Upload
ngoduong
View
225
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
THÁBATA CRISTINE COSTA PEREIRA
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO NOVO CÓDIGO
FLORESTAL E A POSSIVEL OFENSA AO PRINCIPIO DA
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL
UNIC/IUNI – UNIVERSIDADE DE CUIABÁ
FACULDADE DE DIREITO – CAMPUS PANTANAL
CUIABÁ - MT
2013
THÁBATA CRISTINE COSTA PEREIRA
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO NOVO CÓDIGO
FLORESTAL E A POSSIVEL OFENSA AO PRINCIPIO DA
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL
Monografia apresentada pela acadêmica à
Faculdade de Direito da Universidade de
Cuiabá / UNIC/IUNI- Campus Pantanal,
como critério para aceite no programa de
ensino de graduação no curso de Direito -
ano 2013, para desenvolvimento do
Trabalho de Conclusão de Curso II do 8ºA.
Semestre Noturno.
Professora orientadora: MSc. Marli T. Deon Sette
CUIABÁ - MT
2013
APRECIAÇÃO
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais que
sempre estão presentes em todos os
momentos da minha vida e que me
ensinaram que o estudo é o único meio
para encontrar a sabedoria.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus, aos meus pais, irmãos,
namorado e amigos que estiveram
presentes durante o desenvolvimento
desse estudo.
EPÍGRAFE
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossível”.
(Charles Chaplin)
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................... 08
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 09
CAPÍTULO I - DIREITO AMBIENTAL
1.1 Conceito de Meio Ambiente.............................................................. 11
1.2 Direito Ambiental............................................................................... 12
1.3 Visão do Direito Ambiental Constitucional e Legal........................... 14
1.4 Da Proteção ao Meio Ambiente........................................................ 15
1.4.1 No direito brasileiro........................................................................... 15
1.4.2 No direito internacional..................................................................... 17
CAPÍTULO II - PRINCIPIOS GERAIS DE DIREITO AMBIENTAL QUE
SE RELACIONAM COM A SUSTENTABILIDADE DA VEGETAÇÃO
2.1 Conceito de Princípios...................................................................... 18
2.2 Princípios norteadores do direito ambiental...................................... 19
2.2.1 Princípio do desenvolvimento sustentável........................................ 19
2.2.2 Princípio do Poluidor Pagador (PPP) e do Usuário Pagador (PUP). 21
2.2.3 Princípio do Protetor Recebedor (PPR)........................................... 23
2.2.4 Princípio da Prevenção..................................................................... 25
2.2.5 Princípio da Precaução..................................................................... 27
2.2.6 Princípio do Equilíbrio....................................................................... 28
2.2.7 Princípio da Capacidade de Suporte............................................... 29
2.2.8 Princípio da Proibição do Retrocesso Constitucional Ambiental e
Ecológico..........................................................................................
29
CAPÍTULO III - O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
3.1 Breve histórico das leis anteriores................................................. 37
3.2 Área de Preservação Permanente (APP) no novo código …........ 41
3.2.1 Conceito......................................................................................... 41
3.2.2 Da classificação das APPs............................................................. 43
3.2.2.1 Das APPs decorrentes de lei......................................................... 43
3.2.2.2 Das APPs assim declaradas por ato do Poder Executivo
(indenizáveis)................................................................................
47
3.2.3 Das limitações e exceções em que se permite a intervenção e a
supressão de áreas de preservação permanente..........................
48
3.2.4 Da Recomposição das APPs......................................................... 49
3.2.5 Das APPs classificadas como áreas consolidadas........................ 49
3.2.5.1 APP em áreas rurais consolidadas................................................ 50
CAPÍTULO IV - DA INCONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO E DA OFENSA AO PRINCIPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL
4.1 Breve análise da imagem............................................................... 60
4.2 Da ofensa a Constituição Federal de 1988.................................... 66
4.3 Da ofensa ao Princípio da Proibição do Retrocesso Constitucional
Ambiental e Ecológico.....................................................................
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 75
REFERÊNCIAS........................................................................................... 77
LISTA DE FIGURAS
Figura nº 1 – APP medida no Código 4771/65................................................... 45
Figura nº 2 – APP medida na Lei. 12.651/2012.................................................. 45
Figura nº 3 – APP em três áreas rurais consolidadas.......................................60
Figura nº 4 – APP recuperada conforme disciplina a Lei 4.771/65..................62 Figura nº 5 – APP recuperada conforme disciplina a Lei 12.651/12................66
INTRODUÇÃO
O direito ao meio ambiente protegido e equilibrado, que garanta a
preservação da qualidade de vida, ao conciliar os elementos econômicos e
sociais, vem consagrado em nossa Constituição Federal de 1988.
A proteção Constitucional ao meio ambiente sadio e equilibrado,
sendo este um direito fundamental, traz implicitamente o princípio da Proibição do
Retrocesso Constitucional/Ambiental e Ecológico.
Entretanto, mesmo com a proteção constitucional, e com esse
princípio norteador de um meio ambiente sustentável, surge o projeto de um novo
Código Florestal e o mesmo é aprovado, dando origem a Lei 12.651/2012.
Essa lei, disciplina de forma INUSITADA vários artigos referentes às
áreas de preservação permanente nos cursos d'água e nas áreas rurais
consolidadas.
Nesse estudo, vamos analisar esse tratamento imprevisível e buscar
responder as seguintes indagações: as mudanças impostas pelo novo Código
Florestal afrontam a nossa Constituição? Será que contrariam as leis
infraconstitucionais anteriores a ele? Será que ferem o principio da Proibição do
retrocesso das leis ambientais?
Para encontrar as respostas dessas indagações, estudaremos os
artigos referentes às áreas de preservação permanente, tendo como objeto as
nos cursos d'água e as APP´s em áreas rurais consolidadas. Porém antes de
adentrarmos nesses artigos, vamos estudar sobre o Direito Ambiental, a seguir
vamos conhecer os princípios que norteiam o Direito Ambiental relacionados com
a sustentabilidade da vegetação, entre eles o da proibição do retrocesso
constitucional ambiental e ecológico.
10
Em seguida, vamos entender o novo Código Florestal e as suas
consequências em relação às áreas de preservação permanente. Ao fim, desse
estudo, analisamos se ocorreu ou não afronta à Constituição Federal/88, bem
como, se a nova lei feriu ou não, o Principio da proibição do retrocesso das leis
ambientais.
Portanto para o desenvolvimento do presente trabalho é
imprescindível a utilização de dois métodos, a saber, o dedutivo e o comparativo.
11
CAPÍTULO I
DIREITO AMBIENTAL
1.1 – Conceito de Meio Ambiente
Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo, em 1972, o meio ambiente foi descrito da
seguinte forma: “O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos,
biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo
curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”.1
A Lei 6.938/1981, no art.3º, I, que dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente e institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formação e aplicação, e dá outras providências, assim o
conceitua “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.2
Ao analisar o conceito percebemos que o mesmo esta incompleto, pois trata
apenas do meio ambiente natural, não trazendo à baila as noções de meio
ambiente cultural, artificial e do trabalho, evidenciando uma visão do
antropocentrismo alargado.
Assim, no entender de Marli Teresinha Deon Sette:
Poderíamos conceituar meio ambiente como o conjunto de elementos naturais, artificiais, culturais e do trabalho, suas interações, bem como as condições, princípios, leis e influencias que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas.
3
1GONÇALVES, Antonio Gabriel C. Definição de meio ambiente e ecologia. Disponível em: <
http://diariodoverde.com/definicao-de-meio-ambiente-e-ecologia/ > Acessado em: 05 set 2013. 2BRASIL, República Federativa do. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm > Acessado em: 06 set 2013. 3DEON SETTE, Marli Teresinha. Manual de Direito Ambiental. 2 ed. Curitiba: Juruá Editora, 2013, p. 36.
12
De acordo com a resolução CONAMA 306:2002:
Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influencia e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
4
Encontra-se na ISO 14001:2004 a seguinte definição sobre meio
ambiente: “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar,
água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações”. 5
1.2 – Direito Ambiental
Após conceituarmos e entendermos sobre o Meio Ambiente (MA),
podemos agora estudar sobre o direito ambiental (DA).
Primeiramente iniciaremos conceituando o Direito, nos dizeres de
Miguel Reale, o direito é:
A integração de três elementos na experiência jurídica (o axiológico, o fático e técnico-formal) revela-nos a precariedade de qualquer compreensão do Direito isoladamente como fato, como valor ou como norma, e, de maneira especial, o equívoco de uma compreensão do Direito como pura forma, suscetível de albergar, com total indiferença, as infinitas e conflitantes possibilidades dos interesses humanos.
6
Assim, podemos dizer que o direito é a interação tridimensional de
norma, fato e valor. Com efeito, nos dizes do doutrinador ANTUNES:
4BRASIL, República Federativa do. Resolução Conoma nº 306, de 5 de julho de 2002.. Disponível em: <
.http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=306 > Acessado em: 06 set 2013. 5COMITE BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL; COMISSÃO DE ESTUDO DE GESTÃO
AMBIENTAL. ISO 14001:2004: Sistemas da gestão ambiental – Requisitos com orientações para uso.
Disponível em: < http://www.labogef.iesa.ufg.br/labogef/arquivos/downloads/nbr-iso-14001-2004_70357.pdf
> Acessado em: 05 set 2013. 6 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 15 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1993, p. 701-2.
13
O Direito Ambiental é, portanto, a norma que, baseada no fato ambiental e no valor ético ambiental, estabelece os mecanismos normativos capazes de disciplinar as atividades humanas em relação ao MA. Há uma questão relevante e altamente complexa, que é a medida de equilíbrio que cada uma das três diferentes dimensões do direito deve guardar em relação às demais.
7
Segundo PRIEUR, o objetivo principal do Direito Ambiental:
É o de contribuir com à diminuição da poluição e à preservação da diversidade biológica. Contudo, no momento em que o Direito Ambiental é consagrado por um grande número de constituições como um novo direito humano, ele é paradoxalmente ameaçado em sua essência. Em vista disso, não deveria o Direito Ambiental entrar na categoria das regras jurídicas eternas, irreversíveis e, assim, não revogáveis, em nome do interesse comum da Humanidade?
8 Complementa o doutrinador:
Desde as suas origens, na década de 1970, o objetivo do Direito Ambiental não era apenas o de “regulamentar” o meio ambiente, mas o de contribuir à reação contra a degradação ambiental e o esgotamento dos recursos naturais. O Direito Ambiental é, por natureza, um direito engajado, que age na luta contra as poluições e a perda da biodiversidade. É um direito que se define segundo um critério finalista, pois se dirige ao meio ambiente: implica uma obrigação de resultado, qual seja, a melhoria constante do estado do ambiente. É o Direito Ambiental, também, a expressão política de uma ética ou de uma moral ambiental, segundo a expressão do presidente francês Georges Pompidou, em seu discurso de Chicago, de 28 de fevereiro de 1970. Todo retrocesso do Direito Ambiental seria, então, imoral. Seria, também, ilegal ou inconstitucional?
9
Para podermos responder a pergunta de Michel Prieur, vamos
analisar nos próximos capítulos as novas regras trazidas pela Lei 12.651/2012
sobre a Área de Preservação Permanente e se essas regras contrariam ou não o
7ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010, p.05.
8PRIEUR, Michel. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Disponível em:
<http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 18 mar 2013. 9 Idem.
14
princípio da Proibição do retrocesso ambiental. Se a resposta for sim, isso
representaria um retrocesso, logo imoral. Mas será que é inconstitucional?
1.3 - Visão do Direito Ambiental Constitucional e Legal
Para que possamos compreender a visão do Direito Ambiental,
devemos primeiro nos perguntar: a quem a norma ambiental serve? Com quem se
preocupa? Somente com o homem? Somente com o ambiente? Ou com tudo que
tem vida?
Conforme o ensinamento de DEON SETTE, a visão ecocêntrica é:
O planeta visto pelo aspecto ecológico, em que os valores são centrados na natureza, situação em que o legislador colocaria em segundo plano a saúde e a segurança do ser humano, voltando-se exclusivamente à incolumidade de outras espécies e colocando em risco a própria segurança das pessoas. Por meio dessa visão não seria possível a matança de animais peçonhentos ou outros animais, ainda que ocorresse uma situação de desequilíbrio, como por exemplo, matar jacarés quando ocorre superpopulação.
10
Por outro lado, existe a visão Antropocêntrica, nesta o homem é o
centro das preocupações, sendo destinatário do direito ambiental.
Dessa forma, não conseguiríamos imaginar a tutela ambiental
afastada da referida visão, na medida em que para ter a proteção jurídica do meio
ambiente, esta depende de uma ação humana.
Segundo FIORILLO, “os seres humanos estão no centro das
preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida
saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”.11
10
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 37. 11
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13 ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Saraiva, 2012, p.70.
15
Por fim, com a ocorrência da evolução da visão antropocêntrica,
surge a visão do antropocentrismo alargado.
Nessa visão, para todo o centro deve existir uma periferia, assim, o
homem ao estar no centro das preocupações, a periferia que esta em seu
entorno, deverá ser tutelada, caso ela não seja, ocorreria o risco da mesma se
autodestruir e como consequência, o homem poderia deixar de ser o centro.
