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TJ e os Aloprados do Tempo 1 Catástrofes da novata desastrada

TJ e os aloprados do tempo

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TJ Finkelstein é uma menina comum de 12 anos tentando sobreviver na escola. Comum a não ser por ... Ter acabado de se mudar do pacato meio-oeste para Malibu, Califórnia, um lugar muito doido onde dinheiro não é problema. Ter virado a inimiga mortal da garota mais popular da escola, que é estrela do Canal Dizzy de televisão. Ah, claro, ser seguida por todos os lados por dois garotos malucos do século 23!!! Acredite. Herby e Tuna voltaram do tempo para analisar TJ para um trabalho da escola. Infelizmente, ela é a única que consegue ver os garotos. E infelicitudamente (não use esta palavra com seu professor de português), a “ajuda” dos garotos, que envolve o uso de apetrechos estrambóticos do século 23, só resulta em mais confusões e um monte de risadas de doer o estômago.

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TJ e os Aloprados do Tempo 1

Catástrofes da novata desastrada

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TJ e os Aloprados do Tempo 1

Catástrofes da novata desastrada

Bill Myers

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, sP, Brasil)

Myers, BillCatástrofes da novata desastrada / Bill Myers; [tradução Eulália

Pacheco Kregness]. — São Paulo: Editora Vida, 2012. — (TJ e os aloprados do tempo; v. 1)

Título original: New Kid Catastrophes.ISBN 978-85-383-0251-3

1. Ficção — Literatura juvenil I. Título. II. Série.

12-10990 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura juvenil 028.5

1. edição: out. 2012

Editora VidaRua Isidro Tinoco, 70 TatuapéCEP 03316-010 São Paulo, SP

Tel.: 0 xx 11 2618 7000Fax: 0 xx 11 2618 7030

www.editoravida.com.br

©2011, Bill MyersOriginalmente publicado nos EUA, com o títuloTJ and the Stumblers #1: New Kid CatastrophesCopyright da edição brasileira ©2012, Editora VidaEdição publicada com permissão deTyndale House Publishers, Inc. (351 Executive Drive, Card Stream, IL)

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Vida.

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

Editor responsável: Marcelo SmargiasseEditor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago

Tradução: Eulália Pacheco KregnessRevisão de tradução: Andrea Filatro

Revisão de provas: Sônia Freire Lula Almeida Diagramação: Claudia Fatel Lino

Capa: Arte Peniel

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Para Bruce Grimm … cujo senso de humor é inesquecível

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Introdução

— Que doideira, cara! — Herby gritou. — Estamos no século errado!

— Na verdade — Tuna contradisse —, de acordo com meus cálculos, aterrissamos exatamente onde queríamos, em Malibu, Califórnia, no século 21.

Herby olhou pela janela da minúscula cápsula do tempo.— Tem certeza?— Absoluta.— Então é bom avisar o Tiranossauro rex gigante.— Que Tiranossauro rex gigante?— Aquele que vai nos engolir já, já.— Não seja ridículo — Tuna suspirou. — Não existe

Tiranossauro...Normalmente ele terminaria a frase, mas é difícil fazer

isso quando sua voz é abafada por um

GRRRAAAAA.. .

de estourar os tímpanos e gelar o sangue, que, como todo mundo sabe, é o berro que os Tiranossauros rex soltam na hora das refeições. (É como fazer uma oração, mas sem essas coisas de abaixar a cabeça, falar com Deus e dizer amém.)

Herby olhou para o Tuna.Tuna olhou para o Herby.

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E os dois garotos fizeram o que eram craques em fazer neste mundo.

— AaAaHhhhhh!

Berraram como se a vida dependesse daquele berro.— Engate ré! — Herby gritou. — Tire a gente daqui agora!Herby não precisou pedir duas vezes (aliás, nem precisava

ter pedido), porque o Tuna já estava reajustando as coordenadas da cápsula do tempo. Depois, pisando fundo no acelerador, ele

Vuuuupt. . .

atravessou a barreira do tempo e os dois garotos chegaram ao século 21, que é para onde queriam ir desde o início.

Legal demais.Infelizmente, tiveram uma notícia péssima em forma de

clank – clank – clankpuf – puf – puf

cof – cof – cof. . .

