89
1 Túmulo de Tutu (TA 8) Fachada 1, 2 − Entrada. Lintel e ombreiras. Pls. XV (esq.), XIII (dir.), XXXV (centro, dir.). Entrada 3 − Espessura. A família real adora Aton. Em baixo, Tutu, ajoelhado, entoa um hino. Pls. XVI, XXXV (esq.). 4 − Espessura. Tutu, ajoelhado, entoa um hino a Aton. Pl. XV (dir.). Tecto. Pl. XIV (centro). Sala dos pilares 5, 7 − Parte superior: o funcionário diante do casal régio. Pls. XVII, XVIII (esq.). 6, 7 − Parte inferior: Oração. Pl. XIX (dir.). 8 − Parte superior: Tutu com oficiais e servos, no regresso a casa. Pl. XVIII (dir.). 9, 11 − Em cima. Recompensa de Tutu. Pls. XIX (esq.), XX (dir.). 10, 11 − Em baixo. Oração. Pls. XXI. 12, 13 − Em cima. Tutu regressa a casa. Pls. XX (centro e esq.). 14, 15 − Entablamento. Tutu adora as cartelas de Aton. Pls. XII (inf. esq.). 16, 17 − Coluna com cena da família real adorando Aton. Pls. XIV (esq.) Arquitraves. Pl. XIV (dir.). Tecto. Pl. XII (dir.) Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada (Porter e Moss, TBAE, vol. IV, p. 220) e a classificação de Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XI. 2. Cargos imy-xnt Camareiro da corte bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra m pr-Itn m Axt-Itn Chefe dos servidores de Neferkheperuré na …Casa de Aton em Akhetaton bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra n wiA Chefe dos servidores de Neferkheperuré, na barca

Túmulo de Tutu (TA 8)

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Túmulo de Tutu (TA 8)

1

Túmulo de Tutu (TA 8)

Fachada

1, 2 − Entrada. Lintel e ombreiras. Pls. XV (esq.),

XIII (dir.), XXXV (centro, dir.).

Entrada

3 − Espessura. A família real adora Aton. Em

baixo, Tutu, ajoelhado, entoa um hino. Pls. XVI,

XXXV (esq.).

4 − Espessura. Tutu, ajoelhado, entoa um hino a

Aton. Pl. XV (dir.).

Tecto. Pl. XIV (centro).

Sala dos pilares

5, 7 − Parte superior: o funcionário diante do casal

régio. Pls. XVII, XVIII (esq.).

6, 7 − Parte inferior: Oração. Pl. XIX (dir.).

8 − Parte superior: Tutu com oficiais e servos, no

regresso a casa. Pl. XVIII (dir.).

9, 11 − Em cima. Recompensa de Tutu. Pls. XIX

(esq.), XX (dir.).

10, 11 − Em baixo. Oração. Pls. XXI.

12, 13 − Em cima. Tutu regressa a casa. Pls. XX

(centro e esq.).

14, 15 − Entablamento. Tutu adora as cartelas de

Aton. Pls. XII (inf. esq.).

16, 17 − Coluna com cena da família real adorando

Aton. Pls. XIV (esq.)

Arquitraves. Pl. XIV (dir.).

Tecto. Pl. XII (dir.)

Fig. 1 − Distribuição das cenas ao longo do túmulo. Equivalência entre a classificação usada (Porter e Moss,

TBAE, vol. IV, p. 220) e a classificação de Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XI.

2. Cargos

imy-xnt

Camareiro da corte

bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra m …pr-Itn m Axt-Itn

Chefe dos servidores de Neferkheperuré na …Casa de Aton em Akhetaton

bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra n wiA

Chefe dos servidores de Neferkheperuré, na barca

Page 2: Túmulo de Tutu (TA 8)

2

Page 3: Túmulo de Tutu (TA 8)

3

imy-r wDwt nbt n nb tAwy

Superintendente de todas as comissões do senhor das Duas Terras

imy-r kAwt nbt n Hm.f

Superintendente de todos os trabalhos de Sua Majestade

imy-r HD nbw n nb tAwy

Superintendente da prata e do ouro do senhor das Duas Terras

imy-r pr-HD … pA Itn m pr Itn m Axt-Itn

Superintendente da Casa da Prata (do tesouro) … de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton

r Hry n tA r Dr r.f

O primeiro arauto da terra inteira é a sua boca1

im(y)-r w

Governador de distrito

3. Breve notícia sobre as suas características arquitectónicas

Os construtores deste túmulo escolheram uma meseta de rocha isolada e abriram-na quase

até ao seu limite mas como ela não era suficientemente elevada, o chão do túmulo foi talhado

abaixo do nível exterior e uma longa entrada, com a mesma espessura que o portal, cortada para

fazer a união mas, como este caminho não foi prolongado até ao declive da colina, permaneceu uma

área afundada para a qual se desce por um pequeno declive2.

A entrada é do tipo normal. Foi deixado um espaço livre nas ombreiras para sete colunas

verticais mas do lado direito só cinco delas foram cortadas e só a metade mais baixa da sexta e da

1 Título ambíguo. Tutu poderá ter sido o representante-chefe do Egipto, seu porta-voz diante do rei, ou,

inversamente, o chefe dos arautos reais. 2 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 7.

Page 4: Túmulo de Tutu (TA 8)

4

sétima3. As princesas com os sistros, as aias, flabelíferos e escribas acompanham o casal régio e

provavelmente também Mutnedjemet. Acima desta cena há uma fila de hieróglifos que corre de

ambos os sentidos a partir do centro, desejando longa vida a Aton (segunda fórmula), ao rei e à

rainha.

Interior (Pls. XI-XIV, XXXV, XXXVII)

De acordo com as suas características principais, o interior corresponde ao tipo geral dos

grandes túmulos, com a grande câmara dividida longitudinalmente em três naves por duas filas de

colunas, doze no total4. Cada fila de seis termina por pilastras que aqui não foram terminadas, pois o

canto oriental da sala está por escavar até metade da sua altura5.

O processo de escavação do túmulo está aqui bem visível: dividir a massa rochosa em

blocos por meio de trincheiras profundas e depois afastá-los6. Os altares para estátuas estão ainda

num estado mais avançado neste túmulo, o portal da capela média é simples

Fig. 2 − Entablamento do portal da capela média, do túmulo TA 8. Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XII.

O revestimento com painéis foi completamente planeado em escultura (cf. III, IX). Todavia,

os desenhos que deviam ter preenchido os painéis só foram aplicados a tinta. Consistem na segunda

fórmula do deus e no casal régio a ser adorados pelo morto7.

A característica mais original do túmulo está na disposição da nave central pois esta parte

da câmara está isolada do resto por uma parede, dotada de cornija, que une ttodas as colunas entre si

e à parede, exceptuando as colunas centrais8.

3 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 7. 4 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 7. 5 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 7. 6 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 7. 7 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 8. 8 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 8.

Page 5: Túmulo de Tutu (TA 8)

5

Fig. 3 − Secção transversal do túmulo TA 8, mostrando o arranjo das colunas. Davies, RTEA, vol. VI, Pl.

XII.-B

Para enfatizar o carácter separado do espaço assim delimitado, ele foi levemente alteado

acima do chão da sala. A face exterior de cada uma das ombreiras foi adornada com três painéis

esculpidos, dos quais os dois superiores mostram o rei, a rainha e Meritaton adorado Aton e o

inferior representa Tutu.

A superfície do tecto e dos intradorsos está demasiado desgastada para reter traços e cores.

As três columas de hieróglifos que se estendem ao longo do tecto da nave estão quase ilegíveis (Pl.

XII). As do tecto da entrada estão no entanto bem preservadas (Pl. XIV). A segunda câmara

invariavelmente planeada mas raramente executada nestes túmulos não está em melhor situação

aqui, sendo uma simples galeria cavada no seu total comprimento nas só até metade da altura. À

retaguarda, mostra-se o inicio do trabalhos de edificação das colunas9.

Colunas e arquitraves (Pl. XIV)

Embora a ornamentação que é possível recuperar a partir das colunas do túmulo seja

surpreendentemente rica, elas são pouco atraentes, na sua condição actual. O único exemplar que

está de pé não foi acabado e as suas cores e muito da sua forma inicial já se perderam. Quatro

colunas foram inteiramente removidas, duas ainda estão meio presas na rocha, duas outras

imperfeitamente talhadas e as restantes três foram deixadas com o fuste não decorado. Fragmentos

de duas das colunas destruídas ainda se encontram no túmulo e provam que a sua ornamentação

estava ainda mais ou menos completa. Traços de oito caules na base vazia do lado norte da nave

mostram que uma destas colunas decoradas estaria aí localizada e que a outra seria a sua gémea, do

lado sul10.

No ábaco da nossa coluna (fig.4) está uma linha de hieróglifos entre duas filas de pétalas,

descriminando os nomes reais a sul e os da segunda fórmula do nome de Aton a oeste. Os caules do

capitel têm no topo os sinos nHH e abaixo dele uma fila formada por uma flor e um botão alternado

com outras vista de face inteira. Como as folhas de revestimento de papiro podem ser vistas na base

9 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 8. 10 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 8.

Page 6: Túmulo de Tutu (TA 8)

6

de cada. As oito secções representando caules embutidos estão aqui dedicadas à ornamentação.

Primeiro, encontramos uma fila de uraei, uma linha de pétalas e, finalmente, frutos de perseia e

centáureas11. Abaixo o pescoço da coluna, o motivo floral é novamente utilizado entre bandas lisas.

Segue-se uma banda de três ou quatro conjuntos de cinco patos, cada um com a cabeça pendendo

sobre uma mesa formada por dois feixes de cangas atadas12. Cada grupo de patos é separado do

seguinte por um ramo semelhante mas vertical. A cena mostra o casal régio e Meritaton, adorando

Aton.

Fig. 4 − Coluna e as suas inscrições. Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XIV.

Abóbada da câmara funerária (Pl. XVII)

Este túmulo, como quase todos os outros, mostra sinais de uma solução improvisada para o

local do enterro13. Uma escada foi embutida entre as últimas colunas na extremidade Norte da sala,

e considerável trabalho dispendido no intuito de produzir um sepulcro inviolável14. Uma escadaria

com vinte degraus, passando por debaixo do chão de rocha no sexto degrau curvando ligeiramente

para sul para um patamar, vira para oeste num ângulo recto e no 34 degrau alcança uma câmara

11 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 9. 12 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 9. 13 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 9. 14 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 9.

Page 7: Túmulo de Tutu (TA 8)

7

pequena, A partir do nível desta, a escada continua e no 54 degrau alcança um grosseira cavidade na

qual podia ser feito um enterro adequado.

4. Cenas e inscrições

Espessura da parede sul (Pl. XV)

A mutilação que esta parede sofreu pode ser avaliada pelo facto de, das 15 colunas que

cobriam a metade interior da base ao topo, só alguns signos espalhados sobreviveram.

Afortunadamente, o texto é recuperável através de cópias e moldes anteriores.

Fig. 5 − Orações de Tutu. Espessura da parede Sul. Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XV.

5.2.5. Akhenaton e Nefertiti, fazendo oferendas a Aton. Espessura da parede norte (fig.6)

Esta cena é habitual nestes túmulos. As cabeças do rei e da rainha e as figuras das princesas

estão perdidas devido à queda de blocos inseridos com vista à execução mais fina destas partes

importantes. O vaso que está sobre o segundo suporte foi removido pela mesma razão. Embora o

nome da princesa cuja figura sobreviveu tenha sido destruído, é fácil reconhecer nela a imagem de

Mutnedjemet15. Abaixo da cena localiza-se o texto do pequeno Hino a Aton. Atrás de Tutu pode ler-

se «o camareiro Tutu, ele diz…». Este enverga a pele de leopardo dos sacerdotes, da qual se

distingue uma pata debaixo do braço16

15 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 10. 16DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 10.

Page 8: Túmulo de Tutu (TA 8)

8

Fig. 5 − O rei e a rainha fazem uma oferenda de alimentos e incenso. Espessura da parede norte,

Davies, RTEA, vol. VI, Pl. XVI.

Tutu é recebido no palácio. Parede oeste, lado norte. (Pls. XVII, XVIII

O tema da recompensa de Tutu ocupa a totalidade da parede oeste. Os discursos,

infelizmente, estão incompletos17. As cenas ocupam só cerca de 2/3 do comprimento total da parede

em cada lado mas estendem-se até á entrada encontrando-se lá, no centro. Nas partes superiores, o

relevo está quase apagado devido á acção dos morcegos. Uma boa metade da cena de cada lado é

devotada ao rei, à sua família e ao seu palácio.

Na Pl. XVII, casal régio é aqui mostrado, não à janela mas sentado em bancos, no exterior.

A cercadura de uraei à volta do toucado real não é a habitual18. A parte superior do corpo da rainha

desapareceu coma pedra onde tinha sido gravada. Aparentemente embalava três das suas filhas nos

17 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 10. 18 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 10.

Page 9: Túmulo de Tutu (TA 8)

9

joelhos, uma vez que vemos os pés de duas delas e percebemos pelos seus nomes que eram a mais

velha e a mais nova19.