Sobre essa visão, DEON SETTE, conceitua como:
É uma visão que, ainda que por via reflexa acabe por colocar o homem sempre como destinatário da norma, também valoriza a interdependência entre os seres humanos e os elementos da natureza, bem como, valoriza a natureza per si. É essa a forma que entendemos que a legislação ambiental vê a proteção da natureza, na medida em que várias práticas são incentivadas para manter o equilíbrio ecológico do sistema, sem contudo, relaciona-las com a utilidade que têm para o homem, ou com o valor
que passam a ter para o mercado.12
1.4 – Da proteção ao Meio Ambiente
1.4.1 – No direito brasileiro
Ao estudarmos o direito interno brasileiro, o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado vem insculpido no art. 225, caput, da nossa
Constituição Federal de 1988, que dispõe:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
13
12
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 38. 13
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira).
16
O dispositivo acima consagra que o meio ambiente é um direito
fundamental, pois visa proteger o direito à vida com todos os seus
desdobramentos, incluindo a sadia qualidade de seu gozo.
MAZZUOLI tem o mesmo entendimento, e assim, nos ensina:
Trata-se de um direito fundamental no sentido de que, sem ele, a pessoa humana não se realiza plenamente, ou seja, não consegue desfrutá-lo sadiamente, para se utilizar a terminologia empregada pela letra da Constituição. No sentido empregado pelo art. 225, caput, do texto constitucional, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um prius lógico do direito à vida, sem o qual esta não se desenvolve sadiamente em nenhum dos seus desdobramentos. É dizer, o bem jurídico vida depende, para a sua integralidade, entre outros fatores, da proteção do meio ambiente com todos os seus consectários, sendo dever do poder público e da coletividade defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
14
A nossa Constituição Federal, ao dispor sobre os direitos
fundamentais do homem, consagrou no art. 5º, inciso XXXVI, o princípio implícito
da segurança jurídica, dizendo que a lei não prejudicará o direito adquirido. Sendo
o meio ambiente equilibrado um direito fundamental, a Constituição Federal esta
protegendo, com tal garantia, a sociedade de toda a violação à leis protetivas já
existentes.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
15
14
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 3 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p.875. 15
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira).
17
1.4.2 - No direito internacional
O direito fundamental ao meio ambiente foi reconhecido na esfera
internacional pela Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, adotada pela
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo,
1972.
A asserção do direito ao meio ambiente ao patamar de direito
fundamental, se origina do Princípio 1 dessa Declaração, segundo a qual:
O homem tem o direito
fundamental à liberdade, igualdade e adequadas
condições de vida, num meio ambiente cuja
qualidade permita uma vida de dignidade e bem
estar, e tem a solene responsabilidade de proteger
e melhorar o meio ambiente, para a presente e as
futuras gerações. A tal respeito, as políticas de
promover e perpetuar o apartheid, a segregação
racial, a discriminação, a opressão colonial e suas
outras formas, e a dominação estrangeira, ficam
condenadas e devem ser eliminadas.16
Ainda, em 1972, foi firmada a Convenção Relativa à Proteção do
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, promulgada pelo Brasil pelo Decreto
80.978, de 12.12.1977. E em, 1992, teve a Convenção sobre a Biodiversidade
Biológica e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, onde os conceitos adotados em 1972 foram reforçados.
16
BRASIL, Republica Federativa do. Ministério do Meio Ambiente. Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf >
Acessado: 10 set 2013.
18
CAPITULO II
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL QUE SE
RELACIONAM COM A SUSTENTABILIDADE DA VEGETAÇÃO
2.1 – Conceito de Princípios
Segundo DEON SETTE:
Os princípios, em regra, são simples, de fácil compreensão e servem como norteadores para entender a essência de fundamentos de determinados ramos do Direito, facilitando tanto a construção do próprio ordenamento jurídico do referido ramo quanto a sua aplicação e utilização.
17
O direito ambiental é uma ciência autônoma, e essa independência
lhe é garantida pelo artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Essa constituição
proporcionou a recepção de quase todos os aspectos da Lei n. 6.938/81, como
também, criou as competências legislativas concorrentes. Dessa forma, deu
prosseguimento a Política Nacional de Defesa Ambiental.
Para FIORILLO, “nota-se não ser proposital o uso da referida
expressão (política) pela Lei n. 6.938/81, na medida em que pressupõe a
existência de seus princípios norteadores”.18
Em relação a esses princípios, FIORILLO citando KLOEPFER, diz
que constituem “pedras basilares dos sistemas político- jurídicos dos Estados
civilizados”.19
Devido ao grande numero de princípios relacionados com o direito
ambiental, aqui serão relacionados os que mais estão presentes nas doutrinas e
17
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 57. 18
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, op., cit., p. 86. 19
Idem, p. 86.
19
que possuem como foco a proteção do meio ambiente, mais especificamente, a
vegetação nativa e a vedação de retrocessos.
2.2 – Princípios norteadores do Direito Ambiental relacionados com a
sustentabilidade da vegetação
2.2.1 - Princípio do Desenvolvimento Sustentável
Esse princípio surgiu, inicialmente, em Estocolmo, na Suécia, com a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, de 5 a 16 de
junho de 1972, onde se adotou a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano.
Para MAZZOULI,
... foi a Conferência de Estocolmo o passo efetivamente concreto de conscientização da sociedade internacional para os problemas ambientais, que começaram a emergir com maior intensidade desde então, e o marco normativo inicial à futura construção do sistema internacional de proteção do meio ambiente.
20
Complementando o entendimento acima, esta o de SILVA:
A principal virtude da Declaração adotada em Estocolmo é a de haver reconhecido que os problemas ambientais dos países em desenvolvimento eram e continuam a ser distintos dos problemas ambientais dos países industrializados. Isto não pode, contudo, ser interpretado como significando a existência de regras distintas e menos rígidas para os países em desenvolvimento; regras que possam significar um direito de poluir ou de fabricar produtos nocivos ao meio ambiente. Cumpre adotar normas suficientemente amplas, capazes de permitir a todos os países acatá-las. A adoção de regras permissivas poderá resultar na promoção, por governos sem visão, de práticas cujos malefícios exigirão mais tarde a adoção de medidas dispendiosas para sua erradicação.
21
20
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 3 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p.860. 21
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito ambiental internacional: meio ambiente,
desenvolvimento sustentável e os desafios da nova ordem mundial. Rio de Janeiro: Thex, 1995, p.30.
20
Anos mais tarde, em 1992, foi realizada no Rio de Janeiro, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
ECO-92, a qual empregou o termo “desenvolvimento sustentável” em onze de
seus vinte e sete princípios.
Ao analisarmos o caput do artigo 225 da CF/88, encontramos o
referido princípio:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (grifo nosso).
22
Constatamos que os recursos ambientais são esgotáveis, sendo
necessária a busca pelo uso sustentável desses recursos, com a coexistência
harmônica entre economia e meio ambiente.
Assim, o conteúdo desse princípio, é claramente explicado por
FIORILLO e DIAFÉRIA, como:
A manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, par que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje a nossa disposição.
23
Concluímos que o princípio do desenvolvimento sustentável tem por
principal objetivo a busca pelo desenvolvimento que atenda às necessidades da
geração presente, sem, contudo, comprometer as futuras gerações.
22
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira). 23
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no
direito ambiental brasileiro. São Paulo: Max Limonad, 1999, p.31.
21
2.2.2 - Princípio do Poluidor Pagador (PPP) e Princípio do Usuário Pagador
(PUP)
Os Princípios acima estão relacionados com a tributação ambiental,
ou seja, têm na sua essência a aplicação da tributação aos bens e serviços
ambientais.
Para DEON SETTE,
Esta forma de tributação (extrafiscal) ambiental é um instrumento econômico que se revela hábil e importante método de moldar o custo do produto ou serviço que utilize ou degrade funções ou bens ambientais, a fim de que o custo ambiental não seja suportado pela sociedade, mas por quem polui ou usa o bem ambiental.
24
A CF/88 em seu art. 225, § § 2º 3º, combinados com o inciso VII do
art. 4º da Lei n. 6.938/81 fundamentam os dois princípios.
Art. 225 (...)
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
25
Art. 4º da Lei.n. 6.938/81 (...) VII – à imposição, ao poluidor e ao predador; da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela
24
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 62. 25
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira).
22
utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
26
a) Princípio do Poluidor Pagador
Ao analisá-lo identificamos a existência de dois caráter, a saber, o
preventivo e o repressivo. No preventivo, busca a não ocorrência dos danos
ambientais. Já no repressivo, o dano já ocorreu, assim, busca a sua reparação.
Assim, segundo FIORILLO:
... impõe-se ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção dos danos ao meio ambiente que a sua atividade possa ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos necessários à prevenção dos danos. Numa em razão da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação.
27
A definição do principio foi dada pela Comunidade Econômica
Europeia, que preceitua:
As pessoas naturais ou jurídicas, sejam regidas pelo direito público ou pelo direito privado, devem pagar os custos das medidas que sejam necessárias para eliminar a contaminação ou para reduzi-la ao limite fixado pelos padrões ou medidas equivalentes que asseguram a qualidade de vida, inclusive os fixados pelo Poder Público competente.
28
Nesse princípio há incidência da responsabilidade civil aos danos
ambientais, a saber, a responsabilidade objetiva, a solidariedade para suportar os
danos e a prioridade da reparação específica do dano ambiental.
b) Princípio do Usuário Pagador
O Princípio trata da cobrança pelo uso dos recursos naturais, assim,
ensina MACHADO “que a raridade do recurso explorado, a poluição emitida e a
26
BRASIL, República Federativa do. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm > Acessado em: 06 set 2013. 27
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. op., cit., p. 96. 28
Idem, p.101.
23
necessidade de prevenir catástrofes, entre outros motivos, podem levar à
cobrança dos usuários de determinada quantia pela exploração”.29
Analisando o art.4º, inciso VII da Lei n. 6.938/81, extrai-se que o
usuário de recursos ambientais com fins econômicos deve pagar pela sua
utilização e os custos serão direcionados somente a eles. Dessa forma, isenta-se
o Poder Público e a sociedade em geral.
A doutrinadora DEON SETTE, ao falar sobre a aplicação desse
principio diz que deve ser cuidadosamente pensada:
Na medida em que não deve servir como justificativa para a imposição de tributos que tenham por efeito aumentar o preço dos recursos a ponto de ultrapassar seu custo real, após levarem em conta as externalidades e a raridade, nem, tampouco, fixá-lo a preço ínfimo que não represente o custo real. Em qualquer dos dois casos, o instrumento será ineficiente. Ou seja, a aplicação do PUP deve servir como ferramenta de racionalização do uso dos recursos ambientais e não, como forma de radicalização do uso à escala zero.
30
Ressalta-se que a exigência de um pagamento não é sinônimo de
sanção, mas sim representa a valorização do bem jurídico em questão que
pertence a todos os cidadãos.
2.2.3) Princípio do Protetor Recebedor (PPR)
O PPR visa a remunerar de alguma forma, seja ela direta ou indireta,
por meio de incentivos positivos- fiscais, tributários e creditícios, aquele que
adotou a conduta ambientalmente positiva. A ideia central é remunerar todo
aquele que, de alguma forma, deixou de explorar um recurso natural que era seu,
em benefício do meio ambiente e da coletividade, ou promoveu alguma coisa,
também com o mesmo propósito.
A aplicação desse Princípio é ensinada pelos doutrinadores DEON
SETTE e NOGUEIRA:
29
MACHADO, Paulo Affonso L. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 59. 30
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 65.
24
O princípio do protetor recebedor, que, em síntese, prega que aquele agente público ou privado que protege um bem natural em benefício da comunidade deve receber uma compensação financeira como incentivo pelo serviço de proteção ambiental prestado. Sua aplicação destina-se à justiça econômica, valorizando os serviços ambientais prestados voluntária e generosamente por uma população ou sociedade, e remunerando economicamente essa prestação de serviços.
31
Esse princípio é um incentivo para os agentes econômicos que
possuem sensibilidade ecológica e contribuem para a preservação do meio
ambiente, na medida em que lha dá um incremento econômico.
Segundo Maurício Andrés Ribeiro:
A aceitação e aplicação do princípio protetor-recebedor constitui-se, assim, em justa luta, que beneficia os que se privam do uso livre dos recursos ambientais - trate-se de pessoas, ONGs, municípios, estados ou países. A gestão ambiental, nos países em que existe abundância de recursos, costuma colocar em prática o princípio usuário-poluidor-pagador, que ainda não é usual em países com escassez financeira. Em situações de pobreza, é necessário virar pelo avesso este conceito e aplicar o princípio protetor-recebedor, eficaz para a realidade de sociedades que precisam resolver carências de infra-estrutura e proteger ecossistemas frágeis. Em contextos de escassez de recursos financeiros, a disposição a receber é mais alta do que a disposição a pagar.
