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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PSICOLOGIA NA SAÚDE A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI E A VISITA TÉCNICA AO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL MARIA CLARA MACHADO Cíntia Lo Bianco Ponciana Beserra Sabrina Sônia de Jesus Tamires Orestes Rubia Venino

TRABALHO CAPSI - PSICOLOGIA NA SAÚDE - AV2

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Trabalho elaborado no mês de outubro/novembro de 2010 para a AV2 da disciplina Psicologia na Saúde, da Universidade Estacio de Sá. (Talvez não fique com as formatações da ABNT, assim como não ficou no primeiro).

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁCURSO DE SERVIÇO SOCIAL

PSICOLOGIA NA SAÚDE

A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI E A VISITA TÉCNICA AO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL MARIA CLARA

MACHADO

Cíntia Lo BiancoPonciana Beserra

SabrinaSônia de Jesus

Tamires OrestesRubia Venino

Rio de Janeiro11/2010

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A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI E A VISITA TÉCNICA AO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL MARIA CLARA

MACHADO

por Cíntia Lo Bianco, Ponciana Bezerra, Sabrina, Sonia de Jesus, Tamires Orestes e Rubia Venino.

Trabalho acadêmico elaborado com o objetivo de obter aprovação na AV2 da disciplina Psicologia na Saúde da Universidade Estácio de Sá.

Rio de Janeiro11/2010

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“Os familiares que aprenderam com as próprias práticas psiquiátricas, que o seu familiar doente deveria ser internado, isolado, desconsiderado enquanto cidadãos podem aprender outra forma de lidar com o mesmo, vislumbrando suas potencialidades, suas dificuldades e, enfim, outra trajetória de vida que não a da institucionalização.”Amarante (1997).

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo dissertar acerca do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS em seu contexto histórico, sua definição e funcionamento, a atuação de um assistente social no CAPSI (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), o Movimento de Reforma Psiquiátrica, considerando o CAPS como uma nova tecnologia de tratamento de doenças mentais, bem como fazer um detalhamento da entrevista realizada com a assistente social Eliana Diogo, do CAPSI Maria Clara Machado e finalizando com a conclusão do estudo elaborado. Este trabalho procura demonstrar a atitude dos funcionários destes centros, em prol do bem estar da sociedade, especialmente as crianças e os adolescentes, tema analisado neste trabalho. E que, de alguma forma, surta efeito para que as pessoas não alimentem em si o preconceito descarado nem o camuflado, que tomem atitudes positivas tanto para com as crianças, quanto para seus familiares a obterem novas possibilidades de vida e um futuro promissor para todos os mais necessitados.

Palavras-chave: CAPS, CAPSI, entrevista.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO …............................................................................................................................6

1- CAPS/CAPSI – DEFINIÇÃO E

FUNCIONAMENTO…....................................................................................................................8

2- A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI..................................................................10

3- MOVIMENTO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA …….........................................................13

CONCLUSÃO ….............................................................................................................................17

BIBLIOGRAFIA ….........................................................................................................................18

ANEXO: ROTEIRO DE ENTREVISTA …..................................................................................20

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INTRODUÇÃO

Depois do golpe militar de 1964, a política oficial na área de saúde mental, se baseava no

crescimento dos leitos psiquiátricos, ampliando a rede privada, no momento em que a população se

movia para a “desospitalização”. Desta forma, a internação psiquiátrica se consolidou e se

transformou, praticamente, na única alternativa de atenção em saúde mental no Brasil. Já no final da

década de 1970, a sociedade buscava alternativas mais adequadas, técnica e politicamente, para o

tratamento do doente mental, pautadas pelo princípio da “desinstitucionalização”, em que os

fundamentos organizados da sociedade civil incorporaram o movimento iniciado na Itália,

conhecido como Rede de Alternativas à Psiquiatria, buscando formas de confrontar o modelo

instituído no país. Em 1979 ocorreu a visita do psiquiatra italiano Franco Basaglia e o I Encontro

Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental, realizado em São Paulo, que foram dois momentos

históricos na discussão das Políticas de Saúde Mental no Brasil.

Surge nesta situação o Movimento de Reforma Psiquiátrica que, baseando-se na

redemocratização do país, formulou críticas ao saber e às instituições psiquiátricas e também, ao

aparato manicomial. Esta atitude concreta subsidiou a formulação pelo Ministério da Saúde, da

Portaria n.224 que, em 1992, estabelecia pela primeira vez critérios para o credenciamento e

financiamento do CAPS no Sistema Único de Saúde (SUS).

No Brasil, pelo campo legislativo, a mobilização da sociedade civil, aliada a sociedade

política, fez tramitar no Congresso o Projeto de Lei n° 3.657/89, do deputado federal Paulo

Delgado, que discorre sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros

recursos assistenciais (Hospitais-Dia, Núcleos e Centros de Atenção Psicossocial – NAPS e CAPS,

Lares Protegidos). Esse projeto, sancionado e transformado em Lei sob o número 10.216, em abril

de 2001, amparado numa compreensão progressista de assistência, é um dispositivo utilizado pela

sociedade organizada na busca da reforma da legislação psiquiátrica e consolida o processo de

discussão sobre a doença mental e as instituições psiquiátricas. A lei de n° 10.216/01, de abril de

2001, relaciona os direitos dos portadores de doença mental, reforçando a inclusão social e

regulamentando uma nova política de assistência psiquiátrica no país.

