Upload
eduard-plesha
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
1/12
Antropologia CulturalA paixão pelos adereços
Eduard Plesha
35925
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
2/12
1
ÍndiceResumo do artigo ........................................................................................................................ 2
Comentário ao artigo ................................................................................................................. 3
Destino dos adereços – uso e comércio .................................................................................. 4
Que adornos são produzidos e por quem? .............................................................................. 6
Haitianos e Pataxó, estética apesar da crise ........................................................................ 8
Bibliografia ................................................................................................................................ 10
Webgrafia ................................................................................................................................... 11
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
3/12
2
Resumo do artigo
O artigo “A aranha vive do que tece” da autoria de Arissana Braz Bomfimde Souza1, descreve os rituais, a educação, técnicas de produção, matérias-
primas e enorme variedade dos adereços do povo indígena Pataxó, que habita
principalmente em Bahia2. Ao longo do artigo é referido a notável importância
dos saberes transmitidos e ensinados pelos mais velhos as gerações novas, os
ensinamentos mais importante são os adornos corporais, que para os Pataxó são
adereços. Estes elementos decorativos, desde cocares, tangas, pulseiras,
cintos, brincos, braceletes entre outros, que fazem parte do típico traje Pataxóe que os distingue dos outros povos indígenas, são tanto produzidos pelos
homens como pelas mulheres e até pelas próprias crianças, não existindo assim
uma divisão social na produção apenas o desenvolvimento de habilidades de
cada um para a confeção de determinados adornos. Os mais novos
desempenham papel fundamental na preservação destes elementos decorativos
da cultura material dos adereços, começam aprender desde cedo pelos
familiares mais velhos e posteriormente usam criatividade e habilidade paraproduzir autonomamente a grande variedade deste luxo da cultura Pataxó,
podem aprender em vários ambientes, por vezes até em próprios rituais como
é o caso do awê, onde se prepara cauim e peixe na patioba e decorre
simultaneamente a socialização dos pais/avós ou até outros familiares para os
mais novos. Porém existe um grande fator que influencia a produção dos
adereços, a escassez da matéria-prima, que obriga muitas vezes recorrer aos
métodos alternativos nomeadamente a materiais industrializados devido a falta
de determinados elementos típicos na produção dos adereços. A produção dos
adereços não se limita ao uso dos próprio Pataxó, comercialização dos adereços
é bastante comum na cultura Pataxó, tanto para próprios Pataxó como para
turistas, mas existe uma coisa importante neste processo, os adereços
produzidos para comercialização são diferentes dos adereços produzidos para
1 Mestre em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal de Bahia. Professor na Escola IndígenaPataxó Boca da Mata.2 Situada na região Nordeste do Brasil.
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
4/12
3
uso dos Pataxó e grande parte de subsistência provem do lucro do comércio dos
adereços, para posteriormente comprar matéria-prima e continuar a produção.
Os Pataxó ainda se deslocam de aldeia para aldeia para procurar matéria-prima
em falta e é desta forma que relações das aldeias Pataxó permanecem até os
dias de hoje ao longo da Bahia, através da preservação da grande cultura
material dos adereços principalmente, constante inovação e procura pela
matéria-prima para produção dos adereços.
