Upload
pedro-c-rodrigues
View
4
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
trabalho final para disciplina Politica e Globalização
Citation preview
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CINCIAS E LETRAS
CAMPUS DE ARARAQUARA
CRISE E GLOBALIZAO: POLTICA E GOVERNO NO
SCULO XXI
PEDRO CAIQUE RODRIGUES
NATHLIA PINA
Trabalho apresentado para a disciplina Poltica e
Governo num Contexto de Globalizao que
ocorre na Universidade Estadual Paulista,
ministrada pelo professor Milton Lahuerta.
ARARAQUARA
2015
INTRODUO
Ao final da Guerra Fria declarou-se vitria aos Estados Unidos e ao mundo capitalista,
e os desejos de um outro modo de organizao da vida parece cada vez mais distante.
Acompanhada da descrena numa sociedade igualitria, vem a decadncia do welfare-state
como outro marco desse tempo de crise. A poltica entra numa fase de descrdito, ningum
mais acredita que algo alm de corrupo e busca de poder possa se encontrar neste meio.
A prpria sociedade se encontra desordenada, as pessoas negam-se a participar, o
mundo desigual e domado por incertezas. Como na celebre frase: tudo que era slido se
desmancha no ar, tudo o que era sagrado profanado (MARX; ENGELS, 2008, p. 14), que,
porm, radicalizado na contemporaneidade, onde a economia se separou de vez das
regulamentaes vindas do mundo da poltica que Keynes presava. Pensando nos conceitos
enquanto uma luta ideolgica, o conceito de liberdade enquanto uma vida sem limites venceu,
a liberdade positiva, de autodiscernimento foi deixada para escanteio.
Ponderaes a parte, a grande questo que permanece a de como lidar com essa crise
que est posta, como lidar com os problemas do cotidiano, da vida em sociedade em meio ao
imediatismo a urgncia, a fugacidade imposta pela demarcao de um novo tempo e de um
novo espao no mundo moderno. So essas indagaes que nos propomos no a resolver,
mas, a refletir como forma de encontrar ao menos uma pequena orientao diante dos
fenmenos contemporneos que nos cercam.
CRISE
O sculo XX foi aquele que aps duras crises e duas guerras foi capaz de nos
apresentar a unio entre a democracia de massa e o capitalismo com suas liberdades
burguesas, impensvel para os pensadores do sculo XIX como Marx, Tocqueville e Stuart
Mill. A partir dos anos 1940 houve a emergncia dos partidos de massa e a competio
partidria e seu encontro com o welfare state keynesiano, que contribui para a cristalizao do
pacto entre trabalho e capital (OFFE, 1984).
Contudo, logo nos anos 1970 os partidos comearam a entrar em crise, novos
movimentos sociais surgiram. Esse modo de equilibrar os interesses de classe se deu por
insuficiente, foi difcil manter esse acordo entre poltica e economia, e a lgica da segunda se
fez vencedora. O problema que se coloca que ao mesmo tempo em que a democracia
partidria se consolida h uma desradicalizao dos partidos, que para se tornarem
competitivos abrem mo de princpios e lutas histricas, em decorrncia desse fato ocorre um
declnio da identificao entre aqueles e as pessoas que partilhavam de seus ideais. At
mesmo a luta de classes se mostrou durante todo esse processo, e ainda mais com a
problemtica de reconhecimento e do multiculturalismo, algo reducionista perto da
complexidade da sociedade contempornea.
J no sculo XXI, podemos sentir de maneira arrebatadora essa crise na poltica. H
um mal estar coletivo, uma consequncia da fora avassaladora da economia, e perda do
sentido de conceitos como Estado, partido, etc. havendo, tambm, perca de solidariedade,
deixando-nos a sensao de impotncia. Nas palavras de Zygmunt Bauman, tendemos a crer
com a mesma convico que pouco podemos mudar (BAUMAN, 2000, p. 9).
