28
Título Impacto do setor financeiro na economia real e efeitos da crise nas decisões de investimento e financiamento das empresas brasileiras: uma extensão da metodologia insumo-produto 1 Autores Msc. Erika Burkowski Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] Dr. Fernando Salgueiro Perobelli Professor Associado do Departamento de Economia FE/UFJF e do PPGEA/FE/UFJF. Bolsista de Produtividade CNPq [email protected] Dra. Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli Professora Associada do Departamento de Economia FE/UFJF e do PPGEA/FE/UFJF [email protected] Resumo Este trabalho objetiva avaliar o impacto dos fluxos financeiros no lado real da economia e identificar os possíveis efeitos da crise financeira global nas decisões de investimentos e financiamento das empresas brasileiras. Para tal, faz-se uso das Matrizes de Contabilidade Social e Financeira brasileira no período de 2005 a 2009. Os resultados mostram que inserir os fluxos financeiros na análise dos multiplicadores gera um impacto positivo e significativo, o produto dos setores aumentou ente 4,56 e 13,61 %. Reflexos da crise, como a redução nos investimentos, na poupança e mudanças nas fontes de financiamentos das empresas brasileiras, puderam ser visualizados. Palavras-chave: Matriz de Contabilidade Social e Financeira, Fluxos Financeiros, Análise de Impacto Abstract This paper aims to evaluate the impact of financial flows in the real side of the economy and assess the possible effects of the global financial crisis in the financing and investment decisions of the Brazilian companies. For this, the work make use of the Brazilian Financial and Social Accounting Matrices from 2005 to 2009. The results show that enter the financial flows in the analysis of multiplier generates a significant and positive impact, the product sectors increased by 4.56- 13.61%. Consequences of the crisis, like the reduction of investments, savings and changes in the sources of financing for Brazilian companies, could be-viewed. Key words: Financial Social Accounting Matrix, Financial flows, Impact Analysis 1 Os autores agradecem o apoio da FAPEMIG, CAPES e CNPq para realização deste trabalho.

Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Título

Impacto do setor financeiro na economia real e efeitos da crise nas decisões de investimento e

financiamento das empresas brasileiras: uma extensão da metodologia insumo-produto1

Autores

Msc. Erika Burkowski – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada

da Universidade Federal de Juiz de Fora – [email protected]

Dr. Fernando Salgueiro Perobelli – Professor Associado do Departamento de Economia –

FE/UFJF e do PPGEA/FE/UFJF. Bolsista de Produtividade CNPq –

[email protected]

Dra. Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli – Professora Associada do Departamento de

Economia – FE/UFJF e do PPGEA/FE/UFJF – [email protected]

Resumo

Este trabalho objetiva avaliar o impacto dos fluxos financeiros no lado real da

economia e identificar os possíveis efeitos da crise financeira global nas decisões

de investimentos e financiamento das empresas brasileiras. Para tal, faz-se uso das

Matrizes de Contabilidade Social e Financeira brasileira no período de 2005 a

2009. Os resultados mostram que inserir os fluxos financeiros na análise dos

multiplicadores gera um impacto positivo e significativo, o produto dos setores

aumentou ente 4,56 e 13,61 %. Reflexos da crise, como a redução nos

investimentos, na poupança e mudanças nas fontes de financiamentos das empresas

brasileiras, puderam ser visualizados.

Palavras-chave: Matriz de Contabilidade Social e Financeira, Fluxos Financeiros, Análise de

Impacto

Abstract

This paper aims to evaluate the impact of financial flows in the real side of the

economy and assess the possible effects of the global financial crisis in the

financing and investment decisions of the Brazilian companies. For this, the work

make use of the Brazilian Financial and Social Accounting Matrices from 2005 to

2009. The results show that enter the financial flows in the analysis of multiplier

generates a significant and positive impact, the product sectors increased by 4.56-

13.61%. Consequences of the crisis, like the reduction of investments, savings and

changes in the sources of financing for Brazilian companies, could be-viewed.

Key words: Financial Social Accounting Matrix, Financial flows, Impact Analysis

1 Os autores agradecem o apoio da FAPEMIG, CAPES e CNPq para realização deste trabalho.

Page 2: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

I. INTRODUÇÃO

As crises financeiras recentes mostraram que choques nos mercados financeiros

desencadeiam efeitos relevantes no lado real da economia, portanto, uma abordagem que

capture as relações (sentido e força) entre lado financeiro e o lado real se faria necessária. Para

tal, Leung e Secrieru (2012) propõem que modelos de insumo-produto tradicionais sejam

estendidos de modo a evidenciar como um aumento na produção, desencadeado por um choque

na demanda final, aumentaria a renda das famílias e empresas, levando a mais consumo e

investimento (e ainda mais produção) ou poupança. Essa poupança, por sua vez, poderia ser

destinada ao setor produtivo, via mercado financeiro, gerando ainda mais investimento,

produção e renda, num ciclo positivo. A esse enfoque estendido, conseguido pela manipulação

da Matriz de Contabilidade Social (MCS), denomina-se Matriz de Contabilidade Social e

Financeira (MCSF).

Para modelar um fenômeno considerando a interdependência da distribuição de renda e

o processo produtivo ou, no caso de maior interesse para este trabalho, a interdependência da

estrutura financeira e o processo produtivo na economia brasileira, seria necessário

compatibilizar o Sistema de Contas Nacionais (SCN) com a Matriz de Insumo-Produto (MIP)

de forma a se obter uma Matriz de Contabilidade Social (MCS) e implementar modificações e

melhorias para incorporar transações que envolvam os fluxos de ativos e passivos financeiros.

Este tipo de abordagem representa uma lacuna na literatura brasileira.

Tendo em vista que o setor financeiro é potencialmente importante para a dinâmica de

desenvolvimento em um país e que políticas financeiras inapropriadas podem danificar a

estabilidade econômica2, o objetivo do presente trabalho é construir matrizes de contabilidade

social que permitam avaliar questões inerentes ao impacto das decisões de poupança dos

agentes superavitários e de empréstimo dos agentes deficitários no sistema, sobre o lado real.

Para tal, far-se-á uso das matrizes de insumo-produto elaboradas no âmbito do Núcleo de

Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (NEREUS/USP) e do Sistema de

Contas Nacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A

metodologia será aplicada para os anos de 2005 a 2009, para investigar as relações reais e

financeiras e para que sejam analisados impactos da recente crise financeira.

2 Levini (1997) discute a importância do sistema financeiro no crescimento e no desenvolvimento econômico,

Pyatt e Round (1985) trazem a questão para o contexto da Matriz de Contabilidade Social.

Page 3: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Uma MCS completa pode fornecer tanto análises descritivas como prospectivas de uma

determinada economia (PYATT e ROUND, 1985). Assim, o produto deste trabalho permitirá

verificar a dinâmica do mercado financeiro, a contribuição do mesmo para o aumento do

produto nacional, além de observar quais os efeitos de choques na estrutura financeira sobre os

setores produtivos e sobre o produto no Brasil. Possibilitará também identificar se esses efeitos

seriam diferenciados de acordo com características de restrição financeira enfrentadas por

alguns desses setores.

Para verificar o efeito dos choques, serão calculados dois tipos de multiplicadores:

Multiplicador da MCS-Real (linkages entre produção, geração de renda e consumo são

endógenos, mas linkages entre geração de renda, poupança e investimento são exógenos) e

multiplicador da MCSF (todos os linkages, produção, geração de renda, consumo, poupança e

investimento são endógenos). A partir desta formulação da MCSF, será possível detalhar a

análise em nível do ativo financeiro de interesse (por exemplo, avaliar o efeito da variação de

empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo, de créditos comerciais e do mercado de

capitais sobre o lado real da economia) e permitirá a calibragem de modelos de equilíbrio geral

computável3.

Na sequência, apresenta-se a Contextualização, em que são citadas as bases teóricas

para o desenvolvimento deste trabalho; a Metodologia, em que é detalhado o processo de

construção da MCSF brasileira e a formulação dos indicadores para a análise de impacto;

seguida dos Resultados, em que se apresenta a análise a comparação entre os multiplicadores

da MCS-Real e da MCSF, , o impacto de variações nos instrumentos financeiros no ano de

2005 e análise da evolução dos multiplicadores e dos ativos e passivos financeiros no período

de 2005 a 2009; por último, são feitas Considerações Finais, destacando as contribuições do

trabalho e perspectivas para análises futuras.

3 Modelos de equilíbrio geral computável precisam ser calibrados com uma base de dados detalhada que apresente

os fluxos de transações entre os agentes econômicos, Sadoult e Janvry (1995) e Bernanke, et al (1999) apresentam

modelos de equilíbrio geral formulados para análise de políticas econômicas, que consideram os fluxos financeiros

como essenciais no sistema. Ressalta-se que não há, até o momento, uma base de dados no Brasil que permita esta

formulação e que a Matriz de Contabilidade Social e Financeira apresentada neste trabalho compreende as

informações e relações necessárias para este fim.

