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Título Manifestações políticas nas ruas e praças da cidade:
um ato público de cidadania – Curitiba (1978-2012)
Autor Sônia Regina Cordeiro Silva
Disciplina/Área História
Escola de Implementação
do Projeto e sua
Localização
Colégio Estadual João Paulo II - Xaxim
Município da Escola Curitiba
Núcleo Regional de
Educação
Curitiba
Professor Orientador Dennison de Oliveira
Instituição de Ensino
Superior
UFPR
Resumo O presente estudo faz um resgate da história política brasileira pós 1978, tendo na participação popular o foco central para a compreensão e análise do processo de retomada do estado democrático de direito à época iniciado. Participação esta, marcada por significativos episódios de mobilização popular que levaram para as ruas das cidades brasileiras expressivos contingentes de manifestantes, transformando as ruas e praças do país em espaço privilegiado de exercício da cidadania. Porém, com o passar do tempo, percebe-se que tais manifestações foram se tornando cada vez mais escassas, mesmo com as recorrentes denúncias de irregularidades políticas e situações de total desrespeito à cidadania e à democracia amplamente noticiadas pela mídia. Foram estes fatos, conjugados à experiência vivenciada no exercício cotidiano da sala de aula, onde é possível perceber pouco interesse, por parte dos alunos, em relação à cena política local e nacional e em participar desse cenário enquanto sujeito da história, que motivaram a realização desse estudo. Assim, através de suas propostas didáticas, esse estudo pretende como resultado final motivar os alunos a realizarem uma reflexão sobre o seu papel transformador, através de uma prática cidadã fiscalizadora e propositiva, visando o aprimoramento da sociedade enquanto construção coletiva.
Palavras-chave Cidadania. Democracia. Mobilização. Movimento
Estudantil. Participação Política
Formato do Material
Didático
Unidade Didática
Público Alvo Alunos do 3º ano do Ensino Médio
2
APRESENTAÇÃO
A presente Produção Didático-pedagógica trata-se de uma Unidade Didática
da disciplina de História, direcionada aos alunos do 3º ano, do Ensino Médio do
Colégio Estadual João Paulo II.
O desenvolvimento desse estudo foi motivado por algumas reflexões acerca
do papel da escola enquanto espaço formador da cidadania, aqui entendida e
trabalhada enquanto sinônimo de participação ativa do indivíduo na sociedade.
Outro fato motivador é a constatação da falta de interesse, por parte de expressivo
número de alunos, em relação à cena política local, nacional, internacional e aos
temas associados à participação política dos indivíduos no construir e reconstruir da
sociedade. Numa clara demonstração de apatia e desinteresse, por parte desses
jovens cidadãos, em participar desse cenário enquanto sujeitos da história.
Revelando, ainda, desconhecimento dos mecanismos e possibilidades de atuação,
enquanto cidadão; bem como, do poder transformador que tal atuação possui, pois
se trata do exercício da cidadania.
Na esteira desse ideário, cidadania se esgota no ato “obrigatório” de votar,
sendo que os candidatos eleitos são considerados uma espécie de “não iguais”,
como se político (vereador, deputado, etc) fosse um adjetivo, sinônimo de “algo ou
alguém que não nos pertence” e do qual devemos manter distância, pois trata-se de
algo ruim.
Corrobora ainda para a escolha do Tema de Estudo, o fato de a referida
apatia e desinteresse constatado, guardarem estreita relação com os conteúdos
didáticos trabalhados em sala de aula.
Embora os livros didáticos de História tragam conteúdos relacionados à
temática aqui trabalhada, tal recurso não tem sido capaz de despertar o interesse
dos alunos. Alguns conteúdos, apesar de evidenciarem e reforçarem o papel e
capacidade que os cidadãos possuem de intervir no processo histórico, enquanto
“Sujeitos da História”, remetem a experiências e acontecimentos que não possuem
uma identidade imediata com o espaço envolvente dos alunos, em seu sentido
territorial e social, o que significa um não pertencimento, um não se reconhecer,
transformando o ato em fato, o sujeito em espectador, o processo histórico em
conteúdo a ser incorporado ao cabedal de conhecimentos do aluno na disciplina de
história.
