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0 Rodrigo Lima Franco TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II PRODUÇÃO AUDIOVISUAL INDEPENDENTE NA WEB: UM ESTUDO COMPARATIVO DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA” Santa Maria, RS. 2015

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II - Publicidade …Trabalho Final de Graduação II (TFG II) apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, Área de Ciências Sociais, do Centro

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Rodrigo Lima Franco

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II

PRODUÇÃO AUDIOVISUAL INDEPENDENTE NA WEB: UM ESTUDO

COMPARATIVO DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA”

Santa Maria, RS.

2015

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Rodrigo Lima Franco

PRODUÇÃO AUDIOVISUAL INDEPENDENTE NA WEB: UM ESTUDO

COMPARATIVO DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA”

Trabalho Final de Graduação II apresentado ao

Curso de Publicidade e Propaganda, Área de

Ciências Sociais, do Centro Universitário

Franciscano, como pré-requisito para a

conclusão do curso.

Orientadora: Profa. Dra. Graziela Frainer Knoll

Santa Maria, RS

2015

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Rodrigo Lima Franco

PRODUÇÃO AUDIOVISUAL INDEPENDENTE NA WEB: UM ESTUDO

COMPARATIVO DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA”

Trabalho Final de Graduação II (TFG II) apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda,

Área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como pré-requisito para

obtenção de grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda.

____________________________________

Profa. Dra. Graziela Frainer Knoll – Orientadora (UNIFRA)

____________________________________

Profa. Dra. Michele Kapp (UNIFRA)

____________________________________

Gabriel Souza (UFSM)

Aprovado em 24 de novembro de 2015.

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RESUMO

PRODUÇÃO AUDIOVISUAL INDEPENDENTE NA WEB: UM ESTUDO

COMPARATIVO DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA”

A presente pesquisa teve por objetivo realizar um estudo comparativo de dois canais

independentes veiculados na Web: “Porta dos Fundos” e “Nostalgia”. Como objetivos

específicos, buscou-se: descrever ambos os canais quanto a aspectos como características dos

programas, inserção publicitária, mídias e plataformas; comparar os dados de ambos,

identificando diferenças e/ou semelhanças entre eles; compreender a produção audiovisual

independente na Web como fenômeno cultural contemporâneo. Quanto à metodologia, a

pesquisa foi qualitativa e utilizou os métodos descritivo e comparativo. Também foi feita uma

pesquisa exploratória, com a abordagem de conceitos como cultura da Internet, Web 2.0,

segunda tela, produção audiovisual, Web-vídeos e remix, dentre outros. Como conclusões, a

pesquisa demonstrou que existem diferentes formatos de produções audiovisuais

independentes direcionados para o entretenimento que, como recurso principal, utilizam o

humor e a ironia, buscando estabelecer a identificação do público com o conteúdo

disponibilizado. Também se constatou a interatividade proporcionada pelas mídias sociais,

que passam a atuar como segunda tela, enquanto usuários assistem a Web-vídeos nas

plataformas multimídia e, simultaneamente, os comentam e compartilham em outras redes.

Palavras-chave: produção audiovisual independente; canais online; Porta dos Fundos;

Nostalgia; análise descritiva.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.....................................................................................................................................14

Figura 2.....................................................................................................................................15

Figura 3.....................................................................................................................................16

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.....................................................................................................................................33

Tabela 2.....................................................................................................................................38

Tabela 3.....................................................................................................................................39

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7

2 O CONSUMO DO AUDIOVISUAL NA INTERNET ........................................................ 9

2.1 A cultura da Internet .......................................................................................................... 9 2.2 O audiovisual na Internet ................................................................................................. 11 2.3 Web 2.0, plataformas e segunda tela ............................................................................... 12 2.4 O consumo da Internet no Brasil ..................................................................................... 13

3 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ....................................................................................... 18

3.1 Formatos audiovisuais na web ......................................................................................... 18 3.1.1 Conceitos de Web-vídeo e Web-série .............................................................................. 18 3.1.2 O remix no audiovisual.................................................................................................... 18

