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TRABALHO FAMILIAR E INSERÇÃO SOCIAL NA ECONOMIA CAFEEIRA CAMPINAS: 1870-1940 1 Fernando Antonio Abrahão - Mestre em História pelo IFCH Unicamp Diretor da Área de Arquivos Históricos do Centro de Memória - Unicamp A região de Campinas caracteriza-se historicamente por ter assistido a uma das mais altas concentrações nacionais de trabalho escravo e a um fluxo expressivo de imigrantes, desde meados do século XIX. Além disso, a região destacou-se entre as mais dinâmicas da economia brasileira, desde a cultura da cana-de-açúcar até à do café, as quais definiram sua estrutura fundiária e projetaram suas forças político-econômicas. Essas forças político-econômicas, por sua vez, contribuíram decisivamente para a implantação e a sustentação inicial do regime republicano no Brasil. Várias pesquisas foram e vem sendo realizadas tendo como base as empresas e atividades econômicas da região de Campinas. Fazendo um balanço da produção desses trabalhos, identificamos um elemento comum entre as empresas estudadas: o trabalho familiar. Decerto que trabalhos reiteram a importância da imigração de europeus, árabes e japoneses para as transformações sócio-econômicas que tem implicações até os dias atuais no Estado de São Paulo. Uma dessas mudanças está certamente relacionada ao sistema produtivo e ao mercado de trabalho. Se no final do século XIX, a economia brasileira fundamentava-se na produção de café por meio do trabalho escravo, com a política de introdução de trabalhadores imigrantes, promovida pelo governo provincial desde 1871 2 , essa base foi sendo substituída paulatinamente pela mão-de-obra livre e pela diversificação dos ramos comercial e prestador de serviços, da pequena produção agrícola e pela industrialização, resultando na ampliação de um mercado interno ávido pelo consumo de produtos diversificados. Portanto, de acordo com a análise geral dos casos estudados, a inserção da mão-de-obra imigrante no mercado de trabalho paulista promoveu um realinhamento sócio-econômico que propiciou o surgimento de novas 1 A apresentação deste trabalho no Simpósio Familia, negócios y empresas en América Latina (1850- 1930), realizado no II Congresso Latino Americano de História Econômica, México, 3-5 de fevereiro de 2010, contou com o apoio da Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Trata-se do meu projeto de doutorado aprovado para iniciar em 2010, na Universidade de São Paulo. 2 Maria Teresa Petrone (1969: 279) identifica o primeiro estímulo à imigração subvencionada para São Paulo na lei provincial de 30 de março de 1871. Por meio dela, o governo pode emitir 600 contos de réis em apólices, a fim de auxiliar com empréstimos os fazendeiros interessados na introdução de colonos. Novas leis foram promulgadas durante toda a década de 1880. Os totais anuais de imigrantes que entraram em São Paulo entre 1870 e 1907 estão descritos em: http://www.memorialdoimigrante.org.br/historico/e3.htm (acessado em 28.06.2009).

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TRABALHO FAMILIAR E INSERÇÃO SOCIAL NA ECONOMIA CAFEEIRA

CAMPINAS: 1870-19401

Fernando Antonio Abrahão - Mestre em História pelo IFCH – Unicamp

Diretor da Área de Arquivos Históricos do Centro de Memória - Unicamp

A região de Campinas caracteriza-se historicamente por ter assistido a uma das mais altas

concentrações nacionais de trabalho escravo e a um fluxo expressivo de imigrantes, desde

meados do século XIX. Além disso, a região destacou-se entre as mais dinâmicas da economia

brasileira, desde a cultura da cana-de-açúcar até à do café, as quais definiram sua estrutura

fundiária e projetaram suas forças político-econômicas. Essas forças político-econômicas, por

sua vez, contribuíram decisivamente para a implantação e a sustentação inicial do regime

republicano no Brasil.

Várias pesquisas foram e vem sendo realizadas tendo como base as empresas e atividades

econômicas da região de Campinas. Fazendo um balanço da produção desses trabalhos,

identificamos um elemento comum entre as empresas estudadas: o trabalho familiar.

Decerto que trabalhos reiteram a importância da imigração de europeus, árabes e

japoneses para as transformações sócio-econômicas que tem implicações até os dias atuais no

Estado de São Paulo. Uma dessas mudanças está certamente relacionada ao sistema produtivo e

ao mercado de trabalho. Se no final do século XIX, a economia brasileira fundamentava-se na

produção de café por meio do trabalho escravo, com a política de introdução de trabalhadores

imigrantes, promovida pelo governo provincial desde 18712, essa base foi sendo substituída

paulatinamente pela mão-de-obra livre e pela diversificação dos ramos comercial e prestador de

serviços, da pequena produção agrícola e pela industrialização, resultando na ampliação de um

mercado interno ávido pelo consumo de produtos diversificados. Portanto, de acordo com a

análise geral dos casos estudados, a inserção da mão-de-obra imigrante no mercado de trabalho

paulista promoveu um realinhamento sócio-econômico que propiciou o surgimento de novas

1 A apresentação deste trabalho no Simpósio Familia, negócios y empresas en América Latina (1850-

1930), realizado no II Congresso Latino Americano de História Econômica, México, 3-5 de fevereiro de

2010, contou com o apoio da Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU). Trata-se do meu

projeto de doutorado aprovado para iniciar em 2010, na Universidade de São Paulo. 2 Maria Teresa Petrone (1969: 279) identifica o primeiro estímulo à imigração subvencionada para São

Paulo na lei provincial de 30 de março de 1871. Por meio dela, o governo pode emitir 600 contos de

réis em apólices, a fim de auxiliar com empréstimos os fazendeiros interessados na introdução de

colonos. Novas leis foram promulgadas durante toda a década de 1880. Os totais anuais de imigrantes

que entraram em São Paulo entre 1870 e 1907 estão descritos em:

http://www.memorialdoimigrante.org.br/historico/e3.htm (acessado em 28.06.2009).

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oportunidades de trabalho, de acúmulo de riquezas e de ascensão social, tanto para os

trabalhadores do campo como para os da cidade. O trabalho familiar, característico de alguns

grupos étnicos de imigrantes, teria sido uma das estratégias adotadas por eles para atingirem seus

objetivos.

