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TRABALHO FAMILIAR E INSERÇÃO SOCIAL NA ECONOMIA CAFEEIRA
CAMPINAS: 1870-19401
Fernando Antonio Abrahão - Mestre em História pelo IFCH – Unicamp
Diretor da Área de Arquivos Históricos do Centro de Memória - Unicamp
A região de Campinas caracteriza-se historicamente por ter assistido a uma das mais altas
concentrações nacionais de trabalho escravo e a um fluxo expressivo de imigrantes, desde
meados do século XIX. Além disso, a região destacou-se entre as mais dinâmicas da economia
brasileira, desde a cultura da cana-de-açúcar até à do café, as quais definiram sua estrutura
fundiária e projetaram suas forças político-econômicas. Essas forças político-econômicas, por
sua vez, contribuíram decisivamente para a implantação e a sustentação inicial do regime
republicano no Brasil.
Várias pesquisas foram e vem sendo realizadas tendo como base as empresas e atividades
econômicas da região de Campinas. Fazendo um balanço da produção desses trabalhos,
identificamos um elemento comum entre as empresas estudadas: o trabalho familiar.
Decerto que trabalhos reiteram a importância da imigração de europeus, árabes e
japoneses para as transformações sócio-econômicas que tem implicações até os dias atuais no
Estado de São Paulo. Uma dessas mudanças está certamente relacionada ao sistema produtivo e
ao mercado de trabalho. Se no final do século XIX, a economia brasileira fundamentava-se na
produção de café por meio do trabalho escravo, com a política de introdução de trabalhadores
imigrantes, promovida pelo governo provincial desde 18712, essa base foi sendo substituída
paulatinamente pela mão-de-obra livre e pela diversificação dos ramos comercial e prestador de
serviços, da pequena produção agrícola e pela industrialização, resultando na ampliação de um
mercado interno ávido pelo consumo de produtos diversificados. Portanto, de acordo com a
análise geral dos casos estudados, a inserção da mão-de-obra imigrante no mercado de trabalho
paulista promoveu um realinhamento sócio-econômico que propiciou o surgimento de novas
1 A apresentação deste trabalho no Simpósio Familia, negócios y empresas en América Latina (1850-
1930), realizado no II Congresso Latino Americano de História Econômica, México, 3-5 de fevereiro de
2010, contou com o apoio da Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Trata-se do meu
projeto de doutorado aprovado para iniciar em 2010, na Universidade de São Paulo. 2 Maria Teresa Petrone (1969: 279) identifica o primeiro estímulo à imigração subvencionada para São
Paulo na lei provincial de 30 de março de 1871. Por meio dela, o governo pode emitir 600 contos de
réis em apólices, a fim de auxiliar com empréstimos os fazendeiros interessados na introdução de
colonos. Novas leis foram promulgadas durante toda a década de 1880. Os totais anuais de imigrantes
que entraram em São Paulo entre 1870 e 1907 estão descritos em:
http://www.memorialdoimigrante.org.br/historico/e3.htm (acessado em 28.06.2009).
2
oportunidades de trabalho, de acúmulo de riquezas e de ascensão social, tanto para os
trabalhadores do campo como para os da cidade. O trabalho familiar, característico de alguns
grupos étnicos de imigrantes, teria sido uma das estratégias adotadas por eles para atingirem seus
objetivos.
Uma parte da historiografia nos mostra as dificuldades enfrentadas pelas famílias desde
sua chegada a São Paulo3. Os primeiros italianos, por exemplo, carregavam consigo a cultura do
camponês livre que trabalhava a própria terra e dela obtinham o sustento da família e a sua
renda. Emigraram com a firme disposição de pouparem seus ganhos a fim de progredirem
financeiramente até adquirirem suas propriedades. Contudo, a cultura patronal da época, fincada
na longa exploração da mão-de-obra escrava, obrigou-os a um regime contratual coercitivo, o
sistema de parceria em colônias agrícolas, que se traduziu num tipo de trabalho de baixa
expectativa inicial para a aquisição de propriedades rurais ou de negócios urbanos.
Michael Hall (1969) registrou a provável estratégia de resistência dos colonos: se a
política de imigração adotada pelos fazendeiros paulistas continha a intenção deliberada de atrair
levas crescentes de trabalhadores estrangeiros para as lavouras de café, mantendo baixos os
salários, ela acabou por resultar, em muitos casos, no abandono do colono ao trabalho no campo.
Chiara Vangelista (1991) e Zuleika Alvim (1986), motivadas pela tese de Michael Hall,
justificam seus estudos no sentido de comprovar a resistência do grupo italiano mediante o
deslocamento geográfico, seja pela troca do campo pela cidade ou a volta ao país de origem.
Já Maria Sílvia Bassanezi (1992) partiu do princípio de que a riqueza gerada pela
economia cafeeira criou condições para a expansão da malha ferroviária e esta, por sua vez,
reforçou e ampliou a rede urbana no interior de São Paulo, proporcionando direta ou
indiretamente a abertura de condições para a proliferação da pequena propriedade rural e de
pequenos negócios urbanos. Sua pesquisa revela as oportunidades e alternativas de trabalho e
residência que se apresentaram ao imigrante de Rio Claro, SP, além da lavoura cafeeira
propriamente dita e da indústria paulistana.
Vários documentos disponíveis no acervo do Centro de Memória – Unicamp (CMU),
muitos deles inéditos como fontes de pesquisa, também apontam para estratégias que vão além
dos deslocamentos urbanos ou da volta aos países de origem, como forma de resistência aos
contratos de trabalho e a desinteressada infraestrutura social disponibilizada pelo governo, por
3 Segundo Boris Fausto (1991), os trabalhos que mais representam esse campo de análise são os de: Hall
(1969), Dean (1977) e Martins (1979 e 1981). Acrescentamos os de Alvim (1986), Vangelista (1991),
Ribeiro (1993) e Karastojanov (1999), esse último especificamente para a região de Campinas.
