Trabalho Bento Prado

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  • 7/29/2019 Trabalho Bento Prado

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    UNIFESP

    O estilo, a existncia e a

    linguagem de Rousseausegundo Bento Prado Jr.

    Uma introduo leitura de Rousseau

    Adriano

    06/10/2009

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    O mais recente ensaio de Bento Prado Jnior acerca do pensamento de

    Rousseau, A retrica de Rousseau, nos apresenta como concepo de leitura

    e interpretao filosfica dos textos clssicos um desprendimento da tarefa

    hermenutica da leitura estrutural em vista de um encontro com as intuies

    originrias do filsofo em questo. O que est em jogo a concepo de

    tempo lgico como um tipo ligao(acronolgica) entre o autor em seu tempo e

    o leitor em seu tempo. A hiptese de Bento Prado acerca da construo

    filosfica poltico-literria elaborada por Rousseau de que, como um autntico

    fazedor de seu ofcio, ao colocar-se contrariamente aos movimentos de sua

    poca, remete suas obras a um tempo futuro, a um leitor extemporneo. Esta

    hiptese implica um amadurecimento da maneira como se l o texto atravs

    dos sculos (so inmeras as chaves de leitura: kantismo, marxismo,

    nietzscheanismo, freudismo, fenomenologia(pelo menos a de Cassirer),

    frankfurtismo, existencialismo, estruturalismo, e agora, maneira brasileira, um

    literalismo?). E exatamente este processo de mltiplas interpretaes que

    torna possvel a contribuio dos clssicos de Rousseau s questes que

    ficaram suspensas para alm de seu tempo.

    Consoante Bento Prado, a poca de Rousseau ainda um crepsculoda metafsica, uma pr-cincia do homem em que o universo cultural o obriga

    a invitar suas idias para um outro tempo, onde suas questes podem ser

    retomadas e reelaboradas. preciso sempre uma nova gerao para romper

    com as valorizaes de seus predecessores1. Rousseau, agora, emerge com

    uma nova face para ns, para alm do circulo hermenutico que o encerra em

    seu tempo. A perspectiva historiogrfica, na viso de nosso intrprete, se

    choca com o movimento do pensamento. Ater-se a ela negligenciar o tempo

    vivo do discurso, os esforos de reflexo e objetivao do autor no decurso de

    sua obra.

    mile Brehier alude a uma dialtica da separao na criao filosfica.

    No se busca, como outrora, a extino das contradies, a unidade absoluta,

    mas sim as distncias, as lacunas e os limitesda obra. aqui que Bento Prado

    1Esta hiptese e a da pr-ciencia encontram-se amplamente analisadas emA formao do esprito

    cientfico de Gaston Bachelard. Ele busca exatamente o rompimento com a tradio epistemolgica dosc. XIX para o encontro de novas realidades, para uma construo cada vez mais apurada do real dadas

    as multiplicidades e as dialticas interpretativas.

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    trata de uma cumplicidade entre filosofia e literatura. O estilo filosfico

    escolhido pelo autor , ao mesmo tempo, ruptura e identidade com

    determinados aspectos da tradio, como uma ponte que liga os temas

    clssicos (universais, se que podemos deduzir isto) aos problemas inditos,

    emergentes. o pensamento que se dobra em busca de novos formas de se

    atingir um objetivo, por mais inconsciente que possa ser um processo de

    criao.

    A Nova Helosa atesta esta cumplicidadede estilos. Ele desenvolve os

    grandes problemas postulados pela sua obra tachada filosfica, numa forma

    pictrica, representativa. Entremos, pois, no ncleo desta teoria, por um lado

    herdeira de Bergson, Merleau-Ponty, Brhier, Starobinsky, e por outro deProust, Antnio Cndido e mais no sei quem.

    O sentido da existncia

    A Nova Helosa pode ter uma nova interpretao na medida em que arealidade da obra que se desloca.

    O homem um fenmeno cultural. Ele acontece graas a um sistema,

    uma ordem de relaes que o articula com outros seres. No faz sentido dizer

    que homem e natureza obedecem exatamente s mesmas razes (a grande

    distino do em-si e do para-si). A humanidade constituda por sua

    intersubjetividade 2 , e est submetida aos mltiplos olhares e opinies,

    radicalmente contrrios ao modo objetivo como a cincia nos apresenta a

    natureza.

    Brhier nos indica uma imbricao da filosofia na literatura nas ltimas

    dcadas. H uma ligao interna entre o espao e a abordagem, no apenas

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    Na Crtica da faculdade do Juzo de Kant, a intersubjetividade um elemento para a definio do belo.Para Cassirer, emA filosofia das formas simblicas, As formaes culturais(arte, mito, religio, cincia,

    linguagem) so construes puramente subjetivas, que obedecem lgica prpria de seu crculo ativo.

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    entre filosofia e literatura, mas em todos os ramos da atividade humana. A

    distino entre as duas reas empiricamente negada. Para Merleau-Ponty, a

    literatura no uma forma regional de linguagem, mas sim solicitada pelo

    prprio ser. Rousseau , pois, um profeta dos temas da contemporaneidade.

    Ele nos traz a existncia e o discurso, a sociabilidade e a linguagem, a

    natureza e a cultura. Para Bento Prado, clara a virada estratgica inaugurada

    por Rousseau: ele que prenuncia a teoria crtica, a dialtica materialista, a o

    psicologismo e a psicanlise, o existencialismo... enfim, apesar destas leituras

    serem inditas, fundamentais para a compreenso da filosofia contempornea,

    Starobinsky adverte que cada uma delas encerra o sentido que Rousseau

    destinou a sua obra. Bento Prado, ao voltar-se para a poltica atual (no s do

    3 mundo, mas de uma forma geral), v que esta virada no pensamento

    ocidental ainda no terminou. As questes abertas por Rousseau ainda no

    cicatrizaram, e os problemas sociais, so cada vez mais complexos e latentes.