32
Acrescenta ainda RIBEIRO:
Uma variação do princípio protetor-recebedor é o do não poluidor-recebedor, pelo qual todo agente público que deixar de poluir receba um incentivo ou prêmio por essa atitude, diferenciando-se daqueles agentes que ainda continuem a poluir o ambiente. Assim, os limpos deixam de pagar pelos poluidores, caracterizando medida de justiça social e econômica. Trata-se do inverso do princípio mais conhecido, do poluidor-pagador, que imputa custos e atribui ao poluidor a
31
DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, Jorge M. A Política Nacional de Resíduos Solidos: leituras
jurídicas e econômica para a avaliação inicial. Disponível em:<http://e-
groups.unb.br/face/eco/jmn/publicacoes/2010/4PoliticaNacionalResiduosSolidos.pdf> Acessado em: 14 out
2013. 32
RIBEIRO, Mauricio Andrés. O Principio Protetor Recebedor. Disponível
em:<http://portaldomeioambiente.org.br/blogs/mauricio-andres-ribeiro/676-o-principio-protetor-recebedor>
Acessado em: 14 out 2013.
25
responsabilidade pelas despesas para que o meio ambiente permaneça em condições adequadas e que postula, ainda, que o responsável original pelo prejuízo ambiental arque com a compensação por
tal dano.33
As possibilidades de aplicação do PPR são inúmeras, como por
exemplo, as praticas de sequestro de carbono e a formação de áreas verdes
privadas – como as reservas particulares de Patrimônio Natural.
A professora DEON SETTE citas alguns exemplos recentes da
possibilidade da aplicação do PPR:
São as disposições contidas na Lei 12.305/2010, que arrola em seu art. 6º,inc II, o princípio do protetor recebedor como princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos; e a Lei 12.651/2012, que institui o pagamento ou incentivo a serviços ambientais, como retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem serviços ambientais (art. 41,inc.I e suas alíneas).
34
2.2.4) Princípio da Prevenção
Esse princípio consiste no comportamento efetuado com o intuito de
afastar o risco ambiental, ou seja, impõe ao agente, a obrigação de adotar
medidas que possam evitar ou diminuir ao máximo a ocorrência do dano
ambiental.
O princípio 17 da Declaração do Rio de Janeiro faz referência ao
princípio da prevenção:
17. A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente.
35
33
RIBEIRO, Mauricio Andrés. O Principio Protetor Recebedor. Disponível
em:<http://portaldomeioambiente.org.br/blogs/mauricio-andres-ribeiro/676-o-principio-protetor-recebedor>
Acessado em: 14 out 2013. 34
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 67. 35
BRASIL, República Federativa do. Ministério do Meio Ambiente. Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf >
Acessado: 10 set 2013.
26
ANTUNES explica que esse princípio não pode ser confundido com
o da precaução, pois:
O princípio da prevenção aplica-se a impactos ambientais já conhecidos e dos quais se possa com segurança, estabelecer um conjunto de nexos de causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais prováveis.
36
Este preceito encontra-se previsto no artigo 225, caput, da
Constituição Federal, quando se impõe ao Poder Público e à coletividade o dever
de proteger e preservar o meio ambiente às presentes e futuras gerações, e, em
especial, o inciso IV, do § 1º do mesmo artigo quando coloca como uma das
incumbências “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.37
O Princípio 8 da Declaração do Rio de Janeiro/1992 estabelece:
Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as pessoas, os Estados devem reduzir e eliminar os sistemas de produção e consumo não-sustentados e fomentar políticas demográficas apropriadas.
38
O Doutrinador RODRIGUES ressalta a importância do princípio da
prevenção, ensinando que:
Sua importância está diretamente relacionada ao fato de que, se ocorrido o dano ambiental, a sua reconstituição é praticamente impossível. O mesmo ecossistema jamais pode ser revivido. Uma espécie extinta é um dano irreparável. Uma floresta desmatada causa uma lesão irreversível, pela impossibilidade de reconstituição da fauna e da flora e de todos os componentes ambientais em profundo e
36
ANTUNES, Paulo de Bessa. op., cit., p. 45. 37
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira). 38
BRASIL, República Federativa do. Ministério do Meio Ambiente. Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf >
Acessado: 10 set 2013.
27
incessante processo de equilíbrio, como antes se apresentavam.
39
Para que ocorra a adoção dos procedimentos adequados à proteção
do meio ambiente, MACHADO divide em cinco itens a aplicação do princípio da
prevenção, a saber:
1º) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas do mar, quanto ao controle da poluição; 2º) identificação e inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamentos ambiental e econômico integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e 5º) Estudo de Impacto Ambiental.
40
2.2.5) Princípio da Precaução
O princípio da precaução impõe cautela, ou seja, deve-se evitar a
implementação de determinada atividade quando os seus riscos ao meio
ambiente forem desconhecidos.
De acordo com FIORILLO:
O princípio apenas limita-se a afirmar que a falta de certeza cientifica não deve ser usada como meio de postergar a adoção de medidas preventivas, quando houver ameaça séria de danos irreversíveis (...) não se pode dizer, com base exclusivamente nesse princípio, qual a conduta a ser tomada ante a ocorrência da atividade concreta que tenha potencial de degradação irreversível do meio ambiente. Deste se obtém somente mandamento para a tomada de iniciativas de precaução, seja por parte do estado, dos Parlamentos ou da própria comunidade
internacional, ainda que o risco de dano não possa
ser cientificamente demonstrado.41
39
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito ambiental: Parte Geral. 2 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2005, p. 203. 40
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Estudos de Direito Ambiental. São Paulo: Malheiros Editores, 1994,
p. 36. 41
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, op.cit., p. 130.
28
Dessa forma, o referido princípio prega que mesmo diante da
incerteza científica, medidas devem ser aplicadas para evitar os danos
ambientais.
O princípio da precaução encontra-se inserido no Princípio 15 da
Declaração do Rio de Janeiro, que expressa o seguinte:
15. Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
42
2.2.6) Princípio do Equilíbrio
O princípio preceitua que as atividades econômicas, ao serem
implementadas, devem levar em conta, não somente as consequências em
relação ao dano ambiental, mas também, em relação a utilidade para a
sociedade, a economia e a vida humana, tripé : a economia, meio ambiente e
aspectos sociais.
É o principio, que segundo ANTUNES “devem ser pesadas todas as
implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se adotar a solução
que melhor concilie um resultado globalmente positivo”.43
DEON SETTE complementa o entendimento acima, dizendo que
“numa intervenção no meio ambiente, a questão ambiental não pode ser vista
42
BRASIL, República Federativa do. Ministério do Meio Ambiente. Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf >
Acessado: 10 set 2013. 43
ANTUNES, Paulo de Bessa, op., cit., p. 46.
29
com exclusividade em detrimento dos demais aspectos relacionados com a
atividade sob analise”.44
2.2.7) Princípio da Capacidade de Suporte ANTUNES, ao dispor sobre o princípio da capacidade de suporte
afirma que “A Administração Pública tem a obrigação de fixar padrões de
emissões de matérias poluentes, de ruído, enfim, de tudo que aquilo que possa
implicar prejuízos aos recursos ambientais e a saúde humana”.45
Tal princípio tem assento constitucional no inciso V do § 1º do artigo
225 da Constituição Federal, que determina que para assegurar o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado incumbe ao Poder Público “controlar a
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”.46
Assim, segundo o mesmo doutrinador a:
Capacidade de suporte estabelece uma presunção iuris tantum cuja consequência é a transferência do ônus de prova para que o empreendedor demonstre o cumprimento do padrão legal, ou que a sua ultrapassagem não esteja causando danos ao meio ambiente, às pessoas ou aos seus bens.
47
2.2.8 - Princípio da Proibição do Retrocesso Constitucional Ambiental/ Ecológico
Ao analisarmos a palavra retrocesso, encontramos como significado:
“1. Ato ou efeito de retroceder; 2. Ato de voltar a um estado anterior; 3. Ato de
retirar ou recuar; 4. Decadência; 5. Regresso aos costumes antigos”.48Dessa
forma, esse princípio diz respeito a PROIBIÇÃO do retrocesso de todas as
políticas que foram feitas pró – meio ambiente, pois o meio ambiente ao ser
considerado como um direito fundamental – direito de 3º geração – não pode
retroceder, pois poderia ferir o próprio direito a vida.
44
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 71. 45
ANTUNES, Paulo de Bessa, op., cit., p. 47. 46
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira). 47
ANTUNES, Paulo de Bessa, op., cit. p. 47. 48
PRIBERAM. Dicionário on line. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/retrocesso> Acessado em
23 set 2013.
30
Esse princípio foi utilizado no Supremo Tribunal Federal, pelo
Ministro Herman Benjamin, como fundamento de sua decisão, no julgamento do
REsp 302.906/SP/2010 :
PROCESSUAL CIVIL, ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL E URBANÍSTICO. LOTEAMENTO CITY LAPA. AÇAO CIVIL PÚBLICA. AÇAO DE NUNCIAÇAO DE OBRA NOVA. RESTRIÇÕES URBANÍSTICO-AMBIENTAIS CONVENCIONAIS ESTABELECIDAS PELO LOTEADOR. ESTIPULAÇAO CONTRATUAL EM FAVOR DE TERCEIRO, DE NATUREZA PROPTER REM . DESCUMPRIMENTO. PRÉDIO DE NOVE ANDARES, EM ÁREA ONDE SÓ SE ADMITEM RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES. PEDIDO DE DEMOLIÇAO. VÍCIO DE LEGALIDADE E DE LEGITIMIDADE DO ALVARÁ. IUS VARIANDI ATRIBUÍDO AO MUNICÍPIO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA NAO-REGRESSAO (OU DA PROIBIÇAO DERETROCESSO) URBANÍSTICO-AMBIENTAL.
VIOLAÇAO AO ART. 26, VII, DA LEI6.766/79
(LEI LEHMANN), AO ART. 572 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 (ART. 1.299 DO CÓDIGO
CIVIL DE 2002) E À LEGISLAÇAO MUNICIPAL.
ART. 334, I, DOCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VOTO-MÉRITO.
1. As restrições urbanístico-ambientais convencionais, historicamente de pouco uso ou respeito no caos das cidades brasileiras, estão em ascensão, entre nós e no Direito Comparado, como veículo de estímulo a um novo consensualismo solidarista,coletivo e intergeracional, tendo por objetivo primário garantir às gerações presentes e futuras espaços de convivência urbana marcados pela qualidade de vida, valor estético, áreas verdes e proteção contra desastres naturais (...)10. O relaxamento, pela via legislativa, das restrições urbanístico-ambientais convencionais, permitido na esteira do ius variandi de que é titular o Poder Público, demanda, por ser absolutamente fora do comum, ampla e forte motivação lastreada em clamoroso interesse público, postura incompatível com a submissão do Administrador a necessidades casuísticas de momento, interesses especulativos ou vantagens comerciais dos agentes econômicos.11. O exercício do ius variandi , para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no Direito Ambiental,
31
é decorrência da crescente escassez de espaços verdes e dilapidação daqualidade de vida nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não-regressão (ou, por outra terminologia, princípio da proibição de retrocesso ), garantia de que os avanços urbanístico-ambientais conquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes (...)17. Condenará a ordem jurídica à desmoralização e ao descrédito o juiz que legitimar o rompimento odioso e desarrazoado do princípio da isonomia , ao admitir que restrições urbanístico-ambientais, legais ou convencionais, valham para todos, à exceção de uns poucos privilegiados ou mais espertos. O descompasso entre o comportamento de milhares de pessoas cumpridoras de seus deveres e responsabilidades sociais e a astúcia especulativa de alguns basta para afastar qualquer pretensão de boa-fé objetiva ou de ação inocente.(...) 19. Recurso Especial não provido.
49(grifo nosso)
O referido ministro coordenou os trabalhos da comissão de Meio
Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado
Federal, em 29 de março de 2012, que realizou, pela primeira vez no Parlamento
brasileiro, um Colóquio Internacional sobre o Princípio da Proibição do Retrocesso
Ambiental.
O Senador Rodrigo Rollemberg, Presidente da CMA, na
apresentação do referido Colóquio, diz que:
Consolidar em nosso arcabouço jurídico o princípio da proibição do retrocesso ambiental é demanda premente da época atual, quando a humanidade vive o dilema de colocar um freio no contínuo processo de devastação dos recursos naturais. O momento é decisivo e aponta na direção da afirmação dos direitos estatuídos, jamais na regressão, no voltar às práticas do passado que não mais queremos, nem necessitamos.
50 (grifo nosso)
49
BRASIL, República Federativa do. Recurso Especial 302.906. Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN.
DJ 26/08/2010. STJ – São Paulo. Disponível em: <
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19133048/recurso-especial-resp-302906-sp-2001-0014094-7/inteiro-
teor-19133049 > Acessado em: 21 set 2013. 50
ROLLEMBERG, Rodrigo. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Disponível
em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 17 mar 2013.
32
Para Benjamin, esse princípio transformou-se em principio geral do
direito ambiental, mesmo não tendo nome e nem sobrenome na nossa
Constituição Federal e nem em normas infraconstitucionais:
Sim, principio geral do Direito Ambiental, pois a previsão normativa explicita não se antepõe como pressuposto insuperável ao seu reconhecimento. E que a proibição de retrocesso não surge como realidade tópica, resultado de referencia em dispositivo especifico e isolado; ao contrario, nela se aninha um principio sistêmico, que se funda e decorre da leitura conjunta e dialogo multidirecional das normas que compõem a totalidade do vasto mosaico do Direito Ambiental. Alem disso, principio geral, já que as bases e conteúdo ecológicos (= o mínimo ecológico, a garantia dos processos ecológicos essenciais, a hiperproteção dos ecossistemas frágeis ou a beira de colapso, a preservação absoluta das espécies ameaçadas de extinção) da proibição de retrocesso estão claramente afirmados na Constituição e nas leis ambientais brasileiras. Tanto a legislação ambiental, como a jurisprudência optaram por esse “caminhar somente para a frente”.
