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18º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes PlásticasTransversalidades nas Artes Visuais – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia
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TOQUE ATIVO: UMA EXPERIÊNCIA DE TRANSVERSALIDADE DO SISTEMA HÁPTICO NA POÉTICA VISUAL DO CEGO
Suzana Maranhão de Azevedo Mello Arte Educadora e Artista Plástica
Licenciada pela Universidade Federal de Pernambuco
Resumo Dentro do preceito da transversalidade, seleciono o sistema háptico para uma breve reflexão sobre suas propriedades, percorrendo os caminhos daqueles que o empregam por pertencerem a uma categoria especial. Procurei então o Instituto Antonio Pessoa de Queiroz, estabelecimento que atende pessoas com deficiência visual e comecei um trabalho embasado em meu fazer artístico, podendo estender-se ao aprendizado formal e a artisticidade do cego. Neste contexto, a instalação “com a planta do seu pé veja o chão do seu barro”, trabalho de fruição tátil, já é matriz da proposta aqui apresentada, Toque Ativo. Nesse priorizo o meu trabalho com texturas e proponho ações que facilitam o aprimoramento da “linguagem visual do cego”, dois pilares fundamentais da proposta. Palavras-chave: háptico, textura, descarte Abstract Within the concept of “transversality”, I’ve selected the haptic system for a brief reflection upon its properties, following the path of those who employ it due to their special condition. Therefore I got in touch with Institute Antonio Pessoa de Queiroz, where blind people are attended to, and started a work grounded on my own creative activity, capable as well of making blind people’s formal learning easier. In such context, the installation “with your feet sole see the floor of your clay”, work of haptic fruition, is the matrix of the project here exposed, Active Touch. In it I can develop my work with textures, besides proposing activities which might help to improve “blind people’s visual language”, both pillars t this proposal. Key Words: haptic, texture, discard
O primeiro sentido despertado pela criança em seu processo de aprendizagem é a consciência tátil. O mundo, nessa fase inicial, é também percebido por meio do olfato, audição, paladar, através de uma múltipla e fecunda interação com o ambiente. Esses sentidos(...), todavia, são logo superados pelo “plano icônico”, ou seja, a capacidade de ver e, sobretudo, compreender através de termos imagéticos a realidade (Donis, 2005), afinal, o espaço constitui-se como a “primeira fronteira” (Kellnan apud Hoffman, 2000:12).” ... apesar do aparato para conhecer o “mundo das imagens” vir pronto para ser usado, ele é apenas um potencial, e é exatamente o seu uso que o fará desenvolver-se ou atrofiar-se.
- Marcelo Santos de Moraes1
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Esboço da Idéia Inicio este artigo priorizando o corpo, este sistema de orientação geral2,
como veículo de conhecimento. Relevo sua importância nos processos
cognitivos, no estímulo à inteligência e no fomento à elaboração de
percepções.
Dentro do preceito da transversalidade, que vem salientar a
incorporação de mediadores no aprendizado, fala-se de uma perspectiva
integrada de conhecimentos. Assim entendendo, seleciono o sistema háptico
para uma breve reflexão sobre suas propriedades, a fim de trazer maior
compreensão para o recorte da pesquisa em questão:
Desse modo, é um sistema que inclui o corpo inteiro, a maioria de suas partes, juntas, músculos, em toda a sua superfície. Ainda um outro aspecto bastante importante apresenta-se no fato de que as extremidades do corpo, mãos, pés, boca e até mesmo a língua, nas quais a sensibilidade tátil se concentra, especialmente a ponta dos dedos da mão e do pé, são órgãos sensórios, exploratórios e, ao mesmo tempo, órgãos motores performativos. Isso quer dizer que o equipamento para sentir, tocar, apalpar é anatomicamente o mesmo equipamento para se fazer as coisas, agir no ambiente. Tal combinação não se encontra no sistema visual nem no auditivo”(...). Podemos explorar coisas com os olhos, mas não podemos alterar o ambiente com os olhos. Do mesmo modo, a boca, também faz parte do sistema háptico (...) Para o ser humano, as duas partes principais do aparato háptico são a pele e o corpo movente. (GIBSON apud SANTAELLA, 2004, p. 44-5)
Tomo como base o meu momento
de criação, quando percorro com as mãos
a superfície a ser interferida antes de
qualquer gesto. Seja no desenho, pintura
ou gravura (cf. Figura 1), técnicas
bidimensionais, minha primeira atitude é
“ver” com as mãos o suporte a ser
trabalhado. Inicio, então, uma busca em
favor da presença de textura em suportes
e médios que possibilitem uma obra cuja
leitura e processo possam agregar outros
sentidos além da visão.
