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UNIVERSIDADE PAULISTA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO CURSO DE SAÚDE TRABALHO DE CURSO A COBAIA (Resenha Crítica) R.A. A7215J0 – VILMA CACCIAGUERRA R.A. B03CH1-0 – MARISA MONTEIRO

Trabalho de Bioética - Resenha Do Filme Cobaia (28Março2011)

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Resenha de Filme para Bioética

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Page 1: Trabalho de Bioética - Resenha Do Filme Cobaia (28Março2011)

UNIVERSIDADE PAULISTA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO

CURSO DE SAÚDE

TRABALHO DE CURSO

A COBAIA

(Resenha Crítica)

R.A. A7215J0 – VILMA CACCIAGUERRA

R.A. B03CH1-0 – MARISA MONTEIRO

São Paulo

2011

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Seja a mudança que você deseja ver no mundo.

Mahatma Gandhi

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SUMÁRIO

1. O FILME .................................................................................................. 04 13

2. COMENTÁRIOS ....................................................................................... 06

2.1. Um Filme Sobre Ética ............................................................................................. 062.2. Deus e O Primeiro Homem .................................................................................... 062.3. A Vida é de Quem a Salva ...................................................................................... 062.4. Criadores e Criaturas ............................................................................................. 072.5. Abuso ao Mais Fraco ............................................................................................. 072.6. Limites da Pesquisa Científica ............................................................................... 072.7. Indiferença Diante do Sofrimento Humano ........................................................... 082.8. O Que é Estar Vivo? .............................................................................................. 082.9. O Direito de Morrer .............................................................................................. 092.10. A Quem Pertence a Nossa Vida e o Nosso Corpo? ................................................092.11. A Existência da Alma ........................................................................................... 09

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 10

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1. O FILME

Adam, um estudante de medicina, é severamente repreendido por seu professor de Ética por defender questões sem base cientifica e diferentes daquelas ensinadas na universidade.

Ele vinha trocando e-mails com um misterioso pesquisador. Naquele dia, ao voltar para casa, ele recebe uma mensagem propondo uma entrevista de emprego, pois ele seria o candidato a assistente perfeito, posto que seus escritos revelavam grande confiança na ciência e grande desconfiança em seus praticantes. O médico finaliza dizendo que eles têm a chance de mudar a medicina e a própria vida.

Ao chegar lá, Adam descobre que o médico vive recluso no topo de uma colina gelada. A própria pessoa que lhe entrega correspondências e encomendas nunca o vê, apenas deixa as deixa em um ponto relativamente próximo para que ele venha buscar. É onde deixa Adam, que percorre o íngreme caminho para a cabana a pé.

Ao chegar, é atendido por um homem que o informa o porquê de tê-lo chamado. Adam era uma pessoa muito competente, insatisfeito com a medicina e sozinho, por isso ninguém iria sentir a sua falta. Ele conversa com o médico, que diz ter usado o mistério para atiçar a sua curiosidade e convence-lo a vir. Diz que faz pesquisas na área de congelamento de corpos e afirma que um dia a Vida poderá ser ligada e desligada como se fosse uma máquina, se a sua estrutura estiver intacta.

Adam confessa que o assunto o interessa e Dr. Vick pergunta se ele então aceita o posto, ao que obtém uma resposta afirmativa.

Neste momento o médico o mata e lhe aplica o soro.

Ao ressuscitar, algum tempo depois, Adam sente-se fisicamente bem e já não tem a dor de cabeça que o acompanhava há muito tempo. Segundo o médico, está com o sistema cognitivo alterado, embora possa obedecer a ordens simples. Lembra-se de que foi assassinado, mas encontra-se estranhamente dócil.

Adam pede que ele não lhe trate por “Sujeito 2”, porque tem um nome, e pergunta se deve a vida ao “Sujeito 1”. O outro homem responde que a ele, Dr. Vick, deve a sua vida.

Adam pergunta-lhe se tem alguma doença contagiosa, uma vez que o médico o trata com luvas, à distância. Dr. Vick confirma e diz que ele também está condenado a viver recluso, porque as pessoas não o entenderiam quando voltasse falando sobre a possibilidade de ressuscitar pessoas. Afirma ainda que ambos estão em uma caixa, sobre as nuvens, olhando o mundo de cima.

