Textos Didáticos em Indologia - Religião e Pensamento

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  • 8/13/2019 Textos Didticos em Indologia - Religio e Pensamento

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    Introduo

    O objetivo deste texto , antes de tudo, fornecer uma

    base didtica para o estudo da ndia Antiga. Longe de serum texto completo, trato aqui dos dados mais superficiaise abrangentes que possam conduzir o interessado numestudo srio e esclarecido sobre o tema, de modo arealizar uma exposi!o que n!o seja nem cansativa, nemmuito complexa. "nevitavelmente, somos obrigados a nosdeparar com algumas relativiza#es te$ricas necessriasao aprofundamento do estudo desta civiliza!o, cujas

    especificidades invocam um ol%ar bastante cuidadoso. &oentanto, deter'me'ei, aqui, num conjunto de explana#esbsicas que sirvam de referencial a todas estas quest#es.

    "gualmente, a determina!o dos elementos bibliogrficosserve a proposta inicial de tornar um pouco mais acess(veleste nosso estudo. )usquei, pois, indicar textos que sejamfacilmente encontrados, que estejam em nosso idioma e

    que sejam de academicamente vlidos, afastando'mepropositalmente de toda e qualquer publica!o de carterexotrico ou de fonte duvidosa. &o caso espec(fico da"ndologia, sabemos que tais textos abundam em profus!o,dificultando o estudo srio da ndia e comprometendo umtrabal%o esclarecido.

    &*"+

    http://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/introduo.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/introduo.html
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    -a Aula ' eligi!o e /ensamento0exto de Apoio ' O /urus%a 1u2ta 34ino do 4omem50exto de Anlise ' A eligi!o 6dica, por Louis enou.0exto de Anlise ' *ivindades 4indus, por 1. Lemaitre.0exto de Anlise ' O )udismo, por . 7at%ier0exto de Anlise ' O 8ainismo, por . 7at%ier0exto de Anlise ' As 1eitas 1%iva(tas, por Louis enou.0exto de Anlise9 Os 1%a2tas, por Louis enou0exto de Anlise ' As 1eitas 6is%nu(stas, por Louis enou.

    Texto de Apoio - O Purusha Sukta (Hino do Homem)

    :il cabeas tem /urus%a, mil ol%os, mil ps.

    /or t;da parte impregnando a terra ele enc%e um espao com

    dez dedos de largura.

    sse /urus%a tudo que at agora j foi e tudo que ser,

    o sen%or da imortalidade que se torna maior ainda pelo alimento.

    0!o poderosa sua grandeza< 1im, maior do que isto /urus%a.

    0;das as criaturas s!o urra quarta parte d=le, tr=s quartas par'

    tes s!o a vida eterna no cu.

    +om tr=s quartos /urus%a subiu> um quarto d=le novamente

    estava aqui.

    *a( saiu para todos os lados por s;bre o que come e o que

    n!o come.

    *ele nasceu 6iraj 3a5> e novamente de 6iraj nasceu /urus%a.

    Assim que nasceu, espal%ou'se para oriente e ocidente sobre

    a terra.

    ?uando os deuses prepararam o 1acrif(cio com /urus%a como

    sua oferenda,

    1eu $leo foi a primavera> a ddiva santa foi o outono> o ver!o

    foi a madeira.

    http://india-antiga-didatica.blogspot.com/2010/08/2a-aula-religiao-e-pensamento.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-apoio-o-purusha-sukta-hino-do.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-religio-vdica-por-louis.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-divindades-hindus-por-s.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-o-budismo-por-e-gathier.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-o-jainismo-por-e.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-as-seitas-shivatas-por.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-os-shaktas-por-louis.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-as-seitas-vishnustas.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2010/08/2a-aula-religiao-e-pensamento.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-apoio-o-purusha-sukta-hino-do.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-religio-vdica-por-louis.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-divindades-hindus-por-s.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-o-budismo-por-e-gathier.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-o-jainismo-por-e.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-as-seitas-shivatas-por.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-os-shaktas-por-louis.htmlhttp://india-antiga-didatica.blogspot.com/2007/07/texto-de-anlise-as-seitas-vishnustas.html
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    les embalsamaram como vitima sobre a grama o /urus%a nas'

    cido no tempo mais antigo.

    +om ele as deidades e todos os 1ad%@as e is%is 3b5 fizeram sa'

    crif(cio.

    *esse grande 1acrif(cio geral a gordura que gotejava foi col%ida.

    le formou as criaturas do ar, os animais selvagens e domesticados.

    *aquele grande 1acrif(cio geral ics 3c5 e %inos'1ama 3d5 nasceram>

    *a( foram produzidos encantamentos e sortilgios> os ajus 3e5

    surgiram disso.

    *=le nasceram os cavalos e todo o gado com duas fileiras de

    dentes>

    *=le se reuniu o gado vacum, d=le nasceram cabras e ovel%as.

    ?uando dividiram /urus%a, quantos pedaos fizeramB

    A que c%amam sua b;ca, seus braosB A que c%amam suas

    coxas e psB

    O )rCmane 3f5 foi sua boca, de ambos os seus braos foi feito o

    ajan@a 3xtria5.

    1uas coxas tornaram'se o vaix, de seus ps o sudra foi produzido.

    A Lua foi engendrada de sua mente, e de seu ol%o o 1ol nasceu>

    "ndra e Agni nasceram de sua boca, e 6a@u de seu alento.

    *e seu umbigo veio a atmosfera> o cu foi modelado de sua

    cabea>

    A terra de seus ps, e de suas orel%as as regi#es. Assim eles

    formaram os mundos.

    1ete bast#es de luta tin%a =le, tr=s v=zes sete camadas de com'

    bust(vel foram preparadas,

    ?uando os deuses, oferecendo o sacrif(cio, manietaram sua v('

    tima, /urus%a.

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    Os deuses, sacrificando, sacrificaram a v(tima> estes foram os

    primeiros sacramentos.

    Os poderosos c%egaram Ds alturas do cu, l onde os 1ad%jas,

    deuses antigos, est!o morando.3E5

    3EF.GF5

    a5 +ontrapartida feminina do principio masculino, /urus%a.

    b5 santos e profetas de tempos antigos.

    c5 strofes do ig'veda.

    d5 strofe do sama'veda.

    e5 H$rmulas rituais do ajur'veda.f5 As quatro classes sociais.

    0radu!o de Louis enou

    Texto de Anlise - A Reliio !"di#a$ por %ouis Renou

    &eneralidadesO vedismo ou religi!o do 6eda constitui o aspecto mais antigo sob o

    qual nos s!o apresentadas as formas religiosas na ndia. Os textos

    vdicos, que s!o os primeiros monumentos literrios da ndia 3e dos

    mais antigos da %umanidade5, proporcionam simultaneamente o

    testemun%o mais arcaico da religi!o a que se c%ama ora

    bramanismo, ora %indu(smo. 1e %ouvesse que limitar as duas

    palavras, bramanismo deveria designar a religi!o das pocas antigas

    e confundir'se depois, em parte ou na totalidade, com o vedismo,enquanto o %indu(smo visaria mais a evolu!o religiosa no seu

    conjunto, quer a partir do 6eda, quer ap$s o per(odo vdico. A

    religi!o vdica a que os invasores arianos levaram consigo quando

    irromperam no &oroeste da ndia 3o /anjCb, bacia do alto "ndo5,

    entre -EFF e EIFF antes da nossa era. O fundo remonta a dados que

    se deixam caracterizar como Jindo'iranianosK.

    6oltamos a encontr'los quando observamos o que, no "r!o,

    anterior D reforma de oroastro e, ao mesmo tempo, %om$logo aos

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    fatos con%ecidos na ndia JvdicaK9 a crena em certas no#es

    fundamentais, numa dupla %ierarquia divina 'os daivas e os asuras>

    por outro lado, o culto do Hogo, os sacrif(cios animais, os sacrif(cios

    de soma. :as, para alm desta religi!o indo'iraniana, que n!o

    passou de uma etapa, existe um plano "ndo'europeu.

    A religi!o "ndo'europeia consistia numa rede de crenas j

    complexas, ao mesmo tempo naturalistas, rituais e JsociaisK. 1ob

    um deterrminado Cngulo, estavam repartidas em fun#es9 uma

    propriamente religiosa, sacerdotal e jur(dica, outra representativa

    do poder temporal e uma terceira de tipo econ;mico.

    :as a religi!o vdica s$ se explica numa medida muito reduzida por

    essa dupla %erana indo'iraniana ou indo'europeia. m contactocom elementos aut$ctones ou pelo efeito de uma rpida evolu!o

    interna, as formas antigas foram enriquecidas ou alteradas.

    Absorveram uma parte daquilo a que se pode c%amar o %indu(smo

    JprimitivoK 'de que nada con%ecemos, D parte precisamente os

    vest(gios que se encontram na religi!o vdica e esclarecem quando

    comparados com fatos atestados na ndia ulterior.

    Os Textos

    Os Mnicos monumentos da religi!o vdica s!o textos, de data e

    inspira!o variadas. sses textos formam um conjunto

    excepcionalmente amplo e importante, embora o que se conservou

    at nNs represente apenas, segundo a tradi!o, urna pequena parte

    do que existia na origem. +om efeito, essa literatura foi'nos

    transmitida repartida por escolas, a que a tradi!o c%ama JramosK,

    as quais comearam por ser em nMmero de quatro, em virtude da

    fun!o qudrupla dos celebrantes, e depois cindiram'se noutros

    JramosK devido aos ensinamentos particulares a que deu origem o

    desenvolvimento progressivo da prtica religiosa e sua extens!o

    atravs de toda a ndia. Ora, nem todas as escolas primitivas, nem

    todos os ramos secundrios 3nem a totalidade ou a integridade dos

    textos num mesmo ramo5 c%egaram at n$s, muito longe disso.

    Os textos mais importantes e, de resto, os mais antigos s!o as

    quatro Jcompila#esK 31am%ita5 que formam aquilo a que se c%amaos quatro 6edasP. O termo veda, que significa JsaberK, tambm se

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    emprega, num sentido amplo, para designar toda ou uma parte da

    literatura ulterior, fundada numa ou noutra das quatro 1am%itCs.

