o futuro. Opera uma mediao que , ao mesmotempo, lingstica e temporal. Oferece ao leitor um lugar emprico desde onde se podeobservar o mundo, compreender o passado e especular sobre o futuro. Oferece ao homemmoderno, na sua disperso e evasividade, uma forma de compreender seu mundo e suaexistncia.

    Na afirmao radical do presente (atualidade) o jornalismo constri a sua verso deneutralidade e objetividade reduzindo e encerrando tudo no momento atual. da

    atualidade que ele organiza as histrias como sucesso. O passado e o futuro tendem aperder fora, a amenizar-se: tudo gira em torno do hoje, do aqui, do agora, do ao vivo e do

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    on-line. Da a profuso de advrbios e de expresses adverbiais de tempo e de lugar quevinculam a sucesso de eventos a uma viso do hoje, do agora, do presente, do instante.

    Ainda que no seja a realidade, o texto jornalstico tem veracidade, recorre arecursos de linguagem para parecer factual, objetivo e verdadeiro. Produz o efeito dereal. Esse o efeito pretendido e, na maioria dos casos e confirmado pelo leitor. O que o

    jornalista quer significar e as interpretaes do significado pelo destinatrio coincidem emgrande parte ou na sua essncia. Essa preciso no retira dos relatos jornalsticos o carternarrativo, mas os transforma em uma narrativa singular: um jogo de linguagem situadoentre a narrativa da historia (realista) e a literria (imaginativa). esse jogo entrecorrespondncia e desvios textuais na comunicao jornalstica que a anlise da narrativadeve observar, esse o seu objeto.

    Uma das tarefas fundamentais do analista, portanto, revelar a estratgia da narrativajornalstica para construir os efeitos de real. Os recursos de linguagem que remetem aosefeitos de real so inmeros. Ao analista cabe destac-los e interpretar a sua utilidade naestratgia narrativa. Eles do a impresso de que no h mediao. O uso desses recursos uma estratgia argumentativa: a objetividade uma estratgia argumentativa.

    preciso perguntar: que recursos da linguagem jornalstica procuram ancorar osfatos relatados na realidade emprica? O que faz a linguagem jornalstica dar a impressode que as coisas paream evidentes? Que artifcios de linguagem naturalizam o discurso

    jornalsticos? Que operaes lingsticas realizam a tarefa de convencer o leitor que otexto uma representao fiel da verdade e da realidade do mundo? Que recursos criamessa referencialidade?

    Que expresses criam a atualidade (a dimenso de instantaneidade, de algo que acabade acontecer, de momento presente) no jornalismo? Que expresses criam umareferencialidade geogrfica (dimenso de um espao configurado, de uma localizaoidentificada)? Que expresses criam a referencialidade de autoridade para dizer e poderdizer (a dimenso de poder tcnico ou poltico) que autentica a relao da comunicao

    jornalstica?Perguntar: que expresses criam as condies de verdade (a preciso, a lgica da

    transparncia jornalstica, da representao fiel)? Que traos, propriedades e qualidades dotexto abrem uma luz sobre objetos e situaes e as fazem parecer reais? Que expressesou perspectivas do discurso criam o olhar externo do jornalista em relao aos fatos?Que expresses instauram a legitimidade do narrador (o reprter, o editor, o veculo) comofonte legtima para dizer e poder dizer?

    As citaes freqentes, por exemplo, conferem veracidade. So utilizadas para dar aimpresso de que so as pessoas reais que falam, que o jornalista no est intervindo.Observe, porm, que ao citar, o jornalista pina da fala da fonte aspectos que pretenderessaltar dando outra dimenso ao discurso, dirigindo a leitura. As citaes encobremmuito bem a subjetividade porque o leitor supe que elas reproduzem literalmente o que afonte disse e quis destacar. Produzem a sensao de uma proximidade entre a fonte e oleitor. Dissimulam a mediao.

    A identificao sistemtica de lugares (onde) e de personagens (quem) tambmcumpre uma funo argumentativa: localiza, situa, transmite a idia de preciso, causa aimpresso de que o narrador fala de coisas verdicas, realisticamente situadas. O uso denomes prprios de lugares (Rio de Janeiro, Braslia, Nova York, Iraque, etc.) ou deinstituies (Ministrio da Fazenda, STF, Polcia Federal, etc.) identifica de imediato porse referirem instituies reconhecidas. Tudo revela certo uso da linguagem e certainteno do narrador.

