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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ  UESPI CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS  CCHL CURSO: LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS PROFª CLARICE LIRA TEXTO DISSERTATIVO SOBRE O FILME NARRADORES DE JAVÉ 3ª VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM  Amanda Mikele Assun ção de Ambrósio  Ana Manoela da Silva Fe rreira Lívia Beatriz da Silva Alencar Manoel Cristino Ferreira Júnior Manuela Noronha Medina Raylla Pereira de Oliveira TERESINA 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL

CURSO: LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS

PROFª CLARICE LIRA

TEXTO DISSERTATIVO SOBRE O FILME NARRADORES DE JAVÉ

3ª VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

 Amanda Mikele Assunção de Ambrósio Ana Manoela da Silva Ferreira

Lívia Beatriz da Silva Alencar 

Manoel Cristino Ferreira Júnior 

Manuela Noronha Medina

Raylla Pereira de Oliveira

TERESINA

2013

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Narradores de Javé

CAFFÉ, Eliane. Narradores de Javé. Rio de Janeiro: Banananeira Filmes;2003.

Uma pequena e remota comunidade recebe a notícia de que sua cidade

será engolida pelas águas de uma represa a ser construída. Nesse lugar, seus

moradores simplórios, com uma linguagem peculiar e em sua maioria iletrados, são

informados pelo viajado “Zaqueu” que a única chance de manutenção do seu

espaço, reside na possibilidade da cidade vir a ser tombada como patrimônio

histórico e cultural. Precisaria conter, enfim, algo grandioso, por mais queinsuspeitado, em sua origem e em história. Mas, que para isso aconteça, sua

história precisa deixar a condição de “mera” tradição oral, história contada, para ser 

aposta nas páginas de um documento, um livro, a ser escrito com rigor técnico e

científico. Para tal incumbência designam por livre e espontânea pressão o carteiro

da cidade, cuja sobrevivência nesse ofício é resultante de uma série de falsas

correspondências, escritas por ele mesmo e atribuídas a supostos moradores do

lugar, nas quais se dá conta de fatos e boatos de suas trajetórias pessoais. As personagens em redor das quais essa história se desenvolve são o

carteiro, chamado “Antonio Biá”; “Zaqueu”, o comerciante que “encomenda” a feitura

da história local; “o Padre”, que tenta ao longo de toda a narrativa influenciar nos

depoimentos colhidos, bem como a orientação do livro e seu conteúdo; “Souza”, o

ouvinte dos relatos de “Zaqueu”; “Deodora”, a que tenta resgatar o papel feminino

através de “Maria Dina” na história do lugar; “Vincentino”, pai do chamego (Tereza)

do carteiro “historiador”, que vê em sua entrevista uma forma de colocar -se comoherdeiro do “herói” local e assim legitimar suas posses ou uma ascendência moral

local; “Indalécio, Indalício ou Indalêo”, vulto histórico de Javé, personagem quase

mítico, que remonta aos primórdios da origem da cidade e que recebe um nome

diferente de acordo com o grupo social que a ele se refere; “Maria Dina, Diná ou

Oxum”, seria a equivalente feminina ao personagem imediatamente anterior; e

“Maria” ou “Cristiana”, que acompanha o carteiro historiador em suas andanças para

feitura do livro, sendo por ele reiteradas vezes ridicularizada, desqualificada, qual

tratamento dado ao feminino nas diversas temporalidades e historiografias, traço só

recentemente em revisão na História ou em sua construção. Ressalta-se ainda a

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presença da figura do sagrado, na metáfora do sino, como o meio de coesão, que

reunia e movia os "fugidos" ou "retirados" em sua trajetória.

O forasteiro, que no início da narrativa perde seu transporte, passa a manter 

contato com uma realidade que não lhe pertence; embora não totalmente estranha,

por ali identificar traços de sua própria sociedade, diferente em sua evolução.

Etnocentricamente pode ter ficado tentado a traduzir tal diferença em primitivismo ou

atraso. Os meios de transporte que interrompem lenta e intermitentemente o

isolamento do lugar conferem ao tempo sua propriedade mais elástica, fazendo-o

parecer quase parado, em uma duração digna de qualquer corte dos  Annales.

François Dosse, em 1950, disse que uma "crise na idéia de progresso

acentuou o renascimento de culturas anteriores à industrialização". De maneirasimilar, a falta de perspectivas, no universo de Javé quanto ao futuro de sua

sociedade, ensejou uma busca por suas raízes, suas tradições, sua origem, sua

história. Para isso ganharam relevância "as voltas e reviravoltas de seus indivíduos”

na vida cotidiana e as suas memórias. “Na falta de um projeto coletivo que lhes

conferissem poder político para submeter a ordem dominante em direção a uma

outra sociedade", viram-se simplesmente às voltas de... desaparecer.

Com o propósito maior de resgatar-se e fazer-se ouvir, dar-se a ler, asociedade de Javé, grosso modo, lançou mão do mesmo expediente que embasou

as primeiras buscas positivas do século XIX, que repercutiram nas formações dos

estados nacionais, sobretudo o alemão. O rigor científico, ao menos no discurso, era

o norte que supostamente orientava a busca de “Biá” no trato de seu objeto e as

escolhas das suas fontes. Iria lidar nesse caminho com a necessidade de dialogar 

com outras áreas insuspeitadas de seu saber. Faria contato com grupos familiares

ao estudo antropológico, à etnologia e à análise social. Sua história ou, ao menos,sua narrativa alternativa (conforme a personagem Biá atesta quando diz "a história é

de vocês, mas a escrita é minha") fez coro a Peter Burke em ressaltar a negação à

sua marginalidade. Uma história vista “de baixo”, a partir da realidade de um grotão

nordestino, haveria de ter algum valor, como patrimônio cultural ou outro qualquer 

que lhe impedisse o trágico destino.

Nossa pequena história do Vale do Javé configurou-se um resumo do papel

do historiador, senão na escolha do seu objeto, já que o mesmo foi-lhe imposto, na

escolha de suas fontes e na forma de conferir inteligibilidade a sua narrativa. Mais

que isso, ilustrou como a adaptação de uma versão aos havidos em qualquer tempo

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e espaço está intrinsecamente ligada a quem produz uma perspectiva. Nesta, as

verdades absolutas, escritas com caneta, podem causar danos em seu reparo, ou

em sua edição. Pensando a lápis, como postula nosso professor "Biá", ficamos

abertos às novidades para o preenchimento das lacunas que historiografia ainda não

tratou. Por outro lado, este traço pode também ser apreendido como a manutenção

da possibilidade de adequar a narrativa ao gosto do freguês, tal qual pensam os

poderosos de hoje e pensaram os de ontem, quando se julgam capazes de editar a

realidade à sua conveniência.

No desfecho do nosso filme, uma asseveração de “Zaqueu” sintetiza o

porquê de sua empreita tentada. Ao ser confrontado por “Biá” com a força de um

argumento que é massificado a partir de “cima” e que faz parecer inapelável

qualquer deliberação tomada nessa esfera, retruca: "Se Javé não vale muito para

 Antonio Biá, sem Javé, Antonio Biá não vale nada". A mulher e o homem são pouco

mais que nada sem sua história.

Biá caminha olhando o passado a ser "destruído" irremediavelmente pelo

futuro, pelo progresso, pela hidrelétrica. E esta, "responsável" pela transformação do

sertão em mar, afogará a memória, a cultura local e os antepassados, que

posteriormente ficariam escritos para que todos pudessem conhecer.