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Universidade do Minho Escola de Engenharia Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de sistema de monitorização de bio- sinais baseado no front-end analógico ADS1198 Dissertação de Mestrado Mestrado Integrado em Engenharia Electrónica Industrial e Computadores Trabalho efectuado sob orientação de: Hélder Carvalho (Prof. Auxiliar, Universidade do Minho) João Monteiro (Prof. Catedrático, Universidade do Minho) Dezembro, de 2012

Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

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Page 1: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Tiago Emanuel de Oliveira Pereira

Desenvolvimento de sistema de monitorização de bio-

sinais baseado no front-end analógico ADS1198

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Engenharia Electrónica Industrial e

Computadores

Trabalho efectuado sob orientação de:

Hélder Carvalho

(Prof. Auxiliar, Universidade do Minho)

João Monteiro

(Prof. Catedrático, Universidade do Minho)

Dezembro, de 2012

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Agradecimentos

Neste momento da minha vida é altura de prestar o meu agradecimento a todas as

pessoas que estiveram envolvidas no meu percurso académico. E que culmina com a escrita

desta dissertação.

Quero assim particularizar o meu maior agradecimento, aos meus pais, pelos sacrifícios

que sempre fizeram, pela constante motivação e apoio que me permitiram reunir todas as

condições para alcançar todos os meus objectivos.

Aos meus colegas e amigos de curso e também aos colegas do departamento de

Engenharia Têxtil, agradeço todos os momentos partilhados ao longo do meu percurso

académico, sem os quais, todo este percurso académico teria sido mais difícil.

Quero expressar ainda um agradecimento especial ao Sr. Carlos e ao Sr. Joel, técnicos

do Departamento de Engenharia Electrónica, pela sua disponibilidade e toda a ajuda prestada ao

longo da realização deste trabalho.

Ao Professor Hélder Carvalho e Professor João Monteiro, os meus orientadores nesta

dissertação, agradeço toda a sua colaboração ao longo da realização deste trabalho de

dissertação. E por toda a motivação e entusiasmo que sempre recebi.

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iii

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iv

Resumo

A concepção de um sistema móvel para monitorização de sinais bioeléctricos de

pessoas, fora de ambientes hospitalares, envolve vários desafios que não se colocam quando se

está num meio controlado, como o meio hospitalar. As dimensões destes sistemas são um

factor importante a ter em conta, de forma a facilitar a sua utilização sem interferir com a

actividade diária dos indivíduos.

O objectivo deste trabalho é a implementação de um sistema de monitorização de sinais

ECG baseado no circuito integrado ADS1198 da Texas Instruments.

O sistema desenvolvido faz a aquisição de sinais ECG a partir de 3 eléctrodos com a

utilização do circuito Driven-Right-Leg, DRL, integrado do ADS1198. Além de atenuar

interferências no sinal monitorizado, o circuito DRL funciona como referência para o sinal

medido, uma vez que a tensão de referência para este circuito é a tensão média da tensão de

alimentação. Isto permite alimentar o sistema de monitorização com tensão unipolar sendo

necessário apenas uma bateria.

O módulo do sistema tem as dimensões de 38mm x 48mm. Pode ser alimentado com

tensões entre 2.7 e 5.5 Volts. Tem um consumo de corrente de 9.8 mA quando alimentado com

3 Volts. O sistema adquire e digitaliza o sinal analógico e disponibiliza o sinal digitalizado no

barramento SPI. Tudo isto é feito no mesmo módulo.

O ganho de amplificação é programado digitalmente entre 7 níveis, com o mínimo de 28

e o máximo de 336. A amplitude máxima admissível para o sinal diferencial de entrada é cerca

±85mV, considerando o sistema programado com o ganho mínimo. O acoplamento dos sinais é

em corrente alternada de forma a eliminar a componente continua dos sinais ECG.

O valor medido do nível de ruído inerente ao sistema foi de 0.83 para um ganho de

168. A taxa de rejeição de modo comum medida à frequência de 50 Hz foi de 93.8 dB.

O sistema provou ser eficaz na aquisição de sinais ECG com a utilização de eléctrodos

descartáveis de gel e com eléctrodos secos.

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v

Page 7: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

vi

Abstract

The development of mobile systems for monitoring bioelectric signals outside an hospital

environment involves many challenges that do not arise when it is in a controlled environment,

like a hospital. The dimensions of these systems are an important factor to consider in order

facilitating its use without interfering with the daily activities of individuals.

The purpose of this work is the implementation of an ECG signal monitoring system

based on the ADS1198 integrated circuit from Texas Instruments.

The system is designed to acquire ECG signals from three electrodes using the circuit

Driven-Right-Leg, DRL, integrated inside the ADS1198. Besides mitigating signal interference, the

DRL circuit acts as a reference for the measured signal, considering that the reference voltage for

this circuit is the average supply voltage of the system. This allows powering the system with

single supply voltage requiring only one battery.

The dimensions of the developed system module are 38mm x 48mm. It can be powered

with voltages between 2.7 and 5.5 Volts. It has a power consumption of 9.8 mA when powered

with 3 volts. The system acquires and digitizes the analog signal and provides the digitized signal

on the SPI bus. All this is done in the same module.

The amplification gain is digitally programmed in seven levels, with a minimum of 28 and

maximum of 336. The maximum allowable range at the differential signal input is about ± 85mV.

The input signals are AC coupled in order to attenuate the DC component of the ECG signals.

The measured noise level inherent to the system was 0.83 μVpp with gain 168, and the

common mode rejection ratio at 50 Hz was 93.8 dB.

The system proved to be efficient in acquiring ECG signals using disposable gel

electrodes and dry-contact electrodes.

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vii

Page 9: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

viii

Índice

Agradecimentos .................................................................................................................................ii

Resumo ............................................................................................................................................ iv

Abstract ............................................................................................................................................ vi

Índice ............................................................................................................................................. viii

Índice de figuras ................................................................................................................................ x

Índice de tabelas ............................................................................................................................ xiv

1 Introdução ............................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento ................................................................................................................. 1

1.2 Objectivos .......................................................................................................................... 2

1.3 Organização do documento ................................................................................................ 2

2 Fenómenos Bioeléctricos ....................................................................................................... 5

2.1 Origem dos Biopotenciais ................................................................................................... 5

2.2 Electrocardiograma ............................................................................................................ 9

2.3 Problemas inerentes à aquisição de sinais bioeléctricos.................................................... 15

3 Trabalho relacionado ........................................................................................................... 21

3.1 Circuito Driven-Right-Leg .................................................................................................. 21

3.2 Sistemas baseados em componentes discretos ................................................................ 24

3.3 Sistemas baseados em Chips dedicados .......................................................................... 29

4 O front-end analógico ADS1198......................................................................................... 35

4.1 Características gerais e modo de funcionamento .............................................................. 35

4.2 Entradas analógicas e funções ECG ................................................................................. 36

4.3 Protocolo de comunicação SPI (ADS1198) ....................................................................... 40

5 Sistema desenvolvido .......................................................................................................... 49

5.1 Arquitectura do sistema adoptado .................................................................................... 49

5.2 Condicionamento do sinal ECG ........................................................................................ 50

5.3 Circuito Driven-Right-Leg e Shield Drive ............................................................................ 55

5.4 Digitalização .................................................................................................................... 57

5.5 Sistema de aquisição de dados ........................................................................................ 59

6 Análise e discussão de resultados ....................................................................................... 67

6.1 Setup experimental .......................................................................................................... 67

Page 10: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

ix

6.2 Medidas das características do sistema ............................................................................ 68

6.2.1 Implementação em PCB ............................................................................................. 68

6.2.2 Comunicação SPI........................................................................................................ 70

6.2.3 Medidas do nível de ruído e CMRR .............................................................................. 73

6.3 Sinais ECG obtidos .......................................................................................................... 77

6.3.1 Resultados e análise da Experiência 1: Avaliação da interferência da rede eléctrica

no sinal ECG 80

6.3.2 Resultados e análise da Experiência 2: Avaliação dos artefactos introduzidos no

sinal com o sujeito a saltar ............................................................................................................. 81

6.3.3 Resultados e análise da Experiência 3:Recuperação do sinal ECG após o

desligamento de um eléctrodo ........................................................................................................ 83

6.3.4 Resultados e análise da Experiência 4: Avaliação do desempenho do sistema com a

utilização dos eléctrodos secos ....................................................................................................... 84

6.3.5 Resultados e análise da Experiência 5: Utilização de uma camisola com eléctrodos

têxteis integrados ............................................................................................................................ 86

7 Conclusões ......................................................................................................................... 89

Referências .................................................................................................................................... 91

Anexos ........................................................................................................................................... 95

A. NI-8451 SPI API ............................................................................................................... 95

B. Layout do PCB do sistema desenvolvido ........................................................................... 97

C. Esquemático do PCB do sistema desenvolvido ................................................................. 98

Page 11: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

x

Índice de figuras

Figura 1 – Actividade celular dos canais de potássio. (a) Distribuição da concentração dos iões

de potássio, sódio e cloro dentro e fora de uma célula. (b) Relação entre os gradientes químicos

e eléctricos dos iões de potássio e canais de potássio, [10]. .......................................................6

Figura 2 – Potencias de acção para diferentes células excitáveis: (A) célula do músculo cardíaco

e sua contracção (B); (C) célula músculo-esqueléticas e a sua contracção (D); célula de um nervo

(E), [11]. ...................................................................................................................................9

Figura 3 – Vector cardíaco, [14] .............................................................................................. 10

Figura 4 – Relação entre os vectores a1 , a2 e o vector cardíaco M, [14]. ................................ 10

Figura 5 – Posição da colocação dos electrodos em relação ao corpo humano para obtenção das

derivações I, II e III, [14]. ........................................................................................................ 11

Figura 6 – a), b) e c): Ligação de electrodos para obter as 3 derivações aumentadas; d) Vectores

indicando as direcções das derivações I, II, III, aVR, aVL e aVF, no plano frontal do corpo, [14].13

Figura 7 – Posições para colocação dos electrodos das derivações precordiais, [14]. .............. 13

Figura 8 – Circuito de geração do ponto WCT, [14]. ................................................................ 14

Figura 9 – Traçado típico de um sinal ECG. Adaptado de [17] ................................................. 14

Figura 10 – Acoplamento do campo eléctrico com o corpo e o sistema de aquisição de sinais

bioeléctricos, Adaptado de [14] ............................................................................................... 16

Figura 12 – Circuito DRL: a) Configuração do circuito DRL com 3 eléctrodos; b) circuito

equivalente de a). Adaptado de [9] .......................................................................................... 22

Figura 13 – Circuito de amplificação de biopotenciais proposto por [26]. ................................. 25

Figura 14 – Circuito de amplificação de biopotenciais proposto por [27]. ................................. 26

Figura 15 – Circuito de acoplamento em corrente alternada proposto por [29] ........................ 27

Figura 16 – Circuito de aquisição de sinais bioeléctricos, [29] ................................................. 28

Figura 18 – Arquitectura do sistema proposta por [31], ........................................................... 30

Figura 19 – Diagrama interno do CI RHA1016, [32]. ............................................................... 32

Figura 20 – Sinal ECG adquirido com eléctrodos de Ag/AgCl, para uma largura de banda de 100

Hz, [32]. ................................................................................................................................. 33

Figura 21 – Diagrama interno do CI ADS1198, [7]. ................................................................. 36

Figura 22 – Configuração da entrada diferencial de um canal do ADS1198, ............................ 36

Figura 23 – Configuração diferencial da entrada de um canal do ADS1198, [7]. ...................... 37

Page 12: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

xi

Figura 24 – Circuito DRL do ADS1198, [7]. ............................................................................. 38

Figura 25 – Circuito interno de geração do ponto WCT, [7]. ..................................................... 39

Figura 26 – Circuito interno de geração dos pontos de Goldberger, [7] .................................... 40

Figura 27 – Diagrama de transferência de dados Mestre/Escravo, [35]. .................................. 42

Figura 28 – Polaridade e fase do barramento SPI, [34]. .......................................................... 42

Figura 29 – Utilização do comando RDATAC, [7]. .................................................................... 44

Figura 30 – Utilização do comando RDATA, [7]. ...................................................................... 44

Figura 31 – Diagrama de tempo dos sinais SPI, [7]. ................................................................ 45

Figura 32 - Exemplo da utilização do comando RREG no barramento SPI, [7]. ......................... 47

Figura 33 - Exemplo da utilização do comando WREG no barramento SPI, [7].......................... 47

Figura 34 – Diagrama de blocos do sistema de aquisição de sinais ECG de 3 eléctrodos ......... 49

Figura 35 - Pré-Amplificador com acoplamento em corrente alternada ..................................... 50

Figura 36 – Queda de potencial no sinal devido às correntes de polarização das entradas dos

amplificadores operacionais .................................................................................................... 54

Figura 37 – Circuito DRL interno do ADS1198 ........................................................................ 56

Figura 38 – Circuito shield-drive .............................................................................................. 57

Figura 39 – Ilustração das características dos sinais ECG e de um filtro passa-baixo no domínio

da frequência; fM: Máxima frequência do sinal de interesse; 2fM: Frequência de Nyquist; fS:

Frequência de sobreamostragem ............................................................................................ 58

Figura 40 – Diagrama de blocos da parte digital do sistema de aquisição ................................ 59

Figura 41 – Ligação do barramento SPI entre o ADS1198 e a placa NI USB-8451 ................... 59

Figura 42 – Fluxograma da rotina de programação do barramento SPI para o caso geral. ........ 60

Figura 43 – Rotina de inicialização do ADS1198 ..................................................................... 62

Figura 44 – Fluxograma da rotina de inicialização do ADS1198 ............................................... 62

Figura 45 – Rotina de leitura de dados das conversões do ADS1198 ....................................... 63

Figura 46 – Fluxograma da rotina de leitura de dados do ADS1198 ......................................... 64

Figura 47 - Trama de dados gerados pelo ADS1198 por cada ciclo de amostragem ................. 65

Figura 48 – Ambiente gráfico do software Labview. a) painel de configuração dos canais para

gerar o sinal DRL; b) painel de configuração global dos registos do ADS1198; c) painel de

visualização dos sinais digitalizados. ....................................................................................... 66

Figura 49 – Fotografia da configuração experimental para recolha de dados ............................ 67

Figura 50 – Fotografia da placa PCB em comparação com o tamanho de moeda de 1 euro .... 68

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xii

Figura 51 – Esquemático do circuito regulador de tensão. a) Regulação de tensão do circuito

analógico; b) Regulação de tensão do circuito digital. .............................................................. 69

Figura 52 – Atraso entre a transferência de bytes da placa NI USB-8451 ................................ 71

Figura 53 – Linha SCLK correspondente a 1 ciclo de amostragem de 2 canais ........................ 71

Figura 54 – Tempo de atraso entre ciclos de amostragem ...................................................... 72

Figura 55 – Configuração usada para medir o nível de ruído relativamente às entradas do

sistema .................................................................................................................................. 73

Figura 56 – Sinal digitalizado a partir da configuração da Figura 55 ........................................ 73

Figura 58 – Sinal digitalizado a partir da configuração da Figura 57 ........................................ 75

Figura 59 – a) Gráfico da FFT do sinal medido com DRL; b) Gráfico da FFT do sinal medido sem

DRL ........................................................................................................................................ 76

Figura 60 – Eléctrodos secos de metal de alumínio ................................................................. 77

Figura 61 – Posição da colocação dos eléctrodos: Derivação I (à esquerda); Derivação III (à

direita).RA: eléctrodo do braço direito; LA: eléctrodo do braço esquerdo; LL: eléctrodo da perna

esquerda; RL: eléctrodo de referência do circuito DRL. ............................................................ 78

Figura 62 – Sinal ECG da derivação I com amplificação de 112X. ........................................... 78

Figura 63 – Sinal ECG da derivação III com amplificação de 336X. ......................................... 79

Figura 64 – Sinal ECG da derivação I com amplificação de 336X ............................................ 79

Figura 65 – a) ECG obtido pela Experiência 1; b) Sinal DRL gerado pelo sistema ..................... 80

Figura 66 – Ampliação da área sombreada da Figura 65......................................................... 81

Figura 67 – a) Sinal ECG da derivação III com amplificação de 112x, saltando; b) Ampliação da

área sombreada. .................................................................................................................... 82

Figura 68 – Efeito do desligamento total de um eléctrodo ........................................................ 83

Figura 69 – a) ECG da derivação III com amplificação de 336x, obtido com eléctrodos secos; b)

Ampliação da área sombreada. ............................................................................................... 84

Figura 70 – a) ECG da derivação I com amplificação de 336, obtido com eléctrodos secos; b)

Ampliação da área sombreada. ............................................................................................... 85

Figura 71 – a) Camisola com eléctrodos têxteis integrados; b) Pormenor da ligação ao sistema

de aquisição. .......................................................................................................................... 86

Figura 72 – a) Sinal ECG obtido com o sujeito imóvel. Amplificação de 112X; b) Ampliação da

área sombreada ..................................................................................................................... 87

Page 14: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

xiii

Figura 74 – Sinal ECG obtido com os eléctrodos da camisola completamente secos, com

amplificação de 112X ............................................................................................................. 88

Figura 75 – NI-845x SPI Create Script Reference.vi ................................................................. 95

Figura 76 – NI-845x SPI Script Enable SPI.vi ........................................................................... 95

Figura 77 – NI-845x SPI Script Clock Polarity Phase.vi ............................................................ 95

Figura 78 – NI-845x SPI Script Clock Rate.vi ........................................................................... 95

Figura 79 – NI-845x SPI Script CS Low.vi ................................................................................ 95

Figura 80 – NI-845x SPI Script Write Read.vi ........................................................................... 96

Figura 81 – NI-845x SPI Script CS High.vi ............................................................................... 96

Figura 82 – NI-845x SPI Script Disable SPI.vi .......................................................................... 96

Figura 83 – NI-845x SPI Run Script.vi ..................................................................................... 96

Figura 84 – NI-845x SPI Extract Script Read Data.vi ................................................................ 96

Figura 85 – Layout do PCB desenvolvido em PADS Layout 9.2. a) camada superior; b) camada

inferior. .................................................................................................................................. 97

Figura 86 – Esquemático da camada superior do layout da Figura 85 ..................................... 98

Figura 87 – Esquemático da camada inferior do layout da Figura 85 ....................................... 99

Page 15: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

xiv

Índice de tabelas

Tabela 1 – Modos de operação do barramento de dados SPI ........................................................ 43

Tabela 2 – Ganho programável do sistema de aquisição ............................................................... 54

Tabela 3 – Características principais do CI LMP7704 para uma tensão de alimentação de 3

Volts, [38] .................................................................................................................................... 55

Tabela 4 – Legenda da Figura 50 ................................................................................................. 70

Page 16: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de
Page 17: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

1

1 Introdução

1.1 Enquadramento

As dimensões físicas e o consumo de potência eléctrica de um sistema móvel para

monitorização de sinais bioeléctricos, fora do contexto hospitalar, são alguns dos factores a ter

em consideração na implementação destes sistemas. De forma a tornar os sistemas de

monitorização de biosinais cada vez mais ubíquos, estes devem ser de reduzidas dimensões e

com um baixo consumo de potência.