    1!o9

    E5 O ig'6eda ou J6eda das strofesK, o documento das literaturas

    indianas mais antigo9 reuni!o de cerca de mil %inos Ds divindades,

    que prefigura uma espcie de antologia obtida compilando as peas

    conservadas por vel%as fam(lias sacerdotais> a maior parte desses

    %inos refere'se mais ou menos diretamente ao sacrif(cio de soma>

    no entanto, alguns t=m urna rela!o muito reduzida ou mesmo nula

    com o culto>

    -5 O ajur'6eda ou J6eda das H$rmulasK, que nos transmitido em

    vrias recens#es9 urnas combinam'se com as Jf$rmulasK queacompan%am a liturgia dos elementos de um comentrio em prosa

    ' aquilo a que se c%ama o ajur 6eda &egro', enquanto outras

    apenas d!o as fQrmulas e trata'se ent!o do ajur'6eda )ranco>

    R5 o 1Cma'6eda ou Jveda das :elodiasK urna coletCnea de

    estrofes como o ig'6eda, no qual, alias, essas estrofes se inspiram

    na quase totalidade, mas est!o dispostas com vista D execu!o do

    cCntico sagrado e comportam nota#es musicais>

    S5 Hinalmente, o At%arva'6eda tambm uma compila!o anlogaao ig'6eda, mas de carter em parte mgico e em parte

    especulativo. A tradi!o fala com freqT=ncia de Jtr=s 6edasK ou da

    Jtripla ci=nciaK, porque considera implicitamente o At%arva

    estran%o D alta dignidade pr$pria dos Jtr=s 6edasK.

    1eguem'se, na ordem cronol$gica, os )ra%manas ou J"nterpreta#es

    sobre o bramaK, comentrios em prosa que explicam quer os ritos,

    quer as f$rmulas que os acompan%am. 4 os ligados aos diferentes

    6edas e at dois ou mais de dois para todos os 6edas, exceto para o

    At%arva. stes dois primeiros ramos da literatura vdica formam

    aquilo a que se c%ama a ruti ou Jrevela!oK> por outras palavras,

    passam por ser de origem divina, resultar de uma comunica!o por

    Jvid=nciaK feita a determinados seres %umanos privilegiados. A

    ruti comporta ainda textos mais breves, completamente naturais

    dos )rC%manas, os Uran@a2as ou J0ratados HlorestaisK, pr$prios

    para serem recitados longe das aglomera#es, e os Vpanis%ads ouJ+oncep#esK, que se envolvem no vivo das especula#es.

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    Os outros documentos do vedismo pertencem D smriti ou Jtradi!o

    memorizadaK9 trata'se, em primeiro lugar, dos 1utras ou

    JAforismosK, isto , textos redigidos num estilo muito %ermtico,

    destinados a ser aprendidos de cor pelos novios liturgistas. Hoi

    compilado um nMmero elevado deles, para os diferentes JramosK,

    quer na ordem das cerim;nias solenes, quer na ordem do ritual

    JdomsticoK> outros ainda resumem ensinamentos mais gerais,

    traando o esboo de um direito civil e penal que sai gradualmente

    da matriz das prescri#es sacerdotais.

    A literatura termina com sries de textos, escritos ora em estilo de

    aforismo, ora em prosa corrente, eventualmente em vers(culos9

    completam o que se deve saber para ser um ritualista completo 'tratados de mtrica, de fontica, de astronomia, listas diversas e

    tabelas das matrias met$dicas, etc.

    O conjunto est redigido em sCnscritoW, mas num sCnscrito arcaico

    que contm numerosas particularidades mais tarde perdidas. Os

    4inos e as Jf$rmulasK em geral 3o que se engloba sob a designa!o

    de mantra5 s!o de um arca(smo muito mais pronunciado que a prosa

    subseqTente. :as, no conjunto, a cronologia interna n!o fcil de

    estabelecer.WX/ronMncia das palavras sCnscritas9 u pronuncia'se como na nossa

    l(ngua> c e j pronunciam'se respectivamente tc% e dj> g tem sempre

    o som gu=> / equivale ao som do ic%. &esta tradu!o, utilizamos o

    Y para representar o som Z ou 1%.[

    ?uanto D cronologia absoluta, tambm n!o muito segura. A

    reda!o do ig'6eda pode situar'se, por %ip$tese, nos sculos Z ou

    Z"" antes da nossa era. Os Mltimos textos vdicos, ou seja, os

    JanexosK do 6eda e os grandes Vpanis%ads devem ser do sculo 6"

    ou 6. &!o obstante, a sua prepara!o remonta a muito mais atrs,

    e os tratados vdicos isolados foram compilados mais tarde. A

    transmiss!o e mesmo a confec!o foram orais ou, pelo menos, s$

    comportaram a escrita a titulo de auxiliar. Ainda %oje os

    recitadores que subsistem atravs da ndia conservam oralmente

    vastas por#es do 6eda, em condi#es de uma exatid!o

    surpreendente.

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    As 'renas e a itoloia

    A religi!o vdica consiste, antes de mais, numa mitologia muito

    elaborada. Os deuses do 6eda, como os descreve principalmente o

    ig'veda, s!o seres ativos que interv=m com naturalidade nos

    assuntos %umanos. +onvenientemente invocados, gratificados com

    belas oferendas, s!o prestveis, de contrrio perigosos, e vrios

    deles naturalmente ambivalentes. numeram'se em geral trinta e

    tr=s, divididos, desde a Antiguidade, em deuses terrestres, do

    Jespao intermdioK 3atmosfera5 e celestes. Vma divis!o mais

    pertinente seria por fun#es'deuses soberanos, guerreiros e

    patronos da fun!o Jecon;micaK 3agricultura, cria!o de gado e

    artesanato5, mas isto apenas abarca urna pequena parte dos fatos.&a realidade, as atribui#es s!o mMltiplas, e o pr$prio formulrio e

    exig=ncias do paneg(rico contribu(ram para as diversificar. *otou'se

    a divindade que se celebrava num momento determinado de todas

    ou parte das fun#es aferentes aos outros deuses, pelo que a

    mitologia vdica se tomou uma coisa confusa, mal decifrvel D

    primeira vista.

    &o fundo do pante!o reside *@aus% /itar, o +u /ai, equivalente ao

    8Mpiter romano, mas trata'se de uma figura muito plida, como adeusa 0erra ou o casal +u'0erra, invocados com freqT=ncia apesar

    disso. :ais perto, mas ainda recol%ida, encontra'se a figura

    impressionante de 6aruna, deus soberano, conservador das leis

    c$smicas e morais, espiador dos culpados, que amarra com os seus

    lacetes, possuidor de uma faceta perigosa, quase sinistra.

    Associam'l%e com freqT=ncia outro soberano, :itra, deus dos

    contratos e da majestade jur(dica. 6aruna e :itra s!o os primeiros

    de entre os Udit@as, seqT=ncia de sete ou oito entidades que

    passam por descendentes de Aditi, esboo vago de uma *eusa':!e.

    O papel proeminente est reservado a "ndra, cujas proezas

    maravil%osas nos s!o descritas incessantemente9 venceu multid#es

    de inimigos %umanos ou demon(acos, auxiliado por pr(ncipes

    aliados. &um plano mais naturalista, matou, com o seu raio, o

    drag!o que bloqueava as guas, conquistou o 1ol, libertou as

    auroras prisioneiras, etc. A origem de "ndra, em que alguns viram ot(pico deus JarianoK, mantm'se duvidosa.

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    ntre os seus aliados figuram os :arutes, grupo de %omens jovens

    que cavalgam nas nuvens e provocam a tempestade e a c%uva, aos

    quais tambm c%amam udras, ou seja, fil%os de udra. ste dado

    conduz'nos a uma das figuras mais estran%as do vedismo9 udra,

    deus essencialmente tem(vel, mesmo 3e, sobretudo5 quando l%e

    c%amam Yiva Jo benfeitorK. \ certo que, por outro lado, se revela

    milagreiro, e as invoca#es que l%e dirigem emprestam a essa dupla

    qualidade uma natureza muito especial. Outras personalidades, em

    geral tambm aliadas de "ndra, s!o o casal dos Avins ou &Csat@as,

    que percorrem o cu no seu carro, marcando pela sua passagem a

    aurora e o crepMsculo. 1!o equivalentes aos *i$scuros da mitologia

    grega.&!o se sabe ao certo se a Lua objeto de uma venera!o direta,

    mas as representa#es solares ocupam um lugar imenso, com as

    figuras de 1ur@a, o 1ol, e 1avitar, o "ncitador. 6is%nu, que atravessa

    o universo em tr=s passadas, representa um mito solar, alm de

    outros, e a Aurora divinizada de forma transparente sob a

    designa!o da graciosa deusa Vs%as. 4 o 6ento com 6C@u e a

    0ormenta com /arjan@a.

    Outro grupo de seres, sem se distinguir radicalmente dosanteriores, tem o seu ponto de partida em objetos concretos,

    vis(veis aos seres %umanos e pr$ximos deles9 trata'se de 1oma, que

    personifica o licor do mesmo nome, e tambm de Agni, que , em

    primeiro lugar, o JfogoK ateado pelos %omens e depois o fogo do

    1ol, o das nuvens, que se esconde nas plantas e nas guas. 1oma e

    Agni tomaram'se personagens desmesuradas, Ds quais se ligam

    no#es mMltiplas.

    A um n(vel secundrio, /]s%an, o deus que guia %omens e animais,

    )ri%aspati, o Jmestre da f$rmulaK, e 0vas%tar e os tr=s ib%us,

    deuses artes!os. As fun#es s!o, de resto, pouco especializadas.

    os indiv(duos apresentam'se mal separveis, por vezes sob a forma

    de nomes de objetos ou plantas, que se encontram,

    temporariamente ou n!o, promovidos D categoria divina. m

    compensa!o, n!o % figuras femininas> a no!o de esposa divina

    n!o se ac%a acreditada. Os dem;nios abundam, mesclados comrecorda#es de inimigos %umanos, mas n!o existe no!o demon(aca

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    central. O mais importante, 6ritra, inimigo de "ndra, personifica a

    Jresist=nciaK. Os casais e grupos an;nimos s!o freqTentes. Os

    Asuras, em primeiro lugar deuses soberanos, orientam'se a pouco e

    pouco, desde o ig'veda tardio at D demonialidade, D medida que

    o culto dos devas se consolida. Antigos sacrificadores, /ais, s!o

    elevados, aqui e ali, ao grau divino.