    O Emlio e O contrato social so alternativas para um mesmo

    pensamento, so vias diversas de um mesmo fio condutor. Cada obra um

    momento essencial, um instante do pensamento do autor em desenvolvimento.

    No mais uma tolice procurar o carter filosfico de discursos que esto forada filosofia. A tradio separou os livros srios(objetivos) dos

    delirantes(subjetivos), todavia ao depararmo-nos com a idia de existncia,

    percebemos que seus escritos perifricos adquirem tal importncia que

    reduzir sua filosofia aos seus tratados mais objetivos um crime contra o

    filsofo. No podemos ser racionalistas a ponto de encerrar a subjetividade na

    iluso, bem como Descartes que v a alma encerrada nas paixes. A

    experincia humana tem alcance ontolgico, nos abre um caminho para novas

    dimenses da realidade, seja ela potica ou poltica, objetiva ou subjetiva. As

    elucidaes de Merleau-Ponty acerca desta continuidade entre o em-si e o

    para-si3 nos atestam a necessidade de considerar todos os fatores (objetivos,

    subjetivos, contextuais, extemporneos, foras csmicas, etc...) que

    influenciaram sua filosofia e duas diversas expresses. E vemos aqui o pleno

    carter da prpria filosofia como nos legada.

    3Fenomenologia da Percepo.

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    Percebemos tambm que no h um psicologismo em Rousseau, pois a

    realidade no est encerrada na interioridade humana. O que ele nos traz a

    prpria experincia da existncia em seus escritos (principalmente os

    literrios). Para uma reflexo poltica isto essencial, trata-se da relao

    humana com o outro. Da mesma forma, um encontro consigo mesmo numa

    dimenso tica, no mbito prprio dela mesmo: na experincia, na prtica

    que a tica se realiza4, e no somente na abstrao lgico-terica. A liberdade

    , pois, uma experincia.

    Muito intrigante tudo isso, posto que uma leitura estrutural do contrato

    social nos diria que a liberdade, na nossa deturpada condio social, sermos

    constrangidos por ns mesmos (pela soberania do povo). Em outras palavras,no mais a natureza que governa o homem, assim sendo, quem o poder

    governar melhor que si mesmo? Isso, segundo Rousseau, pode ser chamado

    de liberdade, mesmo que implique uma srie de disposies e

    regulamentaes conforme um contrato entre a sociedade. Em relao

    metafsica, esta uma grandiosa libertao, porm este estado no pode

    garantir qualquer felicidade que o sujeito viesse a ter com a experincia mstica

    com o transcendente. Mas Rousseau, ao final da proposta do contrato,apresenta-nos o direito f, a religio civil, no como um suprimento s

    necessidades imaginrias do homem, como um formador da moral de um povo.

    Para alm desta psicologia moralista de massa5, a obra de Rousseau

    nos traz os grandiosos temas da ordeme da existncia, do sere da aparncia,

    da experincia vividae da educao, que emergem como fios condutores de

    suas obras, tanto filosficas quanto eruditas. Tais fios condutores podem

    mostrar Rousseau como um iluminista, pois aposta que pode haver ordem,virtude e educao. Mas a anlise de seu pensamento nos mostra como todo

    este idealismo sucumbe, e, portanto, Rousseau ultrapassaria seu tempo, a

    modernidade ilustrada em que viveu, projetando-se nos grandes problemas

    contemporneos de nossa civilizao ocidental, inclusive nas formas de como

    fazer filosofia e cincias humanas. Starobinsky nos diria que acima da estrutura

    4Este um legado de Wittgenstein para a contemporaneidade: tica no est nos livros. Nossa

    linguagem no nos permite sequer pensar sobre ela. Apenas praticar.5Conceito hiper complexo. Da idia de povo, perpassando a idia de soberania, chega-se idia de

    classe(metafsica). A idia de massa vem da teoria crtica.

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    conceitual existem determinadas imagensque revelam a lei da obra(ordem) e a

    inteligibilidade da vida(existncia).

    Destarte, seu estilo e seus recursos de linguagem nos remetem

    prpria forma da experincia humana, sua riqueza e deturpao, e da temosensejo para refletir sobre tica e poltica, sobre arte e filosofia, sobre amor e

    morte. No podemos negligenciar que quase todas as questes platnicas so

    rediscutidas por Rousseau e levadas a um mbito que nos parece muito mais

    familiar: as cincias humanas. A reflexo acerca da experincia vivida e a

    construo terica do homem e de sua sociedade nunca puderam contar com

    exponenciais maiores. Bento Prado nos aponta para um paralelismo entre

    experincia(existncia) e reflexo(ordem). A discusso acerca da infncia noEmlio nos traz a tona o tema clssico do ser e da aparncia, que o mesmo

    evocado na passagem do estado natural sociedade. Nas palavras de Bento:

    um vu que se introduz entre as almas e impede o acesso natureza. O

    desejo o de voltar pureza original. o paradigma da vida adulta: a perda da

    inocncia, da virtude, para uma sociedade mascarada, viciosa. Temos, pois, o

    grande tema para seu romance e uma dvida herdada para o contemporneo: a

    transformao social.

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    Bibliografia

    PRADO JNIOR, Bento. A retrica de Rousseau e outros ensaios:

    Bento Prado Jr.. So Paulo: Cosac Naify, 2008.