3
exemplo: transportes, escolas e hospitais4. Assim, valendo-se da documentação do referido
acervo, este projeto pretende estudar as trajetórias de imigrantes na região de Campinas,
principalmente daqueles que se fixaram na zona rural e na cidade, sem capital para iniciar seus
próprios negócios, mas que se apoiaram no trabalho familiar.
As referências ao trabalho de pequenos lavradores e de profissionais urbanos em
Campinas são apontadas por alguns pesquisadores. Valter Martins (1996), por exemplo, tratou da
acumulação de renda entre os pequenos agricultores em Campinas no período de 1800 a 1850;
Andrea Mara Karastojanov (1999) estudou a expressiva presença de alemães nos negócios
urbanos – comércio, indústria e prestação de serviços – na segunda metade do século XIX; e
Ema Camillo (1998) reuniu dados num trabalho de referência sobre a indústria nascente em
Campinas, desde 1850 até 1887. Como afirmou Martins,
... se já temos grandes avanços em direção a uma história do açúcar, do café, do
algodão e outros produtos para exportação, o mesmo não pode ser dito sobre os
pequenos agricultores e a agricultura de alimentos voltada às necessidades do
consumo interno. (Martins, 1996: 166).
Quanto ao empreendedorismo urbano, Camillo argumentou que:
... de município mais rico da província de São Paulo na década de 1870, a cidade de
Campinas foi palco e cenário – porque lócus de penetração e desenvolvimento de um
processo de acumulação capitalista assentado numa economia agro-exportadora –
de intensa acumulação monetária que foi aplicada em diversos ramos da atividade
urbana... (Camillo, 1998:18).
Os trabalhos de José Roberto do Amaral Lapa (1995 e 2008) revelam informações
significativas do cotidiano do extrato intermediário dos grupos sociais de Campinas na época. Na
análise sobre os anúncios dos serviços oferecidos em Campinas5, principalmente os de
fotografia, botica, padaria, alfaiataria, marcenaria, serraria e selaria, bem como a diversificação e
o aumento do número de estabelecimentos industriais e comerciais, verificados desde o
Almanach Literário Paulista para 1876, Amaral Lapa afirma:
É expressiva a quantidade de imigrantes que, sem ou com algum recurso trazido
com eles, conseguem estabilizar-se na cidade sem passar pelo indefectível estágio
agrícola, graças às habilidades profissionais, ao know-how trazido com eles ou
4 Essas fontes serão detalhadas adiante.
5 Amaral Lapa fez uso do acervo do CMU, cuja Biblioteca conta com inúmeros periódicos publicados em
Campinas, além de uma extensa lista de livros sobre a história de Campinas e região.
4
rapidamente adquirido aqui, que responde aos mais diversos setores do mercado.
(Lapa, 1995: 119-20).
Muito embora a cidade de São Paulo tenha acolhido grandes contingentes de imigrantes
e recebido os maiores impulsos econômicos, consolidando-se como a grande metrópole dos
séculos XX e XXI, coube a Campinas o importante papel de protagonizar o desenvolvimento
econômico de parte do interior paulista compreendido pelas regiões Mogiana e Paulista, desde
meados do século XIX. E foi justamente por possuir um perfil tão dinâmico que essa região
passou a ser identificada desde essa época como um dos maiores, senão o maior pólo econômico
do interior de São Paulo. Por essas razões, acreditamos na relevância de um estudo que elucide
as formas como esses trabalhadores conseguiram ascender profissionalmente, inserindo-se e
atuando numa sociedade marcada pela hegemonia das grandes lavouras de café.
O tema e seus problemas
A cultura cafeeira superou a da cana-de-açúcar em Campinas na década de 1850. Desde
então, a crescente produção agrícola exigiu considerável aumento da força de trabalho. A
proibição do tráfico de escravos a partir de 1850 ocasionou a transferência de grande contingente
destes para Campinas, com valores significativamente mais altos do que os praticados poucos
anos antes6.
A dificuldade de captação da mão-de-obra na cultura cafeeira do Oeste Paulista, imposta
pela necessidade de importação de cativos de outras províncias, propiciou o surgimento de
empreendimentos particulares, que atraíram produtores rurais estrangeiros sob o regime de
parceria. Sergio Buarque de Holanda (1980), prefaciando as memórias de um colono suíço da
fazenda Ibicaba, na região de Limeira (60 km ao norte de Campinas) e pertencente ao Senador
Nicolau Vergueiro (Davatz, 1980), reproduziu o mapa enviado à Assembléia Provincial em
1858, onde constam os números de trabalhadores nas colônias de toda a província de São Paulo
em operação em 1857. Nesse mapa, Campinas sediava nove colônias que, juntas, contabilizavam
249 alemães, 71 suíços-alemães, 91 suíços-franceses, 67 portugueses, 61 belgas, totalizando 539
6 Vários autores trataram direta ou indiretamente desta questão em Campinas, dentre outros: Slenes
(1999), Abrahão (1992), Xavier (1996), Alaniz (1997) e Moura (1999). Os livros de registros, os
recibos emitidos e os balancetes da Coletoria de Rendas de Campinas (1831-1900), existentes no CMU,
mostram acréscimos anuais da renda do governo com a arrecadação dos impostos sobre
comercialização de cativos. Conhecidos como impostos de meia-sisa, tais documentos revelam a
localidade de origem do escravo adquirido, entre outras informações. No período posterior a 1850, nota-
se principalmente o contingente de escravos oriundos do nordeste brasileiro e do Vale do Paraíba
fluminense e paulista, onde os cultivos de cana e de café estavam em decadência. É importante citar
também, para as regiões que forneceram essa mão-de-obra, dentre outros: Furtado (2006), Dean (1976),
Eisenberg (1977), Mello (1977) e Stein (1990).
5
trabalhadores estrangeiros, além de mais 69 brasileiros, no regime de trabalho denominado
parceria7.