Adam reclama de cansaço, diz que lhe doem as mãos e os pés e Dr. Vick o mata novamente.

Ao ressuscitar, algum tempo depois, Adam sente dores excruciantes e implora para que o médico o mate. Já não tem apetite ou tato. Como Dr. Vick não o faz, Adam foge em direção ao povoado e é acidentalmente atingido por um caçador, que fica aturdido ao perceber que, mesmo caído, o estranho homem de olhos brancos continua conversando amistosamente como sequer tivesse percebido o tiro. Quando desmaia, devido a perda de sangue, na tentativa

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de salvá-lo o caçador o arrasta para a cabana do Dr. Vick, que o assegura ser de estar tudo bem, sugerindo ser o caçador quem está sofrendo de alucinações. Quando este se volta e vê aquele em quem atirou levantar-se e andar mesmo com o peito atravessado por uma bala, ele vai embora, apavorado.

Adam o persegue. Pretende mata-lo, pois acredita que caçador esteja contaminado, já que tiveram contato físico enquanto ele o carregava. Quando está pronto para atirar, Dr. Vick admite que mentiu sobre a contaminação para impedir que ele partisse. Adam dispara, de qualquer forma, e ambos enterram o caçador.

Ao terminarem, Adam diz que inveja o falecido por não pensar mais, por precisar mais tentar encontrar um sentido, por não sentir dor psicológica e simplesmente estar na mais perfeita paz, para sempre. Diz que sente-se morto. Dr. Vick responde que ele está mais vivo que a própria vida e que é tudo o que a vida quer ser, eterna.

Adam novamente implora para que o outro o mate uma última vez, porque já não possui qualquer sensação de toque, calor, frio, dor, peso, que não pode sequer sentir os batimentos cardíacos, porque no peito não há mais um coração.

Dr. Vick tenta explicar que isso é impossível, porque ele agora é imortal. Diante da grande insistência de Adam, dá-lhe um tiro, o que naturalmente é inútil. Pressupoe-se que o desespero e angustia de Adam nesse momento tenha alcance grau máximo, mas na cena seguinte o médico está impassivelmente oferecendo-lhe chá, como se nada de importante houvesse acontecido. Adam o atinge repetidamente com um bastão de ferro, deixa-o estendido no chão e parte.

Ao recobrar os sentidos, Dr. Vick, que estava apenas desmaiado, parte para uma busca infrutífera de encontrar Adam. Ao retornar, encontra na cabana o “Sujeito 1”, ferido e queimado pelo gelo, que o repreende severamente, acusando-o de haver estado brincando de médico em sua ausência. O falso Dr. Vick, que o havia assassinado com um tiro na testa, pergunta como ele ressuscitou, dizendo que o tinha enchido de soro, que não havia nada dentro do corpo e o dano cerebral havia sido muito severo. O verdadeiro Dr. Vick responde que não houve dano cerebral algum e que o soro era perfeito. Disse ser uma vergonha o que ele havia feito com Adam, porque seus ataques e dores faziam parte do processo e iriam passar. Chamou-o de fracassado e finalizou dizendo que por isso ele deveria ter sido morto e ressuscitado, não ele.

Na cena final, ele faz com que ele beba do remédio verde e o mata, recomeçando o ciclo.

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2 COMENTÁRIOS

1. Um Filme Sobre Ética

“A Ética medica prosseguirá existindo sem você. Mas sem Ética Médica, você e sua carreira não são nada.”

No abertura do filme o professor fala sobre necessidade de a pesquisa científica ter um embasamento científico e anuncia o tema principal do filme.

2. Deus e O Primeiro Homem

“Nesta caixa. Sobre as nuvens. Olhando ao mundo de cima.”

O nome Adam, do ator principal, alude ao primeiro ser humano criado por Deus. Dr. Vick, o homem que lhe conferiu imortalidade, portanto, é diretamente comparado a Deus.

