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1 TRABALHO COMPLETO Metodologias de ensino-aprendizagem METODOLOGIAS ATIVAS E O USO DO PEER INSTRUCTION NO ENSINO SUPERIOR Celia Braga Dalla Universidade Paulista [email protected] Alessandro Rossini Faculdades Metropolitanas Unidas Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] Solimar Garcia Universidade Paulista [email protected] Resumo: As metodologias ativas, aplicadas mais intensamente nos últimos anos, colocam o estudante como protagonista de seu conhecimento, e inverte a lógica das formas tradicionais, com aulas nas quais o docente é o foco de transmissão de conhecimento. Nas metodologias ativas o discente se conscientiza que ele é o principal agente no processo de aprendizagem. Para avaliar a eficácia do Peer Instruction (instrução por pares), uma metodologia ativa de aprendizagem, realizou-se uma pesquisa com 128 discentes do ensino superior (uma turma de uma universidade e duas turmas de uma faculdade), ambas na cidade de São Paulo, no segundo semestre de 2015, com duração de 16 semanas. O estudo teve como objetivo aplicar a metodologia Peer Instruction, adaptada de Mazur (2015) e explorar a interação entre os discentes durante aulas expositivas. Observou-se significativa interação entre os discentes, em relação às obtidas nas aulas expositivas tradicionais e os resultados da aplicação mostraram que houve melhora no aproveitamento, na motivação e no envolvimento dos estudantes com a aula. Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Novas metodologias. Aplicação de metodologia ativa. Protagonismo do estudante. Tecnologias da educação. 1. INTRODUÇÃO As metodologias ativas resumem-se por processos de conhecimentos interativos, pesquisas individuais ou coletivas, análise de estudos, com a finalidade encontrar soluções para diversos problemas e nesse sentido, o docente atua como facilitador para que os discentes façam pesquisas, reflitam e aprendam a decidir por eles

TRABALHO COMPLETO Metodologias de ensino-aprendizagem

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TRABALHO COMPLETO

Metodologias de ensino-aprendizagem

METODOLOGIAS ATIVAS E O USO DO PEER INSTRUCTION NO ENSINO SUPERIOR

Celia Braga Dalla

Universidade Paulista [email protected]

Alessandro Rossini

Faculdades Metropolitanas Unidas Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

[email protected]

Solimar Garcia Universidade Paulista

[email protected]

Resumo: As metodologias ativas, aplicadas mais intensamente nos últimos anos, colocam o estudante como protagonista de seu conhecimento, e inverte a lógica das formas tradicionais, com aulas nas quais o docente é o foco de transmissão de conhecimento. Nas metodologias ativas o discente se conscientiza que ele é o principal agente no processo de aprendizagem. Para avaliar a eficácia do Peer Instruction (instrução por pares), uma metodologia ativa de aprendizagem, realizou-se uma pesquisa com 128 discentes do ensino superior (uma turma de uma universidade e duas turmas de uma faculdade), ambas na cidade de São Paulo, no segundo semestre de 2015, com duração de 16 semanas. O estudo teve como objetivo aplicar a metodologia Peer Instruction, adaptada de Mazur (2015) e explorar a interação entre os discentes durante aulas expositivas. Observou-se significativa interação entre os discentes, em relação às obtidas nas aulas expositivas tradicionais e os resultados da aplicação mostraram que houve melhora no aproveitamento, na motivação e no envolvimento dos estudantes com a aula. Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Novas metodologias. Aplicação de metodologia ativa. Protagonismo do estudante. Tecnologias da educação.

1. INTRODUÇÃO

As metodologias ativas resumem-se por processos de conhecimentos interativos, pesquisas

individuais ou coletivas, análise de estudos, com a finalidade encontrar soluções para

diversos problemas e nesse sentido, o docente atua como facilitador para que os discentes

façam pesquisas, reflitam e aprendam a decidir por eles

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mesmos com o intuito de atingir os objetivos propostos, baseando-se no desenvolvimento

do processo de aprendizagem, tendo como base experiências, reais ou simuladas, com o

intuito de solucionar, com êxito, desafios propostos em atividades primordiais pertinentes às

práticas sociais, em diversos contextos (OLIVEIRA; PONTES, 2011). Para Bastos (2006), é

um processo que busca ofertar ferramentas para o desenvolvimento da capacidade de

realizar análise de diversas situações, dando ênfase nas condições loco regionais, e

apresentar as soluções em consonância com o perfil psicossocial das comunidades em que

estão inseridas.