Neste contexto, destaca-se a investigação na utilização de têxteis com capacidades

integradas de monitorização de biosinais do corpo humano, [1],[2]. Estes têxteis podem

funcionar como substitutos dos eléctrodos convencionais para monitorização de sinais

bioeléctricos. Têm a vantagem de serem facilmente integrados em vestuário, contribuindo para a

fácil utilização por longos períodos, [2] sem a intervenção de técnicos especializados.

A monitorização do estado de saúde das pessoas idosas torna-se cada vez mais

importante na sociedade moderna actual., considerando, entre outros, a esperança média de

vida à nascença, nos países da União Europeia, que está a aumentar. Pelas projecções

realizadas, prevê-se que ocorra um aumento de 7.9 anos para os homens e 6.5 anos para as

mulheres, durante o período de projecção de 2008 a 2060, [3]. Com estes dados, a esperança

média de vida à nascença, será de 84.6 anos para os homens e 89.1 para as mulheres, [3] O

envelhecimento da população na Europa é um facto bem conhecido que tem consequências

tanto para a sociedade como para a economia dos países, [4] Neste sentido foi criada em 2008

a Ambient Assisted Living Association (AALA) cujo objectivo é financiar actividades que permitam

melhorar a qualidade de vida das populações mais idosas através das tecnologias da informação

e comunicação, [4]

Neste âmbito foram financiados pela Comissão Europeia diversos projectos entre os

quais se destaca aqui o projecto ECAALYX que esteve activo entre Setembro de 2009 e Maio de

2012. O objectivo principal deste projecto é o desenvolvimento de soluções que tragam

melhorias na qualidade de vida de pessoas idosas. Através de sistemas de monitorização do

estado de saúde que possam ser utilizados nas suas casas sem a intervenção de técnicos

especializados. Mais especificamente, este projecto teve como objectivo o desenvolvimento de

vestuário capaz de monitorizar sinais vitais, tais como o batimento cardíaco ou sinais ECG, [5].

Page 18: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

2

A preocupação com os cuidados de saúde é transversal à sociedade actual, com o

desenvolvimento e disponibilização de sistemas cada vez mais ubíquos, a monitorização do

estado de saúde das pessoas torna-se mais simplificada e preventiva, na medida em que tais

sistemas podem passar a fazer parte do quotidiano, como o são actualmente os telemóveis,

relógios ou os computadores pessoais.

Os avanços tecnológicos na electrónica permitem cada vez mais a miniaturização dos

sistemas de monitorização de sinais bioeléctricos no corpo humano. Neste sentido espera-se que

os sistemas de aquisição de sinais ECG sejam cada vez mais pequenos, portáteis e com

reduzido custo de produção, [6]. Em [6] os autores consideram que o sistema ECG ideal deverá

incluir num único Circuito Integrado, todo o sistema de medida e análise do sinal.

A partir do contexto até aqui apresentado será desenvolvido o trabalho desta dissertação.

1.2 Objectivos

Os objectivos da presente dissertação podem ser categorizados em dois grupos distintos.

O primeiro grupo tem por objectivos o estudo e compreensão dos fenómenos associados

aos sinais bioeléctricos do corpo humano e as metodologias usadas para o condicionamento

destes sinais.

O segundo grupo prevê a realização prática de um sistema de condicionamento de

sinais bioeléctrico, particularmente os sinais ECG. O sistema será baseado no front-end

analógico ADS1198 da Texas Instruments, [7]. Pretende-se que o sistema projectado seja

optimizado para a possibilidade de ser utilizado em aplicações móveis, alimentado por uma

pequena bateria. O circuito integrado ADS1198 deverá ser ligado através de SPI a um PC para

configuração e teste através de software a desenvolver em Labview. Pretende-se que o sistema

seja implementado com um número reduzido de componentes, de forma a facilitar a futura

integração em vestuário.

1.3 Organização do documento

Este documento está dividido em 7 capítulos

O primeiro capítulo faz a introdução e contextualização do problema da monitorização de

sinais bioeléctricos e define os objectivos propostos a realizar. No segundo capítulo é feito um

estudo teórico sobre as características dos sinais bioeléctricos. No terceiro capítulo estão

referidos alguns trabalhos sobre sistemas de condicionamento de sinais bioeléctricos. No quarto

Page 19: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

3

capítulo são analisadas as características e modos de funcionamento do ADS1198. A descrição

do sistema desenvolvido é apresentada no capítulo cinco e a análise dos resultados obtidos é

feita no capítulo seis. Por fim são apresentadas as conclusões retiradas do trabalho realizado e

algumas recomendações para trabalho futuro.

Page 20: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

4

Page 21: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

5

2 Fenómenos Bioeléctricos

Todos os fenómenos bioeléctricos que ocorrem no corpo humano têm origem ao nível

celular.

Os sinais biológicos que podem ser observados em sistemas biológicos, tal como o

corpo humano, contêm informações acerca do estado do sistema biológico em estudo.

Consoante as fontes que originam os sinais biológicos estes podem ser classificados como,

sinais bioeléctricos, sinais de bioimpedância, sinais bioacústicos, sinais biomagnéticos, sinais

biomecânicos, sinais bioquímicos e sinais biópticos, [8]. No âmbito do presente projecto serão

os sinais bioeléctricos que se pretende adquirir e gravar para posterior processamento e estudo.

Os potenciais eléctricos gerados no corpo humano são originados pela actividade

electroquímica das células excitáveis. Estas células estão presentes no tecido nervoso, muscular

e glandular. Do ponto de vista eléctrico as células excitáveis apresentam um potencial de

repouso e um potencial de acção, [9]

Um potencial de acção é gerado pela despolarização das células excitáveis. Esta

despolarização é provocada por um estímulo aplicado nas células, causando um movimento de

iões através da membrana semipermeável das células. Este movimento de iões, entre o interior

e o exterior das células excitáveis, origina um potencial eléctrico que pode ser medido pela

colocação de eléctrodos na superfície da pele, [8, 9].

São os processos que estão na origem dos potenciais eléctricos acima mencionados que

serão descritos de forma sucinta neste capítulo.

2.1 Origem dos Biopotenciais

Ao nível celular existem trocas de substâncias iónicas entre o interior e o exterior das

células. Este movimento de substâncias, entre o meio interior e exterior das células, ocorre

através da membrana da célula. Esta apresenta diferentes características de permeabilidade

para as diferentes substâncias iónicas presentes no meio.

No denominado estado de repouso, cada uma das células excitáveis apresenta uma

diferença de potencial eléctrico entre o meio exterior e interior. Este potencial eléctrico pode ter

valores de -50 mV a -100 mV, relativamente ao meio exterior da célula [9], dependendo do tipo

de célula. Daqui pode concluir-se que o potencial eléctrico gerado entre os meios, intracelular e

Page 22: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

6

extracelular, tem uma relação directa com a diferença de concentração dos iões positivos e

negativos.

A membrana celular é composta por diferentes canais permeáveis a um determinado

tipo de ião. Quando um destes canais fica aberto, as substâncias iónicas correspondentes à

permeabilidade do canal atravessam a membrana pelo processo de difusão, ou seja, existe uma

movimentação de iões do meio com maior concentração para o meio com menor concentração

desse tipo de ião.

Figura 1 – Actividade celular dos canais de potássio. (a) Distribuição da concentração

dos iões de potássio, sódio e cloro dentro e fora de uma célula. (b) Relação entre os gradientes

químicos e eléctricos dos iões de potássio e canais de potássio, [10].

Para ilustrar este fenómeno é dado o seguinte exemplo baseado em [10]:

Considera-se uma situação em que os iões de Potássio, K+, presentes no interior da

célula e os iões de Sódio, Na+, no exterior, e que o potencial de transmembrana inicial é zero.

Nesta situação os iões de K+ irão movimentar-se pelo processo de difusão para o exterior da

célula, quando os canais de K+ da membrana estiverem abertos. Esta movimentação de iões K+

faz aumentar progressivamente o potencial negativo no interior da célula em relação ao exterior,

uma vez que estão a ser retiradas cargas eléctricas positivas do interior da célula, Figura 1.

Desta forma é estabelecido um potencial eléctrico através da membrana da célula.

Como já foi referido atrás este potencial é denominado potencial de transmembrana. O potencial

eléctrico estabelecido pelo processo descrito atrás provoca um campo eléctrico direccionado

Page 23: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

7

para o interior da célula, dado que o meio extracelular tem mais cargas carregadas

positivamente em relação ao meio intracelular.

O campo eléctrico estabelecido é então uma força que vai repelir cargas positivas de

saírem do interior da célula. No exemplo de [10], referido atrás, estas cargas correspondem aos

iões de K+.

De forma geral podem distinguir-se duas forças opostas que influenciam o movimento de

iões, através da membrana celular, entre o interior e exterior das células. Uma provocada pelo

processo de difusão e a outra provocada pelo campo eléctrico gerado, [9]. Desta forma, como

existem duas forças opostas, no momento em que a magnitude destas se igualar atinge-se um

estado de equilíbrio. Este estado é denominado potencial de equilíbrio para o potássio, o seu

valor em volts pode ser calculado pela equação de Nernst considerando uma temperatura de 37

°C, [9]:

[ ]

[ ] ( ) (2.1)

Onde:

n é o valor dos electrões de valência de K+;

R é o valor da constante universal do gás;

T é o valor absoluto da temperatura em Kelvin;

F é a constante de Faraday;

[ ] e [ ] são as concentrações intracelular e extracelular de K+ em moles por litro,

respectivamente.

Existem no entanto outros tipos de iões presentes no meio intracelular e extracelular que

vão contribuir para o equilíbrio do potencial de repouso de transmembrana, E. A equação de

Goldman-Hodgkin-Katz expressa o valor de E de forma mais precisa, [9]:

[ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ]

( )

Onde corresponde ao coeficiente de permeabilidade para os diferentes tipos de iões.

No caso da equação 2.2 estão considerados para o cálculo do valor do potencial de repouso de

transmembrana, os principais iões presentes no meio em causa, K+, Na+ e Cl-.

Page 24: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

8

Até este ponto foram, de forma geral, referidas as principais características de uma

célula excitável no seu estado de repouso. De relembrar que o potencial eléctrico destas células

no estado de repouso tem um valor negativo no interior relativamente ao seu meio exterior. Este

valor pode ir de -50 mV a -100 mV.

Por outro lado uma célula excitável compreende também um estado activo. Isto

acontece quando lhe é aplicado um estímulo adequado. Entendendo-se o estímulo adequado

como sendo uma força que provoque a despolarização da célula acima de um determinado valor

de threshold, [9]. Nesta situação a célula tem a capacidade de conduzir um potencial de acção,

que é independente da intensidade do estímulo aplicado. Ou seja, apenas é necessário que seja

ultrapassado o valor de treshold para desencadear um potencial de acção, que vai ter a mesma

intensidade independentemente da intensidade do estímulo aplicado na célula, [10]. No entanto,

caso o estímulo aplicado à célula não ultrapasse o valor de threshold, esta permanece no estado

de repouso.

No estado de repouso, as células excitáveis estão polarizadas, possuindo mais cargas

negativas no seu interior relativamente ao meio exterior. No processo de desencadeamento de

um potencial de acção o meio intracelular vai ficando mais positivo, em relação ao meio

extracelular, com a entrada de iões com cargas positivas no interior da célula. A este processo

dá-se o nome de despolarização, [10]. A repolarização é a outra etapa envolvida no

desencadeamento de um potencial de acção. A fase de repolarização é o processo inverso da

despolarização. Nesta fase o potencial de transmembrana volta ao estado de repouso, em que o

meio intracelular volta a ficar mais negativo relativamente ao meio exterior.

Nos processos de despolarização e repolarização a entrada e saída de iões acontece

devido a mudanças de permeabilidade da membrana celular,[10].

É a propagação dos potenciais de acção nas células cardíacas que fazem com que o

coração produza o batimento cardíaco. A sua propagação nas células do sistema nervoso,

permite a comunicação com os diferentes órgãos do corpo.

A Figura 2 ilustra a relação da magnitude em relação à variação do tempo dos potenciais

de acção para as células dos neurónios motores, as células músculo-esqueléticas e as células

cardíacas. Pela análise da Figura 2 pode inferir-se que existe uma grande variação na duração

do potencial de acção para as diferentes células.

Nas células cardíacas a fase de despolarização do potencial de acção tem uma duração

relativamente grande em relação aos outros tipos de células. De forma geral, isto acontece

Page 25: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

9

porque os canais da membrana para os diferentes tipos de iões abrem e fecham com diferentes

velocidades. Estudos mais aprofundados destes fenómenos são apresentados por [9] e [10].

Uma consequência directa deste período denominado estado refractário, é a limitação

da frequência do batimento cardíaco, [10]

Figura 2 – Potencias de acção para diferentes células excitáveis: (A) célula do músculo

cardíaco e sua contracção (B); (C) célula músculo-esqueléticas e a sua contracção (D); célula de

um nervo (E), [11].

2.2 Electrocardiograma

A actividade eléctrica do coração vem sendo estudada desde o início do século 20,

inicialmente com as medidas efectuadas por Willem Einthoven, [12]. É neste contexto que se

foca este trabalho, o estudo de sistemas para registo da actividade eléctrica do coração. Não

será aqui descrita em profundidade aspectos da morfologia e funcionamento deste órgão. No

entanto, de forma geral, será descrita a metodologia usada no registo da actividade eléctrica do

coração a partir da superfície corporal.

O registo desta actividade eléctrica é usualmente realizado pela colocação de eléctrodos

na superfície da pele. O electrocardiograma, ECG, é o resultado obtido destas medições, que

vem sendo usado como um meio no diagnóstico e tratamento de pacientes, [12].

Page 26: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

10

A actividade eléctrica do coração pode ser modelizada por um dipolo eléctrico, o qual

produz um campo eléctrico, [9]. A variação do campo eléctrico produzido é representada pelo

vector cardíaco M representado na Figura 3. Um vector é representado por uma direcção e uma

magnitude. No caso do vector cardíaco M, este está direccionado a partir do pólo com carga

negativa para o pólo com carga positiva e a sua magnitude é proporcional à quantidade de carga

multiplicada pela distância entre as cargas, [9].

Este modelo permite estudar a actividade eléctrica do coração através do sistema de

derivações, inicialmente desenvolvido por Einthoven, [13]. Cada derivação corresponde a um par

de eléctrodos ou à combinação de vários eléctrodos, equivalentes a um par, [9].

Voltando ao modelo do dipolo eléctrico e representando cada derivação por um vector

unitário, a tensão que será monitorizada para as diferentes derivações corresponde à

componente do vector cardíaco M na direcção dos vectores definidos para as diferentes

derivações, [9]. Ou seja, para o exemplo da Figura 4 a tensão , correspondente a uma

derivação representada pelo vector , é dada pelo produto escalar de por .

| || | (2.3)

Figura 3 – Vector cardíaco, [14]

Figura 4 – Relação entre os vectores a1 , a2 e o vector cardíaco M, [14].

Page 27: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

11

Daí a necessidade de utilizar um sistema de derivações para monitorizar a actividade

eléctrica do coração em diferentes planos do corpo.

Actualmente o sistema padrão para aquisição e estudo de sinais ECG é composto por 12

derivações que definem a posição da colocação dos eléctrodos na superfície do corpo, [13].

As 3 principais derivações propostas por Einthoven formam o triângulo de Einthoven, e

as respectivas diferenças de potencial são obtidas pela colocação de 3 eléctrodos no braço

direito, braço esquerdo e perna esquerda. Assim:

Figura 5 – Posição da colocação dos eléctrodos em relação ao corpo humano para obtenção das

derivações I, II e III, [14].

