47
DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL DOS CRIMES CONTRA A PESSOA THIAGO SARMENTO DE SOUSA

THIAGO SARMENTO DE SOUSA. Os crimes, para fins didáticos, são classificados como: a) Simples ou Complexos b) Comum, Próprio, Especial e de Mão Própria

Embed Size (px)

Citation preview

DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL

DOS CRIMES CONTRA A PESSOATHIAGO SARMENTO DE SOUSA1. Noes IntrodutriasOs crimes, para fins didticos, so classificados como:

a) Simples ou Complexosb) Comum, Prprio, Especial e de Mo Prpriac) Instantneo, Permanente e Instantneo com efeitos permanentesd) Material, Formal e de Mera Condutae) De dano ou De ameaaf) Comissivos ou Omissivosg) Unissubjetivos ou Plurissubjetivos1.1. Simples ou ComplexosTem-se o crime simples quando o delito atinge apenas um nico bem jurdicoEx.: Homicdio (vida)

Agora, o crime ser complexo quando dois ou mais bens jurdicos so afetados por um nico tipo penal. Basicamente a juno de dois crimes que resultam em um novo.Ex.: Latrocnio (vida + patrimnio);Extorso mediante sequestro (liberdade + patrimnio); Extorso mediante sequestro com resultado morte (liberdade + patrimnio + vida).1.2. Comum, Prprio, Especial e de Mo PrpriaO crime comum aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, ou seja, que no precisa possuir caractersticas especficas para o cometimento do tipo.Ex.: Homicdio; Roubo; Latrocnio, etc.

Prprio o crime cometido por pessoa que ostenta posio jurdica especfica para cometer o tipo.Ex.: Funcionrio Pblico, Pai ou me da vtima, Mdico, etc.

Os crimes Especiais nada mais so do que aqueles previstos em leis extravagantes; ora chamadas de Leis Especiais, pois encontram-se fora do cdigo penal.Ex.: Genocdio, Tortura, Trfico de Drogas, Homicdio culposo no trnsito, etc. Por fim, o crime de Mo Prpria aquele crime em que a sua execuo no pode ser delegada outra pessoa. Diz-se que nestes crimes no possvel coautoria pois so de atuao pessoal, porm, em concurso de pessoas admitida a participao.Ex.: Falso Testemunho (apenas a testemunha) ou Falsa Percia (apenas o perito).1.3. Instantneo, Permanente e Instantneo de efeito permanente Instantneo o crime consumado de uma nica vez, hiptese em que praticado de forma sbita. Ex.: Furto, Roubo, Leso Corporal, Estelionato, Apropriao Indbita, etc.

Os crimes permanentes so aqueles em que o seu momento se d de forma duradoura. O agente criminoso quem decide a sua durao, ou ainda, para a consum-lo, necessariamente, precisa de longos perodos. Ex.: Extorso mediante sequestro, Crcere Privado, Sequestro, Trfico Ilcito de Entorpecentes (guardar, ter em depsito, expor venda)

O Instantneo com efeito permanente nada mais do que uma subclassificao do crime instantneo, ainda sendo subitamente praticado, mas cujos efeitos so sentidos de forma permanente. Ex.: Homicdio (sbito e com efeito permanente)1.4. Material, Formal e de Mera Conduta O crime material aquele cuja conduta do agente resulta necessariamente em alterao do mundo naturalstico. Os crimes materiais tm o condo de alterar o mundo exterior.Ex.: Homicdio, Roubo, Leso Corporal, etc.

O crime formal aquele cuja conduta, embora possa a vir a causar alterao no mundo naturalstico, a sua simples conduta j satisfaz o tipo penal. O ato pretendido com a conduta irrelevante. Tambm conhecido como crime de consumao antecipada ou crime de resultado cortado.Ex.: Extorso Mediante Sequestro (basta apenas extorquir via sequestro, ainda que o agente no consiga obter a vantagem ilcita); Sequestro qualificado para fins libidinosos.

