11
277 O MAPEAMENTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO COMO PROCEDIMENTO BÁSICO NA CARACTERIZAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO: O CASO DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS - SC EDISON RAMOS TOMAZZOLI 1 JOEL ROBERT MARCEL PELLERIN 1 1 Departamento de Geociências Universidade Federal de Santa Catarina [email protected]; [email protected] TOMAZZOLI, E. R.; PELLERIN, J. R. M. O mapeamento geológico-geomorfológico como procedimento básico na caracterização de áreas de risco: o caso da área central da cidade de Florianópolis-SC. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 277-287. (CD-ROM) RESUMO Trabalhos de mapeamento geológico-geomorfológico mostraram que a área central da cidade de Florianópolis é constituída, geologicamente, por um maciço de composição granítica, secionado por diques de diabásio de idade jurássica com direção NNE e recortado por falhas e zonas de cisalhamento dúcteis- rúpteis de direções variadas, policiclicamente reativadas. Essa estruturação complexa, aliada a processos de erosão diferencial, é responsável pela compartimentação do relevo de dissecação em três unidades morfotectônicas: a) Unidade Morfotectônica 1 - Maciço Central – representa um bloco soerguido por falhas de gravidade N10 o -20 o E; exibe relevo em cristas elevadas; b) Unidade Morfotectônica 2 –Serrinha - relevo em cristas elevadas, com orientação dominante NW, controladas por feixes de falhas de direção N60ºW; c) Unidade Morfotectônica 3 – Área Central – representa um bloco tectonicamente rebaixado por falhas de gravidade N10 o -20 o E, justaposto à Unidade 1; mostra relevo em colinas baixas, capeadas por grandes espessuras de solo residual; constitui-se na área mais central da cidade, a oeste do Maciço Central. Em cada um dessas unidades observam-se diversas feições morfoestruturais que são muito importantes porque condicionam a ocupação urbana: muitas comunidades que ocupam os morros desta capital estabeleceram-se respeitando, inicialmente, os limites impostos por estas unidades. As feições morfoestruturais mapeadas também auxiliam bastante na delimitação de áreas com risco de deslizamentos em encostas. Palavras-chave: morfotectônica, Florianópolis, geomorfologia. ABSTRACT Geological and geomorphological mapping shows that the central area of Florianópolis town consists of granitic rocks, intruded by basic dykes of jurassic age, having an NNE trend. The granitic rocks are cutted by faults and shear zones with variable directions and policyclic reactivations. This complex structuration, joinned with differential erosion process, are responsible for the division of relief in three morphotectonic units: a) Morphotectonic Unit 1 – Central Massif – represented by an uplifted block, controlled by gravity faults towards N10 o -20 o E; the relief consists by high ridges towards N10 o -20 o E direction; b) Morphotectonic Unit 2 – Serrinha – high ridges contolled by faults towards N60 o W direction; c) Morphotectonic Unit 3 Central Area – represents a block lowered by gravity faults towards N10 o -20 o E direction; the relief is characterized by low hills, covered by thick layer of residual soil. There are many morphostructural forms in each of these morphotectonic units. These morphostructural forms are important because they stablish the physical delimitation for the early stages of urban occupation and delimit the slide risk areas. Key-words: morphotectonic, Florianópolis, geomorphology. 1. INTRODUÇÃO O mapeamento geológico-geomorfológico é pré-requisito básico fundamental para a caracterização de áreas de risco ou de sensibilidade ambiental. Em encostas com risco de deslizamento como as do Maciço Central de Florianópolis, além dos tipos e espessuras de cobertura pedogênica, é de fundamental importância o mapeamento e a caracterização dos

Tipologias de ocupação em áreas ambientalmente frágeis em Santa Catarina

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Tipologias de ocupação em áreasambientalmente frágeis em SantaCatarina