Novamente aparece a princesa Mutnedjemet com os seus dois anões. Tutu está de pé diante

do rei e o pátio, atrás dele cheio de uma multidão de espectadores, duas bigas e dois bois gordos.

Estes últimos podem vir dos domínios reais, destinados ao sacrifício, ou serem presentes oferecidos

pelo rei, ao seu funcionário. Estão decorados com fitas e plumas nos cornos e são acompanhados

por portadores de comida e de bebida (Pl. XVIII) a assistência compreende de cima para baixo, os

representantes estrangeiros, soldados com os seus estandartes, cortesãos escribas e oficiais,

incluindo o governador da cidade e o portador do leque, crook e machado. Temos sorte em saber o

diálogo que se travava entre o rei e o seu súbdito em ocasiões como estas, o mesmo chegou até nós

em excertos … Tutu replica a este gracioso discurso com uma torrente da mais rebuscada lisonja…

Depois da sua audiência com o rei, Tutu retira-se para além do pátio, onde as sentinelas

estão sentadas nos seus postos com os estandartes regimentais plantados num suporte (registo

superior, Pls. XX). Aqui também os carros dos grandes oficiais esperam para os levar a casa. Uns

poucos servidores e um bando de mulheres músicas preparam-se para acompanhar os servos do

palácio que conduzem quatro bois gordos e transportam os vasos e as comidas oferecidas pelo rei.

Antes de voltar para casa, Tutu dirige-se aos oficiais seus companheiros. Possivelmente o desenho

completar-se-ia com a casa de Tutu ou o templo de Aton. A região inferior da parede contém apenas

uma curta oração, separada por um espaço em branco da figura de Tutu, de é e com as mãos

erguidas

Recompensa de Tutu. Parede ocidental, lado sul (Pls. XIX-XXI)

Neste caso, a pintura associada da última cena, o casal régio recebe o seu servidor junto à

varanda almofadada do qual se debruçam para lhe conferir os seus presentes. O discurso que o rei

teria proferido na ocasião está disposto em duas colunas.

Por este anúncio formal, Tutu é elevado à classe sacerdotal, num lugar logo abaixo do

sumo-sacerdote. Sandálias e colares de ouro são trazidos e adaptados ao seu corpo. Entretanto ele

faz um longo discurso de resposta, pródigo em encómios ao rei.

Esta explosão de sentimentos de lealdade é partilhada pelos assistentes e um pequeno

espaço é destinada a cada grupo (Pl. XX). Os estrangeiros, de pé e numa atitude de respeito, falam

através do intérprete egípcio. Os soldados empunham os seus estandartes, entre os quais o

estandarte bHt.

19 DAVIES, Norman de G., RTEA, vol. V, p. 10.

Page 10: Túmulo de Tutu (TA 8)

10

Fig. 6 − Tutu é recompensado pelo rei. Parede ocidental, lado sul, parte superior, (Pl. XIX-XX).

Junto da porta lateral do pátio estão as duas bigas e os seus condutores juntam-se ao louvor geral.

Fig. 7 − Discurso do condutor do carro de Tutu, que aguarda o seu amo.

Segue-se uma outra cena: Tutu abandona o pátio e vai juntar-se a uma multidão de amigos e

servidores que esperavam lá fora para o acompanhar a casa (fig. 8). Esta aprece fazer parte do

complexo do templo ou estar perto dele. A pintura conta a história de um modo muito confuso mas

uma breve análise mostra que é no templo que se concentra a acção principal. No topo da parede

vemos o posto militar que se encontra no exterior do palácio. Dois regimentos parecem estar de

guarda e mostram os seus estandartes em plataformas a altares.

Page 11: Túmulo de Tutu (TA 8)

11

Um oficial está a recolocar dois deles ou a removê-los para ir tomar parte na cerimónia.

Perto estão estacionados dois carros. Os cavalos foram desatrelados e, aos pares, comem nas suas

manjedouras.

Fig. 8 − Felicitações e comentários dos amigos de Tutu (Pl. XX).

Os dois registos inferiores parecem representar cenas passadas antes da cerimónia, diante

dos portões do palácio. Servos e soldados entram e saem dele, transportando mensagens. O

mordomo está à porta e pede notícias aos que chegam. Como de costume. uma grande quantidade

de comida e de bebida está empilhada num compartimento à esquerda, protegida do vento e da

poeira. Funcionários retiram inúmeros bens, destinados a Tutu. Ei-lo que regressa do palácio, em

toda a sua glória, empossado que foi nas suas funções. É entusiasticamente recebido pelos seus

subordinados que dançam excitados e tombam a seus pés. Tutu dirige-se-lhes20 e deles recebe uma

resposta lealista. Sobe para o carro e continua o seu caminho, acompanhado por destacamentos de

polícia, grupos de amigos e as mulheres da sua casa. Os servos do templo recebem-no á entrada do

edifício e Tutu novamente invoca a bênção de Aton sobre o rei.

A figura de Tutu em oração e o texto da mesma constituem a única decoração da parte mais

baixa da a parede (Pl. XXI) provavelmente foi aqui colocada para encher espaço.

20 Ver p. 18

Page 12: Túmulo de Tutu (TA 8)

12

Fig. 8 − Discurso de Tutu, a caminho do templo.

Textos

Tecto da ante-câmara, (Pl. XII)

A

1

… … …rdi.kw (p)r- anx pH.n.k kA rdi.n.k nb.k n.k

… … … foste nomeado para a Casa da Vida. Possa o ka, que te foi concedido pelo teu senhor 21,

2

bAk-tp(y) n Itn m Axt-Itn (a)qA.k (n nb.k?) … … … bH…

ó chefe dos servidores de Aton em Akhetaton, (possas tu garantir) a tua lealdade (ao teu senhor?)

21 A frase original tem lacunas. O duplo determinativo A1*B1 é difícil de entender, seria mais lógico se

representasse o rei (Akhenaton) que efectivamente nomeou Tutu para os seus cargos. Foi isto que se admitiu.

Page 13: Túmulo de Tutu (TA 8)

13

3

… … … .i? … … tw.i … … ir …

… … … eu… … … fazer …

4

nD Axrwt.k dwAt n kA n imy-xnt mri n nb tAwy

perguntando, de manhã, aos teus akheru22. Pelo ka do camareiro da corte, amado pelo senhor das

Duas Terras

5

imy-r pr-HD … pA Itn m pr Itn m Axt-Itn Twtw

o Superintendente da Casa da Prata (do tesouro) … de Aton, na Casa de Aton em Akhetaton, Tutu.

B

7

… … … .k Dt bn xpr … … … (n kA n) imy-xnt n nb tAwy

… … … ?- te eternamente, não passará, … … (Pelo ka) do camareiro do senhor das Duas

Terras,

imy-r w Twtw

o governador de distrito, (Tutu).

C

22 Akheru. Não foi possível encontrar a tradução deste substantivo.

Page 14: Túmulo de Tutu (TA 8)

14

8

… … … rn.k mn r nHH bn HHy.f Hr iry

… … … o teu nome permanecerá para sempre, sem ter de ser procurado, entre os que foram

designados (por…)

9

… … … pr.k m Axt iw imy-r nsw im …

… … … a tua casa no horizonte existirá, enquanto o Superintendente do rei lá estiver …

10

n kA n imy-xnt n nb tAwy… … m Axt-Itn Twtw

Pelo ka do camareiro do senhor das Duas Terras … … em Akhetaton, Tutu

Porta exterior. Umbral direito, (Pl. XIII)

1ª Coluna

11

dwA anx Ra-@r-Axty Hay m Axt

Adoração (ao) vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte,

m rn.f (m) Sw nty m Itn Di anx Dt nHH

no seu nome de «A luz que está no disco solar», dotado de vida eternamente, para sempre,

12

Page 15: Túmulo de Tutu (TA 8)

15

nsw-bit(y) anx m mAat nb-tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra sA Ra anx m mAat

nb Xaw

(e ao) rei do Alto e do Baixo Egipto, que vive em Maet, o senhor das Duas Terras Neferkheperuré

Uaenré, filho de Ré, que vive em Maet, o senhor das coroas,

Ax-n-Itn aA m aHaw.f

Akhenaton, grande no seu tempo de vida,

13

Hmt-nsw wrt mrit.f Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity Anxt Dt (n)HH

(e à) grande esposa real, sua amada, Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente e para

sempre23.

2ª Coluna

14

iiy.n.i m iAw n stwt.k pA Itn anx

Vim para adorar os teus raios, ó Aton vivo

waw

e único.

15

ntk (n)HH At pt Hwt-nTr.k xaai.k im.s ra-nb

Tu és a continuidade do momento e o céu é o teu templo. Quando te ergues lá, todos os dias

23 Reconstrução através de uma fotografia de Mariette. Ver SANDEMAN, op. cit., p. 71.

Page 16: Túmulo de Tutu (TA 8)

16

16

r msi sA.k pri HAw.k

para engendrar o teu filho que saiu do teu corpo,

17

nsw-bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra… pA Itn anx

o rei do Alto e do Baixo Egipto, Neferkheperuré -Uaenré … … o Aton vivo.

18

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

Pelo ka do camareiro Tutu, justificado.

3ª Coluna

19

iiy n.i n.k iw r Xr MAat pA Itn anx.k

Vim até ti com a boca (plena) de Maet24, pela qual tu vives, ó Aton

20

iw sSms.i sA.k ir.n.i m bitw.f Wa-n-Ra

eu segui o teu filho, agi de acordo com o seu carácter. Uaenré é

21

24 Isto é, com um discurso digno, justo e equilibrado.

Page 17: Túmulo de Tutu (TA 8)

17

HqA MAat sA nHH pA Itn anx nsw-bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra di.f …

o governante de Maet, o filho da continuidade, o Aton vivo, o rei do Alto e do Baixo Egipto,

Neferkheperuré Uaenré, que ele dê … …

22

… … … m kA.k m-bAH.i Dt (n)HH n kA n imy-xnt

… … … com o teu ka, diante de mim, eternamente e para sempre. Pelo ka do camareiro

Twtw mAa-xrw

Tutu, justificado.

4ª Coluna

23

iiy.n.k iw awy Hr dwA.k

Vim até ti com as (minhas) mãos (erguidas) para te adorar

24

iw irty .i Hr ptry.k bn Abw

e os meus olhos estão a contemplar-te, sem cessar.

25

ntk TAw… … w … … anx …

Tu és a brisa … … … vida …

26

Page 18: Túmulo de Tutu (TA 8)

18

di.f qrst nfrt m Dw n Axt.Itn st(- MAat)

Que ele garanta um belo funeral, na montanha de Akhetaton, o lugar (de Maet).

27

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

Pelo ka do camareiro Tutu, justificado.

5ª Coluna

28

iiy.n.k pA Itn

Vim até ti, ó Aton.

29

pA qmA m sw msi.k sA.k …

o que se criou a si mesmo. Tu engendras o teu filho …

30

… … … tw … … … n.f mi Hsyw

… … … … … … dele, como os favoritos.

31

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

Pelo ka do camareiro Tutu, justificado.

Page 19: Túmulo de Tutu (TA 8)

19

Entrada. Inscrições do tecto, (Pl. XIV)

Norte

32

aHa.k dwA(t) m st.k nt (n)HH r mAA Itn xaai.f

Possas tu erguer-te de manhã, neste teu lugar de continuidade, para ver Aton quando ele aparece em

glória,

33

wab.k tw Ssp mnxt mi sxr

purificares-te e receber roupa (lavada), tal como estava estabelecido25

n wnn.k Hr tA

quando estavas na terra.

34

n kA n Hsy n nTr-nfr imy-xnt Twtw

Pelo ka do favorito do deus bom, o camareiro Tutu.

Centro

35

25 De acordo com o significado de sxr, «plano, resolução, estado». Ver BONNAMY et SADEK, op. cit., pp.

580-581.

Page 20: Túmulo de Tutu (TA 8)

20

dwA.k Itn di.f n.k Taw swAD stwt.f

Adora Aton para que ele te dê a brisa e os seus raios revigorem

Haw.k

os teus membros.

36

Tsy.k tw smx.k wrd anx.f

Fica erguido e esquece o cansaço, ele vive

Hr.k m ptry.f

na tua face quando é contemplado26.

37

n kA n bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra n wiA

Pelo ka do chefe dos servidores de Neferkheperuré, na barca,

imy-xnt Twtw mAa-xrw

o camareiro Tutu.

Sul

38

Sms.k Itn mi Hsyw.f m wsxt Hwt.bnbn

26 Isto é, a luz do Sol dá a vida a quem o contempla.

Page 21: Túmulo de Tutu (TA 8)

21

Segue Aton, como os seus favoritos, no pátio da Casa do Benben,

39

iry.k sn tA stwt.f wnn.k m st MAat

realiza (a cerimónia de) «beijar a terra» aos seus raios, quando estiveres no lugar de Maet,

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

pelo ka do camareiro Tutu.