Page 4: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

II. CONTEXTUALIZAÇÃO

Para uma dada região ou país específico, os fluxos monetários de bens e serviços entre

as indústrias locais e os demais agentes que participam desta economia podem ser representados

em uma matriz, denominada Matriz de Insumo-Produto (MIP), orginalmente desenvolvida por

Leontief. A MIP proporciona informações detalhadas e consistentes sobre a estrutura de

produção intersetorial de uma economia, permitindo que se tenha uma descrição numérica do

tamanho e da estrutura desta economia específica em relação às interações entre agentes

produtores e consumidores (para mais detalhes, ver MILLER e BLAIR, 2009).

Na literatura, é possível observar uma série de aplicações da metodologia de Leontief

que permitem mensurar, dentre outros, o impacto que mudanças ocorridas na demanda final ou

em cada um de seus componentes teriam sobre a produção total, emprego, importações,

impostos, salários e valor adicionado.

Entretanto, a MIP não apresenta como o fluxo de renda gerado na produção é distribuído

entre os setores institucionais. Assim, de forma a ampliar a análise, pode-se desenvolver uma

Matriz de Contabilidade Social (MCS), entendida como uma extensão da MIP por conciliar as

contas de rendimento e produção nacional com as contas setoriais em um sistema estatístico

unificado (SANTOS, 1999).

De acordo com Pyatt e Round (1985), a MCS é uma representação particular das contas

macro, meso e microeconômicas de um sistema sócio econômico. Ela captura as transações e

transferências entre todos os agentes econômicos e instituições no sistema. Por um lado, ela

representa a “fotografia” do sistema econômico em um momento particular, ao descrever as

relações funcionais e institucionais que nele ocorrem, e, por outro lado, serve de base para a

criação de um modelo capaz de analisar o funcionamento deste mesmo sistema e simular os

efeitos de intervenções políticas nele. A MCS descreve/classifica as contas nacionais do SCN

e a conta de produção da MIP em débitos (despesas) e créditos (receitas).

A classificação das contas em uma MCS Macro pode tomar várias formas, dependendo

de como as contas que a constituem são definidas e também do interesse analítico e preocupação

do formulador de políticas. Usualmente, há seis tipos mais comuns de contas que podem ser

distinguidas em uma MCS Macro, que são: a) atividades produtivas; b) bens produtivos; c)

fatores de produção; d) conta corrente das instituições domésticas; e) conta de capital das

instituições (poupança e investimento) e f) restante do mundo.

Segundo Pyatt (1999), a essência da MCS está em unir a matriz de transações com a

matriz de transferências entre os diferentes tipos de agentes institucionais. Como dito, para

Page 5: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

completar o fluxo circular da renda, os agentes transferem suas poupanças para o mercado

financeiro, o qual permitirá novos fluxos de financiamento e investimento. Contudo, na MCS

este fluxo financeiro não é detalhado, sendo apresentado como um saldo (positivo ou negativo)

existente entre a economia doméstica e o resto do mundo.

Para se desenvolver uma análise de impacto que considere também o lado financeiro da

economia, é preciso ampliar a MCS de forma a evidenciar os ativos e passivos financeiros nela

transacionados. A este enfoque ampliado dá-se o nome de Matriz de Contabilidade Social e

Financeira (MCSF).

De acordo com Wong et al. (2009), o que difere uma MCS de uma MCSF é a

representação da Conta Capital. A Conta Capital na MCS é uma conta que registra a poupança

dos agentes (empresas, famílias e governo) e corresponde ao investimento total destes

diretamente em ativos fixos, ou seja, na formação bruta de capital fixo. A criação de uma Conta

Capital distinta para cada agente permite que se analisem detalhes dos diversos ativos mantidos

por eles (físicos e/ou financeiros). A Conta Financeira apresenta os detalhes da natureza e

estrutura dos recursos financeiros e de seu uso pelos agentes, mostrando que a poupança pode

não ser imediatamente investida em ativos fixos, pois há a possibilidade de que sejam realizados

investimentos em ativos financeiros pelos agentes superavitários. Estes investimentos são

captados pelas instituições financeiras e podem, posteriormente, ser convertidos em ativos

fixos, por meio de empréstimos aos agentes deficitários e na aplicação em títulos e ações. A

figura 1 destaca as principais relações entre a MCS e MCSF.

A primeira área (AREA 1) indicada na figura 1 representa a Matriz de Contabilidade

Social da Economia Real, sem poupança e conta de bens de capital. A segunda área (AREA 2)

mostra a transformação da poupança dos agentes e contribuições de cada agente à formação

bruta de capital fixo. A última área (AREA 3) representa o módulo financeiro da MCS, onde as

células sombreadas indicam o fluxo de ativos e passivos financeiros. As células desta área, de

acordo com Wong et al. (2009), representam a ligação entre o lado real e o lado financeiro da

economia.

Page 6: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Figura 1: Relações entre a MCS e MCSF Fonte: Wong et al. (2009)

Como se pode observar na figura 1, os quatro primeiros blocos de contas da MCSF são

semelhantes à MCS, referindo-se às linhas e colunas que representam o fluxo de bens e serviços

e o fluxo do valor adicionado, ou fatores de produção, além das demais transações entre os

grupos na Conta Corrente. Já a Conta Capital terá um maior detalhamento na MCSF e o último

bloco é uma extensão, na qual se insere a Conta Financeira.

Como destacam Wong et al. (2009), a MCSF permite diversas aplicações, entre elas

visualizar a performance e as contribuições do mercado financeiro em relação à distribuição

nacional da renda; o estudo da dívida pública e a antecipação de impactos de políticas públicas

expansionistas ou contracionistas.

Para a economia canadense, onde esse enfoque foi empregado, Leung e Secrieru (2012)

verificaram que um choque na disponibilidade de recursos (fundos externos) para as firmas

provocou um impacto considerável no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Essa relação levanta

o questionamento de quão efetiva uma política monetária expansionista pode ser em termos de

crescimento econômico.

Page 7: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

III. METODOLOGIA

A MCSF para o Brasil foi elaborada a partir dos dados sobre as transações econômicas

divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Núcleo de

Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (NEREUS/USP).

As Tabelas de Recursos e Usos (TRU) do IBGE e do NEREUS/USP foram utilizadas

para reorganizar as Matrizes Insumo-Produto (MIP) no formato de Matriz de Contabilidade

Social (MCS) fornecendo informações sobre o detalhamento de oferta e demanda de bens e

serviços pelos setores produtivos. As Contas Econômicas Integradas (CEI), divulgadas pelo

IBGE no conjunto de contas pertencentes ao Sistema de Contas Nacionais (SCN), foram

utilizadas na construção do bloco de transações da Conta Corrente, Conta Capital e Conta

Financeira da MCSF, fornecendo informações referentes às transações entre os setores

institucionais da economia. Desta forma, as TRU proveram as informações referentes ao fluxo

de bens e serviços, enquanto que as CEI forneceram as informações referentes ao fluxo da renda

e fluxo de fundos4. A estrutura semântica da Matriz de Contabilidade Social e Financeira

(MCSF) para o Brasil é apresentada no Anexo 15.

A MCSF foi organizada em sete grupos de contas que especificam diferentes tipos de

transações, são eles: Conta de Bens, Conta de Setores, Conta de Fatores, Conta Corrente, Conta

Capital, Conta Financeira e Resto do Mundo. Segue a descrição das identidades

macroeconômicas preservadas na MCSF:

1. Conta de Bens: Produção = Consumo Intermediário + Consumo Final + Investimentos +

Exportação

2. Conta de Setores: Produção = Consumo Intermediário + Valor Adicionado + Importações

3. Conta de Fatores: Valor Adicionado pago pelos setores produtivos = Valor Adicionado

recebido pelos setores institucionais

4. Conta Corrente: Valor Adicionado recebido pelos setores institucionais + Renda de

Propriedade e Renda Recebida de Transferências Correntes + Transferências Recebidas do

Exterior = Consumo Final + Pagamento de Transferências Correntes + Poupança +

Transferências Enviadas ao Exterior

5. Conta Capital: Poupança + Transferências de Capital recebida + Variação de Passivos

Financeiros = Investimentos + Transferência de Capital paga + Variação de Ativos

Financeiros

6. Conta Financeira: Variação de Ativos Financeiros domésticos + Variação de Ativos

Financeiros do Exterior = Variação de Passivos Financeiros domésticos + Variação de

Passivos Financeiros do Exterior

4 Recentemente o IBGE divulgou os resultados da Conta Financeira e da Conta de Patrimônio Financeiro como

parte integrante das Contas Econômicas Integradas. 5 A descrição detalhada dos procedimentos para elaboração da Matriz de Contabilidade Social e Financeira para

o Brasil pode ser visto em Burkowski, et al. 2014.

Page 8: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

A MCSF Articulada para o Brasil possui 184 linhas e colunas6. A Conta de Bens envolve

as 110 primeiras linhas e colunas da matriz. Na coluna evidenciam a oferta de bens e serviços,

na linha, a demanda dos agentes por aqueles bens e serviços. A demanda, ou o destino da

produção, será: Consumo Intermediário, Consumo Final, Investimentos e Exportação.

