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TÓPICOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA POR MEIO DA … · Matemática Financeira por meio da Resolução de Problemas, desenvolvida com uma turma do 1º ano de Ensino Médio, do Colégio

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TÓPICOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA POR MEIO DA RESOLUÇÃO DE

PROBLEMAS

Autora: Mônica Zornita Alberton1

Orientadora: Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino2

RESUMO

O presente artigo relata experiência de ensino envolvendo Tópicos de Matemática Financeira por meio da Resolução de Problemas, desenvolvida com uma turma do 1º ano de Ensino Médio, do Colégio Estadual Dr. Cândido de Abreu – Município de Cândido de Abreu, Estado do Paraná. Nessa experiência procurou-se oportunizar aos alunos o estudo de conceitos como juro, desconto e acréscimo, mediante um trabalho com problemas que envolviam situações cotidianas, oportunizando aos alunos também perceber que esses conceitos estudados na escola podem ser aplicados na sua vida. Durante o desenvolvimento dessa experiência foi possível observar mudanças ocorridas nos grupos de trabalho, pois houve grande interação, melhorando a capacidade de trabalhar em grupo, os alunos perderam o medo de expor suas ideias, e isso proporcionou uma análise mais detalhada do problema, desencadeando, assim, a elaboração de novas estratégias, possibilitando o comprometimento dos alunos com as tarefas propostas e a participação dos mesmos na construção de conceitos matemáticos. PALAVRAS-CHAVE: Tendências em Educação Matemática; Resolução de Problemas, Matemática Financeira.

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná.

2 Professora do Departamento de Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Doutora em Educação.

1 INTRODUÇÃO

Na sociedade em contínua alteração em que vivemos, o aluno é

diariamente desafiado a fazer uso da capacidade de solucionar problemas.

Assim, torna-se necessário prepará-lo para lidar com situações as quais a ele

se apresentem e exijam a resolução de problemas, oferecendo-lhe

possibilidades para solucioná-los.

Além disso, pela experiência em sala de aula, pude observar ao longo

dos anos que parte dos alunos apresenta certa dificuldade na resolução de

problemas por não conseguirem ler, interpretar e utilizar os conhecimentos

matemáticos que possuem no trabalho com os problemas propostos em sala

de aula.

Nesse sentido a Resolução de Problemas apresenta-se como uma

estratégia metodológica que pode auxiliar o professor em suas aulas.

De acordo com Onuchic e Allevato (2005, p. 222): “[...] ensinar

matemática através da resolução de problemas é uma abordagem consistente

com as recomendações do NCTM e dos PCN, pois conceitos e habilidades

matemáticos são aprendidos no contexto da resolução de problemas”.

Tendo isso em vista, desenvolvi um trabalho junto a alunos da 1ª série

do Ensino Médio com a Resolução de Problemas, enquanto estratégia

metodológica. O conteúdo básico selecionado para desenvolver o trabalho foi a

Matemática Financeira, em especial juros, acréscimos e descontos.

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Matemática da Educação

Básica do Paraná:

É importante que o aluno do Ensino Médio compreenda a Matemática Financeira aplicada aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem pessoal e social. Tal importância relaciona-se ao trato com dívidas, com crediários à interpretação de descontos, à compreensão dos reajustes salariais, à escolha de aplicações financeiras, entre outras (PARANÁ, 2008, p. 61).

A nossa meta durante este trabalho foi utilizar a Resolução de

Problemas, enquanto estratégia metodológica, possibilitando aos alunos a

construção e compreensão de conceitos matemáticos a partir de problemas, e,

além disso, que os problemas abordados envolvessem situações cotidianas,

oportunizando perceberem que tais conceitos estudados na escola podem ser

aplicados na sua vida.

Por meio da metodologia da Resolução de Problemas, procuramos

também incentivar o aluno para que tivesse autonomia na escolha do

procedimento a ser utilizado na resolução de um problema e, ainda, interagisse

com os colegas cooperativamente, no trabalho em grupo, auxiliando-os e

aprendendo com eles, apresentando suas ideias e respeitando as deles,

formando, assim, um ambiente propício à aprendizagem.

2 ASPECTOS TEÓRICOS

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de

Matemática do Estado do Paraná, os “conteúdos propostos devem ser

abordados por meio de tendências metodológicas da Educação Matemática

que fundamentam a prática docente” (PARANÁ, 2008, p. 63), dentre elas pode-se

destacar a Resolução de Problemas.