3.2 A criação audiovisual ....................................................................................................... 20 3.2.1 O roteiro ........................................................................................................................... 20

3.2.2 Etapas e equipe de produção ........................................................................................... 22 3.2.3 Criação colaborativa ........................................................................................................ 24

4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 26

4.1 Abordagem e método da pesquisa ................................................................................... 26 4.2 Instrumento de coleta e categorias de análise ................................................................ 27

4.3 Os canais analisados ......................................................................................................... 28 4.3.1 Canal “Porta dos Fundos”................................................................................................ 28

4.3.2 Canal Nostalgia ............................................................................................................... 29

5 ANÁLISE DESCRITIVA DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E “NOSTALGIA”

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 50

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1 INTRODUÇÃO

O amplo e crescente consumo de audiovisual na Internet baseia-se na coletividade de

usuários que compartilham suas experiências. Aliado a isso, a rede possibilita uma liberdade

extremamente grande para a divulgação de qualquer tipo de conteúdo, o que tem resultado

inclusive na adaptação de filmes publicitários especialmente criados para divulgação online.

Considerando esse panorama, a delimitação do tema deste trabalho final de graduação

é a produção audiovisual independente na Web, especificamente a partir das produções dos

canais online “Portas dos Fundos” e “Nostalgia”. Portanto, o objetivo principal é realizar um

estudo comparativo de dois canais independentes1. Como objetivos específicos, pretende-se

descrever ambos os canais quanto a aspectos como características dos programas, mídias e

plataformas; comparar os dados de ambos os canais, identificando diferenças e/ou

semelhanças entre eles; compreender a produção audiovisual independente na Web como

fenômeno cultural contemporâneo.

Compreender esses aspectos é importante considerando o crescimento da Internet no

Brasil, especialmente dos acessos por celular, das múltiplas possibilidades de escolha de

conteúdos, o que “facilita o surgimento de uma maior heterogeneidade no âmbito das práticas

e preferências sociais, se comparadas com aquelas oferecidas pelos meios de comunicação

tradicionais” (SANTINI; CALVI, 2013, p. 175). Assim, o fato de os audiovisuais

independentes oferecerem possibilidades menos rígidas, tanto de conteúdos, quanto de

formatos, enquanto mídias tradicionais, como a TV, permanecem oferecendo programas

audiovisuais restritivos, tem ocasionado um expressivo crescimento no número de

visualizações dos Web-vídeos.

A relevância dessa pesquisa também é justificada pelo fato de o pesquisador ter certa

experiência em relação à produção de conteúdo independente na Web. Portanto, a escolha do

tema foi motivada pela percepção do pesquisador em relação a conteúdos independentes.

Nota-se, por exemplo, que algumas produções audiovisuais independentes não possuem

1 Após a disciplina de TFGI, houve uma troca de professor orientador e, com isso, um redirecionamento da

pesquisa, com outra delimitação de tema e o estabelecimento de novos objetivos. Sendo assim, este trabalho foi

iniciado no mês de Agosto de 2015, com o propósito original de se fazerem entrevistas com os produtores dos

canais “Porta dos Fundos” e “Nostalgia”. Após várias tentativas de contato com os canais, sem a obtenção de

resposta ou do aceite para que participassem voluntariamente do estudo, optou–se pela realização de uma

caracterização descritiva dos canais a partir dos Web-vídeos, ou seja, sem a participação da equipe técnica.

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qualquer verba ou patrocínio e, ainda assim, podem apresentar maior divulgação espontânea e

feedback dos usuários do que produções profissionais produzidas de forma tradicional e

apenas disponibilizadas na Web, ou seja, essa nova forma de consumo do audiovisual na Web

poderá se mostrar mais eficaz para filmes do que produções tradicionais feitas para a TV, por

exemplo.

Além disso, por fazer uma caracterização de dois canais comparativamente, esta

pesquisa contribuirá com dados para futuras pesquisas acadêmicas sobre o audiovisual

independente, que possam abordar mais especificamente a publicidade ou as novas formas de

inserção publicitária que a rede oferece, à medida que um novo produto audiovisual pode

ocasionar uma nova mídia para veiculação de mensagens.

