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1 INTRODUO
A presena de microorganismo no interior dos canais radiculares um srio
problema clnico, visto que est relacionado diretamente com a longevidade e
sucesso do tratamento endodntico.
Sabe-se que o tratamento endodntico um conjunto de procedimentos
operatrios interdependentes, e que cada etapa, em particular, tem um papel
significativo no resultado final, o que no permite, portanto, ao profissional
menosprezar nenhuma delas. Dessa forma, o endodontista deve utilizar meios para
promover a eliminao ou a mxima reduo possvel de bactrias do interior dos
sistemas de canais radiculares.
A terapia endodntica comporta diferentes tempos operatrios, entre os quais
pode-se ressaltar o preparo qumico cirrgico do canal radicular, o qual destina-se
modelagem e a sanificao dos canais radiculares, realizadas por meio do emprego
simultneo de instrumentais endodnticos e substncias qumicas auxiliares,
visando facilitar a ao do instrumento e promover auxlio indispensvel limpeza e
desinfeco do complexo endodntico.
Esse binmio instrumento endodntico e substncias qumicas auxiliares
promovem o aumento dos padres de permeabilidade dentinria radicular,
possibilitando uma maior efetividade da medicao intracanal, alm de melhorar o
embricamento dos cimentos endodnticos s paredes dentinrias (DAVALOU;
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GUTMANN; NUNN, 1999; WIMONCHIT; TIMPAWAT; VONGSAVAN, 2002;
VIVACQUA-GOMES et al., 2002; OBANKARA; ADANIR; BELLI, 2004).
Outra fase integrante do tratamento endodntico no menos importante, o
selamento coronrio da entrada dos canais radiculares, qual cabe buscar a
manuteno da sanificao lograda pelas fases operatrias da terapia endodntica,
impedindo a penetrao bacteriana, via acesso coronrio para o interior dos canais
radiculares.
A deficincia deste selamento, quando o material restaurador no cumpre
funes importantes, como: adesividade, estabilidade dimensional, baixa
solubilidade, resistncia mecnica e atividade antibacteriana, pode proporcionar a
(re) colonizao tanto do sistema de canais radiculares, quanto regio periapical.
Observando-se que o aumento da permeabilidade dentinria, como
conseqncia da remoo de smear layer pelo preparo qumico cirrgico, permite
uma maior passagem ou difuso de bactrias, fludos, molculas ou ons nos tbulos
dentinrios, levanta-se a hiptese, que o contato pleno destas substncias auxiliares
com a poro coronria pode ser capaz tambm de aumentar a permeabilidade
nesta regio, uma vez que para limpeza da superfcie radicular, estas substncias
qumicas entram em contato com o esmalte e a dentina da poro coronria, mesmo
que em concentraes menores.
Entre os materiais restauradores provisrios existentes, o cimento ionmero
de vidro (CIV), descrito inicialmente em 1972 por Wilson e Kent, parece minimizar a
infiltrao marginal, devido s suas propriedades de adeso estrutura dentria,
liberao de flor e coeficiente de expanso trmica semelhante ao do dente
(ANDRADE et al., 1997; GUPTA; KHINDA; GREWAL, 2002; PRABHAKAR; MADAN;
RAJU, 2003).
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Desde a sua introduo no mercado odontolgico, os CIV convencionais
foram indicados para restauraes definitivas, no entanto, o alto grau de solubilidade
do material e problemas relativos sua opacidade, a qual acarretava deficincias no
aspecto esttico, limitavam a utilizao do mesmo. Na dcada de 80, uma nova
gerao de CIV foi desenvolvida, os chamados CIV modificados por resina. Tais
materiais apresentaram melhorias nas suas propriedades, como: aumento da
resistncia mecnica, reduo da solubilidade e facilidade clnica, pelo controle do
tempo de trabalho (WILSON; MCLEAN, 1988; SILVA et al., 2000; CARRARA;
ABDO; SILVA, 2001; BIJELLA; BIJELLA; SILVA, 2001; FORMOLO; SARTORI;
DEMARCO, 2001; FARIAS; AVELAR; BEZERRA, 2002; KRAMER et al., 2003).
Por sua vez, o cimento a base de xido de zinco um dos materiais mais
empregados por diferentes profissionais. Isto se deve as caractersticas, tais como: a
fcil insero, no requer espatulao, fcil remoo em cavidades endodnticas e
possui alto grau de expanso linear, resultado da absoro de gua durante sua
reao de presa (JACQUOT et al., 1996; GRECA; TEIXEIRA, 2001).
Diante de tal situao e apesar da intensa gama de materiais disposio do
clnico para o uso de restauraes provisrias, o presente estudo visa estabelecer
no s o material restaurador provisrio com melhor comportamento em relao
infiltrao marginal, como tambm observar a permeabilidade dentria no
remanescente coronrio, resultante do preparo qumico cirrgico executado durante
o tratamento endodntico.
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2 REVISO DA LITERATURA
Para facilitar a compreenso pertinente ao assunto abordado, a reviso da
literatura foi dividida em duas partes que abordam trabalhos desenvolvidos por
diversos autores em um mesmo perodo, porm com temas distintos:
Permeabilidade Dentria e Materiais Restauradores Temporrios.
2.1 - Permeabilidade Dentria
O esmalte dentrio humano embora represente uma estrutura protetora
resistente do organismo, alm de exibir uma superfcie relativamente lisa, apresenta
permeabilidade devido ao aspecto morfolgico de sua superfcie. A presena de
falhas geolgicas (Tufos e Lamelas), buracos focais, microporos e outros defeitos
contendo protenas de origem desenvolvimental, ao longo da superfcie dentria,
juntamente com os espaos intercristalinos podem trazer importantes conseqncias
servindo de caminhos para difuso de substncias em direo polpa (MJOR;
FEJERSKOV, 1990; TEN CATE, 1998).
Alm das variaes no padro estrutural da superfcie do esmalte, durante a
irrupo do dente na boca, a superfcie do esmalte fica sujeita s variaes do meio,
bem como a traumas qumicos e fsicos que inevitavelmente alteram a
microestrutura e a composio qumica da superfcie do esmalte (MJOR;
FEJERSKOV, 1990).
19
Em 1947, Atkinson observou a capacidade do esmalte dentrio, em comporta-
se como uma membrana permevel ou semi-permevel, dependendo do tamanho
do on. Esta propriedade, segundo o autor, existe em funo da presena de matria
orgnica no esmalte.
A infiltrao de substncias da superfcie externa do esmalte em direo
polpa foi descrita por Bartelstone (1951). Por meio da aplicao de I
(Radioistopo) na superfcie do esmalte intacto de caninos de oito cobaias, o autor
observou no somente a penetrao desta substncia atravs do esmalte em
direo dentina e polpa, como tambm foi encontrado o radioistopo na glndula
tireide aps 1 a 2 horas da aplicao.
Silveira e Garrocho (1998) analisando as reas de marcao pelo corante na
superfcie dos dentes hgidos de pacientes com problemas periodontais avanados,
constataram um padro de maior penetrao no tero cervical. Provavelmente, os
autores relatam, que pelo fato do esmalte cervical estar quase sempre coberto por
placa bacteriana e, conseqentemente, sujeito a mudanas no pH, o que aumentaria
ainda mais a sua porosidade.
A dentina, tecido conjuntivo mineralizado, compe-se quimicamente em
aproximadamente 70% de material inorgnico, 20% material orgnico e 10% de
gua. Caracteriza-se microscopicamente pela presena de numerosos tbulos, que
percorrem toda a camada de dentina, desde a polpa at o limite amelo-dentinrio e
dentino-cementrio (MJOR; FEJERSKOV, 1990; TEN CATE, 1998).
Em virtude dessa estrutura tubular, a dentina apresenta distintos nveis de
permeabilidade. Essa diferena depende da quantidade, dimenso e dimetro dos
tbulos dentinrios, espessura da dentina, movimentos dos fludos no interior dos
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tbulos de acordo com a concentrao e gradiente de presso osmtica e
hidrosttica, presena da smear layer e temperatura.
O trabalho de Fish, publicado em 1927, considerado o pioneiro e constitui-
se, na opinio de diversos autores, em um clssico no campo da permeabilidade da
dentina. O autor inseriu tinta da ndia no interior da cmara pulpar de dentes vitais
de ces e, com o emprego de microscopia verificou a penetrao de partculas de
corante no interior dos tbulos dentinrios. Em 1933, Fish novamente verificou a
permeabilidade dentinria, mas dessa vez colocando a soluo azul de metileno na
cavidade pulpar de dentes extrados, por 24 horas em temperatura de 37C. Aps o
seccionamento dos espcimes evidenciou a penetrao do agente indicador, desde
a cavidade pulpar at as junes amelo-dentinria e cemento-dentinria. Observou,
que nos dentes oriundos de pacientes idosos, o padro de penetrao do corante
manifestava-se em menor intensidade.
Para avaliar a influncia do tamanho da rea dentinria, espessura,
temperatura e tempo ps-extrao na alterao da permeabilidade dentinria,
Outhwait, Livingston e Pashley (1976) fizeram um estudo analisando a infiltrao do
iodo radioativo atravs de discos de dentina. Segundo os autores, a rea da
superfcie dentinria diretamente proporcional ao grau de permeabilidade da
dentina. Alm disso, os discos de dentina obtidos prximos polpa foram duas
vezes mais permeveis do que aqueles obtidos na regio prxima ao esmalte. Com
relao temperatura, constataram que aumentando a temperatura de 25C para
35C houve quase o dobro de iodo infiltrando a dentina. A alterao da
permeabilidade, em funo do tempo ps-extrao foi mnima. Houve um relativo
aumento da permeabilidade na dentina aps a primeira hora ps-extrao e no
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primeiro e segundo dia. Aps trs a quatro semanas no houve mudana detectvel
na alterao da permeabilidade.
Outro fator modificador da permeabilidade dentinria inclui a presena de
smear layer. Alguns materiais utilizados na Endodontia para a sanificao dos
sistemas de canais radiculares, como as substncias qumicas auxiliares, tambm
aumentam significativamente a permeabilidade da dentina, em funo da remoo
de smear layer da superfcie dentinria. Assim, vrias formulaes qumicas foram
sugeridas para o preparo biomecnico ao longo de seu processo evolutivo no intuito
de obter uma substncia auxiliar da instrumentao que promovesse no s a
limpeza, como tambm a desinfeco do complexo endodntico.