3
Isto posto, conclui-se que é preciso proporcionar aos alunos a compreensão
do seu poder transformador, através de conteúdos que abordem os processos
históricos, aliados a novas práticas pedagógicas e novas estratégias de abordagem,
que estabeleçam nexos entre passado, presente e futuro, buscando despertar nos
alunos a consciência e a necessidade da participação efetiva no processo de
construção e exercício democrático da cidadania.
Para tanto, esse trabalho inicia-se por um resgate da história política
brasileira recente, pós 1978, marcadamente caracterizada pela retomada do estado
democrático de direito, tendo na participação popular seu foco central com
significativos episódios de mobilização popular que levaram para as ruas das
cidades brasileiras expressivos contingentes de manifestantes, transformando as
ruas e praças do país em espaço privilegiado do exercício da cidadania.
OBJETIVOS
A realização desse estudo tem como principal objetivo possibilitar uma
reflexão crítica por parte do aluno sobre o seu papel enquanto cidadão capaz de
compreender e transformar a realidade através da efetiva participação política. Para
isso serão realizadas atividades que levem o aluno a identificar e compreender os
fatores que motivaram milhares de pessoas, no período pós 1978, notadamente
estudantes, há ocuparem ruas e praças em manifestações políticas. Identificar as
diferentes formas de participação política no período estudado. Debater sobre o
papel político desempenhado pelas redes sociais na internet. Investigar o nível de
participação política da comunidade escolar. Desenvolver instrumentos que
possibilite o exercício da cidadania com atividade de fiscalização junto ao
parlamento municipal. Analisar a importância da participação na vida política da
cidade.
PROBLEMA
Há mais de uma década o noticiário político local e nacional tem ocupado
espaço cada vez maior nas diversas mídias do país. São denúncias de
4
irregularidades, improbidades, desvios de conduta, articulações com objetivos
espúrios, desvio e apropriação indébita do erário, tráfico de influências e mais uma
incontável lista de práticas nocivas ao interesse público e ao exercício dos mandatos
e cargos públicos. Tais denúncias envolvem os poderes executivo, legislativo e
judiciário e todos os níveis de governo (municipal, estadual e federal). Configurando
um quadro de total desrespeito aos cidadãos, à cidadania e à democracia.
Embora a indignação popular exista, ela já não se expressa com a mesma
veemência de décadas passadas, onde o descontentamento e a indignação levavam
a população a ocupar os espaços públicos para protestar. As manifestações de rua
são cada vez mais escassas e quando ocorrem não atraem número significativo de
manifestantes.
Ao observar a repercussão de tais fatos junto aos alunos, alguns
questionamentos surgem e desafiam o trabalho do professor, tais como: Por que os
alunos não se interessam pelo processo político? Por que eles não se reconhecem
como sujeitos da história? Como reverter essa apatia?
MATERIAL DIDÁTICO
O presente material didático tem como base o conteúdo “Movimentos
sociais, políticos e culturais” proposto nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica da disciplina de História para o ensino médio. Esse estudo foi pensado no
sentido de contribuir com informações, que normalmente não estão nos livros
didáticos, principalmente quando se trata da história local, sobre as manifestações
políticas vivenciadas pela sociedade brasileira a partir de 1978. Para as atividades
buscou-se estratégias de tornar o ensino mais atraente para o aluno, para isso a
internet foi uma grande aliada, com pesquisas, debates, exercícios que possibilitem
a reflexão sobre sua atuação na sociedade.
Sugestão de Atividade 1
Criar um grupo no facebook. A página desse grupo terá sempre que ser
alimentada, por todos os alunos, com informações, debates, opiniões acerca das
atividades aqui desenvolvidas. Não se esqueça de divulgar o grupo para a
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comunidade escolar, para que todos possam acompanhar o desenvolvimento das
atividades.
Resistência e protestos
A recente história política do Brasil, tomando como ponto de partida o golpe
militar de 1964, registra significativos episódios de mobilização popular e
manifestações públicas, originadas e organizadas nos mais diversos segmentos da
sociedade brasileira. O que representa uma irrefutável demonstração da capacidade
proativa dos brasileiros na construção e exercício da cidadania.
