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Setembro de 2016 . ANO XVI Nº 151 Nascer à moda antiga Nascer à moda antiga Discussão sobre parto humanizado ressurge frente ao crescimento de cesáreas no País. Rafaela Mota (foto) escolheu dar à luz em casa Págs. 4, 5 e 6 Discussão sobre parto humanizado ressurge frente ao crescimento de cesáreas no País. Rafaela Mota (foto) escolheu dar à luz em casa Págs. 4, 5 e 6 FOTO: PRISCILLA ANDRADE/CORTESIA Estatal completa cinco anos com desafio de digitalizar TV Pernambuco Pág. 3 Aniversário da EPC Nova ferramenta da Alepe organiza legislações por município Pág. 7 Acesso fácil Estádios pernambucanos deverão se engajar na luta contra o racismo Pág. 6 Agora é Lei Participação na Rio 2016 aponta para diversidade na cultura esportiva Pág. 8 PE na Olimpíada

TP SETEMBRO 2016 - alepe.pe.gov.br Centro de Estudos e Sistemas Avan-çados do Recife (Cesar) para garantir a independência e a modernização da empresa. Contratar pessoal é outra

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Setembro de 2016 . ANO XVI – Nº 151

Nascerà modaantiga

Nascerà modaantiga

Discussão sobre parto humanizado

ressurge frente ao crescimento de

cesáreas no País. Rafaela Mota

(foto) escolheu dar à luz em casa Págs. 4, 5 e 6

Discussão sobre parto humanizado

ressurge frente ao crescimento de

cesáreas no País. Rafaela Mota

(foto) escolheu dar à luz em casa Págs. 4, 5 e 6

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Estatal completa cinco anos com desafio

de digitalizar TV Pernambuco

Pág. 3

Aniversário da EPC

Nova ferramenta da Alepe organiza legislações por município

Pág. 7

Acesso fácil

Estádios pernambucanos deverão seengajar na luta contra o racismo

Pág. 6

Agora é Lei

Participação na Rio 2016 aponta paradiversidade na cultura esportiva

Pág. 8

PE na Olimpíada

EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Augusto César; 2º Vice-Presidente, Deputado Pastor Cleiton Collins; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado Vinícius

Labanca; 3º Secretário, Deputado Romário Dias; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Margot Dourado. Chefe do Departamento de Imprensa: Helena Alencar. Editoras: Helena Alencar e Ivanna

de Castro. Revisão: Cláudia Lucena e Margot Dourado. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Haymone Neto, Ivanna de Castro, Luciano Galvão Filho e Malu Coutinho (estagiária). Gerente de Fotografia: Roberto Soares.

Edição de Fotografia: Breno Laprovitera. Fotógrafos: Henrique Genecy (estagiário), Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Giovanni Costa. Design: Brenda Barros.

Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2368. PABX: 3183.2211. E-mail: [email protected]

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

02 Setembro de 2016

“A iniciativa é

muito

importante

para enaltecer

o folclore

pernambucano,

resgatar

memórias,

além de

enriquecer a

bagagem

cultural dos

jovens

presentes.”

Raphaela Nicácio Jornalista e escritoraque participou, no dia23 de agosto, da ediçãoespecial sobre lendaspernambucanas doProjeto Café comPoesia, atividaderealizada pelaBiblioteca da Alepe hádez anos.

“Viemos negociar os

termos do Projeto de

Lei Complementar nº

945/2016, que

extingue os limites de

cessão entre órgãos

para três carreiras,

o que poderia

descaracterizá-las.

Não entendemos

a medida como

positiva nem

para a gestão,

nem para o Estado.”

Daniel Theodoro Presidente da Associação dosGestores Administrativos dePernambuco, duranteReunião Ordinária daComissão de Justiça, em 16 deagosto, quando iniciou atramitação do PLC 945. O projeto recebeu emenda efoi aprovado em 1º desetembro

“Estamos

fazendo uma

avaliação dos

avanços e dos

desafios da Lei,

principalmente

no que tange às

mulheres negras.

A violência

doméstica tem

um recorte

racial: as mais

violentadas

são as negras.”

Lindacy Assis Representante do Fórumdas Mulheres Negras dePernambuco, emaudiência públicarealizada pela Comissãode Defesa dos Direitos daMulher, no dia 8 deagosto, para debater osdez anos da Lei Maria daPenha

Cinema pernambucano

Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux,nomes por trás do longa-metragem Aquarius,foram homenageados em Reunião Solene naAssembleia Legislativa no dia 17 de agosto. Osdois são responsáveis, respectivamente, peladireção e produção do filme pernambucano querepresentou o Brasil no Festival de Cannes, naFrança, neste ano. Protagonizada pela atrizSônia Braga e ambientada no Recife, a obraestreia no Brasil neste mês e já tem exibiçãogarantida em mais de 50 países. “A áreacultural é muito atacada por ser livre, por isso,a homenagem da Alepe é muito importantepara nós”, enfatizou o cineasta, que se disseorgulhoso, pela solenidade.

Meio século de vida pública

Com trajetória política iniciada na Alepe, em 1966, o pernambucano Marco Antônio de OliveiraMaciel recebeu homenagem no dia 8 de agosto. A Reunião Solene marcou os 50 anos de carreirapública de Maciel, que inclui também atuações como deputado federal, governador, senador e vice-presidente da República. “A Assembleia presta uma homenagem ao político, gestor, cidadão, pai,esposo e avô, que é lembrado por aqueles que divergiam de suas posições político-partidárias, masreconhecem suas qualidades morais, humanas, cristãs e, principalmente, a igualdade com quetratava os semelhantes”, destacou o presidente da Casa, deputado Guilherme Uchoa (PDT). Pormotivos de saúde, Marco Maciel não compareceu à solenidade, mas foi representado pela esposa,Anna Maria, e o filho João Maurício.