Nikiforuk e Sreebny (1953) estudaram as propriedades qumicas de um cido
orgnico fraco, o etilenodiaminotetractico sal dissdico (EDTA). Estes autores
vislumbraram a possibilidade de utilizao deste cido como agente
desmineralizante de tecido duro. Inspirado neste trabalho, Ostby (1957) preconizou
o emprego do EDTA na instrumentao de canais radiculares em substituio aos
cidos inorgnicos at ento utilizados, devido sua ao quelante e por ser
biologicamente compatvel. A soluo aquosa de EDTA preconizada apresentava
como composio: EDTA 15% e hidrxido de sdio (pH prximo do neutro - 7,3).
Aproveitando as caractersticas quelantes do EDTA e a propriedade anti-
sptica do perxido de uria, Stewart, Kapsimalas e Rappaport (1969) preconizaram
uma nova soluo auxiliar de instrumentao com a consistncia de um creme. Este
produto ficou conhecido comercialmente com o nome de RC-Prep. Contm 15% de
EDTA, 10% de perxido de uria e carbowax em quantidade suficiente para chegar
consistncia de creme. Segundo os autores, este produto seria um auxiliar da
limpeza e escultura do canal radicular. Neste estudo, demonstraram que o RC-
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Prep combinado com o hipoclorito de sdio a 5,0% era capaz de aumentar a
permeabilidade dentinria.
Com base no trabalho de Stewart, Kapsimalas e Rappaport (1969), Paiva e
Antoniazzi (1973), preconizaram o uso de um composto cremoso para a
instrumentao de canais radiculares, substituindo a soluo de EDTA do antigo
creme RC-Prep pelo Tween 80 na mesma porcentagem, ou seja, 15%. Os demais
componentes permaneceram como na frmula original: 10% de perxido de uria e
75% de Carbowax. Esse novo composto identificado como Endo-PTC, que
segundo os autores, auxiliaria o processo de limpeza das paredes do canal radicular,
diminuindo a tenso superficial da superfcie dentinria, permitindo que ele se
espalhe de maneira mais rpida e uniforme por toda superfcie do canal radicular. De
outro lado, o arranjo caracterstico da molcula do detergente lhe conferiu
propriedades umectantes e emulsionantes.
Robazza, Paiva e Antoniazzi (1981) constataram que o creme Endo-PTC,
neutralizado pelo lquido de Dakin, aumentava consideravelmente a permeabilidade
dentinria, especialmente no tero apical do canal radicular.
Aps muitas observaes, foi notificada a falta de uma substncia para a
lavagem final aps a instrumentao do canal radicular e viram no EDTA uma
soluo que sozinha ou associada, tinha as propriedades que se desejava e assim
comeou a ser utilizada com sucesso para a irrigao final. Yamada et al. (1983)
comprovaram que a combinao de 10ml de EDTA a 17% seguido de 10ml de
hipoclorito de sdio a 5,25% foi a que melhor removeu smear layer aps o preparo
biomecnico.
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Outras associaes tambm foram propostas, assim, pesquisadores
acrescentaram substncias na frmula do EDTA, como detergentes e tensoativos
(catinicos e aninicos) para aumentar a permeabilidade dentinria.
Paiva e Antoniazzi (1984) preconizaram o uso do EDTA preparado com uma
soluo aquosa de lauril dietilenoglicol ter sulfato de sdio a 0,125% (tergentol),
que um produto base de um tensoativo aninico. Essa soluo ficou conhecida
por EDTA-T.
Zuolo et al. (1987), estudaram o efeito do EDTA 15% (pH neutro) e suas
associaes com tensoativos (EDTA-T e EDTA-C) na permeabilidade radicular de
25 dentes humanos, instrumentados e irrigados com 3 ml de soluo irrigante final a
ser testada. Aps a secagem, os corpos-de-prova receberam reagentes qumicos
do ensaio histoqumico para determinar a permeabilidade dentinria, seguida da
quantificao pela anlise morfomtrica. Os autores comprovaram que o EDTA
associado a tensoativos pode aumentar a permeabilidade dentinria.
Zingg, Sakura e Moura (1997) avaliaram a remoo de smear layer durante a
irrigao final com EDTA, EDTA-T e cido ctrico, atravs de microscopia eletrnica
de varredura. Foram utilizados 11 dentes divididos em trs grupos, dos quais
obtiveram como resultado que, todas as substncias estudadas so capazes de
remover a smear layer no tero mdio com um declnio de eficincia para o tero
apical, sendo que o cido ctrico foi menos eficiente que o EDTA e o EDTA-T no
tero apical.
Lamaro e Lage-Marques (1997) avaliaram a limpeza de canais radiculares
aps o preparo qumico-cirrgico irrigados com EDTA-T a 17% em trs tcnicas
diferentes. Os dentes foram divididos em trs grupos de 10 dentes cada: GI)
irrigao final com 6ml de EDTA-T a 17%, GII) irrigao final com 6ml de EDTA-T a
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17% agitado por uma lima tipo K #10 a cada ml, (GIII) irrigao final com 6ml de
EDTA-T a 17% que permaneceu no canal por 15 segundos sem agitao. Os
resultados permitiram concluir que o GIII apresentou condies superiores de
limpeza no tero mdio sendo as concluses suportadas por anlises estatsticas.
Scelza (1998) estudou a capacidade de limpeza e remoo de smear layer do
canal radicular empregando trs conjuntos distintos de soluo irrigadoras. Concluiu
que o emprego da associao de hipoclorito de sdio a 0,5% e EDTA-T a 15% foi
mais eficiente, pela ordem, em relao s associaes hipoclorito de sdio a 1% e
cido ctrico a 10% e ao hipoclorito de sdio a 5,25% e gua oxigenada a 3%.
Carlik (2000) defendeu em sua tese de doutorado a influncia do tratamento
da dentina radicular no vedamento marginal apical de obturaes endodnticas,
utilizando trs substncias irrigadoras cidas, sendo o cido ctrico nas
concentraes 10%, 15% e 20%, EDTA-T a 17% e EDTAC a 17%. Aps o preparo
qumico-cirrgico foi efetuado o preenchimento dos canais por 3 min com as
substncias qumicas irrigantes, logo a seguir foi efetuado a obturao com cimento
de N-Rickert e por meio de mensurao da infiltrao do corante azul de metileno
com lupa estereoscpica, foi observado a infiltrao marginal apical das obturaes.
Os autores perceberam um aumento crescente da infiltrao do corante azul de
metileno nos canais tratados com cido ctrico correspondente ao aumento das
concentraes do cido. A maior mdia de infiltrao verificada ocorreu nos canais
tratados com EDTAC e as menores registradas com EDTA-T, ficando ento
comprovado que quando for realizar a obturao radicular com o cimento de N-
Rickert deve-se fazer irrigao final com EDTA-T a 17% porque apresentou menor
mdia de infiltrao marginal apical perante o corante azul de metileno.
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Di Lenarda, Cadenaro e Sbaizero (2000) compararam os efeitos do cido
ctrico e do EDTA alternados com hipoclorito de sdio na remoo do smear layer
em dentes instrumentados. Os autores analisaram os espcimes de forma qualitativa
e quantitativa, atravs da microscopia eletrnica de varredura, no encontrando
diferenas estatsticas significativas entre as solues irrigadoras estudadas.
Com auxlio da espectrofotometria de absoro atmica, Scelza et al. (2000)
avaliaram a capacidade de quelao de ons de clcio da dentina dos canais
radiculares, quando do emprego das solues de EDTA-T, cido ctrico a 10% e
EDTA. Os autores observaram que: quanto a capacidade de capturar ons de clcio,
houve diferena estatisticamente significante (p < 0,05) entre o EDTA-T e EDTA,
bem como entre o cido ctrico a 10% e EDTA-T. No entanto, no houve diferena
estatisticamente significante (p > 0,05) entre o cido ctrico e EDTA. No tocante ao
tempo de atuao das substncias houve diferena estatisticamente significante
(p < 0,05) entre 10 e 3 minutos e 15 e 3 minutos, porm entre 10 e 15 minutos essa
diferena no foi significante (p > 0,05).
Ribeiro (2001) constatou em seu estudo que: o hipoclorito de sdio a 1%
apresentou maior porcentagem de permeabilidade dentinria (13,4 %), enquanto
que o cido ctrico a 10% e o EDTA a 15% mostraram uma mdia de 10,5 % e 7,7%,
respectivamente. O autor relata que as solues de hipoclorito de sdio,
independentemente das concentraes utilizadas, promovem aumento da
evidenciao da permeabilidade dentinria em virtude da sua alta ao de solvncia
de tecido orgnico, limpando os canalculos dentinrios. Dessa forma, a smear layer
no impede a ao do hipoclorito de sdio por si s. O autor acredita que o smear
plug pode impedir a ao do hipoclorito de sdio no interior dos canalculos
dentinrios.
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Plo, Lage Marques e Shimabuko (2001), avaliaram a permeabilidade
dentinria aps o preparo qumico-cirrgico, utilizando como soluo irrigante final:
EDTA-T, gel Carisolv e soro fisiolgico (controle), tendo como soluo corante
escolhida para o trabalho a Rodamina B a 1%. Os dentes foram seccionados em
trs teros: cervical, mdio e apical e analisados atravs de imagens scaniadas e
com a utilizao de um programa digitalizado Image Lab 2.3. Foi possvel concluir
que a irrigao final aps o preparo qumico-cirrgico, com a utilizao do gel
Carisolv e do EDTA-T aumenta a permeabilidade dentinria nos trs teros
radiculares enquanto que o tero apical foi o menos permevel.
Plo (2002), em sua dissertao de mestrado, avaliou o efeito do Carisolv,
quando utilizado na irrigao final, sobre a espectrofotometria da coroa dental e
permeabilidade dentinria e teve como solues de comparao o EDTA-T e o soro
fisiolgico. Trinta dentes humanos tiveram seus canais preparados com
instrumentos endodnticos, Endo-PTC e lquido de Dakin. Aps o preparo qumico
cirrgico, os dentes foram divididos em trs grupos de 30 cada. No G-I, os canais
foram irrigados com soro fisiolgico, no G-II com EDTA-T e no G-III com Carisolv. A
espectrofotometria das coroas dentais foi executada antes e aps a irrigao final.