Citation preview

  • 277

    O MAPEAMENTO GEOLGICO-GEOMORFOLGICO COMO PROCEDIMENTO BSICO NA CARACTERIZAO DE REAS DE RISCO: O

    CASO DA REA CENTRAL DA CIDADE DE FLORIANPOLIS - SC

    EDISON RAMOS TOMAZZOLI1 JOEL ROBERT MARCEL PELLERIN1

    1Departamento de Geocincias

    Universidade Federal de Santa Catarina [email protected]; [email protected]

    TOMAZZOLI, E. R.; PELLERIN, J. R. M. O mapeamento geolgico-geomorfolgico como procedimento bsico na caracterizao de reas de risco: o caso da rea central da cidade de Florianpolis-SC. In: SIMPSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004, Florianpolis. Anais... Florianpolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 277-287. (CD-ROM) RESUMO Trabalhos de mapeamento geolgico-geomorfolgico mostraram que a rea central da cidade de Florianpolis constituda, geologicamente, por um macio de composio grantica, secionado por diques de diabsio de idade jurssica com direo NNE e recortado por falhas e zonas de cisalhamento dcteis-rpteis de direes variadas, policiclicamente reativadas. Essa estruturao complexa, aliada a processos de eroso diferencial, responsvel pela compartimentao do relevo de dissecao em trs unidades morfotectnicas: a) Unidade Morfotectnica 1 - Macio Central representa um bloco soerguido por falhas de gravidade N10o-20oE; exibe relevo em cristas elevadas; b) Unidade Morfotectnica 2 Serrinha - relevo em cristas elevadas, com orientao dominante NW, controladas por feixes de falhas de direo N60W; c) Unidade Morfotectnica 3 rea Central representa um bloco tectonicamente rebaixado por falhas de gravidade N10o-20oE, justaposto Unidade 1; mostra relevo em colinas baixas, capeadas por grandes espessuras de solo residual; constitui-se na rea mais central da cidade, a oeste do Macio Central. Em cada um dessas unidades observam-se diversas feies morfoestruturais que so muito importantes porque condicionam a ocupao urbana: muitas comunidades que ocupam os morros desta capital estabeleceram-se respeitando, inicialmente, os limites impostos por estas unidades. As feies morfoestruturais mapeadas tambm auxiliam bastante na delimitao de reas com risco de deslizamentos em encostas. Palavras-chave: morfotectnica, Florianpolis, geomorfologia.

    ABSTRACT Geological and geomorphological mapping shows that the central area of Florianpolis town consists of granitic rocks, intruded by basic dykes of jurassic age, having an NNE trend. The granitic rocks are cutted by faults and shear zones with variable directions and policyclic reactivations. This complex structuration, joinned with differential erosion process, are responsible for the division of relief in three morphotectonic units: a) Morphotectonic Unit 1 Central Massif represented by an uplifted block, controlled by gravity faults towards N10o-20oE; the relief consists by high ridges towards N10o-20oE direction; b) Morphotectonic Unit 2 Serrinha high ridges contolled by faults towards N60oW direction; c) Morphotectonic Unit 3 Central Area represents a block lowered by gravity faults towards N10o-20oE direction; the relief is characterized by low hills, covered by thick layer of residual soil. There are many morphostructural forms in each of these morphotectonic units. These morphostructural forms are important because they stablish the physical delimitation for the early stages of urban occupation and delimit the slide risk areas. Key-words: morphotectonic, Florianpolis, geomorphology. 1. INTRODUO

    O mapeamento geolgico-geomorfolgico pr-requisito bsico fundamental para

    a caracterizao de reas de risco ou de sensibilidade ambiental. Em encostas com risco de

    deslizamento como as do Macio Central de Florianpolis, alm dos tipos e espessuras de

    cobertura pedognica, de fundamental importncia o mapeamento e a caracterizao dos

  • 278

    tipos de rochas e das estruturas geolgicas do macio. Os trabalhos bsicos de cartografia

    geolgica e geomorfolgica com enfoque estrutural assumem, assim, papel de grande

    relevncia.