    Acima dos deuses, ou D parte, grandes foras abstratas animam o

    mundo, sendo a principal o rita, JordemK c$smica e JordemK ritual

    ou moral simultaneamente.

    A #osmoloia

    A cosmologia representada por no#es assaz vagas, o mesmo sepassando com a cosmogonia, que descreve por meio de diversas

    metforas e mitos abortados a obra da cria!o do mundo. 4

    algumas idias, por vezes precisas, sobre um princ(pio espiritual

    equivalente Dquilo a que c%amamos alma. 1e n!o existe qualquer

    imagem estvel dos infernos, o para(so ac%a'se definido muito

    nitidamente como o mundo de Jobra piaK, ao qual se tem acesso

    pela Jvia dos deusesK, situado no terceiro cu e constitu(do por

    felicidades exclusivamente materiais. Alias, o %omem JvdicoKnada pede para alm da vida presente, da vida de cem anos que

    deseja9 n!o tem uma vis!o clara de renascimentos eventuais,

    mesmo que algumas alus#es amb(guas se possam interpretar nesse

    sentido. ama, o primeiro dos %umanos, por conseguinte o primeiro

    daqueles que morreram, tornou'se 3em seguidaB5 o rei dos mortos,

    sen%or do mundo subterrCneo ou ainda, segundo outra evolu!o, o

    soberano do para(so.

    &os )rC%manas , foi a personalidade de /rajCpati, Jo amo das

    criaturasK, que absorveu quase toda a cosmogonia. Alm do

    +riador, o 1acrif(cio personificado, aquele que reMne as estruturas

    dispersas para realizar o rita. :as, paralelamente, a imagina!o

    m(tica, j muito desgastada no At%arva'6eda, rarefez'se, cedendo

    o lugar, no plano dos textos pelo menos, D especula!o de

    tend=ncia filos$fica.

    Os Ritos

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    1e con%ecemos a mitologia pelo ig'6eda, e sobretudo a

    especula!o pelos Vpanis%ads, todos esses textos pouco t=m para

    nos ensinar sobre o culto. 4 que consultar aqui os )ra%manas e,

    ainda mais, os 1]tras, que o descrevem com uma minMcia

    exemplar. &!o se deve depreender da( que certas formas, assaz

    elaboradas, de prtica religiosa n!o existiram desde os prim$rdios

    do per(odo vdico e, de resto, n!o seria imposs(vel restituir'l%es as

    lin%as gerais.

    O culto vdico repousa sobre o sacrif(cio. 4omenagem solene D

    divindade, o sacrif(cio executa'se sob a forma de uma cerim;nia

    mais ou menos longa, que tem por ponto culminante as oferendas

    feitas ao Hogo. O objetivo consiste em entrar em comunica!o como mundo divino, assegurar o seu concurso para obter determinadas

    vantagens, gerais ou especiais. \ certo que existem sacrif(cios

    JfixosK, correspondentes a datas do calendrio, que n!o

    comportam, em principio, men#es votivas, mas esses sacrif(cios

    3ou uma ou outra por!o deles5 podem carregar'se facilmente de

    uma afec!o votiva. A ora!o est inserida no sacrif(cio, no sentido

    de que se exprime pelas Jf$rmulasK que acompan%am os atos e

    manobras, n!o tendo express!o independente.A oferenda, que consiste ora 3na maioria dos casos5 em produtos da

    cultura ou cria!o de gado ' bagos de arroz ou outros, leite, g%rita

    ou Jmanteiga derretidaK', ora em pedaos de uma v(tima animal

    3em regra, o bode5, em parte lanada ao fogo e em parte

    consumida pelos celebrantes e pelo JsacrificadorK laico, que se

    assegurou o seu concurso e manda executar o ato em seu proveito.

    Outra obla!o que domina nas cerim;nias mais importantes a do

    soma, planta de propriedades excitantes, de carter assaz

    misterioso, cuja espremedura objeto de uma seqT=ncia complexa

    de opera#es.

    O ve(culo da oferenda o fogo, cuja Jinstitui!oK forma em si uma

    cerim;nia aut;noma. Os sacrif(cios costumam realizar'se

    recorrendo a tr=s fogueiras, dispostas em torno de uma pequena

    escava!o que exerce as fun#es de um JaltarK.

    O laico assiste ao sacrif(cio com a esposa, pronunciando mesmoalgumas f$rmulas, mas o seu papel essencial consiste em repartir os

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    %onorrios 3que podem atingir dimens#es fabulosas5 atribu(dos aos

    diversos celebrantes. stes Mltimos s!o dirigidos pelo bra%man, que

    assiste em sil=ncio e adverte se se produz um erro ou acidente. O

    %otar entrega as obla#es e recita as seqT=ncias extra(das do ig'

    6eda, o udgCtar entoa as estrofes inspiradas no 1Cma'6eda e,

    finalmente, o ad%var@u procede aos inMmeros gestos e recita#es,

    que, de acordo com o ajur '6eda, comp#em a pr$pria textura do

    sacrif(cio. &o total, incluindo os auxiliares, % at dezesseis ou

    dezessete celebrantes.

    O terreno sacrifical uma rea aberta, sacralizada para cada nova

    cerim;nia, sem templo nem imagem. ntre os instrumentos do

    culto, col%eres e vasos de fun#es bem determinados, devemsalientar'se os JcacosK de tijolo colocados no fogo, nos quais se

    estende a massa.

    O rito solene mais breve o Agni%otra ou JObla!o ao fogoK9 uma

    oferenda simples de leite a Agni, executada pelo sacerdote manual

    e o laico, de man%! e D noite. \ mais complexo o sacrif(cio das luas

    c%eia e nova, t(pico das obla#es vegetais que servem de norma a

    todas as outras e exigem dois celebrantes. Os ritos quadrimestrais

    acompan%am as mudanas das esta#es e dividem'se em tr=s sries3com uma quarta em anexo5, sulcadas de traos populares. 4 um

    rito das prim(cias e a massa dos ritos votivos ou expiat$rios que

    repousam sobre o esquema do sacrif(cio das quinzenas lunares.

    O 1acrif(cio animal, a imola!o 3por asfixia5 de um bode, inspira'se

    igualmente no anterior e figura quer no estado independente, quer

    como parte integrante dos sacrif(cios de soma. stes s!o os mais

    solenes de todos9 o tipo de base ou Agnis%toma uma seqT=ncia de

    tr=s espremeduras 'man%!, tarde e noite', precedida de longos

    preliminares 3consagra!o do laico e da esposa, aquisi!o do soma,

    instala!o dos lares e altares5, enquanto a cerim;nia propriamente

    dita consiste em obla#es entrecortadas de recita#es e cCnticos,

    em que todos os celebrantes participam. Vma parte singular do

    Agnis%toma o /ravarg@a, oferenda aos Avins de leite aquecido

    num vaso consagrado. 4 liturgias mais desenvolvidas, durante dez

    a doze dias, e at Jsess#esK que se prolongam por um ano inteiro,teoricamente por doze. A Jgrande observCnciaK uma festa de

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    solst(cio de "nverno, durante a sess!o anual dita Jmarc%a das

    vacasK.

    1urgem finalmente as feiras, que, sem se diferenciarem muito a

    fundo das anteriores 'trata'se igualmente de sacrif(cios de soma',

    correspondem a acontecimentos da vida do rei9 o Cjas]@a ou

    J+onsagra!o do eiK, aspers!o do novo eleito pelo celebrante e

    pelos representantes do povo> o 6Cjape@a ou J)eberagem de

    HoraK, festividade religiosa do pr(ncipe vitorioso, que comporta

    uma corrida de cavalos atrelados a dezessete carros> e, por Mltimo,

    o Avamed%a ou J1acrif(cio do +avaloK, o mais grandioso de todos,

    cujos preliminares se estendem por um ano e mesmo dois.

    A par do soma, bebida nobre, %avia a surC, lcool grosseiro queserviu de oferenda num rito particular. Hinalmente, algumas

    cerim;nias s!o precedidas da constru!o de um monumento de

    tijolos, com fora de obla#es e desenvolvimento de uma simb$lica

    extens!o.

    Texto de Anlise - i*indades Hindus$ por S+ %emaitre

    A miss!o de dar ao mundo a no!o do Absoluto, tal como foi

    revelada no 6eda, livre da ci=ncia tradicional da ndia nas idades

    mais antigas, estava reservada D poesia pura, aquela que celebra as

    foras c$smicas do cu e da terra.

    sse Absoluto o )rama, que n!o pode ser definido. O )rama, a

    bril%ante luz das luzes, ^envolvido em sua capa de ouro^, por quem

    o esp(rito pensa, mas que n!o cabe no pensamento de ningum,

    permanece incomunicvel.^/erguntas o que o )ramaB \ o teu pr$prio tman, que interior a

    tudo.^ X)ri%ad Aran@a2a, up. """, S[.

    O )rama, neutro, impesoal, incondicionado, inqualificado,

    superior a qualquer distin!o. le a origem, a causa, a ess=ncia

    do universo, porque tudo o que , )rama. le pura exist=ncia9

    sal, pura intelig=ncia9 c%ie, pura beatitude9 ananda.

    &a impossibilidade de O conceberem em sua 0otalidade e em sua

    6erdade, os %indus tentam encontr'lo em suas manifesta#es

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    *ivinas. Adorar o )rama em seus atributos faz='lo descer ao n(vel

    %umano, p;'lo ao alcance do %omem. O )rama toma'se ent!o um

    deus pessoal, em apar=ncia. pode ser ent!o encarado sob

    qualquer de suas Hun#es ou de suas /ot=ncias.

    &os %inos vdicos, os deuses implorados, apenas

    antropomorfizados, pertencem aos astros, D atmosfera, ao solo.