Os crimes de mera conduta so aqueles que no tm o condo de alterar o mundo naturalstico, ou seja, o tipo penal se reduz apenas conduta, pois o resultado j a prpria conduta. Ex.: Calnia, Difamao, Injria (quando no realizada por meios aviltantes esta ltima), Porte Ilegal de Armas, etc.1.5. Crimes de Dano ou de AmeaaO crime de dano aquele em que deva ocorrer a leso ao bem juridicamente tutelado para que acontea a consumao do fato descrito no tipo. Ex.: Homicdio, Furto, Leso Corporal, etc.

O crime de ameaa aquele que representa perigo de leso a outrem, ainda que pela simples exposio.Ex.: Expor algum a contgio de molstia grave (130 do CP), Expor a vida ou a sade de algum (132 do CP), Praticar qualquer ato com fim de transmitir molstia grave de que est contaminado (131 do CP).1.6. Comissivos ou Omissivos So chamados crimes Comissivos aqueles cujo resultado proveniente de uma ao.Ex.: Estelionato, Homicdio, Leso Corporal, Furto, Roubo, etc.

Os crimes omissivos por sua vez, so aqueles cujo resultado surge da inrcia do agente. A omisso assim pode ser prpria (quando o agente no tem o dever jurdico de agir mas poderia evitar o resultado) e pode ser imprpria (quando o agente tem o dever jurdico de impedir a leso daquele que est sob sua vigilncia ou proteo). A omisso imprpria ainda recebe o nome de omisso por comisso (vide: art. 13, 2, a, b, e c, do CP).Ex.: Omisso de Socorro (nica omisso prpria existente), Abandono de Incapaz (omisso imprpria), Abandono de Recm-Nascido (omisso imprpria), Abandono Intelectual (omisso imprpria), etc.Ex.2: O salva vidas que deixa banhista se afogar ou no socorre vtimas de ataques de tubaro, responde por homicdio, e no, por omisso de socorro, pois seu dever legal impedir afogamentos, leses ou mortes no mar costeiro. Todavia, se a o afogamento ou morte se d por causas alm da capacidade de operao dos salva vidas ou da guarda costeira, no haver enquadramento legal.Ex.3: Policial que impede ou no garante o atendimento mdico vtima de disparo de fogo (em confrontos ou no) responder por homicdio. O crime de omisso de socorro afastado porque dever legal do policial garantir no que couber a integridade fsica das pessoas. 1.7. Unissubjetivos ou PlurissubjetivosOs crimes unissubjetivos so aqueles em que o tipo penal pode ser cometido por apenas um agente ou por vrios agentes (no necessariamente).Ex.: Homicdio, Furto, Roubo, Estelionato, etc.

Os crimes plurissubjetivos so aqueles em que o tipo penal necessita de mais de um agente para se configurar.Ex.: Quadrilha ou Bando, Rixa, Bigamia.2. Tentativa e ConsumaoTanto para a tentativa, quanto para a consumao deve ser levada em considerao a inteno do agente, pois a inteno que definir o elemento subjetivo do tipo. Dessa forma, saberemos como enquadrar a conduta - que pode ser dolosa ou culposa - no tipo penal adequado.

Palavras chaves: Tentativa. Consumao. Inteno do agente. Elemento Subjetivo. Tipo Penal adequando.O crime ser tentado quando o agente, com a inteno de produzir os efeitos do crime, no consegue consum-lo, por causa alheia a sua vontade. Ainda que na tentativa no consiga atingir o seu objetivo, o crime estar configurado. Se o resultado pretendido se realiza ou no, por outros motivos que quaisquer que sejam, a tentativa ainda existir.

O crime consumado quando a execuo perfeita, ou seja, a conduta gera o resultado pretendido atravs de um nexo de causalidade. Consuma-se o crime quando o agente realiza a conduta descrita no tipo penal, no conjunto total de seus elementos tipificados.

