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MARTA LUCIA DE CASTRO WELLINGTON COSTA DE OLIVEIRA ANÁLISE DAS CLASSES GRAMATICAIS CLASSE DOS ADVÉRBIOS 1

Trabalho de Morfologia Sobre Adverbios

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Page 1: Trabalho de Morfologia Sobre Adverbios

MARTA LUCIA DE CASTRO

WELLINGTON COSTA DE OLIVEIRA

ANÁLISE DAS CLASSES GRAMATICAIS

CLASSE DOS ADVÉRBIOS

UNIMONTES – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

DEZEMBRO – 2005

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MARTA LUCIA DE CASTRO

WELLINGTON COSTA DE OLIVEIRA

ANÁLISE DAS CLASSES GRAMATICAIS

CLASSE DOS ADVÉRBIOS

Trabalho apresentado a Matéria de Morfologia do Curso de Letras/Português da Universidade Estadual de Montes Claros, como pré-requisito para avaliação.

Orientadora: Ms. Maria Eneide Dantas dos Santos

UNIMONTES – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

DEZEMBRO – 2005

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Dedicatória

Dedicamos este trabalho às nossas famílias que tanto nos apóiam nos momentos que

precisamos. Aos nossos colegas de caminhada, sobretudo, a nossa Professora Maria Eneide

Dantas dos Santos, que nos incentivou a pesquisar e nos estimulou em nossa luta em prol do

crescimento intelectual e profissional.

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“Claro que há respostas certas e erradas. O equivoco está em ensinar ao aluno que é disto

que a ciência, o saber, a vida são feitos. E com isto, ao aprender as respostas certas, os alunos desaprendem a arte de se aventurar e de errar,

sem saber que, para uma resposta certa, milhares de tentativas erradas devem ser feitas. Espero

que haja um dia em que os alunos serão

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avaliados também pela ousadia de seus vôos... Pois isto também é conhecimento”

Rubem AlvesSumário

Introdução 06

1. Visão Normativa dos Advérbios07

2. Visão Estruturalista dos Advérbios09

3. Visão Descritiva10

4. Conclusão:12

5. Referência Bibliográfica13

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Introdução:

A Língua Portuguesa é uma língua dinâmica que está em constante evolução.

Diversos pesquisadores já estudaram as classes gramaticais e continuam a estudá-las. Cada

um deles tem uma maneira de olhar e encontrar particularidades que passariam despercebidas

aos olhos de simples estudantes do idioma. Porém, mediante o trabalho proposto pela

Professora de Morfologia, Maria Eneide Dantas dos Santos, decidimos também ser

pesquisadores de Nossa Língua. Através desta pesquisa percebe-se que algumas das classes

receberam um tratamento privilegiado, enquanto outras categorias foram pouco estudadas.

Sendo assim, optamos por trabalhar a classe dos Advérbios.

Como foi proposto pela nossa Professora e Orientadora desta pesquisa, partiremos

em busca das definições contidas nas gramáticas tradicionais confrontado-as com as

encontradas na gramática estruturalista e gerativista. Partindo deste ponto, buscamos

confrontar definições de várias gramáticas tradicionais sobre os vários conceitos dados aos

advérbios e mostrar como os gramáticos classificam a categoria, quais as principais questões

quanto a esta classe e principalmente como se comportam os advérbios quando ligados ao

tempo gramatical das sentenças.

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1. Visão Normativa dos Advérbios

Rocha Lima nos fala que os “Advérbios são palavras modificadoras do verbo.

Servem para expressar as várias circunstâncias que cercam a significação verbal”. (ROCHA

LIMA, 1999, p. 174), Bechara comunga em parte com Rocha Lima o mesmo conceito, porém

acrescenta que “os advérbios desempenham na oração a função de adjunto adverbial”.

