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ÉTICA: TRÊS DILEMAS DE VALORES João Mandim de Oliveira Mestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial Universidade Estácio de Sá Av. Presidente Vargas, 642, 22 O andar - Centro - Rio de Janeiro Cep.: 20.071-001 – Brasil Telefone (s): + (21) 2206-9743/9754 / Fax: + (21) 2206-9751 e-mail: [email protected] Solange Coelho de Azevedo Profa. do Curso de Graduação em Administração nas Faculdades Integras de Jacarepaguá e Universidade Estácio de Sá Mestrado Profissional em Sistema de Gestão - UFF R. Passo da Pátria, 156/329-A, - Niterói – RJ - CEP 24001-970 Telefone(s): +(21) 2717-6390 / +(21) 2425-3820 e-mail: [email protected] Resumo Esse estudo pretende analisar três dilemas éticos, pois ainda que o tema Valores ocupe lugar de destaque em debates e, seja preocupação constante nos ambientes profissionais, pouco se publicou sobre o assunto. A concepção do que é certo ou errado está mais distorcida do que já esteve nos dias passados. Assiste-se a falcatruas, corrupção, desonestidade que, assustadoramente, tornaram-se banais. Atualmente, o que surpreende e provoca certa desconfiança e mal estar é a atitude clara, honesta, despretensiosa. Após a percepção de que os problemas do mundo atingem os meios profissionais, constata-se que esse ambiente não necessita apenas de instruções de ordem tecnológica e que a Ética merece atenção especial e abrangente. Trataremos, em especial, de três dilemas éticos: dos Valores, dos Destinatários e dos Meios. Este trabalho não é a palavra final sobre o assunto, mas uma extensiva pesquisa com o propósito de alertar as pessoas que se interessam por um tema tão relevante em nossa época. Palavras-Chave: Ética; Dilemas Éticos; Valores Éticos. Abstract This study intends to analyze three ethical dilemmas, though the theme Values occupy prominence place in debates and, be a constant concern in the professional atmospheres, few was published on the subject. The conception of what is right or wrong is more distorted that it was already in the past. We see frauds, corruption, dishonesty that, astonishing, became banal. Nowadays, what surprises and provokes suspicion and discomfort is an clear, honest, unpretentious attitude. After the perception that the problems of the world reach the professional means, it is verified that the atmosphere does not need only instructions of technological order and that the Ethics deserves special and extending attention. We will discuss, especially, three ethical dilemmas: Values,

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ÉTICA: TRÊS DILEMAS DE VALORES

João Mandim de OliveiraMestrado em Administração e Desenvolvimento Empresarial

Universidade Estácio de SáAv. Presidente Vargas, 642, 22O andar - Centro - Rio de Janeiro

Cep.: 20.071-001 – BrasilTelefone (s): + (21) 2206-9743/9754 / Fax: + (21) 2206-9751

e-mail: [email protected]

Solange Coelho de AzevedoProfa. do Curso de Graduação em Administração nas

Faculdades Integras de Jacarepaguá e Universidade Estácio de SáMestrado Profissional em Sistema de Gestão - UFF

R. Passo da Pátria, 156/329-A, - Niterói – RJ - CEP 24001-970Telefone(s): +(21) 2717-6390 / +(21) 2425-3820

e-mail: [email protected]

Resumo

Esse estudo pretende analisar três dilemas éticos, pois ainda que o tema Valores ocupe lugar de destaque em debates e, seja preocupação constante nos ambientes profissionais, pouco se publicou sobre o assunto. A concepção do que é certo ou errado está mais distorcida do que já esteve nos dias passados. Assiste-se a falcatruas, corrupção, desonestidade que, assustadoramente, tornaram-se banais. Atualmente, o que surpreende e provoca certa desconfiança e mal estar é a atitude clara, honesta, despretensiosa. Após a percepção de que os problemas do mundo atingem os meios profissionais, constata-se que esse ambiente não necessita apenas de instruções de ordem tecnológica e que a Ética merece atenção especial e abrangente. Trataremos, em especial, de três dilemas éticos: dos Valores, dos Destinatários e dos Meios. Este trabalho não é a palavra final sobre o assunto, mas uma extensiva pesquisa com o propósito de alertar as pessoas que se interessam por um tema tão relevante em nossa época.

