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1 Trabalhadores do teatro musicado no Rio de Janeiro e Buenos Aires dos anos 1920 Tiago de Melo Gomes UFRPE Carolina González Velasco UBA/UNAJ Introdução Nos anos 1920, tanto no Rio de Janeiro como em Buenos Aires havia uma ampla oferta de espetáculos, composta por cinemas, teatros de gêneros populares 1 , locais com música (cabarés, etc.), entre outros. Esse mundo do espetáculo, tanto para o caso portenho como para o carioca, crescia e se diversificava no ritmo dos processos sociais e culturais que convertiam ambas as metrópoles em cidades modernas. 1 Utilizamos o termo “popular” para o nosso objeto de estudo levando em conta as condições e características de seu funcionamento, e principalmente o fato de ser destinado ao grande público, com entradas de baixo custo, acessível para muitos e variados grupos sociais. Um balanço da discussão sobre o termo está em MARTIN-BARBERO (2001). Para a relação entre cultura popular, cultura de massas e espetáculos teatrais ver GOMES (2004).

Trabalhadores do teatro musicado no Rio de Janeiro e ... · “nosso teatro vai muito mal”.4 De ... primeiro exercício de análise a partir de um problema ... progresso alcançado

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1

Trabalhadores do teatro musicado no Rio de Janeiro e

Buenos Aires dos anos 1920

Tiago de Melo Gomes

UFRPE

Carolina González Velasco

UBA/UNAJ

Introdução

Nos anos 1920, tanto no Rio de Janeiro como em Buenos

Aires havia uma ampla oferta de espetáculos, composta por

cinemas, teatros de gêneros populares1, locais com música

(cabarés, etc.), entre outros. Esse mundo do espetáculo, tanto

para o caso portenho como para o carioca, crescia e se

diversificava no ritmo dos processos sociais e culturais que

convertiam ambas as metrópoles em cidades modernas.

1 Utilizamos o termo “popular” para o nosso objeto de estudo levando em

conta as condições e características de seu funcionamento, e principalmente o

fato de ser destinado ao grande público, com entradas de baixo custo,

acessível para muitos e variados grupos sociais. Um balanço da discussão

sobre o termo está em MARTIN-BARBERO (2001). Para a relação entre

cultura popular, cultura de massas e espetáculos teatrais ver GOMES (2004).

2

De certo modo, o fenômeno era uma novidade. Já era

antiga a existência de companhias de comédia e drama, mas

naquele momento as transformações sociais e culturais de ambas

as capitais davam origem a uma cultura de massas, na qual

surgiam espetáculos dirigidos a um público cada vez mais

amplo. Na Argentina, esse tipo de teatro ficou associado ao que

se conhecia como “género chico”, e a partir de meados dos anos

1920 também ao teatro de revista.2 No Brasil, o termo mais

conhecido para se referir a esses espetáculos era “teatro ligeiro”,

no qual, assim como em Buenos Aires, incluía diversos gêneros,

dentre os quais se sobressaía o teatro de revista3. De toda forma,

cada denominação buscava dar conta de uma realidade similar: a

existência de formas de entretenimento que buscavam divertir o

2 Nos referimos a “género chico” no mesmo sentido utilizado pelas fontes

(incluindo os próprios artistas), ou seja, um rótulo que englobava diversos

gêneros ligeiros, com temáticas urbanas e cotidianas, representadas nos

teatros por sessões com entradas a preços acessíveis para um grande público.

Em linhas gerais, se contrapunha ao chamado “género grande”, constituído

principalmente por peças do repertorio universal, geralmente mais extenso e

representado em poucos teatros. Sobre a discussão do conceito: Ordaz

(1999), Pelletieri (2000), Marco (1974). O teatro de revista portenho era

baseado no modelo francês, centrado em um tema ou acontecimento

contemporâneo, a partir do qual se desenvolviam diversos quadros que

combinavam dança, música e diálogos (Pujol, 1994). No Brasil o termo

equivalente era “teatro ligeiro”, mas nos centraremos no teatro de revista por

ser claramente a modalidade mais popular do estilo por aqui, enquanto na

Argentina havia diversos gêneros ligeiros que competiam em pé de igualdade

pela popularidade.

3 Assim como na Argentina, no Brasil os críticos e historiadores do teatro

tendem a lamentar a preferência do público por esses gêneros, enquanto o

que era considerado “bom teatro” não obtinha popularidade vagamente

equivalente (Gomes 2004)

3

grande público, sem dar muita atenção aos critérios de validação

utilizados pela crítica.

Em seus respectivos contextos, tanto o chamado género

chico portenho como o teatro de revista carioca ocuparam um

lugar muito destacado, tanto por suas dimensões materiais como

pelo lugar simbólico que ocupavam nas preferências do público.

Em Buenos Aires, que nos anos 1920 tinha cerca de 2,5 milhões

de habitantes, se vendia anualmente uma média de 8 milhões de

ingressos teatrais. No Rio de Janeiro, que tinha por volta de 1,5

milhão de pessoas, ainda que não haja estatísticas precisas, é

certo que a venda de ingressos também estava na casa dos

milhões. Ambos os gêneros também possuíam lugar de destaque

nas publicações voltadas para o mundo do entretenimento.

Em que pese a densidade desse mundo teatral, nem para

os estudos teatrais nem para a historiografia o teatro musicado

ligeiro tem se constituído como um tema que tenha merecido

muita atenção. Para os estudos teatrais, tanto o género chico

como o teatro de revista têm sido considerados um teatro menor,

avaliação basicamente centrada na qualidade das peças. Em

geral se dizia serem obras escritas para fins meramente

comerciais, sem preocupações estéticas, muito semelhantes

entre si, repetindo modelos e situações em busca apenas do riso

fácil e do lucro. Em ambos os contextos e com argumentos

4

semelhantes, os estudos sobre dramaturgia têm retratado o

período como sendo de decadência do teatro.

No caso argentino, esse olhar pessimista se evidenciava

nas opiniões de um crítico do diário La Nación, em 1925: “Se

fala de decadência. Não. A decadência se manifesta onde houve

auge e plenitude. Mas nosso teatro se encontra muito longe de

sua maturidade”. Outro crítico do período argumentava que

“nosso teatro vai muito mal”.4 De um ponto de vista

historiográfico, a extensa obra de Luís Ordaz – um dos mais

importantes historiadores do teatro argentino – também analisa o

teatro do período a partir de uma perspectiva sombria: “a grande

quantidade de peças escritas era correspondente à capacidade de

nossos autores para criar um teatro com firmes ressonâncias

populares”. (ORDAZ, 1999:204) Para Ordaz, o problema estava

na exigência de um meio dominado por empresários ávidos por

lucro, que esperavam que os autores escrevessem peças com

determinadas características. Os autores respondiam a essa

demanda e sacrificavam – com poucas exceções – qualquer

perspectiva de se elevar sobre seu contexto. Ainda que estudos

posteriores tenham oferecido novas perspectivas de análise, a

ênfase no caráter comercial desse teatro segue sendo dominante.