Uma parte da historiografia nos mostra as dificuldades enfrentadas pelas famílias desde

sua chegada a São Paulo3. Os primeiros italianos, por exemplo, carregavam consigo a cultura do

camponês livre que trabalhava a própria terra e dela obtinham o sustento da família e a sua

renda. Emigraram com a firme disposição de pouparem seus ganhos a fim de progredirem

financeiramente até adquirirem suas propriedades. Contudo, a cultura patronal da época, fincada

na longa exploração da mão-de-obra escrava, obrigou-os a um regime contratual coercitivo, o

sistema de parceria em colônias agrícolas, que se traduziu num tipo de trabalho de baixa

expectativa inicial para a aquisição de propriedades rurais ou de negócios urbanos.

Michael Hall (1969) registrou a provável estratégia de resistência dos colonos: se a

política de imigração adotada pelos fazendeiros paulistas continha a intenção deliberada de atrair

levas crescentes de trabalhadores estrangeiros para as lavouras de café, mantendo baixos os

salários, ela acabou por resultar, em muitos casos, no abandono do colono ao trabalho no campo.

Chiara Vangelista (1991) e Zuleika Alvim (1986), motivadas pela tese de Michael Hall,

justificam seus estudos no sentido de comprovar a resistência do grupo italiano mediante o

deslocamento geográfico, seja pela troca do campo pela cidade ou a volta ao país de origem.

Já Maria Sílvia Bassanezi (1992) partiu do princípio de que a riqueza gerada pela

economia cafeeira criou condições para a expansão da malha ferroviária e esta, por sua vez,

reforçou e ampliou a rede urbana no interior de São Paulo, proporcionando direta ou

indiretamente a abertura de condições para a proliferação da pequena propriedade rural e de

pequenos negócios urbanos. Sua pesquisa revela as oportunidades e alternativas de trabalho e

residência que se apresentaram ao imigrante de Rio Claro, SP, além da lavoura cafeeira

propriamente dita e da indústria paulistana.

Vários documentos disponíveis no acervo do Centro de Memória – Unicamp (CMU),

muitos deles inéditos como fontes de pesquisa, também apontam para estratégias que vão além

dos deslocamentos urbanos ou da volta aos países de origem, como forma de resistência aos

contratos de trabalho e a desinteressada infraestrutura social disponibilizada pelo governo, por

3 Segundo Boris Fausto (1991), os trabalhos que mais representam esse campo de análise são os de: Hall

(1969), Dean (1977) e Martins (1979 e 1981). Acrescentamos os de Alvim (1986), Vangelista (1991),

Ribeiro (1993) e Karastojanov (1999), esse último especificamente para a região de Campinas.

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exemplo: transportes, escolas e hospitais4. Assim, valendo-se da documentação do referido

acervo, este projeto pretende estudar as trajetórias de imigrantes na região de Campinas,

principalmente daqueles que se fixaram na zona rural e na cidade, sem capital para iniciar seus

próprios negócios, mas que se apoiaram no trabalho familiar.

As referências ao trabalho de pequenos lavradores e de profissionais urbanos em

Campinas são apontadas por alguns pesquisadores. Valter Martins (1996), por exemplo, tratou da

acumulação de renda entre os pequenos agricultores em Campinas no período de 1800 a 1850;

Andrea Mara Karastojanov (1999) estudou a expressiva presença de alemães nos negócios

urbanos – comércio, indústria e prestação de serviços – na segunda metade do século XIX; e

Ema Camillo (1998) reuniu dados num trabalho de referência sobre a indústria nascente em

Campinas, desde 1850 até 1887. Como afirmou Martins,

... se já temos grandes avanços em direção a uma história do açúcar, do café, do

algodão e outros produtos para exportação, o mesmo não pode ser dito sobre os

pequenos agricultores e a agricultura de alimentos voltada às necessidades do

consumo interno. (Martins, 1996: 166).

Quanto ao empreendedorismo urbano, Camillo argumentou que:

... de município mais rico da província de São Paulo na década de 1870, a cidade de

Campinas foi palco e cenário – porque lócus de penetração e desenvolvimento de um

processo de acumulação capitalista assentado numa economia agro-exportadora –

de intensa acumulação monetária que foi aplicada em diversos ramos da atividade

urbana... (Camillo, 1998:18).

Os trabalhos de José Roberto do Amaral Lapa (1995 e 2008) revelam informações

significativas do cotidiano do extrato intermediário dos grupos sociais de Campinas na época. Na

análise sobre os anúncios dos serviços oferecidos em Campinas5, principalmente os de

fotografia, botica, padaria, alfaiataria, marcenaria, serraria e selaria, bem como a diversificação e

o aumento do número de estabelecimentos industriais e comerciais, verificados desde o

Almanach Literário Paulista para 1876, Amaral Lapa afirma:

É expressiva a quantidade de imigrantes que, sem ou com algum recurso trazido

com eles, conseguem estabilizar-se na cidade sem passar pelo indefectível estágio

agrícola, graças às habilidades profissionais, ao know-how trazido com eles ou

4 Essas fontes serão detalhadas adiante.

5 Amaral Lapa fez uso do acervo do CMU, cuja Biblioteca conta com inúmeros periódicos publicados em

Campinas, além de uma extensa lista de livros sobre a história de Campinas e região.

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rapidamente adquirido aqui, que responde aos mais diversos setores do mercado.

(Lapa, 1995: 119-20).

Muito embora a cidade de São Paulo tenha acolhido grandes contingentes de imigrantes

e recebido os maiores impulsos econômicos, consolidando-se como a grande metrópole dos

séculos XX e XXI, coube a Campinas o importante papel de protagonizar o desenvolvimento

econômico de parte do interior paulista compreendido pelas regiões Mogiana e Paulista, desde

meados do século XIX. E foi justamente por possuir um perfil tão dinâmico que essa região

passou a ser identificada desde essa época como um dos maiores, senão o maior pólo econômico

do interior de São Paulo. Por essas razões, acreditamos na relevância de um estudo que elucide

as formas como esses trabalhadores conseguiram ascender profissionalmente, inserindo-se e

atuando numa sociedade marcada pela hegemonia das grandes lavouras de café.

O tema e seus problemas

A cultura cafeeira superou a da cana-de-açúcar em Campinas na década de 1850. Desde

então, a crescente produção agrícola exigiu considerável aumento da força de trabalho. A

proibição do tráfico de escravos a partir de 1850 ocasionou a transferência de grande contingente

destes para Campinas, com valores significativamente mais altos do que os praticados poucos

anos antes6.