Assim, ocorreu a consolidação da estratégia de serviços comunitários (CAPS) como

equipamentos prioritários de organização da atenção em saúde mental. O surgimento do CAPS

deu-se tanto com a história da saúde mental e a Reforma Psiquiátrica no Brasil, quanto em

ressonância com o que ocorrera nas décadas anteriores em países da Europa e EUA.

O desenvolvimento de um CAPS nasceu da aposta na mudança do modelo assistencial e na

criação de serviços substitutivos e o enfoque psicanalítico começa a ganhar algum sentido para além

de uma aparente arbitrariedade. Isso porque o viés psicanalítico se afina bem com certos

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pressupostos à ideia de Reforma Psiquiátrica, dos quais o CAPS surge como um dos possíveis

frutos.

A Psicanálise começou com Freud (1893-1895) e as pessoas histéricas, ou seja, que sofriam de

um tipo de enfermidade que não guardava quaisquer correspondências com as configurações

anátomo-fisiológicas propostas pela Medicina. Para a grande maioria dos médicos dos tempos de

Freud, a histeria revelava-se sem lógica, incompreensível. Freud apostou que haveria alguma

inteligibilidade naquela “estranha” maneira de sofrimento e, com isso, produziu conhecimento

suficiente, tanto para entender algo acerca de tal funcionamento, quanto para poder tratá-lo naquilo

em que se apresentasse como impedimento para a vida daquele indivíduo. Foi a partir dessa

concepção de Freud, que se desenvolve um movimento na direção da cura.

Com a reflexão e a aposta feita, foi necessária uma atitude empírica para constituir um campo

de trabalho desde aquilo que se configurava enquanto norteador.

O nome CAPS foi utilizado pela primeira vez pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo

para descrever um serviço de atenção diária com funcionamento em dois turnos, durante cinco dias

na semana, que pretendia ser intermediário entre a unidade hospitalar e a comunidade. Foi decidido

no fim da década de 1980 como um espaço de referência para o usuário – lugar para ir, encontrar

pessoas, desenvolver alguma atividade, conversar, fazer um lanche, tomar remédio e voltar para

casa.

Os CAPS, considerados indistintamente pelo Ministério da Saúde, surgiram como modelos

assistenciais que, pelo menos em tese, procurariam desligar-se com o manicômio em seu maior

significado. O conhecimento prévio do funcionamento do CAPS fez pensar que este seria o espaço

mais adequado ao desenvolvimento de uma pesquisa que pressupunha a participação dos técnicos e

um compromisso real de transformação da assistência em Saúde Mental. O Ministério da Saúde

adotou o termo CAPS para descrever os serviços tidos como substitutivos que se tornaram uma

forma de combate ao antigo modelo assistencial. Hoje em dia, os CAPS são reconhecidos pelo

Ministério da Saúde como um serviço ambulatorial de atenção diária que funciona segundo a lógica

do território. Representam o articulador central das ações de saúde mental do município ou do

módulo assistencial e se apresentam nas seguintes modalidades e serviços: CAPS I, CAPS II, CAPS

III, CAPSI – Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil e CAPSAD – Centro de Atenção

Psicossocial Álcool e Drogas, definidos por ordem crescente de porte e complexidade e abrangência

populacional.

O assunto da avaliação de serviços em Saúde Mental foi considerado muito importante no país

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principalmente a partir de meados da década de 1990, após um momento inicial de implantação dos

primeiros serviços substitutivos. O começo que norteou esses estudos foi uma certa percepção

quanto à ineficiência dos antigos indicadores da assistência psiquiátrica hospitalocêntrica para

avaliar os novos serviços.

1-CAPS / CAPSI – DEFINIÇÃO E FUNCIONAMENTO:

Os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS tem procurado ser exemplo, pois nos mostra um

trabalho sério e bastante humano proporcionando aos portadores de transtorno mental

oportunidades de participação ampla na sociedade, ou seja, obtendo o direito ao trabalho, lazer e

ainda fortalecendo-se pelos laços familiares.

A equipe técnica de um CAPS é composta por psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, auxiliares

de enfermagem, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicopedagogos,

administradores e estagiários.

As funções do CAPS são as seguintes: prestar atendimento diário, evitando as internações em

unidades psiquiátricas; acolher e atender pessoas com transtornos mentais graves, buscando

conservar e estreitar os laços sociais do paciente; promover a inclusão social dos indivíduos com

transtornos mentais através de ações intersetoriais; dar suporte à saúde mental na rede básica;

articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado local e promover a

reinserção do indivíduo através de acesso ao trabalho, lazer, exercício da cidadania e o

desenvolvimento e intensidade dos laços sociais.

No Rio de Janeiro, há 56 Centros de Atenção Psicossocial - CAPS e 28 residências terapêuticas.

Em 2004, 9.197 pacientes foram atendidos no CAPS e 131 nas residências terapêuticas. O

Ministério da Saúde afirma que o programa De Volta Para Casa concretizou a reinserção ao

convívio social de 82 pessoas que estavam internadas há mais de dois anos.