Palavras-Chave: Ética; Dilemas Éticos; Valores Éticos.

Abstract

This study intends to analyze three ethical dilemmas, though the theme Values occupy prominence place in debates and, be a constant concern in the professional atmospheres, few was published on the subject. The conception of what is right or wrong is more distorted that it was already in the past. We see frauds, corruption, dishonesty that, astonishing, became banal. Nowadays, what surprises and provokes suspicion and discomfort is an clear, honest, unpretentious attitude. After the perception that the problems of the world reach the professional means, it is verified that the atmosphere does not need only instructions of technological order and that the Ethics deserves special and extending attention. We will discuss, especially, three ethical dilemmas: Values,

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Addressees and Means. This work is not the final word on the subject, but an extensive research with the purpose of alerting the people who are interested in such a relevant theme in our time. Key words: Ethical; Ethical Dilemmas; Ethical Values

Introdução

O avanço da liberdade individual e das conquistas inalienáveis do homem trouxe uma geração muito preocupada com os seus direitos em detrimento dos seus deveres.

Araújo (2002) define valores como sendo as qualidades presentes nas coisas e que pode ser essencial para a existência dessas coisas. Podem ser acidentais, secundárias, e muitas vezes, as próprias coisas em si. São valores, uma vez que são essenciais para a existência, não só do homem, mas para a existência do universo.

Arrais e Ebling (2002) assim abordam o tema: “Tudo o que impulsiona o homem a viver melhor em qualquer dimensão (moral, religiosa, psicológica e biológica) é um valor. Valor, portanto, se relaciona com a maneira do ser humano viver. A maneira como vemos e entendemos o mundo é crucial na busca de valores que darão significado à existência humana.”

Axiologia é a ciência que estuda os valores. A raiz da palavra vem do grego áksios, ‘precioso, valioso’, e -logia, ‘tratado, ciência’. Esse estudo desenvolveu-se especialmente na Alemanha do século passado. Obviamente, a concepção do termo e muito do seu significado vem desde a antigüidade, mas um estudo científico sobre o tema e as especulações filosóficas em torno dele surgiram mais recentemente.

Enquanto Max Scheler (2002) situava a questão dos valores no nível apenas da consciência (são percebidos não por uma introspeção simples, mas por uma intuição emocional), R. H. Lotze (2002) caracterizava e situava os valores apenas como uma questão filosófica. De uma perspectiva mais lógica, Albrecht Ritschl (2002) estudou os valores como sendo uma emissão de juízos de valor e juízos de fato.

Mas, foi Nietzche (2002) quem deu ao termo o caráter filosófico considerado nos dias de hoje (antes dele, o sentido era apenas de mais-valia, valor de troca, enfim valor de consumo).

Entende-se que valores são um conjunto de procedimentos, atitudes, e até mesmo visão de mundo (influenciados ou não pela cultura, herança familiar e meio) que nos faz agir e interagir com o mundo em que vivemos.

Valores Morais

São aqueles ligados à natureza do comportamento moral dos homens. Um comportamento moralmente aceitável é definido por um código de conduta de grupo. Esse código muitas vezes está implicitamente gravado na memória

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coletiva em função da cultura, do meio e da história de um povo. Outras vezes este código de comportamento está também estabelecido nas leis de uma nação.

Kohlberg (1969) acredita que o desenvolvimento moral é baseado primariamente num raciocínio moral e segue uma série de estágios. Suas conclusões são resultados de mais de vinte anos de pesquisas envolvendo entrevistas com indivíduos de diferentes idades.

