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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASINSTITUTO DE ARTES E DESIGNCURSO DE BACHAREL EM DESIGN GRÁFICO

Trabalho de Conclusão de Curso

Thaís Cristina Martino Sehn

Pelotas, 2009.

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texto branco Thaís Cristina Martino Sehn

Trabalho acadêmico apresentado ao Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfi co

Orientador: Daniel Acosta

Pelotas, 2009.

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Banca examinadora:Maria de Lourdes Valente Reyes

Mônica Lima de Faria

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Agradeço a todos os amigos que dispuseram de seu tempo trocando ideias sobre esta pesquisa ou me distrain-do quando precisava relaxar. Agradeço, principalmen-te àqueles que me socorreram, mesmo sem obrigação, sempre que foram solicitados: à Mônica Faria, à Maria de Lourdes Reyes, à Nativu design, ao Rômulo Nascimento e ao Guilherme Rosa.

Meu “muito obrigada” vai também àqueles que aju-daram a enriquecer este trabalho: aos designers Odyr Bernardi, Mariana Newlands e a Gráfi ca da UFPel.

Igualmente quero agradecer ao meu orientador, Daniel Acosta, que me encontrou por acaso (desesperada sem orientador) e me “salvou” naquela manhã de sexta-feira. Em nossas conversas ele sempre injetava uma dose de empolgação e incentivo, acreditando no meu potencial e me impulsionando a fazer um trabalho melhor.

Não poderia faltar aqui um agradecimento especial ao meu pai, que entendeu quando não pude acompanhá-lo e me aguentou falando sobre todos os livros que eu lia para a monografi a. 2009 foi um ano de jantares e chur-rascos com tempero “Cult” e recheados de conselhos sobre a vida e, também, sobre não enlouquecer durante a monografi a.

E, como gosto de deixar o melhor para o fi nal, termino meus agradecimentos, dizendo “meu muito obrigada”para minha mãe, que além de fazer todas as coisas que as mães normais fazem ─ te amar, te mimar e te fazer feliz ─ pode-se dizer que foi minha segunda orientadora, perdendo horas e mais horas de sono, lendo e relendo o que eu escrevia, questionando, arrumando e aconselhando para o traba-lho fi car cada vez mais perfeito. Não sei se a monografi a atingiu a perfeição, mas minha mãe sim. Não só neste tra-balho, mas em toda minha vida.

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“Depende”Richard Hendel

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RESUMO

Este trabalho visa analisar a relação das pessoas com o livro, o que as leva a escolhê-los e, uma vez efetuada a seleção, como estas se comportam em relação aos mesmos, como acontece essa inte-ração leitor/obra, como dialogam e se relacionam entre si. Estuda, também, a visão do designer na confecção da obra literária, pois é este quem dá forma ao objeto que chegará às prateleiras das livrarias, elaborando as capas dos livros e seus miolos. Além disso, faz-se um percurso histórico do livro, analisando-se a sua posição dentro do contexto de cada época, desde sua invenção até chegar ao cenário contemporâneo.

Palavras-Chaves: design; editorial; livro; história; leitor.

RESUMEN

Este trabajo visa hacer un análisis de la relación que las perso-nas mantienen con el libro, lo que las lleva a elegirlos y, una vez efectuada la selección, cómo éstas se comportan en relación a los mismos, cómo ocurre esa interacción lector/obra, cómo hablan entre si y se relacionan. Estudia, también, la visión del diseñador gráfi co en la confección de la obra literaria, pues es éste quien da forma al objeto que llegará a las librerías, elaborando las capas de los libros y su parte interior. Además de eso, se hace una caminata histórica acerca del libro, analizándose su posición dentro del con-texto de cada época, desde su invención hasta llegar al escenario contemporáneo.

Palabras-Llaves: diseñador; editorial; libro; historia; lector.

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Figura 1 - Tábua de argila com escrita cuneiforme. p. 27Figura 2 - Iluminura gótica com a letra D. p. 33Figura 3 - Igreja Cologne, Alemanha, 1248. p. 33Figura 4 - Detalhe da capa de um Livro da Horas. p. 35Figura 5 - Logotipo da editora de Aldus Manutis, 1450-1515. p. 40Figura 6 - Livros da Penguin, 1930. p. 46Figura 7 - Capa projetada por Eugênio Hirsch p. 46Figura 8- Capa projetada por Bea Feitler p. 46Figura 9 - Capa projetada por Gian Calvi p. 47Figura 10 - Capas projetada por Clóvis Graciano. p. 47Figura 11 - Capas projetada por Jayme Cortez p. 47Figura 12 - Capa projetada por Vicente Di grado p. 47Figura 13 - Projeto Gráfi co de Moysés Baumstein p. 47Figura 14 - Capas projetada por Moema Cavalcanti p. 50Figura 15 - Livro sobre Helio de Almeida p. 50Figura 16 - Capas projetada por Ettore Bottini p. 50Figura 17 - Capas projetada por João Baptista Aguiar p. 50Figura 18 - Capas projetada por Victor Burton p. 50Figura 19 - Elementos físicos do livro p. 55Figura 20 - Elementos físicos do livro p. 56Figura 21 - Elementos físicos do livro p. 57Figura 22 - Elementos físicos do livro p. 58Figura 23 - Tipos de encadernação p. 59Figura 24 - Capa projetada por Chip Kidd p. 62Figura 25 - Capa projetada por João Baptista Aguiar p. 62Figura 26 - Elementos textuais do livro p. 66

Figura 27 - Elementos textuais do livro p. 67Figura 28 - Livros antigos e caveira p. 83Figura 29 - Projeto gráfi co de livro feito por Odyr Bernardi p. 88Figura 30 - Capa de livro feito por Odyr Bernardi p. 88Figura 31 - Projeto gráfi co de livro feito por Odyr Bernardi p. 88Figura 32 - Capa projetada por Mariana Newlands p. 91Figura 33 - Capa projetada por Mariana Newlands p. 91Figura 34 - Capa projetada por Mariana Newlands p. 91Figura 35 - Capa projetada por Mariana Newlands p. 91Figura 36 - Menina escolhendo um livro p. 98Figura 37 - Como nós lemos p. 99Figura 38 - Pessoa abraçada em livros p. 104Figura 39 - Pessoas escolhendo um livro p. 116Figura 40 - Ilustração sobre a entrevista com leitores p. 119Figura 41 - Capa 1 p. 131Figura 42 - Capa 2 p. 133Figura 43 - Capa 3 p. 135Figura 44 - Capa 4 p. 138Figura 45 - Capa 5 p. 140Figura 46 - Capa 6 p. 143Figura 47 - As 6 capas p. 144Figura 48 - Fotografi as para o trabalho prático p. 149Figura 49 - Proposta 1 para o trabalho prático p. 150Figura 50 - Proposta 2 para o trabalho prático p. 151Figura 51 - Pessoa lendo o livro pronto p. 153Figura 52 - Livro de André Breton p. 177

LISTA DE FIGURAS

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Introdução p. 19

1 O Livro e sua Metamorfose p. 251.1 O começo de tudo p. 261.2 Os tipos móveis p. 351.3 O sobe e desce da intelectualização dos livros p. 371.4 O Brasil como produtor de livros p. 401.5 A capa vistosa p. 44

2 O Livro como Projeto p. 532.1 O livro p. 542.2 A capa p. 552.3 O miolo p. 642.4 Separando as peças do quebra-cabeça p. 702.5 A relação da capa com o miolo p. 792.6 A eternidade do livro p. 832.7 Designers capistas p. 89

3 O Livro como Objeto p. 953.1 Plantando a sementinha p. 973.2 O porquê da leitura p. 993.3 O leitor possessivo p. 1033.4 Comportamentos que o livro impõe p. 1083.5 A maneira de perceber as coisas p. 1103.6 O que as pessoas pensam na hora de escolher um livro p. 116

4 Seis Visões da mesma história p. 1234.1 Capa 1 p. 1294.2 Capa 2 p. 1324.3 Capa 3 p. 1344.4 Capa 4 p. 1374.5 Capa 5 p. 1394.6 Capa 6 p. 1414.7 As 6 capas p. 144

5 Trabalho Prático p. 147

Conclusão p. 155

Referências p. 1161

Anexos p. 165Anexo A - Entrevista com o designer

Odyr Bernardi p. 167Anexo B - Entrevista com a designer

Mariana Newlands p. 181Anexo C - Entrevista com leitores na

37ª Feira do Livro de Pelotas p. 189

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO

Na presente pesquisa busca-se estudar o livro como objeto,

analisar os elementos que o compõe e como dialogam entre

si. Também pretende-se perceber a relação do livro com as

pessoas sob dois aspectos: pela visão do designer e do público

leitor; o primeiro, por ser quem realiza o projeto e, o segundo,

por estar na outra ponta do processo, recebendo o que foi

feito anteriormente. O foco principal da pesquisa é compre-

ender como se dá o relacionamento do livro com os leitores

e a infl uência do design gráfi co nessa relação.Para melhorar

a compreensão, dividiu-se este trabalho em capítulos, onde

cada um deles aborda uma visão sobre o livro.

Para dar início à pesquisa, optou-se por fazer uma revisão

histórica, pois é importante saber o que já foi feito para que

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se possa inovar. Além disso, para que se possa compreender

o presente é necessário entender o passado. O primeiro ca-

pítulo - O livro e sua metamorfose discorre sobre sua história

desde o início da escrita, as transformações que o seu suporte

ocasionou, e ainda aborda as diferentes funções e usos que

este teve ao longo dos anos. Após mencionar os acontecimen-

tos europeus, entra-se no cenário nacional contando-se seus

dois séculos de história, chegando ao mundo atual.

O livro como projeto trata o assunto pela visão do de-

signer. Primeiramente são comentados os elementos do livro,

facilitando futuras interpretações ao longo da leitura; poste-

riormente, são apresentadas algumas considerações de desig-

ners a respeito do projeto, discutindo-se, também, a possível

relação da capa do livro com seu miolo, fazendo do livro um

objeto único. Para a obtenção dessas informações foi consul-

tado o livro O Design do Livro, de Richard Hendel (2003), no

qual o autor entrevista diversos designers que projetam o in-

terior do livro. Para suprir os comentários a respeito da capa,

a qual não foi objeto de estudo nos livros consultados, foram

entrevistados alguns designers que trabalham nessa área.

O livro como objeto traz a relação da pessoa com o livro

pronto, culminando neste como um objeto de desejo. Neste

capítulo, fala-se a respeito de como se dá essa interação e o

que interfere nela, desde a sedução pela capa, o interesse ou

desinteresse despertado pelo miolo até a leitura do mesmo,

buscando o livro bem-feito, bem escrito, bem projetado, bem

produzido que acaba tornando-se um objeto de desejo, que

pode impulsionar o leitor a consumi-lo o quanto antes.

Além de buscar explanações sobre o assunto em biblio-

grafi as, foi realizada uma série de entrevistas com leitores,

durante a Feira do Livro de Pelotas. Elegeu-se este lugar, por

tratar-se de um espaço onde muitas pessoas vão a passeio,

para ver os livros em geral, muitas vezes sem buscar um autor

específi co. Se alguma capa lhes chamar a atenção, talvez esta

os impulsione a olhar o volume e até, quem sabe, a levá-lo

para casa. Geralmente, nessas feiras há mais capas do que

lombadas de livros expostas, estratégia usada, provavelmen-

te, para seduzir um maior número de leitores.

Ademais, buscou-se analisar grafi camente diferentes

capas da mesma história, a fi m de perceber diferentes solu-

ções visuais para apresentar o mesmo assunto. Optou-se por

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analisar um livro de literatura para adultos, por este foco ter

sido menos abordado em pesquisas, que se direcionam mais

à literatura infantil. Para viabilizar essa avaliação, preferiu-se

escolher um livro lançado em vários países com diagrama-

ções diferentes, por serem todos contemporâneos, desconsi-

derando diferenças culturais. O livro eleito foi A menina que

roubava livros, de Markus Zusak. Inclusive a autora da capa

brasileira desse livro foi uma das profi ssionais entrevistadas

nesta monografi a.

Para pôr em prática toda a teoria apreendida no decor-

rer da pesquisa, além da elaboração do design deste Trabalho

de Conclusão de Curso, procurou-se uma editora que dispo-

nibilizasse um livro em fase de produção, para que a capa

pudesse ser diagramada pela formanda. A Gráfi ca da UFPel

disponibilizou o exemplar intitulado Para obesão?...Solução é

PERAO, de Volmar Nunes. A capa proposta foi aceita e coloca-

da em circulação.

Até o começo da realização deste trabalho, não se

possuía conhecimento de muita bibliografi a para pesquisar,

pois a maioria do material coletado antes da pesquisa falava

de livros produzidos em uma determinada época. Entretanto,

o que tornava-se mais atrativo à pesquisadora, era ir em

busca do cenário contemporâneo, saber como os leitores re-

cebiam esse trabalho nos dias de hoje, qual era a importância

do design gráfi co no momento da escolha do que iam ler ou,

ainda, quando, já efetuavam a leitura estavam lendo. No de-

correr deste trabalho foram encontradas mais fontes do que

se imaginava inicialmente, concluindo-se que o tema escolhi-

do instigava também a curiosidade de outras pessoas.

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1O LIVRO E SUA METAMORFOSE

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1.1 O COMEÇO DE TUDO

A relação do homem com o livro é antiga, pode-se dizer que

iniciou junto com a escrita, sua principal função é “de ser um

arquivo de memórias reais ou fi ccionais” (SILVEIRA, 2001, p.

72) do homem. Grande parte da história da humanidade foi

baseada no registro através da palavra do que aconteceu,

muitos relatos foram perdidos por não terem sido registradas,

fi cando a mercê das lembranças e interpretações. O receio

da perda do que já se tem conhecimento da história, segundo

Chartier (1999) é o que “levou à busca do textos ameaçados,

à cópia dos livros mais preciosos, à impressão dos manuscri-

tos, à edifi cação das grandes bibliotecas” (CHARTIER, 1999,

p. 99).

Alberto Manguel (1997), em seu livro Uma História da

Leitura, imagina a alegria do homem quando percebeu as van-

tagens que a escrita proporcionava: aquele que concebia a

mensagem não precisava mais estar presente para esta tor-

nar-se conhecida e o que estava escrito não fi cava a mercê de

falhas de memória ou do conhecido efeito “telefone sem fi o”.

Finalmente, estava gravado e, portanto, podia-se atravessar

as fronteiras da vida e da geografi a. Assim, através desses re-

gistros, entra-se em contato com pensadores que viveram há

mais de mil anos, sem que tenham que ser efetuados rituais

de reencarnações ou sessões espíritas, sendo apenas neces-

sário que seja efetivada a leitura.

O livro não surgiu da maneira como o conhecemos atual-

mente; as primeiras páginas das quais se têm notícia eram de

blocos de argila (Figura 1), depois passaram a ser produzidas

em madeira onde eram entalhadas as informações. Outro tipo

de suporte para a escrita que foi criado, era com cera e possuía

uma moldura de madeira para dar a

forma quadrada. Ali era mais comum

escreverem-se anotações efêmeras,

pois a cera podia ser reaproveitada,

para uma nova página (FERNANDES,

2001; MANGUEL, 1997). Em Roma,

essas páginas de cera, geralmente

Figura 1 - Tábua de argila com escrita cuneiforme. Confeccionada entre 2000 e 1600 a.C. Fonte:David Lees / Corbis

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vinham em duplas, unidas por intermédio de uma dobradiça

colocada no meio da junção das mesmas, o que até lembra o

formato atual do livro. As páginas dessa época eram tão es-

pessas e/ou pesadas que se tornava impossível agrupar várias

delas para armazenar informações mais longas (MANGUEL.

1997).

Finalmente, no Egito, foi inventado o papiro, onde o

texto, escrito em colunas, permanecia fechado em rolos, os

quais eram desdobrados na medida em que se lia.

Era “fabricado” através de um processo que começava pela sobreposição em uma base rí-gida e plana de camadas de tiras feitas a par-tir dos caniços que compõem a planta; estas camadas eram dispostas em sentido perpen-dicular umas às outras e, em seguida, eram maceradas, com o uso de uma maça grande e pesada, por espancamento; após o esmaga-mento o sumo que saía das tiras vegetais ma-ceradas agia como elemento colante; assim formava-se uma fi na folha que era branquea-da, aparada e tinha suas bordas (superiores e inferiores) reforçadas com as tiras que so-bravam do processo de apara (FERNANDES, 2001, p. 6).

Para proteger o papiro, este era enrolado em um cilin-

dro formando o Karthés ou volumen, como era chamado pelos

romanos. Foi a partir do papiro que foi inventada a palavra

livro, pois nesse processo de confecção a parte utilizada para

o suporte “nada mais é do que uma parte da planta que é li-

berada, ou livrada (…) É daí a origem da palavra liber libri, que

em latim, quer dizer livro” (NEWLANDS, 1997, p. 34).

O papiro apresentava diversas vantagens perante as

técnicas anteriores; entretanto, não vigorou por muito tempo.

De acordo com Manguel (1997), o rei do Egito viu ali uma

maneira de lucrar sobre os outros povos, então passou a

cobrar preços altíssimos por aquele suporte. Fernandes (2001)

também apresenta como outra desvantagem a dependência

das cheias e secas Rio Nilo, já que era só ali a matéria prima

se desenvolvia. Para dar-se continuidade às impressões, foi

utilizado o pergaminho ou o velino, ambos provindo de peles

de animais, mas feitos sob processos diferentes.

O pergaminho apresentava problemas ao ser usado

como rolo, pois a emenda, que era necessária para aumentar

o comprimento das folhas, fi cava muito grotesca. A solução

encontrada para solucionar este inconveniente foi usá-lo

dobrado, surgindo assim o códice, sendo que a cada número de

dobras feito, o produto recebia um nome diferente: “dobrado

uma vez, o pergaminho tornava-se um fólio; dobrado duas

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vezes, um in-quarto; dobrado mais uma vez, um in-octavo”

(MANGUEL, 1997, p.152).

O que os contemporâneos da época perceberam é que

dobrar o suporte era melhor do que enrolá-lo, pois diante

da necessidade de adicionar informações tornava-se mais

fácil acrescentar-se um caderno, do que acrescer um rolo.

Verifi cou-se, também que, tanto para transportar o material

quanto para organizar a ordem de leitura, os retângulos do-

brados apresentavam uma enorme vantagem. Dessa forma,

o papiro acabou caindo em desuso, pois, além de ser mais

caro que o pergaminho, era mais quebradiço, difi cultando

as dobras. Depois do século I, este material feito de pele já

estava difundido na Europa (FERNANDES. 2001, p. 7).

Com a mudança do suporte também se verifi cou a

transformação da interação do leitor durante a leitura, uma

vez que o papel dobrado permitia que ledor interferisse no

texto no decorrer da mesma, pois este não precisaria mais

ocupar as duas mãos desenrolando o rolo, precisando apenas

mexer na página ao fi nalizar a leitura desta. (CHARTIER, 1999,

p. 24) Com a utilização deste novo material, até para localizar

determinado trecho fi cou mais fácil, uma vez que possibilitou

a indexação do texto através da numeração das páginas

(CHARTIER, 2002, p. 106).

As folhas de pergaminho, quando agrupadas para formar

um livro, possuíam capa de madeira que, além de proteger as

folhas, tinha a função de mantê-las esticadas. Outro fato inte-

ressante, que nos revela Fernandes, é que os livros não eram

guardados verticalmente, como é costume nos dias de hoje;

eram armazenados na posição horizontal, para evitar que se

estragassem com a umidade ou que ocorresse a queda de

algum líquido sobre os mesmos.

Com o passar do tempo, substituiu-se a capa de madeira

por capas de marfi m e outros materiais ricamente decorados,

sendo comum, no século III, presentear-se altos funcionários

com um livro desse tipo, não se dando grande valor ao conte-

údo do livro, mas, principalmente, à sua ornamentação.

Quando chegou a Idade Média, ou Idade das Trevas, a

Igreja apoderou-se da escrita e, então, somente alguns nobres

e componentes do clero aprendiam a ler. É então que surgem

os monges copistas, que passavam grande parte de suas

vidas copiando manuscritos (Figura 2) e mais manuscritos.

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Neste período, as capas perderam um pouco de seu colorido e

tornaram-se mais simples.

É interessante observar como a arte, a arquitetura e a

tipografi a de uma época refl etem sua cultura (HAAG, 2009.

Informação verbal1). Da mesma forma que a Igreja ostentava

o poder através da arquitetura (Figura 3), com suas torres altas

e obras de arte que amedrontavam os fi éis, gerando-lhes o

receio da possibilidade de irem para o inferno caso pecassem,

a tipografi a também mostrava essa mesma força da Igreja.

Pois esta era elaborada com uma forma escura e rebuscada,

com textos cujas capitulares eram ricamente ornamentadas.

Resultava em páginas mais para serem olhadas e do que lidas,

onde o desenho transmitia a importância daquelas palavras

que o clero propagava, sem permitir contestações.

Até então os livros, além de formatos diferentes, já

tinham também se apresentado em tamanhos diversos. As

leis assírias, por exemplo, eram esculpidas em livros gigantes-

cos de pedra, de 6,2 metros quadrados. Datados do século XII

a.C, eram expostos a todos, para que pudessem ver e sentir o

peso da legislação, tinham claro o fato de que “a percepção do

objeto não pode ser dissociada, então, da percepção que será

1 Informação fornecida por Fábio Haag em palestra proferida no 6° Encontro Regional dos Estudantes de Design com o nome Typedesigner? Arquiteto romano? Monge? Ou programador?, em Santa Maria, em setembro de 2009.

Figura 2 - Iluminura gótica com a letra D. Fonte:Corbis

Figura 3 - Igreja Cologne, Alemanha, 1248. Fonte: Murat Taner/Corbis

obtida do conteúdo do mesmo. A atenção

do leitor oscila entre o que lê e o que

sente ao ler” (NEWLANDS, 1997, p. 34). Na

Igreja, por volta do século V, começaram

a ser produzidos livros tão grandes, que

só podiam ser carregados através de su-

portes com rodas. De acordo com Manguel

(1997), este tamanho não era para assus-

tar os fi éis - como no exemplo anterior - e

sim para que todos os que fi zessem parte

do coro conseguissem ler a uma certa dis-

tância. Neste mesmo período, tornaram-

se populares os livros das horas ou de

orações pessoais (Figura 4). Muitos deles

eram confeccionados com a preocupa-

ção de serem do tamanho da mão de seu

futuro leitor. Estes tinham suas capas ri-

camente ornamentadas e no seu interior

podiam-se encontrar, além das orações,

belíssimas iluminuras. Esses pequenos volumes tornaram-

se presentes favoritos da nobreza e seu valor estava todo na

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ornamentação, não se dando muita importância

à legibilidade de seu conteúdo.

1.2 OS TIPOS MÓVEIS

Segundo Fernandes (2001, p. 9), a partir do

ano 1000, a leitura passou a ser difundida lenta-

mente na sociedade; mais pessoas foram alfa-

betizadas, surgiram algumas universidades, fato

este que aconteceu mais facilmente em virtude

da difusão do papel. As técnicas de gravura,

como a xilogravura e a litografi a, vinham se de-

senvolvendo e ajudavam a acelerar um pouco a

produção do livro, mas foi só em 1440, quando

Johanes Gensfl eisch von Guttenberg inventou

a impressão com tipos móveis, que se deu o

“boom” da produção editorial, sendo a Bíblia o

primeiro livro a ser impresso.

Carolina Roberts (2007), na Introdução do

livro de Fawcett-Tang, intitulado O livro e o de-

signer I, comenta que quando surge uma nova

tecnologia parece que a anterior será soterrada por esta, porém

o mais estranho é que muitas vezes a antiga é que passa a ser

exaltada (ROBERTS. 2007, p. 11). Gutenberg, quando criou os

tipos de metal, buscava, como sugere Roberts, um resultado

fi nal que se assemelhasse aos manuscritos dos escribas e,

para isto, criou diversos modelos de cada letra com falhas em

diferentes lugares, imitando a mão humana que escreve irre-

gularmente as letras (HAAG, Fabio. 2009. Informação verbal2).

Analisando sob outra perspectiva, Gutenberg realizou uma

jogada de mestre, pois ele modernizou o processo, mas não

assustou o consumidor, tentando manter a mesma aparência

do produto.

Os livros impressos na época eram chamados de incu-

nábulos e encantaram a todos, pela “rapidez, uniformidade

de textos e preço relativamente barato” (MANGUEL, 1997,

p.158). Neste período, os cadernos dos livros eram vendidos

separadamente e era o comprador que se encarregava de en-

caderná-los. Como não havia capa para proteger os escritos,

incorporou-se ao volume uma falsa folha de rosto, também

conhecida como ante-rosto. Essa página acompanha o livro

até os dias de hoje, mesmo tendo perdido sua função, que se

2 Informação fornecida por Fábio Haag, em palestra proferida no 6° Encontro Regional dos Estudantes de Design, com o nome Typedesigner? Arquiteto romano? Monge? Ou programador?, em Santa Maria, em setembro de 2009.

Figura 4 - Detalhe da capa de um Livro das Horas. Fonte: Biblioteca Mundial on-line

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34 35

propunha a manter limpa a folha de rosto (HENDEL, 2003, p.

53).

1.3 O SOBE E DESCE DA INTELECTUALIZAÇÃO DOS LIVROS

Em 1453, cai Constantinopla e Veneza acaba tornando-se “o

novo centro do saber clássico” (MANGUEL, 1997, p.160) e,

como se sabe, toda aquela cultura greco-romana, escondi-

da pelos medievais, ressurge das ruínas com força total. Foi

então que o humanista Aldus Manutis (Figura 5), professor de

latim e grego, não gostando do que lhe era oferecido, decidiu

criar sua própria editora e confeccionar os livros que julgava

serem ideais para seus cursos. Junto com Aristóteles e Platão

voltou à tipografi a romana e quando optou por fazer exem-

plares de bolso, utilizou tipos itálicos, por ocuparem menos

espaços. Seus livros eram sóbrios e elegantes, possuindo a

mancha de texto mais clara. Nesse momento o objetivo prin-

cipal do livro passou a ser o texto e seu conteúdo, deixando de

ser apenas um palco de decorações. Não é de se surpreender

que, conforme salienta Manguel (1997, p.162), o livro tenha

deixado de ser um símbolo de riqueza para tornar-se um ícone

da aristocracia intelectual.

Há registros que informam que em 1822 foi utilizado

pela primeira vez um pano para as encadernações, ao invés

do couro, o que possibilitou o uso da capa como forma de

propaganda, já que no tecido era possí-

vel imprimir (MANGUEL, 1997, p. 165).

Dessa maneira, o livro foi se tornando

a cada dia um objeto menos aristocrá-

tico e grandioso, o que é reforçado por

Denis (2000, p. 74) quando afi rma que

desde o fi nal do século XVI sua qualida-

de vinha decaindo, apesar do aumento

das produções. Isto ocorreu devido ao

fato da mão-de-obra ser desqualifi ca-

da e haver defi ciência dos materiais

empregados para a produção.

Paralelo a esses acontecimentos,

algumas pessoas começaram a se manifestar contra a estéti-

ca da industrialização, dentre elas o designer William Morris,

que atuou desde 1860 em diversas áreas do design, aplicando

Figura 5 - Logotipo da editora de Aldus Manutis, 1450-1515. Fonte: Corbis

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qualidade e bom gosto aos seus produtos e, ao fi nal de sua

vida, decidiu dedicar essa mesma atenção aos livros (DENIS,

2000, p. 73). De acordo com Manguel (1997, p. 166), Morris

buscou inspiração nos livros de Aldus Manutius para fazer de

seus livros “um novo objeto de luxo: um estilo baseado na

beleza convencional das coisas do cotidiano, (…) adequados à

posição social do resto da mobília” (MANGUEL. 1997, p. 166).

“Morris introduziu inovações importantes no design de fontes

e na diagramação da página, e suas experiências inspiraram

uma renovação nos padrões de design de livros” (DENIS, 2000,

p. 74).

De acordo com Manguel (1997, p. 166), nos séculos se-

guintes os livros passaram a receber um projeto diferenciado

de acordo com o lugar onde iam ser lidos. Alguns eram pro-

jetados para lugares fechados, como bibliotecas públicas ou

privadas e possuíam uma encadernação em couro, de capa

dura, para encantar os colecionadores; outros eram feitos

para serem lidos em viagens e, neste caso, eram projetados

com brochuras mais ordinárias, encadernados em papelão e,

em sua maioria, publicados em meio-octavo ─ um tamanho

fácil de carregar.

Com a expansão das ferrovias, estas passaram a possuir

livrarias e já, em 1848, teve-se notícia da abertura da pri-

meira banca de livros de ferrovia, na estação de Euston, em

Londres.