Sendo o potencial no braço esquerdo, o potencial no braço direito e o

potencial na perna esquerda.

As 3 derivações aumentadas, , e , são obtidas a partir da relação da rede de

resistências representada na Figura 6. Cada uma destas derivações aumentadas é obtida

relativamente ao ponto de referência denominado terminal central de Goldberger, [15]. O

terminal central de Goldberger, para cada uma das derivações aumentadas, é obtido por:

-

para a derivação ;

-

para a derivação ;

-

para a derivação .

Page 28: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

12

Assim a derivação corresponde à diferença de potencial do eléctrodo do braço

direito, , e do terminal central de Goldberger, -

:

-

(2.4)

Para a derivação fica:

-

(2.5)

E finalmente para a derivação :

-

(2.6)

Estas 3 derivações aumentadas em conjunto com as 3 derivações do triângulo de

Einthoven, permitem estudar a actividade eléctrica do coração do ponto de vista do plano frontal1

do corpo, [9].

Por outro lado o estudo da actividade eléctrica do coração do ponto de vista do plano

transversal2 do corpo é feito pelas 6 derivações precordiais, . Cada uma destas 6 derivações é

obtida pela diferença de potencial entre cada um dos eléctrodos colocados nas posições

indicadas pela Figura 7 e o ponto correspondente ao terminal central de Wilson (WCT), Figura 8.

O ponto corresponde ao ponto de referência dado pela média dos potenciais dos eléctrodos

colocados no braço direito, braço esquerdo e perna esquerda, equação 2.7.

(2.7)

Assim, cada uma das derivações precordiais é obtida por:

- (2.8)

1 Neste contexto entende-se como plano frontal do corpo, o plano paralelo ao chão quando se está deitado no chão

2 Neste contexto entende-se como plano transversal do corpo, o plano paralelo ao chão quando se está em pé, erecto sobre o chão

Page 29: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

13

Com .

Figura 6 – a), b) e c): Ligação de eléctrodos para obter as 3 derivações aumentadas; d) Vectores

indicando as direcções das derivações I, II, III, aVR, aVL e aVF, no plano frontal do corpo, [14].

Figura 7 – Posições para colocação dos eléctrodos das derivações precordiais, [14].

Page 30: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

14

Figura 8 – Circuito de geração do ponto WCT, [14].

Figura 9 – Traçado típico de um sinal ECG. Adaptado de [17]

A Figura 9 representa esquematicamente o traçado típico de um sinal ECG. O ciclo

cardíaco tipicamente é representado por um sinal ECG composto pela onda P, pelo complexo

QRS, a onda T e a onda U. Esta última nem sempre é visível. A linha de base do sinal ECG é

denominada de linha isoeléctrica, [16]. É esta morfologia que se pretende identificar nos sinais

adquiridos pelo sistema desenvolvido neste trabalho.

Page 31: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

15

2.3 Problemas inerentes à aquisição de sinais bioeléctricos

A aquisição de sinais bioeléctricos traz consigo vários problemas associados. São vários

os trabalhos publicados [18, 19, 20, 21], [22], que analisam e propõem modelos que

descrevem as diferentes fontes de interferência na aquisição de sinais bioeléctricos. Com base

no estudo destes trabalhos, são a seguir apresentados os principais problemas a ter em conta

no projecto de um circuito de aquisição de sinais bioeléctricos.

A principal fonte de interferência que ocorre no processo de aquisição de sinais

bioeléctricos é causada pela rede de alimentação eléctrica e por todos os dispositivos a ela

ligados, [9]. Em Portugal a energia eléctrica, para consumo doméstico, é distribuída a 230 Volts

à frequência de 50 Hz. A aquisição de sinais bioeléctricos nas proximidades de instalações

eléctricas está assim sujeita a interferências electromagnéticas à frequência de 50 Hz. Uma vez

que as instalações eléctricas estão presentes por todo o lado, não é possível eliminar a fonte

destas interferências no momento de aquisição de sinais bioeléctricos.

No entanto é desejável atenuar estas interferências na sua fonte, evitando o uso

posterior de filtros que podem distorcer o sinal a medir, [22]. Este é um aspecto importante no

projecto de sistemas de aquisição de sinais ECG, visto que as interferências causadas pela rede

eléctrica na frequência de 50 Hz sobrepõem-se ao sinal ECG, que contém informação a esta

frequência.

A Figura 10 representa um modelo simplificado, do acoplamento capacitivo do campo

eléctrico gerado pela rede eléctrica e o conjunto composto pelo sistema de aquisição de sinais e

o corpo sob medição. Na Figura 10 o condensador Cb representa o acoplamento eléctrico entre

a rede e o corpo, C1 e C2 representa o acoplamento eléctrico entre a rede e os cabos dos

eléctrodos. C3 corresponde ao acoplamento eléctrico da rede com o sistema de aquisição de

sinais. Este acoplamento eléctrico gera correntes eléctricas que são induzidas nos elementos

que compõem o sistema de aquisição. Estas correntes estão representadas pelas setas da

Figura 10.

Page 32: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

16

Z1

Z2

Z3

Rede eléctrica (230 V – 50 Hz)

Cb

C1

Sistema de aquisição C2

C3

Id2

Id1

Idb

Idb

Zin

ZinZd

A

G

B

Figura 10 – Acoplamento do campo eléctrico com o corpo e o sistema de aquisição de sinais

bioeléctricos, Adaptado de [14]

Tendo em conta o modelo da Figura 10 pode derivar-se a equação da qual resulta o

valor do potencial eléctrico de interferência que vai ser amplificado pelo sistema de aquisição.

Considerando que as entradas do sistema de aquisição são de alta impedância, Zin, as correntes

Id1 e Id2 fluem para a massa do circuito, G, pelo caminho de menor impedância. Ou seja

através das impedâncias Z1, Z2 e Z3, que correspondem às impedâncias eléctrodos/pele, [14].

Foi ignorada a impedância interna do corpo, que é relativamente baixa em relação às restantes

impedâncias do modelo da Figura 10.

A diferença de potencial de interferência nas entradas A e B é então obtido por:

( )

( )

- - (2.9)

Com .

Da equação obtida verifica-se que a interferência eléctrica - , pode ser causada pela

diferença entre as impedâncias e , ou pela diferença entre as correntes e .

Page 33: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

17

Esta interferência pode ser reduzida se as impedâncias e estiverem balanceadas,

assegurando um bom contacto eléctrodo/pele. A utilização de cabos blindados reduz as

correntes induzidas e nos mesmos. Por outro lado, a queda de potencial provocada pelas

correntes induzidas é minimizada com a utilização de cabos dos eléctrodos, o mais curtos

possíveis, [20].

O acoplamento eléctrico da rede directamente sobre o corpo causa a indução de uma

tensão de modo comum por todo o corpo, [14]. Analisando o modelo da Figura 10 verifica-se

que esta tensão de modo comum , é criada pelo fluxo da corrente . Esta corrente entra no

corpo através do acoplamento capacitivo entre a rede eléctrica e flui para a massa do circuito

através da impedância do terceiro eléctrodo, .

Ignorando novamente a impedância interna do corpo, a é obtida por:

(2.10)

é directamente proporcional a Assim a redução da impedância é um factor

importante a ter em conta no projecto de um sistema de aquisição. Isto pode ser conseguido

assegurando um bom contacto com a pele do terceiro eléctrodo. Neste trabalho será

implementado um circuito Driven-Right-Leg que reduz a impedância e ao mesmo tempo

garante o isolamento eléctrico entre o corpo e a massa do circuito, ver na secção 3.1.

Idealmente uma tensão de modo comum não é amplificada quando são utilizados

amplificadores diferenciais. No entanto, na realidade as impedâncias de entrada têm valores

finitos, o que provoca o aparecimento de uma tensão diferencial - , nas entradas dos

amplificadores, [20] e [14]:

(

) (2.11)

Como e são muito menores que , fica:

(

) (2.12)

Da análise da equação 2.12 constata-se que quanto maior a diferença entre as

impedâncias eléctrodo/pele e , maior será o valor do potencial de interferência causado

Page 34: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

18

pela tensão de modo comum, . A utilização de amplificadores com valores elevados de

impedância de entrada , ajuda na redução destas interferências.

A capacidade de rejeição de tensões de modo comum pelos amplificadores operacionais

é quantificada pelo valor de CMRR3. Este valor indica a taxa de rejeição de modo comum,

normalmente expressa em decibéis (dB). Com a introdução deste parâmetro na equação acima,

o valor de interferência causado pela é dado por, [20]:

- (

-

) (2.13)

Desta forma o valor de CMRR é também um parâmetro importante a ter em conta na

selecção dos amplificadores operacionais de um circuito de aquisição de sinais bioeléctricos,

devendo este parâmetro ter um valor o mais elevado possível. No entanto, a partir da equação

2.13 verifica-se que mesmo na situação ideal de o valor de CMRR ser infinito, o não

balanceamento das impedâncias eléctrodo/pele e , gera interferências devido à presença

da .

A indução magnética é também uma fonte de interferência causada principalmente

pelas linhas de tensão da rede eléctrica. Um campo magnético é gerado pela passagem de

corrente eléctrica por um cabo condutor. Em qualquer circuito condutor que esteja próximo de

um campo magnético vai ser induzido um potencial proporcional à área fechada formada pelo

circuito condutor, à sua orientação em relação ao campo magnético e à intensidade do fluxo do

campo magnético. Esta relação é dada pela lei da indução magnética, [20]:

(2.14)

Onde:

é o fluxo magnético (Wb);

B é o campo magnético (Wb/m2);

S é a área da superfície considerada.

3 Do inglês, Common Mode Rejection Ratio

Page 35: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

19

Considerando que a orientação da área S não varia, e sendo a frequência da rede

eléctrica constante, a redução da área S minimiza os efeitos da indução do campo magnético

sobre o sistema de aquisição.

Z1

Z2

Rede eléctrica (230 V – 50 Hz)

Sistema de aquisição

Campo Magnético

B

S

Figura 11 – Campo magnético induzido na área fechada S, formada pelos cabos do sistema de

aquisição de sinais bioeléctricos, Adaptado de [14]

A área S é reduzida de forma eficaz se os cabos dos eléctrodos forem entrelaçados um

no outro. Outra forma de reduzir a interferência de campos magnéticos é manter o sistema de

aquisição afastado das fontes geradoras de campos magnéticos, ou utilizando cabos com

blindagem, [9].

O ruido eléctrico presente em todos os circuitos electrónicos é também uma fonte de

interferência na aquisição de sinais bioeléctricos, [21]. É importante seleccionar amplificadores

de baixo ruído no projecto de circuitos de sistemas de aquisição de sinais bioeléctricos de

reduzida amplitude.

Os artefactos de movimento são distorções do sinal bioeléctrico sob medição,

provocadas pelo movimento do sujeito, dos eléctrodos colocados na superfície da pele ou pelo

movimento dos cabos dos eléctrodos. Na aquisição de sinais ECG ou EEG, o movimento dos

músculos pode também causar o aparecimento de artefactos no sinal a medir, [21].

Page 36: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

20

Page 37: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

21

3 Trabalho relacionado

Nesta secção serão abordados alguns trabalhos relacionados com circuitos electrónicos

destinados à aquisição de biopotenciais, particularmente os sinais ECG, com especial incidência

sobre trabalhos com características orientadas para aplicações móveis possíveis de serem

operados com baterias de reduzida tensão. Pretende-se com este estudo inicial adquirir algum

conhecimento sobre as topologias de circuitos usadas para o condicionamento de sinais ECG de

3 eléctrodos.

Esta secção está dividida em três partes. A análise do princípio de funcionamento de um

circuito Driven-Right-Leg , DRL, é feita na primeira. Os circuitos DRL são utilizados em circuitos

de aquisição de biosinais como meio eficaz de atenuar interferências eléctricas do sinal a medir.

Na segunda parte são analisados sistemas construídos com componentes electrónicos discretos,

f g ê ’ E terceira

parte são analisados sistemas que integram grande parte dos componentes discretos em

circuitos integrados ’ f õ íf é

3.1 Circuito Driven-Right-Leg

Um circuito DRL é utilizado para minimizar a interferência provocada pela tensão de

modo comum, . O circuito DRL está ligado ao terceiro eléctrodo do corpo sob medição,

permitindo desta forma reduzir a diferença de potencial entre o corpo e o valor de referência do

sistema de aquisição.

A utilização deste circuito ligado ao terceiro eléctrodo evita a sua ligação directa ao

potencial de referência do sistema de aquisição, o que se traduz numa melhoria nas condições

de segurança para o sujeito sob medição, [19]. Além disso reduz a resistência eléctrica efectiva

do terceiro eléctrodo, e com isto a diferença de potencial entre o corpo e a referência do sistema

de aquisição é também reduzida, [19].

A aplicação de circuitos DRL em implementações de sistemas de aquisição de

biopotenciais está generalizada, com diversos trabalhos publicados que descrevem diferentes

implementações, [23], [24]

De seguida será descrito o funcionamento de um circuito DRL baseado em 3 eléctrodos,

2 eléctrodos para adquirir o sinal diferencial ECG e 1 terceiro eléctrodo ligado ao circuito DRL,

Figura 12 a).

Page 38: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

22

O funcionamento do circuito DRL pode ser entendido como um sistema de controlo com

realimentação negativa, [23], onde a é medida por meio de duas resistências de igual valor

sendo depois comparada com o valor de referência do sistema de aquisição. Desta comparação

resulta um valor de erro, que corresponde à diferença entre o potencial de referência do sistema

de aquisição e o potencial ao qual se encontra o corpo sob medição. É esta diferença que se

pretende anular para evitar interferências no sinal bioeléctrico que se deseja medir. Para isto, a

diferença de potencial é amplificada e invertida sendo então realimentada para o corpo através

do terceiro eléctrodo.

+

- R

Rg

R

RaRa

A1

A2-

+

+

-

ADRL

Rel1

Rel2

Rel3

Ro

Rf

VRef

a)

+

-

ADRL

Ro

Rf

Vo

Ra/2

Vcm

VRef

+ Rel3 Vcm

Id

b)

Figura 12 – Circuito DRL: a) Configuração do circuito DRL com 3 eléctrodos; b) circuito

equivalente de a). Adaptado de [9]

Para entender como a é minimizada pelo circuito DRL será analisado o circuito DRL

da Figura 12, [9].

De notar o facto da configuração dos amplificadores A1 e A2, da Figura 12 a), não

amplificarem a componente comum do sinal de entrada. Esta configuração é também utilizada

nos amplificadores internos do CI ADS1198. Daí poder medir-se a na saída destes

amplificadores.

Page 39: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

23

Pela análise do circuito equivalente da Figura 12 a) verifica-se:

- (3.1)

Onde f

, é o ganho do amplificador do circuito DRL correspondente a uma

configuração inversora.

A é dada por:

(3.2)

Onde corresponde à resistência do terceiro eléctrodo em contacto com a pele, e

é a corrente que percorre o corpo, devido ao acoplamento capacitivo com a rede eléctrica.

Pela substituição da equação 3.1 na equação 3.2 obtém-se a relação da com o

ganho, , do amplificador do circuito DRL:

(3.3)

Da análise da equação 3.3 verifica-se que a é inversamente proporcional ao ganho

do amplificador do circuito DRL.

Por outro lado verifica-se que a resistência efectiva do terceiro eléctrodo, em relação ao

potencial de referência do sistema de aquisição, é reduzida pelo factor , [9, 19] . Isto mostra

a importância da utilização de um circuito DRL para o terceiro eléctrodo, em detrimento da

simples ligação deste ao potencial de referência do circuito de aquisição.

A resistência pode ser incluída para efeitos de protecção. Esta deve ser colocada

entre a saída do amplificador e o caminho de realimentação do amplificador. Desta forma fica

a fazer parte do amplificador, não influenciando a resistência efectiva do terceiro eléctrodo, [19].

Como foi referido anteriormente, sendo o circuito DRL um sistema com realimentação,

este está sujeito a problemas de estabilidade. Em [19] propuseram um modelo para analisar a

estabilidade de circuitos DRL. O modelo não será reproduzido aqui, no entanto sabe-se, da teoria

dos sistemas, que um sistema com realimentação torna-se instável quando à frequência de

inversão de fase, -180º, o ganho do sistema em malha aberta é maior que 1, [25].

Os filtros de radiofrequência, filtros passa-baixo formados pelas resistências dos

eléctrodos e as capacidades parasitas e o amplificador do circuito DRL, são os principais

elementos do sistema que podem introduzir deslocamento de fase, levando à instabilidade do

sistema. [19]

Page 40: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

24

Desta análise, [19] recomendam a compensação do circuito DRL da Figura 12 b) com a

substituição da resistência f por um condensador, f.

Assim a função de transferência do amplificador DRL passa a ser dada por:

( )

f

Esta configuração corresponde a um integrador inversor. Para garantir uma margem de

fase de 45º, em [19] calcularam um valor para a constante de tempo, f, de 130 µs. No

modelo proposto por [19] são assumidos parâmetros para as capacidades parasitas de

acoplamento com a rede eléctrica, para o pior caso, ou seja, pode considerar-se que numa

aplicação real esses valores não são atingidos.

Assim o valor de 130 µs foi tido como referência para este trabalho.