(PELLETIERI, 2000)

4 Citações retiradas da enquete realizada pelo Anuario Teatral Argentino

1925, sobre a situação do teatro nacional p 185

5

Nesse ponto, há pouca diferença no cenário brasileiro em

relação ao argentino. Também por aqui os críticos e

historiadores do teatro tendem a ver o teatro ligeiro carioca das

primeiras décadas do século XX como esteticamente

desagradável, descolado das “boas” tradições teatrais, e que

devia seu sucesso ao gosto pouco refinado das plateias:5:

De um modo geral, este era o panorama do teatro brasileiro na

década de 1920/1930, com a comédia de costumes, dominando a

cena brasileira, tornando-a retrógrada e estagnada, alienada do

que acontecia não só na Europa como a seu próprio redor. E no

período entre guerras continuaria insensível a movimentos como

surrealismo e expressionismo, às transformações sociais na

Europa, mantendo-se como sempre fora: doméstica, ingênua,

afável, pitoresca, despretensiosa, superficial, mais urbana que

rural, mais suburbana que urbana (MENDES, 1993:21-22).

No campo dos estudos de história social e cultural, a

temática tampouco tem sido estudada com frequência. Fala-se

do teatro de revista carioca ou do género chico portenho como

parte das transformações sociais e culturais que as cidades

viveram naqueles anos, sem conferir-lhes especificidades em

5 PRADO (1993 e 1995); MAGALDI, (1962); CAFEZEIRO, e GADELHA.

(1996);FARIA (1988);SÜSSEKIND (1992).

6

relação ao processo mais amplo.6 Em ambos os casos, outros

fenômenos daquele contexto têm recebido mais atenção, tais

como tango, samba, imprensa, cinema e rádio.7

A partir desse cenário, é possível colocar algumas

questões vinculadas à situação do teatro e do mundo do

entretenimento em geral e em relação aos processos sociais,

políticos e culturais que atravessavam ambas as capitais. De

fato, o mundo do teatro não girava apenas em torno da qualidade

das peças. A partir de uma perspectiva de história social, há

questões mais importantes, como os integrantes daquele

universo: atores, autores, empresários, críticos, público, etc.

Isso, por sua vez, implica a existência de conflitos, tensões,

construção de identidades e práticas diversas que se definem

basicamente, ainda que não apenas, em relação à atividade

teatral.

Esses pontos de partida são o início de um estudo mais

amplo, em andamento, que busca focalizar de maneira conjunta

ambos os casos (portenho e carioca), em seus distintos

componentes (seus atores sociais, as peças, a relação com a

6 Uma exceção é Pujol, 1999. Sobre o contexto das transformações: Romero,

e Romero, 2000; Gil Lozano et al., 2000; Gorelik, 1998; Korn. e Romero,

2006. Para el caso carioca: SEVCENKO, 1998 VIANNA, 1995.

7 Para um balanço da história do teatro e da historiografia em geral em

relação a esses temas ver González Velasco (2012) e Gomes (2004)

7

organização do mundo do entretenimento e com o mundo da

política, etc.), em suas práticas e suas representações.

Certamente as semelhanças que surgem à primeira vista

podem ser enganosas; grandes cidades latino-americanas, como

Rio de Janeiro e Buenos Aires, tinham muitas experiências em

comum no contexto de modernização que atravessavam. Mas é

igualmente certo que havia diferenças o suficiente para tornar

suas experiências singulares. É nesse sentido que a comparação

abre um novo espaço de análise para entender o que havia de

comum e de específico em cada uma.

Em nosso ponto de vista, o exercício da comparação

possibilita dois tipos de reflexões complementares. De um lado,

ajuda a mostrar que as experiências frequentemente vistas como

únicas, na verdade eram compartilhadas por milhões de pessoas

em muitas partes do mundo. Caso se ampliasse o foco de

análise, incorporando outras capitais no mesmo período,

também encontraríamos nelas formas de teatro popular atreladas

a experiências como modernização urbana, emergência da

cultura de massas, multiplicação de formas teatrais, etc..

(CHARLE, 2008)

Por outro lado, a comparação é a operação que permite

identificar o que é peculiar a cada contexto, para indicar em que

8

sentido o “universal” é específico em cada caso.8 Por essas

razões, retomando uma antiga proposta de Marc Bloch (1963),

apostamos na comparação como um instrumento – nem como

uma teoria, nem como método único – do fazer historiográfico,

cuja utilização, ainda que com seus limites, permite reformular

perguntas e complexificar o olhar sobre cada caso particular.

Comparar temas, problemas ou situações relativamente

equivalentes nos casos de Brasil e Argentina não é uma grande

novidade: diversos estudos realizados por historiadores

brasileiros e argentinos (individual ou conjuntamente) têm

mostrado tanto as semelhanças, divergências e diferenças entre

os casos estudados, como a importância de enfoques que

contemplem a comparação como perspectiva de estudo. Nossa

proposta se insere exatamente nessa linhagem de estudos. 9

A partir dessa perspectiva, este artigo propõe um

primeiro exercício de análise a partir de um problema comum:

as diferentes maneiras em que se estruturaram as relações

sociais do mundo do teatro a partir suas organizações de classe.

O objetivo é focalizar o conjunto dos artistas e suas relações

para mostrar as tensões e sentidos que condicionaram sua

8 Para um balanço sobre a utilização da comparação como operação

historiográfica, ver Devoto. (2004)

9 Para um amplo estudo comparativo de ambos os contextos ver Devoto e

Fausto (2008) Para estudos comparados de história social e cultural ver

Schettini (2012) e Garramuño (2007).

9

definição como tais e/ou como trabalhadores do ramo do

espetáculo, como essas diversas definições deram lugar à

emergência de conflitos e a criação de entidades representativas

que buscavam defender seus interesses, e como a situação

particular de cada cidade condicionou essas definições e o modo

de expressão dos conflitos.