A dificuldade de captação da mão-de-obra na cultura cafeeira do Oeste Paulista, imposta

pela necessidade de importação de cativos de outras províncias, propiciou o surgimento de

empreendimentos particulares, que atraíram produtores rurais estrangeiros sob o regime de

parceria. Sergio Buarque de Holanda (1980), prefaciando as memórias de um colono suíço da

fazenda Ibicaba, na região de Limeira (60 km ao norte de Campinas) e pertencente ao Senador

Nicolau Vergueiro (Davatz, 1980), reproduziu o mapa enviado à Assembléia Provincial em

1858, onde constam os números de trabalhadores nas colônias de toda a província de São Paulo

em operação em 1857. Nesse mapa, Campinas sediava nove colônias que, juntas, contabilizavam

249 alemães, 71 suíços-alemães, 91 suíços-franceses, 67 portugueses, 61 belgas, totalizando 539

6 Vários autores trataram direta ou indiretamente desta questão em Campinas, dentre outros: Slenes

(1999), Abrahão (1992), Xavier (1996), Alaniz (1997) e Moura (1999). Os livros de registros, os

recibos emitidos e os balancetes da Coletoria de Rendas de Campinas (1831-1900), existentes no CMU,

mostram acréscimos anuais da renda do governo com a arrecadação dos impostos sobre

comercialização de cativos. Conhecidos como impostos de meia-sisa, tais documentos revelam a

localidade de origem do escravo adquirido, entre outras informações. No período posterior a 1850, nota-

se principalmente o contingente de escravos oriundos do nordeste brasileiro e do Vale do Paraíba

fluminense e paulista, onde os cultivos de cana e de café estavam em decadência. É importante citar

também, para as regiões que forneceram essa mão-de-obra, dentre outros: Furtado (2006), Dean (1976),

Eisenberg (1977), Mello (1977) e Stein (1990).

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trabalhadores estrangeiros, além de mais 69 brasileiros, no regime de trabalho denominado

parceria7.

O regime de parceria vigente nessas colônias pioneiras não atendeu as expectativas dos

imigrantes. A ausência de qualquer supervisão ou controle da colheita do café, até o ajuste de

contas e as deduções dos custos de transportes e impostos (estimado entre 20 a 30% do lucro

bruto), gerava desconfiança entre os colonos. O desgaste entre eles e os fazendeiros atingiu seu

apogeu da crise na colônia do Senador Vergueiro. Em 1860, por conta do levante da Fazenda

Ibicaba, o número de imigrantes em colônias de parceria decresceu consideravelmente. Novos

aportes de imigrantes à região só ocorreram até o fim dessa década, devido à guerra da civil nos

Estados Unidos da América, inaugurando uma nova fase do trabalho livre, individual e

autônomo, baseado na cultura do algodão. (Gussi, 1997).

Um aspecto importante quanto ao regime de parceria é a questão da mentalidade dos

fazendeiros com relação à implantação do sistema. Em seu livro sobre as grandes lavouras

cafeeiras de Rio Claro, Warren Dean (1977) argumenta que os fazendeiros apenas recorreram

definitivamente à mão-de-obra do imigrante europeu quando perceberam que o colapso do

sistema escravista era inevitável. O fim paulatino da escravidão, disposto nas leis gerais das

décadas de 1870 e 1880, também pode ter servido para que o imigrante se sentisse atraído a vir

ao Brasil, quando a hierarquizada sociedade brasileira parecia deixar de existir em pouco tempo

(Dean, 1977: 153), abrindo espaço para ascensão social dos imigrantes.

As experiências fracassadas de quase três décadas com a mão-de-obra livre levaram a

revisões no antigo sistema de parceria. Nos novos contratos, ofereceu-se ao colono uma renda

que provinha de uma soma fixa para cuidar de determinada quantidade de pés de café e de outra

soma por alqueire de café colhido, além de um lote para sua cultura de subsistência. Essas

revisões basearam uma nova política de imigração, desta vez nitidamente dirigida pelo governo

Provincial. Através da lei provincial no. 56, de 21 de março de 1885, o governo foi autorizado a

construir, na cidade de São Paulo, um prédio próprio para abrigar a Hospedaria de Imigrantes,

7 Os trabalhadores imigrantes alocados em Campinas representavam 18,5% do total para a Província de

São Paulo. As localidades listadas, além de Campinas, são: Limeira, Rio Claro, Pirassununga,

Piracicaba, Amparo e Jundiaí. Pupo (1969) identificou o pioneiro na introdução de colonos estrangeiros

em Campinas. Trata-se de Joaquim Bonifácio do Amaral, o Visconde de Indaiatuba, que estabeleceu

contratos de parceria com alemães na Fazenda Sete Quedas, em 1852. Além dele, o referido Mapa

registra em Campinas as colônias de: Antonio de Camargo Campos (Fazenda Boa Esperança), Da.

Maria Inocência de Souza (Fazenda Tapera), Floriano de Camargo Penteado (Fazenda Boa Vista),

Antonio Rodrigues Barbosa (Fazenda Sítio Novo), Luciano Teixeira Nogueira (Fazenda Laranjal),

Hercule Florence (Fazenda Soledade), Pedro José de Campos (Fazenda Dores) e Francisco de Camargo

Penteado (Fazenda São Francisco). (Holanda, p. 38-9, prefácio de Davatz, 1980).

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que foi finalizado em 18888 (Petrone, 1969). Antes disso, desde 1882, a repartição pública da

Hospedaria funcionava num prédio adaptado, localizado no bairro do Bom Retiro, prédio este

que recebeu as ondas de trabalhadores para o segundo grande surto expansivo da produção

cafeeira paulista, ocorrido em 1886-87. (Semeghini, 1991: 55).

Para Warren Dean (1977), a imigração em massa permitiu certa modernização das

cidades, uma vez que trabalhadores europeus qualificados se estabeleceram na zona urbana,

diversificando a produção e contribuindo para o crescimento do setor de serviços e obras de

infraestrutura. Era necessário atender às demandas do aumento demográfico via instalação de

pequenas indústrias, como serrarias, olarias e fábricas de calçados. No entanto, o sistema de

grandes lavouras cerceou esse desenvolvimento, já que o capital na cidade de Rio Claro advinha,

em sua maioria, de São Paulo ou de Santos. De acordo com Dean, essa situação limitou a

acumulação interna, restringindo a ascensão de uma classe média comercial e industrial que

morasse na região (Dean, 1977: 156). Acreditamos que a situação apresentada por Dean com

relação a Rio Claro não se encaixa para o caso de Campinas.