O secretário estadual de Planejamento eGestão, Marcio Stefanni, esteve na Alepe em17 de agosto para apresentar os principaispontos da Lei de Diretrizes Orçamentárias dePernambuco (LDO) para 2017. Em audiênciapública da Comissão de Finanças, ele exibiuas metas fiscais para os próximos anos ediscutiu a trajetória da dívida pública, quecresceu na última década para custearinvestimentos. “As operações de crédito nospermitiram melhorar a educação, a saúde e ainfraestrutura do Estado”, considerou. Apósreceber as emendas parlamentareslegalmente previstas, a matéria foi aprovadaem Plenário no dia 30.

LDO 2017

O filme está disponível em DVD. Além disso, oMinistério da Saúde disponibiliza trechos dodocumentário, dividido em oito episódios,gratuitamente na Internet. Confira:

Em defesa do parto normalO excesso de nascimentos por meio de

cirurgias no Brasil é tema do filme ORenascimento do Parto. Lançado em 2013, odocumentário dirigido por Eduardo Chauvetalcançou, naquele ano, a segunda maiorbilheteria do gênero nos cinemas e obtevereconhecimento internacional. Depoimentosde médicos e pesquisadores misturam-se aimagens das diversas possibilidades de umamulher dar à luz — no hospital ou em casa, com acompanhantes,familiares, médicos ou sozinha — para levantar questões queimpulsionaram a prática de cesarianas ao longo dos últimos 50 anos. Acrença de que há limitações físicas no corpo feminino e a sensação deque o parto cirúrgico é mais seguro são contrapostas por dados eanálises de especialistas. O projeto terá continuidade com O Renascimento do Parto 2. Previsto para ser lançado ainda neste ano,tratará dos abusos sofridos por mulheres durante o nascimento de seusfilhos - a chamada “violência obstétrica”. Assim como o primeirofilme, a obra é independente — financiada por meio de uma campanhade crowdfunding (financiamento coletivo).

03Setembro de 2016

COMUNICAÇÃO PÚBLICA

Com aprovação unânime pelaAssembleia Legislativa, entrouem vigor, em 22 de setembro de

2011, a Lei Estadual nº 14.404, au-torizando o Poder Executivo a criara Empresa Pernambuco de Comu-nicação (EPC). Passados cinco anos,a estatal responsável pela TV Per-nambuco, referência nacional devidoao processo democrático de fundaçãoe ao modelo de gestão participativa,ainda enfrenta dificuldades para seestabelecer definitivamente.

A avaliação é do diretor-presi-dente da EPC, Guido Bianchi. Segundoele, com a aproximação do desli-gamento do sinal analógico, previstopara 2018, a emissora corre o riscode sair do ar. “A digitalização do sinalé a prioridade número um”, afirma.

O gestor explica que a empresajá tem a autorização para migrar doanalógico, mas depende de um in-vestimento de R$ 4,6 milhões. En-tretanto, a EPC não dispõe do re-curso: em 2016, a dotação da en-tidade na Lei Orçamentária Anualfoi de R$ 2,7 milhões.

A demanda repercutiu noParlamento estadual. Em outubrode 2015, durante audiência públicasobre a emissora realizada pelaComissão de Cidadania da Alepe, opresidente do colegiado, deputadoEdilson Silva (PSOL), propôs-se aarticular a destinação de emendasa fim de viabilizar o investimento.

Contudo, a iniciativa não teve su-cesso. “Foi um momento de tur-bulência política e de corte de ver-bas. Mas estamos em um novo cicloorçamentário e esperamos agorapoder contribuir com a empresa”,explicou o parlamentar.

A Lei da EPC prevê a obtençãode receitas por outras fontes alémdo orçamento público, permitindocomercializar publicidade e com-partilhar abrigos e torres de trans-missão. Atualmente, cerca de R$ 600mil do orçamento já vêm dessasfontes.

No entanto, o produtor culturalRoger de Renor, que presidiu oDepartamento de Telecomunicaçõesde Pernambuco (Detelpe) durante oprocesso de reformulação daemissora, no governo de EduardoCampos, avalia que o investimentodo Poder Público é imprescindívelpara a estruturação. “A TV Per-nambuco é viável, mas precisa deum orçamento inicial e de um quadrode funcionários. E isso é obrigação doEstado”, diz. Ele também sugereparcerias com o Porto Digital e oCentro de Estudos e Sistemas Avan-çados do Recife (Cesar) para garantira independência e a modernizaçãoda empresa.

Contratar pessoal é outraprioridade da EPC. De acordo com oPortal da Transparência, apenas osquatro gestores estão oficialmentelotados na instituição. Atualmente,trabalham lá cerca de 60 pessoas,entre funcionários do Detelpe eterceirizados.

No último grupo, estão todos osprofissionais que produzem con-teúdo. Ainda não houve concursopara a EPC. Segundo o projeto deestruturação, é necessário contratarinicialmente 25 pessoas para a áreatécnica. A direção considera a quan-tidade atual de funcionários muitopequena para uma instituição que,por meio do Detelpe, detém 72 ou-torgas de radiodifusão. Atualmente,só a geradora, em Caruaru, e 29 re-transmissoras estão em funciona-mento.

Investir em equipamentos tam-bém é urgente. “Vivemos uma in-segurança técnica constante. Comotemos muitas repetidoras, precisa-mos de peças de reposição e equipede manutenção para visitar as es-tações”, acrescenta Bianchi.

Por meio da assessoria de co-municação, a Secretaria de Ciência,Tecnologia e Inovação, à qual a EPC

está vinculada, informa que oGoverno entende a importância daTV Pernambuco e busca alterna-tivas para financiar a digitalização,mas enfrenta dificuldades devido àcrise econômica nacional.

Mesmo com entraves, a TV Per-nambuco continua a produzir con-teúdo. Em agosto, a emissoralançou, em parceria com o ArquivoPúblico Estadual, uma série decinco programas a respeito da lutano campo em Pernambuco e naParaíba entre os anos de 1940 e1980.PARTICIPAÇÃO

Neste mês, o Conselho de Ad-ministração da empresa realizauma nova eleição. O colegiado tem13 cadeiras, sendo seis para re-presentantes eleitos da sociedade,seis para secretários do Estado euma para a Associação Munici-palista de Pernambuco (Amupe).