De 1964 a 1985, o Brasil esteve sob o julgo de um regime militar, que
através de um golpe de estado, destituiu os governantes democraticamente eleitos,
extinguiu todos os partidos e assumiu o governo do país, estabelecendo um estado
de exceção “onde a participação dos cidadãos na esfera pública era limitada e
desencorajada” (CICONELLO, 2008, p. 604).
Ao longo desse período, apesar do controle e vigília do governo militar,
surgem na base da sociedade brasileira, novas e inusitadas formas de organização,
mobilização e manifestação coletiva. Tanto com o objetivo de reivindicar e/ou exigir
direitos, quanto no sentido de protestar e/ou cobrar do poder público o
comprometimento para com as questões de interesse da maioria da população.
Estas manifestações, na medida de sua abrangência, representatividade e
capacidade de intervir no ordenamento político da época, não só agregaram
expressivos contingentes, como fizeram das praças e ruas de todo o país, espaço
privilegiado da livre expressão, enquanto um direito democrático da cidadania.
Sugestão de Atividade 2
Pesquisa com a comunidade escolar (alunos, pais, professores,
funcionários).
Curitiba, ao longo do período aqui estudado, foi palco de manifestações que
levaram significativo número de pessoas para as ruas (por exemplo, Diretas Já e
Caras Pintadas). Atualmente as manifestações políticas de rua estão cada vez mais
escassas e não tem conseguido mobilizar número significativo de pessoas.
Investigue o nível de participação política de sua comunidade escolar através de
pesquisa com pelo menos 2 pessoas. (Modelo de questionário em anexo).
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Cabe chamar a atenção para o fato de que esses espaços de manifestação
pública, sinônimos de expressão da existência e da liberdade, paradoxalmente
foram palco de ações truculentas por parte do aparelho repressivo do estado, com o
intuito de reprimir e desqualificar as manifestações contrárias ao governo, tratando-
as não como um legítimo exercício de cidadania, mas como uma ameaça a ordem
pública.
A partir do final da década de 1960 até os primeiros anos da década de
1970, a ocupação dos espaços públicos com o propósito de manifestação política,
sofre forte retração. Nesse período, ocorre um recrudescimento do aparato de
repressão àqueles que se opunham ao regime. São práticas correntes nessa época,
a tortura, as prisões e exílios.
Concomitantemente a intensificação da repressão política, a economia
brasileira registra taxas de crescimento econômico em torno dos 10% ao ano. Esse
período foi difundido pela propaganda oficial do governo como “milagre econômico”
(MAGALHÃES, 2001).
A conjunção desses fatores, somados a efetiva elevação no padrão de
consumo da classe média e a difusão uníssona por parte da grande mídia, de uma
imagem de modernidade e prosperidade, com slogans do tipo “este é um país que
vai pra frente”, induzem a população a um afastamento da política, funcionando
como um desestímulo à organização dos movimentos sociais, que por conta dessa
conjuntura, vivem um período de desarticulação e desmobilização. “(...)a censura e o
discurso tecnocrático impuseram, de forma direta ou indireta, o silêncio à sociedade
civil.” (MAGALHÃES, 2001, p. 84), com especial foco no movimento estudantil e
popular.
O Paraná, no mesmo período, pouco difere do resto do país. Um governo
totalmente afinado com o regime e uma economia em crescimento. Uma população
de forte ascendência europeia, considerada pelo senso comum, como pacata,
conservadora e ordeira. O que pelos registros constantes nos arquivos do DOPS,
não confirmam tal assertiva. Segundo o Comitê Londrinense pela Anistia e Direitos
Humanos, de 1964 a 1969 ocorreram no Paraná 2.726 detenções e 975 prisões
(MAGALHÃES, 2001).
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Sugestão de Atividade 3
Através do site www.forumverdade.ufpr.br, criado pelo Fórum Paranaense
de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, é possível ter acesso a várias
informações sobre acontecimentos do período da ditadura militar no Paraná.
Busque informações sobre os locais de repressão e resistência ao regime militar em
Curitiba, depois procure saber qual é a função desses espaços hoje. Faça o
mapeamento desses locais em um painel e apresente para a turma.
