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"A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deve ser considerada como direito humano básico. A saúde sexual é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor". (Organização Mundial de Saúde) “A vida continua. Ainda sou perseguidora de sonhos. As portas me fascinam. A vida ainda acontece inteira no meu coração. Acredito no amanhecer, no poder recomeçar a cada dia. Sou a síntese dos meus desejos, compilação de inércias extáticas, mas, ainda, uma inesgotável fonte de encantamento pela vida, pelos amores, pelo belo, pela arte de fazer versos.” Genaura Tormin 3

Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

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Page 1: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

"A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e integrações, portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deve ser considerada como direito humano básico. A saúde sexual é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor".(Organização Mundial de Saúde)

“A vida continua. Ainda sou perseguidora de sonhos. As portas me fascinam. A vida ainda acontece inteira no meu coração. Acredito no amanhecer, no poder recomeçar a cada dia. Sou a síntese dos meus desejos, compilação de inércias extáticas, mas, ainda, uma inesgotável fonte de encantamento pela vida, pelos amores, pelo belo, pela arte de fazer versos.”

Genaura Tormin

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Page 2: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

Índice

Introdução__________________________________________________5

1. A pessoa e a paraplegia_____________________________________7

1.1. Paraplegia: o que é?__________________________________7

1.2. Alterações provocadas pela paraplegia____________________7

1.3. Adaptação à nova situação_____________________________9

2. A sexualidade e a paraplegia_________________________________11

2.1. Alterações na sexualidade devido à paraplegia_____________11

2.2. Formas de contornar a situação_________________________14

Conclusão _________________________________________________18

Bibliografia

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Page 3: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

Introdução

No âmbito da disciplina de opção A Pessoa com Deficiência: Cidadania,

inclusão e Participação, foi-nos pedido para realizarmos um trabalho acerca de

uma situação de deficiência e das suas formas de integração e participação na

sociedade mas também da sua qualidade de vida e autonomia.

Como tema escolhemos “A sexualidade e a pessoa paraplégica”. Esta

escolha foi feita pois a sexualidade é uma das coisas que mais se altera na

vida da pessoa com lesão medular (paraplegia e tetraplegia), no entanto muito

raramente ouvimos falar sobre este assunto e quais as formas que a pessoa

usa para contornar as limitações a este nível. É importante também referir que

ter uma lesão na medula não significa ter ausência de desejo e de sensações,

e a incapacidade de movimentar não significa incapacidade de dar ou de

receber prazer.

Para este trabalho definimos alguns objectivos que pretendemos atingir,

são eles Perceber quais as limitações gerais causadas pela paraplegia; Tomar

conhecimento acerca do modo como a paraplegia afecta a sexualidade do

indivíduo; Compreender de que forma as pessoas contornam os obstáculos

relacionados com a sua sexualidade e a importância do apoio da

família/companheiro(a).

Para a realização deste trabalho recorremos a pesquisa de alguns

artigos de revistas de modo a situarmos o nosso tema, pesquisas na Internet e

a entrevistas que encontrámos de pessoas com esta problemática.

Organizámos o trabalho em dois capítulos principais, o primeiro

intitulado “A pessoa e a paraplegia” onde expomos as principais alterações

provocadas pela paraplegia e a forma de adaptação a estas. E o segundo com

o titulo de “A sexualidade e a paraplegia” onde abordaremos a forma como a

paraplegia afecta a sexualidade dos indivíduos, quais as formas de contornar

essa situação e o apoio prestado pela família.5

Page 4: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

Para a concretização do mesmo, seguir-nos-emos as normas do Guia de

Elaboração de Trabalhos Escritos da Escola Superior de Enfermagem de

Coimbra.

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Page 5: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

1. A Pessoa e a Paraplegia

1.1.Paraplegia: o que é?

A paraplegia é decorrente de uma lesão medular que paralisa total ou

parcialmente os membros inferiores e a parte inferior do tronco. Este tipo de

lesão pode classificar-se de completa ou incompleta dependendo do facto de

existir ou não controlo e sensibilidade periféricos abaixo do nível da lesão. A

paraplegia pode dividir-se em dois tipos: flácida e espástica. O primeiro ocorre

quando se verifica perda de tonicidade muscular, dos reflexos tendinosos

quando se administra anestesia cutânea; o segundo quando existe hipertonia

dos músculos. Para além desta divisão, a paraplegia ainda pode ser

classificada em irreversível quando é provocada por um corte transversal da

medula ou por causas congénitas; reversível quando ocorre compressão

medular ou por consequência de doenças degenerativas ou infecciosas.