Nessas entrevistas eram apresentadas aos entrevistados uma série de histórias com dilemas morais. Uma das mais famosas era a seguinte:

Na Europa, uma mulher estava perto da morte com um tipo especial de câncer. Havia uma droga que os médicos pensavam que podia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico (químico) na mesma cidade havia descoberto recentemente. O preparo da droga era muito caro e dispendioso, mas o farmacêutico (químico) cobrava dez vezes mais do que a droga custava para ele. Ele pagava duzentos dólares pelo rádio e cobrava dois mil dólares por uma pequena dose da droga. O marido da mulher enferma, Heinz, foi a cada pessoa que ele conhecia e pediu emprestado, mas ele conseguiu juntar somente a quantia de mil dólares, que era a metade do custo da droga. Ele falou para o farmacêutico que a mulher dele estava quase morrendo e que ele vendesse a droga para ele mais barato ou então que permitisse a ele pagar a diferença depois, mas o farmacêutico disse: “Não, eu descobri esta droga e eu vou ganhar dinheiro com ela”. Então Heinz ficou desesperado e quebrou a loja do homem para roubar a droga para a sua esposa”.

Depois de ler a história, as entrevistas de Kohlberg tinham uma série de perguntas sobre questões morais: Heinz poderia ter roubado a droga? Este roubo era certo ou errado? Por quê? Era um dever roubar a droga para a sua esposa se não havia outra maneira? Poderia um bom marido roubar? Tinha o farmacêutico o direito de cobrar o quanto quisesse já que não havia uma lei estabelecendo limites no preço? Por quê?

Esta é apenas uma das onze principais histórias de Kohlberg para investigar a natureza do desenvolvimento moral. Para ele, o conceito- chave para a compreensão moral é a internalização do desenvolvimento da mudança de comportamento que é externa e domina o comportamento que é controlado por padrões e princípios internos.

Um Caso de Indulto

Quando Luís tinha 18 anos, estava envolvido com drogas e, em companhia de outros jovens de sua idade, assaltaram a casa de uma mulher viúva e mãe de dois filhos pequenos.

Roubaram cem mil pesetas que a mulher possuía para pagar o colégio de um de seus filhos, e mais alguns objetos avaliados em trezentas mil pesetas e de valor sentimental.

A sentença do Tribunal de Granada condenou-o, em 1985, a mais de dois anos de prisão. A sentença foi recorrida e o Supremo Tribunal ratificou a condenação

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somente sete anos depois do ocorrido. Neste tempo, Luís casou-se, teve um filho e trabalha em Jaém como peão em uma empresa de construção. Agora tem que cumprir o tempo de cárcere que sentenciaram. Seu advogado fez um pedido de indulto para Luís, alegando que já está reintegrado à sociedade.

Pergunta-se:

Luís deve ser absolvido? Seria justo tirá-lo de sua família e de seu trabalho para ser punido com um fato ocorrido há sete anos atrás? A mulher que sofreu o assalto não deveria ser ressarcida de alguma forma?

A Prevalência dos Valores Morais

Hoje em dia , a ética se detém, sobretudo, na pesquisa e no estudo dos valores morais. Estes determinam o impulso moral e impelem os indivíduos à ação. Somente aquelas atitudes e coisas que levam ao aperfeiçoamento e ao bem comum do grupo é que possuem valor moral. Todas as vezes que o homem se encontra num dilema – se deve ou não fazer isto ou aquilo – são valores pró ou contra o bem comum do grupo que determinam a sua escolha.

A prevalência dos valores difundidos pela Revolução Francesa revela o quanto o Brasil permanece dilacerado por suas desigualdades e pelo desrespeito a direitos civis básicos, e o quanto a população anseia por uma sociedade solidária, numa clara influência católica.

É interessante fazer-se uma reflexão sobre a fala de Stevenson (2002): “Muitas vezes é mais fácil lutar por princípios do que cumpri-los.”

Então, será que o mundo está em crise? Uma crise que perneia toda a sociedade - uma crise de valores. Corrupção, falsidade, desonestidade, falcatruas, citando apenas o exemplo do contexto político, são tão freqüentes que não causam mais admiração.