A partir de 1973, acontecimentos exógenos ao regime contribuem de forma
decisiva para a retomada das mobilizações populares. A elevação do preço
internacional do petróleo iniciada em 1973 desencadeia na frágil economia
brasileira, um progressivo quadro de crise. O país passa a conviver com uma nova
realidade econômica, caracterizada por aumentos nas taxas de juros e nos índices
de inflação, provocando desemprego e arrocho salarial; chegava ao fim o “milagre
econômico”.
No campo da política, diante da crise econômica, o regime militar apresenta
seus primeiros sinais de fadiga. Em 1974, ao assumir a presidência da República, o
General Geisel anuncia seu compromisso em promover a abertura política, de forma
“lenta, gradual e segura”. Nesse mesmo ano, nas eleições para o legislativo e
executivo, o resultado das urnas confirma a insatisfação da população com o regime.
O partido do governo (ARENA – Aliança Renovadora Nacional) é o grande
derrotado. O MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido de oposição, elege a
maioria dos prefeitos nas grandes cidades e conquista 59% dos votos para o
Senado Federal e 48% da Câmara dos Deputados.
Em meio a esse cenário político e econômico, manifestações de protesto se
intensificam. Surgem movimentos sociais por todo o país, representando os mais
diversos segmentos da sociedade brasileira. Cabe destacar, nesse novo momento
da organização e da participação popular na cena política do país, as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), o Movimento Operário, o Movimento Estudantil e o
Movimento pelos Direitos Humanos e pela Anistia.
Sobre os movimentos sociais desse período, afirma Cardoso, “Eles
apareciam como algo dominante, novo, de caráter mais puro, muito mais importante,
que iria ocupar um espaço vazio. Em grande parte, esse espaço encontrava-se vazio
no país porque estávamos numa ditadura militar, e todos esses canais de
8
representação haviam sido realmente bloqueados” (CARDOSO, 1994, p. 82).
Apesar de terem reivindicações específicas, esses movimentos unificaram a
luta pela redemocratização do país: Anistia ampla geral e irrestrita, melhores
condições de trabalho, saúde e educação. A maior de todas as bandeiras de luta era
por uma ampla democracia para o país “...que não se restringia apenas ao
restabelecimento do sistema representativo eleitoral...Pretendia-se alargar a
participação de homens e de mulheres nas decisões políticas que afetavam suas
vidas.” (CICONELLO, 2008, p.604).
Dentre as manifestações ocorridas no período estudado, vale destacar a
mobilização da sociedade pelas Diretas Já, que foi um marco na história brasileira,
pela capacidade de arregimentar multidões. O movimento teve início em 1983 com
alguns pequenos comícios, mas o que marcou o início da Campanha foi o grande
evento ocorrido em Curitiba, na Boca Maldita em janeiro de 1984, levando para as
ruas 50 mil pessoas reivindicando o direito de eleger o presidente da República, a
partir daí o movimento toma conta do país. (OLINDA, 2009). Apesar de toda a
mobilização nacional a emenda Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas
para presidente, é derrotada no Congresso Nacional.
Sugestão de Atividade 4
O site www.bradoretumbante.org.br apresenta informações sobre as Diretas
Já, inclusive depoimentos de pessoas que participaram da campanha. Analise no
mínimo 5 depoimentos e responda: as pessoas que participaram desse movimento
eram movidas por qual sentimento? (Obs. Para responder essa questão, você
também pode entrevistar pessoas que tenham participado da campanha.)
Outro momento decisivo na consolidação da democracia brasileira, foi a
mobilização pela formação da Assembleia Nacional Constituinte, transformando-se
na palavra de ordem mais importante para os partidos de oposição e para a
sociedade civil (BAGGIO, 2006). Levou milhares de pessoas a se organizar e lutar
por seus direitos e pela participação popular na Constituinte. A Constituição ficou
pronta em 1988 assegurando importantes conquistas sociais, políticas e civis para
a sociedade.
A eleição de 1989, provavelmente, foi a eleição que mais mobilizou a
sociedade, afinal depois de 29 anos o povo brasileiro iria às urnas para eleger o
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presidente da República. Os comícios, verdadeiros espetáculos, pois reunia não só
políticos como também artistas, arrastavam multidões para as ruas, principalmente
no 2º turno da eleição. Pessoas esperançosas, entusiasmadas, exaltadas discutiam
o projeto de país dos candidatos, os jingles de campanha fizeram sucesso, os
debates na TV tinham boa audiência. Foi um momento de intensa participação
política.