Segundo Allevato e Onuchic (2009, p. 2), ensinar Matemática “através

da resolução de problemas, apesar de resolução de problemas ter uma longa

história na matemática escolar, é um conceito bastante novo em Educação

Matemática”.

O ensino de Matemática através da Resolução de Problemas “reflete

uma tendência de reação a caracterizações passadas como um conjunto de

fatos, domínio de procedimentos algorítmicos ou um conhecimento a ser obtido

por rotina ou por exercício mental” (ONUCHIC,1999, p. 203).

Nesse sentido, os PCN+ destacam que a resolução de problemas

[...] é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios. Essa competência não se desenvolve quando propomos apenas exercícios de aplicação dos conceitos e técnicas matemáticas, pois, neste caso, o que está em ação é uma simples transposição analógica: o aluno busca na memória um exercício semelhante e desenvolve passos análogos aos daquela situação, o que não garante que seja capaz de utilizar seus conhecimentos em situações diferentes ou mais complexas (BRASIL, 2002, p. 112).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio:

[...] aprender Matemática no Ensino Médio deve ser mais do que memorizar resultados dessa ciência e [...] a aquisição do conhecimento matemático deve estar vinculada ao domínio de um saber fazer Matemática e de um saber pensar matemático. Esse domínio passa por um processo lento, trabalhoso, cujo começo deve ser uma prolongada atividade sobre resolução de problemas de diversos tipos, com o objetivo de elaborar conjecturas de estimular a busca de regularidades, a generalização de padrões, a capacidade de argumentação, elementos fundamentais para o processo de

formalização do conhecimento matemático e para o desenvolvimento de habilidades essenciais à leitura e interpretação da realidade e de outras áreas do conhecimento (BRASIL, 1999, p. 252-254).

Ainda de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio:

[...] a resolução de problemas é uma importante estratégia de ensino. Os alunos, confrontados com situações-problema novas mas compatíveis com os instrumentos que já possuem ou que possam adquirir no processo, aprendem a desenvolver estratégias de enfrentamento, planejando etapas, estabelecendo relações, verificando regularidades, fazendo uso dos próprios erros cometidos para buscar novas alternativas; adquirem espírito de pesquisa, aprendendo a consultar, a experimentar, a organizar dados, a sistematizar resultados, a validar soluções; desenvolvem sua capacidade de raciocínio, adquirem autoconfiança e sentido de responsabilidade; e, finalmente, ampliam sua autonomia e capacidade de comunicação e de argumentação (BRASIL, 1999, p. 266).

Desse modo, utilizar a Resolução de Problemas como uma estratégia

metodológica para o ensino e a aprendizagem de Matemática, trata-se “de um

trabalho onde um problema é ponto de partida e orientação para a

aprendizagem, e a construção do conhecimento far-se-á através de sua

resolução” (ALLEVATO E ONUCHIC, 2009, p. 7).

Para desenvolver um trabalho na perspectiva da Resolução de

Problemas, o professor precisa estar ciente dos papéis atribuídos a ele e aos

alunos nas tarefas desenvolvidas em sala de aula de acordo com essa

estratégia metodológica. Segundo Allevato e Onuchic (2009, p. 7), não há

“formas rígidas para colocar em prática essa metodologia”. Uma proposta

apresentada pelas autoras compreende as seguintes etapas:

1) Preparação do problema – Selecionar um problema visando à construção de um novo conceito, princípio ou procedimento. Esse problema será chamado problema gerador. É bom ressaltar que o conteúdo matemático necessário para a resolução do problema não foi ainda trabalhado em sala de aula. 2) Leitura individual – Entregar uma cópia do problema para cada aluno e solicitar que seja feita sua leitura. 3) Leitura em conjunto – Formar grupos e solicitar nova leitura, agora nos grupos. Se houver dificuldade na leitura do texto, o próprio professor pode auxiliar os alunos, lendo-lhes o problema.