    0=m nomes e aspectos inumerveis, sendo como s!o express#es de

    )rama, indefinido em suas formas, embora V&O em sua ess=ncia.

    ssas manifesta#es divinas correspondem Ds afinidades dos

    crentes. 1ua multiplicidade pode surpreender tanto mais o esp(rito

    ocidental quanto cada deus personificado traz Ds vezes vrios

    nomes, segundo a qualidade ou atividade sob a qual invocado. Odeus escol%ido por seu adorador c%ama'se ^seu ic%ta^. \ a ele que o

    fiel dirigir suas preces, seus rosrios, e por seu ic%ta que ele se

    aproximar de )rama. O )rama, *ivindade 1uprema, junto de quem

    os demais deuses n!o passam de simples intermedirios, contm em

    si todos os ic%tas. \ sempre )rama, pois que tudo )rama.

    Os deuses podem personificar a Alegria, a :iseric$rdia ou a :orte.

    /ara mostrar que essas individualiza#es n!o passam de uma

    concep!o de )rama por um ^fervoroso^, 6ic%nu diz a Ziva, no6ic%nu'/urana9

    ^Os ignorantes consideram'se como distinto de 0i.^

    O crente pode encontrar o )rama em si'mesmo, em seu cora!o,

    porque todo o ser possui uma fa(sca de )rama, c%amada tman.

    ste tman representa o u'mesmo de cada um, princ(pio

    transcendente que jamais se particulariza.

    ^O )rama reside no cora!o. le est ali e em nen%uma outra parte.

    Os sbios que o contemplam dentro de sua pr$pria alma, estes, e

    n!o outros, possuem o descanso eterno.^

    3)ri%ad aran, up. """, E5.

    *a mitologia do 6eda, t!o bem elaborada qu!o complicada,

    preciso citar entre os deuses mais invocados9 "ndra, com um papel

    preeminente. le encarna a fora conquistadora. 1uas proezas e

    suas vit$rias s!o objetos de muitas narrativas. le matou com o seu

    raio 3vajra5 o drag!o que obstru(a as guas, e, depois de terconquistado o sol, libertou as auroras prisioneiras.

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    A montaria 3va%ana5 de "ndra um elefante branco9 Airavata. O

    deus geralmente representado coberto de j$ias, coroado de um

    turbante real ou de uma tiara cil(ndrica, com o raio, o disco, o

    dente de elefante. 1ua esposa lndrani ou +aci, que ele roubou ao

    pai, /uloman, inimigo de "ndra.

    udra, o ^poderoso^ dos %inos vdicos, tornar'se' Ziva, o benfico

    e curador. Os udras, fil%os de udra, aliados de "ndra, formam um

    grupo de jovens que cavalgam as nuvens e s!o portadores da

    tempestade e da c%uva.

    Agni, o deus do fogo e do sacrif(cio, tem um lugar primordial. le

    faz a unidade do mundo em suas tr=s partes9 terra, cu e atmosfera

    intercalar. le ao mesmo tempo9 vontade divina, vis!o perfeita eopera!o ritual9

    ^$ Agni, tu s a matria dos jovens rebentos> as guas s!o tua

    semente. "nato em todas as coisas e crescendo sempre com elas, tu

    as conduzes D maturidade. O tudo subsiste em ti. evestido das

    formas do sol, tu tomas com os teus raios a gua da terra, para

    espal%'la ao depois em c%uvas nas esta#es pr$prias, dando assim

    a vida a todos os seres. 0udo renasce ent!o de ti9 as lianas, a verde

    fol%agem, os lagos, o leito afortunado das guas, todo o Mmidopalcio submetido a 6runa.^ Xig'6eda[.

    6aruna, mantenedor da ordem c$smica, sen%or das guas, um dos

    deuses maiores do 6edismo. A esse deus, envolto num manto de

    ouro, associa'se :itra, cercado de majestade jur(dica, com um

    squito de sete ou oito entidades9 os Adit@as, descendentes de

    Aditi, deusa'm!e. 1ur@a, o sol, especifica'se em 6ivasvante>

    +andara a lua, e 6a@u o vento. /rajpati, pai dos deuses 3devas5 e

    dos dem;nios 3asuras5, sen%or das criaturas, figura importante

    entre os deuses. &umerosos %inos l%e s!o dirigidos.

    m plano secundrio, temos ainda /@auc% /itar, o +u'/ai> e

    /rt%ivi, a 0erra':!e> os :arutes, deuses das tempestades> Vc%a, a

    Aurora, e os Avins, que simbolizam as estrelas da man%! e da

    tarde> ama, o primeiro %umano, tornou'se o deus da :orte,

    sen%or do mundo subterrCneo. m seguida, menos definido, temos

    /uc%an, o deus que guia os %omens e os animais. )ri%aspati,sacerdote dos deuses, uma segunda forma de Agni. \ imposs(vel

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    citar todos os deuses vdicos> eles s!o inumerveis. Afora os

    deuses, existem as foras que agem sobre o universo, dentre as

    quais ^o rita^ a principal ' ao mesmo tempo ordem c$smica e

    ordem ritual e moral.

    nfim, o soma, planta sacrifical, licor fermentado tornado bebida

    divina que confere a imortalidade, foi elevado D dignidade de um

    deus no livro Z" do ig'6eda.

    A origem terrestre de 1oma prende'se ao :onte :ujavante. :as

    sua verdadeira ptria o cu9 fil%o do cu, sua forma celeste

    corresponde Ds do nascimento e da espremedura. le foi trazido a

    terra por uma grande ave 3guia ou falc!o5, que o roubara do

    castelo de bronze onde era guardado pelos 7and%arva, ou peloarqueiro _ranu, o qual, atirando sobre a ave arrancou'l%e uma

    un%a ou uma pena. Algumas vezes a guia "ndra> nos )ramanas o

    soma roubado por 7a@arti, nome m(tico de Agni.^

    XL. enou, op. cit.. pg. R-G[.

    Vma 0rindade divina ou ^0rimurti^ domina as mMltiplas formas

    divinas. sta 0rindade comp#e'se de tr=s deuses que repartem

    entre si as atividades fundamentais de "c%vara, nome genrico do

    deus Mnico e supremo e a 6ontade de /oder, s(mbolo do )rama, queest acima da 0rindade e permanece neutro e inacess(vel.

    O poder de criar, que parece ser a manifesta!o mais elevada,

    pertence D )rama, que n!o deve ser confundido com o )rama

    impessoal. sse )rama, ao contrrio, personalizado por sua

    fun!o de criador.

    m seguida vem o poder de conservar, que est nas m!os de

    6ic%nu. O poder de destruir, finalmente, atribu(do a Ziva. sses

    deuses, que representam os tr=s aspectos de "c%vara, formam a

    grande 0rindade da ndia, ou 0rimurti, cuja atividade corresponde

    ao ritmo da cria!o do mundo9 o comeo de um ciclo, sua

    manifesta!o total e seu acabamento ou reabsor!o em )rama, o

    /rala@a per(odo que precede a era seguinte.

    As rela#es dos deuses entre si s!o t!o vagas e instveis como as

    variantes de uma legenda. ntretanto, certos mitos fixos persistem

    e aureolam este deus ou aquela deusa. O deus n!o muda, mas ocora!o do %omem cresce, e crescendo, faz crescer tambm a

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    imagem do deus que ele traz em si.

    ntre os deuses importantes que se substitu(ram ou se ajuntaram

    aos do 6eda na tradi!o %indu, )ra%ma permanece bastante

    abstrato, apesar de seu papel criador. \ ele quem faz nascer a

    diversidade na Vnidade. le n!o tem um culto especial. 1eus

    santurios s!o raros. O maior encontra'se em puc%2ar, perto de

    Ajmer, no ajputana. 1arasvati a Za2ti de )rama. Za2ti o nome

    que se d D nergia que emana do deus e o completa sob a forma

    feminina de uma deusa. Associada aos grandes deuses, identificada

    D /alavra 3vac5 nos )ramanas, deusa dos rios divinos nos tempos

    vdicos, 1arasvati simboliza as artes, a eloqT=ncia, o saber e a

    onda da 6erdade^.)ra%ma muitas vezes representado com quatro rostos

    3atarmu2%a5 voltados para os quatro pontos cardeais, e quatro

    braos 3tendo nas m!os os quatro 6edas5> traz nas cabeas ora

    coroas, ora tranas 3donde o seu nome de +i2%in5, e apresentam'se

    barbudos os seus rostos. 1eus atributos s!o o jarro, o rosrio e as

    duas col%eres rituais 3:anasara5, Ds vezes o disco. A cor rosa. Ora

    se apresenta montado num cisne 3%ansa5, ora de p, Ds mais das

    vezes sentado num l$tus que sai do ventre de 6ic%nu, donde seunome9 ^aquele que nasce do l$tus^ ou ainda ^do umbigo^, mas

    tambm 3desde a epopia5 ^aquele que nasceu de si mesmo^

    3sva@amb%u5, isto , inato XL. enou, op. cit., pg. IFF[.

    6ic%nu, na 0rimurti, tem o papel benfico de conservador do

    +osmos. le preside aos destinos %umanos. \ um deus de origem

    solar definido por quatro atributos9 a conc%a 3san2%a5, o disco

    3sa2ra5> clava 3gada5 e a flor de l$tus 3/adma5. epresentam'no sob

    os traos de um %omem jovem, de cor azul'escuro, com quatro

    braos.

    ^Os -S nist%a ou ^atitudes^ que comp#em a figura!o total da

    divindade comportam cada uma um valor esotrico dirigente de

    uma encarna!o particular. 0=m igualmente uma significa!o

    simb$lica a j$ia 2austub%a que 6ic%nu traz ao pescoo, e o anel de

    p=los estilizado em iconografia 3o rivitsa5 que l%e orna o peito.

    0raz geralmente um diadema na cabea 32irita5^ 3id.5.m geral, 6ic%nu apresenta'se deitado, em suas representa#es, e

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    mesmo adormecido sobre o oceano ca$tico, a serpente infinita de

    mil cabeas. 6emo'lo igualmente tronando no cu, 6ai2%unta,

    rodeado de sua corte. 7aruda a cavalgadura 3va%ana5 de 6ic%nu,

    tambm ela objeto de um culto. sta 7aruda a guia celeste,

    fil%a de _ac2apa e de 6inata. Hoi ela quem roubou o soma, o licor

    de vida, em benef(cio dos deuses.