Existem várias causas que levam ao aparecimento da paraplegia, entre

as quais, traumatismos, processos tumorais, infecções (intoxicações, doenças

infecciosas), paraplegia espástica infantil, e ainda por compressão medular.

1.2. Alterações provocadas pela paraplegia

Lianza (1985) diz que dentre as síndromes incapacitantes, a paraplegia

é uma das formas mais graves, devido a importância da medula espinhal em

ser uma via de comunicação e centro controlador da respiração, circulação,

bexiga, intestino, controle térmico e actividade sexual.

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Page 6: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

As consequências que advêm desta patologia são várias, por exemplo,

ausência de controlo dos esfíncteres anal e vesical, perda de controlo e

sensibilidade nos membros inferiores, incapacidade de movimentar os

membros inferiores e alteração sexual.

Por outro lado é também importante ter em conta todos os efeitos que a

paraplegia tem a nível psicológico e social, após a alteração da imagem

corporal. Ocorrem alterações a nível da auto-imagem, da auto-estima,

comportamentos de negação inconsciente da realidade, nomeadamente,

isolamento, sentimentos de raiva, cólera, agressividade, agitação psicomotora,

bem como um significativo aumento dos níveis de ansiedade, provocados pelo

choque traumático.

O paraplégico inicialmente pode rejeitar seu corpo devido as estas novas

imposições, e ter uma auto-imagem corporal e psíquica desfigurada, pode

inclusive ocorrer a negação do corpo por não reconhecimento da própria

imagem diante do espelho. A imagem corporal é a figuração do corpo na nossa

mente, onde todos os sentidos colaboram para a formação desta. O ser

humano em geral espera ser admirado, atraente, e sedutor. A paraplegia, por

exemplo, pode ocasionar uma ferida narcísica, alterando estruturas internas e

organizadoras do sujeito, levando a conflitos tortuosos. Há uma cultura social

que pelo corpo e a imagem que passamos seremos amados e aceitos em um

grupo. Instalada a paraplegia, o indivíduo progressivamente alterará sua auto-

imagem, abandonando a auto-imagem antiga e adaptando-se a uma nova.

A perda da auto-estima age como se de alguma maneira o ego estivesse

vazio. Sabendo lidar com perdas o sujeito está a crescer psiquicamente, e

passa para uma outra etapa da sua vida. Uma maneira saudável é fazer um

luto, uma separação. Este luto para Freud é tirar a libido do objecto (pois ele já

não existe) e aceitar a perda para não entrar em um processo melancólico e

desestruturado.

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Page 7: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

1.3. Adaptação à situação

Imediatamente após a recuperação médica, existe uma reacção

emocional de choque. A pessoa tem tendência a evoluir para uma fase de

esgotamento ou exaustão psíquica, altamente negativa e prejudicial, dado que

reduz drasticamente as capacidades do sistema imunitário e facilita a

instalação de graves infecções e necrose dos tecidos cutâneos.

Na recuperação e integração do doente um dos agentes

fundamentais é a família. A família e o doente devem em todo este processo

ser encarados como parceiros e sujeitos activos na procura de soluções, para a

satisfação das suas necessidades e concretização das suas expectativas. A

família representa o primeiro elo de uma teia social, e geralmente o único,

permanece até ao fim, devendo ser sempre respeitado os seus níveis de

interacção e envolvimento. À semelhança do que acontece com o próprio

doente, também a família sofre com a aceitação das novas circunstâncias de

vida, sendo a adaptação igualmente efectuada de uma forma faseada e

intimamente relacionada com o comportamento do doente.

Neste contexto, a intervenção de psicólogos reveste-se de extrema

importância, tanto na assistência ao doente, como à família, na preparação,

fornecimento de informação quanto às diferentes fases e consequentes

reacções emocionais. Orientando e motivando para os benefícios de

acompanhamento psicoterapêutico à própria família, para que entenda o

profundo sofrimento psíquico consequente das transformações físico-corporais,

é essencial no sentido de obter uma boa capacidade comunicacional e

compreender o pensamento nem sempre equilibrado destes doentes.

É também importante o trabalho de reabilitação da pessoa de modo a

ajudá-la a lidar melhor com a sua nova condição de vida, ajudando-a a

continuar a ser um cidadão pleno, possuidor de capacidades físicas,

psicológicas, sociais e profissionais.

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Page 8: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

A adaptação dos obstáculos da casa e emprego a esta nova realidade,

vão ajudar o doente a sentir-se menos dependente, aumentando a sua

felicidade.

No entanto, em Portugal, ainda são visíveis muitas barreiras

arquitectónicas, que afectam o dia-a-dia de um indivíduo com paraplegia.