As mdias das variaes espectrofotomtricas (deltaE) foram: 3,50 (G-I), 3,42 (G-II)
e 2,56 (G-III), apresentando diferena estatstica entre os grupos avaliados (p
27
da camada residual aps o preparo do canal, e concluram que as melhores
concentraes para essa substncia quando utilizada na irrigao final de 15% ou
17%.
Considerando a necessidade da soluo irrigadora entrar em ntimo contato
com a parede dentinria, restos pulpares e detritos formados durante a
instrumentao, Carrasco, Pcora e Froner (2004) sugeriram o emprego do ultra-
som associado ao hipoclorito de sdio a 1% ou EDTA a 17% no assoalho da cmara
pulpar, mencionando que essa associao aumentou o poder de limpeza.
Em 2005, Carvalho, Habitante e Lage Marques avaliaram a alterao da
permeabilidade dentinria promovida pela substncia qumica Endo-PTC, tendo
como variao o veculo de sua composio. Observaram que os veculos da
substncia em gel ou creme, promoveram um grande aumento na permeabilidade
dentinria, no demonstrando diferenas estatstica significantes.
Souza, Pcora e Silva (2005) avaliaram o selamento do Cianocrilato Super
Bond e do sistema adesivo - Single Bond, aps a utilizao das solues irrigantes
empregada na terapia endodntica. A remoo do magma foi efetuada mediante o
emprego de hipoclorito de sdio a 1% e do EDTA a 17%. Verificaram que aps 90
dias de imerso em tinta da ndia houve diferena quanto qualidade do
vedamento: no subgrupo do Cianocrilato a infiltrao foi menor, no havendo
diferena quanto ao tipo de soluo. Nesse experimento, os autores puderam
concluir que as solues avaliadas podem afetar o selamento dos sistemas adesivos.
28
2.2 - Materiais Restauradores Provisrios
Os materiais provisrios so utilizados para vedar o acesso cavidade
protegendo os canalculos dentinrios expostos ou a entrada do canal radicular,
quando existe envolvimento endodntico. Neste aspecto, de suma importncia a
capacidade seladora do material utilizado com o objetivo de impedir a passagem de
fluidos, bactrias e toxinas.
Uma das maiores preocupaes na utilizao de materiais restauradores
provisrios diz respeito ao completo selamento coronrio da entrada dos canais
radiculares durante a terapia endodntica, j que na endodontia, o primeiro passo
para a conquista do sucesso a obteno da assepsia da cavidade pulpar durante o
desenvolvimento do tratamento e principalmente a sua manuteno aps o
tratamento endodntico.
Muitos estudos confirmam a importncia da obturao tridimensional do canal
radicular em previnir a (re) contaminao do complexo endodntico. Porm, to
importante quanto o selamento da regio apical o selamento coronrio. Assim,
alguns autores passaram a preocupar-se, ento, com a anlise desse selamento,
sendo que os trabalhos deixam claro que a infiltrao, via acesso coronrio, em
canais radiculares obturados pode permitir a contaminao do perpice e induzir o
aparecimento de periapicopatias (IMURA et al., 1997; CHAILERTVANITKUL et al.,
1997; ALMEIDA, 2001; WOLANEK et al., 2001; TIMPAWAT; AMORNCHAT;
TRISUWAN, 2001; MOREIRA et al., 2001; GALVAN JR et al., 2002; HOMMEZ;
COPPENS; MOOR, 2002; BALTO, 2002; MATOS; PIMENTA Jr; MELO, 2003;
BRITTO; GRIMAUDO; VERTUCCI, 2003; ADIB et al., 2004; SEGURA-EGEA et al.,
29
2004; USUMEZ et al., 2004; ZMENER; BANEGAS; PAMEIJER, 2004; WILLIAMSON
et al., 2005; PAPPEN et al., 2005; SHIPPER et al., 2005; SIQUEIRA JR et al., 2005).
Neste caso, o selamento coronrio hermtico torna-se imprescindvel para
impedir a contaminao do canal radicular, prevenindo assim a (re) infeco, alm
de possibilitar a ao da medicao utilizada como curativo de demora.
Atualmente esto disponveis no comrcio uma grande variedade de materiais
para serem utilizados como seladores provisrios, como exemplo podemos citar:
cimentos de xido de zinco e eugenol (Pulposan, IRM), cimentos de ionmero de
vidro (Vidrion R, Ketac-Fill, Vitremer), cimentos endurecidos por umidade (Cavit,
Cimpat, Colltosol, Citodur), materiais resinosos fotopolimerizveis (Fermit, TERM) e,
outros. Assim, vrias pesquisas tm sido realizadas com o objetivo de examinar a
eficincia do selamento marginal obtido com esses materiais.
Esberard et al. (1986) estudaram a capacidade seladora de 10 cimentos
provisrios utilizados na Endodontia. Para identificar a microinfiltrao marginal, os
autores utilizaram soluo aquosa Rodamina B a 2 %. Para este experimento, foram
utilizados 200 dentes humanos, extrados. As cavidades endodnticas foram
preparadas. Bolinhas de algodo foram colocadas na cmara pulpar, de modo a
deixar espao de 5 mm para ser preenchido com os cimentos testados. Aps o
selamento das cavidades, os dentes foram colocados em frascos contendo soluo
aquosa rodamina B a 2 %, na qual permaneceram por 7 dias temperatura de 37C.
Os resultados evidenciaram que era possvel ordenar os cimentos, do melhor para o
pior, em relao microinfiltrao marginal, da seguinte forma: Lumicon, xido de
zinco-eugenol, Cimpat-Rose, Coltosol, Pulpo San, Cavit R, Cavit W, Fosfato de
Zinco, IRM e Gutta-percha.
30
Avaliando quantitativamente as propriedades do selamento coronrio de
vrios materiais restauradores provisrios, usados em acessos endodnticos,
Bobotis et al. (1989) testaram o Cavit, Cavit G, TERM, cimento ionmero de vidro,
cimento fosfato de zinco, cimento policarboxilato e IRM pelo mtodo de infiltrao de
fluidos. Neste experimento, foram utilizados incisivos, caninos e pr-molares
humanos extrados que, aps o preparo do canal radicular, receberam bolinhas de
algodo no canal radicular, deixando espao remanescente na cmara pulpar de 4
mm para colocao do material restaurador provisrio. Imediatamente, aps a
colocao do selador provisrio, os dentes foram imersos em soluo Ringer
corada. A microinfiltrao foi medida nos intervalos de tempo: 1 hora, 24 horas e 8
dias. Os autores concluram que o Cavit, Cavit G, TERM, e o cimento ionmero de
vidro no permitiram a infiltrao durante oito semanas. J em quatro dos dez
dentes restaurados com cimento fosfato de zinco, IRM e cimento policarboxilato, a
infiltrao foi observada.
Fidel et al. (1991) relacionaram in vivo o comportamento dos materiais
seladores provisrios, cimento xido de zinco-eugenol, Cavit e Coltosol com as
condies da cavidade endodntica. Os pacientes submetidos ao tratamento
endodntico receberam, como selador provisrio, um dos materiais estudados.
Foram utilizados, para este experimento, 232 dentes permanentes posteriores (pr-
molares e molares), os quais receberam os materiais estudados, sendo o tempo
entre as sesses de sete dias. Neste trabalho, os autores concluram que o nmero
de paredes de uma cavidade endodntica significativamente importante para a
manuteno da integridade de um material selador provisrio. Em cavidades,
clssicas os materiais testados comportam-se bem. Dos materiais seladores
31
testados, nas condies do experimento, o Cavit e o Coltosol apresentaram-se
superiores ao cimento de xido de zinco-eugenol.
Sousa, Bernardineli e Berbert (1994), se propuseram comparar a infiltrao
marginal em 6 materiais seladores temporrios. Sessenta dentes pr-molares
inferiores humanos extrados foram selecionados. Aps as aberturas coronrias e
remoo do tecido pulpar, uma bolinha de algodo foi colocada na cmara pulpar, e
a cavidade selada com um dos seguintes materiais: Cimpat B, Cimpat R, Coltosol,
Restemp, JMG e Zoecim. Os dentes foram imersos em saliva artificial contendo azul
de metileno a 0,2 % e submetidos a 3 ciclagens trmicas (5C e 60C) por 30
minutos. A anlise dos dados no detectou nenhuma diferena estatstica
significante entre os grupos.
Andrade et al. (1996) avaliaram in vitro a microinfiltrao marginal em
cavidades de classe V restauradas com dois cimentos ionomricos fotoativados
Variglass (M2) e Vitremer (M3) e um cimento de ativao qumica - Vidrion R (M1).
Sessenta cavidades foram confeccionadas nas faces vestibular e lingual de trinta
terceiros molares recm-extrados. Em seguida foram restaurados com os
respectivos materiais, conforme instrues dos fabricantes. Aps a anlise
estatstica verificou-se que na parede oclusal os materiais apresentaram diferentes
nveis de infiltrao, sendo que M2 apresentou menor grau de infiltrao, seguido de
M3 e M1. Para parede cervical os materiais apresentaram comportamento
semelhante, com alto ndice de infiltrao marginal.
O propsito da pesquisa realizada por Pinheiro, Santos e Scelza (1997) foi
investigar a infiltrao marginal de alguns materiais restauradores provisrios. Cavit,
Cimpat, Coltosol e Vidrion C. Foram selecionados 100 dentes humanos posteriores
recm-extrados. O corante empregado foi o azul de metileno a 2% pela tcnica da
32
termociclagem. Para avaliao da infiltrao marginal aplicou-se o teste no-
paramtrico de Kruskal-Wallis. Em ordem crescente de infiltrao obteve-se o
seguinte resultado: 1) Cavit; 2) Cimpat; 3) Vidrion C; 4) Coltosol.