    Neste trabalho so apresentados os resultados de um mapeamento geolgico-

    geomorfolgico em escala 1:10.000, realizado na rea central de Florianpolis (SC) a

    partir do qual foram delimitadas diversas unidades de relevo estruturalmente controladas,

    chamadas de unidades morfotectnicas, s quais esto associadas feies de relevo

    referidas como feies morfoestruturais. Essas unidades e feies tm grande importncia,

    j que, muitas vezes, condicionam a prpria ocupao urbana, delimitando bairros e

    comunidades. Podem ainda caracterizar ou estarem associadas a reas de risco de

    deslizamentos ou a reas imprprias ocupao.

    2. METODOLOGIA

    O mapeamento geolgico-geomorfolgico da rea central de Florianpolis foi

    realizado por professores e acadmicos do curso de Geografia da Universidade Federal de

    Santa Catarina. Os trabalhos de campo tiveram a durao de oito dias e constaram da

    medio de estruturas geolgicas e da coleta de amostras de rochas e solos, cujas

    caractersticas microscpicas foram utilizadas como dados para os mapas geolgico e

    geomorflgico finais. Como mapa base, utilizou-se a carta planialtimtrica do IPUF, escala

    1:10.000, apoiada por fotografias areas, escala 1:25.000, ano de 1994 e imagens Landsat

    TM. Os dados cartogrficos foram digitalizados, utilizando-se o programa Microstation 95.

    3. ELEMENTOS DE GEOLOGIA

    Na figura 1, apresentado o mapa geolgico da rea central de Florianpolis.

    Observa-se que o litotipo predominante o granito grosso (Pgg), de cor rosada ou cinza claro, correspondente ao Granito Ilha da Sute Pedras Grandes (Zanini et al., 1997), de

    idade neoproterozica.

    O granito grosso cataclstico, cor escura (Pgc) o mesmo granito grosso (Pgg), brechado, exibindo graus variados de cimentao por xidos de ferro de cor preta. Quando essa cimentao generalizada, a rocha adquire colorao escura, por vezes

    exibindo cristaloclastos rosados de feldspato envoltos por uma matriz fina a base de xido

    de ferro preto, cujo aspecto pode ser facilmente confundido com o dos riolitos prfiros

    escuros, que ocorrem no sul da Ilha de Santa Catarina. Essas rochas, devido presena de

  • 279

    xido de ferro, possuem uma maior resistncia aos processos erosivos, constituindo assim

    as cristas angulosas da poro sul do Macio Central.

    Ao norte, ao longo das cristas do Macio Central, no Morro do Horcio, so

    freqentes os granitos finos (microgranitos-Pct) de cor rosada, com textura eqigranular fina, localmente prfira, que correspondem ao Granito Itacorubi, da Sute Cambirela

    (Zanini et al., 1997), tambm de idade neoproterozica. Essas rochas so cortadas por

    veios de aplito de espessuras e direes variadas.

    Diques de riolito seccionam o granito grosso; possuem poucos metros de espessura

    e direo N-NE. A rocha normalmente prfira, com fenocristais de quartzo e feldspato

    rosado sobre matriz afantica cinza claro. Correspondem ao Riolito Cambirela da Sute

    Cambirela (Pri). Diques de diabsio (Jdb) aparecem cortando os litotipos anteriores, bem como as

    estruturas (falhas, zonas de cisalhamento) superimpostas a eles. Esses diques compem o

    chamado enxame de diques da Ilha de Santa Catarina, datado por Raposo et al.(1998), que

    obtiveram idades entre 119 a 128 milhes de anos, utilizando o mtodo 40Ar/Ar39.

    No Macio Central, acompanhando a parte central da crista, na rea do Morro do

    Horcio, ocorre grande dique de diabsio que chega a atingir espessuras de at mais de

    200m. Apresenta, nas bordas, granulao fina a afantica, que grada para granulao grossa

    no centro do dique, com cristais de plagioclsio e piroxnio atingindo 5 mm.

