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Suy, 1982
ARMA SECRETA
Tenho uma arma secreta ao serviço das nações. Não tem carga nem espoleta mas dispara em linha recta mais longe que os foguetões.
Não é Júpiter, nem Thor, nem Snark ou outros que tais. É coisa muito melhor que todo o vasto teor dos Cabos Canaverais.
A potência destinada às rotações da turbina não vem da nafta queimada, nem é de água oxigenada nem de ergóis de furalina.
Erecta, na noite erguida, em alerta permanente, espera o sinal da partida. Podia chamar-se VIDA. Chama-se AMOR, simplesmente. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997)
INFÂNCIAUm gosto de amoracomida com sol. A vidachamava-se “Agora”.
Guilherme de Almeida (1890-1969)
Suy, 1983
AMOSTRA SEM VALOR
Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:com ele se entretéme se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vidaignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,nesta insignificância, gratuita e desvalida,Universo sou eu, com nebulosas e tudo. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997)
O PORTUGAL FUTURO
O Portugal futuro é um paísaonde o puro pássaro é possívele sobre o leito negro do asfalto da estradaas profundas crianças desenharão a gizesse peixe da infância que vem na enxurradae me parece que se chama sável.Mas desenhem elas o que desenharemé essa a forma do meu paíse chamem elas o que lhe chamaremPortugal será e lá serei feliz.Poderá ser pequeno como esteter a oeste o mar e a Espanha a lestetudo nele será novo desde os ramos à raiz.À sombra dos plátanos as crianças dançarãoe na avenida que houver à beira-marpode o tempo mudar será Verão.Gostaria de ouvir as horas do relógio da matrizmas isso era o passado e podia ser duroedificar sobre ele o Portugal futuro. Ruy Belo (1933-1978)
AMADOR SEM COISA AMADAResolvi andar na ruacom os olhos postos no chão.Quem me quiser que me chameou que me toque com a mão.
Quando a angústia embaciarde tédio os olhos vidrados,olharei para os prédios altos,para as telhas dos telhados.
Amador sem coisa amada,aprendiz colegial.Sou amador da existência,não chego a profissional. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997) Suy, 1993
Suy, 1995
Suy, 1984