importante todavia dividirmos os momentos do crime: 1) Cogitao; 2) Preparao; 3) Execuo; e 4) Consumao.A cogitao e a preparao no so condutas punveis, portanto o crime s passa a existir, ainda que na forma tentada, logo aps a sua execuo. Se durante a execuo o agente desiste da consumao, ento haver desistncia voluntria, pois houve interrupo da conduta criminosa (s responde pelos atos j praticados).*Normas Penais: Incriminadoras, Permissivas e ExplicativasA parte especial do cdigo penal brasileiro trata quase exclusivamente das normas penais incriminadoras, ou seja, das normas que definem os crimes existentes. As normas penais incriminadoras vo do art. 121 at o 359-H do CP.Quando falamos de normas penais permissivas, estamos remetendo as excludentes de ilicitude propriamente ditas, abrangidas na parte geral do cdigo (art. 23 do CP), como tambm as excludentes de ilicitude previstas na parte especial do mesmo cdigo (ex.: art. 128 do CP), porm ambas no se confundem. Hipoteticamente o mdico que pratica aborto em mulher vtima de estupro no est acobertado pelo estado de necessidade, e sim, por uma excludente especial de ilicitude autorizada pelo Poder Judicirio. Todavia, nos casos de perigo de morte para a gestante, a doutrina majoritria entende ser caso de autntico estado de necessidade (da parte geral), preferindo a vida da gestante em relao a vida do feto.J as normas penais explicativas, tambm chamadas de complementares, so as demais normas penais que nem so incriminadoras e nem so permissivas, ou seja, so aquelas que no seu bojo trazem apenas conceitos ou explicam contedo de matria penal. 3. Homicdio (art. 121 do CP)O homicdio, proveniente do latim (hominis excidium), significa destruio de um homem. Destruir um homem destruir a vida deste, matar, exterminar, extinguir.Nas sociedades civilizadas o ato de matar outra pessoa extremamente inaceitvel, sendo permitido apenas em casos excepcionais (guerra, estado de stio, legtima defesa, estado de necessidade, e assim por diante). Para o Brasil, constitudo por fora de sua constituio, tem-se a vida como o bem jurdico de mais alta relevncia, ao lado da liberdade e da dignidade, devendo por todos ser protegida, inclusive por ns mesmos e uns contra os outros, quando necessrio.3.1. Espcies de HomicdioA doutrina normalmente divide o homicdio em (03) espcies: A) Homicdio simplesB) Homicdio qualificadoC) Homicdio privilegiado

O homicdio simples definido por excluso; caso em que no seja qualificado ou privilegiado. Ser considerado hediondo quando praticado por atividades tpicas de grupos de extermnio, mesmo que cometido por um nico membro do grupo.Quando qualificado, o homicdio tem a sua pena em abstrato aumentada, devido aos meios e motivos empregados (passa de 6-20 anos para 12-30 anos), e constitui em qualquer caso, de qualificao, como crime hediondo.Privilegiado nada mais do que aquele homicdio com diminuio da pena. A jurisprudncia entende que possvel qualificao em homicdios privilegiados, desde que as qualificadoras sejam objetivas. *Slide n 25.3.2. Preceitos Primrio e Secundrio em homicdios O preceito primrio onde est contido o ncleo da ao. Basicamente onde a conduta est tipificada (caput). Matar algum. *Caput significa cabea.

O preceito secundrio onde est contida a pena a ser aplicada. Esta pena pode ser em abstrato (em caso de homicdio simples) ou pode ser aumentada em abstrato (quando incidir qualquer qualificadora). Pena: recluso de 6 a 20 anos (homicdio simples) Pena: recluso de 12 a 30 anos (qualificado)

No h crime sem um dos dois preceitos (resulta em atipicidade). Todavia, alguns tipos penais tem o seu preceito primrio previsto em outra lei (normas penais em branco) em outros tem o seu preceito secundrio tambm previsto em outra lei (normas incompletas).3.3. Homicdio SimplesCometido contra a vida humana extrauterina, ou seja, aps o nascimento (aps ou durante o parto). Antes do nascimento ou do parto, o crime praticado contra a vida humana o aborto (vida intrauterina).O homicdio consuma-se quando cessa a atividade enceflica (Lei da Doao de rgos).