Figura 1
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Desejei percorrer os caminhos daqueles que usam o sistema háptico,
não por opção ou poética, mas por pertencerem a uma categoria especial.
Procurei o Instituto Antonio Pessoa de Queiroz3, estabelecimento que atende
pessoas com deficiência visual. Muito bem recebida pela sua gestora, na
ocasião, a irmã Graça, comecei a construir um trabalho embasado em meu
fazer artístico e que chegasse a favorecer o aprendizado formal e a
artisticidade do cego. Ouvi ponderações feitas pelos portadores da deficiência,
numa ausculta objetiva, procurando instrumentos que viabilizassem uma maior
pluralidade no processo criativo desse público. Procurei engendrar uma
pesquisa que possibilitasse um projeto capaz de, otimizar os recursos já
existentes nessa área e também ousar no uso de cores. Desta preocupação
surgiu o projeto Toque Ativo.
Figura 2
Para contextualizar o projeto com propriedade, volto um pouco na
gênesis do interesse que tenho em buscar no descarte diário, valor para o ciclo
vital e, no caso, também como agente de transversalidades nas artes visuais.
o desempenho do projeto Mata Vida4, veio o aprimoramento de um
tipo de papel artesanal. È´confeccionado a partir do lixo, (cf. Figura 2) tem
propriedades especiais como extraordinário mimetismo e dureza
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espetacular, qualidades que são incomuns em papéis. Esse produto será
tratado, de agora em diante, por “L MAIS”.
Figura 3
Iniciei uma produção artística com o “L MAIS” confeccionando
suportes onde trabalhei com as mais variadas técnicas, dentre as quais
pintura com espátula e gravura, com essa última, foi formada uma
coleção de monotipias com colagem. Construi também uma instalação
intitulada: “com a planta do seu pé veja o chão do seu barro” (cf. Figura 3).
A instalação5 consta de quinze placas (80x50cm) que, fixadas três a três
em sentido longitudinal no chão da oficina, formam uma estrada com
pintura monocromática terrosa e com marcas de pneus, dando-lhe aspecto de
estrada de barro. Agrupadas no canto esquerdo superior da “estrada”
encontram-se esculturas em forma de pés humanos e cortes transversais em
forma de troncos de árvores, todos confeccionados com o “L MAIS”. Ao longo
dessa superfície, lêem-se a inscrição: “morte, dor, derrubada, vida presa,
lodaçal na caminhada”. Esse trabalho de fruição tátil, exposto na Oficina do
Tempo6, por ocasião da mostra, foi visitado pela comunidade deficiente7 visual
do I.A.P.Q..
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Figura 4
Os cegos convidados a caminharem descalços sobre a instalação, o
faziam com exclamações de confirmação ao propósito do trabalho: “o chão é
de terra!” Ainda observado por um dos visitantes, Gustavo (cf. Figura 4),
encarregado do material didático do Instituto: “matéria prima com custo zero,
fácil de fazer e com resultado apropriado. Dá certo para fazer mapas... e muitas
coisas!”. Após explorarem a instalação “viam com as mãos” as obras coloridas
fixadas nas paredes (cf. Figura 5).
Figura 5
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Durante essa experiência ouvi dos mesmos, o testemunho de que é
possível ao cego saber que o objeto da sua leitura é colorido. Eles atestam que
possuem a capacidade de perceber o momento da mudança das cores.
Perguntei-me então se não seria possível trabalhar em uma proposta na qual a
textura viesse a codificar os pigmentos, de maneira que o deficiente visual
pudesse fazer escolhas coloridas. Visando encontrar uma resposta voltei
minha atenção para trabalhos como o de Kennedy focado no uso da
textura como transversalidade. Em minha pesquisa formal há um
interesse em dinamizar a poética visual, em qualquer que seja a técnica,
além do interesse na possibilidade dos deficientes visuais trabalharem o
“colorido”. Em J. M. Kennedy encontrei um referendo quanto à aprovação
da textura em superfície plana, para viabilizar o desenho: To bring the blind into the flat, graphical Word of the sighted, I turned to a member of tools, including models, wire displays and, most often, raised line drawing kits, made available by the Swedish Organization for the Blind. These kits are basically stiff boards covered with a layer of rubber and a thin plastic sheet. The pressure from any ball-point pen produces a raised line on the plastic sheet.8 (KENNEDY, 1996, p.77)
Está provado então, que o desenho do deficiente visual é bem possível e
nos traz uma realidade surpreendente. Podem figurar o mundo desenhando o que
“sentem”, mesmo sem poder “ver” com os olhos, mas o fazendo através do
sistema háptico.