Bonetti Filho, Ferreira e Loffredo (1998) analisaram a capacidade seladora de
cinco cimentos provisrios atravs da infiltrao do corante azul de metileno em
ambiente normal e a vcuo. Foram usados 100 dentes pr-molares humanos em
cavidades padronizadas e seladas com os materiais. O vcuo possibilitou a
eliminao de variveis nas anlises, uma vez que retirou os bolses de ar das
falhas do selamento. Neste experimento, os autores concluram que a ordem dos
seladores, do mais eficiente para o menos, foi: Lumicon, Coltosol, Pulpo San, IRM e
Zoecim. O emprego do vcuo no alterou a classificao dos cimentos, havendo
diferenas de infiltrao com e sem vcuo apenas quantitativamente. Os autores
relatam que a espessura do cimento provisrio no deve ser inferior a 3,5 mm de
profundidade para manter um bom selamento.
Barthel et al. (1999) avaliaram a infiltrao marginal de diferentes materiais
seladores temporrios (Cavit, IRM, cimento de ionmero de vidro, Cavit/cimento de
ionmero de vidro, IRM/cimento de ionmero de vidro). Foi utilizada como
identificadora da infiltrao no interior dos canais radiculares a bactria
Streptococcus mutans. O Cavit, o IRM e a associao Cavit/cimento de ionmero de
vidro demonstraram significantemente mais infiltrao do que o de cimento de
ionmero de vidro e a associao IRM/cimento de ionmero de vidro. Todos os
materiais estudados, exceto o IRM e cimento de ionmero de vidro, apresentaram
infiltrao antes de 12 dias.
Hosoya et al. (2000) compararam in vitro a capacidade seladora de cinco
materiais provisrios utilizados durante o clareamento dental. Todos os dentes foram
33
submetidos ao tratamento endodntico tradicional e, posteriormente, terapia de
clareamento dental. Os materiais seladores provisrios utilizados foram: Fermit,
Cavit, Coltosol, xido de zinco-eugenol e Cimento Fosfato de Zinco utilizados
isoladamente sobre a pasta clareadora ou com uma camada intermediria de
borracha entre o material clareador dental e o material selador provisrio. Os dentes
foram imersos em corante azul de alcian a 1% e ciclados termicamente. Aps uma
semana, os dentes foram seccionados longitudinalmente e avaliados de acordo com
a penetrao do corante (escores de 0 a 3). O Cavit e o Coltosol apresentaram o
menor ndice de infiltrao do corante quando comparados resina fotoativada. O
xido de zinco-eugenol e o cimento fosfato de zinco apresentaram considervel
infiltrao.
Buscando avaliar o selamento marginal de cinco materiais seladores
provisrios (Coltosol, Algenol, IRM, Fermit e Fermit-N) em cavidades endodnticas,
usando o mtodo da penetrao de corante, Uctasli e Tinaz (2000) prepararam em
100 dentes humanos hgidos (50 incisivos e 50 molares) o acesso coronrio de 10
dentes por grupo. Aps a insero dos materiais na cavidade, os dentes foram
armazenados na gua desmineralizada por 48 horas, logo em seguida, foram
imersos no corante do azul de metileno a 2% por 24 horas. Todos os grupos foram
secionados longitudinalmente e a profundidade linear da penetrao do corante foi
avaliada sob um estereoscpio. No houve nenhuma diferena significativa nos
grupos observados.
Em 2001, Travassos et al., avaliaram a capacidade de vedamento marginal
de alguns materiais provisrios, bem como estabeleceram uma classificao de
eficincia entre eles. Realizaram a abertura coronria de 50 incisivos inferiores e
aps o preparo biomecnico, introduziram um cone de papel absorvente e uma
34
pelota de algodo foi adaptada na cmara pulpar. Em seguida, os dentes foram
restaurados com xido de zinco e eugenol (Grupo 1); Cavitec (Grupo 2); IRM (Grupo
3); Resina composta hbrida - Suprafill (Grupo 4) e Vitremer (Grupo 5). Aps
termociclagem (125 ciclos), os corpos de prova foram imersos em Fucsina bsica a
0,5 por cento por 24 horas; lavados e seccionados para verificar o grau de infiltrao
marginal atravs de valores numricos: 0, 1, 2, 3 e 4. Os dados obtidos mostraram
que os Grupos 4 e 5 apresentaram maior capacidade de selamento.
O intuito da pesquisa realizada por Zaia et al. (2002) foi avaliar o selamento
coronrio de IRM, Coltosol, e Vidrion R depois do tratamento endodntico. Foram
utilizados 100 molares inferiores humanos. Dois milmetros dos materiais
restauradores foram colocados sobre assoalho da cmara da pulpar. Os dentes
foram termociclados e imersos em tinta da ndia por 5 dias. Logo aps, os corpos-
de-prova foram diafanizados e as medidas foram feitas ao ponto mximo da
penetrao do corante. A penetrao mdia do corante para cada grupo foi
comparada pelo teste de Kruskal-Wallis. Nenhum dos materiais conseguiu impedir a
infiltrao coronria. Coltosol e IRM selaram significativamente melhor do que
Vidrion R, impedindo a infiltrao coronria em 84% e em 75% dos espcimes,
respectivamente.
Tselnik, Baumgartner e Marshall (2004) investigaram a capacidade seladora
de dois materiais provisrios (MTA e Ionmero hbrido - Fuji II LC). Setenta e oito
molares humanos extrados foram selecionados e obturados. Aps o tratamento
endodntico, os dentes foram divididos em dois grupos de 36 cada, e adicionados
trs controles positivos e trs controles negativos. Depois de preparada a cavidade
de acesso endodntico, os materiais foram introduzidos na cavidade de cada grupo
com 3,0 mm de profundidade. Os corpos-de-prova foram inoculados com a
35
suspenso de microorganismos salivares, sendo ento registrada a capacidade
seladora nos perodos de 30, 60 e 90 dias. O experimento no noticiou diferenas
significantes entre o MTA e Fuji II LC.
Em 2005, Marques et al., avaliaram a capacidade de selamento do Bioplic,
Coltosol, Ionmero de Vidro e Resina Composta. Cavidades de acesso coronrio
padronizadas (classe II) foram realizadas em quarenta e dois dentes pr-molares
superiores humanos. Os espcimes foram restaurados provisoriamente com os
materiais testados, termociclados e imersos no corante azul de metileno a 1% por 7
dias. Todos os seladores testados apresentaram infiltrao coronria, sendo que o
Coltosol e o Bioplic apresentaram comportamento homogneo no que se refere ao
grau de infiltrao e foram considerados mais eficazes do que a Resina Composta e
o Ionmero de Vidro, quando utilizados como material restaurador.
36
3 PROPOSIO
Com base na escassez de dados observados na literatura com relao aos
efeitos das substncias qumicas auxiliares na superfcie coronria, e baseado nas
evidncias da infiltrao dos materiais restauradores provisrios base de xido de
zinco e ionmero de vidro, constitui como proposta deste experimento:
3.1. Analisar a capacidade seladora de dois materiais restauradores
provisrios atravs da infiltrao do corante na interface material restaurador/ tecido
dental, pela massa do material e da interface material restaurador/ tecido dental at
a superfcie dental externa, nos diferentes perodos de avaliao.
3.2. Analisar a influncia na permeabilidade coronria, por ao de
substncias qumicas utilizadas no tratamento endodntico.
37
4 MATERIAIS E MTODO
4.1. Seleo dos espcimes
Obedecendo aos critrios e aprovao do Comit de tica em Pesquisa da
Universidade Federal do Par sob o protocolo n. 078/2005 CEP/UFPA-CCS, foram
utilizados 80 primeiros e segundos molares permanentes, superiores e inferiores,
hgidos ou com crie insipiente na oclusal, extrados por indicao periodontal.
Imediatamente aps a exodontia, os dentes foram limpos por meio do
aparelho de ultra-som (Profilax III) e curetas periodontais (Trinity) e armazenados
em gua destilada temperatura ambiente por um perodo mximo de 6 meses at
sua utilizao.
4.2. Padronizao das cavidades
Inicialmente foi realizada a cirurgia de acesso cmara pulpar de todos os
dentes de acordo com Ingle et al. (1979). Para isto foi utilizada broca esfrica
diamantada n 1014HL (KG Sorensen) acionada por alta rotao (Dabi Atlant),
refrigerada com jato de gua. O alisamento das paredes foi realizado com broca
Endo-Z (Maillefer Intruments S/A) tambm acionada por meio de alta-rotao (Dabi
Atlant) at obter-se paredes circundantes padronizadas com 2 mm de espessura que
foram aferidas com auxlio de um especmetro (Bio-art) na regio correspondente
38
profundidade de 4 mm. A medida da profundidade foi controlada com uma sonda
periodontal milimetrada (Trinity) tendo como referncia o ngulo cavo-superficial. Em
seguida, a cmara pulpar foi fartamente irrigada com 15 ml de hipoclorito de sdio
0,5% (Frmula & Ao Farmcia) concomitante a aspirao.
A entrada dos canais foi localizada com explorador reto (Duflex) e
posteriormente preparada, coadjuvada pelo creme Endo-PTC (Frmula & Ao
Farmcia), segundo a tcnica preconizada por Paiva e Antoniazzi (1993). A cmara
pulpar foi preenchida com lquido de Dakin (Frmula & Ao Farmcia) e uma
pequena quantidade de Endo-PTC (Frmula & Ao Farmcia) e utilizando-se
instrumentos rotatrios, Gates-Glidden e Largo (Maillefer Intruments S/A), em baixa
rotao (500 a 1000 rpm) foi aprofundado cerca de 2mm no tero cervical dos canais,
sendo ento, novamente, irrigada com 15ml de lquido de dakin (Frmula & Ao
Farmcia) concomitante aspirao.
Promovendo o toalete das paredes dentinrias foi utilizado 15ml de EDTA-T a
15% (Frmula & Ao Farmcia), seguido de aspirao. Logo aps, os canais foram
secos, por meio de cones de papel absorvente (Dentsply) e posteriormente, uma
pelota de algodo estril (Cremer) bem compactada foi colocada na cmara pulpar e
sobre esta foi colocada uma pequena quantidade de guta-percha em basto (G-C
Chemical), deixado um espao entre o ngulo cavo-superficial e a guta-percha de 4
mm, o qual foi aferido com auxlio de sonda milimetrada, para que a profundidade
pr-estabelecida para insero do material restaurador provisrio fosse mantida.