O Conselho é uma das inovaçõestrazidas pela Lei da EPC. É responsávelpor estabelecer as diretrizes da estatale pode até afastar o diretor-presidenteapós duas advertências formais. “Odesenho institucional da empresa édiferenciado. Dá autonomia para osconselheiros aprovarem as contas eterem controle sobre o orçamento”,explica a conselheira Cátia Oliveira,que ocupa a cadeira das organizaçõesque lutam pela liberdade de expressão.

Para ela, apesar da falta de re-cursos e de um “hiato” no funciona-mento do colegiado devido à mudan-ça de governo, a experiência dos pri-meiros conselheiros foi positiva.“Conseguimos dialogar, construircomissões temáticas e elaborar o Re-gimento Interno. Mas as decisõesesbarraram na limitação do orça-mento”, explica. O mandato dos pri-meiros conselheiros expira em 19 desetembro.

Desde o último dia 30 de ju-nho, o campo da comunicaçãopública em Pernambuco contacom um novo veículo: a FreiCaneca FM. Criada pela Lei Mu-nicipal nº 6.511/1960, do Recife,a estação foi reivindicada porvárias gerações de militantes eartistas e vem funcionando emcaráter experimental na fre-quência 101,5.

O ex-vereador LiberatoCosta Júnior, falecido emjaneiro, foi autor da norma que

determinou a criação da rádio há56 anos. O episódio foi lembradopelo deputado Waldemar Borges(PSB), em discurso no Plenário.“Fui vereador do Recife porquatro mandatos e observei, emcada um desses anos, Liberatodestinar orçamento para im-plantação da rádio”, relatou. Olíder do Governo na Alepeacrescentou, ainda, que “nãoserá uma radio chapa-branca,pois terá seu conteúdo discutidopela sociedade”.

Assim como o processo queresultou na criação da EPC, aformatação da Frei Caneca FMfoi debatida em 16 encontros.Um documento com as pro-postas foi divulgado e, em 24de agosto, houve a validaçãodo modelo em novo encontrocom a sociedade civil. Inicial-mente, a emissora veiculaapenas uma seleção musicale ainda não há data oficial pa-ra o início da programação de-finitiva.

Haymone Neto

EPC completa cinco anos com desafio de viabilizaçãoReferência nacional por modelo

participativo de gestão, estatal corre

para digitalizar sinal e reforçar equipe

Empresa, que funciona no bairro da Boa Vista (Recife), é responsável pela TV Pernambuco

HENRIQUE GENECY

Rádio Frei Caneca no ar

04 Setembro de 2016

PARTO HUMANIZADO

“O parto é uma grande oportunidade paratrabalhar nossas fraquezas e pontos for-tes. É um momento rico, no qual todo o

processo nos prepara para o que está por vir.Senti medo, insegurança, vontade de desistir,sono e dor, mas também senti apoio, alegria,realização, força e coragem. Mais do que isso, eume senti viva e poderosa. Depois do parto, tivea certeza de que sou capaz de qualquer coisa.”

O depoimento é de Rafaela Mota, que em2014 teve a certeza de ter feito a melhor escolhapara o nascimento da sua filha: o parto hu-manizado. “Sempre digo que faria outros dezpartos só para passar novamente pelo processo.Parece loucura para quem vê de fora, porqueas pessoas estão acostumadas a pensar apenasna dor, mas mal sabem elas o que é um partode verdade”, acrescenta.

Antes mesmo de engravidar, Rafaela jádesejava que seu parto não fosse cirúrgico,mas desconhecia a diferença entre o normale o humanizado. O protagonismo da mulhere a visão do nascimento como um eventosociocultural, e não apenas biológico, sãoalgumas das características do que se consideraparto humanizado. “Não imaginava que, para

poder parir de forma respeitosa, a gestanteteria que verdadeiramente ir à luta, na buscapor uma equipe de profissionais confiáveis.Munida de muita informação, vi no partohumanizado um meio respeitoso de ter minhafilha”, conta.

Apesar de a decisão ter sido embasada emsuas melhores intenções e em leituras cien-tíficas, Rafaela afirma ter sofrido preconceitoao anunciar o desejo. “Nossa sociedade nãoestá mais acostumada a realizar esse tipo departo e tem dificuldade de respeitar as escolhasda mulher. As pessoas criticam as mães queoptam por partos humanizados, como se elasfossem irresponsáveis e estivessem colocandoem risco a vida de seus filhos”, relata. Assim,poucas pessoas souberam que Nina chegariaao mundo em sua própria casa, com o apoiode uma doula — profissional capacitada pa-ra prestar auxílio à parturiente — e de umaenfermeira obstétrica, além da participação dasua família.

“Evidências científicas demonstram queo parto humanizado é o caminho mais seguro,econômico e melhor para o binômio mãe-filho”, avalia a ginecologista e obstetra LeilaKatz, que coordena a Unidade de TerapiaIntensiva (UTI) Obstétrica do Centro de PartoNormal do Instituto de Medicina IntegralProfessor Fernando Figueira (Imip). Militante

do parto humanizado há mais de 18 anos, elaacredita que “o sistema obstétrico brasileiroatual é ‘medicalocêntrico’, ‘hospitalocêntri-co’ e dá muito pouca importância à autonomiada mulher em relação ao seu corpo e às suasescolhas reprodutivas”.

A médica, que também coordena o Centrode Obstetrícia do Hospital da Mulher do Recife(HMR), aponta para a necessidade da adoçãode modelos baseados na autonomia da mulhere centrados na assistência básica. “Nessa pro-posta, os obstetras são especialistas que sãoconsultados, e os seus conhecimentos são co-locados em prática quando existe alguma al-teração do que é fisiológico. A gente sabe queo corpo da mulher foi feito para parir, e oprocesso vai dar certo na maioria dos casos”,afirma.