O regime de parceria vigente nessas colônias pioneiras não atendeu as expectativas dos
imigrantes. A ausência de qualquer supervisão ou controle da colheita do café, até o ajuste de
contas e as deduções dos custos de transportes e impostos (estimado entre 20 a 30% do lucro
bruto), gerava desconfiança entre os colonos. O desgaste entre eles e os fazendeiros atingiu seu
apogeu da crise na colônia do Senador Vergueiro. Em 1860, por conta do levante da Fazenda
Ibicaba, o número de imigrantes em colônias de parceria decresceu consideravelmente. Novos
aportes de imigrantes à região só ocorreram até o fim dessa década, devido à guerra da civil nos
Estados Unidos da América, inaugurando uma nova fase do trabalho livre, individual e
autônomo, baseado na cultura do algodão. (Gussi, 1997).
Um aspecto importante quanto ao regime de parceria é a questão da mentalidade dos
fazendeiros com relação à implantação do sistema. Em seu livro sobre as grandes lavouras
cafeeiras de Rio Claro, Warren Dean (1977) argumenta que os fazendeiros apenas recorreram
definitivamente à mão-de-obra do imigrante europeu quando perceberam que o colapso do
sistema escravista era inevitável. O fim paulatino da escravidão, disposto nas leis gerais das
décadas de 1870 e 1880, também pode ter servido para que o imigrante se sentisse atraído a vir
ao Brasil, quando a hierarquizada sociedade brasileira parecia deixar de existir em pouco tempo
(Dean, 1977: 153), abrindo espaço para ascensão social dos imigrantes.
As experiências fracassadas de quase três décadas com a mão-de-obra livre levaram a
revisões no antigo sistema de parceria. Nos novos contratos, ofereceu-se ao colono uma renda
que provinha de uma soma fixa para cuidar de determinada quantidade de pés de café e de outra
soma por alqueire de café colhido, além de um lote para sua cultura de subsistência. Essas
revisões basearam uma nova política de imigração, desta vez nitidamente dirigida pelo governo
Provincial. Através da lei provincial no. 56, de 21 de março de 1885, o governo foi autorizado a
construir, na cidade de São Paulo, um prédio próprio para abrigar a Hospedaria de Imigrantes,
7 Os trabalhadores imigrantes alocados em Campinas representavam 18,5% do total para a Província de
São Paulo. As localidades listadas, além de Campinas, são: Limeira, Rio Claro, Pirassununga,
Piracicaba, Amparo e Jundiaí. Pupo (1969) identificou o pioneiro na introdução de colonos estrangeiros
em Campinas. Trata-se de Joaquim Bonifácio do Amaral, o Visconde de Indaiatuba, que estabeleceu
contratos de parceria com alemães na Fazenda Sete Quedas, em 1852. Além dele, o referido Mapa
registra em Campinas as colônias de: Antonio de Camargo Campos (Fazenda Boa Esperança), Da.
Maria Inocência de Souza (Fazenda Tapera), Floriano de Camargo Penteado (Fazenda Boa Vista),
Antonio Rodrigues Barbosa (Fazenda Sítio Novo), Luciano Teixeira Nogueira (Fazenda Laranjal),
Hercule Florence (Fazenda Soledade), Pedro José de Campos (Fazenda Dores) e Francisco de Camargo
Penteado (Fazenda São Francisco). (Holanda, p. 38-9, prefácio de Davatz, 1980).
6
que foi finalizado em 18888 (Petrone, 1969). Antes disso, desde 1882, a repartição pública da
Hospedaria funcionava num prédio adaptado, localizado no bairro do Bom Retiro, prédio este
que recebeu as ondas de trabalhadores para o segundo grande surto expansivo da produção
cafeeira paulista, ocorrido em 1886-87. (Semeghini, 1991: 55).
Para Warren Dean (1977), a imigração em massa permitiu certa modernização das
cidades, uma vez que trabalhadores europeus qualificados se estabeleceram na zona urbana,
diversificando a produção e contribuindo para o crescimento do setor de serviços e obras de
infraestrutura. Era necessário atender às demandas do aumento demográfico via instalação de
pequenas indústrias, como serrarias, olarias e fábricas de calçados. No entanto, o sistema de
grandes lavouras cerceou esse desenvolvimento, já que o capital na cidade de Rio Claro advinha,
em sua maioria, de São Paulo ou de Santos. De acordo com Dean, essa situação limitou a
acumulação interna, restringindo a ascensão de uma classe média comercial e industrial que
morasse na região (Dean, 1977: 156). Acreditamos que a situação apresentada por Dean com
relação a Rio Claro não se encaixa para o caso de Campinas.
Outra importante questão diz respeito ao transporte ferroviário. O crescimento da lavoura
cafeeira no interior da Província e o receio da ingerência do governo no escoamento da produção
foram fatores de incentivo para que os fazendeiros investissem na malha ferroviária. De 1872,
ano da inauguração do trecho Jundiaí-Campinas da Cia. Paulista de Estrada de Ferro, até 1899, o
da inauguração da Estrada de Ferro Funilense (talvez a última grande obra ferroviária dentro dos
limites do município), Campinas contava com linhas férreas que cobriam várias direções9. O
trabalho de construção dessas ferrovias contou com trabalhadores assalariados. Maria Lúcia
Lamounier afirma que o caráter sazonal da agricultura, fez com que muitos trabalhadores
agrícolas partissem para o trabalho nas ferrovias, mas era difícil mantê-los nesses postos na
época do plantio e da colheita, pois, para conservarem seu pequeno lote de terra, eles relutavam
em abandonar seus laços com a agricultura de subsistência e a dependência com a fazenda.
(Lamounier, 2007). Liliana Segnini acrescenta outro fator, ao mostrar que as empreitadas nas
ferrovias contaram com grande contingente de trabalhadores nacionais recrutados principalmente
8 A Hospedaria de Imigrantes, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante, está localizada no bairro do
Brás, em São Paulo. Destinava-se a abrigar os recém–chegados nos seus primeiros dias em São Paulo.
Os imigrantes ficavam hospedados pelo tempo suficiente para acertarem os seus contratos de trabalho.
Nesse período, além da colocação nas fazendas eles utilizavam gratuitamente os seguintes serviços
disponíveis: refeições, pernoite e atendimento médico. Conforme:
http://www.memorialdoimigrante.org.br/historico/index.htm. Acessado em 28.06.2009. 9 A Cia. Mogiana inaugurou o trecho até Mogi Mirim em 1875; em 1894 inaugurou-se a linha da Cia.