    A datao precisa confere referencialidade temporal (ontem, hoje, amanh, etc.),muitas vezes acompanhada de especificao precisa: tarde, s 15 horas, antes do almoo,

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    na sada do trabalho, etc. So diticos espao-temporais que precisam ser identificadospelo analista e cuja funo ttica precisa ser descortinada.

    Os diticos so particularmente importantes para observar a construo dareferencialidade e compreender a relao comunicativa da narrativa jornalstica e. O seuuso abundante no jornalismo demarca o tempo e o lugar da enunciao, situa, referencia e

    confere confiabilidade espao-temporal. Por exemplo, o uso de artigos, demonstrativos ede elementos espao-temporais (ontem, amanh, semana passada, prximo ms, emseguida, a partir de, ali, aqui, l) designa a pessoa que fala, de quem se fala e a pessoa aquem se fala. Referencia e fornece as condies de unicidade do ato de fala. Ao mesmotempo em que referencia, estabelece e confirma os lugares e o estatuto dos interlocutoresna relao.

    O abundante uso de nmeros e de estatsticas confere preciso ao relato (idades,quantias, volumes, pores, dimenses, etc.). So igualmente estratgias de linguagemcujo objetivo repassar uma idia de rigor e veracidade. No podemos, entretanto, darconta aqui de toda a gama de recursos utilizados na linguagem para produzir efeitos dereal. preciso que o analista recorra literatura a respeito para levar a cabo o seu trabalho

    e que relacione o uso dessas marcas de referencialidade do texto construo da narrativaftica.

    b) Estratgias de subjetivao: construo de efeitos poticosO jornalismo representa a vida e as aes dos homens (bons e maus), relata as

    tragdias e as epopias modernas. Contam as histrias de nossos heris e viles, nossasbatalhas, conquistas e derrotas. O mundo do jornalismo o mundo da tragdia e dacomdia humanas, habitado, como as artes e a literatura, pelo mythos. Tem uma tica euma potica, como outras linguagens estticas, ainda que o jornalismo no resolva osconflitos que traz (ao contrrio, deixa os episdios permanentemente em abertos paracomplementao por parte da audincia, que solicita permanentemente mais notcias).

    Grande parte do que sugerimos acima sobre a reconfigurao da histria e de seusepisdios, sobre os conflitos do enredo e os papis das personagens compe e fornecesubsdios para a anlise dos efeitos poticos. A reconstruo das notcias individuais emuma seqncia cronolgica e integral, conforme sugerimos, um movimentoepistemolgico que re-subjetiva o discurso jornalstico ao conferir-lhe o estatuto de umahistria com princpio, meio e fim e ao resgatar o seu fundo moral. O receptor das notciasrealiza um percurso semelhante e isso justifica o procedimento interpretativo do analista. Areconfigurao da histria operada pelo leitor reconstri narrativamente as notcias emacontecimentos integrais, com o auxilio da memria cultural. O leitor liga pontos, conecta

    partes, ressubjetiva as histrias.H tambm uma infinidade de recursos e de figuras utilizadas na linguagem

    jornalstica que remetem o leitor interpretaes subjetivas. A linguagem jornalstica pornatureza dramtica e a sua retrica to ampla e rica quanto a literria. Observe os ttulosdo jornal ou as chamadas do telejornal de hoje para comprovar essa afirmao.Intencionalmente ou no, geram nos leitores inmeros efeitos de sentido emocionais.Recursos lingsticos e extra lingsticos remetem os receptores a estados de espritocatrticos: surpresa, espanto, perplexidade, medo, compaixo, riso, deboche, ironia, etc.Eles promovem a identificao do leitor com o narrado, humanizam os fatos brutos e

    promovem a sua compreenso como dramas e tragdias humanas.Tal como os efeitos de real, recursos da retrica jornalstica induzem os leitores,

    ouvintes e telespectadores a diversos tipos e graus de comoo. Esses recursos abundam

    nas manchetes e ttulos tanto quanto nos textos, tanto nas ilustraes e charges como nasfotografias e imagens televisivas. Esto nas escolhas lxicas, no uso de verbos