Em todo caso, havia algo particular na situação dos que

trabalhavam no campo artístico. Por um lado, eram

trabalhadores que desenvolviam sua atividade em um mercado

de trabalho que, ainda que com matizes e particularidades

também próprias de cada caso, era regido pelas regras do

capitalismo, e isso indicava uma série de experiências comuns

com outras categorias socioprofissionais, incluindo a

experiência da exploração. Mas ao mesmo tempo eram pessoas

que se supunha que deveriam viver segundo a definição

romântica de “artista”, ou seja, viver pela arte, para além de

preocupações monetárias. A questão é: como esses atores sociais

vivenciaram essa dualidade?

Apresentaremos a seguir os aspectos centrais dos

contextos portenho e carioca em relação ao tema proposto, para

a seguir comparar as duas situações.

10

O mundo do teatro em Buenos Aires10

No começo de 1919, o diário socialista “La Vanguardia”

publicava um balanço sobre a atividade teatral do último ano, e,

depois de distribuir críticas e lamentos pelo que ocorria nos

palcos portenhos, concluía: “quem quisesse conhecer o

progresso alcançado por nosso teatro durante o ano de 1918

deveria recorrer aos números. Eles informariam sobre os

milhões de pesos que o negócio produziu, seja em conjunto, seja

em cada companhia”. 11

Octavio Palazzollo, autor e crítico teatral, era o autor do

texto. Certamente sua opinião era muito semelhante à de outros

críticos e personalidades vinculadas ao mundo teatral portenho

daqueles anos. O argumento central, com o qual todos

concordavam de uma ou outra maneira, era que a dramaturgia

havia se tornado comercial, e por isso o crítico mencionado não

duvidava que isso se devesse ao fato de que “o único impulso

[da última temporada] foi o fator financeiro, que interessa a

empresários e autores órfãos de escrúpulos”.12

10 A pesquisa sobre o mundo do teatro portenho que embasa esta seção se

encontra em González Velasco, 2012.

11 “Nuestro Teatro”, La Vanguardia, 1 de janeiro de 1919.

12 Ibid

11

A posição de Palazzollo, ainda que fundada

essencialmente em suas concepções estéticas sobre como

deveria ser o teatro, encontrava apoio nos números concretos do

movimento teatral. De fato, se seguirmos sua recomendação e

tomarmos em conta os dados estatísticos, o notável crescimento

experimentado pela atividade teatral e dos espetáculos em geral

se refletia no aumento crescente dos lucros gerados para os

empresários. Se ampliarmos os dados, e considerarmos os

números da atividade ao longo de toda a década de 1920, a

afirmação de Palazzollo se torna profética: em todo o período, a

atividade teatral cresceu sem parar, enquanto se multiplicavam

as funções, a quantidade de público e os lucros13. Para 1918, a

estatística municipal registra 71.981 funções, com participação

de 19 milhões de espectadores. Em 1922 já eram mais de 100

mil funções e a assistência já chegava aos 26 milhões de

pessoas. Tais dados não são apenas para os teatros, mas incluem

cinemas, variedades, etc., sem discriminar cada item. Mas

servem para dar uma boa ideia da força do universo da cultura

de massas portenha.

Desde o fim dos anos 1910, na Avenida Corrientes e nas

mansões vizinhas, haviam se multiplicado as salas de teatro, em

13 “Funções”, na linguagem teatral carioca e portenha da época, era o

equivalente a “sessões”. Os gêneros populares nos dois países apresentavam

suas peças várias vezes por dia, e cada apresentação era considerada uma

“função”.

12

conjunto com cafés, restaurantes, cinemas e alguns cabarés.

Toda a região funcionava como uma paisagem urbana associada

ao lazer e à diversão. Os teatros ofereciam diariamente a partir

das 18 horas funções por sessões, em sua maioria representando

peças do “género chico”. Outros teatros apresentavam o gênero

revista e um número menor deles funcionava como teatro de

variedades.14 Essa quantidade de salas (mais de 40 em meados

dos anos 1920) e o funcionamento por sessões, que permitia que

em um mesmo dia se oferecessem duas ou três peças diferentes,

demandava uma grande produção de textos teatrais. Também

eram necessários muitos artistas e técnicos que permitissem o

intenso movimento teatral. As entradas eram vendidas para cada

função, e seus preços eram relativamente baixos. Isso assegurou

que naquele momento a maioria dos teatros funcionasse a pleno

vapor, sobretudo quando conseguiam incluir em seu cardápio

alguns sucessos de bilheteria.

O teatro funcionava, sem dúvida, como um negócio, e

naquele período em particular era um negócio bem sucedido.

Ainda alguns empresários se referissem vez por outra aos riscos

14 Nos anos 1920 se denominavam “teatro de variedades” os espetáculos que

combinavam programas diversos em um mesmo dia: cantores, orquestras,

bailarinos, cômicos que recitavam monólogos ou companhias de teatro

representando obras curtas. O cardápio também poderia incluir números de

circo (malabarismo, palhaços, contorcionistas, ilusionistas). Na verdade, o

teatro de variedades foi o cenário onde se realizaram as primeiras exibições

de cinema. Sosa Cordero (1999) e Pujol (1999)

13

da atividade, e lembrassem a quantidade de empresas dedicadas

ao ramo do espetáculo que haviam falido,15 os números globais

que marcam o ritmo da atividade empresarial se mantiveram

constantes ao menos até os anos 1930. 16

No entanto, essas mesmas dimensões e características

nos contam o outro lado da história. Como já observado, a

quantidade de salas existentes, multiplicada pela quantidade de

funções, pressupõe um grande número de autores escrevendo

um volume impressionante de peças para alimentar todos os

palcos que funcionavam, e, ao mesmo tempo, a existência de um

número elevado de atores, atrizes, coristas, músicos e técnicos

em geral, que deram vida às representações. (SEIBEL, 2002)

Os artistas portenhos

Ao se iniciar cada temporada, os teatros organizavam seu

cardápio a partir da contratação ou organização de uma

companhia. Essas companhias, por sua vez, reuniam um número

variável de artistas, com diferentes funções e salários. Eram

organizações hierárquicas, com papéis designados nas peças que

seriam representadas (primeiro ator, jovem galã, jovem dama,

15 Diario de Sesiones del HCD, abril-maio 1927, p 691.

16 Dados publicados no Boletín del Círculo Argentino de Autores, para os

anos 1920.

14

atores característicos, etc.). Essa organização interna definia o

tipo de contrato e o pagamento oferecido a cada artista.