Segundo o Ministério da Saúde:

“O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). É um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor da vida”.

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Os Centros de Atenção Psicossocial Infantil foram sugeridos a partir de 2002 sob a mesma

premissa que dirige os demais tipos de CAPS no país. Seus serviços são territoriais, de natureza

pública, possui financiamento integral com recursos gerados pelo Sistema Único de Saúde – SUS,

com a atribuição de proporcionar atenção em saúde mental, com base no cuidado em seu sentido

completo. Inicialmente, foram elaborados com a finalidade de atender casos severos, de acordo

com a deliberação da III Conferência Nacional de Saúde Mental realizada em 2001, e regular a

demanda na área de saúde mental infantil em seu território.

A implantação do Centro de Atenção Psicossocial Infantil - CAPSI constitui, atualmente, as

bases que sustentam a saúde mental pública para crianças e adolescentes. Isto ressalta que haverá

maior empenho em distintos níveis de intervenção, capazes de resolver as diferentes problemáticas

que envolvem a saúde mental infanto-juvenil.

Os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS e os Centros de Atenção Psicossocial Infantil –

CAPSI funcionam de 8 às 17horas ou de 9 às 17 horas, de segunda a sexta-feira. O atendimento é

realizado sob um modelo que se diferencia conforme local, comunidade, equipe de trabalho e

usuários, obtendo características próprias segundo a interação desses fatores. Como em alguns

dispositivos não há o serviço de emergência psiquiátrica, as pessoas também buscam no Centro de

Atenção Psicossocial – CAPS atendimento para seu familiar em crise. Assim, o CAPS acaba

funcionando como emergência, recebendo e medicando esses pacientes e evitando, quando há essa

possibilidade, encaminhá-los para a internação. Quando este tipo de caso acontece, a equipe dá um

suporte dedicado, incluindo as visitas domiciliares. Como o CAPS e/ou CAPSI funciona apenas

cinco dias na semana, a internação, às vezes, não pode ser evitada. O motivo está nas alternativas

inexistentes de assistência nos momentos de crise.

O Centro de Atenção Psicossocial Infantil – CAPSI geralmente é constituído por uma equipe

multiprofissional, contendo no mínimo um psiquiatra, um neurologista, um pediatra formado em

saúde mental infantil, um enfermeiro, um psicólogo, um assistente social, um terapeuta

ocupacional, um fonoaudiólogo e um pedagogo.

Desde a sua criação, há a evolução no país do número de CAPSI. Ao final de 2007 existia um

total de 86 CAPSI em funcionamento. Em cinco anos, de 2002 a 2007, 54 novos serviços foram

disponibilizados. A partir de 2005, apenas 24% dos CAPSI pleitearam recurso junto ao Ministério

da Saúde para financiamento de supervisão clínico – institucional objeto do programa de

qualificação do atendimento e gestão administrativa.

O CAPSI deve possuir a responsabilidade de realizar o atendimento de crianças e adolescentes

junto às suas famílias, em diferentes tratamentos, ou seja, tratamento intensivo, semi-intensivo e

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não intensivo, de acordo com cada caso. Dessa forma, abre-se um leque de diversas ofertas

terapêuticas, que vem auxiliar o paciente em sua reabilitação.

Recreação de crianças no CAPSI, na cidade de Patos, na Paraíba.

2-A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI

O CAPS possui uma equipe multiprofissional e são diversas as atividades desenvolvidas em seu

espaço, com ofertas terapêuticas classificadas como atendimento individual ou em grupo, oficinas

terapêuticas e criação, atividades físicas, além da medicação, que antigamente era considerada a

primordial forma de tratamento do indivíduo. Neste mecanismo, a família é incluída como a fatia

fundamental do bolo, ou seja, parte essencial do tratamento, tendo acesso livre aos serviços

oferecidos, sempre que for necessário.

No exemplo do CAPSI, o Centro de Atenção Psicossocial Infantil é uma ação brasileira

essencial, pois responde à demanda de ampliação de acesso ao tratamento para casos que, até então,

não estavam dentro da área formal de saúde mental – como os casos de autismo, e

concomitantemente, tem por finalidade melhorias no conhecimento clínico e sobre a organização

dos serviços no espaço da saúde mental infantil. Ressalta-se que a montagem de serviços

multiprofissionais, de base comunitária e com especialização em tratamentos para crianças com

diversos e complexos transtornos mentais vem sendo assegurada internacionalmente.

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A demanda por ampliação do número de CAPSI torna-se uma necessidade urgente, bem como

ambulatórios e demais dispositivos de saúde mental, em particular os dispositivos voltados

especificamente para a infância e adolescência.

Acerca do trabalho realizado pelos assistentes sociais, a ação profissional destes no CAPSI

oscila entre o antigo e o novo mecanismo de cuidado na área de saúde mental, ou seja, alguns

profissionais apresentam um trabalho empírico voltado para o tradicional, focado na perspectiva do

transtorno mental e o excluindo do exercício de sua cidadania, e outros trabalham associando-se à

premissa inovadora do Movimento de Reforma Psiquiátrica, compreendendo o paciente em seu

sentido civil e social.