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Page 9: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

2. A Sexualidade e a Paraplegia

Neste capítulo vamos em primeiro lugar esclarecer a diferença entre

sexualidade e sexo.

A sexualidade está presente no ser humano desde o desenvolvimento

intra-uterino e acompanha-o até ao fim da terceira idade. É a responsável pelo

orgasmo e, por questões culturais, é associada unicamente à região genital.

Ela reflecte-se no sistema límbico, que concentra todas nossas emoções e que

se encontra próxima do hipotálamo, bem no centro do cérebro. Tem em conta

algo mais do que apenas o acto sexual em si, é a forma de as pessoas

tocarem, serem tocadas, expressarem a sua feminilidade ou masculinidade. A

partir dessa perspectiva, a sexualidade influencia pensamentos, sentimentos,

acções, interacções, tanto fisica como mentalmente.

Por outro lado, o sexo é a interacção física de duas pessoas. Pode ser

ou não uma experiência muito íntima. No entanto, é uma das expressões da

sexualidade. É afectado pela lesão medular.

Após a saída do hospital, a pessoa preocupa-se em primeiro lugar em

recuperar os seus movimentos através da fisioterapia, só após essa adaptação

é que se importa com a sua sexualidade. Este distanciamento relacionado com

a sexualidade pode também ser consequência de alterações no

relacionamento com o parceiro sexual ou por falta de iniciativa.

2.1. Alterações na sexualidade devido à paraplegia

No corpo dos paraplégicos, a zona abaixo da lesão, é insensível à

estimulação táctil, o que nos coloca várias questões sobre o desejo sexual.

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Page 10: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

No sujeito com lesão medular o impulso sexual está preservado, apesar

de poder permanecer oculto no desequilíbrio emocional que se segue à lesão,

mais tarde ou mais cedo todos os sujeitos com este tipo de lesão, terão as

suas atenções e intenções direccionadas para a sexualidade.

No caso das mulheres com paraplegia é muito comum, a mulher negar a

sua condição sexual, e sentir que a sua limitação física constitui uma limitação

de prazer sexual. Mas isso não corresponde à verdade, porque existem várias

formas de prazer, que não o prazer genital.

Em ambos os sexos

Espasticidade: Espasticidade pode ser um transtorno durante o acto sexual

quando resulta em contracturas, o que impede algumas posições sexuais. Uma

forma de protecção contra as contracturas é manter os exercícios em dia, de

acordo com as instruções do terapeuta, que pode ensinar posições e

movimentos que permitam controlar espasticidade. Alguns aproveitam-se da

espasticidade para aumentar o prazer sexual (no sentido em que aumenta a

erecção).

Movimento: A paralisia parcial ou completa abaixo do nível da lesão pode

alterar a capacidade de fazer alguns movimentos sexuais. Para alguns, isso

pode significar a alteração de poucas posições na sua actividade normal. O

aspecto importante que deve-se notar aqui é que a perda dos movimentos não

significa, em absoluto, que não haverá prazer no sexo.

No Homem

Erecção: A erecção ocorre quando os corpos cavernosos são inundados por

uma grande quantidade de sangue. Ela pode ser provocada de forma reflexa,

psicogênica ou ambas. O homem tem dois tipos de erecções:

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Page 11: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

1.Erecção Reflexa: A erecção reflexa será gerada por estímulos nos

órgãos genitais ou regiões próximas. Tais estímulos chegarão até a medula,

que responderá com comandos que levarão à erecção, caracterizando um arco

reflexo, independente de estímulos do cérebro. Ela é comandada pelo centro

medular sacral situado nos níveis S2,S3 e S4.

Caso a lesão ocorra no cone medular ou na cauda equina ou em ambos, não

haverá a presença da erecção reflexa, pois o arco reflexo não existirá.

Entretanto, a erecção Psicogénica estará presente, pois os estímulos que

partem do cérebro chegarão até os órgãos genitais.

2. Erecção Psicogénica : Na erecção psicogênica, os estímulos partirão

do cérebro, descerão pela medula e chegarão através de nervos até os órgãos

genitais, levando assim, os comandos de erecção.

Este tipo de erecção ocorre frente a um estímulo que cause excitação ou

desejo sexual, seja ele visual, táctil, por cheiro, sons, pensamentos, etc. Ela é

comandada pelo centro medular toracolombar níveis T11-L2.

Se a lesão for incompleta (área lombar inferior ou sacral) a erecção

psicogénica continua a ocorrer. Mas caso ocorra uma lesão acima da cauda

equina e do cone medular, não haverá a erecção psicogênica, pois os

comandos que partirem do cérebro em direcção aos órgãos genitais serão

bloqueados no ponto onde existe a lesão. Porém, a erecção reflexa estará

presente, pois o arco-reflexo fica preservado.