Em 1841, Christian Bernhard Tauchnitz publicou uma am-

biciosa coleção de brochuras, lançando em média um livro por

semana, com ótimos títulos, entretanto sua produção “não era

atraente nem para os olhos, nem para as mãos” (MANGUEL,

1997, p. 168). Diante de exemplos como este, em 1935, en-

quanto o editor inglês Allan Lane procurava alguma coisa para

ler na viagem, sentiu que alguém precisava fazer livros de

bolso baratos e bons. Decidiu que levaria para sua editora a

idéia de publicar “uma coleção de reimpressões dos melhores

autores em brochuras bem coloridas.” Desta forma, atrairiam

não só o “leitor comum: seriam uma tentação para todos que

soubessem ler, intelectuais ou ignorantes” (MANGUEL, 1997,

p.168). Assim surgiu a Penguin3 (Figura 6), porém as primei-

ras vendas não passaram de 7 mil exemplares e para contor-

nar esse resultado, decidiram vender os livros como qualquer

outro objeto comum do dia-a-dia, ao lado das meias e sacos

de chá.

3 Editora conhecida por fazer livros de bolso bonitos, com literatura de qualidade e preço acessível.

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1.4 O BRASIL COMO PRODUTOR DE LIVROS

No Brasil, a produção regular de livros aconteceu somente

com a Imprensa Régia, em 1808 (NASCIMENTO, 2008, p 3692).

Entretanto, Nascimento (2008, p. 3692) afi rma que, em 1747,

o português Antônio Isidoro da Fonseca já confeccionava

volumes na “terra do pau-brasil”, utilizando-se das técnicas de

tipografi a e gravura. Infelizmente ele foi impedido de seguir

exercendo esse trabalho, posto que na época só era permitido

importar livros da Europa.

Nosso país, se comparado à Alemanha, por exemplo,

não têm uma tradição muito longa na edição de livros, mas

sua história nessa área é bem signifi cativa, até porque, como

ensina Cardoso (2005, p.160), houveram diversos avanços tec-

nológicos4 e “com essa revolução industrial gráfi ca o mundo

todo foi obrigado a se reposicionar mais ou menos de um

mesmo ponto de partida na segunda metade do século XIX”

(CARDOSO, 2005, p. 160).

Na história do livro brasileiro, este não teve uma fama

muito boa. Em 1925, Gilberto Freyre publicou um artigo no

Diário de Pernambuco, que dizia: “Nós somos o país do livro

feio. Do livro mal feito” (FREIRE, apud CARDOSO, 2005, p. 200).

Escorel (1974), em seu livro Brochura Brasileira: Objeto sem

projeto apontou diversos problemas que embasam a opinião

acima citada. A causa principal, segundo ela, era o alto índice

de analfabetismo no país, pois eram poucas as pessoas que

sabiam ler e ainda tinham condições fi nanceiras de adquirir

um livro. Dessa forma, a tiragem das obras publicadas era

pequena e os editores não acreditavam que valesse a pena

investir na qualidade de seus produtos.

4 Difusão plena do papel fabricado a partir de madeira, da mecanização das prensas tipográfi cas (rotativas), da fundição mecânica de tipos metálicos (...) barateamento dos impressos e, por conseguinte, na ampliação do público leitor.

Figura 6 - Livros da Penguin, 1930.

Fonte: Robert Estall/Corbis

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O livro no Brasil tinha que ser um produto barato, por isso

se popularizou o acabamento em brochura. Cardoso (2005, p.

1770) explica que a idéia do livro brasileiro se afastou daquela

de objeto de luxo. Entretanto não era um produto para a classe

baixa, posto que

pelos padrões da época [1900-1930], o pre-ço médio de um livro da Leite Ribeiro (cer-ca de 4$5000) regulava com o custo aproxi-mado, no varejo, de quinze quilos de arroz ou de um engradado com 24 garrafas de cerveja(CARDOSO, 2005, p. 172).

Como este é um país sem tradição tipográfi ca, não lhe

era dada a devida importância nos trabalhos realizados. A dia-

gramação do miolo do livro, em termos de design, chegava

a ser revoltante, pois como o papel era um produto caro, a

lei que vigorava na maioria das editoras, era a da economia

deste e para isso, muitas vezes a legibilidade era sacrifi ca-

da. Muitas editoras tinham uma mancha de texto padrão para

seus livros, mas o problema passava a existir em função de

que a mesma mancha era usada para tipografi a corpo 8, 10 ou

12. A pessoa que projetava as páginas, não tinha conhecimen-

to do papel que seria usado, sendo assim, a fonte escolhida

não dialogava com o mesmo.

Na industrialização, o processo de fazer as coisas

foi dividido em etapas; no livro, essa prática já era comum

(ESCOREL, 1974 e CARDOSO, 2005). Um dos problemas do

exemplar brasileiro é que este não era visto como um único

objeto: era fragmentado. Enquanto que na industrialização

cada etapa culminava num objetivo em comum seguindo um

mesmo projeto, no setor editorial uma etapa não tinha harmo-

nia com a outra, pois não havia um projeto a ser seguido. A

pessoa que fazia a capa era vista como um artista, a que fazia

o miolo tinha a imagem de um técnico e o projeto de uma não

tinha nada há ver com o da outra. Todavia, mesmo com tantos

problemas, tais como o emprego de materiais medíocres e o

livro não ser feito como um objeto íntegro, a capa brasileira

era uma das mais vistosas da produção mundial.

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1.5 A CAPA VISTOSA

Foi na década de 1920, a partir da idéia de Monteiro Lobato,

que a capa principiou a se destacar e o projeto gráfi co do livro

começou a melhorar. A capa passou a ser tratada como um

anúncio do livro, um espaço para cativar o leitor e convidá-lo

à leitura: nascendo assim a capa ilustrada. De acordo com

Nascimento (2008, p. 3692), o vocabulário visual utilizado nos

livros vinha das revistas ilustradas da época, que já estavam

bem evoluídas nesse sentido. “O principal nome é o do por-

tuguês Fernando Correia Dias, que se destaca pelo conjunto

casto e versátil de soluções, pelo domínio do desenho, assim

como Antonio Paim, em projetos originais” (NASCIMENTO.

2008, p. 3693).

Foi justamente nesse período que houve uma ascensão

na área editorial. Edna Lima e Márcia Ferreira (2005, p. 197)

discorrem sobre esse período em seu artigo Santa Rosa: um

designer a serviço da literatura, onde apontam Getúlio Vargas

como catalisador desse processo, através do aprimoramen-

to do ensino público nacional. No governo Vargas houve uma

valorização da cultura popular e a classe média e operária

também passaram a apreciar a literatura. O número de edito-

ras brasileiras dobrou “entre 1936 e 1944, atingindo um pico

de produção da década de 1950” (LIMA, FERREIRA. 2005, p.

197).

As editoras passaram a se preocupar mais com o layout

de seus livros, percebendo-se, em algumas delas, uma inte-

ração maior da capa com o miolo, margens mais arejadas e

preocupação com o projeto ─ pensar a capa de acordo com os

processos de impressão disponíveis ─ criando soluções atra-

tivas e baratas. É neste período, segundo Nascimento (2008),

que surgiu uma nova profi ssão: a de capista, onde ilustradores

e artistas passaram a elaborar esse projeto. Tomás Santa Rosa

tornou-se o mais importante representante deste período e,

a partir da década de 1930, sua atuação na editora Olympo

tornou o projeto do livro mais maduro.

A década de 1960 é marcada por diversas mudanças

culturais, as pessoas tornaram-se mais informadas, abertas

a novidades, e como salientou Chico Homem de Melo (2006.

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p 60-62), o setor editorial precisava dar uma resposta a esses

consumidores e foi nas capas que canalizou-se essa atenção

especial. Nessa época surgiram diversos nomes signifi cativos

assinando os projetos gráfi cos dos livros, entre eles, podemos

ressaltar Eugenio Hirsch (Figura 7), Bea Feitler (Figura 8), Gan

Calvi (Figura 9), Clóvis Graciano (Figura 10), Jayme Cortez

(Figura 11) e Vicente di Grado (Figura 12), todos eles, cada

um com seu estilo particular, romperam o que já havia sido

feito anteriormente. Eugenio Hirsch, por exemplo, dizia que

a capa era feita para agredir, não para agradar, enquanto

que Jayme Cortez criava uma unidade entre os livros de José

Mauro Vasconcelos, através da ilustração psicodélica. Depois

de toda essa “corrente ilustrativa” chega Moysés Baumstein

com o projeto modernista para a coleção Debates (Figura

13), da editora Perspectiva, onde a capa era branca, havendo Figura 7 - Capa de Eugênio Hirsch para Bubu de Montparnasse, de Charles-Louis Philippe. Editado pela Civilização Brasileira, em 1962, como parte da coleção Biblioteca do Leitor Moderno (Vol. 22)

Figura 8 -Capa de Bea Feitler para O homem

Nu, de Fernando Sabino. Fonte:

MELO, 2006, p. 76

Figura 9 - Gian Calvi paga tributo à poesia concreta no livro Cadeira de Balanço, de Carlos Drummond de Andrade. Fonte: MELO, 2006, p. 82

Figura 10 - Coleção de Aluísio Azevedo, capas e tipografi as

projetadas por Clóvis Graciano. Fonte: MELO, 2006, p. 83

Figura 11 - Jayme Cortez con-seguiu formar uma identidade visual nos livros de José Mauro de Vasconcelos através do estilo da ilustração. Fonte: MELO, 2006, p. 86

Figura 12 - Vicente Di grado fazia edições populares do Clube do Livro. Capa de O Romance de Maria Clara,

de Olivieira Ribeiro Neto. Fonte: MELO, 2006, p. 91

Figura 13 - Coleção Debates. Projeto Gráfi co de Moysés Baumstein

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46 47

embaixo um retângulo preto e em cima duas linhas vermelhas

horizontais.

Segundo Nascimento (2008, p. 3694) foi com a fundação

da Esdi, em 1963, que o profi ssional começou a receber um

preparo maior para atuar na área editorial. Entretanto, Escorel

(1974), em seu livro Livro brasileiro: objeto sem projeto, delatou

uma falta de preocupação com o projeto gráfi co na década

de 1970, onde o miolo era tratado como serviço técnico e os

capistas podiam ser categorizados como aqueles que se pro-

moviam nos trabalhos e que faziam da capa um anúncio pu-

blicitário, com cores chamativas, sem coesão com a história

do livro.

Ainda citando Nascimento (2008, p. 3695), na década

de 1980 o cenário melhorou e a qualidade dos projetos pôde

ser percebida na editora Companhia das Letras, onde seu fun-

dador e editor, Luiz Schwarcz (apud. NASCIMENTO, 2008, p.

3695), afi rmou: “Nossa contribuição hoje pode ser no sentido

de profi ssionalizar mais o mercado de capas, criar novas

chances e perspectivas.”

Para Newlands (2006, p. 47) esta editora é considera-

da um marco na história editorial brasileira, pois quando o

brasileiro estava “acostumado a livros com lombadas que se

descolavam deixando as folhas caírem”(NEWLANDS, 2006, p.

47), a Companhia das Letras inseriu no mercado uma preo-

cupação maior com o acabamento do livro, tornando-o mais

prazeroso ao manuseio e ao tato. O papel passou a ser pe-

rolado e levemente texturizado, as famílias das fontes foram

ampliadas e desenvolvidas para a diagramação de textos. “As

manchas de texto passam a ocupar menos espaço, deixando

as margens das páginas mais livres, o que favorece a concen-

tração e foco no texto, durante a leitura e areja visualmente a

página” (NEWLANDS, 2006, p. 47).

Designers como Moema Cavalcanti [Figura 14], João Baptista da Costa Aguiar [Figura 15], Ettore Bottini[Figura 16], Victor Burton [Figura 17] e Hélio de Almeida [Figura 18] fo-ram alguns dos nomes mais importantes no desenvolvimento da capa de livro no Brasil, nos anos 80 e 90. São deles os projetos da maior parte dos livros em circulação no mer-cado de então e todos ainda estão atuantes no mercado atual. Sua atuação e criativida-de foram extremamente importantes para a consolidação do mercado editorial no fi nal do século XX, quando as importações começam a chegar com força e o público passa a con-viver com mídia impressa e visual produzida no mundo todo. O impacto destas mudanças no público leitor é tão grande que, a partir

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48 49

de então, novos referenciais de qualidade passam a ser adotados por todas as editoras, em busca de excelência estética, gráfi ca e

técnica(NEWLANDS, 2006, p. 47).

Hoje em dia, ao passar por uma livraria depara-se com

um grande número de capas que utilizam a fotografi a para

compô-las. Percebe-se também que a capa ilustrada, que no

passado era um grande diferencial da produção brasileira, é

mais direcionada ao público infantil. A fotografi a foi inserida

na capa, segundo Newlands (2006, p. 48) pela Companhia das

Letras, junto com outros recursos gráfi cos, com o intuito de

embelezar o volume. Dentro do setor editorial os livros foram

os últimos a adotar a foto na capa, Melo (2006) atribui esse

fato ao caráter próprio do livro, que sempre foi mais conser-

vador, “normalmente mais avesso a novidades do que outras

áreas da produção editorial” (MELO, 2006, p. 60).

Na cena gráfi ca atual existem diversos tipos de projetos

gráfi cos para o livro, tanto para a capa, quanto para o miolo.

Ainda existem capas desconexas com o miolo, mas algumas

editoras investem todo o marketing que possuem em um

plano íntegro para o livro, sendo uma delas a Cosac Naify.

Figura 14 - Livros com projeto gráfi co de Moema Cavalcanti.

Figura 17 - Capa de joão Baptista de Aguiar

Figura 16 - Capa de Ettore Bottini.

Figura 18 - Capa de Victor Burton

Figura 15 - Livro sobre o Hélio de Almeida

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2O LIVRO COMO PROJETO

A uma alma dada, desgarrada, ele [o artista gráfi co] dá corpo, elaborado com a originalidade possível a sua profi ssão. (SILVEIRA, 2001, p. 122)

Criada em 1996, se tornou referencial de livros como objeto

de desejo, no cenário nacional. Eliane Ramos, diretora de arte

da mesma, afi rmou que:

“Restringir as possibilidades de invenção contidas a um retângulo bidimensional cha-mado capa é muito redutor. Nosso grande diferencial é não trabalhar com capistas. A capa é um dos elementos e todos eles são im-portantes, desde o tipo de letra até a textu-ra do papel. É isso que seduz o consumidor” (Eliane Ramos. apud: NASCIMENTO. 2008,

p. 3695).

Hendel (2006, p. 25) sugere que não há nenhuma ligação

entre o design do miolo e o número de vendas de um exemplar,

que muitos dos livros mais vendidos, cometem verdadeiros as-

sassinatos contra a legibilidade; no entanto ele concorda que

um bom design ajuda a melhorar a experiência da leitura.

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2.1 O LIVRO

O livro é um objeto tridimensional, que pode ser levado para

qualquer lugar, cuja função principal é armazenar textos, mas

ele acaba ensinando sobre diversos assuntos, apresentando

mundos novos e alimentando a imaginação de muitas pessoas.

De acordo com a UNESCO, ele deve ter no mínimo 49 páginas,

já descontando a capa, a contracapa e as folhas de guarda,

que necessitam ser encadernadas, “contendo texto manus-

crito ou impresso e ou imagens e que forma uma publicação

unitária ou a parte principal de um trabalho literário, científi co

ou outro” (UNESCO Institute for Statistics. apud FONTOURA,

2007, p. 5). O livro pode ser dividido em capa e miolo. A capa

envolve o livro, o identifi ca e protege; o miolo é composto por

todas as páginas internas, é onde consta o conteúdo propria-

mente dito.

2. 2 A CAPA

A capa geralmente é feita de um material mais grosso que

as páginas do miolo, a fi m de estruturar melhor e proteger o

volume. Às vezes ela pode ser acompanhada de uma sobre-

capa ou de uma cinta, que é um papel que envolve o livro. A

capa, normalmente faz parte do mesmo papel que compõe a

contracapa, a lombada e as orelhas do livro. As fi guras 19, 20,

21, 22 e 23 a seguir, ilustram de maneira didática os compo-

nentes que o livro pode possuir.

Figura 19 - Elementos físicos do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 4

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“A capa do livro consiste na proteção do volume e na

identifi cação do conteúdo. Entretanto, via de regra, costuma-

se atribuir à imagem da capa a parte principal (WEYNE, apud

MARTINS FILHO, 2003). Por ser a capa o primeiro contato do

leitor com o livro, o investimento maior lhe é direcionado, bus-

cando sua qualidade através do emprego de materiais e layouts

diferenciados. A sobrecapa é considerada efêmera, apenas

uma propaganda do livro e, pela sua diagramação, deveria

evitar que o leitor recolocasse o livro na prateleira, efetuando

logo a compra. “Em contrapartida um diretor de faculdade”

disse a Stanley Morison “que sempre retira a sobrecapa antes

de ler um livro ─ para proteger a sobrecapa!”(MORISON, In:

HENDEL, 2003, p. 149)

Figura 20 - Elementos físicos do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 4

Figura 21 - Elementos físicos do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 5

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Comumente nas livrarias há uma seleção de livros que

fi cam organizados formando uma vitrine, com a capa exposta,

para atrair o leitor em potencial. Em bibliotecas públicas e priva-

das, ou no caso de já ter ultrapassado o “tempo de exposição”

do livro na vitrine, a lombada é a parte que fi ca visível. Esse

costume ocorre para otimizar o espaço pois que, dessa forma,

todos os livros fi cam bem acomodados e visíveis, tornando

mais fácil ao leitor ir ao seu encontro, quando é necessário.

Normalmente é na capa que o editor investe um capital

maior com o intuito de deixá-la mais atrativa, para isso utiliza

materiais (plásticos, tecido, madeira, por exemplo) e acaba-

mentos diferentes como aplicação de diversos tipos de ver-

nizes que alteram a cor, a textura e até o cheiro do material.

Esses são só alguns exemplos das diversas artimanhas que as

Figura 22 - Elementos físicos do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 5

Figura 23 - Tipos de encadernação. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 6

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editoras e designers têm usado para atrair o possível leitor no

ponto de venda.

Quando o indivíduo vai à livraria, sua primeira expe-

riência com o livro é sensorial, pois, como informa Mariana

Newlands (2006), esta se dá principalmente a partir da visão e

do tato. “Trata-se de uma etapa prévia ao mergulho no texto”

(NEWLANDS, 2006, p. 17). Nesta fase, a idéia que o leitor terá do

livro basear-se-á em uma série de noções pré-concebidas que

obteve no decorrer de sua vida. Sem perceber, julgará o livro

comparando-o com os outros que estão à sua volta, naquela

seção, e também com os livros que já leu. Se for questionado

não dirá que identifi cou a tipografi a, mas intuitivamente se

normalmente as histórias que leu e gostou apresentavam na

capa uma tipografi a gótica, esta lhe chamará mais a atenção

identifi cando, pelo estabelecimento inconsciente de relação, o

tipo de linguagem da possível leitura.

Segundo Valverde (1997), o “objeto”, quando interpre-

tado, é “recortado de um fundo que já se caracterizava como

um horizonte de sentidos” (VALVERDE, 1997), sendo assim só

é possível ter um novo conceito sobre algo, quando se tem um

pré-conceito para onde se apoiar. Trazendo essa informação

para o design, quando o profi ssional projeta um livro de terror,

por exemplo, mesmo tendo inovações, ele deve ter dados

visuais sufi cientes para ser identifi cado como tal, atraindo o

usuário que gosta desse tipo de leitura. Isto vai evitar que o

leitor compre um livro cuja capa sugira um tipo de assunto

diferente do que é abordado no seu interior, o que poderá

levá-lo a decepcionar-se com seu conteúdo, e como disse

Odyr Bernardy durante a entrevista5, ele tenderá a atribuir

essa decepção a alguém, que pode ser o autor ou até mesmo

a editora, não se estabelecendo uma relação de fi delidade e

confi ança a longo prazo entre esses atores.

A capa

funciona como uma ponte visual que se vale de referências simbólicas para expressar, comunicar e convidar o leitor a adentrar o mundo da leitura e os caminhos daquele tex-to. Uma boa capa deve sugerir sem entregar, insinuar sem explicar. Sua função é expres-sar esteticamente algum ponto central da narrativa ou apenas sugerir uma ambien-tação que estimule a criatividade do leitor e desperte nele o desejo de partilhar e interagir com o universo de caminhos aberto pelo autor (NEWLANDS, 2006, p. 41).

5 Entrevista feita pessoalmente, em outubro de 2009, constante nos anexos deste volume.

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Segundo os leitores entrevistados6, após serem fi sgados

pela capa, normalmente consultam a contracapa e, quando

tem, as orelhas do livro, ou ainda leem alguma parte da his-

tória. Desta maneira, é averiguado o conteúdo do livro e, caso

este os agrade e se o bolso permitir o livro é adquirido. Cada

pessoa tem uma maneira diferente de conferir o conteúdo

e decidir sobre a compra, alguns consultam o índice, leem

algumas páginas da história, verifi cam o tamanho da letra

e levam em consideração também alguma indicação de um

amigo que já tenha lido o volume.

A maioria das pessoas compra livros para serem lidos,

ou pelo menos, consultados. Quando um livro é comprado

pela capa, esta tem uma mensagem muito forte sobre o seu

conteúdo levando o leitor a se identifi car de tal forma com a

6 Entrevistas feitas na Feira do Livro de Pelotas, em novembro de 2009.

mesma, que faz com que os outros elementos sejam ignora-

dos; entretanto o que geralmente acontece é que ninguém

compra um livro só por causa da capa.

Chip Kidd (Informação verbal7, Figura 23), um desig-

ner, autor e editor de livros norte-americanos durante uma

entrevista ao QTV explica que a capa deve funcionar como

um “amigo cupido”, seria como uma terceira pessoa que, ao

conhecer uma garota solteira e um rapaz que procura uma

namorada, apresentaria um ao outro. O papel da capa é apre-

sentar ao leitor a história do autor, no entanto não há como

saber se os dois vão namorar ou conversar apenas por meio

minuto e nunca mais se verem; isto vai depender deles e de

seus interesses, entretanto um bom “amigo cupido” não irá

apresentar alguém que não condiz com as expectativas do

outro.

João Baptista da Costa Aguiar (Informação verbal8, Figura

24), designer brasileiro que começou a trabalhar na década de

1990, afi rma que a capa deve dar o máximo de informações

sobre o livro em questão porém sem revelar tudo, visando

7 Informação verbal retirada de uma entrevista em inglês ao programa QTV. Traduzida e interpretada pela autora. Disponível em: <http://sobrecapas.blogspot.com> Acesso em: 27 nov. 2009.

8 Entrevista feita por Inimá Simões no Programa Sintonia, que foi ao ar no dia 20 de dezembro de 2009, na TV Cãmara Federal na TV a Cabo NET.

Figura 24 - Capa do livro Obsession, de Gloria Vanderbilt , pro-jetada por Chip kidd, 2009. Fonte: http://www.goodisdead.com/

Figura 25 - Capa do livro Olhos de Madeira,

de Carlo Ginzburg, pro-jetada por João Baptista da Costa Aguiar. Fonte:

http://www.joaobaptista.art.br/

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assim estabelecer um jogo de sedução, da mesma forma

que a lingerie deve mostrar mas também esconder, para não

perder o encantamento ocasionado pela imaginação.

2.3 O MIOLO

O design do miolo ainda é menosprezado por muitas editoras.

Como não é um fator determinante para a compra, muitas

vezes os livros nem podem ser folhados nas livrarias e muito

menos na internet. Não é depositada muita atenção nesta

etapa do projeto. Muitas editoras têm um projeto padrão para

todos os livros, sendo a mesma tipografi a usada tanto para

romances como para aventuras.

O leitor normalmente é envolvido pela leitura e tende a

não reparar na infl uência da diagramação. Por falta de conhe-

cimento, não sabe falar o que seria bom ou ruim. Uma das en-

trevistadas9 diz que prefere quando as letras são maiores, mas

em outra pergunta diz que antes de comprar só olha o resumo

atrás do livro. O tamanho da letra e o espaçamento adequado

para a leitura são vistos como bônus da compra e não como

9 Entrevistas feitas na Feira do Livro de Pelotas, em novembro de 2009.

fator relevante para decidi-la. Isso se deve à capacidade do

ser humano em se adaptar à realidade. Assim, se o assunto in-

teressar a leitura será realizada mesmo que sinta difi culdade

em efetuá-la. Entretanto percebe-se que a leitura será mais

prazerosa e fácil quando não houver esses empecilhos. Para

algumas pessoas, essa atenção especial com a parte interna

pode ser vista como um presente acompanhado de um cartão

que diz: “Lembrei de você.”

Para muitos indivíduos, imaginar o design do miolo é

como “chover no molhado”, imaginam que não se tem muito o

que variar de um exemplar para outro, pois que as páginas são

praticamente iguais, fáceis de fazer, bastando para isso esco-

lher uma fonte e logo estará pronto. Entretanto, não é assim

que acontece. Richard Hendel (2006, p. 33) afi rma que “os de-

signers estão para os livros assim como os arquitetos para os

edifícios”, ou seja, do mesmo modo que os arquitetos fazem

especifi cações para a construção do edifício, os designers o

fazem para os livros. “Mesmo o detalhe mais aparentemente

trivial precisa ser decidido, e são exatamente essas minúcias

que tornam bem-sucedido um design” (HENDEL, 2006, p. 33).

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Para dar forma às palavras do autor, Hendel sugere que

“o designer deve saber ao mesmo tempo o que o autor está

dizendo (o assunto do livro) e como ele está dizendo (as pala-

vras reais que usa)” (HENDEL, 2006, p. 33 – grifos do autor).

E há uma série de detalhes a serem decididos até o volume

chegar às livrarias para o usufruto do leitor. Alguns desses

elementos são ilustrados nas Figuras 25 e 26.

Hendel diz que “se a impressão é a arte negra, o design

do livro pode ser a arte invisível” (HENDEL apud MARTINS

FILHO, 2008). Plínio Martins Filho reforça essas palavras ao

afi rmar que quando o design é bem-feito, normalmente ele

Figura 26 - Elementos textuais do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 7

Figura 27 - Elementos textuais do livro. Fonte: FONTOURA, 2007, p. 8

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não é notado pelo leitor, assim como quando uma casa é bem-

feita não prestamos atenção na sua planta; somente quando

algo atrapalha é que se percebe a maneira como as coisas

são feitas. Exemplifi cando, quando não se tem espaço para

o material de limpeza da casa, nota-se a falha do arquiteto

ou, quando se tem difi culdade em folhear as páginas de um

livro, percebe-se que o papel poderia ter sido melhor. O foco

principal do livro é o seu conteúdo, “os textos não existem

fora dos suportes materiais” (CHARTIER, 2002, p. 61), sendo

assim muitos designers defendem que o design não deve

servir como distração.

Norman (2008, p. 147 - 154) em seu livro Design

Emocional, faz uma análise sobre fi lmes, que se encaixam

nesse setor de “arte invisível”. Ele ensina que, quando vemos

fi lmes, nos emocionamos junto com eles e esse sentimento

atua no nível visceral, o que faz com que, quanto mais nos

entreguemos a ele, melhor será a experiência com o fi lme.

Logo, se uma cena nos encanta pela maneira como foi feita,

passamos a pensar na técnica e não temos uma experiência

total, pois a atenção do cérebro não vai estar focalizada na

emoção e sim dividida entro o refl exivo e o visceral.

Muitos designers acreditam que o livro deve ser atem-

poral, já que ele vai durar muito tempo, por isso o ideal seria

que não se seguisse modismos, que se tornam ultrapassadas

em curto prazo; entretanto, “a atemporalidade pode ser ina-

tingível” (HENDEL, 2006, p. 12). Somos produtos da sociedade

em que vivemos e, conseqüentemente, o que fazemos refl ete

esse mundo. De acordo com W. A. Dwiggins (apud HENDEL,

2006, p. 12), o texto é produzido para ser lido agora e, portan-

to, pode ser suscetível a inovações, mas Hendel adverte que

se for para modifi car o padrão, o ideal seria que fosse para

acrescentar sentido e não simplesmente para trazer alguma

novidade. Ele acredita que essa mudança deva estar coesa

com o texto que o autor está apresentando. David Carson

defende que um texto que é apenas legível pode não passar a

mensagem certa ou não enfatizá-la de forma adequada (apud

MARTINS FILHO, 2008, p. 31), preferindo assim, uma certa ile-

gibilidade em favor da leiturabilidade.

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2.4 SEPARANDO AS PEÇAS DO QUEBRA-CABEÇA

O design de livros está cercado por uma atmosfera de dogmas

estabelecidos ao longo dos anos. Muitos designers têm esses

conceitos elevados num patamar e outros os desconsideram

completamente e inventam novas regras a cada projeto. Para

Hendel, “todas as regras e convenções contêm algo do clichê

que as envolve. (...) Elas devem ter, ou devem ter tido algum

dia, validade bastante para torná-las úteis. (...) não são obso-

letas, mas tampouco são absolutas” (HENDEL, 2003, p. 24).