3.2 Sistemas baseados em componentes discretos

[26] propuseram um circuito para amplificação de sinais ECG obtidos a partir de

eléctrodos secos. A finalidade do circuito desenvolvido destina-se, segundo os autores, a

aplicações móveis para obter os sinais ECG em situações de exercício físico.

A topologia adoptada está representada na Figura 13. Esta topologia baseia-se em 3

estágios de amplificação. O primeiro estágio é um amplificador com entrada e saída diferencial,

apresentando um ganho relativamente baixo, 13 dB, para evitar a saturação dos amplificadores

potencialmente causada pelas tensões de offset das entradas dos amplificadores, [26].

Os eléctrodos são acoplados em corrente alternada, CA, a este primeiro estágio, de

forma a eliminar a componente contínua do sinal ECG.

No entanto, como este circuito funciona com uma alimentação unipolar, é necessário

polarizar as entradas dos amplificadores com um nível de tensão adequado que permita

visualizar o sinal diferencial ECG sem cortes nos limites, inferior e superior da alimentação. Para

solucionar este problema os autores propuseram uma malha de resistências, R5, R6 e R7 da

Figura 13, que coloca as entradas dos amplificadores a cerca de 1.2V dos limites da

alimentação, [26]. Contudo esta solução degrada o CMRR, uma vez que as impedâncias das

Page 41: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

25

entradas dos amplificadores são reduzidas com a utilização da malha de resistências de

polarização.

O valor de CMRR medido pelos autores foi de 55 dB, sendo melhorado para 88 dB pela

utilização do terceiro eléctrodo ligado ao circuito DRL também implementado pelos autores.

O segundo estágio de amplificação é também de entrada e saída diferencial e

proporciona um ganho adicional de 25.6 dB. O último estágio tem a função de converter o sinal

diferencial dos estágios anteriores para uma saída simples, além de amplificar o sinal em 6 dB.

Resulta um ganho relativamente baixo, cerca de 43 dB.

Figura 13 – Circuito de amplificação de biopotenciais proposto por [26].

Nos trabalhos de [27] os autores apresentam um circuito com uma topologia

semelhante à proposta por [26], dois estágios amplificadores de entrada e saída diferencial e o

último estágio converte o sinal diferencial para um sinal não diferencial. No entanto o

acoplamento dos eléctrodos ao primeiro estágio de amplificação é feito em corrente contínua, o

que desde logo limita o ganho máximo permitido para este estágio, de forma a evitar a saturação

dos amplificadores. Por esta razão os autores estabeleceram um ganho de 10 para o primeiro

estágio de amplificação.

Page 42: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

26

A eliminação da componente contínua do sinal ECG é realizada pelo segundo estágio

através de um filtro passa-alto diferencial com uma frequência de corte de cerca de 0.05 Hz. No

entanto, as resistências do filtro são ligadas ao potencial de referência do circuito através de

uma resistência de valor finito, o que limita o valor de CMRR.

O último estágio é um amplificador diferencial ao qual está ligado um circuito de auto-

zero. Um circuito de auto-zero tem como função manter o valor médio da tensão de saída no

valor da tensão de referência do circuito, [28]. Os autores implementaram este circuito como

forma de anular as tensões de offset provenientes dos estágios anteriores.

O circuito funciona com alimentação unipolar, o que facilita a sua utilização em

aplicações móveis alimentadas com uma única bateria. Por esta razão é necessário polarizar as

entradas dos amplificadores do primeiro estágio para que o circuito funcione de forma correcta.

Uma vez que o circuito proposto não implementa uma malha de resistências de polarização, tal

como acontece na solução proposta por [26], é indispensável a utilização do terceiro eléctrodo.

Este é ligado ao circuito DRL cujo valor de referência é o valor médio da tensão de alimentação

do circuito. Assim, o potencial de referência do corpo do utilizador tem o mesmo valor do

potencial de referência do circuito, permitindo desta forma a leitura do sinal ECG com valores

positivos e negativos em relação ao potencial de referência.

Figura 14 – Circuito de amplificação de biopotenciais proposto por [27].

Page 43: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

27

Nos trabalhos analisados atrás, a amplificação dos sinais bioeléctricos é subdividida em

diferentes estágios, principalmente para evitar a saturação dos amplificadores de entrada devido

a tensões de offset geradas pela polarização dos eléctrodos. No trabalho a seguir analisado,

proposto por [29], a amplificação dos sinais é realizada num único estágio, o estágio de

entrada. Com esta topologia optimiza-se o valor de CMRR. No entanto para evitar o problema da

saturação dos amplificadores de entrada é necessário um acoplamento em corrente alternada

dos sinais de entrada. Caso contrário a componente de corrente contínua dos sinais bioeléctricos

facilmente satura os amplificadores.

Neste contexto, [29], propuseram um circuito formado apenas com componentes

passivos que funciona como um filtro passa-alto para sinais diferenciais e bloqueia sinais de

modo comum, Figura 15. Além disso, como não existem resistências conectadas ao potencial de

massa do circuito, o valor de CMRR é optimizado.

Figura 15 – Circuito de acoplamento em corrente alternada proposto por [29]

Esta configuração apenas é possível com a utilização de um terceiro eléctrodo. Este

eléctrodo fornece o caminho para a massa do circuito, das correntes de polarização das

entradas dos amplificadores. Sem este caminho para as correntes de polarização, os

amplificadores não funcionariam correctamente, uma vez que não existem resistências

directamente ligadas à massa do circuito.

O circuito completo, proposto por [29], está representado na Figura 16. Para análise

deste circuito pode dividir-se a sua composição em 3 principais estágios.

Page 44: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

28

Figura 16 – Circuito de aquisição de sinais bioeléctricos, [29]

O primeiro estágio é composto pelo circuito de acoplamento em corrente alternada

f f ê ’ ’ Figura 16. A

função de transferência ( ) deste circuito na forma simplificada, derivada por [29] é:

( )

(3.5)

Onde , considerando .

Esta função de transferência corresponde à resposta de um filtro passa-alto de primeira

ordem. A frequência de corte de ( ) é então dada por

.

A principal vantagem da utilização deste circuito é a possibilidade de utilizar

acoplamento em corrente alternada sem a utilização de resistências ligadas à massa do circuito.

O segundo estágio corresponde ao único andar de amplificação do circuito. É um circuito

de amplificação de entrada e saída diferencial, formado por 2 amplificadores operacionais.

Amplifica os sinais diferenciais com um ganho de 1001. Este valor de ganho tão elevado,

concentrado num único andar de amplificação apenas é possível porque foi utilizado um circuito

de acoplamento em corrente alternada, que remove a componente contínua dos sinais

bioeléctricos.

Page 45: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

29

O último estágio apenas transforma o sinal em modo diferencial para simples, ou seja,

com referência à massa do circuito. Além disso, este estágio integra também um circuito de

acoplamento em corrente alternada já referido atrás, nos trabalhos dos mesmos autores, [27].

A solução proposta, Figura 16, integra ainda um filtro activo passa-baixo de segunda

ordem e um circuito DRL. A topologia deste circuito apresenta características que possibilitam a

sua implementação em aplicações móveis com alimentação eléctrica por pequenas baterias. O

circuito é composto por um reduzido número de CI, reduzindo assim a potência eléctrica

consumida. Este é um factor importante em sistemas operados por baterias. Por outro lado, a

alimentação eléctrica deste circuito é unipolar, possibilitando a utilização de uma bateria apenas,

eliminando também a necessidade de utilizar circuitos geradores de tensões simétricas.

3.3 Sistemas baseados em Chips dedicados

Nos trabalhos realizados por [30] foi desenvolvido um CI de nove canais especificamente

para medir sinais ECG. O dispositivo é um ASIC construído com tecnologia CMOS de 2 µm,

ocupando uma área total de 65 mm2.

O sistema desenvolvido faz o processamento analógico e digital dos sinais. O CI integra

um ADC de aproximações sucessivas de 13 bits com uma taxa de amostragem de 44100

amostras por segundo. Cada um dos nove canais analógicos é constituído por 2 estágios de

amplificação. O primeiro estágio tem um ganho de 10 e o segundo de 50. A saída e a entrada do

primeiro e segundo estágio, respectivamente, estão disponíveis externamente para possíveis

configurações de filtros, por exemplo para remover a componente contínua presente nos sinais

ECG. Este CI implementa internamente um filtro de Bessel passa-baixo de 8ª ordem, que

permite variar a largura de banda entre 250 Hz e 1 KHz.

Figura 17 – Arquitectura do sistema desenvolvido por [30].

Page 46: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

30

A Figura 17 representa a arquitectura do sistema desenvolvido por [30]. Nesta

arquitectura apenas é usado um ADC conectado a um multiplexador de 9:1. Com esta topologia

foi necessário implementar pelos autores um circuito sample-and-hold por cada canal analógico.

Só desta forma é possível realizar aquisições simultâneas com um único ADC. A comunicação

digital é bidireccional, através de uma porta série, integrada também no CI desenvolvido.

A topologia proposta para o CI desenvolvido por [30] tem características vocacionadas

para aplicações móveis, uma vez que integra num único CI todos os blocos funcionais que

permitem adquirir, condicionar e digitalizar sinais analógicos.

No entanto a alimentação de 10 Volts e um consumo de potência de 270mW não se

adequam a um sistema portátil moderno. É necessário ainda um oscilador externo para usar o

CI.

Uma outra solução é apresentada por [31], que pode ser interpretada como uma

melhoria ao sistema proposto por [30], descrito atrás. É um CI concebido para aquisição de

sinais ECG e EEG, dado que permite uma grande variação do valor da amplificação através de

um amplificador operacional de ganho variável, PGA4. O valor de amplificação pode ser

configurado, digitalmente, entre 0 e 80 dB.

Na topologia proposta por [31], representada na Figura 18, é usado um multiplexador de

8:1 a montante dos circuitos de condicionamento de sinal. Isto significa que apenas é necessário

um canal de condicionamento de sinais analógicos, sendo cada uma das 8 entradas

multiplexadas sucessivamente. Isto reduz a área necessária no CI assim como a potência

eléctrica consumida, [31].

Figura 18 – Arquitectura do sistema proposta por [31],

4 Da língua inglesa Programmble Gain Amplifier

Page 47: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

31

O CI integra um amplificador de instrumentação com entrada rail to rail desenvolvido

especificamente para esta aplicação. Este CI integra ainda um filtro passa baixo e um estágio de

amplificação na saída para ajustar a escala do valor medido. A largura de banda do sistema

completo com filtro passa baixo está configurada entre 0.3 e 150 Hz.

A interface digital está integrada no mesmo CI. Esta é composta por 3 sinais, CLOCKIN,

DATAIN e CHIPSELECT, Figura 18. É usada para controlar todos os blocos funcionais do CI. O

sinal CHIPSELECT permite expandir o sistema com vários CI ligados em simultâneo, uma vez

que este sinal permite seleccionar individualmente o CI a ser utilizado, colocando o valor de

saída dos restantes em alta impedância.

A alimentação eléctrica do CI resultante dos trabalhos de [31], é feita por tensões

simétricas de +/- 1,5 Volts, podendo ter o valor mínimo de +/-1 Volt. Apresenta um consumo de

corrente de 485 µA, acrescendo a este valor 40,5 µA correspondentes ao consumo de corrente

de um oscilador externo necessário à operação do CI.

Com estes valores de tensão e corrente de alimentação, a potência consumida é de

aproximadamente 1.6 mW, o que permite a utilização deste sistema em aplicações móveis,

podendo operar por longos períodos de tempo alimentado por 2 baterias de 1,5 Volts.

O CI RHA1016 é um amplificador multicanal disponibilizado comercialmente pela

empresa Intan Technologies, [32]. Este CI faz parte de uma família de amplificadores criados

para aplicações de bioinstrumentação portáteis de baixo consumo.

Esta solução integrada faz o condicionamento do sinal bioeléctrico directamente a partir

dos eléctrodos e disponibiliza um sinal analógico diferencial pronto a ser digitalizado por um ADC

com sinal de entrada diferencial.

A arquitectura do sistema é composta de 16 canais de entrada e saída diferencial, o que

optimiza a rejeição de interferências externas, Figura 19. Os eléctrodos podem ser ligados

directamente nas entradas com acoplamento em corrente alternada, eliminando assim a

componente contínua do sinal de entrada. No entanto, o pólo dos filtros passa-alto não pode ser

alterado, uma vez que os condensadores estão integrados internamente no CI. A frequência

deste pólo está fixada abaixo dos 0.05 Hz, [32]]. Esta particularidade, apesar de impedir a

alteração da resposta em frequência dos filtros passa-alto, facilita a integração do CI na

aplicação final, libertando espaço no PCB.

Page 48: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

32

Figura 19 – Diagrama interno do CI RHA1016, [32].

Por outro lado a largura de banda dos amplificadores pode ser alterada através de 2

resistências externas, entre 10 Hz e 10 KHz. No entanto não é possível a alteração individual da

largura de banda de cada canal. O filtro passa-baixo implementado é de 3ª ordem com uma

característica de Butterworth. O fabricante disponibiliza uma tabela com a relação de

resistências a usar para obter a largura de banda desejada, [32].

O sinal da saída diferencial de cada um dos 16 canais é colocado nos pinos de saída do

CI pelo roteamento dos canais através de um multiplexador de alta velocidade de 16:1, Figura

19. Com a utilização deste tipo de arquitectura apenas é necessário um ADC para digitalizar

todos os canais. No entanto, a multiplexagem dos canais individualmente limita a taxa máxima

de amostragem. Para o caso do CI RHA1016 é possível adquirir amostras a uma taxa máxima

de 30 000 amostras por segundo, [32]. Esta taxa de amostragem é a suficiente para aplicações

em sistemas para aquisição de sinais ECG ou EMG. O ganho total está fixo em 46 dB (200V/V).

Este valor de ganho relativamente baixo é justificado pelo fabricante com a recomendação de

’ x [33], com o objectivo de obter uma

resolução, em relação à entrada, abaixo do valor do nível de ruído do amplificador. No caso do

CI RHA1016 o valor de ruído é de 2 µV rms.

Tomando o exemplo dado por [33], para um ADC de 16 bits com uma gama total de

operação de 2.5 Volts obtém-se uma resolução de . Para um ganho de 200 a

Page 49: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

33

resolução em relação à entrada é de , que está abaixo do valor de ruído de 2

µV do amplificador. Logo um ganho mais elevado ou um ADC com maior resolução não irá

melhorar a fidelidade do sinal adquirido, [33]. Na Figura 20 está representado um sinal ECG

adquirido com o CI RHA1016. A amplitude do sinal apresentado é referente ao sinal na entrada

do amplificador.

A alimentação deste CI deve ser feita por uma fonte de tensão regulada de 5 Volts ou

por uma fonte de tensão bipolar de +/-2.5 Volts, com um consumo de potência que varia entre

1.7 mW e 2.5 mW por canal, dependendo da largura de banda programada.

Figura 20 – Sinal ECG adquirido com eléctrodos de Ag/AgCl, para uma largura de banda de 100

Hz, [32].

Page 50: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

34

Page 51: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

35

4 O front-end analógico ADS1198

Nesta secção é apresentado o conversor analógico digital, ADC, ADS1198

comercializado pela Texas Instuments. Este dispositivo foi objecto de estudo neste trabalho. É

um circuito integrado construído especificamente para a aquisição de sinais bioeléctricos, uma

vez que tem vários blocos funcionais dedicados às especificidades deste tipo de aplicações,

especialmente aquisição de sinais ECG. Numa fase inicial o desempenho e modo de

funcionamento do ADS1198 foram avaliados com a utilização de um Kit de demonstração

disponibilizado pelo fabricante do ADS1198.

4.1 Características gerais e modo de funcionamento

O ADS1198 integra num único CI 8 canais de aquisição de sinais analógicos. Cada um

dos canais integra um amplificador de ganho programável. O ADS1198 permite amostragens em

simultâneo nos 8 canais, não existindo portanto a necessidade de multiplexar os diferentes

canais, uma vez que a cada canal está alocado um conversor analógico-digital delta sigma, (ΔΣ-

ADC) de 16 bits. Esta característica é uma vantagem em relação a sistemas de aquisição

multicanal implementados com multiplexers com um único ADC, já que o processo de

multiplexagem introduz um atraso inevitável, reduzindo desta forma a taxa de amostragem

eficaz.

A taxa de amostragem máxima é de 8000 amostras por segundo. Inclui um oscilador e

uma referência de tensão internas, permitindo com isto libertar espaço no PCB.

O ADS1198 tem vários blocos de circuitos que implementam funções específicas na

aquisição de sinais ECG. Este dispositivo pode ser usado na construção de um sistema padrão

de 12 derivações ECG, com recurso a um reduzido número de componentes externos. Estas

funcionalidades são explicadas nas secções seguintes.

A alimentação eléctrica pode ser bipolar ou unipolar. Neste projecto apenas será

considerada a alimentação unipolar. Com isto evita-se a implementação de circuitos adicionais

para gerar tensões simétricas bipolares. Este é um aspecto importante nesta aplicação, dada a

necessidade de conseguir um sistema de baixo consumo alimentado apenas com uma bateria.

Page 52: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

36

Figura 21 – Diagrama interno do CI ADS1198, [7].

4.2 Entradas analógicas e funções ECG

Cada uma das entradas dos 8 canais do ADS1198 pode ser usada numa configuração

simples ou diferencial. Neste trabalho será apenas considerada a configuração diferencial para

as entradas analógicas do CI, Figura 23.