51
O doutrinador PRIEUR, nesse Colóquio, a respeito de tal principio,
diz:
A não regressão já está reconhecida como indispensável ao desenvolvimento sustentável, como garantia dos direitos das gerações futuras. Ela reforça a efetividade dos princípios gerais do Direito Ambiental, enunciados no Rio de Janeiro em 1992. É um verdadeiro seguro para a sobrevivência da Humanidade, devendo ser reivindicada pelos cidadãos do mundo, impondo-se, assim, aos Estados (...) Ao nos servirmos da expressão “não regressão”, especificamente na seara do meio ambiente,entendemos que há distintos graus de proteção ambiental e que os avanços da legislação consistem em garantir, progressivamente, uma proteção a mais elevada possível, no interesse coletivo da Humanidade.
52
51
BENJAMIN, Antonio Herman. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental.
Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 17
mar 2013. 52
PRIEUR, Michel. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Disponível em:
<http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 18 mar 2013.
33
A proibição de retrocesso poderia ser vista como uma garantia
constitucional do cidadão contra a ação do legislador e da Administração Pública,
no intuito de salvaguardar os seus direitos fundamentais consagrados pela
Constituição.
Ademais, o professor Patrick Ayala, ao falar sobre os efeitos do
princípio, ensina que:
Importa admitir como efeitos de uma proibição de retrocesso ambiental o fato de não ser possível ao Estado autorizar, tolerar ou atribuir proteção normativa a comportamentos privados que degradem a qualidade dos recursos naturais ou que os próprios particulares se esquivem de proceder a execução de seus deveres de defesa do ambiente ou ainda que estes excedam os limites constitucionais para o exercício de suas liberdades econômicas.
53 A análise das citações retromencionadas evidencia que admitir a
violação deste princípio, significa admitir a violação de tudo o que já foi
conquistado em matéria de proteção ambiental, como também restringir o direito
das futuras gerações a um meio equilibrado.
A referida violação tem como resultado a inconstitucionalidade da
medida legislativa ou administrativa que a originou. Na inteligência do art. 5, § 1º,
da nossa Constituição Federal, a proteção aos direitos fundamentais, sendo o
meio ambiente um direito fundamento, é imposta contra a atuação do poder de
reforma constitucional, como também contra o legislador ordinário e os demais
órgãos estatais. Sendo eles, incumbidos de um dever permanente de
desenvolvimento e concretização dos direitos fundamentais, sendo
INACEITÁVEL, em qualquer situação, a violação, supressão, restrição ou
regressão desse direito fundamental.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
53
AYALA, Patrick de Araújo. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental.
Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 18
mar 2013.
34
(...) § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
54
Sobre a violação desse principio, o Ministro Benjamin, diz:
Consequentemente, reduzir, inviabilizar ou revogar leis, dispositivos legais e políticas de implementação de proteção da Natureza nada mais significa, na esteira da violação ao principio da proibição de retrocesso ambiental, que conceder colossal incentivo econômico a quem não podia explorar (e desmatar) partes de sua propriedade e, em seguida, com a regressão, passar a podê-lo. Tudo as custas do esvaziamento da densificação do mínimo ecológico constitucional.
55
Ao falar sobre o principio da proibição do retrocesso, SARLET e
FENSTERSEIFER afirmam que a garantia desse princípio tem por escopo
preservar o bloco normativo constitucional e infraconstitucional, já consolidado no
ordenamento jurídico, especialmente, em relação aos que asseguram a fruição
dos direitos fundamentais. Os mesmos doutrinadores, ainda complementam:
2. A proibição de retrocesso,
por sua vez, diz respeito a uma garantia de
proteção dos direitos fundamentais (e da
própria dignidade da pessoa humana) contra a
atuação do legislador, tanto no âmbito
constitucional quanto – e de modo especial –
infraconstitucional (quando estão em causa
medidas legislativas que impliquem supressão ou
restrição no plano das garantias e dos níveis de
tutela dos direitos já existentes), mas também
proteção em face da atuação da administração
pública. A proibição de retrocesso consiste (à
míngua de expressa previsão no texto
constitucional) em um princípio constitucional
54
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira). 55
BENJAMIN, Antonio Herman. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental.
Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 17
mar 2013.
35
implícito, tendo como fundamento
constitucional, entre outros, o princípio do
Estado (Democrático e Social) de Direito, o
princípio da dignidade da pessoa humana, o
princípio da máxima eficácia e efetividade das
normas definidoras de direitos fundamentais,
bem como o princípio da segurança jurídica e
seus desdobramentos(...)a cláusula de
progressividade atribuída aos direitos sociais deve
abarcar, necessariamente, também as medidas
normativas voltadas à tutela ecológica, de
modo a instituir uma progressiva melhoria da
qualidade ambiental e, consequentemente, da
qualidade de vida em geral. 4. Por uma questão
de justiça entre gerações humanas, a geração
presente tem a responsabilidade de deixar,
como legado às gerações futuras, pelo menos
condições ambientais tendencialmente
idênticas àquelas recebidas das gerações
passadas, estando a geração vivente, portanto,
vedada a alterar em termos negativos as
condições ecológicas, por força do princípio da
proibição de retrocesso socioambiental e do dever
(do Estado e dos particulares) de melhoria
progressiva da qualidade ambiental.56
(grifo nosso)
Para Carlos Alberto Molinaro, o princípio da proibição do retrocesso
ambiental deve ser respeitado, pois o direito ambiental objetiva evitar a
degradação do meio ambiente, coibindo qualquer tipo violação a direitos
fundamentais:
Principio – dos mais relevantes – tema desta reflexão e o denominado de „proibição de retrocesso ambiental‟ ou de proibição da regressividade, que preferimos denominar de vedação da retrogradarão, ele esta diretamente subsumido no entrelaçamento dos princípios matrizes dignidade da pessoa humana e da segurança jurídica, ele e essencial na atribuição de responsabilidade ambiental informada pela fraternidade que deve estar impressa em todas as relações com o ambiente.
56
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Projeto que Altera o Código Florestal Apresenta
Vícios de Inconstitucionalidade. 2011. Disponível em: <http://www.observatorioeco.com.br/projeto-que-
altera-o-codigo-florestal-apresenta-vicios-de-inconstitucionalidade/> Acessado: 18 out 2013.
36
Vedação da retrogradarão ambiental e a denominação que damos ao principio da proibição de retrocesso social (ambiental) em sede de direito ambiental, pois retrogradar expressa melhor a ideia de retroceder, de ir para trás, no tempo e no espaço. Ainda mais, o que o direito ambiental objetiva proteger, promover e evitar e a degradação do ambiente, portanto, intensamente deve coibir a retrogradarão que representa uma violação dos direitos humanos, e uma transgressão a direitos fundamentais. Por certo, ao atingir-se um estado superior não se deve retornar a estágios inferiores, expressa a máxima central do primado da evolução dos seres e das coisas.
57
Não resta dúvida que o princípio do não retrocesso Constitucional
Ambiental/Ecológico não poderia ser afrontado, pois se isso ocorresse ofenderia
todos os demais princípios,como também, o meio ambiente ecologicamente
equilibrado. Entretanto, veremos nos capítulos seguintes, que o Legislador não
respeitou esse princípio ao aprovar artigos do Novo Código Florestal referentes as
áreas de preservação permanente que ofendem o meio ambiente em equilíbrio.
57
MOLINARO, Carlos Alberto. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso ambiental.
Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado em: 17
mar 2013.
37
CAPITULO III
O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
3 .1 – Breve histórico das leis anteriores
Conforme visto no capítulo I, a Conferência de Estocolmo, em 1972,
inseriu como direito fundamental do homem, o meio ambiente sadio e equilibrado,
mas as raízes protetivas da legislação brasileira são anteriores a essa
Conferência.
A primeira legislação brasileira protetora do meio ambiente surgiu
em 1934, pela inteligência do Decreto nº 23.793 (aprova o código florestal). Além
do mais, a Constituição de 1934 também considerou a proteção do meio ambiente
como um direito fundamental, atribuindo à União e aos Estados, a competência
para, de forma concorrente, protegê-lo.
O Código Florestal de 1934 disciplinava as formas de proteção dos
principais ecossistemas florestais, com o objetivo principal de regulamentar a
exploração da madeira no país e também classificou as florestas em 4 tipologias,
a saber: florestas protetoras, florestas remanescentes, florestas de rendimento e
florestas de modelo.
O professor Rodrigo Medeiros ao falar sobre a gênese das primeiras
áreas protegidas no Brasil, nos ensina sobre o que dizia a Constituição de 1934:
Ao tratar a questão da proteção da natureza como responsabilidade da União e dos Estados, mesmo que de maneira resumida e pouco precisa, a Constituição de 1934 outorgava à natureza um novo valor, isto é, ela passava a ser considerada patrimônio nacional admirável a ser preservado. Com isso, sua proteção adquire novo sentido e status, consistindo em tarefa ou dever a ser cumprido e fiscalizado pelo poder público. Proteger a natureza entra na agenda governamental republicana, passando a configurar um objetivo em si da política desenvolvimentista
38
nacional. É neste cenário que os principais dispositivos legais de proteção da natureza, que levaram à criação e consolidação das primeiras áreas protegidas, são criados contemporaneamente no Brasil: o Código Florestal (Decreto 23793/1934), o Código de Águas (Decreto 24643/1934), o Código de Caça e Pesca (Decreto 23672/1934) e o decreto de proteção aos animais (Decreto 24645/1934).
De todos eles, o Código Florestal foi o instrumento mais importante, pois definiu objetivamente as bases para a proteção territorial dos principais ecossistemas florestais e demais formas de vegetação naturais do país. Ele tinha como principais objetivos legitimar a ação dos serviços florestais, em franca implementação em alguns estados brasileiros desde o final do século XIX, além de regularizar a exploração do recurso madeireiro, estabelecendo as bases para sua proteção. Ele foi, também, o primeiro instrumento de proteção brasileiro a definir claramente tipologias de áreas a serem especialmente protegidas. Ele declarava de "interesse comum a todos os habitantes do país" o conjunto das florestas existentes e demais formas de vegetação, classificando-as em quatro tipologias: protetoras, remanescentes, modelo e
de rendimento.58
Durante a ditadura militar, foi aprovada a Lei 4.771 de 15/09/1965,
que instituía o “novo” Código Florestal. Uma das mudanças trazidas por esse
novo diploma era a alteração das quatros tipologias das florestas, substituindo-as,
por: parque nacional, floresta nacional, áreas de preservação permanente
(APP) e reserva legal (RL).
Eis o que diz Rodrigo Medeiros a respeito desse Código:
No ano seguinte ao estabelecimento do novo regime, em 1965, um novo Código Florestal foi apreciado no legislativo, sancionado pela Presidência da República e instituído através da Lei nº 4771 de 15/09/1965. Basicamente, seus objetivos seguiam a mesma linha do seu antecessor. No entanto, ele extinguiu as quatro tipologias de áreas protegidas antes previstas na versão de 34, substituindo-as por quatro outras novas: Parque Nacional e Floresta
58
MEDEIROS. Rodrigo. Evolução das tipologias e categorias de áreas protegidas no Brasil . Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-753x2006000100003&script=sci_arttext#nt> Acessado em:
10 mar 2013.
39
Nacional (anteriormente categorias específicas), as Áreas de Preservação Permanente (APP) e a Reserva Legal (RL). Estas duas últimas, uma tipificação de dispositivos existentes na versão de 34, eram uma clara tentativa de conter os avanços sobre a floresta. A primeira declarando intocável todos os espaços cuja presença da vegetação garante sua integridade (serviços ambientais) e, a segunda, transferindo compulsoriamente para os proprietários rurais a responsabilidade e o ônus da proteção (BRASIL, 1965).
59
Para o presente estudo importa serem mencionadas as áreas de
preservação permanente (APP) previstas no art. 2º da Lei 4771/65, Código
Florestal que foi revogado, a saber:
Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;
2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
59
MEDEIROS. Rodrigo. Evolução das tipologias e categorias de áreas protegidas no Brasil. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-753x2006000100003&script=sci_arttext#nt> Acessado em:
10 mar 2013.
40
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.
60 (grifo
nosso)
O mesmo diploma dispunha que em caso de passivo de área de
preservação permanente o proprietário deveria reestabelecer INTEGRALMENTE
as medidas retro mencionadas, na mesma área, com o reflorestamento ou com a
regeneração.
A Constituição Federal, de 1988, instituiu um capítulo próprio para
tratar do meio ambiente. É o art. 225, que consagra o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, determinando a sua preservação e
restauração dos processos ecológicos essenciais, como também a proteção da
flora e da fauna.