Muitas vezes associado a procedimentosrealizados necessariamente em casa, o partohumanizado também pode ocorrer emunidades hospitalares. Na capital pernambu-cana, o HMR, que integra a rede municipal desaúde, tem atendido gestantes com esse desejo.“Desde que o mundo é mundo, a mulher pariu.Com a chegada do médico, várias intervençõescomeçaram a ser incluídas”, evidencia a gine-cologista e obstetra Isabela Coutinho, diretorado hospital.

Mãe de dois meninos, Laura Melo viveu aexperiência do parto humanizado em ambasas gestações. “Quando fiquei grávida pela pri-meira vez, queria ter o meu filho em casa. Noentanto, em razão de complicações, a re-comendação foi de que o parto fosse realizadono hospital, pois o domiciliar só é indicado paragravidez de baixo risco”, relata. Já o caçula,Ita, nasceu no lar da família, com a presençado irmão, Azuh. “No hospital sou visita e naminha casa, não. Isso contribuiu para que eume sentisse mais à vontade na segundaexperiência”, conta.

O parto domiciliar não tem, no entanto, oapoio de toda a classe médica. Presidente daAssociação dos Ginecologistas e Obstetras dePernambuco (Sogope) e professora daUniversidade de Pernambuco (UPE), MariaLuiza Menezes é contrária à prática. “Entendoo parto como uma emergência. No hospital,é possível ter a certeza de que numa situaçãode adversidade tudo o que está ao alcance serárealizado, como reanimação neonatal ouentubação”, ressalta.

Apesar de ainda não ter uma deliberaçãoespecífica sobre a realização de partosdomiciliares, a Sociedade Brasileira de Pediatria(SBP) reitera a importância da assistênciamédica no primeiro instante do bebê fora da

barriga. “Esse momento é tão relevante, queé chamado de ‘minuto de ouro’. Não existemtransformações mais importantes na nossafisiologia do que as que ocorrem imediata-mente após o nascimento, e qualquer problemadurante esse processo tem que ser atendidopelos médicos”, reforça o presidente do Depar-tamento Científico de Neonatologia da SBP,José Maria Lopes. DOULAS

Um dos responsáveis pela mudança daconcepção do parto, o neonatologista esta-dunidense John H. Kennell defendeu, já nosanos 1950, a inversão da lógica desse pro-cedimento, que passaria a focar nas neces-sidades das mães e dos bebês, e não nas dohospital. Nesse sentido, tornou-se entusiastado trabalho das doulas.

O verbete ainda não é encontrado emvários dicionários, mas, de acordo com oHouaiss, trata-se da “mulher que prestaassistência a gestantes e parturientes, es-pecialmente para proporcionar-lhes um am-biente de tranquilidade e segurança”. Naprática, o significado é mais amplo. “Con-sidero a doula essencial em todo o proces-so. Não conseguiria suportar as dores semela”, resume Rafaela Mota.

Motivada por uma “vontade absurda deque outras mulheres também vivenciassemuma experiência respeitosa e empoderada”,Ludmila Cavalcante decidiu tornar-se doulahá pouco mais de três anos. “Tive um partoque respeitou meu tempo e o da minha filha.Uma experiência transformadora”, lembra.De acordo com ela, “o papel da doula diferemuito, de acordo com a experiência que cadamulher quer ter do seu parto”.

Mães, especialistas e legisladores debatem vantagens donascimento normal no País que é líder mundial em cesarianas

Retorno às origens

Gabriela Bezerra

Rafaela Mota precisou enfrentar julgamentos e p

05Setembro de 2016

Reconhecendo a importância dessas pro-fissionais, a Assembleia Legislativa aprovou,em agosto, a Lei nº 15.880/2016, que garanteo direito à presença de doulas nos hospitaisdas redes pública e privada. A norma é deiniciativa do deputado Zé Maurício (PP), quetambém propôs a criação do Dia Estadual daDoula (18 de dezembro), oficializado pela Leinº 15.881/2016.LEGISLAÇÃO

Em junho deste ano, a Comissão de Cida-dania da Alepe debateu duas propostas que vi-sam disciplinar o parto humanizado. De au-toria do deputado Odacy Amorim (PT), o Pro-jeto de Lei nº 411/2015 estabelece regras paraa realização do procedimento fora do ambientehospitalar. Já o PL nº 622/2015, de iniciativa

da deputada Raquel Lyra (PSDB), tem o ob-jetivo de assegurar o direito ao parto hu-manizado nos estabelecimentos públicos desaúde do Estado.

Na ocasião, participantes da audiênciapública teceram críticas às matérias, queainda tramitarão pelas comissões da Casa.Representante do Comitê de Estudos deMortalidade Materna e do Fórum das Mu-lheres de Pernambuco, Gigi Bandler acreditaque as propostas precisam focar mais nasnecessidades da gestante, evitando repro-duzir um modelo centrado no médico. JáDaniella Gayoso, coordenadora do InstitutoNômades, pede mais escuta da sociedade,especialmente dos movimentos que repre-sentam as mulheres.

ROBERTO SOARES

Laura Melo optou por parto domiciliar no nascimento do caçula, Ita

FOTO: ESTÚDIOMATERNE/CORTESIA

Situações como a medicalização sem o con-sentimento da parturiente, a patologização deprocessos naturais e, até mesmo, o desencora-jamento do parto normal - ainda que seja um de-sejo da grávida - caracterizam o que se con-vencionou chamar de violência obstétrica, que nãoestá restrita à cesariana (ver infográfico). Flor-rie Fernandes resume o sentimento de quempassou por essa experiência: “Não foi a minhaescolha, nem aquilo que combinei com o médico.”

“Optei pelo parto normal nas duas ocasiões.Na primeira, o anestesista não atendeu aotelefone. Quatro anos depois, o processo foiainda mais agressivo, com a administração daocitocina, que, a princípio, eu não queria, poisprovoca uma dor terrível”, lamenta. Para Florrie,“embora alguns obstetras se proponham a adotaro procedimento não cirúrgico, muitos queremfazer um pseudoparto normal”.