Antes de subverter as regras, é interessante conhecê-las e

saber o porquê que elas existem. Visando o resultado almeja-

do, o designer saberá optar em segui-las ou não.

Hendel (2006) discorre que o design do livro começa

pelo formato. O livro pode possuir qualquer feitio, mas o mais

comum é o retângulo vertical, tanto pelo costume quanto pela

praticidade. Normalmente antes de o designer pensar no livro,

seu formato já está pré-estabelecido, pois os fabricantes de

papel produzem material para certo número de tamanhos,

tornando caro o projeto que sair do padrão. Um dos motivos

que torna tão difícil fazer um formato horizontal é o sentido da

fi bra do papel. Quando se dobra um papel, é preciso que se

observe esse detalhe, de forma a evitar problemas na enca-

dernação, assim, “formatos mais largos exigem papéis espe-

ciais com a fi bra na direção contrária” (HENDEL, 2006, p. 35).

Outro elemento importante que Hendel aponta são

as margens da folha. Para Bringhurst, as margens tem três

tarefas: amarrar, emoldurar e proteger, como se pode perce-

ber em suas palavras:

Elas precisam amarrar o bloco de texto à página e amarrar as páginas opostas uma à outra com a força de suas proporções. Em segundo lugar, devem emoldurar o bloco de texto de um modo que se ajuste ao seu desenho [da tipografi a]. Finalmente, preci-sam proteger o bloco de texto, facilitando a visualização do leitor e tornando o manu-seio conveniente (noutras palavras, deixando espaço para os polegares) (BRINGHURST, 2005, p 181. Grifos do autor).

Como brinca Marcia Grossmann, muitos leitores prefe-

rem usar as margens para “escrever anotações e conclusões

pessoais sobre o texto” (GROSSMANN, 2002, p. 64). Pensando

também nisso muitos designers oferecem margens generosas

em pelo menos um dos quatro lados da margem da página.

Convencionalmente, quando o livro possui uma leitura contínua,

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procura-se fazer páginas espelhadas (simétricas uma a outra),

para criar uma unidade quando o livro está aberto. Por conse-

guinte, muitas vezes a margem interna é pequena, o que para

alguns agrada, pois transforma, visualmente, as duas páginas

em uma, e para outros desagrada, uma vez que se estabelece

uma difi culdade para a leitura dos fi nais de frases da página

par e para os inícios da página ímpar.

A tipografi a do texto “é a base de todo resto” (HENDEL,

2006, p. 35). Antes do uso do computador, era mais difícil variar

os tipos, pois além da tipografi a ter um custo alto, consumia

muito tempo fazer diversas provas de página, para escolher

a letra. Sendo assim, costumava-se optar por aquilo que já se

tinha conhecimento do bom resultado. Hoje em dia, a experi-

mentação pode ser constante. Hendel comenta que o tempo

que ele economiza (comparado com seus projetos antes da

informatização) fazendo os layouts no computador, ele gasta

em dobro, experimentando mudanças nos mesmos: como fun-

ciona uma tipografi a ou outra, um pouco mais à direita ou à

esquerda, maior, menor, etc. A respeito das opções de famílias

tipográfi cas, ele brinca: “Sempre achei absurdo classifi car o

tipo como masculino ou feminino, mas pode ser esse o motivo

da existência de um número tão grande de fontes ─ elas estão

se reproduzindo” (HENDEL, 2006, p. 36).

Em um livro mal desenhado, as letras, pul-verizadas, postam- se como cavalos famintos no campo. Em um livro desenhado mecani-camente, elas assentam como pães mofados e carne de terceira na página. Já em um li-vro bem-feito, no qual designer, compositor tipográfi co e impressor fi zeram, todos, o seu trabalho, as letras estão vivas, não importa quantos milhares de linhas e páginas tenham de ocupar. Elas dançam em seus lugares. De vez em quando, levantam-se e dançam nas margens e nos corredores. (BRINGHURST,

2005, p 25).

Além de eleger uma fonte que convide à leitura e honre

o texto que representa, na escolha da tipografi a, o designer

deve levar em conta as necessidades do texto; por exemplo,

se o autor costuma grifar muitas palavras, a fonte eleita deve

ter um bom itálico; se o texto possui muitos níveis de subtítu-

lo, um bom negrito; se tem muitos numerais ou muitas siglas,

deve possuir esses caracteres bem-feitos; enfi m, a família ti-

pográfi ca deve suprir as necessidades do texto.

A legibilidade é outro fator essencial. Muitos acredi-

tam que letras com serifa ajudam na leitura, entretanto têm

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muitos estudos que provam o contrário. “O mais correto é

que lemos com mais facilidade quaisquer formas de letras

que estamos acostumados a ver” (HENDEL, 2006, p. 19). No

entanto, o cérebro humano se adapta às situações novas, se

adapta. Para Merle Armitage, “um livro muito difícil de ler é

inútil. Mas achar que a impressão deve servir apenas à função

da legibilidade é o mesmo que dizer que a única função da

roupa é cobrir a nudez” (ARMITAGE apud HENDEL, 2006, p.

16). Hendel ensina que a legibilidade de um tipo é defi nida

pela maneira de uso, como o corpo, a entrelinha, o número

de caracteres em uma linha, uma vez que tudo infl uencia no

resultado fi nal.

O parágrafo serve para marcar uma pausa, introduzin-

do um novo assunto. Existem diversas formas de indicar essa

mudança, sendo que a mais comum, talvez mais efi ciente, é

o recuo interno no início da primeira linha. Outro tipo de pará-

grafo utilizado é o francês, que costuma funcionar melhor em

notas de referência, onde a primeira palavra ou numeral que

indica a frase são procurados. Nesse tipo de parágrafo a pri-

meira linha é recuada para fora do texto, saindo da mancha do

mesmo. Essa pausa, entre outras formas, também pode ser

marcada por um espaço maior entre os parágrafos ou, ainda,

pela impostação de um símbolo com a continuação do texto

na mesma linha.

Dentre as escolhas tipográfi cas também pode-se optar

por algarismos alinhados ou antigos. Comumente os algaris-

mos antigos (0123456789) são usados no interior do texto e

são projetados para se “disfarçar” no meio dele, possuindo

um desenho com ascendentes e descendentes da mesma

forma que as letras caixa-baixa, mantendo a mancha de texto

da página uniforme. Os algarismos alinhados (0123456789),

como o nome já diz, fi cam alinhados entre si, são os que a

maioria das pessoas conhece, sendo que todos possuem a

mesma altura, e “fi cam mais a vontade” em meio às maiúscu-

las. Da mesma maneira que existe uma “etiqueta” tipográfi ca

para os algarismos, existem para outros detalhes, como para

usar o hífen ( - ), o travessão ( ─ ), as aspas, as versais (ABCD)

ou versaletes (abcd) etc. Sobre as citações, alguns autores

as defi nem como um problema, pois almejam que elas se

integrem ao texto (e não sejam “puladas” pelos leitores) e

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também se diferenciem das palavras do autor que as mencio-

na, ocorrendo também dúvidas sobre sua melhor localização

e tipografi a.

Os elementos pré-textuais são vistos, por alguns, como

uma continuação da capa, uma vez que devem ambientar e

preparar o leitor para o que vem a seguir. As primeiras páginas

que recepcionam o leitor são a de ante-rosto e em seguida a

página de rosto. Como já foi comentado no primeiro capítulo, a

página ante-rosto ou falsa folha de rosto foi inventada quando

os livros eram vendidos sem a capa, para proteger sua suces-

sora, que seria a página “protagonista”, com o título e autor

do livro. Hendel reclama que não sabe por que ela existe até

hoje, mas muitos designers gostam de projetá-la.

A página de rosto é um desenvolvimento das páginas de abertura de capítulo. Os ele-mentos e as relações criados dentro do livro devem estar presentes aqui sob o melhor aspecto possível(David Bullen In: HENDEL, 2003, p. 101),

como uma mostra dinâmica do que vem pela frente. Ela

“deve refl etir o design do livro em todos os seus aspectos,

mas não necessariamente imitá-los” (ANITA WALKER SCOTT

In: HENDEL, 2003, p. 183).

Muitas editoras seguem o “estilo da casa” para a página

de copyright. Hendel afi rma que esta página deve ser proje-

tada de acordo com o resto do design do livro, porque ela é o

“anúncio legal de quem é o proprietário do texto” (HENDEL,

2003, p. 57), Tschichold (1902-1974)10 a comparava com os

créditos nos inícios do fi lme, que como são enfadonhos e in-

desejados devem ser colocados no fi nal. Hoje em dia, todos

os fi lmes mostram os longos créditos no fi nal, aparecendo no

início só o nome dos personagens principais, como o diretor

e os protagonistas. No caso dos livros, alguns apresentam a

página de copyright no fi m, mas o mais comum é ela estar no

início. Hendel afi rma que “pode-se julgar o design de um livro

pela página de copyright” (HENDEL, 2003, p. 33). Ron Costeley

garante que quando quer formar uma opinião sobre o design

de um livro, a primeira página que olha é a do copyright, posto

que ali ele já tem uma “pista sobre o controle que o desig-

ner tem do livro e o cuidado com que ele foi exercido” (Ron

Costeley In: HENDEl, 2003, p. 129).

A página da dedicatória também tem suas particularida-

des, pois é uma página inteira para poucas palavras. A maneira

10 Jan Tschichold foi tipógrafo, designer gráfi co, professor e escritor. Ele escreveu o livro “A forma do livro”, que é um guia prático sobre a estética dos livros e tipografi a.

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como o design a apresenta pode fazer toda a diferença,

transformando-a “numa linha de texto vulgar ou num cartão

de presente para a pessoa” (HENDEL, 2003, p. 57). Richard

Hendel explana que muitas vezes o autor muda a dedicatória,

ou a pessoa a quem está dedicando, no meio do processo

do design e este designer odeia quando isso acontece. Como

são poucas palavras que estão em jogo, sua visualidade, seu

tamanho, suas letras infl uenciam muito o layout e, ao ser

trocada uma palavra, toda a página deve ser repensada.

A diagramação das páginas de epígrafe, prefácio ou

agradecimento depende do que é dito e de sua extensão. Se

for uma escrita mais longa o design “relaciona-se facilmente

com o do texto principal do livro” (HENDEL, 2003, p. 57), mas

se for mais curta pode ter uma diagramação diferenciada,

assim como a dedicatória.

O sumário precisa identifi car a hierarquia do texto, seus

capítulos e subtítulos. Pode ainda usar o recurso de separar

por seções, ou diferenciar visualmente a matéria pré e pós-

textual do texto. Para a confecção desta página o ideal é que

o designer se preocupe com a clareza das informações, pois

o leitor que consulta o sumário, almeja “se achar” e não “se

perder”. Normalmente este começa em uma página ímpar,

mas se seu conteúdo for muito extenso, abre-se a possibilida-

de de começar em uma par, de modo que o leitor tenha toda a

informação em duas páginas dispostas lado a lado.

A matéria pós-textual costuma conter notas, bibliografi a

e índice. Os designers preferem as notas de fi m às notas de

rodapé, contudo estas últimas são as preferidas de autores

e leitores interessados. O problema das notas é que elas

quebram a leitura, não importando em que lugar estejam, e

por isso alguns leitores se assustam com as mesmas. Paul

Stiff (apud MARTINS FILHO, 2008, p. 98) prefere colocá-las no

fi nal do livro, pois afi rma que o que as pessoas não veem, não

pode machucá-las.

2.5 A RELAÇÃO DA CAPA COM O MIOLO

A confecção do livro, ao longo da história geralmente ocorreu

em etapas, que eram feitas por diversos profi ssionais, cada

um de uma área de produção diferenciada, ocorrendo, muitas

vezes, uma falta de comunicação entre as mesmas, pois cada

uma responsabilizava-se por uma etapa independente, não

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havendo a existência de um projeto em comum para unifi cá-

las. Muitos livros, inclusive, eram vendidos em cadernos, para

o próprio leitor encaderná-los, como foi visto no primeiro capí-

tulo, que aborda a história do livro.

Hoje em dia, perdeu-se o costume do leitor encadernar

seu livro à sua maneira, mas ainda está presente o hábito

da elaboração do design de capa e o do miolo do livro serem

feitos por pessoas distintas. Talvez para otimizar o tempo, ou

por precisarem de um enfoque diferente, é comum os editores

encaminharem os serviços dessa forma. Isso não ocorre em

todas as editoras, nem com todos os livros, mas acontece um

número de vezes considerável.

No livro de Richard Hendel (2003), O design do Livro, ele

entrevista diversos designers que trabalham na área editorial.

Grande parte desses profi ssionais projeta somente os miolos

e alguns, raramente, também desenham as capas, mas em

sua maioria, acreditam que o ideal seria o livro ser um objeto

resultante de um projeto unifi cado, realizado pela mesma

pessoa, ou, pelo menos, com a preocupação de transmitir

uma mesma idéia.

Em oposição à maioria, Ron Costley (In: HENDEL. 2003 p.

129) acredita que não há necessidade alguma de integração

entre as áreas responsáveis pela elaboração das partes de um

livro, uma vez que cada uma delas possui objetivos diferentes,

pois que a capa é extrovertida, devendo cumprir seu papel

de atrair o leitor em potencial, servindo como propaganda do

mesmo, e o miolo, sendo introvertido, tem a função de dar

forma às palavras do autor, não necessitando para isso dialo-

gar com a capa. Já com opinião divergente, Virginia Tan (In:

HENDEL. 2003 p. 206) lamenta quando o editor passa para

ela um briefi ng e para o capista outro completamente diferen-

te, pois isso acaba gerando um objeto contraditório, podendo

criar um confl ito entre as partes.

Para Mary Mendell (In: HENDEL. 2003 p. 170), “relacionar

a sobrecapa com o miolo do livro, sem negar sua função co-

mercial, é parte do problema a resolver” dentro do design. Isto

diz a favor de uma unidade, onde o trabalho executado possa

ter um objetivo comercial a ser atingido tanto pela capa como

pelo miolo. Para esses designers entrevistados por Hendel

(2003), o processo de criação do livro varia, pois enquanto

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que alguns leem todo o original do livro (isso é mais fácil acon-

tecer quando este é de fi cção), outros leem a introdução e

folheiam o original, e têm, ainda, aqueles que leem apenas

a informação passada e nada mais. A maioria tenta captar o

espírito da obra, o tom da leitura, para fazer um design coeso

com o texto, pois este “se tornará parte da experiência de

leitura”(VIRGINIA TAN, In: HENDEL, 2003, p. 203). Muitos consi-

deram que as páginas iniciais do livro ─ folha de rosto, sumário,

copyright... ─ devem ser como uma pequena amostra do todo

a ser lido, incluindo o ritmo e o estilo da leitura contida no

volume.

Segundo Anita Walker Scott (In: HENDEL, 2003, p. 183):

“A página de rosto deve refl etir o design do livro em todos os

seus aspectos, mas não necessariamente imitá-los.” Os parti-

cipantes da pesquisa, efetuada por Hendel, concordam que o

design dos elementos que compõe um livro devem estar todos

interligados, da mesma forma que uma casa e suas peças,

onde cada uma tem uma função e suas especifi cidades, mas

todas devem estar imbuídas do mesmo estilo, integrando os

diversos ambientes de uma mesma moradia. Outra analogia

citada é quanto à escolha da tipografi a para o texto, que deve

ser sobretudo legível, o que é confi rmado pelas palavras de

David Bullen (In: HENDEL. 2003) quando afi rma que compor

um livro com tipografi a ruim seria “como construir uma casa

com alicerces fracos” (apud HENDEL, 2003, p. 96).

Muitas vezes as tipografi as dos textos que compõe os

capítulos são diferentes dos tipos escolhidos para os títulos

que os precedem, mesmo porque algumas que são legíveis e

agradáveis em corpo 10, ao comporem o título em um tamanho

maior não se harmonizam ao todo. O objetivo dos dois tipos de

texto é diferente, pois ao passo que aquele que compõe o con-

teúdo propriamente dito é para ser lido, o outro, que compõe

o título dos capítulos, é para ser visto, agregando assim ao

livro, valores subjetivos que auxiliam a

transmitir o espírito do texto.

2.6 A ETERNIDADE DO LIVRO

Entre todos os profi ssionais, o designer

gráfi co parece ser um dos poucos que

coleciona folders, fl yers e afi ns. Pode-se

observar que enquanto grande parte Figura 28 - Livro antigo acompanhado de uma caveira. Fonte: Richard T. Nowiz/Corbis.

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das pessoas joga fora inúmeros folhetos, este profi ssional

fi ca analisando e manipulando o material coletado, olhando-o

em diferentes posições, em busca de detalhes interessantes

e especifi cidades que possam passar despercebidas em um

primeiro momento, como por exemplo, o nome do autor ou o

tipo de impressão utilizada. Isto ocorre porque esses produtos

podem constituir-se em uma importante contribuição para o

seu trabalho, podendo servir-lhes de inspiração para proje-

tos futuros, ou simplesmente para mantê-lo informado sobre

o que está circulando atualmente por aí. Apesar da grande

quantidade de trabalho oferecido nessa área, o impresso

ainda mais adorado é o livro, talvez pelo fato de ser este o

único tipo de elaboração gráfi ca feita para durar, uma vez que

o destino mais comum de todos os outros é constituir-se em

lixo (salvo a marca, que é intangível), pois as embalagens, os

folders, os jornais, as revistas, todos têm um prazo de vida/uso

relativamente curtos. O livro é feito para atravessar décadas

e ainda ter credibilidade. Talvez seja por isso que tantos de-

signers estão lançando livros com seus portfólios, (ROBERTS

In: FAWCETT-TANG. 2007, p 10), tentando dar a seus projetos

uma visualização mais longa.

Não é só para os designers que o livro tem uma impor-

tância alta; a relação da humanidade com esse objeto é muita

antiga e, mesmo com toda a evolução tecnológica e com

a internet, acredita-se que o livro não irá perder seu lugar.

Caroline Roberts (2007, In: FAWCETT-TANG, 2007, p. 11) acre-

dita que é justamente por essa profusão de telas e microcom-

putadores que nos rodeiam o tempo todo, que o livro físico

ainda permanece entre nós, talvez porque ele nos proporcio-

ne um momento de repouso.

Outra vantagem do livro físico em relação ao o virtual

é o fato dele ter peso, textura e superfície. Donald Norman

(2008, p. 102) diz que no design o termo adequado para isso

é “tangibilidade” e afi rma que uma grande parte do nosso

cérebro se ocupa com os sistemas sensoriais.

O mundo do software merece elogios por seu poder e capacidade camaleônica de se transformar em qualquer função que seja necessária. O computador proporciona ações

abstratas”(NORMAN. 2008, p. 103),

entretanto, o verdadeiro prazer da interação é “tocar,

sentir e mover objetos físicos e reais” (NORMAN. 2008, p. 103).

Os livros, por serem objetos tridimensionais, proporcionam

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sensações visuais, táteis, olfativas, auditivas e cinestésicas a

cada virada de página. “Estas sensações defi nem a qualidade

da interação entre o leitor e o objeto” (FONTOURA. 2007, p

18). Quando o livro é consumido,

alguns fatores interferem neste processo, entre eles: o peso do livro, o seu formato e dimensão (tamanho), o tipo de encadernação, o tipo de papel utilizado (gramatura, cor e textura), a relação dimensional entre a man-cha gráfi ca e o tamanho da folha, os bran-cos deixados na página (margens, aberturas, etc.), a tipografi a utilizada no texto, nos tí-tulos, subtítulos e notas (tipo, corpo, entreli-nha , alinhamentos e comprimento da linha) abertura de capítulos e o uso de ilustrações (FONTOURA. 2007, p 18).

O fator principal que defi nirá a experiência do leitor é

a “qualidade literária do texto mas, certamente, os aspectos

visuais e gráfi cos contribuem de forma signifi cativa na melho-

ria desta relação” (FONTOURA. 2007, p 18).

Samir Machado(2009) em seu artigo Se hay e-readers,

soy contra (In: MACHADO, 2009), comenta como a memória

dos livros que leu está ligada ao objeto que apresentava essas

histórias. Ao se lembrar de um volume, recordava também do

lugar onde havia lido, como estava emocionalmente naquele

momento, qual era a forma do exemplar, o tipo de papel, o

peso, o cheiro, as cores. Todos esses elementos, comenta ele,

“formam uma imagem simbólica daquela leitura na minha

cabeça”(MACHADO, 2009).

Ele ainda discorre sobre outro detalhe inerente ao livro:

as folhas. A sensação de progressão na leitura é sentida pela

constatação da quantidade de páginas que já foram lidas e

das que ainda faltam ler. Essa percepção é dada pelo número

de páginas que aumentam à esquerda e, consequentemente,

diminuem à direita, transmitindo uma resposta visual e esti-

mulante do avanço do livro.

Para Machado(2009), da mesma forma que as pessoas

ainda vão ao cinema, podendo ver os mesmos fi lmes em casa,

as pessoas seguirão lendo livros de papel, mesmo podendo

vê-los virtualmente, pois a relação que se estabelece ao

entrar em contato com o livro-objeto é diferenciada e mais

prazerosa.

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2.7 DESIGNERS CAPISTAS

Para esta pesquisa foram entrevistados dois designers que

trabalham com capas de livros, o primeiro deles foi Odyr

Bernardy(Figura 28, 29 e 30) e o segundo Mariana Newlands

(Figura 31, 32, 33 e 34). Bernardy é autoditada, entrou no ramo

editorial por acaso. Sempre gostou de desenhar e acabou tra-

balhando em jornais e revistas. Após um tempo surgiu a opor-

tunidade de trabalhar com livros, o que lhe pareceu uma boa

idéia.

Newlands se formou em Desenho Industrial na PUC-Rio

e Graphic Design/Computer Graphics na Parsons School of

Design (NYC). Possui, também, Mestrado em Literatura na

PUC-Rio. Em 2001 ela resolveu abandonar os empregos fi xos

e passou a trabalhar como free-lance para a maioria das edi-

toras brasileiras.

Bernardy foi convidado para fazer parte do departa-

mento de arte da Editora Desiderata. Ele criou tudo, desde o

zero, fez o logotipo da editora e todos os livros que chegaram

Figura 31 - Capa e miolo do livro Urubu, de Henfi l. Projetado por Odyr Bernardi.Fonte: Nativu Design

Figura 30 - Capa e lombada do livro Millôr - Novas Fábulas & contos Fabulosos. Projetado por Odyr Bernardi. Fonte: Nativu Design

Figura 29 - Capa e folha de rosto do livro Caraíba, de Flávio Colin. Projetado por Odyr Bernardi. Fonte: Nativu Design

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lá. Trabalhou por dois anos até que a mesma foi comprada

pela Ediouro. Nesse momento achou melhor se demitir, uma

vez que preferia atuar em uma editora pequena, onde podia

dedicar mais tempo ao trabalho e ter maior liberdade de

criação. Ainda hoje trabalha como free-lance para a Ediouro,

mas recebe apenas trabalhos que tem mais a ver com seu

estilo. Citou vários exemplos de livros mais gráfi cos, oriundos

de ilustradores, onde ele trabalhou a capa e o miolo, sempre

buscando estabelecer uma relação entre ambos.

Normalmente as editoras não têm um departamento de

arte; o mais comum é elas terceirizarem o design. É assim que

trabalha Newlands; ela enviou seu currículo para diversas edi-

toras brasileiras e hoje trabalha para a maioria delas. Quando

a editora recebe um livro para publicação, ela já idealiza o que

quer e seleciona o designer que melhor se adapta a esse perfi l

. Newlands não trabalha com livros técnicos, didáticos ou de

auto-ajuda; faz apenas livros de fi cção e não fi cção - roman-

ces, contos, arte, biografi a, história, ensaios e poesia.

Dependendo da editora, o designer pode receber somente

a resenha do livro, ou o texto das orelhas, ou o miolo em pdf

já diagramado,ou, às vezes, até o livro que foi publicado em

Figura 32 - Contracapa, lombada e capa do livro Eu sou o Mensageiro, de Markus Zusak. Projetado por Mariana Newlands, 2007. Fonte: http://www.interludio.net/

Figura 33 - Capa do livro A Medida do Mundo, de Daniel Kehlmann. Projetado por Mariana Newlands, 2007. Fonte: http://www.interludio.net/

Figura 35 - Capa e contracapa do livro Poesia Matemática, de Millôr. Projeto gráfi co e ilustra-ções de Mariana Newlands, 2007. Fonte: http://www.interludio.net/

Figura 34 - Capas da nova edição da obra de João Cabral de Melo Neto. Projetado por Mariana Newlands. Fonte: http://www.interludio.net/

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outro país, quando é o caso de traduções, mas isso é muito

relativo. Bernardy afi rma que sempre gosta de ler o livro até

formar uma idéia mental deste e é a partir dessa primeira

impressão que irá trabalhar no layout. Revela ainda que não

gosta de trabalhar em mais de um livro ao mesmo tempo, jus-

tamente para não perder essa primeira impressão. Newlands,

por sua vez, além do material recebido, faz uma vasta pesqui-

sa na internet sobre o autor, a história em questão e absorve

tudo que é possível sobre o volume que irá desenhar; depois

deixa as idéias “decantarem” e vai para o Photoshop.

Newlands afi rma que nunca faz o design da capa rela-

cionado com o miolo quando recebe este pronto, pois muitas

vezes é o layout padrão da editora, sendo assim não está rela-

cionado com a história em si. Algumas vezes já confeccionou

livros que buscavam essa relação, mas isso só acontece em

casos especiais.

Newlands normalmente busca em bancos de imagens,

material para utilizar em suas capas e algumas vezes ela

mesma as cria. Bernardy gosta muito de buscar no Flickr

imagens, fotografi as e até mesmo fotógrafos, com os quais

muitas vezes conversa sobre os livros que está projetando, a

fi m de verifi car se os mesmos possuem alguma imagem que

talvez possa ser utilizada. Os dois designers comentam que é

muito raro encomendar fotografi as específi cas para a capa de

um livro.

Bernardy sublinha que o fotógrafo que cede a foto para

a capa deve estar ciente que ela irá sofrer alterações para se

ajustar melhor a esse propósito, podendo o corte da imagem

ser outro, algum elemento ser apagado ou acrescentado,

entre outras modifi cações que venham a ser necessárias, pois

para o designer é importante ter essa liberdade para criar um

trabalho mais interessante.

Para fi nalizar, Bernardy conta que o que mais o fascina

em trabalhar com livros é que o seu trabalho irá embelezar

um objeto. Ao contrário da publicidade que pode enganar as

pessoas, o design dos livros pode conquistá-las, transforman-

do uma experiência simples de leitura em admiração; portan-

to, o designer está criando um objeto de desejo.

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texto branco

O LIVRO COMO OBJETO

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3.1 PLANTANDO A SEMENTINHA

Se fosse feito um interrogatório para todas as pessoas do

mundo sobre a opinião delas sobre os livros, as respostas

seriam as mais variadas, pois existiriam desde aqueles que

os amam até outros que os odeiam. Muitas crianças foram

obrigadas a ler textos desinteressantes, às vezes até como

castigo, e isso pode acabar gerando um preconceito com

todos os outros livros que têm muito a oferecer.

Munari (1998, p. 221-231) em seu livro Das coisas

nascem coisas, sugere um tipo de livro especial para crianças

com idade em torno de três anos, pois segundo Piaget (apud

MUNARI. 1997, p. 223) é nessa etapa da vida que se forma a

inteligência. Seu livro seria uma coleção onde cada exemplar

seria feito de material diferente, assim cada um apresentaria

sensações ímpares, tanto no tato, quanto na audição, no olfato

e na visão. A criança que os manejasse entraria em contato

com tudo isso e assemelharia a idéia de “livro” com a de uma

experiência nova e surpreendente a cada página.

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Hoje em dia percebe-se

uma atenção especial dedicada

ao setor infantil, justamente para

conquistar esses pequenos leito-

res da era digital. Nas entrevistas

da Feira do Livro de Pelotas uma

senhora de 92 anos, durante a

entrevista, mostrou-se impressio-

nada com a quantidade de crian-

ças escolhendo livros e sabendo

o que queriam; ela também

acha importante que os pais as

estavam acompanhando, e, às

vezes, mesmo sem muitas condi-

ções, davam os livros para seus

fi lhos. O resultado dessa estraté-

gia encantadora para despertar o interesse das crianças pela

leitura através dos livros infantis, ainda é desconhecida em

termo de futuros leitores adultos. Por hora, é melhor voltar ao

foco da presente pesquisa que são os adultos, ou seja, os pais,

tios, avós e irmãos mais velhos desses pequenos.