Sugestão de Atividade 5
Investigue o papel da mídia no resultado das eleições de 1989. Ela
influenciou o voto dos brasileiros? Justifique sua resposta.
E a última grande mobilização que levou a população a se manifestar nas
ruas foi o movimento dos “caras pintadas”, em 1992, pelo Impeachment do
presidente Collor. Depois de várias denúncias de corrupção no governo, entidades
estudantis organizam o movimento e em pouco tempo envolveu todos os segmentos
da sociedade que saiam pelas ruas em grandes passeatas. Em dezembro de 1992,
Collor renuncia ao cargo de presidente da República.
Sugestão de Atividade 6
O movimento dos “caras pintadas” pelas ruas e praças das cidades exerceu
alguma influência sobre a decisão do Congresso Nacional em votar pelo
Impeachment do Collor? Justifique sua resposta.
Em todos esses momentos, apesar de algumas pessoas estarem
participando da vida política de outras formas (pastorais, associações de bairros,
sindicatos etc.), a população foi para as ruas porque era nas ruas, gritando palavras
de ordem, que o movimento adquiria maior visibilidade e robustez, sendo ouvido por
aqueles que ainda se mantinham alheios às bandeiras de luta, ampliando assim, o
número de manifestantes por todo o país. A partir do engajamento e participação
popular, os movimentos adquiriram enorme proporção, que a grande mídia,
historicamente comprometida com as oligarquias e o poder, abre espaço em seus
diários e semanários para noticiar esses eventos. Tornava-se impossível ignorar o
manifesto da multidão. As praças e ruas tornam-se o espaço mais democrático,
significando, em alguns momentos, o único espaço para a participação política.
10
A mobilização e a participação das pessoas nos movimentos sociais e
manifestações políticas nas décadas de 70, 80 e 90, garantiram algumas conquistas
fundamentais para a retomada e consolidação da democracia brasileira, como por
exemplo, o fim do estado de exceção e a retomada do estado de direito, a
redemocratização do país, a criação de novos partidos com maior representatividade
de classe, uma nova constituição pautada na garantia da liberdade de expressão e
na igualdade perante a lei (Constituição de 1988), eleições diretas para os três níveis
do executivo, bem como, o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo.
Dallari destaca a importância da participação política afirmando que “Todo ser
humano tem o dever de participação política, para que a ordem social não seja
apenas a expressão da vontade e dos interesses de alguns”. (DALLARI, 1984, p.38).
Muitas pessoas entendem que o dever de participação política se limita ao
voto no processo eleitoral, não que a eleição não seja importante, mas, segundo
Dallari, ela deve “ser considerada num quadro mais amplo, que inclui outras formas
de participação. Entre estas existem algumas que muitas vezes são bem mais
importantes do que a via eleitoral e que sempre poderão influir sobre esta, tornando-
a mais honesta e mais autêntica”. (DALLARI, 1984, p.42).
Sugestão de Atividade 7
Para se atingir uma sociedade mais justa e sem corrupção é preciso
participação ativa nas decisões que interferem na vida das pessoas, assim sendo,
o voto não deve ser considerado a única forma de exercício da cidadania. Procure
em jornais exemplos onde a pressão popular fez com que vereadores, deputados
ou senadores recuassem de alguma decisão imoral, abusiva ou que seria prejudicial
à população.
Em todo esse processo histórico de mobilização popular é importante
destacar a presença do movimento estudantil que, através da UNE e das entidades
secundaristas, foi protagonista das principais manifestações pelo país. Apresentava
uma capacidade de organização que mobilizava não só os estudantes, como
também os demais setores da sociedade, tornando-se uma das maiores forças de
mobilização popular. Era o poder da juventude engajada nas questões políticas no
pleno exercício da cidadania que, segundo Mangue “pressupõe indivíduos
conscientes de seus deveres e direitos num contexto local, regional e global e,
11
especialmente, capazes de participar na construção de realidades mais justas, que
atendam aos interesses da coletividade”. (MANGUE, 2008, p. 27).