Se houver, no texto do problema, palavras desconhecidas para os alunos, surge um problema secundário. Busca-se uma forma de poder esclarecer as dúvidas e, se necessário, pode-se, com os alunos, consultar um dicionário. 4) Resolução do problema – De posse do problema, sem dúvidas quanto ao enunciado, os alunos, em seus grupos, num trabalho cooperativo e colaborativo, buscam resolvê-lo. Considerando os alunos como coconstrutores da “matemática nova” que se quer abordar, o problema gerador é aquele que, ao longo de sua resolução, conduzirá os alunos para a construção do conteúdo planejado pelo professor para aquela aula. 5) Observar e incentivar – Nessa etapa o professor não tem mais o papel de transmissor do conhecimento. Enquanto os alunos, em grupo, buscam resolver o problema, o professor observa, analisa o comportamento dos alunos e estimula o trabalho colaborativo. Ainda, o professor como mediador leva os alunos a pensar, dando-lhes tempo e incentivando a troca de ideias entre eles. O professor incentiva os alunos a utilizarem seus conhecimentos prévios e técnicas operatórias já conhecidas necessárias à resolução do problema proposto. Estimula-os a escolher diferentes caminhos (métodos) a partir dos próprios recursos de que dispõem. Entretanto, é necessário que o professor atenda os alunos em suas dificuldades, colocando-se como interventor e questionador. Acompanha suas explorações e ajuda-os, quando necessário, a resolver problemas secundários que podem surgir no decurso da resolução: notação; passagem da linguagem vernácula para a linguagem matemática; conceitos relacionados e técnicas operatórias; a fim de possibilitar a continuação do trabalho. 6) Registro das resoluções na lousa – Representantes dos grupos são convidados a registrar, na lousa, suas resoluções. Resoluções certas, erradas ou feitas por diferentes processos devem ser apresentadas para que todos os alunos as analisem e discutam. 7) Plenária – Para esta etapa são convidados todos os alunos para discutirem as diferentes resoluções registradas na lousa para os colegas, para defenderem seus pontos de vista e esclarecerem suas dúvidas. O professor se coloca como guia e mediador das discussões, incentivando a participação ativa e efetiva de todos os alunos. Este é um momento bastante rico para a aprendizagem. 8) Busca do consenso – Após serem sanadas as dúvidas e analisadas as resoluções e soluções obtidas para o problema, o professor tenta, com toda a classe, chegar a um consenso sobre o resultado correto. 9) Formalização do conteúdo – Neste momento, denominado “formalização”, o professor registra na lousa uma apresentação “formal” – organizada e estruturada em linguagem matemática – padronizando os conceitos, os princípios e os procedimentos construídos através da resolução do problema, destacando as diferentes técnicas operatórias e as demonstrações das propriedades qualificadas sobre o assunto (ALLEVATO; ONUCHIC, 2009, p. 7-8, grifo nosso).

A seguir, é apresentado o relato de uma experiência desenvolvida com

alunos do Ensino Médio, em que as tarefas foram organizadas tendo como

base essa proposta das autoras Allevato e Onuchic (2009).

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica ocorreu no

Colégio Estadual Dr. Cândido de Abreu, pertencente ao Núcleo Regional de

Educação de Ivaiporã, que oferece Ensino Médio e Profissional no município

de Cândido de Abreu.

Antes de colocado em prática, o projeto foi apresentado para a direção,

equipe pedagógica e colegas professores.

Foi realizada também uma reunião com os 36 alunos de uma 1ª série

do Ensino Médio e alguns pais que estavam presentes, onde expliquei para

eles como seria o desenvolvimento do Projeto.

Quando falei que no trabalho a ser realizado, seria adotada a

metodologia da Resolução de Problemas, houve comentários de alunos como

o seguinte: “Resolver problemas? Então não vai ser fácil“.

Expliquei então que seria abordado um tema que faz parte de inúmeras

situações do dia a dia, Matemática Financeira, e que o trabalho seria realizado

em grupos com 4 alunos, para leitura, interpretação, discussão e resolução;

sendo que em um segundo momento seria realizada uma plenária, em que os

grupos iriam expor suas resoluções e dificuldades encontradas; e na sequência

aconteceria a formalização do conteúdo.

Por fim, alguns alunos expressaram então que consideravam

importante esse trabalho com Matemática Financeira, por este tema fazer parte

de situações do seu cotidiano.

Após a reunião, tiveram início os trabalhos em sala de aula. No

momento da formação dos grupos foi possível perceber que esta não era uma

prática rotineira para os alunos, pois gerou certa discussão para se

organizarem. Foi necessária minha intervenção para auxiliá-los na

organização. Isso ocorreu somente no primeiro dia, nos demais os grupos

foram formados de maneira tranquila.

Na sequência é apresentado o relato do trabalho desenvolvido com os

alunos.