3.2 O PORQUÊ DA LEITURA

“Lemos porque só assim o texto alcança uma existência comunicante e signifi cativa.”

Cândido Oliveira Martins

Depois que se aprende a decodifi car aqueles sinais que signi-

fi cam um som e formam palavras, surge logo a vontade de se

absorver tudo o que está ao redor, assim começa a tentativa

de leitura do que diz no ônibus, na revista, na placa, até o

momento da automação, onde se passa a decodifi cação de

todos os códigos alfabéticos automaticamente; é como se o

olho buscasse palavras, numa ânsia de saber cada vez mais.

Figura 36 - Menina escolhendo um livro na Feira do Livro de Pelotas, novembro de 2009. Foto de Rafaela Valente.

Figura 37 - “Os círculos signifi cam fi xações, onde o olho realiza uma pausa e observa nitidamente. As linhas retas indicam as paradas (saltos do olho feitos adiante), as curvas as paradas regressivas (saltos feitos para trás).” (BUGGY, 2007, p. 99) Na parte de baixo ressalta a silhueta de uma palavra escrita em caixa-alta e, outra, em caixa-baixa. Como a silhueta da letra minúscula difere-se entre si, sua leitura é mais rápida.

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Leitura segundo Paul Valéry (1871-1945) é

um movimento regular, que se comunica e prossegue de palavra em palavra ao longo de uma linha, renasce na linha seguinte depois de um salto que não conta, e provoca em seu desenrolar uma quantidade de reações men-tais sucessivas, cujo efeito comum é destruir a cada instante a percepção visual dos sig-nos, substituindo-a por lembranças e combi-nações de lembranças. (VALÉRY, 1926)

Manguel (1997, p. 340) sublinha que lemos pelo prazer

da leitura, e não apenas por decodifi car aqueles sinais, bus-

camos seus signifi cados e suas essências e a leitura é o

meio de consegui-lo. Atualmente há vários tipos de leitores,

que leem por diferentes motivos, por exemplo, alguns leem

quando esperam: seja na parada do ônibus, na fi la do banco,

no serviço quando não há tarefas a realizar; resumindo, para

fazer o tempo passar mais depressa; outros leem por obriga-

ção, para passar na prova ou para aprender a alguma coisa

nova da profi ssão e ainda têm aqueles que o fazem para viajar

sem sair do lugar, para se envolver numa outra história, co-

nhecer novas “pessoas”.

Lucia Santaella identifi ca três tipos de leitores através dos

tipos de “habilidades sensoriais, perceptivas e cognitivas que

estão envolvidas nos processos e no ato de ler” (SANTAELLA,

2005, p. 10). Essas maneiras distintas de ler surgem no de-

correr da história junto com as tecnologias que infl uenciam o

comportamento do homem. Apesar de cada tipo aparecer em

períodos seqüenciais, Santaella adverte que o surgimento de

um não implica o desaparecimento do outro. “Ao contrário,

não parece haver nada mais cumulativo do que as conquis-

tas da cultura humana”(SANTAELLA, 2004, p. 11), assim, no

mundo contemporâneo podemos encontrar leitores contem-

plativos, moventes e imersivos.

O leitor contemplativo ou mediativo surge no

Renascimento e se mantém até o início do século XIX. O que

caracteriza essa era é a imagem fi xa, o livro impresso. O leitor

tem o tempo ao seu lado, podendo usufruir da obra o quanto

e quando quiser. Ele a revisita sempre que tiver vontade,

seja, buscando-a em sua estante, que está ao alcance de sua

mão ou voltando-se à parede cujo quadro que desejava está

exposto. Ele sabe que vai estar ali, disponível, para sempre e

se deleita o quanto e quando quiser.

O leitor movente ou fragmentado nasce nos centros

urbanos, na popularização do jornal e de outros signos da

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cidade. Este protagonista está sempre apressado, o tempo é

curto e para ele as coisas são efêmeras, assim surge a neces-

sidade de possuir uma “memória curta, mas ágil. É um leitor

que precisa esquecer o que leu ou viu, pelo excesso de estí-

mulos, e pela falta de tempo para absorver tudo que o rodeia.

Um leitor de fragmentos, leitor de tiras de jornal e fatias de

realidade” (SANTAELLA, 2004, p. 10). A cidade é tomada por

sinais que precisam ser identifi cados em alta velocidade, “O

leitor do livro, leitor sem urgências, é substituído pelo leitor

movente. Leitor de formas, (…) direções, traços, cores, leitor

de luzes que se acendem e se apagam” (SANTAELLA, 2004,

p. 10).

Por fi m, o leitor imersivo seria o leitor virtual, ele não

esbarra mais nas informações, ele as busca numa rede com

diversas opções, a partir de um toque ou de um clique, não

se atendo mais a seguir sequencialmente as páginas, mas

criando novas sequências. Está consciente de que em cada nó

dessa teia podem surgir diversas informações ou até mesmo

podem ser construídas outras. É possível, inclusive, encon-

trar-se facilmente pessoas para discutir sobre um determina-

do assunto, ou até entrar-se em contato prontamente com o

autor da história. Este leitor pode até revisitar o lugar onde já

esteve, como fazia o leitor contemplativo, entretanto ele deve

saber qual o caminho que o levou a esse lugar na primeira

vez, para poder reencontrá-lo.

Atualmente esses três tipos de leitores convivem até

mesmo dentro de uma mesma pessoa, porquanto se sabe que

o ser humano tem a capacidade de adaptar-se a situações

novas e para cada ocasião, elege um comportamento. Renato

Ortiz, em Cultura e Modernidade, comenta que no século XIX,

na França, com a modernização as pessoas já não tinham

tanto tempo para apreciar as coisas belas da vida. Nos dias

atuais o tempo parece passar ainda mais rápido, entretan-

to as pessoas estão aprendendo que elas precisam parar um

pouco e descansar dessa dinamicidade que as rodeia e uma

boa maneira de fazer isso é escolher um bom livro e se esque-

cer do mundo real.

3.3 O LEITOR POSSESSIVO

Muitas pessoas sentem necessidade de possuir o livro que

leem, não se contentando em consegui-lo emprestado,

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absorver seu conteúdo e devolvê-lo. Alberto Manguel (1997)

discorre sobre esse sentimento em alguns capítulos de seu

livro Uma História da Leitura, onde diz que parece que o ser

humano sente a necessidade de expor os seus livros lidos,

para afi rmar seu conhecimento e para servir de apoio a sua

memória.

Antigamente os livros eram artesanais, ou seja, nenhum

livro era igual ao outro. Com a industrialização, Manguel (1997)

afi rma que existe no homem uma necessidade de diferen-

ciar aquele livro que passou pelas mãos do demais. Por esse

motivo, muitas pessoas escrevem nos cantos das páginas,

marcando passagens que chamaram sua atenção, imprimindo

assim sua presença por onde seus olhos passaram. A relação

de cada indivíduo com seu exem-

plar é diferente. Alguns riscam e

rabiscam, conversando com o que

o autor está dizendo; outros fazem

marcas discretas, em lugares que

só eles sabem; têm aqueles que

elevam o objeto num pedestal, não

ousam interferir naquela página bem concebida, limitando-

se no máximo, a colarem um post-it com algum comentário;

outros, com uma postura mais indefi nida, sublinham com lápis,

na esperança de que (caso seja necessário), possam apagar

as marcas que ali deixara. (Já passei por essa experiência e

percebi que era uma bobagem apagar as marcas anteriores,

pois ao comprar um livro num sebo, todo marcado com lápis,

cansei de usar a borracha na 3ª página; por fi m, cansada, con-

tentei-me em usar uma caneta de outra cor, para diferenciar

as minhas impressões da leitura).

Manguel (1997) expõe que gosta de guardar seus livros

para se lembrar do leitor que já foi, recordar daquela tarde

que deixou uma mancha de café bem no meio da página do

livro, enfi m, cada marca lembrar-lhe-á uma história. Nas en-

trevistas feitas na Feira do Livro uma senhora, pós-graduada,

com mais de 40 anos, confessou: “Tem vários livros que eu

já comprei várias vezes na minha vida, porque são marcos

históricos na minha vida”. Na verdade, percebe-se que muitas

pessoas se apegam aos objetos por causa das lembranças

que estas trazem. Donald A. Norman (2008), no seu livro

Figura 38 - Pessoa abraçando uma pilha de livros.

Fonte: Ursula Klawitter/Corbis

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Design Emocional, ensina que todos nossos objetos preferidos

lembram uma história, uma época, um alguém…, e que é jus-

tamente por isso que se tornam especiais e únicos.

Quem foi que não passou pela experiência de ler um livro

emprestado e não querer mais devolvê-lo? Quando se lê um

livro, com este se estabelece uma relação muito forte, princi-

palmente se a leitura é prazerosa e envolvente. Manguel(1997)

comenta que quando a história termina, às vezes instala-se em

nossa mente um choque de emoções e sentimentos contradi-

tórios, pois ao mesmo tempo em que se fi ca feliz em saber o

fi nal da história, surge um vazio e uma tristeza por não haver

mais necessidade de se entrar em contato com aqueles per-

sonagens, deixando-nos a mesma sensação de vazio que sen-

timos quando o nosso melhor amigo vai viajar e talvez não

volte mais. Quando, no entanto, o livro está ali na estante,

ao alcance das mãos do leitor, bastando apenas um esticar

de braço para segurá-lo e lê-lo novamente, é como se fosse

possível visitá-lo a qualquer momento e dessa forma sentir e

saber que a distância não é tão longa e a saudade não é tão

grande. Se ele nunca mais for folhado, será por falta de tempo

ou perda de interesse, mas jamais pela ausência do objeto.

Amaury Fernandes (2001, p. 3-4) lamenta que com o ca-

pitalismo todas as expressões artísticas tornaram-se objetos

de consumo: a música, a arte, o teatro, o cinema, a literatura...

o que não pode ser considerado errado, pois todos os artistas

precisam sobreviver; no entanto o que ele enxerga como um

problema é o pensamento que afl ora em muitas pessoas que

passam a ter como objetivo principal o fato de possuir aquele

objeto, ou seja, a prioridade passa a ser o sentimento de posse,

negligenciando a experiência que poderia ser adquirida com

aquela obra de arte, e que deveria ser o objetivo maior.

Como o livro é um objeto que suscita intelectualidade,

muitas vezes os decoradores o utilizam para sugerir “cultura”

em um ambiente. Não são poucas as histórias de profi ssionais

que compram coleções de livros só para enfeitar o escritório,

sem intenção nenhuma de realmente lê-los, ou sequer folhá-

los. Também existe o caso dos compradores compulsivos de

livros, que se encantam com o objeto, e não resistem à tenta-

ção de chamá-lo de seu. O problema, para esse tipo de con-

sumidor, é o tempo, que nem sempre está a favor de tantas

leituras. Hoje em dia, a oferta de livros é tão grande, que seria

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impossível ler todos. A pessoa se vê pressionada a escolher

um de cada vez e sempre espera ter feito a melhor escolha.

A capa deve servir para atrair o leitor, da mesma forma

que a fl or, com seu perfume, atrai a abelha que irá espalhar

seu pólen. Ela deve mostrar, da maneira mais interessante, as

palavras do autor, para que aquele público que se identifi que

com ela, tendo a percepção do conteúdo da obra, sentindo-se

assim atraído e convidado a participar daquela história.

3.4 COMPORTAMENTOS QUE O LIVRO IMPÕE

O design do livro tem infl uência no tratamento que a pessoa

irá dar a esse objeto adquirido. Se for um livro muito grande,

de capa dura, com um design bem elaborado, provavelmen-

te ela irá comprá-lo para enfeitar a sua estante, pois que se

torna difícil imaginar alguém levando esse tipo de livro para

a cama e lendo-o antes de dormir, ou ainda, lendo-o sentado

uma vez que este é muito pesado para fi car no colo; já se o

livro for manuseável, mas com um papel melhor e páginas

bonitas, o leitor vai talvez refl etir, inclusive, sobre com qual

caneta irá marcá-lo e, talvez até compre um marca-texto que

combine com o resto da diagramação; por outro lado, se o

volume for confeccionado em papel comum, impresso em

preto, não haverá uma preocupação maior em como marcá-lo,

podendo correr o risco de que utilize primeiro material dispo-

nível à sua frente que sirva para ressaltar o que lhe chamou a

atenção. Um livro mais caro, encadernado à altura, provavel-

mente será lido dentro do lar, da biblioteca, estando a salvo

das intempéries da rua; já uma brochura barata, um pocket

book, pode ter seus cantos amassados por ser carregado em

uma bolsa, junto com todos os apetrechos do mundo femini-

no, por exemplo.

Com a popularização dos livros para viagem, o local em

que o livro seria lido diferenciou ainda mais a produção dos

mesmos. Aqueles que eram projetados para serem lidos em

qualquer lugar deveriam ter como primeiro pré-requisito a fa-

cilidade de transporte, para que o usuário pudesse carregá-

los para onde quer que fosse e, por este motivo, deveriam

ser leves, pequenos e baratos. Os livros de viagem têm uma

aura de material descartável; eles são comprados juntamen-

te com os biscoitos, para serem igualmente consumidos no

caminho. Em alguns lugares do mundo é comum que esses

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entretenimentos de viagem sejam abandonados nos bancos

do metrô quando sua leitura acaba.

3.5 A MANEIRA DE PERCEBER AS COISAS

Norman (2008), em seu livro Design Emocional, apresenta os

resultados de uma pesquisa feita na década de 1990 por dois

pesquisadores japoneses, Masaaki Kurosu e Karori Kashimura,

e nela comprovam que objetos atraentes funcionam melhor.

Eles haviam estudado diferentes layouts dos painéis de controle de caixas eletrônicos de banco, sendo que todas as versões de caixa eletrônico eram idênticas em função, no nú-mero de botões, e na maneira como opera-vam. Algumas porém, tinham botões e telas dispostos de maneira atraente, outras não atraentes. Surpresa! Os japoneses descobri-ram que, na opinião dos usuários, as atra-entes eram consideradas mais fáceis de usar. (NORMAN, 2009, p. 37, grifo meu)

Diante de coisas bonitas as pessoas tendem a se sentir

melhores e assim pensam de maneira mais criativa. Se algo

dá errado, olham para o entorno e procuram soluções alterna-

tivas, já se a pessoa está tensa ou irritada, costuma repetir a

ação errada, conduzindo ao fracasso e a uma irritação ainda

maior. Emoções negativas também ajudam a cumprir algumas

tarefas, por exemplo, quando temos pouco prazo para realizar

um trabalho, a tensão e ansiedade aumentam a capacidade

de focalizar a atenção naquilo que deve ser feito.

Ao contrário do que sempre se ouviu falar, que uma

pessoal é racional ou é emocional, essas duas maneiras de

pensar fundem-se em nosso cérebro e uma não trabalha sem

a outra. Norman (2008) identifi ca três níveis de atuação sobre

o emocional: o nível visceral, o comportamental e o refl exi-

vo. “Esses três níveis operam entrelaçados e são identifi ca-

dos na nossa reação aos objetos, podendo ‘ser mapeados em

termos de características de produto’, como sugere Norman”

(DAMAZIO, Vera; MONT’AVÃO, Cláudia. Apud NORMAN. 2008,

p. 14).

O nível visceral é o da resposta imediata, é ele que julga

os valores, analisa se a situação é boa ou ruim, se é perigosa

e se o corpo deve se manter alerta ou se pode relaxar e apro-

veitar porque não têm ameaças no entorno. O nível visceral

sente as coisas e o refl exivo as processa e as explica. No caso

do objeto livro, o nível visceral é estimulado no momento em

que a pessoa olha a capa do volume; nesse primeiro momento

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que ela vai decidir se gostou ou não e se o conteúdo interno

pode vir a ser interessante.

Uma pessoa que não tem emoções, como as do estudo

do neurocientista Antonio Damasio (NORMAN. 2008, p 32), é

incapaz de tomar certas decisões que só dependem de sua

vontade; por exemplo, se prefere ir ao cinema na terça ou na

segunda-feira, pois nesse caso nenhuma resposta é melhor

que a outra, não existe lógica para afi rmar que a terça seria

melhor que a segunda. O visceral também envia sinais para o

nível comportamental. Assim, não é a toa que nossa conduta

muda quando estamos nervosos ou ansiosos, pois todo nosso

corpo responde aos impulsos do emocional.

Segundo Norman (2009, p 43), o nível comportamental

não é consciente, por isso podemos conversar ou ouvir música

enquanto dirigimos ou andamos de bicicleta, por exemplo.

Como ele não é percebido conscientemente pelo indivíduo,

muitos não reparam nem que estão folhando a página ao

lerem o livro, seu foco principal está na história, mas o tato, o

virar das páginas infl uencia na sua percepção. Por exemplo, os

livros para as crianças e adolescentes não possuem um corpo

de letra maior do que para os adultos por serem destinada a

leitores iniciantes e sim para ter menos texto em cada página,

fazendo-os folhearem as páginas mais seguido e, consequen-

temente, dando ao leitor a sensação de estar “devorando”

o livro. Dessa forma, este não fi cará entediado pela falta de

movimento.

Muitos músicos mantêm conversas enquanto tocam, pois

seus dedos agem automaticamente e quando se perdem na

melodia, precisam ouvir a si mesmos tocando “para descobrir

em que trecho estão, ou seja, o nível refl exivo foi perdido, mas

o comportamental funcionou muito bem” (NORMAN. 2008, p.

43).

O nível refl exivo está intrinsecamente ligado aos valores

culturais, à vivência de cada um e suas lembranças. São res-

postas às convenções aprendidas na sociedade em que se

vive; a essência do nível refl exivo “está na mente do observa-

dor” (NORMAN, 2008, p. 111). Ele também está muito ligado

à auto-imagem. Os objetos que são escolhidos por alguém

dizem muito sobre essa pessoa. Portanto se suas preferên-

cias de consumo são um relógio caro ou uma bolsa artesa-

nal ou, ainda, se não compra produtos testados em animais

etc, isto tudo irá defi nir sua forma de ser e ver o mundo.

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Consequentemente estará demonstrando seus conceitos e se

inserindo num determinado grupo que também prefere essas

opções. Essas são decisões refl exivas e formam uma auto-

imagem.

Dentro do mundo editorial, o nível refl exivo atua obvia-

mente quando se medita sobre o que se leu, mas não e só aí

que este se manifesta. Está presente também quando se lê

um volume porque todo mundo está lendo, quando se compra

um belo livro para exibir na estante, ou quando prefere-se

esconder o livro a fi m de evitar algumas interpretações a res-

peito de sua personalidade.

Algumas vezes, um nível desafi a o outro. Norman dá

o exemplo da montanha-russa, onde ao olhar o brinquedo o

nível visceral sente medo e alerta o cérebro que não é um

bom local para se ir, mas o refl exivo manda sinais afi rman-

do que não tem perigo, que tudo está sob controle, que não

passa de uma brincadeira.

De acordo com a história evolucionária do ser humano,

já nascemos pré-dispostos a gostar ou não de uma série de

coisas e isso nos ajudou a sobrevivermos. “A vantagem que

seres humanos têm sobre os animais é nosso poderoso nível

refl exivo que nos permite superar os ditames do nível visceral,

puramente biológico” (NORMAN. 2008, p. 51). Por exemplo,

nascemos pré-dispostos a gostar de sabores e cheiros doces,

objetos arredondas e lisos e pessoas atraentes, da mesma

forma que não seríamos atraídos por sabores amargos, objetos

pontiagudos e sons estridentes abruptos. Essas característi-

cas ajudaram na sobrevivência humana e estão localizadas no

sensor visceral, mas o ser humano não é tão simples assim,

podemos aprender a gostar de sabores amargos e objetos

pontiagudos e ainda achar beleza em coisas feias. “A atrativi-

dade é um fenômeno de nível visceral (…) a beleza examina

por baixo da superfície, (…) ela é infl uenciada pelo conheci-

mento, pelo aprendizado e pela cultura” (NORMAN. 2008, p.

111). A aceitação de um objeto envolve vários fatores, e às

vezes, “as defi ciências de um aspecto podem ser superadas

pelos pontos fortes de outro” (NORMAN. 2008, p. 111).

A missão impossível no mundo do design seria proje-

tar algo que agradasse o mundo todo. O ser humano é muito

complexo e uma pessoa é diferente da outra e, para compli-

car mais ainda a vida dos designers, a mesma pessoa pode

se comportar de forma diferente dependendo do momento

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em que vive, por exemplo, se estiver feliz irá preferir A, caso

contrário odiará A e amará B. O profi ssional criador de objetos

tem que aprender a lidar com isso e é por essa razão que hoje

em dia os produtos são projetados para serem direcionados

a determinado um grupo de pessoas em vez de abranger um

público geral, já que “a aceitação de uma pessoa é a rejeição

de outra” (NORMAN. 2008, p 53).

3.6 O QUE AS PESSOAS PENSAM NA HORA DE ESCOLHER UM LIVRO

No segundo dia da 37ª Feira do Livro da cidade de Pelotas/RS,

em 1° de novembro de 2009, foram realizadas 40 entrevistas

com homens e mulheres com faixa etária entre 17 e 92 anos.

Os entrevistados possuíam escolaridade variada, desde ensino

médio incompleto até pós-graduação. O objetivo da entrevista

era levantar dados sobre o que levava os leitores a adquirirem

um exemplar, quais os ícones do livro que serviam de estímulo

à aquisição de uma e não de outra história.

Como já era esperado, as respostas foram bem variadas

tanto para aqueles que leem muito quanto para os que não

tem tanto interesse em abstrair em uma leitura. Dos 40 en-

trevistados, uma senhora alegou que seu tempo de leitura já

havia passado, seus olhos já não a ajudavam mais a ler. Além

das respostas dessa senhora, as de uma adolescente também

foi desconsiderada para este levantamento de dados, pois ela

alegou não gostar de ler. Dos que responderam a maioria das

perguntas, 13 liam até 3 livros por ano, 26 consumiam mais de

3 livros por ano e alguns chegavam a ler de 1 a 2 exemplares

por mês. Para facilitar a diferenciação dos grupos chamarei de

grupo A os que liam pouco, e grupo B os que liam mais de 3

livros por ano.

Para as pessoas que liam pouco, o que mais chamaria

a atenção na hora de escolher um livro seria o título (58,3%)

Figura 39 - Pessoas escolhendo livros na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2009. Imagem retirada do projeto “Expressões literárias”. Fonte: http://www.fl ickr.com/felipeagne

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e levariam em conta ainda alguma indicação de amigo ou da

mídia (33,3%); já para aqueles que estão mais acostumados a

ler, o mais importante é o assunto do livro, sobre o que ele fala

(44%) e, além disso, consideram que a indicação da leitura

também aumenta a segurança no momento da escolha (28%)

assim como também é um fator decisivo o autor que escreve

a obra (28%). Percebeu-se, que para alguns entrevistados,

outros fatores preliminares á aquisição do livro são conside-

rados, como o tipo de papel, o índice da obra, a resenha que

consta no próprio livro ou em outros meios (revistas, inter-

net) e, ainda, o tipo de linguagem que o texto oferece. Várias

pessoas responderam mais de um item, ressaltando a impor-

tância do conjunto da obra.

Dos dois grupos destacados, apenas 16% de cada um

respondeu espontaneamente que a capa era um fator impor-

tante na sua opção. A maior parte dos entrevistados confun-

dia a capa em seu todo com o título, pois o signifi cado deste

tem um peso tão grande para as pessoas que elas não se

davam conta de que a maneira que ele possa ser apresen-

tado teria infl uência em sua percepção. Para elas o título diz

mais sobre a obra do que a capa. Durante a conversa elas

58,3%

33,3% 28%

16%16% 44% 28%

título

indicação

autor

capa

assunto

O que chama mais a atenção na horade escolher um livro?

Figura 40 - Ilustração das respostas mais respondidas na entrevista.

Leem menos de 3 livros por ano (13 pessoas)Leem mais de 3 livros por ano (26 pessoas)

Já comprou por causa da capa?

25%51%

SimJamais

36%51%

ninguém compra livro só por causa da capa

Observa a parte de dentro antes de comprar o livro?

66,6%8,3%70%10%

SimNão

Ver conteúdoVer design

52%36%53%53%

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no grupo B 53% para ver o design e igualmente 53% para

ver a história. Algumas pessoas observavam os dois quesitos,

outras se informavam sobre a história na contracapa e dentro

observavam a entrelinha, o tamanho da letra, etc, pensando

no futuro exercício da leitura e buscando ver a qualidade do

material que iriam adquirir.

Em várias questões houve opiniões muito divergentes,

por exemplo, enquanto uma pessoa reclamava dos livros com

letras grandes porque aumentava o número de páginas e

o preço do livro, outros não se importavam, porque iam ter

menos problemas de visão durante a leitura. Enquanto uma

dizia que tinha que olhar dentro porque já tinha mais de 50

anos, e sua visão não era tão boa, outra senhora brincava

dizendo: “Eu gosto de desafi os.”

Hoje em dia as pessoas estão tão acostumadas a serem

cercadas por objetos bonitos e feitos “especialmente” para

elas por bons designers, que fi ca difícil um ou outro se des-

tacar no meio de tantos. No cenário editorial, muitas vezes

o preço alto de um exemplar não permite que o indivíduo o

escolha entre outros, mesmo este sendo mais agradável este-

ticamente. Obviamente o conteúdo do livro é mais importante

admitiam, salvo algumas exceções, que seria a capa que as

levava ao livro, mas se o assunto não interessasse, elas não

comprariam apenas porque a capa as encantou.

Ao serem interrogadas se já haviam sido levadas a

comprar um livro por causa de sua capa, 25% do grupo A e

36% do grupo B respondeu que pelo menos uma vez a capa

teve grande infl uência em sua decisão de compra. Um pouco

mais da metade de cada grupo afi rmou que jamais havia com-

prado um volume por sua capa, ou pelo menos que esta não

foi tão relevante a ponto de fazer parte de sua memória. Uma

coisa que se notou na maneira das pessoas responderem é

que existe certo preconceito quanto a julgar um livro pela

capa. Elas insistiam em frisar que só se interessavam pelo

conteúdo, como se tivessem medo de parecerem supérfl uas

ao admitirem que também apreciavam uma boa capa.

Além disso, foi foco da pesquisa saber se antes de ad-

quirirem um exemplar, a parte de dentro do livro era obser-

vada. Para essa questão 66,6% do grupo A disse que sim e

8,3% pronunciou que não; sendo que no grupo B, 52% deu

resposta positiva e 36% negativa. No grupo A a maioria das

pessoas olhava dentro para ler apenas um pedaço da história,

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que sua diagramação e, se este for realmente interessante

para seu leitor, ele irá consumi-lo independente de ser uma

leitura de difícil visualização.

Apesar de poucos leitores repararem na diagramação

interna na hora da compra, esses detalhes que a compõe

merecem a atenção dos designers, pois mesmo sem ser

notada, intrinsecamente, esta auxilia na experiência da leitura.

Ademais está provado por pesquisas que os seres humanos

preferem adquirir coisas bonitas, como foi comentado ante-

riormente, no item 3.5 A maneira de perceber as coisas.

Se a pessoa tem vontade de ler, ela não precisa ser esti-

mulada por capas e entrelinhas generosas. Entretanto, quando

se está em dúvida entre ver televisão ou ler um livro, se este

último não for atraente ─ se a capa estiver danifi cada ou mal

feita, se a letra for muito pesada... ─ a pessoa vai adiando a

leitura, e, mesmo que o texto seja envolvente, ele não é des-

coberto e o indivíduo acaba optando pela televisão.

4SEIS VISÕES DA MESMA HISTÓRIA

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João Baptista(Informação verbal11) discorre que um dos

motivos de ele gostar de fazer capas de livros é porque o

designer pode escolher uma entre diversas formas de apre-

sentar a mesma narrativa, dependendo do viés que o capista

preferir. A fi m de perceber essas diversas maneiras, decidiu-

se analisar diferentes capas de livro de uma mesma história.

Foi escolhido como objeto do presente estudo A menina que

roubava livros, de Markus Zusak, escolha essa que se deve

ao fato de diversas pessoas terem admitido que o que mais

as motivou a lerem essa história foi com certeza sua capa,

isto ocorrendo com relação à versão brasileira. Outro fator

que levou a esta seleção foi o fato de se tratar de um livro de

literatura adulta, que é o foco deste trabalho.

É curioso observar que apesar do sucesso que essa capa

fez, sua autora, Mariana Newlands, revela durante a entrevista

11 Entrevista feita por Inimá Simões no Programa Sintonia, que foi ao ar no dia 20 de dezembro de 2009, na TV Cãmara Federal na TV a Cabo NET

que não sabe o porquê deste trabalho ter feito tanto sucesso.