Nesse contexto histórico de mobilizações e contestações é importante
ressaltar a participação da população de Curitiba que também se manifestou indo
para as ruas e praças. Dentre os principais pontos de concentração destaca-se a
Praça Rui Barbosa, Praça Santos Andrade, mas as maiores manifestações
ocorreram na Boca Maldita. Espaço referencial e preferencial de expressão e
manifestação dos mais diversos segmentos da sociedade curitibana, independente
de sua natureza ou ideologia. Na Boca, muitas palavras de ordem foram ditas e
muitas ouvidas. Muitas bandeiras ali erguidas, por diversas pessoas e motivos,
resultaram em mudanças de consciência e prática política.
Foi na Boca Maldita que a população se reuniu para reivindicar Anistia
Ampla Geral e Irrestrita, gritou a uma só voz por Diretas Já, mostrou-se a favor da
Constituinte, participou dos comícios em 1989 e os curitibanos também pintaram a
cara para pedir o Impeachment do presidente Collor. Atualmente, a maior
movimentação política na Boca acontece no período das eleições, onde candidatos
e partidos políticos montam barraquinhas para suas campanhas eleitorais atraindo a
atenção de pessoas que transitam pela região. Manifestações de protesto já não
mobilizam multidões, como no passado, haja vista o baixo índice de participação da
população nas manifestações organizadas recentemente pela ética na política e
contra as irregularidades na Câmara Municipal de Curitiba. O aparecimento de
outras formas de participação política como ONGs, Conselhos, Conferências, redes
sociais, tem provocado um esvaziamento nas manifestações de rua, mas ainda há
pessoas que acreditam que a ocupação dos espaços públicos continua a ser um
forte instrumento de pressão, como disse Harvey “são os corpos na rua e praças,
não o fluxo de sentimentos no twitter ou facebook que realmente importam”.
(HARVEY, 2012).
Sugestão de Atividade 8
Faça uma pesquisa sobre a importância histórica da Boca Maldita
enquanto espaço democrático de manifestação política. Selecione algumas
imagens de manifestações nesse espaço. Apresente para a turma em forma de
Power point.
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Sugestão de Atividade 9
As redes sociais tem sido um importante instrumento de organização de
manifestações pelo mundo, vide os casos da Tunísia, Egito, Síria e alguns países
europeus. Em Curitiba e outras cidades brasileiras, além de mobilizações, as
redes sociais também tem desempenhado o importante papel de fazer circular
informações sobre a atuação dos políticos (improbidade, corrupção, favorecimento,
nepotismo e etc). Busque exemplos locais em que as redes sociais
desempenharam papel relevante na mobilização em torno de ideais de
transformação social, política e econômica.
Sugestão de Atividade 10
Uma das formas de participação política é a fiscalização do Poder Público e
essa é a proposta dessa atividade. Na eleição de 2012 foram eleitos 38 vereadores
para a Câmara Municipal de Curitiba. Cada aluno acompanhará a rotina de trabalho
de um vereador (votação, faltas, projeto de lei apresentado, prestação de contas,
debates). O acompanhamento do trabalho do vereador será feito por meio da
internet (redes sociais, site da CMC, site do vereador). Após a distribuição do
vereador por aluno, definido através de sorteio, será agendada uma visita à CMC,
em dia de sessão plenária, para que os alunos conheçam o funcionamento da casa.
Nesse mesmo dia cada aluno deverá procurar “seu” vereador, se apresentar e
informar sobre a atividade a ser desenvolvida, bem como comunicar que sempre
que for necessário irá entrar em contato com o vereador através de e-mail ou redes
sociais. Ainda nesse encontro o aluno fará uma pesquisa com o vereador, com as
seguintes perguntas:
1)Qual é a função do vereador?
2)Que meios foram criados pelo Sr(a) para dar visibilidade e transparência
de seu mandato enquanto representante do povo?
3)O Sr(a) possui página nas redes sociais?
4)O Sr(a) considera importante que os seus eleitores fiscalizem o seu
mandato?
5)Há preocupação de sua parte em resgatar a imagem da Câmara
Municipal de Curitiba, tão desgastada com os episódios de corrupção envolvendo
essa casa? Como?
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6)Qual o seu principal projeto para esse mandato, defendido na campanha?