    O culto de 6ic%nu muito popular e tem formas mMltiplas e

    numerosos santurios. \ venerado num elevad(ssimo plano abstrato,

    porque ele representa o amor divino. 6ic%nu muitas v=zes

    acompan%ado de sua Za2ti, La2c%mi ou a ^)eleza e a Hortuna^,

    emblema da esposa modelo e servial, assim como da gl$ria e da

    prosperidade. la figurada por uma jovem sedutora, sentadanuma flor de l$tus e segurando uma cornuc$pia, enquanto dois

    elefantes brancos, munidos de jarros em suas trombas, regam os

    l$tus que ela tem nas m!os. la invocada para os bens temporais

    e espirituais, a f e a saMde.

    &a tradi!o %indu os deuses podem reencarnar'se a seu bel'prazer

    ou em obedi=ncia a uma ordem, para cumprir uma miss!o,

    particularmente a de socorrer a %umanidade sofredora. As

    encarna#es dos deuses denominam'se ^avatares^ ou ^descidas^.6ic%nu o que se encarna mais vezes. /ode %aver um nMmero

    ilimitado de avatares. ama2ric%na dizia9 ^Os avatares s!o para o

    )rama o que as vagas s!o para o oceano^.

    ?uando um deus importante vem D terra, divindades secundrias o

    acompan%am para fazer parte de sua c;rte. &umerosas

    encarna#es de 6ic%nu s!o descritas no )%agavad'/urana, mas

    existem dez que s!o clssicas. A primeira representa 6ic%nu vindo

    como peixe para salvar o rei :anu 6aivasvata, tema indiano do

    *ilMvio. *epois, 6ic%nu aparece como javali. le soergue a 0erra,

    que o dem;nio 4iran@a2c%a tin%a mergul%ado no fundo do

    oceano. .. ainda 6ic%nu, tornado ama, o %er$i do ama@ana,

    que triunfa sobre o dem;nio vana. 1ervindo enfim de pedestal

    que se ap$ia no fundo dos mares, 6ic%nu, em forma de tartaruga,

    suporta o monte :eru, em volta do qual se colocou a serpente

    +ec%a. le assiste ao encapelamento do oceano. &esse combateentre os deuses e os Asuras, est em j;go a conquista de tesouros

  • 8/13/2019 Textos Didticos em Indologia - Religio e Pensamento

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    maravil%osos, principalmente do anrita 3licor divino5. 7raas a

    6ic%nu os deuses conseguem a vit$ria.

    O mais clebre dos avatares de 6ic%nu ' e todos eles t=m um

    sentido esotrico ' o de _ric%na, considerado como uma

    encarna!o total, sendo os demais considerados como simples

    encarna#es parciais. A %ist$ria de _ric%na comporta uma srie de

    aventuras extraordinrias. +%efe do cl! dos adavas, _ric%na, cujos

    poderes s!o surpreendentes 3ele j cumprira miss#es prodigiosas

    em sua infCncia5 , prossegue sua carreira de ser s;bre'%umano.

    Adolescente, ele o ^boieiro^ divino que toca a flauta para as

    pastoras que danam em torno dele, contemplando'o com fervor

    amoroso. A cena passa'se no bosque sagrado de )rindav!.Ao depois, no )%agavad'7ita, ele figurar ao lado dos /andavas,

    seus primos, em sua guerra contra os )%ratas. le se torna ilustre

    nessa ocasi!o, mostrando por seu exemplo e por seu

    ensinamento .como o %omem deve desenvolver'se espiritualmente

    para atingir a liberta!o. :as sobretudo em am, em que ele

    simboliza a energia moral, e em _ric%na, a inspira!o divina, que

    6ic%nu traz um socorro considervel aos %umanos e desempen%a

    um papel imenso na religi!o %indu. 6ic%nu representa um^1alvador^, porque ^em cada um de seus avatares ele recupera as

    coisas que pareciam irremediavelmente perdidas, tragadas pelo

    oceano, isto , pelo indiferenciado, ou a ponto de o ser^ X4erbert,

    ib. RN-[.

    ?uer se trate de 1i ta, mul%er de am no ama@ana, quer se trate

    de ad%a, a pastora preferida de _ric%na, uma das figuras mais

    populares entre as divindades femininas e ao mesmo tempo sua

    mais perfeita adoradora, sempre La2c%mi, sua xa2ti, deusa da

    %armonia, que se encarna %abitualmente com 6ic%nu.

    Ziva um deus complexo, valente, ao mesmo tempo benfico e

    tem(vel. \ preciso distinguir aqui o duplo aspecto da atividade

    divina. Ziva na 0rindade %indu desempen%a o papel de destruidor

    do Vniverso, mas ele aniquila para reconstruir. le destr$i a

    multiplicidade que mundo criado, para recriar a Vnidade. /or isso

    assimilam'no a _ala, o 0empo. +omo este, ele constr$i e destr$isem cessar. &!o ele aquele que dep#e no seio das guas o ^7erme

  • 8/13/2019 Textos Didticos em Indologia - Religio e Pensamento

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    de Ouro que encerra )rama^B "sto, sem deixar de ser ^aquele que

    vence^ ' em sua forma mais intensa ' )%airava, o 0emor, e suas

    sessenta e quatro variedades.

    *`outro lado, ele possui o aspecto reparador. le igualmente um

    protetor. ecorre'se a ele em caso de perigo. &o epis$dio do

    encapelamento do mar de leite 3apari!o do universo multiforme5,

    quando a serpente 6asu2i lana um veneno que devia destruir o

    mundo, Ziva bebe o veneno. 1ua garganta tornou'se azul'escuro e

    c%amaram'no9 &Ta2ant%a... \ ainda Ziva que, para evitar uma

    catstrofe quando da descida das guas do 7anges sobre a terra,

    ergueu os cabelos e formou com eles uma barragem protetora

    3(m!5, contra as ondas impetuosas, e estas escoaram sem causardano algum.

    Ziva um deus poderoso entre todos os deuses 3o udra dos %inos5,

    porque ele o deus da vida, da procria!o. :as Ziva sobretudo o

    :a%adeva, o grande deus asceta, o deus dos rogues, para os quais

    ele um guia e um modelo, pois condu'"os D consci=ncia da

    Vnidade. \ o :a%a@ogue ou :estre dos @ogues. ^epresentam'no

    ent!o com o rosto sujo de cinza, seminu, cingido de crCnios e

    ostentando uma coleira de serpentes 3udra era j no 6edismo osen%or das serpentes5. 1entado em postura meditativa, ele tem um

    terceiro ol%o frontal. A origem deste ol%o, segundo se afirma,

    provm de uma brincadeira de /arvati, que l%e tapara os dois ol%os

    com as m!os^ XL. enou, lb. IES[.

    \ figurado Ds mais das vezes com muitos braos em &ataraja,

    danando o 0andava, a dana c$smica, cercado do tiruvai ou

    aureola de c%amas. *iz'se que ele espezin%a um dem;nio rebelde

    ou que ele destr$i o cosmos para o recriar. &a realidade, essa

    dana evoca numerosos s(mbolos de sentido esotrico.

    A cavalgadura %abitual de Ziva o touro branco9 &andin> e sua

    veste, uma pele de tigre. 6em coroado do crescente lunar, e seus

    atributos s!o o arco 3ajagava5, o tamborim 3d%a2a5 , a clava

    3_%atvanga5, o lao 3paa5 e o mais %abitual, o tridente 3triula

    /ina2a5. Ziva tem quatro, oito ou dezesseis braos, simbolizando os

    dois braos inferiores o gesto da benevol=ncia 3varada5 e dasalvaguarda 3ab%a@a5. Hoi identificado um nMmero incalculvel de

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    santurios consagrados a Ziva. Os de )uvanesar e de :adura s!o

    clebres no mundo inteiro.

    Ziva delega seus poderes a numerosas Za2tis9 /arvati, a Hil%a da

    :ontan%a> 1ti, a sp;sa Hiel> Vma, a )enfica, ou +Cndi, a

    6iolenta, etc. A mais importante de t;das, a sua esp;sa *urga ou

    _li, a 0err(vel, figurada sob traos medon%os. &egra e nua,

    cabeleira ao vento, ela traz um colar de cabeas %umanas e pisa

    aos ps o corpo do esposo, brandindo um cutelo ensangTentado e

    ostentando uma cabea recentemente decepada. 1em embargo,

    essa _li um aspecto da :!e divina, a 1uprema> ela encarna uma

    espl=ndida energia, uma vontade implacvel, e, como o seu esposo,

    parece que ela s$ destr$i para libertar a espiritualidade que existeem todo o ser. ?uando aniquilada a ignorCncia, o cora!o torna'

    se puro. A energia de _li cria a paz, ap$s %aver destru(do a

    ignorCncia. A energia de _li terr(vel enquanto ela se exerce, mas

    quando ela atinge o ^cora!o^ de Ziva, isto , quando desfeita a

    ilus!o, _li detm'se repentinamente e arrepende'se do ato

    praticado. ela recua. ^?ue fiz eu sob o (mpeto desta loucuraBP la

    atingiu a ealidade, e torna'se equilibrada, calma e mansa. *urga

    congrega em si atributos de _li, La2c%mi e 1arasvati, ' tr=s gunasque representam a destrui!o, a evolu!o e a cria!o. As ^cabeas

    decepadas^ simbolizam os dem;nios da ignorCncia na %umanidade.

    _li toma como ornamento pessoal essas almas assim libertadas,

    pois foi ela quem os libertou da ignorCncia e do medo. *urga'_li

    era para ama2ric%na a divindade de elei!o.

    Os %indus d!o um aspecto %umano Ds imagens, pinturas e esttuas

    de seus deuses, ajuntando'l%es os emblemas que os diferenciam

    entre si. O sinal do poder sobre'%umano exprime'se pela adjun!o

    de braos suplementares9 dois, quatro, ou mesmo mais. /ara

    indicar a vis!o divina, um terceiro ol%o por vezes colocado no

    meio da fronte, como no caso de Ziva, enquanto que )ra%ma

    representado com quatro cabeas. As representa#es animais s!o a

    marca de qualidades particulares. Assim, dada a 7anea uma

    cabea de elefante, e aos _imnasas uma cabea de cavalo.