Sobre o processo de criação da mesma ela diz:

Foi feito da mesma maneira que são feitos to-dos os livros, como contei, li o livro, pesqui-sei imagens, fi z 3 opções de capa e aquela foi a escolhida. Não sei dizer por que essa capa faz tanto sucesso, talvez por ser silenciosa em um universo de capas muito “barulhentas”, cheias de cores e apelos visuais. Gosto de ca-pas assim caladas, com bastante espaço visu-al para a imagem respirar com calma (muita área branca de neve) e apenas a sugestão de alguma coisa, e não a coisa em si oferecida

diretamente. (NEWLANDS, 200912)

Pesquisando na internet, descobriu-se muitas outras

capas desse mesmo livro, algumas eram bem diferentes das

demais já conhecidas pela pesquisadora, outras utilizavam

a mesma imagem e trocavam a tipografi a ou a posição dos

títulos ou, ainda, as cores, em alguns detalhes. É interes-

sante ver o que cada designer escolheu para representar o

livro: as diferentes imagens, a maneira de colocar as letras.

Todos introduzem bem a história e cada um enfatiza um lado

da mesma. Para realizar as análises, elegeu-se seis, dentre

as capas encontradas. Para quem está fazendo esta análise

12 Entrevista feita para esta monografi a, está em anexo no trabalho.

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neste momento, a que melhor traduziu visualmente o espírito

do livro é a capa brasileira, mas esta opinião pode ter sido

infl uenciada pelo fato da analista ter sido cativada pelo que

ela defi ne como paixão à primeira vista e pode afi rmar que foi

com a serenidade dessa capa que absorveu toda a história.

Dentro da esfera da análise foram desconsideradas as in-

fl uências culturais de cada país, apesar de se saber que estas

heranças têm infl uência no trabalho do designer, pois cada

vivência e cada lugar geram repertórios visuais e concepções

distintas. Hoje em dia, essa diferença é amenizada pela glo-

balização, entretanto ela ainda existe. Este assunto também

não foi abordado, pois requereria um trabalho mais aprofun-

dado que poderá ser objeto de outra pesquisa. O interesse

em utilizar um livro traduzido para vários idiomas é conseguir

interpretações que sejam frutos de uma mesma época.

Outro fator que não foi julgado é a tangibilidade dos

exemplares, pois reconhece-se que estes elementos que a

compõe são essênciais na experiência da leitura e na decisão

em prol da mesma, entretanto não foi possível obter um exem-

plar de cada país para que a análise do material pudesse ser

realizada, do acabamento, à contracapa, ao miolo do livro etc.

Sendo assim, a análise foi feita apenas visualmente com as

capas obtidas através de internet.

Neste livro, Markus Zusak(2005) conta a história de

uma menina chamada Liesel, que nasceu na Alemanha nazista.

Sua mãe, que era perseguida pelo governo, temendo a segu-

rança dos fi lhos, leva-os para morar na casa dos Huberman.

Nesse trajeto, seu irmão, ainda de colo, falece. Em sua nova

família, Liesel encontra um lugar repleto de amor e bondade,

principalmente naquele que viria a ser considerado seu pai, o

senhor Hans. A ligação entre eles e o cuidado que este tem

para com ela é algo muito bonito, que encanta a quem lê.

Hans ensina Liesel a ler, utilizando o primeiro livro roubado

pela menina: O Manual do Coveiro.

Quando a garota voltava do enterro de seu irmão en-

controu esse livro no chão e o surrupiou sem que ninguém

percebesse. Na rua Himmel, onde passou a ser seu novo lar,

conheceu seu melhor amigo: Rudy Steiner.

A história é narrada pela Morte e, apesar de ser uma

história triste, com momentos difíceis e acontecer em meio

à ascensão de Hitler, é contada com uma ternura impressio-

nante, cheia de metáforas poéticas belíssimas. A personagem

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Morte é retratada como um ser bondoso, que apenas faz seu

trabalho, não sendo responsável pelos acontecimentos; ela

simplesmente recolhe as almas e as leva para onde devem ir.

No site da editora Intrínseca, que publicou o livro no

Brasil, encontra-se uma sinopse bastante signifi cativa que,

mesmo tendo alguns fatos já comentados dentro desta pes-

quisa, julga-se interessante mostrá-la, por utilizar-se de outra

linguagem e mencionar outros detalhes:

A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendente-mente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que dei-xa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler.

Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na

biblioteca do prefeito da cidade.

A vida ao redor é a pseudo-realidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guer-ra. Ela assiste à eufórica celebração do ani-versário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confron-to entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto - e raro - de crítica e público. (ÍNTRINSECA)

4.1 CAPA 1

A primeira capa a ser analisada é a brasileira (Figura 41). A

capa é bem leve, as cores utilizadas são preto, vermelho e

branco. O branco é predominante, compondo uma paisagem

coberta de neve. Na parte superior esquerda tem a silhueta

em preto de uma árvore sem folhas. Na parte inferior uma

linha horizontal, levemente inclinada, que sublinha a capa, é

uma estrada cinza onde uma fi gura que poderia ser a morte

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caminha. Essa fi gura se encontra no canto inferior direito da

página; está de perfi l; ela é uma silhueta toda preta de alguém

que veste um vestido comprido, como a famosa roupa que

caracteriza a morte e segura um guarda-chuva vermelho. O

título do livro está todo em caixa-baixa, um pouco abaixo do

centro da capa e cada palavra tem um tamanho diferente. A

parte “a menina que roubava” se organiza de uma maneira

formando uma diagonal da árvore para a Morte. A palavra

“livros” é centralizada logo abaixo e está destacada através

do tamanho e da cor vermelha. O nome do autor está em

versalete, menor e mais acima do título. No canto superior

direito está o logotipo da editora, nas cores preta e vermelha,

combinando com o resto do layout.

A capa não mostra nenhuma cena da história em es-

pecial, entretanto transmite seu espírito, a delicadeza como

ela é contada. Ao mesmo tempo em que deixa transparecer

a atmosfera do livro, deixa o possível leitor curioso sobre a

história. É uma capa silenciosa, mas instigante.

Figura 41 - Capa brasileira do livro, projetada por Mariana Newlands.

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4.2 CAPA 2

The book Thief (Figura 42) traz uma imagem do famoso ˝efeito

dominó ,̋ onde as peças estão enfi leiradas e a primeira, ao

ser empurrada, derruba todas as outras. Essa imagem faz

referência a uma cena da história. Na casa de Rudy Steiner,

amigo da protagonista do livro, era comum brincarem desse

jogo. Um dia um soldado nazista foi na casa de Rudy para

convocá-lo a se integrar no exército de Hitler. Paralelamente

à conversa do soldado com seus pais, as crianças brincam de

dominó na outra sala e quando é descrito o estado emocional

de seus pais, que estão arrasados com a notícia da convoca-

ção de seu fi lho, o primeiro dominó é empurrado. A capa traz

tons envelhecidos, âmbar e preto, remetendo o leitor à idéia

de que a história se dá no passado. Percebe-se que o dedo

que está prestes a empurrar o primeiro dominó, é o de uma

pessoa adulta, talvez remetendo ao próprio Führer, podendo

ser quem desencadeia todos os horrores que aconteceram

nessa época. Outro elemento a ser destacado é a relação Figura 42 - Fonte: Internet

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visual dos dominós com o chão, pois os dominós são pretos

com bolinhas brancas e o piso o contrário.

O título está centralizado em cima da página, possuindo

uma tipografi a irregular e em caixa-alta; as letras são brancas

sobre fundo preto; a tipografi a possui um ruído na volta, que

dá um tom mais fantasmagórico ao título, lembrando que a

história é contada pela morte. O nome do autor vem logo

abaixo, levemente inclinado, saindo do eixo central, em caixa-

baixa e em vermelho. O desenho da letra lembra aquelas pro-

duzidas em máquina de escrever e também é irregular como

se fosse feita com um carimbo. Esta capa lembra parece dar

mais ênfase à guerra.

4.3 CAPA 3

Esta capa (Figura 43) traz explicitamente a alusão ao enve-

lhecido, o fundo da página, a tipografi a, a ilustração, enfi m,

todos os elementos remetem ao passado. A página simula

a textura e cores de uma folha que sentiu o tempo passar,

com manchas e tonalidades âmbar. O título do livro é escrito

numa tipografi a manuscrita, com falhas como se fosse escrita Figura 43 - Fonte: Internet

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sobre um papel áspero. Parece que foi a própria narradora

que escreveu o título depois de escrever a história. O nome do

autor vem no cabeçalho do livro em versais e na mesma cor

do título; vermelho-escuro, que pode remeter a sangue seco.

Com exceção do título, a tipografi a utilizada é romana clássi-

ca. A ilustração mostra uma menina dançando com a morte,

o que de certa maneira tem a ver com a história do livro, pois

Liesel é cercada pela morte do início ao fi m da narrativa, o

que não poderia ser diferente, dada a época e local em que a

estória se passa. A morte, ao narrar a história, afi rma ter um

encantamento especial pela menina, alguma coisa nela des-

pertou sua atenção. No desenho, a criança veste trajes mais

antigos, um vestido estampado, levemente rodado, que vai

até os joelhos; ela está com duas tranças no cabelo. As duas

estão descalças e dão a entender que estão se divertindo. A

morte vem representada como uma caveira, com seu capuz e

manto escuro. O estranho dessa capa é justamente essa apre-

sentação da fi gura da morte, pois tem uma passagem do livro

que ela se descreve afi rmando que usa as vestes pretas, mas

diz que seu rosto não é uma caveira e se o leitor quer mesmo

saber, o aconselha a procurar um espelho. Neste exemplar,

além do título e autor do livro, há a presença de uma propa-

ganda, que ressalta ser este o best-seller n° 1 internacional-

mente e acrescenta ainda um comentário a respeito do livro.

4.4 CAPA 4

A imagem de La Voulese de Livres (Figura 44) apresenta em

primeiro plano cortinas vermelhas, amarradas com um cordão

dourado e, em segundo plano, uma fotografi a em preto e

branco de uma menina deitada no chão, penteada com duas

tranças e lendo um livro. A impressão que pode passar é que

a capa está convidando o leitor a assistir aquela história, como

se fosse uma peça de teatro. Os tons das imagens remetem

a coisas envelhecidas, afi rmando que a narrativa acontece no

passado. O layout é simétrico. O título do livro aparece em

branco e itálico e acima deste pode-se ler o nome do autor em

amarelo ouro com tipografi a romana serifada. Logo abaixo do

título uma chamada da história. As informações textuais se

localizam na parte superior da composição, com exceção da

palavra pocket. Esta pode ser o nome da editora, ou talvez o

nome da coleção; lembra uma etiqueta que foi adicionada ali

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Figura 44 - Fonte: Internet

depois de o design estar pronto. Ela não dialoga com o resto

da composição, principalmente por causa da cor lilás. A cena

não remete o leitor a nenhuma passagem em particular da

estória, mas de certa forma resume a personagem principal:

uma menina apaixonada por livros. Na foto, ela está deitada

no chão, não se preocupa em se sentar num sofá confortá-

vel, ela simplesmente se deita ali e deixa ser levada para o

mundo das páginas, completamente absorvida pela leitura,

talvez tentando dizer ao leitor o quanto de magia existe no

interior do livro.

4.5 CAPA 5

Nesta capa ( Figura 45) a imagem do cenário coberto de neve

se repete, mas não é uma cena tão branca como na versão

brasileira, pois possui várias árvores sem folhas ao fundo,

que têm um tom mais acinzentado devido à profundidade da

cena. Na parte superior esquerda têm uma árvore bem preta

e, ao seu lado, quase centralizado na página, há um vulto de

uma pessoa de semi-perfi l, que mais parece estar de costas,

usando vestes pretas, como se fosse a morte. Está cena

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Figura 45 - Fonte: Internet

prepara o leitor para entrar no livro, já que a história começa

num inverno coberto de neve e com a presença da Morte indo

buscar o irmão da protagonista. Mais abaixo, como se fosse

uma etiqueta sobreposta, um retângulo ciano carrega o nome

do autor e do livro. O retângulo possui acabamento de 2 linhas

douradas na parte superior e inferior. O nome do autor está

acima do título em um corpo menor, composto em versais e

versaletes em uma tipografi a romana. O nome do livro está

numa fonte gótica, que remete à Alemanha e possui orna-

mentos. A capa do livro dá a entender que está respingada

de sangue, com manchas vermelhas sobre o layout. A capa

tem um ar misterioso, lembra a guerra e todo sangue derra-

mado pelos nazistas. A personagem está de costas para as

manchas, como se não tivesse nada a ver com aquilo.

4.6 CAPA 6

Esta capa publicada em Istambul brinca com elementos que

remetem ao envelhecido antigo e ao contemporâneo. O en-

velhecido aparece por meio da textura da página, que têm

manchas e coloração âmbar, característico daquilo que sofreu

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a ação do tempo, a tipografi a romana, com serifas também

oferece um ar mais tradicional. As informações verbais estão

centralizadas verticalmente na página. No cabeçalho está a

propaganda de que aquela história é o Best-seller n° 1 pelo

New York Times, logo abaixo em vermelho vem o título em

caixa-alta. O nome do autor tem as iniciais maiúsculas e as

demais letras em caixa-baixa, localizando-se na parte inferior

da página. A quebra da simetria se dá pela ilustração e pelo

logotipo da editora. A ilustração é a silhueta de uma menina,

que, pela pose ─ com a mão na cabeça e a outra colada ao

corpo, mostra-se perdida, tímida, confusa, assustada e/ou

pensativa; ela está sobre uma linha fi na que a separa do nome

do autor. Há um grande espaço vazio no seu entorno, refor-

çando a idéia da insegurança e de que é pequena diante de

tudo que acontece ao seu redor. O logotipo da editora aparece

abaixo do nome do autor e está alinhado ao outro extremo da

linha. É pequeno e, devido às cores, não se destaca sobre o

layout.

Figura 46 - Fonte: Editora Ecore/Istambul

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4.7 AS 6 CAPAS

Das seis capas analisadas (Figura 37), percebe-se que alguns

elementos se repetem. As capas de números 2, 3 e 6 possuem

tonalidade âmbar, sendo que dessas três, duas se assemelham

muito por terem as personagens soltas sobre um papel com

textura de envelhecido. Entretanto, elas têm uma diferença

fundamental pois que enquanto a capa de número 3 chega

a ser irônica, apresentando a morte e a menina dançando e

se divertindo, a capa de número 6 mostra a silhueta de uma

menina perdida, tímida, o que é evidenciado pelo layout vazio

no seu entorno e pela sua pose. A terceira capa que também

exibe uma garota, é a de número 4, a qual se diferencia das

demais por ser a única que não situa a menina em uma paisa-

gem e, sim, a apresenta dentro de um cenário, o que remete

ao teatro, com cortinas vermelhas em primeiro plano, onde a

criança é apresentada com uma tranqüilidade inquietante. Ela

está tão confortável ali, deitada no chão, que faz parecer que

alguma coisa pode acontecer a qualquer momento. Com as

cortinas, o designer frisa que o leitor é apenas um espectador,

pois que a qualquer instante elas podem se fechar e ele pode

não conseguir mais assistir ao fi nal da história.

A outra dupla de capas que se assemelham em alguns

pontos são a de nº 5 e a de nº 1, as duas apresentando uma

paisagem árida, coberta de neve, com árvores pretas e sem

folhas e uma fi gura que remete à morte. No entanto, existem

detalhes que as distinguem, deixando uma agressiva e a

outra, serena. Pode-se dizer que a de número 5 é envolvi-

da por um ar misterioso, com a fi gura encapuzada de costas

e as mãos cruzadas, comportando um cenário mais escuro

e com manchas de sangue, extremamente agressivas; já na

de número 1, a pessoa que caminha no pé da página é mais

Figura 47 - Da esquerda para a direita: capas 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

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serena, poderia ser até um padre caminhando com um guar-

da-chuva. Nesta última, a cor vermelha também aparece, mas

em lugares pontuais, como no guarda-chuva, na palavra livros

e no logotipo da editora. A tipografi a também infl uencia bas-

tante nessa percepção da dualidade: na de número 5 utilizou-

se um tipo gótico, mais rebuscado e escuro; na de número 1

fez-se uso de uma fonte romana, onde as palavras brincam

com o layout, com variação de tamanhos e cores.

A única capa em que não aparecem personagens é a de

número 2, posto que apesar de retratar uma cena do livro, ela

é extremamente simbólica. A imagem do dominó faz alusão ao

fato de que cada acontecimento pode interferir no próximo,

desencadeando inesperados resultados, mostrando com isso

que tudo pode fi car entrelaçado e que talvez não haja a possi-

bilidade de se prever o fi nal da história, da mesma forma que

não enxergamos onde acaba essa fi leira de dominós.

5TRABALHO PRÁTICO

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Para confrontar a teoria com a prática, foi-se em busca

de um volume que realmente estivesse para ser publicado,

a fi m de experenciar o diálogo entre o designer e o editor/

autor do livro. Procurou-se um livro de literatura adulta, por

tratar-se do foco desta pesquisa, entretanto, após contatar

com algumas editoras, verifi cou-se o prazo de lançamentos de

livros de fi cção, em 2009, já havia expirado, mas constatou-se

que ainda havia um livro a ser lançado no verão. A Gráfi ca da

Universidade Federal de Pelotas ofereceu para a concretização

desta prática de construção de capa, o livro Para obesão?... A

solução é PERAO, de Volmar Geraldo da Silva Nunes, que já

estava com a diagramação do miolo defi nida e aprovada, mas

com a capa ainda por fazer. O livro tem um foco bem técnico

e trata especifi camente orientação alimentar e sugestões de

exercícios físicos para pessoas obesas, tendo sido escrito pelo

próprio diretor da editora e gráfi ca.

Após um primeiro contato para verifi car-se a possibili-

dade de efetivar este trabalho, foi marcada uma reunião para

dialogar-se sobre o livro. O autor comentou sobre o assunto

tratado no mesmo e o que havia pensado para a capa, ma-

nifestando o desejo de que aparecesse na mesma três

fotografi as (Figura 48) que já haviam sido produzidas e o livro

defendia. Foi-lhe solicitado uma cópia virtual da parte interna

Figura 48 - Fotos cedidas pelo autor para serem utilizadas na capa. Fotógrafa: Rejane Botelho.

do livro, para que se pudesse analisar melhor o conteúdo do

exemplar a fi m de ter mais certeza sobre como realizar o seu

design centrado no assunto discorrido, buscando assim es-

tabelecer relação entre capa e conteúdo a ser lido. Também

houve um questionamento sobre o número de páginas e de

que tamanho a lombada do volume fi caria, para defi nir qual o

espaço que se poderia trabalhar. O livro possuía 84 páginas,

sendo assim, a lombada seria muito estreita, concluindo-se

que não era adequado colocar-se informações na mesma. O

formato do livro seria A5, e como a capa deveria ser impressa

em papel couche era indicado que o livro possuísse orelhas, a

fi m de estruturá-la melhor.

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Foram trabalhadas duas opções de capa, uma com ilus-

tração (Figura 49), onde o obeso seria desenhado, tornando

a aparência do livro mais alegre e simpática e outra com as

fotografi as, o que deixá-lo-ia mais sério. A opção da ilustra-

ção foi vista como uma forma de não estampar a imagem

da barriga que podia repudiar os

possíveis leitores, mas, posterior-

mente, essa opção foi descartada

e não foi apresentada ao cliente,

pois acreditou-se que incorporar

um caráter mais lúdico à obra,

poderia confundir o leitor que

estaria em busca do conteúdo

sério e técnico do livro.

As fotografi as passadas pelo

autor foram tratadas no programa

Adobe Photoshop CS3, os pelos da

barriga foram amenizados e as cores fortifi cadas, deixando-a

menos grotesca. A sugestão de não aparecer o umbigo foi

acatada e as cores que acompanham a foto trazem sobriedade

Figura 49 - Capa com ilustração

à capa (Figura 50) e combinam com a escala cromática da fo-

tografi a da barriga. Como se trata de um livro fi no, a lombada

torna-se muito pequena e, no intuito de se evitarem proble-

mas em função de ajustes milimétricos, a foto acompanha a

contracapa até um determinado momento. Dessa maneira

também é feita uma ligação da

mesma com a obesidade, pois

a imagem se expande, não se

contendo à capa, extrapolando

o espaço da mesma forma que

as gordurinhas, ao encontra-

rem uma roupa que as compri-

mam, acabam por expandir-se

em outro local do corpo, onde se

sintam libertas.

A tipografi a escolhida foi

a do tipo bastão, não possuindo

serifas, remetendo ao miolo ─ que já havia sido executado

anteriormente, e, portanto, estava pronto. Foi buscado uma

fonte que possuísse uma versão bold bem pesada e outra com

Figura 50 - Capa com fotografi a.

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versão mais leve, possibilitando, assim, brincar com as espes-

suras no título, deixando “gordinha” a frase da palavra obesão

e mais “esbelta” a solução é PERAO.

Após a conclusão do projeto da capa (Figura 51), esta

foi mostrada ao autor, que a aprovou imediatamente, pois

acreditou que a mesma transmitia fi elmente o conteúdo de

seu livro. Posto isso, o trabalho foi passado para a Gráfi ca da

UFPel, juntamente com o logotipo da editora e o código de

barras que o livro deve ter. Feitos estes ajustes, foi enviada a

arte para lá ser impressa.

Como a tipografi a do miolo do livro não era boa para

ser usada na capa e como a diagramação do mesmo já havia

sido executada anteriormente e, portanto, estava pronta, in-

felizmente esta produção não resultou em um objeto coeso,

onde a capa e o miolo combinam visualmente, da maneira

como é almejado ao longo da pesquisa. No entanto, essa é

uma prática que já existe no Brasil e em muitas editoras do

mundo; a própria designer entrevistada ─ Mariana Newlands

─ admite que, somente em casos especiais, o miolo recebe

uma atenção especial. Normalmente as editoras possuem um

˝estilo da casa ,̋ que é comumente utilizado para a confecção

do miolo, sendo somente a capa criada especifi camente para

embelezar os volumes.

Poderia ter-se optado por criar um livro imaginário e

aplicar ao mesmo um design harmônico entre a parte interna

e externa, contudo este fi caria preso à monografi a como

simples exercício criativo. Da forma que foi realizado, teve-se

a intenção de tornar-se o projeto de criação da capa como algo

real, concreto, público e aproveitável, oportunizando-se uma

efetiva experiência de trabalho na área de design, pois houve

desde o contato e aprovação do cliente, como a confecção da

mesma pela gráfi ca, levando, assim, para a comunidade, a

divulgação de um volume, cuja arte foi desenvolvida dentro

da Academia.

Figura 51 - Pessoa lendo o livro pronto.

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CONCLUSÃO

Ao estudar a história do livro percebe-se que a relação dele

com as pessoas mudou em diversos momentos. A interação

se altera fi sicamente juntamente com a mudança dos supor-

tes. Quando o rolo perde seu espaço para o códex, uma série

de mudanças na maneira de ler, escrever e interagir com

o volume se altera. Além dessa mudança espacial o objeto

passou por vários patamares, já foi símbolo sagrado, dos ricos,

dos intelectuais e até mesmo dos não tão abastados moneta-

riamente ou intelectualmente. Cada uma dessas caracteriza-

ções implica na maneira como este objeto era apresentado e

o que continha em suas páginas.

Se seu valor está na capa, ricamente ornamentada com

pedras preciosas e outras raridades, dar-se-á de presente para

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nobres endinheirados, sem importar muito com o que está

contido dentro dele; se a preocupação maior está na legibili-

dade e sobriedade do volume, passará nas mãos da nata inte-

lectual da sociedade; se for pensado para diminuir seu custo

com brochuras baratas, provavelmente quem o lê não tem re-

cursos para adquirir um exemplar em capa dura. Obviamente

estes são apenas alguns exemplos das interpretações que o

design do livro pode suscitar no imaginário das pessoas.

No cenário contemporâneo, todos aqueles que quiserem

podem conseguir uma boa leitura, pois existem versões de

luxo, de bolso e até virtual de várias obras. Mesmo assim, o

livro, para muitas pessoas, não é uma necessidade de primei-

ra ordem, e muitas delas não leem o quanto desejavam em

função de seu preço. O leitor mais assíduo não se importa

tanto com capas e publicidade, mas o leitor que gosta de ler e

ama os livros se preocupa em adquiri-los confeccionados em

material de boa qualidade, mesmo com um custo mais alto.

Prefere possuir poucos exemplares, mas que estes possam

acompanhá-los por toda sua vida.

Diz o ditado popular ˝não se deve julgar o livro pela

capa ,̋ provavelmente essa afi rmação deu-se, pois, ao longo

da história, quando os livros que possuíam uma capa mais

elaborada eram aqueles que buscavam conquistar o público

mais ignorante que não se atrairia pelo mundo das letras.

Muitas vezes a história do livro mais colorido não era tão boa

como aqueles cuja capa era simples, onde só aparecia o nome

do autor e da história. Nas entrevistas percebeu-se que as

pessoas relutavam em dizer que os livros as atraíam pela

capa, como se fosse um atestado de superfi cialidade admitir

isso. Hoje em dia esse preconceito é desnecessário, porque

há muitos designers bons que fazem das capas verdadeiras

obras primas, que dão a entender tão bem sobre o que o livro

trata e de tal maneira que quase poderia ser dispensada a

sinopse.

O designer que projeta livros, geralmente é também um

amante dos mesmos. Ao fazer os livros, ele pensa justamente

no leitor, para que este aproveite da melhor forma o que o

autor escreveu. Ele se preocupa em criar uma capa sedutora,

que deixe antever o conteúdo, sem, no entanto, contar tudo,

mantendo assim o interesse e a curiosidade da pessoa. Ao

projetar o miolo, faz-se uma refl exão sobre qual seria a melhor

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maneira de fazer saltar aquelas palavras, para a leitura se

torne mais fácil e menos cansativa.

Atualmente as pessoas estão tão acostumadas ao

design no seu dia-a-dia que ele acaba se tornando invisível,

misturando-se à paisagem. Como elas não percebem, acabam

não sabendo falar sobre isso. Os detalhes sobre o projeto dos

artefatos só é observado quando sente-se falta de algum ele-

mento no mesmo, ou seja, quando é encontrado problemas.

Se as páginas são ruins de folhear ou se as letras são difíceis

de ler, alguém, provavelmente, irá perguntar por que não o

fi zeram de outra forma. Contudo, se o defeito não é muito

grande, é provável que nem será atribuído ao objeto. Para

elucidar melhor essa afi rmação imagine uma leitura que dê

sono, é mais fácil supor que esta é desinteressante ou que o

grau dos óculos precisa ser ajustado do que pensar que a letra

deveria ser mais clara ou que a entrelinha deveria ser maior.

Da mesma forma que cada público leitor tem especifi -

cidades os designers também têm, e como foi visto no de-

correr da pesquisa dentro do setor editorial existem aqueles

que preferem o design invisível, que prime pela legibilidade,

e também existe uma corrente que não acredita em regras

e adere a leiturabilidade, onde o visual auxilia a mensagem

escrita. Se houvesse um lema no design de livros seria a

máxima de Einstein: ˝Tudo é relativo”, visto que cada decisão

que o profi ssional deve tomar irá depender do que aquele

texto está dizendo, do que o público que irá lê-lo vai preferir

e do orçamento que será disponibilizado para a confecção do

trabalho.

O indivíduo que trabalha com pessoas, ou para pessoas,

deve estar ciente da subjetividade que cerca o pensamen-

to humano. Nesse ramo, não existe certo ou errado, e sim

algumas coisas que funcionam melhor para algumas pessoas

e pior para outras. Dessa maneira, cada trabalho deve ser ana-

lisado para ver qual a melhor forma de transmitir a mensagem

para aquele que, provavelmente, irá recebê-la. No meio desse

mar de probabilidades existe uma certeza onde pode-se pisar

em terra fi rme: as pessoas preferem coisas bonitas. Diante de

formas que agradam, pelo menos um dos cinco sentidos que

o homem possui, este sente-se mais feliz e bem-humorado,

fi cando assim com a mente mais aberta a idéias novas.

Diante dessas explanações, conclui-se que o design

gráfi co pode servir de subsídio para transformar o livro em

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um objeto de desejo, seduzindo as pessoas com suas capas

e conquistando-as com seu conteúdo. Ao se preocupar em

formar um objeto coeso, o designer aprimora a interação do

leitor com o livro, tornando mais prazerosa a absorção de seu

conteúdo. Conquista, assim, o público mais culto e faz brilhar

também os olhos daqueles que não têm o hábito da leitura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ENTREVISTA FEITA PESSOALMENTE AO DESIGNER

ODYR BERNARDI, EM OUTUBRO DE 2009.

TRANSCRITA COM LINGUAGEM COLOQUIAL,DA MANEIRA COMO DEU-SE A CONVERSA.