Em maio de 2012, entrou em vigor a Lei. 12.651, originária do
projeto de lei PL 1876/1999, que tinha como ementa “Dispõe sobre Áreas de
Preservação Permanente, Reserva Legal, exploração florestal e dá outras
providências”.61
Para o Procurador Federal Alessandro Amaral Oliveira, a aprovação
do projeto de Lei pela Câmara dos Deputados tinha como objetivo:
...revogar o Código Florestal Federal (CFF – Lei 4771/65 e alterações) e legalizar diversos desmates e explorações florestais realizados ao arrepio das normas
60
BRASIL, República Federativa do. Lei 4771 de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Código Florestal.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771impressao.htm> Acessado em: 20 mar
2013. 61
BRASIL, República Federativa do. Câmara dos Deputados. Projetos de Leis e outras proposições.
Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=17338>
Acessado em: 14 mar 2013.
41
vigentes, reduzindo proteção a vegetações nativas e, por conseguinte, a todo o ecossistema ali em equilíbrio, com forte impacto negativo à proteção
da Floresta Amazônica.62
Entre as disposições da Lei supra, chama atenção aquelas que de
forma clara tratam de dar anistia aos produtores rurais, além de garantir a
manutenção de direitos não mais aplicados. Isso nos parece afrontar a
Constituição Federal, bem como os princípios estudados no capítulo anterior, o
que representaria inconstitucionalidade.
Antes de analisar as inconstitucionalidades e as afrontas aos
princípios ambientais presentes nesse “Novo” Código Florestal, precisamos saber
o que o mesmo dispõe sobre as Áreas de Preservação Permanente.
3.2 – Área de Preservação Permanente (APP) no novo código
3.2.1 – Conceito
Encontramos o conceito no art. 3º, II da Lei 12.651/2012:
Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
63
As áreas de preservação permanente – APP- protegem áreas mais
frágeis ou estratégicas, como aquelas com maior risco de erosão de solo ou que
servem para recarga de aquífero. Não podem ter manejo.
62
OLIVEIRA, Alessandro Amaral. Temas de Direito Ambiental. 1 ed. Minas Gerais: Virtualbooks, 2011,
p.15. 63
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
42
Essas áreas estão relacionadas com o equilíbrio ambiental, pois
quando são preservadas, possibilitam a qualidade e favorecem a quantidade
hídrica necessária, bem como, possibilitam a formação de corredores ecológicos
perfeitos, na medida em que todos os corpos d´água devem ser ladeados por
áreas de preservação permanente.
Para se enquadrar como uma área de preservação permanente não
há necessidade de existir vegetação, pois o enquadramento se dá pela
localização, em razão da função ecológica que o espaço desempenha, podendo
ser paisagística, hídrica etc.
A obrigação de recuperação das APP´s esta prevista no art. 7º,
caput, e §§ 1º e 2º, da lei em estudo:
Art. 7o A vegetação situada em
Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado
§ 1o Tendo ocorrido supressão de vegetação
situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei.
§ 2o A obrigação prevista no § 1
o tem natureza
real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
64
A obrigação de reparar as APP´S degradadas é do proprietário,
possuidor ou ocupante do imóvel a qualquer título, pessoa física ou jurídica de
64
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
43
direito público ou privado, obrigação esta de natureza real, propter rem,
transmissível aos sucessores do imóvel.
Nesse estudo, vamos nos restringir a analisar as alterações
inconstitucionais trazidas pelo novo Código Florestal, relacionadas às APPs que
estão nas áreas rurais consolidadas e as que estão nos cursos d' água que
ofendem os princípios mencionados. Entretanto, destacamos que não só essas
estão eivadas de vícios.
3.2.2 – Da classificação das APP
As APP´s podem ser legais (quando declaradas pela própria lei) ou
podem ser declaradas pelo chefe do poder Executivo.
3.2.2.1 – Das APPs decorrentes da Lei
O art. 4º da Lei 12.651/2012 arrola as APP´s decorrentes de
disposição legal. Estas APP´s são exigíveis, hipoteticamente, a qualquer
propriedade ou posse, não ensejando direito de indenização.
DEON SETTE ensina que:
O proprietário/possuidor deve respeitar as áreas de preservação permanente na forma e limites estabelecidos na lei, sem direito à indenização, constituindo-se tal obrigação em um dos principais requisitos do cumprimento da função social da propriedade.
65
Ao estudarmos as APP decorrentes da Lei, encontraremos dois
subgrupos, um ligado diretamente aos cursos d‟água e, outro, que disciplina as
demais situações.
65
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p.335.
44
a) Área de Preservação Permanente ligada aos cursos d’água
O art. 4º em seu caput diz que “Considera-se Área de Preservação
Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei”.66Os incisos
I,II,III,IV têm relação com corpos de d´água.
O inc.I dispõe que são APP “as faixas marginais de qualquer curso
d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da
calha do leito regular, em largura mínima de”. 67
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d‟água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d‟água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d‟água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d‟água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d‟água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;
68
Verificamos que a mudança que ocorreu em relação ao Código
anterior esta relacionada com o ponto a partir de onde se mede a APP
relativamente aos cursos d‟água.
No Código anterior media-se desde o seu nível mais alto do curso do
d‟água, em faixa marginal, local em que a água do rio alcança em épocas de
cheias. Já no novo Código, mede-se a partir da borda da calha do leito regular,
local em que o rio alcança quando não está nem em período de seca, nem de
cheia.
66
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
67 Idem.
68 Ibidem.
45
A imagem abaixo ilustra a mudança:
Fonte: LEE, Mari. Raízes e Asas. Disponível em: < http://raizasas.blogspot.com.br/2010/08/impactos-
do-novo-codigo-florestal-ii.html> Acessado em: 10 set 2013.
Figura 1 – APP medida no Código 4771/65.
Fonte: LEE, Mari. Raízes e Asas. Disponível em: < http://raizasas.blogspot.com.br/2010/08/impactos-
do-novo-codigo-florestal-ii.html> Acessado em: 10 set 2013.
Figura 2 – APP medida na Lei. 12.651/2012.
A doutrinadora DEON SETTE a respeito dessa alteração diz que:
Significa dizer que, não obstante tenham sido mantidas as medidas previstas na lei anterior, o prejuízo ambiental é evidente em várias regiões, a exemplo o Pantanal Mato grossense em que, em vários cursos d‟água, há enorme diferença entre a borda da calha do leito regular e
46
o nível mais alto do curso d´água em faixa marginal em período de cheia.
69
O inc. II estabelece as APP´s:
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d‟água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;70
O inc. III trata das “áreas no entorno dos reservatórios d’água
artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais,
na faixa definida na licença ambiental do empreendimento”.71
O inc. IV relaciona como APP “as áreas no entorno das nascentes e
dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio
mínimo de 50 (cinquenta) metros”.72
b) Outras áreas de regime especial de proteção de APP
O novo Código estabelece do inciso V ao XI do art. 4º situações que
são consideradas APP rural ou urbana, a saber:
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e
69
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p.336. 70
BRASIL, Republica Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 71
Idem. 72
Ibidem.
47
inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d‟água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.
73
3.2.2.2.- Das APP’s assim declaradas por ato do Poder Executivo (
indenizáveis)
O art. 6º e incisos estabelece a possibilidade de serem instituídas
novas áreas com limitações similares, por ato do Poder Executivo:
Art. 6o Consideram-se, ainda, de
preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
73
BRASIL, Republica Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
48
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.
74
3.2.3 – Das limitações e exceções em que se permite a intervenção e a
supressão de áreas de preservação permanente
Nos termos da Lei 12.651/2012, em seu art. 8º, estabelece que:
Art. 8o A intervenção ou a
supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1o A supressão de vegetação nativa protetora de
nascentes, dunas e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.
§ 2o A intervenção ou a supressão de vegetação
nativa em Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4
o poderá ser autorizada, excepcionalmente, em
locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda.
§ 3o É dispensada a autorização do órgão
ambiental competente para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.
§ 4o Não haverá, em qualquer hipótese, direito à
regularização de futuras intervenções ou
74
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
49
supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.
75
Já o artigo 3º e seus incisos arrolam as situações que se consideram
de utilidade pública, interesse social e atividades de baixo impacto ambiental.
3.2.4 – Da Recomposição das APP’s
Com base no art. 4º a recuperação das APP‟s devem devolver ao
statu quo a área degradada, de modo a deixá-la adequada à Lei.
Nesse sentido, em regra, as medidas que devem ser recuperadas
são aquelas mencionadas no item 3.2.2.1, letra “a” e “b”, retro. Digo em regra,
porque há tratamento diferenciado para aquelas situações de área consolidadas,
que veremos a seguir.
3.2.5 – Das APP’s classificadas como áreas consolidadas
São aquelas áreas com ocupação antrópica preexistente a
22.07.2008, em áreas detidas pelo imóvel na data assinalada, com base no art.
61 – A, § 8º, combinado com o art. 3º, inc. IV, ambos da Lei 12.651/2012.
Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.
(...)
§ 8o Será considerada, para os fins do disposto
no caput e nos §§ 1o a 7
o, a área detida pelo
imóvel rural em 22 de julho de 2008. 76
75
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
76Idem.
50
Art. 3o Para os efeitos desta Lei,
entende-se por:
IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio;
77
O novo Código trouxe profundas inovações nas APP‟s classificadas
como consolidadas. Essas inovações encontram-se nos arts. 61 – A a 65.
Segundo esses artigos podem ser regularizados imóveis rurais e
urbanos sem que seja restaurado o statu quo ante, nos termos do art. 4º da Lei
12.651/2012.
Para uma melhor compreensão estudaremos esses artigos de forma
separada.
3.2.5.1 – APP em áreas rurais consolidadas
Os arts. 61 – A a 61 –C deram as APP‟s um tratamento
completamente inusitado, nas palavras da professora DEON SETTE. E ela
explica:
Além de considerar como atividades consolidadas aquelas, desempenhadas até 22.07.2008, nesses artigos a definição das medidas das APPS é escalonada, não a partir do objeto que as motiva – curso d‟água, lago, lagoa, nascente, vereda etc., mas, sim, pelo tamanho do imóvel. Ou seja, a lei adotou um sistema de escalonamento, incidente sobre parte dos objetos que motivam a existência das APPs relacionados no art. 4º, só que, ao invés de tomar como medida, por exemplo, a largura dos cursos d‟água, tomou como parâmetro do escalonamento o tamanho dos imóveis.
78
77
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 78
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 348.
51
Deste tratamento inusitado, surgiram vários questionamentos, entre
eles, o porquê da escolha dessa data – 22.07.2008 – como marco para considerar
as áreas consolidadas? O que ela tem de tão importante que possa ignorar o que
era antes disciplinado pela Lei 4.771/65?
Além de considerar como atividades consolidadas aquelas, desempenhadas até 22.07.2008, nesses artigos a definição das medidas das APPS é escalonada, não a partir do objeto que as motiva – curso d‟água, lago, lagoa,
Muitos doutrinados se questionam, entre eles a professora DEON
SETTE, especialmente porque, a rigor pode significar a possibilidade de
prescrição de autuações, tendo em vista que entre a data 22.07.2008 e a data
final para inscrever o imóvel no PRA já terá decorrido mais de 5 (cinco) anos.
Outro questionamento diz respeito ao direito adquirido decorrente da
consolidação, o que representa minimização da proteção ambiental, bem como,
uma possível estimulação de novas degradações e, como consequência, um
maior risco de desequilíbrio ambiental.
Nesse sentido, a doutrinadora DEON SETTE questionou o Senador
Pedro Taques sobre a legalidade desses dispositivos, na palestra proferida no
Congresso Internacional de Direito Constitucional, realizado nos dias 26 e 27 de
agosto de 2011, tendo a resposta registrada por e-mail. A seguir eis a pergunta da
doutrinadora:
Boa tarde Senador, tudo bem? Sou a professora MARLI DEON SETTE ( que lhe deu o livro de sua autoria – DIREITO AMBIENTAL no seminário em Cuiabá). Conversamos sobre uma das minhas dúvidas e pediste que eu lhe escrevesse para, então, responder ao questionamento, Segue: Ao ouvir sua fala percebi a preocupação e até um certo anseio pela possibilidade de resolver a questão das áreas consolidadas (mesmo as de APP??). Como professora e até mesmo como doutrinadora, defendo a impossibilidade de suscitar direito adquirido ou ato jurídico perfeito completamente exaurido (seja no aspecto formar ou no material) relativamente à questão ambiental, por várias razões, especialmente por alcançar direitos subjetivos de gerações que sequer estão aqui para se defender. Também afirmo que a questão
52
jurídico constitucional não pode se limitar à analise do art. 225, §§ e incisos, mas, sim, com uma visão global. Assim, obrigatoriamente olharíamos o direito ao exercício econômico, de propriedade, princípios, etc. Por outro lado, também penso que deva se dar uma solução para as questões que “ aparentemente” são irreversíveis. Então a pergunta para a qual não encontro resposta (pelo menos dentro das atuais considerações acerca do novo Código Florestal) é: 1º) premissa: O exemplo trata de áreas iguais, logo a isonomia e a equidade ensejariam tratamentos iguais; 2º) situação: áreas adquiridas em circunstâncias similares, mas que seus detentores as trataram de maneira diversa: um (A) manteve a vegetação e outro (B) a destruiu e consolidou atividade econômica, por exemplo, maça, dentro da legislação vigente à época; 3º) Pergunta: Como consolidar a área de B, que passa a ter muito mais espaço econômico que A e, simultaneamente, respeitar princípios como igualdade, isonomia, equidade e até mesmo, dignidade da pessoa humana? Resposta que me vem à mente: combinar mecanismos flexíveis como RED c.c. licenças negociáveis. No entanto, nunca ouvi tal discussão em nível de Congresso. Aguardo sua resposta para me sentir mais confortável quando em sala de aula.