Os canais selecionados para análise são o canal “Porta dos Fundos” e “Nostalgia”.

Como critérios para a escolha optou-se por serem canais que produzem Web-vídeos com

formatos diferentes um do outro e por terem alto número de visualizações na plataforma

digital Youtube. O canal “Porta dos Fundos”, fundado em março de 2012, apresenta vídeos

em forma de narrativas de situações do cotidiano. O canal “Nostalgia”, fundado em 2011,

apresenta vídeos em forma de documentários sobre temas que evocam a nostalgia do

espectador. Ambos os canais têm em comum o tom humorístico em suas produções. O humor

acontece quando o locutor pretende produzir determinado sentido e o sentido compreendido é

outro, ou seja, o humor é uma quebra de expectativa na interação “através da quebra da

convencionalidade” (TAGNIN, 2005, p. 247). Devido a essa quebra de expectativa, é

provocado o riso.

Em relação à estrutura do trabalho, no primeiro capítulo, são abordados conceitos

relativos à Internet na cultura contemporânea em geral, o contexto brasileiro do consumo de

Internet e o comportamento dos usuários da Web. O segundo capítulo trata da produção

audiovisual em suas diferentes etapas, iniciando no roteiro e finalizando no conceito de remix.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia, com a explicação dos métodos utilizados, do

instrumento de coletas de dados, das categorias e dos objetos de análise. Por fim, o último

capítulo apresenta os dados da análise descritiva e, após, as conclusões do estudo.

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2 O CONSUMO DO AUDIOVISUAL NA INTERNET

2.1 A cultura da Internet

Na Internet, as práticas de circulação e criação de material audiovisual não possuem

restrições para o seu uso, a sua circulação ou até mesmo o seu limite em expor uma ação, uma

piada ou um conceito, pois não estão completamente determinadas por forças externas, como

ocorre nas mídias tradicionais. Segundo explica Castells (2003, p. 34), os produtores da

Internet, que normalmente foram os primeiros usuários, são os que moldam a cultura da rede

hoje. No entanto, no estágio atual de difusão global, pode-se distinguir entre

produtores/usuários e produtores/consumidores, ou seja, todos são produtores, ainda que

possam ocupar posições diferentes na cadeia de consumo. Os produtores/usuários são os

usuários que produzem conteúdo ou o introduzem no sistema tecnológico, enquanto os

produtores/consumidores são os que não atuam diretamente com a produção dos conteúdos,

não interagem diretamente com o desenvolvimento da rede, mas cuja participação é

fundamental para a evolução do sistema.

Castells (2003, p. 34) também considera que a cultura da Internet só existe por causa

dos criadores da Internet. Assim, os padrões de comportamento que se repetem pela cultura

digital e geram costumes, são repetidos pelas instituições ou empresas que se utilizam da

cultura da Internet para sua divulgação online. A cultura é uma construção coletiva que acaba

transcendendo o individualismo, ao mesmo tempo em que influencia as práticas dos usuários

no seu ambiente, como nesse caso os produtores/usuários, que passam a produzir conteúdos

ou a disponibilizá-los nas plataformas, afetando ou interagindo com outros usuários.

Castells (2003, p. 28) argumenta que a principal força da Internet está ligada a sua

arquitetura construída pelos usuários que se tornaram produtores da tecnologia e artífices de

toda rede. Além disso, a Internet tem um potencial de ensinar os seus usuários a utilizá-la,

sendo o intervalo entre o processo de aprendizagem pelo uso e o de produção pelo uso

abreviado, ou seja, encurtado, o que torna o aprendizado uma produção com um feedback

entre a difusão e o aperfeiçoamento da tecnologia. Por esse motivo, a Internet cresce cada vez

mais, seus usuários evoluem conforme as novas tecnologias e ensinamentos vão ocorrendo no

mundo real e virtual.

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Segundo Santini e Calvi (2012, p. 165), o que os usuários da Internet praticam não

está definido na tecnologia propriamente, mas na cultura, essa cultura particular em que todos

estão envolvidos hoje.