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    prospectivos, verbos de sentimento, verbos negativos, verbos de conselho, de advertncia,etc.; no uso de adjetivos afetivos, potenciais ou adjetivos de possesso; no uso desubstantivos estigmatizados como terroristas, radicais, pivetes, etc. Esto nas exclamaes,interrogaes, comparaes, nfases, repeties e reticncias, mais comuns no noticirioque se pensa. Esto nas figuras de linguagem (metforas, sindoques, sinonmia,

    hiprboles). Esto nas ironias e pardias, que abrem mbitos de significao. Esto noscontedos implcitos, nas implicaturas de advrbios como apenas, de novo, s,ainda, comuns nas manchetes. Esto nas pressuposies e tantos outros recursoslingsticos e extra lingsticos que proliferam na linguagem jornalstica verbal e udio-visual. impossvel enumera-los ou classifica-los, tal a sua abundncia no noticirio. Oanalista dever revelar a presena de cada recurso da retrica jornalstica, investigar suadimenso semntica e relacion-lo estratgia narrativa do narrador e do meio que utiliza.Esses recursos e estratgias textuais orientam a narrativa jornalstica para uma ou outradireo.

    Muito do que vamos dizer adiante sobre a fbula da histria (significados de fundomoral e tico) completam a anlise dos efeitos de sentido. Queremos apenas recomendar

    ao analista munir-se de uma boa bibliografia sobre teoria literria e semntica. fundamental ter ainda mo dicionrios de retrica, de narratologia, de lingstica, desmbolos e mitos e uma boa gramtica para auxili-lo na anlise e na interpretao. Semesses auxlios, a anlise flui com maior dificuldade.

    5. Movimento: A relao comunicativa e o contrato cognitivoA narratologia literria preocupa-se em estudar o ponto de vista do narrador,

    distinguindo entre quem v (olhar, modo narrativo) e quem fala (voz, focalizao).Mantm a observao no modo e no ponto de vista em que a histria narrada. Algunsautores da teoria literria utilizam a expresso perspectiva narrativa, outros preferemsituao narrativa e outros mais, instncia narrativa. Mais recentemente se consolidou

    a expresso foco narrativo ou focalizao, que distingue entre o narradorheterodiegtico (onisciente, que tudo sabe, v e conta desde uma perspectiva ilimitada) ehomodiegtico (o narrador conta a partir do eu retrospectivamente ou no momento emque as coisas acontecem) e suas inmeras variaes. Na teoria do jornalismo fala-se emenquadramento e abordagem (seleo e salincia de aspectos da realidade pelo

    jornalista na sua observao do mundo).Na anlise pragmtica da narrativa a ateno desvia-se da relao narrador-texto para

    a relao comunicativa narrador-narratrio, para o jogo entre as intencionalidades donarrador e as interpretaes e reconhecimentos da audincia. A perspectiva outra, aateno desloca-se do texto como unidade esttica para a relao comunicativaintersubjetiva. O texto torna-se apenas o nexo de uma atividade interativa entre doisinterlocutores (narrador e narratrio) que realizam um processo, um ato comunicativo. Oenquadramento ou abordagem jornalstica so analisados como parte da estratgiacomunicativa.

    A observao da relao comunicativa j est metodologicamente contemplada nasetapas precedentes. Vale a pena, entretanto, retomar aqui as idias da esttica da receposobre o ato de leitura dos dramas e tragdias reportados continuamente pelas notciasdirias e para entender a dinmica do jogo entre os interlocutores no processocomunicativo jornalstico. Diz textualmente W. Iser (1999, 28): Como nenhuma histria

    pode ser contada na ntegra, o prprio texto pontuado por lacunas e hiatos que tm de sernegociados no ato da leitura. Tal negociao estreita o espao entre texto e leitor, atenua a

    assimetria entre eles, uma vez que por meio dessa atividade o texto transportado para aconscincia do leitor. Se a estrutura bsica do texto consiste em segmentos determinados