Ejaculação: Para ocorrer a ejaculação deve haver uma coordenação das

diferentes partes do seu sistema nervoso. Se alguns nervos não realizarem a

sua função a ejaculação pode não ocorrer.

Parte do processo que permite a ejaculação normal é o fechamento do colo da

bexiga, de modo que o sémen passe pela bexiga e, daí, para fora da uretra.

Em alguns homens com lesão da medula ocorre a ejaculação retrógrada. Isso

acontece quando o colo da bexiga fica aberto e o sémen atravessa pelo

caminho mais fácil e mais curto: para a bexiga, ao invés de passar pelo

caminho mais longo: pela uretra.

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Page 12: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

Se for uma lesão incompleta, a probabilidade de ocorrer ejaculação é superior

à de uma lesão completa. Porém, alguns homens com lesão da medula

desafiam todo o conhecimento científico e ejaculam na maioria das vezes.

Na mulher

Ovulação e Menstruação

No início da lesão, a mulher pode entrar na fase de amenorreia, onde

temporariamente ficará sem ovular e menstruar. Tal período tem uma duração

média de alguns dias, podendo alcançar até alguns meses. Terminada esta

fase, a ovulação e menstruação volta a ocorrer como antes da lesão e a mulher

poderá ter filhos normalmente, desde que seja acompanhada por médicos

ginecologistas e obstetras especialistas em lesão medular, para que haja toda

uma orientação sobre os cuidados especiais e os procedimentos para uma

gravidez tranquila e sem riscos.

Lubrificação e Contracções Vaginais

Tanto a lubrificação como as contracções vaginais, podem sofrer alterações

devido a lesão. Uma lesão no nível sacral da medula pode resultar na

interrupção da lubrificação. Já uma lesão acima desse nível pode deixar a

lubrificação reflexa (produzida por estimulo) intacta. Pode haver também uma

lubrificação psicogénica, caso tenha ocorrido uma lesão perto ou abaixo do

nível T 12 ou L 2 da medula.

2.2. Formas de contornar a situação

“O desejo de amar já é amor. Hoje não há orgasmo, tecnicamente falando, mas

ele se manifesta de outras maneiras: no olhar, no suor, nos olhos, nas

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Page 13: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

lágrimas, no aconchego, no estar junto sem dizer nada, na divisão de um copo

de suco, na chegada estampada em passos…” (Genaura Tormin)

Homens e mulheres que tiveram lesão cervical interrompem a vida

sexual, por questões que vão da desinformação à falta de iniciativa inerente da

condição. Quem acompanha deficientes físicos defende que, quanto mais

depressa o indivíduo se submeter ao processo de readaptação, melhor. Neste

processo é importante quer o apoio da família e profissionais especializados

quer a vontade própria.

O portador de lesão medular inferior tem que aprender que sexo não

significa necessariamente genitalidade, visto que o corpo humano possui

vastas zonas erógenas que proporcionam prazer tanto no homem quanto na

mulher. É fundamental uma maior intimidade com seu próprio corpo e com o do

parceiro(a), para que o prazer não seja unilateral.

Para uma sexualidade saudável é necessária a inversão de valores

culturais, o envolvimento com o parceiro(a), a comunicação, o investimento na

relação, a paciência e a perseverança. É fundamental que o casal possa

descobrir-se a cada dia como parceiros na cama, compatíveis aos seus

desejos, exacerbando a satisfação e diminuindo os transtornos. É necessária

uma boa comunicação antes e depois do acto sexual para que haja uma maior

cumplicidade e o fortalecimento da confiança da pessoa com paraplegia.

Algo que também pode ajudar nestas situações é a fantasia que poderá

acompanhar a sexualidade na construção do desejo. Inventando situações e

personagens, o casal investe na qualidade da relação sexual e da própria

sexualidade. O corpo passa a ser um brinquedo gerador de prazer.

É pela via da fantasia que a pessoa com paraplegia e o seu parceiro(a) devem

dirigir o sexo, pois a criatividade é capaz de superar limitações mudando o

cenário habitual para um cenário quase que virtual. Pela imaginação as

construções sociais podem ser superadas momentaneamente favorecendo a

espontaneidade dos parceiros sexuais.

Para muitas pessoas com lesão na medula a perda da sensibilidade é

um dos maiores impactos. Ao invés dos orgasmos serem somente físicos e 15

Page 14: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

centralizados nos órgãos genitais, eles podem se transformar num estado de

espírito. Muitas dessas pessoas dizem que agora o sexo é muito mais íntimo e

espiritual do que antes da lesão. Encontraram muito prazer na descoberta de

novas formas de conhecer o seu próprio corpo e do seu parceiro; tocando,

acariciando e explorando um ao outro.

