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Gladson Pereira da Cunha A ESPERANÇÃO: LÓGICA DO IMPOSSÍVEL Apontamentos e considerações de alguns tópicos dos Capítulos III e IV de PIAZZA, Oracio. Esperança: A lógica do Impossível. São Paulo: Paulinas, 2010 Trabalho parcial apresentado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em cumprimento as exigências da disciplina de Teo-2251 – Questões Especiais de Escatologia do Programa de Pós-graduação em Teologia Prof. Dr. Cesar Kuzma

Trabalho Esperança - A Lógica Do Impossivel

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Resumo Lógica

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Gladson Pereira da Cunha

A ESPERANÇÃO: LÓGICA DO IMPOSSÍVEL

Apontamentos e considerações de alguns tópicos dos Capítulos III e IV de PIAZZA, Oracio. Esperança: A

lógica do Impossível. São Paulo: Paulinas, 2010

Trabalho parcial apresentado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em cumprimento as exigências da disciplina de Teo-2251 – Questões Especiais de Escatologia do Programa de Pós-graduação em Teologia

Prof. Dr. Cesar Kuzma

Rio de Janeiro

Novembro de 2015

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A ESPERANÇÃO: LÓGICA DO IMPOSSÍVEL

Apontamentos e considerações de alguns tópicos dos Capítulos III e IV de PIAZZA, Oracio. Esperança: A lógica do Impossível. São Paulo: Paulinas,

2010.

Introdução

A esperança não é uma virtude teologal que se aquieta na

passividade. Pelo contrário, a esperança cristã é mola mestra e

norteadora de ação por parte daqueles que, na contemplação do

evento pascal da morte-ressurreição de Jesus de Nazaré, dispõe

ao anúncio efusivo da verdade percebida nessa contemplação,

que Deus veio ao encontro do homem que se fez distante. Essa

vinda de Deus é uma apresentação de uma proposta de

plenitude e de salvação definitiva, a qual será a expectativa da

esperança cristã.1

A proposta deste trabalho é fazer uma reflexão sobre e

acerca da esperança, conforme apresentado Oracio Piazza,

atualmente bispo católico de Sessa Aurunca, na Itália, em sua

obra Esperança: A lógica do Impossível. Assumiremos alguns

tópicos apresentado por Piazza em seu texto, reflexionando

sobre eles, tendo como parâmetro de escolha desses tópicos um

elemento inteiramente subjetivo, isto é, um sentimento de

encantamento, surgido durante a leitura desse material.

Da esperança de à esperança em

“Esse deslocamento das coisas esperadas (eschata) para Alguém (eschatos) em quem esperar modifica, na sua raiz, o sentido e o coração da própria espera (eschaton). É a transposição de uma condição objetivada nas coisas esperadas para uma outra em que reina a novidade relacional de um diálogo todo pessoal, feito de reciprocidade. Essa condição se adquire plenamente

com a fé na pessoa e na vida de Jesus Cristo. Todo o Novo Testamento fala dele, que é a revelação e a presença encarnada

de Deus, a única esperança do homem e do mundo. […]

1 PIAZZA, Oracio. Esperança: A lógica do Impossível. São Paulo: Paulinas, 2010, p.73.

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Portanto, a esperança, recuperada na sua dimensão pessoal e relacional, assume uma perspectiva essencialmente

cristológica”.2

As diversas esperas da vida humana podem ser,

geralmente, descritas como a espera de. Espera-se alguma

coisa. Espera-se que algo se realize, porque de alguma maneira

tal coisa estaria fora da realidade. No entanto, a esperança

cristã, que é herdeira de uma esperança revelada já no Antigo

Testamento é uma espera em, sendo o objeto dessa esperança o

próprio Deus, portanto, não um algo, mas um alguém. Alguém

que ganha traços humanos na encarnação do Logos. Longe de

ser apenas um objeto da fé, o novo sentido dado a esperança

cristã eleva exponencialmente a força dessa esperança não é

uma espera pelo irreal, mas é pelo mais real de todos os eventos

e a mais real de todas as esperas. É em o Deus-homem Jesus que

esperamos, porém, não como quem espera algo; mas, como

quem juntamente com aquele que efetivará o esperado. “A

dimensão pessoal e relacional” da esperança em é o que,

pessoalmente, dá maior força a esperança cristã, porque o

objeto da minha espera é, ao mesmo tempo, o que dá sentido a

minha espera. Espera-se, portanto, aquele que salva e plenifica.

