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TRABALHO ESCRAVO - TRISTE REALIDADE Sérgio Ferreira Pantaleão O Trabalho Escravo continua sendo um tema de sérios questionamentos para a Justiça Trabalhista Brasileira. Quando se fala em trabalho escravo, se verifica a afronta direta aos princípios e às garantias individuais previstos tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos quanto na Constituição Federal. O trabalho escravo não é uma exclusividade de países em desenvolvimento, de países pobres, ele existe em todas as economias do mundo, em todas as regiões e apresentando as mais diversas formas. O Brasil foi um dos primeiros países perante a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a reconhecer o problema. E criou desde 95 o grupo móvel de fiscalização, formado por fiscais, procuradores do trabalho e policiais federais e atende denúncias em todo o país. A grande diferenciação e o grande salto, em termos de qualidade que o Brasil teve nestes últimos anos, primeiro foi a constituição de uma comissão, que é a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, que traçou um plano, uma estratégia para atuar frente a este problema. A comissão é constituída por associação de juízes federais e do trabalho, procuradores da República e do Trabalho, a Organização dos Advogados do Brasil - OAB, a Organização Internacional do Trabalho - OIT, a Comissão Pastoral da Terra - CPT. O trabalho forçado se caracteriza quando o empregador, usando de ameaça, mantém os empregados em sua propriedade, e lhes vende produtos (alimentos e vestuários) por preços elevados. Normalmente estes empregados são aliciados através dos "gatos", em locais distantes daquele em que prestam os serviços, muitas vezes em outros Estados brasileiros como o Nordeste, o Pará e Tocantins, e são levados a milhares de quilômetros de distância, em fazendas principalmente no Pará, Matogrosso e Maranhão. O chamado "Gato” é a pessoa que atrai o trabalhador para exercer funções em outras localidades, com falsas promessas de excelentes salários e acomodações. Ele intermedia a mão-de-obra entre o empregado e o empregador. Os empregados, tendo em vista os altos valores cobrados quanto à alimentação, moradia e vestuário, jamais conseguem saldar suas dívidas, sendo impedidos de deixar as propriedades. As jornadas de trabalho são elevadas e as condições do ambiente de trabalho são precárias, como: TRABALHO ESCRAVO - TRISTE REALIDADE http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/trabalho_escravo.htm 1 de 5 20/4/2009 19:58

Trabalho Escravo - Triste r

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  • TRABALHO ESCRAVO - TRISTE REALIDADE

    Srgio Ferreira Pantaleo

    O Trabalho Escravo continua sendo um tema de srios questionamentos para a Justia Trabalhista Brasileira. Quando se fala em trabalho escravo, se verifica a

    afronta direta aos princpios e s garantias individuais previstos tanto na Declarao Universal dos Direitos Humanos quanto na Constituio Federal.

    O trabalho escravo no uma exclusividade de pases em desenvolvimento, de pases pobres, ele existe em todas as economias do mundo, em todas as regies e

    apresentando as mais diversas formas.

    O Brasil foi um dos primeiros pases perante a OIT (Organizao Internacional do Trabalho), a reconhecer o problema. E criou desde 95 o grupo mvel de

    fiscalizao, formado por fiscais, procuradores do trabalho e policiais federais e atende denncias em todo o pas.

    A grande diferenciao e o grande salto, em termos de qualidade que o Brasil teve nestes ltimos anos, primeiro foi a constituio de uma comisso, que a

    Comisso Nacional de Erradicao do Trabalho Escravo, que traou um plano, uma estratgia para atuar frente a este problema.

    A comisso constituda por associao de juzes federais e do trabalho, procuradores da Repblica e do Trabalho, a Organizao dos Advogados do Brasil -

    OAB, a Organizao Internacional do Trabalho - OIT, a Comisso Pastoral da Terra - CPT.

    O trabalho forado se caracteriza quando o empregador, usando de ameaa, mantm os empregados em sua propriedade, e lhes vende produtos (alimentos e

    vesturios) por preos elevados.