3.1 OS PROBLEMAS

PROBLEMA 1

Rodrigo emprestou R$ 1.500,00 ao seu amigo Marcos, para ser devolvido

após 8 meses. Durante esse tempo, Marcos pagou mensalmente, 2% da

quantia emprestada e, ao final dos 8 meses, também, devolveu para o amigo o

valor de R$ 1500,00. Com base nessas informações responda:

a) O que esse valor de 2% ao mês pago por Marcos representa?

b) Quanto Marcos pagou a Rodrigo ao final de 1 mês?

c) Se Marcos tivesse quitado a dívida antecipadamente, que valor total

pagaria a Rodrigo:

Ao final de 1 mês?

Ao final de 2 meses?

Ao final de 3 meses?

Ao final de 4 meses?

Ao final de 5 meses?

Ao final de 6 meses?

Ao final de 7 meses?

d) Quanto Marcos pagou além dos R$ 1.500,00 em 8 meses a Rodrigo,

para quitar a dívida? Apresente seus cálculos.

e) Ao todo, quanto Rodrigo recebeu de Marcos quando encerrou o prazo

de pagamento? Apresente seus cálculos.

O problema foi trabalhado em três etapas, sendo elas: 1ª Etapa

(questões a e b); 2ª Etapa (questão c); 3ª Etapa (questões d e e).

1ª Etapa

Após iniciarem a leitura do problema nos grupos, surgiram

questionamentos do tipo: “Você não vai explicar como faz?”

Foi necessário ressaltar aos alunos que para o trabalho nessa

metodologia, primeiro teriam que ler o problema, discutir no grupo e tentar

resolvê-lo, da maneira que conseguissem, utilizando os conhecimentos que

possuíam até a ocasião.

Os grupos voltaram a trabalhar, mas logo surgiu outro questionamento.

Nos diálogos que seguem, será utilizada a letra P para introduzir a fala da

professora e A para a fala de um aluno.

(A1) Mas professora, o que esses 2% representam?

Lancei a questão para a turma, e um aluno respondeu:

(A2) Eu acho que é juro.

(P) Mas o que é juro?

(A2) Eu entendo que juro é o valor que recebemos quando

emprestamos dinheiro para alguém.

(P) Será que juro é somente o valor que recebemos?

(A3) Não, pois nós às vezes também pagamos juros.

(P) Mas quando ¨pagamos juros¨?

(A4) Quando pegamos dinheiro emprestado.

(P) Será que pagamos juros somente quando pegamos dinheiro

emprestado?

(A3) Não.

(P) Em quais outras situações pagamos?

(A5) Quando financiamos um carro, pagamos contas atrasadas,

compramos parcelado em lojas.

Com todos estes questionamentos e discussões, todos os grupos

concluíram que os 2% representavam a taxa de juro.

Ao iniciarem a resolução da questão b, um aluno questiona: “Como vou

saber quanto de juro ele pagou?” E um aluno de outro grupo diz : “Se você

quer saber quanto é 2% de 1.500, é só multiplicar 1.500 por 2 e dividir por 100”.

A professora percebeu que a dúvida quanto ao cálculo da porcentagem

não era apenas desse grupo. A partir dessa resposta foi possível intervir e

retomar com os alunos o conceito de porcentagem e as várias representações

que podem ser utilizadas.

Na sequência os grupos deram continuidade à resolução. Após todos

terminarem, transcreveram na lousa resoluções como a seguinte:

Figura 1 – Resolução apresentada por um grupo ao item b do problema 1.

Na sequência iniciou-se a plenária e foi discutida a maneira que os

grupos encontraram a resposta para esse item. E a partir dessas discussões

aproveitei o momento para formalizar o conceito de juro, que corresponde a

uma compensação em dinheiro que se recebe ou que se paga pelo empréstimo

de determinada quantia monetária, a uma taxa combinada, ao final de um

período.

2ª Etapa

c) Se Marcos tivesse quitado a dívida antecipadamente, que valor

total pagaria a Rodrigo:

Ao final de 1 mês?

Ao final de 2 meses?

Ao final de 3 meses?

Ao final de 4 meses?

Ao final de 5 meses?

Ao final de 6 meses?

Ao final de 7 meses?

Ao iniciarem a leitura, alguns grupos perguntaram o que era para fazer.

A partir dos questionamentos deles, levantei algumas questões, como: “O que

está sendo pedido neste item?”