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
A reflexão sobre novas práticas pedagógicas que levem o ensino de História
a ter um significado para o aluno e o papel da escola em educar para a cidadania,
tendo a participação política como foco central, foram questões que orientaram a
elaboração das atividades a serem trabalhadas com os alunos.
Todas as atividades aqui propostas foram pensadas no sentido de contribuir
para reverter a apatia dos alunos frente aos acontecimentos políticos local, nacional
e internacional.
Para o desenvolvimento das atividades, a internet deve ser usada como
grande aliada, uma vez que é inegável a satisfação e habilidade dos alunos ao
trabalhar com essa ferramenta. Professor, é muito importante o acompanhamento
das atividades na internet, oriente os alunos sobre o que pode e o que não pode
nesse espaço. Promova debates, participação, interação e informe o aluno que tudo
isso será avaliado.
Com exceção da primeira, segunda e décima atividade, todas as outras
devem ser feitas em grupo, para que haja conversa, troca de ideias entre os alunos.
Divida a turma em 7 grupos e distribua uma atividade para cada grupo (da terceira à
nona atividade). Essa sugestão é para que as respostas não fiquem repetitivas.
É importante que a primeira atividade seja a criação do grupo no facebook,
para que os alunos possam postar e debater neste espaço os resultados das
pesquisas realizadas. O próprio professor pode criar o grupo e postar as atividades
no espaço “Arquivos”. Os alunos, além de postar as respostas no grupo, devem
apresentar o resultado para a turma para que haja debate em sala de aula.
Atividade 2: é importante tabular os resultados da pesquisa e com os
números em mãos promova um debate em sala de aula sobre a participação política
da comunidade escolar. É interessante conduzir o debate tendo como base as
perguntas do questionário.
Atividade 3: é interessante trabalhar no sentido de mostrar que no período
da ditadura militar a participação política era caso de polícia, onde dezenas de
14
pessoas em Curitiba, foram presas e torturadas em alguns espaços que hoje
possuem outra função.
Atividade 4: para complementar essa atividade é interessante passar
vídeos sobre a campanha das Diretas Já, proporcionando ao aluno a dimensão do
movimento. O You Tube disponibiliza vários vídeos.
Atividade 5: aproveite o episódio e leve os alunos a refletir e debater sobre a
ética e a influência da mídia na política, no período estudado e atualmente.
Relembre com os alunos os casos dos “Diários Secretos”, as denúncias de
corrupção na Câmara Municipal de Curitiba, o julgamento do “Mensalão”.
Atividade 6: mostre aos alunos a importância da militância estudantil na
organização desse movimento. Para complementar seria interessante buscar na
internet depoimentos de alguns jovens que participaram, como Cecília Lotufo,
considerada a “musa” do movimento.
Atividade 7: auxilie os alunos na procura dos exemplos. A resposta dessa
atividade deve ser buscada em arquivos de jornais na internet. Promova o debate
sobre a importância da opinião pública.
Atividade 8: a pesquisa deve ser feita na internet. Oriente os alunos a
procurarem as manifestações históricas que aconteceram na Boca Maldita,
considerado o espaço mais democrático da cidade, pois recebe os mais variados
tipos de manifestações (políticas, religiosas e culturais). Motive os alunos a
conhecerem esse espaço (para aqueles que ainda não conhecem)
Atividade 9: relembre com os alunos alguns episódios (na internet tem
vários), procurar exemplos como, o churrasco do Derosso, o boicote aos postos de
gasolina, manifestações contra a corrupção.
Atividade 10: essa é a atividade mais relevante desse trabalho. Aqui é muito
importante o empenho e envolvimento do professor em organizar essa atividade,
iniciando por fazer a distribuição de 1(um) vereador para cada aluno, na sequência é
necessário agendar a visita à Câmara Municipal e viabilizar a ida dos alunos. Na
Câmara, os alunos deverão procurar o gabinete de “seus” vereadores para uma
apresentação. É possível que algum vereador queira falar com o professor para
saber exatamente do que trata esse projeto, portanto é importante ter claro o que se
pretende com esse trabalho, bem como conhecer a função do vereador. Oriente os
alunos sobre as regras de comportamento na sessão plenária. É importante o
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professor explorar o site da Câmara Municipal para saber o que está acontecendo e
verificar se os alunos estão acompanhando o trabalho do “seu” vereador.