A doula Pollyana Mendes chama atenção parao famoso “depois falamos sobre isso”, dito poralguns médicos quando as pacientes mencionamo desejo do parto normal. “A violência obstétricanão é só física, mas também psicológica e secaracteriza, inclusive, pela negligência de infor-mações durante o pré-natal”, alerta.

Também doula, Mariana Bahia critica o fatode não existir no Brasil uma legislação quetipifique a violência obstétrica como crime. “Issodificulta a proteção da mulher contra essa prática,naturalizada e cultural no nosso País”, acredita.A Argentina, por exemplo, já criminaliza aquestão. Regulamentada em 2015 pela entãopresidente Cristina Kirchner, a Lei n° 25.929/2004 elenca os direitos da mãe, do recém-nascidoe dos pais.

De acordo com a pesquisa “Mulheres Bra-sileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado”,divulgada pela Fundação Perseu Abramo em2010, uma em cada quatro mulheres brasileirasdeclarara ter sofrido algum tipo de violênciadurante o parto, como exame de toque doloroso,gritos e até assédio sexual. Daniella Gayoso, doInstituto Nômades, avalia que “a maioria dasmulheres é vítima de violência obstétrica e nemsequer se dá conta disso”.

A presidente da Sogope, Maria Luiza Menezes,pede ponderação ao tratar do tema. “Não sepode culpabilizar uma classe inteira. É precisotambém deixar claro que essa violência não é umaprática própria do obstetra, podendo ser pro-movida pela recepcionista do hospital, porexemplo”, acrescenta.

(Leia mais na página 6)

COMO DENUNCIAR:

Em casos de violência ocorridos tanto na redepública de saúde quanto em instituições privadas,a Defensoria Pública pode ser acionada. Outrocaminho são as centrais de atendimento doGoverno Federal, como o Disque Saúde (136) e aCentral de Violência contra a Mulher (180).

Agressões ao corpo

e à autonomia

da mulher

preconceitos ao optar pelo parto humanizado de Nina

06 Setembro de 2016

Comumente lembrado por seusbenefícios à saúde, à educaçãodos jovens e à inclusão social,

o esporte é também cenário paraa violência. No futebol, a mais po-pular das modalidades, proferirofensas a atletas, árbitros e torce-dores rivais virou rotina, e mesmoum ritual, para quem acompanhaos jogos. Um tipo específico dehostilidade, no entanto, tem des-pertado a atenção de dirigentes,da imprensa, de ativistas e do Po-der Público: o racismo.

Relatório mais recente divulgadopela entidade “Observatório daDiscriminação Racial no Futebol”contabilizou, apenas em 2015, 24supostos casos de racismo durantepartidas profissionais no Brasil. Odocumento cataloga episódios tantonas arenas construídas para a Copado Mundo quanto em jogos decampeonatos regionais. No últimomês de fevereiro, Pernambuco tam-bém registrou esse tipo de manifes-tação, quando um torcedor do Náu-tico foi filmado imitando um macaco,voltado para a torcida do Sport,durante clássico válido pelo torneioestadual.

Na esteira das ocorrências,iniciativas têm surgido para desen-corajar a prática – considerada crimepela legislação brasileira. Desde julho,os responsáveis por estádios defutebol em Pernambuco são obriga-

dos a afixar placas em locais de fácilvisibilidade com os dizeres “Diganão ao racismo”, por força da Leinº 15.776/2016. A norma foi aprovadapela Assembleia Legislativa em abril,por proposta do deputado BispoOssesio Silva (PRB).

“Casos de racismo não condizemcom a grandiosidade dos clubespernambucanos”, considera o par-lamentar, que apresentou o projetoem reação ao acontecido na partidaentre Náutico e Sport. “Essa matériatem por objetivo conscientizar apopulação de que racismo é algo ne-fasto. Acreditamos que a mensagemirá intimidar os torcedores a incorrerem tal prática”, afirma.

A Arena de Pernambuco, quesedia jogos dos três grandes clubesdo Estado, informou, por meio daassessoria de imprensa, que jácumpre a exigência em jogos doCampeonato Brasileiro, com adisposição de placas no gramado ena entrada principal, e com a exibiçãoda mensagem nos telões durante osintervalos das partidas. A direção doSport, responsável pela Ilha doRetiro, informou, em nota, que “estáse adaptando à lei, com a expectativade que as placas estejam instaladasem breve”. Procurada, a assessoriado Santa Cruz, que gere o Estádiodo Arruda, não emitiu resposta.CONTEXTO

Para o sociólogo Túlio Velho Bar-reto, da Fundação Joaquim Nabuco,o problema não nasce nos campos defutebol, mas na sociedade. O discursoracista, segundo ele, apenas rever-

bera nas arquibancadas. “O futebolnão está isolado do contexto. Comotemos uma sociedade bastanteracista, os atos dessa natureza são,muitas vezes, naturalizados”, expli-ca, lembrando que boa parte dosjogadores profissionais são negros,de origem pobre, que encontram noesporte oportunidade de ascensãoeconômica, mas que, ainda assim,não ficam livres da discriminação.

Barreto observa que os estádiostambém são palco para manifestaçõesmisóginas, homofóbicas e para “atosde natureza preconceituosa contraoutros vários segmentos”, o que justi-ficaria campanhas de conscientizaçãomais abrangentes. O pesquisadoracredita que a solução passa pelaeducação e pela repressão às práticasinjuriosas. “As manifestações crimi-nosas costumam acontecer na cole-tividade, não têm rosto. No entanto,sendo possível a identificação, a pu-nição deve prevalecer”, defende.

O presidente em exercício doNáutico, Ivan Brondi, explica queo clube, apesar de não realizar açõesespecíficas, “é contra qualquer tipode discriminação e mantém posi-cionamento de repúdio ao racis-mo”. Já o dirigente do Sport, JoãoMartorelli, afirma que o time pro-move campanhas em favor do res-peito entre as torcidas, “buscandoa construção de uma sociedade fun-damentada nos princípios da igual-dade”. A Federação Pernambucanade Futebol e o Santa Cruz tambémforam contatados, mas não se pro-nunciaram sobre o assunto.