Comentário ao artigo
Durante a leitura do artigo, encontrei vários conceitos interessantes que
foram abordados nas aulas de Antropologia Cultural, nomeadamente a parte da
cultura material, pelos adereços que Pataxó produzem e utilizam. A
socialização, que desempenha função vital no que aos processos de
ensinamentos dos mais velhos para os mais, que ainda hoje ocorrem. Outro
fenómeno que vem de certa forma “ajudar” a cultura Pataxó é aculturação,
quando os Pataxó não possuem a seu dispor matéria-prima para fabricação dosadereços, estes recorrem, marotariamente a materiais industrializados. No seu
passado, Pataxó sobreviveram a colonização dos povos europeus, dos
portugueses, no sentido em que conseguiram preservar a sua cultura e até
própria religião, apesar de encontrar um Pataxó cristão ser bastante comum,
já no caso dos rituais, um dos mais importantes é o awê, que pode ser de caráter
público, privado e por vezes até íntimo. Outro fator importante no artigo está
relacionado com divisão social de produção, que na sociedade Pataxó é pouco
rígida se comparada com outras culturas, como é o caso dos Índios Pueblo, onde
a divisão das tarefas está bem dividida entre homens e mulheres, porém, a
produção é também considerada, no Sueste Asiático, uma atividade perigosa,
precisamente devido à sua importância, onde se da valor ao perfeccionismo do
trabalho, algo que não acontece na cultura Pataxó, onde todos podem fabricar
e utilizar os adereços. É de salientar que as crianças pataxó estão envolvidas
diariamente em um interessante e complexo ambiente que lhes proporcionam
inúmeras aprendizagens que independem de um ensino deliberado para
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
5/12
4
acontecer. O assunto pelo qual me interessei mais ao longo do artigo foi a
extensa variedade dos adereços, como e por quem estes são feitos e qual ainda
é sua utilidade, assim, este foi o tema que escolhi para desenvolver no trabalho.
Destino dos adereços – uso e comércio
O uso dos adereços por parte dos Pataxó como decoração dos corpos é
caraterização típica da sua cultura pelo traje que conseguem obter através da
junção de vários adornos, acontece em inúmeras vários povos principalmente
da Asia, onde a abundancia do têxtil e a produção desta cultura material, a
roupa e o próprio têxtil era extraordinária e bastante avançada ao sercomparada com as dos povos europeus, pelo qual os povos colonizadores,
nomeadamente portugueses, muito se interessarem principalmente pelos
aqueles da Asia do Sueste, nomeadamente de Coromandel, Guzerate e Bengala
que por sua vez eram usados em rituais e transmitidos de geração em geração,
dentro da mesma família3. Existe portanto uma semelhança, os Pataxó, tal
como povos do Sueste da Asia transmitem os seus saberes de fabricação
têxtil/adereços de gerações em gerações, pelos familiares aos mais novos,tanto pelos pais, avos ou outros parenteses. Porém, os panos segundo Maria
Johanna Schouten, “Enfeitam o corpo ou a casa e podem assim dar ou sublinhar
status, possuindo também valor de troca, como os europeus notaram nas suas
primeiras viagens na Insulíndia.” (Schouten 2011: 243). Não é possível precisar
quando os adereços e objetos utilizados no cotidiano Pataxó para fabrico de
adereços passaram a ser vendidos e se tornaram uma fonte renda e sustento
para os próprios. Segundo Veronez (2006), “… com a expansão do turismo emmeados da década de 1970 as famílias pataxó da região litoral do extremo sul
da Bahia passaram a se especializar na confeção e venda de adereços,
artesanato e têxtil”4. No artigo vem referido, que os adereços fabricados para
uso dos Pataxó, são diferentes daqueles que se comercializam, os Pataxó não
pretendem comercializar os adereços tal como os fabricam com matéria-prima
3 John GUY, “Têxteis, sociedade e comércio no oceano Índico”, Oceanos, 34, 1998, pp. 39-504 Luciano Silveira Coelho, “Infância, aprendizagem e cultura: as crianças pataxó e as práticas sociais doGuarani”, Belo Horizonte, p.65.
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
6/12
5
típica de um certo adereço porque primeiro a matéria-prima é escassa e
segundo porque segundo os Pataxó, para alguém utilizar o adereço típico da sua
cultura, necessita de saber fabrica-lo.
Durante o comércio dos adereços Pataxó, por vezes, demonstram ao
público como fabricam os seus adereços, os mais procurados e que apresentam
maior variedade de escolha são os colares, representados na figura abaixo.
Figura 1 - Pataxó no comércio dos seus adereços.
Figura 1 - Fonte: http://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.html
Figura 2 - Grande variedade dos colares Pataxó.