Os assistentes sociais trabalhando de forma interdisciplinar constroem a mudança do

mecanismo de atendimento ao lado de profissionais da área, de outros profissionais, dos pacientes e

de seus familiares. Os profissionais de Serviço Social demonstram uma compreensão maior a

respeito da Reforma Psiquiátrica se for comparada a de alguns outros profissionais da equipe, pois

conseguem percebê-la como um processo além da desospitalização e uma forma de viabilizar novos

serviços, identificando sua perspectiva de separação com o mecanismo tradicional.

Crianças assistidas pelo CAPSI da cidade de Socorro, no Sergipe, fazendo atividades de pintura.

O trabalho em equipe no CAPSI ao ser definido como meta tem que haver o enfrentamento dessas

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diferenças no processo de trabalhar/cuidar. Fazer a interação das intervenções de saúde mental

infantil com outros programas do setor, sem os descaracterizar, depende de uma gestão pública

clara, cuja garantia é dada por uma política de âmbito nacional.

Numa pesquisa que parte de um entendimento sistêmico e que aborda a interdisciplinaridade no

Serviço Social, Vasconcelos expõe a seguinte tipologia:

Multidisciplinaridade ou multiprofissionalidade: conjunto de profissionais de diferentes áreas

trabalhando isoladamente, embora num mesmo espaço institucional, operando simultaneamente

diferentes saberes, sob uma coordenação apenas administrativa.

Pluridisciplinaridade: as práticas multiprofissionais são agregadas em alguns espaços e tempos de

interlocução “científica”, como discussões clínicas e estudos de caso com o objetivo de planejar e

avaliar as ações assistenciais.

Interdisciplinaridade auxiliar: contribuições de uma ou mais disciplinas para o domínio de uma

disciplina específica que se posiciona como campo coordenador das demais. Essas práticas são

observadas em situações da psiquiatria contemporânea que, com a finalidade de manutenção da

hegemonia médica no campo da atenção à saúde mental, apropria-se de contribuições de outras

disciplinas, de forma subordinada.

De acordo com Vasconcelos, a interdisciplinaridade:

“É entendida como estrutural, havendo reciprocidade, enriquecimento mútuo, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos. Exige a identificação de uma problemática comum, com levantamento de uma axiomática teórica e/ou política básica e de uma plataforma de trabalho conjunto, colocando-se em comum os princípios e os conceitos fundamentais, esforçando-se para uma decodificação recíproca da significação, das convergências desses conceitos e, assim, gerando uma fecundação e aprendizagem mútua, que não se efetua por simples adição ou mistura, mas por uma

recombinação de elementos”.

Transdisciplinaridade: radicalização da interdisciplinaridade que sinaliza a integração da equipe, na

medida em que se constitui como um eixo em torno do qual se organiza a dinâmica cotidiana de

trabalho.

No CAPSI, todos os agentes e meios precisam ser organizados, visando-se a transformação do

objeto de trabalho, ou seja, os pacientes infantis, realizando a reabilitação psicossocial.

3-MOVIMENTO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA:

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A Reforma Psiquiátrica surge da crítica ao modelo asilar de tratamento da loucura, pautado

pela concepção do louco como doente mental e da loucura como doença. Tem como o principal

objetivo, constitui-se em poder transformar as relações que a sociedade, os sujeitos e as instituições

estabeleceram com o usuário, conduzindo tais relações no sentido da superação do estigma, da

segregação e da desqualificação dos sujeitos, ou ainda, estabelecer com a loucura uma relação de

coexistência, de troca, de solidariedade e de cuidados.

A Reforma Psiquiátrica é o conjunto de iniciativas políticas, sociais e culturais,

administrativas e jurídicas, que parte das transformações na instituição e no saber médico-

psiquiátrico até as práticas sociais em lidar com as pessoas com problemas mentais e que apresenta

como referência fundamental a desinstitucionalização. (Amarante, 1994)

Desinstitucionalizar significa tratar o sujeito em sua existência e em relação com suas

condições concretas de vida. Isto significa não administrar-lhes apenas fármacos ou psicoterapias,

mas construir possibilidades. A desinstitucionalização é acima de tudo um processo ético, de

reconhecimento e uma prática que introduz novos sujeitos de direito e novos direitos para os

sujeitos. De uma prática que reconhece, inclusive, o direito das pessoas mentalmente enfermas em

terem um tratamento efetivo, em receberem um cuidado verdadeiro, uma terapêutica cidadã, não um

cativeiro. Sendo uma questão de base ética, o futuro da reforma psiquiátrica não está apenas no

sucesso terapêutico – assistencial das novas tecnologias de cuidado ou dos novos serviços, mas na

escolha da sociedade brasileira, da forma como vai lidar com os seus diferentes, com suas minorias,

com os sujeitos em desvantagem social. (idem, 1995, 494).