— Que barulheira é essa? — Herby quis saber.

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— É o barulho que as cápsulas do tempo fazem quando estão sem combustível.

— Sem combustível? — Herby estressou.— Relaxe — Tuna respondeu, olhando pela janela. —

Como você pode ver, pousamos em segurança conforme as coordenadas previstas.

Herby abriu sua janela para examinar melhor a paisagem. Era verdade. A praia de Malibu estava apenas 30 metros abaixo e 100 metros à direita. — Ufa! Por pouco não sofremos um zeguestrês total.

— Por muito pouco — Tuna concordou.— Pilote em direção à praia e vamos aterrissar esta

geringonça.— Bem que eu gostaria, mas...— Mas o quê?— Continuamos com o trágico problema da falta de

clank – clank – clank

puf – puf – puf

cof – cof – cof. . .

combustível.— E daí?— E daí que estamos prestes a desabar no oceano

Pacífico como um saco de batatas.Herby se virou para o Tuna e engoliu em seco. — Quando?

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— Se os meus cálculos estiverem certos, eu diria que

AGO

RA!!!

SPLASH!Felizmente, um bote salva-vidas automático inflou ao

redor da cápsula do tempo. A não ser pelos 3.388 litros de água salgada entrando pela janela que o Herby deixou aberta, os dois garotos estavam perfeitamente a salvo. Agora só era uma questão de ativar o dispositivo de camuflagem que os deixava invisíveis, remar até a praia e iniciar a missão.

Acontece que eles foram surpreendidos por outro barulho.

pritziiuu – fizi iuu

trac – trac

zit – zit pop

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— Que foi isso? — Herby perguntou.— Nada demais.— E com “nada demais” você quer dizer que...— O som do nosso equipamento elétrico está sofrendo

um curto-circuito depois de ter sido inundado por 3.388 litros de água salgada.

— Só isso? — Herby perguntou. — Achei que estávamos numa megaencrenca.

— E estamos — Tuna respondeu. — Estamos encrencados até o pescoço.

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CAPÍTULO UM

Origens...

Diário de bordo:Malibu, Califórnia, 9 de outubro

Início da transmissão:A educação escolar no século 21 é bizarra. Os alunos

passam o tempo todo sentados em salas sem graça,

ouvindo adultos sem graça falar sobre assuntos que não

têm a menor graça. Que jeito mais tosco de aprender!

Encontrei nosso alvo. É tão gata quanto seu holograma no

museu de história. Daqui a pouco ela vai conhecer o Chad

Steel, seu vizinho de porta. Que pena, pois ela é muito gata

mesmo! Acho que o Tuna está caidaço por ela. Eu também.

Ela é linda até o último fio de cabelo.

Fim da transmissão

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— TJ, cuidado!Thelma Jean Finkelstein levantou a cabeça bem a tempo de

ver o piano da família rolando a toda velocidade em sua direção. Os homens da mudança desciam o piano na rampa da van. Bom, eles estavam descendo o piano. Agora, o piano descia sozinho, mais rápido que uma flecha, e TJ era o alvo.

TJ avaliou a situação e se viu diante de três opções:

Opção 1: Ser morta por um piano assassino.

Opção 2: Saltar para a esquerda e cair na piscina. Quase sempre uma boa opção — porque ela adorava nadar (apesar de o cabelo encarapinhar todo). Acontece que justamente hoje a piscina estava seca, e TJ estava no lado mais fundo. Fundo o bastante para chamar a ambulância, pois ela vai quebrar as duas pernas.

Opção 3: Saltar para a direita. Mais uma vez, maravilha, a não ser pela infeliz porta de vidro. Mas recobrar a consciência e dar de cara com paramédicos tirando cacos de vidro de seus cabelos (na referida ambulância) não era exatamente como a TJ planejava gastar seu primeiro dia em Malibu, Califórnia.

Assim, só lhe restava a Opção 4. (Sei que mencionei três opções, mas a TJ nunca foi boa em matemática.) Era a famosa opção pule na churrasqueira e torça para que, de alguma forma, o piano se desvie de você.