A ideia de crise da poltica, no fundo, sugere que a crise chegou ao mago da vida
social, dificultando terrivelmente o acmulo de energia para que se explorem os
elementos virtuosos que empregam daquilo que se desagrega e se desorganiza. A crise
da poltica o embaraamento das condies para que se supere o mal-estar coletivo e
se encontre um novo rumo. (...) (NOGUEIRA, 2001, p. 17).
o que cidado pode fazer quando simplesmente se encontra reduzido a consumidor,
e como tal que age perante a poltica e outras relaes sociais. O fim da Unio Sovitica
marcou o esgotamento das energias utpicas, somos mais reflexivos, mas nada fazemos, falta
ao, falta poltica. A vitria material do neoliberalismo colocou cada um para cuidar apenas
da sua prpria vida, a prpria civilizao no mais se questiona (BAUMAN, 2000, p. 14).
Diante disso, a poltica, desacreditada, encontra-se perante uma poltica de tcnicos,
distante da populao. difcil quando exige-se muitas vezes respostas rpidas, seguindo o
tempo da economia, afinal o mercado est engendrado em todas as nossas relaes sociais,
dita o tempo, que o do relgio, e a prpria se move no tempo do dilogo, numa disputa de
paixes e ideias que mais lento. Sua capacidade de agir, aos nossos olhos principalmente,
mas tambm na sua prpria prtica, no consegue responder aos anseios da sociedade. Sobra a
incerteza, como o nico estilo da vida disponvel (ibidem, p.27).
Porm no podemos esquecer que a democracia implica participao da nossa, parte,
ser o eterno vigilante, a participao algo que supe igualdade e implica obrigao, dois
elementos sem os quais a democracia um mito (CAMPS, 1996, p. 104). Crise na poltica
significa que h tambm uma crise na sociedade. Podemos ento nos colocar a questo:
somo cidados virtuosos?. Dificilmente a resposta ser um sim, afinal apenas vivemos as
incertezas de nossas angstias individuais. Chegou ao limite a ideologia iluminista de que se
tem o controle da natureza atravs do conhecimento, e no final das contas no controlamos
nossas vidas, muito menos a natureza.
GLOBALIZAO E CIDADANIA
Como j pontuado ao decorrer do trabalho, uma das grandes discusses que permeia a
crise da poltica o domnio do mercado sobre o Estado e que tem como consequncia o
imperialismo de uma lgica mercadolgica que restringe e o cidado e ressignifica valores
transformando as pessoas e as instituies em meramente peas de um sistema que brada
diariamente sua vitria.
No obstante, observando que tal problema remonta desde o sculo XIX, no sculo
XX e XXI que ele obtm ainda mais fora com empresas rompendo fronteiras, e se utilizando
de regies com baixo desenvolvimento econmico com vistas a conseguir mo de obra barata
e iseno fiscal, impondo suas tcnicas e regulamentaes, se mostrando indispensvel ao
novo espao que ocupa, e, dessa forma, alterando as relaes sociais, culturais, morais e
econmicas dentro da comunidade em que se estabelece. Assim, esta, como parte de uma teia
globalizante, passa a comandar, alm de seu territrio, os demais espaos, interferindo em
todos os mbitos da vida pblica e privada. Segundo Milton Santos,
A poltica agora feita no mercado. S que esse marcado global no existe como ator,
mas como uma ideologia, um smbolo. Os atores so as empresas globais, que no tem
preocupaes ticas, nem finalsticas. Dir-se- que, no mundo contemporneo, ou se
cada vez mais individualista, ou se desaparece. Ento, a prpria lgica de
sobrevivncia da empresa global sugere que funcione sem nenhum altrusmo. Mas, se
o Estado no pode ser solidrio e a empresa no pode ser altrusta, a sociedade como
um todo no tem que a valha. (...) Essa poltica das empresas equivale decretao de morte da poltica (SANTOS, 2009, p.67).
nessa circunstncia que a cidadania se v cada vez mais atrofiada, o que significa
dizer que h uma retratao dos direitos civis, polticos e sociais, sobretudo dos dois ltimos,
e a ideia do cidado como consumidor, como j posta, passa a galgar ainda mais espao.
Nota-se isto at mesmo com relao s anlises de governos, uma vez que se avalia sua
qualidade pela politica econmica, ou seja, pelo poder aquisitivo do sujeito, se ele est
comprando mais, ou, menos. Avalia-se o progresso pela lgica do consumo. Esse
reducionismo tambm est empregado na disseminao de uma viso de mundo uniforme,
universalista, o qual impe um modelo nico a ser seguido, fundando uma nova sociedade
cosmopolita e multiculturalista.