Arquitrave – Inscrições (Pl. XIV)

Início de cada arquitrave

40

Anx it.ianx Ra-@r-Axty Hay m Axt

Viva meu pai, o vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte,

41

m rn.f (m) Sw nty m Itn Di anx Dt nHH

no seu nome de «A luz que está no disco solar», dotado de vida eternamente, para sempre,

42

nsw bit(y) anx m MAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra sA Ra anx m mAat

nb Xaw

Page 22: Túmulo de Tutu (TA 8)

22

e o rei do Alto e do Baixo Egipto que vive em Maet, o senhor das Duas Terras, Neferkheperuré

Uaenré, filho de Ré, que vive em Maet, o senhor das coroas

Ax-n-Itn aA m aHaw.f

Akhenaton, grande no seu tempo de vida,

43

Hmt-nsw wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt (n)HH

(e a) grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, que viva eternamente e para sempre.

Sul

44

iw pA HqA msw pA Itn mn r (n)HH mi qdnw.f

o governante nascido de Aton e estável ao longo do tempo futuro, como o seu criador,

45

Hr irt pA HH n Hb-sd wDw n.f

e que está a celebrar um milhão de jubileus por decreto dele

46

pA Itn anx di anx Dt r na HH

o Aton vivo, dotado de vida eternamente e para sempre.

Norte

Relativamente a Nefertiti

Page 23: Túmulo de Tutu (TA 8)

23

47

iw.s Hr ptry pA HqA mnt iw bn Abw

Ela vê o soberano diariamente, sem cessar,

48

mi pA Itn pAy it rwd anx (n)HH nb tAwy

(pois ele é) como seu pai Aton, vigoroso e vivo na continuidade, o senhor das Duas Terras

49

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra Di anx Dt r-nA HH

Neferkheperuré Uaenré, dotado de vida, eternamente e para sempre

Oeste

50

iAw (n.k pA) Itn anx m irt.k nbt

Louvores (a ti, ó) Aton vivo, por toda a tua obra!

51

dwA.sn tw mi ir.k.sn anx.sn mi m.k r (n)HH sw

Eles adoram-te pois que os fizeste e vivem, através de ti, ao longo da sua eternidade

52

… … … qmA. n.k nbt irt Tntt Hr psd Hr Haw.sn

Page 24: Túmulo de Tutu (TA 8)

24

… … …criaste toda (?) e fizeste uma plataforma elevada27 para (do alto dela) bri-lhares sobre

os seus corpos.

53

wbn.k n.i ptry tw anx.i

Brilha (também) para mim, para que possa ver-te e viver.

Porta exterior. Umbral esquerdo, (Pl. XV)

1ª Coluna − Como em lns. 39-43

2ª Coluna

54

iiy n.i n.k pA Itn anx iw MAat ir st.s im.i

Vim até ti, ó Aton porque Maet fez o seu lugar em mim;

55

bw awn.i bw ir.i grgw

eu não sou ávido nem pratiquei a mentira,

56

bw ir.i msdd(y)t.k sA.k …

não fiz o que é odioso ao teu filho …

57

di.k n.i mw TAw n di kA nsw

Concede-me a água e a brisa, como dádiva do ka do rei.

58

n kA n imy-r wDwt nbt n nb tAwy Twtw mAa-xrw

Pelo ka do superintendente de todos os decretos do senhor das Duas Terras, Tutu, justificado

3ª Coluna

59

iiy n.i n.k pA Itn

Vim até ti, ó Aton

27 O céu.

Page 25: Túmulo de Tutu (TA 8)

25

60

iry.k sn (tA n stwt.k anw)

para fazer a cerimónia de beijar [a terra (diante dos) teus belos raios]

61

di.k tw Hr sA.k awy.i ii(w)y iiwy

que tu dás ao teu filho. As minhas mãos (estão erguidas no gesto de) “Bem-vindo, bem-vindo!”

62

n nfrw stwt.k m nb (n)HH r anx wDA snb

(à beleza dos teus raios, como senhor da continuidade com a vida, prosperidade e saúde

63

di.k sA Ra Ax-n-Itn aA m aHaw.f

(que) concedes ao filho de Ré), Akhenaton, grande no seu tempo de vida28.

64

di.k Ssp snw m Hwt-bnbn

Concede a recepção de oferendas de alimentos na Casa do Benben

65

n kA n imy-r kAwt nbt n Hm.f Twtw mAa-xrw

Pelo ka do superintendente de todos os trabalhos de Sua Majestade, Tutu, justificado

4ª Coluna

66

iiy n.i n.k pA Itn

Vim até ti, ó Aton!

67

28 A tradução das lns. 62-63 segue a reconstrução de Murnane. Ver MURNANE, op. cit., p. 188.

Page 26: Túmulo de Tutu (TA 8)

26

ink bAk sxpr (n) nb tAwy m kA.f

Eu sou o servo que o senhor das Duas Terras trouxe à existência através do seu ka,

68

ntf ir.wi rr anx m MAat n.i m xt.f

logo, ele é que fez de mim (um homem) de “ O que vive em Maet” 29. Eu tenho, do seu património,

69

pA … … mi Itn aA Df(A)w

o (meu sustento ?) tal como Aton, grande (em) provisões.

70

sA Ra Ax-n-Itn aA m aHaw.f di.k n.i kA.k mAa-xrw (n)HH Dt

(Ó) filho de Ré, Akhenaton, grande no seu tempo de vida, concede-me (através de) o teu ka (ser)

justificado para sempre e eternamente

71

n kA n imy-r HD nbw n nb tAwy Twtw mAa-xrw

Pelo ka do superintendente da prata e do ouro do senhor das Duas Terras, Tutu, justificado

5ª Coluna

72

iiy n.i n.k pA Itn dwA.i nfrw.k …

Vim até ti, ó Aton, para adorar a tua beleza …

73

… … sA.k pr.f im.k sA Ra Ax-n-Itn aA m aHaw.f

… … o teu filho que saiu de ti, o filho de Ré, Akhenaton, grande no seu tempo de vida

74

di.k … … … ptry.k mnt

permite (que eu possa) ver-te diariamente.

29 Segundo a reconstrução de Murnane e os fracos indícios da Pl. XV.

Page 27: Túmulo de Tutu (TA 8)

27

75

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

Pelo ka do camareiro da corte Tutu, justificado.

6ª Coluna

76

… … sA Ra Ax-n-Itn aA m aHaw.f

… … o filho de Ré, Akhenaton, grande no seu tempo de vida.

77

di.k … … nb … nHH Dt

Concede … tudo … para sempre e eternamente.

78

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

Pelo ka do camareiro da corte, Tutu, justificado.

Base

79

… … … n ir.f m … Itn di.f sw wbn …

… … … ele fez (como?) Aton. Ele concedeu-lhe a alvorada.

80

Hr r.k Hr mAat … ra n.k …a …

Tu estás satisfeito e em maet …

81

pr n.k im.f ir.k aHw.f

Tu saíste dele e cumpres o seu tempo de vida

82

m (Htp) Hr w… pAy.k … r st ra-nb

em (paz) sobre … o teu … para o (seu?) lugar, diariamente.

Page 28: Túmulo de Tutu (TA 8)

28

83

di.f … … m sDm.s Wa-n-Ra di.k … rn.i nmi (n)HH

Que ele (me) permita … a escutá-la. Uaenré concede … que o meu nome seja gritado (proclamado

em voz alta) para sempre!

84

n kA n imy-xnt Twtw mAa-xrw

(Pelo ka do camareiro da corte Tutu, justificado.)

Espessura da parede sul, (Pl. XV)

Hino de Tutu

85

iAw n kA.k

Louvores ao teu ka,

anx Ra-@r-Axty Hay m Axt m rn.f (m) Sw nty m Itn

(ó) vivo Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte, no seu nome de «A luz que está no disco

solar»,

Di anx Dt (n)HH

dotado de vida, eternamente e para sempre,

86

Hsy.k nsw anx m MAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

(e ao) teu favorito, o rei que vive em Maet, o senhor das Duas Terras, Neferkheperuré Uaenré,

87

pAy.k Sri pri m stwt.k

Page 29: Túmulo de Tutu (TA 8)

29

o teu filho30 que saiu dos teus raios.

88

smn.k sw m iAtw.k n nsw-bit(y) m HqA

Tu estabeleceste-o no teu (seu) ofício de rei do Alto e do Baixo-Egipto e como soberano

Snnt Itn

de (tudo aquilo) que Aton encerra.

89

di.k n.f (n)HH mi ir.k tw sA.k tit.k r ir …n

Dá-lhe a continuidade, tal como fazes para ti próprio, (pois ele é o) teu filho e a tua imagem, a fim

de cumprir

90

pAy.k aHa(w) sA Ra Ax-n-Itn aA m aHa(w).f

o teu tempo de vida, o filho de Ré, Akhenaton, grande no seu tempo de vida,

91

Hmt-nswt wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx Dt (n)HH

e a grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, que vive eternamente e para sempre.

92

(wbn.k) sHD.k tAwy stw(t).f Hr sA.k mry.k

(Quando te ergues) para iluminar as Duas Terras, os teus raios estão sobre o teu amado filho

iw Drt.k hr anx wAs

e a tua mão vem conferir(-lhe) vida e domínio.

93

mrwt.k wr ti aA ti stHn

O teu amor, abundante e grande, faz resplandecer

30 O termo Sri tem, normalmente, como determinativo uma criança com o dedo na boca.

Page 30: Túmulo de Tutu (TA 8)

30

94

Tm inm.k Spsw baHi.n.k

a tua nobre tez, (assim que) inundaste

pt tA m nfrw.k

o céu e a terra com a tua beleza

95

dwA tw sA.k pr Haw.k

O teu filho, que saiu do teu corpo, adora-te

96

sDm.k n.f nty m ib.f iri.k st mi pri m r.f

e tu escuta-lo e ao que está no seu coração e fazes isso, tal como sai da sua boca.

97

mry.k sw di.k sw mi Itn

Ama-o, faz com que ele seja como Aton!

98

iw.k pt stwt.k Hr.f sA Ra nsw-bit(y) anx m MAat

Quando estás no céu os teus raios estão sobre ele, o filho de Ré e rei do Alto e do Baixo Egipto, que

vive em Maet

nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

o senhor das Duas Terras, Neferkheperuré Uaenré.

99

msy.k Hm.f mi msy.k tw ra-nb bn irt Ab

que foi dado à luz (n)a majestade dele, tal como te dás à luz a ti mesmo, todos os dias sem cessar.

100

Page 31: Túmulo de Tutu (TA 8)

31

bw iw qd.n.k sw m stwt.k Ds.k

Formaste-o com os teus próprios raios,

r irt aHaw n Itn

para cumprir o tempo de vida de Aton.

101

DAI pt iw irt.f Hr nfrw.k

Quando atravessas o céu, o seu olho está sobre a tua beleza

102

Haw m rSwt n ptr.k pA Itn anx

e rejubila de alegria ao contemplar-te. Ó Aton vivo,

103

Hsy.k sw nty Xr pt r-r-a.s ptriw nb

Favorece-o com o que está debaixo do céu, até ao seu limite. Que tudo o que é visto

104

stwt.k iw n sA.k mi ir.k st

pelos teus raios pertença ao teu filho, tal como tu o fizeste,

iai.f ib.k im.sn

e lava (= alegra) o teu coração com isso.

105

sA Ra anx m MAat nb xaw Ax-n-Itn aA m aHa(w).f

(Ó) filho de Ré, que vive em Maet, senhor das coroas, Akhenaton, grande no seu tempo de vida,

106

ii.n.i m iAw n pA Itn

eu vim em adoração de Aton,

Page 32: Túmulo de Tutu (TA 8)

32

107

pA nTr anx waw nb stwt ir HDDwt

o único deus vivo, o senhor dos raios que fez a claridade,

108

wbn m pt sHD tAwy

que se ergue no céu, para iluminar as Duas Terras,

109

sAnx n.f qmA n.f nb rwi.f kkw

para dar vida a partir dele, para criar tudo a partir dele, e para expulsar as trevas.

110´

di.f stwt.f tA nb mH m mrwt.f

Ele dá os seus raios a toda a terra e enche-a com o seu amor.

111

smw Snw Hr wnwny n Hr.k

Ervas e árvores oscilam diante de ti,

112

imyw mw Hr ftft n xaa(w).k

e os que estão nas (os habitantes das) águas saltam à tua aparição.

113

irt nb aHaw Hr st.st wab Haw.sn

Todas as criaturas estão erguidas e no seu lugar. Lavam os seus corpos,

Sspw wnxw

pegam (nos seus trajes) e vestem-se.

114

kAwt nbt irw Hnwt.sn

Page 33: Túmulo de Tutu (TA 8)

33

Todos os trabalhadores cumprem os seus deveres,

115

hA srs.n.k tAwy n wbn.k n xprw.k n Itn anx

− ó (tu que) acordaste as Duas Terras, no momento da tua aurora, na tua forma de Aton vivo! −

116

r.sn mH m kA n di.k

e as suas bocas estão cheias do alimento que é tua dádiva.

117

Awt nb Htp Hr smw.sn

Todos os rebanhos (pastam) em paz as suas ervas

118

Rwy(.n).k Dw(t) di.n.k snb

(pois) tu fizeste cessar o mal e deste a saúde.