Luciano Galvão Filho

Estádios devem exibirmensagem contra o racismoNorma aprovada pela Alepe visa coibir atocriminoso no ambiente esportivo

Manifestações preconceituosas de torcedores motivaram lei que prevê divulgação da frase “Diga não ao racismo”

FOTO: WILLIAMS AGUIAR/ARQUIVO ALEPE

No início da gravidez, o parto normal é desejado porquase 70% das brasileiras. Exposto no estudo “Nascer noBrasil”, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)em 2014, esse dado contrasta com o alerta feito pela Or-ganização Mundial de Saúde (OMS), no ano passado, aoapontar o Brasil como líder na realização de partos porcesárea no mundo. Atingindo uma média de 52% no País,a cesariana chega ao percentual de 88% do total de partosna rede privada e a 46% no setor público, aponta a pesquisa.Desde os anos 1980, a OMS recomenda que os índices fi-quem entre 10% e 15%.

Diante do que se considerou, em 2015, como “cultura dacesariana”, a OMS restringiu ainda mais o procedimento.“Quando realizadas por motivos médicos, as cesáreas podemefetivamente reduzir as mortalidades e as morbidades maternae perinatal. Porém, não existem evidências de que fazer oprocedimento em mulheres ou bebês que não necessitemdessa cirurgia traga benefícios”, explicita o texto.

“Precisamos lembrar que a cesariana é um procedimentocirúrgico de grande porte e, como tal, deve ser realizadoapenas em casos específicos”, defende o ginecologista eobstetra Thiago Saraiva. Ele também observa que “esse tipode parto aumenta em 120 vezes o risco de o bebê ter des-conforto respiratório e em cinco vezes o risco para a mãe”.

Presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetrasde Pernambuco (Sogope), a ginecologista e obstetra MariaLuiza Menezes registra a importância da cesariana para osalvamento de vidas e pondera que “a taxa preconizada pelaOMS é baixa, diante da situação de risco enfrentada”. “Nin-guém vai defender as taxas que se têm hoje na rede privada,mas acredito que vamos caminhar para o patamar que temosno serviço público”, declarou.

Com o objetivo de reduzir riscos para mãe e bebê, oConselho Federal de Medicina (CFM) editou, em junho, aResolução n° 2144/2016, que determina a realização dacesariana, a pedido da gestante, somente a partir da 39ªsemana. A decisão deverá, inclusive, ser registrada em termode consentimento livre e esclarecido. O documento se baseiana constatação de recorrentes problemas em bebês nascidosantes desse prazo.

O estudo da Fiocruz também alerta: “Embora não sejamconsiderados prematuros, são bebês que poderiam ganharmais peso e maturidade se tivessem a chance de chegar a39 semanas ou mais de gestação. A epidemia de nascidos com37 ou 38 semanas no Brasil é, em parte, explicada pelonúmero elevado de cesarianas agendadas antes do início dotrabalho de parto, especialmente no setor privado”.

Especialistas alertam

para riscos da chamada

“cultura da cesariana”

Tornar a legislação estadualmais acessível e sistematizada.Esse é o propósito da ferra-

menta “Municípios pernambucanos:Leis do Estado de 1979 a 2016 comaspectos históricos sociais”, lançadaem agosto pela Assembleia Legis-lativa de Pernambuco. O instrumentode busca, disponível no site da ins-tituição (www.alepe.pe.gov.br),permite que o internauta localize asnormas estaduais - de forma cate-gorizada - por município de inte-resse. O material apresenta, ainda,fotos, mapas e o perfil das 184 ci-dades pernambucanas e do Distritode Fernando de Noronha, com infor-mações sobre aspectos sociais, geo-gráficos e históricos.

A chefe do Departamento de Le-gislação Estadual, Erotides Bandeirade Arruda, explica que o dispositivoé um subproduto do Alepe Legis,banco de dados criado pela Casaem 2012 e que permite ao cidadãopesquisar todas as leis pernambu-canas promulgadas desde 1985,bem como suas atualizações. A bus-ca já podia ser feita por número,tipo, ano, palavra-chave ou assun-to. Agora, com a nova ferramentacriada pela equipe, a pesquisa pormunicípio ficará mais fácil.

“Essa é a primeira coletâneatemática que pensamos em pro-duzir a partir da enorme gama deinformações disponibilizadas peloAlepe Legis. Nosso objetivo é pro-cessar os dados e levá-los aos maisremotos lugares, auxiliando naformação de um Estado mais de-mocrático e com maior conhe-cimento de sua realidade na árealegislativa”, sintetiza Erotides, queespera que o sistema incentive osmunicípios a também organizar alegislação de âmbito local. “Pro-fissionais de diferentes setores da

Casa se reuniram por um objetivomaravilhoso, que é facilitar oacesso à informação”, comple-menta.

Para Luciano Torres, presidente daAssociação Municipalista de Per-nambuco (Amupe) e prefeito deIngazeira, no Sertão do Pajeú, “aferramenta apresenta-se como umareferência quanto à funcionalidade,acessibilidade e quantidade deinformações”. “Os dados dispo-nibilizados são importantes instru-mentos de planejamento das açõesmunicipais em todas as áreas e

auxiliarão gestores e demais pro-fissionais que atuam na causa mu-nicipalista”, avalia.