Quando o sistema poltico formado pelos governos e pelas empresas utiliza os
sistemas tcnicos contemporneos e seu imaginrio para produzir a atual globalizao,
aponta-nos para formas de relaes econmicas implacveis, que no aceitam
discusso e exigem obedincia imediata, sem a qual os atores so expulsos da cena ou
permanecem escravos de uma lgica indispensvel ao funcionamento do sistema
como um todo.
uma forma de totalitarismo muito forte e insidiosa, porque se baseia em noes que
parecem centrais prpria ideia da democracia-liberdade de opinio, de imprensa,
tolerncia-, utilizadas exatamente para suprimir a possibilidade de conhecimento do
que o mundo, e do que so os pases e os lugares (Ibidem, p.45).
Em decorrncia desse fato, atenta-se para o que Benhabib destaca em seu artigo como
o surgimento de um regime internacional de direitos e a disseminao de normas
cosmopolitanas (BENHABIB, 2012, p.153). A noo de cidado como membro de uma
comunidade em que exerce seus deveres e tem seus direitos garantidos dentro desta
reconfigurada, e passa-se a pensar num cidado global. (...) Estamos nos afastando da
cidadania como filiao nacional cada vez mais em direo cidadania de residncia, que
fortalece os mltiplos laos localidade, regio, e s instituies transnacionais (Ibidem,
p.157).
Todavia, preciso avaliar quem so os sujeitos que tem esses direitos garantidos, essa
liberdade de transitarem pelo mundo, visto que, as normas para refugiados e pessoas advindas
de regies vistas como uma ameaa civilizao ocidental esto ainda mais rgidas,
provocando, pois, a criminalizao de movimentos migratrios e, at mesmo, casos de
xenofobia. Com isso, constata-se tambm um enfraquecimento da soberania popular e,
tambm, do Estado- Nao, ou melhor, o enfraquecimento de frgeis instituies em regies
como frica, Amrica Central e Latina, e Sul da sia.
(...) Nestes casos, alm de desestabilizarem as economias frgeis, as foras do
mercado global quebram os laos entre o vasto exrcito dos pobres e oprimidos e suas
elites locais, que agora estabelecem uma rede de contratos com suas contrapartes
globais, deste modo deixando as massas merc de maquilladoras, paramilitares,
traficantes e gangues criminosas (Ibidem, p.167-168).
Na verdade, esse problema implica pensar em uma nova forma de soberania popular j
que as fronteiras da poltica se deslocaram para alm do Estado- Nao, necessrio
reconhecer essas mudanas, mas com certa cautela, dado que retornar as fronteiras fixas e ao
estabelecimento de Estados independentes, controladores tambm no seria o mais adequado.
Tem-se que reconhecer esse novo processo como uma nova estrutura institucional onde
nascem novas modalidades de cidadania e, portanto, possibilitando novas configuraes de
soberania popular.
GOVERNO
Tocqueville j informava o mundo que a democratizao era um processo inexorvel.
A questo era como essa democratizao social se tornaria uma democratizao poltica,
afinal no amor pela igualdade, h o lado obscuro da tirania se no a conectarmos com a
liberdade, um mnimo de igualdade poderia levar as pessoas a se acomodarem em viver
apenas a sua vida privada. E uma maneira clssica nos Estados Unidos para evitar essa
distncia entre sociedade e governo, era a associao. Ou seja, necessria uma organizao
da sociedade para que a poltica se faa.
Se a poltica lida com singulares desejos e intenes, a sua disputa tem que se fazer de
maneira organizada para que no leve a sociedade a sua prpria destruio. Podemos,
portanto, entender a poltica como disputa construtiva, nica maneira de convivncia entre
os homens. E o governo intrnseco a esse modo de vida. No existe poltica se no h uma
forma de governo, seja ela qual for: repblica, monarquia, etc. Seja ele feito pela sociedade
como um todo ou por pessoas restritas.
Como na Grcia Antiga, governar pensar o coletivo, a organizao da vida. Porm,
como Constant nos apresenta a liberdade dos modernos, qualquer tipo de organizao que
aparentemente atrapalhe as liberdades individuais parece sufocante, tirnico. E de certo modo
problemtico quando a poltica s se realiza pelas mos dos tcnicos, algo que vem de
cima para baixo, realmente imposto. No podemos pensar na realizao de uma repblica
platnica com seu rei filsofo, mas nos cabe refletir para uma nova maneira de fazer a poltica
e de a sociedade estar no governo. Combinar participao e governo, realmente um problema.