3. Dilema de Destinatário

O indivíduo tem deveres para com o grupo no qual vive, este por sua vez tem deveres para com o indivíduo. Ora, é preciso não esquecer que as sociedades não reconhecem relações apenas individuais, mas também entre grupos, as quais não podem ficar excluídas do âmbito da moral e que têm consequentemente, de ser reguladas por normas éticas.

Pode-se observar um fenômeno hoje marcante: o homem é um ser que trabalha, que produz e que, por isso, deve ser preparado para produzir cada vez mais e com qualidade. O homem é um ser concreto (em oposição ao cidadão abstrato), o operário, o homem do cotidiano, como assinala Burdeau (2002) em sua obra “A Democracia”, o homem identifica-se ao trabalho, visto que, sem trabalho, deixa de existir.

Sendo assim, no âmbito da ética geral não deve o indivíduo esquecer de sua situação profissional, pois quanto mais importante e elevada for a atividade desempenhada, tanto mais ela se projetará, eticamente sobre o profissional,

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impondo-lhe uma conduta que não o prejudique como trabalhador, nem prejudique a profissão que exerce.

Vale lembrar que quanto mais transcendente e influente for a profissão, tanto mais exigente será do ponto de vista ético, e maiores deveres imporá.

Assim, pode-se destacar que na sua prática, o professor evidência seus próprios valores, crenças e ideologias. Nota-se que o verdadeiro ensino tem uma conexão com a vida das pessoas. O professor em seu ministério, educa de forma positiva, para a verdade, para o puro e para o belo, guiado-se pela consciência de que a ele compete ajudar o aluno a buscar a plenitude de sua natureza.

3.1 A Ética na Vida Real

Tragédias como a dos pneus Firestone nos carros da Ford, que provocaram a morte de pessoas, causam arrepios às empresas e aos seus executivos, tanto pela questão humana como por arranharem a marca, a reputação e pelo prejuízo potencialmente negativo que podem acarretar.

Mas tragédias podem ser iminentes para todas as companhias que não criam e implementam no dia-a-dia um código de ética, que funcione como um “guia de comportamento” – e isso pode ser ainda mais verdade no Brasil, onde o debate da ética empresarial dá os primeiros passos, até porque o fantasma dos processos movidos pelos consumidores não é – por enquanto – assustador.

Os códigos de ética podem ser reforçados com programas formais de treinamento, com os canais de comunicação interno da organização (como e-mail, caixinhas de “entrada e saída” de correspondência, linha telefônica) para que os funcionários possam questionar e externar suas preocupações e até mesmo com profissionais de ética.

Uma forma de enfrentar um dilema ético é a organização fazer funcionários refletirem sobre questões do tipo:

A medida a ser tomada é legal? É correta? Quem será afetado? Está de acordo com os valores da empresa? Como você se sentirá em seguida? Como a medida apareceria na imprensa? Terá reflexos negativos para a empresa?

Níveis altos de comprometimento dos funcionários, com boas avaliações de lisura e integridade, são um fator importante para o sucesso na economia de hoje, as organizações realmente comprometidas têm que incluir seu alto escalão em todos os programas ligados à ética. Do contrário, tudo não passará de “perfumaria”.

Um exemplo sobre o que acabamos de citar é o filme “Todos os Homens do Presidente”, que na ficção, mostra um caso em que os jornalistas têm que escolher entre a ética profissional e a ética moral. Com relação a este caso, Jefferson Puff, estudante de jornalismo, faz um resumo sobre o que este filme significa para a ética jornalística e o que faria se estivesse no lugar das personagens.

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O caso Watergate

Todos os Homens do Presidente conta a história da brilhante investigação que os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein conduziram para o jornal The Washington Post, no começo da década de 70. Tudo começa quando cinco homens são presos tentando instalar escutas na sede do Partido Democrata, no Edifício Watergate, na capital norte-americana.

A dupla inicia as reportagens sem saber o que a espera, até que os bastidores do esquema de corrupção e manipulação, coordenado pelo Partido Republicano com o objetivo de reeleger o então presidente Richard Nixon, começam a ser revelados. Muitos interesses estão envolvidos, mas um fato muito decisivo é o apoio, mesmo que crítico e exigente, que recebem dos editores do jornal, que sabiam que ali estava uma grande reportagem, que se tornaria histórica.