Esperar como Jesus Crucificado esperou

“Cristo crucificado foi vitima total de uma violência injustificada, foi protagonista total de uma entrega

incondicional. A esperança que nasce dessa experiência conserva todos os traços de incompreensibilidade”.3

A existência humana é um drama. Uma condição que inclui

as angústias, os sofrimentos, as dores e, por fim, a própria

morte. As esperas humanas, de alguma maneira, tendem a

minimizar as demandas desse drama existencial, como se sua

2 PIAZZA, Esperança, p.74-75.3 PIAZZA, Esperança, p.107.

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influência e seus danos pudessem ser tão facilmente dirimidos.

A esperança cristã reconhece esse drama. Aliás, como é possível

ver acima, o próprio Cristo envolveu-se nesse drama e o sofreu;

mas o que sofreu, sofreu como pessoal entrega. É justamente

nessa aceitação de Cristo de seu enfrentamento das demandas

dramáticas da existência que é possível para os que creem dar-

se conta que o sofrimento, o pecado e a morte estão presentes

na vida humana e que não podem ser simplesmente

minimizados, como disse Moltmann, todo sofrimento continuará

sendo o que é. Mas, pela ressurreição do Cristo crucificado, é

que nasce a esperança, conserva todos os traços de

incompreensibilidade, que conserva todos os traços do drama,

mas que nos anuncia a novidade do Deus que se faz presente na

condição da mais profunda ausência.

Sofrer pelos últimos

“Nessa possibilidade de sofrimento partilhado, concretiza-se, com toda evidência, o Reino anunciado por Jesus, testemunhado na Páscoa. Na Páscoa foi finalmente interrompido o silencio de Deus. A palavra de salvação foi definitivamente pronunciada para todos. Jesus proclamou que Deus escolheu defender os

pobres e humilhados dos opressores e prepotentes e testemunhou que essa escolha é operante e eficaz”.4

O silêncio que imperava no mundo era opressor. A

humanidade, como um todo, estava envolvida com por essa

opressão, seja na qualidade de oprimido ou de opressor. O

sofrimento do Crucificado demonstra isso. Ele, o oprimido,

sofreu a opressão ativa e pessoalmente. Os seus opressores, os

mesmos que oprimiam os pequeninos por quem Jesus deu a

vida, para se identificar com esse marginalizados. Em Jesus,

Deus entrou na nossa dor e no nosso sofrimento. Ele partilhou

daquilo que de outra maneira jamais sentiria. A sua opção pelos

4 PIAZZA, Esperança, p.114.

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que sofrem é uma opção de quem também sofreu. A posição,

portanto, que Deus assume no Crucificado aponta para a

posição que deve ser assumida por aqueles que se dispuseram

no seguimento de Jesus: o assumir a dor daqueles que sofrem. A

encarnação do Logos aponta para uma encanação diária da

nossa fé em atos libertadores que são prenunciados pelo Reino

Vindouro que se atualiza em na dinâmica da nossa ação. Ação

que é missionária, porquanto, somos comissionados pelo próprio

Ressuscitado a empreender uma ação que reivindique a justiça e

a paz trazida por Ele aos pobres e aos que sofrem. Somente pelo

olhar da esperança, que se projeta pela história até a

consumação de todas as coisas, que é possível assumir tal tarefa

com relação aos outros, que se tornam os últimos dentro do

contexto opressor no qual nos encontramos.

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