3.4. Objeto Jurdico (bem tutelado)O objeto jurdico ou o bem tutelado no crime de homicdio a vida humana.

Como possui apenas um bem jurdico protegido, tem-se que o homicdio um crime simples (e no complexo).3.5. Sujeito AtivoQualquer pessoa plenamente capaz, pode praticar o homicdio, pois no h qualidade especfica para comet-lo.Portanto um crime comum.A coautoria e a participao so possveis no homicdio. Devemos observar contudo a inteno subjetiva de cada sujeito participante do crime.Os coautores so aqueles que participam efetivamente da conduta descrita.Partcipes so aqueles que no participam diretamente da conduta descrita no tipo, mas de alguma forma colaboram para o resultado.O importante observar o modus operandi dos envolvidos, pois a diferena entre a coautoria e a participao estreita. Porm a jurisprudncia entende que na diviso de tarefas para realizar o crime haver coautoria, inclusive para aqueles que no participam da conduta diretamente. Ex.: Se de 03 criminosos, 02 deles esto realizando a conduta diretamente e 01 terceiro est dando cobertura ou proporcionando fuga, todos respondero como coautores por diviso de tarefas.3.6. Classificao do HomicdioO homicdio se classifica como:SimplesComumDe danoUnissubjetivo * desde que no praticado por grupo de extermnioMaterialInstantneo3.7. Coautoria Colateral e Autoria Incerta A coautoria colateral existir quando dois indivduos praticam o mesmo crime, no mesmo momento, mas sem qualquer vnculo entre si. Ex.: Dois criminosos que no se conhecem, resolvem matar um rival em comum e exatamente no mesmo momento. Nesta hiptese, se verificado quem realmente matou o rival, ento este ser computado o homicdio consumado, enquanto o outro ser julgado por tentativa de homicdio.Agora na autoria incerta, tem-se a mesma hiptese da coautoria colateral, sendo que no se pode constatar quem realmente assassinou a vtima. Nessa relao descrita e em proteo ao in dubio pro reo ambos respondero por tentativa j que impossvel identificar quem efetivamente consumou o homicdio.3.8. Elemento subjetivoPara sabermos qual o elemento subjetivo devemos nos fazer a segunda pergunta: - Qual a inteno do agente?

Dolo Direto: quando o homicida deseja o resultado.Dolo Indireto: quando eventual, o agente no quer cometer o crime, mas o prev o resultado e ainda por cima assume o risco de produzi-lo. Ex.: Roleta Russa. Quando alternativo, o agente indiretamente deseja cometer um ou outro crime. Ex.: Um atirador que dispara aleatoriamente em direo s pessoas.- Atualmente a jurisprudncia entende que crimes decorrentes de racha, quando resultam em morte, so praticados por dolo eventual (assumem o risco; e respondem pelo Cdigo Penal). 3.9. Homicdio PrivilegiadoA doutrina consagrou a causa de diminuio da pena em crimes de homicdios com o ttulo de homicdio privilegiado (diminuio de 1/3 a 1/6 da pena). Est contido no pargrafo 1 do art. 121 do CP. Vale observar que esta causa de diminuio de pena dada em votao pelos jurados que participam do Conselho de Sentena formado pelo Tribunal do Jri (competente para julgar os crimes dolosos contra a vida).

O Homicdio privilegiado s pode ser cometido:I Por motivo de relevante valor social;II Por motivo de relevante valor moral do agente;III ou sob domnio de violenta emoo, logo aps injusta provocao da vtima.O relevante valor social conceituado como situao em que a sociedade, em regra, teria dado aval conduta, ou seja, uma conduta em que os seus semelhantes teriam aprovado. Seria um comportamento aceitvel, tolervel, compreensvel. Ex.: Um morador de favela que mata o traficante do bairro para proteger as crianas da vizinhana.

O relevante valor moral aquele valor individual de cada ser, onde o indivduo em determinada situao impulsionado a realizar o homicdio por nobres convices morais e sentimentos de mais alta relevncia. Ex.: Eutansia (matar uma pessoa em estado terminal para evitar sofrimento).