A partir dos questionamentos a maioria dos grupos se empenhou na

resolução do problema, e a professora observava o trabalho dos grupos.

Durante essa observação, um dos alunos questionou:

(A1) Como ficaria melhor para resolver este problema?

Pedi um momento de atenção e sugeri aos grupos que não estavam

conseguindo desenvolver alguma estratégia de resolução, que organizassem

os dados em um quadro, já pensando na formalização posterior, mas ressaltei

que cada grupo poderia resolver da maneira que considerasse melhor. Assim

que todos os grupos começaram as discussões quanto às maneiras de

resolver, um aluno partilhou o seguinte comentário com toda a turma:

(A1) Mas é só somar 30,00 a cada mês, pois esse valor seria o juro.

Os demais questionaram a professora: “É só somar o juro de cada

mês?”

(P) Analisem novamente o problema no grupo e vejam se conseguem

chegar a uma conclusão.

Assim que todos os grupos terminaram a resolução, passamos para a

resolução deste item na lousa, onde todos os grupos colocaram suas

resoluções, apresentando diferentes maneiras de organizar os resultados.

A partir das resoluções expostas começou a plenária, que eu

considerei um dos momentos mais importantes, pois enquanto um aluno estava

expondo sua maneira de resolver e explicando, os demais ouviam e interagiam

expondo suas ideias. Apenas um dos grupos organizou a resolução desse item

em um quadro, o qual deixou bem visível os resultados para os alunos

analisarem.

Figura 2 – Resolução apresentada por um grupo ao item c do problema 1.

Após as discussões em plenária, quanto às resoluções, os alunos

comentaram que se Marcos tivesse quitado a dívida antecipadamente, não

teria gasto tanto em juro. Concordaram que a partir da análise do quadro

(Figura 2) ficou bem mais fácil visualizar o quanto Marcos pagaria a Rodrigo se

tivesse quitado a dívida antecipadamente. Após toda a discussão a respeito da

maneira de resolver, um aluno indaga:

(A1) Acho que tem uma fórmula para calcular esses dados? Pois nós

fomos adicionando os 30 reais a cada mês.

(P) Alguém já viu essa fórmula e se lembra dela?

(A2) Eu lembro que tem alguma coisa com juro e capital, mas o resto

não sei.

(P) Analisando o quadro, o que cada item representa? Por exemplo, a

quantidade de meses?

(A1) Representa o tempo.

(A2) Então o tempo para ser quitada a dívida?

(A3) Sim.

A partir desta resposta concluíram que tempo é o período contado a

partir do momento que Marcos emprestou o dinheiro até a quitação da dívida.

(A1) Os 1.500 que Marcos emprestou é o capital?

(A2) Mas o que é capital?

(A1) Capital é a quantia em dinheiro que Marcos emprestou.

Aproveitei o momento para explicar que capital é uma quantia em

dinheiro que se empresta ou se pede emprestado. Analisando novamente o

quadro um aluno diz:

(A4) Mas o que esse 0,02 representa?

(A5) Você já esqueceu? Esse valor representa a taxa de juros que

temos que pagar quando emprestamos dinheiro.

Definimos esse valor como taxa percentual de juro.

Após essa discussão começamos a substituir os números do quadro

pelas letras para podermos obter a fórmula. Eles próprios começaram a falar

que o 1.500 é o capital, então mencionei que podemos representar o capital

pela letra C, a porcentagem por i, os meses por t que é o tempo, e o juro por J.

Assim que substituímos as letras, escrevemos a fórmula:

J = C. i .t

em que J: juros, C: Capital inicial, i: taxa de juro expressa na forma

decimal e t: período de duração da operação financeira.

Quando analisamos a última coluna do quadro, um aluno disse que foi

somado o capital mais o juro. Aproveitei esse momento para explicar aos

alunos que quando é feita essa soma do capital mais o juro nós encontramos o

montante.

Após essa formalização, voltamos a analisar o quadro para obtermos

uma fórmula também para o cálculo do montante. Perguntei a eles que letra

poderia ser utilizada para representar o montante, e eles escolheram a letra M.

Então questionei como poderíamos escrever a fórmula.

Um aluno respondeu:

(A1) Se montante é a soma do capital mais o juro, então eu acho que

dá para escrever M = C + J.

Perguntei para os demais se concordavam com ele, e responderam

que sim.