(BECHARA, 1999, p. 287). Ele traz, aliás, casos em que esses termos, fora das características

“canônicas” dos advérbios, passam para nível de frase. O autor delimita o processo como caso

de hipertaxe ou superordenação – “... fenômeno pelo qual uma unidade de camada inferior

pode funcionar sozinha em camadas superiores”. Exemplificando, temos: “Certamente!”,

“Naturalmente!” e “Não.”, usados em respostas ou comentários.

Em um dos seus exemplos Bechara cita o exemplo abaixo, onde contraria quase tudo

sobre advérbio:

1) Comi uma peixada.

Não poderíamos aceitar a colocação acima, visto que “uma peixada”, no exemplo

citado, está na construção com o verbo e, no entanto, não é adverbial e sim um complemento

verbal, um objeto. Já para Celso Cunha, o advérbio pode ser visto como “palavras que se

juntam a verbos para exprimir circunstâncias em que se desenvolve o processo verbal, e a

adjetivos para intensificar uma qualidade”. (CUNHA, 1972, p. 499). Celso Cunha ainda

observa que os advérbios de afirmação, de negação e os advérbios de dúvida não se conciliam

com esta proposta, pois não expressam circunstâncias, não são intensificadores e não dizem

respeito ao processo verbal. Baseando-se nas colocações do autor levantamos alguns

exemplos para compreendermos melhor o seu conceito:

(1) Realmente esfriou muito.

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Neste exemplo, há uma afirmação, porém não há denotação de circunstância, de uma

particularidade que acompanha um fato.

(2) De fato ele se complicou.

“De fato” expressa a opinião do locutor, que não diz respeito ao processo verbal,

nem o advérbio pode ser considerado um intensificador.

(3) Provavelmente hoje choverá.

Neste exemplo, também aparece a opinião do emissor e não se relaciona com o

processo verbal, devido ao fato de que o verbo chover é impessoal.

Algo interessante que descobrimos é que os autores, ao definirem advérbios

terminados em mente, não dão conta dos diferentes usos e posições que os mesmos ocupam

na cláusula, quando mencionados nas gramáticas normativas, são tratados apenas como

advérbios de modo.

Os advérbios de modo, por terem valor determinante na sentença, ocorrem próximos

ao seu escopo, em que há uma relação entre proximidade sintática e semântica na qual os

advérbios que exprimem mais fortemente a ação verbal estariam localizados mais próximos

ao verbo, mantendo, neste caso, com mais nitidez, a categoria de modo ainda não

explicitamente modalizada.

Posição pré-verbal – adv + v

Um outro aspecto, facilmente esquecido, é que,... (Tocar o Senhor, p. 53)

Os modalizadores estão ligados à necessidade pragmática do falante, o mesmo faz

uso dele por uma forte motivação funcional. Por isso na categoria de modalizador, no tocante

ao valor de verdade de sua fala e, conseqüentemente, alterando também sua ordenação na

cláusula, conforme observamos nos exemplos.

Infelizmente, conhecemos nossa fé de modo muito superficial. (Tocar o Senhor, p. 40)

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Com base na teoria da gramaticalização, observamos que os advérbios ocupam

posições variáveis, ora no início, incidindo sobre toda a sentença, e, nesse caso, ocorrendo

com características de modalizador, ou apenas incidindo sobre um determinado constituinte

da mesma sendo neste caso um advérbio de modo.

Concluímos que nas gramáticas tradicionais consultadas, o advérbio é visto como

uma categoria que usufrui certa mobilidade dentro da sentença e é dada como uma categoria

modificadora do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. Porém como vimos nos exemplos

tais conceitos não se configuram na prática. Há algumas palavras que não podem ser

enquadradas na conceituação e classificação do advérbio, nem em nenhuma outra classe, terão

de ser classificadas como palavras que denotam exclusão (só, somente, unicamente), inclusão

(outrossim), situação (quase, casualmente), designação (eis) e retificação (aliás).