Se, aqueles que percebem visualmente os objetos atualizam essa visualidade quando produzem pensamentos, ao cego que desenha e reconhece os objetos pelo seu desenho em relevo, seria possível atualizar uma memória tátil e totalizadora dos objetos em seus processos mentais. (...) Uma bola de borracha do tamanho daquela utilizada para jogos com raquete constituiu o primeiro objeto de trabalho. Após a escolha do objeto, paulatinamente foi sendo construída uma seqüência de exercícios e procedimentos que, talvez mais tarde, seja possível denominar “método” ou metodologia de ensino. O primeiro momento do processo requer o reconhecimento do objeto em experiência tátil. A bola cabia perfeitamente entre as mãos da criança. Mas, objetos maiores, como uma “casa”, exigiram a confecção de uma maquete. Após a descoberta do objeto como um todo, em exercício tátil bastante livre, o segundo momento requer uma ação dirigida na qual a criança percorre com o dedo indicador ( o dedo mais sensível, aquele que lê em Braille) as bordas de superfície e contorno do objeto. Trata-se de perceber o elemento definidor das “linhas de contorno” ou, no caso da bola/circunferência, da única e contínua “linha de contorno”. (DUARTE apud MEDEIROS, 2004, p. 134-140) Acredita-se que esquemas gráficos desenhados em relevo realizados com materiais e métodos adequados, podem permitir às crianças cegas um meio de comunicação que, estabelecendo-se de modo tátil e visual, é plural e inclusivo, além de possibilitar a percepção possível e totalizadora dos objetos. (DUARTE apud PORTO, 2004, p.109-127)
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Figura 6
Duarte nos reporta em seu comentário, a afirmativa de que a ação
totalizadora dos objetos atualiza a memória tátil e formata os processos mentais
de reconhecimento, ou seja, da leitura das formas pelos deficientes visuais. Trago,
através da minha pesquisa, a oportunidade para o cego exercitar-se a partir do
uso do “L MAIS”. Com ele é possível fabricar uma bola ou qualquer forma que se
deseje, construindo, com a repetição dessas formas, edificações que representem
à idéia de mundo. Esse material, diferentemente da borracha, (cf. Figura 6) tem
textura em toda superfície e nenhum peso, sem contar que é manuseado em sua
totalidade pelo deficiente, desde o seu fabrico.
Afora explorar as possibilidades de transversalidade no meu próprio
trabalho, o Toque Ativo propõe ações que facilitem o desenvolvimento da
“linguagem visual do cego”: trata-se primeiramente de possibilitar o desenho
sobre uma superfície com textura, mas que não seja lisa, como a que se lê em
Kennedy (1996, p.77). A textura é determinante quando se trata do artista
deficiente visual, pois, nesse caso, deve oferecer resistência, sugestão,
interferindo como agente interativo entre o artista e o suporte. Com respeito a
essa correspondência relacional, presente em todos os processos de criação,
busco respaldo na reflexão de Cecília Salles, sobre as mais diferentes
influências que instigam e movimentam o momento da criação e apontam quão
presente e necessária essa propriedade cognitiva se faz presente em todos os
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processos criativos. Pensando assim, experimento a textura do “L MAIS” como
agente relacional no momento criativo do deficiente visual: A interatividade é, portanto, uma das propriedades da rede indispensável para falarmos dos modos de desenvolvimento de um pensamento em criação. Em nossas preocupações relativas á construção dos objetos artísticos como objetos de comunicação, essas interações devem ser especialmente observadas, pois as indagações recaem sobre esse pensamento, que se constrói nas inter-relações, ou seja, como chamamos atenção acima, o processo de criação está localizado no campo relacional. (SALLES, 2009, p. 26.)