Na 2ª Conferência, quando há, uma grande representação dos usuários de serviços em saúde

mental, questionando o saber psiquiátrico e o dispositivo tecnicista frente a uma realidade que só

eles conhecem e pedindo o fim do manicômio através da criação de equipamentos e recursos não

manicomiais, tais como: centro de atenção diária, residências terapêuticas e cooperativas de

trabalho na rede pública de assistência à saúde. Sua proposta principal, presente em todas as

diferentes experiências construídas sob sua proteção, é de que se criassem novas maneiras de lidar

com a loucura e com o louco, de forma que o mesmo não ficasse no lugar de tutelado, (de alguém

sem voz e sem vez), a ser gerido por outro que – esse sim – saberia a seu respeito.

A Reforma Psiquiátrica exige que as residências terapêuticas se desenvolvam através de

atividades que permitam maior trânsito dos moradores pela cidade. Dessa forma, a comunidade e a

cidade se tornam protagonistas do processo de reabilitação e de construção da rede social como

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característica importante na mudança da vida cotidiana dos pacientes resgatando sua história e

tornando possível a vida das pessoas que viviam confinadas no interior dos hospitais psiquiátricos,

além de impelir o sistema de saúde a elaborar modos mais humanizados. Como movimento social,

ampliou a pauta de discussões e reivindicações e propôs a superação radical do modelo psiquiátrico

tradicional, utilizado nas práticas assistenciais e que representava a soberania do saber médico sobre

a loucura.

O movimento da Reforma Psiquiátrica assume assim, a partir de 1992, o desafio para

expressar a ética em todos os domínios da vida, um desafio para a construção de uma democracia

real que tem na participação (interesse, valores e opiniões) a força do coletivo como instrumento de

referência nas diversas instâncias que compõem o público. A partir das reformulações propostas

pela 2ª conferência se sucedem três momentos importantes na Reforma:

1º - A fragmentação de grandes hospitais públicos em unidades autônomas com pluralidade

de ofertas terapêuticas. No Rio de Janeiro, os velhos pavilhões dos três grandes hospitais

federais (Colônia Juliano Moreira, Centro Psiquiátrico Pedro II e Hospital Philippe Pinel)

transformam-se em centros comunitários, hospitais-dia, clubes de lazer, etc.;

2º - Com a implantação de serviços que substituem os manicômios surgem unidades de

serviços extra-hospitalares com investimento em ações de sociabilidade e de

desenvolvimento de potencialidades. Desse modo, é implantada uma rede de Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS) como serviço de atenção diária, com oferta de atenção

ambulatorial e expressão criativa;

3º - A preocupação com a questão de moradia leva à criação de residências terapêuticas.

O CAPS, como serviço de saúde mental, atendem pessoas com transtornos mentais severos e

persistentes, como psicoses e neuroses graves, buscando amenizar e tratar as crises para que estas

pessoas possam recuperar sua autonomia e se reinserir nas atividades cotidianas. Por possibilitar

que seus usuários voltem para casa todos os dias, evitando a quebra nos laços familiares e sociais,

fator muito comum e enfraquecido em internações de longa duração, ao mesmo tempo em que

funciona como um lugar de referência para seus usuários. Neste sentido, os serviços substitutivos

teriam uma dupla função no que se refere à constituição de redes sociais.

Em outubro de 1995, por intermédio da Gerência de Programas de Saúde Mental do Rio de

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Janeiro - GSM/SMS/RJ foi realizado o I Censo de Internos dos Hospitais Psiquiátricos da cidade do

Rio de Janeiro. Os principais objetivos foram desenhar um perfil clínico e socioeconômico da

clientela usuária desses serviços, além de obter dados sobre as áreas mais carentes da cidade no

referente aos recursos de atenção em Saúde Mental. Tais informações foram importantes na

determinação dos locais onde, posteriormente, foram instalados os CAPS. Como estratégia de

construção de uma rede de atenção em Saúde Mental, teve início em 1996 a implantação dos CAPS

no Rio de Janeiro.

Uma nova perspectiva que implicaria na produção de espaços de acolhimento e atenção ao

sofrimento psíquico, nos quais seriam assumidos compromissos e responsabilidades em dar suporte

àqueles que não se enquadram nos padrões da normalidade. Na concepção da Gerência de

Programas de Saúde Mental do Rio de Janeiro - GSM/SMS/RJ, essa nova proposta de atenção se

materializaria nos CAPS, que deveriam ser implantados em toda a cidade do Rio de Janeiro,

atendendo aos princípios da regionalização e conectando-se às demais instâncias da vida social

relacionadas ao lazer, cultura, trabalho, entre outros. Além disso, comportaria um dos princípios

destes serviços o pressuposto de repensar e construir práticas a partir da demanda de seus usuários.

Hoje, a política nacional de saúde mental reforça a atenção de base territorial, em substituição

à atenção hospitalar tradicional. Essa reorientação pode ser observada na diminuição do total de

leitos psiquiátricos e no aumento do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no país.

Considerando a Reforma Psiquiátrica um processo social complexo, a mesma possui quatro

dimensões que devem ser trabalhadas de forma simultânea e inter-relacionadas. São as seguintes:

Dimensão Teórico-Conceitual – refere-se ao campo epistemológico, aos conceitos e saberes

que respaldam as práticas desenvolvidas no âmbito da saúde mental.

Dimensão Técnico-Assistencial – relaciona-se com os modos de atenção em saúde mental e

com os conceitos e as práticas advindas deste paradigma.