39
4.3. Restaurao das cavidades
Completado o preparo dos 80 espcimes, estes foram divididos
aleatoriamente em 2 grupos experimentais, de acordo com o tipo de material
restaurador a ser utilizado, com 40 espcimes cada:
a) Grupo I Cimento de xido de Zinco - Coltosol
b) Grupo II Cimento de Ionmero de Vidro Hbrido Restaurador Vitremer
Figura 4.1 - Representao esquemtica das medidas utilizadas para a confeco das cavidades
Figura 4.2 - Materiais restauradores utilizados no estudo
40
Quadro 4.1 - Relao dos materiais restauradores utilizados no experimento, seguido de lote, fabricante e composio dos mesmos
No Grupo I, o material provisrio, Coltosol, foi introduzido em um nico
incremento na cmara pulpar com uso de uma esptula n 1(Duflex), seguindo as
recomendaes do fabricante.
No Grupo II, o primer foi aplicado com a utilizao de um microbrush
(Optimum) e aps 30 segundos foi fotopolimerizado por 20 segundos. O cimento de
ionmero de vidro hbrido restaurador foi manipulado conforme instrues do
fabricante e inserido na cavidade com auxlio de seringa tipo Centrix (DFL), em um
nico bloco, em seguida foi realizada a remoo dos excessos e adaptao do
material com a esptula n 1 (Duflex). Posteriormente, o material restaurador foi
fotopolimerizado por 40 segundos e logo a seguir, foi realizada a aplicao do
finishing-gloss e fotopolimerizao por 20 segundos.
MATERIAL
LOTE
FABRICANTE
COMPOSIO
COLTOSOL
NH01
Vigodent
xido de zinco, sulfato de zinco - hidratado, sulfato de clcio hemidratado, diatomcea de terra, dibutil ftalato, copolmero cloreto de polivinila, aroma de hortel.
VITREMER
07084
3M Dental Products
Primer - Copolmero do cido polialcenico modificado, grupos metacrilatos, etanol, canforoquinona. P - Cristais de fluoralumniosilicato, persulfato de potssio, cido ascrbico e pigmentos. Lquido - cido polialquenico, grupos metacrilatos, gua, HEMA, canforoquinona. Finishing Gloss - Bis-GMA, TEGDMA e fotoiniciador.
41
Terminadas as restauraes, os corpos-de-prova foram mantidos imersos em
gua destilada, por 24 horas em estufa temperatura de 37C.
Passadas as 24 horas, os corpos-de-prova foram submetidos ciclagem
trmica em um aparelho prprio para este fim (tica Equipamentos Cientficos S/A
So Paulo), onde foram realizados 500 ciclos a temperaturas de 5C e 55C, com
tempo de permanncia em cada banho de 30 segundos.
Seguiu-se novamente a armazenagem dos espcimes em uma estufa 37C
imersos em gua destilada, por 7 dias.
4.4. Preparo dos corpos-de-prova para o teste de infiltrao
Em seguida, cada grupo foi sub-dividido em 2 novos grupos contendo 20
dentes cada. Com a utilizao de um paqumetro foi determinado o limite da
impermeabilizao, que variava de acordo com os grupos a seguir. Para a
impermeabilizao, a superfcie do dente foi pincelada com cianocrilato (Super
Bond), utilizando-se cone de papel absorvente, onde procedeu-se a aplicao de
trs camadas com intervalo de 3 minutos entre cada uma para a secagem do
produto (LAGE MARQUES, 1992; LAURETI, 1999).
4.4.1. Grupo I (selamento coronrio com coltosol):
a) Grupo I.1: as camadas de cianocrilato foram aplicadas em toda a superfcie do
dente, com exceo de 1 mm da interface entre o material restaurador e o tecido
dental (Figura 4.3).
42
b) Grupo I.2: as camadas de cianocrilato foram aplicadas, somente na superfcie
radicular e sobre o material selador (estendendo 1 mm da interface entre o material
restaurador e o tecido dental), deixando a superfcie coronria exposta a penetrao
do corante (Figura 4.4).
4.4.2. Grupo II (selamento coronrio com ionmero de vidro hbrido):
A aplicao do material impermeabilizante (Cianocrilato) foi a mesma descrita
para o Grupo I, originando, desta forma, os Grupos II.1 e II.2.
Figura 4.4 Representao esquemtica dos corpos-de-prova impermeabilizados (Grupos I.2 e II.2)
Figura 4.3 Representao esquemtica dos corpos-de-prova impermeabilizados (Grupos I.1 e II.1)
43
Na etapa seguinte, os Grupos I.1, I.2 (Colltosol) e II.1, II.2 (Ionmero de vidro
modificado por resina) foram divididos em 2 subgrupos contendo 10 corpos-de-prova
cada, para imerso em soluo corante por diferentes perodos de tempo.
Os Subgrupos I.1.1, I.2.1, II.1.1 e II.2.1 permaneceram imersos no corante
azul de metileno a 2% (Farmcia Artesanal) com ph 7,2 em uma estufa
temperatura de 37 C, com ambiente de 100% de umidade relativa, por 7 dias. J
nos Subgrupos I.1.2, I.2.2, II.1.2 e II.2.2 foi utilizada a mesma metodologia acima,
somente com alterao no tempo de imerso, que foi de 30 dias (Figura 4.5 e 4.6).
Tabela 4.1 - Subgrupos e metodologia empregada
IMPERMEABILIZAO IMERSO NO CORANTE
GRUPO
Selamento Coronrio
Permeabilidade Dentria
07 dias
30 dias
I.1.1 X
I I.1 X I.1.2 X
(Coltosol) I.2 X I.2.1 X
I.2.2 X
II.1.1 X
II II.1 X II.1.2 X
(CIVMR) II.2 X II.2.1 X
II.2.2 X
Figura 4.5 Esquema ilustrando os corpos-de-prova do Grupo I e II imersos em soluo corante por diferentes perodos de tempo para anlise do Selamento Coronrio
44
4.5. Preparo dos corpos-de-prova para leitura das amostras
Completado os prazos experimentais de imerso em corante, os corpos-de-
prova foram lavados abundantemente em gua corrente por 4 horas para eliminao
do excesso do corante e, depois, deixados a secar por um perodo de 24 horas em
condies ambientes.
Depois de completamente secos, os corpos-de-prova foram sulcados
longitudinalmente no sentido Mesio-Distal com discos diamantados dupla face
(FGM), montado no micromotor (Dabi Atlant) e com auxilio de um clivador composto
de duas lminas de ao formando uma guilhotina, sendo que uma das lminas foi
fixada a uma base de resina acrlica e a outra ficava livre. As razes foram seguras
por um alicate ortodntico (Healthco) para que fossem fixadas s lminas, e, com
auxlio de martelo cirrgico (Fava), foi feita a clivagem, permitindo assim obter duas
hemi-sesses em forma de meia-cana, uma vestibular e outra palatina (Figura 4.7).
Figura 4.6 Esquema ilustrando os corpos-de-prova do Grupo I e II imersos em soluo corante por diferentes perodos de tempo para anlise da Permeabilidade Dentria
45
A B
4.6. Leitura do selamento coronrio e da permeabilidade dentria
A seco que apresentou a maior extenso de manchamento do corante em
cada corpo-de-prova foi selecionada e levada leitura em um Estereoscpio (Carl
Zeiss Jena), com aumento de 25 vezes, onde foi possvel mensurar linearmente a
penetrao do corante.
Nos Grupos I.1 e II.1 correspondentes ao teste do selamento coronrio foram
realizadas 3 anlises quantitativas da penetrao do corante (Figura 4.8):
a) No sentido vertical, do ngulo cavo-superficial da cavidade at toda a
extenso de penetrao do corante na interface material restaurador/ tecido dental.
b) No sentido vertical, do ngulo cavo-superficial da cavidade at toda a
extenso de penetrao do corante na massa do material.
c) No sentido horizontal, da interface material restaurador/ tecido dental at a
superfcie dental externa.
Nos Grupos I.2 e II.2, da superfcie dental externa at a parede dentinria, na
regio que corresponde a profundidade de 4 mm/ material restaurador.
Figura 4.7 Esquema ilustrando o preparo dos corpos-de-prova para leitura das amostras: (A) Dente sendo sulcado longitudinalmente no sentido Mesio-Distal com disco diamantado de face dupla e (B) Clivador e dente posicionado para seccionamento
46
4.7. Anlise Estatstica
Os valores apresentados foram ordenados e tabulados, e assim, obtidas as
mdias e desvios-padro em funo dos grupos e tempos experimentais.
Os dados obtidos foram submetidos anlise estatstica utilizando-se o Teste
T Student e Mann-Whitney (programa estatstico BioEstat 3.0).
As diferenas estatsticas foram consideradas significantes ao nvel de 5%
(p
47
5 RESULTADOS
Neste captulo, encontram-se os resultados obtidos com os mtodos
descritos. Os dados originais que se encontram agrupados nos Apndices
permitiram a elaborao das anlises estatsticas das tabelas e dos grficos aqui
expostos. Para facilitar a anlise dos resultados, estes foram divididos por tipo de
experimento efetuado (Selamento Coronrio e Permeabilidade Dentria).
5.1 Selamento Coronrio
As mdias de infiltrao evidenciada pelo corante azul de metileno a 2% ao
longo da interface dente/material restaurador e pela massa do material, medidas em
milmetros, assim como os desvios padro esto representados na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 Valores mdios e desvio padro, em milmetros, de penetrao do corante encontrados nos grupos experimentais estudados
MATERIAL INTERFACE
GRUPOS
Mdia
Desvio Padro
Mdia
Desvio Padro
I 7 dias 1,51 0,13 4,00 0
(Coltosol)
30 dias 2,68 0,32 4,00 0
II 7 dias 0,07 0,03 0,81 0,57
(Vitremer)
30 dias 0,08 0,03 4,00 0
48
Na seqncia, foram feitas comparaes individualizadas entre os grupos
com mdias de valores e analisadas pelo Teste Mann Whitney, cujas ilustraes
esto nas Figuras 5.1, 5.2, 5.3, 5.4, 5.5 e 5.6.