Ramal Férreo Campineiro, apelidada de “cabrita”, que ligava Campinas a Souzas, Joaquim Egídio,
Cabras e Dr. Lacerda. Em 1899 inaugurou-se a Estrada de Ferro Funilense, que ligava Campinas ao
bairro do Funil, atual cidade de Cosmópolis. (Lapa, 1995, 24).
7
de Minas Gerais, configurando assim um período de grande migração interna para Campinas.
(Segnini, 1982)10
.
A privilegiada localização geográfica de Campinas, entroncamento do transporte
ferroviário, transformou-a num importante ponto de confluência da maior parte da riqueza
paulista. Da maneira que as ferrovias chegaram para buscar a produção das fazendas, também
trouxeram postos de trabalho que levaram ao aumento da população e da renda, criando um
mercado urbano estimulado por crescente demanda. Essa situação favoreceu a diversificação da
economia. Os periódicos e almanaques da época mostram que, além das atividades comerciais e
financeiras ligadas ao café, se consolidavam na sociedade os segmentos intermediários do
comércio, prestação de serviços especializados, manufatura, indústria, além de estabelecimentos
escolares, hospitalares e repartições públicas. Como afirma Amaral Lapa,
... a diversificação do quadro profissional, com a formação do mercado de trabalho
livre, o advento das estradas de ferro e o surgimento da indústria, a multiplicação
das instituições, que, sintonizadas ao poder público municipal, permitem que aqueles
serviços atinjam certo grau de qualidade, vão compondo o quadro urbano que nos
interessa. (Lapa, 1995: 23).
Ainda segundo Amaral Lapa, essa modernização motivada pelas estradas de ferro alterou
profundamente o desenho urbano da cidade de Campinas, ampliando a área central, com a
consequente dilatação do seu perímetro. Além do complexo das estações, outras importantes
obras civis foram executadas. As principais ruas foram calçadas, estendidas e novas foram
criadas. Surgiram bairros, vilas, distritos e áreas distantes passaram a ser valorizadas. Já em
1886, a malha urbana contava com iluminação pública a gás, telefone e outras referências de
“modernidade” (Lapa, 1995: 17-38).
Para a análise do vínculo entre crescimento populacional e desenvolvimento econômico
em Campinas, faz-se necessário incluir comparações de algumas características demográficas
entre esta cidade e a capital da província. José Francisco Camargo (1981), por exemplo, registra
o total de 31.385 habitantes para a cidade de São Paulo em 1872, enquanto Campinas contou
com 31.397, sendo 13.685 escravos. Em 1880, Campinas tornou-se um dos municípios mais
populosos da província, com pouco mais de 36 mil habitantes11
. Por conta disso, ela foi
considerada a segunda mais importante de São Paulo, ostentando o título de “Capital Agrícola da
Província”.
10
Para nos aprofundarmos na questão da implantação da malha ferroviária em São Paulo, pretendemos
trabalhar também com as análises de Flávio Saes (1981). 11
Os totais de população do município de Campinas são representados pela soma das populações urbana
e rural. Alertaremos o leitor quando for necessário destacar uma das duas.
8
Em 1886, assim como na cidade de São Paulo, a população de Campinas ultrapassou a
casa dos 40 mil habitantes, sendo que nesta o número de escravos beirava os 10 mil. Dados do
Arquivo Demográfico da Fundação SEADE registram um crescimento inferior da população da
cidade em relação à da capital, entre 1886-1900. Segundo o médico e memorialista campineiro
Lycurgo de Castro Santos Filho (1996), isso ocorreu devido às epidemias de febre amarela que
se abateram sobre a cidade a partir de 1889, no total de cinco até 1897, interrompendo o processo
de crescimento da cidade, além da transferência definitiva do capital de negócios para a cidade
de São Paulo12
.
Entretanto, segundo o arquiteto Ricardo Badaró (1996), o quadro caótico deixado pelas
epidemias de febre amarela conscientizou o poder público da necessidade de implantação de
políticas de saneamento, higiene e saúde, que resultaram em mudanças decisivas e permanentes
no cotidiano da cidade. Para a melhoria das condições de vida da população, investiu-se no
tratamento e distribuição de água, na canalização de córregos e drenagem dos charcos, na
construção de galerias subterrâneas para a destinação do esgoto, na coleta diária do lixo e na
adoção de normas para a construção civil (Badaró, 1996: 30-33). Uma das consequências
positivas dessa política pública ocorreu no campo do desenvolvimento e inovação da medicina,
características que permanecem até hoje13
.
A cidade retomou o caminho do crescimento e sua população total chegou a 67.694
habitantes, em 190014
. O desenvolvimento do mercado interno estimulou o crescimento das áreas
de plantio de arroz, milho, feijão e algodão, possível, segundo Ulysses Semeghini, graças a uma
política de créditos do governo para que os interessados pudessem adquirir suas propriedades
rurais e iniciar a produção (Semeghini, 1991: 65-74).
A questão da mobilidade social dos imigrantes em Rio Claro foi abordada por Warren
Dean (1977). Na parte referente ao trabalho assalariado, o autor apresenta uma descrição
minuciosa das condições de vida dos colonos nas fazendas de café (alimentação, moradia, saúde
e renda, principalmente). Essas condições, em outros casos aliadas à falta de pagamento pelo
trabalho já realizado, geraram forte descontentamento dos colonos em relação aos fazendeiros.
12
A população urbana de Campinas girava em torno de 20 mil habitantes. A febre amarela afetou
principalmente esta faixa da população. (Santos Filho e Novaes, 1996). Com relação às epidemias em
todo o Estado de São Paulo, desde 1890, pretendemos trabalhar com as análises das relações da
imigração com a promoção dos serviços públicos sanitários, contidas em Telarolli Júnior (1996). 13
A iniciativa privada passou a instalar clínicas e hospitais. A especialidade oftalmológica, por exemplo,
destacou-se devido aos surtos de tracoma que acometiam especialmente os imigrantes. Segundo
Abrahão (2000), a vocação de Campinas para o desenvolvimento do conhecimento médico também foi
fator determinante para o surgimento da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, com o curso de
medicina, em 1968.