Formação: Autoditada

Onde trabalhou/trabalha (cidade, editoras): Trabalhou como

designer na editora Desiderata (a editora surgiu em 2006), no

RJ; como free-lance em Curitiba, como diretor de arte da revista

Aplauso e Da manhã, em POA; no Diário Popular em Pelotas, entre

outros lugares.

Thaís: Fazia o design do miolo do livro ou só a capa?Odyr: As duas coisas, projeto gráfi co e a capa. Às vezes só capa, mas

geralmente capa e o interno.

T: Você estudou alguma coisa para trabalhar, ou é autodidata?O: Realmente eu não tenho a teoria. Na verdade meu negócio sempre

foi desenho; eu sempre fui desenhista, ilustrador e tal, mas daí eu

comecei a trabalhar em jornal, como ilustrador, e aí fui pegando a

coisa da diagramação, e depois surgiu como uma possibilidade, uma

sobrevivência bacana.

T: Trabalhava numa editora ou era free-lance?

ANEXO A

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O: Eu comecei trabalhando em jornal, em Caxias, eu acho, aí depois

eu fui pra Curitiba, aí em Curitiba eu comecei a fazer design,

primeiro de revistas,eu acho, eu fi z uns projetos gráfi cos de revista.

Em Curitiba eu fi z mais revista e jornal, alguma coisa de livro, mas

levou um tempo. Aí eu fi z alguns livros em Porto Alegre depois,

mas o período mais intenso foi esse no Rio mesmo; eu trabalhei

lá na Desiderata, que é uma editora que eu fi z do zero, porque a

Amelinha me chamou para ir pra lá e quando eu cheguei lá, ela só

tinha feito livros externamente, ela tava começando a editora, era

uma editora muito pequena e ela não tinha uma equipe de verdade.

Ela terceirizava. Até quem fazia [as capas] era o Victor Burton, que

é um cara fodão. Ele fez essa Antologia do Pasquim, o primeiro livro

importante da Desiderata lá. E aí quando eu fui ela pôde criar o

departamento de arte lá dentro. Daí eu fi z desde o início, desde

o logotipo da editora , e depois eu fi z todos os livros da Editora

naqueles dois anos , assim, eu devo ter feito uns 50 livros.

T: Como tu trabalhavas na editora, tu fazias todos os tipos de livro que apareciam, por exemplo, de fi cção, científi co?O: Eu fazia todos. Toda linha.

T: Geralmente é assim que funciona? Ou é mais direcionado um tipo para cada pessoa?O: Não, na verdade é raro hoje em dia ter uma editora com o editor

de arte dentro dela. O que acontece hoje em dia é que a maior

parte das editoras não tem mais equipe de arte. Eles terceirizam

tudo, e aí sim acontece o que eu to falando, a̋ gente tem esse livro

que é mais teórico, vamos chamar o fulano, porque fulano é bom

pra isso ,̋ daí acaba que as pessoas acabam se especializando em

alguma coisa. E agora acontece, porque quando eu tava lá dentro

da editora, eu fazia tudo. Depois eu me demiti, saí de lá, porque a

editora foi comprada pela Ediouro e a Desiderata era uma editora

boutique, pequeninha e tal, e a Ediouro é um monstro. Daí eu não

queria trabalhar lá, porque é tipo fábrica, e eu queria desenhar mais

e me demiti, mas eu continuei trabalhando para eles à distância.

Continuo trabalhando para eles daqui. E daí como eu não to lá todo

tempo, começa a acontecer isso, eles olham e ˝Bueno, esse livro

não é tanto para o Odyr, vamos chamar Fulano .̋

T: Como é que funciona o processo de criação? Eles te mandavam o resumo do livro, comentário, o livro inteiro? O que tu lia disso tudo?O: É... sempre que possível se lê o livro, mas geralmente não dá

tempo de ler o livro inteiro. Geralmente lá chegava o texto inteiro

do livro, então eu tentava fazer uma leitura, começava o livro e tal.

Na verdade a gente teve sorte lá, porque eram livros muito gráfi cos,

muito livro de desenho, a gente fazia do Millôr, do Jaguar, desse

pessoal, do Henfi l, então é mais fácil você ter uma idéia geral da

coisa. E a gente fez também bastante livro de literatura, Cecília

Meireles, sei lá, bastante coisa. Eu lia tanto quanto possível do livro,

o que o tempo permitia, e aí formava uma idéia mental dele.

T: E quem aprova o layout? É o autor, o editor, marketing…?O: Depende da editora e depende da situação. O autor... dependendo

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do poder do autor, ele tem um poder de veto maior ou menor.

Quando o autor é um autor iniciante, ele tem menos poder de veto,

mas se o autor realmente brigar, é difícil que o livro não saia como

ele quer.

T: Mas o layout é mandado para ele dar o ok?O: Primeiro tem uma aprovação interna, porque, claro, a editora não

quer que tu mande uma coisa que não faça nenhum sentido. E se

o autor aprovar uma coisa que a editora não se interesse, que seja

bom, mas não seja muito comercial, enfi m, vai gerar problemas.

Então primeiro ele é aprovado internamente pra depois se enviar

pro autor, que geralmente tem uma visão benévola e tal mas não

decide 100%, a não ser que esse autor seja o Millôr, por exemplo; a

editora fazia tudo que o Millôr queria.

T: E faziam livros estrangeiros também?O: Sim, tinham livros traduzidos, livros que vinham de fora.

T: E no caso do autor ser estrangeiro, também passa por ele a aprovação?O: Depende do contrato de cada um. Agora, há pouco tempo, eu

fi z uma série, que eu fi quei bem contente, que é uma série da New

York. A New York é uma revista americana muito importante, que

sempre teve cartum, os melhores cartunistas do mundo foram

trabalhar lá e eles fazem antologias de cartuns anuais e agora saiu

no Brasil, pela primeira vez, essa série com os cartuns da New York,

aí tem um só de gatos, outro só de psiquiatras, e a New York faz

questão de ver tudo lá, então a gente fez a capa aqui e ela foi

aprovada lá e voltou, enfi m. Daí depende, eu acho, de editora pra

editora, e de situação para situação. Eu acho que a maior parte dos

autores, mesmo internacionalmente, dão uma olhada, pra ter algum

controle, independente de quanto a editora é grande, controladora.

T: Qual parte do livro tu fazia primeiro? O: Eu sempre gostei de fazer mais a capa, eu começava pela capa,

na verdade o meu método intuitivo é imaginar o livro, então, na

verdade, eu sempre fazia a capa primeiro, porque eu ia imaginando

na sequência. A partir da capa,eu digo ˝Então , qual é a próxima

página agora? ,̋ é um método bem ridículo, bem intuitivo, eu ia

imaginando o livro assim. Depois da capa eu ia pra folha de rosto,

eu fazia realmente em ordem, pois assim eu ia enxergando o livro.

É uma maneira de fazer.

T: E daí tu buscava uma relação entre a capa e o miolo?O: Sim, tem uma relação, claro. A folha de rosto, geralmente é a

continuação da capa. Pra mim depois que tinha a capa o resto fi cava

fácil.

T: Geralmente quando é a mesma pessoa que faz é muito difícil não criar uma unidade, né?O: Sim, é evidente, você tem que ter uma unidade aqui, né? Às

vezes, claro, assim, por exemplo, você tá usando uma fonte na capa,

que é uma fonte muito brutal, que não vai ter um uso lá dentro, mas

aí se eu usar ela no índice, usar ela em alguma coisa ali, para dar um

linkizinho, porque, claro, o conteúdo do livro, tem que ter o quê? Uma

letra de grande legibilidade e essas fontes variam pouco. No fundo,

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as fontes mais raras são essas fontes totais. Por que todo mundo

usa tanto a Times? Porque é uma fonte de absurda legibilidade. Ela

funciona em todas as situações, em todos os tamanhos; esse tipo de

fonte é mais raro. O miolo às vezes é difícil por causa disso, porque

não existem muitas fontes super funcionais que super funcionem.

T: O formato é pré-estabelecido, pelo editor, pelo orçamento?O: Também varia de caso a caso. Em alguns casos a editora dizia:

˝Bueno, a gente quer fazer um livro de arte .̋ Como um livro de arte

é um livro aberto e tal, você pode sugerir, a̋cho q é interessante

fazer quadrado, 25x25, etc.̋ . Em alguns casos, o livro já vem parte

de um projeto, ou em alguns casos, o autor já tem uma idéia, em

alguns casos ele é parte de uma coleção, na Desiderata a gente

criou várias coleções, enfi m, aí já vinha pré-determinado, porque se

a gente criou a coleção se cria um padrão. Então varia bastante.

T: Como tu desenha, tu fazia muitas capas desenhadas?O: Não, embora eu desenhe, eu nunca leiauto a mão. Eu sempre

faço direto no computador.

T: A ilustração ou fotografi a da capa era encomendada, recomendada ou feita pelo próprio designer?O: Também existem vários caminhos. Hmmm eu tive a sorte, eu

acho, de trabalhar numa editora pequena, que eu gostei muito por

isso, porque eu tinha grande liberdade.

T: Geralmente editora pequena tem mais liberdade, né?O: É, tem mais liberdade. Por isso que eu não quis ir para Ediouro,

porque lá é uma linha de montagem. Mas pelo fato de ser uma

editora pequena, eu tinha grande liberdade, então, eu realmente

tinha carta branca, me davam o material e eu avaliava. É difícil que

alguém, mesmo bem intencionado, consiga escolher uma imagem

de capa. Isso é ruim quando acontece porque você vai ter um livro

de fotografi a, aí o autor te manda três fotografi as e uma delas pra

ser a capa. Pode ser uma foto maravilhosa, mas não na capa. Na

capa tem, às vezes, uma foto que nem é tão fabulosa, mas presta pra

aquilo, porque você tem que ter espaço pro título, ou a imagem que

realmente capture o livro. E tem aquela teoria de que nós não somos

bons juízes do nosso material. Então, com freqüência, tu enxerga

uma coisa que o autor não enxergou ou o autor tem um apreço

irracional por uma imagem que não vai funcionar na capa. Então,

quanto mais liberdade melhor. Geralmente dentro do Desiderata eu

tinha grande liberdade. Já trabalhei em outras situações que tinha

menos liberdade. E às vezes é difícil, porque a pessoa te empurra

uma imagem que tu vai ter um grande trabalho de adequar ela.

Eu já passei por todas as situações, eu já tive capas onde vinha o

material, já tive capas onde não tinha material

T: Tu já teve que encomendar a imagem?O: Exatamente, por exemplo, quando eu ia fazer um livro de um

ilustrador, era fácil, tinha 200 ilustrações lá, eu escolhia uma e tal.

T: E quando era de literatura?O: No caso de literatura, eu me lembro de uma série lá que eu tinha,

a gente fez uma série chamado biblioteca brasileira e tal, que eram

grandes autores, enfi m, e cada uma delas tinha que ter uma foto.

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Era bem difícil porque, enfi m, tu tinha um universo para escolher,

né? Eu andei procurando bastante gente do fl ickr, porque eu acho

que tem um movimento muito legal de fotógrafos bons lá e aí tu

vai pelas pessoas que tu conhece e tal, faz uma busca. Já cheguei a

pedir pra uma pessoa, ̋ Olha, eu tenho um livro com um tema assim,

tu tem alguma coisa e tal?˝ e muitas poucas vezes eu cheguei a

fazer coisas. Quando eu era diretor de arte de revista - eu fui diretor

de arte da Aplausos - eu já cheguei a encomendar fotos. ˝Olha, a

gente tem uma capa sobre a revolução farroupilha, vamos fazer uma

capa com uma foto ,̋ eu não gostei muito dos resultados, não foi a

situação que eu mais gostei, eu realmente gosto mais de encontrar

as coisas e produzir. Tem gente que gosta bastante de produzir, tem

gente que gosta de sair do estúdio e ir lá; eu não gosto muito de sair,

eu não gosto nem de sair de casa. Tem gente que gosta de ir lá, se

misturar com o fotógrafo. Eu não gosto. Eu gosto de fi car, encontrar a

imagem que eu quero e tal. Eu prefi ro trabalhar com gente que seja

menos prima-dona porque uma coisa é a fotografi a que tu ta usando

dentro de um livro de fotografi a, quando tu usa uma fotografi a na

capa dum livro ela é um ponto de partida, mas é meio inevitável que

se faça coisas, você vai fazer um outro corte nela. Ocasionalmente

até, o que é mais brutal, você pode apagar um elemento, enfi m, claro

com bom senso, mas aí você tem que ter uma margem de manobra.

Então, quando tu tem um fotógrafo que entende isso fi ca mais fácil.

Então é por isso que eu gosto de trabalhar com gente mais nova que

tem menos ego, e tu pode mexer mais com as imagens. Realmente

a imagem nesse caso, para o diretor de arte, a fotografi a é o ponto

de partida, ela não é sagrada. Uma coisa é você fazer um livro do

Sebastião Salgado e você vai aplicar a foto ali, mas em geral, no

design , a foto é um ponto de partida. Você tem que ser capaz de

mexer com ela, inverter ela, trabalhar com a cor, enfi m, fazer um

outro corte, com a concordância do fotógrafo, mas desde que ele

te dê essa liberdade. Mas eu fi z muito desenho, eu fi z poucas capas

com foto, na verdade, por conta, de eu ser desenhista, eu acho, de

trabalhar numa editora que tinha muito livro gráfi co, eu fi z muito

mais capa com desenho.

T: Uma coisa que eu reparei nas livrarias, é que hoje em dia, o livro ilustrado é muito mais infantil do que adulto, na área de literatura.O: Ah sim, a ilustração como recurso de livro de literatura foi uma

coisa que caiu, caiu bastante, é uma coisa antiga, o livro ilustrado,

e tal.

T: Tinha toda uma aura, e hoje em dia não se vê. Eu até tentei pesquisar e ver quando que começou essa mudança, mas não achei.O: Eu acho que até os anos 70, ou algo assim, tu ainda via muito

livro ilustrado, hoje em dia, realmente não se vê. É verdade; é uma

coisa que caiu.

T: Já aconteceu de projetar um trabalho e ao passar por uma livraria descobrir que mudaram todo seu projeto?O: Não.

T: Quando se fazia a capa era pensada a forma de transmitir a

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ideia do livro ou de atrair o leitor no ponto de venda (enfoque mais publicitário), os dois aspectos eram levados em consideração ou um era mais privilegiado?O: Fazer a capa não é exatamente um trabalho muito racional,

assim, tem uma busca ali, da imagem, que é intuitiva. E eu acredito

bastante que o teu primeiro palpite deve ser seguido. Tem todo

um livro sobre isso, é um livro bem interessante, d’um cara que

se chama Malcolm Gladwell, chama Blink, não sei se tu já ouviu

falar, ele escreveu um livro só dizendo sobre isso, sobre como, em

diversas situações, médicos, esportistas, etc, pessoas que tem que

tomar decisões num instante, assim, e como com freqüência essas

decisões são certas, porque o cérebro faz cálculos mais rápido do

que tu imagina. Tu vê isso a qualquer momento, tu chega num

lugar e tu tem uma impressão imediatamente daquilo assim, e,

com freqüência, ela tá correta e tu não racionalizou aquilo tudo.

Então, a mesma coisa, por exemplo, eu tinha vários projetos, eu

tava fazendo um projeto e chegavam e diziam, ‘olha, eu tenho outro

material pra ti fazer na seqüência. Eu vou te passar o material pra

ti já ir pensando, mas eu nunca fazia isso, eu nunca lia um material

pra fi car pensando. Eu só ia pra aquele outro projeto quando eu

tinha tempo pra ir pra ele, porque eu gosto muito dessa primeira

impressão. Então eu guardava o texto lá e, quando eu tinha tempo,

passava pro outro projeto, quando eu realmente ia trabalhar nele.

Então eu me sentava e começava a ler, porque na primeira leitura,

com freqüência me vinha a imagem. E se tu faz essa primeira leitura

e não trabalha nela e vai fazer outras coisas, tu perde essa leitura.

Então, como eu disse, o projeto é bastante intuitivo. Depois que tu

avançou o projeto, que tu tem 5 ou 6 opções, tu começa a pensar

nisso, ̋ talvez essa aqui não seja razoável, ou não é muito comercial ,̋

mas a questão é o público na verdade. Eu gosto do design editorial,

de livros, acho uma área menos inquietante que a publicidade em

termos éticos, é evidente: tu tá ali pra pegar o leitor, mas eu acho

que tu tá enganando ele menos que …

T: Se ele ta na livraria é porque ele quer ser enganado O: É tu nem tá enganando, tu tá

seduzindo ele, tá criando um objeto

bonito, lindo pra ele. Tu tá melhorando

a experiência da leitura, fazendo do

livro um objeto olha o que é essa

capa aqui do Breton [Livro Nadja de

André Breton (Figura 52); na estante

havia vários livros, mas um dos

poucos em que aparecia a capa era

esse, nos outros eram só visíveis as

lombadas], da Cosac Naify. A Cosac

Naify é o mais elevado que tem no

Brasil e eles criam objetos; o livro se

transformou, enfi m, não é o mesmo

livro se tivesse uma capa horrível.

T: Eu perguntei a relação com a publicidade, porque a Escorel diz

Figura 52 - Capa do Livro Nadja, de André Breton. Fonte: Site da Cosac Naify

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que na década de 70 no Brasil, ou as capas eram extremamente publicitárias, sem coesão com o livro ou só tinham a ver com o trabalho do designer, não com a história do livro. E hoje em dia podia acontecer de ser encomendada uma capa extremamente publicitária, sem se importar com a relação dela com a história.O: Isso é muito ruim porque tu podes enganar as pessoas uma vez,

mas não muitas vezes. Cada vez que a pessoa compra uma coisa

e não tem ali dentro o que ela procurava , ela se sente enganada.

E ela vai associar aquilo ao autor ou a editora, então você pode

ganhar ali, mas vai perder em longo prazo. Por isso é melhor ser

honesto com o material.

T: Qual o livro que projetou que mais gostou e por quê?O: Agora eu tava bem orgulhoso com essa série do New York, mas

o que eu mais gostei, que eu fi z há pouco tempo, foi um do Millôr.

Com o Millôr eu tive uma relação que me deixou muito contente.

Eu fi z muitos livros dele. O plano do Desiderata era fazer a obra

completa dele mesmo, mas eu fi z uns sete ou oito. O que eu fi z

agora é uma série que ia se chamar “décadas” primeiro. Ia ser uma

série cobrindo os textos dele na Veja ao longo das décadas e aí, no

fi nal, mudou o título por conta da capa que eu fi z e eu gostei, porque

eu to numa onda quase anti design, basicamente essa capa é toda

feita à mão; eu fi z a capa toda feita à mão; eu fi quei bem contente

com o brinquedo, eu desenhei…

T: Tu gostou dele por causa do processo.O: É. Ela é toda[linhas, tipografi a,ilustração] feita à mão. E a partir

do desenho o título mudou. Ia se chamar décadas, mas o Millôr

gostou muito da capa, e ele entendeu exatamente a idéia. Eu

conheci o estúdio dele e é bem isso, ele entendeu que é bem isso,

que da cadeira dele ele via o mundo nesse tempo; daí ele criou

esse título novo que é O mundo visto daqui - Praça General Osório,

que é onde fi ca o estúdio dele. No fi nal nem em décadas fi cou, era

tanto material, que daí o primeiro livro era só 1980 a 1984; eu fi z

várias opções e não sei qual dessas fi cou a capa defi nitiva. Dentro

do livro eu também mantive isso, o manual; pra ti ver a coisa da

coerência, os elementos internos também foram feitos à mão. Eu

estou propondo que o livro seja em duas cores, mas eu não sei se

ele foi aprovado para ser em duas cores; daí eu fi z uma série de

manchinhas [à mão] e não é que todas vão ser diferentes, mas eu fi z

uma meia dúzia; daí a gente vai alternando e tendo a impressão que

cada manchinha é diferente. E eu acho que com este projeto é o que

estou mais contente... varia... mas no momento é este. O primeiro

que fi z do Millôr: A verdadeira história sobre o paraíso.

T: E tem alguma capa que tu odeie, que tu tenha raiva, vergonha de mostrar, ou algo do tipo. Que por algum motivo especial tu não goste muito...O: É às vezes o que acontece é que tem gente demais que se mete

e as coisas dão errado. Quando o trabalho começa a ir e vir e voltar

muito, ele começa a perder o enfi m, eu me lembro que quando

eu fui trabalhar com o Millôr, uma vez eu tava tenso porque eu

achava que ele ia interferir muito, e aí, ao longo do tempo que eu

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fui trabalhando na editora, eu descobri que quem dá trabalho são

os medíocres. Gente medíocre dá trabalho; gente medíocre quer

que aumente o nome , que mexa ali e aqui, entendeu? E gente de

talento mesmo não é assim; aí gente medíocre acaba gerando livro

medíocre... eu tenho alguns, mas não to lembrando agora. Às vezes

eu faço esses livros incentivados, esses Coff ee Table Books, que daí

eu fi co meio assim, por exemplo, esse aqui: Frutas. Isso eu fi z pra

ganhar dinheiro, de sem-vergonha, assim ,entendeu, uma coisa

que ninguém vai abrir na vida, ou que tu vai ter na tua sala e a visita

vai olhar por 10 minutos. Às vezes eu fi co meio desgostoso de fazer

essas coisas, e daí acaba não saindo tão legal. O resultado sempre

varia do quanto tu tá envolvido com a coisa.

ENTREVISTA FEITA POR E-MAIL À DESIGNER

MARIANA NEWLANDS, EM DEZEMBRO DE 2009.

TRANSCRITA AQUI DA MANEIRA COMO FOI ENVIADA.

Pequeno currículo (formação, onde trabalhou/trabalha -cidade, editoras): Desenho industrial na PUC - Rio e graphic design/

computer graphics na Parsons School of Design (NYC). Mestrado

em Literatura, PUC-Rio.

Mariana: Trabalho para a maioria das editoras brasileiras:

Companhia das Letras, Objetiva e Alfaguara, Ediouro, Agir, Globo,

Record, Rocco, Pinakotheke, Memória Visual, Gryphus, Nova

Fronteira, Instituto Moreira Salles etc.

Thaís: Como começou a trabalhar com design de livros?Essa pergunta é tão abrangente que nem saberia exatamente

como respondê-la. Resolvi deixar os empregos fi xos em que

gerenciava equipes de criação de internet em 2001 e, a partir daí,

mudei de área, começando do zero e mandando portfólio para

todas as editoras.

T: Como faz para conseguir os trabalhos? Trabalha em algum escritório de design, em alguma editora, como free-lance, ou tem acordo com algumas editoras?

ANEXO B

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M: Trabalho como freelancer para todas as editoras citadas. Os

pedidos de trabalho são constantes e regulares o ano inteiro, não

há brechas em que não trabalho.

T: Existe algum tipo de livro que é mais recorrente ser passado pra ti fazer, por exemplo, de fi cção, científi co, romance, técnico etc? Como funciona esse encaminhamento dos tipos de livros?M: Trabalho apenas com livros de fi cção e não fi cção - romances,

contos, arte, biografi a, história, ensaios, poesia. Não faço livros

técnicos, didáticos ou auto-ajuda. As editoras encaminham o

pedido de capa por email ou telefone.

T: Pra ti fazer um livro, qual é o material e as informações que tu recebes? Te enviam o resumo do livro, o livro inteiro, comentário, alguma especifi cação…? O que tu costumas ler disso que te enviam?M: Depende da editora e depende do livro. Cada editora tem um

processo de trabalho. Em geral, recebo o pedido com titulo, autor,

formato. Às vezes, recebo o texto de orelha, 4ª capa ou a resenha

interna feita pela editora para a equipe envolvida na produção do

livro e/ou avaliação de livros a serem publicados. Outras vezes,

recebo o livro original na lingua em que foi publicado (o livro

físico mesmo) e é o que prefi ro, sempre, para poder ler em papel.

Também acontece de receber o doc com o texto já traduzido. Ou

o PDF do miolo já diagramado. Isso tudo para que eu leia o texto,

que é sempre a coisa mais importante. Além disso, também faço

uma vasta pesquisa na internet: matérias e resenhas que tenham

saído sobre o livro e/ou o autor em jornais fora do Brasil (em caso

de livro estrangeiro), pesquisa sobre o autor, sua bibliografi a, o que

mais já publicou etc etc.

T: Costumas fazer o design do miolo do livro ou só a capa?M: Depende do livro. Pode ser só a capa (a maioria dos casos, já

que as editoras têm projetos de miolo padronizados) ou pode ser

capa e miolo, em casos de livros especiais.

T: Como funciona o processo de criação?M: Essa pergunta podia caber em umas dez paginas. É a pesquisa

que citei acima, a leitura do livro e muitas horas absorvendo

tudo isso e deixando as ideias decantarem. Depois, é atacar no

Photoshop.

T: Por qual parte do livro tu começas a trabalhar?M: Mesma coisa que citei acima. Já na etapa Photoshop, sempre

pela tipografi a.

T: Quanto tempo leva para ti fazeres um projeto(desde a parte de receber a encomenda até ser aprovado por quem tem que aprovar)? E, mais ou menos, quanto tempo depois de tu elaborares o layout ele é lançado?M: Depende do livro. Em geral, 2 semanas é o prazo básico para

entrega de uma capa. Para livros ilustrados infantis, cerca de um

mês. Para livros de arte e projetos especiais (boxes de coleções

etc), muitas vezes mais do que isso. Sobre lançamento, é com a

editora. Cada uma tem um processo diferente. Há livros que são

pedidos na correria para serem lançados em um mês. Outros,

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planejados em cronogramas do ano inteiro, mês a mês, onde a

capa é pedida com mais de 2 meses de antecedencia.

T: É mais comum o design do miolo e da capa ser feito por pessoas diferentes ou pela mesma pessoa?M: Repondi lá em cima

T: Costuma se buscar uma relação do design do miolo com a capa?M: Mesma resposta. Para livros especiais.

T: Já aconteceu de receber o design do miolo pronto? E tentou buscar uma relação ou não era o caso? M: Não, nunca acontece esse processo inverso. O miolo padrão é

de todos os livros, não interefere na capa.

T: Quem aprova o layout? O editor, o autor, a pessoa do marketing…?M: Depende da editora (aliás, essa é a frase padrão para quase

tudo).

Em geral, o editor. Depois, já aprovado internamente, eles podem

ou não pedir a aprovação do autor ou do agente internacional.

Varia de caso a caso.

T: Antes do livro ser publicado o autor vê o layout ou às vezes ele só descobre o que fi zeram na livraria? Ele tem poder de vetar o design do livro se não gostar?M: Mesma resposta, varia de caso a caso. Em geral, ele vê. Mas a

palavra fi nal é sempre do editor.

T: E no caso de livros estrangeiros? O autor também tem esse controle?

M: Mesma resposta.

T: O formato já é preestabelecido, pelo escritor, editor, orçamento?M: Sim. Sempre pelo editor. O autor só escreve o livro. Depois

disso, a produção toda é com a editora.

T: E o material da capa ou do miolo livro, faz parte da escolha do designer?M: Material visual, como fotos? Sim, esse é exatamente o trabalho

do designer.

T: A ilustração ou fotografi a da capa é encomendada (de um fotógrafo, ilustrador…), recomendada (pelo autor, editor…), encontrada (em bancos de imagens) ou feita pelo próprio designer? Se já aconteceu todos os exemplos, comenta um pouco sobre cada um.M: Todos os exemplos podem acontecer. Na maior parte das vezes,

banco de imagem ou feita por mim (em casos de fotografi as ou

grafi smos). Foto encomendada, só em livros especiais.

T: Como se dá a construção dessa imagem? Como se dá a escolha da tipografi a?M: Essas respostas dariam umas vinte paginas. Mas é basicamente

a essencia do trabalho do designer, saber escolher a imagem

e a tipografi a certas. E isso se aprende ao longo de anos de

observação aguçada das formas, dos símbolos, do que combina, do

que funciona para cada tema/assunto/estilo.

T: Já aconteceu de projetar um trabalho e ao passar por uma livraria descobrir que mudaram todo ou alguma parte do seu

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projeto?M: Acontece muito raramente, ainda bem. É terrível. Mas nunca

aconteceu de mudarem todo o projeto, nem poderiam. Às vezes,

alguma pequena coisa (um espaçamento errado, uma cor não

muito exata), mas que faz toda a diferença e me deixa bastante

irritada pois é o meu nome que assina o projeto e, no fundo, não

fui eu a responsável pela mudança.

T: Quando se faz uma capa, pensa-se uma forma de transmitir a ideia do livro ou de atrair o leitor no ponto de venda (enfoque mais publicitário)? Os dois aspectos são levados em consideração ou um é mais privilegiado? M: As duas coisas, sempre, esse é o trabalho do designer de livros.

T: Ainda existe diferença em projetar uma capa mais comercial e uma edição para colecionador? Qual seria?M: Sim. Pensar sempre no que o publico de massa espera e no

que um leitor mais atento e especializado espera. Basicamente,

projetar para públicos com expectativas e backgrounds diferentes.