2. Visão Estruturalista dos Advérbios

O estruturalista CÂMARA JR. (1967), classifica os advérbios como “classe

modificadora e como determinantes de um verbo ou de um nome”. Ele vai nos dizer que não

se trata de uma classe distinta de vocábulos na base do critério semântico. No mais, o autor.

nos diz que o nome ou pronome pode aparecer fixado numa função especial modificadora de

um verbo ou nome recebendo o nome de advérbio.

Esse caráter heterogêneo do advérbio se deve, em princípio, à sua natureza – alguns

de origem nominal, outros de origem pronominal. Mattoso Câmara, em Estrutura da língua

portuguesa (1999:77), defende que, por critérios semântico, morfológico e sintático, as

palavras estão divididas em nomes, verbos e pronomes. O autor acrescenta: “O advérbio é

nome ou pronome que serve de determinante a um verbo”. Em nota, esclarece que alguns

advérbios dão uma qualificação a mais a um adjetivo, mas não sendo isso um aspecto geral,

que deva entrar na definição da classe.

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Assim, pela origem e significação, há os advérbios nominais e os pronominais. Como

exemplo, temos os advérbios de base nominal (por “migração” vocabular, oriundos de

adjetivos, substantivos, pronomes, numerais e verbos), como, por exemplo, “rapidamente” –

formado de adjetivo (rápido) no feminino + -mente –, e os de base pronominal, como os

demonstrativos (aqui, aí, acolá), os relativos (onde, quando, como), os interrogativos (onde?,

quando?, como?, por quê?).

3. Visão Descritiva

Perini define o uso do advérbio como um misto entre sintaxe e semântica, por

entender que “modificação” é uma noção muito obscura, e com este termo está se referindo a

todas as definições e conceitos existentes em gramáticas de autores consagrados e que

precisam ser revistos, ou melhor, cada palavra enquadrada como advérbio precisa ser

analisada separadamente, observando suas funções sintáticas e semânticas na oração e nunca

em conjunto ou espécies como cita a Gramática Tradicional Portuguesa.

Quanto à classe dos advérbios, o autor questiona que a palavra “modifica” segundo

ele, inviabiliza a definição, pois sintaticamente a noção de modificação parece referir-se à

ocorrência dentro do constituinte. Perini trabalha com um número reduzido de palavras, que

são tradicionalmente chamadas de advérbios: utiliza não, rapidamente, completamente, muito

e francamente, classificadas respectivamente como: advérbios de negação, de modo, de

intensidade, classificação interessante dentro da semântica, mas que, dentro de um estudo

sintático, não seria suficiente, visto que pode ocorrer uma modificação quando observado

dentro do contexto.

PERINI (1995, p. 38) coloca os advérbios citados em diversas funções sintáticas

como veremos a seguir nos seus exemplos:

Negação verbal: Seu tio não apareceu na estação.

Intensificador: Almeida é muito magro. Almeida estava completamente bêbado.

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Adjunto circunstancial: Ela ri muito

Atributo: Terminamos a pintura rapidamente. Ela me revelou tudo francamente.

Adjunto adverbial: Ela decorou o apartamento completamente.

Adjunto oracional: Francamente, acho que ele nos enganou.

Através desses exemplos, observamos que essas palavras podem ocupar pelo menos

seis funções e algumas delas podem ocupar mais de uma função. Partindo desta colocação,

percebemos que a classificação em advérbio “de modo”, “de intensidade”, não corresponde à

classificação sintática encontrada, por isso notamos que será difícil estabelecer uma classe que

englobe a totalidade ou quem sabe a maioria das palavras denominadas “advérbios”.

PERINI (1995, p. 356) ainda critica em sua gramática “os autores não-tradicionais

que colocam a classe dos advérbios como elemento modificador do verbo, talvez por não

vislumbrarem outra alternativa”.