Dimensão Jurídico-Política – propõe-se a discutir questões relacionadas à revisão da

legislação sanitária e psiquiátrica, resgatando para a pauta das discussões questões como

cidadania, direitos (civis, humanos e sociais), ao mesmo tempo em que aponta para a

necessidade de redefinição das relações sociais até então estabelecidas com a loucura e com o

sujeito em sofrimento psíquico.

Dimensão Sociocultural – propõe – se a trabalhar na perspectiva de transformação do

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imaginário social acerca da loucura, vislumbrando outro lugar para a loucura e para o sujeito em

sofrimento psíquico na sociedade. Esta dimensão é a que apresenta maior dificuldade para ser

alcançada, em face de toda história estigmatizante da loucura e pela relação de dependência com

as demais dimensões, de forma integrada e articulada, assegurando no cotidiano da vida outros

significantes para a loucura. Esta mesma dimensão é a que contempla o objetivo maior da

Reforma Psiquiátrica, que é o de promover transformações sociais acerca do imaginário social da

loucura.

A Reforma Psiquiátrica implica mudanças culturais e sociais radicais nesses quatro campos,

afirmando-se como movimento social, o que se permite avançar e descobrir novos conceitos, outras

práticas, outros lugares tanto para usuários quanto para técnicos de saúde mental.

Apesar de o CAPS estar avançando ainda há muito que fazer, é necessário ampliar a

projeção do CAPS diante das políticas sociais. O CAPS precisa se inscrever de forma mais ampla

na transformação social. Para tanto, é essencial poder estruturá-lo de forma a ocupar outros

territórios.

Coral “te ofereço paz”, do CAPSI, na cidade de Patos, na Paraíba, promovendo a inclusão.

CONCLUSÃO:

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Após o estudo deste trabalho, concluímos que é importante a reflexão dos profissionais

acerca do compromisso ético para que seja possível atribuir um novo significado à assistência

psiquiátrica, ou seja, para que se pense numa forma que viabilize o estreitamento dos laços entre os

profissionais e os usuários, nesta pesquisa, identificados como pacientes infantis. Outro fator

importante no vínculo do usuário, com o serviço do CAPS é o contato com os profissionais, mesmo

que o tratamento já tenha se finalizado. Com essa medida, o CAPS produz no psicológico do

indivíduo, seja adulto ou criança, uma notória transformação.

É necessária uma abordagem em que se saiba ouvir e acolher o usuário. Dessa maneira,

ocorre um bem – estar no psicológico da criança.

Os profissionais, principalmente os psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais, precisam

conhecer os usuários e seus familiares. Precisam compreender o portador de transtorno mental, e

enxergá-lo não como um louco, mas sim como uma pessoa que é capaz de ter seus direitos como

cidadão. É de muita importância que seja abolido o preconceito ainda existente na intervenção dos

profissionais em relação ao portador de transtorno mental.

O atendimento psicossocial favorece a vida do portador de transtorno mental, todavia há

obstáculos, sendo um deles a interrupção do novo mecanismo de cuidado na área do CAPS, por má

gestão administrativa, entre outros. Possui urgência a ampliação do número de CAPSI para todas as

regiões do país, principalmente Norte e Centro-Oeste, e para as cidades de grande porte onde existe

o maior número de crianças que necessitam de tratamento. A principal finalidade do Movimento de

Reforma Psiquiátrica é reinserir o indivíduo com doença mental no convívio com sua família e sua

rede social, sendo um de seus tratamentos a visita domiciliar.

Apesar de algumas dificuldades de manter em retidão a medida psicossocial, a mudança

ocorre aos poucos, conservando sempre o objetivo de recolocação do indivíduo na sociedade.

A formação dos profissionais que atuam nos Centros de Atenção Psicossocial é outro item a

ser melhorado: deve haver a continuação de treinamentos, reciclagens para habilitar os profissionais

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em suas funções, fazendo-os trabalhar com um novo mecanismo de cuidado. Há a necessidade

dessa medida em Saúde Mental, pois a formação universitária não possui toda a autonomia para ter

em seu domínio as novas transformações que exige o Movimento de Reforma Psiquiátrica.

Incluindo em sua vertente o CAPSI e elaborado a partir do Movimento de Reforma

Psiquiátrica, o CAPS está atribuindo dessa maneira um novo caráter à forma de cuidados com os

usuários, em busca de se promover a vida.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Patty F. de. O desafio da produção de indicadores para avaliação de serviços em saúde mental – um estudo de caso do Centro de Atenção Psicossocial Rubens Corrêa/RJ. Tese de Mestrado em Saúde Pública. Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, maio, 2002. Cópia mimeo.

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ANEXO:

ROTEIRO DE ENTREVISTA

No Centro de Atenção Psicossocial Infantil - CAPSI Maria Clara Machado, situado à Rua

Gomes Serpa n° 49 no bairro de Piedade, foi realizada uma entrevista às 14 horas do dia 08 de

novembro de 2010, com a assistente social Eliana Diogo. Reproduzimos no trabalho a fala da

assistente social.

1- Alunas: - Qual a proposta do CAPSI?