119

Hr nb Tsw n wbn.k mAA.n.sn nb.sn xaa.f

Toda a gente está de pé quando te ergues, para ver o seu senhor quando ele aparece em glória.

120

sA.k wa pr m Xt.k inq.k sw m stwt.k

(Quanto ao) teu único filho que saiu do teu corpo, tu envolve-lo nos teus raios

121

… … … nb pt … … … psd m xprw.k n Itn anx

… … … senhor do céu … brilhando na tua forma de Aton vivo.

122

tA nb Hr ktkt n wbn.k stwt.k xr HH m Hbw-sd

A terra inteira estremece quando te elevas e os teus raios transportam um milhão de jubileus

Page 34: Túmulo de Tutu (TA 8)

34

123

n sA.k anx m MAat nsw bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

do (destinados ao) teu filho que vive em Maet, o rei do Alto e do Baixo Egipto Neferkheperuré

Uaenré,

124

pAy.i nTr qd.i sxpr.i di.k n.i irt.i

o meu deus que me forma e me cria. Permite que o meu olho

Hr ptr.f

o contemple,

125

awy.i dwA.f msDr m xrw.f

que as minhas mãos o adorem, que o meu ouvido escute a sua voz

126

kA.f m-bAH.i iw bn Abw nw.k

e o seu ka esteja na minha presença sem cessar.

127

bAk Hsy n (nb.f) sbAyt.f bitw.f

Sou um servidor favorecido pelo seu amo. O seu ensinamento e as suas boas qualidades

128

m Xt.i bn Ab … … ra.f m (X)r-a.f m Hr…

estão dentro de mim, incessantemente … … sob a sua autoridade em …

129

iw r Dd.i m MAatw n Hm.f

Eu falarei de Sua Majestade, de acordo com os preceitos de Maet

130

Page 35: Túmulo de Tutu (TA 8)

35

Iw.i rx.kwi anx.f im.s

pois sei que ele vive nela.

131

bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra m …pr-Itn m Axt-Itn

O chefe dos servidores de Neferkheperuré Uaenré na …Casa de Aton em Akhetaton,

132

imy-xnt Twtw Dd.f

o camareiro da corte, Tutu, ele diz:

133

pAy nb anx m mAat Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra ink bAk(.f) …

Meu senhor, que vives em maet, Neferkheperuré Uaenré, eu sou (o teu) servidor …

134

… … …nb pA Wa-n-Ra m di anx mi pA Itn

… … …tudo, ó Uaenré, dotado de vida como Aton,

135

pAy.k it rwd.k mi qd.f

o teu pai divino. Sê inteiramente vigoroso!

136

bw ir.i msddyt Hm.f bwt grg

Eu não fiz o que é odioso a Sua Majestade, a minha abominação é a mentira,

m Xt.i bwt aAt n Wa-n-Ra

(sei) no meu íntimo (que é) a grande abominação de Uaenré.

137

sar.n.i mAatw n Hm.f iw rx.s kwi

Page 36: Túmulo de Tutu (TA 8)

36

eu apresentei coisas maéticas31 a Sua Majestade, porque sei que

anx.f im.s

ele vive nessas coisas.

138

ntk Ra msi MAat iw di.n.k …

Na verdade, tu és Ré, nascido de Maet, tu concedeste …

139

… … … r ptn bw (q)Aw …

… … … para estes, não foi elevada …

140

… … … xrw.i m pr n nsw bw wsx.i m aH

(não levantei) a minha voz na casa do rei, não me armei em poderoso, no palácio.

141

bw Ssp.i fq(A) grg dr mAaty n

Não recebo a recompensa da falsidade por destruir aquilo que é verdadeiro

DAw wpw- Hr irt MAat n nsw

mas, pelo contrário, (sempre) procedi para com o rei de acordo com Maet.

142

ir.i m wDw.f m Hr.i wsr.n.i m kA n Wa-n-Ra

Procedi de acordo com as suas ordens, diante de mim, e tornei-me poderoso através do ka de

Uaenré

143

31 No sentido de «coisas correctas, justas, equilibradas» ou de um trabalho impecavelmente executado.

Page 37: Túmulo de Tutu (TA 8)

37

ss(Ai.) n.i m fq(A)w rdi.f n.i … … … iw … ..s

e satisfiz-me32 com as recompensas que ele me concedeu.

144

… … … f b(w?) … … pAy nb m-a Dw m rx.i

… … … ele33 e não (ofendo?) o meu senhor com maldade e com o meu conhecimento34,

145

Bw di.i grg m Xt.i iw.i … m-bAH.f

nem ponho a mentira no meu íntimo, quando estou diante dele,

146

m ah m … … Hsyw iw wnwt w(bn).f

no palácio em (companhia dos) favoritos, no momento em que ele (o rei) se ergue

147

r sbA.i ra-nb n aAw n ir.i sbAyt.f

para me ensinar, todos os dias. Zeloso, executo o seu ensinamento.

148

bw gmwt spi.i m Dwt nb(t) …

Não foi encontrada a minha ocasião em qualquer mal35 …

149

sbAyt nb tAwy ink mty mAa

(Eu sigo?) o ensinamento do senhor das Duas Terras. Sou (tido por) leal e justo

m rx n nsw wAD(.i) …

no conhecimento do rei e prospero …

32 Normalmente grafado como ssAi. 33 O rei. 34 Isto é, Tutu não provocou de forma consciente qualquer dano ao seu rei. 35 Isto é, «em nenhuma ocasião eu fui encontrada a (praticar) o mal»:

Page 38: Túmulo de Tutu (TA 8)

38

150

… … … anx.i m dwA Hm.f iw Sms.f

… … … vivo na adoração de Sua Majestade, (porque) estou na sua comitiva.

151

di.k sAi.i n ptry.k nHt ib.f

Possas tu saciar-me de ver-te, é a prece do meu coração.

152

wD.k n.i qrst nfrt

Possas tu ordenar, para mim, um belo funeral

153

m-xt iAw m pA Dw n Axt-Itn …

depois da velhice, na montanha de Akhetaton …

154

… … … f sn.i TAw.k nDm n mHyt

… … … seu, e respirar a doçura do vento norte.

155

Xnm.f m sntr n tA (sic) Hnt

(Possa eu) inalar o incenso do serviço de

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra pAy nTr

Neferkheperuré Uaenré, este deus soberano.

156

wADw nsw n ir.f Hsswt n it.f … …

Quão afortunado é um rei que faz o que é louvável, por seu pai,

157

Page 39: Túmulo de Tutu (TA 8)

39

[pA Itn (anx?)] … … … ra

[o Aton (vivo?)] … … … o dia (?)

158

di.k n.i rn.i mn Hr iry.k

Concede-me que o meu nome perdure sobre (tudo) aquilo que fizeste

159

bw HHy n rn.i pAy.k Hsy

e não (seja necessário) procurar (longamente) o nome o teu favorito36.

160

iry.k mnw dm tw Hr rn n …

Possas tu fazer um monumento que mencione o nome de …

161

wADwy sw Hsy.k m st.f nb(t) …

Quão próspero é o teu favorito, em qualquer cargo (que ocupe) …

162

… … … Htpw n pA Itn m Axt-Itn

… … … as oferendas de Aton, em Akhetaton.

163

sSw nb n nsw rx Hnt.sn

(Ó vós,) todos os escribas reais que conhecem a sua profissão

164

nty ib.sn arq m Ax xt Tsi

e cujos corações são sábios em coisas úteis, a todos os que subirem

165

36 Isto é, que a recordação do nome de Tutu esteja imediatamente presente, sem que seja necessária uma longa

pesquisa nos arquivos, para se saber quem ele foi.

Page 40: Túmulo de Tutu (TA 8)

40

r swtwt Hr pA … … … pA Itn anx Dd.tn n.f

para ir ao (túmulo?) … … o Aton vivo, dizei dele (em sua intenção):

166

im-ma sw r nHH pA Itn anx msi sw

“Dá-lhe a continuidade ó Aton vivo que se engendrou a si mesmo,

167

ntk nHH sA.k mitt Wa-n-Ra pr m Haw.f

pois tu és contínuo, como o teu filho Uaenré que saiu do seu (teu) corpo e

168

TAw nDm n di kA.n nsw

a doce brisa que é dádiva do ka do rei.

169

n kA n imy-xnt (Twtw mAa-xrw)

para o ka do camareiro da corte (Tutu, justificado.)

Page 41: Túmulo de Tutu (TA 8)

41

Fig. 2. O rei e a rainha fazem uma oferenda de alimentos e incenso. Espessura da parede norte, (Pl.

XVI)

Protocolo de Aton

170

anx Ra-@r-Axty Hay m Axt

Viva Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte,

m rn.f (m) Sw nty m Itn Di anx Dt nHH

no seu nome de «A luz que está no disco solar», dotado de vida eternamente, para sempre.

171

Itn anx wr imy Hbw-sd nb Snw nb Itn nb pt nb tA

Aton vivo e poderoso, o que está (perpetuamente) em jubileus, o senhor de tudo (o que está contido)

no circuito de Aton, senhor do céu, senhor da terra,

Page 42: Túmulo de Tutu (TA 8)

42

Hr(y)-ib(y) m Axt-Itn

o que está em Akhetaton.

Os reis estão acompanhados por uma princesa cujo nome está apagado. Segundo Davies tratar-se-ia

da irmã da rainha, Mutendjemet37

Região inferior

Pequeno Hino a Aton. Acompanha-o a seguinte legenda:

172

imy-xnt Twtw mAa-xrw

O camareiro da corte Tutu, justificado, ele diz:

173

sDm Ddtw sA.k Wa-n-Ra pA Itn msi sw

Escuta o que é dito pelo teu filho Uaenré, ó Aton que o engendraste

174

im-ma sw r (n)HH

e condu-lo à continuidade.

O «Pequeno Hino a Aton»

É conhecido em cinco versões nos túmulos de Meriré (I), interior da porta, parede leste, Tutu,

interior da porta, parede norte, registo inferior, Mahu, parede norte e sul da porta, estelas da parede

norte e sul da sala principal, Api, duas cópias, nas paredes e na zona a oeste da entrada, e Ani,

interior da porta, parede oeste. O Pequeno Hino foi traduzido a partir da versão gravada no túmulo

de Api e inserta na obra, já referida, de Pierre Grandet. Utilizaram-se paralelamente as versões de

Miriam Lichtheim e de Bernard Mathieu38.

Preâmbulo

175

dwA anx Ra-@r-Axty Hay m Axt

Adoração. Que viva Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte

176

m rn.f m Sw nty m Itn di anx d.t nHH

no seu nome de «A luz que está no disco solar», dotado de vida, eternamente, para sempre.

37 DAVIES, op. cit., VI, p. 10 38 GRANDET, Hymnes de la Religion d'Aton, p. 73.

Page 43: Túmulo de Tutu (TA 8)

43

177

in nsw-[bit(y)] anx m m3at nb T3wy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

Pelo rei [do Alto e Baixo Egipto] que vive em Maet, senhor das Duas Terras, Neferkheperuré

Uaenré39,

178

sA Ra anx m MAat nb xAaw Ax-n-Itn aHa(w).f

filho de Ré, que vive em Maet, Akhenaton, senhor das coroas, grande no seu tempo de vida,

di anx d.t nHH

dotado de da vida eternamente, para sempre40.

179

xai.k nfr p3 Itn anx nb nHH

Belo te ergues, ó Aton vivo, senhor da eternidade!

180

iw.k TiHn.T an.ti wsr.T

Tu és resplandecente, tu és belo, tu és poderoso!

181

mrwt.k wrt.T aA.ti

O teu amor é majestoso, imenso41!

39 O título de «rei do Alto e Baixo Egipto» não está expresso, contudo mantivemo-lo na transliteração e na

tradução, admitindo que se trata de um erro do escriba. Contrariamente ao Grande Hino, Maet aparece com o

determinativo deusa, razão porque escrevemos a palavra com maiúscula. Note-se também um fenómeno de

haplografia: no nome do rei, o símbolo antecede igualmente a primeira parte do nome, Neferkheperuré, e a

segunda, Uaenré. 40 A grande esposa real, Nefertiti, não é mencionada.

41 aAi (ser grande). P. Grandet traduz como «o amor que inspiras é grande e o primeiro», M.

Lichtheim por «grande e profundo é o teu amor» e B. Mathieu por «o teu amor é majestoso e grande».

Page 44: Túmulo de Tutu (TA 8)

44

182

Stwt.k twk.(w) sw n Hr nbw

Os teus raios (estão sobre) os rostos de todos (nós)42,

183

inm.k wbx(w) Hr.s anx HAtyw

a tua pele resplandecente dá vida aos corações43,

184

mH n.k Tawy m mrwt.k

tu encheste as Duas Terras com o teu amor.

185

p3 ntr Spsi qd(w).sw ds.f

Ó nobre deus que a ti mesmo te fizeste!

186

ir t3 nb.k qm3(w) nty Hr.f

Tu criaste toda a terra, fizeste tudo o que está sobre ela:

187

m rmt mnmnt awt nb(t)

os seres humanos, os rebanhos e todos os animais44.