Figura 22 – Configuração da entrada diferencial de um canal do ADS1198,

Page 53: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

37

Figura 23 – Configuração diferencial da entrada de um canal do ADS1198, [7].

Numa configuração diferencial a tensão comum às duas entradas, , é dada por:

Onde e representam as excursões positiva e negativa, respectivamente, de um

canal analógico.

Nesta configuração, considerando o ganho igual a 1, as entrada e de cada canal

permitem medir valores de tensão entre a - . corresponde à

tensão de referência do ADS1198, que pode ser configurada digitalmente para 2.4 ou 4 Volts.

No presente trabalho esta foi configurada para 2.4 Volts, uma vez que a gama dinâmica das

tensões diferenciais dos sinais ECG é relativamente baixa.

Assim, a gama de tensões de entrada na configuração diferencial, , pode ter

o valor máximo de

g . Ou seja para um ganho igual a 1 o valor máximo para a tensão

diferencial de entrada é de: - .

O valor de ganho para os amplificadores de entrada pode ser configurado também

digitalmente, para valores de 1, 2, 3, 4, 6, 8 e 12. A largura de banda destes, vai diminuindo

com o aumento do ganho. Os valores nominais da largura de banda para os diferentes valores

de ganho podem ser consultados no datasheet do fabricante, [7]. Para o valor de ganho máximo

a largura de banda correspondente é de 12 kHz, sendo suficientemente alta para a medição de

sinais ECG. E EMG

.O CI ADS1198 inclui na sua construção circuitos internos que permitem configurar um

sistema para medir sinais ECG usando o padrão de 12 derivações, ver secção 2.2.

Resumidamente, as funções implementadas pelos circuitos internos do ADS1198 são um

circuito DRL, um circuito para derivação do ponto de referência WCT e um circuito para

derivação dos pontos de referência de Goldberger. Além destas funções, existe a possibilidade de

configurar o ADS1198 para detectar individualmente o desligamento, ou má conexão dos

eléctrodos ao corpo do utilizador e a detecção de passos gerados artificialmente por sistemas de

Page 54: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

38

pacemaker. Todas estas funções são realizadas por circuitos internos do ADS1198, cuja

configuração é controlada digitalmente, através de multiplexers internos do ADS1198.

O circuito DRL é a função com maior relevância para este trabalho, dado que não será

implementado um sistema de aquisição de 12 derivações, não sendo necessário utilizar muitas

das funcionalidades disponibilizadas pelo ADS1198 para este efeito.

O CI ADS1198 integra um amplificador operacional e diferentes multiplexers, que

permitem configurar um circuito DRL com um reduzido número de componentes externos,

Figura 24.

Figura 24 – Circuito DRL do ADS1198, [7].

Qualquer um dos canais podem ser usados para derivar o sinal de saída do circuito DRL.

Esta selecção é feita digitalmente pela configuração de multiplexers, podendo ser usada

qualquer combinação de canais.

Page 55: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

39

A tensão de referência para o circuito DRL pode ser gerada externamente através do

pino RLDREF, ou internamente, pela configuração do multiplexer correspondente.

Para reduzir o número de componentes externos e optimizar o espaço no PCB, foi

utilizada a referência interna para o circuito DRL. Este valor de referência corresponde a metade

do valor da tensão de alimentação do CI. Como o ADS1198 é alimentado com 3 Volts, o valor de

referência é de 1,5 Volts. É este valor de tensão a partir do qual serão lidos os sinais ECG.

O terminal WCT é usado como ponto de referência para o cálculo das derivações V1 a V6,

do sistema de 12 derivações padrão, ver secção 2.2. O potencial de referência WCT pode ser

gerado usando qualquer uma das entradas dos canais 1 a 4. Depois de multiplexado, o sinal

é ê Ω é buffer de ganho

unitário, Figura 25, sendo o potencial no pino WCT o valor médio do potencial na saída dos 3

amplificadores da Figura 25.

Figura 25 – Circuito interno de geração do ponto WCT, [7].

Outra funcionalidade presente no ADS1198 é a possibilidade de gerar os sinais de

referência dos pontos de Goldberger. Os pontos de Goldberger são usados para obter as

derivações aumentadas no sistema de 12 derivações.

Estes pontos de referência são gerados da mesma forma usada para derivar o terminal

WCT. No entanto os sinais de saída são roteados através de uma malha de resistências

diferente. Os pontos de referência gerados são depois ligados às entradas negativas (INN) dos

Page 56: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

40

canais 5 a 7, Figura 26, permitindo assim calcular os pontos de referência de Goldberger tal

como descrito na secção 2.2.

Figura 26 – Circuito interno de geração dos pontos de Goldberger, [7]

A configuração dos vários blocos funcionais do CI ADS1198 é realizada pela escrita em

registos de memória através do barramento SPI. O mapa dos registos de memória do ADS1198

não vai ser reproduzido aqui, remetendo-se esta informação para a consulta do datasheet do

fabricante, [7]. No entanto, na secção seguinte é analisado o barramento SPI, indispensável para

configurar o modo de operação do CI ADS1198.

.

4.3 Protocolo de comunicação SPI (ADS1198)

SPI é um protocolo de comunicação série entre dispositivos digitais desenvolvido pela

Motorola. No entanto, existe uma grande variedade de variantes do protocolo SPI que usam

diferentes configurações. Não existe portanto um padrão convergente com todos os fabricantes.

É comum a referência ao SPI como um de facto standard, uma vez que foi amplamente

adoptado por vários fabricantes apesar de não ser um protocolo formalmente padronizado, [34].

Page 57: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

41

O protocolo SPI é utilizado pelo ADC ADS1198 para comunicação com um controlador,

permitindo desta forma o envio de dados das conversões realizadas, a leitura e escrita de

registos e o envio de comandos para controlar toda a operação do ADC. É o protocolo SPI usado

especificamente pelo ADS1198 que será descrito nesta secção.

O barramento SPI é composto por 4 linhas de sinal. As linhas de entrada e saída de

dados são designadas por DIN e DOUT, respectivamente. A linha do sinal de relógio é designada

por SCLK e a linha de selecção do dispositivo por CS.

As designações acima descritas, atribuídas pelo fabricante do ADC, Texas Instruments,

não são universais podendo assumir outros nomes. Por exemplo MOSI, MISO e SS são nomes

alternativos para as linhas DIN, DOUT e CS, respectivamente.

A comunicação com o ADS1198 através do barramento SPI pressupõe a utilização de

um dispositivo Mestre, sendo o ADS1198 um dispositivo Escravo.

A linha CS é usada para seleccionar o dispositivo com o qual se pretende iniciar

comunicação, caso exista mais de um dispositivo no barramento. No caso do ADS1198 a linha

CS deve ser colocada com valor lógico zero para seleccionar o ADC, e deve permanecer com

este valor lógico até terminar a comunicação. Alternativamente poderia manter-se o CS

permanentemente com o valor lógico zero para aplicações em que apenas um dispositivo está

presente no barramento, como é o caso do presente projecto. No entanto a linha CS pode ser

usada para reiniciar a comunicação série caso ocorra algum erro na comunicação. A

comunicação SPI é reiniciada sempre que se coloca a linha CS com o valor lógico 1.

Para iniciar uma comunicação série, um dispositivo Mestre deve configurar o sinal de

relógio, SCLK, para operar a uma frequência menor ou igual à frequência máxima suportada

pelo dispositivo Escravo. Esta frequência não deverá ser superior a 20 MHz no caso do

ADS1198..

Este sinal de relógio é usado para sincronizar a transferência de dados entre o

dispositivo Mestre e Escravo. A transferência de informação nas duas linhas de dados ocorre em

série pelo deslocamento de bits entre o shift register5 do dispositivo Mestre e o shift register do

dispositivo Escravo, Figura 27.

Uma vez que o barramento SPI é composto por duas linhas de dados, DIN e DOUT, a

comunicação ocorre em full-duplex.

5 Registo de deslocamento

Page 58: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

42

Figura 27 – Diagrama de transferência de dados Mestre/Escravo, [35].

Além de configurar a frequência do sinal SCLK, o dispositivo Mestre é responsável pela

configuração da fase e polaridade deste sinal.

No barramento SPI a polaridade do sinal de relógio define qual o valor da linha de base

do sinal SCLK. Este valor é normalmente designado por CPOL e pode assumir o valor 0 ou 1.

Desta forma, em dispositivos configurados com CPOL igual a 1, a primeira transição do sinal

SCLK acontece a partir do valor lógico 1 para 0. Com CPOL igual a 0 a primeira transição de

SCLK ocorre a partir do valor lógico 0 para 1.

A fase do sinal de relógio é designada por CPHA, e assume os valores 0 ou 1. Este valor

define a forma de transmissão dos bits de informação, [35]. Assim existem dois formatos

possíveis, descritos a seguir de forma geral:

Para CPHA = 0, os bits de dados são lidos na primeira transição de cada período do

sinal SCLK e são transmitidos nas linhas de dados na segunda transição do período de SCLK.

Para CPHA = 1, os bits de dados são transmitidos nas linhas de dados na primeira

transição do período de SCLK e são lidos na segunda transição de cada período do sinal SCLK,

Figura 28.

Figura 28 – Polaridade e fase do barramento SPI, [34].

A combinação dos valores de CPOL e CPHA dá origem a 4 modos de operação

diferentes, Tabela 1.

Page 59: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

43

Tabela 1 – Modos de operação do barramento de dados SPI

Modo CPOL CPHA

1 0 0

2 0 1

3 1 0

4 1 1

O ADC ADS1198 está configurado para operar pelo modo 2. Sendo assim, qualquer

dispositivo Mestre usado para estabelecer comunicação com o ADS1198 tem de ser também

configurado com polaridade 0 e fase 1, Tabela 1.

Para além das 4 linhas do barramento SPI, o ADS1198 tem dois pinos adicionais que

podem ser usados em conjunto com o barramento SPI para conversão e recolha de dados do

ADC.

Estes pinos são o sinal Data Ready, DRDY, e o sinal START.

O sinal DRDY é um sinal de saída que sinaliza a disponibilidade dos dados de uma

conversão realizada pelo ADC, através de uma transição do valor lógico 1 para 0.

A linha DRDY volta sempre ao valor lógico 1 no momento da primeira transição de 1

para 0 do sinal SCLK.

O pino START pode ser usado pelo controlador para iniciar as conversões no ADC. As

conversões são iniciadas colocando esta linha com valor lógico 1. No entanto esta linha pode ser

suprimida, enviando para o ADC o opcode START para iniciar as conversões. Neste caso o pino

START deve ser colocado, fisicamente, com valor lógico 0.

A obtenção dos dados das conversões realizadas pelo ADC ADS1198 pode ser

conseguida por cada um dos seguintes métodos, aqui denominados de Método 1 e Método 2.

Método 1: Neste método é enviado o comando de leitura de dados em modo contínuo,

RDATAC. É o modo de operação por defeito do ADS1198. Este comando, RDATAC, coloca os

dados das conversões no registo de saída, a uma taxa sinalizada pelo sinal DRDY. Neste modo

apenas é necessário monitorizar a linha DRDY, e sempre que nesta ocorra uma transição para o

nível lógico 0 deverá enviar-se o sinal SCLK com um número de períodos da onda SCLK igual ao

número de bits que se vai ler da linha de dados DOUT. A Figura 29 exemplifica o modo de

funcionamento do comando RDATAC.

Page 60: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

44

Com o uso deste comando para obter os dados das conversões não há a necessidade

de enviar sucessivos comandos. Apenas é enviado o comando RDATAC no início da transmissão

e para terminar a leitura de dados em modo contínuo é enviado o comando de paragem

SDATAC.

Neste modo de operação cada leitura de dados, correspondente a uma amostragem,

tem de ser completada antes da próxima transição da linha DRDY, que sinaliza a próxima

amostragem. Deve ainda evitar-se a leitura de dados no intervalo de tempo tUPDATE, correspondente

a 4 ciclos de CLK do ADS1198, Figura 29.

Figura 29 – Utilização do comando RDATAC, [7].

Método 2: Corresponde ao envio do comando RDATA, Figura 30. O envio deste comando

permite a obtenção de uma amostra de dados da linha DOUT. Neste modo é necessário reenviar

o comando RDATA sempre que se pretende ler uma amostra de dados. O comando é enviado

após a transição da linha DRDY. Após o envio deste comando os dados da amostra são

disponibilizados na linha DOUT pelo envio do número de períodos da onda de sinal SCLK

correspondente ao número de bits da amostra.

Este modo tem a vantagem de poderem ocorrer sobreposições entre a leitura dos dados

na linha DOUT e a ocorrência da transição seguinte da linha DRDY, sem corrompimento das

leituras.

Figura 30 – Utilização do comando RDATA, [7].

Page 61: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

45

Qualquer um dos modos, RDATAC ou RDATA, utilizados para a aquisição dos dados das

conversões conduz à obtenção da mesma trama de dados na linha DOUT. Esta é composta por

24 bits de estado seguidos de 16 bits de dados por cada canal, correspondentes a cada amostra

f ’ ADS1198 existem 8 canais. Sendo assim,

a trama obtida por cada amostra realizada é composta por 152 bits (24*8+16*8). A ordem dos

dados de cada canal na trama inicia-se no canal 1 e termina no canal 8, sequencialmente.

Figura 31 – Diagrama de tempo dos sinais SPI, [7].

Esta sequência é mantida mesmo quando qualquer um dos canais é desactivado. Neste

caso, o valor apresentado para os canais desactivados é 0. Por exemplo, tendo em conta o

cenário em que apenas o canal 8 está activo, para aceder aos dados das conversões deste canal

é necessário transmitir na linha SCLK 152 ciclos de relógio. Mas apenas os últimos 16 bits são

utilizados, os restantes apresentam valor 0. Isto significa que não é possível ter uma trama de

dados apenas com os bits correspondentes a um canal específico.

No entanto numa aplicação em que apenas se utiliza o canal 1, e como este está

posicionado em primeiro lugar na sequência da trama de dados, pode obter-se uma trama de

dados apenas com os bits de estado e os bits de dados do canal 1. Para isto acontecer basta

colocar na linha de relógio SCLK, apenas 40 ciclos de SCLK. Desta forma são colocados na linha

DOUT 40 bits, correspondentes a 24 bits de estado mais 16 bits de dados do canal 1. Os

restantes dados seriam assim ignorados.

Os bits de estado contêm informações do estado dos registos GPIO, LOFF_STATP e

LOFF_STATN.

O bit mais significativo, MSB, é o primeiro a ser colocado na linha sincronizado com a

primeira transição do SCLK. De notar que os dados, de cada canal, são colocados na linha

DOUT no formato complemento para 2.

Page 62: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

46

O barramento SPI é também responsável pela escrita e leitura dos registos da memória

do ADS1198. Estas duas operações são realizadas pelo envio de comandos pelo barramento

SPI. No entanto, como estes comandos são compostos por múltiplos bytes, é necessário ter em

conta o período de tempo que o ADS1198 consome para descodificar cada um dos bytes.

São necessários 4 períodos de CLK, para descodificar e executar cada byte.

Esta particularidade implica uma restrição da velocidade do sinal de relógio colocado na

linha SCLK, ou a introdução de um atraso de tempo entre os sucessivos bytes de comando.

Assim considerando CLK = 2,048 MHz e SCLK = 20 MHz, o tempo de descodificação de

um byte, , é dado por:

O tempo de transmissão de um byte tem de ser inferior a 1,96 µs. No entanto o tempo

de transmissão de um byte corresponde a 8 ciclos de relógio SCLK,

,

Logo, o tempo de transmissão de um byte com uma frequência de relógio SCLK a 20

MHz é inferior ao tempo necessário para descodificação. Desta forma seria necessário introduzir

um atraso entre os bytes, de 1,56 µs (1,96 – 0,4)µs.

Por outro lado poderia reduzir-se a frequência do sinal de relógio SCLK para 4 MHz.

Assim = 0,25 µs,

,

Assim, o tempo de transmissão de um byte passa a ser de 2 µs, que é superior ao

tempo de descodificação de um byte (1,96 µs). Com isto evita-se a necessidade de introdução

de atrasos entre os bytes enviados.

Page 63: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

47

Figura 32 - Exemplo da utilização do comando RREG no barramento SPI, [7].

Uma operação de leitura de registos do ADS1198 é realizada pelo envio do comando

RREG, composto por 2 bytes de opcode, Figura 32,

O primeiro byte tem a seguinte estrutura:

0010 rrrr, em que rrrr representa o endereço da posição de memória do primeiro registo

que se pretende ler.

O segundo byte é composto do seguinte modo:

000n nnnn, em que n nnnn representa o número de registos a ler menos 1.

O resultado da operação de leitura é colocado na linha de dados DOUT sincronizado

com o 17º ciclo de relógio SCLK, sendo o MSB do primeiro registo a ler, colocado em primeiro

lugar.

Tomando como exemplo a leitura do registo na posição de memória 00h,

correspondente ao registo de identificação, ID Register, os bytes de opcode a enviar seriam 0010

0000 seguido de 0000 0000.

Figura 33 - Exemplo da utilização do comando WREG no barramento SPI, [7].

Page 64: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

48

A operação de escrita em registos é realizada pelo envio do comando WREG. Este

comando é composto por 2 bytes de opcode, seguido dos bytes de dados que se pretende

escrever nos respectivos registos.