79
O Senador Pedro Taques assim respondeu:
A íntegra do documento enviado como resposta é a seguinte: “Acusamos o recebimento de sua mensagem eletrônica. De fato, tratando-se de direito coletivo, a garantia ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito é mitigada, mormente porque envolve o confronto do bem coletivo com o direito individual, intimamente ligado ao afamado princípio da supremacia do direito público sobre o privado, contido na própria forma de gestão do Estado direcionada ao bem comum. O questionamento elaborado pela Sra. É, sem dúvida, dependente de analise. De qualquer forma, a proposta de Reforma do Código Florestal em discussão dispõe inúmeras questões que não concordamos e estamos estudando formas de contrapô-las e saná-las. A figura da área rural consolidada, introduzida pela anistia aos crimes ambientais perpetrados até 22 de julho de 2008, neles incluídos o desmatamento aos topos de morro, margens de rios, restingas, manguezais, nascentes, e terrenos íngremes, sem dúvida é uma dessas questões, demandantes de altas indagações e estudos. Note-se que até mesmo as duas principais instituições científicas do país, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
79
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 349.
53
( SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), emitiram notas técnicas advertindo pela inarredável imprescindibilidade de maiores estudos para introduzir uma Reforma no Código Vigente. Estamos cientes que os principais efeitos de qualquer anistia é a estimulação de novas ilegalidades e sensação de injustiça para os seguidores fieis de norma cogente. Além disso, como consequência velada dessa prerrogativa, existe a possibilidade de condenar os rios do Sul e Sudeste do país, que possuem suas margens desmatadas há anos, bem como poderia resultar na ocupação de áreas de risco, como encosta e dunas. Nesse permeio, não podemos esquecer das catástrofes ambientais ocorridas recentemente nos Estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, assolados por deslizamentos de terras e enchentes, fatais para muitas famílias. Em suma, o Senador, juntamente com sua equipe, esta ciente das diversas peculiaridades retrógradas ( constitucionalmente) do Projeto de Reforma em discussão e está lutando para somar forças e sanar o máximo de pontos inconsistentes e temerários encontrados. Por derradeiro, agradecemos o envio das ponderações e no que tange a pergunta feita, como alinhavado alhures, um dos pontos que buscaremos sanar na proposição é exatamente a estipulação das anistias e, per consequentiam, a criação da figura das áreas consolidadas.
80
De fato, ao analisarmos o art. 4º da Lei 12.651/2012, combinado
com o art. 61-A e seu § 1º a 11 e seus incisos, concluímos que o proprietário que
agiu conforme preceitua a lei ficará prejudicado em relação aqueles que agiram
na ilegalidade, pois esses últimos poderão ter o benefício de ficar com uma área
econômica (uso alternativo) maior.
Um outro questionamento dos doutrinadores é a respeito do porque
do tamanho do imóvel como parâmetro para escalonar as medidas das APP‟s?
Que relação existiria entre o tamanho do imóvel e as funções desempenhadas por
uma APP, tais como da preservação da biodiversidade? Enfim, não faz sentido tal
escolha se for levado em conta as funções das áreas de preservação
permanente.
80
DEON SETTE, Marli Teresinha, op., cit., p. 350.
54
a) Breve analise do art. 61-A da Lei 12.651/2012
O artigo assim dispõe: “Nas Áreas de Preservação Permanente, é
autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de
ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de
2008”.81
Do §§1º a 7º, a Lei admite a manutenção de residências e da
infraestrutura associada às atividades agrossilvipastoris, de ecoturismos e de
turismo real. Já o §12 diz que independente das determinações contidas nos
dispositivos mencionados e desde que não estejam em área que ofereça risco à
vida ou a integridade física das pessoas, o acesso a essas atividades será
mantido.
§ 12. Será admitida a manutenção de residências e da infraestrutura associada às atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural, inclusive o acesso a essas atividades, independentemente das determinações contidas no caput e nos §§ 1
o a 7
o, desde que não
estejam em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das pessoas.
82
O § 16 disciplina que as APP‟s localizadas em imóveis inseridos nos
limites de Unidades de Conservação de Proteção Integral criadas pelo poder
público ate a data de 28.05.2012, não são passíveis de ter quaisquer atividades
consideradas como consolidadas nos termos do caput e dos §§ 1o a 15,
ressalvado o que dispuser o Plano de Manejo elaborado e aprovado de acordo
com as orientações emitidas pelo órgão competente do Sisnama, nos termos do
que dispuser regulamento do Chefe do Poder Executivo, devendo o proprietário,
possuidor rural ou ocupante a qualquer título adotar todas as medidas indicadas.
81
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
82Idem.
55
§ 16. As Áreas de Preservação Permanente localizadas em imóveis inseridos nos limites de Unidades de Conservação de Proteção Integral criadas por ato do poder público até a data de publicação desta Lei não são passíveis de ter quaisquer atividades consideradas como consolidadas nos termos do caput e dos §§ 1
o a
15, ressalvado o que dispuser o Plano de Manejo elaborado e aprovado de acordo com as orientações emitidas pelo órgão competente do Sisnama, nos termos do que dispuser regulamento do Chefe do Poder Executivo, devendo o proprietário, possuidor rural ou ocupante a qualquer título adotar todas as medidas indicadas
83
Vale ressaltar que o § 14 diz que em todos os casos previstos no
artigo 61-A, o poder público, verificada a existência de risco de agravamento de
processos erosivos ou de inundações, determinará a adoção de medidas
mitigadoras que garantam a estabilidade das margens e a qualidade da água,
após deliberação do Conselho Estadual de Meio Ambiente ou de órgão colegiado
estadual equivalente.
§ 14.Em todos os casos previstos neste artigo, o poder público, verificada a existência de risco de agravamento de processos erosivos ou de inundações, determinará a adoção de medidas mitigadoras que garantam a estabilidade das margens e a qualidade da água, após deliberação do Conselho Estadual de Meio Ambiente ou de órgão colegiado estadual equivalente
84
O artigo 61-A, em seus § § 1º a 4º definem nas APP‟s as medidas
para os cursos d‟água, que são objeto do nosso estudo. São elas:
§ 1º Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da
83
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 84
Idem.
56
borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.
§ 2º Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.
§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d‟água.
§ 4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais:I - (VETADO); e II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.
85
Assim preceitua o §5º:
§ 5º Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d‟água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros.
86
Os imóveis rurais que possuam APP no entorno de lagos e lagoas
naturais, com base no § 6º, será admitida a manutenção de atividades
85
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 86
Idem.
57
agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a
recomposição de faixa marginal com largura mínima de:
I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal
II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais;
III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e
IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais
87
Já em relação às áreas rurais consolidadas em veredas, o § 7º torna
obrigatória a recomposição das faixas marginais, em projeção horizontal,
delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado, de largura mínima de:“30
(trinta) metros, para imóveis rurais com área de até 4 (quatro) módulos fiscais e
50 (cinquenta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos
fiscais”.88
Quanto as bacias hidrográficas consideradas críticas, conforme
previsto em legislação específica, o Chefe do Poder Executivo poderá, em ato
próprio, estabelecer metas e diretrizes de recuperação ou conservação da
vegetação nativa superiores às definidas no caput e nos §§ 1º a 7º, como projeto
prioritário, ouvidos o Comitê de Bacia Hidrográfica e o Conselho Estadual de Meio
Ambiente, conforme a estabelece o § 17.
§ 17. Em bacias hidrográficas consideradas críticas, conforme previsto em legislação específica, o Chefe do Poder Executivo poderá, em ato próprio, estabelecer metas e diretrizes de recuperação ou conservação da vegetação nativa superiores às definidas
87
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 88
Idem.
58
no caput e nos §§ 1o a 7
o, como projeto prioritário,
ouvidos o Comitê de Bacia Hidrográfica e o Conselho Estadual de Meio Ambiente.
89
Com base na inteligência dos § § 9º e 10º, todas as situações
mencionadas no caput e nos §§ 1º a 7º, devem ser informadas no CAR para fins
de monitoramento, sendo exigida, nesses casos, a adoção de técnicas de
conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos,
impondo-se aos proprietários ou possuidor rural responsável, antes mesmo da
disponibilização do CAR, em intervenções já existentes, o dever de conservação
do solo e da água, por meio de adoção de boas práticas agronômicas.
§ 9o A existência das situações
previstas no caput deverá ser informada no CAR para fins de monitoramento, sendo exigida, nesses casos, a adoção de técnicas de conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos.
§ 10. Antes mesmo da disponibilização do CAR, no caso das intervenções já existentes, é o proprietário ou possuidor rural responsável pela conservação do solo e da água, por meio de adoção de boas práticas agronômicas.
90
Por fim, a recomposição da APP poderá ser feita, isolada ou
conjuntamente, com a regeneração natural de espécies nativas, com o plantio de
espécies nativas, como também, com o plantio de espécies nativas conjugado
com a condução da regeneração natural de espécies nativas e o plantio
intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas
de ocorrência regional, em até 50% (cinquenta por cento) da área total a ser
recomposta, no caso dos imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3º( §
13 do art. 61-A da Lei 12.651/2012).
89
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 90
Idem.
59
§ 13. A recomposição de que trata este artigo poderá ser feita, isolada ou conjuntamente, pelos seguintes métodos:
I - condução de regeneração natural de espécies nativas;
II - plantio de espécies nativas;
III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração natural de espécies nativas;
IV - plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas de ocorrência regional, em até 50% (cinquenta por cento) da área total a ser recomposta, no caso dos imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3
o.91
Diante de todo o exposto, resta evidente que a nova Legislação
autoriza a continuidade das atividades desenvolvidas nas áreas consolidadas,
com base na inteligência do art.61-A, até o término do prazo de adesão no PRA
(28.05.2013).
91
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
60
CAPÍTULO IV
DA INCONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO E DA OFENSA AO
PRINCIPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL
4.1 – BREVE ANÁLISE DE IMAGEM RELACIONADA ÀS APP´s
Antes das nossas conclusões a respeito de eventual
inconstitucionalidade e/ou da ofensa ao principio da proibição do retrocesso
ambiental, nos artigos referentes as áreas de preservação permanente do novo
Código Florestal, vamos analisar a imagem abaixo, onde esta simulada a
existência de um curso d‟água, APP legal e uso de área de APP em data anterior
a 22.07.2008:
Fonte- Thábata Cristine Costa Pereira e Marli Teresinha Deon Sette.
Figura 3 – APP em três áreas rurais consolidadas.
61
a) Análise levando em consideração o “velho” código – Lei. 4771/65
Observamos na figura 3, três áreas rurais, que estão às margens de
um rio, conforme segue:
O rio tem mede 610 metros de largura, medidos desde o seu nível
mais alto, em faixa marginal, local em que a água alcança em épocas de cheias.
Segundo o Código Florestal 4771/65, as APP‟s nas faixas marginais
de qualquer curso d‟água natural e intermitente, devem ser preservadas em
largura mínima de 500 metros, para os cursos d‟água que tenham largura superior
a 600 metros.
Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
(...)
5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros.
92
A primeira área, denominada área 01, representa uma propriedade
rural que preservou 20 metros da APP, logo, esta em desacordo com a lei, pois a
mesma estabelece que deveria ser preservado 500 metros. Devendo o
proprietário repor a APP faltante.
A segunda, área 02, a área de preservação permanente foi
TOTALMENTE PROTEGIDA, logo o seu proprietário esta agindo conforme
preceitua a legislação.
A terceira, área 03, a sua APP está TOTALMENTE DEGRADADA,
logo o proprietário esta agindo na ilegalidade devendo, a rigor, repor a área legal
de APP.
92
BRASIL, República Federativa do. Lei 4771 de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Código Florestal.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771impressao.htm> Acessado em: 20 mar
2013.
62
A imagem abaixo representa o tamanho das áreas de preservação
permanente que os proprietários da área 01 e área 03 deveriam recuperar:
Fonte- Thábata Cristine Costa Pereira e Marli Teresinha Deon Sette
figura 04 – APP recuperada conforme disciplina a Lei 4.771/65.
Concluímos, que toda área degradada, com base no “velho Código
Florestal” deveria ser reconstituída INTEGRALMENTE!
b) Analise levando em consideração o novo Código Florestal,
relativamente às áreas consolidadas
A nova lei disciplina em seu art. 61-a, caput, que:
63
Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.
93
Lembramos que na nossa hipótese as áreas rurais foram
consolidadas antes de 22.07.2008.
Assim, relativamente à figura 3, retro, na atual legislação, as áreas
deveram ser restabelecidas da seguinte forma:
O proprietário da área 02 que sempre respeitou a lei deverá manter
os 500 m de APP.
Já, o proprietário da área 01 que desmatou 480 m de sua área de
preservação permanente, pode manter os 20 m de APP´s restantes, nos termos
do § 4o do art. 61-A.
§ 4o Para os imóveis rurais com
área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais
I - (VETADO); e
II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.