188

Snw nb rwd(w) Hr s3tw

Todas as árvores que crescem sobre a terra

42 Cf. P. Grandet, «os teus raios, a todos acariciam os rostos»; M. Lichtheim, B. Mathieu, «os teus raios

iluminam todos os rostos». 43 P. Grandet: «a tua brilhante aparência faz viver os peitos», HAtyw «corações, peitos»; M. Lichtheim: «a tua

tez brilhante dá vida aos corações»; B. Mathieu, «a tua tez brilhante vivifica os corações».

44 Cf. Grande Hino, p. 18, linha 65.

Page 45: Túmulo de Tutu (TA 8)

45

189

anx.sn wbn.k.sn

vivem quando nasces para elas.

190

ntk mwt it n iry.k

(Na verdade), tu és mãe e pai de tudo aquilo que criaste45,

191

irywt.sn wbn.k ptr.sn im.k

quando nasces, os olhos deles vêem graças a ti46.

192

sHD n stwt.k t3 r- Dr.f

(Assim que) os teus raios iluminaram a terra inteira47,

193

ib nb Haaw n m3(3).k

todos os corações exultam por te ver,

194

iw.k xa. T m nb.sn

quando tu apareces em glória, como seu senhor.

45 Cf. B. Mathieu: «tu és a mãe e o pai daqueles a quem fizeste os olhos».

46 ptr (ver).

47 sHD (iluminar, tornar claro) r-Dr.f (inteira). P. Grandet: «Assim que a terra,

no seu conjunto, pelos teus raios está iluminada»; M. Lichtheim: «Quando os teus raios iluminam toda a

terra»; B. Mathieu: «Assim que os teus raios iluminaram o país inteiro».

Page 46: Túmulo de Tutu (TA 8)

46

195

Htpt.k m Axt imn.t nt pt

Quando te pões, a ocidente do céu,

196

sdr.sn mi sxrw nty m(w)t(w)

eles jazem, como se estivessem mortos.

197

iw tpw.sn Hbs(w) fndw Db3(w)

As cabeças (estão) cobertas, os narizes bloqueados

198

r xpr wbn.k dw3t

até regressarem à existência, assim que nasces, de manhã48,

199

m 3xt i3btt nt pt

no horizonte oriental do céu.

200

Awy.sn m i3w n k3.k

(Então) os seus braços adoram o teu ka,

201

s anx n.k H3tyw m nfrw.k anx.tw

(porque) fizeste viver os corações com a tua beleza. Vive-se (por ti).

48 dwAt, «manhã».

Page 47: Túmulo de Tutu (TA 8)

47

202

dn.k stwt.k t3 nb m Hb

(Desde que) enviaste os teus raios, toda a terra está em festa49,

203

Hsw šmaw nhmw m ršwt

cantores e músicos estão exultantes de alegria50,

204

m wsxt n Hwt-bnbn

no átrio do Templo do Benben51

205

Hwt ntr nb(t) m 3xt-Itn

e em todos os templos de Akhetaton,

206

st m3at hry n.k im.s

no lugar da maet, onde te deleitaste52.

207

Hw Df3w Htpw m Xnw.s

49 Hb, «festa», aparece escrito no texto sob a forma .

50 Hsw, «cantor»; Sma, «fazer música».

51 O benben é o nome da pedra divina de Heliópolis e uma manifestação do deus Atum ou melhor, da

primitiva colina sobre a qual este se ergueu. Tinha a forma de um cone e era guardada no santuário interior do

templo de Ré. A associação de cones e pirâmides a Atum-Ré, Amon-Ré ou qualquer forma divina solarizada

prende-se com a analogia entre as arestas da pirâmide ou a geratriz do cone e a divergência dos raios solares a

partir de um ponto. Ver ARAÚJO, «Benben», Dicionário do Antigo Egipto, pp. 147-148. 52 Cf. P. Grandet: «o lugar verdadeiro onde te agrada estar»; M. Lichtheim: «o lugar da verdade em que te

comprazes»; B. Mathieu: «o lugar de verdade onde te deleitaste». Note-se o arranjo gráfico de em vez

de .

Page 48: Túmulo de Tutu (TA 8)

48

Alimentos (e) provisões são oferecidos no seu interior,

208

s3.k wabw Hr irt Hss(w)t.k

e o teu filho, purificado, está a fazer o que tu louvas.

209

p3 Itn-anx m haayw.f

Ó Disco vivo nas suas gloriosas aparições,

210

iry.k nb Hr ib n Hr.k

todas a(s) tua(s) criatura(s) saltam de alegria diante da tua face!

211

s3.k špsy haaw ib.f m ršwt

O teu augusto filho está exultante, o coração (pleno) de alegria!

212

p3 Itn-anx hrw m pt ra nb

Ó Aton vivo, que todo o dia está alegre no céu

213

msy.f s3.f špsy

para dar à luz o seu filho sublime53,

214

53 msy, «dar à luz».

Page 49: Túmulo de Tutu (TA 8)

49

wa-n-Ra mi-qd.f nn irt 3b s3 Ra wts(w) nfrw.f Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

o único (filho) de Ré, ele mesmo, o filho de Ré que não cessa de exaltar a sua beleza (de Ré),

Neferkheperuré Uaenré54.

215

ink s3.k 3x(w) n.k wts rn.k

Na verdade, eu sou teu filho! O que é útil para ti, o que exalta o teu nome!

216

pHty.k wsr.k mnw m ib.i

A tua força e o teu poder estão firmes no meu coração55.

217

ntk Itn- anx nHH tit.k

Na verdade, tu és o Aton vivo e a eternidade é a tua imagem!

218

iw ir n.k pt w3t r wbn im.s

Fizeste o céu longínquo para nele brilhares,

219

r m33 iri.k nb iw.k waw.ti

para contemplares tudo o que fizeste. Tu és único

220

54 mi-qd.f, «inteiro, o próprio».

55 mn, «estar firme».

Page 50: Túmulo de Tutu (TA 8)

50

iw HHw n anx im.k r s anx.sn

(mas) milhões com a vida estão em ti, para que os faças viver56.

221

t3w n anx r fndw m3(3) stwt.k wnn

O sopro da vida (dirige-se) para os (seus) narizes57, ver os teus raios é viver58.

222

Hrrt nb(t) anx.t rwdw Hr iwtn

Todas as flores estão vivas, (como tudo) o que brota do solo59,

223

srwd n wbn.k

tu (as) fazes crescer, quando brilhas60,

224

tx.sn n Hr.k

ébrias da tua face61.

56 P. Grandet: «A vida, nos seus milhões de formas, possui em ti a sua fonte para animar os seres»; M.

Lichtheim: «mas milhões de vidas estão em ti»; B. Mathieu: «enquanto milhões de vidas estão em ti para

serem vivificadas». O que aqui está afirmado é a existência potencial de todo o ser vivo em Aton. O ser

descerá ao mundo da matéria depois de ser vivificado mediante o sopro da vida. Compare-se esta ideia com a

narrativa de Génesis II. 57 M. Lichtheim: «para que as suas narinas recebam o sopro da vida»; P. Grandet: «o sopro da vida dirige-se

para os narizes». 58 P. Grandet: «ver os teus raios é ser»; B. Mathieu: «ver os teus raios é o sopro da vida para as narinas»,

segundo a versão do túmulo de Tutu.

59 iwtn «chão», escrito sem determinativo no texto. Observe-se a grafia de rwd

«crescer», escrita sem determinativo e, no texto, com em vez de . Cf. P. Grandet: «e aquilo que

cresce sobre o solo»; M. Lichtheim: «os rebentos que crescem do chão»; B. Mathieu: «que crescem sobre o

solo».

60 srwd, «fazer crescer». Novamente em vez de .

61 Verbo txi (estar embriagado). Tal como em Actos 2,13-15, o êxtase religioso é assemelhado à

embriaguês. Curiosamente, neste caso, são os animais e as plantas que «bebem» a luz do Sol. Em FAULKNER,

A Concise Dictionary of Middle Egyptian, p. 8, o substantivo plural iAwt é traduzido

Page 51: Túmulo de Tutu (TA 8)

51

225

i(A)wt nb(t) hr tbh n Hr rdwy.sn

Todos os animais se erguem, caminhando sobre as suas patas,

226

3pdw wn(w) m sšA p3w m ršw

as aves voam para fora dos ninhos, com alegria.

227

dnHw.sn wn(w) inq(w) pdw m iAw

As suas asas, (antes) dobradas, estão erguidas em louvor62

228

n p3 Itn-anx irr(w).st

ao Aton vivo, seu criador.

por «rebanhos». Segundo JUNGE, Late Egyptian Grammar, p. 322, o termo pode designar animais

domesticados ou selvagens. Utilizámos esta última tradução. Note-se a anteposição do signo X1, talvez por

motivos estéticos, bem como o uso do signo O44, representando o emblema erigido no exterior do templo de

Min. Ver GARDINER, Egyptian Grammar, p. 497. 62 Compare-se com o Grande Hino (GH), verso 38: dnHw.sn m iAw n k3.k «…as asas delas

(erguem-se) em louvor ao teu ka», tendo em conta inq, «rodear, abraçar» e pdw,

«erguido, erecto». Ver FAULKNER, A Concise Dictionary of Middle Egyptian, p. 96. Tal como no GH há uma

analogia entre as asas dos pássaros e as mãos erguidas dos homens que fazem o gesto iAw, diante dos

deuses. No PH, a ideia é reforçada, mediante o verbo Inq que veicula a imagem de asas dobradas que se

abrem num acto de louvor. As traduções de P. Grandet, M. Lichtheim e B. Mathieu vão neste sentido: «e eis

que as suas asas, que antes estavam fechadas se encontram abertas como em adoração»; «as suas asas que

estavam fechadas, abrem-se numa prece» e «as suas asas que estavam dobradas abrem-se em adoração».

Page 52: Túmulo de Tutu (TA 8)

52

Fig. 3. Tutu é recebido pelo casal régio, sentado no pátio. Nefertiti, cujo rosto desapareceu tinha

originalmente três filhas ao colo. Sobre todos eles, Aton derrama os seus raios. Parede ocidental.

Lado norte, (Pls XXVII-XVIII).

Protocolo deAton

229

anx Ra-@r-Axty Hay m Axt

Viva Ré-Horakhti, que rejubila no horizonte,

m rn.f (m) Sw nty m Itn Di anx Dt nHH

no seu nome de «A luz que está no disco solar», dotado de vida eternamente, para sempre,

230

Itn anx wr imy Hbw-sd nb Snw nb itn

Aton vivo e poderoso, o que está (perpetuamente) em jubileus, senhor do disco solar,

231

Page 53: Túmulo de Tutu (TA 8)

53

nb pt nb tA nb n Pr-Itn m Axt-Itn

senhor do céu, senhor da terra, senhor do templo de Aton, em Akhetaton.

O rei e a rainha mantêm os protocolos habituais

Protocolos das princesas

232

sAt nsw n Xt.f mrit.f Mrit-Itn msi(t) n Hmt-nsw wr(t ) mrit.f

nbt-tAwy

Filha do rei, do seu corpo, sua amada Meritaton, nascida da grande esposa real, sua amada,

senhora das Duas Terras

Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx ti Dt nHH

Neferneferuaton Nefertiti, que ela viva eternamente e para sempre.

E o mesmo para a princesa anxs-n-pA Itn, «Ankhsenpaaton».

Também a irmã da rainha, Mutendjemet, se encontra presente na companhia de dois anões. A

referência ao seu nome e status desapareceu.

Discurso do rei:

233

Ddt n nsw bit(y) anx m mAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

O que foi dito pelo rei do Alto e do Baixo Egipto que vive em maet, o senhor das Duas Terras,

Neferkheperuré Uaenré:

234

srw (m-)HAtyw n mSaw nty aHa m-bAH pr-aA anx wDA snb

(Ó nobres) e comandantes de soldados, que estais diante do faraó − vida, prosperidade, saúde 63 −

63 A presente tradução procura seguir o texto original que está muito deteriorado. Sandmann apresenta uma

outra versão:

… iAw (p)atw n mSAw … «saudações, patrícios dos soldados…».

Isto, para além de não ter sentido, afasta-se do que ainda é possível ler no original.

Davies traduz a mesma frase por: «O [great ones] and heads of soldiery…». Ver DAVIES, op.cit., VI, p. 11. A

versão de Murnane é «[O officials(?)] and chief men of the army …». Ver MURNANE, op. cit., , p. 193.

Page 54: Túmulo de Tutu (TA 8)

54

235

ib.i r irt pA sp tnt xAw pw …sy

A minha intenção é fazer esta ocasião excepcional de recompensas (conferir uma recompensa

especial), igual a um milhar (de vezes?)

… … … n rmT

(o que se costuma dar) à gente comum.

236

bw sDm.f Hsw.f irw n ky sr.f iri sw n imy-xnt

Ele não ouve (não há memória de) que uma (tal) recompensa (do rei) tenha sido dada a (qualquer)

outro seu oficial (mas eu) concedo-a ao camareiro

237

Twtw n mryt.f n pr-aA anx wDA snb pA.f nb

Tutu, pelo seu amor pelo faraó − vida, prosperidade, saúde − seu senhor.