Grande ideia. Mas, de alguma forma, o piano não se desviou dela... nem da churrasqueira. Ao contrário, o instrumento meio que

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co-li -diu

com a churrasqueira e mandou a TJ voando pelo espaço.Voar foi fácil. Aterrissar é que foi sinistro. O bom é que

a TJ não caiu na piscina nem se espatifou contra a porta de vidro. E o ruim é que ela desabou em cima do piano... que continuava despencando... direto para a cerca do vizinho!

Nesse meio-tempo, a família inteira da TJ estava lá fora querendo saber o motivo da gritaria histérica e do xixi nas calças.

O pai dava seus conselhos paternos: — TJ, pare de fazer gracinha e desça já desse piano!

Dorinha saltitava e gritava com sua voz bonitinha de 6 anos de idade: — Ai que legal! Agora é a minha vez! Agora é a minha vez!

Violeta, de 9 anos (gênio em meio período e carne de pescoço em tempo integral) já estava planejando: — Se a TJ morrer, posso ficar com o quarto dela?

E que família seria completa sem Fido, o cão-maravilha, latindo igual a um maluco beleza?

TJ adoraria ficar por ali e bater um papinho com todo mundo, entretanto é difícil papear quando sua vida está por um fio e seus pulmões estão explodindo de tanto você gritar.

A diversão e as brincadeiras não haviam acabado. TJ ainda precisava conhecer os vizinhos. Infelizmente, para fazer isso ela precisou

TROMBAR

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com a cerca e dar uma de penetra na festinha que estava acontecendo ao redor da piscina.

O legal é que a galera tinha a mesma idade e estudava na escola onde ela começaria a estudar amanhã.

O azar é que a galera tinha a mesma idade e estudava na escola onde ela começaria a estudar amanhã.

Ai, ai...É claro que os convidados gritaram e berraram as frases

costumeiras: — Salve-se quem puder; lá vem uma maluca dirigindo um piano! — Mas ninguém tinha o que temer. A piscina estava cheia de água, o que explicou o

SPLASH!do piano... e o

gluB . . . glub . . . glub

do instrumento afundando. (Com sorte, as aulas de piano seriam interrompidas até o papai comprar outro... ou, pelo menos, até comprar um aparelho de mergulho da hora para a TJ.)

A garota achou que seria legal ficar na piscina e dar umas braçadas (e queimar as calorias da fatia extra de pizza que havia comido no almoço), mas os olhares estarrecidos de uma turma de patricinhas esnobes de 13 anos fizeram a TJ mudar de ideia.

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E então surgiu o menino mais lindo que ela já havia visto neste mundo. O “totalmente gato” se ajoelhou e estendeu a mão para a TJ.

— Ei, tudo bem? — ele perguntou.Depois de tossir um bocado e cuspir uns cinco litros de

água, a TJ fez que sim e agarrou a mão dele.— Meu nome é Chad. Chad Steel.TJ saiu da piscina parecendo um pano de chão

encharcado, pingando água por todos os lados, e deu de cara com os olhos azuis mais incríveis do planeta.

Ele sorriu. — Acho que somos vizinhos.E continuou sorrindo. — Como você se chama?TJ queria se apresentar, mas ficou mudinha da silva e,

ainda por cima, nem se lembrava do próprio nome. (Olhos azuis incríveis fazem isso com a gente.)

O deslumbrante inclinou a cabeça para um lado e ficou aguardando a resposta.

Acorda, TJ, disse para si mesma. (É TJ, não é?)O sorriso dele ficou meio caidinho.É agora ou nunca. TJ abriu a boca, mas não saiu palavra

nenhuma.Aqueles espetaculares olhos azuis escureceram de

preocupação. Não era preocupação do tipo Vou amá-la e cuidar de você até que a morte nos separe. Era mais De que hospício você fugiu?

No entanto, a TJ decidiu falar alguma coisa. Infelizmente, o que saiu foi: “Você... você é muito gato”.

. . . . .

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— Blá-blá-bláblá-blá-blá

blá-blá -blá

Pelo menos era isso que o Chad ouvia enquanto Celeste, sua meio que namorada, falava, falava e falava ao celular. Gente, será que ela não parava nem para respirar?