A Conta Setores compreende as linhas e colunas 111 a 167. Nas linhas, evidencia a

produção dos bens e serviços pelos setores produtivos, total ao preço de consumidor. Indica a

renda gerada no setor produtivo e traz o detalhamento da produção dos 110 bens e serviços por

56 setores produtivos. Nas colunas, a Conta Setores evidencia o gasto do setor produtivo e é

subdividida em Consumo Intermediário, Valor Adicionado e Importações.

A Conta de Fatores envolve as linhas e colunas 168 a 171. Na linha, apresenta o Valor

Adicionado pago pela atividade produtiva, que, pela ótica da despesa, representam os gastos

dos setores com os fatores produtivos, estão subdivididos em remuneração, excedente

operacional bruto e impostos líquidos de subsídios. É o gasto dos setores e é a renda dos fatores.

Na coluna, indicam a alocação da renda gerada na produção aos agentes institucionais. É o

gasto dos fatores e a renda dos agentes.

A Conta Corrente indicada nas linhas e colunas 172 a 175 é subdividida nos seguintes

agentes institucionais: empresas não financeiras, empresas financeiras, administração pública

(governo) e famílias. A Conta Corrente representa, na linha, a origem da renda de cada um dos

setores institucionais, já na coluna, representa a alocação da renda pelos agentes. A renda dos

agentes pode vir da produção, de transferências realizadas entre os agentes e de remuneração

ou transferências realizadas por agentes do exterior.

Sob o olhar do uso, a Conta Corrente analisada pela coluna representa a alocação da

renda das instituições. Estes gastos podem ser classificados em Consumo Final, Transferências

Correntes e Poupança.

A Conta Capital é evidenciada nas linhas e colunas 176 a 179. A linha reflete toda a

geração de recursos para investimentos: a poupança, as transferências de capital e a obtenção

de recursos por meio de operações financeiras. Na coluna, a Conta Capital representa toda a

aplicação de recursos pelos agentes. Estas aplicações podem ser em investimentos fixos

(formação bruta de capital fixo e variação de estoque), em transferências de capital, e em ativos

financeiros, quando o excedente de capital é investido em aplicações financeiras.

6 As MCSF Articuladas para o Brasil (2005 a 2009) foram omitidas por limitação de espaço, estas

podem ser obtidas com os autores.

Page 9: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

A Conta Financeira é evidenciada nas linhas e colunas 180 a 186. Na linha tem-se a

variação de ativos financeiros, entendida como aplicação de recursos excedentes, e, na coluna,

tem-se a variação de passivos financeiros, entendidos como fontes de recursos. A Conta

Financeira é desagregada em sete instrumentos financeiros, os quais serão detalhados na seção

4.2.

A Conta Resto do Mundo, que evidencia as transações entre a economia brasileira e o

mercado externo, é exibida na linha e na coluna 187. Na linha, apresentam-se os gastos da

economia brasileira com outras economias. Estes gastos são classificados em importações,

renda de fatores enviada ao exterior, renda de não fatores enviada ao exterior, transferências de

capital enviadas ao exterior e a variação de passivos financeiros do exterior. Na coluna,

evidenciam-se os recursos que entraram na economia brasileira originados no exterior. Estes

são classificados em exportações, renda de fatores recebida do exterior, renda de não fatores

recebida do exterior, transferências de capital recebidas do exterior e, finalmente, a variação de

ativos financeiros do exterior.

Através dos fluxos inter-setoriais e da produção total, para um dado período de tempo,

pode-se determinar os coeficientes técnicos ou razão de insumo-produto, considerando a

tecnologia de produção fixa. A matriz formada pelo conjunto de coeficientes técnicos é a matriz

de coeficientes técnicos. A matriz inversa da matriz de coeficientes técnicos é conhecida como

matriz de requerimentos totais, ou inversa de Leontief.

A partir da inversa de Leontief, pode-se avaliar o efeito de variações da demanda

exógena no produto de cada setor por meio de multiplicadores de Insumo-Produto (I-P). Esta é

uma das aplicações do modelo de I-P, chamada de Análise de Impacto, cujo objetivo é analisar

o efeito de curto prazo nas indústrias resultante de um aumento na demanda final de uma ou

mais indústrias.

Por meio dos multiplicadores, é possível mensurar o impacto que mudanças ocorridas

na demanda final, ou em cada um de seus componentes (consumo das famílias, gasto do

governo, investimento e exportações), teriam sobre a produção total, emprego, importações,

valor adicionado, entre outros (GUILHOTO, 2004).

A extensão do modelo de I-P para a abordagem da Matriz de Contabilidade Social

(MCS) é feita particionando as contas da MCS em endógenas e exógenas e assumindo que a

coluna de coeficientes das contas endógenas são constantes. Endógenas são aquelas para as

quais mudanças no nível de gastos terão impactos diretos nas mudanças da renda e exógenas

são aquelas para as quais assume-se que os gastos são independentes da renda. Normalmente

se considera o setor externo, governo e conta capital como exógenas e se justifica tal escolha

Page 10: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

pela teoria macroeconômica, mas esta definição pode ser feita de acordo com os objetivos do

estudo. Neste trabalho, governo e setor externo serão considerados exógenos. Esta definição

permite analisar o efeito de políticas econômicas e choques externos.

Passando para a análise dos multiplicadores da Matriz de Contabilidade Social e

Financeira (MCSF), é possível estabelecer a relação entre os multiplicadores da MCS e da

MCSF. A equação 1, a seguir, apresenta a MCSF particionada em 4 blocos:

AMCSF = (AMCS A12

A21 0), (1)

Onde:

AMCS representa a Matriz de Multiplicadores MCS sem os fluxos financeiros, excluindo

as linhas e colunas referentes ao governo e setor externo que são exógenas. Define-se A12 e A21

como as matrizes das bordas da AMCS quando estendida ao bloco financeiro. A12 inclui as

variações dos passivos financeiros de todos os agentes e A21 reúne as contas de ativos

financeiros de todos os agentes.

A inversa de Leontief da AMCSF, (𝐼 − AMCSF)−1, é a matriz formada pelos coeficientes

técnicos, cuja partição pode ser escrita pela equação 2:

(I − AMCSF)−1 = ((I − AMCS) −A12

−A21 I)

−1

(2)

Para simplificar a análise, a equação 2 será denotada pelos termos da equação 3, a seguir,

e será chamada a inversa de Leontief da AMCSF:

(I − AMCSF)−1 = (F11 F12

F21 F22)

−1

(3)

Esta equação guarda algumas relações importantes. A proposição 1 mostra como os

multiplicadores da MCSF estão relacionados com os multiplicadores da MCS (Leung e

Secrieru, 2010):

Proposição 1: a inversa de Leontief da AMCSF , (I − AMCSF)−1 , é relacionada à inversa

de Leontief da AMCS, (I − AMCS)−1, pelas equações 4 a 7, a seguir:

F11 = [I − (I − AMCS)−1A12A21]−1(I − AMCS)−1 (4)

F22 = [I − A21(I − AMCS)−1A12]−1 (5)

F12 = F11A12 (6)

F21 = F22A21(I − AMCS)−1 (7)

A proposição 1 mostra como os multiplicadores MCSF podem ser obtidos das partições

da MCS. A Equação 4 evidencia que os multiplicadores financeiros são obtidos expandindo a

matriz de multiplicadores da MCS, (I − AMCS)−1, pelo fator [I − (I − AMCS)−1A12A21]−1. Este

Page 11: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

fator é referido como Multiplicador Externo de Miyazawa7. O multiplicador externo mostra o

efeito de mudanças nos passivos e ativos financeiros, A12 e A21, na economia real, (I −

AMCS)−1.

As equações 5 a 7 caracterizam os multiplicadores consolidados, que incluem na conta

os requerimentos diretos de produção (I − AMCS)−1e também os requerimentos induzidos pelo

fluxo financeiro na economia, A12 e A21.

Calculando os multiplicadores da MCSF e comparando-os com os multiplicadores da

MCS, pode-se avaliar o impacto do lado financeiro no lado real da economia. O conjunto de

multiplicadores gerados a partir da equação 4 serão comparados com os multiplicadores da

MCS para avaliar o impacto dos fluxos financeiros no produto dos setores produtivos e nos

agentes econômicos e o conjunto de multiplicadores formado a partir da equação 6 serão

utilizados para avaliar o impacto dos instrumentos financeiros nos setores produtivos e nos

agentes econômicos.

IV. RESULTADOS

A partir da MCSF brasileira, foram calculados os multiplicadores da Matriz de

Contabilidade Social (MCS-Real), nos quais governo, setor externo e os fluxos financeiros são

exógenos e os multiplicadores da Matriz de Contabilidade Social e Financeira (MCSF), nos

quais os fluxos financeiros são endógenos, somente governo e setor externo são exógenos, para

os anos de 2005 a 2009.

Incialmente serão apresentados e comparados os multiplicadores da MCS-Real e da

MCSF para o ano de 2005, evidenciando o impacto de variações do produto dos setores e do

fluxo de renda corrente e de recursos para investimento dos agentes econômicos.