A prática de aulas meramente expositivas a que os estudantes são submetidos no atual

modelo escolar que se repete no ensino superior, deixam-nos em uma posição passiva e

apenas receptivos dos conteúdos ofertados pelo professor. Colocar o aluno como

protagonista de seu aprendizado, fazendo com que se torne o principal responsável por seu

conhecimento é a preocupação que está no cerne das metodologias ativas.

O engajamento dos discentes é fundamental para as novas aprendizagens, para que

possam ampliar as suas possibilidades, exercitando sua autonomia na tomada de decisões

nos diversos momentos do processo que vivenciam, preparando-se, dessa forma, para

exercícios profissionais futuros. Para tal, deverão contar com uma forte postura pedagógica

de seus mentores, que têm características diferenciadas das posturas de controle a que

estão habituados.

A nova visão tornada mais comum nas duas últimas décadas, tem suas bases focadas em

um momento histórico distante com o psicólogo, filósofo e pedagogo Dewey (1859-1952),

que teve muita influência na pedagogia contemporânea, sendo responsável pela formulação

do “ideal pedagógico”, comumente conhecido como a “Escola Nova”, para a qual a

aprendizagem é decorrente da ação, conhecido como Learning by Doing (aprender fazendo)

(GADOTTI, 2001).

Dewey, segundo Gadotti (2001), fazia críticas contundentes à submissão e obediência

cultivadas nas escolas, que em sua visão, eram verdadeiros obstáculos à educação dos

discentes. E foi baseado em suas críticas que ele buscava superar tais posturas, sendo

defensor dos princípios da iniciativa, da cooperação e da originalidade para liberar as

potencialidades dos mesmos.

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A aplicação de metodologias ativas no ensino superior justifica-se pela necessidade de

formação de profissionais reflexivos e que desenvolvam o pensamento crítico.

O objetivo desse estudo é demonstrar uma aplicação da metodologia Peer Instruction em

três salas de aula de cursos superiores, para avaliar a melhora no nível de aprendizado dos

estudantes após a aplicação. Para comprovar a eficácia da metodologia, realizou-se um

estudo piloto com discentes em uma sala de aula em uma Universidade, e duas salas de

aula de uma Faculdade na cidade de São Paulo, explorando a interação entre os discentes

durante as aulas expositivas, aprofundando os conceitos abordados, que demonstraram, por

meio da melhora significativa das notas, a eficácia da metodologia.

Para realizar a análise dos fatos sobre o prisma empírico, confrontou-se a teoria de Eric

Mazur (2015), adaptada pelos autores, para aproximar-se da realidade das salas de aulas.

Desenvolveu-se a pesquisa teórica por meio de publicações em artigos científicos e livros.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Metodologias Ativas

As metodologias ativas têm como base a interação do conhecimento, o que envolve análise,

pesquisas, estudos, além de decisões coletivas ou individuais, e busca encontrar soluções

para um dado problema. Refere-se ao processo de ensino no qual a aprendizagem não

depende muito do docente, se foca no discente. O papel do docente é de facilitador,

orientador e mediador, cabendo aos discentes pesquisarem e refletirem sobre quais

decisões são mais acertadas para atingirem seus objetivos (BASTOS, 2006).

O processo de metodologias ativas estimula a autoaprendizagem, facilitando o estudo

continuado. Elas despertam a curiosidade do discente, oferecendo meios para que o mesmo

possa desenvolver sua capacidade em analisar situações, e na sequência, apresentar

soluções em consonância com o “perfil psicossocial” no contexto em que está inserido. Em

síntese, espera-se que essa prática de ensino contribua no desenvolvimento de suas

habilidades, tais como a de questionamento, de saber debater, de aprender a ouvir, a de

ver, de fazer e de ensinar (BASTOS, 2006).

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Robertson (2015) afirma que na metodologia ativa, os discentes participam mais do

processo de aprendizagem e, por participação, entende-se que é quando os discentes

fazem mais do que ouvir passivamente. Para David (2007, p.7) [...] aprendizagem ativa

traduz-se em metodologia na qual os discentes atuam de forma ativa, envolvidos no

processo de aprendizagem em diferentes níveis, conforme o envolvimento do discente.