Mas o Chad era um cara legal e não ia ser grosso com a garota, então deixou que ela continuasse

— Blá-blá-bláblá-blá-blá

blá-blá -blá

Claro que seria mais fácil aguentar se o blá-blá-blá não fosse sempre a respeito da Celeste. Mas não era culpa da menina se ela era a estrela de seu próprio seriado na TV Falandinho. Não era culpa da Celeste achar que o mundo girava em torno dela. (Para falar a verdade, não era o mundo; era o sistema solar todinho, ou a galáxia inteira ou..., ah, você entendeu.)

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Para o Chad, a única coisa boa é que a tagarelice da Celeste abafava a discussão de seus pais. Era uma regra ou coisa parecida. Os pais do Chad sempre brigavam nos dias de visita. Eles estavam divorciados havia séculos; entretanto, quando o pai dava as caras, acontecia o maior combate de berros do planeta. É engraçado as pessoas acharem que dinheiro traz felicidade. Na avaliação do Chad, era exatamente o oposto.

Bom, agora ele estava sentado à escrivaninha, praticamente se matando para fazer o resumo de um livro. Isso se ficar perto da janela, no segundo andar, com os olhos cravados na casa ao lado, pensando na vizinha, é estar “se matando”. Chad imaginava que a janela da garota era aquela mais pertinho da sua própria janela. E quero dizer pertinho mesmo. Na praia, as casas ficavam tão perto umas das outras que, se você espirrasse, o vizinho podia lhe passar um lenço pela janela.

Mas a janela da garota estava fechada, e as luzes do quarto estavam apagadas. Ela já devia estar dormindo. E com razão. Ela deve ter tido um dia bastante cheio. Cheio e embaraçoso.

Para começar, ela entrou arrebentando na festa — e ponha arrebentando nisso.

Depois veio a tremenda exibição — uma exibição aquática.Por fim, quando ele retirou a garota da piscina, tudo

o que ela conseguia fazer era tremer e gaguejar. E tentar arrumar o cabelo. Ela tentou muito arrumar a cabeleira.

Garotas. Quem consegue entendê-las?A turma levou a menina para dentro de casa, para ela

dar uma secada geral. Na tentativa de acalmá-la, Chad

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mencionou que os dois se veriam amanhã. Ela sorriu, tentou arrumar os cabelos e saiu correndo pela porta.

(Bom, ela pensou em sair correndo pela porta, mas se esqueceu de um pequeno detalhe: abrir a porta.)

Na avaliação do Chad, a garota tinha problemas mentais. Até agora, ele não conhecia ninguém fraco da ideia, mas levou numa boa. Se ela precisasse de ajuda, estaria pronto a lhe dar um help.

Enquanto isso, havia o resumo do livro e, claro, o...

— Blá-blá-bláblá-blá-blá

blá-blá -blá

da Celeste.

. . . . .

— TJ? — Dorinha sussurrou na cara da irmã mais velha. — TJ, tá acordada?

— Não. Estou agarrada no sono.— TJ?— Não enche.— TJ, acorda.Tentar ignorar a Dorinha era o mesmo que resolver frações

compostas: impossível. Com seus dedinhos fofos, ela começou

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a cutucar as infelizes pálpebras da TJ, na tentativa de lhe abrir os olhos. Em segundos, a TJ estava de olhos vidrados no rostinho indistinto da irmã bem na frente de seu nariz.

Bastante familiarizada com a rotina, a TJ puxou as cobertas de volta e disse: — Tá bom; vem pra cá, Lulina.

Dorinha entrou embaixo das cobertas e ajeitou as costas bem pertinho da irmã. Desde a morte da mãe, Dorinha não conseguia dormir sozinha. Embora a TJ fingisse irritação contra a irmã (fingir irritação é a Regra 1 do Manual da irmã mais velha), ela entendia o drama da pequena.

O interessante é que já fazia quase um ano, mas parecia ter acontecido ontem. As pessoas diziam que o tempo cura tudo, mas a TJ tinha suas dúvidas. Existia um vazio enorme em seu coração que nada, nada preenchia. A Dorinha e a Vi sentiam a mesma coisa. E o papai também.