Sob domnio de violenta emoo, que no se confunde com influncia de violenta emoo, se d logo aps injusta provocao da vtima, onde o agente tomado por uma emoo extremamente forte comete o homicdio. A injusta provocao no deve ser confundida com injusta agresso, isso porque a agresso poder ser repelida por meio de legtima defesa ou estado de necessidade, o que hipoteticamente excluiria o ilcito penal. A expresso logo aps injusta provocao remete ao tempo do crime, que s poder ser pouco aps a provocao, ou seja, deve-se atentar ao lapso ininterrupto entre a provocao e a morte. Se o agente comete o homicdio durante a injusta provocao, a depender da gravidade desta, poder estar sob proteo de uma excludente de ilicitude, como por exemplo no caso do pai de uma garota que est sendo estuprada, que mata o estuprador durante a violao. Todavia, nesta mesma hiptese, se o estuprador consegue se evadir do local mas morto pelo pai da garota momentos aps o estupro, a ento estaremos diante de um homicdio privilegiado e no de legtima defesa.3.10. Homicdio QualificadoArt. 121, 2 do CP.Pena: recluso de 12 a 30 anos.Todo homicdio qualificado considerado crime hediondo (Lei 8.072/90).Regime de execuo da pena inicialmente no fechado e com progresso de pena aps cumprido 2/5 (se primrio) ou 3/5 (se reincidente) da pena computada.As qualificadoras subjetivas so incomunicveis (incisos I, II e V). As qualificadoras objetivas se comunicam (III e IV) desde que tenham ingressado na esfera de conhecimento do coautor ou do partcipe.Classificao das Qualificadoras:

Quanto aos motivos (I e II)Quanto ao meio empregado na execuo (III)Quanto ao modo na execuo (IV)Por conexo (V)

O 2 do Art. 121 do CP possui 20 qualificadoras distintas, definidas dentro dos seus cinco incisos.Inciso I - Mediante Paga ou Promessa de Recompensa, ou por outro motivo torpeNestas qualificadoras na paga ou promessa de recompensa remete duas figuras distintas a) Do mandante e b) Do executor. O homicdio nesta qualificadora recebe o nome de homicdio mercenrio. Paga recompensa quando j houve o pagamento da quantia para o mercenrio executar a vtima. J na promessa de recompensa, o executor pratica o homicdio na esperana de receber um prmio por isso. Independentemente do mandante cumprir ou no o prometido com o executor, respondero ambos pelo crime de homicdio qualificado (teoria do domnio do fato).

O motivo torpe aquele motivo repugnante, cuja maldade se evidencia no resultado morte. Por exemplo filha que mata os pais para poder ficar com a herana, ou homem que mata a mulher para no pagar penso, e assim por diante.Inciso II Motivo FtilO motivo ftil, que no se confunde com o motivo torpe, a qualificadora que estabelece um homicdio praticado por qualquer motivo insignificante ou sem importncia. Todavia, para esta qualificadora ser reconhecida, necessrio que o motivo ftil esteja em evidncia, ou seja, sem provas de que houve o motivo ftil no h como o homicida ser qualificado por este inciso. A jurisprudncia vem entendendo que o cime no motivo ftil, devido a profundidade das relaes humanas interpessoais. Ocorrer o mesmo nas fortes discusses, pois apesar das discusses poderem comear por motivo de pequena importncia, a forte discusso em si gera aumento nos nimos pessoais e por consequncia resultam em conflitos entre os sujeitos (na maioria das vezes por convices ideolgicas).Inciso III Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou que possa representar perigo comumEmprego de Veneno: inocular veneno na vtima sem que ela perceba. Caso se utilize de violncia ou grave ameaa ser aplicada a qualificadora por meio cruel e no por esta.Emprego de fogo: basta atear fogo na vtima. A morte se d pelo grau das queimaduras.

Por explosivos: qualquer artefato que cause exploso (superaquecimento espontneo ou que provoque altas ondas de presso) poder estar qualificado por esse inciso. A fabricao dos explosivos podem ser de uso militar ou de fabricao caseira.

Por asfixia: meios que causem asfixia mecnica (esganadura, estrangulamento, soterramento, afogamento, sufocao direta ou indireta e enforcamento) ou asfixia txica (monxido de carbono, dixido de carbono, ou confinamento).Tortura: aqui a tortura meio para se atingir a morte e no se confunde com o crime de tortura propriamente dito. No crime de tortura, o torturador no deseja matar a vtima, e sim, causar-lhe grande desconforto fsico ou psicolgico.