Outra importante questão diz respeito ao transporte ferroviário. O crescimento da lavoura

cafeeira no interior da Província e o receio da ingerência do governo no escoamento da produção

foram fatores de incentivo para que os fazendeiros investissem na malha ferroviária. De 1872,

ano da inauguração do trecho Jundiaí-Campinas da Cia. Paulista de Estrada de Ferro, até 1899, o

da inauguração da Estrada de Ferro Funilense (talvez a última grande obra ferroviária dentro dos

limites do município), Campinas contava com linhas férreas que cobriam várias direções9. O

trabalho de construção dessas ferrovias contou com trabalhadores assalariados. Maria Lúcia

Lamounier afirma que o caráter sazonal da agricultura, fez com que muitos trabalhadores

agrícolas partissem para o trabalho nas ferrovias, mas era difícil mantê-los nesses postos na

época do plantio e da colheita, pois, para conservarem seu pequeno lote de terra, eles relutavam

em abandonar seus laços com a agricultura de subsistência e a dependência com a fazenda.

(Lamounier, 2007). Liliana Segnini acrescenta outro fator, ao mostrar que as empreitadas nas

ferrovias contaram com grande contingente de trabalhadores nacionais recrutados principalmente

8 A Hospedaria de Imigrantes, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante, está localizada no bairro do

Brás, em São Paulo. Destinava-se a abrigar os recém–chegados nos seus primeiros dias em São Paulo.

Os imigrantes ficavam hospedados pelo tempo suficiente para acertarem os seus contratos de trabalho.

Nesse período, além da colocação nas fazendas eles utilizavam gratuitamente os seguintes serviços

disponíveis: refeições, pernoite e atendimento médico. Conforme:

http://www.memorialdoimigrante.org.br/historico/index.htm. Acessado em 28.06.2009. 9 A Cia. Mogiana inaugurou o trecho até Mogi Mirim em 1875; em 1894 inaugurou-se a linha da Cia.

Ramal Férreo Campineiro, apelidada de “cabrita”, que ligava Campinas a Souzas, Joaquim Egídio,

Cabras e Dr. Lacerda. Em 1899 inaugurou-se a Estrada de Ferro Funilense, que ligava Campinas ao

bairro do Funil, atual cidade de Cosmópolis. (Lapa, 1995, 24).

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de Minas Gerais, configurando assim um período de grande migração interna para Campinas.

(Segnini, 1982)10

.

A privilegiada localização geográfica de Campinas, entroncamento do transporte

ferroviário, transformou-a num importante ponto de confluência da maior parte da riqueza

paulista. Da maneira que as ferrovias chegaram para buscar a produção das fazendas, também

trouxeram postos de trabalho que levaram ao aumento da população e da renda, criando um

mercado urbano estimulado por crescente demanda. Essa situação favoreceu a diversificação da

economia. Os periódicos e almanaques da época mostram que, além das atividades comerciais e

financeiras ligadas ao café, se consolidavam na sociedade os segmentos intermediários do

comércio, prestação de serviços especializados, manufatura, indústria, além de estabelecimentos

escolares, hospitalares e repartições públicas. Como afirma Amaral Lapa,

... a diversificação do quadro profissional, com a formação do mercado de trabalho

livre, o advento das estradas de ferro e o surgimento da indústria, a multiplicação

das instituições, que, sintonizadas ao poder público municipal, permitem que aqueles

serviços atinjam certo grau de qualidade, vão compondo o quadro urbano que nos

interessa. (Lapa, 1995: 23).

Ainda segundo Amaral Lapa, essa modernização motivada pelas estradas de ferro alterou

profundamente o desenho urbano da cidade de Campinas, ampliando a área central, com a

consequente dilatação do seu perímetro. Além do complexo das estações, outras importantes

obras civis foram executadas. As principais ruas foram calçadas, estendidas e novas foram

criadas. Surgiram bairros, vilas, distritos e áreas distantes passaram a ser valorizadas. Já em

1886, a malha urbana contava com iluminação pública a gás, telefone e outras referências de

“modernidade” (Lapa, 1995: 17-38).

Para a análise do vínculo entre crescimento populacional e desenvolvimento econômico

em Campinas, faz-se necessário incluir comparações de algumas características demográficas

entre esta cidade e a capital da província. José Francisco Camargo (1981), por exemplo, registra

o total de 31.385 habitantes para a cidade de São Paulo em 1872, enquanto Campinas contou

com 31.397, sendo 13.685 escravos. Em 1880, Campinas tornou-se um dos municípios mais

populosos da província, com pouco mais de 36 mil habitantes11

. Por conta disso, ela foi

considerada a segunda mais importante de São Paulo, ostentando o título de “Capital Agrícola da

Província”.

10

Para nos aprofundarmos na questão da implantação da malha ferroviária em São Paulo, pretendemos

trabalhar também com as análises de Flávio Saes (1981). 11

Os totais de população do município de Campinas são representados pela soma das populações urbana

e rural. Alertaremos o leitor quando for necessário destacar uma das duas.

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8

Em 1886, assim como na cidade de São Paulo, a população de Campinas ultrapassou a

casa dos 40 mil habitantes, sendo que nesta o número de escravos beirava os 10 mil. Dados do

Arquivo Demográfico da Fundação SEADE registram um crescimento inferior da população da

cidade em relação à da capital, entre 1886-1900. Segundo o médico e memorialista campineiro

Lycurgo de Castro Santos Filho (1996), isso ocorreu devido às epidemias de febre amarela que

se abateram sobre a cidade a partir de 1889, no total de cinco até 1897, interrompendo o processo

de crescimento da cidade, além da transferência definitiva do capital de negócios para a cidade

de São Paulo12

.

Entretanto, segundo o arquiteto Ricardo Badaró (1996), o quadro caótico deixado pelas

epidemias de febre amarela conscientizou o poder público da necessidade de implantação de

políticas de saneamento, higiene e saúde, que resultaram em mudanças decisivas e permanentes

no cotidiano da cidade. Para a melhoria das condições de vida da população, investiu-se no

tratamento e distribuição de água, na canalização de córregos e drenagem dos charcos, na

construção de galerias subterrâneas para a destinação do esgoto, na coleta diária do lixo e na

adoção de normas para a construção civil (Badaró, 1996: 30-33). Uma das consequências

positivas dessa política pública ocorreu no campo do desenvolvimento e inovação da medicina,

características que permanecem até hoje13

.