Posteriormente será analisado o impacto de variações dos instrumentos financeiros nos setores

e nos agentes. E por último uma avaliação da evolução dos multiplicadores e dos ativos e

passivos financeiros durante o período de 2005 a 2009, para evidenciar efeitos da crise

financeira global.

4.1 Análise de Impacto

O multiplicador do produto da MCS-Real, indica o impacto do aumento de uma unidade

da demanda de um determinado setor no produto total da economia, considerando o efeito

7Formulado por Miyazawa (1976) para investigar os efeitos diretos e indiretos da distribuição de

renda.

Page 12: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

direto, o aumento da produção do setor, e o efeito indireto, o aumento induzido nos demais

setores, com fluxos de produção e distribuição de renda endógenos.

Observa-se que o impacto médio dos multiplicadores da MCS-Real é de 3,23 unidades.

O menor multiplicador é do setor de Serviços imobiliários e aluguel (2,39) e o maior em

Alimentos e bebidas (3,74). Isso significa que o aumento de uma unidade na demanda final do

setor de Alimentos e bebidas, por exemplo, induziria ao aumento de 3,74 unidades no produto

total da economia. A mesma interpretação é válida para os demais setores.

Os setores que geram maior impacto no produto da economia brasileira são: Alimentos

e bebidas, Automóveis, caminhonetas e utilitários, Artefatos de couro e calçados, Caminhões e

ônibus, Produtos do fumo, Peças para veículos automotores.

A despeito dos multiplicadores da MCSF para o Brasil, ressalta-se que estes valores

indicam o impacto no produto total da economia advindo de uma mudança exógena na demanda

final de cada setor, considerando os efeitos diretos e indiretos, com os fluxos de produção,

distribuição de renda e fluxos financeiros (aplicações e obrigações financeiras) endógenos.

Observa-se que ao incorporar o fluxo financeiro na análise, há um aumento na média

dos multiplicadores e pequena variação na ordenação dos setores. O impacto médio dos

multiplicadores da MCSF é de 3,45 unidades, com 28 setores abaixo desta média e 28 setores

acima da média. É importante notar que o efeito dos fluxos financeiros é diferente entre os

setores. O menor multiplicador é do setor de Serviços imobiliários e aluguel (2,71) e o maior

em Alimentos e bebidas (3,96). Os 7 setores com maior impacto são os mesmos na MCS-Real

e na MCSF. A partir do sétimo setor na ordenação há uma alteração em termos de impacto,

retornando à igualdade na ordenação nos 5 setores com menor impacto.

A tabela 1 compara os multiplicadores setoriais totais do produto para o ano de 2005 da

MCS-Real e da MCSF, apresentando os multiplicadores e a diferença percentual entre eles.

Observa-se que, em 2005, os multiplicadores da MCSF são em média 6,82% maior que

os multiplicadores da MCS-Real, o incremento varia de 4,56% a 13,61%. Esta constatação

evidencia que há um aumento relevante no produto de todos os setores ao considerar os fluxos

financeiros.

Page 13: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Tabela 1: Comparação entre os Multiplicadores da MCS e MCSF: Setores

Produtivos

Setor MCS MCSF Diferença% Setor MCS MCSF Diferença%

Agricultura, silvicultura,

exploração florestal 3,07 3,31 7,932 Produtos do fumo 3,57 3,79 6,157

Pecuária e pesca 3,38 3,61 6,845 Outros da indústria extrativa 3,16 3,37 6,955

Petróleo e gás natural 3,11 3,35 7,875 Minério de ferro 3,11 3,36 8,026

Material eletrônico e

equipamentos de comunicações 3,24 3,41 4,986 Metalurgia de metais não-

ferrosos 3,18 3,39 6,575

Máquinas, aparelhos e materiais

elétricos 3,24 3,45 6,255 Automóveis, camionetas e

utilitários 3,71 3,88 4,569

Alimentos e Bebidas 3,74 3,96 5,973 Caminhões e ônibus 3,64 3,82 4,856

Máquinas para escritório e equipamentos de informática 3,05 3,20 4,772

Peças e acessórios para veículos automotores 3,48 3,67 5,573

Têxteis 3,28 3,51 7,042 Celulose e produtos de papel 3,37 3,57 6,178

Artigos do vestuário e acessórios 3,32 3,55 6,871 Construção 3,10 3,34 7,941

Artefatos de couro e calçados 3,65 3,85 5,437 Comércio 2,92 3,17 8,682

Produtos de madeira - exclusive

móveis 3,40 3,63 6,676 Móveis e produtos das indústrias

diversas 3,25 3,48 6,952

Outros equipamentos de

transporte 3,32 3,50 5,245 Eletricidade e gás, água, esgoto e

limpeza urbana 2,92 3,17 8,723

Jornais, revistas, discos 3,17 3,40 7,209 Álcool 3,27 3,53 7,880

Refino de petróleo e coque 3,28 3,46 5,684 Serviços de informação 2,98 3,22 8,299

Transporte, armazenagem e correio 3,12 3,36 7,427

Intermediação financeira e seguros 2,95 3,21 8,764

Produtos químicos 3,31 3,50 5,583 Serviços imobiliários e aluguel 2,39 2,71 13,618

Fabricação de resina e

elastômeros 3,23 3,41 5,704 Serviços de manutenção e

reparação 2,80 3,06 9,185

Serviços prestados às empresas 3,04 3,28 7,922 Saúde pública 3,23 3,43 6,434

Defensivos agrícolas 3,43 3,63 5,629 Produtos farmacêuticos 3,11 3,34 7,353

Perfumaria, higiene e limpeza 3,31 3,52 6,364 Educação mercantil 3,21 3,42 6,583

Fabricação de aço e derivados 3,25 3,46 6,565 Saúde mercantil 3,15 3,38 7,163

Produtos e preparados químicos

diversos 3,32 3,51 5,728 Serviços prestados às famílias e

associativas 3,17 3,40 7,235

Artigos de borracha e plástico 3,30 3,49 5,664 Serviços domésticos 3,07 3,28 6,763

Cimento 3,24 3,46 6,876 Educação pública 3,16 3,38 6,841

Outros produtos de minerais não-metálicos 3,26 3,47 6,492

Serviços de alojamento e alimentação 3,31 3,55 7,005

Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 3,36 3,55 5,755 Administração pública e

seguridade social 3,21 3,43 6,914

Aparelhos/instrumentos médico-

hospitalar, medida e óptico 2,95 3,17 7,737 Máquinas e equipamentos,

inclusive manutenção e reparos 3,39 3,59 5,820

Produtos de metal - exclusive

máquinas e equipamentos 3,22 3,44 6,955 Eletrodomésticos 3,42 3,61 5,615

Fonte: Elaborado pelos autores

A diferença entre os multiplicadores é também relevante quando se analisam os efeitos

devido a incrementos na conta corrente, que se refere a fluxos de renda para consumo e

Page 14: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

poupança e de incrementos na conta capital, que se refere a fluxos de recursos para

investimento. A tabela 2 apresenta estes multiplicadores.

Tabela 2: Comparação entre os Multiplicadores da MCS e MCSF: Agentes

Institucionais

Setor MCS MCSF Diferença%

Conta Corrente

Empresas Não Financeiras 0,86 1,31 52,495

Empresas Financeiras 0,97 1,30 34,245

Famílias 2,07 2,28 10,034

Conta Capital

Empresas Não Financeiras 1,13 2,06 82,738

Empresas Financeiras 0,01 1,24 10029,079

Famílias 1,26 1,94 53,742 Fonte: Elaborado pelos autores

Novamente é possível evidenciar o aumento nos multiplicadores ao considerar a

estrutura financeira endógena. Todavia, uma mudança importante que se deve destacar é que

na MCSF o incremento de uma unidade na demanda de fluxo de fundos para investimentos das

empresas não financeiras gera impacto maior no produto que o aumento similar no fluxo de

fundos para investimentos das famílias. Já nos multiplicadores da MCS-Real o efeito é maior

nas famílias.

Em outras palavras, o efeito dos investimentos das empresas na economia, considerando

a dinâmica do mercado financeiro, é maior que o efeito dos investimentos das famílias, já que

as primeiras estimulam a produção com a aquisição de máquinas e equipamentos (ativos fixos)

que irão aumentar o nível de produção. Como a MCSF é capaz de capturar os fluxos financeiros,

o aumento no multiplicador sugere que a poupança das empresas não investida em ativos fixos

é aplicada em ativos financeiros e revela que estes recursos retornam para a economia como

fonte de fundos para novos investimentos.

A maior diferença observada entre os multiplicadores da MCS-Real e da MCSF é

produzida por um aumento nos fundos para investimentos das empresas financeiras. O

incremento de uma unidade nos fundos para investimentos das empresas financeiras, gera 0,01

de aumento no produto na MCS-Real comparado ao aumento de 1,24 unidades na MCSF. A

Page 15: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

razão desta diferença é que as empesas financeiras, investem a maior parte de seus fundos em

ativos financeiros. Este efeito é completamente excluído na MCS-Real e é capturado na MCSF.