Apesar de certa rigidez, a companhia também poderia ser

um espaço para projetar uma carreira. Os que iniciavam com

papéis menores poderiam em algum momento conseguir um

espaço mais destacado, seja por seu próprio talento, seja por

lances de sorte, como a ausência repentina de uma primeira

figura em uma estreia. Assim, muitos imaginavam que entrar

para uma companhia era o início de uma carreira que poderia

levar ao estrelato do grupo, ou até empresário da sua própria

trupe, podendo decidir a contratação dos demais artistas,

negociar contratos com os donos de salas, escolher as peças e

ser a primeira figura. Várias histórias de atores e atrizes

pareciam confirmar que essa “carreira aberta ao talento”17 era

possível de ser percorrida.18

Mas a situação profissional da maior parte dos artistas

era instável e precária, muito distante dos sonhos de estrelato.

Seus contratos eram firmados em condições claramente

17 Ainda que Hobsbawm (2000) utilize essa expressão para referir-se a outro

contexto histórico, neste caso serve para mostrar a tensão entre o que parecia

ser um caminho possível a ser percorrido, independente da origem e a partir

dos talentos individuais, e a realidade concreta que demonstrava que nem

todos chegariam ao êxito esperado.

18 Para consultar memórias de artistas, ver, entre outras: García Velloso

(1942); Podestá (1963, 1985)

15

desfavoráveis: eram comuns os acordos por uma única

temporada, tendo o empresário o direito de diminuir o salário

caso as representações não rendessem o esperado e não tendo

nenhuma obrigação na eventualidade de suspensão de uma

temporada. Além disso, os artistas é que tinham a obrigação de

providenciar as roupas a serem utilizadas em cena. (KLEIN,

1998)

Por outro lado, com a crescente demanda do público,

vários donos de teatro decidiram criar uma sessão extra, o

“vermute”, a partir das seis da tarde, antes do início das funções

já tradicionais. Mais funções significavam, entre outras coisas,

mais peças e a mais necessidade de renovação do cardápio,

levando a que muitos empresários decidissem que os ensaios se

realizariam depois da última função (ou seja, à meia noite) ou

antes do início das sessões diurnas. O folclore teatral registra

empresários colando bilhetes nos camarins dizendo “suplicado”,

para pedir aos artistas que ficassem um turno a mais para os

ensaios. Mas nem as funções extras nem os ensaios madrugada

afora implicavam em pagamentos maiores aos artistas, que

seguiam recebendo o estabelecido pelo contrato, ainda que

trabalhassem mais.

Os salários dos artistas variavam muito a depender de

variadas condições. Muitos recebiam 150 pesos mensais,

16

podendo chegar a 180 nas excursões. As coristas recebiam ainda

menos, e as que estavam começando não recebiam nada. Um

galã ou uma primeira atriz poderia chegar a um salário de 800

pesos. Considerando que a renda média uma família operária era

de 200 pesos por uma semana de trabalho de 48 horas, é fácil

perceber que, em termos materiais, a maioria os artistas estavam

em condições muito semelhantes às dos trabalhadores pobres da

cidade.

Do ponto de vista dos empresários, tanto a pressão sobre

as condições de trabalho (o aumento das funções diárias, por

exemplo) como os baixos salários eram maneiras de obter altos

lucros. Para os atores, ambas as questões se converteram em

pontos de partida para a organização de suas reivindicações.

Principalmente quando essas situações contrastavam claramente

com a pujança dos negócios dos empresários.

Como complicador, o final da década de 1910 foi um

contexto de crise, caracterizado por alta nos preços e queda nos

salários, levando à criação de novas organizações de classe que

se somavam às já existentes, que se mobilizavam, promoviam

greves e reivindicavam seus direitos trabalhistas. Segundo

David Rock, durante o primeiro semestre de 1919 foram

registradas 259 greves e mais de 100 mil trabalhadores

17

pertencentes a diversos ofícios participaram das mobilizações.

Já em 1921, ainda que o conflito tenha perdido intensidade, as

greves, mobilizações e protestos sindicais continuaram (ROCK,

1992). Nesse cenário agitado teve início a greve dos artistas de

1919.

A greve dos artistas

Em 1919, os atores protagonizaram uma greve com uma

pauta salarial e trabalhista: o ponto de partida foi exatamente a

fundação de uma entidade sindical, a Asociación de Actores,

cuja primeira ação foi a apresentação de uma lista de

reivindicações a Florencio Parravicini, presidente da Sociedad

de Empresarios. Solicitava-se um aumento de 1% para cada

sessão vermute que a empresa realizasse e 2% para cada função

vespertina fora dos domingos. Pedia-se ainda que os aumentos

beneficiassem todos os integrantes da companhia, que as

reivindicações não ocasionassem demissões e que cada

companhia tivesse um dia dedicado apenas aos ensaios.

Os empresários tentaram negociar, e rapidamente

tentaram acabar com a greve: concederam aumentos para os

menos remunerados, demitiram grevistas e os substituíram por

outros artistas. Em poucas semanas a greve se desarticulou, pois

não conseguiu o efeito desejado: paralisar a atividade teatral

para assim pressionar os empresários. Tampouco conseguiu

18

fundos para sustentar a todos os artistas que estavam em greve

(e, portanto, sem receber salário) ou unir todos os artistas,

independente de sua fama ou status. Assim, a atividade teatral

voltou à Avenida Corrientes, com novos elencos e apenas uma

pequena mudança salarial para as figuras menores das

companhias.

Mas a greve teve uma consequência: a organização e

permanência da já citada Asociación de Actores. A partir do fim

da greve, a associação começou a desenvolver uma atividade

mais estável e sistemática. Por um lado, voltou a negociar com

os empresários várias das reivindicações que não haviam sido

atendidas. Por outro, iniciou uma série de discussões internas em

que se debatia a definição não apenas dos atores, mas da própria

entidade que os reunia: eram artistas ou trabalhadores? A

sociedade deveria ser uma organização sindical ou apenas

mutual?

Nessas definições se cruzavam argumentos políticos e

condições conjunturais. Por um lado, durante a greve diversos

artigos na imprensa, que traziam informações e comentários

sobre o conflito, reclamavam que os artistas não se comportaram

como artistas, e sim como trabalhadores, já que eles pouco

teriam que ver com aqueles que executavam trabalhos manuais.

No jornal Idea Nacional, por exemplo, se podia ler um texto

19

com o título “Pierrot tirou sua fantasia e se abraçou na bandeira

vermelha que lhe cai muito mal”, dando a entender que os atores

estavam se ocupando de algo que pouco tinha a ver com seu

ofício.

Por outro lado, as próprias expectativas dos artistas sobre

o desenrolar de sua carreira condicionavam o perfil que ia

assumindo a associação, e em parte a distanciava de um

posicionamento puramente sindical. Mas também havia o clima

geral de conflito social, empurrando a associação para se

projetar como ferramenta através do qual era possível negociar

melhores condições de salariais e de trabalho frente aos

empresários. Com esses debates presentes, a associação manteve

uma atividade constante a partir de 1919, se definindo como

uma entidade mutualista, mas participando do conflito iniciado

pelos autores em 1921.