238

Hr di.k n.i r … … … n biAy… … mAat

Concedo-te (vindo) de mim … … dos (guardiães?) do cobre… … genuíno.

239

Hryw pDwt imyw-r ssmwt sSw-nsw

Capitães das tropas, comandantes dos cavalos (dos carros de guerra), escribas reais,

imyw-r mSaw

generais,

240

imyw-r iwayt nb n xAst nbt (Sms)w n prw n pr-aA anx wDA snb

Page 55: Túmulo de Tutu (TA 8)

55

comandantes dos soldados de todas as terras estrangeiras, (companheiros) das casas do faraó − vida,

prosperidade, saúde −

241

bAk n Itn nb n pA Itn m r (-pr.f)… …

e a todos os sacerdotes de Aton, pertencendo a Aton no (seu templo) … …

242

… … … Smaw tA-mHw wD pr-aA anx wDA snb pA.f nb nfr

… … …Alto e Baixo Egipto. Ordena o faraó − vida, prosperidade, saúde − seu senhor perfeito,

243

Di srw nb HAwt n tA r Dr.f di.n.d

manda que todos os oficiais, chefes da terra inteira, lhe dêem

244

HD nbw mnmnt Hbsw Hnw n biA

prata, ouro, (gado), vestes e vasos de cobre

245

iw Hr (nt)tn mi SAyt … … …

(as coisas que recaem) sobre vós, como impostos

246

… … … sxr nty pr-aA anx wDA snb ir.f n pA bAk aA n pr-aA anx wDA snb

… … … a vontade que o faraó − vida, prosperidade, saúde – está a fazer para o grande servidor

do faraó − vida, prosperidade, saúde –

247

bw rx ir r.f n Tn(w).f iry gm. tw.f r.f m

nenhum «conhecido (do rei)» alcançou isto (a recompensa régia) por sua própria distinção, foi

encontrado para ele nos

rnpwt bAkw imy-r Twtw Hr sDm.f min

Page 56: Túmulo de Tutu (TA 8)

56

anos de serviço do superintendente Tutu64 e estamos a ouvir (falar disto) hoje65.

248

ptri pr-aA anx wDA snb pA.f nb nfr

Vede, o faraó − vida, prosperidade, saúde – o seu senhor perfeito

Hr (r)dit nAw.f srw aAw

está a colocar os seus grandes oficiais

249

m mitt sr nb qd pr-aA anx wDA snb m tA r-Dr

e também a todos os oficiais, na terra inteira, que o faraó − vida, prosperidade, saúde – cria,

250

r di.n.f HD nbw Hbsw Hnw n biA mnmnt

a fim de lhes dar prata, ouro, vestuário, vasos de cobre e gado,

Tnw rnpt

todos os anos.

Discurso de Tutu

251

Ddt n bAk-tpy n nsw bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

O que foi dito pelo primeiro servidor do (rei do Alto e do Baixo Egipto), Neferkheperuré Uaenré,

imy-xnt Twtw

o camareiro Tutu:

64 Esta fraseologia confusa é objecto de traduções muito diferentes. A versão de Davies é «No noble knoweth

how to do it unto his [favourite? He is found in the (?) seat of the Servitors (?)]». Ver DAVIES, op. cit., VI, p.

11. Murnane traduz como: «No official can do it for his own distinction (?) − or emending the order of the

signs, «for his fellow» − but it is found out through years of service (?)». Ver MURNANE, op. cit., p. 193 e nota

105. A presente versão procura transmitir a ideia que parece estar na mente de Akhenaton: de futuro as

recompensas do rei destinam-se a premiar, não a distinção (posição social?) de um funcionário mas os seus

anos de bom e leal serviço. Isto inclui, naturalmente, a fidelidade às ideias religiosas do rei.

65 Habitualmente escreve-se min, «hoje».

Page 57: Túmulo de Tutu (TA 8)

57

252

pAy nb nfr HqA qd aSAw xt aA n aHaw(.f) wr mnw

Ó meu bom senhor, governante de virtude, abundante em coisas, grande no (seu) tempo de vida e

grande em monumentos.

253

r wD.k nb xpr.sn mi Itn nb

Tudo o que tu decretas acontece, à semelhança de Aton, o senhor,

254

pA Itn anx r wDw.f m pt ra-nb

o Aton vivo, que faz os seus decretos no céu, todos os dias.

255

ntk pAy.i anx snb.i m ptr.k

Tu é que és a minha vida e a minha saúde vem de contemplar-te.

256

HH n Hapy pA(y) nb wADyw pA di sw m ib.f

Ó (meu) milhão de Hapi (=Nilos), (ó) meu senhor, quão próspero é quem o põe no seu coração!

257

pA r-sfy Apdw … r tr nb aA Hsw m HD nbw

Ó apanhador de aves66 (que vem à existência) todas as estações, grande em recompensas de prata e

ouro,

258

r di.f r fAi tw Hr rmn

mais do que ele pode carregar ao ombro.

259

wbn n.k pA Itn anx r iai ib.k

O Aton vivo ergue -se para ti, para lavar (para alegrar) o teu coração

260

66 Na verdade, o rei é um Hórus, o deus-falcão.

Page 58: Túmulo de Tutu (TA 8)

58

Mnt pA Wa-n-Ra any mi Itn

diariamente. Ó Uaenré, tu és belo como Aton,

261

rwd anxw (Dt) nHH

vigoroso e vivo, (eternamente) e para sempre.

262

pA Itn pAy.k it wbx msi tw

Aton, teu resplandecente pai que te engendrou

di.f n.k wbn.f

concede-te a sua alvorada.

263

Xrw ta ptri stwt.f n rmT

Os que estão na terra e contemplam os seus raios, nomeadamente as pessoas comuns,

264

m iwAt nbt dgA nb Hr rdwy.sn

todos os rebanhos e tudo aquilo que anda sobre as suas duas patas.

265

Ptr.sn Itn wbn tn…

Eles vêem Aton erguer-se …

266

… … … (r ) aA r Hbw(?) wD(b)w

… … … maior para ti que as festas67 (que se realizam) nas margens

n itrw

67 Deve tratar-se de um erro do escriba. A tradução efectuada parece possível.

Page 59: Túmulo de Tutu (TA 8)

59

do rio,

267

rx(t)w n pn nt(y) Say dgi.i n Swt

e que o número destes (grãos de) areia que eu vejo numa pena,

268

iw n.k mri pA Itn …

eles pertencem-te, ó amado de Aton …

269

… … … aA aHaw.f iw.k mn ti m iAt.f r (n)HH

… … … grande no seu tempo de vida e tu permanecerás estável no teu cargo, para sempre,

pA Ra msw pA Itn

ó Ré, a quem Aton engendrou!

270

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra sxpr.k DAmw m Hfnw

Neferkheperuré Uaenré, tu crias novas tropas em centenas de milhar,

271

ir.k … … … b bw iTwt bw ii tw m Aw

tu fizeste … … … elas não foram conquistadas, não regressaram longo tempo (depois)

bw msw n HH n DAmw

e não foi dado à luz um (novo?) milhão de tropas

272

Page 60: Túmulo de Tutu (TA 8)

60

Iw.k Hwn ti mi pA Itn anx ti Dt (n)HH

mas tu és jovem68 como o Aton, que possas viver eternamente e para sempre!

Tutu dirige-se agora ao seu pessoal:

273

imy-xnt Twtw Dd.f

O camareiro da corte, Tutu, ele diz:

274

nn … … … w nb … … … .f …

… … … u todo … … … seu …

… … … pr.k nHH

… … … a tua casa para sempre.

275

(wD) pr-aA anx wDA snb Hryw pDwt imyw-r ssmwt imyw-r (mSaw)

(Ordena) o faraó − vida, prosperidade, saúde − aos capitães das tropas, aos comandantes dos

cavalos (dos carros de guerra), aos (generais?),

276

bAk n Itn nb n pA Itn m r (-pr.f)…

e a todos os sacerdotes de Aton , pertencendo a Aton no (seu templo) …

277

… … … (sr)w m tA r Dr.f bAk n Itn nb n pr Itn

… … … (aos oficiai)s na terra inteira, a todos os sacerdotes de Aton, na Casa de Aton,

68 Tanto Davies como Murnane consideram haver aqui um erro do escriba que pretendeu escrever

Hwn, «(ser) jovem». Ver DAVIES, op. cit., p. 11; MURNANE, op. cit., pp. 193-194.

As lns. 251-252 afiguram-se de difícil compreensão.

Page 61: Túmulo de Tutu (TA 8)

61

rmT (nbt)

e a todos os súbditos:

278

(wD) pr-aA anx wDA snb pAy (.tn nb dit) aAt

(Ordena) o faraó − vida, prosperidade, saúde − (que seja concedida) uma grande (recompensa)

279

nA Hsw n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra n pAy.f bAk

(como) recompensa de Neferkheperuré Uaenré, ao seu servidor

280

nty Hr sDm sbAyt nfrt n anx

que escuta o belo ensinamento69 de vida.

281

iry nA n xt rdi.n.i m Htr Hr … …

Por isso, as coisas que ele me deu, na qualidade de imposto sobre …

282

… … … nA … … … ir.f nw.tn

… … … isso … … … ele fez para eles e

283

r tni.i m Hswt r Hsy.f nb

para me favorecer com recompensas, mais do que a qualquer seu favorito.

69 Repare-se nesta grafia desordenada. Escreve-se sbAyt, «ensinamento».

Page 62: Túmulo de Tutu (TA 8)

62

Fig. 4. Tutu é recompensado pelo rei. Parede ocidenta, lado sul, parte superior, (Pl. XIX-XX).

284

( Ddt n nsw bit(y))anx m MAat nb tAwy Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

(O que foi dito pelo rei do Alto e do Baixo Egipto) que vive em Maet, o senhor das Duas Terras,

Neferkheperuré Uaenré

285

n imy-xnt Twtw Dd.f mak wi Hr di.k n.i

ao camareiro da corte, Tutu: “ Vê, estou a nomear-te

286

r bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra m Pr-Itn m Axt-Itn

para o cargo de primeiro servidor de Neferkheperuré Uaenré, na Casa de Aton em Akhetaton.

287

r iri sw n.k n mry.k r Dd ntk pAy.i sDm-aS aA

Page 63: Túmulo de Tutu (TA 8)

63

Concedo-te isto por amor de ti, digo, porque és o meu servidor

288

nty sDm sbAyt sp-sn (ity?)70

que escuta o meu ensinamento (bis).

289

ipt nb(t) nty tw.k Hr ir.s

Quanto a qualquer missão que realizares,

HAty.i Hr hry Hr.s

o meu coração estará contente com ela.

290

rdi.i n.k iAt r-Dd wnm.k aqw

Concedo-te o cargo nestes termos: “Come as provisões

n pr-aA anx wDA snb pAy.k nb m pr-Itn

do faraó − vida, prosperidade, saúde − teu senhor, na Casa de Aton!”

Segundo discurso de Tutu

291

Ddt n imy-xnt Twtw

O que foi dito, pelo camareiro da corte, Tutu:

292

(pA) HqA iri mnw n it.f wHm.f st

(Ó) soberano que faz monumentos para (o seu pai) − e os fazes de novo −

293

sxpr.k DAmw m DAmw…

70 Talvez uma forma incorrecta de iti, «tomar conta de, tomar posse de».

Page 64: Túmulo de Tutu (TA 8)

64

que crias gerações de gerações …

… … … (ra-nb ?) …

… … … (todos os dias?) …

294

Wa-n-Ra m Ra m pA Itn anx mswt iw.k r irt

(Ó Uaenré), tu és Ré, sob a forma do Aton vivo, tu és engendrado por ele para alcançar

295

pAy.f aHa(w) qA(i) iw wbn.f m pt msi.k

o seu longo tempo de vida, enquanto se eleva no céu para te dar à luz.

296

pAy.i nb arq mi it siA

Ó meu senhor, sábio como o pai, pleno de discernimento,

297

mty Dar HAtyw Drty.k mi stwt Itn

escrupuloso, pesquisador de corações, as tuas mãos são como os raios de Aton

298

r qd.k rmT bitw

quando moldas o povo de acordo com as (suas várias) qualidades.

299

pAy.i nb di n.k pA Itn na n Hbw.sd

Ó meu senhor, que este Aton te conceda jubileus

knw wADw.f n.k

em abundância e a sua prosperidade para ti,

300

Page 65: Túmulo de Tutu (TA 8)

65

ntk pAy.f Sri pri.n.k im.f

(pois) tu é que és o seu filho e saíste dele.

301

Wa-n-Ra tit Ra (n)HH Tsi Ra htp Itn

Ó Uaenré, imagem de Ré para sempre, que exaltas Ré e satisfazes Aton,

302

Di am tA m pA ir st

que fazes com que a terra tome consciência (d)o que a fez

303

sHD.k rn.f n rxyt xrp.k n.f

que iluminas o seu (régio) nome para os súbditos e administras para ele

304

bAkw stwt.f n hm(hm).f n.k

os impostos devidos aos seus raios, que ele (Aton) te aclame71

305

n pt n rSwt m hr(w) xay.k im.f

alegremente no céu, no dia da tua aparição nele,

ktkt n.k

estremecendo (de orgulho) em ti.