Além do Departamento de Le-gislação Estadual - vinculado à Se-cretaria Geral da Mesa Diretora -,participaram do projeto a Procu-radoria de Sistematização da Le-gislação Estadual, ligada à Procu-radoria Geral da Alepe; e o Depar-tamento de Sistemas de Legislaçãoe Internet, que integra a Superin-tendência de Tecnologia da Infor-mação da Casa. O trabalho contou,ainda, com a cooperação da Agência

Estadual de Planejamento e Pes-quisas de Pernambuco (Conde-pe/Fidem), que forneceu mapas einformações da Base de Dados doEstado (BDE).CIDADANIA

Denilson Marques, sociólogo ecoordenador do mestrado em GestãoPública da Universidade Federal dePernambuco (UFPE), observa uminteresse crescente da sociedadebrasileira com relação a dados pú-blicos. “Os movimentos de rua,retomados em 2013, criaram umambiente de maior participação noPaís. As pessoas, em especial osjovens, vêm demonstrando maiordisposição em saber como os go-vernos atuam e, ainda, como asdecisões dos gestores impactam suasvidas”, analisa.

Para ele, os órgãos públicos têmavançado na questão da transpa-rência, tanto em virtude das obri-gações legais quanto em razão dascobranças sociais. No entanto, Mar-ques acredita que é preciso ir alémda disponibilização de informaçõesbrutas. Por isso, ferramentas queprocessem e simplifiquem os dadospara o cidadão são essenciais. “Éimportante que o Poder Público in-vista em educação jurídica. Assim,as pessoas conseguirão se habituarcom a linguagem legal e atingiruma consciência cívica presente nasdemocracias maduras.”

07Setembro de 2016

Alepe lança ferramenta que organiza normas estaduais e reúne informações histórico-geográficas de todo o Estado

Ivanna de Castro

Acesso facilitado a leis e dados dos municípios

Grupo de trabalho intersetorial se dedica à coletânea temática de leis desde agosto de 2015

LEGISLAÇÃO

HENRIQUE GENECY

Petição revela luta por direitos da pessoa com deficiência em 1875

CONTEXTUALIZAÇÃO

HISTÓRICA

O documento citado podeser consultado no ArquivoGeral da Alepe, custodiadopela Superintendência dePreservação doPatrimônio Histórico doLegislativo.

CONTEXTUALIZAÇÃO

HISTÓRICA –Superintendência dePreservação doPatrimônio Histórico doLegislativo. Instruções. 4ªSeção Palácio daPresidência dePernambuco, em 27 defevereiro de 1883. Acervodo Arquivo Geral daAssembleia Legislativa doEstado de Pernambuco.

Em 10 de março de 1875, Antônio Pereira daRocha, morador da Vila de Sirinhaém, na Mata Sul,solicitou à Assembleia Legislativa de Pernambucoque admitisse no Grupo Provincial o filho dele,Rodolfo da Rocha. Aos 12 anos de idade, a criança foivítima de um acidente que lhe causou uma deficiênciafísica irrecuperável em um dos membros superiores.

Na época, petições de famílias em busca deeducação adequada para os filhos eram frequentesno Poder Legislativo. Porém, no caso de Rodolfo, ademanda era justificada pelo pai não por “benevo-lência”, mas para que, “com o auxílio da Pátria”, afamília pudesse “prestar-lhe mais um cidadão aptopara o seu serviço”.

Apesar de contar com instituições dedicadas apessoas com deficiência desde o século XIX - aexemplo dos Institutos dos Meninos Cegos e dos

Surdos Mudos, ambos no Rio de Janeiro -, o aten-dimento educacional especializado tornou-se rea-lidade no Brasil apenas recentemente. A questão foidefinida, primeiramente, na Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional (LDB) de 1961, que apontavao direito dos então chamados de “excepcionais” àeducação, preferencialmente dentro do sistema geralde ensino.

Já a versão atual da LDB (Lei Federal nº 9.394/1996) define como educação especial aquela oferecida“para educandos com deficiência, transtornos globaisdo desenvolvimento e altas habilidades ou super-dotação”. A norma prevê, entre outras determinações,currículos, métodos, técnicas, recursos educativos eorganização específicos, além de professores comespecialização adequada e oferta de educação especialpara o trabalho.

Dos 462 atletas brasileiros queparticiparam dos Jogos Olím-picos do Rio de Janeiro, 16

eram pernambucanos - a maior re-presentação que o Estado já teve nes-se evento esportivo. O grupo não che-gou a subir ao pódio na edição quemarcou a melhor campanha do Brasilna história das Olimpíadas, com 19medalhas, sete delas de ouro. Noentanto, a exposição obtida por essescompetidores nas 11 modalidadesdisputadas pode significar outravitória: a criação de uma cultura es-portiva mais diversa em Pernambuco.

Dentre as 13 mulheres e os trêshomens que representaram o Estado,

vários protagonizaram histórias mar-cantes. Na abertura, a sertaneja YaneMarques, única latino-americana de-tentora de medalha olímpica no pen-tatlo moderno, carregou a bandeira àfrente da delegação brasileira.

As defesas de pênaltis da goleiraBárbara Micheline garantiram a vitóriado time feminino de futebol nasquartas de final. Érica Sena conquistouum inédito sétimo lugar para o Brasilna prova de 20 km da marcha atléti-ca, enquanto Wagner Domingoscolocou o País na final da disputa do

lançamento de martelo. Na natação,Etiene Medeiros foi à final dos 50mde nado livre e, aos 29 anos, a na-dadora Joanna Maranhão chegou àsua quarta Olimpíada, nadando doissegundos abaixo do tempo que fezem Atenas 2004.

O secretário estadual de Turismo,Esporte e Lazer, Felipe Carreras, con-sidera positiva a campanha. “Tantoos mais jovens quanto os mais expe-rientes colocaram o nome do Estadoem alta e nos presentearam comexemplos de espírito olímpico, res-peito e disciplina”, avalia. “Temosque analisar os resultados de acordocom o contexto. As conquistas deÉrica Sena e de Wagner Domingos,por exemplo, podem ser consideradashistóricas por seu ineditismo.”

A marchadora Érica Sena chamaatenção para a necessidade de se va-

lorizar os atletas indepen-dentemente do resultado.

“Na minha primeiradisputa internacio-

nal, em 2010, fiqueiem último lugar.Seis anos depois,melhorei meutempo em maisde 15 minutos eme tornei re-cordista sul-

americana”, contaa esportista, que

descobriu a moda-lidade na escola em que

estudava no município deCamaragibe, na Região Metro-

politana do Recife, aos 11 anos. “Queromelhorar ainda mais e chegar aosJogos de Tóquio em 2020”, planeja.