    4. UNIDADE MORFOTECTNICAS

    Na margem continental leste do estado de Santa Catarina so reconhecidos dois

    grandes domnios morfoestruturais: Domnio dos Depsitos Sedimentares e Domnio dos

    Embasamentos em Estilos Complexos (Rosa & Hermann, 1986).

    O Domnio dos Depsitos Sedimentares corresponde plancie costeira, contituda,

    na rea em estudo, por depsitos marinhos praiais, flvio-lagunares e reas de aterros.

    O relevo representado pelo segundo domnio morfoestrutural foi compartimentado

    em trs unidades morfotectnicas: Unidade 1 Macio Central relevo em bloco

    soerguido, de orientao NNE, Unidade 2 Serrinha relevo em cristas de orientao NW

    e Unidade 3 rea Central bloco rebaixado, com relevo em colinas baixas. Essas

    unidades esto representadas no modelo digital do terreno da figura 1 e no mapa

    morfotectnico da figura 3.

  • 280

    Segundo Gold (1980), o termo morfotectnica relativo ao estudo de formas de

    relevo de significado tectnico regional. Como na rea central de Florianpolis, as formas

    de relevo mostram ntido controle tectnico, condicionado pela movimentao de

    estruturas, optou-se por classificar o relevo em unidades morfotectnicas. Essas unidades

    no esto restritas somente rea central de Florianpolis, mas possuem expresso

    regional, ocorrendo tambm em outras reas da Ilha de Santa Catanina e na rea

    continental adjacente.

    A Unidade Morfotectnica 1 Macio Central - corresponde a um bloco soerguido

    por falhamentos, formando uma grande crista rochosa alongada, levemente sinuosa, com

    direo geral N10-20E, indo desde a Baa Norte at a Baa Sul, numa extenso de cerca

    de 5 Km com largura mdia em torno de 800m. Seu ponto mais elevado situa-se no Morro

    da Cruz, com cerca de 280m. Do ponto de vista tectnico, esse grande bloco que constitui

    o Macio Central de Florianpolis pode ser considerado um horst (muralha tectnica),

    margeado lateralmente por falhas de gravidade NNE, relacionado ao sistema de rifts do

    leste catarinense (Tomazzoli & Pellerin, 2001), estruturado durante os estgios iniciais do

    processo de abertura do Atlntico Sul, no Mesozico. As falhas de gravidade que

    estruturam o horst so resultantes de uma tectnica distensiva mesozica e apresentam-se,

    na maioria das vezes, superimpostas e com direo coincidente a falhas e zonas de

    cisalhamento mais antigas, provavelmente pr-cambrianas.

    Essa unidade exibe diversas feies morfoestruturais representadas no mapa

    morfotectnico da figura 3.

    A Feio Cristas de Direo NNE (1C) exibe formas angulosas e elevadas. Na

    poro sudoeste do macio, so constituidas por faixas de granito grosso cataclstico

    (Pgc), cimentado por xidos de ferro. Essa rocha, de elevada dureza e resistncia aos processos erosivos, faz com que essa cristas constituam cornijas, responsveis pela

    sustentao do relevo, estruturadas por planos de falha/fraturas sub-verticais ou fortemente

    mergulhantes para NNW. Devido a sua elevada declividade e difcil acesso, constituem

    uma das poucas reas ainda no ocupadas no centro de Florianpolis.

    A Feio Vale entre Cristas (1H), ocorre no Morro do Horcio e desenvolve-se

    sobre o grande dique de diabsio do Macio Central (figura 2). Estrutura-se como uma

    faixa alongada, topograficamente rebaixada em relao s extremidades noroeste e sudeste

    do macio, constitudas por microgranito e granito cataclstico e que apresentam-se

    ressaltadas, formando duas cristas laterais ao dique, devido resistncia relativa mais

  • 281

    elevada dessas rochas aos processos erosivos, em relao ao diabsio. Abriga o bairro

    Morro do Horcio.

    A Feio Encostas (1E) desenvolve-se lateralmente s cristas NNE. De maneira

    geral as encostas apresentam declividades mdias a altas. Suas pores inferiores e, por

    vezes as superiores, so muitas vezes palco de intensa ocupao urbana desordenada, como

    o caso dos Morros do Mocot, Mariquinha, Mont Serrat, Penitenciria.