O primeiro byte apresenta a seguinte estrutura:

0100 rrrr, rrrr representa o endereço do primeiro registo a escrever.

O segundo byte é composto do seguinte modo:

000n nnn, n nnnn representa o número de registos a escrever menos 1.

Os dados são escritos de forma sequencial, começando pelo primeiro registo

endereçado pelo primeiro byte de opcode. A Figura 33 ilustra o modo como é processada a

operação de escrita em dois registos.

Page 65: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

49

5 Sistema desenvolvido

5.1 Arquitectura do sistema adoptado

A configuração final adoptada para o sistema de aquisição de sinais ECG está

representada pelo diagrama de blocos da Figura 34.

Electrodo 1

Electrodo 2

Electrodo DRL ADS1198 NI USB-8451PC

(Aplicação LabVIEW)

Pré-Amplificador

Shield-Drive

SPI USB

Figura 34 – Diagrama de blocos do sistema de aquisição de sinais ECG de 3 eléctrodos

O sistema foi configurado para aquisição de sinais ECG de uma derivação, sendo

facilmente extensível para aquisição de mais derivações ou à aquisição de outros tipos de sinais

bioeléctricos, tais como EEG ou EMG.

Uma vez que o sistema está configurado para sinais ECG de uma derivação, apenas são

necessários 2 eléctrodos para adquirir o sinal diferencial gerado. É necessário também um

terceiro eléctrodo que tem como função fornecer uma tensão de referência para a aquisição dos

sinais ECG. A utilização deste eléctrodo é obrigatória para que o sistema funcione de forma

correcta, porque a alimentação eléctrica de todo o sistema é unipolar e não existem resistências

de polarização ligadas às entradas do pré-amplificador para servirem como referência para os

eléctrodos 1 e 2. Ou seja, estes estão num nível de tensão indefinido em relação ao valor de

tensão de referência do sistema de aquisição. Foi adoptada esta metodologia para maximizar o

valor de CMRR, como será descrito nas secções seguintes.

A utilização de um pré-amplificador para o CI ADS1198 foi considerada após os testes

iniciais com o Kit de demonstração. Estes testes preliminares revelaram que o ganho de

amplificação máximo do ADS1198 é pouco satisfatório para amplificar os sinais ECG de forma a

usufruir-se de toda a gama dinâmica do ADC integrado de 16 bits.

Page 66: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

50

A recolha e visualização dos dados adquiridos são feitas por uma aplicação criada em

LabVIEW executada num PC. A aplicação permite também configurar todos os parâmetros do CI

ADS1198. A comunicação entre o PC e o ADS1198 é garantida pela placa NI 8451. Esta placa

faz a ponte entre o barramento SPI do CI ADS1198 e a ligação USB que comunica com o PC.

Esta comunicação é bidireccional, permitindo a recolha de dados digitalizados no ADS1198 e o

envio de comandos de configuração para o mesmo.

5.2 Condicionamento do sinal ECG

R5

Rg

R6

C1

C2

R4

R1 R2

R3

Vb

R7

R8

+

-A3

C3

Vo1

Vo2A4-

+A2-

+

+

-A1

Va

Vi1

Vi2

Vo1'

Vo2'

Figura 35 - Pré-Amplificador com acoplamento em corrente alternada

A Figura 35 representa o esquemático do circuito implementado para a pré-amplificação

dos sinais à entrada do ADS1198. Foi utilizada uma configuração de entrada e saída diferencial

de modo a fazer a interface directa a uma das entradas diferenciais do ADS1198. Pode

entender-se como um amplificador subdividido em 4 estágios:

1º estágio - é composto pelos amplificadores operacionais A1 e A2. Têm a função de

fazer a interface de alta impedância dos eléctrodos em contacto com a pele, para a saída de

baixa impedância.

2º estágio - é uma malha de acoplamento em corrente alternada proposta por [29]

formada pelas resistências R1 a R4 e pelos condensadores C1 e C2, da Figura 35. Esta malha

implementa um filtro passa-alto diferencial de primeira ordem, eliminando a componente em

corrente contínua dos sinais ECG. Com esta configuração o CMRR é maximizado uma vez que

Page 67: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

51

não existem impedâncias directamente ligadas ao potencial de referência do circuito, [29, 37].

Isto implica o uso obrigatório do terceiro eléctrodo de referência, que está ligado ao circuito DRL.

A função de transferência deste circuito, ( ), para sinais diferenciais é obtida através

da divisão da transformada de Laplace da tensão diferencial de saída, VoD = Vb – ’

transformada de Laplace da tensão diferencial de entrada, ViD = Va – ’ Figura 35:

( )

(5.1)

A análise do circuito pode ser simplificada considerando R1=R2=R3=R4 e C1=C2,

obtendo-se assim um cancelamento de polos e zeros da função de transferência. Desta

simplificação resulta a seguinte função de transferência, [29]:

( )

(5.2)

Onde .

( ) corresponde à função de transferência de um filtro passa-alto de primeira ordem cuja

frequência de corte, f , é dada por:

f

Com os valores dos componentes usados na implementação do circuito da Figura 35

obteve-se uma frequência de corte de 0.028 Hz.

Ω

f

Este valor está em concordância com os valores recomendados por [15], para evitar

distorções no sinal medido.

3º estágio - é composto pelos amplificadores operacionais A3 e A4. Corresponde a um

amplificador para sinais diferenciais com saída diferencial. É uma configuração tipicamente

utilizada no primeiro andar de amplificação dos amplificadores de instrumentação de 3

amplificadores operacionais. Da análise deste circuito, e assumindo A3 e A4 como

Page 68: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

52

amplificadores operacionais ideais, verifica-se que a corrente, g, que atravessa g é a mesma

que atravessa as resistências R5 e R6:

g -

g (5.3)

Assim sendo a tensão diferencial de saída, - , corresponde à queda de tensão

nas resistências R4, R5 e g. Sendo R4 =R5=R fica:

- g

g (5.4)

Substituindo a equação 5.3 em 5.4 obtém-se a relação da tensão de saída com a tensão

de entrada para sinais contínuos. Esta relação corresponde ao ganho G, da configuração

amplificadora:

-

g - (5.5)

Sendo o ganho G igual a

g.

f ê Ω Ω

e g, respectivamente. Com isto obteve-se um ganho G igual a 28.

O valor de ganho seleccionado para esta fase de amplificação foi de 28, uma vez que o

CI ADS1198 permite um controlo adicional de ganho até ao valor máximo de 12x.

Um valor de ganho de 28 para o primeiro estágio de amplificação só foi possível porque

foi implementado o circuito descrito no 2º estágio, que elimina o valor de corrente contínua dos

sinais medidos. Caso contrário existiria o risco de saturação dos amplificadores.

É desejável ter um valor elevado de amplificação para os sinais diferenciais no primeiro

estágio de amplificação, de forma a conseguir um valor alto de rejeição de tensões de modo

comum, [36].

4ºestágio - é composto pelas resistências R7, R8 e o condensador C3. Implementa um

filtro passa-baixo diferencial de primeira ordem, [37]. Tem como principal função atenuar as

componentes de alta frequência e evitar efeitos de aliasing.

Considerando R7 = R8 = R, a função de transferência deste filtro é dada por:

Page 69: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

53

Onde .

Nesta implementação um filtro de primeira ordem é suficiente para fazer interface com o

CI ADS1198. Isto porque este CI integra conversores analógico-digitais sigma-delta com sobre-

amostragem (oversampling). Ou seja os sinais analógicos são amostrados a uma frequência

muito superior à frequência de interesse dos sinais analógicos. No caso do ADS1198 os sinais

são amostrados a 256KHz, sendo depois filtrados por um filtro de decimação controlado

digitalmente. O filtro de decimação digital do ADS1198 permite obter dados com a taxa máxima

de 8000 amostras por segundo, [7].

A função de transferência global, H(s), do pré-amplificador da Figura 35 é dada por :

Com os componentes seleccionados obtém-se:

Para o ganho:

;

Constante de tempo do filtro passa-alto: Ω g ;

Constante de tempo do filtro passa-baixo: Ω 0.00014

segundos.

Assim a frequência de corte do filtro passa-baixo é de aproximadamente 523 Hz,

).

Uma vez que o ganho do pré-amplificador foi fixado em 28, o ganho global do sistema,

(pré-amplificador+ADS1198), pode ser configurado entre 7 níveis diferentes, Tabela 2.

Page 70: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

54

Tabela 2 – Ganho programável do sistema de aquisição

Ganho pré-amplificador Ganho ADS1198 Ganho global

28

1 28

2 56

3 84

4 112

6 148

8 244

12 336

Os 4 amplificadores operacionais do circuito da Figura 35 foram implementados com a

utilização de um único CI. Este CI é o LMP7704, [38]. As características destes amplificadores

permitem a sua aplicação no condicionamento de sinais bioeléctricos. É um amplificador de

baixo ruido, com baixa tensão de offset e apresenta um valor típico de 130 dB para o CMRR. O

valor alto de CMRR é desejável nesta aplicação devido à natureza do sinal ECG, que apresenta

uma componente continua que deve ser rejeitada, como já foi discutido atrás.

As correntes de polarização, (Ip) das entradas dos amplificadores são necessárias para a

sua correcta operação, [39]. No entanto para aplicações de sinais bioeléctricos é necessário

utilizar amplificadores com correntes de polarização o mais baixo possível. Isto porque a fonte do

sinal ECG (o corpo humano), pode apresentar uma resistência (Rs) de algumas centenas de kilo-

ohms, podendo assim causar uma queda de tensão (Vq=Rs*Ip) no sinal ECG na presença de

correntes de polarização elevadas nas entradas dos amplificadores, Figura 36. Este problema é

atenuado pela utilização do LMP7704 que apresenta correntes de polarização típicas de 0.2 pA.

+

-

Rs

Vs

Fonte de sinal ECG

Iq

Figura 36 – Queda de potencial no sinal devido às correntes de polarização das entradas dos

amplificadores operacionais

Page 71: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

55

Outra característica importante é a possibilidade de alimentar electricamente o LMP774

com tensão unipolar de 3 Volts. Apesar da baixa tensão de alimentação os amplificadores

operacionais do CI LMP7704 apresentam uma arquitectura RRIO6. Isto significa que as entradas

e saídas dos amplificadores podem variar até ao valor da tensão de alimentação sem ocorrer

distorção do sinal.

Tabela 3 – Características principais do CI LMP7704 para uma tensão de alimentação de 3

Volts, [38]

Parâmetro Valor típico

Tensão de offset da entrada ± 56 µV

Corrente de polarização da entrada ± 0.2 pA

Corrente de offset de entrada 40 fA

CMRR 130 dB

Produto ganho x Largura de banda 2.5 MHz

5.3 Circuito Driven-Right-Leg e Shield Drive

Aplicando o conceito proposto por [19] e tendo como referência o valor de 130 µs da

constante de tempo f obtido por este, ver secção 3.1, foi implementado o circuito DRL com

recurso ao circuito interno do ADS1198, Figura 37.

Neste trabalho o circuito DRL será implementado usando os recursos do CI ADS1198,

que possui circuitos internos que implementam esta funcionalidade com um reduzido número de

componentes externos, ver secção 4.2. Na implementação proposta apenas são necessários

componentes passivos, condensadores e resistências, para completar o circuito DRL disponível

no ADS1198.

As resistências internas para medição da têm valor Ω

partida foi seleccionado um condensador, f, de 1nF para fechar o circuito DRL do ADS1198.

6 Do inglês, rail-to-rail input output.

Page 72: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

56

ADS1198+

-

220 Ω 220 Ω

PGA

PGA-

+

+

-

ADRL

(AVDD-AVSS)/2 = 1.5V

1nF

RLDout

Figura 37 – Circuito DRL interno do ADS1198

A constante de tempo obtida com os valores acima é de:

f Ω

Para esta constante de tempo, o poder de atenuação do circuito DRL à principal

frequência de interferência (50Hz) da componente de modo comum é de:

g| ( )| g |

f|

g |

| .

Foi implementado um circuito de guarda, daqui em diante denominado circuito shield

drive. Um circuito shield-drive é utilizado para ligar a blindagem dos cabos usados na ligação dos

eléctrodos. Esta abordagem é utilizada para reduzir as correntes eléctricas de interferência nos

cabos, [40].

Para implementar este circuito foi utilizado um amplificador operacional para funcionar

como buffer da tensão de modo comum do sinal a medir. Esta tensão é aplicada à blindagem

dos cabos. Com esta topologia pretende-se diminuir a diferença de potencial entre o cabo

Page 73: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

57

condutor e a blindagem exterior. Com isto atenua-se a capacitância de entrada para os sinais de

modo comum, e consequentemente as interferências causadas pelos sinais de modo comum

são também atenuadas, [40].

ADS1198+

-

220 Ω 220 Ω

PGA

PGA-

+

+

-

ADRL

(AVDD-AVSS)/2 = 1.5V

1nF

RLDout

-

+

shield-drive

Figura 38 – Circuito shield-drive

5.4 Digitalização

A digitalização dos sinais analógicos é q ’

óg ’ -sigma (∆∑), com modulação

de segunda ordem.

Os sinais são amostrados à taxa de f /8, sendo f a frequência de operação do

relógio interno do ADS1198, que é de 2.048 MHz. Logo os sinais são amostrados pelo ADS1198

à frequência fS, de 256 KHz. Tendo em conta que a largura de banda de interesse para os sinais

ECG se situa abaixo da frequência fM de 150 Hz, os sinais estão a ser sobreamostrados, Figura

39. Esta característica permitiu reduzir a complexidade do filtro passa-baixo descrito na secção

5.2. Este é um filtro passivo de primeira ordem, suficiente para evitar efeitos de aliasing nesta

aplicação. A Figura 39 ilustra de forma simplificada a amostragem dos sinais com a utilização de

um filtro passa baixo de primeira ordem.

Page 74: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

58

Figura 39 – Ilustração das características dos sinais ECG e de um filtro passa-baixo no domínio

da frequência; fM: Máxima frequência do sinal de interesse; 2fM: Frequência de Nyquist; fS:

Frequência de sobreamostragem

Pela análise da Figura 39 verifica-se que não é necessário implementar filtros com uma

banda de transição com decaimento muito acentuado quando os sinais de interesse são

sobreamostrados, uma vez que à frequência de amostragem fS, a componente do sinal fora da

banda de interesse está fortemente atenuada pelo filtro passa-baixo de primeira-ordem.

Uma vez amostrados, os sinais digitalizados passam por um filtro passa-baixo digital.

é f g ’ ∆∑ do ADS1198. [7]. A

taxa de decimação deste filtro é controlada digitalmente e define a taxa de amostragem de saída

do ADS1198.

A taxa de amostragem de saída pode ser configurada para 125, 250, 500, 1000, 2000,

4000 e 8000 amostras por segundo.

’ g f q

consegue digitalizar. Tendo em consideração o valor de tensão de referência de 2.4 Volts do

q f ’ g f

em Volts é dado por:

Filtro passa-baixo

de 1ª ordem

(decaimento:20 dB década)

Sinais

ECG

0 fM 2fM fS

Frequência

Page 75: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

59

Assim, 73.4 corresponde à resolução do ADS1198 quando configurado para ganho

unitário, sem pré-amplificador. Este é também o valor de tensão correspondente ao peso do bit

menos significativo do sistema, para as mesmas condições atrás referidas.

Com a utilização do circuito de pré-amplificação, descrito na secção 5.2, o ganho

máximo do sistema desenvolvido neste trabalho é de 336, (28 * 12). Assim, a resolução efectiva

do sistema, (pré-amplificador + ADS1198) é de aproximadamente:

5.5 Sistema de aquisição de dados

O sistema de aquisição de dados a partir do ADS1198 é composto pela placa NI USB-

8451 e uma aplicação LabVIEW executada num PC.

ADS1198 NI USB-8451PC

(Aplicação LabVIEW)SPI USB

Figura 40 – Diagrama de blocos da parte digital do sistema de aquisição

Os dados digitalizados pelo ADS1198 são transferidos para o PC através da ligação

SPI/USB controlada pela placa digital NI USB-8451.

NI USB-8451

ADS1198

DOUT

DIN

SCLK

CS

SDI

SDO

SCLK

CS 0CS 1CS 2CS 3CS 4CS 5CS 6CS 7

Figura 41 – Ligação do barramento SPI entre o ADS1198 e a placa NI USB-8451

A configuração da placa digital NI USB-8451 é feita pela aplicação LabVIEW através de

USB, utilizando a National Instruments Virtual Instrument Software Architecture (NI VISA). NI

VISA faz a gestão da interface entre o hardware e o ambiente de desenvolvimento. No caso

Page 76: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

60

particular deste trabalho o hardware corresponde à placa NI USB-8451 e o LabVIEW o ambiente

de desenvolvimento.

O barramento SPI da placa digital pode ser programado em dois modos, o básico e o

avançado, [41]. Nesta aplicação foi usado o modo avançado, que permite maior flexibilidade na

programação do barramento SPI.

Esta programação é feita por funções de script implementadas pelas diferentes VI7’

anexo A encontram- ’ g software desenvolvido em Labview.

Na Figura 42 está descrito, para um caso geral, o fluxo das funções de script

necessárias para programar a comunicação SPI, pelo modo avançado, com o ADS1198.