Assistente social Eliana Diogo: “- O CAPSI é um trabalho substitutivo; após a Reforma Psiquiátrica

começou a haver a desinstitucionalização, quer dizer, não ao manicômio, não ao hospício; então

começou a ser criado o trabalho dos CAPS como um dispositivo de trabalho substitutivo. E por que

psicossocial? Porque lida com a saúde mental, mas com base nos laços sociais que são mantidos.”.

2- Alunas: - Quanto tempo tem a instituição?

Assistente social Eliana Diogo: “- Esta unidade foi inaugurada em 7 de maio de 2007. Tem 3 anos e

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meio.”.

3- Alunas: - Qual o impacto, na sua visão, da criação dos CAPS na rede de assistência em saúde

mental?

Assistente social Eliana Diogo: “- O impacto é justamente no modelo em que se estabelece o

fortalecimento da cidadania, o trabalho no território dos pacientes; não é um dispositivo de saúde

em que o paciente vem, é atendido e ponto. Não. Ele é visto na comunidade, na escola em que ele

está em tudo que integra a vida dele.”.

4- Alunas: - Quais são os profissionais que integram a equipe desta unidade?

Assistente social Eliana Diogo: “- Uma equipe de saúde mental que tem psicólogo, psiquiatras,

psicopedagogos, enfermeiros, assistente social, T.O. - terapeuta ocupacional não temos, poderíamos

ter, mas não temos; tem também fonoaudióloga, professor de Educação Física e auxiliares.”.

5- Alunas: - Qual o período de funcionamento desta unidade, qual a clientela atendida (por

diagnóstico/classe social) e como é feita a triagem?

Assistente social Eliana Diogo: “- O nosso funcionamento é de segunda a sexta-feira, de 8 às 17

horas. Nós atendemos crianças e adolescentes até 18 anos. Pode se estender até 21 anos, mas

normalmente a gente faz acolhimento e avaliação de crianças até 18 anos. A triagem é a repetição

que é feita, de segunda a sexta-feira, em dois horários: de manhã e à tarde. É a primeira avaliação.”.

6- Alunas: - Qual o número de vagas?

Assistente social Eliana Diogo: “- Não tem número de vagas, o serviço é aberto, a porta de entrada é

aberta. Nós temos atualmente 240 pacientes cadastrados e mais ou menos uns 50 em avaliação”.

7- Alunas: - Quando não há vagas, qual o procedimento? Qual o encaminhamento para os

pacientes não aceitos?

Assistente social Eliana Diogo: “- Não existe não ter vaga. Se é o território que a gente atende que é

criança e adolescente até 18 anos, está sempre aberto, não existe não ter vaga. Em relação aos

pacientes não aceitos, realmente, tem pacientes que não são pra cá, são pra ambulatório ou pra outro

tipo de dispositivo, aí a gente faz o encaminhamento, que é chamado de encaminhamento

responsável: entra em contato com o ambulatório, acompanha a entrada desses pacientes lá e a

gente fica aberto à família a qualquer dificuldade que tenha pra gente poder mediar esse

encaminhamento. A gente liga pro serviço pra saber exatamente como é a recepção desse serviço,

qual horário, dizer que a gente está enviando o paciente, a gente faz o encaminhamento dirigido.”.

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8- Alunas: - De onde são encaminhados os pacientes?

Assistente social Eliana Diogo: “- São encaminhados de outras unidades de saúde do território, fora

do território e demanda livre também. Por exemplo: escolas. A gente acolhe, conversa, faz a

avaliação e encaminha pra outro dispositivo.”.

9- Alunas: - Qual o procedimento do serviço nos casos de internação?

Assistente social Eliana Diogo: “- A gente tem aqui o Nise da Silveira¹, que quando precisa de

internação a gente entra em contato com o serviço de internação de lá que é um serviço permanente,

e a gente faz o acompanhamento desse paciente lá até ter alta e poder vir pra cá. O atendimento

pode ser intensivo, não intensivo e semi-intensivo, até ter alta.”.

¹ *Instituto Nise da Silveira: é um complexo que reúne várias unidades de atendimento a populações diferenciadas, localizado no bairro do Engenho Novo, Rio de Janeiro.

10- Alunas: - Quais são os tratamentos terapêuticos?

Assistente social Eliana Diogo: “- Individual, em grupo, com os familiares, oficinas terapêuticas,

oficinas de pais.”.

11- Alunas: - Nós observamos que algumas crianças entraram e os pais ficaram aguardando do

lado de fora. Por quê?

Assistente social Eliana Diogo: “- Eles ficam realmente ali porque a gente não tem espaço aqui

dentro. A gente coloca duas cadeiras compridinhas (com três lugares) pra eles ficarem ali, a gente dá

água... E infelizmente o nosso espaço não comporta que os pais fiquem aqui dentro. O que nós

oferecemos é fazer uma sala de espera com os pais. Então, normalmente eles sobem, eles têm esse

direito de subir, são convidados a subir e ficar numa sala, ou aqui ou na outra sala.”.

12- Alunas: - Sim, mas eles participam de algum tratamento com a criança?

Assistente social Eliana Diogo: “- Não, não. Individual. Eles ficam aqui na sala. Eles não ficam em

contato com a criança não. A não ser que a criança esteja em avaliação, aí a gente pode até chamar

os pais, mas em geral, os pais não ficam.”.