A “Federación de Gentes de Teatro”

Os autores contavam com uma entidade representativa

desde 1910, quando haviam conseguido uma lei que assegurava

o pagamento do direito autoral. Nos anos seguintes, a entidade

não teve muita atividade, mas seguiu existindo. Mas em 1918

retomaram a ação mais sistemática, se mantendo como

espectadores da greve dos atores de 1919, mas terminaram por

promover sua própria greve em 1921.

20

Naquele momento, não apenas os autores e atores tinham

suas organizações. Também os músicos, pontos, maquinistas e

ensaiadores tinham as suas. Em 1919 houve uma tentativa de

organizar uma federação, ocorrendo inclusive algumas

mobilizações sob o lema da unidade de todos os setores teatrais.

Terminada a greve, algumas das organizações mantiveram a

atividade, mas a federação ficou apenas como um objetivo para

o futuro.

Em 1921 estourou um novo conflito no mundo teatral,

mas desta vez comandado pela Sociedad de Autores, e com uma

pauta que não necessariamente era definida por salários ou

condições de trabalho. A entidade autoral havia se dividido por

problemas internos, e entre eles estava a intenção de um dos

grupos de formar uma Federación de Gentes de Teatro para

reunir todos os “elementos teatrales” 19, maneira pela qual eram

definidos os que seriam incorporados à federação, inclusive os

empresários.

19 Era frequente nos documentos da época (artigos de jornais e revistas,

publicações ligadas às organizações sindicais) a referência a todos os que

trabalhavam no teatro como “elementos”. Se incluíam no termo artistas,

autores, músicos, maquinistas, ensaiadores, etc. Dada a pretensão de

totalidade da federação, em seus documentos a referência aos “elementos”

aparece frequentemente. “Manifiesto de la Federación”, Boletín de la

Sociedad de Autores, março de 1921.

21

Nos festejos de primeiro de maio de 1921 a federação se

fez presente na cena pública portenha, reivindicando que os

teatros fossem fechados para comemorar o dia do trabalho. Seu

argumento era justamente que todos os artistas eram

trabalhadores. O texto apresentado publicamente nessa ocasião

defendia o trabalho dos autores, que colocavam sua criação “a

serviço de uma nova e melhor humanidade”, dos atores, que

faziam “viver os heróis dessa luta constante da arte em prol do

bem dos homens” e dos maquinistas que colaboram com a

ficção, dos trabalhadores que embelezam o palco, dos

iluminadores, daqueles que abrem a porta do teatro a cada dia

“convidando o povo a descansar uma hora e se esquecer da sua

própria vida”.20

Os empresários cederam e suspenderam as funções do

dia, mas se negaram a aceitar as outras reivindicações, que

incluíam, por exemplo, a obrigação de contratar qualquer

elemento teatral através da federação. Novamente se iniciou

uma greve, que desta vez durou vários meses.

Nessa ocasião, o desenrolar da greve foi singular, pois ao

invés de deixar de trabalhar, a greve implicava basicamente em

20 “Frente al 1 de mayo”, Boletín de la Sociedad de Autores, maio de 1921

22

abandonar as companhias que não reconhecessem a federação e

se incorporar a outra companhia, que a reconhecesse. Ou seja,

para os artistas que entraram em greve, isso significava

continuar trabalhando. Outros artistas preferiram se manter nas

companhias em que estavam, mesmo que ela não se declarasse

parte da federação. Assim, seguiram trabalhando nas condições

anteriores ao início do conflito.

As razões pelas quais os artistas reconheceram ou não a

federação são múltiplas e difíceis de classificar. Dentre os que

participaram havia os que acreditaram na federação como forma

de organização, os que viram uma possibilidade de melhora nas

condições de trabalho e os que não tiveram muita escolha, já que

o resto dos artistas da companhia ingressava no coletivo

federado. Do lado dos que não participaram estavam os que não

acreditavam nas possibilidades concretas da federação, os que

preferiam se manter em suas companhias e manter a pequena

estabilidade que tinham, etc.

Essas diversas reações fizeram com que durante vários

meses o cenário portenho estivesse dividido: alguns teatros

anunciavam suas companhias como pertencentes à federação, e

outros ofereciam espetáculos sem nenhuma referência ao

assunto. A despeito dessas peculiaridades, a programação dos

espetáculos seguiu se desenvolvendo por vários meses. No final

23

de 1921 as companhias federadas começaram a se desmontar e a

federação conheceu o mesmo fim. Os artistas que haviam

participado do conflito se inseriram em outras companhias para

a temporada de 1922. A greve havia terminado.

Associações e Partidos

Ambas as greves foram momentos nos quais a identidade

dos atores do mundo do teatro foi posta em discussão. Por seu

lado, ambos os acontecimentos implicaram a organização e

definição das entidades de classe que agrupavam os artistas e

que se convertiam em representantes e ativistas das

reivindicações. Sobretudo no caso da greve de 1921 ficava

também claro que os artistas, a despeito das suas diferenças de

ofícios, eram parte de uma coletividade mais ampla que

encontrava a sua definição da ideia de federação. A federação

sobreviveu alguns meses durante 1921, mas foi perdendo força à

medida que a greve se debilitava e os “elementos teatrais”

deixavam de responder a ela.

Pouco tempo depois, em 1926, uma nova ideia de família

teatral21 voltou a aparecer no cenário: um partido político

denominado Gente de Teatro. Novamente as identidades teatrais

21 Em toda a documentação da época se fala de “família teatral”, aludindo ao

conjunto de artistas, autores e, no geral, trabalhadores do espetáculo. Para

mais detalhes sobre o uso da categoria ver González Velasco (2012)

24

eram colocadas em discussão. O partido se apresentava como

um grupo classista, no sentido tradicional do termo, que buscava

reunir a todos os participantes do mundo do teatro, independente

do ofício. Ainda que muito desse acontecimento deva ser

analisado à luz das peculiaridades da vida política portenha dos

anos 1920 (DE PRIVITELLIO, 2003), é certo o que partido

buscava recriar a ideia de uma família teatral unida em sem

conflitos internos. O partido conseguiu votos suficientes para

levar sua figura principal, o cômico Florencio Parravicini, à

Câmara de Vereadores.

Ainda que não fosse dito explicitamente, o partido era

sustentado basicamente pelas associações de autores, atores e

empresários. Basta ver os nomes dos candidatos para encontrar

as mesmas pessoas que ocupavam cargos nas direções as

associações citadas. Todavia, os documentos dessas associações

não fazem qualquer referência a essa experiência política.