Script: Activar SPI

Script:Configurar fase = 0, polaridade= 1 frequência do relógio =

4MHz

Script: Configurar Chip Select com nível lógico 0

Script: Ler Escrever

Script: Configurar Chip Select com nível lógico 1

Sript: Desactivar SPI

Executar Script

Extrair dados da leitura

Figura 42 – Fluxograma da rotina de programação do barramento SPI para o caso geral.

7 VI: Virtual Instrument: Designação dada no ambiente Labview para o que tradicionalmente é conhecido por sub-rotina, função, e

também para um interface gráfico

Page 77: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

61

Figura 43 – Rotina de inicialização do ADS1198

Page 78: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

62

Alimentação eléctrica do circuito

Configurar operação do SPI (modo 2):Fase do relógio = 0

Polaridade do relógio = 1

Configurar frequência de operação do SCLK = 4MHz

Seleccionar dispositivo escravo:CS 0 = 0

Enviar comando RESET (06h) e esperar 1 ms antes de iniciar a comunicação SPI com

o ADS1198

Enviar comando SDATAC (11h) eRREG (20h)

Colocar linha CS 0 = 1

Executar script e ler registo 00h

Figura 44 – Fluxograma da rotina de inicialização do ADS1198

A inicialização do ADS1198 é realizada pela rotina da implementada em LabVIEW, cujo

fluxograma está representado na Figura 44.

Inicialmente é necessário programar o barramento SPI no modo 2, ver secção 4.3 A

frequência do SCLK é programada a 4 MHz.

A placa NI USB-8451 dispõe de 8 linhas CS, estando o ADS1198 ligado na linha CS 0,

Figura 41. Para utilizar o dispositivo a linha CS 0 é então colocada a nível lógico 0.

É depois enviado o comando RESET seguido do comando SDATAC para parar o modo

RDATAC. O comando SDATAC tem de ser sempre enviado antes de poderem efectuar-se

Page 79: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

63

operações de escrita nos registos do ADS1198. Isto acontece porque o dispositivo é inicializado

por defeito no modo de leitura continua, RDATAC.

Finalmente, é executado o script, pela VI NI-845x SPI Run Script.vi da Figura 83, e

extraída a informação recebida pela linha SDI resultante do envio do comando RREG (20h), que

corresponde a uma operação de leitura do registo de identificação, com endereço 00h. Se a

inicialização do dispositivo for realizada correctamente, o valor retornado deverá ser B6h.

Figura 45 – Rotina de leitura de dados das conversões do ADS1198

Page 80: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

64

Programação do barramento SPI

Configurar modo de operação SPI:Fase do relógio = 0

Polaridade do relógio =1

Configurar frequência de operação do SCLK = 4MHz

Seleccionar dispositivo escravo:CS 0 = 0

Enviar comando RDATA (12h)Enviar 56 ’ ( 7 bytes )

Colocar linha CS 0 = 1

Executar script, ler e apresentar dados

Parar?

Não

Fim da operação

Sim

Figura 46 – Fluxograma da rotina de leitura de dados do ADS1198

Após a inicialização do ADS1198 é necessário configurar o modo de operação deste.

Esta tarefa é feita pela configuração dos diferentes registos com o envio de comandos SPI,

descritos na secção 4.3.

Nesta implementação é usado o modo RDATA para a leitura dos dados das conversões,

evitando desta forma fazer o polling da linha DRDY.

Page 81: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

65

Nesta aplicação apenas são usados 2 canais do ADS1198. Um dos quais é usado para

monitorizar o sinal DRL gerado pelo ADS1198, sendo o outro usado para monitorizar o sinal ECG

em causa. Para ler os dados digitalizados de cada amostragem, é necessário enviar 56 ciclos de

SCLK. Cada ciclo SCLK desloca 1 bit nos shift registers. Cada amostra é digitalizada com 16 bits

e por cada ciclo de amostragem são enviados 3 bytes, correspondentes ao bits de estado, Figura

47.

Dados Canal 116 bits

Dados Canal 216 bits

Bits de estado24 bits

MSB (bit 56) (bit 0) LSB

Figura 47 - Trama de dados gerados pelo ADS1198 por cada ciclo de amostragem

Desta forma, são enviados 7 bytes com valor 0 para que sejam gerados, pela placa NI

USB-8451, os 56 ciclos de SCLK necessários para ler os dados dos dois canais.

A placa NI USB-8451 apenas suporta transacções de 8 bits, daí a necessidade de

transferir individualmente, 2 bytes por cada amostra.

A Figura 48 mostra o ambiente gráfico do software desenvolvido em Labview.

Page 82: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

66

a)

b)

c) Figura 48 – Ambiente gráfico do software Labview. a) painel de configuração dos canais para gerar

o sinal DRL; b) painel de configuração global dos registos do ADS1198; c) painel de visualização dos

sinais digitalizados.

Page 83: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

67

6 Análise e discussão de resultados

6.1 Setup experimental

A fotografia da Figura 49 ilustra a configuração utilizada para recolher os dados

resultantes das medições obtidas pelo sistema desenvolvido. O sistema é alimentado pela

bateria do computador portátil desconectado da rede eléctrica. A placa NI USB-8451 permite

fornecer alimentação eléctrica de 5 Volts para a placa PCB desenvolvida, proveniente da porta

USB do computador portátil. No entanto, para determinar o consumo de corrente eléctrica da

placa PCB, esta é alimentada por uma bateria de 3 Volts, simulando assim o ambiente de

operação real pretendido do circuito implementado. Ou seja, pretende-se simular uma aplicação

móvel alimentada por pequenas baterias. O ADS1198 foi configurado para funcionar a uma taxa

de amostragem de 1000 amostras por segundo.

Sendo assim, todos os resultados apresentados nas secções seguintes foram obtidos

partindo dos pressupostos acima descritos.

Figura 49 – Fotografia da configuração experimental para recolha de dados

NI USB-8451

Placa PCB

c/ ADS1198

Eléctrodos

PC portátil

Page 84: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

68

6.2 Medidas das características do sistema

6.2.1 Implementação em PCB

A partir do trabalho realizado resultou a construção de um protótipo implementado em

PCB utilizando componentes SMDs8. O módulo implementado em PCB mede 38 X 48 mm,

Figura 50. Este módulo divide-se em duas camadas eléctricas. Numa das camadas estão

localizados os módulos reguladores de tensão. Na outra camada, ilustrada na fotografia da

Figura 50, estão localizados os amplificadores operacionais do pré amplificador e circuito shield

drive e o CI ADS1198. No anexo B e C encontram-se o layout e o esquemático, respectivamente,

da placa, criados com o software PADS 9.2.

1

48,0mm

38

,0m

m

CB

A

234

D

Figura 50 – Fotografia da placa PCB em comparação com o tamanho de moeda de 1 euro

A regulação da tensão eléctrica para alimentação do circuito é feita por 2 reguladores de

tensão de baixo ruído TPS73230 da Texas Instruments, [42]. Estes reguladores geram uma

tensão de saída máxima de 3 Volts. São utilizados dois reguladores de tensão uma vez que

existe uma parte de sinal analógico e uma parte de sinal digital no mesmo módulo. Cada um dos

reguladores de tensão alimenta cada uma destas partes separadamente, de forma a evitar o

acoplamento de ruido eléctrico, proveniente do circuito digital, com o circuito analógico. Este

aspecto é recomendado pelo fabricante do CI ADS1198, [7].

Os reguladores de tensão utilizados podem ser desactivados ou activando por meio de

um pino dedicado para o efeito, pino Enable. Esta funcionalidade é útil em aplicações móveis,

onde o consumo de potência eléctrica é uma prioridade. No presente trabalho esta

8 Do inglês, Surface mount devices

Page 85: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

69

funcionalidade não foi utilizada, estando os reguladores sempre activos, a partir do momento em

que o circuito é ligado.

a) b)

Figura 51 – Esquemático do circuito regulador de tensão. a) Regulação de tensão do circuito

analógico; b) Regulação de tensão do circuito digital.

A Figura 51 representa o esquemático do circuito regulador de tensão implementado,

onde VIN é a tensão de entrada para alimentação do módulo, AVDD e DVDD é a tensão de saída

regulada para alimentar a parte analógica e digital do circuito, respectivamente.

O protótipo desenvolvido neste trabalho implementa um canal diferencial para ligação de

dois eléctrodos e um circuito DRL para ligação do terceiro eléctrodo de referência. Está

implementado também um circuito shield drive para ligação à blindagem dos cabos utilizados

para os eléctrodos, no caso de existir a blindagem. Os sinais analógicos são digitalizados pelo

protótipo desenvolvido e disponibilizados em formato digital no barramento SPI. A Tabela 4

descreve a legenda da Figura 50.

Page 86: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

70

Tabela 4 – Legenda da Figura 50

Legenda Descrição

1 Pino do circuito Shield Drive

2 Pino do circuito DRL

3 Pino de eléctrodos

4 Pino de eléctrodos

A Circuito Shield Drive

B Circuito pré-amplificador

C CI ADS1198

D Barramento SPI

O consumo de corrente eléctrica do protótipo implementado, medido com multímetro, é

de cerca de 9.8 mA, considerando o ADS1198 a funcionar com um canal activo, com o circuito

DRL activo e com uma taxa de amostragem de 1000 amostras por segundo.

6.2.2 Comunicação SPI

A utilização da placa NI USB-8451 limitou o valor máximo de transferência de dados e

consequentemente o valor máximo da taxa de amostragem possível.

Da análise feita aos sinais do barramento SPI verificou-se que existe um atraso de 8,5 µs

entre cada byte transferido no barramento, Figura 52.

Page 87: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

71

Figura 52 – Atraso entre a transferência de bytes da placa NI USB-8451

No sistema implementado cada ciclo de amostragem compreende a colocação de 64

ciclos de SCLK no barramento SPI, sendo ’

’ U y

referentes aos bits de estado e aos dados das conversões. De notar que cada grupo de 8

SCLK´s, na Figura 52, corresponde à transferência de um byte.

Assim, e uma vez que a frequência do sinal de relógio do barramento SPI é de 4 MHz,

g ’ é f /4MHz)+7*8.5 µs), Figura

53.

Figura 53 – Linha SCLK correspondente a 1 ciclo de amostragem de 2 canais

Grupo de 8

SCLK´s

Linha DOUT

Linha SCLK

Linha DOUT

Linha SCLK

Page 88: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

72

Nestas condições o valor máximo de transferência de bits é de 847.682Kb/s

correspondendo a 13.245 (847.682/64) amostras por segundo. Este seria o máximo valor

teórico possível para a taxa de amostragem, o que permitiria utilizar o ADS1198 com a máxima

taxa de amostragem de 8000 amostras por segundo.

No entanto verificou-se a existência de um atraso de cerca de 1 ms entre cada ciclo de

amostragem, Figura 54.

Este atraso deve-se ao facto de a placa NI USB-8451 utilizar buffers para as operações

de leitura e escrita no barramento SPI. São as operações de enchimento dos buffers que

Consequentemente, cada ciclo de amostragem fica limitado a 1 KHz. Esta característica

da placa NI USB-8451 determinou a configuração da taxa de amostragem máxima do ADS1198,

para o valor de 1000 amostras por segundo, de forma a preservar a fidedignidade dos dados

recebidos. Isto porque o ADS1198 não possui memória interna, sendo os dados das conversões

imediatamente colocados no barramento SPI e substituídos a cada nova conversão.

Esta limitação da placa NI USB-8451 não está referenciada no datasheet do fabricante,

mas foi confirmada em contactos com responsáveis do suporte técnico da National Instruments.

Figura 54 – Tempo de atraso entre ciclos de amostragem

Linha DOUT

Linha SCLK

Page 89: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

73

6.2.3 Medidas do nível de ruído e CMRR

A caracterização do nível de ruido do sistema foi realizada pela configuração da Figura

55. Foram ligadas as entradas em curto-circuito ao ponto de referência do circuito (0 Volts).

ADS1198Pré-

Amplificador

+

-

Placa PCB

0V

Figura 55 – Configuração usada para medir o nível de ruído relativamente às entradas do

sistema

Para esta configuração o ganho do ADS1198 foi configurado para 6, sendo o ganho total

do sistema de 168 (28 X 6). O sinal de ruído digitalizado está representado na Figura 56. O sinal

foi amostrado durante 5 segundos.

Figura 56 – Sinal digitalizado a partir da configuração da Figura 55

A partir do sinal de ruído digitalizado foi calculado o valor, pico a pico do nível de ruido

do sistema relativamente às entradas. Este valor é normalmente denominado nos datasheets de

componentes electrónicos por IRN9. É obtido por:

í

(6.1)

9 Do inglês, Input-Referred Noise

-0,00335

-0,0033

-0,00325

-0,0032

-0,00315

-0,0031

-0,00305

0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,2 3,6 4,0 4,4 4,8

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 90: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

74

O valor de í do sinal representado no gráfico da Figura 56 é de 0.15 m .

Substituindo este valor na equação 6.1 obtém-se o valor de:

Este valor de ruído indica que não é possível medir sinais abaixo de 1.07 , uma vez

que abaixo deste valor o ruído do sistema sobrepõe-se aos sinais de interesse.

Verificou-se a existência de uma tensão de offset no sinal medido a partir da

configuração da Figura 55. O valor calculado, em relação às entradas do sistema, para o ganho

de 168, foi de aproximadamente 19 µV.

O valor de CMRR à frequência de 50 Hz foi determinado experimentalmente através da

configuração da Figura 57. Foi escolhido o valor de 50 Hz para o sinal a colocar nas entradas

dos amplificadores dado que é a frequência de operação da rede eléctrica, no caso de países

europeus, sendo a principal frequência de interferência na medição de sinais ECG. Por esta

razão estudou-se a rejeição de tensões de modo comum à frequência de 50 Hz.

Foi utilizada uma fonte de sinal ligada às entradas da placa PCB desenvolvida para

medir a componente de modo comum, de forma a obter o ganho de modo comum , do

sistema. O valor de CMRR é depois calculado pela equação 6.3. Dividindo o ganho diferencial

, do sistema pelo ganho de modo comum.

ADS1198Pré-

Amplificador

+

-

Placa PCB

DRL

50Hz

Figura 57 – Configuração usada para medir o CMRR com DRL

O sinal injectado nas entradas do circuito da Figura 57 é uma sinusóide com 2.56 Vpp.

O sinal digitalizado pelo ADS1198 está representado no gráfico da Figura 58. É uma sinusóide

Page 91: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

75

de 50 Hz com 1.47 mVpp. O ganho do ADS1198 foi configurado para ganho unitário. O ganho

diferencial é então dado pelo ganho fixo do pré-amplificador. Ou seja

Figura 58 – Sinal digitalizado a partir da configuração da Figura 57

O ganho de modo comum é calculado pela divisão da amplitude do sinal medido pelo

sistema, com a amplitude do sinal de entrada:

Substituindo e na equação 6.3 obtém-se o valor de CMRR do sistema:

g

Sem a utilização do circuito DRL da configuração da Figura 57, o valor de CMRR

calculado foi de 73.4 dB.

Os gráficos da Figura 59 foram obtidos pelo cálculo da transformada rápida de Fourier,

(FFT10) dos sinais medidos a partir da configuração da Figura 57, com e sem a utilização do

circuito DRL. Foi utilizado o software Matlab no cálculo da FFT.

10 Do inglês: Fast Fourier Transform

-0,0035

-0,003

-0,0025

-0,002

-0,0015

-0,001

-0,0005

0

1 32 63 94 125

156

187

218

249

280

311

342

373

404

435

466

497

528

559

590

621

652

683

714

745

776

807

838

869

900

931

962

993

Ampl

itude

(Vo

lts)

Amostras

Page 92: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

76

a)

b)

Figura 59 – a) Gráfico da FFT do sinal medido com DRL; b) Gráfico da FFT do sinal medido sem

DRL

Pela análise visual do espectro de frequências dos gráficos da Figura 59 verifica-se que a

utilização do circuito DRL melhora determinantemente a rejeição das tensões de modo comum.

Existe uma componente do sinal próxima dos 0 Hz, que corresponde ao offset inerente

aos amplificadores do sistema. A magnitude do sinal próxima dos 0 Hz foi truncada para melhor

visualização da componente de 50 Hz.

0

0,0001

0,0002

0,0003

0,0004

0,0005

0,0006

0 49 98 146 195 244 293 342 391 439 488

Mag

nitu

de

Frequência (Hz)

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0 31 61 92 122 153 183 214 244 275 305 336 366 397 427 458 488

Mag

nitu

de

Frequência (Hz)

Page 93: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

77

6.3 Sinais ECG obtidos

O desempenho do sistema de aquisição foi avaliado através da captura de sinais ECG

reais de um sujeito saudável de 25 anos de idade sem efectuar nenhuma preparação especial

da superfície da pele.

Foi utilizado um cabo condutor eléctrico com cerca de 1 metro de comprimento para

ligação dos 3 eléctrodos ao corpo do sujeito.