Esta ideia é confirmada pelo cenário em que acontece a história: uma cabana no alto de uma colina gelada, rodeada de nuvens, onde um homem faz experimentos com a vida e morte. No decorrer do filme Dr. Vick diria que estavam “acima dos homens”.

Esta postura, por sua vez, pode simbolizar certo sentimento de arrogância que alguns médicos desenvolvem em resposta ao respeito social que que obtém por supostamente serem doadores e mantenedores da Vida.

A conexão Adam/Adão, Vick/Deus é também reforçada quando Dr. Vick diz a Adam que deve a ele a sua vida.

3. A Vida é de Quem a Salva

“Você está mais vivo do que a própria vida. É tudo o que a vida quer ser. Eterno.”

Conforme ensinamento de diversas religiões, quem dá a vida é Deus, mas podemos entender também que aquele que a salva, como Dr. Vick afirma ter feito com Adam, que eventualmente morreria se não tivesse ganho a imortalidade, tem o direito de toma-la para si, o que justificaria “coisificá-lo” e usá-lo em seus experimentos.

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4. Criadores e Criaturas

“Sabe, invejo-o. Imagine, não poder pensar mais. Não tentar encontrar um sentido. Sem dor. Para sempre.”

Somos um pouco de deuses e criadores de Franksteins quando temos um filho. Para uma mãe, é realmente perturbadora a ideia de que aquele ser que foi gerado nela, que saiu dela seja um indivíduo com vontades, necessidades e desejos próprios. Há um sentimento íntimo, daqueles que procuramos amarrar, amordaçar e esconder no fundo da alma, de que algo que saiu de nós, somos nós, é nosso, e podemos, sim, usá-lo como bem entendermos.

Não foi exatamente assim que agiu Dr. Vick, como se decidisse que Adam deveria, sim, tomar sopa de espinafre, e enfiar-lhe goela abaixo, indiferente a seus protestos e esperneios? Ele tinha o objetivo menos altruísta que o daquela mãe com a sopa, mas decidiu que descobriria uma forma de tornar Adam imortal, independente do que ele achasse do assunto.

5. Abuso ao Mais Fraco

“Beba isto. Beba logo.”

Adam nutria profunda curiosidade científica, era inteligente, tinha ideias próprias e um dia talvez viesse a ser um médico genial. Depois da primeira morte tornou-se dócil e submisso, e apesar da consciência de ter sido assassinado e estar sendo abjetamente usado como cobaia, era incapaz de reagir. Mais alto e mais forte, ele poderia ter dominado Dr. Vick facilmente, mas este aproveitou-se de sua fragilidade psicológica para prosseguir em suas pesquisas, indiferente ao sofrimento físico e psicológico que incutia na cobaia.

Um indivíduo ao buscar ajuda médica está física e psicologicamente fragilizado. Pouco sabe sobre o funcionamento de seu corpo e supervaloriza os conhecimentos e treinamentos do médico. É exatamente por ele ter todos os meios de realizar o abuso é que é tão crucial que respeite o ser humano que depositou nele a sua esperança de cura.

6. Limites da Pesquisa Científica

“Temos a chance e a obrigação de mudar a Ciência, e a própria Vida.”

Ao longo da história a humanidade alcançou imenso progresso no campo da medicina. Mas pagamos caro em termos de sofrimento. Quantas pessoas sofreram dores e degradações e quantos homens portaram-se como bestas para que gerações futuras vivessem mais uma ou duas décadas!

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7. Indiferença Diante do Sofrimento Humano

“Vejo a forma como me trata. As luvas, à distância.”

Dr. Vick fere todos os códigos de Ética ao atrair com uma falsa proposta de emprego uma pessoa de quem a sociedade não procuraria em caso de desaparecimento e anular a sua vontade, prosseguindo em suas pesquisas totalmente alheio aos seus sentimentos de dor e angustia. Esta indiferença a Adam enquanto pessoa é bem ilustrada quando ele, em grau máximo de desespero, implora ser morto uma última vez, Dr. Vick dispara um tiro apenas para provar ao outro que ele é imortal e aparece na cena seguinte impassivelmente preparando chá.