O bom governo se faz quando vai alm das boas leis, quando existe entre as leis e a
sociedade uma interao. O bom governo atravs dessa interao busca o bem comum. Se
ficarmos apenas na polarizao liberdade e igualdade muito ser reduzido de um dilogo, e a
prpria quantidade de pessoas no poder tambm no significa melhor qualidade, preciso
preparao para a cidadania. Seria elitismo demais proibir a massa de entrar na poltica, afinal
com o domnio dos tcnicos, vemos que a poltica que falta.
O governo para ser bom tem que se separar do ideal de juventude, do rpido, de um
narcisismo que entende apenas as liberdades negativas. O eu no autnomo, no se coloca
limites. O bom governo carente de dilogo e tica. Uma perspectiva cosmopolita o que nos
desafia, uma poltica de tolerncia, dilogo, de convivncia com o outro. A massa e o governo
no podem ficar distanciados, o dinamismo se faz necessrio na construo dialtica. E mais
do que fora, atravs da construo de consenso que boas solues so buscadas.
O problema da globalizao vem quando as instituies polticas tradicionais se
mostram conceitos zumbis, ou seja, ficam engessadas quando as demandas sociais vm com
fora e a economia age com toda a sua flexibilidade e velocidade, criando e sendo
devassadora. A vitria material do neoliberalismo traz problemas complexos para poltica,
ainda mais quando as demandas no podem ser atendidas pelos Estados. A poltica s poder
agir atravs de uma reinveno das instituies, inventar novas instituies, criar uma lgica
que no a atual e entrar em sincronia com a sociedade.
Um dos temas que vm na discusso o e-government, aproveitando a potncia da
informtica e da Internet, dessa conexo que vai alm do Estado-nao e ao mesmo tempo o
conecta como um todo, pode ser de grande ajuda na construo de uma nova poltica. A
famosa Rede sustentabilidade, um movimento em processo de se tornar partido, que
parece levar consigo os ideais de uma conexo entre novas questes e uma nova maneira de
relacionar as pessoas na poltica, mas ainda com o risco de, se registrada, se tornar apenas
mais um partido, e j nascer fadada ao fracasso. No sabemos ao certo como fazer, mas as
novas tecnologias vo se tornando indispensveis. Hoje em dia, sem elas, dificilmente os
governos conseguiro cumprir adequadamente um papel. O e-government uma exigncia do
mundo real (NOGUEIRA, 2001, p. 112).
PROJEO
Diante de toda a discusso apresentada at aqui, a discusso sobre uma crise na
politica est mais do que clara, e alguns pontos de como tentar resolv-la tambm j foram
assinalados. A participao do cidado, a educao para esta e para um debate com qualidade
j foram mais que evidenciados, mas a grande dvida de como agir ainda permanece.
Victoria Camps, em um captulo de seu livro intitulado Paradoxos do Individualismo,
ressaltar, como tentamos fazer ao longo do trabalho, os problemas acarretados pelo excesso
de liberalismo econmico nesse campo. preciso participar! Mas, como diante da
desigualdade? Como participar sem nos reconhecermos diante de tal causa, sem nos
identificarmos com os problemas colocados?
(...) Se a desigualdade explica a falta de participao, reclamar maior participao
equivaler a reclamar maior igualdade. Igualdade e participao so, pois, duas reivindicaes
paralelas (CAMPS, 1996.p.105). Contudo, igualdade tambm implica em obrigao, e a
questo torna a martelar, como nos sentir obrigados se no h identificao com a causa? O
problema que se coloca, portanto, de representao. essa a grande questo atual, a
representatividade. As pessoas no se identificam, com a poltica, com os partidos, com seus
representantes e com a classe elitista cujos interesses, em sua maioria, so defendidos por
estes.