Meio cruel ou insidioso: o meio insidioso aquele em que o autor se utiliza de armadilha ou de fraude para dissimular a verdadeira causa da morte. O meio cruel aquele em que a vtima experimenta danos repetidos ao corpo, que ao se somarem geram a morte. A mutilao s ser meio cruel enquanto a vtima estiver viva, aps a morte tal situao mutiladora ser configurada crime autnomo de destruio de cadver (art. 211 do CPP).Meio que possa representar perigo comum: qualquer meio que gere perigo a um nmero indeterminado de pessoas. No necessrio que ocorra dano as pessoas, bastando ficar comprovado que houve um concreto perigo comum. A doutrina entende que nos casos de homicdio praticado com perigo comum ocorrer concurso formal entre o crime de homicdio (art. 121 do CP) e o crime de perigo comum (art. 250 e ss. do CP). Todavia, quando esta qualificadora se apresenta, a jurisprudncia no entende o concurso formal de crimes, por ocorrer bis in idem para o autor do delito. O entendimento de se afastar dupla imputao por um nico fato. Assim, o autor responder somente pelo crime de homicdio, mas com a devida qualificadora de perigo comum.Inciso IV traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendidoTraio: s ocorrer se o homicida tinha afeies com a vtima, ou seja, se entre ambos havia uma intimidade. O homicida se utiliza dessa relao de intimidade para cometer o crime.Emboscada: a homicida realiza tocaia para matar, de forma traioeira, a vtima. O criminoso no atrai a vtima para um local, mas a espera passar. Emboscada aqui no utilizada como sinnimo de armadilha.

Mediante dissimulao: a dissimulao nada mais do que utilizar artifcios para enganar a vtima, seja atravs de um disfarce, seja atravs de falsa amizade.

Qualquer outro meio que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido: configura-se nos casos em que o homicida utiliza de recursos que impossibilitem ou dificultem a defesa da vtima, tais como o uso de sonfero, vtima desacordada, superioridade numrica, vtima imobilizada, vtima agudamente alcoolizada e etc. Apesar de parecer correto, a utilizao de armas (de fogo ou brancas) no so causas dessa qualificadora.Inciso V para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crimeAqui h conexo entre o homicdio e outros crimes, que podem ser de duas formas:

Teleolgica:Para assegurar a execuo: a utilizao de um homicdio para assegurar a execuo de outro, o que gera em um conexo entre ambos. Haver concurso material com o outro crime, salvo se o crime em questo for roubo, situao em que gerar outro crime (latrocnio).

Consequencial:Para assegurar a ocultaoPara assegurar a impunidade: evitar que algum seja penalizadoPara obter vantagem proveniente de outro crime: para conseguir a vantagem adquirida em um crime anterior, com por exemplo assaltante que mata o outro para ficar com a parte daquele.Assim ficam dispostos os crimes por conexo:

Teleolgica: a) assegurar a execuo Consequencial: b) assegurara impunidade c) assegurar a ocultao d) obter vantagem de outro crime

Na conexo teleolgica, primeiro o agente mata para depois cometer o outro crime.Na conexo consequencial, primeiro o agente comete outro crime e s depois que ele mata.

Vale observar que neste inciso as qualificadoras so pertinentes outros crimes, logo no cabe com relao contravenes penais. Em caso de homicdio para assegurar a execuo, impunidade, ocultao ou vantagem em contravenes, a qualificadora correta ser a por motivo ftil ou at por motivo torpe.3.10.1. Homicdio Qualificado PrivilegiadoTanto a doutrina como a jurisprudncia vm entendo que possvel incidir qualificadoras em crimes de homicdio privilegiado. No entanto, tal prerrogativa retira a hediondez tidas em homicdios qualificados normais.Os julgados vm preceituando que apenas as qualificadoras objetivas constituem qualificao em homicdios privilegiados. Desta forma, apenas os meios e os modos na execuo do homicdio podem incidir no privilgio, ou seja, as qualificadoras existentes nos incisos III e IV do art. 121, 2 do CP.*Concurso Formal e MaterialConcurso formal quando uma nica ao constitui dois ou mais crimes. 1 Situao: O criminoso tenta matar A que est ao lado B. No mata A mas mata B sem querer. Responder pela tentativa de matar A pois essa era a sua inteno, e responder pela morte de B pois este morreu. 2 Situao: O criminoso tenta matar A que est ao lado de B. Consegue matar A e mata sem querer B. Responder pelo morte de A e de B, pois ele queria matar A mas tambm matou B. 3 Situao: O criminoso tenta matar A que est ao lado de B. Consegue matar A mas fere B sem querer. Responder pela morte de A e pela leso corporal causada em B, pois no era sua inteno ferir B mas era a inteno dele matar A.