    7anea, c%efe dos ^7anas^ 3tropas divinas5, objeto de um cultointenso, o fil%o de Ziva e de /arvati. 1olicita'se o seu apoio antes

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    de toda a empresa> ele o guia 36ina@ala5, que destr$i os

    obstculos. 7anea simboliza o apelo D fora espiritual. 1eu papel

    na epopia do amana@a ilustra o seu esp(rito de sacrif(cio, de

    perseverana e de devo!o.

    epresentam'no com uma cabea de elefante e uma s$ presa. 1ua

    cor, geralmente vermel%a, pode ser branca ou amarela> tem um

    ventre proeminente e serve'se para cavalgadura de um rato ou de

    um le!o. 0raz uma presa de elefante e um rosrio. 7oza de muita

    popularidade, sobretudo no sul. 1ua imagem vista nas

    encruzil%adas dos camin%os, nas rvores e nos templos.

    O macaco 4anum!, emblema da destreza e da intelig=ncia, fil%o do

    deus do vento, /avana, considerado entre as divindades religiosasda ndia como o ^perfeito servo^ de )ra%ma, pelo seu exemplo de

    fora e de dom(nio de si. le um aliado de am, c%efe do

    exrcito dos macacos> numerosos templos l%e s!o elevados.

    Texto de Anlise - O ,udismo$ por + &athier

    O budismo foi fundado por 7autama )uda, nascido de uma fam(liaabastada e nobre por volta de INF a. +., e morto por volta de SF

    a. +. Apesar de sua riqueza e dos empen%os de que foi alvo para

    n!o abandonar a casa paterna, ele partiu depois do nascimento de

    seu fil%o, e viveu durante seis anos na penit=ncia, buscando a

    6erdade, a liberta!o das reencarna#es. A experi=ncia l%e

    mostrou que v!s eram as penit=ncias %umanas para alcanar esse

    fim. , uma noite, em )oudga@a, ele con%eceu a ilumina!o ao

    mesmo tempo que os princ(pios que deveria, pouco depois,anunciar ao mundo. )uda reuniu seus primeiros disc(pulos em

    associa#es monsticas, sujeitas a regras que, naturalmente,

    aumentaram no curso dos sculos. Os leigos foram, posteriormente,

    admitidos a seguir 3de longe5 a via traada pelo :estre, na

    esperana de renascer um dia, entrar como novios na ordem, e

    c%egar ao &irvana.

    \ dif(cil precisar se o fundador do budismo teve, desde o comeo, a

    vis!o n(tida do rompimento que ele ia operar no %indu(smo ou se

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    apenas se ac%ou no direito de expor suas teorias como uma das vias

    para a salva!o. A mensagem de )uda s!o, primeiro, as quatro

    grandes verdades9 o fato do sofrimento, a causa do sofrimento, o

    fim do sofrimento, os meios de escapar ao sofrimento. stes

    Mltimos s!o o fundamento da verdade9 a compreens!o verdadeira, o

    con%ecimento verdadeiro, a veracidade, a a!o e a vida

    verdadeiras. /or esses meios, o %omem consegue libertar'se da

    ignorCncia, causa Mltima do renascimento. /orque a ignorCncia

    nasce do desejo, do desejo vem a a!o, e da a!o, o renascimento.

    A "ti#a do .udismoA doutrina de )uda d =nfase a um moralismo que n!o deixa de

    apresentar dificuldades ' e s!o muitas. Acresce que em todas as

    quest#es metaf(sicas o sil=ncio de )uda nos constrange. &!o %

    dMvida que em face da substCncia imutvel que )ra%man, ele

    afirmou que tudo transit$rio e que nada de substancial existe.

    *onde, logicamente, nen%uma alma, na realidade, transmigra. A

    transmigra!o n!o sen!o a continuidade dos valores9 uma boa

    a!o v= sua influ=ncia perdurar. O mesmo acontece com uma a!om. +omo o budismo em sua pureza rejeita *eus, s$ por seus

    pr$prios esforos que o %omem se liberta e alcana o &irvana.

    :as qual o sentido profundo desse termo, tantas vezes usado,

    com e sem prop$sitoB &!o se sabe se ele esconde uma aniquila!o

    total> um estado de bem'aventurana que rejeita s$ os fen;menos

    mutveis, inconstantes> ou se n!o indicar que mais sensato para

    o %omem deixar'se ficar, pelo menos neste mundo, em um c;modo

    agnosticismo. A solu!o desses problemas pode deleitar nossa

    curiosidade, mas n!o Mtil. ?uando a casa est em c%amas, a

    gente sai dela o mais depressa poss(vel. ?uando algum est

    doente, n!o quer saber qual a natureza Mltima do remdio, e, sim,

    tom'lo.

    Tend/n#ias di*ersas nas#idas do .udismo

    A ndia , sabidamente, um pa(s de seitas. *uas grandes escolas depensamento nasceriam, logo, do budismo9 o 4ina@ana, ou /equeno

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    6e(culo, apresenta co9mo ideal asctico o Ar%at, o monge perfeito,

    o qual, retirando'se do mundo, garante sua salva!o pessoal, sem

    inquieta!o maior com o resto da %umanidade. O :a%a@ana, ao

    contrrio, aparecido por volta do primeiro sculo da era crist!, tem

    anseios de salva!o universal9 o )od%isattva, aquele cuja ess=ncia

    a verdade, o con%ecimento, o tipo do %omem perfeito. le c%ega

    a renunciar ao &irvana a fim de consagrar'se D salva!o do mundo.

    A rigor, para salvar'se, ningum precisa envergar a bata ama' rela

    do monge mendicante budista. \ poss(vel gan%ar a salva!o

    tambm no estado leigo. m vez de uma sabedoria austera, o

    budismo se torna, ent!o, uma religi!o em que penetram, com as

    multid#es, todos os deuses das aldeias, transformados em)od%isattvas ou em )udas.

    O budismo, que comeara sua carreira no agnosticismo, assiste D

    multiplica!o das investiga#es filos$ficas a fim de alcanar por

    elas uma espcie de idealismo. &uma outra vertente, ele acaba

    caindo na magia dos budistas ditos tCntricos. /areceu'nos, ent!o,

    necessrio, assinalar essas %eresias surgidas do %indu(smo. las

    permitem compreender mel%or, simultaneamente com sua

    forma!o, as rea#es que ele provocou.

    Texto de Anlise - O 0ainismo$ por + &athier

    O jainismo teria sido revelado ao g=nero %umano por uma sucess!o

    de :estres, os 0irta2%aras, ou santos, que conseguiram passar,

    como que a vau, o rio das reencarna#es. :a%avira o vigsimo

    quarto e Mltimo da lista. A ele se atribui a funda!o da seita na suaforma atual. 1egundo a tradi!o, :a%avira viveu de IGG a I- a. +.

    0endo renunciado ao mundo com a idade de E anos, comeou uma

    carreira de penit=ncia. 6inte anos depois, recebeu a ^ilumina!o^.

    Assumiu, ent!o, a qualidade de profeta e o t(tulo de 8aina ou

    ^conquistador espiritual^. nsinou durante trinta anos e organizou

    os quadros da seita. 1eus monges e suas religiosas s!o, antes de

    tudo, ascetas, as quais, atravs das penit=ncias as mais diversas,

    encamin%am'se para a penit=ncia suprema9 a morte, ou, mais

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    exatamente, o suic(dio por inani!o, que os p#e de posse da

    liberta!o. Ateus, n!o oram nem oferecem sacrif(cios>

    anapsiquistas, v=em almas at na matria> atomistas, afirmam a

    imperman=ncia das substCncias compostas de tomos

    qualitativamente semel%antes. *iscute'se ainda se eles admitiram a

    imperman=ncia absoluta de tudo em face da afirma!o %indu da

    imutabilidade do )ra%man.

    *esobrigados de interpretar os livros sagrados dos %indus, eles

    trabal%aram em outros setores. A dialtica, em primeiro lugar, na

    qual se esforam para demonstrar a incapacidade de toda defini!o

    para alcanar a realidade de maneira adequada. A psicologia, em

    seguida e principalmente, em que algumas de suas anlises dasfaltas e dos meios de romper os gril%#es do pecado n!o deixam de

    ter profundeza. A prtica monstica de uma espcie de exame de

    consci=ncia dirio 3comum aos leigos, se bem que mais espaada5

    abriu aos jains, recon%ecidamente, vastos %orizontes sobre as

    molas da alma %umana. *entre as virtudes que eles sempre

    encareceram, a A%imsa, ou n!o'viol=ncia, vem em primeiro lugar.

    la vai ser levada por eles ao excesso. xemplo9 o vu que levam no

    rosto para filtrar um eventual mosquito ou, mel%or, para n!ocausar dano aos seres microsc$picos e vivos que se encontram no

    ar. Os jains con%eceram dias de triunfo e levaram seus monumentos

    at o sul do subcontinente. :as quando o %indu(smo se reorganizou

    para reconquistar o terreno perdido, as discuss#es teol$gicas muita

    vez terminaram pelo exterm(nio dos jains9 o pared!o oriental do

    grande templo de :adura conservou para n$s a lembrana desses

    %orrores. Os jains s!o a( representados como v(timas de torturas

    desumanas, empalados, cortados em pedaos. Oito mil deles

    morreram nos arredores da cidade. :as o %indu(smo se encontrava

    tambm diante de um outro adversrio de peso, nascido desde o

    comeo da reforma de :a%avira9 o budismo.