É importante lembrar que o prazer sexual não vem somente dos seus

órgãos sexuais. É possível ter-se todos os prazeres sexuais acima do nível da

lesão. Isso inclui ouvidos, pescoço, rosto e boca, é fundamental o uso deles

além dos outros sentidos para aumentar a sensibilidade e prazer com a ajuda

do maior de todos os órgãos sexuais: seu cérebro.

As pessoas com paraplegia podem ainda recorrer a algumas invenções

técnicas e científicas. Nos homens, como já vimos, a erecção é muito afectada,

caso esta seja crucial para a satisfação sexual existem tratamentos eficientes,

alguns mecânicos, como a prótese peniana de silicone, um aparelho colocado

cirurgicamente que permite o preenchimento do tecido cavernoso e uma

arruela que impede a volta do sangue e a perda da ereção e outros químicos,

como o Viagra, que obtém sucesso em cerca de 60% dos casos, e a

prostaglandina (injeção), cuja eficiência é vista em aproximadamente 90%

daqueles que se submetem ao tratamento. Ainda relativamente ao homem, a

ejaculação pode ser dificil e a qualidade do esperma inferior. Existem, no

entanto, técnicas que permitem a solução do primeiro problema, como a vibro-

ejaculação, conseguida através de massageadores.

Em relação à mulher, tem o privilégio de não necessitar de erecção para

praticar o acto sexual, sendo assim, no mercado apenas existem cremes que

ajudam à lubrificação vaginal ou então um leque de cosméticos (óleos,

perfumes etc.) que ajudem na atracção.

É necessário esclarecer ainda, que a mulher com lesão medular pode ter

filhos normalmente. É, no entanto, imprescindível ter um acompanhamento

médico especializado, por ginecologistas e obstetras especialistas em lesão

medular, para que haja toda uma orientação sobre os cuidados especiais e os

procedimentos para uma gravidez tranquila e sem riscos. Os cuidados são

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Page 15: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

praticamente os mesmos que uma mulher com lesão medular tem que ter com

o seu corpo no dia-a-dia, mas todos eles têm que ser reforçados.

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Page 16: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

Conclusão

Agora, no fim de todo o trabalho chegou a altura de avaliarmos a

concretização dos objectivos e quais os conhecimentos que apreendemos.

Como vimos anteriormente a paraplegia é um grave problema que altera

o estilo de vida psicológico e físico da pessoa e dos seus familiares. A

paraplegia pode então ser entendida como uma doença em que se tem

paralisia total ou parcial dos membros inferiores e da parte inferior do tronco,

isto leva à perda de função de certos órgãos (bexiga, intestino, etc).

Actualmente, o estereótipo da paraplegia ainda contamina a sociedade

com seus valores de invalidez, incapacidade, isolamento. Com isto, diversas

comorbilidades podem vir acompanhar a paraplegia, como depressão,

ansiedade antecipatória, entre outros, agravando a própria reformulação da

imagem corporal. No caso do homem, impõe-se ainda o facto de socialmente

ser ele o ponto forte de uma relação e o condutor do acto sexual.

O tema da sexualidade inclui prazeres, paixões, desejos, e até mesmo

frustrações. Muitos ainda confundem os termos sexo e sexualidade, não

percebendo o que os difere, porém acertam em direccioná-los a um fim:

satisfação. Estar satisfeito sexualmente é encontrar dentro de si mesmo

ferramentas para conjuntamente com seu parceiro(a) criar sensações

diferenciadas, agradáveis e respeitosas.

Quanto aos objectivos definidos no inicio do trabalho poderemos dizer

que ficamos mais esclarecidos acerca da definição e características da

paraplegia, bem como sobre a forma como uma pessoa lida psicologicamente

com a doença, ficámos também mais elucidados acerca da temática da

sexualidade e da paraplegia e de como esta afecta a vida da pessoa lesada.

Achamos importante salientar que, nós como futuros enfermeiros,

devemos saber todos os cuidados que devemos ter com estas pessoas. Pois,

continua-se a dar mais ênfase ao tratamento/recuperação física de pessoa,

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Page 17: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

esquecendo-se por vezes a readaptação psicológica que tem de ser feita

pelo individuo, o acompanhamento psicológico vem, assim, favorecer a

aceitação das limitações físicas, auto-estima, sexualidade e identidade sexual.

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Page 18: Trabalho A Sexualidade e a Pessoa com Paraplegia

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