J o concurso material ocorre quando o agente comete em vrias aes dois ou mais crimes, ou seja, a inteno a de repetir o crime diversas vezes em situaes distintas. Ex.: Assaltante que rouba diversas pessoas em diferentes locais. Todavia, Se o assaltante rouba diversas pessoas no mesmo ato, ento no ser concurso material de crimes, e sim, concurso formal.3.11. Homicdio DolosoO homicdio doloso aquele em que o agente pretende o resultado morte de outra pessoa.Aqui, o elemento subjetivo (a inteno) do autor realmente matar algum; ou ele assumir o risco de matar algum.O dolo pode ser divido em duas formas:O dolo direto ou prprio: o agente quer o resulta e prev as causas de sua conduta.O dolo indireto ou eventual: o agente no quer cometer o crime, prev o resultado, mas assume o risco. 3.12. Homicdio CulposoArt. 121, 3, do CP.Pena: deteno de 1 a 3 anos.

A morte decorre de:I Impercia: culpa atribuda pessoa que no possui aptido tcnica para realizao de certa conduta mas que mesmo assim a realiza, porm ocasionando a morte. Ex.: Mdico clnico-geral que tenta fazer uma cirurgia plstica, mas acaba ceifando a vida do paciente.II Negligncia: uma omisso feita em ocasio na qual deveria ter o dever de cuidado (o relaxado). Ex.: Pessoa que no guarda arma de fogo municiada em local apropriado, podendo um terceiro manuse-la contra a vida de outra.III Imprudncia: uma ao feita de forma impensada, imprudente (o sem noo). Ex.: Pessoa que limpa uma arma de fogo municiada e a dispara acidentalmente em algum, matando-a. A culpa concorrente: quando duas pessoas agem culposamente, de forma concorrente, e ocasionam a morte de terceiro (no caso do homicdio; nos outros crimes podem os agentes causarem danos recprocos).

A(com culpa) + B (com culpa) Matam C(culposamente)

A vtima que age com culpa no momento do sinistro no afasta a culpa do agente. A jurisprudncia e a doutrina no aceita a compensao de culpas, o que quer dizer que a culpa da vtima no diminui a culpa do agente.

A culpa exclusiva da vtima afasta o dolo e a culpa do agente, o qual no poder ser condenado por homicdio. Ex.: Pessoa que se posiciona atrs dos alvos de tiro na academia de polcia sem que o atirador o perceba. Ou pessoas que atravessam repentinamente na frente de um carro.Ateno: o homicdio cometido atravs de veculo automotor, apenas na forma culposa, ser enquadrado no art. 302 do CTB e no pelo cdigo penal. A jurisprudncia vem entendendo que o motorista que avana o sinal amarelo se enquadra na modalidade culposa por imprudncia, ou seja, pratica uma ao que no deveria ter praticado (o sem noo). O sinal amarelo significa Ateno Pare, por isso o motorista responder pela modalidade culposa em caso de homicdio (art. 302, do CTB)

A nica forma de um motorista responder pelo Cdigo Penal por homicdio ao volante, ser na modalidade dolosa, ou seja, quando o agente deseja intencionalmente praticar o crime ou assume o risco de faz-lo. Assim, a jurisprudncia entende que motorista dirigindo com excesso de velocidade assume o risco de matar algum, por isso ser enquadrado no art.121, do CP.3.13. Aumento de PenaNo crime de homicdio haver aumento de pena para as duas modalidades do crime, quais sejam a Dolosa e a Culposa.Art. 121, 4 do CP.