A diferença entre os multiplicadores da MCS-Real e da MCSF mostra a importância do

sistema financeiro. Quando os multiplicadores da MCS-Real são calculados, a poupança dos

agentes institucionais enógenos (empresas financeiras, empresas não financeiras e famílias) não

utilizados em investimentos físicos, aquisição de capital fixo, representam vazamentos do

sistema. Quando os multiplicadores da MCSF são calculados, a poupança não utilizada na

formação de capital fixo é investida em ativos financeiros, que podem ser direcionados para

empréstimos a agentes deficitários via mercado financeiro e retornar ao sistema, incrementando

o produto da economia. Quando estas aplicações são feitas em ativos financeiros na própria

economia, estes recursos retornam para a economia diretamente na forma de aplicações em

títulos, ações e empréstimos e indiretamente, sob a forma de depósitos bancários, que

proporcionam incremento na criação de moeda se tornando fontes de fundos adicionais para os

agentes.

O tamanho do impacto de um incremento na disponibilidade de fundos para

investimentos depende das decisões de portfólio das empresas financeiras. Se as empresas

financeiras investirem os fundos adicionais em ativos financeiros da economia doméstica,

haverá um impacto no produto maior do que se estes investimentos forem realizados em ativos

financeiros no exterior. Investimentos em ativos financeiros no exterior seriam vazamentos de

recursos da economia doméstica o que amorteceria o efeito de políticas de investimento

expansionistas.

4.2 Impacto dos Instrumentos Financeiros

De acordo com IBGE (2011), a Conta Financeira mostra como a capacidade ou

necessidade de financiamento, saldo da conta capital, se traduz nas aplicações e captações

líquidas nos vários tipos de instrumentos financeiros.

A conta financeira registra as operações financeiras, transações entre os setores

institucionais e a economia nacional e o resto do mundo que implicam em uma transferência de

propriedade de ativos financeiros, referindo-se às variações líquidas de ativos (aquisições

menos cessões) e as variações líquidas de passivos (emissão menos reembolsos).

Assim, a Conta Financeira mostra como os setores e a economia nacional, quando

deficitários, obtêm os recursos financeiros necessários através da contratação de

Page 16: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

responsabilidades ou pela cessão de ativos e como os setores e a economia nacional, quando

superavitários, aplicam o excedente adquirindo ativos financeiros ou reduzindo seus passivos.

A classificação dos instrumentos financeiros é apresentada na figura 2:

F.1 Ouro e DES

F.2 Numerário e depósitos

F.21 Numerário

F.22 Depósito transferível

F.29 Outros depósitos

F.3 Títulos, exceto ações

F.331 Curto prazo

F.332 Longo prazo

F.34 Derivativos financeiros

F.4 Empréstimos

F.41 Curto prazo

F.42 Longo prazo

F.5 Ações e outras participações

F.511 Ações cotadas

F.512 Ações não cotadas e outras participações

F.52 Participações em fundos de investimento

F.6 Reservas técnicas de seguros

F.61 Reservas de seguros de vida e de fundos de pensão

F.62 Reservas para prêmios e sinistros

F.7 Outros débitos/créditos

F.71 Créditos comerciais e adiantamentos

F.72 Outros

Figura 2: Classificação dos instrumentos financeiros Fonte: IBGE, Conta Financeira, 2011.

Ouro monetário inclui o ouro que se encontra em poder do Banco Central do Brasil e

que é mantido como reserva. Os direitos especiais de saque (DES) são ativos internacionais de

reservas criados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Numerário compreende as notas e moedas em circulação. Os depósitos se subdividem

em depósitos transferíveis e outros depósitos, sendo os transferíveis aqueles que podem ser

imediatamente conversíveis em numerários ou facilmente transferíveis através de cheques,

ordem de pagamentos, cartão de crédito ou similar. Os outros depósitos não podem ser

utilizados para fazer pagamentos, como os depósitos de poupança e os depósitos a prazo.

Os títulos são instrumentos negociáveis que servem como comprovante da existência de

uma dívida, inclui letras, bônus, certificados de depósitos negociáveis, títulos de dívida,

debentures, derivativos financeiros, papel comercial (commercial papers), valores respaldados

com ativos e instrumentos análogos normalmente negociáveis no mercado financeiro.

Page 17: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Os empréstimos são ativos financeiros que se criam quando os credores emprestam

fundos diretamente aos devedores e que estão registrados em documentos não negociáveis.

Ações e outras participações compreendem todos os instrumentos e registros em que se

reconhecem os direitos sobre o valor residual das sociedades, incluem ações cotadas em bolsas

de valores, ações não cotadas, participações em fundos de investimentos e outras participações,

estas consistem em todas as formas de capital próprio exceto ações.

As reservas técnicas de seguros se referem a seguros de vida, que são os direitos líquidos

das famílias sobre as provisões técnicas constituídas para fazer face às indenizações e benefícios

da previdência complementar e as outras reservas, que incluem operações de provisões para

prêmios não recebidos, provisões para sinistro e outras de seguros não vida.

Outros débitos e créditos compreendem os créditos comerciais e adiantamentos e uma

rubrica residual de outros. Os créditos comerciais e adiantamentos se referem à operações em

direito financeiro resultantes de crédito concedido por fornecedores de bens e serviços e de

adiantamentos de pagamentos relativos a trabalhos em curso ou a iniciar.

Foram calculados multiplicadores da MCSF que evidenciam o efeito que choques nos

instrumentos financeiros causariam nos produtos dos setores e no fluxo de renda corrente e de

renda para investimentos dos agentes institucionais. O Anexo 2 apresenta estes multiplicadores.

Pode-se observar que o impacto de choques na demanda por Empréstimos, é o que produz maior

efeito no produto dentre os instrumentos financeiros relacionados, o incremento de uma unidade

adicional na demanda por Empréstimos induz a um aumento de 2,03 unidades nos setores

produtivos distribuídos em aumentos de 0,35 na Construção, 0,18 no Comércio, 0,09 em

Transporte, armazenagem e correio, também 0,09 no setor de Máquinas e equipamentos, 0,08

em Alimentos e bebidas e o restante nos demais setores.

Como se pode observar o impacto de choques na demanda por empréstimos é positivo

em todos os setores, ou seja, incrementos na demanda por empréstimos induzem a aumentos na

produção dos setores. Outra observação importante é que o efeito é diferente nos diversos

setores, logo, cada setor reage de forma diferente ao incremento na demanda por empréstimos.

Os setores mais afetados são Construção, Comércio, Transporte, Máquinas e equipamentos,

Alimentos e bebidas e Intermediação Financeira. Os setores que sofrem menor impacto são os

setores Saúde pública, Produtos do fumo, Defensivos agrícolas, Eletrodomésticos e Álcool.

Estas constatações podem revelar características de restrição financeira dos setores

produtivos. Aqueles setores cujo multiplicador apresenta maior magnitude são os setores que

mais utilizam este tipo de financiamento, logo são os setores que têm maior acesso ao crédito

na forma de empréstimos. Políticas de crédito expansionistas terão maior efeito nestes setores.

Page 18: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

De forma análoga, aqueles setores cujos multiplicadores são menores, são os setores que

apresentam menor utilização deste instrumento financeiro, ou seja, são os setores que sofrem

maior restrição ao crédito.

4.3 Análise Longitudinal

Reforçando a importância do sistema financeiro, os multiplicadores da MCSF foram

maiores que seus correspondentes na MCS-Real ao longo dos 5 anos observados, para todos os

setores e para todos os fluxos de renda corrente e para investimentos.

A figura 3 apresenta a evolução dos multiplicadores da MCS-Real e da MCSF brasileira

durante o período de 2005 a 2009. São apresentados os valores da média setorial para cada ano.

Figura 3: Evolução dos Multiplicadores da MCS e MCSF do Brasil, 2005 a 2009 Fonte: Elaborado pelos autores.

Como se pode observar, os multiplicadores do produto da MCS-Real do Brasil

apresentaram leve crescimento entre 2005 e 2007, redução em 2008 e, em 2009, cresceram

acima do patamar que se encontravam em 2007. Já os multiplicadores da MCSF apresentaram

queda durante o período de 2005 a 2008 e aumento em 2009 para patamar superior ao do início

do período analisado. Na figura 3 é apresentada a média setorial, mas vale ressaltar que este

comportamento é semelhante em todos os setores quando analisados individualmente. Outra

observação relevante é que a diferença entre os multiplicadores varia ao longo dos anos, se

tornando menor nos anos de 2006 e 2007 em relação à 2005 e voltando a aumentar em 2008 e

2009.