Figura 2 - Fonte: http://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpg
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
7/12
6
Podemos assim referir que, o destino dos adereços fabricos tem um duplo
sentido, para decorar os seus corpos através desses adornos e por outro lado
um sentido mais económico aquele que é cada vez mais forte na cultura Pataxó,para a sustentação e para obtenção de matéria-prima industrializada uma vez
que fontes naturais são cada vez mais raros5.
Ainda o comércio, que tem também uma particularidade, na cultura
Pataxó, a venda de adereços não ocorre sempre no sentido monetário, mas
também se realizam trocas durante o comércio, devido a grande proximidade
entre as aldeias Pataxó como já foi referido que possibilitou aos Pataxó
deslocarem-se para procurar matéria-prima que lhes falta, segundo as palavrasde Renata Vieira da Cunha, “Essa proximidade facilita grandemente o comércio
e revenda entre aldeias. Mas este comércio nem sempre é feito com a utilização
monetária. Muitas vezes ocorre trocas de artesanatos por produtos como
roupas, sapatos, gêneros alimentícios, ou mesmo por matéria-prima como
sementes, por exemplo. Em situações como essas, percebemos na prática que
as relações de parentesco são mais fortes entre os Pataxó que a relação
mercantil, tão presente na vida da sociedade ocidental.”6
(Vieira 2013: 97)
Que adornos são produzidos e por quem?
Quanto a produção de adereços, já foi referido que estes são produzidos
tanto pelos homens, mulheres e pelas próprias crianças, existe assim pouca
rigidez na divisão social do trabalho, em contraste as palavras do Mischa Titiev
“A aspecto tecnológico da cultura material de um grupo nunca se mantém só
por si. A mais vulgar de todas as conexões sociológicas é uma divisão de trabalho
entre homens e mulheres, normalmente descrita como o ensino e o desempenho
de algumas ocupações para os homens e reserva outras para as mulheres”7.
5 Recursos tais como trança, a taboa, a estopa e as penas.6 Artesanato pataxó: diversidade de materiais, práticas culturais em processo - Universidade Federal deMinas Gerais7 Mischa Titiev, “Introdução à antropologia cultural”, 1969, p. 214
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
8/12
7
A aprendizagem começa desde muito cedo, crianças, durante até nos
próprios rituais, observam atentamente os mais velhos a fabricar os adereços e
repetem os gestos, passando assim desenvolver gradualmente habilidades para
desenvolver adereços autonomamente.
Uma das explicações para existir esta pouca divisão na produção de
adereços é o facto de adereços representarem grande parte de subsistência de
famílias Pataxó e constante aprendizagem e ensinamento dos mais velhos para
mais novos na sua vasta sociedade, dai que todos trabalham e contribuem.
Figura 3 - Criança Pataxó com os colares.
Figura 3 - Fonte:
https://reader015.{domain}/reader015/html5/0718/5b4f1386ec6b0/5b4f138f75a4a.jpg
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
9/12
8
Figura 4 - Os adereços mais produzidos por género.
Haitianos e Pataxó, estética apesar da crise
Após leitura do artigo “Haitians, ever fastidious even in crisis” de
Elizabeth Chin8, encontrei uma grande relação com o meu artigo em análise “A
aranha vive do que tece”, existe uma aproximação no sentido que, apesar dos
momentos da crise, tal como aquele que aconteceu em Haiti em 20109, não
afetou a população no sentido de estes terem o constante cuidado com a
maneira como se vestem, principalmente quando foram tiradas fotografias as
pessoas afetadas, parece um pouco irónico mas é realidade, segundo própria
Elizabeth, “Their clothes look freshly pressed, their sneakers shiny. If Haiti is
the poorest country in the western hemisphere, I think we can also safely say
that Haitians are also the snappiest dressers in the western hemisphere. What’s
more amazing is that Haitians can manage to dress beautifully with the most
8 Professora adjunta de Antropologia da Occidental College, onde também é diretor do InstitutoMulticultural de Verão.
9 Sismo que ocorreu a 12 de Janeiro de 2010 em Haiti, a 25 km do Porto Príncipe, com uma magnitude de7,0 na escala de Richter.