A cultura da internet e sua organização técnica e institucional, econômica, politica e a

logica social predominante na rede se compõe das ações que desenvolveram e que

desenvolvem seus desenhadores, científicos e pesquisadores, ativistas, programadores

profissionais e amadores, empreendedores e usuários em geral, no qual incorporam

seus próprios valores, crenças e práticas de colaboração e compartilhamento de

informação de informação do uso das mesmas. (SANTINI; CALVI, 2012, p. 165)

Conforme Santini e Calvi (2012, p. 165), a rede é concebida como uma plataforma

aberta, tornando possível todo tipo de compartilhamento. Por ser colaborativa2 e participativa,

entre seus usuários, uma informação de livre circulação gratuita desencadeia vários tipos de

comportamentos imitativos, que caracterizam a cultura da Internet. Para facilitar ainda mais

essa circulação de informação, existem duas redes sociais que facilitam e são duas das redes

mais utilizadas no mundo todo, Facebook e Youtube.3

Os autores argumentam que o Facebook e o Youtube possibilitam o intercâmbio entre

os sujeitos, com reprodução e distribuição de informação no formato de arquivos digitais, que

envolvem texto, imagem, áudio e vídeo.

Na internet, onde milhões de indivíduos estão interconectados uns aos outros e

exercendo uma influencia mútua, as praticas de circulação e uso do audiovisual

expressam duas importantes características que constituem a lógica social da rede. Por

um lado, a informação se propaga por imitação, repetição e reprodução de

comportamentos, de forma instantânea e distribuída, em uma dinâmica de contágio viral

e através da colaboração direta ou indireta entre milhões de pessoas (SANTINI,

CALVI, 2012, p. 166).

Os vídeos geralmente têm uma circulação rápida, livre e gratuita, possibilitando ao

sujeito recursos livres, sem pagar para obtê-los. Outra característica dessas duas redes é que

elas podem expandir uma informação rapidamente sem correr o risco de que ela se mantenha

estabilizada em algum lugar da Web, ou seja, de qualquer modo, alguém receberá a

informação postada, ainda que seja apenas um sujeito, desencadeando um aumento de

conectividade de acordo com o modo como essa informação é espalhada.

2 Conforme Primo (2007, p. 1), é característica da Web 2.0 ser colaborativa e participativa à medida que

potencializa “processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de produções de

informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática”. 3 Facebook e Youtube são plataformas digitais e, ao mesmo tempo, redes sociais. O Facebook foi lançado em

fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg e atualmente é a maior mídia social do mundo, com mais de um bilhão

de usuários cadastrados, que interagem compartilhando conteúdos (textos, fotografias e vídeos). Já o Youtube é

uma plataforma que serve especialmente para que seus usuários carreguem e compartilhem vídeos, atuando

também como rede social, pois permite a criação de perfis de usuários e a interação através de comentários.

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2.2 O audiovisual na Internet

Santini e Calvi (2012, p. 161) argumentam que, recentemente, o cotidiano de milhões

de pessoas tem se concentrado no interior de um mundo virtual, onde passam a maior parte do

tempo conectadas transformando o campo cultural, o que afeta também o mercado da

produção audiovisual. Com isso, surgem novos hábitos culturais desenvolvidos no mundo

online que a Internet proporciona.

Dessa maneira, têm-se mostrado proveitosos estudos da Internet relacionados às suas

consequências socioculturais, principalmente em relação à comunicação midiática. O estudo

de Danucalou e Ramos (2014), que analisou o audiovisual na Internet através de uma análise

do videocast4 NerdOffice, por exemplo, verificou as semelhanças e diferenças em relação à

produção audiovisual das mídias tradicionais. A conclusão do estudo apontou que o fato de os

usuários produtores serem também usuários consumidores dos produtos que circulam na rede,

aliado ao fato de que a interatividade proporciona um feedback instantâneo aos produtos na

Web, ocasiona a busca pela melhoria da qualidade do produto, neste caso, um videocast, além

de serem apontadas as estratégias usadas para a fidelização e identificação com o público-

alvo, como a adaptação do produto conforme as respostas e solicitações dos usuários.