A cidade retomou o caminho do crescimento e sua população total chegou a 67.694

habitantes, em 190014

. O desenvolvimento do mercado interno estimulou o crescimento das áreas

de plantio de arroz, milho, feijão e algodão, possível, segundo Ulysses Semeghini, graças a uma

política de créditos do governo para que os interessados pudessem adquirir suas propriedades

rurais e iniciar a produção (Semeghini, 1991: 65-74).

A questão da mobilidade social dos imigrantes em Rio Claro foi abordada por Warren

Dean (1977). Na parte referente ao trabalho assalariado, o autor apresenta uma descrição

minuciosa das condições de vida dos colonos nas fazendas de café (alimentação, moradia, saúde

e renda, principalmente). Essas condições, em outros casos aliadas à falta de pagamento pelo

trabalho já realizado, geraram forte descontentamento dos colonos em relação aos fazendeiros.

12

A população urbana de Campinas girava em torno de 20 mil habitantes. A febre amarela afetou

principalmente esta faixa da população. (Santos Filho e Novaes, 1996). Com relação às epidemias em

todo o Estado de São Paulo, desde 1890, pretendemos trabalhar com as análises das relações da

imigração com a promoção dos serviços públicos sanitários, contidas em Telarolli Júnior (1996). 13

A iniciativa privada passou a instalar clínicas e hospitais. A especialidade oftalmológica, por exemplo,

destacou-se devido aos surtos de tracoma que acometiam especialmente os imigrantes. Segundo

Abrahão (2000), a vocação de Campinas para o desenvolvimento do conhecimento médico também foi

fator determinante para o surgimento da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, com o curso de

medicina, em 1968.

14 Nesse período a capital registrou 224.654 habitantes (Baeninger, 1996: 34).

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Esse fator se traduziu em fugas (quebras de contratos) e greves. Como resultado desses conflitos

trabalhistas, o governo provincial procurou acomodar os interesses por meio do financiamento de

aquisições de lotes. De acordo com Dean, essa política de distribuição de terras em Rio Claro

teve a função de fixar alguns trabalhadores à terra, bem como socorrer fazendeiros em

dificuldades financeiras, decorrentes das crises dos preços do café (Dean, 1977: 175-176).

Todavia, segundo o autor, a totalização das vendas dos lotes coloniais (realmente realizada) não

representou o acesso do colono médio à propriedade. A especulação urbana aumentou os preços

dos lotes de terras e os europeus ou seus descendentes que os adquiriram eram, em sua maioria,

profissionais liberais ou comerciantes, que se aproveitaram do negócio de arrendar terras para

outras famílias de colonos trabalharem (Dean, 1977: 180). Sem uma acumulação prévia de

capital, era difícil ao colono “médio” obter dinheiro necessário para comprar a sua propriedade.

Essa é uma questão que precisa ser apreciada para Campinas, pois, segundo Warren

Dean, apenas depois da decadência do ciclo do café em Rio Claro, quase na metade do século

XX, a compra de terras pelas famílias de descendentes de imigrantes tornou-se mais fácil, visto

que a burguesia deixava a cidade para investir em outras localidades (Dean, 1977: 182). De

acordo com a sua conclusão, a imigração em massa de trabalhadores rurais acabou por preservar

as grandes propriedades, que apenas foram abandonadas pela elite cafeeira quando o produto já

não oferecia lucros tão satisfatórios quanto anteriormente. Os documentos sob a guarda do CMU

(especialmente os registros de hipotecas, de compra e venda de imóveis, e os inventários post-

mortem), contendo significativa quantidade de registros em nome de estrangeiros, sugerem

evidenciar que o ocorrido em Campinas foi diferente do observado em Rio Claro.

Um importante fator de análises demográficas que imbricam com análises econômicas é

o chamado: êxodo do campo para as cidades. Para Rosana Baeninger (1996), essa tendência

aparece em Campinas no período de 1900 a 1920, quando a população cresceu a taxas similares

à média das demais cidades do interior e chegou a 115.567 habitantes. Chiara Vangelista (1991)

observou que esse movimento se deu justamente na época em que o colono percebeu que o vagar

de uma plantação a outra não era mais uma maneira eficaz de se combater as condições

desfavoráveis de trabalho nas fazendas. A cidade tornou-se opção, pois havia a possibilidade de

emprego no pequeno comércio e nas empresas de construção. Assim, as cidades, principalmente

a capital da província, passaram a receber a maior parte da demanda de mão-de-obra proveniente

do meio rural15

. Com a ampliação da área urbana – e nesse ponto confirmando as referencias de

Amaral Lapa (1996) para Campinas – Chiara Vangelista conclui que o incremento das atividades

secundárias e terciárias tornou necessária a criação de uma agricultura suburbana, por sua vez

15

Diferentemente de qualquer outra localidade, a capital mais que dobrou a sua população no fim desse

período, chegando a 574.724 habitantes (Baeninger, 1996: 34)

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ligada ao comércio urbano. Desse modo, o colono que se afastou da grande lavoura vislumbrou

novas oportunidades de emprego e de renda, na produção agrícola suburbana. (Vangelista, 1991:

239).

O Censo Escolar do Estado de São Paulo, realizado em 1934 e citado por Rosana

Baeninger (1996), mostra a população de 1.007.955 habitantes para São Paulo, enquanto no

mesmo ano a de Campinas somou 132.819. Esses números revelam que no período de 1920 a

1934 houve acentuado aumento da população urbana em relação à rural, comportamento

demográfico que se consolidou no posterior período de industrialização. É justamente nesse

ponto que Chiara Vangelista encontrou apoio para afirmar a impossibilidade de o imigrante ter

feito “fortuna” no campo, trabalhando na lavoura, ao contrário do meio urbano, onde o pequeno

comércio ou a oficina artesanal – de seleiros, sapateiros, alfaiates, padeiros, boticários etc. –

poderiam se transformar, com a ajuda de circunstâncias favoráveis, numa pequena indústria

manufatureira. (Vangelista, 1991: 275).