    A Feio Alvolos de Alterao configurada pelo desenvolvimento desses

    alvolos entre cristas, associados a grandes espessuras de solo. Essas depresses podem ser

    fechadas e suspensas como o caso da que abriga o bairro Morro da Queimada (1A1) ou

    abertas como a que abriga o bairro Jos Mendes (1A2).

    A Unidade Morfotectnica 2 Serrinha caracterizada por relevo em cristas

    elevadas com orientao dominante NW, controladas por feixes de falhas com direo

    N60oW. Essas falhas representam antigos falhamentos transcorrentes, provavelmente de

    idade precambriana que foram reativados como falhas transversais direo de rift

    (provavelmente falhas de transferncia) durante a tectnica distensiva mesozica.

    H duas feies morfoestruturais associadas a essa unidade: Feio em Cristas NW

    (2C), que so ocupadas pelos bairros Serrinha e Cavoeira e a Feio Vales (2V), onde

    esto alojados os bairros Caieira, Carvoeira e Pantanal.

    A Unidade Morfotectnica 3 rea Central representa um bloco falhado,

    rebaixado, justaposto ao bloco soerguido representado pela Unidade Morfotectnica 1

    Macio Central por falhas de gravidade NNE anteriormente referidas. Ocorre na rea

    central de Florianpolis e tambm a leste do Macio Central, em duas pequenas reas

    estruturalmente rebaixadas em relao s unidades morfotectnicas 1 e 2 (figura 3).

    Esta unidade morfotectnica apresenta dois tipos distintos de modelado: Modelado

    em Colinas Baixas (3CB) e Modelado em Cristas Baixas com orientao N-S (3A).

    O Modelado em Colinas Baixas (3CB) caracteriza-se por relevo baixo, suave e

    uniformente ondulado, no estilo mar de morros, com as colinas atingindo no mximo 30m

    de altura, capeado por grandes espessuras de solo residual. A intensa urbanizao dificulta

    um pouco a visualizao dessas feies. Ocorre na rea mais central de Florianpolis e em

    parte dos bairros Trindade e Saco dos Limes, a leste do Macio Central.

    O Modelado em Cristas Baixas de com orientao N-S (3A), uma variante do

    modelado 3CB, tambm integrante da Unidade Morfotectnica 3. H duas feies

    morfoestruturais associadas a esse modelado: Feio Cristas (3A1) e Feio Grotes

  • 282

    (3A2). As cristas so controladas por feixes de falhas de direo N-S. Atingem no mximo

    50m de altura e esto intercaladas a depresses abertas em forma de groto. Num desses

    grotes foi construdo o Hospital Infantil de Florianpolis. O Bairro Agronmica a rea

    de ocorrncia tpica desse tipo de modelado.

    5. A DELIMITAO DE REAS DE RISCO

    Nas encostas ngremes da Unidade 1 - Macio Central, o risco de deslizamentos

    pode estar condicionado a diversos fatores como a ocupao urbana desordenada que

    promove a retirada da cobertura vegetal e de solo, alm de cortes e entalhes verticais na

    encosta para abertura de ruas e terraplanagem de lotes. Em reas ou locais com maiores

    espessuras de solo o risco de deslizamentos potencializado.

    A relao entre o posicionamento espacial das estruturas geolgicas (especialmente

    as estruturas planares como os feixes de fraturas paralelas) e a orientao (direo e

    declividade) das encostas outro importante fator que deve ser considerado na estabilidade

    das encostas e taludes.