T: Por que tu gostas de projetar livros?M: Porque amo livros e amo ler.

T: Qual o livro que projetaste que mais gostaste ou que te marcou mais e por quê? Como foi o processo de criação?M: São vários. Há um link no meu site para as favoritas:

http://www.interludio.net/category/portfolio/capas-de-livro/minhas-

capas-favoritas/

Gosto das coleções de livros de um mesmo autor ou segmento

(como a coleção policial). Gosto da Poesia Matemática, do Fernando

Pessoa,

T: E qual foi o que menos gostaste de fazer ou que o resultado não fi cou bem como tu querias e por quê? M: Em geral quase não acontece pois só aceito trabalhar em livros

de temas com os quais me identifi co e dentro de uma gama de

gêneros em que me sinto à vontade para criar (ver resposta lá no

começo sobre os tipos de livro que não aceito fazer)

T: Para fi nalizar, como estou analisando a capa do livro “A menina que roubava livros”, como foi o processo de criação dele, e o que tu sentes em relação a ele depois de pronto?M: Foi feito da mesma maneira que são feitos todos os livros,

como contei, li o livro, pesquisei imagens, fi z 3 opções de capa e

aquela foi a escolhida. Não sei dizer por que essa capa faz tanto

sucesso, talvez por ser silenciosa em um universo de capas muito

“barulhentas”, cheias de cores e apelos visuais. Gosto de capas

assim caladas, com bastante espaço visual para a imagem respirar

com calma (muita área branca de neve) e apenas a sugestão de

alguma coisa, e não a coisa em si oferecida diretamente.

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Entrevista 142 anos, homemEscolaridade: Superior Área de interesse:

Administração

Thaís: Gosta de ler?Entrevistado: Pouco

T: Que tipo de livro?E: Livro TécnicoT: Livro de literatura tu não gosta muito?E: Não sou muito chegado.

Sinceramente não.

T: Quantos livros tu lê mais ou menos por ano?E: Difícil pergunta, mas assim... ó...não tenho o hábito da leitura, não dá um livro por

ano.T: O que te chama mais atenção num livro quando tu vai comprar?E: Tem que ser uma literatura fácil de ler, tá? Independente que seja técnico ou outro tema, tem que ser uma leitura fácil. Se for muito difícil não atrai, não cativa as pessoas, a não ser que as pessoas tenha

ENTREVISTA FEITA PESSOALMENTE NA 37ª FEIRA DO LIVRO DE PELOTAS, EM 1° DE NOVEMBRO DE 2009.

TRANSCRITA COM LINGUAGEM COLOQUIAL,DA MANEIRA COMO FOI A CONVERSA.

ANEXO C

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o hábito de leitura, né?T: Tu escolheu alguma coisa aqui na feira?E: Não, tava olhando agora pra minhas fi lhas casualmente, mas literatura infantil.T: E daí o que te chama mais atenção? Seria a capa? Tu dá uma olhada dentro?E: O texto, se tem fi guras, se é infantil, se tem fi guras, né? E pra mim se é especifi camente técnico, né?T: E tu fi cou com vontade de comprar algum e deixou de comprar?E: Eu tô com vontade de comprar um infantil, mas tô com medo de não acertar o gosto da pessoa; por isso que eu queria ter trazido minha fi lha pra ela poder escolher.T: Então tá, obrigada.

Entrevista 2 Mulher, 51 anosEscolaridade: Superior incompleto Área de interesse: Ciências Sociais

T: Gosta de ler?E: Gosto.

T: Qual o tipo que tu mais gosta?E: Eu também gosto de uma literatura fácil. Mas a parte que eu mais gosto é história. T: Tu sente mais necessidade de ler livros por motivos profi ssionais ou seria mais por prazer mesmo?E: Não, por prazer.T: Quantos livros tu lê em média por ano?E: 1 ou 2, quando muito.T: O que mais te chama a atenção na hora de escolher o livro, ou o que tu olha pra decidir se tu vai comprar ou não? O autor, a capa, o título E: Ah, o título é bastante interessante, né, porque daí pelo título tu já vê. Se teve algum comentário de alguém, também. Por aí eu já vejo se é alguma coisa que eu vou me interessar.T: E tu repara numa capa mais bonita ou dá uma olhada dentro do livro, quando tu vai escolher, pra ver como é, por exemplo, o tamanho da letra…E: O tamanho da letra é importante.

T: Tu repara?E: Reparo.T: E outras coisas da diagramação nunca te chamaram a atenção?E: Não.T: Algum livro tu fi cou interessada aqui na feira?E: A princípio não, eu to chegando agora. Por enquanto eu não vi nada.T: Então tá, muito obrigada!E: Merece!

Entrevista 3Mulher, 29 anosEscolaridade: 2° grauÁrea de interesse: Letras

T: Gosta de ler? E: É mais ou menos T: Que tipo de livro?E: Auto-ajuda e espírita.T: Quanto livros, em média, tu lê por ano?E: Às vezes chego a ler 3.T: O que tu observa num livro antes de comprar ele?E: O título.T: Eu reparei que, antes de eu chegar tu tava pegando esse livro, o que te chamou a atenção nele?

E: É que onde eu trabalho, a gente trabalha com livros e eu tava olhando que aqui tem um outro tipo que não chegou lá ainda.T: E já te chamou a atenção alguma vez o design do interior do livro, tipo: a capa, ou algum elemento de dentro do livro que te chamou a atenção e te levou a comprar?E: Com certeza. E também as pessoas, né? Tem gente que indica livro.T: Te interessou por algum livro aqui na feira, sentiu vontade de comprar?E: Teve um.T: Tu te lembra qual o título? Ou o porquê que tu sentiu vontade de comprar?E: Ah! Um que eu gostaria de ler é aquele “Violetas na Janela” ou, senão, aquele do Alan Kardec, “Entre o Céu e o Inferno”, também.T: Esses aí são mais por recomendação do que por alguma coisa que te chamou atenção no livro?E: Não. O Alan Cardec eu gostaria de ler desde o

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começo, assim, para entender a continuação, Porque, o que adianta pegar um livro espírita, ler e fi car meio perdida; não vai entender; só o que tu ouve mesmo. T: Então tá, muito obrigada!

Entrevista 4Homem, 38 anosEscolaridade: 2° grauÁrea de interesse: Biologia

T: Gosta de ler? E: Não tanto, mas gosto.T: Que tipo de livro? E: Educativo T: Sente necessidade de ler por motivos profi ssionais?E: Não.T: O que te chama mais atenção na hora de escolher um livro?E: Acho que é o título mesmo.T: A maneira como ele tá disposto…E: É T: Quantos livros você lê, em média, por ano?E: No momento acho que um livro por ano.T: Alguma vez você já comprou algum livro pelo motivo da

capa chamar-lhe a atenção?E: Não, por capa não.T: Aqui na feira comprou algum livro hoje? Ficou com vontade de comprar?E: Já.T: E por que tu quis comprar esse?E: Eu sempre quis comprar, mas ainda …T: Ainda não comprou. Então tá. Obrigada!

Entrevista 5Mulher, 30 anosEscolaridade: Superior Incompleto Área de interesse: Matemática

T: Gosta de ler livros?E: SimT: De que tipo?E: Fantasia e espírita.T: Você sente a necessidade de ler livros por motivos profi ssionais?E: Sim, pra faculdade, mas daí é obrigação.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Depende muito do tamanho do livro, acho que uns 3 ou

4, tem uns que são muito grossos, então é uma média de 4 por ano.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: O assunto.T: Alguma vez você já comprou algum livro pelo motivo da capa chamar-lhe a atenção? Tu olhou a capa, e depois tu foi ver se o resto te agradava?E: Já.T: Muitas vezes?E: Algumas tipo, a capa não, mas o título, né. Ou não conta?T: Pode contar. O que foi mais ou menos?E: Na última feira eu comprei um que dizia assim; Matemáticos, de loucos todos temos um pouco e daí eu nem sabia o que tinha lá dentro e comprei só por causa do título. Chamou a atenção. E também por causa das crianças, eu tenho fi lhos, então é a capa que chama a atenção. Conforme a capa que vai chamar a atenção das crianças.T: E alguma vez te chamou

a atenção a diagramação do livro? Alguma coisa que tu gostou mais de ler, ou não?E: diagramação tu diz? T: O jeito da letra, a maneira como tá disposta…E: Hmmm então, eu prefi ro quando são maiores. Quando não são tão pequenininhas, por que eu fi co com difi culdade de ler, né? Eu uso óculos pra ler e daí se torna mais cansativo. Eu prefi ro que tenha mais páginas com a letra maior.T: Então tu olha dentro do livro antes de comprar?E: Não. Eu normalmente olho o resumo atrás, né? A sinopse dele e tal, e só eu não chego a prestar atenção dentro.T: Comprou algum livro na feira? Ficou com vontade de comprar?E: Sim. Tem alguns que eu quero comprar. Mas eu vou esperar o fi nalzinho, né? Quando tem mais promoção.T: E esses livros, tu já queria comprar eles antes, ou tu tava passeando e te chamaram a atenção?

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E: Eu já queria comprar antes. Tem uns que eu já queria e outros que me chamaram a atenção. Mas vou fazer a feira no fi m da feira. Hehe.T: Então, tá. Obrigada!

Entrevista 6Mulher, idosa.

T: Qual a tua escolaridade?E: Ih naquela época se estuda só até o 5° ano.T: E qual é a tua área de interesse? Seria exatas, humanas, artes?E: Não tenho interesse por nada.T: E tu gosta de ler livros?E: Não.T: Nenhum?E: Não. Já passou. Quando eu era novinha eu gostava de romance. Mas agora pra não cansar os olhos eu prefi ro não ler mais.T: Então, ta. Obrigada.

Entrevista 7Mulher, idosa.Escolaridade: 1° Grau

T: Qual é a tua área de

Interesse?E: Eu gosto da leitura, da religião.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Uns 3 ou 4.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Eu vejo se é livro da natureza, da alimentação, da natureza. T: E na hora que tu vai na livraria, tu escolhe pela capa, pelo título?E: Pelo título.T: Alguma vez você já comprou algum livro pelo motivo da capa chamar-lhe a atenção?E: Não.T: Ficou com vontade de comprar algum aqui na feira?E: Por enquanto não, moça.T: Então ta. Muito obrigada.

Entrevista 8Mulher, 23 anos.Escolaridade: Superior incompleto.Área de interesse:Direito

T: Gosta de ler?E: Bastante.

T: O que tu gosta de ler?E: Leio os livros do Direito, literatura francesa, portuguesa…T: Quantos livros em média tu lê por ano?E: Não tenho uma estimativa assim.T: Mas, mais ou menos, mais pra 1 ou mais pra 6?E: Mais pra 6, acredito.T: E o que te chama mais atenção, na hora de escolher um livro?E: Normalmente eu tenho uns escritores que eu já busco, ou se é na área do Direito, alguma área que já esteja estudando. E de literatura, escritores que eu goste ou que venha a conhecer, entendeu, que queira conhecer o trabalho.T: Nunca aconteceu contigo de tu olhar a capa e depois buscar maiores informações?E: Não muito. Isso me acontece mais com fi lmes. Com livros, não muito, até porque eu não vou muito nesses Best-sellers e coisas assim, livros muito coloridos, normalmente eu pulo esta parte da livraria.

T: Vai lá pelo conteúdo mesmo.E: É, normalmente.T: Ficou com vontade de comprar algum aqui na feira?E: Eu tô chegando agora, mas já achei alguns, aqui.T: E aqui tu ta escolhendo pelo título, porque só tá exposta a lombada.E: É, normalmente eu escolho assim pelo título, tanto que nem vejo a capa.T: Então ta, obrigada.

Entrevista 9Homem, 25 anos.Escolaridade: superior incompletoÁrea de interesse: medicina

T: Gosta de ler livros?E: Gosto.T: Que tipo?E: Eu prefi ro mais literatura técnica, livros de medicina... Eu gosto também de história, geografi a, biologia T: Quantos livros você lê, em média, por ano?E: Contando literatura técnica?T: Aqueles que tu lê sem ser obrigado.

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E: Uns 2 ou 3, eu acho.T: E o que te chama mais atenção na hora de escolher um livro?E: Geralmente, se é um assunto que me interessa o livro. E costumo dar uma lida no resumo. Na resenha do livro.T: E tu também escolhe os livros pelas lombadas , que nem ela, ou tu olha a capa?E: Geralmente a capa te chama atenção primeiramente, mas depois pelo conteúdo.T: Alguma vez tu já comprou um porque a capa te chamou muito a atenção?E: Não.T: Ficou com vontade de comprar algum aqui na feira?E: Eu cheguei agora e na verdade eu tava dando uma olhada aqui na Revolução Russa, que eu ia pegar pra dar uma lida atrás, que eu achei interessante.T: Nesse caso o que te chamou mais a atenção foi o nome?E: É. T: Então tá. Obrigada.E: De nada.

Entrevista 10Mulher, 25 anos.Escolaridade: SuperiorÁrea de interesse: Pedagogia

T: Gosta de ler livros?E: Não muito.T: E quando tu lê, de que tipo é?E: Infantil.T: Tu tem necessidade de ler livro por motivo profi ssional?E: Tenho, mas não leio.T: E quantos livros tu lê por ano?E: Uns 10 eu acho, mas é infantil.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: As páginas. O tipo de papel.T: E alguma vez tu comprou porque a capa te encantou?E: Não.T: Tu fi cou com vontade de comprar algum na feira?E: Não olhei muito, mas o Crepúsculo eu fi quei com vontade, é o mais vendido.T: Mas tu fi cou porque ele é o mais vendido, ou por causa das capas?

E: Na verdade eu nunca tinha reparado nele, daí eu hoje eu me sentei, porque a gente começa a trabalhar às duas[horas] aqui , mas chega a uma[hora], daí eu comecei a ler, e tá, agora eu quero ver se compro todos, porque ler um só não dá. São cinco! T: Mas a capa do crepúsculo é bonita.E: A mais bonita é a Lua Nova.T: Então tá. Obrigada.E: De nada!

Entrevista 11Mulher, 21Escolaridade: Superior incompleto.Área de interesse: Direito.

T: Tu gosta de ler livros?E: Muito.T: Que tipo de livro?E: Eu gosto de todos, acho que leitura nunca é demais, mas ultimamente eu tenho lido mais os de Direito, do meu curso mesmo.T: Mas daí é por obrigação, ou tu gosta mesmo?E: Não. Eu leio a título de curiosidade, só pra saber

mesmo.T: Quantos livros tu lê, mais ou menos, por ano?E: Bah, não sei dizer, é que eu leio mais de curso agora, daí dependendo da quantidade de cadeiras... T: E como tu escolhe esses livros?E: Eu vejo um autor que eu me identifi co mais, que me adapto melhor e pego aquela coleção, pra ler à medida que o curso vai avançando. Leio pra me aprofundar.T: Então o que te chama a atenção na hora de escolher o livro é o autor?E: É o autor que eu me identifi co e o tipo do livro.T: E alguma vez tu já comprou porque a capa te chamou a atenção?E: Já.T: Tu te lembra de algum, para dar exemplo?E: Agora mesmo, não faz muito tempo eu comprei aquele “A menina que roubava livros”, por causa da capa.T: Eu também... e teve alguma coisa que te chamou mais

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a atenção, ou foi a capa no geral?E: Eu achei a capa, e aquela frase de efeito,̋ Quando a morte conta uma história, você tem que parar pra ler ,̋ aquilo ali.T: Na feira, tu já deu uma olhada, e fi cou com vontade de comprar algum?E: Já.T: Qual?E: Aquela série ali, do Crepúsculo, tem uns da Nora Roberts também. T: E esses, porque tu fi cou com vontade de comprar eles?E: O do Crepúsculo?T: É, um desses, pra dar exemplo.E: O do crepúsculo porque agora é febre, tá todo mundo falando e aí eu fi quei com vontade de ver também.T: E tu dá uma olhada dentro do livro na hora de comprar?E: Sim.T: E o que tu repara?E: Eu reparo no tamanho da letra, no espaçamento, eu dô uma olhada assim pra ver,…T: Pra facilitar a leitura…

E: É.T: E tem algum livro que tu tá com muita vontade de comprar e ainda não comprou?E: Não, não. Não que eu lembre.T: Então, tá. Obrigada.E: Merece.

Entrevista 12Mulher, 26 anosEscolaridade: Superior incompletoÁrea de interesse: Biologia

T: Gosta de ler livros?E: GostoT: De que tipo?E: Literatura e na minha área também, Ciências Biológicas.T: E Ciências Biológicas, tu lê por obrigação ou porque tu gosta?E: Porque eu gosto. Leio também sobre a questão da evolução e livros sobre genética.T: Quanto livro, mais ou menos, tu lê por ano?E: 6 ou 7T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?

E: Olha, na parte da literatura, principalmente o tema, né? O tema e a capa, porque a capa sempre te traz o livro, né? Tu olha uma capa assim, e ó! Vamos ver do que que é isso.T: Então a minha próxima pergunta tu já respondeu, que era se tu já comprou livro pela capa.E: Já fui até o livro pela capa.T: E tu lembra o que mais te chamou atenção, na capa de algum livro que te marcou muito?E: Olha, é que tem capas que fazem tu pensar, né? Que nem, por exemplo, o livro “A cabana” mesmo, tu olha e tem uma cabana, e tu quer desvendar o mistério. Ele te traz a ver “Afi nal, o que tem nesse livro? .̋ O que que te faz chegar? Ou, às vezes, o jogo das cores, as capas com cores vermelha, amarelo, dependendo do tom, te chama assim, às vezes tu ta passando de longe e vê e ˝ó! o que será aquilo ali?˝T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro também

quando tu compra, ou tu só percebe isso quando chega em casa e vai ler o livro?E: Ah, eu olho. Olho a frente, a contra-capa e atrás do livro, porque, assim, a capa te chama, mas, às vezes, tu vai olhar o assunto e não é nada daquilo. Daí não interessa capa ser bonita.T: E as páginas de dentro do livro? Tu chegas a folhear antes de comprar ou não?E: Não. Nunca folheio.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Olha, tem alguns livros que eu pretendo ler e nós temos aqui na feira também.T: E o que tá te motivando mais a ler esses livros?E: Ele é uma continuidade de um livro que eu já li. Essas coisas da capa são bem interessantes. Por que eu trabalho na biblioteca do Campus II da UCPel e eu reparo que as capas de moda são as mais bonitas, depois vem as de publicidade e as de Biologia tem umas fotografi as

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bem bonitas nas capas. T: É... geralmente esses livros que são destinados a pessoas mais ligadas à estética são mais elaborados.E: E outra coisa que eu vejo lá é que às vezes os alunos têm que ler algum livro pra uma disciplina e eu já vi muita gente preferindo não pegar, porque a capa tava feia ou velha. Daí eu já acho um absurdo, porque como que não vai ler uma coisa por causa da capa que tá feia, se é obrigatório pra disciplina?T: É verdade. Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 13Mulher, 24 anos.Escolaridade: Superior completoÁrea de interesse: Direito

T: Gosta de ler livros?E: Gosto muito.T: De que tipo?E: Romance, espírita.T: Você sente a necessidade de ler livros por motivos profi ssionais?E: Leio, muito.

T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Por vontade própria, esse ano, li três, tô na metade do terceiro.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro? Tu lê porque alguém te indicou ou... E: A maioria é indicação; autor eu nunca presto atenção. É o tipo da história, tipo da linguagem do livro, eu vejo atrás e tento dar uma olhadinha no tipo de linguagem.T: Tu vai numa livraria e vê um monte de livro, o que te chama a atenção para escolher um?E: Principalmente o nome do livro, capa e depois a historinha dele, se vai se desenvolver numa história interessante ou não.T: Tu já comprou livro por causa da capa?E: Só por causa da capa, não.T: Mas que a capa teve papel importante na tua escolha?E: O nome do livro tem mais que a capa.T: E se o livro for feio e

horroroso?E: Não tenho muito problema com isso, a maioria dos espíritas não são muito atraentes, né?T: Tu chega a olhar dentro do livro na hora de escolher, ou não?E: Chego, se não tiver o plástico e puder olhar.T: Mas tu olha dentro pra ver a folha, a letra ou…E: Não, pra ver a linguagem, leitura mesmo. a linguagem que o livro vai trazer, principalmente como começa o livro. Se eu começar a ler e ele não me atraiu pode ser a história maravilhosa, que eu não vou ler.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Já.T: Qual?E: Tem “A Cabana”, que eu gostei muito, tem o da Martha Medeiros, e tem outro que é “A menina que roubava livros”, mas a maioria é por indicação, que daí eu já vou nos que me indicam.

T: Nenhum deles é porque te chamou a atenção?E: Não, não. É muito livro, né, pra um te chamar a atenção.T: Então, tá, obrigada.

Entrevista 14Homem, 25 anos.Escolaridade: 3° Grau incompleto.Área de interesse: Jornalismo.

T: Gosta de ler livros?E: Não.T: De nenhum tipo?E: Só leio livro especifi co de fotografi a.T: Quantos tu lê, mais ou menos, por ano?E: Seis, sete.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher esses livros?E: O conteúdo, quem escreveu, se é autobiográfi co ou não.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa? Ou escolheu o livro pra ler por causa da capa?E: Não.T: Ou te chama a atenção por causa da capa, e daí tu

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escolhe pra ver do que se trata.E: Não. Normalmente eu compro, porque eu já sei o quero, o conteúdo.T: Indicação?E: É, por indicação.T: E tu nem olha a parte de dentro do livro pra ver alguma coisa?E: Normalmente eu procuro na internet alguma coisa sobre o livro.T: Mas só sobre o assunto?E: É, sobre o assunto.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Não vi nenhum por enquanto.T: Nenhum te chamou a atenção?E: Não.T: Então tá, obrigada!

Entrevista 15Mulher, 25 anos.Escolaridade: Superior incompletoÁrea de interesse: Administração

T: Gosta de ler livros?

E: Gosto.T: De que tipo?E: Histórias verídicas e drama também.T: Você sente a necessidade de ler livros por motivos profi ssionais?E: Não.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Se fosse mais barato, acho que eu leria uns cinco no mínimo, mas leio um por ano.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Geralmente a publicidade dele é o que me chama mais a atenção.T: Alguma vez tu já comprou porque a capa te chamou a atenção?E: Não, não, capa não, mais a publicidade dele.T: Tu chega a olhar a parte de dentro do livro também quando tu compra ou tu só percebe isso quando chega em casa e vai ler o livro?E: Com certeza.T: Só pra ler a história ou pra ver o tamanho da letra ?

E: Não, só pra ver a história.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Vários.T: Qual que te chamou mais atenção ou por que tu fi cou com vontade de ter ele?E: É que assim, tem um que é “A menina que roubava livros”, que eu quero, quero, quero, mas acabo não comprando. T: E esse aí é porque te indicaram ou porque tu te apaixonou pela capa?E: É porque me indicaram. A capa é super bonita, mas é porque me indicaram.T: Então tá. Obrigada!

Entrevista 16Homem, 60 anos.Escolaridade: 2° GrauÁrea de interesse: atua no comércio.

T: Gosta de ler livros?E: Leio alguma coisa, pouca coisa. T: De que tipo?E: A única coisa que eu leio mais é o diário popular. Quando não, agora no

momento, tô lendo mais historias infantis, por causa dos netos. Eu tenho um neto de três anos e meio, que tá morando com nós há dois e meio e, é brincadeira, tem que repetir quatro, cinco vezes a mesma história!T: Pro senhor , o senhor não gosta muito?E: Não tenho quase tempo.T: Qual é a média de livros que tu lê por ano?E: Um, quando muito.T: E o que te chama mais a atenção na hora de escolher um livro?E: O último que eu li foi um livro espírita. Daí eu lia um capítulo quando dava, outro noutro dia, até que consegui ler todo.T: E esse aí o senhor escolheu por quê? Porque te indicaram?E: Minha esposa tinha lido e tinha gostado muito, daí mesmo, agora ela tá olhando uns ali.T: E alguma vez tu já quis ler um livro por causa da capa dele?E: Não. Eu só li mais por causa

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da história que ela me contou.T: E antes de ler um livro, tu já pensou em abrir ele pra ver o tamanho da letra ou alguma coisa assim?E: Não. Não me chama quase a atenção, no momento é história infantil, que é pros netos, daí eu vejo as fi guras, pra ti ir ilustrando pra ele:”o o lobo mau, e tal”T: Então tá, muito obrigada!

Entrevista 17 e 182 Mulheres, idosasEscolaridade:A-Primário/ B-SuperiorÁrea de interesse:A-comércio com jóias /B-jornalismo e música

T: Vocês já sentiram necessidade de ler por causa do trabalho?A-Não, nunca precisei. Eu sempre li porque gosto de ler.B- Eu só lia na época da faculdade, depois não.T: Que tipo de livros gostam de ler?A-Qualquer tipo.T: E a senhora também?B-O que cai na rede é peixe.

T: E o que chama mais a atenção na hora de escolher um livro?B- Ah, eu olho lá a contracapa, e a orelha, pra ter uma noção do que contém.A – Agora, por exemplo, eu tô com idéia de comprar o do Padre Fábio.T: E é mais pelo assunto, a capa nunca chamou a atenção de vocês para escolher um livro?B- Não, só lá na orelha e na contracapa.T: E pra vocês pegarem o livro e verem a contracapa, o que chama a atenção não é capa?B-É o título.A- Às vezes a capa chama atenção. Por exemplo, aquele do cachorro, eu achei o cachorro bonito e fui olhar o que que era.T: E vocês olham a parte de dentro também para escolher? As letras, as páginas?B-Agora eu não faço isso; houve tempo em que eu fazia, agora não. Agora eu vou ali pelo que eu te disse, a orelha e a contracapa.

A- É, eu também, é isso aí, eu pego o livro e olho ali, se o assunto interessa, vai adiante.B- E se o bolso permite, porque outro dia, eu vi um na livraria Mundial, fi quei encantada,mas vi o preço e...T: Tu te lembra qual era o livro?B-Era o seriado do Luis Pseol Migre[não sei como se escreve] .T: E o que lhe chamou a atenção nesse livro?B-É que eu já vi alguns episódios na televisão.T: Então tá, obrigada.

Entrevista 19Homem, 56 anos.Escolaridade:3° grauÁrea de interesse: Arquitetura e urbanismo

T: Gosta de ler livros?E: Tô levando.[mostrou o livro dentro da sacola]T: De que tipo?E: Técnico.T: E esse técnicos é porque tu gosta ou porque tu tem que ler?E: É por necessidade e

também porque aprendi a gostar.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: É o conteúdo.T: O nome do autor, alguma indicação?E: Não, eu geralmente, o nome do autor não vai às vezes o autor é desconhecido e o livro é muito bom e acontece na maioria das vezes.T: E alguma vez tu já comprou por causa da capa do livro?E: NuncaT: Nunca a capa te chamou a atenção e só depois tu foi ver sobre o que era o livro?E: Uma vez na livraria da faculdade de arquitetura na USP, um me chamou a atenção. Foi o primeiro livro que eu vi com material reciclado, ele era feito de caixa de papelão aproveitada, e ele era muito bom porque nele vinha todas as estruturas da... já ouviu falar da Casa da Retorta em SP?T: Não.E: A Casa da Retorta tem

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várias estruturas em metais que são antiguíssimos e que são fora de série. E também o centro de eventos em SP, tem passarelas em X e sobre estrutura retilínea e nele vinha isso e foi o único também. Eu passei os olhos e abri assim.T: Você observa a parte interna antes de comprar, como o tamanho das letras, o espaçamento?E: É a primeira coisa que eu faço. Eu nunca pego a capa. O título te chama a atenção e depois tu abre e vê.T: E quando tu abre é pra ver o tamanho da letra, espaçamento, ou... E: Não. Eu quero ver o conteúdo e o que tem nele.T: O que tu comprou aqui na feira?E: Ah, é sobre arquitetura. T: E por que tu comprou?E: É de um ex-professor meu, já falecido, um bom professor, e daí eu vi e pensei, vou levar.T: Foi só por causa do nome dele então?E: Não. É pelo conteúdo que ele tinha como professor,

pela pessoa dele, era um cara querido, um cara show na matéria, e... não sei, tô levando porque é uma recordação e vai me ajudar também.T: Tá bom, então, obrigada.E: De nada!

Entrevista 20Mulher, + de 40 anosEscolaridade: Superior completoÁrea de interesse: História

T: Gosta de ler livros?E: MuitoT: De que tipo?E: Todo tipo.T: Você sente a necessidade de ler livros por motivos profi ssionais?E: Não, além da profi ssão , o gosto.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Geralmente alguma coisa que alguém já recomendou.T: Alguma vez tu já escolheu um livro por causa da capa?E: Não.T: Nunca?E: Não, que eu me lembre,

não.T: Tu olha na parte de dentro do livro, pra ver se é agradável de ler ou coisa assim?E: Geralmente eu leio pra saber o assunto.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Não. Hoje eu só comprei pra pequena, pra mim hoje nada.T: Então tá. Obrigada.