Érica é uma das sete atletas per-nambucanas beneficiadas atualmentepelo Programa Time PE, destinadoaos destaques esportivos do Estado.Yane Marques, Etiene Medeiros eJoanna Maranhão são outros nomesque recebem o apoio, assim comoTeliana Pereira (tênis), Felipe Nas-cimento (pentatlo moderno) e CisianeDutra (marcha atlética), também par-ticipantes da Rio 2016. Entre os atletasparalímpicos, estão Jenifer Martinse Ana Cláudia Silva, do paratletismo,e Raimundo Nonato, do futebol de 5.

No Time PE, os atletas são con-templados com um auxílio mensalde R$ 2,5 mil, enquanto os técnicos

recebemR$ 1 mil,além de contaremcom o custeio de passagens paraeventos nacionais e internacionais.Muitos competidores também sãovinculados às Forças Armadas e aprogramas federais de auxílio aos es-portistas, como o Bolsa Atleta e oBolsa Pódio. Esse último, destinadoàqueles com chances de medalhas,oferece benefícios de até R$ 15 mil.

Pernambuco também tem umprograma denominado Bolsa Atleta,direcionado a esportistas de alto nível.Mais ampla que o Time PE, a açãocontempla 313 competidores de di-versas modalidades, do nível estu-dantil (com bolsas de R$ 500) ao pa-tamar olímpico (R$ 2,5 mil).

Para o presidente da Comissão deEsporte e Lazer da Alepe, deputadoBeto Accioly (PSL), programas de in-centivo são fundamentais. “Projetosnas escolas fortalecem o aprendizadoe dão perspectiva aos nossos jovens”,acredita.

O parlamentar cita outras açõesdo Governo estadual nesse sentido: oprojeto Quadra Viva, de reestrutu-ração dos ginásios poliesportivos dasinstituições de ensino; e o Ganhe oMundo Esportivo, que possibilitaintercâmbio internacional de treina-mentos a alunos da rede estadual.“Assim, estudantes pernambucanospodem ter contato com centros dereferência esportiva de diferenteslugares do mundo”, avalia.VISIBILIDADE

O futebol feminino brasileiroterminou a competição em quartolugar e, embora não tenha sido omelhor resultado da seleção em Olim-

píadas, a audiênciadas partidas chegou

a superar a do timemasculino no início do

torneio. “A gente luta poruma visibilidade maior há

muitos anos. A Copa do Brasilfeminina ainda não tem transmis-são pela TV, por exemplo”, comentaa goleira Bárbara, que foi revelada noSport Clube do Recife. Ela tambémenfrenta a incerteza sobre o vínculocom a Confederação Brasileira de Fu-tebol (CBF), que, em vez de fazer con-vocações, montou um time perma-nente para a Copa do Mundo de 2015e para a Olimpíada de 2016. “Será di-fícil para jogadoras como eu, que es-tão sem clube.”

Apesar das ponderações, Bárbaratira uma lição da Rio 2016. “Essacampanha mostrou uma quebra im-portante do preconceito sobre o fu-tebol feminino, que me afetou muitono começo da carreira”, acredita. Elaaponta caminhos: “os grande clubesdeveriam ser obrigados a ter timesfemininos, e punidos se não o fizes-sem. Dessa forma, a gente seria maisrespeitada.”

A trajetória de Yane Marquesé outro exemplo de enrique-cimento da cultura es-portiva nos últimosanos. A medalha debronze conquistadapela pentatleta naOlimpíada deLondres, em2012, fez com quemuitos brasileiros

conhecessem a modalidade. “Minhacarreira tomou uma proporção muitomaior do que eu poderia imaginar.Comecei por acaso”, lembra a per-nambucana, que ficou na 23ª colo-cação na Rio 2016.

Natural de Afogados da Ingazeira,Yane foi descoberta em 2003 no biatlo(corrida e natação) e depois chegouao pentatlo moderno, modalidade quereúne os atributos ideais de umsoldado do início do século XX, comcompetições de esgrima, natação,hipismo, tiro e corrida. “Minha equipetécnica de pentatlo sempre foi militar.Ao entrar para o Exército, em 2009,a única mudança foi que passei avestir o mesmo uniforme que os meustreinadores”, conta, referindo-se aoPrograma de Atletas de Alto Rendi-mento, criado em 2008 por meio deuma parceria entre os ministérios daDefesa e do Esporte. Aos 32 anos,Yane diz que ainda vai competir em2017 e, então, pensar em chegar auma quarta Olimpíada.

Para a veterana, a importância dotrabalho de base vai além da formaçãode novos atletas. “Levar diferentesmodalidades para crianças e adoles-centes é também uma ferramenta deeducação e de criação de oportunida-des”, ressalta. Atualmente, Pernam-buco, São Paulo e Rio de Janeiro sãoos únicos estados do País a contarcom o projeto de revelação de novostalentos da Confederação Brasileirade Pentatlo Moderno, o PentaJovem.“Com esse trabalho, nosso Estadotem hoje os três primeiros lugaresdo ranking brasileiro feminino da

modalidade”, come-mora Yane.

08 Setembro de 2016

Trajetórias de atletas pernambucanos na Rio 2016 revelam importânciade políticas públicas que fomentem esportes menos populares

Edson Alves Jr.

Diversificar para conquistarOLIMPÍADA

Pentatleta Yane

Marques foi

porta-bandeira

do Brasil na

cerimônia de

abertura

Érica Sena obteve

inédito sétimo lugar

na marcha atlética

Para

Bárbara,

Rio 2016 quebrou

preconceito sobre

futebol feminino

FOTO: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO

FOTO: WAGNER CARMO/

CBAT/DIVULGAÇÃO

FOTO: ROVENA ROSAAGÊNCIA BRASIL/DIVULGAÇÃO