De acordo com Robertson (2015), os princípios do construtivismo, considerados meta-

cognitivo, evolutivo, cognitivo e afetivo na natureza, levam o estudante a um processo de

construção de conhecimento por meio da aprendizagem ativa. Este processo depende do

conhecimento prévio do discente e se o mesmo é autoconsciente do processo de cognição

e pode controlá-lo e regulá-lo por si mesmo. Robertson (2015) sugere que os discentes

trabalhem em colaboração, discutam materiais durante jogos, debatam, participem de

estudos de caso e aprendizagem cooperativa ou produzam pequenos exercícios escritos,

entre outros. O aparecimento das Tecnologias Digitais Informação e Comunicação (TDICs)

favoreceram abordagens diferentes das aulas expositivas, que não devem ser mais a

principal forma de docência (FONSECA e MATTAR, 2017, p. 185).

Mattar (2017) cita diversas metodologias ativas para aplicação em ensino presencial:

método caso, aprendizagem baseada em problemas, em projetos, em games e gamificação,

sala de aula invertida, design thinking e peer instruction, entre outras.

2.2 Peer Instruction

Conhecido como instrução por pares ou pelos colegas, o Peer Instruction é uma prática

referenciada entre as muitas metodologias ativas de aprendizagem. De acordo com Torres e

Irala (2014), Eric Mazur, docente de Física do curso de engenharia da Universidade de

Harvard, percebeu que quando se tratava de problemas padrões, seus discentes não tinham

dificuldade em resolvê-los, mas quando mudava o enunciado, tinham dificuldades com

questões textuais. Casualmente Mazur descobriu que, quando a explicação partia de um

dos estudantes, sob seu ponto de vista, a explicação era mais eficaz. Partindo dessa

premissa, Mazur estruturou uma metodologia envolvendo os discentes na aprendizagem,

com foco nos conceitos subjacentes às fórmulas.

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Essa metodologia trouxe ganhos significativos uma vez que os discentes compreenderam

melhor o conteúdo, além de adquirirem habilidades para resolver problemas. Os discentes

expostos ao Peer Instruction foram comparados aos discentes expostos ao ensinamento

tradicional, percebendo-se melhores notas e maior entendimento dos conceitos. Docentes

de outras instituições produziram experimentos semelhantes e os resultados também foram

positivos.

Numerosos estudos têm demonstrado evidências para apoiar a aprendizagem ativa, com

instrução prévia adequada. Cranton (2012) analisou os dados de mais de 6000 discentes de

física em 62 cursos introdutórios e descobriu que os discentes em salas de aulas que

utilizavam metodologias ativas para engajamento interativo melhoraram 25%, alcançando

um ganho médio de 48% em um teste de física com padrões conceituais normais. Se

comparados aos discentes com ensino tradicional, obtiveram um ganho médio de 23% em

cursos tradicionais baseados somente em leituras.

Pinto et al. (2012) aplicaram Peer Instruction em dois semestres diferentes, em três cursos,

envolvendo 545 alunos e seis professores, sendo dois professores de cada curso. Em

resultados preliminares observaram que 90% dos alunos aderiram à leitura prévia e que a

participação durante a aula teve um crescimento de até 80%.

Da mesma forma, Hoellwarth e Moelter (2011) e Cranton (2012), mostraram que quando os

instrutores mudaram suas metodologias de ensino tradicionais de suas classes de física

para metodologias ativas, a aprendizagem dos discentes melhorou 38%, ou seja, de 12%

para mais de 50%, medido pelo Force Concept Inventory, que se tornou a medida padrão de

aprendizagem do discente em cursos de física.

3. METODOLOGIA

Para este estudo, buscou-se referencial teórico nas bases de pesquisa acadêmica nacionais

e internacionais, na busca de estudos com a mesma aplicação para a confrontação dos

resultados. Criou-se conteúdos específicos que foram desenvolvidos nas turmas escolhidas

e realizou-se a aplicação conforme programação e objetivos explicitados pelo autor do

método (MAZUR, 2015): aumentar a interação entre os discentes nas aulas tradicionais

(expositivas), favorecendo o aprofundamento dos conceitos

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estudados, com o uso do Peer Instruction, que consiste na realização explicitada na

sequência.