Apresentado por Boris Fausto (1991) como um dos representantes da linha “otimista” que

trata da mobilidade social dos imigrantes – os proprietários rurais – na sociedade paulista durante

a economia cafeeira (1886-1934), Thomas Holloway (1984) criticou as imagens prevalecentes,

apoiadas pela elite cafeeira, primeiro, de que São Paulo contava apenas com grandes fazendas de

café e que essas propriedades pertenciam aos chamados barões do café, brasileiros natos,

herdeiros de uma longa tradição e; segundo, de que a administração governamental foi tranquila

durante a Primeira República. Mesmo percebendo a tendência para o aumento gradativo da

população urbana em detrimento da rural, o autor centrou o foco nos trabalhadores do campo

para demonstrar que, como consequência da imigração em massa e do crescimento da economia

cafeeira, alguns colonos puderam conquistar para si um lugar como proprietário de terra e

lavrador independente no Oeste paulista, no decorrer do século XX. Nesse sentido, o autor

sugere uma contraposição aos argumentos de Warren Dean (1977), que não verificou a

existência de um grupo de proprietários rurais significativos para seu estudo, e de Chiara

Vangelista, que defendeu a cidade como o único ambiente onde o imigrante pode “fazer fortuna”

para voltarem ao campo, como proprietários de terras.

Conforme Holloway, o grupo étnico formado pelos italianos caracterizou-se por pertencer

aos estratos econômicos mais baixos de seu país, por trabalhar com afinco num regime familiar e

por consumir pouco. Aliado à sorte, essas características eram pré-requisitos para progredirem

financeiramente (Holloway, 1986: 213-214). Alguns conseguiram ascender ao ponto de

possuírem grandes fazendas de café para exportação, que contavam com mão-de-obra também

formada por colonos imigrantes no padrão familiar. Mas esses foram exceção. A maioria dos

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proprietários estrangeiros teria começado juntando suas economias para adquirir um pequeno

sítio, cujas terras não despertavam interesse de investidores de base urbana. Assim, ao lado das

grandes fazendas de café passou a coexistir um crescente número de sítios pequenos e médios,

adquiridos por colonos imigrantes de primeira geração. Nessa “fazendola”, uma família podia

satisfazer suas necessidades de subsistência e produzir café, milho, frutas, por exemplo, para

venderem nos mercados locais.

Thomas Holloway apóia sua pesquisa nos censos e estatísticas agrícolas produzidos pelo

estado de São Paulo e nos vários relatórios de observadores estrangeiros que visitaram as

fazendas, a fim de conhecerem as condições dos trabalhadores. No conjunto desses relatórios

identificamos um fato recorrente que chamou nossa atenção: a dificuldade para saber quanto os

colonos economizavam, pois eles desconfiavam dos bancos, guardavam dinheiro em seus

colchões e relutavam discutir o assunto com estranhos (Holloway, 1984: 213). Essa atitude é

corroborada por entrevistas com descendentes de italianos, obtidas num dos projetos sobre

empreendedores da região de Campinas, desenvolvidos no CMU. Abaixo, o trecho de uma delas:

O nono “Bepe” nos dizia que quando ele era moço, ele se sentia como um escravo

trabalhando na fazenda de café de Joaquim Egídio. Depois que casou com a nona

Rosa ele trabalhou em vários lugares, mas como oleiro ele progrediu bem.

Conseguiu comprar o sitio Santa Rosa em Valinhos, comprou duas casas em

Campinas e depois comprou o sítio da Capela em Vinhedo. Mas, ele era muito

econômico, muito mesmo. Quando ele e o tio Guilherme montaram a primeira

barraca do Frango Assado, ele ia ao caixa, tirava o dinheiro e me pedia a chave do

barraco onde nós dormíamos e onde ele estocada garrafas, frutas, farinha etc. Ele

me dava uma piscadinha, dobrava bem o dinheiro e dizia que ira levar no cofre. Mas

não tinha cofre, não, tinha mesmo era uma lata de querosene velha, toda amassada,

que ele deixava amarrada ao pé da minha cama. A lata tinha um furinho onde ele

colocava o dinheiro. Ele dizia pra mim: quem vai querer mexer na lata velha que

fica debaixo da sua cama?16

.

Este exemplo de parcimônia com os resultados do trabalho cotidiano sugere que tais

economias foram usadas na aquisição de propriedades rurais pelos imigrantes italianos. E estes

não enfrentaram obstáculos para isso. Segundo Holloway, a emergência final de um número

importante de fazendas pertencentes a imigrantes foi uma atividade complementar que não

representou desafio direto às grandes fazendas. Na verdade, os fazendeiros nas áreas mais

16

Entrevista com Ivone Rovere e Verônica Soldeira (2002), para o estudo de caso: Tradição de família: a

história da Rede Frango Assado de Restaurantes.

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antigas encorajavam a transição para unidades menores, como uma maneira de transformar bens

imóveis, porém em declínio, em capital líquido, que poderiam reinvestir nas novas fronteiras do

café ou em outros setores econômicos. Esses outros setores – comércio, construção,

processamento de alimentos e indústrias leves – cresceram como uma função da expansão

cafeeira, como os centros urbanos, a demanda interna e os mercados locais cresceram

(Holloway, 1986: 251).

Apesar de também propor uma crítica sobre a noção de tranquilidade administrativa nos

governos da Primeira República (1889-1930) – noção que segundo ele predomina assim como a

de que havia apenas grandes fazendas em São Paulo – Thomas Holloway, contudo, não

aprofunda a questão da maneira como o faz Maurício Font (1990). Na sua análise da organização

social da economia cafeeira paulista e seus vínculos com os processos mais gerais de

industrialização e de mudança política no Brasil, Font abordou a questão da diversificação da

economia paulista ao longo da década de 1920, fator que permitiu a emergência de uma

agricultura independente de pequenos e médios produtores, seja de café e de outros produtos

(milho, feijão, arroz, algodão, amendoim), destinados ao mercado interno. Essa economia

alternativa se desenvolveu paralela, mas vinculada ao tradicional setor agroexportador. Segundo

o autor,

…Shortly after the turn of the century, economic and political changes challenged

the primacy of the traditional “fazenda” as well as planter rule itself. The

proliferation of independent direct producers in coffee and general commercial

agriculture, together with the rise of manufacturing meant alternative and

competitive uses of all basic factors of production. The market, a change state,

independent agriculture, and other forms of change played an increasingly important

role in the allocation of land, labor, and capital. Economic elites rapidly

differentiated in terms of income sources. The more they did, the more that

competition and change took their toll in the political arena. New types of politicians

and political structures claimed independence from the direct rule of planters and

related social groups. These processes conditioned the onset of industrialization and

the demise of the Old Republic in São Paulo. (Font, 1990, 269-70).