Seguramente essa tensão entre a política partidária e a definição

de independência política por parte das associações pode ser um

traço característico do mundo associativo, mas o fato sem

dúvidas chama a atenção. Pouco antes de Parravicini assumir, o

partido se dissolveu, mas as associações de classe mantiveram

sua atividade de forma praticamente ininterrupta até a

atualidade.

25

As lutas dos trabalhadores de teatro no Rio de Janeiro

No Brasil, e mais especificamente no Rio de Janeiro, os

trabalhadores do teatro tinham muito com o que se preocupar.

Basicamente havia duas questões muito distintas que eram

motivo de apreensão. A primeira tinha um cunho subjetivo, e

remetia ao fato de que o teatro ligeiro era visto como um

“espaço do vício”, a tal ponto que as atrizes eram consideradas

frequentemente como prostitutas. Para muitos observadores toda

a atmosfera do teatro popular estava inteiramente associada à

pobreza, sujeira e crime. Assim, era frequente que a imprensa se

referisse à atividade teatral (como por exemplo, a Praça

Tiradentes, coração do teatro de revistas carioca) de forma

extremamente crítica e depreciativa. Assim como em Buenos

Aires, para os críticos do teatro de revista carioca, as peças ali

representadas eram todas iguais, repletas de piadas de duplo

sentido, mas que enchiam os teatros graças ao rude gosto da

plebe. O público era composto por famílias portuguesas

enriquecidas recentemente, e, portanto, com muito dinheiro mas

pouca civilidade, funcionários do comércio (outra atividade

associada aos portugueses), estudantes, imigrantes pobres e

“casais suspeitos” (coronéis que sustentam prostitutas, etc.).22

22 “Paginas da Cidade”, Fon-Fon, 11 de octubre 1924.

26

Se o mundo do teatro musical do Rio de Janeiro não era

bem visto por seus observadores, os trabalhadores teatrais

tampouco tinham uma imagem melhor. Uma pequena história

publicada em uma revista ilustrada retratava esse tipo de

percepção. A história, que virtualmente igualava atrizes a

prostitutas, começava dizendo que “A fascinação que as estrelas

do palco exercem sobre os burgueses apatacados e rotundos é

um fenômeno muito vulgar. Parece até que as estrelas nasceram

para explorar estes bípedes e eles para serem explorados por

elas”.23 A historieta tinha como enredo o fato de que uma jovem

atriz conseguia satisfazer seus caprichos com o dinheiro de um

“burguês” que ganhava dinheiro com seu comércio de bacalhau.

“Apatacado”, “rotundo”, “bacalhau”: o burguês que sustentava a

jovem atriz era seguramente um português. A caracterização

remete a associações evidentes: o fã do teatro carioca era o

português enriquecido com muito dinheiro, mas nenhum

refinamento.

Sujeira, pobreza, prostituição, baixa qualidade literária.

Era isso o que muitos viam no teatro de revista carioca. Mas não

todos: na verdade parte significativa da população da cidade

idolatrava o teatro musicado. Pode-se argumentar que muitas

das críticas de intelectuais e jornalistas ao gênero ocorriam

23 “A Estrela Roubada”, Careta, 7 de febrero de 1920.

27

exatamente porque acreditavam que o teatro ligeiro em geral, e o

de revistas em particular, roubavam todo o público que esses

autores julgavam que deveria estar na plateia de “gêneros

superiores”.

Como exemplo, se pode comparar a venda de ingressos

de três teatros da Praça Tiradentes onde se apresentavam

companhias de diferentes gêneros. No dia 8 de maio de 1920,

Itália Fausta, atriz de grande prestígio24, ocupava o Carlos

Gomes com O Mestre das Forjas, a companhia do São José

apresentava a revista O Pé de Anjo e a Companhia de Operetas e

Melodramas representava no São Pedro a opereta Conspiração

do Amor, de Avelino de Andrade, com música de Chiquinha

Gonzaga. Em sua sessão única, Itália Fausta vendeu 471

ingressos, que lhe renderam 1.945 mil. O São Pedro em duas

sessões vendeu 505 ingressos, para uma renda de 1.269 mil. Nas

três sessões do São José foram vendidas 2.860 entradas, que

renderam um total de 4.419,5 mil réis25.

Esses números expressivos se deviam a uma crescente

população ansiosa por diversões, tendo em conta que a cidade

passou de 500 mil habitantes em 1890 para 1,5 milhão em 1920.

Nascia uma crescente indústria do entretenimento. No início dos

24 Em 1919 havia sido eleita a atriz de teatro mais popular do Brasil. Palcos e

Telas, nº 52, 20-3-1919. 25 Arquivos da Empresa Pascoal Segreto, caixa 62.

28

anos 1920 a cidade tinha ao menos 80 cinemas (com capacidade

média para 550 pessoas), 12 teatros (média: 1.500 pessoas), 35

circos (média: 1.700 pessoas) e um número incontável de

cabarés, cafés-cantantes e cafés concertos,26 números que

expressam a força do ramo dos divertimentos. Essa situação

transformou imigrantes pobres, como o português José Loureiro

e o italiano Pascoal Segreto, em empresários muito bem

sucedidos.

Mas havia um grupo de pessoas que via muito poucas

vantagens em todo o processo: os trabalhadores teatrais. Ao

longo da década de 1920 houve diversos conflitos envolvendo a

regulamentação das atividades daqueles que faziam a riqueza

dos empresários do mundo do entretenimento. Afinal, se o teatro

São José dava enormes lucros ao empresário Pascoal Segreto,

seu proprietário, o salário dos trabalhadores eram relativamente

baixos. Em 1920 a atriz Otília Amorim era o maior salário da

companhia, com 900 mil réis, enquanto a maioria dos

trabalhadores do teatro (artistas ou não) ganhava entre 150 e 200

mil mensais, pouco mais que a média dos operários cariocas

(120 a 150 mil).27

26 Ibid

27 Como parâmetro, um quilo de arroz custava algo como 2 mil réis, um quilo

de feijão saía por 600 réis, um litro de leite custava 2 mil réis, enquanto o

aluguel de uma casa em um bairro popular saía por uns 80 mil réis.