14 Nesse período a capital registrou 224.654 habitantes (Baeninger, 1996: 34).
9
Esse fator se traduziu em fugas (quebras de contratos) e greves. Como resultado desses conflitos
trabalhistas, o governo provincial procurou acomodar os interesses por meio do financiamento de
aquisições de lotes. De acordo com Dean, essa política de distribuição de terras em Rio Claro
teve a função de fixar alguns trabalhadores à terra, bem como socorrer fazendeiros em
dificuldades financeiras, decorrentes das crises dos preços do café (Dean, 1977: 175-176).
Todavia, segundo o autor, a totalização das vendas dos lotes coloniais (realmente realizada) não
representou o acesso do colono médio à propriedade. A especulação urbana aumentou os preços
dos lotes de terras e os europeus ou seus descendentes que os adquiriram eram, em sua maioria,
profissionais liberais ou comerciantes, que se aproveitaram do negócio de arrendar terras para
outras famílias de colonos trabalharem (Dean, 1977: 180). Sem uma acumulação prévia de
capital, era difícil ao colono “médio” obter dinheiro necessário para comprar a sua propriedade.
Essa é uma questão que precisa ser apreciada para Campinas, pois, segundo Warren
Dean, apenas depois da decadência do ciclo do café em Rio Claro, quase na metade do século
XX, a compra de terras pelas famílias de descendentes de imigrantes tornou-se mais fácil, visto
que a burguesia deixava a cidade para investir em outras localidades (Dean, 1977: 182). De
acordo com a sua conclusão, a imigração em massa de trabalhadores rurais acabou por preservar
as grandes propriedades, que apenas foram abandonadas pela elite cafeeira quando o produto já
não oferecia lucros tão satisfatórios quanto anteriormente. Os documentos sob a guarda do CMU
(especialmente os registros de hipotecas, de compra e venda de imóveis, e os inventários post-
mortem), contendo significativa quantidade de registros em nome de estrangeiros, sugerem
evidenciar que o ocorrido em Campinas foi diferente do observado em Rio Claro.
Um importante fator de análises demográficas que imbricam com análises econômicas é
o chamado: êxodo do campo para as cidades. Para Rosana Baeninger (1996), essa tendência
aparece em Campinas no período de 1900 a 1920, quando a população cresceu a taxas similares
à média das demais cidades do interior e chegou a 115.567 habitantes. Chiara Vangelista (1991)
observou que esse movimento se deu justamente na época em que o colono percebeu que o vagar
de uma plantação a outra não era mais uma maneira eficaz de se combater as condições
desfavoráveis de trabalho nas fazendas. A cidade tornou-se opção, pois havia a possibilidade de
emprego no pequeno comércio e nas empresas de construção. Assim, as cidades, principalmente
a capital da província, passaram a receber a maior parte da demanda de mão-de-obra proveniente
do meio rural15
. Com a ampliação da área urbana – e nesse ponto confirmando as referencias de
Amaral Lapa (1996) para Campinas – Chiara Vangelista conclui que o incremento das atividades
secundárias e terciárias tornou necessária a criação de uma agricultura suburbana, por sua vez
15
Diferentemente de qualquer outra localidade, a capital mais que dobrou a sua população no fim desse
período, chegando a 574.724 habitantes (Baeninger, 1996: 34)
10
ligada ao comércio urbano. Desse modo, o colono que se afastou da grande lavoura vislumbrou
novas oportunidades de emprego e de renda, na produção agrícola suburbana. (Vangelista, 1991:
239).
O Censo Escolar do Estado de São Paulo, realizado em 1934 e citado por Rosana
Baeninger (1996), mostra a população de 1.007.955 habitantes para São Paulo, enquanto no
mesmo ano a de Campinas somou 132.819. Esses números revelam que no período de 1920 a
1934 houve acentuado aumento da população urbana em relação à rural, comportamento
demográfico que se consolidou no posterior período de industrialização. É justamente nesse
ponto que Chiara Vangelista encontrou apoio para afirmar a impossibilidade de o imigrante ter
feito “fortuna” no campo, trabalhando na lavoura, ao contrário do meio urbano, onde o pequeno
comércio ou a oficina artesanal – de seleiros, sapateiros, alfaiates, padeiros, boticários etc. –
poderiam se transformar, com a ajuda de circunstâncias favoráveis, numa pequena indústria
manufatureira. (Vangelista, 1991: 275).
Apresentado por Boris Fausto (1991) como um dos representantes da linha “otimista” que
trata da mobilidade social dos imigrantes – os proprietários rurais – na sociedade paulista durante
a economia cafeeira (1886-1934), Thomas Holloway (1984) criticou as imagens prevalecentes,
apoiadas pela elite cafeeira, primeiro, de que São Paulo contava apenas com grandes fazendas de
café e que essas propriedades pertenciam aos chamados barões do café, brasileiros natos,
herdeiros de uma longa tradição e; segundo, de que a administração governamental foi tranquila
durante a Primeira República. Mesmo percebendo a tendência para o aumento gradativo da
população urbana em detrimento da rural, o autor centrou o foco nos trabalhadores do campo
para demonstrar que, como consequência da imigração em massa e do crescimento da economia
cafeeira, alguns colonos puderam conquistar para si um lugar como proprietário de terra e
lavrador independente no Oeste paulista, no decorrer do século XX. Nesse sentido, o autor
sugere uma contraposição aos argumentos de Warren Dean (1977), que não verificou a
existência de um grupo de proprietários rurais significativos para seu estudo, e de Chiara
Vangelista, que defendeu a cidade como o único ambiente onde o imigrante pode “fazer fortuna”
para voltarem ao campo, como proprietários de terras.