Avaliando individualmente cada comparao observou-se que o Grupo I
Coltosol, na Figura 5.1, onde a infiltrao pela interface dente-restaurao foram
comparadas entre os grupos experimentais e perodos de avaliao, infiltrou mais
que o Grupo II Vitremer no perodo de 7 dias. A aplicao do teste estatstico,
quando se comparou os valores mdios de penetrao de corante pela interface,
demonstrou que houve uma diferena estatstica significante entre os materiais no
perodo de 7 dias (p
49
tratamento estatstico. Atravs do teste no paramtrico foi detectada uma diferena
significante entre os grupos experimentais nos perodos de 7 e 30 dias (p
50
Entretanto, na Figura 5.4, os valores das mdias de infiltrao do Grupo I
Coltosol demonstraram que no houve diferena estatstica significante nos perodos
observados (p>0,05) na interface dente/restaurao. J o Grupo II Vitremer
apresentaram diferenas significantes entre os perodos 7 e 30 dias.(p
51
Figura 5.6 Comparao das mdias obtidas no teste de infiltrao do Grupo II
(Vitremer) na interface e massa do material, em funo dos perodos observados
Por fim, as mdias e os respectivos desvios padro da permeabilidade
dentinria, encontram-se descritos na Tabela 5.2.
Tabela 5.2 Mdias e desvios padro, em milmetros, por grupo experimental
Os valores da permeabilidade dentinria foram submetidos anlise
estatstica (Teste T Student) que demonstrou no haver diferena estatstica
significante entre os grupos experimentais nos perodos observados (p>0,05)
conforme pode ser visto na Figura 5.7.
GRUPOS
Mdia
Desvio Padro
I 7 dias 0,74 0,44
(Coltosol) 30 dias 1,44 0,22
II 7 dias 0,72 0,39
(Vitremer)
30 dias 1,41 0,32
PERMEABILIDADE DENTINRIA
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
7 dias 30 dias
Material
Interface
52
Figura 5.7 Comparao das mdias de infiltrao pela parede dentinria de cada amostra, obtidos nos diferentes grupos, em funo dos perodos observados
5.2 Permeabilidade Dentria
Os resultados quanto permeabilidade dentria foram obtidos de acordo com
a infiltrao do corante azul de metileno 2% atravs da superfcie dentria. Os nveis
de infiltrao do corante podem ser observados na Tabela 5.3 e ilustrado na Figura
5.8.
Tabela 5.3 Valores mdios e desvio padro, em milmetros, de infiltrao do
corante nos tecidos dentrios nos grupos experimentais
PERMEABILIDADE DENTRIA
GRUPOS
Mdia
Desvio Padro
I 7 dias 2,00 0
(Coltosol) 30 dias 2,00 0
II 7 dias 2,00 0
(Vitremer) 30 dias 2,00 0
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
7 dias 30 dias
Coltosol
Vitremer
53
Em todos os corpos-de-prova analisados, o corante infiltrou-se no esmalte,
estendendo-se alm da juno amelodentinria, infiltrando a dentina, atingindo a
cmara pulpar.
Figura 5.8 Comparao das mdias de infiltrao do corante nos tecidos dentais
nos diferentes grupos em funo dos perodos observados
Em seguida observam-se as Figuras 5.11, 5.12, 5.13 e 5.14 representam
aspectos do padro da Infiltrao Marginal e Permeabilidade Dentria dos diferentes
grupos de estudo.
0
0.5
1
1.5
2
7 dias 30 dias
Coltosol
Vitremer
54
A B
A B
A B
A B
Figura 5.11 Aspecto padro da infiltrao marginal apresentado pelo Grupo I - Coltosol: (A)
Perodo de 7 dias e (B) Perodo de 30 dias
Figura 5.12 Aspecto padro da infiltrao marginal apresentado pelo Grupo II - Vitremer: (A)
Perodo de 7 dias e (B) Perodo de 30 dias
Figura 5.14 Aspecto padro da permeabilidade dentria apresentado pelo Grupo II - Vitremer: (A) Perodo de 7 dias e (B) Perodo de 30 dias
Figura 5.13 Aspecto padro da permeabilidade dentria apresentado pelo Grupo I Coltosol: (A) Perodo de 7 dias e (B) Perodo de 30 dias
55
6 DISCUSSO
O combate de microorganismos presentes na flora endodntica e a preveno
de recontaminao do canal radicular tem sido a grande preocupao dos
endodontistas. Essa situao ainda mais grave, aps a concluso do tratamento
endodntico quando h demora na restaurao definitiva, pois o rompimento do
selamento provisrio pela dissoluo do material, fratura da restaurao, infiltrao
da saliva na interface material/tecido dental ou trinca na estrutura dentria pode
contribuir para o fracasso teraputico.
Durante o preparo biomecnico, as substncias qumicas contribuem
efetivamente na limpeza das paredes dentinrias, quer na desintegrao tecidual,
quer na lise de microorganismos presentes no sistema de canais radiculares ou
mesmo na remoo de smear layer. Dessa forma, entre todas as propriedades das
substncias qumicas auxiliares, o aumento da permeabilidade dentinria sem
dvida uma das mais importantes, pois sabe-se que microorganismos so
encontrados no s na luz do canal principal, mas tambm no interior dos tbulos
dentinrios. Assim, elas devem promover um aumento da permeabilidade dentinria,
produzindo superfcies livres de raspa de dentina e com maior quantidade de tbulos
dentinrios expostos e dilatados de modo a possibilitar a destruio ou inativao da
vida microbiana dentro dos tbulos dentinrios (NIKIFORUK; SREEBNY, 1953;
PAIVA; ANTONIAZZI, 1973; RALDI; LAGE-MARQUES, 2003).
56
Desse modo, o sucesso do tratamento endodntico consiste principalmente
na obteno da assepsia da cavidade pulpar, onde a sanificao e a manuteno
desta, durante o desenvolvimento do tratamento e aps a terapia endodntica, so
de extrema importncia para a recuperao do elemento dental em seus aspectos
funcionais e estticos.
Analisando os resultados da literatura (WOLANEK et al., 2001; TIMPAWAT;
AMORNCHAT; TRISUWAN, 2001; GALVAN JR et al., 2002; HOMMEZ; COPPENS;
MOOR, 2002; ADIB et al., 2004; SEGURA-EGEA et al., 2004; SIQUEIRA JR et al.,
2005) percebe-se que as pesquisas tem dado fundamental importncia inter-
relao entre tratamento endodntico e restaurao coronria, seja ela definitiva ou
no, evitando, desta forma, a infiltrao de fluidos da cavidade oral entre sesses ou
posteriormente obturao dos canais radiculares, prevenindo assim, a
recontaminao bacteriana e conseqentemente diminuindo as chances de um
insucesso teraputico.
No presente trabalho, a escolha dos materiais deu-se em funo daqueles
que so relativamente os mais empregados por diferentes profissionais: o Coltosol,
constitudo basicamente por xido de zinco e sulfato de clcio, bem como, materiais
que apresentam adeso ao esmalte e a dentina como o cimento de ionmero de
vidro modificado por resina Vitremer, para situaes quando o material selador, por
motivos endodnticos, teria a necessidade imperiosa de permanecer por um perodo
prolongado.
Os resultados deste trabalho demonstraram que nenhum material estudado
foi capaz de impedir totalmente a infiltrao marginal, embora evidenciando uma
diferena estatstica significante entre os mesmos (p
57
ionmero de vidro modificado por resina (Vitremer) apresentou menor nvel de
infiltrao no perodo de 7 dias.
A maior eficcia em reduzir a infiltrao, pode ser atribuda sua
caracterstica de adeso por meio da quelao de ons de clcio e pela unio
micromecnica, em decorrncia da presena de monmeros hidroflicos,
comparados unio puramente mecnica dos cimentos base de xido de zinco e
sulfato de clcio (Coltosol). Um outro fator a ser considerado seria sua reao de
presa mais rpida, conseguida com a ativao pela luz, reduzindo a facilidade com
que o material, sofra sinerese ou embebio com o meio. Esses dados esto de
acordo com os trabalhos de Bijella, Bijella e Silva (2001), Dibb et al. (2001), Carrara,
Abdo e Silva (2001), Gupta, Khinda e Grewal (2002), Farias, Avelar e Bezerra
(2002), Tselnik, Baumgartner e Marshall (2004), Shinohara et al., (2004) e, Hoshi,
Silva e Pavarini (2005) que consideram o Vitremer como um bom selador quanto a
infiltrao coronria. Enquanto, Utasli e Tinaz (2000), Fidel et al., (2000), Hosoya et
al. (2000), Sauia et al. (2001), Balto (2002), Zaia et al., (2002), Zmener, Banegas e
Pameijer (2004) e Marques et al. (2005), encontraram resultados diferentes, onde o
cimento base de xido de zinco e sulfato de clcio foi significantemente melhor em
impedir a infiltrao marginal, em relao aos materiais restauradores que
apresentam alguma forma de adeso estrutura dentria.
Alguns autores, Utasli e Tinaz (2000) e Hosoya et al. (2000) acreditam que a
expanso linear resultante da absoro de gua durante a presa, aumenta o contato
entre o material e o acesso cavitrio, elevando a qualidade do selamento. Outros
como, Balto (2002), Zaia et al., (2002) e Zmener, Banegas e Pameijer (2004)
afirmam que materiais prontos para o uso so superiores aos que requerem
espatulao, pois fatores na manipulao podem influir adversamente tanto nas
58
propriedades dos materiais, como no selamento. Acredita-se que fatores relativos a
apresentao comercial dos materiais, no devem servir de eleio quando se
pretende manter uma condio j obtida em tratamentos anteriores. Convm
ressaltar que nesta pesquisa, utilizou-se a proporo e a manipulao de acordo
com as recomendaes do fabricante, as quais so baseadas em normas tcnicas,
garantindo a obteno das propriedades qumicas e mecnicas dos materiais.
O emprego do cimento de ionmero de vidro sem as devidas exigncias
tcnicas um outro fator a ser considerado nas pesquisas, ressalta-se que um dos
cuidados que se deve ter nas restauraes com os cimentos de ionmero de vidro
seria sua proteo superficial imediata aps a restaurao. Apesar da reao de
presa inicial ser conseguida com a ativao pela luz, reduzindo a facilidade com que
o material sofra sinerese ou embebio com o meio, os cimentos de ionmero de
vidro fotoativados ainda apresentam uma reao cido-base que se prolonga por
aproximadamente 24 horas e, portanto, podem sofrer conseqncias da hidratao
e desidratao precoce.