Entrevista 21Homem, 50 anosEscolaridade: 2° GrauÁrea de interesse: trabalha com comércio

T: Gosta de ler livros?E: Sou meio preguiçoso pra ler livros, até gosto, mas T: Dos que tu lê, qual é o tipo que tu gosta mais?E: Sabe que faz tanto tempo que eu não leio ultimamente, mas eu acho que é mais pro lado de aventura.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Eu vou mais pelo título.T: E o senhor já escolheu

algum por causa da capa?E: Já. Eu li o não sei te dizer o autor, A ilha, a capa também me chamou a atenção, foi o único livro que eu li desde o começo até o fi m.T: E teve algum elemento que te chamou mais a atenção na capa, alguma coisa?E: Foi a paisagem que tinha, a paisagem tava relacionada ao próprio nome do fi lme, a ilha.T: E antes de tu ler um livro, tu dá uma olhada nas páginas de dentro?E: Geralmente eu dou uma olhada no começo do livro, na como é que se chama, a T: No índice?E: No índice ali e geralmente eu dou uma olhada lá no fi m da história. Deve ser por isso que eu não leio todo o livro, quando eu pego um pra ler.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Vontade sempre tem,o problema é que geralmente são caros os livros.T: E qual foi o que te chamou mais a atenção?

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E: Eu recém comecei a olhar algum aqui, foi “A Hospedeira”.T: E por que que te chamou a atenção?E: Pela capa.T: Tem algum elemento da capa?E: Na imagem tem um olho, um olho grande na capa.T: Então ta, obrigada.

Entrevista 22Mulher, 29 anosEscolaridade: cursando o 2° ano do ensino médio.Área de interesse: medicina

T: Gosta de ler livros?E: Gosto, mas sou um pouquinho preguiçosa também.T: Qual o tipo que tu gosta de ler?E: Agora eu tava olhando os espíritas.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Muito pouco.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Ah, o título, né?

T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa?E: Também.T: Tu te lembra algum, pra dar exemplo?E: Olha, que eu comprei, não, mas que eu li foi “O Rapto”, pra um trabalho da escola que eu fi z, mas li assim, começo, meio e fi m, hehe.T: E foi a capa que te dava mais vontade de ler o livro?E: Foi.T: E o que te chamou mais atenção nela, tu sabe dizer?E: Era um menino, ele fi cou preso num oceano e aquela coisa toda…T: Foi a imagem então. E tu chega a dar uma olhada na parte de dentro do livro antes de ler?E: A maioria das vezes.T: Pra ver o conteúdo, ou pra ver, tipo, o tamanho da letra E: Pra ver o segmento da história.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: “Violetas na Janela”.T: Por causa dele ser famoso,

ou por causa de algum elemento da capa?E: Não, por causa do título, mesmo.T: Então tá, obrigada.

Entrevista 23Homem, 22 anosEscolaridade:Superior incompleto Área de interesse: Agronomia

T: Gosta de ler livros?E: Mais ou menosT: De que tipo?E: Um pouco de fi cção e bastante técnico.T: Tu lê bastante coisa porque tu é obrigado a ler, ou porque tu gosta mesmo?E: Ficção é porque eu gosto e técnico porque eu preciso.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: O título, a capa, o abstract que eles mostram, enfi m, todo o contexto me leva a comprar o livro.T: Alguma vez tu já comprou, ou leu um livro por causa da capa?

E: Já, por exemplo, esse aqui ó[Um homem que ouve cavalos], um livro com uma capa atraente, que te induz a saber o que tem por dentro.T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro também quando tu compra ou tu só percebe isso quando chega em casa e vai ler o livro?E: Observo. O tipo de letra, o papel também.T: Qual foi o livro que te chamou mais atenção aqui na feira, que tu fi cou com vontade de comprar ou alguma coisa assim?E: O que me chamou a atenção nessa feira foi bastante presença de livros com presença de vampiros. Agora com a série do Crepúsculo, Lua nova, e etc. e isso tem me atraído e eu tô pensando em comprar uma coleção completa. T: Esses tu quer comprar porque tá todo mundo falando?E: É, porque tá na moda agora.T: Então tá. Muito obrigada.

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Entrevista 24Mulher, 28 anos.Escolaridade: 2° Grau completoÁrea de interesse: Humanas

T: Gosta de ler livros?E: Gosto, mas não tenho o hábito.T: De que tipo?E: Geralmente é espírita, anjo.T: Você sente a necessidade de ler livros por motivos profi ssionais?E: Não.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Um.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?Namorado: - A fi gura.E: Não, não é a fi gura. Geralmente é, como é que vou te explicar o começo do livro, se o começo for interessante, não importa nem qual é . Assim, se eu pegar o começo e é interessante eu termino lendo.T: Mas, por exemplo, tu tá aqui na feira, no meio desse monte

de livro, o que vai te chamar a atenção?E: Eu gosto de magia, milagre, anjo, me chama atenção educação, livro infantil, porque eu tenho uma fi lhinha.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa dele?E: Não. Geralmente é pela introdução e pelo título.T: E tu dá uma olhada dentro do livro também quando tu compra?E: Ah, dou. Sempre abro em alguma página e dou uma lidinha ali.T: E tu olha só o conteúdo do texto ou tu vê também o tipo de letra que vai deixar a leitura mais fácil?E: Também. Não gosto de livro com letra muito pequenininha, porque chega uma hora que tu tá lendo e aquilo fi ca cansativo e se tu já não tem o hábito de ler, pior ainda.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Já foi esse aqui, Milagre e Magia.T: E esse aí foi por causa do

título ou porque te chamou a atenção?E: Primeiro foi por causa do título e depois a gente deu uma olhadinha por aqui e aí viu sobre os anjos e algumas coisas que me chamaram a atenção.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 25Homem, 23 anos.Escolaridade: cursando o nível superiorÁrea de interesse: administração

T: Gosta de ler livros?E: Não é bem a minha cultura, mas gosto.T: De que tipo?E: Todos.T: Não tem nenhum que te chame mais a atenção?E: Não.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Um.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: O assunto.T: Alguma vez tu já comprou

um livro por causa da capa dele?E: Não. T: Nenhuma vez tu foi ver o livro porque a capa te chamou a atenção?E: Se a capa me chamou a atenção e eu achei legal.T: Então tu acha que a capa infl uencia na tua vontade de ler o livro?E: Talvez infl uencie, se o assunto for bom.T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro também quando tu compra ou tu só percebe isso quando chega em casa e vai ler o livro?E: Se ele tiver aberto que nem esse aqui, sim. T: E tu olha só pra ver a história, ou o tamanho da letra E: Não, não. O tamanho da letra não.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Olha, pra te falar a verdade, recém to chegando.T: Então tá. Muito obrigada.

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Entrevista 26Homem, 21Escolaridade: 2° Grau completoÁrea de interesse: Arquitetura

T: Gosta de ler livros?E: Gosto, gosto bastante.T: De que tipo?E: Ah, não sei. História esses tipos assim, mais ou menos. Gosto muito sobre a Guerra Mundial.T: Tu lê livro porque tu é obrigado?E: Não, é porque eu gosto. Eu tô sempre lendo alguma coisa, uma revista, um livro.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Olha, por ano, média de três a quatro.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Eu gosto também de fatos reais, bem realidade, até o último livro que eu li foi aquele, bizarro, da Bruna Surfi stinha, [risos] muito bizarro.T: Tu escolheu ele só por causa

do marketing, ou... E: Eu escolhi porque eu gosto de saber da vida das pessoas. Eu gosto de biografi as eu achei meio bizarro, assim, mas é um livro legal até.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa dele? Ou tu leu ele com mais vontade por causa da capa?E: Não, acho que não. Porque eu sempre gosto de ver a crítica, né, que fala “O livro é bom, é interessante ,̋ daí eu gosto de ler. T: Daí tu já vai na livraria sabendo o que tu vai levar?E: É, sabendo o que eu vou levar.T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro pra ver letras e coisas assim?E: Figuras e coisa assim? Não, não.T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: Não, acabamos de chegar e não tem nenhum que nos chamou a atenção.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 27Mulher, + de 40 anos.Escolaridade: Ensino Superior.Área de interesse: Pedagogia, economia doméstica, nutrição.

T: Gosta de ler livros?E: Eu gosto, é que eu ainda continuo na ativa. Já tô aposentada, mas trabalho oito horas, mas o tempo que eu posso, eu leio alguma coisa.T: De que tipo?E: Ah, eu gosto de ler mais livros do tipo, assim, de terapia e educação mesmo.T: É mais profi ssional?E: É, mais profi ssional.T: Mas não é por obrigação?E: Não, não. É porque eu gosto.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Por ano não é muito, acho que uns quatro, cinco ou seis, mais ou menos, por ano. Eu leio também livros espíritas. Eu não sou espírita, mas eu gosto de ler por curiosidade.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?

E: Título.T: Alguma vez a senhora comprou por causa da capa dele? Que a capa te chamou a atenção?E: A capa também, o título e depois a capa. É o que mais a gente visualiza, né? A capa é a primeira coisa e a orelha também; eu sempre leio pra ver do que se trata.T: E a senhora olha também a parte de dentro do livro, pra ver a letra Isso também eu dou uma olhadinha, A gente já tá no cinquenta, tem que cuidar!T: Ficou com vontade de comprar ou comprou algum aqui na feira?E: O que eu pretendo comprar, eu já li há muito tempo, vou ler de novo. Aquela: Violetas na Janela.T: Daí a senhora tem vontade de comprar por causa da história mesmo?E: É, da história mesmo. Ah, e a capa dela é bonita também, né? Tem umas violetas bem coloridas; eu pretendo ler esse. E o da educação eu não

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cheguei a olhar alguma coisa ainda.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 28Mulher, + de 40 anos.Escolaridade: Pós-graduação.Área de interesse: Serviço Social, Direito, Ciências Sociais.

T: Gosta de ler livros?E: Muito.T: De que tipo?E: Eu gosto muito de romances, gosto muito de biografi as, eu adoro, agora vou comprar de novo “As veias abertas da América Latina”. Sabe, aquela, que tu empresta? Eu compro muitas vezes o mesmo livro, que eu já emprestei. Tem vários livros que eu já comprei várias vezes na minha vida, que são marcos históricos na minha vida. E eu tô assim encantada, o primeiro dia que eu posso vir. T: Alguma vez a senhora já comprou um livro por causa da capa dele?E: Não, não, nunca.

T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: O autor, que eu tenha lido alguma crítica a respeito.T: Então tu já vai pra livraria com alguma idéia do que comprar?E: É acho que sim, porque eu vejo em revistas, eu vejo na internet e eu já vou indo direto no autor, normalmente.T: E a senhora chega a olhar a parte de dentro do livro?E: Nas orelhas, sim. Sempre. T: Mas na parte de dentro pra ver se a letra é muito miúda, se vão tornar cansativa a leitura E: Não.T: Não? Nunca prestou atenção nisso?E: Não. Eu gosto de desafi os.T: Ficou com vontade de comprar algum aqui na feira?E: Já. Eu tenho que me cuidar na feira do livro... é uma coisa perigosíssima pra mim, porque geralmente gasto mais do que posso. T: E tem algum em especial?E: O Jabor, por exemplo, é a

ironia, a inteligência que ele coloca as coisas. Crítica irônica maravilhosa. T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 29

Mulher, 26 anos.Escolaridade: Superior IncompletoÁrea de interesse: História

T: Gosta de ler livros?E: Muito.T: De que tipo?E: Eu gosto de livros de história mesmo, que é o que eu faço. E fi cção também.T: E esses livros de história que tu lê, é por obrigação ou porque tu gosta mesmo?E: Alguns é por obrigação, mas eu gosto também.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Não sei. Acho que uns dez, quinze, por aí.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Na verdade eu compro o que eu escuto falar que é bom.

T: Então, quando tu vai na livraria, tu já vai com algo em mente?E: É.T: Nunca aconteceu de uma capa te chamar a atenção e depois tu ir ver sobre o que é o livro?E: É, já. T: Tu te lembra qual foi?E: Foi um espírita, mas não lembro qual era o nome do livro. T: E a capa dele, tu lembra o que te atraiu?E: Era uma coisa assim, de auto-ajuda, alguma coisa assim.T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro também quando tu vai comprar, pra ver se é mais claro, mais escuro...E: Olho.T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Eu acabei de chegar.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 30Homem, 19 anos.Escolaridade: Ensino médio completo.Área de interesse:

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Engenharia.

T: Gosta de ler livros?E: Gosto.T: De que tipo?E: Ficção.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Ah, uma história interessante, geralmente, uma história que te prenda, que não seja muito maçante, que não se torne uma coisa chata de ler.T: Daí tu te interessa por um livro porque tu ouviu falar dele, ou tu olha a capa, te chama a atenção?E: Eu procuro indicações. Olho algum livro que eu não conheço ainda, leio a sinopse do livro; é assim que eu escolho meus livros.T: Já te aconteceu de tu comprar um por causa da capa?E: Já e não gostei.T: Qual foi o livro , tu te lembra?E: Bah, se eu não me engano, Fortaleza Digital, do Dan

Brown; eu não me agradei muito dele.T: E tu pegou por causa da capa o que te chamou a atenção na capa, tu sabe dizer?E: Ah se eu não me engano a capa tem... T: Não é uma coisa verde ?E: Isso. É uma coisa verde assim, eu não me lembro muito direito, mas a imagem assim, parecia ser uma coisa bem legal, uma coisa meio ˝matrix˝ assim na capa.T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro quando tu vai escolher?E: Sempre.T: Tu vê o tipo de papel ou só o conteúdo?E: Não, eu quero escolher um livro bom, que dure, né? Não adianta a gente comprar um livro que não vá durar muito tempo. T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Não, eu tô procurando agora, dele, que todo mundo fala, que é por indicação do meu irmão, que é: O ponto de

impacto, que diz que é melhor que Fortaleza Digital.T: Aí tu já tá procurando esse livro. Nenhum outro te interessou?E: Não, não, eu já to procurando os livros certos, que vêm por indicação.T: Então, tá. Muito obrigada.

Entrevista 31Mulher, 17 anosEscolaridade: Cursando ensino médioÁrea de interesse: História

T: Gosta de ler livros?E: Gosto.T: De que tipo?E: Ficção histórica.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: A caracterização dos personagens, a época do livro, o autor também, se eu já conheço.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Cinco livros.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa dele?E: Não.

T: E tu chega a olhar a parte de dentro do livro quando tu vai comprar?E: Vejo.T: Tu vê só pra ver o conteúdo, ou tu vê o tipo de papel, a letra E: Eu vejo mais pra ver o conteúdo, mas às vezes a gente acaba percebendo também o tipo de papel T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Fiquei.T: Qual?E: Aquele ali: “A Guerra dos Mundos Emersos”.T: E por que tu fi cou de vontade de comprar esse livro?E: Eu vi a parte de trás do livro e achei interessante. T: Mas antes de tu pegar ele e ver a parte de trás?E: A capa.T: Algum elemento em especial da capa?E: Muito colorido.T: Então tá. Muito obrigada.E: De nada.

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Entrevista 32Homem, + de 40 anos.Escolaridade: SuperiorÁrea de interesse: Direito

T: Gosta de ler livros?E: Só os que me interessam e não é de Direito, é sobre bebidas agora. Eu procuro tudo sobre bebidas.T: Sobre fazer bebidas?E: Eu tô fazendo uma fábrica de bebidas. Pra mudar meu ramo total.T: E o que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: O que me chama é a bebida, como é um negócio novo que eu não conheço, né? Então tô começando. Sou velho, mas tô começando. Então tudo que interessa sobre a bebida, como fazer, estudo tudo sobre a bebida. Eu procuro isso aí.T: Alguma vez você já comprou algum livro pela capa te chamar a atenção?E: A capa é importante. A capa te chama atenção, mas o conteúdo é que tu vê a capa e o conteúdo tu vai ver pela

capa. Mas no meu negocio, se tiver um sobre a destilaria, eu vou na destilaria, eu já tenho uma tonelada de livro disso, tá? Então eu tô estudando pra ver se eu gosto. Licores, então eu vejo sobre licores, então eu tô procurando. A capa é importante porque chama a atenção, mas o conteúdo pra mim, é mais importante ainda.T: E tu dá uma olhada na parte de dentro do livro antes de comprar?E: Ah, sim, sim.T: E tu olha só pra ver o conteúdo, ou tu olha pra ver o tipo de material E: Eu olho pra ver se serve pra mim, porque tem livro que é só conversa fi ada; então eu quero o mais certo, que sirva pra mim. O meu conteúdo é mais pra prática; então não é pra estudo, é prática. Eu tô fabricando bebida, então, tem que ser coisas pra bebida pra pessoas que não entendem nada. Eu não entendo nada disso, então, eu tô descobrindo o livro.T: E aqui na feira já teve algum

que te chamou a atenção?E: Eu achei um aqui, que hoje a minha mulher me falou: “Ó tem um negócio sobre aquele, como que é? Que cura tudo, teve uma propaganda na televisão, que apareceu o livrinho, sobre o...̋ que me chamou a atenção.T: E o que te chamou a atenção nesse livro?E: Me chamou a atenção e eu vi isso aqui, ó, linhaça! O meu negócio é voltado pra saúde agora. Depois dos sessenta, tu te preocupa com os cem, então tudo que é a favor da saúde e tu pode usar pra beber eu compro.T: Então não teve nenhum que o senhor comprou que foi a capa que te chamou a atenção?E: Não, a capa não, não, eu não compro pela capa, eu compro pelo que me interessa. Às vezes tem um livro muito bonito, que tu olha assim, umas letras bem grandes que é pra ter bastante volume. Aí o preço é caro; então nem sempre o preço caro é bom,

ou, ás vezes o preço é caro, mas é muito técnico e não serve pra mim. Então tem que ser um meio termo, pra mim.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 33Mulher, 24 anos.Escolaridade: Superior completoÁrea de interesse: Design Gráfi co

T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: Ai não sei T: Uma média, um, dois?E: Não, deve ser tipo é que agora tá meio fraco, mas tava uma média de dez… ta, mas de que tipo?T: Que tu goste.E: Porque se for considerar todos os livros que a gente lê porque tem que ler, é, deve dar uns dez, por aí...T: E que tu gostava de ler?E: Tudo eu gosto, é que uns é meio por obrigação, e outros T: Quais são os tipos de livros que tu gosta de ler?E: Eu gosto dos livros Best-seller, eu leio livros

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de autobiografi a de irmãs siamesas [risos] sei lá, esse tipo de livro assim, romance.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: É quem escreveu, quem falou sobre, e é, é isso, principalmente isso.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa?E: Já e me dei mal também.T: Qual? Tu te lembra?E: Não. Não lembro nenhum que eu tenha me dado mal, mas eu já me dei mal por causa capa, e já me dei bem também; um que o nome era ruim e a capa era boa e aí eu comprei por causa da capa.T: E tu olha o miolo do livro quando vai comprar?E: Olho.T: E tu olha pra ver o conteúdo ou pra ver o... E: Olho pra ver o design! O conteúdo eu leio atrás.T: E aqui na feira tu já fi cou com vontade de comprar algum?E: Sim. Eu tô tentando me lembrar o nome, mas a capa

era vermelha.T: E o que te chamou a atenção nele?E: Tipo, coisa que me deixava assim, que eu não sabia o que era que tinha dentro. Ahn, uma coisa que o Fernando comentou, que os livros , esses agora, dos vampiros que tão bombando assim, né, que as capas do começo eram tri massa, e agora eles lançaram uma, tipo, tri promocional, assim, tipo os carinhas e tal, e daí meio que estragou o negócio. Então, capa tipo, as anteriores com elementos muito simples e que poderiam suscitar muitas coisas é o que me chama a atenção.T: Então tá bom. Muito obrigada.

Entrevista 34 Homem, 30 anos.Escolaridade: Superior completoÁrea de interesse: Design Gráfi co

T: Gosta de ler livros?E: Gosto. Gosto muito.T: De que tipo?

E: Desde livro técnico, romance, algum policial, depende.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: A história. Geralmente eu compro pela história. E livro técnico pelas minhas áreas de interesse, design editorial, fotografi a T: Que tu escuta falar…E: É, às vezes eu leio resenha, ou conheço o título e termino comprando pra ler.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa?E: Não, mas já deixei de comprar por causa da capa. Tem a edição e aquela capa estraga. Aquelas capas da Martin Claret são lamentáveis, profundamente lamentáveis.T: E tu olha a parte de dentro do livro quando vai comprar?E: Olho; sempre. T: Pra ver o conteúdo ou pra ver as páginas e letras?E: Os dois. Pra ver o conteúdo e pra dar uma olhada no é o mal de quem é da área.T: Quantos livros você lê, em

média, por ano? E: Em torno de oito, nove ou dez eu leio vários livros ao mesmo tempo.T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Não, ainda não. Eu tô com a minha leitura muito atrasada pra fi car com vontade de comprar mais um. Mas vontade a gente sempre tem, né? Sempre que vem fi ca com vontade de comprar um livro ou outro. Eu vi uma edição do “Em nome da Rosa”, do Humberto Eco, que tá bem bonita, que fi quei bem a fi m de comprar, porque a minha edição tá muito velha e é muito simples e tal.T: E o que te chamou a atenção nessa edição?E: Eu gostei muito da capa nova que fi zeram e até tem uns comentários do diretor do fi lme que passou ali e eu vi, mas acho que não vou comprar.T: Algum elemento em especial?E: Não, só a capa assim, porque ela faz referências à

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história e a capa que eu tenho é só texto assim; é daquelas edições mais baratas.T: Então tá bom. Muito obrigada.

Entrevista 35Mulher, 25 anos.Escolaridade: Superior completo.Área de interesse: Arquitetura

T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Por ano…acho que uns sete.T: E tu lê porque tu gosta ou por causa da profi ssão?E: Tem uns que é por obrigação e outros que é porque eu gosto.T: Qual é o tipo de livro que tu mais gosta?E: Romance e os da área de arquitetura.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: A capa.T: E tu olha a parte de dentro do livro quando vai comprar?E: Eu olho o tamanho da fonte. Se for muito próxima, eu já

acho que vai ser cansativo e nem compro.T: Qual foi um livro que tu comprou pela capa, que te marcou assim, o que te chamou a atenção para comprar aquele livro?E: O que que foi?… Acho que o livro “Espaços de Esperança” porque a imagem tinha uma linguagem muito poética e tinha a ver com o título.T: E aqui na feira tu já fi cou com vontade de comprar algum?E: Já, mas eu não vou me lembrar o nome.T: E por que te chamou a atenção?E: Pela imagem... e pelo título, que deve ser uma coisa aí eu fui pra sinopse e vi que a história pode ser interessante. É um romance.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 36Mulher, 27 anos. Escolaridade: 3° Grau completo.Área de interesse: Letras, Habilitação em Inglês.

T: Gosta de ler livros?E: Adoro ler.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Por ano? Ah, hoje em dia eu tô na média de um livro por mês, então doze.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: A temática, o estilo discursivo, o estilo do autor chama bastante atenção e eu vou muito por autor também. Se eu gosto de um autor eu tendo a ler todos os livros dele.T: Qual é tipo de livro que tu gosta?E: Eu gosto de romance, principalmente focado em fi cção científi ca e gosto de alguns livros técnicos também da área de física e da minha área, é claro.T: Alguma vez tu já comprou um livro por causa da capa dele?E: É acho que não, ou se foi, não me marcou, assim; o título sim, a capa não.T: E quando tu compra um livro tu chega a olhar dentro

dele pra ver o tipo de letra, o papel?E: Sim, olho, presto bastante atenção.T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Não, porque como eu ainda tô sem dinheiro, então não olhei nada, pra justamente não ter vontade de comprar.T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 37Mulher, 33 anosEscolaridade: 3° Grau, Pós-graduada.Área de interesse: Biologia.

T: Gosta de ler livros?E: Sim.T: De que tipo de livro?E: Eu gosto de livros de literatura, mas atualmente, como eu trabalho com biologia e eu sou professora, eu acabo lendo livros mais da minha área, Biologia, do que lendo literatura.T: Mas tu lê porque tu gosta ou porque tu têm que ler?E: Eu gosto, mas boa parte é obrigatória, mas nas horas vagas é literatura.

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T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Por ano? Posso pensar um pouquinho?T: Pode.E: Literatura, daí, dá uns cinco livros, que eu acho pouco, bem pouco.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Na hora de escolher é principalmente é o autor, atualmente eu procuro pelo autor. Por exemplo, agora eu quero ler um do Saramago, porque eu não li nenhum livro do Saramago, então vou atrás desse.T: Alguma vez tu já comprou por causa da capa do livro?E: Já.T: Lembra qual foi?E: Ai, qual foi?...eu não vou lembrar, mas já.T: E tu te lembra o que foi que te chamou a atenção nessa capa?E: Eu gosto de capa vermelha. Isso me chama muito a atenção. Quando a capa é vermelha eu bato o olho.

T: E quando tu escolhe um livro tu dá uma olhada dentro do livro?E: Não.T: E aqui na feira fi cou com vontade de comprar algum?E: Como é que é,” Mil fi lmes para ver antes de morrer”, mas também é uma coisa que eu já tava procurando e eu acabei de chegar. T: Então tá. Obrigada.

Entrevista 38Mulher, 28 anos.Escolaridade: 2° GrauÁrea de interesse: Educação Física.

T: Gosta de ler livros?E: Gosto.T: De que tipo?E: Livro espírita.T: Quantos livros, mais ou menos, tu lê por ano?E: Olha, por ano não sei te dizer, mas por mês, eu leio dois por mês.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Ah o conteúdo dele.T: Então tu já vai pra livraria

sabendo mais ou menos o que tu quer comprar?E: Sim, sim.T: Alguma vez você já comprou algum por que a capa te chamou a atenção?E: Não. Sempre pela história.T: Tu sempre ignora a capa e vai direto pra a parte de trás do livro?E: É sempre pela história. Eu olho a capa e tudo, mas o que eu vejo mesmo é a história.T: E quando tu escolhe um livro tu dá uma olhada dentro do livro? Pra ver o conteúdo ou o tipo de letra?E: Se der pra dar uma olhada, eu olho.T: E tu olha pra ler a história, ou pra ver o tipo de letra , o papel?E: Não, pra ler a história, pra ver que tipo de história é.T: Ficou interessada em algum aqui da feira?E: Em todos das livrarias espíritas, os da Zíbia, principalmente, que eu adoro, né? Já tenho uns quantos dela, mas eu adoro a Zíbia. Se puder, eu compro todos dela.

T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 39Mulher, 28 anos.Escolaridade: 2° Grau completoÁrea de interesse: Enfermagem

T: Gosta de ler livros?E: Bastante.T: De que tipo?E: Principalmente espírita. Nada mais me prende a atenção. Infelizmente, ou felizmente, é só espírita.T: Quantos livros você lê, em média, por ano? E: De um a dois por mês. Quando tenho tempo no trabalho… leio mais no trabalho do que em casa.T: O que mais lhe chama a atenção na hora de escolher um livro?E: Geralmente é por alguma indicação, mas eu procuro dar uma olhada na capa, se for bonita e chama a atenção; daí eu olho o fi nal, o resumo; daí se ela boa, a gente até pensa em comprar.T: E tu chega a olhar a parte

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de dentro do livro também quando vai comprar ou não?E: Geralmente eu olho no fi nal, o resumo dele. Por ali eu tiro uma idéia.T: Já comprou algum por causa da capa?E: Não, na verdade não. Eu gosto é do conteúdo do livro mesmo.T: E aqui na feira tu fi cou com vontade de comprar algum?E: Dentro do espiritismo, vários.T: Nenhum em especial?E: “Laços eternos”, da Zíbia.T: Por causa que é da Zíbia?E: Não, tem outros escritores bons também, que eu nem conheço, mas dei uma olhada na história assim. T: Então tá. Muito obrigada.

Entrevista 40Mulher, 17 anos.Escolaridade: Ensino médio incompleto

T: Gosta de ler livros?E: Não.T: Nem um pouco?E: Não.(risos)T: : Então tá. Obrigada.

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Este volume foi projetado por Thaís Sehn. Seu miolo foi impresso à laser em Couche Fosco 115g/m² na gráfi ca expressa Graphos. As principais famílias tipográfi cas utilizadas foram DejaVu Sans e DejaVu Serif. A capa foi projetada e impressa em serigrafi a sobre tecido por Thaís Sehn. A encadernação fi cou a cargo da Ofi cina de Livros Galhardi.

A tiragem é de 6 exemplares.

Críticas, sugestões e comentários: [email protected]