    Nas encostas do Macio Central, a posio espacial dos feixes de fraturas paralelas

    que secionam logitudinalmente todo o macio, desempenham papel importante no que se

    refere estabilidade quanto a movimentos de massa. Esses feixes de fraturas apresentam

    direo geral N10o-20oE e mergulho mdio de 80o para noroeste. Nas pores mais

    ngremes da encosta noroeste do Macio Central, na rea dos morros do Mocot,

    Mariquinha e Mont Serrat, especialmente em cortes de ruas ou loteamentos com

    declividades maiores que 80o, h grandes riscos de escorregamento de lascas rochosas por

    esses planos de fraturas pois, nesses locais, as fraturas mergulham no mesmo sentido da

    declividade da encosta, porm em ngulos de inclinao pouco menores, condicionando

    assim o mergulho dos planos fratura (planos de fraqueza) para fora da encosta. J na

    encosta sudeste do Macio Central, voltada para o Morro da Caieira e Bairro Saco dos

    Limes, esse mesmo condicionamento estrutural torna a encosta estruturalmente mais

    estvel, j que os feixes de fraturas mantm a mesma direo e mergulho, porm, nesse

    caso, apresentam-se mergulhando na direo oposta declividade da encosta. Apesar de

    estruturalmente mais estvel, alguns movimentos de massa foram registrados recentemente

    nessa encosta, relacionados a reas com maiores espessuras de solo. Nessa encosta tambm

    freqente o registro de rolamento de grandes blocos e mataces granticos (figura 2),

  • 283

    como resultado do desabamento da cornija formada por granito grosso cataclstico

    (Pgc).

    Figura 2 - Grande bloco grantico rolado da crista, formando pequena gruta ou lapa, utilizada pelos moradores como depsito e local para a caixa dgua. Observa-se que a base da lapa constituda por solo altertico residual relativamente espesso, indicando que a lapa foi formada pelo rolamento/movimentao do bloco grantico sobre solo previamente constitudo. 6. CONCLUSES

    O mapeamento geolgico-geomorfolgico do Macio Central foi fundamental, pois

    caracterizou as unidades e feies morfoestruturais acima descritas. Essa unidades e

    feies so muito importantes, pois muitas vezes condicionam a ocupao urbana. Muitos

    bairros e comunidades que ocupam os morros da rea central de Florianpolis

    estabeleceram-se respeitando, inicialmente, os limites fsicos impostos por estas unidades e

    feies.

    O mapeamento e caracterizao dessas unidades e feies estruturais, em reas

    urbanizadas, assume papel fundamental tambm no sentido de delimitar reas de risco de

    deslizamentos ou reas imprprias ocupao urbana.

  • 284

    7. AGRADECIMENTOS

    Agradecimentos ao Prof. Marcelo Borges Esteves, aos acadmicos Andra Regina

    de Brito C. Lopes, Edson Wilson de Souza Jnior, Hamilton Luiz Langer, Pablo R.

    Koehler, Pedro Henrique Milazzo e Sonia R. Janurio Ferreira, pela fundamental

    participao nas etapas de campo do mapeamento e na sistematizao dos dados. Maria

    Lcia de P. Herrmann, pelas sugestes. Agradecimentos especiais ao Pe. Vilson Groh e aos

    membros das associaes comunitrias do Macio Central que nos acompanharam,

    promovendo acesso seguro em todos os locais visitados.

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    GOLD, D.P. Structural Geology. In: SIEGAL, D. S. (Ed) Remote Sensing in Geology. New York. John Wiley, 1980. P. 419-83. RAPOSO, M.I.B.; ERNESTO, M.; RENNE, P.R. Paleomagnetism and 40Ar/39Ar dating of the early Cretaceous Florianpolis dike swarm. Physics of the Earth and Planetary Interiors. Vol.108-4, pp275-290, 1998. ROSA, R. O., HERMANN,M. L. P. Geomorfologa. In: ATLAS DE SANTA CATARINA, Cap. B. Aspectos Fsicos, p.31-32. GAPLAN. Rio de Janeiro RJ, 1986. TOMAZZOLI, E. R.; PELLERIN, J. G. M. Alvolos e Vales Suspensos: feies erosivas comuns no relevo da Ilha de Santa Catarina. In: IX Simp. Bras. de Geografia Fsica Aplicada, Recife PE. 2001. Bol. de Resumos, v. nico, p. 97-98. ZANINI, L.F.P.; BRANCO, P.M.; CAMOZZATO, E. & RAMGRAB, G.E. (orgs) Programa de Levantamentos Geolgicos Bsicos do Brasil, Folhas Florianpolis/Lagoa, SG.22-Z-D-V/IV, Estado de Sta. Catarina: escala 1:100.000. Braslia: DNPM/CPRM, 1997.. 223p