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    interligados por conexes indeterminadas, ento o padro textual se revela um jogo, umainterao entre o que est expresso e o que no est. O no expresso impulsiona a atividadede constituio do sentido, porm sob o controle do expresso. Expresso esse que tambmse desenvolve quando o leitor produz o sentido indicado. Desse modo, conclui Iser, osignificado do texto resulta de uma apropriao da experincia noemtica que o texto

    desencadeia e que o leitor assimila e controla segundo as suas prprias disposies. com o pano de fundo da teoria da recepo que recomendamos o exame da relaocomunicativa jornalstica. As notcias so fragmentos parciais de histrias e atores dosdramas e tragdias humanas contadas e recontadas diariamente, pontuadas de lacunas ehiatos de sentido que precisam ser permanentemente negociados pelo receptor no ato deleitura. As notcias condensam difusamente conflitos, tenses, terror e piedade. oreceptor das fragmentadas notcias quem vai conectar as partes com a ajuda da memria,tecer os laos de significao temporal, preencher as lacunas, reconfigurar asindeterminaes, articular passado, presente e futuro, montar os atravessados quebra-cabeas das intrigas e significados atravs de atos criativos de recepo. 5

    na interpretao imaginativa do leitor, ouvinte ou telespectador que a narrativa

    jornalstica ganha narratividade e consistncia, ganha contornos morais e ticos,reconfigura histrias significativas independente da identidade, das qualidades intrnsecas,modos e estilos do texto. O leitor, ouvinte ou telespectador realiza a fuso de horizontes deexpectativas porque precisa e busca encadear os fragmentados episdios das notcias comas difusas histrias de sua vida, repondo continuamente o ato de recepo na cultura, nomundo da vida. , pois, no movimento interpretativo do leitor que o analista podereconhecer a relao entre os interlocutores.

    anlise deve concentrar-se na observao do entorno ou situao espao-temporalonde se realiza a relao comunicativa para compreender as circunstncias do ato deenunciao. Deve identificar os elementos do contexto que condicionam a intenocomunicativa do emissor e a sua realizao no receptor. Alguns autores destacam os

    seguintes aspectos dessa situao comunicativa: 1) contexto fsico (o veculo dacomunicao); 2) contexto emprico; 3) contexto natural; 4) contexto prtico ou ocasional;5) contexto histrico; 6) contexto cultural. 6 S a primeira material, as demaiscorrespondem a conceitualizaes scio-culturais intersubjetivas dos interlocutores no atoemprico de fala, referem-se a um entorno cognitivo compartido.

    A anlise da narrativa jornalstica deve observar particularmente o contratocognitivo implcito entre jornalistas (narradores) e audincia (narratrio) em seu contextooperacional. Esse contrato segue as mximas da objetividade, da co-construo daverdade dos fatos: o objetivo co-construir a verdade, a realidade objetiva. O desejode objetividade do jornalista e sua estratgia textual de relatar a verdade socompactuados e validados pela comunidade de leitores, ouvintes e telespectadores damdia jornalstica que acreditam estar lendo, vendo ou ouvindo a verdade dos fatos. Acomunidade jornalistas-audincia reproduz uma conveno (informal, obviamente) em queemissores e destinatrios do por convencionado que o jornalismo o lugar natural daverdade, o lugar do texto claro, isento, preciso, sem implicaturas nem pressuposies.

    5Inez Sautchuk (2003, 40-46) traz uma interessante discusso sobre os processos de interveno da memriano ato de leitura. De acordo com ela, num primeiro momento acontece uma rpida percepo earmazenamento visual do material lingstico. Num segundo momento esse material ocupa brevemente amente do leitor e a sua ateno se dirige para a organizao e agrupamento de unidades significativas. Ataqui est operando a memria de curto prazo (memria funcional ou de trabalho), um movimento cognitivode reconhecimento e identificao. Quase simultaneamente opera a memria de longo prazo, que identifica

    modelos, recorda e reconstri a informao com base no conhecimento prvio emprico e enciclopdico quese dispe (a teoria do mundo em nossa mente). A primeira uma memria lingstica, a segunda, semntica.6Ver Escandell Vidal, M. Victria (2002): Introduccin a la pragmtica, Ariel, Madrid, pg. 29/30

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    Esse pacto gera uma estabilidade entre os interlocutores que torna possvel a eficientecomunicao jornalstica. Somente a partir da compreenso dessa estabilidade onde serealiza a comunicao noticiosa possvel ao analista interpretar as violaes das mximas

    jornalsticas e compreender as implicaturas, as pressuposies, as insinuaes, as ironias eoutros efeitos de sentido que simultaneamente se realizam.