(...) O cidado no deixa de participar apenas por comodidade, mas porque no se
sente escutado nem se lhe d a oportunidade de falar, nem reconhece os interesses em
debate como seus. E se a poltica no merece o desprezo que recebe- como repetem
sem cessar os polticos- ser necessrio estudar, para as poder corrigir, as razes desse
desprezo, as razes desse afastamento ou alienao que talvez seja a mais grave do
nosso tempo (Ibidem, p.115).
A correo de que Camps fala se dar atravs da compreenso de que antes da
democratizao na vida poltica preciso entender que esta tem que ocorrer em outros
espaos, como na famlia, na escola, na universidade, nos partidos, nas instituies, no
trabalho. O que se pretende dizer que o cidado deve se ver como sujeito ativo em todos os
campos da sua vida, se ver como parte de um coletivo onde todos podem e devem participar.
E esta participao pode se iniciar com a colaborao em associaes e organizaes que
tenham objetivos pblicos, afinal quando falamos em crise de representatividade no estamos
falando em deixar que o povo atue diretamente na poltica, mas que possa contribuir
criticamente e com aes coletivas que visem um objetivo comum dentro de sua sociedade.
Para complementar o discurso sobre participao, apresentamos tambm o debate
entre o ativismo e a democracia deliberativa como forma de engajamento poltico. O primeiro
tem como proposta provocaes por meio de manifestaes de ruas, ocupaes, desenhos,
musicas, entre outras formas de expresso. J a teoria da democracia deliberativa prope a
realizao de debates, onde sejam levantados posicionamentos, criticas e ideias que possam
ser levadas s instituies, fruns de discusses, e at mesmo representantes no governo.
No obstante, uma ao no exclui a outra, uma vez que ambas se mostram importantes para
o desenvolvimento da prtica democrtica/ cidad. Indivduos e organizaes que procuram
combater a injustia e promover a justia precisam de ambos para debater com os outros e
convenc-los de que h injustias que devem ser corrigidas e a protestar e participar de ao
direta (YOUNG, 2014, p.210).
Na realidade, a aliana entre as duas j possvel de ser vista entre alguns grupos de
ativistas que se organizam e promovem o debate poltico, levantam questionamentos e, antes
de realizarem alguma ao, propem modos de interveno para que os assuntos em pauta
sejam alcanados. bem verdade que esses grupos ainda no existem como instituio
poltica (como a democracia deliberativa prope), mas h que considerar que alguns membros
destes muitas vezes esto dentro de conselhos que, juntamente ao legislativo, discutem e
deliberam leis. E que muitas vezes ainda, h representantes em exerccio de cargos polticos
que buscam defender pautas ligadas a esses grupos.
RESGATE DA POLTICA
A poltica como algo que d ordem e senso aos homens na vida coletiva, responsvel
tambm pelo seu esclarecimento, sua autonomia. No deixaremos nossa individualidade de
lado, mas preciso conexo entre ela e a vida coletiva. Ou seja, um encontro do espao
pblico com o espao privado, a gora.
Contudo, o que ocorre uma administrao tcnica da poltica. Sendo que a prpria
mais do que isso, ela tambm envolve paixes, desejos, sentimentos. Dizer que a poltica
ruim, que atrapalha a vida individual, no responde aos nossos anseios. Marco Aurlio
Nogueira nos apresenta trs maneiras de fazer poltica, a poltica dos polticos, que seria com
pouca poltica, trabalhando apenas com o possvel; h a poltica dos tcnicos, basicamente
sem poltica, ou at mais, contra a poltica, onde se localiza apenas aparatos tcnicos, de
administrao e de gesto, viso que apenas atravs desses aparatos se faz a poltica, assim,
no abre espao para nenhum tipo de participao, de uma democracia (NOGUEIRA, 2001).
O terceiro tipo aquele que temos que ir em busca, a poltica dos cidados, o que
seria a verdadeira poltica. Ir alm do medo, da suspeita e do dio, sair dessa comunidade
de solitrios (BAUMAN, 2000, p. 22). O caminho para uma poltica desse tipo necessita de
reflexo crtica, afinal isso que a democracia supe, no a perfeio da civitas dei que est
em questo, mas uma busca incessante para unir liberdade e igualdade, uma sociedade justa.