306

tA r Dr.f ¢Arw KASy tAw nbw

(N)a terra inteira (e em) todas as terras, de Kharu (Palestina) até Kuch (Etiópia),

307

71 O verbo hmhm significa «rugir», o substantivo hmhmt, que lhe está associado, refere-se ao «grito de

guerra». Optou-se por «aclamar», de algum modo mais próximo da nossa tradição.

Page 66: Túmulo de Tutu (TA 8)

66

Awy.sn m.k m iAw n kA.k dbdH.sn

as suas mãos elevam-se para ti em adoração ao teu ka, suplicando

308

anx n nmH wnn.sn

a vida, na orfandade em que estão:

309

Hr imi n.n aHaw Sari Hryt Hr (H)ryt.k fndw

− Dá-nos o sopro da vida (porque) o terror de ti está a tapar os (nossos) narizes

310

arq(y).sn Hr wDA.sn m ak bAw.k im.sn

e o último dia da sua prosperidade72, vê o teus bau estão neles

311

m xs(f)t… Aq n hmhmt.k

como uma punição73. Aniquilados pelo teu grito de guerra

312

Haw.sn mi xt wnm.st

(estão) os seus corpos, como o fogo que os devora.

313

iw nA stwt n pA Itn wbn Hr.k r (n)HH

Os raios do disco solar erguer-se-ão para sempre sobre ti

72 O verbo arq significa «perceber, ser instruído». A tradução «apercebem-se da sua prosperidade» é

perfeitamente legítima, mas não está de acordo com o resto da frase. Considerou-se então que o escriba

poderia ter querido dizer arq(y) « o último dia do mês» e, neste caso, faz todo o sentido que os inimigos,

esmagados pelo fogo dos bau do rei, julgassem ter chegado o seu último dia de prosperidade … e de vida.

Esta é a tradução deMurnane. Ver MURNANE, op. cit., p.195.

73 Note-se a forma como está escrita a palavra. A grafia correcta é xsft, «castigo, punição».

Page 67: Túmulo de Tutu (TA 8)

67

314

iri mnw.k mi mn pt xaay im.sn r (n)HH

para dotar os teus monumentos com a estabilidade do céu (que) se manifesta eles, para sempre.

315

wnn pA Itn wnn.k anx ti rnpi r (n)HH

Tal como Aton existe, assim tu existes e serás para sempre vivo e jovem.

Page 68: Túmulo de Tutu (TA 8)

68

Fig. 5. Felicitações e comentários dos amigos de Tutu

Discurso dos estrangeiros

316

bAkw n xAst nbt

Os servos de todos os países estrangeiros dizem:

317

Page 69: Túmulo de Tutu (TA 8)

69

pA Ra anx Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra iw.(n) Xr … r (n)HH Dt

Ó Ré vivo, Neferkheperuré Uaenré, nós estamos sob (o teu domínio?) para sempre e eternamente.

Discurso dos soldados

318

Hbsw bht nty m Smswt

Os porta-estandartes que estão na comitiva da (Sua) Pessoa,

319

pA any Hr anx tw m ptr.f Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

o de belo rosto à vista do qual se vive, Neferkheperuré Uaenré.

Discurso dos oficiais

320

srw HAwt n mSAw nty aHa m-bAH pr-aA anx wDA snb r Dd.sn

Os oficiais e os chefes do exército que estão diante do faraó – vida, prosperidade,

saúde – e o que eles dizem:

321

pA HqA wbn pA Itn aSA Xt … … rHw

− O soberano resplandece (em) Aton; muitas são as coisas (que ele faz pelos) homens.

Discurso dos escribas

322

nA n sSw … … sDd.sn ssnb Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

Estes são os escribas de … … e dizem: − Dá saúde a Neferkheperuré Uaenré,

323

pA Itn … … ir rmT sxpr DAmw

ó Aton … … que fizeste a humanidade e crias as gerações!

Discurso do vizir e dos grandes dignitários

324

Page 70: Túmulo de Tutu (TA 8)

70

Dd-mdw srw Smsw nfry st nAw.k shrw

Palavras ditas pelos oficiais e companheiros: − Quão perfeitos são os teus planos

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

Neferkheperuré Uaenré,

325

wADy sw pA nty m … … .k pA Sri nfr

como é próspero o que está na tua … … Ó belo filho

n pA Itn

de Aton,

326

iw.k r sxpr n DAmw iw.k r (n)HH mi Itn

tu criarás gerações, tu existirás para sempre como Aton!

Fig. 6. Discurso do condutor do carro de Tutu, que aguarda o seu amo

327

Dd-mdw pA kDnw…

Palavras ditas pelo cocheiro …

328

any mi pA Itn pA msi sw Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

− Belo como o Aton que o engendrou é Neferkheperuré Uaenré,

329

Page 71: Túmulo de Tutu (TA 8)

71

pA qd rmT sxpr DAmw

Tu fazes a Humanidade e crias as gerações,

330

iw.f mnw mi pt iw Itn im.s

tu serás duradouro como o céu, quando Aton está nele.

Discurso de Tutu aos seus subordinados

331

iAw n nsw bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra in imy-xnt Twtw

Adoração do rei do Alto e do Baixo Egipto, Neferkheperuré Uaenré, pelo camareiroTutu

332

dhnw r bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

(que foi) nomeado para (o cargo) de primeiro sacerdote de Neferkheperuré Uaenré,

m … m pr-Itn m Axt-Itn

na … e na Casa de Aton, em Akhetaton.

333

Ddy imy-xnt Twtw n nAw.f rwDw aAw

O que foi dito pelo camareiro Tutu aos seus grandes administradores:

334

ptry nfry n nAw irw n.i pr-aA anx wDa snb

−− Vede as belas coisas que foram feitas para mim (pelo) faraó – vida, prosperidade,

saúde –

335

… … … n.i Hr nfr(y) (mty) Dd mAawt tm int (si)Awt

Page 72: Túmulo de Tutu (TA 8)

72

… … …de mim, ao que era bom e correcto 74, um que disse o que era justo, sem recorrer a

trapaças75

336

m ipt nb n pAy.i nb Hr hAb im.s

em todas as missões diplomáticas do meu senhor na(s) quais fui enviado

337

iw r ir.i m prt m r.f

e continuarei a proceder de acordo com o que sai da sua boca.

Resposta dos subordinados

338

pA HqA ir mnw n it.f wHm.f ssnb(.f)

Ó soberano que fez monumentos a seu pai – e o repete – possa ele gozar de saúde,

(pA) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

(ó), Neferkheperuré Uaenré!

339

pA Itn im-ma n.f HH n Hb-sd pAy.k Sri

Ó Aton, concede-lhe um milhão de jubileus, ao teu filho

340

qd.f mi qd.k di.k iri it.f pAy.k aHaw …

(porque) o seu76 carácter é como o teu carácter. Permita o seu pai que ele seja dotado do teu (seu)

tempo de vida …

74 No original, . Considerou-se a possibilidade de erro do escriba. 75 É uma tradução possível, dada a confusa grafia das palavras. 76 No original está o signo Y1 em vez de I9. Admitiu-se um erro do escriba.

Page 73: Túmulo de Tutu (TA 8)

73

Fig. 7. Discurso de Tutu, a caminho do templo

341

bAk-tpy n Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra m Pr-Itn m Axt-Itn

O primeiro servidor de Neferkheperuré Uaenré, na Casa de Aton em Akhetaton,

imy-xnt Twtw Dd(.f)

o camareiro Tutu, (ele) diz:

342

pA HqA ir mnw n it.f wHm.f …

Ó soberano que fez monumentos a seu pai – e (os) torna a fazer – …

343

… … … pA Itn … … … iw … … …

… … … Ó Aton … … … está … … …

Parede occidental. Lado norte, parte inferor, (Pl XIX)

344

imy-xnt Twtw Dd(.f)

Page 74: Túmulo de Tutu (TA 8)

74

O camareiro Tutu, ele diz:

345

i sSmw irt nb rmT sSw nb rx Hnw.sn

− Ó dirigentes de todo o povo e vós, todos os escribas que sabem do seu ofício,

346

wabw aAw n pr Itn bAkw n Itn

chefes dos sacerdotes de mãos puras da Casa de Aton, sacerdotes de Aton,

347

srw (iqrw) irt nb (r-rxtw nsw)

oficiais (excelentes) e todos os (conhecidos do rei)77 e

348

Abi nb pHy i(A)w smA-tA qrst nfrt

todos os que desejam alcançar a velhice, um bom enterro78 e um belo funeral

349

iw tw sAi m anx

quando se estiver saciado em vida (farto de viver).

350

sDm.i n.tn aqw r Hwt.i ptr aAw

Escutai-me79 (ó) vós que entrardes no meu túmulo e vede as grandes coisas

iryt n.i

que foram feitas para mim.

351

ink bAk n Wa-n-Ra pA HqA anx m mAatw

Eu era um servidor de Uaenré, o soberano que vive segundo o que é justo.

77 Seguindo a reconstrução deMurnane. Ver MURNANE, op. cit., p. 196. 78 Lit. «uma união com a terra». 79 A forma correcta seria sDm.tn n.i.

Page 75: Túmulo de Tutu (TA 8)

75

352

Smsy.i sw iwAw.f Hsi.i

Quando o seguia, ele erguia-se cedo para me recompensar

n iri.i prt m r.f

porque eu procedia (de acordo com) o que saía da sua boca.

353

bw sdx.i Hr sp n aDA m ipt nb n Hm.f

Não ocultei (factos) em caso de mau procedimento nos negócios de Sua Majestade,

354

Iw m Hr Hry-pt n ta r-Dr.f m mSaw kAwt

quando era chefe dos porta-vozes da terra, na sua totalidade − em expedições militares e

construções,

Hmwt irt nbt rmT anxt m mitt m -xwt

e (nas) artes, de todos os vivos e dos mortos.

355

imyw-r mSaw wpwt n xAst nbt ink smi.i mdw.sn

(Quanto aos) comandantes das expedições e aos embaixadores de todas as terras estrangeiras, era eu

quem anunciava as suas palavras

r aH

ao palácio,

356

iw.i m(-bAH.f) ra-nb

quando estava na (sua presença), todos os dias.

357

Page 76: Túmulo de Tutu (TA 8)

76

pri.i n.sn m wpwty n nsw Xry

Fui-lhes enviado como mensageiro do rei,

358

Xry tp rdwy nb n Hm.f

estando na posse de todas as instruções de Sua Majestade.

359

Xrp.i kAwt m mnw.f iw.i m tp m iAt

Dirigi os trabalhos nos seus monumentos, quando desempenhava o cargo

360

imy-xnt wab (bA)k n Wa-n-Ra…

de camareiro puro e (servidor) de Uaenré80 …

Parede ocidental, lado sul, zona inferior, (Pl XXI)

361

… … … wbn … Sri n pA Itn

… … … (quando) brilhas … (para) o filho de Aton,

362

Ra anx wr mrwt anx tA m wD.f

Ré vivo, grande em amor, por cujo decreto a terra vive,

363

wn.k irty.k wsr tA m xt mdw.k

quando abres os teus olhos, a terra é rica em coisas (através) das tuas palavras,

364

iw ntk mwt mst bw nb rmT mH d(w) HHw m kA.k

pois tu és, efectivamente, a mãe que concebeu toda a humanidade e fazes nutrir milhões por meio

do teu ka.

80 O original apresenta apenas o signo k que não permite ler wabk. Faz, porém, todo o sentido que Tutu se

diga, uma vez mais, bAk n Wa-n Ra, «servidor de Uaenré» e admitiu-se que o escriba tenha esquecido o

signo G29..

Page 77: Túmulo de Tutu (TA 8)

77

365

Sfwt.k sbty n biA n sw HHw n(y) sw mH

O teu renome é uma muralha de cobre de um milhão de côvados

366

inHw.n.k tAw m pHty ky r-a(wy) stwt Itn

Pois, com a tua força, rodeaste as terras (de muralhas) até ao limite dos raios de Aton.

367

nsw bit(y) Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra mryty aA

(Ó) rei do Alto e do Baixo Egipto, Neferkheperuré Uaenré, ó governante amado, grande

368

biAywt twt inmt nfrw Haw.k

em prodígos. Belo na tez e na perfeição do teu corpo,

369

mi nAw stwt it.k

como estes raios de teu pai,

370

iw.f Hr wbn pA Itn anx sHD tw kmA

quando se está a erguer (sob a forma d)o Aton vivo para iluminar tudo o que criou

371

… … … (qd.k) mi qd.f pri(.f)?…

… … … (a tua natureza) é como a tua natureza, quando sai (?) …

372

… … … i … … … .f tw m i … Haw.f

Page 78: Túmulo de Tutu (TA 8)

78

… … … … … … seu (?) … os seus membros,

373

mi any m iwf.f … … … wnn.f wnn.k (n)HH

tal como é belo na sua carne… … … enquanto ele existir, tu existirás para sempre.