94
O proprietário da área 03 que desmatou tudo e diminuiu sua
propriedade em pequenas áreas, tem a seguinte situação:
93
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 94
Idem.
64
1 – Na parte que ficou com até 1 módulo fiscal, terá que recuperar APENAS 5 M,
com base no § 1o , art. 61 –A:
§ 1o Para os imóveis rurais com
área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso
d´água. 95
2 – Na área que possui entre 1 e 2 módulos ficais, terá que recuperar APENAS 8
M APP,com base no § 2o , art. 61-A.
§ 2o Para os imóveis rurais com
área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.
96
3 – Na área que ficou entre 2 e 4 módulos fiscais, terá que recuperar APENAS 15
M APP, com base no § 3o , art. 61-A.
§ 3o Para os imóveis rurais com
área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d‟água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d‟água.
97
95
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013. 96
Idem. 97
Ibidem.
65
Ou seja, o proprietário da área 02 que sempre agiu conforme
preceituava o antigo Código, com a nova Lei, fica imensamente prejudicado
economicamente e o meio ambiente fica tão ou mais prejudicado.
Ao comparar a área 01 e a área 02, onde ambas possuem área
maior que 4 módulos ficais, percebemos que agora o proprietário da área 01 esta
legal, pois com os 20 m de APP não precisará mais repor os 480 m. Enquanto
isso, o proprietário da área 02, que já estava na legalidade, possui uma área de
500 m de APP preservada, que não poderá reduzir para 20 m, conforme disciplina
o § 11, art. 61 -A, restando, portanto, evidente a falta de isonomia entre as duas
áreas.
Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.
(...)
§ 11. A realização das atividades previstas no caput observará critérios técnicos de conservação do solo e da água indicados no PRA previsto nesta Lei, sendo vedada a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo nesses locais.
98 (grifo
nosso)
Então, fica claro nessa situação hipotética, que os princípios da
ISONOMIA e da PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL estão sendo
seriamente contrariados, bem como os dispositivos constitucionais.
98
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da
vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14
de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em:
06 set 2013.
66
Concluindo, pelo novo Código Florestal, a área deveria ser assim
restabelecida:
Fonte- Thábata Cristine Costa Pereira e Marli Teresinha Deon Sette.
Figura 05 – APP recuperada conforme disciplina a Lei 12.651/12.
Dessa forma, é inegável que a ANISTIA dada aos produtores rurais
que degradaram o meio ambiente, fere direitos fundamentais, princípios
constitucionais e retrocede nos cuidados ambientais.
4.2 – DA ONFENSA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Agora, vamos reanalisar o artigo 225 da Constituição Federal de
1988 e após, essa reanalise, e tudo o que já foi estudado nos capítulos anteriores,
67
vamos, enfim, poder responder a pergunta do doutrinador PRIEUR, registrada no
capitulo II.
Sabemos que a nossa carta magna recepcionou o Código Florestal
de 1965 e o instituto das áreas de preservação permanente, garantindo, dessa
forma, a proteção do direito fundamental do meio ambiente sadio e equilibrado.
Quando analisamos o dever do pode público, encontramos além do
dever geral de não degradação ambiental, há também os deveres fundamentais
específicos, constantes nos § § do art. 225 da Constituição Federal/88.
O parágrafo 3º determina que as condutas consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitem os infratores às sanções penais, civis e administrativas.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
99
Há ainda aqueles deveres inerentes à obrigação da propriedade de
cumprir a função social, onde se inclui a obrigação de respeitar as questões
ambientais (art. 5º, incisos XX,XI combinados com os art. 182 e 186 da CF/88).
O “velho” Código Florestal tinha disciplinado um padrão de
preservação nos espaços especialmente protegidos, como no caso das áreas de
preservação permanente, e estabelecido, para o caso de violação a esse padrão,
infrações penais, civis e administrativas.
O “novo” Código Florestal ao diminuir o nível de preservação nesses
espaços territoriais e ao anistiar infrações passadas decorrentes da violação
dessa preservação, REPRESENTA uma fraude à Constituição, atacando, no
plano da eficácia, o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
99
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista dos Tribunais. 8 ed. São
Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira).
68
A Academia Brasileira de Ciência (ABC) e da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência ( SBPC) realizaram um estudo sobre o impacto
ambiental que representa esse Novo Código Florestal, principalmente em relação
as áreas de preservação permanente. Segue excerto do citado:
Entre os pesquisadores, há consenso de que as áreas marginais a corpos d‟água –-sejam elas várzeas ou florestas ripárias – e os topos de morro ocupados por campos de altitude ou rupestres são áreas insubstituíveis em razão da biodiversidade e de seu alto grau de especialização e endemismo, além dos serviços ecossistêmicos essenciais que desempenham, tais como a regularização hidrológica, a estabilização de encostas, a manutenção da população de polinizadores e de ictiofauna, o controle natural de pragas, das doenças e das espécies exóticas invasoras. Na zona ripária, além do abrigo da biodiversidade com seu provimento de serviços ambientais, os solos úmidos e sua vegetação nas zonas de influência de rios e lagos são ecossistemas de reconhecida importância na atenuação de cheias e vazantes, na redução da erosão superficial, no condicionamento da qualidade da água e na manutenção de canais pela proteção de margens e redução do assoreamento. Existe amplo consenso científico de que são ecossistemas que, para sua estabilidade e funcionalidade, precisam ser conservados ou restaurados, se historicamente degradados. Quando ecossistemas naturais maduros ladeiam os corpos d'água e cobrem os terrenos com solos hidromórficos associados, o carbono e os sedimentos são fixados, a água em excesso é contida, a energia erosiva de correntezas é dissipada e os fluxos de nutrientes nas águas de percolação passam por filtragem química e por processamento microbiológico, o que reduz sua turbidez e aumenta sua pureza.
(...)
Uma possível alteração na definição da APP ripária, do nível mais alto do curso d‟água, conforme determina o Código Florestal vigente, para a borda do leito menor, como é proposto no substitutivo, representaria grande perda de proteção para áreas sensíveis. Essa alteração proposta no bordo de referência significa perda de até 60% de proteção para essas áreas. Já a redução da faixa ripária de 30 para 15 m nos rios com até 5 m de largura, que compõem mais de 50% da rede de drenagem em extensão, resultaria numa redução de 31% na área protegida pelas APPs ripárias. Estudo recente encontrou que as APPs ripárias representam somente 6,9% das
69
áreas privadas, de acordo com o Código vigente.
100
Ao analisarmos a jurisprudência recente, encontramos no voto do
Recurso Especial nº 1.240.122 - PR (2011/0046149-6), Ministro Relator Antônio
Herman Benjamin, o seguinte entendimento:
O esquema é bem simples: o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da “incumbência” do Estado de garantir a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I). No mais, não ocorre impedimento à retroação e alcançamento de fatos pretéritos.
(…)
A regra geral, pois, é a irretroatividade da lei nova (lex non habet oculos retro); a retroatividade plasma exceção, blindados, no Direito brasileiro, o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Mesmo fora desses três domínios de intocabilidade, a retroatividade será sempre exceção, daí requerendo-se manifestação expressa do legislador, que deve, ademais, fundar-se em extraordinárias razões de ordem pública, nunca para atender interesses patrimoniais egoísticos dos particulares em prejuízo da coletividade e das gerações futuras. Precisamente por conta dessa excepcionalidade, interpreta-se estrita ou restritivamente; na dúvida, a opção do juiz deve ser pela irretroatividade, mormente quando a ordem pública e o interesse da sociedade se acham mais bem resguardados pelo regime jurídico pretérito, em oposição ao interesse econômico do indivíduo privado mais bem assegurado ou ampliado pela legislação posterior. Eis a razão para a presunção relativa em favor da irretroatividade, o que conduz a não se acolherem efeitos retro-operantes tácitos, embora dispensadas fórmulas sacramentais.
101
100
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIA; SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA
CIÊNCIA. O Código Florestal e a Ciência – Contribuições para o diálogo. Disponível em:
<http://www.sbpcnet.org.br/site/publicacoes/outras-publicacoes/codigo_florestal_e_a_ciencia.pdf> Acessado
em: 20 set 2013. 101
BRASIL, República Federativa do. Recurso Especial 1.240.122. Relator: Ministro HERMAN
BENJAMIN. DJ 19/12/2012. STJ – Paraná. Disponível em: <http://s.conjur.com.br/dl/stj-mantem-multas-
aplicadas-antes.pdf > Acessado em: 21 set 2013.
70
. Vê-se, as inconstitucionalidades dessa Lei, decorrem da afronta,
consubstanciada em diversos artigos legais referentes ás APP‟s, ao regime
constitucional desses espaços e aos deveres fundamentais que essa área exige
do poder público, a saber: o dever de proteger, preservar e restaurar os processos
ecológicos; a integridade do patrimônio genético; proteção da flora e de fauna.
Em outras palavras, a violação à Constituição decorre da alteração
do sistema legal anterior, que havia estabelecido um determinado padrão de
proteção ambiental associado às áreas de preservação permanente.
Confirmando a inconstitucionalidade desses dispositivos, a
Procuradoria Geral da República ajuizou três ADIs – Ação Direta de
Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, questionando os dois objetos
desse estudo : área de preservação permanente e a anistia aos infratores
ambientais. O outro ponto questionado foi sobre a reserva legal, que não é objeto
do nosso estudo, sendo que a citamos apenas para evidenciar a existência de
outras inconstitucionalidades, além daquelas aqui estudadas:
A Procuradoria-Geral da República (PGR) ajuizou três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 4901, 4902 e 4903) com pedidos de liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) nas quais questiona dispositivos do novo Código Florestal brasileiro (Lei 12.651/12) relacionados às áreas de preservação permanente, à redução da reserva legal e também à anistia para quem promove degradação ambiental. Nas ações, a PGR pede que seja suspensa a eficácia dos dispositivos questionados até o julgamento do mérito da questão. Também foi pedida a adoção do chamado “rito abreviado”, o que permite o julgamento das liminares diretamente pelo Plenário do STF em razão da relevância da matéria.
ADI 4901
Na primeira ADI (4901), que terá a relatoria do ministro Luiz Fux, a procuradora-geral da República em exercício, Sandra Cureau, questiona, entre outros dispositivos, o artigo 12 (parágrafos 4º, 5º, 6º, 7º e 8º), que trata da redução da reserva legal (em virtude da existência de terras indígenas e unidades de conservação no
71
território municipal) e da dispensa de constituição de reserva legal por empreendimentos de abastecimento público de água, tratamento de esgoto, exploração de energia elétrica e implantação ou ampliação de ferrovias e rodovias.
A PGR aponta os prejuízos ambientais decorrentes das modificações legislativas e argumenta que o novo Código “fragiliza o regime de proteção das áreas de preservação permanente e das reservas legais”, que podem ser extintas de acordo com a nova legislação. Outros pontos questionados pela PGR na primeira ADI são os que preveem a compensação da reserva legal sem que haja identidade ecológica entre as áreas e a permissão do plantio de espécies exóticas para recomposição da reserva legal. O novo Código ainda permite a consolidação das áreas que foram desmatadas antes das modificações dos percentuais de reserva legal, item que também é questionado.
ADI 4902
Distribuída à ministra Rosa Weber, a ADI 4902 questiona temas relacionados à recuperação de áreas desmatadas, como a anistia de multas e outras medidas que desestimulariam a recomposição da vegetação original. O primeiro tópico questionado, o parágrafo 3º do artigo 7º, permitiria novos desmatamentos sem a recuperação daqueles já realizados irregularmente. O artigo 17, por sua vez, de acordo com a ADI, isentaria os agricultores da obrigação de suspender as atividades em áreas onde ocorreu desmatamento irregular antes de 22 de julho de 2008.
Dispositivos inseridos no artigo 59, sustenta a ação, “inserem uma absurda suspensão das atividades fiscalizatórias do Estado, bem como das medidas legais e administrativas de que o poder público dispõe para exigir dos particulares o cumprimento do dever de preservar o meio ambiente e recuperar os danos causados”. Nos artigos 61 e 63 estaria presente a possibilidade de consolidação de danos ambientais decorrentes de infrações anteriores a 22 de julho de 2008. Os trechos impugnados, alega a PGR, “chegam ao absurdo de admitir o plantio de até 50% de espécies exóticas em áreas de preservação permanente”.
ADI 4903
Na ADI 4903, a PGR questiona a redução da área de reserva legal prevista pela nova lei. Com base no artigo 225 da Constituição Federal, a procuradora-geral Sandra Cureau pede que sejam declarados inconstitucionais os seguintes dispositivos da Lei nº 12.651/12: artigo 3º, incisos VIII, alínea “b”, IX, XVII, XIX e parágrafo único; artigo 4º, III, IV, parágrafos 1º, 4º, 5º, 6º; artigos 5º, 8º, parágrafo 2º; artigos 11 e 62.
72
Entre os pedidos da ação, a PGR ressalta que, quanto às áreas de preservação permanente dos reservatórios artificiais, deverão ser observados os padrões mínimos de proteção estabelecidos pelo órgão federal competente [Conselho Nacional de Meio Ambiente]. O ministro Gilmar Mendes é o relator desta ADI.