29

Como resultado, era frequente que artistas, incluindo os

mais conhecidos, se vissem em dificuldades econômicas. Em

1926 a Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais teve de pagar

o enterro do maestro Paulino Sacramento, da companhia do São

José, pois sua família não tinha meios para tanto.28 Em outra

ocasião se organizou um espetáculo em benefício da família do

autor J. Miranda, que havia ficado em sérias dificuldades após

sua morte.29 Quando, em 1920, faleceu Brandão “o

popularíssimo”, um dos maiores comediantes do teatro ligeiro,

se tornou pública a pobreza em que o ator havia vivido seus

últimos dias.30

Assim, além da preocupação com a imagem negativa que

muitos tinham sobre o mundo do teatro musicado, os

trabalhadores do ramo tinham outro conjunto de preocupações,

de caráter mais objetivo: o fato de enriquecer seus patrões

trabalhando arduamente sem receber a recompensa monetária

que julgavam adequada, além de viver em péssimas condições

de trabalho (virtualmente iguais às dos colegas portenhos,

relatadas anteriormente). Em suma, essas pessoas, vistas como

28 Boletim da SBAT, nº 20, fevereiro de 1926, p. 142.

29 O Rio Musical, 1:10, 29 de julho de 1922.

30 Em Pedaços”, de Salvilius , Revista de Theatro & Sport, nº 375, 14 de

janeiro de 1922.

30

artistas, se descobriam como indivíduos que tinham problemas

muito semelhantes aos dos trabalhadores manuais, até porque

viviam muitas vezes nos mesmos bairros que eles.

Por essa época, um fenômeno demonstrava o

fortalecimento de certa consciência de classe entre os

trabalhadores teatrais: a realização de festivais em benefício de

outras categorias. Nesses dias todos os lucros do teatro eram

destinados a algum órgão representativo de classe (sapateiros,

gráficos, etc.). Naturalmente o expediente era vantajoso para os

empresários, pois os membros da categoria beneficiada

invadiam o teatro. Mas certamente esses eventos propiciaram

contatos importantes entre os trabalhadores do teatro e os

sindicatos da cidade, consolidando a certeza de que era

necessário adotar o caminho da reivindicação.31

Para muitos, a fundação, em 1917, da Sociedade

Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), marca o início da

mobilização dos trabalhadores teatrais.32 Unindo autores de

31 Vale lembrar que se trata de um período de grande mobilização operária,

em uma cidade sacudida por muitas greves entre 1917 e 1920 (CAMPOS,

1988, MARAM, 1979).

32 A sociedade foi exaltada desde os primeiros dias por diversos grupos

relacionados ao teatro: “Direitos do Autor”, de Gastão Tojeiro. Theatro, nº 1,

10 enero de 1920. Ver Barros, 1995.

31

peças de todos os gêneros, a sociedade tinha em seus quadros

desde nomes de grande prestígio intelectual, como Coelho Neto

e Medeiros de Albuquerque, até nomes muito mais humildes,

como os compositores negros e pobres que produziam canções

para o teatro musical. No mesmo ano da fundação a SBAT

apresentou a reivindicação de pagamento dos direitos autorais,

algo inexistente até ali, com 10% da renda bruta da apresentação

de uma peça destinada a seus autores.

Os empresários não gostaram da ideia, e argumentaram

que o teatro no Brasil não era uma atividade lucrativa, já que o

público não tinha o costume de frequentar as casas de

espetáculos, e que o pagamento dos direitos autorais era uma

ameaça ao futuro do teatro nacional. Enquanto isso, um jornal

afirmava que a revista Pé de Anjo havia rendido 150 contos de

réis para a Empresa Pascoal Segreto, mas apenas 2,7 contos para

Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes, seus autores.33

A fundação da SBAT foi só o começo. Em 1920 surgiu a

União dos Pontos Profissionais, que reivindicava um salário

mínimo de 400 mil réis, com direito a aumento em caso de

excursões e garantias profissionais, como a estabilidade de

33 Mário Nunes, “Na Platéia”, A Noite, 16 de outubro de 1920. O “conto de

réis” era o equivalente a “um milhão de réis”.

32

emprego, em caso de doença.34 Em 1922 nasceu a União dos

Eletricistas Teatrais, em 1923 a União dos Carpinteiros Teatrais,

e no ano seguinte o Centro dos Atores do Brasil, a União dos

Maquinistas, a União das Coristas e a Associação Beneficente

dos Porteiros Teatrais.

A mobilização logo traria resultados. Em 1924 o Decreto

4.790 regulamentava a questão dos direitos autorais. Finalmente

os autores das peças e das músicas passaram a receber

remuneração por sua produção. Notando o crescimento das

reivindicações dos trabalhadores, os patrões fundariam sua

própria entidade, a Sociedade Brasileira de Empresários

Teatrais.

Mas a chamada “classe teatral” não estava satisfeita, e o

próximo passo era fundar um órgão único que unisse todas as

associações de classe.35 O projeto da “Federação Artística

Teatral” a definia como “o poder supremo das associações das

classes trabalhadoras de teatro”. Apesar de algumas

dificuldades, em 1927 era fundada a Federação das Classes

Teatrais do Brasil, contando com a participação da Casa dos

Artistas, Centro Musical, SBAT, Sociedade Brasileira de

34 Arquivo da Empresa Pascoal Segreto, caixa 24

35 Ver “As Associações Teatrais de Classe”, de Elmano Brasiliense, Theatro

& Sport, nº 556, 4 de julho de 1925

33

Empresários Teatrais, União dos Pontos, União dos Porteiros,

União dos Maquinistas, União dos Eletricistas Teatrais.

Mas a essa altura a classe teatral havia conquistado muito

do que havia reivindicado. Em 1926 foi aprovada no Congresso

Nacional a lei que garantia o pagamento do direito autoral e a

sujeição das relações entre patrões e empregados teatrais ao

Código Comercial. A lei levou o nome do quase desconhecido

deputado gaúcho que a relatou: Getúlio Vargas. No ano

seguinte, já como Ministro da Fazenda, Vargas seria

homenageado com um retrato na sede da SBAT. Era o início de

um longo relacionamento entre o político e a classe teatral36.

Quando, três anos depois, Vargas chegou ao poder, os

trabalhadores teatrais exultaram, crendo que um amigo havia

chegado ao poder. Os quinze anos do varguismo no poder

consolidaram essa relação. O presidente frequentava teatros, se

divertia com as imitações dele próprio que via nos palcos e,

segundo inúmeros rumores, teria tido amantes entre atrizes,

como a estrela Virgínia Lane.

Assim, em termos gerais, a classe teatral aderiu

gostosamente ao projeto varguista. Jamais questionou o

“redentor” da classe, contentando-se em representa-lo de forma

36 Marc Hertzman (2013) mostra os vínculos e a classe artística brasileira, em

especial em relação aos direitos autorais.