De acordo com Tarde (2009 apud SANTINI; CALVI, 2013, p. 162), “o social

constitui-se como uma rede de relações entre indivíduos que atuam uns sobre os outros em

base a distintas lógicas de interação”. Santini e Calvi (2012, p. 162) afirmam que o

envolvimento entre as pessoas e a estrutura virtual é o que define a lógica da interação na

chamada cultura da Internet.

Considera-se audiovisual toda forma de áudio e imagens em movimentos, como

filmes, curtas, animações, propagandas, documentários, videoclipes, lyricvideos, vídeos

amadores, etc.. O áudio é o que mais circula nos espaços digitais e sociais, ele que tem o

poder de trazer o sentido da imagem em um audiovisual, sem o áudio, a imagem seria apenas

uma imagem, mas o áudio sem a imagem continua com a sua essência, tanto em filmes, como

em programas de rádio e músicas (SANTINI; CALVI, 2012, p. 167).

Conforme explica Santaella (2006, p. 187), “as antigas distinções entre produtores e

receptores da imagem televisiva começaram a se borrar, pois qualquer pessoa com uma

câmera na mão tornou-se potencialmente um produtor” é isso que possibilita o audiovisual

independente, ou seja, é esse acesso às ferramentas tecnológicas que permitem a criação, a

produção e o compartilhamento de Web-vídeos.

4 Vídeocast é uma técnica multimídia de emissão de áudio e vídeo pela Internet, geralmente a partir de celulares.

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Santini e Calvi (2012, p. 167) consideram a difusão de conteúdos pela Internet é

extremamente complexa, o que impede a definição de um território tão dinâmico. Existem,

porém, duas modalidades para consumo de audiovisual pela Internet: o ato de assistir por

streaming (distribuição de dados) ou de fazer download dos vídeos, com a possibilidade de

uso de diversas plataformas, tais como computador, Tablet, Ipad, Notebook, Iphone ou

celular. Todas essas plataformas com acesso a Internet oferecem a possibilidade de acesso

gratuito ou através de uma assinatura para velocidade de conexão mais rápida.

Cabe considerar que a circulação de audiovisual na internet se produz principalmente

em países onde a porcentagem da população conectada é mais elevada (superior a

50%), e quase todas as medições relevantes se referem aos EUA e à Europa, com uma

presença cada vez mais importante dos países asiáticos como China, Coreia e Japão.

Porém, as vantagens de analisar tais medições é que estas podem apontar tendências

de consumo em outros países como o Brasil. Apesar do percentual de acesso à internet

de uma dada população ser calculado com base em parâmetros geográficos, os usos

sociais se produz em um meio cujo alcance é mundial. Entretanto, são evidentes as

diferenças sociodemográficas, econômicas, politicas, técnicas e, sobretudo, as

diferenças culturais que devem ser consideradas ao analisar o consumo audiovisual

em nível global. ( SANTINI; CALVI, 2012, p. 167).

Os autores também referem que a multiplicidade de formas de consumo dos sujeitos

em relação ao audiovisual é um resultado improvável. Mesmo com as maiores empresas

fazendo uma análise de tráfego de consumo audiovisual na Internet, não é possível obter-se

um resultado exato, apenas uma base para poder se ter uma ideia do fenômeno analisado.

Dessa forma, a lógica social do compartilhamento e das relações é o principal fenômeno que

favorece as práticas de consumo gratuitas, como o compartilhamento de arquivos, o

download, o livre acesso e a visualização através de streaming de conteúdo audiovisual

(SANTINI; CALVI, 2012, p. 169).

Por outro lado, os conteúdos audiovisuais sugerem condições de privacidade por causa

da amplitude de informações gratuitamente disponibilizadas nas redes, e o grau de liberdade é

muito grande. Apesar disso, as plataformas digitais vem se tornando cada vez mais

conhecidas como um espaço para disponibilização gratuita e inédita de todos os tipos de

criações, como música, vídeos, filmes, programas de TV, fotos, textos e etc.