Todo sistema produtivo depende de sua tecnologia de produção. Esta tecnologia de

produção evolui lentamente ao longo do tempo, assim, a parte real da MCSF pode ser pensada

2,9

3

3,1

3,2

3,3

3,4

3,5

3,6

2005 2006 2007 2008 2009

MCS MCSF

Page 19: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

como algo que evolui gradualmente ao longo do tempo. A parte real da MCSF inclui os setores

produtivos bem como o setor financeiro. O setor financeiro é um setor real, por possuir uma

função de produção e gerar valor agregado através da remuneração de seus trabalhadores e

investidores. A principal função do setor financeiro é de intermediação financeira. Portanto, o

setor financeiro, visto como um setor real, também possui sua tecnologia de produção que

evolui gradualmente. Por outro lado, este setor tem um papel muito maior. É através da estrutura

financeira, o mix entre instrumentos e instituições financeiras, que o setor financeiro é capaz de

estimular o crescimento econômico (LEVINI, 1997).

A parte dos fluxos financeiros (variação de ativos e passivos financeiros) apresenta

maior variabilidade que a parte real da MCSF. Sob este aspecto, os fluxos financeiros, como

citado na seção anterior, mostram como os agentes aplicam seus recursos excedentes, quando

superavitários e como eles financiam seus investimentos quando deficitários. Naturalmente

estas condições, superavitários e deficitários, podem variar de um período para outro, bem como

a forma de alocação e captação de recursos.

Esta maior variabilidade dos fluxo financeiros pode ser vista quando se compara o

coeficiente de variação, ao longo dos anos, dos multiplicadores da MCS-Real com os da MCSF.

O coeficiente de variação dos multiplicadores da MCSF são, em média, 57% maiores que os da

MCS-Real.

Os setores que apresentam maior diferença no coeficiente de variação entre os

multiplicadores da MCSF-Real e da MCSF são: alimentos e bebidas (diferença de 169%),

produtos farmacêuticos (131%) e eletricidade e gás, agua, esgoto e limpeza urbana (129%),

mostrando que este são os setores mais dependentes dos fluxos financeiros.

Outra forma de visualizar a variabilidade é analisar a trajetória dos fluxos de

investimentos e financiamentos reais e financeiros. Investigando os investimentos realizados e

os financiamentos utilizados pelas empresas não financeiras no período de 2005 a 2009,

observa-se que as formas reais (investimento em capital fixo e utilização de poupança)

apresentam menor variabilidade que as formas financeiras (ativos e passivos financeiros). A

tabela 3 apresenta a participação percentual nos investimentos em ativos fixos e financeiros em

relação ao total de investimentos e a participação percentual das fontes de financiamentos em

relação ao total de recursos utilizados pelas empresas não financeiras brasileiras, valores da

média e desvio padrão do período compreendido entre os anos de 2005 a 2009.

Tabela 3: Investimentos e Financiamentos das empresas não financeiras brasileiras, média

e desvio do período de 2005 a 2009

Page 20: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

ATIVOS Média Desvio PASSIVOS Média Desvio

Numerário e depósitos 8,89 5,75 Numerário e depósitos 0 0

Títulos, exceto ações 4,87 7,04 Títulos, exceto ações 2,09 1,52

Empréstimos -2,49 10,87 Empréstimos 16,32 10,44

Ações e outras participações 22,48 2,86 Ações e outras participações 25,84 4,98

Reservas técnicas de seguros 0,21 0,03 Reservas técnicas de seguros 0 0

Outros débitos/créditos 15,99 5,57 Outros débitos/créditos 1,17 8,82

FBCF + VE 50,05 8,6 Poupança 54,57 7,96

Fonte: Elaborado pelos autores.

Evidencia-se que em relação aos investimentos, as empresas aplicam metade dos

recursos (pouco mais de 50% do total) em ativos fixos, na formação bruta de capital fixo e

variação de estoques (FBCF+VE) e a outra metade (pouco menos de 50%) é investida em ativos

financeiros.

A maior parte dos investimentos em ativos financeiros são aplicações em ações e

participações. Observa-se que a variabilidade deste investimento é pequena em relação à média.

Os investimentos em reservas técnicas de seguros tem uma pequena participação percentual e

também pequena variabilidade. Devido a pequena variabilidade, pode-se dizer que

investimentos em ações, em seguros e investimentos em capital fixo são políticas permanentes

de investimentos.

A segunda maior participação dos investimentos em ativos financeiros são em outros

débitos e créditos. Entretanto há maior variabilidade em relação à média. Estes investimentos

representam investimentos financeiros no ciclo operacional, são créditos comerciais para

clientes e adiantamentos à fornecedores. Estes investimentos foram pouco realizados em 2006

e mais utilizados em 2007 e 2008.

Os investimentos nos demais ativos financeiros parecem ser muito dependentes das

condições externas. A figura 4 apresenta a evolução dos investimentos nos ativos financeiros

que apresentam maior variabilidade: numerário e depósitos, títulos e empréstimos.

Page 21: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Figura 4: Evolução dos ativos financeiros das empresas não financeiras brasileiras Fonte: Elaborado pelos autores.

Como se pode observar na tabela 3 e visualizar mais claramente no gráfico da figura 4,

os investimentos nestes três ativos financeiros apresentam grande variabilidade. O desvio

padrão dos numerários e depósitos, dos títulos e dos empréstimos representam 64%, 144% e

436% da média, respectivamente.

Os investimentos em numerários e depósitos, que têm participação relevante, cerca de

9% do total, evidenciam a preferência por liquidez. A manutenção de ativos líquidos permite

que as empresas possam efetuar pagamentos previstos e fazer frente às necessidades ou

oportunidades inesperadas. Em momentos de crise, estes recursos são direcionados para ativos

que rendem juros, como se observa a redução dos numerários e depósitos concomitante com o

aumento dos investimentos em títulos no ano de 2008.

Os investimentos em empréstimos apresentam uma média com valor negativo, pois nos

anos de 2007 e 2008 as aquisições foram negativas, ou seja, as cessões foram maiores que as

aquisições. A grande incerteza que rondava o período, redução da expectativa de crescimento,

aumento da inadimplência e probabilidade de falência, desestimulou estes investimentos.

Quanto às fontes de financiamentos utilizadas pelas empresas não financeiras, percebe-

se que a principal fonte de financiamento, ao longo dos anos, é a poupança que representa em

média, 55% do total de recursos. A emissão de ações é a segunda principal fonte de recursos

representando 26% e a terceira fonte de recursos mais utilizada são os empréstimos (16%). Na

sequência, títulos e outros créditos representam cerca de 2 e 1%, respectivamente.

-150.000

-100.000

-50.000

0

50.000

100.000

150.000

2005 2006 2007 2008 2009

Numerário e depósitos Títulos, exceto ações Empréstimos

Page 22: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

A poupança é a principal fonte de financiamento e o desvio apresentado é pequeno,

cerca de 14% em relação à média. Este desvio reflete o crescimento gradual de 2005 a 2008 e

a redução ocorrida em 2009. Em valores absolutos, a poupança cresceu quase 50% entre 2005

e 2008 e reduziu aproximadamente 5% em 2009 em relação ao ano anterior.

A participação das ações no total de financiamentos das empresas não financeiras ao

longo dos anos apresenta pouca variação em relação à média (cerca de 19%) comparado aos

demais ativos financeiros (aproximadamente 64%, 73%, 754% para empréstimos, títulos e

outros débitos e créditos, respectivamente).

A figura 5, apresenta o gráfico com a evolução das fontes de financiamentos utilizadas

pelas empresas não financeiras ao longo do período (2005 a 2009) e permite melhor

visualização da trajetória das mesmas.

Figura 5: Evolução das fontes de financiamentos das empresas não financeiras brasileiras

Fonte: Elaborado pelos autores.

Em relação à emissão de ações, há uma redução de 2005 para 2006, um aumento entre

2006 e 2008 e redução em 2009. De 2006 para 2007 o crescimento é de 50% e de 2007 para

2008 é de 55%. O crescimento do período reflete a grande quantidade de empresas que abriram

o capital no ano de 2007 e continuaram a capitalizar no ano seguinte. Já em 2008, como reflexo

da crise há uma redução de 26% na emissão de ações.

A participação dos empréstimos apresenta grande variação em relação à média. De uma

participação de 14% em 2005, vai para 24% em 2006, se reduz drasticamente, abaixo de 0 em

2007, aumenta para 26% em 2008 e reduz para 18% em 2009. A redução abaixo de zero indica

que ocorreram amortizações de empréstimos sem subsequentes emissões. A taxa de juros no

-100000

-50000

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

2005 2006 2007 2008 2009

Títulos, exceto ações Empréstimos

Ações e outras participações Outros débitos/créditos

Poupança

Page 23: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

ano de 2007 apresentava uma tendência de queda, o que seria um grande atrativo para as

empresas utilizarem esta fonte de recurso, mas não havia crédito disponível no mercado para

estes agentes (pela análise dos investimentos em ativos financeiros das empresas não

financeiras, observa-se a grande redução dos investimentos neste ativo - empréstimos - e a

análise dos empréstimos no total da economia mostra que a maior parte dos empréstimos

concedidos no ano de 2007 foram para empresas financeiras).