De uma forma geral, pode-se dizer que o dilema ético inicialmente apresentado é do tipo mais “simples”. Deve-se escolher entre atuar de forma correta segundo a ética, porém correndo riscos, ou priorizar a segurança e reputação, deixando os princípios éticos para trás.

Analisando estas duas formas de realizar a cobertura dos fatos, vê-se como o filme demonstra algumas das diretrizes mais elementares da ética jornalística. Escrever de forma mais superficial, divulgando somente versões da Casa Branca seria mais seguro e menos trabalhoso. No entanto, a pluralidade de versões, a divulgação de informação de interesse público e a publicação da verdade estariam comprometidas.

Woodward e Bernstein optam por conduzir a matéria de forma investigativa, céptica e incansável. Seguem pistas, conseguem informações, pesquisam valendo-se das fontes mais variadas possíveis. Num conflito como este, Jefferson Puff escolheria o mesmo caminho. Mesmo assim, observando a competição que existia entre os dois e com outros jornais, perguntou-se se o que pesou mais foi a consciência do papel social que eles tinham como jornalistas ou a busca por fama, dinheiro e reconhecimento profissional.

Independente do motivo, é claro que o mérito e a certeza de que foi a escolha mais íntegra não seriam de todo diminuídos. Não se pode dizer o mesmo de todas as decisões tomadas pela dupla.

Com o progresso da investigação e as publicações diárias no jornal, as possíveis fontes de informação diminuem as contribuições devido às ameaças do Partido Republicano. Nas cenas onde Bob e Carl interrogam as pessoas cujos nomes estavam na lista do Comitê para a reeleição de Nixon, os conflitos são tão aparentes que a discussão ética está implícita aos olhos de qualquer espectador.

As críticas que são dirigidas a eles e os apelos de alguns interrogados para que eles os deixem em paz são um tanto dramáticos, mas reais. Dessa vez, o dilema está em optar por uma das duas formas de jornalismo possíveis, igualmente defensáveis, mas sob diferentes pontos de vista.

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Até que ponto se pode utilizar os contatos, interrogar, colocar pessoas simples em situações de perigo?

A maneira com que os jornalistas pressionam as pessoas para que elas falem é muito questionável. Conforme o artigo 9º do Código de Ética do Jornalista Brasileiro, é dever do jornalista respeitar o direito à privacidade do cidadão. Logo, bater à porta de uma pessoa, pressioná-la a divulgar informações sabendo que ela está sob ameaças, seria reprovável. Em contrapartida, o Código de Ética da Associação Nacional dos Jornais defende que o direito de cada indivíduo e sua privacidade devem ser respeitados: “salvo quando esse direito constituir obstáculo à informação de interesse público”.

Assim, a decisão é complicada. No filme, eles escolheram obter informações confidenciais e importantes que poderiam desmascarar toda a campanha e principalmente mostrar a uma nação a verdadeira face de seu presidente. Sabendo, é claro, que estavam colocando em segundo plano a privacidade e a vida de algumas fontes utilizadas.

Diante da mesma situação, Jefferson Puff optaria por interrogar pessoas comuns e as colocariam em perigo, somente se fosse a última alternativa. Tentaria usar apenas algumas técnicas que eles usaram mais tarde, quando “jogavam um verde”, afirmando certas partes da informação somente para que a pessoa confirmasse. Fica claro que se eles tivessem desistido, o resultado seria muito pior, pois talvez até hoje não se saberia a verdade.

Quando os freios morais e religiosos se mostravam robustos, os preceitos éticos profissionais eram, sem dúvida, mais respeitados. Porém, no momento em que os bons costumes passaram a ser descumpridos, a regressão não castigou apenas a vida social, mas o próprio exercício das profissões: indisciplina, ambição desmedida, febre de poder tornaram-se, infelizmente, as metas de muitos. Por outro lado, é de se observar que, quando os meios de comunicação eram limitados e de alcance relativo, as más sementes não eram difundidas com a extraordinária rapidez de hoje, não havendo, nem de longe, a divulgação do luxo e do consumismo desenfreados que se observam atualmente.