Além da textura, o Toque Ativo trabalha a possibilidade de normatizar uma
atividade cromática na produção artística dessas pessoas. Como já referido, eles
afirmam possuir a propriedade de sentir a passagem de uma cor à outra apenas
passeando as mãos em uma superfície. (cf. Figuras 5 e 7). Para essa afirmativa não
encontrei comprovação científica; aceito então o testemunho do próprio deficiente
visual. Procuro embasar a importância da textura nos exercícios artísticos do cego,
estendendo a sua aprovação até aqui obtida nos suportes, para o seu uso também
nos médios. O objetivo é codificar as cores para esse emprego específico9:
Figura 7
O aluno DV pode e deve participar das aulas de Educação Artística de muitas formas diferentes. A aula de artes é essencialmente importante, por ser um modo através do qual ele pode expressar seus sentimentos e sua percepção do mundo. Ela pode ajudá-lo na formação dos conceitos e das imagens mentais das coisas que ele não vê, no desenvolvimento da sua criatividade e senso estético. É também nesta aula, que ele pode trabalhar,
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mais especificamente, com a coordenação motora fina e com a mobilidade dos seus dedos e mãos, muito necessários para ele, mas pouco trabalhados devido aos movimentos contínuos e rígidos com o Braille. Ele vai precisar dessa mobilidade para aprender a assinar seu nome e para perceber melhor, pelo tato, os objetos. O material que pode ser usado é muito rico; o professor deve, antes de iniciar a atividade proposta, explorá-la bem com seu aluno, enfatizando a riqueza de detalhes, formas, texturas, cores (para os que vêem cores), beleza. Para o aluno cego, a textura é a cor do objeto, pois as diferenças percebidas pelo tato fazem um paralelo com as nuances de cor que a textura lhe proporciona. (Sociedade de Assistência aos Cegos10)
A Textura do Método
Prossigo agora, abordando um pouco da metodologia adotada no projeto
Toque Ativo. O papel da textura funcionando no suporte como cor, conforme
visto acima, também aponta uma nova ação metodológica para um trabalho
cromático especial. Vale ressaltar que o caminho é o mesmo usado para o
fabrico do “L MAIS”. Os mesmos descartes que usamos na feitura do papel são
utilizados para codificar as cores. São cinco as modalidades de texturas
selecionadas para esse fim, três das quais são produzidas com raspas de
madeiras encontradas nas serrarias locais, e alcançam três níveis de
densidade, devido aos diferentes números de peneiras utilizadas para esse
processo. Servem como código para distinguir as cores primárias da seguinte
forma: o pó mais fino para o azul, por ser uma cor concêntrica e não necessitar
de tanto corpo para estar presente; o pó de espessura média para a textura do
vermelho, que é uma cor mais equilibrada entre concentração e expansão; por
fim o pó que deixa mais corpo, o mais espesso, esse é empregado no
pigmento amarelo, que tem propriedade mais expandida e é carente de maior
peso. Para o uso do que poderia chamar-se “luz” e “sombra”, no caso do
público em questão, são definidos como mediadores: o preto e o branco. Para
o branco trazemos a raspa do couro de bode processado11. Na composição do
pigmento preto é utilizado o barro cozido em pó. Assim temos os instrumentos
para rebaixar e dessaturar os pigmentos primários, ondulando o uso da paleta
em tons e meio tons. Além disso, também são empregados na uniformização
da pasta dos pigmentos os seguintes produtos: aglutinante (CMC); anti-
bactericida (Ácido Bórico) e para a impermeabilização é usado verniz fosco.
Tendo em vista a multiplicidade de detalhes a serem observados no preparo do
pigmento, o projeto contempla a participação de dois monitores, um dos quais
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com formação em Arte Educação e outro com cegueira parcial, cuja principal
tarefa consiste na mediação entre a técnica e os participantes. Mostra-se ainda
relevante lembrar que todo o processo respeita o procedimento ecologicamente
correto.
Concluo o artigo sobre esse projeto chamando a atenção tanto para sua
contribuição à minha prática artística, como ao aprendizado formal e artístico
do cego. A experiência com a comunidade do I.A.P.Q. transforma a qualidade
da minha produção em gravura e pintura com espátula. Anteriormente ao
Toque Ativo, essas técnicas eram trabalhadas por mim no formato tradicional,
obedecendo aos cânones. Graças ao projeto passei ainda a incorporar
experimentos com a espessura da tinta, diminuindo a necessidade do uso de
camadas, uma vez que os pigmentos são texturizados (cf. Figura 8).
Neste processo foi-me desvelado o emprego da textura obtida em
materiais recolhidos entre o descarte diário, como agente de transversalidade,
assim como enfatizada a ação eficaz do sistema háptico nas poéticas visuais.
Figura 8
“olhos em repouso...
alheios à cobiça da retina, que embriagada
de luz, permeia de pecado os desejos.
o tato, as mãos...
olhos em repouso
alheios à cobiça da retina...”
- A autora
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Notas 1 Moraes (2008).