Com as resoluções destas etapas, os objetivos previstos foram

alcançados, pois conseguiram expressar os conceitos relacionados a juro,

capital, taxa, tempo e montante.

3ª Etapa

d) Quanto Marcos pagou além dos R$1.500,00 em 8 meses a Rodrigo,

para quitar a dívida? Apresentem seus cálculos.

e) Ao todo, quanto Rodrigo recebeu de Marcos quando encerrou o

prazo de pagamento? Apresentem seus cálculos.

Quanto à resolução destes itens percebi que os grupos iniciaram lendo

as questões bem mais concentrados, somente discutindo entre eles. Observei

também que estavam interagindo muito melhor do que no início, demonstrando

conhecimento necessário e utilizando pouco tempo para resolver as questões.

Logo após as resoluções, um representante de cada grupo expôs suas

respostas na lousa e iniciamos a plenária que foi bem mais organizada. No final

concluíram que utilizaram cálculos diferentes, mas obtiveram o mesmo

resultado.

Figura 3 – Resolução apresentada por um grupo ao item d do problema.

Figura 4 – Resolução apresentada por um grupo ao item e do problema 1.

Após as discussões das resoluções apresentadas na lousa, os alunos

chegaram a um consenso que resoluções como as apresentadas nas Figuras 3

e 4 estavam corretas.

PROBLEMA 2

Em uma loja de roupas, o preço de uma calça jeans que custava R$ 95,00

teve um aumento de 15%. Na semana seguinte, foi realizada uma promoção,

que ofertava a mesma calça jeans por um valor 15% menor.

a) Com o aumento no valor, quanto a calça passou a custar?

b) Com a promoção, quanto a calça passou a custar?

No início da resolução do item a os grupos não encontraram

dificuldades, iniciaram a resolução bem mais tranquilos e sem muitos

questionamentos. Apresentaram na lousa resoluções como a seguinte:

Figura 5 – Resolução apresentada por um grupo ao item a do problema 2.

Após os grupos exporem seus cálculos na lousa, iniciou-se a plenária.

Após as discussões a respeito das resoluções os alunos chegaram a um

consenso que estavam todas corretas. Um dos objetivos deste problema era

trabalhar acréscimo, então foi feita a seguinte pergunta:

(P) Do que mesmo está tratando o problema?

(A1) De uma calça que teve um aumento no preço.

A professora aproveitou esse momento para formalizar o conceito de

Acréscimo, que é obtido aplicando-se um percentual de aumento sobre o valor

de um bem de consumo, de uma fatura de loja, entre outros. No caso desse

problema, sobre o preço da calça. Dessa forma, a partir das resoluções

apresentadas foi possível constatar que o valor a ser acrescido pode ser obtido

multiplicando-se o valor em questão que sofrerá o acréscimo, pela taxa

percentual (escrita na forma decimal).

No início da resolução do item b, houve o seguinte comentário:

(A1) Professora não precisa nem calcular!

(P) Por que você acha que não precisa fazer os cálculos?

(A1) Pois vai dar o mesmo valor, R$95,00. A porcentagem é a mesma!

Foi sugerido aos grupos que fizessem então os cálculos para que

pudessem constatar se seria isso mesmo. Assim que todos resolveram, um

representante de cada grupo se dirigiu à lousa para expor as resoluções,

dentre elas, a que segue:

Figura 6 – Resolução apresentada por um grupo ao item a do problema 2.

Em seguida iniciou-se a plenária referente ao item b.

(A1) Não é só retirarmos os R$ 14,25 que encontramos no item a? Pois

se o aumento foi de R$ 14,25 é só diminuir esse valor dos R$ 109,25 do item a

que a calça volta a custar os R$ 95,00, pois no enunciado fala que a

porcentagem é a mesma!

(A2) Não, porque deve ser calculada a porcentagem do valor que a

calça passou a custar.

(P) Quanto custava a calça?

(P) Com o aumento quanto ela passou a custar?

(A3) Custava R$ 95,00 e com o aumento calça passou a custar R$

109,25.

(A2) Se a calça passou a custar R$ 109,25, então temos que calcular a

porcentagem (15%) do valor que ela está custando com o aumento.

A partir desses questionamentos e discussões os alunos chegaram à

conclusão que realmente não podíamos só retirar os R$ 14,25 dos R$ 109,25,

mas teríamos que calcular novamente os 15% do valor que a calça passou a

custar. Assim, a resolução apresentada na Figura 6 estaria correta.