Font concluiu que os movimentos que levaram ao primeiro governo republicano e,

principalmente, à industrialização brasileira, não foram dirigidos pela tradicional oligarquia

cafeeira paulista apenas, como também receberam influencias de parte significativa de estratos

emergentes da sociedade da época, composto de proprietários rurais e comerciantes por ele

chamados de independentes.

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A diferenciação social representada pelo crescimento dessas atividades independentes foi,

para Font, mais dinâmica nas áreas de colonização mais recente. Porém, a quantidade de

registros notariais em nome de imigrantes, sob a guarda do CMU, indica que essa dinâmica

também pode ter sido significativa na região de Campinas, uma das pioneiras a acomodar a

imigração em massa para São Paulo e, portanto, das mais antigas. A Estatística Agrícola e

Zootécnica de 1905, por exemplo, registra 212 proprietários rurais estrangeiros, no total de 641

de todo o município. O argumento de Font certamente leva em conta os valores das propriedades

para medir sua importância. Nesse caso, a relação de dois terços em favor dos nacionais aumenta

para nove décimos, ou seja, a soma dos valores das propriedades dos nacionais representou 90%

do valor total de todas as 641 propriedades registradas no período. Mas, este óbvio desequilíbrio

já não sinalizava positivamente para o fortalecimento de uma classe de proprietários

estrangeiros, produzindo a apenas três ou quatro décadas no país?

No seu trabalho sobre a industrialização de São Paulo, Warren Dean (1971) define o

perfil do imigrante que adquiriu fortuna e conseguiu igualar-se ao fazendeiro em posição social:

quase todos, em suas pátrias, haviam morado em cidades, pertenciam a famílias de classe média

e possuíam instrução técnica ou certa experiência no comércio ou na manufatura. Muitos

chegaram com alguma forma de capital (economias, estoques de mercadorias). Os empresários

que iniciaram como operários ou mascates foram casos raros (Dean, 1971: 59). Apesar de

concordarmos parcialmente com essa representação, queremos, nesta pesquisa, verificar os casos

de ascensão social de imigrantes das zonas rural e urbana de Campinas para sabermos se os

mesmos confirmam o perfil oferecido por Warren Dean. Nesse sentido, tendemos a uma

aproximação com os argumentos de Maurício Font que, como vimos, abre questão a respeito da

criação de novos interesses econômicos e grupos sociais. Segundo Font, esse processo gerou

novas elites e uma coalizão alternativa formada por uma massa crescente de pequenos e médios

proprietários, comerciantes de terras, novos intermediários comerciais e políticos profissionais,

desafiando a preeminência dos grandes plantadores e comissários de café. (Font, 1990: 29).

Essas transformações sócio-econômicas provocaram uma segmentação política no estado

de São Paulo e uma forte mobilização política em que estiveram envolvidos os cafeicultores por

toda a década de 1920. As divisões aconteceram em diversos níveis e as várias associações

patronais criadas no período, bem como os órgãos de imprensa (os jornais e periódicos)

demonstram essa cisão, por representarem, cada um deles, uma facção política17

. É justamente

nesse ponto que os contornos de uma elite regional profundamente dividida, como são

17

Maurício Font trabalhou com censos e estatísticas oficiais, com os jornais O Estado de São Paulo,

Correio Paulistano, Diário Nacional e alguns periódicos especializados em economia da década de

1920.

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14

delineados por Maurício Font, não coincidem com algumas análises tradicionais que visualizam

a Primeira República como um momento histórico de clara hegemonia nacional da chamada

oligarquia cafeeira paulista (Furtado, 2006 e Prado Júnior, 1976, entre os mais citados). A

economia havia gerado novas elites e estas estavam pedindo seu quinhão.

A fragmentação das elites ocorreu devido ao surgimento de uma crescente mobilização

de novos grupos sociais que aspiravam sua participação na vida política nacional. Esse

movimento expressou níveis cada vez mais elevados de insatisfação e a criação de um

movimento sistemático de oposição aos privilégios à política agro-exportadora que, conforme

Boris Fausto (1984), resultou na Revolução de 1930, colocando fim à hegemonia “burguesa” do

café. Mas, justamente a dispersão das elites nos leva a discordar da tese de Boris Fausto, de que a

elite dos cafeicultores foi a única classe nacional capaz de reunir condições para articular formas

de ajustamento e integrar assim o país, na medida de seus interesses, durante boa parte da

Primeira República. Perguntamos: não teria sido essa mesma “burguesia” cafeeira a articuladora

do golpe contra Washington Luis e Júlio Prestes? Descontente com os novos interesses

econômicos, não teria ela articulado com as elites mineiras e gaúchas para manterem a política

agro-exportadora nacional?

Objetivos

O objetivo desse projeto é abordar o tema do trabalho familiar e da ascensão social na

economia cafeeira, no período entre 1870 e 1940, por meio do estudo de documentos e registros

sobre trajetórias de famílias de imigrantes estabelecidas na sociedade campineira. Acreditamos

que as condições sociais, econômicas e políticas daquela época formaram um ambiente favorável

em que algumas famílias puderam buscar alternativas e definir estratégias de construção da sua

vida material, principalmente da formação de patrimônio e da riqueza, como meios de inserção e

de reconhecimento social.

O período proposto neste projeto marca o início da construção de ferrovias em direção a

Campinas – o trecho Jundiaí-Campinas da Cia. Paulista foi inaugurado em 1872 – e compreende

o segundo grande surto expansivo da lavoura cafeeira paulista, ocorrido em 1886-87, que foi

apoiado por um maior incentivo governamental para a entrada de trabalhadores, colonos

estrangeiros. Como vimos anteriormente, foram anos de grande demanda por braços na lavoura,

na construção civil e na construção das ferrovias. Outra razão para a escolha desta data inicial é a

possibilidade dos primeiros imigrantes, que chegaram à região por volta de 1852, já terem alguns

deles adquirido sua propriedade agrícola ou iniciado seu negócio urbano, cerca de uma geração

depois.

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Pretendemos encerrar o nosso estudo em 1940 pelas seguintes razões: a passagem pela

grande crise econômica de 1929 e sua repercussão, que derrubou os preços do café no mercado

mundial. Também contam os censos e estatísticas demográficas disponíveis nesse período, bem

como as séries de documentos: inventários post-mortem, testamentos, registros civis, registros de

compra e venda de imóveis e de impostos pagos que o CMU guarda em seu acervo. Da mesma

forma, a data final deste projeto também está ligada à política, pois nos parece plausível que a

emergência dos novos proprietários agrícolas, comerciais e industriais na economia pode ter

ajudado a forjar a ideologia presente nas Revoluções de 1930 e na Constitucionalista de 1932,

que sofre considerável realinhamento a partir de 1939, com o início da Guerra Mundial e de um

novo momento econômico e político internacional e nacional.