Homens• Cocares masculinos, tangas ou tupisay,
citnos.
Mulheres• Brincos, braceletes, pulseiras, cintos,
tornozeleiras e cocares femininos.
Crianças• Principalmente colares e posteriormente
cocares pequenos.
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
10/12
9
meager resources. I’m left wondering at the moment: where the heck are they
finding those spotless clothes? Even in normal times, clothes and laundry are a
major enterprise but now the effort required to be so fantastically clean now
must be even more daunting. Maybe it’s a small thing, but somehow I don’t
think so. Their ability to dress beautifully is simply awe-inspiring”10. Podemos
comparar esta realidade a dos Pataxó, que mesmo em alturas de crise,
nomeadamente quando estes tem falta de recursos para produzir adereços, não
desistem, deslocam-se as aldeias Pataxó mais próximas e procuram por aquilo
que lhes falta, obtêm fonte de rendimento através da venda de adereços e
mesmo assim continuam a produzir, nada os faz parar de constante paixão pelo
fabrico de adereços, que são os seus adornos preferidos.
10 “Haitians, ever fastidious even in crisis”, January 25, 2010 by Elizabeth Chin, http://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisis
http://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisis
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
11/12
10
Bibliografia
Chin, Elizabeth “Haitians, ever fastidious even in crisis”, publicado a 25 dejaneiro de 2010 URL: http://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-
fastidious-even-in-crisis
Coelho, Luciano Silveira “Infância, aprendizagem e cultura: as crianças pataxó
e as práticas sociais do Guarani”, Belo Horizonte, p.65. Publico a 25 de abril
de 2011, disponível no URL:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUOS-8MLM2T
Cunha, Renata Vieira, “Artesanato Pataxó: diversidade de materiais, práticas
culturais em processo”, p.97
Guy, John “Têxteis, sociedade e comércio no oceano Índico”, Oceanos, 34,1998, pp. 39-50
Schouten, Maria Johanna 2011, “Tecedeiras e guerreiros: O estatuto damulher no Sueste Asiático e a perícia artesanal no fabrico de têxteis Umatradição em desaparecimento” p.243
Sousa, Arissana Braz Bomfim « A aranha vive do que tece », Cadernos de Artee Antropologia, Vol. 2, No 2
Titiev, Mischa 1969, “Introdução à antropologia cultural”, p. 214
http://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUOS-8MLM2Thttp://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUOS-8MLM2Thttp://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUOS-8MLM2Thttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisishttp://anthronow.com/press-watch/haitians-ever-fastidious-even-in-crisis
8/17/2019 Trabalho Antropologia Pataxo
12/12
11
Webgrafia
Figura 5 - Fonte: http://www.acheiviagem.com.br/porto-
seguro/13/destino.html
Figura 2 - Fonte: http://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpg
Figura 3 - Fonte: http://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/pataxo.jpg
Primeira imagem do esquema da página 7 –
http://imagensdobrasil.art.br/imgsist/loja/etnias_do_brasil/etnia_pataxo/ico
_RS_PO_000207.jpg
Segunda imagem do esquema da página 7 –
http://3.bp.blogspot.com/W8Ofyaq5y2A/VGfDUPmeI7I/AAAAAAAAAbQ/6njdA
VflUBs/s1600/DSC_0147.JPG
Terceira imagem do esquema da página 7 -
http://img.jornalcruzeiro.com.br/img/2013/07/12/media/101414_1.jpg
http://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.htmlhttp://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.htmlhttp://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.htmlhttp://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.htmlhttp://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpghttp://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpghttp://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpghttp://img.jornalcruzeiro.com.br/img/2013/07/12/media/101414_1.jpghttp://img.jornalcruzeiro.com.br/img/2013/07/12/media/101414_1.jpghttp://img.jornalcruzeiro.com.br/img/2013/07/12/media/101414_1.jpghttp://www.caraiva.net.br/casasaluguel/10204/colares.jpghttp://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.htmlhttp://www.acheiviagem.com.br/porto-seguro/13/destino.html