A professora aproveitou esse momento para discutir com eles que

quando são realizadas as promoções, o produto passa a custar menos, então

podemos dizer que teve um desconto. Assim, quando se aplicar um percentual

sobre o valor de um bem de consumo, de fatura de loja, entre outros, e o

resultado obtido for subtraído do valor em questão, então se obtém o valor com

o desconto.

PROBLEMA 3

Marcos emprestou R$ 1.500,00 de um banco a uma taxa de juros de 2% ao

mês. Negociou com o gerente que pagará a dívida ao final de 08 meses. O

gerente lhe explicou que no primeiro mês os juros serão calculados sobre o

valor emprestado e nos meses seguintes os juros serão calculados sobre o

valor do montante obtido no mês anterior.

a) Determine os valores dos juros cobrados pelo banco e o valor do

montante nos 8 meses.

b) Observando os problemas 01 e 03, aponte semelhanças e diferenças

entre os valores do capital, taxa e tempo, os cálculos dos juros e valores dos

montantes.

Item a do problema

Após receberem a folha contendo o problema iniciaram a leitura e, na

sequência, a organização dos grupos, que já foi bem mais tranquila do que em

aulas anteriores. Os alunos mostraram-se também mais interessados em iniciar

a leitura do problema nos grupos.

Finalizada a leitura, foi pedido que tentassem desenvolver uma

resolução com os conhecimentos possuídos até o momento.

Em alguns grupos, os alunos retiraram os dados do problema e

iniciaram os cálculos. Outros grupos questionaram a professora a respeito do

que poderiam fazer primeiro, e como não apresentavam ideias para começar a

resolução, a professora sugeriu a eles que construíssem um quadro como o

apresentado a seguir, que o representante de um grupo expôs na lousa

Figura 7 – Resolução apresentada por um grupo ao item a do problema 3.

Na sequência iniciamos a plenária, em que houve várias discussões

quanto às respostas.

Para essa resolução apresentada na figura 7 houve a seguinte

discussão.

Um aluno questionou:

(A1) Os cálculos estão corretos?

(A4) Eu acho que está correta a maneira que foi resolvida, pois no

primeiro mês os juros iam ser cobrados sobre os R$ 1.500,00 e nos meses

seguintes sobre o valor do montante do mês anterior, mas o resultado dos juros

para o 2º mês não está correto.

(P) Por quê?

(A3) O resultado de R$ 1.530,00 vezes 0,02 dá 30,60 e não 30,61,

assim ao somar com os R$ 1.530,00 vai dar R$ 1.560,60.

Após isso, continuamos a analisar outros cálculos apresentados na

Figura 7 e os alunos perceberam que havia mais resultados incorretos, por

exemplo, o obtido no valor a pagar após 6 meses, o que acarretou erros

também nas respostas seguintes a essa apresentadas no quadro.

Ao discutir as outras resoluções apresentadas na lousa, conferindo os

cálculos realizados até o 8º mês, os alunos elegeram a seguinte como correta.

Figura 8 – Resolução apresentada por um grupo ao item a do problema 3.

Na sequência os alunos foram questionados a respeito de como é

chamado este tipo de juro envolvido no problema e um aluno respondeu que

seria juro sobre juro. A professora então discutiu com a turma essa ideia de

juro sobre juro, em que o juro calculado em cada período é somado ao capital,

constituindo um montante sobre o qual será calculado o juro do período

seguinte e aproveitou para informar que esse tipo de juro é denominado Juro

Composto.

Um aluno questionou a professora se haveria uma fórmula para

calcular esse tipo de juro. A professora então respondeu que sim e aproveitou

para analisar o quadro da Figura 8 com os alunos para, a partir dos dados

apresentados nele, obter a fórmula.

Considerando:

M: montante

C: capital

i: taxa percentual de juro

t: tempo ou período utilizado na operação financeira

Mês Capital no

começo do

mês

Juros cobrados no mês Montante ao término do mês

1 C Ci M = C +Ci

Colocando-se C em evidência, temos:

M =C(1 + i)

2 C(1 + i)

É o montante

do mês

anterior

C (1 + i) i

É o montante do mês anterior

vezes a taxa de juros.