Os títulos têm baixa participação, representam em média 2%, mas têm uma variação

relevante. O valor absoluto dos títulos aumentam mais de 3.000% no ano de 2006 em relação

ao ano anterior, reduzem 46% no ano de 2007, aumentam quase 400% em 2008 e voltam a

reduzir 26% em 2009.

Os outros débitos e créditos, assim como os títulos têm pequena participação, mas sua

variabilidade é muito grande. No ano de 2007, a utilização desta fonte de financiamento

aumenta 490% em valores absolutos em relação ao ano anterior, em 2009 o aumento é de

aproximadamente 1364% em relação ao ano anterior. Percebe-se que a trajetória dos outros

débitos e créditos vai em sentido contrário a dos títulos e dos empréstimos. Quando os últimos

diminuem, os primeiros aumentam e vice versa.

Analisando conjuntamente a trajetória dos multiplicadores da MCSF e as variações dos

ativos e dos passivos das empresas não financeiras brasileiras no período de 2005 a 2009 pode-

se destacar reflexos da crise financeira global (meados de 2008 e início de 2009).

A evolução dos multiplicadores da MCSF ao longo dos anos evidenciaram que a

economia brasileira vinha reduzindo sua capacidade de aumentar o produto desde de 2005, ou

seja, antes da crise a economia brasileira já apresentava indícios de recessão econômica e no

ano de 2008, os multiplicadores apresentam o menor valor da série.

O aumento da diferença entre os multiplicadores da MCS-Real e da MCSF nos anos de

2008 e 2009, mostram que o sistema financeiro desempenha um papel mais importante em

momentos de crise. Por meio do sistema financeiro recursos são direcionados para o setor

produtivo para que este volte a ser o motor da economia, gerando renda e novos consumos.

A redução no nível de investimentos em ativos fixos e a redução da poupança entre 2008

e 2009 mostram os efeitos negativos no fluxo de capital real. A drástica redução na liquidez

visualizadas no ano de 2008 indicam que a crise financeira mundial afetou a liquidez das

empresas brasileiras, assim afetando também os investimentos financeiros que foram

direcionados, principalmente para títulos. Há indícios de que tenha afetado negativamente a

disponibilidade de crédito na economia, visto a grande redução dos empréstimos e também

negativamente a trajetória de crescimento do mercado de capitais, dada a redução de emissões

Page 24: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

de ações no ano de 2009. Estes impactos afetaram as fontes de financiamento acessíveis às

empresas, forçando-as a utilizar fontes alternativas para financiar seus investimentos, como a

emissão de títulos e utilização de outros débitos e créditos.

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou avaliar o impacto do setor financeiro na economia real e identificar

efeitos da crise financeira global por meio da análise de multiplicadores calculados a partir das

Matrizes de Contabilidade Social e Financeira para o Brasil, no período de 2005 a 2009.

Comparando os multiplicadores da MCS-Real com os multiplicadores da MCSF, este trabalho

ressaltou importância de se incluir o setor financeiro na análise, visto que o impacto dos fluxos

financeiros no produto real é significativo.

Através da análise dos multiplicadores demonstrou-se que o impacto do setor financeiro

é positivo, com o aumento dos multiplicadores em todos os setores. Foi possível evidenciar que

o efeito é diferente nos diversos setores, quais setores são mais e menos influenciados pelo lado

financeiro. Trouxe à luz uma questão importante no sentido de que, se o setor financeiro não

for considerado, análises de políticas podem ser distorcidas. Por exemplo, sem considerar o

setor financeiro, os multiplicadores da MCS-Real indicaram que os fluxos de fundos para

investimento das famílias gerariam impacto maior no produto em relação ao impacto gerado

pelas empresas, o que poderia levar a um maior direcionamento de recursos às famílias que ao

setor produtivo. É que, nesta formulação, a poupança tanto das empresas quanto das famílias

não aplicados em investimentos fixos são vazamentos da economia. Ao tornar os fluxos

financeiros endógenos, a poupança não investida em ativos fixos é aplicada em ativos

financeiros, estes ativos representados pelos instrumentos financeiros listados na Figura 2

retornam para economia, tanto diretamente na aplicação em ações e títulos como no aumento

da disponibilidade de recursos para serem emprestados, que constituem fonte de fundos para

novos investimentos.

A partir da análise da evolução dos multiplicadores e dos ativos e passivos foi possível

evidenciar efeitos da crise financeira global. Demonstrando que em 2008, a redução da liquidez

mundial também foi visível na economia brasileira e motivou redução dos investimentos em

ativos fixos, formação bruta de capital fixo, redução da poupança, mudanças nos investimentos

financeiros e nas fontes de financiamentos utilizadas pelas empresas não financeiras durante o

período.

Page 25: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Portanto, há que se ter em mente que a construção e o entendimento da estrutura da

MCSF brasileira representa uma contribuição para a literatura, pois as relações entre o setor

financeiro e o lado real da economia são detalhadas, permitindo a análise da inter-relação entre

esses setores. Como extensão natural deste trabalho, espera-se utilizar a base de dados da MCSF

brasileira para fazer novos estudos de análise de impacto do setor financeiro na economia real;

para estudos de impactos setorial; para a calibragem de modelos de equilíbrio geral computável

para a economia brasileira; para análises que busquem verificar a performance do mercado

financeiro e a contribuição do mesmo para a formação do produto nacional e que sirvam de

base para estudos específicos, com o detalhamento dos ativos/passivos financeiros de interesse

e nos agentes econômicos de interesse.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNANKE, B.S.; GERTLER, M. e GILCHRIST, S. The Financial Accelerator

in a Quantitative Business Cycle Framework. Handbook of

Macroeconomics, v.1, edited by J.B Taylor and M. Woodford. Elsevier

Science B.V., 1999.

BURKOWSKI, E; PEROBELLI, F.F.C. e PEROBELLI, F.S. Matriz de

Contabilidade Social e Financeira para o Brasil. Juiz de Fora: PPGEA,

2014. (Texto para Discussão n 002/2014)

FEIJÓ, C.A; RAMOS R.L.O. Contabilidade Social. 2008

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Série de

Relatórios Metodológicos. Rio de Janeiro, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema de

Contas Nacionais Brasil. Rio de Janeiro, 2011.

LEVINI, R. Financial Development and Economic Growth: Views and Agenda.

Journal of Economic Literature. V. 35, pp. 688-726. University of Virginia.

June, 1997.

LEUNG, D. SECRIERU, O. Real-Financial Linkages in the Canadian Economy:

an Input-Output Approach. Economic Systems Research, v. 24, n. 2, p. 195-

223, 2012.

MAS-COLLEL, A. WHINSTON, M.D. GREEN, J.R. Microeconomic Theory.

Oxford University Press, 1995.

MILLER, R. BLAIR, P. Input-Output Analysis. 2. Ed., Cambrigde, 2009.

MIYAZAWA, K. Input-Output Analysis and the Structure of Income

Distribution. Berlin, Springer, 1976.

Page 26: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

PYATT, G. Some relationships between T-Accounts, Input-output tables and

social accounting matrices. Economic Systems Research, Vol. 11. N. 4,

1999.

PYATT, G e ROUND, J.I (eds). Social Accounting Matrices: A Basis for Planning.

The World Bank. Washington D.C., 1985.

SADOULET, E. JANVRY, A. Quantitative Developmente Policy Analysis. The

Johns Hopkins University Press, Baltimore and London, 1995.

SANTOS, S.M.G. A Matriz de Contabilidade Social Enquanto Instrumento de

Trabalho para a Definição de Política Económica: Aplicação a Portugal,

no período de 1986-90, com ênfase para o sector agroindustrial. Tese de

doutorado. Lisboa, 1999.

SYSTEM O NATIONAL ACCOUNTS. Brussels/Luxembourg, New York,

Paris, Washington, D.C, 1993.

WONG, K.S.K; AZALI, M.; LEE, C Financial Social Accounting Matrix:

Concepts, Constructions and Theoretical Framework. Munich Personal

RePEc Archive, 2009.

GUILHOTO, J.J.M., U.A. SESSO FILHO. Estimação da Matriz Insumo-Produto

Utilizando Dados Preliminares das Contas Nacionais: Aplicação e Análise de

Indicadores Econômicos para o Brasil em 2005. Economia e Tecnologia.

UFPR/TECPAR. Ano 6, Vol 23, Out., 2010.

GUILHOTO, J.J.M., U.A. SESSO FILHO. Estimação da Matriz Insumo-Produto

a Partir de Dados Preliminares das Contas Nacionais. Economia Aplicada.

Vol. 9. N. 2. Pp. 277-299. Abril-Junho, 2005.

Page 27: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

Conta Financeira

Trabalho Capital ImpostosEmpresas Não

Financeiras

Empresas

Financeiras

Adminis tração

Púb lica FamíliasEmpresas Não

Financeiras

Empresas

Financeiras

Adminis tração

Púb lica Famílias Ins trumentos Financeiro s

Bens Consumo

Intermediário Exportação

Setores Produção

Trabalho

Renda

Recebida do

Exterior

Capital

Impostos Impostos Impostos

Empresas Não Financeiras

Empresas Financeiras

Administração Pública Impostos

Famílias Remuneração

Empresas Não Financeiras Poupança

Empresas Financeiras Poupança

Administração Pública Poupança

Famílias Poupança

Conta Financeira

Instrumentos Financeiros Var.Ativos

Importação

Remuneração

Enviada ao

Exterior Var. Passivos

ANEXO 1: Estrutura Semântica da Matriz de Contabilidade Social e Financeira – Brasil 

Fonte: elaboração própria.