Conforme Holloway, o grupo étnico formado pelos italianos caracterizou-se por pertencer
aos estratos econômicos mais baixos de seu país, por trabalhar com afinco num regime familiar e
por consumir pouco. Aliado à sorte, essas características eram pré-requisitos para progredirem
financeiramente (Holloway, 1986: 213-214). Alguns conseguiram ascender ao ponto de
possuírem grandes fazendas de café para exportação, que contavam com mão-de-obra também
formada por colonos imigrantes no padrão familiar. Mas esses foram exceção. A maioria dos
11
proprietários estrangeiros teria começado juntando suas economias para adquirir um pequeno
sítio, cujas terras não despertavam interesse de investidores de base urbana. Assim, ao lado das
grandes fazendas de café passou a coexistir um crescente número de sítios pequenos e médios,
adquiridos por colonos imigrantes de primeira geração. Nessa “fazendola”, uma família podia
satisfazer suas necessidades de subsistência e produzir café, milho, frutas, por exemplo, para
venderem nos mercados locais.
Thomas Holloway apóia sua pesquisa nos censos e estatísticas agrícolas produzidos pelo
estado de São Paulo e nos vários relatórios de observadores estrangeiros que visitaram as
fazendas, a fim de conhecerem as condições dos trabalhadores. No conjunto desses relatórios
identificamos um fato recorrente que chamou nossa atenção: a dificuldade para saber quanto os
colonos economizavam, pois eles desconfiavam dos bancos, guardavam dinheiro em seus
colchões e relutavam discutir o assunto com estranhos (Holloway, 1984: 213). Essa atitude é
corroborada por entrevistas com descendentes de italianos, obtidas num dos projetos sobre
empreendedores da região de Campinas, desenvolvidos no CMU. Abaixo, o trecho de uma delas:
O nono “Bepe” nos dizia que quando ele era moço, ele se sentia como um escravo
trabalhando na fazenda de café de Joaquim Egídio. Depois que casou com a nona
Rosa ele trabalhou em vários lugares, mas como oleiro ele progrediu bem.
Conseguiu comprar o sitio Santa Rosa em Valinhos, comprou duas casas em
Campinas e depois comprou o sítio da Capela em Vinhedo. Mas, ele era muito
econômico, muito mesmo. Quando ele e o tio Guilherme montaram a primeira
barraca do Frango Assado, ele ia ao caixa, tirava o dinheiro e me pedia a chave do
barraco onde nós dormíamos e onde ele estocada garrafas, frutas, farinha etc. Ele
me dava uma piscadinha, dobrava bem o dinheiro e dizia que ira levar no cofre. Mas
não tinha cofre, não, tinha mesmo era uma lata de querosene velha, toda amassada,
que ele deixava amarrada ao pé da minha cama. A lata tinha um furinho onde ele
colocava o dinheiro. Ele dizia pra mim: quem vai querer mexer na lata velha que
fica debaixo da sua cama?16
.
Este exemplo de parcimônia com os resultados do trabalho cotidiano sugere que tais
economias foram usadas na aquisição de propriedades rurais pelos imigrantes italianos. E estes
não enfrentaram obstáculos para isso. Segundo Holloway, a emergência final de um número
importante de fazendas pertencentes a imigrantes foi uma atividade complementar que não
representou desafio direto às grandes fazendas. Na verdade, os fazendeiros nas áreas mais
16
Entrevista com Ivone Rovere e Verônica Soldeira (2002), para o estudo de caso: Tradição de família: a
história da Rede Frango Assado de Restaurantes.
12
antigas encorajavam a transição para unidades menores, como uma maneira de transformar bens
imóveis, porém em declínio, em capital líquido, que poderiam reinvestir nas novas fronteiras do
café ou em outros setores econômicos. Esses outros setores – comércio, construção,
processamento de alimentos e indústrias leves – cresceram como uma função da expansão
cafeeira, como os centros urbanos, a demanda interna e os mercados locais cresceram
(Holloway, 1986: 251).
Apesar de também propor uma crítica sobre a noção de tranquilidade administrativa nos
governos da Primeira República (1889-1930) – noção que segundo ele predomina assim como a
de que havia apenas grandes fazendas em São Paulo – Thomas Holloway, contudo, não
aprofunda a questão da maneira como o faz Maurício Font (1990). Na sua análise da organização
social da economia cafeeira paulista e seus vínculos com os processos mais gerais de
industrialização e de mudança política no Brasil, Font abordou a questão da diversificação da
economia paulista ao longo da década de 1920, fator que permitiu a emergência de uma
agricultura independente de pequenos e médios produtores, seja de café e de outros produtos
(milho, feijão, arroz, algodão, amendoim), destinados ao mercado interno. Essa economia
alternativa se desenvolveu paralela, mas vinculada ao tradicional setor agroexportador. Segundo
o autor,
…Shortly after the turn of the century, economic and political changes challenged
the primacy of the traditional “fazenda” as well as planter rule itself. The
proliferation of independent direct producers in coffee and general commercial
agriculture, together with the rise of manufacturing meant alternative and
competitive uses of all basic factors of production. The market, a change state,
independent agriculture, and other forms of change played an increasingly important
role in the allocation of land, labor, and capital. Economic elites rapidly
differentiated in terms of income sources. The more they did, the more that
competition and change took their toll in the political arena. New types of politicians
and political structures claimed independence from the direct rule of planters and
related social groups. These processes conditioned the onset of industrialization and
the demise of the Old Republic in São Paulo. (Font, 1990, 269-70).
Font concluiu que os movimentos que levaram ao primeiro governo republicano e,
principalmente, à industrialização brasileira, não foram dirigidos pela tradicional oligarquia
cafeeira paulista apenas, como também receberam influencias de parte significativa de estratos
emergentes da sociedade da época, composto de proprietários rurais e comerciantes por ele
chamados de independentes.