    6. Movimento: Metanarrativas - significados de fundo moral ou fbula da histriaToda narrativa, seja ela ftica ou fictcia, se constri contra um fundo tico e moral.

    Nas fbulas e contos infantis esse fundo moral evidente. Nos filmes, contos e romancestambm, embora algumas vezes a mensagem seja nebulosa ou intencionalmenteenigmtica. Na historiografia moderna essa questo tem sido amplamente questionada. difcil imaginar, entretanto, um historiador brasileiro ser imparcial ao narrar os episdioscomo a Inconfidncia Mineira, por exemplo.

    A narrativa jornalstica, por mais que se pretenda isenta e imparcial, tambmfortemente determinada por um fundo tico ou moral. Os jornalistas s destacam certosfatos da realidade como notcia porque esses fatos transgridem algum preceito tico ou

    moral, alguma lei, algum consenso cultural. A notcia representa sempre uma ruptura outransgresso em relao a algum significado estvel. Cabe ao analista identificar,interpretar e elucidar esse significado simblico.

    Esse fundo tico e moral vai surgindo cada vez mais ntido ao longo da anlise doacontecimento: o plano da estrutura profunda da narrativa. Ele pode saltar logo no

    princpio, aparecer gradualmente quando os movimentos iniciais da anlise forem sendoconcludos ou s se configurar ao final. Pode ser predominantemente de ordem tica,moral ou filosfica, ainda que tambm possa conter aspectos polticos, religiosos,

    psicolgicos ou ideolgicos. Nenhuma notcia est nos jornais sem que haja uma razotica ou moral que justifique seu relato. o pano de fundo sobre o qual se desenvolve aseqncia de notcias sobre um determinado assunto. O analista precisa tomar conscincia

    e contrapor esse fundo moral ao enredo da histria que reconfigurou.Ele nem sempre est claro ou consciente para o jornalista no momento de produo

    do texto e poucas vezes transparece ntido para os receptores na fugaz leitura ou audinciadiria das notcias. No ato de edio os jornalistas, tanto quanto os leitores e ouvintes noato de recepo, prestam muito mais ateno aos detalhes explcitos ou realistas e sdeterminaes histricas dos incidentes relatados. Uns e outros esto envolvidos nastramas imediatas, nos significados explcitos dos episdios jornalsticos. No cotidiano da

    produo e consumo da indstria cultural dificilmente os interlocutores se do conta dosignificado exemplar ou fabular dos relatos noticiosos.

    Mas, esse significado simblico est presente de forma mais ou menos intensa nosdramas e tragdias continuamente relatados pelo jornalismo. Aqui e ali, em momentosfugazes, com o auxlio da memria e dos cnones culturais, os receptores recompem asnarrativas e so dominados por estados de nimo de maior ou menor comoo frente aosdramas e tragdias dirias reportadas pelas notcias. Essa comoo pode variar daindiferena ou perplexidade inicial at a ansiedade intensa, angstia ou compaixo

    profunda, dependendo das circunstncias.Talvez com maior freqncia do que se pensa, estimulados pela linguagem dramtica

    do jornalismo (verbal e imagens) leitores, ouvintes e telespectadores se evadem dasdeterminaes histricas, penetram transitoriamente em universos imaginrios afetivos,experimentam fugazmente o campo da intemporalidade e das indeterminaes. Oreferencial se esvaece e pode acontecer uma fuga transitria dos receptores do mundo da

    vida para mundos simblicos e mticos. Nesses casos, a notcia realiza-se no apenas comouma ocorrncia cognitiva, mas como uma experincia esttica ou emocional profunda.

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    Quem no experimentou uma comoo profunda diante das imagens trgicas do incidentedas Torres Gmeas em Nova York em 2001 ou do tsunami na sia em 2004?