Paralelamente, o avanço tecnológico da produção alterou radicalmente a economia, passando pela concorrência – às vezes, desleal – e pela publicidade, em muitos casos, inescrupulosa. Mais: a lamentável confusão que se faz entre democratização e massificação do ensino golpeou as profissões mais nobres. Estas, quando contavam com quadros reduzidos de praticantes, tinham seus quadros muito mais selecionados do ponto de vista da aptidão e do intelecto, porém, na medida em que as profissões foram sendo massificadas, multidões de novos “profissionais” congestionaram o campo de trabalho, e, o que é pior, ocasionaram um brutal rebaixamento do quilate intelectual de seus praticantes, para não dizer moral.

E o que isso significa? Que decisões e ações, ainda que consideradas morais e legítimas por alguns, não o são necessariamente por outros, porque ferem interesses alheios; porque põem em litígio coletividades diferentes; porque despertam velhos rancores, estereótipos e preconceitos. Aliás, quanto menor for

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a coletividade beneficiada, em detrimento das demais coletividades, mais acirradas serão as divergências e maiores serão as distâncias que as separam.

4. Dilema dos Meios

Outro dilema ético, cuja natureza é também bastante perturbadora, é o dilema dos meios. Para cumprir prescrições (leis morais e ideais) ou para levar adiante propósitos (fins e conseqüências) é preciso lançar mão de meios. Estes podem ser legítimos e aceitos por todos, principalmente por aqueles a quem se aplicam, ou podem ser meios ilegítimos, controversos, rejeitados principalmente por aqueles a quem se aplicam. Imaginemos a violência física ou a violência simbólica, a fraude ou a manipulação, o sacrifício de alguns para salvar muitos ou a mentira deliberada. É fácil ver que o problema não se resume a meios “lícitos” ou “ilícitos”, meios apenas submetidos à legalidade.

Porque as implicações não se cingem ao caráter jurídico-político dos meios, mas, também, à validação moral – de caráter simbólico – que o uso desses meios supõe.

Aparentemente, a ética da convicção não autoriza o uso de meios ilegítimos, porquanto não aceita que se cometa um mal para evitar outro mal, ainda que maior. A abjeção dos meios demonstraria a abjeção dos fins.

4.1 O Dilema Médico

Quando um usuário de heroína deu entrada na emergência alegando uma grave insuficiência respiratória – foi numa madrugada fria de dezembro – tinha os dias contados.

O Hospital de Madrid diagnosticou tuberculose multirresistente, uma grave doença pulmonar altamente contagiosa, que é muito sensível aos antibióticos, deriva em morte certa num prazo médio de dois anos. Acudido por um rapaz, o paciente, de 34 anos, só escapou do centro do NA – Narcóticos Anônimos para fazer uso de heroína, depois retornando ao centro para continuar o tratamento. Dois dias depois, voltou a fugir. Na madrugada seguinte foi recolhido, em fase praticamente agônica, por uma UTI – Unidade de Tratamento Intensivo móvel. Com paradas respiratórias contínuas, os médicos se prontificaram a fazer a entubação e a ventilação mecânica. Estavam sem paradeiro, quando consultaram uma UTI do hospital. Eles responderam que só havia uma cama desocupada e que não poderiam utilizá-la, pois havia reserva obrigatória para uma palestra em Madrid da Conferência de Chefes de Estado Europeus e, além disso, nenhum dos pacientes que ali estavam, poderiam ser removidos. A doença do toxicômano não iria melhorar somente com o tratamento intensivo, parecia terminal. Decidiram não interná-lo na UTI e, o paciente faleceu poucas horas depois.