Com base no exposto acima, observa-se que Fidel et al. (2000) e Zaia et al.,
(2002) apresentaram resultados divergentes em relao ao cimento de ionmero de
vidro, no entanto, ambos no realizaram a proteo superficial da restaurao.
Esta divergncia provavelmente ocorre devido s variaes das metodologias
empregadas principalmente com relao s substncias qumicas auxiliares durante
o preparo biomecnico e outros fatores como, a padronizao do volume da
cavidade, armazenagem prvia dos dentes antes dos testes, pH da soluo corante
e proteo da restaurao.
Observando as pesquisas de Utasli e Tinaz (2000) e Fidel et al. (2000), nota-
se que as substncias qumicas no so utilizadas no preparo endodntico, o que
59
pode mascarar ou alterar os resultados dos trabalhos, devido presena de smear
layer, servindo como um obstculo unio dos materiais restauradores dentina.
A profundidade da cavidade fator importante, pois o material deve possuir
certa espessura para poder propiciar um correto selamento. Assim, a espessura do
selador foi padronizada em 4 mm, coincidindo com os estudos de Utasli, Tinaz
(2000), Grecca e Teixeira (2001) e, Zmener, Banegas e Pameijer (2004). J Balto
(2002) e Zaia et al., (2002) no fizeram esta padronizao e talvez esta seja uma
hiptese que explique as diferenas de resultados encontrados.
Fidel et al. (2000) no informaram se os dentes testados foram armazenados
em algum tipo de soluo antes dos testes. Sabe-se que a gua tem um importante
papel para o cimento de ionmero de vidro. Assim, a presena dos fluidos tubulares
pode influenciar na embebio dos cimentos de ionmero de vidro durante a sua
polimerizao inicial.
Um outro fator relacionado metodologia empregada nos trabalhos refere-se
ao corante azul de metileno que deve ser tamponado em pH neutro, pois o fato
deste corante ser cido (pH 3.2), provoca uma pequena desmineralizao da
superfcie dentinria, permitindo uma maior penetrao do corante no substrato,
resultando em falsas leituras. Somente Zmener, Banegas e Pameijer (2004)
informaram o pH neutro utilizado em seus trabalhos.
O material Coltosol apresentou valores de infiltrao relativamente mais altos
no perodo de 7 dias, acorde com Oliveira (2001), Greca e Teixeira (2001),
Travassos et al. (2001), Cruz et al.(2002), Mattos, Pimenta Jr e Melo (2003).
Contrariamente a estes altos valores de infiltrao marginal, Utasli e Tinaz
(2000), Hosoya et al. (2000), Moreira et al. (2001), Balto (2002), Zmener, Banegas e
Pameijer (2004) e Balto et al. (2005) aps realizarem estudos sobre a eficcia desse
60
material, foram unnimes em afirmar que esses materiais restauradores provisrios
tomam presa em contato com a umidade, e durante essa reao, a expanso de seu
volume inicial acontece contribuindo para uma melhor adaptao marginal, e
conseqentemente um selamento mais eficaz. Segundo Barroso, Habitante e
Gonalves (2001) a presena do sulfato de clcio na frmula do material testado
pode indicar que esta substncia seja a responsvel por essa ao de presa.
Uma justificativa provvel, para a infiltrao do Coltosol seria a diminuio de
suas propriedades fsicas e mecnicas, principalmente aps a termociclagem, como
observado no trabalho de Cruz et al. em 2002. Travassos et al. (2001) explicaram
esta reduo das propriedades do Coltosol, devido a presena do sulfato de clcio
em sua composio, que em meio mido, expande-se, mas quando desidratado,
sofre uma contrao, ou seja, ocorre uma perda de gua ocasionada por variaes
trmica determinada na termociclagem o que conduziria infiltrao do material
restaurador que contenha o sulfato de clcio na sua composio.
Teoricamente, o raciocnio de que uma expanso seria necessria para
diminuir ou at anular a infiltrao, chamou a ateno dos pesquisadores que
observaram expanses tardias que simplesmente fizeram o Coltosol quase dobrar
de tamanho (BARROSO; HABITANTE; GONALVES, 2001; DEZAN Jr et al., 2002;
LAUSTSEN et al., 2005). Assim, uma expanso excessiva de seu volume inicial,
durante a presa, pode ser prejudicial ao dente em tratamento, podendo ocasionar
trincas ou fraturas de estruturas dentarias, dependendo da espessura de paredes
remanescentes, o que propicia a infiltrao de fluidos e microorganismos no interior
dos canais radiculares.
Muitos artigos tm sugerido um grande nmero de vantagens na aplicao
clnica do cimento base de xido de zinco e sulfato de clcio, como: serem
61
formulados prontos para o uso, fcil aplicao e remoo simples (UTASLI; TINAZ
2000; GRECA; TEIXEIRA, 2001), vale ressaltar que estas propriedades no so
responsveis pelo objetivo que se pretende conseguir com as restauraes
provisrias, que a perpetuao da condio de assepsia conseguida com o
tratamento endodntico, devendo desta forma serem enumeradas apenas como
caractersticas do material e no vantagens.
Alm disso, as caractersticas enumeradas por Deveaux et al. (1992) de que o
material no deve ser poroso tambm no foi observada nos corpos de prova deste
trabalho. Notou-se que o Coltosol forneceu superfcies rugosas e speras e, ainda
rachaduras no interior da restaurao, o que propicia a reteno de alimentos e
placa bacteriana, alm de facilitar a penetrao de fluidos pela massa do material
(BARROSO; HABITANTE; GONALVES, 2001; DEZAN Jr et al., 2002; LAUSTSEN
et al., 2005).
No presente trabalho, observou-se ainda, que o aumento do tempo promoveu
uma potencializao da infiltrao no Grupo-II (Vitremer), embora os resultados
indicaram no haver diferena significante (p>0,05) entre os grupos testados no
perodo de 30 dias.
Contrariamente, Tselnik, Baumgartner e Marshall (2004) observaram que
dentes tratados endodonticamente restaurados com cimentos de ionmero de vidro
hbrido mostraram-se efetivos em prevenir a infiltrao de bactrias no perodo de
trs meses.
Outro fato interessante foi que alguns corpos-de-prova apresentaram
infiltrao de corante ultrapassando o assoalho da cmara pulpar, atingindo as
entradas dos canais radiculares.
Uma desvantagem dos materiais que contm monmero orgnico sua
62
contrao de polimerizao (BIJELLA, 2000). Nos cimentos de ionmero de vidro
convencionais h uma contrao volumtrica menor do que os cimentos de
ionmero de vidro hbridos, o que pode propiciar a formao de fendas que levam a
infiltrao.
Alm disso, o fator de configurao cavitria (Fator-C) que definido pela
razo entre as superfcies aderidas e superfcies livres ou no aderidas pode influir
tambm nesse processo. Assim, quanto maior o Fator-C maior a possibilidade de
desenvolvimento da infiltrao marginal (NUNES, 2001). Desta forma, as cavidades
que foram confeccionadas para este experimento, com profundidade de 4 mm, tipo
Classe I de Black, pode ter induzido um maior estresse na interface adesiva do
Vitremer.
Apesar dos resultados apresentados, de que o cimento de ionmero de vidro
modificado por resina no tenha selado completamente a interface dente/material
restaurador eliminando a infiltrao, no se pode ignorar as propriedades fsicas dos
materiais restauradores que devem ser capazes de suportar os esforos
mastigatrios. Esta propriedade tambm seria um requisito obrigatrio,
principalmente em dentes com cavidades extensas, em que a obturao dos canais
foi concluda, afim de que no aconteam desgastes ou at mesmo fraturas, as
quais poderiam comprometer o sucesso do tratamento.
interessante salientar tambm as caractersticas de como ocorreu a
infiltrao: pela margem e/ou pelo material. Observou-se que no selamento com o
Coltosol, o corante foi encontrado na interface dente/material restaurador e tambm
na massa da restaurao, acorde com Greca e Teixeira (2001), Cruz et al., (2002) e
Mattos, Pimenta Jr e Melo (2003), sendo este ltimo influenciado pelo tempo de
permanncia no corante. Como mostra, na Tabela 5.1, que representa a mdia dos
63
valores de penetrao do corante, pode-se observar que os corpos-de-prova do
Grupo I, em 7 dias demonstraram uma infiltrao menor (1,51 mm) que em 30 dias
(2,68 mm). Em relao ao selamento com Vitremer, o corante foi encontrado
essencialmente na interface dente/restaurao, no havendo penetrao pela
massa do material.
A massa do Vitremer mostrou-se geralmente impermevel ao corante. Isto
denota, como era de se esperar, que esse grupo foi imune colorao pelo menos
nas condies experimentais adotadas, ao contrario dos cimentos de ionmero de
vidro convencionais que se caracterizam por apresentarem maior solubilidade,
levando dissoluo do material na cavidade, como pde ser observado no estudo
de Formolo, Sartori e Demarco (2001), que verificaram nos espcimes restaurados
com cimentos de ionmero de vidro convencionais a penetrao de corante no
interior da prpria massa restauradora, em virtude da degradao do material.
Em relao permeabilidade dentinria, observa-se que h uma grande
tendncia na literatura em considerar importante a remoo de smear layer para se
obter maior adeso e embricamento tubular dos materiais restauradores (DAVALOU;
GUTMANN; NUNN, 1999; POLO, 2002; MALVAR; ALBERGARIA, 2003;
CARRASCO; PCORA; FRONER, 2004; ZMENER, BANEGAS e PAMEIJER, 2004;
SOUZA; PCORA; SILVA, 2005). Entretanto, os resultados apresentados neste
trabalho no confirmaram tais hipteses, pois as substncias qumicas auxiliares,
que promovem uma remoo maior de smear layer, no aumentaram o vedamento
marginal dos cimentos de ionmero de vidro hbridos, conforme pode ser visto no
Grfico 5.7, onde o resultado da permeabilidade dentinria indicou no haver
diferena estatstica significante entre os grupos experimentais nos perodos
observados (p>0,05).
64
Assim, essa semelhana comportamental pode ter sido afetada por dois
fatores: os efeitos do preparo qumico cirrgico na permeabilidade dentinria e as
caractersticas fsico-quimicas dos adesivos.