    Texto de Anlise - As Seitas Shi*a1tas$ por %ouis Renou

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    \ esse ivaismo difuso que vemos servir, de certo modo, de religi!o

    de stado, na maior parte das dinastias indianas, pelo menos a

    partir do sculo 6"". dele que se reclama a tradi!o erudita, em

    parte sem dMvida porque Yiva se considerava o patrono natural dos

    empreendimentos literrios. O ritual iva(ta e o conjunto das

    prticas exteriores s!o relativamente desenvolvidos, elaborados, e

    as doutrinas espetaculares 3que s$ existem em algumas seitas5

    evidenciam os processos de identifica!o do individuo com o 1er

    1upremo. *ai a tend=ncia do ivaismo para o loga, para o

    tantrismo, enquanto, pelo contrrio, o fen;meno da b%a2ti, o

    amor'f, embora presente em personalidades isoladas, n!o parece

    ter impregnado as seitas sen!o numa poca tardia e porventura porinflu=ncia das seitas vis%nuitas. Os _CpCli2as 3designa!o que

    deriva de Yiva 2apClin, ou seja, Jportador de crCnios %umanosK5

    surgem na literatura por volta do sculo 6". 0rata'se, menos de

    uma seita que de um grupo de ascetas de tend=ncias extremas,

    mais ou menos desprezados pelo seu comportamento grosseiro, os

    quais parecem ter continua!o nos Agbors ou Ag%orapant%is, que

    ainda sobrevivem nos nossos dias, em parte depurados, segundo se

    afirma, sob a influ=ncia de _abr. A um n(vel mais elevado, situam'se os 7ora2%nCts 3ou _Cnp%ata@ogs Jogins de orel%as fendidasK5

    que veneram como seu mestre um personagem que se sup;s

    freqTentemente lendria 3foi de(ficada na ndia do &orte5, e

    7ora2%nCt% 37ora2s%anCt%a em sCnscrito5, que na realidade pode

    ter vivido no sculo Z", em )engala Oriental. O movimento, que

    comporta numerosas subseitas e um rudimento de especula!o,

    consiste essencialmente numa escola de loga 34at%a@oga5, que tem

    toda urna literatura e subsiste atualmente em diversos lugares do

    &orte.

    Os /Cupatas ou Jadeptos de 3Yiva5 paupatiK atestados

    epigraficamente no sculo "Z, desaparecidos por volta do sculo

    Z"6, parecem ter sido id=nticos aos La2ulas, assim denominados

    do nome de um doutor do loga, La2ulin, que os teria agrupado. 1!o

    igualmente ogins que utilizam, para c%egar ao =xtase m(stico,

    prticas selvagens, fantsticas, dana, risos, etc. &!o obstante,esboou'se uma doutrina especulativa, fundada num dualismo entre

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    as almas ou paus 3propriamente JanimaisK5 e o mestre 3pati5 ou

    Yiva, cujo corpo Jfeito de energiaK. As outras seitas t=m como

    +Cnone, direta ou indiretamente, os textos sagrados que se

    c%amam Ugamas. O ritual e as doutrinas s!o distintos dos do

    tantrismo com base no C2tismo. A alma concebida como

    subjugada pelo Jtriplo laoK ou afetada pela Jtripla mculaK 3a

    ignorCncia, o carma, e a mC@C5 e ascende D liberta!o pela graa

    do :estre. &os Agamas repousa o Yaivasidd%Cnta ou Jcorpo de

    doutrinas ivaitaK, vasto conjunto especulativo atestado,

    sobretudo, em l(ngua tCmul 3sc. Z"""5, que postula a exist=ncia

    eterna de tr=s grandes princ(pios9 o :estre 3Yiva5, o JlaoK

    3matria, pCa5 e a alma. Yiva cria e governa o mundo porintermdio da JenergiaK, a2ti. 1e se con%ecem bem as doutrinas,

    que constituem um compromisso entre o 6edCnta e o 1Cn2%@a, em

    contrapartida sabe'se muito pouco acerca da organiza!o em

    territ$rio tCmul. /arece que se estava em presena de mosteiros

    distintos, na sua maioria dirigidos por c%efes 3ma%Cnt5 n!o'

    brCmanes. Horam encontrados na "nsul(ndia textos que remontam a

    um 1idd%Cnta ou Jcorpo de doutrinasK de l(ngua sCnscrita, que

    parece ter sido o intermedirio entre os vel%os Ugamas e o1idd%Cnta tCmul.

    O Yivaismo do _amir, tambm designado por 0ri2a, sistema Jde

    triplo ensinamentoK, faz a sua apari!o no sculo 6""" e parece,

    acima de tudo, uma rea!o contra o dualismo 3aparente5 dos

    Ugamas, mas, a uma observa!o mais minuciosa, inscreve'se no

    prolongamento direto dos Ugamas. xistem diversas grada#es,

    dominadas pela personalidade eminente de Ab%inavagupta no

    sculo Z. A especula!o, muito elaborada, repousa num n!o'

    dualismo puro, simultaneamente realista e idealista, sendo o 1er

    Absoluto 3sob o aspecto de Yiva5 todo intelig=ncia 3caitan@a5 ou

    Jvibra!oK 3spanda5, isto , principio cintico. O mundo resulta de

    uma objetiva!o do pensamento de Yiva, produzido pela evolu!o

    de trinta e seis elementos 3tattva5. O acesso D liberta!o verifica'se

    por Jrecon%ecimentoK9 a alma toma consci=ncia de verdades

    relativas D sua condi!o real que tin%am sido obnubiladas pelamC@C ou Jilus!oK. &o pormenor, % influ=ncias tCntricas e bMdicas.

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    :as nada se sabe de concreto sobre as formas religiosas e os

    %bitos comunitrios. /arece ter sido um movimento puramente

    especulativo.

    Hinalmente, os 6raaivas, Jlesivaitas no estado %er$icoK, ou ainda

    os LingC@ats Jportadores do lingaK, constitu(ram'se por volta do

    sculo Z"" nos confins sul do territ$rio marata, sob o impulso de um

    certo )asava 3que talvez fosse simplesmente o reformador de um

    movimento mais antigo5. A segrega!o passa por ter sido drstica9 a

    seita rejeita o 6eda, suprime as imagens e as castas e volta as

    costas a numerosos costumes do %induismo comum. &o plano social,

    trabal%a para a emancipa!o social das mul%eres. A esse respeito,

    mantm'se nos limites extremos da religi!o indiana, conservando,porm, os ritos privados, os sacramentos. xiste mesmo uma

    espcie de batismo destinado a proporcionar D criana Joito

    couraasK contra o pecado. A teologia mais conservadora que o

    ritual. 0rata'se de um n!o'dualismo Jqualificado pela a2tiK, em

    que as almas e a matria s!o realidades resultantes da a2ti. A

    Liberta!o obtm'se em seis fases pela prtica do amor'f a Yiva. A

    seita dirigida por monges ambulantes que se denominam

    jangamas ou JLingas em movimentoK. 4 cinco mosteiros originaisque dispersaram por diversos pontos do territ$rio. A literatura

    assaz considervel, com textos eruditos em sCnscrito, textos

    populares 3nomeadamente vacanas ou Jserm#esK, alguns dos quais

    atribu(dos ao pr$prio )asava5 em 2annara e por vezes em tCmul.

    ntre as prticas singulares, salientaremos o uso de um linga num

    estojo suspenso do pescoo 3da( a designa!o de LingC@ats,

    atribu(da D seita5.

    Texto de Anlise2 Os Shaktas$ por %ouis Renou

    /ode ligar'se livremente ao ivaismo o culto da deusa *urgC 3e das

    formas paralelas5, quer aparea no estado distinto, quer se

    encontre reunido ao de Yiva. A base deste culto reside na crena na

    a2ti ou JenergiaK divina 3dai o nome de C2tas e C2tismo

    atribu(do a essas seitas5 emanada de um outro grande deus, muito

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    suas esposas. Ainda %oje se encontram desses b%a2tas maratas, de

    piedade sincretista, portadores de tradi#es populares, que aderem

    remotamente ao )%Cgavata'/urCna como seu livro de travesseiro.

    1!o mais confrarias livres que verdadeiras seitas e % entre elas

    numerosos cantores contratados, os 4aridCss. Hora do territ$rio

    marata, os b%a2tas pertencem com freqT=ncia a seitas precisas.

    \ dif(cil abarcar o lao %ist$rico que existiu entre os )%Cgavatas e

    os /CncarCtras 3este Mltimo nome de significa!o incerta5. stes

    parecem ter sido, em data antiga, os depositrios do +Cnone

    propriamente vis%nuita, aquele que se designa pelo termo global de

    1am%itCs. A literatura dos 1am%itCs, que emana do &orte da ndia,

    ao que se pensa, e pode remontar ao sculo 6"", institui a teologia,o ritual e a organiza!o tipicamente vis%nuitas. /ostula um Jbrama

    supremoK pessoal simultaneamente imanente e transcendente, que

    se reveste das fei#es de 6is%nu, de 6Csudeva e &CrC@ana. O

    universo concebido como o produto de uma C2ti ou JenergiaK

    inerente a esse princ(pio supremo. A especula!o cosmog;nica

    particularmente desenvolvida, com a teoria dos v@]%as ou

    JdesdobramentosK, resultantes das JqualidadesK do brama e

    engendrando sries de Jcria#esK sucessivas. As teses aferentes DLiberta!o s!o diversificadas. A ades!o pessoal comporta uma

    inicia!o em cinco atos. 1e o /CncarCtra n!o passa de um corpo de

    doutrinas, os movimentos que da( provm s!o de tipo nitidamente

    sectrio. O movimento rvais%nava J3ades!o5 a 6is%nu e a sua

    esposa YriK, que est fixado em territ$rio tCmul, o seu

    desenvolvimento natural, como o Yaivasidd%Cnta o era em rela!o

    aos Agamas iva(tas. Os primeiros mestres do rvais%navismo s!o os

    lvCrs, que cristalizaram o amor'f de colora!o vis%nuita e

    forneceram a literatura %(nica e narrativa de tipo popular. :as o

    movimento, porventura originrio do sculo "Z, s$ assume uma

    realidade individual com a apari!o de CmCnuja, primeiro grande

    nome do vis%nuismo filos$fico, nascido na regi!o de :adrasta no

    sculo Z", que instituiu urna forma de 6edCnta baseada na no!o do

    Jbrama qualificadoK, ou seja, de um deus pessoal, provido de

    atributos, englobando almas e coisas. *esenvolve a tese de umadevo!o, de tend=ncia ainda parcialmente intelectual, e introduz a

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    no!o de prapatti. *ata dele a inter'rela!o entre o 6edCnta e a

    religiosidade sectria, por rea!o contra Yancara. Os rvais%navas

    adoram exclusivamente 6is%nu, t=m um corpo de regras estritas

    respeitantes D alimenta!o e D casta, e mestres que s!o

    obrigatoriamente brCmanes. O movimento manteve'se sempre de

    prefer=ncia no 1ul. Ap$s CmCnuja, regressa em parte a certos

    valores do %indu(smo comum. 1egue'se uma espcie de cisma, em

    que a scola do &orte, conservadora, se op#e D scola do 1ul, que

    adota teses radicais em matria de graa divina9 a primeira

    caracterizou'se pelo Jmtodo do macacoK'o esforo pessoal

    considerado eficaz, como o do macaco pequeno, que, em caso de

    perigo, se agarra D m!e e assim se salva. A segunda representa oJmtodo do gatoK9 a gata pega na nin%ada pela pele do pescoo e

    salva'a sem que as crias ten%am de intervir. Os CmCnujas

    3sectrios de CmCnuja5 s!o numerosos, ainda %oje, em territ$rio

    tCmul e considervel a literatura sCnscrita em tCmul.