Trasnferênci

as de Capital

Recebida do

Exterior

Transferênci

as Correntes

Recebida

Setores

Resto do

Mundo

Valor

Adicionado

Pago pelos

Setores

Produtivos

Consumo Final

Excedente

Operacional

Bruto +

Rendimento

Misto

Renda de Propriedade e Transferências Correntes

Instituições

Conta Corrente Conta Capital Fatores

Produção

Variação de Passivos

Financeiros

Bens

Produção

Fatores

Resto do Mundo

Variação de Ativos Financeiros

Trasnferências de Capital EnviadasTransferências Correntes Enviadas

Conta Corrente

Conta Capital

Investimentos

Transferências de Capital

Page 28: Título - SBFin | Sociedade Brasileira de Finançassbfin.org.br/encontros-anteriores-assets/2014/artigos/ID4531.pdf · completar o fluxo circular da renda, ... transacionados. A este

ANEXO 2: Impacto de choques na demanda por instrumentos financeirosF1 F2 F3 F4 F5 F6 F7

Setores Ouro e DES Numerários Títulos Empréstimos Ações Seguros Débitos/créditos

Agricultura, silvicultura, exploração florestal0,0000 0,0263 0,0096 0,0418 0,0313 0,0254 0,0343

Pecuária e pesca 0,0000 0,0239 0,0088 0,0379 0,0286 0,0231 0,0311

Petróleo e gás natural 0,0000 0,0210 0,0077 0,0328 0,0258 0,0203 0,0270

Minério de ferro 0,0000 0,0040 0,0015 0,0063 0,0049 0,0039 0,0052

Outros da indústria extrativa 0,0000 0,0054 0,0020 0,0085 0,0064 0,0052 0,0070

Alimentos e Bebidas 0,0000 0,0493 0,0181 0,0781 0,0592 0,0477 0,0641

Produtos do fumo 0,0000 0,0017 0,0006 0,0027 0,0020 0,0016 0,0022

Têxteis 0,0000 0,0070 0,0026 0,0112 0,0081 0,0067 0,0092

Artigos do vestuário e acessórios 0,0000 0,0063 0,0023 0,0100 0,0076 0,0061 0,0082

Artefatos de couro e calçados 0,0000 0,0046 0,0017 0,0072 0,0057 0,0045 0,0059

Produtos de madeira - exclusive móveis 0,0000 0,0090 0,0033 0,0144 0,0106 0,0087 0,0118

Celulose e produtos de papel 0,0000 0,0087 0,0032 0,0138 0,0105 0,0084 0,0113

Jornais, revistas, discos 0,0000 0,0073 0,0027 0,0115 0,0087 0,0070 0,0094

Refino de petróleo e coque 0,0000 0,0384 0,0141 0,0605 0,0464 0,0371 0,0496

Álcool 0,0000 0,0026 0,0010 0,0042 0,0031 0,0025 0,0034

Produtos químicos 0,0000 0,0173 0,0063 0,0277 0,0205 0,0167 0,0227

Fabricação de resina e elastômeros 0,0000 0,0087 0,0032 0,0138 0,0104 0,0084 0,0114

Produtos farmacêuticos 0,0000 0,0053 0,0019 0,0084 0,0064 0,0051 0,0069

Defensivos agrícolas 0,0000 0,0023 0,0008 0,0037 0,0026 0,0022 0,0030

Perfumaria, higiene e limpeza 0,0000 0,0045 0,0016 0,0071 0,0054 0,0043 0,0058

Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 0,0000 0,0058 0,0021 0,0092 0,0069 0,0056 0,0076

Produtos e preparados químicos diversos 0,0000 0,0043 0,0016 0,0067 0,0052 0,0041 0,0055

Artigos de borracha e plástico 0,0000 0,0199 0,0073 0,0318 0,0235 0,0192 0,0261

Cimento 0,0000 0,0073 0,0027 0,0115 0,0087 0,0070 0,0094

Outros produtos de minerais não-metálicos0,0000 0,0217 0,0080 0,0344 0,0259 0,0210 0,0282

Fabricação de aço e derivados 0,0000 0,0356 0,0131 0,0563 0,0429 0,0344 0,0462

Metalurgia de metais não-ferrosos 0,0000 0,0111 0,0041 0,0176 0,0135 0,0108 0,0144

Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos0,0000 0,0388 0,0142 0,0615 0,0465 0,0375 0,0505

Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos0,0000 0,0552 0,0202 0,0876 0,0661 0,0534 0,0719

Eletrodomésticos 0,0000 0,0024 0,0009 0,0038 0,0029 0,0023 0,0032

Máquinas para escritório e equipamentos de informática0,0000 0,0136 0,0050 0,0216 0,0163 0,0132 0,0177

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos0,0000 0,0191 0,0070 0,0302 0,0231 0,0185 0,0248

Material eletrônico e equipamentos de comunicações0,0000 0,0288 0,0105 0,0456 0,0345 0,0278 0,0374

Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico0,0000 0,0087 0,0032 0,0138 0,0105 0,0084 0,0114

Automóveis, camionetas e utilitários 0,0000 0,0259 0,0095 0,0408 0,0311 0,0250 0,0335

Caminhões e ônibus 0,0000 0,0183 0,0067 0,0289 0,0221 0,0177 0,0237

Peças e acessórios para veículos automotores0,0000 0,0252 0,0092 0,0396 0,0307 0,0244 0,0325

Outros equipamentos de transporte 0,0000 0,0085 0,0031 0,0135 0,0100 0,0082 0,0111

Móveis e produtos das indústrias diversas 0,0000 0,0153 0,0056 0,0243 0,0184 0,0148 0,0200

Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana0,0000 0,0384 0,0141 0,0608 0,0460 0,0371 0,0499

Construção 0,0000 0,2215 0,0812 0,3513 0,2650 0,2140 0,2882

Comércio 0,0000 0,1131 0,0414 0,1792 0,1356 0,1093 0,1470

Transporte, armazenagem e correio 0,0000 0,0573 0,0210 0,0907 0,0687 0,0553 0,0744

Serviços de informação 0,0000 0,0334 0,0122 0,0529 0,0401 0,0323 0,0434

Intermediação financeira e seguros 0,0000 0,0480 0,0176 0,0760 0,0575 0,0464 0,0624

Serviços imobiliários e aluguel 0,0000 0,0438 0,0160 0,0693 0,0525 0,0423 0,0569

Serviços de manutenção e reparação 0,0000 0,0063 0,0023 0,0099 0,0075 0,0060 0,0081

Serviços de alojamento e alimentação 0,0000 0,0138 0,0051 0,0219 0,0166 0,0134 0,0180

Serviços prestados às empresas 0,0000 0,0355 0,0130 0,0561 0,0425 0,0342 0,0460

Educação mercantil 0,0000 0,0083 0,0030 0,0132 0,0100 0,0080 0,0108

Saúde mercantil 0,0000 0,0134 0,0049 0,0212 0,0160 0,0129 0,0174

Serviços prestados às famílias e associativas0,0000 0,0224 0,0082 0,0355 0,0269 0,0217 0,0292

Serviços domésticos 0,0000 0,0052 0,0019 0,0082 0,0062 0,0050 0,0067

Educação pública 0,0000 0,0001 0,0000 0,0002 0,0001 0,0001 0,0001

Saúde pública 0,0000 0,0004 0,0002 0,0007 0,0005 0,0004 0,0006

Administração pública e seguridade social0,0000 0,0040 0,0015 0,0063 0,0048 0,0038 0,0051

Impacto Setorial 0,0000 1,2845 0,4706 2,0341 1,5397 1,2405 1,6688

Fatores

Remunerações 0,0000 0,2319 0,0850 0,3673 0,2779 0,2240 0,3014

EOB 0,0000 0,3390 0,1242 0,5370 0,4062 0,3274 0,4405

CONTA CORRENTE

Empresas Não Financeiras 0,0000 0,2153 0,0789 0,3411 0,2580 0,2080 0,2798

Empresas Financeiras 0,0000 0,1644 0,0602 0,2603 0,1970 0,1587 0,2136

Famílias 0,0000 0,4135 0,1515 0,6549 0,4955 0,3993 0,5373

CONTA CAPITAL

Empresas Não Financeiras 0,0000 0,8403 0,3081 1,2167 1,1444 0,8116 1,0019

Empresas Financeiras 0,0000 2,4138 0,8820 1,0547 1,7801 2,3313 1,5022

Famílias 0,0000 0,3366 0,1231 0,6619 0,2913 0,3250 0,5336

Impacto nos setores produtivos

Impacto Total 0,00 7,52 2,75 9,16 7,93 7,27 8,15