374

pA Itn ntk sA.k mry.f

(No que respeita a Aton), tu é que és o seu amado filho, porque da mesma natureza que ele

376

nhmwt n.k r pt …

e as tuas aclamações (estendem-se) até ao céu …

377

… … … aHaw di.f tw r (n)HH wnn.k Dt

… … … tempo de vida. Possa ele fazer com que tu existas para sempre e que eternidade te

pertença,

378

Iri.k Hbw-sd msytw pA Itn (r-)tnw(-sp) xaai.f

que celebres jubileus e sejas engendrado por Aton, todas as vezes que ele aparece em glória

379

wbn.f m pt r sHD.n.k tA nb…

para se erguer no céu e iluminar a terra inteira para ti …

380

… … … ¢Arw KAS stA

… … … Kharu (Palestina) e Kuch (Etiópia)

381

Page 79: Túmulo de Tutu (TA 8)

79

stAw n.k ksw

são arrastados81 até ti, curvados, até Akhetaton

382

rswt mHwt sn.sn n.k tA iri.sn iAw …

e os do sul, como os do norte, beijam a terra diante de ti e prodigalizam(-te) louvores …

383

… … … mstw pA Ra nb SA(w) iri aHaw

… … … progenitura deste Ré, o senhor do destino que faz o tempo de vida.

384

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra pt Xr Itn anx TAw im.s

(Ó) Neferkheperuré Uaenré, o céu transporta o Aton vivo e os ventos nele (no céu)

385

rdi.k sw Srt n Hsyw.k …

e tu dá-los (os ventos) ao nariz dos teus favoritos …

386

… … … (wDHw n) Itn Hr awt

… … … (a mesa de oferendas de) Aton,

387

Hr awt m ss Apd nb bw Abw

contendo gado miúdo e toda a espécie de aves assadas, sem (limite).

388

i … … … w(nn) im.f

81 Recontrução de Davies. Ver DAVIES, op. cit., vol.VI, p. 27.

Page 80: Túmulo de Tutu (TA 8)

80

Ó … … … (que está) nele.

389

(w)di(.f) tA.f~mH m xt aSA m anxw

Ele planta a sua terra e enche-a de coisas abundantes em vida

390

Hns r xbt nb(t) … … … mAA im.sn

e com restrições (no que se refere a) toda a colecta de impostos82 … … … é visto neles.

391

Itn wbn.f m pt … r wD.k

(Quando) Aton se ergue no céu … por tua ordem,

392

Hsyw.k nb Hr ptry.f im Hr wbn

todos os teus favoritos estão a vê-lo aí a ascender,

393

iw xbt nb r nmt n …

enquanto todo os extorcionários vão para o ergástulo de …

394

… … … iw pA Ra qd r iqr n bw nbw

… … … pois este Ré tem uma natureza excelente para toda a gente.

395

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra … … … w qd.k sw r Sm.ny.f

82 xbi está ligada à ideia de « deduzir, colectar impostos» e Hns significa «estreitar, limitar». Parece pois que

o texto se refere a terras que o rei mandou cultivar e talvez encher de animais (aves?). Essas terras estariam

sob um regime fiscal mais benéfico. O texto, parcialmente destruído, não permite conclusões mais extensivas.

Outras traduções:

«Being cut off from any reduction», MURNANE, op. cit., p.197; « barred again any spoliation», DAVIES, op.

cit., vol. VI, p. 27.

Page 81: Túmulo de Tutu (TA 8)

81

(Ó) Neferkheperuré Uaenré, … … … tu construíste-lo para que ele viajasse

396

Hr wAt m ib wHa (m)i … … … w …

na estrada, com o coração liberto83 como … … (plur.) …

397

… … … tkA nt 6 nt xAw m xt

… … … uma tocha com o comprimento de seis khet 84

398

Haw Hbs n mnxt wsr m kA.k

e o corpo envolvido numa peça de tecido, poderoso no teu ka.

399

pr mH … … … .sn r ias r wa m xA wbnw ntf nai

A casa está acabada … lhes (?) e recorrer ao que é único num milhar. (Quanto a)o que está erguido,

ele navega.

400

m ma.k wiA nt(y) S MAat Xr iswt

na tua posse está a barca, no Lago de Maet, com uma tripulação

401

Aprw m … … … w ny…w

equipada com … …(plural)

402

83 A grafia normal é wHa, «liberto». O original, fragmentado, apresenta o signo Aa11 em vez de V1,

o que se considerou ter sido um erro do escriba. A presente tradução acompanha a de Murnane. Ver

MURNANE, op. cit., p. 197.. Davies traduz por «campo», o que corresponderia a AHt, o que parece

ainda mais distante do original. Ver DAVIES, op. cit., VI, p. 27. 84 Unidade de comprimento correspondente a 100 côvados, cerca de 52,5 m. Estamos então perante uma tocha

de 315 m, o que só pode significar algum tipo de liberdade poética. A menos que se refira ao Sol…

Page 82: Túmulo de Tutu (TA 8)

82

Xr wD pA HqA qd …

Com o decreto do governante que constrói …

403

sA Ra Ax-n-Itn aA m aHa(w).f

o filho de Ré, Akhenaton, grande, no seu tempo de vida

404

Hmt-nswt wrt Nfr-nfrw-Itn Nfrt-ity anx(t) Dt nHH

(e a) grande esposa real, Neferneferuaton Nefertiti, viva eternamente, para sempre.

405

imy-xnt Twtw Dd.f

O camareiro da corte, Tutu, ele diz:

406

(s)Dd.i … … … nb … … … (x)t di.k (n) ib.i

Eu relato … … tudo(?) … as coisas que tu puseste (no) meu coração

407

… … … di.k m Xt.i di.(n).i … n.i … … … y …

… … … puseste no meu corpo e deste(?)-me (?) …

(?) m.i a Nbw … … … Anx.tn

em mim todas as dádivas (?) … … … vós viveis.

408

bi(A)iw wDAwy sbAyt n Wa-n-Ra n rdi m ib.i

Quão maravilhoso e benéfico é o ensinamento de Uaenré, o qual me ordenou

r iri.sr ir(?) …

que praticasse …

Page 83: Túmulo de Tutu (TA 8)

83

409

pA Itn ms sw p(?) …

Aton engendrou-o …

410

sDm.f MAat r aHa m xt r tnw n

Ele presta mais atenção a maet do que a um monte de bens, mais do que a uma quantidade de …

411

… … … sDm.i … … … w …

… … … eu escuto … … (plural) …

412

(m) Axt iAbtt … … …HHw pA Ra anx m MAat

(no) horizonte ocidental … milhões, o Ré que vive em maet,

Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

Neferkheperuré Uaenré.

413

Smsy sw nb sDm.tn sbAyt sp sn

Vós, todos que o seguis e escutais o seu ensinamento (repetir duas vezes)

414

wa-n-(ra anx m) MAat …

do que é o único de (Ré e vive em) maet …

415

… … … Ds sdA …

… … … o próprio que faz tremer …

416

Page 84: Túmulo de Tutu (TA 8)

84

(Xfty nTr p)n hAi.f n Sad Ht

(Quanto ao inimigo deste deus), ele desce(rá) ao matadouro e o fogo

417

wnm.f Haw(.f) iw wbn pA Itn

come(rá) os seus membros, enquanto Aton se eleva

418

… ptr.k ra HHy …

… para que possas ver o dia e procurar …

419

… … … iry xt n irt nbt irty.ky Hr wTs.f

… … … o que pertence ao corpo de toda a gente.. Os teus olhos estão erguidos

420

Ptr Snyt Itn xai wbn m xAst Axt-Itn

(para) ver o circuito de Aton, quando ele aparece em glória, erguendo-se sobre os penhascos de

Akhetaton.

421

… … … w imw Dd (.sn) … … … iw.sn n Xt

… … … (plur.) os que estão lá, eles dizem … eles pertencem ao (nosso ) grupo (eles pertencem-

nos).

422

HAp tA wAwy pA HqA Hr wDa.f(.sn)

Misteriosa85 é a terra para os que estão longe mas o governante julga-os

423

… … … ptr stwt Itn …

… … … contemplar os raios de Aton …

85 O signo t não faz sentido na palavra. Pode tratar-se de um erro.

Page 85: Túmulo de Tutu (TA 8)

85

424

sDm smi … … … iw m r n ky r… w … .f aA …

ouvir um relatório … quando ele está na boca de outro para que (?) ele (o apresente) aqui (?)86…

425

… … … n itn(w) xpr.f m sbii itnw HAp m …

… … … do inimigo, ele transforma-se no que traz inimigos para esconder em …

426

… r Sm…wpw-Hr n …

… para ir … à excepção de …

426

… … … xt rn.tn mnw Hr.sn

… … … as coisas e o nosso nome perdura nelas,

427

Xr wD pA HqA any … … …anx …

por decreto do belo governante … … … vida …

428

… … … n Dw Hr st … … xarw kAS …

… … … na montanha, no lugar … … Kharu (Palestina) e Kuch (Etiópia) …

429

… … … mn tw imi wat pn d(w) r pHy sw

… … …é estabelecida esta oferenda única, colocada para alcançá-lo.

430

86 No original san, o que não faz sentido. Seguiu-se a reconstrução de Murnane. Ver MURNANE, op.

cit., p. 198.

Page 86: Túmulo de Tutu (TA 8)

86

mt(r)yw n.f … … … .k r … … … .f mAat …

As testemunhas dele … … … .tu … para … … … ele … maet …

431

… … … Itn mi d… … iw.f r (n)HH Nfr-xprw-Ra Wa-n-Ra

… … …Aton como … … tu existes para sempre, (ó) Neferkheperuré Uaenré.

432

imy-xnt Twtw Dd.f

O camareiro da corte, Tutu, ele diz:

433

pAy.i nb wa m Itn wTs rn.f sA.f …

Ó meu senhor, único de Aton, que elevas o seu nome e és filho dele …

434

… … … Hm.f … … … Hm.f …

… … … Sua Majestade … … … Sua Majestade …

435

… … … ssn TAw n anx

… … … respirar a brisa da vida,

436

pA ptry.f (m) mnt Wa-n-Ra tAy.i … … …ra-nb

o que o contempla diariamente, Uaenré, o meu … … … de todos os dias

437

(iAS) rn.i pAy.i (nb) n aHAw m

(e chamares pelo) meu nome, ó meu (senhor) do tempo de vida, em87

87 Reconstrução possível, com base no original.

Page 87: Túmulo de Tutu (TA 8)

87

… … … nsw

… … … o rei,

439

ntf sbaw.i makwi Hr sDm n.tn

ele foi quem me instruiu. Vede, eu estou a dizer-vos (isto)

440

nfr sDm iry pA HqA Sw n Hr-nb …

e é bom escutar. Quanto ao soberano, ele é a luz de toda a gente88 …

… … … pA … … … iw …

… … … o … … … iu …

441

… … … pA qrst wDA pA nDn-ib

… … … o funeral, a prosperidade e a alegria.

442

di.f n (.tn Hswt.f ) it.f Itn anx …

Possa ele conceder(-vos o favor) de seu pai, (o) Aton vivo 89 …

443

Ntf rS(w) sw n … … … .f ra … … … i …

É ele que o satisfaz com … … … -lhe o dia …

444

iw.f Hr wbn ir.f bAw rx m nn sbAyt.f

quando ele (Aton) está a erguer-se para usar o seu poder divino (contra aquele) que não conhece o

seu ensinamento.

88 Reconstrução de Sandemann. Ver SANDEMANN, op. cit., p. 86. 89 A partir da reconstrução de Murnane. Ver MURNANE, op. cit., p. 198.

Page 88: Túmulo de Tutu (TA 8)

88

445

Hswt.f n rx sw xt.f sDm.k n nsw n pA nb.k

O seu favor é para aquele que o conhece e às suas coisas, tu ouves ao rei, ao teu senhor

446

wSbw m stwt n pA Itn pA Sps

as respostas (que provêem) nos (dos) raios de Aton, o augusto,

pA HqA iw.f xai wDa

o governante, quando ele aparece em glória e prosperidade.

447

wHa Hapy Hii.f tAwy

No início das cheias, (quando o Nilo) inunda as Duas Terras

448

(i)d(b)w m Hb …

e os campos estão em festa …

449

… … … Apdw waw iri …

… … … só as aves fazem …

450

… … … (r) -Hrw i(w) Hr bnw.i m xt.f

… … … lá em cima, a fazer-me renascer90 com o seu poder.

451

iw(.sn) m rSwt xbdt nb(t) …

Eles estão em júbilo e tudo o que é detestável91 …

90 Admitiu-se que o termo se refe à ave bnw, «Fénix». Uma vez que no capítulo 13 do «Livro dos

Mortos», o defunto manifesta o desejo de «renascer» como esta ave, a tradução apresentada tem alguma razão

de ser. Ver «Benu», ARAÚJO, Dicionário do Antigo Egipto, pp. 148-149

91 No original, .

Page 89: Túmulo de Tutu (TA 8)

89

452

… … … di.f it.f (pA) Itn.

… … … conceda o seu pai, Aton.