13- Alunas: - Sobre os adultos, quando é constatado nos pais algum problema psicológico, há o

encaminhamento dos mesmos?

Assistente social Eliana Diogo: “- Quando o profissional de referência; profissional de referência é

o que acompanha os pacientes, cada paciente tem um profissional de referência; quando a referência

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percebe que o pai ou mãe precisa de um acompanhamento, a gente encaminha pra um ambulatório.

O atendimento individual e em grupo que existe com o pai é com relação ao tratamento dos nossos

usuários aqui.”.

14- Alunas: - Há acompanhamento dos abandonos e das faltas?

Assistente social Eliana Diogo: “- O paciente não adere ao tratamento por vários motivos, então a

gente tem que pegar o telefone e ligar; muitas vezes eu faço isso. A visita domiciliar tem que ser

feita. Às vezes a gente chama o Conselho Tutelar... Tem casos graves que dá até pra comunicar o

Ministério Público. É difícil, mas tem caso que a gente precisa comunicar a negligência dos pais. A

gente insiste, dá a medicação aqui, mas é feito esse contato sempre que o paciente não adere ao

tratamento.”.

15- Alunas: - Em relação às passagens, o CAPSI cobre quando a pessoa não tem como vir aqui?

Assistente social Eliana Diogo: “- Tem passe livre, né? É, tem passe livre que é quando o paciente é

especial, né? Quando tem transtorno mental... É só pegar o formulário lá no CRAS, traz o seu

doente... Pra obter o Riocard tem que pegar o formulário no CRAS, já o intermunicipal tem que

pegar na Central do Brasil. Tem Vale-Social, tem intermunicipal, tem interestadual. São direitos que

eles têm; a gente fornece o laudo, preenche o formulário, a gente possibilita isso a eles.”.

16- Alunas: - Qual a reação do paciente infantil diante de sua realidade?

Assistente social Eliana Diogo: “- Essa fala é meio complicada, né? Porque normalmente é mais

com os pais. Os pais, às vezes, resistem muito em entender, não entendem de imediato o que está

sendo passado pra eles.”.

17- Alunas: - A criança, portanto, não tem percepção nenhuma acerca de sua situação?

Assistente social Eliana Diogo: “- Não, pois o CAPSI cuida de pacientes com transtornos mentais

severos: autistas e psicóticos. Se precisar só de tratamento psicoterápico, a gente envia o paciente

para um ambulatório, mas aqui é somente pra transtorno severo.”.

18- Alunas: - Em quais casos são feitas as visitas domiciliares?

Assistente social Eliana Diogo: “- Nos casos de evasão, acompanhamento do caso, até pra dar a

medicação... Às vezes, os pais não vêm, não querem vir, não querem sair de casa, querem que a

médica vá a casa. É um trabalho bem diferente, singular. Tem pacientes que estão num quadro que

não é propriamente uma crise, mas se precisar de uma intervenção maior, aí a gente faz a visita

domiciliar, ou com o técnico de referência ou com a médica pra levar a medicação. Nos casos de

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violência a visita domiciliar também é feita, mas em determinados casos a gente tem que acionar

outros órgãos, outros dispositivos, ou o Conselho Tutelar, o CRAS ou a Secretaria do Deficiente. A

gente os tem como parceiros; quando o CAPSI precisa de um parceiro, se faz um trabalho

integrado.”.

19- Alunas: - Como é a relação entre o assistente social e o paciente infantil?

Assistente social Eliana Diogo: “- A relação maior se dá com a família. Eu não tenho referência, eu

não tenho um paciente de referência. Eu trabalho com todas as referências, é diferente. Porém, não

impede também que eu faça alguma intervenção com o paciente, caso seja preciso.”.

20- Alunas: - Como é a relação entre o assistente social e os familiares do paciente?

Assistente social Eliana Diogo: “- A relação é justamente essa que eu lhe falei. É uma proximidade

maior, intervenção com a família, no sentido de estar garantindo acesso aos pacientes, garantia de

direitos, acesso à escola, questão judicial (guarda), violação de direitos, que a gente trabalha em

cima disso. A gente vai à escola quando precisa resolver uma situação, a gente liga pra escola, a

gente chama a escola aqui...”.

21- Alunas: - É feita alguma pesquisa de satisfação com os familiares do paciente?

Assistente social Eliana Diogo: “- Não. Nessa sala de espera a gente procura ouvir os pais. Então, a

gente toma a direção pra que eles comentem como é o tratamento, o acompanhamento, o serviço

que é prestado aos seus filhos. Eles mesmos vão falar, mas pesquisa de satisfação não tem não.”

22- Alunas: Como é feito o tratamento na rede social do paciente?

Assistente social Eliana Diogo: “- Existe a discriminação da sociedade em relação ao paciente com

transtorno. A família traz pra gente a dificuldade que eles têm. Às vezes, dentro de um ônibus

quando saem daqui e vão pra casa, passam constrangimento. Isso é violação de direitos, né? Eles

trazem essas angústias pra gente e a gente trabalha nesse sentido. O trabalho da gente está nesse

ponto, garantir os direitos do paciente, dentro da comunidade dele.”.