13
A diferenciação social representada pelo crescimento dessas atividades independentes foi,
para Font, mais dinâmica nas áreas de colonização mais recente. Porém, a quantidade de
registros notariais em nome de imigrantes, sob a guarda do CMU, indica que essa dinâmica
também pode ter sido significativa na região de Campinas, uma das pioneiras a acomodar a
imigração em massa para São Paulo e, portanto, das mais antigas. A Estatística Agrícola e
Zootécnica de 1905, por exemplo, registra 212 proprietários rurais estrangeiros, no total de 641
de todo o município. O argumento de Font certamente leva em conta os valores das propriedades
para medir sua importância. Nesse caso, a relação de dois terços em favor dos nacionais aumenta
para nove décimos, ou seja, a soma dos valores das propriedades dos nacionais representou 90%
do valor total de todas as 641 propriedades registradas no período. Mas, este óbvio desequilíbrio
já não sinalizava positivamente para o fortalecimento de uma classe de proprietários
estrangeiros, produzindo a apenas três ou quatro décadas no país?
No seu trabalho sobre a industrialização de São Paulo, Warren Dean (1971) define o
perfil do imigrante que adquiriu fortuna e conseguiu igualar-se ao fazendeiro em posição social:
quase todos, em suas pátrias, haviam morado em cidades, pertenciam a famílias de classe média
e possuíam instrução técnica ou certa experiência no comércio ou na manufatura. Muitos
chegaram com alguma forma de capital (economias, estoques de mercadorias). Os empresários
que iniciaram como operários ou mascates foram casos raros (Dean, 1971: 59). Apesar de
concordarmos parcialmente com essa representação, queremos, nesta pesquisa, verificar os casos
de ascensão social de imigrantes das zonas rural e urbana de Campinas para sabermos se os
mesmos confirmam o perfil oferecido por Warren Dean. Nesse sentido, tendemos a uma
aproximação com os argumentos de Maurício Font que, como vimos, abre questão a respeito da
criação de novos interesses econômicos e grupos sociais. Segundo Font, esse processo gerou
novas elites e uma coalizão alternativa formada por uma massa crescente de pequenos e médios
proprietários, comerciantes de terras, novos intermediários comerciais e políticos profissionais,
desafiando a preeminência dos grandes plantadores e comissários de café. (Font, 1990: 29).
Essas transformações sócio-econômicas provocaram uma segmentação política no estado
de São Paulo e uma forte mobilização política em que estiveram envolvidos os cafeicultores por
toda a década de 1920. As divisões aconteceram em diversos níveis e as várias associações
patronais criadas no período, bem como os órgãos de imprensa (os jornais e periódicos)
demonstram essa cisão, por representarem, cada um deles, uma facção política17
. É justamente
nesse ponto que os contornos de uma elite regional profundamente dividida, como são
17
Maurício Font trabalhou com censos e estatísticas oficiais, com os jornais O Estado de São Paulo,
Correio Paulistano, Diário Nacional e alguns periódicos especializados em economia da década de
1920.
14
delineados por Maurício Font, não coincidem com algumas análises tradicionais que visualizam
a Primeira República como um momento histórico de clara hegemonia nacional da chamada
oligarquia cafeeira paulista (Furtado, 2006 e Prado Júnior, 1976, entre os mais citados). A
economia havia gerado novas elites e estas estavam pedindo seu quinhão.
A fragmentação das elites ocorreu devido ao surgimento de uma crescente mobilização
de novos grupos sociais que aspiravam sua participação na vida política nacional. Esse
movimento expressou níveis cada vez mais elevados de insatisfação e a criação de um
movimento sistemático de oposição aos privilégios à política agro-exportadora que, conforme
Boris Fausto (1984), resultou na Revolução de 1930, colocando fim à hegemonia “burguesa” do
café. Mas, justamente a dispersão das elites nos leva a discordar da tese de Boris Fausto, de que a
elite dos cafeicultores foi a única classe nacional capaz de reunir condições para articular formas
de ajustamento e integrar assim o país, na medida de seus interesses, durante boa parte da
Primeira República. Perguntamos: não teria sido essa mesma “burguesia” cafeeira a articuladora
do golpe contra Washington Luis e Júlio Prestes? Descontente com os novos interesses
econômicos, não teria ela articulado com as elites mineiras e gaúchas para manterem a política
agro-exportadora nacional?
Objetivos
O objetivo desse projeto é abordar o tema do trabalho familiar e da ascensão social na
economia cafeeira, no período entre 1870 e 1940, por meio do estudo de documentos e registros
sobre trajetórias de famílias de imigrantes estabelecidas na sociedade campineira. Acreditamos
que as condições sociais, econômicas e políticas daquela época formaram um ambiente favorável
em que algumas famílias puderam buscar alternativas e definir estratégias de construção da sua
vida material, principalmente da formação de patrimônio e da riqueza, como meios de inserção e
de reconhecimento social.
O período proposto neste projeto marca o início da construção de ferrovias em direção a
Campinas – o trecho Jundiaí-Campinas da Cia. Paulista foi inaugurado em 1872 – e compreende
o segundo grande surto expansivo da lavoura cafeeira paulista, ocorrido em 1886-87, que foi
apoiado por um maior incentivo governamental para a entrada de trabalhadores, colonos
estrangeiros. Como vimos anteriormente, foram anos de grande demanda por braços na lavoura,
na construção civil e na construção das ferrovias. Outra razão para a escolha desta data inicial é a
possibilidade dos primeiros imigrantes, que chegaram à região por volta de 1852, já terem alguns
deles adquirido sua propriedade agrícola ou iniciado seu negócio urbano, cerca de uma geração
depois.
15
Pretendemos encerrar o nosso estudo em 1940 pelas seguintes razões: a passagem pela
grande crise econômica de 1929 e sua repercussão, que derrubou os preços do café no mercado
mundial. Também contam os censos e estatísticas demográficas disponíveis nesse período, bem
como as séries de documentos: inventários post-mortem, testamentos, registros civis, registros de
compra e venda de imóveis e de impostos pagos que o CMU guarda em seu acervo. Da mesma
forma, a data final deste projeto também está ligada à política, pois nos parece plausível que a
emergência dos novos proprietários agrícolas, comerciais e industriais na economia pode ter
ajudado a forjar a ideologia presente nas Revoluções de 1930 e na Constitucionalista de 1932,
que sofre considerável realinhamento a partir de 1939, com o início da Guerra Mundial e de um
novo momento econômico e político internacional e nacional.