M = C(1+i) + C(1 + i)i

Colocando-se C (1 + i) em evidência:

M = C. (1 + i). (1 + i)

M = C ( 1 + i)2

3 C(1 + i)2 C(1 + i)

2 i M =C(1 + i)

2+ C(1 + i)

2i

Colocando-se C (1 + i)2 em

evidência:

M= C(1 + i)2(1 + i). Note que

podemos escrever a equação da

seguinte forma:

M= C.(1 + i)3

4 C(1 + i)3 C(1 + i)

3i M= C(1 + i)

3 + C(1 + i)

3i

M= C(1 + i )3(1 + i)

M= C( 1 + i)4

... ... ... ...

t C(1 +i)t-1

Por ser o

montante

C(1 + i)t-1

i M= C(1 + i)t-1

+ C( 1 + i)t-1

i

M= C(1 + i)t-1

(1 + i)

M= C(1 + i)t

E assim obtivemos a fórmula:

M = C (1 + i )t

Depois dessa formalização, foi pedido aos alunos que calculassem o

valor do montante para alguns dos meses, como uma maneira de testar a

fórmula obtida.

Todos os grupos conseguiram calcular e comparar com os dados do

quadro da Figura 8 e concluíram que aplicando a fórmula poderia ser menos

trabalhosa a realização dos cálculos.

Item b do problema

Após todo esse trabalho realizado no item a, os alunos voltaram a

trabalhar em grupos. Iniciaram a leitura e foram anotando as semelhanças e

diferenças encontradas em cada problema. Assim que os grupos terminaram,

transcreveram as respostas na lousa e começaram a discutir as semelhanças e

diferenças e chegaram à conclusão que as respostas apresentadas por todos

os grupos eram semelhantes. Por consenso, escolheram como a mais

completa essa que segue.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esse trabalho, procurou-se oportunizar aos alunos a construção

de alguns conceitos a respeito de Matemática Financeira, utilizando para isso a

Metodologia Resolução de Problemas.

No início surgiram muitas dúvidas entre os alunos, mas a interação

com os colegas no trabalho em grupo, aliada aos questionamentos feitos pela

professora, oportunizaram um ambiente propício à aprendizagem,

possibilitando aos alunos sanarem suas dúvidas.

Com a implementação desta proposta pedagógica, foi possível

apresentar aos alunos uma forma diferenciada – em relação às aulas que

costumávamos ter – de construção de conhecimentos matemáticos

relacionados a Tópicos da Matemática Financeira. O aluno foi incentivado a

fazer uso de estratégias variadas para solucionar problemas, tornando assim

as aulas mais prazerosas e produtivas.

O trabalho com a metodologia da Resolução de Problemas teve como

alguns resultados, alunos com mais autonomia, mais críticos, argumentando

sobre os conceitos matemáticos, e demonstrando perceber que os

conhecimentos adquiridos na escola poderiam ter relação direta com situações

vivenciadas no seu dia a dia.

Percebi que para se trabalhar com a Resolução de Problemas,

precisamos estar muito cientes da nossa função enquanto professores para

possibilitar aos alunos desenvolver sua própria forma de resolver os problemas,

sem fornecer respostas prontas e impedir que o aluno pense criticamente.

Algumas vezes foi necessário auxiliar os alunos a encontrarem um caminho

para obter a resolução, devido a falta de familiaridade que tinham com a

metodologia proposta, mas na maioria das vezes eles foram incentivados a

trabalhar ativamente na resolução dos problemas.

A experiência teve resultados satisfatórios, pois houve um bom

desenvolvimento do trabalho nos grupos, nas discussões e nas plenárias. A

plenária foi um dos momentos mais valiosos, pois eles tiveram a oportunidade

de expressar suas ideias e discutir com os colegas os conceitos matemáticos.

Pareceu-nos que quando isso acontece o aprendizado torna-se prazeroso.

Quando terminamos o projeto, os alunos disseram que gostariam que

as aulas continuassem sendo desenvolvidas dessa maneira.

REFERÊNCIAS

ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. Ensinando Matemática na sala de aula através da Resolução de Problemas. Boletim GEPEM, n. 55, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino

médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.

______. PCN+Ensino Médio: ciências da natureza, matemática e suas

tecnologias. Brasília: MEC: SEMTEC, 2002.

ONUCHIC, L. R. Ensino Aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V. (Org.). Pesquisa em educação matemática. São Paulo: Ed. UNESP, 1999. cap. 12. p. 199-220.

ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C.(Org.). Educação matemática: pesquisa em movimento. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 213-231.

PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica Matemática. Curitiba: SEED, 2008.