A professora faz breve e clara apresentação sobre os pontos chave e aplica testes sobre o

assunto abordado na aula. Se a maioria dos discentes optam pela resposta certa do teste

proposto, a aula prossegue para o próximo tópico; se o percentual de acertos for baixo

(menos de 30%), o docente (mediador) explica o tópico novamente, com mais detalhes e

refaz a avaliação sob outro ângulo.

Cada teste conceitual tem o seguinte formato genérico: Proposição da questão: 1 minuto;

Tempo para os discentes pensarem individualmente: 1 - 2 minutos; Os discentes anotam

suas respostas individuais (opcional); Os discentes convencem seus colegas: 1 - 2 minutos;

Os discentes anotam as respostas corrigidas; Feedback para o docente: registro das

respostas; Explicação da resposta correta 2 minutos. O convencimento é feito por meio da

interação entre os pares, conversas e troca de ideias entre os estudantes.

Quando o resultado das respostas corretas for em torno de 50%, haverá pouco espaço para

melhora; se for muito menor, haverá poucos discentes na sala para convencer os demais

sobre a resposta correta. Este estudo utilizou a metodologia Peer Instruction (MAZUR,

2015), e se constitui por uma pesquisa descritiva e exploratória, que busca novos

conhecimentos sobre um tema aplicado à realidade (BARROS; LEHFELD, 2007).

3.1 A aplicação do Peer Instruction

O Peer Instruction foi aplicado em uma Universidade e em uma Faculdade, ambas na

cidade de São Paulo, com discentes das disciplinas de Gestão em Vendas no curso de

Marketing e Modelos de Liderança no curso de Recursos Humanos.

A Universidade A localiza-se no bairro do Sacomã, próximo à região ABCD e a mensalidade

é de R$ 700,00, aproximadamente. A Faculdade B localiza-se no bairro da Lapa (baixa). A

mensalidade é de R$ 250,00.

Os discentes das duas universidades foram comunicados que participariam da metodologia

Peer Instruction uma semana antes da aula referente ao Procedimento Sumário. A

metodologia foi aplicada por 16 (dezesseis) semanas nos

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meses de agosto a novembro de 2015. Adaptou-se os passos de Mazur (2015) para o

seguinte formato: exposição dos conceitos: aproximadamente 30 minutos; tempo para os

discentes desenvolverem duas questões testes com 5 alternativas: 10 minutos; tempo para

os discentes pensarem individualmente e anotarem suas respostas: 1 - 2 minutos; os

discentes convencerem seus colegas: 1 - 2 minutos; os discentes anotam a resposta do par:

1 - 2 minutos; feedback para o docente (registro das respostas): 5 minutos; feedback do

docente para os alunos: 15 minutos, totalizando 60 minutos aproximadamente.

Como material tecnológico de apoio foram usados o notebook da docente munido com o

pacote Office: Power Point para explanação do conteúdo e Excell para mensurar os

resultados, assim como seu projetor. Os smartphones e iphones também foram utilizados

como material de apoio tecnológico dos discentes, todos munidos com o material enviado

em formato PDF (Portable Document Format).

Ao contrário de Mazur (2015), decidiu-se que as questões seriam desenvolvidas pelos

próprios discentes, todas com 5 alternativas, a respeito do conteúdo explicado em sala de

aula. Os discentes foram previamente avisados de que, das questões desenvolvidas em

sala de aula, seriam selecionadas quatro questões para comporem a prova. O número de

questões variou de acordo com cada turma.

As tabelas com os resultados das atividades de Peer Instruction das aulas anteriores foram

apresentadas aos estudantes, analisando-se a quantidade de acertos obtida e

demonstrando o aprimoramento da turma e da melhora significativa. Após o término da aula,

a docente colhia os resultados em uma planilha de Excell.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na sequência, demonstra-se os resultados da abordagem Peer Instruction, com o número

de discentes que participaram da aula proposta (Tabela 1).