    Os CmCnands introduzem no vis%nuismo uma aragem de reforma.

    O seu c%efe, rCmCnanda 3sc. Z6 B5, de pertena rvais%nava,

    abandona as regras de alimenta!o e de casta, deixa o sCnscrito

    cair na utiliza!o religiosa em benef(cio dos vernaculares einaugura uma tend=ncia assaz largamente democrtica. /or outro

    lado, funda um corpo de monges, os vairCgins, de disciplina

    relativamente leve. CmCnanda preocupa'se pouco com a filosofia

    e teologia, observando na sua ess=ncia as teses rvais%navas. :as o

    fato novo que a divindade suprema se c%ama Cma9 a primeira

    seita nitidamente rama(ta que aparece na 4ist$ria. *os CmCnands

    surgem mais ou menos diretamente numerosas seitas a partir do

    sculo Z6, e algumas assumiram o aspecto de movimentos

    reformados, insistindo nas tarefas sociais ou ticas e apenas

    conservando do %induismo os fatos elementares. Horam em

    particular os _abrpant%is, no sculo Z6", que regressaram, a pouco

    e pouco, Ds prticas comuns depois de, sob a influ=ncia do seu

    c%efe _abr, as terem abandonado em proveito de uma larga

    reconcilia!o das castas e seitas com base no monote(smo n!o'

    figurativo. _abir, no qual se presumiu uma influ=ncia s]fi 3narealidade, reivindicado pelos :uulmanos5, dispensava esse

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    ensinamento ecltico em inMmeras estrofes edificantes que servem

    de JcCnoneK D seita. *e _abr derivam parcialmente os 1i2%s, que

    se sup#e terem excedido os limites, por flutuantes que fossem, do

    %induismo. &o entanto, o movimento si2%, fundado por &Cna2

    3ESNG'EIR5, um panjCbi da regi!o de La%ore, ainda conserva uma

    parte dos ritos privados e adere ao pante(smo do 6edCnta, ao amor'

    devoto, ao culto do guru ou Jmestre espiritualK, que leva, alis, a

    um grau extremo. A literatura, composta de %inos em larga medida,

    denuncia uma dupla influ=ncia9 a de _abr e a do rigorismo

    muulmano. Os nove mestres que sucedem a &Cna2 completam o

    %inrio da seita e codificam'no naquilo a que se c%ama o JLivro

    &obreK 37rant%5, volumosa coletCnea redigida em %indi 3compor#es em panjCbi5, aumentada com peas litMrgicas e trec%os

    diverso9 o +Cnone si2%. &o entanto, mais que nos fatos religiosos,

    a originalidade do movimento reside na orienta!o pol(tica, que

    tendeu para a cria!o de uma casta dirigente, teocrtica e militar,

    a _%alsC9 as prticas normais s!o substitu(das pelo culto do Livro

    sagrado e da espada e declarada guerra santa contra os

    :uulmanos, uma espcie de batismo de inicia!o. Hoi, sobretudo a

    obra do dcimo guru, 7ovind 3ENI'EF5. Vm c%efe ulterior, )andC3falecido em EEN5, esteve prestes a desencadear um cisma com a

    sua atitude extremista, porm a cis!o atenuou'se em subseitas. A

    partir do sculo Z6""", o movimento si2% interessa muito mais D

    %ist$ria pol(tica que D religiosa. Aqui, como noutros aspectos,

    reinstalam'se costumes %indu(stas e reaparecem (dolos nas casas

    particulares, enquanto o culto pMblico, nos 7urudvCras ou J/ortas

    do guruK, com as recita#es e cantos do Livro sagrado, permanece

    puramente JsectrioK. xiste um conc(lio para decidir dos

    problemas espirituais e temporais.

    A seita florescente, ainda nos nossos dias, no /anjCb. Horam'l%e

    infligidos golpes muito duros por ocasi!o dos tumultos que

    assinalaram, em EGS, a separa!o da ndia e do /aquist!o. A

    cidade santa dos 1i2%s, Amritsar, sede do J0emplo de OuroK, foi

    gravemente danificada e a comunidade si2% dispersada em vastas

    zonas do territ$rio %indu.

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    As seitas vis%nu(tas que nos falta considerar, tendo como trao

    comum o amor'f, como vrias das seitas anteriores, ac%am'se

    porventura ligadas aos antigos )%Cgavatas e, do ponto de vista

    doutrinal, desenvolvem interpreta#es aut;nomas do 6edCnta. A

    primeira, cronologicamente, a dos :Cd%vas, fundada por :Cd%va,

    alis Unandatrt%a 3sc. Z"""5, doutor do territ$rio 2annara, que

    ensina uma Liberta!o adquirida por intui!o imediata da

    divindade. A especula!o mantm'se muito pr$xima da de

    CmCnuja, embora mais ecltica. *eriva da( nomeadamente a tese

    3rara na ndia5 de um inferno eterno e de um para(so feito de

    felicidades sensuais. A posi!o filos$fica o dualismo integral9

    cara'a'cara 6is%nu omnipresente e, por outro lado, as almas e amatria. Os ascetas derivam das ordens an2arianas. A literatura

    3sobretudo em sCnscrito5 muito importante. A doutrina desfruta

    de favor, ainda %oje, no 1ul, mais nas classes intelectuais que nas

    camadas populares.

    Os 6is%nusvaminos, fundados pelo mestre do mesmo nome, no 1ul,

    provavelmente no sculo Z""", s!o vizin%os dos :Cd%vas, mas na

    realidade a seita foi absorvida cedo pelos 6allab%as ou

    6allab%CcCr@Cs, que derivam de um doutor telugu do sculo Z6,c%amado 6allab%a. ste, no plano filos$fico, regressa D concep!o

    do n!o'dualismo JpuroK, em que o mundo resulta de urna

    transforma!o interna do Absoluto. 6allab%a elabora urna teoria do

    amor'f, postulando uma dupla via para a Liberta!o, a via dita da

    Jflora!oK, que repousa inteiramente na graa divina. O culto,

    destinado a _ris%na, consiste em adora#es, dirigidas tanto ao

    pr$prio deus como ao guru ou c%efe espiritual da seita, o qual,

    identificado com _ris%na, o deus'pastor, se instalou a t(tulo

    %ereditrio, pois descende em lin%a varonil do fundador. ste

    estado de coisas originou, em data recente 3sc. Z6"""5, abusos, e

    at escCndalos de natureza er$tica, que n!o deixaram de entravar

    a expans!o da seita. :ais puros s!o os &imbCr2as ou &mCnands,

    que se reclamam de outro doutor do 6edCnta, &imbCr2a, sem

    dMvida do sculo Z""", partidrio do Jdualismo'n!o'dualismoK ou,

    como tambm se diz da Jdiferena sem diferenaK. &imbCr2aprocura estabelecer uma coordena!o entre o Absoluto, que um,

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    e os objetos, que s!o mMltiplos. A doutrina deriva em Mltima anlise

    de )%Cs2ara 3scs. "Z'Z5. ?uanto D prtica religiosa e D organiza!o

    da seita, os &imbCr2as aproximam'se dos Yrivais%navas posteriores

    a CmCnuja. Ainda %oje s!o numerosos na regi!o de :at%urC 3ptria

    de _ris%na5 e alguns outros pontos.

    O maior nome do vis%nuismo medieval +aitan@a 3ESI'lIRR5,

    originrio de )engala9 tipo de ap$stolo e visionrio que atua pela

    sua presena e f, mais que pela sua atividade escrita, que

    permaneceu rudimentar. A organiza!o da seita emana dos seus

    disc(pulos diretos, nomeadamente de seis mestres 3os gosvCmins5,

    os quais comp#em em sCnscrito uma vasta literatura que abarca

    todos os dom(nios da crena. O culto de _ris%na juntamente com ode CdbC figura nela em todo o seu clamor, e o pr$prio +aitan@a

    ser deificado pouco ap$s a sua morte em _ris%na. Os descendentes

    dos gosvCmins s!o c%efes de mosteiros e de templos. O ritual

    comporta uma Jglorifica!oK salmodiada em bengali ou %indi e

    numerosas prticas que representam o que o vis%nuismo imaginou

    de mais evolu(do na matria. O principio da crena o amor'f,

    que por vezes atinge formas parox(sticas, enquadrando'se numa

    cosmogonia D base de a2ti e inspirando'se em tipos literrios. A)engala manteve'se a terra de elei!o do Jcaitan@ismoK, que

    parece ter sofrido, a pouco e pouco, influ=ncias do 6edCnta n!o'

    sectrio de Yan2ara. :anifestou'se uma revivesc=ncia no sculo

    Z"Z. O impulso dos disc(pulos de +aitan@a caracterizou uma espcie

    de tantrismo sublimado nos 1a%aji@Cs, que resumem toda a religi!o

    num amor divino %ipostasiado sob a forma de um amor plat;nico

    que se destinaria D uma mul%er inacess(vel. &a prtica, tambm se

    produziram abusos.

    ,i.liora3ia

    AV)O, 8. A vida cotidiana na ndia Antiga. Livros do )rasil9

    Lisboa, EGNG.

    +OV0"L", 7. As antigas civiliza#es da ndia. Otto /ierre9 8,

    EGG

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    &OV, L. 4indu(smo. a%ar 9 1!o /aulo, EGF

    HAL, *., 0%e :@t% of Arian "nvasion . VA, EGG

    L"0, . *a +iviliza!o do "ndo ao "mprio :aur@a> novas

    abordagens no studo da (ndia Antiga in /%;inix ano 6 h EGGG io de

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