102
Portanto, é inegável que o novo Código Florestal, ao fragilizar o
regime de proteção das áreas de preservação permanente e em, alguns casos,
extingui-las, VIOLOU INTEGRALMENTE a nossa CARTA MAGNA. Ademais, não
é plausível admitir que o legislador infraconstitucional exclua a responsabilização
daquele que cometeu/comete crime ambiental.
Nossa argumentação ainda é fundada na teoria do princípio da
vedação ao legislador de legislar de modo retrocessivo. A teoria esta
implicitamente contida na CF/88. Vamos analisar este princípio no tópico abaixo.
4.3 – Da Ofensa ao Princípio da Proibição do Retrocesso Ambiental
Além de ser inconstitucional, a diminuição direta e explicita dos
padrões de proteção ambiental, pela absurda redução das faixas de preservação
permanente, ou até mesmo pela extinção, afronta o Princípio da Proibição do
Retrocesso Constitucional, Ambiental e Ecológico.
Entre os diplomas de franca contrariedade ao Princípio da Proibição
do Retrocesso Ambiental, esta a consolidação de danos ambientais praticados até
22 de julho de 2008 em APP´s, o que representa um retrocesso nas leis protetivas
anteriores, entre elas o “velho” código ( Lei. 4471/65).
A nova lei, ao definir a “área rural consolidada” tem como objetivo de
ISENTAR / ANISTIAR os causadores de danos ambientais da obrigação de
reparar o dano, sem exigir qualquer circunstância razoável para a dispensa desta
reparação.
102
BRASIL, República Federativa do. Supremo Tribunal Federal. Notícias STF. Disponível em <
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=228842> Acessado em: 10 set 2013.
73
Além da “consolidação” retromencionada, também se verifica o
retrocesso quando se analisa o ponto em que se adota para fazer as medidas das
APP´s nos corpos d‟ água. Com efeito, no “velho” código media-se desde o seu
nível mais alto do curso d‟ água, em faixa marginal (aquele local que a água do rio
alcança em épocas de cheia), no Novo Código Florestal, mede-se a partir da
borda da calha do leito regular (aquele local em que a água do rio alcança quando
não está nem em período de seca, nem de cheia).
O entendimento de Sarlet e Fensterseifer, da robustez à nossa
conclusão de que o Novo Código Florestal ofende o Princípio da Proibição do
Retrocesso Ambiental:
No caso especialmente da legislação ambiental que busca dar operatividade ao dever constitucional de proteção do ambiente, há que assegurar a sua blindagem contra retrocessos que a tornem menos rigorosa ou flexível, admitindo práticas poluidoras hoje proibidas, assim como buscar sempre um nível mais rigoroso de proteção, considerando especialmente o déficit legado pelo nosso passado e um “ajuste de contas” com o futuro, no sentido de manter um equilíbrio ambiental também para as futuras gerações. O que não se admite, até por um critério de justiça entre gerações humanas, é que sobre as gerações futuras recaia integralmente o ônus do descaso ecológico perpetrado pelas das gerações presentes e passadas. Quanto a esse ponto, verifica-se que a noção da limitação dos recursos naturais também contribui para a elucidação da questão, uma vez que boa parte dos recursos naturais não é renovável, e, portanto, tem a sua utilização limitada e sujeita ao esgotamento.
Assim, torna-se imperativo o uso racional, equilibrado e equânime dos recursos naturais, no intuito de não agravar de forma negativa a qualidade de vida e o equilíbrio dos ecossistemas, comprometendo a vida das futuras gerações.
5. Assumindo como correta a tese de que a proibição de retrocesso não pode impedir qualquer tipo de restrição a direitos socioambientais, parte-se aqui da mesma diretriz que, de há muito, tem sido adotada no plano da doutrina especializada, notadamente a noção de que sobre qualquer medida que venha a provocar alguma diminuição nos
74
níveis de proteção (efetividade) dos direitos socioambientais recai a suspeição de sua ilegitimidade jurídico-constitucional, portanto – na gramática do Estado Constitucional -, de sua inconstitucionalidade, acionando assim um dever de submeter tais medidas a um rigoroso controle de constitucionalidade, onde assumem importância os critérios da proporcionalidade (na sua dupla dimensão anteriormente referida), da razoabilidade e do núcleo essencial (com destaque para o conteúdo – não necessariamente coincidente – “existencial”) dos direitos socioambientais, sem prejuízo de outros critérios.
103(grifo nosso)
103
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Projeto que Altera o Código Florestal Apresenta
Vícios de Inconstitucionalidade. 2011. Disponível em: <http://www.observatorioeco.com.br/projeto-que-
altera-o-codigo-florestal-apresenta-vicios-de-inconstitucionalidade/> Acessado: 18 out 2013.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inegável que para sobrevivência do homem é necessário a
preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, mas,
paradoxalmente estamos diante da mais absurda forma de degradação, com a
aprovação a Lei 12.651/2012- novo Código Florestal, que retrocede as legislações
anteriores e que contraria a maior de todas as Leis – a nossa Constituição
Federal de 1988.
Esse novo Código Florestal ao disciplinar sobre as áreas de
preservação permanente – APP´s, adotou um tratamento INUSITADO, e ainda
pior, um tratamento que esta na contramão da história de preservação das APP´s,
que nada se espelhou no que foi estabelecido no Código de 1934, na Conferência
de Estocolmo – Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, no Código de 1965
e na nossa Carta Magna – CF/88.
A Lei 12.651/2012 alterou o ponto a partir de onde se mede a APP
relativamente aos cursos d'água. A nova medida é a partir da borda da calha do
leito regular, local em que o rio alcança quando não está nem em período de
seca, nem de cheia. Esse novo ponto é um retrocesso de todas as medidas
protetivas anteriores, entre elas, a do Código Florestal de 1965, que media desde
o seu nível mais alto do curso d'água, local em que a água do rio alcança em
épocas de cheias.
Essa mudança acarreta um perdimento imensurável das próprias
funções ecossistêmicas das APP´s, bem como, a exposição das pessoas a
situações de risco, devido aos prováveis desmoronamentos, enchentes e
alagamentos.
76
Outra medida adotada por essa Lei, foi o de considerar como
atividades rurais consolidadas, aquelas desempenhadas até 22.07.2008, sendo
que nada trouxe para explicar a referida escolha.
Nesses imóveis, as medidas das áreas de preservação permanente
passaram a ser escalonadas, não a partir dos cursos d'água, mas sim, levando
em consideração o tamanho do imóvel rural.
Como consequência da mudança retro mencionada, os imóveis
rurais que haviam sido fracionados até 4 módulos fiscais, só precisarão recuperar
parte ínfima das APP´s, especialmente quando consideramos exemplos como o
demonstrado neste trabalho, em que existia um curso d'água com largura
superior a 600 metros.
Entretanto, o mais grave relaciona-se com os imóveis consolidados
com mais de 4 módulos fiscais, tendo em vista, que o proprietário só precisará
recuperar parte irrisória das APP´s. No exemplo deste estudo, apenas 20 metros
de APP, enquanto aquele que agiu dentro do que disciplinava a legislação
ambiental, terá que manter os 500 metros de APP. Não resta dúvida, que isso
afronta violentamente princípios fundamentais, como o da ISONOMIA.
Essa redução, em verdade, configura um direito adquirido que nasce
de um ilícito praticado na lei anterior. Isso inquestionavelmente minimiza a
proteção ambiental, bem como, estimula novas degradações, acarretando um
maior risco de desequilíbrio ambiental no futuro.
Todas essas mudanças ferem o princípio da PROIBIÇÃO DO
RETROCESSO CONSTITUCIONAL/AMBIENTAL/ECOLOGICO e a
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Sendo, portanto, medidas eivadas de
nulidade, inconstitucionais e retrocessivas.
77
REFERÊNCIAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIA; SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O
PROGRESSO DA CIÊNCIA. O Código Florestal e a Ciência – Contribuições
para o dilógo. Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/site/publicacoes/outras-
publicacoes/codigo_florestal_e_a_ciencia.pdf> Acessado em: 20 set 2013.
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, 2010, p.05.
AYALA, Patryck de Araujo. Colóquio sobre o princípio da proibição de
retrocesso ambiental. Disponível em: <
http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 20 mar 2013.
BENJAMIN, Antonio Herman. Colóquio sobre o princípio da proibição de
retrocesso ambiental. Disponível em: <
http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 22 mar 2013.
BRASIL, República Federativa do. Câmara dos Deputados. Projetos de Leis e
outras proposições. Disponível em: <
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=17338> Acessado
em: 14 mar 2013.
BRASIL, República Federativa do. Constituição Federal. Vade Mecum Revista
dos Tribunais. 8 ed. São Paulo: Editora RT, 2013, (Legislação Brasileira).
BRASIL, República Federativa do. Lei 4771 de 15 de setembro de 1965. Institui o
novo Código Florestal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771impressao.htm> Acessado em: 20 mar 2013.
78
BRASIL, República Federativa do. Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm > Acessado em: 06 set 2013.
BRASIL, República Federativa do. Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe
sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de
agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e
7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651.htm> Acessado em: 06
set 2013.
BRASIL, República Federativa do. Recurso Especial 1.240.122. Relator: Ministro
HERMAN BENJAMIN. DJ 19/12/2012. STJ – Paraná. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/stj-mantem-multas-aplicadas-antes.pdf > Acessado em:
21 set 2013.
BRASIL, República Federativa do. Recurso Especial 302.906. Relator: Ministro
HERMAN BENJAMIN. DJ 26/08/2010. STJ – São Paulo. Disponível em: <
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19133048/recurso-especial-resp-302906-sp-2001-
0014094-7/inteiro-teor-19133049 > Acessado em: 21 set 2013.
BRASIL, República Federativa do. Resolução Conoma nº 306, de 5 de julho de
2002.. Disponível em: < .http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=306 >
Acessado em: 06 set 2013.
BRASIL, República Federativa do. Supremo Tribunal Federal. Notícias STF.
Disponível em < http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=228842>
Acessado em : 10 set 2013.
COMITE BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL; COMISSÃO DE ESTUDO DE
GESTÃO AMBIENTAL. ISO 14001:2004: Sistemas da gestão ambiental –
79
Requisitos com orientações para uso. Disponível em: <
http://www.labogef.iesa.ufg.br/labogef/arquivos/downloads/nbr-iso-14001-2004_70357.pdf >
Acessado em: 05 set 2013.
DEON SETTE, Marli Teresinha. Manual de Direito Ambiental. 2 ed. Curitiba:
Juruá Editora, 2013, p. 36.
DEON SETTE, Marli T.; NOGUEIRA, Jorge M. A Política Nacional de Resíduos
Solidos: leituras jurídicas e econômica para a avaliação inicial. Disponível
em:<http://e-
groups.unb.br/face/eco/jmn/publicacoes/2010/4PoliticaNacionalResiduosSolidos.pdf> Acessado
em: 14 out 2013.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012, p.70.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e
patrimônio genético no direito ambiental brasileiro. São Paulo: Max Limonad,
1999, p.31.
GONÇALVES, Antonio Gabriel C. Definição de meio ambiente e ecologia.
Disponível em: < http://diariodoverde.com/definicao-de-meio-ambiente-e-ecologia/ >
Acessado em: 05 set 2013.
LAKATOS, E.M. Metodologia do Trabalho Cientifico. 5 ed. São Paulo: Atlas;
2001, p.72.
MACHADO, Paulo Affonso L. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros
Editores, 2006, p. 59
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 3 ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p.875.
MEDEIROS. Rodrigo. Evolução das tipologias e categorias de áreas
80
protegidas no Brasil. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-
753x2006000100003&script=sci_arttext#nt> Acessado em: 10 mares 2013.
MOLINARO, Carlos Alberto. Colóquio sobre o princípio da proibição de
retrocesso ambiental. Disponível em:
<http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 17 mar 2013.
OLIVEIRA, Alessandro Amaral. Temas de Direito Ambiental. 1 ed. Minas Gerais:
Virtualbooks, 2011, p.15.
PRIBERAM. Dicionário on line. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/retrocesso> Acessado em 23 set 2013.
PRIEUR, Michel. Colóquio sobre o princípio da proibição de retrocesso
ambiental. Disponível em: <
http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 20 mar 2013.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 15 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1993, p.
701-2.
RIBEIRO, Mauricio Andrés. O Principio Protetor Recebedor. Disponível
em:<http://portaldomeioambiente.org.br/blogs/mauricio-andres-ribeiro/676-o-principio-protetor-
recebedor> Acessado em: 14 out 2013.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito ambiental: Parte Geral. 2
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 203.
ROLLEMBERG, Rodrigo. Colóquio sobre o princípio da proibição de
retrocesso ambiental. Disponível em:
<http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 17 mar 2013.
81
ROTHENBURG, Walter. Colóquio sobre o princípio da proibição de
retrocesso ambiental. Disponível em: <
http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/242559/1/000940398.pdf> Acessado
em: 21 mar 2013.
SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Projeto que Altera o Código
Florestal Apresenta Vícios de Inconstitucionalidade. 2011. Disponível em:
<http://www.observatorioeco.com.br/projeto-que-altera-o-codigo-florestal-apresenta-vicios-de-
inconstitucionalidade/> Acessado: 18 out 2013.
SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e. Direito ambiental internacional: meio
ambiente, desenvolvimento sustentável e os desafios da nova ordem
mundial. Rio de Janeiro: Thex, 1995, p.30.