Certa vez, no meio da noite, a TJ pegou o pai na cozinha. Ficou escondida nas sombras, observando-o andar pra lá e pra cá, esquentando leite numa panela... e chorando. Ela jamais contaria isso a quem quer que fosse, porém. Era a primeira vez que a menina via o pai chorar. Seu coração ficou em pedaços. Ainda agora, quando se lembrava do caso, sua garganta ficava apertada.

A família não conversava muito sobre a morte da mãe. Na verdade, um dos motivos de terem mudado do Missouri para cá foi tentar escrever uma nova história. Mas, de vez em quando, ao ouvirem a palavra câncer, por exemplo, todos ficavam com os olhos cheios de água. É por isso que a TJ não se importava com as visitas noturnas da Dorinha... mesmo que seus pezinhos parecessem blocos de gelo.

— Tá com medo? — Dorinha sussurrou.

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— Medo do quê? — a TJ perguntou.— Da escola nova, amanhã.— Necas — a TJ mentiu.— Nem eu — foi a resposta.TJ fingiu um bocejo. — Hoje à tarde, conheci metade

da turma na casa do Chad. A galera já sabe que sou uma desastrada total. Assim, o mais difícil ficou para trás.

Dorinha deu uma risada engraçadinha. — Você gosta dele, não gosta?

— De quem?— Do Chad.— Boa noite, Lulina.— Gosta sim.— Boa noite.Dorinha se ajeitou melhor, encostando os pés congelados

nas pernas da irmã. TJ ia reclamar, mas Dorinha se esticou toda. — O que foi isso?

TJ fez de conta que não ouviu. Mas, como sempre, era impossível ignorar a Dorinha.

— Escuta... Tem gente cochichando.— É o oceano — a TJ resmungou. — Você acaba se

acostumando.— TJ? — a Dorinha se virou para a irmã. O bafo

carregado de alho com dose dupla de cebola deixou claro para a TJ que a Dorinha não havia escovado os dentes depois da pizza do almoço.

De novo, a Dorinha pôs a mão na cara da TJ, tentando abrir seus olhos. TJ lhe poupou o esforço e abriu os olhos ela mesma. Bem, abriu um deles. Com o outro, mandou para a Dorinha a mundialmente famosa olhadela irritada de irmã mais velha.

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— Escuta... — a Dorinha repetiu.TJ lançou uma olhadela ainda mais firme. Mas aí ela

também ouviu.— De volta para cápsula — alguém sussurrou.— Só quero ter certeza de que ela está bem, cara — outro

alguém respondeu.TJ sentou-se de um salto na cama.— O que você quer é espioná-la — a primeira pessoa

acusou.— Claro que não.— Claro que sim.— De jeito nenhum.TJ se voltou para Dorinha, cujos olhos estavam mais

estatelados que dois ovos fritos. TJ pegou os óculos que havia posto sobre o criado-mudo, colocou-os no rosto e passou os olhos pelo quarto, tentando enxergar no escuro. Com o argumento de ser a filha mais velha, a TJ havia convencido o pai a deixá-la ter um quarto só seu. Supimpa... a não ser pelo fato de o quarto ser assombrado!

TJ engoliu em seco. — Quem est...? —. Sua voz rangeu igual a uma dobradiça enferrujada. Ela tentou novamente:

— Quem está aí?— Puxa, cara, agora você embaçou tudo.— Como ela conseguiu nos ouvir?Dorinha chegou mais perto. TJ nem deu bola para seus

pés gelados. É difícil notar um pé gelado quando você está congelada de medo.

— Ela não consegue ver a gente, consegue?— E eu sei lá?TJ deu uma respirada vacilante e gritou de novo: — Quem é?

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— Não responda.— Que tipo de idiota você acha que eu sou?— Quantos tipos existem?— Rá, rá, rá. Você é muito engraçado, mané.Se eram fantasmas, não pareciam ser daqueles que

metem medo. TJ tentou de novo. — Quem está aí?Silêncio.— Olá?Repeteco no departamento do silêncio.TJ tentou ouvir algum barulho, por menor que fosse,

uma respiraçãozinha de nada, qualquer coisa. Ficou de olhos grudados nas caixas fechadas no meio do quarto.

Nada.Tentou pela última vez. Para dar a impressão que estava

no comando, a menina vociferou: — Tem gente aí?Então, a TJ ouviu uma resposta bem fraquinha:— Não.