34

caricatural. Sempre deu seu apoio ao “pai dos pobres” e não foi

incomodada, ao menos durante o Estado Novo, época que

acabou sendo uma das épocas mais importantes da história do

teatro musicado brasileiro. Mas essa já é outra história.

EPILOGO: uma história comparada.

No fim das contas, os trabalhadores do teatro

enfrentavam problemas muito semelhantes no Rio de Janeiro e

em Buenos Aires nos anos 1920. Em ambas as cidades havia um

quadro de exploração, que levou os artistas a se mobilizar em

busca de melhorias em sua situação. Mas ambas as histórias de

lutas só podem ser compreendidas no âmbito das

particularidades das culturas políticas de cada país e de cada

cidade. Nesse sentido, a análise proposta também abre um

diálogo com a história política.

Tendo em conta as diferenças nas culturas políticas de

Brasil e Argentina daqueles anos, é possível entender porque as

respostas concretas foram distintas. Os trabalhadores do teatro

portenho fundaram entidades de classe quando se iniciava o

ciclo de expansão do mercado de espetáculos e logo

organizaram um partido político. Todos esses traços eram

similares aos realizados por outras categorias profissionais da

época, em um clima político marcado pelo início de novas

práticas e sentidos políticos, produtos da Reforma Eleitoral de

35

1912. Para os anos 1920, a cidade de Buenos Aires vivia uma

intensa vida política: o partido Gente de Teatro, ainda que fosse

um partido político com tons sindicais, que remetia mais a

tradições políticas municipais que aos sentidos de representação

que propunha a Lei Saens Peña e cuja vida partidária foi

limitada, mostra de alguma forma tanto a intensa vida política e

associativa de Buenos Aires naqueles anos como também a

crença de parte dos atores no funcionamento dos mecanismos

eleitorais.

No Brasil, onde naquele momento as eleições não eram

uma opção para quem desejava questionar a ordem vigente, as

coisas ocorreram de outra forma. Dado o contexto em que

viviam, seria de se esperar que os trabalhadores que ganhavam a

vida com o teatro buscassem outro caminho. E, sem que

sonhassem com isso, acabaram por obter o que desejavam de

uma maneira que funcionaria como um laboratório para uma

forma de relação que se estabeleceria entre Estado e classe

trabalhadora nas décadas seguintes. Getúlio Vargas seria o

personagem central da história brasileira de seu tempo, entre

outras coisas por conseguir transformar a conquista de muitas

reivindicações da classe trabalhadora em algo que havia sido

“doado” pelo Estado (PARANHOS, 1999). Em 1926 Vargas o

fazia pela primeira vez, ainda como um obscuro deputado, de tal

maneira que atender uma demanda soou como um presente para

36

os trabalhadores do teatro no Rio de Janeiro. Em troca, o mundo

do teatro da capital seria eternamente grato àquele que logo seria

o presidente do país.

A trajetória dos artistas cariocas também serve como

maneira de compreender melhor o comportamento de diversas

categorias de trabalhadores brasileiros na primeira metade do

século XX. Em uma formulação tradicional, os trabalhadores

daquele tempo eram inertes e passivos, aceitando a exploração

dos tempos da Primeira República e idolatrando Getúlio Vargas

por terem recebido dele o que desejavam.

Conforme o que diversos historiadores apontaram, essa

visão subestima a ação dos trabalhadores, conferindo ao Estado

o papel de único ator histórico naquele contexto. Nessa visão,

Vargas teria se consolidado como um político essencial de seu

tempo exatamente por ter se apropriado das reivindicações dos

trabalhadores e haver transformando-as em doação.

Nesse contexto, os trabalhadores teatrais do Rio de

Janeiro teriam funcionado como uma espécie de prévia do

regime varguista. Ao “doar” a esses trabalhadores aquilo que

eles reivindicavam, garantindo assim sua gratidão eterna, Vargas

testava, com êxito, o modelo que empregaria pelos próximos 25

anos com a classe trabalhadora brasileira.

37

Ao fim permanece uma questão que merece ser

examinada. Neste texto temos utilizado a ideia de “trabalhadores

teatrais”, com a intenção de problematiza-la. Por um lado, é uma

categoria que pode parecer pouco convincente, já que incorpora

escritores com amplo domínio das letras (muitos eram

jornalistas, outros eram mesmo homens de letras com

reconhecimento acadêmico) junto com outros praticamente

desconhecidos, e que realizavam seu trabalho de forma quase

amadora. Também une atores famosos, que ganhavam muito

dinheiro, a outros, pouco conhecidos e semianalfabetos, assim

como trabalhadores manuais, como maquinistas, eletricistas, etc.

Esse ponto nos remete a uma das questões mais

controvertidas da historiografia da classe trabalhadora: como se

constitui uma classe? Não acreditamos que uma classe possa ser

definida a partir de um mero perfil ocupacional. A partir dos

estudos clássicos de E. P. Thompson (1987) aceitamos que

classe é algo que se constitui historicamente, na luta de classes.

O que significa que o fato de que esses trabalhadores tivessem

ocupações distintas é necessariamente menos importante do que

a maneira pela qual construíram sua identidade de classe.

Seguindo as pistas de Thompson, o que se pode concluir

é que esses trabalhadores não se uniram por seu perfil

38

ocupacional, mas sim por experiências comuns. Mesmo tendo

vidas muito diferentes, o fato é que foram submetidos a uma

experiência semelhante de exploração. Artistas, trabalhadores de

teatro e autores de peças trabalhavam muito para enriquecer os

mesmos empresários em troca de uma remuneração insuficiente,

além de serem vistos de forma depreciativa por uma parte

significativa da sociedade em que viviam. E havia um detalhe de

grande importância: trabalhavam todos juntos, divididos em

companhias de teatro em que as hierarquias internas não

modificavam a existência de uma experiência comum de

exploração. Assim, puderam construir uma identidade comum e

lutas em conjunto por seus direitos.

Em suma, o estudo das lutas da classe teatral em Buenos

Aires e no Rio de Janeiro nos anos que se seguem ao fim da

primeira guerra mundial mostram claramente as vantagens da

história comparada. Situações semelhantes levam a resultados

diferentes, mas mostram com clareza em que medida as

diferenças nos levam a conhecer melhor as particularidades de

cada contexto.

Adicionalmente, este exercício de comparação exigiu a

referência a diversos elementos da cultura política de cada país,

o que permitiu articular um problema clássico da história social

– a construção da identidade de um conjunto de atores sociais e

39

seus conflitos – com a história política, para dar assim uma

maior complexidade ao olhar sobre processos sociais e

acrescentar outra dimensão complementar para o estudo dos

fenômenos políticos.

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