2 Santaella (2004).
3 Instituto Antônio Pessoa de Queiroz (IAPQ). Rua Guilherme Pinto, 146, Graças, Recife (PE),
CEP. 52010-210. Tel. (081) 3423-1491 / 3231-0936
4 está em funcionamento há 3 anos em Goiana (PE) e foi apresentado no XVII Encontro da
ANPAP (Florianópolis).
5
Na recente instalação proposta pela artista plástica Suzana Azevedo, exposta no seu ateliê Oficina do Tempo, nos deparamos com uma obra feita a partir da recuperação de material orgânico e/ou inorgânico, que seria em princípio destinado ao desperdício, ao llixo. (...)
Suzana parece estar nos dando a oportunidade de refletirmos sobre nossos próprios passos em direção a uma necessária responsabilidade de ordem ética, pois trata-se principalmente de uma obra de arte que promove uma bem sucedida alquimia entre sua própria especificidade enquanto matéria prima, autônoma e perfeitamente inserida dentro da linguagem das artes visuais. (NINO, 2008)
6 Recife (PE), 18 de outubro de 2008.
7 Ainda que a obra não se destine exclusivamente aos portadores de deficiência, sua disposição lhes é particularmente convidativa, uma vez que nela o tato proporciona uma interação rica e prenhe de possibilidades.
8
Para trazer ao cego a palavra chapada e gráfica dos que vêm , empreguei uma série de instrumentos, incluindo modelos, displays de arame e, com mais freqüência, kits de linha para desenhar, disponibilizados pela Organização Sueca para os Cegos. Esses Kits são basicamente placas rígidas, cobertas com uma camada de borracha e uma fina cobertura plástica. A pressão de qualquer caneta esferográfica proDuz uma linha sobre a cobertura plástica.
9 É importante reforçar que o uso do “L MAIS” nesta metodologia, uma vez que a reciprocidade da textura, pelo público a se favorecido, é bastante positiva.
10 Cf. Bibliografia. Mais informações em: http://www.sac.org.br/APRESENT.HTM
11 Essa se encontra disponível em feiras nas cidades do interior.
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Bibliografia Duarte, Maria Lúcia Batezat. Imagens mentais e esquemas gráficos: ensinando
desenho a uma criança cega, 2004 In: Arte em pesquisa: Especificidades.
Vol.2. Medeiros, Ma Beatriz de (Org.). Brasília, DF. Unb/Anpap, 2004, p. 134-140.
Duarte, Maria Lúcia Batezat. O Desenho como Elemento de Cognição e Comunicação: ensinando crianças cegas, 2004 in: PORTO Tânia M. Esperon,
(org.) Soc., democr. e educ.:: qual universidade?ANPED, GT 16, Caxambu,
pp.109-127, 2004-a.
Kennedy, John M.. How the Blind Draw, 1996. In: Scientific American, :Scientific
American, January 1997, p. 76-81.
Moraes, Marcelo Santos de. Hipertrofia da visão - inflação do imaginário, S.n.: São
Paulo. Dissertação (Semiótica), Departamento de Comunicação e Semiótica,
Pontífica Universidade Católica (PUC), São Paulo, 2008.
Nino, Maria do Carmo. (Dis)curso: Meu papel é esse, e o seu?. Flyer à exposição de
“com a planta do seu pé veja o chão do seu barro”, de Suzana Azevedo, Recife;
Oficina do Tempo, 2008.
Salles, Cecília A.. Redes de Criação, Vinhedo: Ed Horizonte, 2008.
Santaella, Lúcia. Corpo e Comunicação, São Paulo: Paulus, 2004.
Sociedade de Assistência aos Cegos. Sugestões de atividades para os alunos portadores de deficiência visual: educação artística. Sociedade de
Assistência aos cegos, Fortaleza (CE). Acessado em 22/04/09.
Disponível em: http://www.sac.org.br/APR_EAR.htm
Suzana Azevedo, graduada em Educação Artística - Artes Plásticas pela
UFPE, nas disciplinas: Técnica de Grabado, Grabado Objectual e Arte
Conceitual – Universidad de Salamanca/ES, 1º lugar Prêmio Vasconcelos
Sobrinho - Semana do Meio Ambiente/ CPRH/ PE. Pesquisa de campo em arte
educação nos projetos “Mata Vida” / Goiana, “Estado de Arte” / Serra dos
Ventos/PE, e “Veio da Terra” / Garanhuns/PE. (vide Lattes),em 2008 “Toque
Ativo”.