Muitos médicos enfrentam habitualmente dilemas como este. Um dilema é um argumento por dois argumentos contrários entre si, de tal maneira que sua resolução leva em si mesma a contradição e, portanto, nunca se pode resolvê-lo por completo. Em poucos minutos, quem zela pela saúde de outras pessoas tem que tomar decisões muito complexas, nas quais intervêm distintos fatores

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normalmente contraditórios e nunca fáceis de conciliar. O Dr. Juan Acalá Zamora diz que 90% dos problemas éticos em seu hospital, estão relacionados com o final da vida: “limitar o esforço terapêutico ao retirar os aparelhos de suporte vital só irá gerar situações conflitivas”.

A ética da responsabilidade, em contraposição, não se furta a utilizar meios ilegítimos. Sentencia que, para atingir fins preconizados, são precisos meios reais ou que, para ser idealista nos fins, é preciso ser realista nos meios. Max Weber (2002) assim se pronunciou:

“Não há ética alguma no mundo que possa desconsiderar isso: para atingir fins “bons” somos obrigados, na maior parte do tempo, a contar de um lado com meios moralmente desonestos ou pelo menos perigosos, e de outro lado com a possibilidade ou ainda a eventualidade de conseqüências desagradáveis. Nenhuma ética no mundo pode dizer-nos tampouco quando e em qual medida um fim moralmente bom justifica os meios e as conseqüências moralmente perigosas”.

5. Conclusão

Esse estudo buscou evidenciar experiências realizadas como administrador, com o processo de formação de valores.

À medida que se caminhou-se na pesquisa do tema em questão, pode-se observar uma pouca quantidade de material específico sobre como trabalhar valores no ambiente profissional. Assim, num contexto mais prático, é recomendável que a educação ética nas organizações de buscar orientar os funcionários privilegiando a integração de planejamento do negócio com a execução dos valores. Vale ressaltar que a experiência pessoal, tanto nos acertos, como nos erros, também contribuiu para o amadurecimento das atitudes.

Deve-se ter em mente que a educação é fator imprescindível na busca de um mundo mais justo. De acordo com Caporali (1999), desde as primeiras reflexões sobre ética de que se tem notícia, provavelmente na Grécia Clássica, “pensar a ética se tornou a reflexão sobre os costumes, conceitos, valores e critérios que levariam a uma vida boa.” Sendo assim, pode-se observar que muitos pais e educadores vivem hoje um grande dilema: O que devem ensinar para os seus filhos em um mundo que distorce os valores básicos?

Numa visão mais ampla temos o homem como um todo: corpo, espírito e mente. Ampliando esta colocação, vemos no ser completo os aspectos físicos, intelectuais, espirituais, morais, afetivos e culturais. Mas na prática, não é isso que ocorre.

Há uma ênfase no desenvolvimento do aspecto cognitivo. Em bem menor intensidade ainda há uma preocupação com o físico. E os demais aspectos ficam esquecidos, quando não renegados.

O homem desenvolve sua vida, não isoladamente, mas dentro de uma comunidade. Esta deve ser mantida e preservada para o bem do próprio indivíduo. Essa relação de sobrevivência e bom andamento do grupo com os

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interesses do indivíduo, determina uma grande classe de valores: os éticos ou morais.

Na medida em que as profissões foram sendo massificadas, multidões de “novos” profissionais congestionaram o campo de trabalho, e o que é pior, ocasionaram um brutal rebaixamento do quilate intelectual de seus praticantes, para não dizer moral.

Os pais evidenciam seus próprios valores, crenças e ideologias. O verdadeiro ensino tem uma conexão sensível com a vida das pessoas. Os pais atuam guiados pela consciência de que competem ajudar os filhos a buscar a plenitude de sua natureza humana. O ensino de valores é um desafio quando se trata de preparar os filhos para o mundo de hoje.

Referências Bibliográficas

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ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. São Paulo, Saraiva, 2002. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso Prático de Processo de Trabalho. São Paulo, Saraiva, 1986.

AZEVEDO, Sodré Ruy. Ética Profissional e Estatuto do Advogado. São Paulo, Edições L Tr., 1997. CAJAL, Jesús Gonzáles. Manual de Bioética Clínica Práctica. Espanha, FUDEN, 1998.

CAPORALI, Renato. Ética & Educação. Rio de Janeiro,Gryphus,1999.

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