  • 285

    Figura 1 - Mapa Geolgico da rea central de Florianpolis

    283

    156

    29

    172

    x 2

    x

    x

    x

    x

    x

    250m 0 250 500 750 1000m

    PROJEO UNIVERSAL TRANSVERSAL DE MERCATOR-UTMMeridiano Central 51 W.Gr.

    Produzido no Lab. de Geoprocessamento do Depto. de Geocincias, CFH/UFSC, (jun./2003)Digitalizao e Edio: Silvia SaitoEdio Final: Edison R. Tomazzoli

    Fontes:- Base Cartogrfica: Levantamento Aerofotogram - Base Cartogrfica do Aglomerado Urbano de trico Florianpolis, Escala 1:10000, IPUF, 1979 (cartas V-2-NE-D e V-2-NE-F)- Levantamentos em campo (2001 a 2003)

    COLUNA ESTRATIGRFICA

    Litotipo Unidade Estratigrfica Perodo

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    e

    Contato Geolgico

    Falha

  • 286

    Figura 2 - Modelo digital do terreno, mostrando a expresso de relevo das unidades morfotectnicas da rea central de Florianpolis, localizadas na figura 3. Unidade 1 = Unidade Morfotectnica 1 - Macio Central; Unidade 2 = Unidade Morfotectnica 2 - Serrinha; Unidade 3 = Unidade Morfotectnica 3 - rea Central; S = Domnio dos Depsitos Sedimentares; 3A = Modelado em Cristas Baixas N-S; 3CB = Modelado em Colinas Baixas.

  • 287

    DOMNIO 1 - DOMNIO DOS DEPSITOS DEDIMENTARES

    DOMNIO 2 - DOMNIO DOS EMBASAMENTOS EM ESTILOS COMPLEXOS

    Feio Cristas NNE

    UNIDADE MORFOTECTNICA 1 - Macio Central

    Feio Vale entre cristas

    Feio Encostas

    Feio Alvolos de Alterao Abertos

    Lineamento estruturais (falhas e fraturas)

    Contatos entre feies morfotectnicas

    Contatos entre unidades morfotectnicas

    Cristas angulosas Grotes Selas Escarpas de falhas

    PaleofalsiasMorros arredondosCristas arredondas

    Feio Alvolos de Alterao Fechados

    UNIDADE MORFOTECTNICA 2 - SERRINHA

    Feio Vales

    Feio cristas NW

    UNIDADE MORFOTECTNICA 3 - REA CENTRAL

    Feio Cristas N-S

    Feio Grotes entre Cristas

    MODELADO EM COLINAS BAIXAS

    250m 0 250 500 750 1000m

    PROJEO UNIVERSAL TRANSVERSAL DE MERCATOR-UTMMeridiano Central 51 W.Gr.

    38

    283

    174

    22

    156

    127

    29

    172

    x2

    x

    x

    x

    x

    x

    x

    x

    x

    Produzido no Lab. de Geoprocessamento do Depto. de Geocincias, CFH/UFSC, (jun./2003)Digitalizao e Edio: Gel. Marcelo B. Esteves

    Edio Final: Gel. Edson Tomazzoli

    Fontes:- Base Cartogrfica: Levantamento Aerofotogram - Base Cartogrfica do Aglomerado Urbano de trico Florianpolis, Escala 1:10000, IPUF, 1979 (cartas V-2-NE-D e V-2-NE-F)- Levantamentos em campo (2001 a 2003)

    S

    S

    Figura 3 - Mapa Morfotectnico da rea central de Florianpolis.