Professor, é importante informar ao aluno que ele será avaliado de forma
contínua e que será analisado seu envolvimento nas atividades, de que forma está
participando, questionando, debatendo, pesquisando. Essas condições são
relevantes para se atingir o objetivo desse trabalho que é o de proporcionar a cada
aluno situações que o levem à reflexão crítica sobre o seu papel na sociedade
enquanto cidadão capaz de compreender e transformar a realidade através da
efetiva participação política.
REFERÊNCIAS
BAGGIO, F. S. F. Movimento de Participação Popular na Constituinte. Curitiba: Editora Gráfica Popular: CEFURIA, 2006.
BARROS JUNIOR, J. L. F. Desempenho eleitoral nas eleições proporcionais de 2008
em Curitiba. 2011. (Dissertação de Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal do Paraná.
BENEVIDES, M. V. de M. A cidadania ativa: referendo, plebiscito e iniciativa popular. 3. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.
CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA. Curitiba, 2012. Disponível em: <http://www.cmc.pr.gov.br/>. Acesso em: 08 nov. 2012.
CARDOSO, R. C. L. A trajetória dos movimentos sociais. In DAGNINO E. (Org). Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
CICONELLO, A. A participação social como processo de consolidação da democracia no Brasil. In. GREEN, D. Da pobreza ao poder: como cidadãos ativos e estados efetivos podem mudar o mundo; São Paulo: Cortez, 2009.
DALLARI, D. de A. O que é participação política. Coleção primeiros passos. São Paulo: editora brasiliense, 1984.
DUARTE, S. M. Isto É: Os discursos em torno da lenta redemocratização brasileira (1976-1981). 2007. 134 f. (Dissertação de Mestrado em História) – Universidade
Federal da Grande Dourados. HARVEY, D. “o ultra-capitalismo encontrou um adversário”. Disponível em:<
http://www.vermelho.org.br/hiphop/noticia.php?id_noticia=180059&id_secao=9>.
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Questionário
1)Idade: 2)Sexo:
3)Com que frequência você lê ou assiste as notícias políticas nacionais e locais? ( )Diariamente ( )Semanalmente ( )Raramente
4)O que você sabe sobre as recentes denúncias de corrupção, divulgadas pela mídia (rádio, TV e internet), envolvendo a Câmara Municipal de Curitiba e o caso dos Diários Secretos na Assembleia Legislativa do Paraná?
5)O que você sabe sobre as atribuições do vereador, deputado e senador (poder legislativo)?
6)Você se inclui entre aqueles que contribuem para combater e diminuir a corrupção na política, acompanhando e fiscalizando o que os vereadores, deputados e
senadores fazem e cobrando ética e transparência de seus mandatos? ( )Sim. De que forma? ( )Não. Por quê?
7)Você já telefonou, enviou e-mail, acessou o site ou página nas redes sociais de algum vereador, deputado ou senador para criticar, cobrar ou elogiar alguma ação
desse parlamentar? ( )Sim ( )Não
8)Atuação política nas redes sociais (twitter e facebook): Você lê as informações políticas veiculadas nas redes sociais? ( )Sim ( )Não
Você compartilha as informações políticas veiculadas nas redes sociais? ( )Sim ( )Não Você já participou de alguma manifestação ou protesto organizado pelas redes
sociais? ( )Sim ( )Não
9)Dentre as manifestações citadas abaixo, em qual delas você já participou ou participa? ( )Manifestações contra a Ditadura
Militar ( )Campanha pelas Diretas Já ( )Fora Collor
( )Movimento pela ética na Assembleia Legislativa ( )Movimento contra a corrupção na
Câmara Municipal de Curitiba ( )Greve ( )Campanha eleitoral
( )Campanha ecológica
( )Campanha pela paz ( )Campanha por segurança ( )Participação em associação de
moradores ( )Participação em sindicato, ONG ( )Participação em grupo de jovens,
grêmio estudantil ( )Nenhuma
Se a resposta foi “Nenhuma”, por que não participa? 10)Qual a avaliação que você faz sobre o seu nível de participação política em
nossa sociedade?