Se a concepção informal de advérbio estiver ligada a uma lista de palavras, logo se

perceberá que estas listas não dizem muita coisa, a não ser à incoerência de alguns professores

de Português, que insistem a todo custo que seus alunos as decorem.

PERINI (1995, p. 368) conclui dizendo que “não há uma definição adequada à classe

dos advérbios, e que, tal definição, deveria ser formulada em termos de funções que estes

desempenham quando estão em construção com o verbo e insiste na idéia de que sob o rótulo

de advérbio se esconde uma variedade irredutível de classes”.

A noção de modificação de acordo com Perini (1996) tem em parte uma vertente

semântica e outra sintática. Do ponto de vista semântico, funciona como uma espécie de

ingrediente ao significado da ação; já em relação ao aspecto sintático implica uma ocorrência

conjunta a um constituinte, ou seja, “estar em construção com”. Porém, Perini defende que

nenhuma das duas idéias particulariza a classe, já que ambas se aplicam a outras classes;

como também ainda não se aplicam a todos os elementos do mesmo grupo, já que os

advérbios de negação, afirmação e dúvida, por exemplo, não “modificam” o verbo.

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4. Conclusão:

Dentre algumas conclusões a que poderíamos chegar com o que sintetizamos até

aqui, uma das mais importantes é que a definição e a classificação dos advérbios não estão

fechadas nem resolvidas, sendo necessários maiores estudos para esclarecimento sobre alguns

pontos fundamentais da teoria.

Talvez isso não seja possível a curto prazo, nem muito menos em nossa dissertação,

que comportará como parte estudo desenvolvido nesta pesquisa; mas procuramos aqui, além

de distinguir, julgar e sintetizar as leituras a respeito do tema, organizar parte do conteúdo

para melhor entendimento.

No decorrer deste trabalho, após expormos alguns pontos acerca da definição do

vocábulo, escolhemos alguns aspectos que consideramos fundamentais a princípio,

apresentados sinteticamente a seguir:

nem todo advérbio é circunstancial ou modificador;

alguns advérbios em –mente, geralmente classificados como modais, na verdade são

modalizadores;

os advérbios de modo (e de intensidade) são os únicos que realmente modificam o

verbo, mas não indicam propriamente uma circunstância;

os advérbios de tempo e de lugar são circunstanciais e não modificam o verbo;

ainda neste conjunto, existem dois grupos: os ligados ao tempo e ao lugar da

enunciação (dêiticos), que apresentam características pronominais, e os ligados a um

tempo e a um lugar relacionados a outro ponto de referência (interno ou externo ao

enunciado).

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Percebemos que, dentro do estudo feito pelas Gramáticas Tradicionais sobre os

advérbios, há grande confusão de conceitos dentro da morfologia, da sintaxe e da semântica.

Quanto às listas elaboradas pelos gramáticos, há muito que questionar, pois muitos dos

advérbios que encontramos nas orações não fazem parte de lista alguma.

Exemplo:

(01) Estou em Curitiba. (Em Curitiba é sem dúvida um advérbio de lugar e não

consta em lista nenhuma).

Observou-se que alguns gramáticos tratam de forma especial os advérbios de tempo

e de lugar, que, embora possam parecer à primeira vista os menos problemáticos, mereceram

comentários especiais. Não é pacífico considerar que os advérbios de tempo e lugar estão

relacionados ao verbo, há um comportamento diferenciado dos elementos integrantes dos

grupos.

Além dessas, outras questões foram abordadas nesta pesquisa, porém não podem ser

tomadas em conclusão por enquanto, pois apresentam pontos não esclarecidos, e por isso não

podem ser delimitados nem definidos.

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5. Referência Bibliográfica

BECHARA, Evanildo. Lições de Português pela Análise Sintática. 11ª ed. Rio de Janeiro.

1978.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2ª ed. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 35ª ed. ret. e enriq. Rio de

Janeiro: J. Olympio, 1998.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1996.

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