Para um resgate real da poltica, onde no fiquemos fadados a pensar que assim e
sempre ser, urgente condies que d espao para a unio de segurana e autonomia, s
assim poder haver indivduos independentes. A entra a questo colocada por Bauman da
gora, espao prprio para a luta, o conflito, que se d atravs de dilogo, compromisso
(ibidem).
claro que os prprios polticos so mais que responsveis por essa distncia entre a
sociedade-civil e a poltica do Estado. Muitos se aproveitam da situao para obter ganhos
pessoais, envolvendo alm de recursos financeiros, prestgio e honra, por meio de uma
situao de insegurana e incerteza, se promovendo atravs da tragdia da ps-
modernidade. No incomum em campanhas polticas prometerem aparatos de ltima
gerao como cmeras de segurana entre outros equipamentos para acabar com o crime, um
dos exemplos emblemticos na campanha de 2014 para governador em So Paulo, a
proposta do Detecta, um sistema de monitoramento criminal, do candidato e reeleito
governador, Geraldo Alckmin, e sistemas parecidos foram propostos por seus adversrios
principais, Paulo Skaf e Alexandre Padilha.
ento o momento de aqueles que esto srios na poltica enquanto busca para o bem
comum, trabalharem para melhorar a imagem de distncia, desprezo e inutilidade da poltica
deixada por esses. A massa bate na porta da participao, cabe atend-los. A poltica tem que
ser pensada dentro da sociedade, para a sociedade e principalmente, pela sociedade, a questo
a democracia de massas. Nesse tema, Stuart Mill tinha razo em alertar para a necessidade
da educao dos cidados. E como analisa T.H. Marshall, a educao est afinadssima com a
cidadania.
(...) A educao das crianas est diretamente relacionada com a cidadania, e quando o
Estado garante que todas as crianas sero educadas, este tem em mente, sem sombra
de dvida, as exigncias e a natureza da cidadania. Est tentando estimular o
desenvolvimento de cidados em formao. O direito educao um direito social
de cidadania genuno porque o objetivo da educao durante a infncia moldar o
adulto em perspectiva. (...) (MARSHALL, 1967, p. 73)
Afinal sem preparao no se est pronto para a poltica, ainda mais em algo que
envolve conflito e dilogo, e mais o espao da participao democrtica exige a aceitao da
perspectiva de que todos os que nele adentram so co-responsveis pelas decises e pela
discusso dos problemas comuns (NOGUEIRA, 2001, p. 61).
CONCLUSO
Obviamente, a resoluo dos problemas levantados at aqui no foram alcanadas,
mas tambm no tinha como pretenso s-las. Como dito no incio do trabalho, nosso
principal objetivo se restringiria a uma reflexo do tema proposto, isto , a atual crise na
poltica, seus motivos e possveis respostas. Por se tratar de um assunto que tem como
principio a anlise de um dos principais aspectos, qui o ncleo vital, da sociedade e
levando-se em considerao a constante instabilidade desta, no seria possvel chegarmos a
uma soluo imediata. No entanto, esperamos que ao menos tenhamos nos aproximado um
pouquinho do nosso escopo, e proporcionado quilo que essencial a boa poltica, a
discusso.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Em busca da poltica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
BENHABIB, Seyla. O declnio da soberania ou a emergncia de normas cosmopolitnas?
Repensando a cidadania em tempos volteis In: Civitas- Revista de Cincias Sociais, V.12,
n1, 2012.
CAMPS, Victoria. Os limites da participao. In: __________. Paradoxos do
individualismo. Lisboa: Relgio Dgua Editores, 1996.
MARSHALL, Thomas Humphrey. Cidadania e classe social. In: _________. Cidadania,
classe social e status. Rio de Janeiro, 1967.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. So Paulo: Expresso
Popular, 2008.
NOGUEIRA, Marco Aurlio. Em defesa da poltica. So Paulo: Editora SENAC So Paulo,
2001.
SANTOS, Milton. Uma globalizao perversa. Por uma outra globalizao. Do pensamento
nico conscincia universal. Rio de Janeiro: Record, 2009.
OFFE, Claus. A democracia partidria competitiva e o welfare state keynesiano: fatores de
estabilidade e desorganizao. In: _________. Problemas estruturais do estado capitalista.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
YOUNG, Iris Marion. Desafios ativistas democracia deliberativa In: Revista Brasileira de
Cincia Poltica, n13. Braslia, janeiro - abril de 2014, p. 187-212.