Como força de trabalho agrícola e depois industrial e/ou comercial, co-produtores para
mercados locais e para exportação, como consumidores de bens e serviços, como pais de novas
gerações de brasileiros, os imigrantes forneceram uma base social importante para o crescimento
econômico de São Paulo nas décadas seguintes. Nesse sentido, trabalhamos com a hipótese de
que a diversificação econômica ocorrida em Campinas, que acompanhou a implantação das
ferrovias e da imigração em massa, do trabalho assalariado, gerou condições e oportunidades
potenciais para que imigrantes conseguissem ascender numa sociedade dominada pela economia
cafeeira, pela grande propriedade e por uma forte hierarquia social. Vamos investigar esta
hipótese e, para isso, é necessário perguntar: quais as características das famílias
empreendedoras? Quais foram suas estratégias? As políticas de crédito e incentivos
governamentais tiveram alguma importância para essas famílias? Foram criadas redes de
relações entre famílias para financiar a abertura e a continuidade desses negócios? Quais as
formas de atuação política de elementos ligados aos interesses emergentes? Como os
empreendedores foram se identificando e foram identificados com o novo status social? Como a
elite agro-exportadora se portou frente a essa realidade?
Metodologia e Fontes
Para o desenvolvimento desta pesquisa de doutorado, a base principal de fontes primárias
é constituída pelo acervo de documentos sob a guarda da Área de Arquivos Históricos do Centro
de Memória – Unicamp (CMU), bem como os periódicos, estudos de memorialistas e obras
acadêmicas sobre Campinas, existentes na Biblioteca do mesmo Centro e na Biblioteca do
Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA)18
.
18
O CCLA é uma entidade cultural particular e sem fins lucrativos fundada em 31 de outubro de 1901, na
cidade Campinas por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar na cidade uma
instituição em que se pudessem reunir para o estudo e a produção de atividades científicas e artísticas.
16
Com relação ao acervo do Tribunal de Justiça de Campinas (todos os Ofícios de 1793-
1940) e do Tribunal de Justiça de Jundiaí (apenas o 1º Ofício de 1754-1905, e com lacunas),
ficharemos os inventários post-mortem, e os processos relativos a testamentárias, arrolamentos,
partilhas, prestações de contas, falências, divisões de terras, contratos de compra e venda de
imóveis, de parcerias, manutenções de posses, executivos hipotecários e outros afins, de pessoas
que apresentem nacionalidades estrangeiras19
.
A estratégia que adotamos foi a de tomar inicialmente a “Estatística Agrícola e
Zootécnica do Estado de São Paulo para 1904-1905” na parte referente a Campinas, para
identificar e selecionar os nomes dos proprietários rurais italianos, alemães, portugueses,
espanhóis e de outras nacionalidades menos representativas. Feito isto, procuramos os nomes
selecionados no banco de dados dos processos do Tribunal de Justiça de Campinas, descritos
acima. O resultado apresentou o total de 58 processos no período, sendo, destes, 26 inventários,
testamentos, arrolamentos e partilhas. Essa será uma parcela fundamental da documentação que
pretendemos investigar neste projeto.
Com relação aos imigrantes proprietários de negócios urbanos, tomamos por ora apenas
os Almanaques publicados em Campinas para os anos de 1886, 1892, 1908, 1912 e 1914.
Selecionamos os nomes de alfaiates, marceneiros, padeiros, chapeleiros, parteiras, ferreiros,
seleiros, sapateiros e açougueiros de origem estrangeira. Também, fizemos um cruzamento
desses nomes identificados nos Almanaques com os existentes no banco de dados dos processos
do Tribunal de Justiça de Campinas. O resultado apresentou o total de 90 processos no período,
sendo, destes, 33 inventários, testamentos, arrolamentos e partilhas. Essa é outra base importante
para nossa pesquisa.
Numa segunda etapa da pesquisa, tomaremos os nomes constantes nas duas relações, ou
seja, de proprietários rurais e de proprietários de negócios urbanos, e buscaremos mais dados de
referência a eles nos Livros do 1º Cartório de Registro de Imóveis e Anexos de Campinas,
especialmente os de: Registro de Geral de Hipotecas (4 livros de 1906 a 1930); Registro de
Firmas ou Razões Sociais (1 livro de 1892 a 1934), Averbações (compra e venda de imóveis,
bens de consumo duráveis, automóveis, contratos: 4 livros de 1906 a 1949), Transcrições
(transações imobiliárias, penhor da produção agrícola e demais penhores e calções: 7 livros de:
1868 a 1975) e Averbações (de compra e venda de imóveis, bens de consumo duráveis,
O pioneirismo da idéia, que é notável em termos de Brasil do século passado e a conciliação com os
ideais positivistas e republicanos, ressaltam a importância da cidade de Campinas naquele período.
Conforme: http://www.ccla.org.br/ccla/sobre, acessado em 02.08.2009. 19
Conforme tabela 1. Um interessante trabalho baseado em inventários post-mortem para a cidade de São
Paulo está registrado em Zélia C. de Mello (1981).
17
automóveis, contratos de prestação de serviços, contratos administrativos de construção ou
reforma de imóveis e contratos de abertura de crédito: 4 livros de: 1906 a 1949).
Além disso, pretendemos pesquisar esses mesmos personagens nos documentos do
Registro Civil de Campinas (nascimentos, casamentos e óbitos 1872-1922), bem como nos
pagamentos de impostos sobre bens e propriedades, registrados nos livros e nos balancetes da
Coletoria de Rendas de Campinas (1831-1900).
Com base nas informações coletadas, pretendemos mapear a trajetória dos proprietários
rurais e profissionais urbanos de origem imigrante e seus descendentes, que acumularam bens e
propriedades durante o período estudado e, assim, compreender a possível importância do
trabalho familiar na inserção social daqueles que se fixaram em Campinas.
TABELA 1 – QUANTIDADE DE INVENTÁRIOS / ARROLAMENTOS NO PERÍODO
TOTAL: 3101 PROCESSOS
OBS: OS PERÍODOS DE 1889/91 E 1894/96 COMPREENDEM AS EPIDEMIAS DE FEBRE
AMARELA.
18
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