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TABELA 1 – TURMAS PARTICIPANTES DO PEER INSTRUCTION

Universidade Disciplina Curso Horário Qtde

discentes Semestre Ano

I. FaculdadeB Gestão de Vendas Marketing

18 às 20:30 45 discentes 2° sem/2015

II. FaculdadeB Gestão de Vendas Marketing

21 às 23:30 28 discentes 2° sem/2015

III. UniversidadeA Mod. de Liderança

Recursos Humanos

19:10 às 22 55 discentes 2° sem/2015

Fonte: os autores

O Peer Instruction foi aplicado durante quatro encontros, com o resultado mostrado por turma, conforme Tabelas 2, 3 e 4.

TABELA 2 – FACULDADE B - RESULTADOS (MÉDIAS) - TURMA DE MARKETING DO 1º HORÁRIO

Notas 1° bim Acertos individuais Acertos dos pares Nota 2° bim

6,7 65% 78% 8,5 6,7 78% 86% 8,5 6,7 84% 97% 8,5 6,7 91% 100% 8,5

6,7 79,5% 90,3% 8,5

Fonte: os autores TABELA 3 – FACULDADE B - RESULTADOS (MÉDIAS) - TURMA DE MARKETING DO 2º HORÁRIO

Notas 1° bim Acertos individuais Acertos dos pares Nota 2° bim

5,5 50% 58% 7,5 5,5 53% 66% 7,5 5,5 60% 75% 7,5 5,5 78% 89% 7,5

5,5 60,25% 72% 7,5

Fonte: os autores. TABELA 4 – UNIVERSIDADE A - RESULTADOS (MÉDIAS) - TURMA DE RECURSOS HUMANOS

Notas 1° bim Acertos individuais Acertos dos pares Nota 2° bim

7,5 68% 86% 9,2 7,5 73% 88% 9,2 7,5 78% 99% 9,2 7,5 85% 100% 9,2

7,5 76% 93,3% 9,2

Fonte: os autores

Percebe-se que houve uma melhora progressiva nas três turmas, sendo que para os

discentes da Faculdade B - Turma de Marketing do 1º horário, a média da nota no 1º

bimestre era de 6,7 e passou para 8,5, aumento de 26,87%. Referente às médias das

questões individuais, que de 65% passou para 91%, houve aumento de 26%. Nas médias

das questões respondidas pelos pares, houve aumento de

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22% (de 78% para 100%). Na média geral das questões, notou-se que nas respostas das

questões individuais, o valor foi de 79,5%, enquanto que nas respostas dos pares foi de

90,3%, aumento de 10,8%.

Para os discentes da Faculdade B - Turma de Marketing do 2º horário, a média da nota no

1º bimestre, era de 5,5 e passou para 7,5, aumento de 36,64% após o uso da metodologia.

Referente às médias das questões individuais, de 50% passou para 78%, aumento de 28%.

Nas médias das questões respondidas pelos pares, de 78% passou para 100%, aumento de

22%. Na média geral das questões, notou-se que nas respostas das questões individuais, a

média foi de 60,25%, enquanto que nas respostas das questões dos pares foi de 72%,

aumento de 11,75%.

Para os discentes da Universidade A - Turma de Recursos Humanos, a média da nota no 1º

bimestre era 7,5 e passou para 9,2, aumento de 22,67% após a metodologia. Referente às

médias das questões individuais, de 68% passou para 85%, aumento de 17%. Nas médias

das questões respondidas pelos pares, de 86% pulou para 100%, houve aumento de 14%.

Na média geral das respostas das questões, notou-se que, nas respostas das questões

individuais, a média foi de 76%, enquanto que nas respostas das questões dos pares foi de

93,3%, aumento 17,3%.

Referente ao experimento, percebe-se que houve diferença no aproveitamento entre as

turmas da Faculdade B - Turma de Marketing do 1º e 2º horário, conforme tabela abaixo:

TABELA 5 – DIFERENÇA ENTRE AS MÉDIAS DAS TURMAS DE MARKETING DO 1º E 2º HORÁRIOS

Notas 1° bim Acertos individuais

Acertos dos pares Notas 2°bim.

1° hor 6,7 79,50% 90,3% 8,5 2° hor 5,5 60,25% 72,0% 7,5

Dif 1°/2° h - 1,2 19,25% 18,3% 1,0

Fonte: os autores

Essa diminuição de aproveitamento deve-se ao fator “horário”, pois enquanto a 1ª turma

entra às 18 horas, a segunda entra às 21 horas, e o cansaço pode ter afetado o

desempenho dos estudantes.