Mesmo sendo ficção, não podemos deixar de refletir que a rotina exaustiva de um hospital e a necessidade de não envolver-se pessoalmente com cada caso acabam por tornar os médicos e pesquisadores um pouco indiferente com relação ao sofrimento de seus pacientes. Tendo como grande objetivo manter o paciente vivo, todos os detalhes contextuais –como dores, desconfortos, preferências pessoais, estados psicológicos- são ignorados como irrelevantes, pois não ameaçam a vida.

8. O Que é Estar Vivo?

“Não sinto! Não existo!”

No filme é defendida a ideia de que estar vivo é “sentir”, ou seja, ter sensações de calor, frio, peso, textura, movimento, prazer e esta seria a nossa forma de interagir com o mundo em nossa volta.

Não há dúvidas de que desde o nascimento o tato é fundamental para a sobrevivência do um indivíduo. Mas possuímos também outros sentidos. Sabemos que, como no caso de cegos, um sentido se desenvolve para substituir outro que eventualmente seja perdido. E temos também nosso mundo interior. Se a mente não diferencia o que é real do que é imaginado, ser tocado e imaginar o toque, não é assim tão diferente.

Estar vivo tampouco é estar feliz. Embora Adam tenha sintomas de profunda depressão, ela é necessária para compreendamos e signifiquemos a vida. É altamente esperado que depois de mudanças tão drásticas em sua vida, ele precise de um tempo para pensar e adaptar-se ao seu novo contexto.

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9. O Direito de Morrer

“Doutor, me mate!”

Após morrer a primeira vez, Adam ressuscita com olhos brancos, o que, de certa forma, sugere que Adam tornou-se inumano, uma aberração na natureza que não cumpria mais o ciclo natural das coisas de nascer, viver e morrer. Que, apesar de todos os esforços de Dr. Vick para garantir sua imortalidade, ele está irremediavelmente morto.

Porque então uma luta tão desesperada para mantê-lo em pé, simplesmente andando e respirando? Não é isso uma analogia ao nosso direito de morrer quando já não temos garantida a menor qualidade de vida?

10. A Quem Pertence a Nossa Vida e o Nosso Corpo?

“Só me mate uma vez mais!”

A questão da Eutanásia leva naturalmente a uma outra, inconveniente: A quem pertence a nossa vida? Ao Estado? Ao médico? A ciência? A Deus? A nossa família? Porque ela parece pertencer a todos, menos a nós mesmos?

Suicídio é considerado um crime pela atual legislação. No entanto há casos em que, apesar de consciente e gozando de relativa saúde, um indivíduo é impossibilitado de ter uma vida minimamente satisfatória. Nestes casos, já que o corpo que sofre ou goza é o dele, é justo que tenha o poder de decisão sobre querer ou não prolongar o sofrimento, desde que esteja psicologicamente estável. E deveria ser dever do Estado prover formas confortáveis de deixa-lo ir.

11. A Existência da Alma

“Sinto uma certa sensação de escuridão.”

Após ressuscitar pela segunda vez, Adam fala sobre uma certa sensação de escuridão, que poderia ser de tristeza, mas que também evoca negritude, morte.

Podemos entender através do filme que o corpo de Adam está mais vivo que nunca: saudável, imortal, auto-renegerador. Sua mente também estava viva, trabalhando furiosamente para significar tudo aquilo que está acontecendo. No entanto ele refere-se a uma sensação de escuridão, como se uma parte sua, supostamente a alma, tivesse morrido.

A “leveza” pode também significar que algo pesado, denso, importante dentro de si foi-se.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Temos como certo que o nosso direito termina onde começo o do outro, porém este princípio básico nem sempre é estendido a todas as áreas humanas. Os direitos da medicina de alargar seus conhecimentos, por exemplo, e de seus pesquisadores construir um nome e uma carreira ao longo da história não tem conhecido muitos limites.

A Cobaia, através de uma história despretensiosa, é um pano de fundo para reflexões sobre diversas questões de ordem ética. Sem fornecer resposta alguma, fomenta perguntas que todos fazem, embora nem sempre em voz alta.