    Pode-se, assim, chegar at a dimenso pr-jornalstica que o jornalismo relatouatravs de intrigas fragmentadas em notcias dirias. Alcanamos o nvel da cultura, dassignificaes profundas, do plano moral, tico e simblico. Em outras palavras, estamos

    afirmando que as fbulas contadas e recontadas pelas notcias dirias revelam os mitosmais profundos que habitam metanarrativas culturais mais ou menos integrais donoticirio: o crime no compensa, a corrupo tem de ser punida, a propriedade precisa serrespeitada, o trabalho enobrece, a famlia um valor supremo, a nao soberana, e assim

    por diante. So essas, na verdade, as grandes metanarrativas culturais que o jornalismo nosconta e reconta diariamente.

    Regressamos, para finalizar, pergunta formulada por Hayden White (1981): quetipo de mistrio est envolvido no desejo de transformar eventos reais em estrias? Com aresposta a esta pergunta podemos compreender o impulso cultural no apenas de narrar,mas de dar aos eventos um aspecto de narratividade. A resposta a essa pergunta deve ser

    buscada na anlise das narrativas em geral e particularmente na anlise da narrativa

    jornalstica. Ela remete a questes culturais anteriores reportagem. Remete categoriasmitolgicas (os desejos, as esperanas e as negatividades) de que nos fala N. Frye (1999),matrizes que conformam nossas biografias, nossa historiografia, nossa literatura, nossoscontos e romances, nossa cincia, nossas leis e o nosso jornalismo. nesse nvel cultural esimblico que podemos entender as narrativas como mimese em toda sua amplitude:compreender como a arte imita a vida e a vida imita a arte.

    Bibliografia1. Abdala Junior, B. (1995): Introduo anlise da narrativa, S. Paulo, Scipione2. Bal, Mieke (2001): Teora de la narrativa, Madrid, Ctedra3. Barthes, R. e outros (1971): Anlise estrutural da narrativa, Petrpolis, Vozes

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    Viragem do Sculo, Comunicao e Linguagens, Lisboa Vega13. Motta, Luiz G. (2005): Narratologia teoria e anlise da narrativa, Braslia, Casa das

    Musas14. Motta, Luiz G., Gustavo B. Costa, Jorge A. Lima (2005): Notcia e construo de sentidos:

    anlise da narrativa jornalstica, Revista Brasileira de Cincias da Comunicao, Vol.XXVI, No. 1, So Paulo

    15. Motta, Luiz G.(2004): A construo narrativa da histria do presente, Interprogramas daCompos 2004, Braslia, mmeo (disponvel no site www.compos.org.br)

    16. Motta, Luiz G. (2004): Jogos de linguagem e efeitos de sentido na comunicaojornalstica, Estudos em Jornalismo, Vol. 1, No. 2, Florianpolis

    17. Motta, Luiz G. e Christa Berger (2003): Narrativa jornalstica: a histria de Lula contadapelos jornais espanhis, Revista Famecos, Ago. 2003, No. 21

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    18. Motta, Luiz G. e Christa Berger (2003): Cobertura das eleies brasileiras pela imprensaespanhola: Lula pe a esquerda na pauta, Comunicao & Poltica, Vol. X, No. 1, Rio deJaneiro

    19. Motta, Luiz G. (2002): Para uma antropologia da notcia, Revista Brasileira de Cincias daComunicao, S. Paulo, Vol XXV, no. 2

    20. Motta, Luiz G. (2001): Conflito poltico e gerao de sentido nas notcias, Cadernos Ceam,Ano 2, no. 6, Universidade de Braslia21. Reuter, Yves (2002): A anlise da narrativa, S. Paulo, Difel22. Todorov, T. e O Ducrot (1977): Dicionrio enciclopdico das cincias da linguagem, S.

    Paulo, Perspectiva23. Todorov, Tzvetan (1970): As estruturas narrativas, S. Paulo, Perspectiva24. Ricoeur, Paul (1994/5): Tempo e narrativa, tomos I, II e III, S. Paulo, Papirus25. Sautchuk, Inez (2003): A produo dialgica do texto escrito, S. Paulo, Martins Fontes26. White, Hayden (1981): The value of narrative in the representation of reality, in W.J.T.

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