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5. DISCUSSÃO

Conforme observou-se a instrução que o orientador dá aos discentes enquanto estão

"ativos" pode variar de acordo com a tarefa e a metodologia desenvolvida, assim como o

contexto. Conforme a aplicação da metodologia, foi observado que os estudantes seguiram

a mesma estrutura proposta por Cranton (2012), que aponta no ambiente de metodologia

ativa, a imersão dos estudantes em experiências nas quais se envolvem na pesquisa do

significado, na ação, na imaginação, na invenção, na interação, na hipótese e na reflexão

pessoal. No presente estudo, observou-se esse trajeto do desenvolvimento das questões

(problema) propostas. Observou-se melhora nas respostas corretas e o aumento de

confiança para todas as questões dadas em um semestre (MAZUR, 2015).

Pôde-se ainda observar que os alunos ficaram motivados e animados, pois foram

incentivados a criarem questões que seriam utilizadas nas provas, corroborando Oliveira e

Pontes (2011) e Bastos (2006), que mostram as metodologias ativas utilizando a

problemática como estratégia de aprendizagem, com o intuito de alcançar, por meio da

motivação, a ressignificação dos conteúdos alcançada pela problematização.

Dessa forma, depreende-se que quando o estudante se depara com o problema, busca

refletir, relacionando-o com sua história e ressignificando suas descobertas. A resolução de

problemas pertinentes por meio da problematização permite envolvimento ativo no processo

próprio de formação do estudante. Os estudantes apresentaram melhora em seu

desempenho, corroborando Pinto et al. (2012), que atribuíram a melhoria do índice de leitura

ao propósito encontrado para participar da aula com qualidade.

Assim como David (2007, p. 8), a metodologia ativa favorece focar a responsabilidade do

aprendizado aos discentes, que não devem apenas ouvir passivamente um professor

expositivo, mas necessitam “ler, escrever, discutir e envolverem-se na resolução de

problemas”.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se, no início da aplicação da metodologia, que 30% dos discentes não efetuavam

a leitura solicitada, porém, conforme os encontros foram

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acontecendo, eles foram se envolvendo mais no projeto, e aderindo à leitura antecipada.

Observou-se que, à medida que os encontros evoluíram, as questões se tornaram mais bem

elaboradas. Apesar da leitura e do envolvimento, há necessidade de o docente participar da

aula como mediador, tirando as dúvidas dos estudantes. A aplicação da metodologia se

inicia no momento em que o discente faz a leitura prévia, denotando o início do despertar da

consciência dos discentes para a importância da leitura prévia sugerida pelo docente.

Observou-se que o docente desempenha papel fundamental de acompanhamento junto aos

discentes, uma vez que a aplicação do Peer Instruction demanda estudo com antecedência

e a elaboração, pelo docente, de textos e questionamentos. Deve-se enaltecer o hábito da

leitura prévia, uma vez que a explanação do docente não pode ser extensa, pois percebe-se

que os discentes não prestam atenção além de 60 minutos, tempo necessário para o início

da aplicação da metodologia na sala de aula.

De modo geral, percebe-se que utilizando-se Peer Instruction nas disciplinas Gestão de

Vendas e Modelos de Liderança, o conteúdo foi transmitido e favoreceu a melhoria concreta

nas notas dos estudantes e elevação da motivação dos discentes, observando-se uma

postura mais ativa. Os resultados corroboram para comprovar a eficácia da metodologia

empregada: os discentes de fato entenderam o conteúdo e responderam com êxito às

questões, elevando sua média de aproveitamento a cada encontro.

O objetivo do artigo, de avaliar a melhora do nível de aprendizado foi cumprido com a

aplicação do estudo e demonstrou a eficácia da metodologia Peer Instruction, que suscitou

maior interação entre os estudantes e aprofundamento dos conhecimentos dos conceitos

estudados.

Percebe-se que os estudantes da Faculdade B - Turma de Modelos de Liderança, tiveram

médias mais altas em todos os quesitos, o que mostra que a classe social pode alterar o

rendimento, mas essa variável será avaliada em um estudo futuro.

Atualmente há diversos aplicativos para serem usados em celulares que podem enriquecer

esse tipo de atividade, como o Plickers e o Kahoot, e mostra-se como uma proposta para

desenvolvimento futuro desse estudo.

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REFERÊNCIAS

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