Sabe-se que no dente submetido a um tratamento endodntico h um
aumento da permeabilidade dentinria, em virtude da remoo da lama dentinria
obtida pela utilizao das substncias qumicas auxiliares. Tal fato alicerado em
estudos da permeabilidade dentinria (NIKIFORUK; SREEBNY, 1953; PAIVA;
ANTONIAZZI, 1973; ROBAZZA; PAIVA; ANTONIAZZI, 1973; SILVA; ANTONIAZZI,
1999; VIVACQUA-GOMES et al., 2002; OBANKARA et al., 2004; TEIXEIRA;
FELIPPE; FELIPPE, 2005; CARVALHO; HABITANTE; LAGE MARQUES, 2005).
Alm disso, h uma teoria adicional de que o hipoclorito de sdio, soluo
irrigadora especialmente indicada para remoo de material orgnico, pode
comprometer a adesividade dos adesivos. Uceda-Gomez et al. (2003) observaram
que a parcial dissoluo das fibras colgenas e/ou a desestabilizao de molculas
que compem a estrutura dentria, que ocorre durante o uso do hipoclorito de sdio,
pode comprometer a adesividade dos adesivos.
Ainda, Perdigo et al. (2000) afirmam que a liberao do oxignio pelas
molculas do hipoclorito de sdio um dos fatores que poderiam justificar a
diminuio da fora adesiva, devido inibio da polimerizao dos agentes
adesivos, comprometendo as propriedades mecnicas e qumicas dos adesivos.
Com relao s caractersticas fsico-quimicas dos adesivos, torna-se
importante mencionar que o vedamento est relacionado com a capacidade de
penetrao do material restaurador no interior dos tbulos dentinrios. Assim, alguns
cimentos de ionmero de vidro hbridos, como o Vitremer, utilizam um primer que
composto de HEMA, etanol e fotoiniciadores, o qual possui forte atrao pelas
65
superfcies de esmalte e dentina, fornecendo uma superfcie pronta para o cimento
de ionmero de vidro hbrido. Desta forma, a infiltrao de corante na parede
dentinria deveria ser menor nos corpos-de-prova do grupo II (Vitremer), entretanto,
pode-se observar a presena de infiltrao semelhante ao grupo I (Coltosol). Nesse
sentido, as substncias auxiliares durante a terapia endodntica transformam a
superfcie dentinria em um substrato altamente permevel, no sendo favorvel,
pois o adesivo dentinrio no capaz de preencher todos os tbulos dentinrios
abertos, prejudicando desse modo a sua capacidade de selamento, apesar do
Vitremer ter um melhor resultado em uma dentina normal.
Esses dados esto de acordo com o trabalho de Souza, Pcora e Silva (2005)
que constataram que o Super Bond foi significantemente superior em impedir a
infiltrao coronria quando comparado ao sistema adesivo Single Bond em dentes
tratados endodnticamente.
Em 1995, Sano et al. observaram um fenmeno que denominaram de
nanoinfiltrao, a qual ocorre em funo de uma camada hbrida deficiente
ocasionada por discrepncias entre a extenso de desmineralizao e a extenso
de infiltrao de monmeros resinosos. Os autores ressaltam que quando se forma
uma camada hbrida deficiente junto ao ngulo cavo-superficial, mesmo que no
haja formao de fendas marginais, os fludos orais podem infiltrar por essas
porosidades e se acumular na camada hbrida. Adicionalmente, Carvalho et al.
(2004) notaram que a zona desmineralizada e no infiltrada poder funcionar como
stio de posterior degradao da interface adesiva, principalmente se alm de gua
tivermos a presena de produtos bacterianos oriundos da infiltrao dos fluidos orais.
No mesmo sentido, Chersoni et al. (2005) perceberam que a camada hbrida em
dentes tratados endodnticamente tambm uma estrutura permevel, que permite
66
livre movimentao de gua em seu interior. Isto decorre de uma reteno maior de
gua no interior dos tbulos dentinrios, o qual no pode ser removido
completamente com o uso dos cones de papel absorvente.
Estes resultados vo de encontro ao das substncias qumicas auxiliares
na poro coronria, durante o tratamento endodntico. O contato destas
substncias com a superfcie externa de esmalte e internamente com a dentina pode
ser responsvel pela desmineralizao excessiva destas estruturas, fazendo com
que o sistema adesivo dos cimentos de ionmero de vidro hbridos no tenha
capacidade de preencher completamente os tbulos dentinrios expostos, deixando-
os desta forma parcialmente preenchidos com gua e susceptveis a deteriorizao
da camada hbrida anteriormente obtida.
Convm ressaltar que a influncia das substncias qumicas auxiliares
durante o preparo biomecnico na superfcie externa do esmalte dental, no esta
esclarecida em nenhuma pesquisa desta rea, dificultando, portanto, a comparao
de resultados. Entretanto, os resultados observados nesta pesquisa em relao ao
aumento significante da infiltrao marginal no grupo restaurado com ionmero de
vidro hbrido, pode ter ocorrido em funo do fenmeno da nanoinfiltrao, com
deteriorizao da zona de adeso, demonstrando grande infiltrao marginal aps
30 dias.
Outro aspecto importante observado neste trabalho refere-se
permeabilidade dentria. Assim, a infiltrao do corante atravs dos tecidos
dentrios foi observada tanto nos corpos-de-prova do Grupo-I (Coltosol), quanto no
Grupo-II (Vitremer), constatando a inerente permeabilidade do esmalte dental
humano.
67
Este resultado pode ser justificado pela estrutura morfolgica do esmalte
dental e tambm pelos efeitos das substncias qumicas auxiliares na superfcie
dental externa.
Embora clinicamente a superfcie do esmalte de um dente aparea lisa e
brilhante, microscopicamente apresenta-se com falhas geolgicas (Tufos e Lamelas),
buracos focais, microporos e outros defeitos como, por exemplo, as trincas de
esmalte que atuam como caminhos de difuso de substncias do esmalte em
direo dentina. Alm disso, o dente uma vez na boca sofre mudanas que podem
alterar a superfcie dental, sendo a superfcie do esmalte exposta a traumas fsicos
(mastigao, limpeza mecnica do dente com pastas dentais abrasivas, etc.) e
qumicos (mudanas intermitentes de pH como resultado da atividade metablica
dos depsitos microbianos nas superfcies dentais, bebidas cidas, frutas, etc.) que
inevitavelmente alteram a microestrutura e a composio qumica da superfcie do
esmalte (MJOR; FEJERSKOV, 1990; TEN CATE, 1998).
Os resultados mostraram ainda que a infiltrao do corante na superfcie
dentria coincidiu com a direo dos tbulos dentinrios e prismas de esmalte. Alm
disso, a profundidade de penetrao foi semelhante para os dois grupos
experimentais, como demonstrado na Tabela 5.3, este perfil de penetrao do
corante, colabora com os resultados expostos anteriormente relativos a ao das
substncias qumicas auxiliares, demonstrando o aumento da permeabilidade dos
tbulos dentinrios tambm na poro coronria.
Como fator coadjuvante na alterao estrutural da poro coronria pela ao
de substncias utilizadas na terapia endodntica, Plo em 2002 observou uma
reduo significativa de ons Ca aps utilizao de EDTA-T, fator este responsvel
por um aumento da porosidade na coroa dental.
68
Silveira e Garrocho (1998) constataram que a rea mais permevel ao
corante foi o tero cervical em dentes hgidos de pacientes com problemas
periodontais avanados. Segundo os autores, a freqente exposio dessa rea do
dente placa bacteriana e s mudanas do pH, aumentaria a porosidade do tecido e,
conseqentemente apresentavam uma maior permeabilidade no tero cervical, em
relao s outras partes do dente. Ressalta-se que apesar de terem sido utilizados,
nesta pesquisa, molares extrados em funo de problemas periodontais, observa-se
grande variao quanto ao local de penetrao inicial da soluo corante (tero
oclusal, mdio e cervical), no podendo se estabelecer qualquer padro de
penetrao do mesmo. Com base no perfil de penetrao do corante percebe-se
mais um fator contribuinte para o aumento da permeabilidade dentinria na poro
coronria como um todo.
Ademais, a literatura revisada unnime em reconhecer a importncia de um
adequado selamento do sistema de canais radiculares e coronrio para o sucesso
da terapia endodntica (IMURA et al., 1997; CHAILERTVANITKUL et al., 1997;
ALMEIDA, 2001; WOLANEK et al., 2001; TIMPAWAT; AMORNCHAT; TRISUWAN,
2001; MOREIRA et al., 2001; GALVAN JR et al., 2002; HOMMEZ; COPPENS;
MOOR, 2002; BALTO, 2002; MATOS; PIMENTA JUNIOR; MELO, 2003; BRITTO;
GRIMAUDO; VERTUCCI, 2003; ADIB et al., 2004; SEGURA-EGEA et al., 2004;
USUMEZ et al., 2004; ZMENER; BANEGAS; PAMEIJER, 2004; WILLIAMSON et al.,
2005; PAPPEN el al., 2005; SHIPPER et al., 2005; SIQUEIRA JR et al., 2005).
Desse modo, a anlise dos resultados relacionados permeabilidade dentria nos
permite afirmar que a espessura da parede de dentina na poro coronria um
fator de grande relevncia na determinao do selamento, bem como o vedamento
dos tbulos dentinrios abertos. Assim, sem um isolamento da superfcie dental,
69
durante as sesses da terapia endodntica como aps a sua finalizao, no ser
possvel alcanar o almejado sucesso teraputico.
Por fim, diante dos resultados encontrados pode-se observar que a adaptao
do material provisrio s paredes dentinrias sofre influncia da ao prvia do
tratamento qumico cirrgico destas paredes. Assim sendo, aps analisar tudo o que
foi observado, muitas dvidas ainda restam quanto real ao das substncias
qumicas auxiliares sobre a poro coronria remanescente. Dessa forma, o campo
continua aberto para novas investigaes visando elucidar essa problemtica.
70
7 CONCLUSES
A anlise e discusso dos resultados obtidos no presente trabalho, dentro das
condies estabelecidas no experimento, permitem concluir que:
1. Os dois materiais restauradores provisrios testados apresentaram infiltrao
marginal, sendo que o cimento de ionmero de vidro modificado por resina
Vitremer (Grupo II) apresentou menor mdia de infiltrao, na interface
dente/material, no perodo de 7 dias em relao ao Coltosol (p
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REFERNCIAS
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