Como força de trabalho agrícola e depois industrial e/ou comercial, co-produtores para

mercados locais e para exportação, como consumidores de bens e serviços, como pais de novas

gerações de brasileiros, os imigrantes forneceram uma base social importante para o crescimento

econômico de São Paulo nas décadas seguintes. Nesse sentido, trabalhamos com a hipótese de

que a diversificação econômica ocorrida em Campinas, que acompanhou a implantação das

ferrovias e da imigração em massa, do trabalho assalariado, gerou condições e oportunidades

potenciais para que imigrantes conseguissem ascender numa sociedade dominada pela economia

cafeeira, pela grande propriedade e por uma forte hierarquia social. Vamos investigar esta

hipótese e, para isso, é necessário perguntar: quais as características das famílias

empreendedoras? Quais foram suas estratégias? As políticas de crédito e incentivos

governamentais tiveram alguma importância para essas famílias? Foram criadas redes de

relações entre famílias para financiar a abertura e a continuidade desses negócios? Quais as

formas de atuação política de elementos ligados aos interesses emergentes? Como os

empreendedores foram se identificando e foram identificados com o novo status social? Como a

elite agro-exportadora se portou frente a essa realidade?

Metodologia e Fontes

Para o desenvolvimento desta pesquisa de doutorado, a base principal de fontes primárias

é constituída pelo acervo de documentos sob a guarda da Área de Arquivos Históricos do Centro

de Memória – Unicamp (CMU), bem como os periódicos, estudos de memorialistas e obras

acadêmicas sobre Campinas, existentes na Biblioteca do mesmo Centro e na Biblioteca do

Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA)18

.

18

O CCLA é uma entidade cultural particular e sem fins lucrativos fundada em 31 de outubro de 1901, na

cidade Campinas por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar na cidade uma

instituição em que se pudessem reunir para o estudo e a produção de atividades científicas e artísticas.

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Com relação ao acervo do Tribunal de Justiça de Campinas (todos os Ofícios de 1793-

1940) e do Tribunal de Justiça de Jundiaí (apenas o 1º Ofício de 1754-1905, e com lacunas),

ficharemos os inventários post-mortem, e os processos relativos a testamentárias, arrolamentos,

partilhas, prestações de contas, falências, divisões de terras, contratos de compra e venda de

imóveis, de parcerias, manutenções de posses, executivos hipotecários e outros afins, de pessoas

que apresentem nacionalidades estrangeiras19

.

A estratégia que adotamos foi a de tomar inicialmente a “Estatística Agrícola e

Zootécnica do Estado de São Paulo para 1904-1905” na parte referente a Campinas, para

identificar e selecionar os nomes dos proprietários rurais italianos, alemães, portugueses,

espanhóis e de outras nacionalidades menos representativas. Feito isto, procuramos os nomes

selecionados no banco de dados dos processos do Tribunal de Justiça de Campinas, descritos

acima. O resultado apresentou o total de 58 processos no período, sendo, destes, 26 inventários,

testamentos, arrolamentos e partilhas. Essa será uma parcela fundamental da documentação que

pretendemos investigar neste projeto.

Com relação aos imigrantes proprietários de negócios urbanos, tomamos por ora apenas

os Almanaques publicados em Campinas para os anos de 1886, 1892, 1908, 1912 e 1914.

Selecionamos os nomes de alfaiates, marceneiros, padeiros, chapeleiros, parteiras, ferreiros,

seleiros, sapateiros e açougueiros de origem estrangeira. Também, fizemos um cruzamento

desses nomes identificados nos Almanaques com os existentes no banco de dados dos processos

do Tribunal de Justiça de Campinas. O resultado apresentou o total de 90 processos no período,

sendo, destes, 33 inventários, testamentos, arrolamentos e partilhas. Essa é outra base importante

para nossa pesquisa.

Numa segunda etapa da pesquisa, tomaremos os nomes constantes nas duas relações, ou

seja, de proprietários rurais e de proprietários de negócios urbanos, e buscaremos mais dados de

referência a eles nos Livros do 1º Cartório de Registro de Imóveis e Anexos de Campinas,

especialmente os de: Registro de Geral de Hipotecas (4 livros de 1906 a 1930); Registro de

Firmas ou Razões Sociais (1 livro de 1892 a 1934), Averbações (compra e venda de imóveis,

bens de consumo duráveis, automóveis, contratos: 4 livros de 1906 a 1949), Transcrições

(transações imobiliárias, penhor da produção agrícola e demais penhores e calções: 7 livros de:

1868 a 1975) e Averbações (de compra e venda de imóveis, bens de consumo duráveis,

O pioneirismo da idéia, que é notável em termos de Brasil do século passado e a conciliação com os

ideais positivistas e republicanos, ressaltam a importância da cidade de Campinas naquele período.

Conforme: http://www.ccla.org.br/ccla/sobre, acessado em 02.08.2009. 19

Conforme tabela 1. Um interessante trabalho baseado em inventários post-mortem para a cidade de São

Paulo está registrado em Zélia C. de Mello (1981).

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automóveis, contratos de prestação de serviços, contratos administrativos de construção ou

reforma de imóveis e contratos de abertura de crédito: 4 livros de: 1906 a 1949).

Além disso, pretendemos pesquisar esses mesmos personagens nos documentos do

Registro Civil de Campinas (nascimentos, casamentos e óbitos 1872-1922), bem como nos

pagamentos de impostos sobre bens e propriedades, registrados nos livros e nos balancetes da

Coletoria de Rendas de Campinas (1831-1900).

Com base nas informações coletadas, pretendemos mapear a trajetória dos proprietários

rurais e profissionais urbanos de origem imigrante e seus descendentes, que acumularam bens e

propriedades durante o período estudado e, assim, compreender a possível importância do

trabalho familiar na inserção social daqueles que se fixaram em Campinas.

TABELA 1 – QUANTIDADE DE INVENTÁRIOS / ARROLAMENTOS NO PERÍODO

TOTAL: 3101 PROCESSOS

OBS: OS PERÍODOS DE 1889/91 E 1894/96 COMPREENDEM AS EPIDEMIAS DE FEBRE

AMARELA.

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