    Normalmente estes empregados so aliciados atravs dos "gatos", em locais distantes daquele em que prestam os servios, muitas vezes em outros Estados

    brasileiros como o Nordeste, o Par e Tocantins, e so levados a milhares de quilmetros de distncia, em fazendas principalmente no Par, Matogrosso e

    Maranho.

    O chamado "Gato a pessoa que atrai o trabalhador para exercer funes em outras localidades, com falsas promessas de excelentes salrios e acomodaes.

    Ele intermedia a mo-de-obra entre o empregado e o empregador.

    Os empregados, tendo em vista os altos valores cobrados quanto alimentao, moradia e vesturio, jamais conseguem saldar suas dvidas, sendo impedidos de

    deixar as propriedades. As jornadas de trabalho so elevadas e as condies do ambiente de trabalho so precrias, como:

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  • alojamento inadequado (cozinha sem teto, quartos sem armrios individuais, banheiros sem portas e etc.)

    falta de fornecimento de boa alimentao e gua potvel (comida sendo preparada no cho, gua sem tratamento sendo utilizada para consumo, alimentos

    contaminados por agrotxico e etc.)

    falta de fornecimento de equipamentos de trabalho e de proteo (trabalhadores exercem suas atividades sem o mnimo de conhecimento e treinamento,

    equipamentos sem nenhuma condio para o trabalho sendo utilizados, equipamentos de proteo individual sem certificados sendo utilizados e etc.)

    Outras irregularidades normalmente praticadas pelos empregadores a reteno da Carteira de Trabalho - CTPS e o desconto de verbas salariais como

    mensalidades sindicais de trabalhadores no associados ou que no autorizaram o desconto.

    O empregado fica merc das vontades do empregador normalmente por trs razes principais:

    a primeira a inevitvel servido por dvida, ou seja, os trabalhadores, aliciados em municpios muito carentes, acabam sendo levados para trabalharem

    em localidades distantes. Os mseros rendimentos dos primeiros meses de trabalho so para pagar as despesas de transporte, alimentao e vesturio,

    cobrados j pelo deslocamento de suas cidades at o local de trabalho;

    a segunda em relao ao isolamento geogrfico, em que o empregado, sem qualquer condio financeira ou de transporte, acaba se sujeitando ao

    trabalho forado na esperana, em vo, de um dia poder se libertar;

    a terceira a questo do confinamento armado. Os empregados, levados para estas fazendas de difcil acesso, so vigiados por guardas armados que

    ameaam e at matam os trabalhadores que tentam fugir dos locais de trabalho;

    Os estados mencionados acima so os mais citados quanto prtica de trabalho escravo, no entanto est comprovado que outros estados de outras regies como

    a regio sul, sudeste ou centro-este por exemplo, tambm existe esta prtica, embora no to acentuada.

    DOS DIREITOS HUMANOS

    O artigo 23 da Declarao Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assemblia Geral das Naes Unidas, da qual o Brasil faz parte, garante a todo

    homem o direito ao trabalho e condies justas de remunerao.

    "Artigo 29:

    I) Todo o homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade possvel.

    II) No exerccio de seus direitos e liberdades, todo o homem estar sujeito apenas s limitaes determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de

    assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigncias da moral, da ordem pblica e do

    bem-estar de uma sociedade democrtica.

    III) Esses direitos e liberdades no podem, em hiptese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princpios das Naes Unidas."

    O artigo 4 da referida Declarao probe qualquer forma de escravido ou servido:

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  • "Artigo 4: Ningum ser mantido em escravido ou servido; a escravido e o trfico de escravos esto proibidos em todas as suas formas."

    DA CONSTITUIO FEDERAL

    A Constituio Federal garante, com base nos artigos 5 e 7, diversos direitos individuais e sociais dentre os quais podemos destacar:

    livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer;

    ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

    so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente

    de sua violao;

    a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais;

    os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados

    internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte;

    os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs

    quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais;

    direito ao salrio mnimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais bsicas e s de sua famlia;

    direito ao fundo de garantia do tempo de servio;

    direito a proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa;

    durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais;

    direito a frias, repouso semanal remunerado, 13 salrio, irredutibilidade do salrio, licena maternidade e paternidade e etc.

    FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A PRTICA DE TRABALHO ESCRAVO

    Um dos principais fatores que contribuem para a prtica do trabalho escravo a impunidade, pois a justia lenta e praticamente inexiste, se apresentando

    consideravelmente comprometida com o poder econmico, o que acaba resultando nesta falta de justia.

    No so raros os casos em que a atuao dos fiscais do Ministrio do Trabalho morosa e tardia. No h um trabalho preventivo da Justia, de forma que haja

    um acompanhamento das empresas ou empregadores que j foram fiscalizados, evitando que situaes desta natureza se repitam.

    As denncias feitas so atendidas dois, trs dias ou at semanas depois, o que contribui para que os empregadores eliminem as provas que poderiam confirmar a

    degradao do trabalho. Os empregadores fazem uma "maquiagem" nas irregularidades antes da chegada dos fiscais e por falta deste acompanhamento aps as

    fiscalizaes, estes fatos acabam voltando a se repetir.

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  • Outro fator que contribui para esta prtica o confinamento dos trabalhadores em lugares afastados dos grandes centros, onde os aliciadores se aproveitam da

    ausncia de rgos fiscalizadores.

    Segundo a Organizao Internacional do Trabalho - OIT, no Brasil, a maior parte do trabalho forado est concentrado nos Estados do Par, Mato Grosso e

    Maranho, sendo 53%, 26% e 19% respectivamente.

    Outro fator bastante importante que estes locais, geralmente protegidos por guardas armados, dificultam o acesso e a atuao dos fiscais e juzes do trabalho

    diretamente ligados no combate ao trabalho escravo. Estes, muitas vezes so ameaados ou at mortos, ficando limitados para exercer seu trabalho de maneira

    digna eficaz.

    Para coibir o uso ilegal de mo-de-obra anloga a de escravo, o governo criou em 2004 um cadastro onde figura os empregadores flagrados praticando a

    explorao. Ao ser inserido nesse cadastro, o infrator fica impedido de obter emprstimos em bancos oficiais do governo e tambm entra para a lista das

    empresas pertencentes "cadeia produtiva do trabalho escravo no Brasil".

    O Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou um quadro geral das operaes de fiscalizao mvel dos anos de 1995 a 2008, o qual reproduzimos

    abaixo:

    QUADRO GERAL DAS OPERAES DE FISCALIZAO MVEL1995 a 2008

    AnoN.

    OperaesFazendas

    FiscalizadasTrabalhadoresRegistrados

    TrabalhadoresResgatados

    Pagto deIndenizao

    AisLavrados

    2008 23 49 336 1.019 1.056.988,39 981

    2007 116 206 3.637 5.999 9.914.276,59 3.136

    2006 109 209 3.454 3.417 6.299.650,53 2.772

    2005 85 189 4.271 4.348 7.820.211,26 2.286

    2004 72 275 3.643 2.887 4.905.613,13 2.465

    2003 67 188 6.137 5.223 6.085.918,49 1.433

    2002 30 85 2.805 2.285 2.084.406,41 621

    2001 29 149 2.164 1.305 957.936,46 796

    2000 25 88 1.130 516 472.849,69 522

    1999 19 56 * 725 * 411

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  • QUADRO GERAL DAS OPERAES DE FISCALIZAO MVEL1995 a 2008

    1998 17 47 * 159 * 282

    1997 20 95 * 394 * 796

    1996 26 219 * 425 * 1.751

    1995 11 77 * 84 * 906

    TOTAL 649 1.932 27.577 28.786 39.597.850,95 19.158

    * Dados no computados a poca - Atualizado em 07/05/2008.

    Fonte: Relatrios de Fiscalizao Mvel

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