Na aquisição dos sinais foram utilizados eléctrodos descartáveis adesivos de gel

condutivo de Ag/AgCl. Este tipo de eléctrodos é universalmente utilizado para aquisição de sinais

bioeléctricos em meio clinico ou para investigação, [43]. O princípio de operação destes

eléctrodos não será aqui discutido. Numa segunda fase foram utilizados eléctrodos secos de

forma a avaliar a capacidade do sistema desenvolvido, de adquirir sinais bioeléctricos com este

tipo de eléctrodos. Os eléctrodos secos não utilizam um electrólito entre o eléctrodo e a

superfície da pele. Dependendo do tipo de construção, apresentam uma impedância

eléctrodo/pele mais elevada em relação aos eléctrodos de gel, [43]. Na forma mais simples

estes eléctrodos são formados por um disco metálico condutor eléctrico em contacto com a pele,

[43]. No âmbito deste trabalho, foram construídos, artesanalmente, 3 eléctrodos com folha de

alumínio ligados a um cabo eléctrico com cerca de 4 cm de diâmetro, Figura 60.

Figura 60 – Eléctrodos secos de metal de alumínio

A colocação dos eléctrodos foi feita de duas formas distintas, para obter as derivações

básicas I e III, referidas na secção 2.2. A Figura 61 indica as posições utilizadas para colocação

dos eléctrodos.

Page 94: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

78

Figura 61 – Posição da colocação dos eléctrodos: Derivação I (à esquerda); Derivação III (à

direita).RA: eléctrodo do braço direito; LA: eléctrodo do braço esquerdo; LL: eléctrodo da perna

esquerda; RL: eléctrodo de referência do circuito DRL.

De notar que todos os sinais obtidos pelo sistema de aquisição desenvolvido, que serão

apresentados a seguir, não sofreram nenhum pós-processamento. Além disso, neste trabalho

evitou-se a implementação de filtros notch, para atenuação da componente do sinal na

frequência de 50 Hz, de forma a não distorcer o sinal ECG, uma vez que este contém

informação a esta frequência.

O sinal da Figura 62 foi adquirido com o sujeito sentado e imóvel fazendo uso dos

eléctrodos de gel colocados na posição da derivação I.

O sinal adquirido permite identificar de forma clara as ondas P, R, S e T.

Figura 62 – Sinal ECG da derivação I com amplificação de 112X.

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

Ampl

itude

à s

aída

(Vo

lts)

Tempo (s)

(RA) (LA)

(RL) (RL)

(LA)

(LL)

R

T P

S

Page 95: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

79

Como ponto de partida para a avaliação do sistema desenvolvido, foram comparados os

sinais obtidos pela colocação dos eléctrodos descartáveis nas posições indicadas na Figura 61.

As Figura 63 e Figura 64 mostram os resultados obtidos.

Figura 63 – Sinal ECG da derivação III com amplificação de 336X.

Figura 64 – Sinal ECG da derivação I com amplificação de 336X

Verificou-se que o sinal obtido pela derivação III apresenta menos interferências

causadas pela rede eléctrica e pela actividade dos músculos.

Numa segunda fase o desempenho do sistema foi avaliado com a execução das

seguintes experiências:

Experiência 1: Avaliação da interferência da rede eléctrica no sinal ECG. Foi colocado um

cabo da rede eléctrica (230V – 50 Hz) à volta do corpo durante a aquisição do sinal ECG.

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 96: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

80

Experiência 2: Avaliação dos artefactos introduzidos no sinal com o sujeito a saltar

durante a aquisição do sinal ECG. Foi utilizada fita adesiva para melhorar o contacto dos

eléctrodos com a pele durante a experiência.

Experiência 3: Avaliação da recuperação do sinal ECG após o desligamento de um

eléctrodo.

Experiência 4: Avaliação do desempenho do sistema com a utilização dos eléctrodos

secos, descritos atrás.

Experiência 5: Avaliação do sistema com a utilização de uma camisola com eléctrodos

têxteis.

6.3.1 Resultados e análise da Experiência 1: Avaliação da interferência da rede

eléctrica no sinal ECG

a)

b)

Figura 65 – a) ECG obtido pela Experiência 1; b) Sinal DRL gerado pelo sistema

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-0,08

-0,07

-0,06

-0,05

-0,04

-0,03

-0,02

-0,01

0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Colocação do cabo junto ao

corpo

Colocação do cabo junto

ao corpo

Page 97: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

81

Esta experiência demonstrou a presença evidente de interferências no sinal ECG quando

é colocado o cabo eléctrico junto ao corpo, Figura 65 a) e Figura 66. No entanto o sinal ECG

obtido continua bem visível permitindo a identificação das ondas que o compõem.

O sinal da Figura 65 b) foi obtido também pelo sistema desenvolvido, que permite a

monitorização do sinal DRL gerado. A partir deste sinal verifica-se que o circuito DRL actua de

forma dinâmica na atenuação dos sinais de interferência.

Figura 66 – Ampliação da área sombreada da Figura 65.

6.3.2 Resultados e análise da Experiência 2: Avaliação dos artefactos

introduzidos no sinal com o sujeito a saltar

Como era esperado o sinal ECG obtido com o sujeito a saltar, apresenta-se distorcido. A

distorção resulta do sinal gerado pela actividade dos músculos e pelos artefactos causados pelo

movimento do corpo e dos eléctrodos. É necessário corrigir o sinal através de processamento

digital, o que está fora do âmbito deste trabalho. No entanto é possível ainda assim identificar,

de forma clara, a onda de maior amplitude do sinal ECG, a onda R.

-0,6

-0,5

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Cabo retirado junto do corpo

Page 98: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

82

a)

b)

Figura 67 – a) Sinal ECG da derivação III com amplificação de 112x, saltando; b) Ampliação da

área sombreada.

-1

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-1

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 11,0 11,5 12,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

A saltar

Page 99: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

83

6.3.3 Resultados e análise da Experiência 3:Recuperação do sinal ECG após o

desligamento de um eléctrodo

Esta experiência revela o problema causado pela desconexão total de um dos eléctrodos

na aquisição do sinal ECG, Figura 68. Este é um problema comum aos circuitos com

acoplamento em corrente alternada, uma vez que usam condensadores para o filtro passa-alto

nas entradas do circuito de amplificação. O problema encontra-se na elevada constante de

tempo do circuito RC implementado. Esta é de 5.576 segundos, ver secção 5.2.

Figura 68 – Efeito do desligamento total de um eléctrodo

O tempo total decorrido, desde o desligamento total de um dos eléctrodos e o instante

em que o sinal é totalmente recuperado em relação à linha base, é de aproximadamente 30

segundos. Este valor está de acordo com o teoricamente esperado, uma vez que o tempo de

carregamento de um condensador num circuito RC demora 5 constantes de tempo para atingir

99.9% da sua capacidade.

-3

-2

-1

0

1

2

3

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Ponto de perda de contacto total

Ponto de recuperação da linha base

Page 100: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

84

6.3.4 Resultados e análise da Experiência 4: Avaliação do desempenho

do sistema com a utilização dos eléctrodos secos

O sinal ECG obtido com os eléctrodos secos está representado na Figura 69 e

Figura 70, para a derivação III e derivação I, respectivamente. Os eléctrodos foram colocados em

contacto directo com a pele e fixados com fita adesiva.

a)

b)

Figura 69 – a) ECG da derivação III com amplificação de 336x, obtido com eléctrodos secos; b)

Ampliação da área sombreada.

-3

-2

-1

0

1

2

3

0 5 10 15 20 25 30

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

2,5

5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 101: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

85

a)

b)

Figura 70 – a) ECG da derivação I com amplificação de 336, obtido com eléctrodos secos; b)

Ampliação da área sombreada.

Os sinais ECG obtidos com os eléctrodos secos revelaram-se comparáveis aos sinais

obtidos com eléctrodos de gel. Verificou-se no entanto, uma maior susceptibilidade aos

artefactos de movimento, resultantes de ligeiros movimentos do corpo e consequentemente dos

eléctrodos. O sinal obtido pela derivação I, Figura 70, apresenta menor amplitude em

comparação com o sinal obtido com os eléctrodos de gel, Figura 64. Além disto, o sinal da

Figura 70 apresenta maior interferência da componente da tensão de modo comum de 50 Hz.

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

18,0

20,0

22,0

24,0

26,0

28,0

30,0

32,0

34,0

36,0

38,0

40,0

42,0

44,0

46,0

48,0

50,0

52,0

54,0

56,0

58,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

20,0 21,0 22,0 23,0 24,0 25,0 26,0 27,0 28,0 29,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 102: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

86

6.3.5 Resultados e análise da Experiência 5: Utilização de uma camisola com

eléctrodos têxteis integrados

a) b)

Figura 71 – a) Camisola com eléctrodos têxteis integrados; b) Pormenor da ligação ao sistema

de aquisição.

Nesta experiência pretendeu-se avaliar o sinal ECG obtido pelo sistema desenvolvido

neste trabalho, em conjunto com a utilização de uma camisola, Figura 71. Esta foi desenvolvida

no Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, [1], e tem integrados 3

eléctrodos têxteis tecidos com Elitex. Elitex é um fio de poliamida com um revestimento de prata,

conferindo-lhe capacidade de condução eléctrica. A resistência eléctrica deste fio é

aproximadamente 30 Ω/m, [1]. A ligação eléctrica da camisola ao sistema de aquisição é feita

por 3 botões de mola, normalmente utilizados no vestuário, Figura 71 b). Estes botões estão

localizados na parte inferior da camisola. A ligação eléctrica destes botões aos eléctrodos, é feita

de forma integral na camisola, com a utilização do mesmo material dos eléctrodos.

Os sinais representados nas figuras seguintes foram obtidos com os eléctrodos da

camisola humedecidos com água. Para garantir um melhor contacto com a superfície da pele foi

também utilizada uma cinta de velcro de forma a exercer alguma pressão sobre os eléctrodos,

mantendo-os imóveis em relação o corpo.

Page 103: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

87

a)

b)

Figura 72 – a) Sinal ECG obtido com o sujeito imóvel. Amplificação de 112X; b) Ampliação da

área sombreada

Figura 73 – Sinal ECG, com amplificação de 112X, realizando pequenos movimentos com o corpo.

Os resultados representados pelas Figura 72 e Figura 73 demonstram a possibilidade da

utilização de eléctrodos têxteis com o sistema desenvolvido neste trabalho. O sistema revelou-se

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 7,5 9,0 10,5 12,0 13,5 15,0 16,5 18,0 19,5 21,0 22,5 24,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

1,5

0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 7,5 9,0 10,5 12,0 13,5 15,0 16,5

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 104: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

88

eficaz na atenuação da componente da tensão de modo comum. Apesar desta estar presente

nos sinais ECG medidos, a sua amplitude é várias ordens de grandeza inferior à amplitude do

sinal ECG.

O movimento do corpo causou o aparecimento de artefactos no sinal ECG, mesmo com

pequenos movimentos. No entanto o sistema de aquisição foi capaz de adquirir o sinal sem

atingir a saturação dos amplificadores, graças ao ganho relativamente baixo utilizado, este foi de

112X. O sistema permite configurar o ganho para valores inferiores, ver secção 5.2, evitando

assim a saturação dos amplificadores em situações de movimento mais intensivo.

Figura 74 – Sinal ECG obtido com os eléctrodos da camisola completamente secos, com

amplificação de 112X

O sinal ECG obtido com os eléctrodos da camisola completamente secos apresenta

interferências causadas pela componente da tensão de modo comum à frequência da rede

eléctrica, Figura 74. Este problema foi atribuído ao facto do contacto eléctrodo/pele apresentar

uma impedância eléctrica mais elevada, relativamente ao caso em que os eléctrodos estavam

humedecidos.

-0,8

-0,7

-0,6

-0,5

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0

Ampl

itude

(Vo

lts)

Tempo (s)

Page 105: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

89

7 Conclusões

O sistema de monitorização de sinais bioeléctricos desenvolvido foi utilizado com

sucesso na aquisição de sinais ECG. O modo de operação deste CI revelou ser simples de

utilizar através do barramento de dados SPI que permite, entre outras funções, controlar

digitalmente a taxa de amostragem e o ganho de amplificação. O controlo digital do ganho de

amplificação é útil quando se utiliza o sistema para monitorizar sinais em exercício físico,

permitindo facilmente ajustar o ganho de amplificação do sinal de forma a evitar a saturação dos

amplificadores, causada por possíveis artefactos de movimento. Assim é possível evitar a perda

do sinal, mantendo-o dentro dos limites de referência.

O sistema construído disponibiliza um canal diferencial, mas pode ser adaptado para

utilizar os 8 canais diferenciais do ADS1198.

O circuito DRL foi projectado com o dimensionamento de um único condensador, uma

vez que o ADS1198 implementa internamente o restante circuito electrónico necessário. O

circuito DRL foi o único método utilizado para atenuar as interferências causadas pela tensão de

modo comum, principalmente à frequência de 50 Hz. Os sinais ECG obtidos permitem a

identificação das ondas constituintes do sinal. Mesmo na presença de cabos eléctricos junto ao

corpo a amplitude da tensão de interferência foi mantida em valores reduzidos. Com isto

concluiu-se que, não utilizando filtros rejeita banda, (filtros notch), é possível obter sinais ECG de

boa qualidade, reduzindo desta forma a complexidade do circuito electrónico.

O circuito shield-drive implementado não foi utilizado na aquisição dos sinais

apresentados na secção dos resultados deste trabalho, ver secção 5.3. A sua utilização inicial

em cabos de medição com blindagem não revelou nenhuma diferença significativa relativamente

à utilização de cabos simples sem blindagem. Este facto é atribuído à corrente eléctrica,

negligenciável, presente nos cabos, dado que as entradas dos amplificadores operacionais têm

uma impedância muito alta. Além disso o comprimento dos cabos de medição é reduzido, cerca

de 1 metro.

A utilização de um circuito de pré-amplificação em conjunto com o ADS1198 permitiu

um melhor aproveitamento da gama dinâmica dos ADCs do ADS1198.

O ganho relativamente elevado do circuito de pré-amplificação em conjunto com o

circuito de acoplamento em corrente alternada, não mostrou ser problemático na aquisição dos

sinais ECG, isto porque o circuito de acoplamento em corrente alternada mostrou ser eficaz na

Page 106: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

90

eliminação da componente contínua dos sinais ECG, evitando a saturação dos amplificadores em

todos os resultados obtidos.

No entanto, a utilização de acoplamento em corrente alternada para os sinais ECG,

revelou ser um problema nas situações em que um dos eléctrodos é desligado totalmente da

superfície da pele. Quando o eléctrodo é novamente colocado em contacto com a pele, verificou-

se a existência de um intervalo de tempo de aproximadamente 30 segundos até que o sinal ECG

seja restaurado na linha isoeléctrica do sinal.

Como trabalho futuro recomenda-se a implementação de um circuito de restauração

rápida do sinal sempre que ocorra a saturação dos amplificadores de entrada, tal como acontece

quando se desliga um dos eléctrodos. No entanto, isto irá aumentar a complexidade do circuito e

consequentemente o consumo de potência eléctrica. Um circuito deste tipo pode ser feito de

forma automática ou manual. O modo automático pode ser conseguido com um circuito que

modifique a constante de tempo do filtro passa-alto, sempre que se verifique a perda do sinal

causada pela saturação dos amplificadores.

Recomenda-se também, como trabalho futuro, a investigação de um sistema sem fios,

por Wi-fi ou Bluetooth que permita a ligação por SPI ao sistema desenvolvido neste trabalho,

conseguindo-se assim um sistema que permita a ligação sem fios a smartphones ou tablets, que

são largamente utilizados actualmente.

Page 107: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

91

Referências

[1] A. Catarino, H. Carvalho, M. Dias, and T. “ g

using e- x g ” EPE, 2012.

[2] P. J. Xu, H. Zhang, and X. “ x -structured electrodes for

g ” Textile Progress,40:4, pp. 183 – 213, 2008.

[3] E. Commission, The 2012 Ageing Report – Economic and budgetary projections

for the 27 EU Member States (2010-2060), 2012.

[4] (2012, September) Aala eindhoven declaration. Ambient Assisted Living

Association. Acedido em 22/10/2012. [Online]. Disponível em: http://www.aal-europe.eu/aal-

eindhoven-declaration/

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Page 111: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

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Anexos

A. NI-8451 SPI API

’ U -8451 utilizados para programação do

barramento SPI no modo avançado, estão aqui mencionados. Deverá consultar-se o manual da

placa, [41], para obter um melhor entendimento das funcionalidades e modo de operação desta

API.

Figura 75 – NI-845x SPI Create Script Reference.vi

Figura 76 – NI-845x SPI Script Enable SPI.vi

O script para activar o SPI é realizado pelo VI NI-845x SPI Script Enable SPI.vi

Figura 77 – NI-845x SPI Script Clock Polarity Phase.vi

Figura 78 – NI-845x SPI Script Clock Rate.vi

Figura 79 – NI-845x SPI Script CS Low.vi

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96

Figura 80 – NI-845x SPI Script Write Read.vi

Figura 81 – NI-845x SPI Script CS High.vi

Figura 82 – NI-845x SPI Script Disable SPI.vi

Figura 83 – NI-845x SPI Run Script.vi

Figura 84 – NI-845x SPI Extract Script Read Data.vi

Page 113: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

97

B. Layout do PCB do sistema desenvolvido

a)

b)

Figura 85 – Layout do PCB desenvolvido em PADS Layout 9.2. a) camada superior; b) camada

inferior.

Page 114: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

98

C. Esquemático do PCB do sistema desenvolvido

Figura 86 – Esquemático da camada superior do layout da Figura 85

Page 115: Tiago Emanuel de Oliveira Pereira Desenvolvimento de

99

Figura 87 – Esquemático da camada inferior do layout da Figura 85