Aumento de pena para modalidade Dolosa:I Praticado contra menor de 14 anos ()

Aumento de pena para modalidade Culposa:I Inobservncia de tcnica de arte, ofcio ou profissoII Se o agente deixa de prestar socorro vtima ou no tenta diminuir as consequnciasIII Se o agente foge do lugar do crime para evitar priso3.15. Perdo JudicialO perdo judicial se aplica aos casos em que o resultado da morte atinge o prprio autor, e que de maneira to grave poder o juiz deixar de aplicar a pena contra o agente (extino da punibilidade). Ao juiz cabe conceder o perdo judicial no momento em que for prolatar a sentena, isso porque s caber perdo judicial em homicdio culposo, que competncia do juiz criminal singular (afasta o tribunal do jri). Ex.: Pai que mata o prprio filho, culposamente.

requisito essencial para o perdo judicial que o agente tenha agido com culpa e no com dolo, ou seja, o homicdio tenha sido resultado de imprudncia, impercia ou negligncia. O agente no queria causar a morte. Alm disso, os efeitos da morte devem obrigatoriamente atingir ao prprio agente.

3.16. Homicdio praticado por irmos siamesesCientificamente conhecidos como gmeos xifpagos, os irmos siameses so pessoas que possuem uma rara anomalia gentica que mantm ambos os indivduos conectados a apenas um corpo. Alm de compartilharem os sistemas sensoriais, tambm compartilham rgos e tecidos musculares. Por possurem cabeas e crebros (ou parte deles) diferentes que so considerados como indivduos distintos, j que em tese, cada um possui a sua prpria personalidade.

Mas para fins penais, se um deles comete um homicdio, ambos iro presos?

H duas correntes doutrinrias distintas:A 1 corrente afirma que impossvel aplicar a pena contra qualquer dos gmeos xifpagos, pois pelo critrio da individualizao da pena, um inocente no poder ser preso por ato praticado por outra pessoa (art. 5 XLVI da CF). E por se tratar de gmeos que compartilham a mesma carga gentica, seria impossvel denotar homicdio a um ou a outro.

A 2 corrente todavia afirma que cabe uma exceo penalizao de crimes homicdio por exemplo contra os gmeos xifpagos, desde que o delito tenha se configurado com a coautoria de ambos. Desta forma, para a 2 corrente, se ambos praticarem o crime, ambos respondero por ele.3.17. Erro de Tipo e Erro de ProibioErro de Tipo: acontece quando o agente pratica o ilcito penal acreditando cegamente que no est praticando o delito. Ex.: Caador que mata um amigo dentro de uma floresta por pensar se tratar de um animal. Ele abateu uma pessoa pensando estar abatendo um animal, desta forma o caador cometeu um crime sem querer.Erro Acidental: o erro que incide sobre a pessoa na qual o agente quer cometer o crime. Nesta situao o erro acidental em pessoa distinta no exclui o dolo, portanto o agente responder como se estivesse praticado o crime contra a vtima pretendida. Ex.: Criminoso que deseja matar A acaba confundindo-o com outro B, matando este ltimo no lugar daquele.Consequncias: se o erro for inevitvel exclui o dolo e a culpa, logo a situao atpica. Se o erro for evitvel exclui-se apenas a dolo, mas responder na modalidade culposa se houver tal previso em lei. Todavia, o dolo sempre excludo, pois no erro do tipo o agente se equivoca quanto ao.Erro de proibio: ocorre quando o agente pratica o ilcito penal de forma deliberada, mas pensa que no fato proibido ou punvel, a depender da situao em que se encontra ou da sua percepo da realidade. Ex.: Soldado em tempo de paz que deliberadamente mata um inimigo sem saber que a guerra havia acabado. Ou ento um estrangeiro que porta pequena quantidade de entorpecentes por pensar que no proibido, quando no seu pas de origem totalmente legalizado tal porte.Consequncias: se o erro de proibio for inevitvel, exclui-se a potencial conscincia da ilicitude mas a culpabilidade ainda existir. E se o erro de proibio for evitvel, responder pelo crime com diminuio de pena de 1/3 a 1/6 (causa de reduo).