2.3 Web 2.0, plataformas e segunda tela

Segundo Primo (2007, p. 02), a Web 2.0 potencializa as formas de publicação,

compartilhamento e organização das informações ampliando um espaço para seus usuários

terem interação entre os participantes do processo. Dessa maneira, a Web 2.0 envolve uma

troca efetiva de informações e produções, tendo circulação constante, e isso mantém um fluxo

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frequente de informações entre os participantes ou usuários da rede. Um dos seus princípios

fundamentais é que a Web 2.0 funciona como uma grande plataforma para a interação,

viabilizando funções online que, antes, somente poderiam ser conduzidas por programas

instalados no computador.

Dentro do contexto da Web 2.0, para concretizar essa rede compartilhada em que

usuários tornam-se produtores de conteúdo (PRIMO, 2007), surgiram as plataformas digitais,

a exemplo do Youtube e do Vimeo. O Youtube é um site que permite que seus usuários criem

uma conta, a fim de fazerem o carregamento de vídeos em qualquer tipo de formato digital,

além de possibilitar também que os usuários compartilhem, editem e organizem seus vídeos.

O Vimeo também é um site para publicação e compartilhamento de vídeos, onde os usuários

podem se cadastrar, compartilhar, editar e organizar Web-vídeos, com o diferencial de que o

Vimeo é uma plataforma voltada especificamente para a divulgação de vídeos profissionais.

Outro conceito importante que emerge nesse contexto é o de segunda tela. O conceito

surgiu a partir da constatação de que a Internet oferece a possibilidade de veiculação de

conteúdos que conversem com o programa original veiculado em primeira tela, que seria, por

exemplo, a TV. A primeira tela refere-se à mídia em que o programa é originalmente

veiculado, e a segunda tela consiste nas múltiplas plataformas que dialogam com a primeira,

por exemplo: aplicativos referentes ao programa, redes sociais em que os usuários manifestem

seus comentários sobre o programa, enfim, tudo o que pode ser acessado durante o ato de

assistir a um programa e que tenha relação direta com o conteúdo produzido (FERRARI,

2014).

Segundo Finger e Souza (2012, p. 384), em relação ao audiovisual para TV e segunda

tela, “a possibilidade de interação entre telespectadores pela Internet, através da segunda tela,

em torno de um conteúdo comum exibido pela televisão, torna a experiência de assistir TV

mais complexa e atraente”.

Já Neves (2013, apud FERRARI, 2015, p. 150) considera que para o público da

atualidade, não basta assistir a um programa, mas também comentá-lo nas redes sociais,

postar memes, seguir perfis oficiais e compartilhar os programas no Youtube. Trata-se de uma

audiência “ávida por participação e obsessivamente conectada”, afirma a autora.

2.4 O consumo da Internet no Brasil

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Com base na Pesquisa Brasileira de Mídia 20155 (BRASIL, 2014), encomendada pela

Secretária de Comunicação Social da Presidência da República e realizada com 18 mil

pessoas mediante entrevistas, é exposto um panorama diferente do que se imagina quando se

pensa em consumo de Internet no Brasil. Nessa pesquisa, foram realizadas entrevistas para

conhecer como os brasileiros têm consumido novas mídias e dados referentes ao seu

comportamento de consumo na rede. A Internet foi apontada como mídia utilizada por 42%

dos brasileiros, ficando atrás apenas da televisão (93%) e, por pouco, da rádio (46%).

A Internet alcançou esses meios de comunicação por alguns motivos específicos,

como a frequência e a intensidade de uso, as plataformas, as redes sociais e os programas de

trocas de mensagens instantâneas, porém, ela também é uma mídia utilizada para o brasileiro

comunicar-se facilmente com governo ou empresas.

Apesar da sua agilidade, é grande o porcentual de pessoas que não utilizam a Internet

(51%). Ainda assim, a pesquisa revelou que os brasileiros estão conectando-se bastante

atualmente, em média 76% das pessoas acessam a Internet diariamente, de segunda a sexta,

com uma média de 4h49min em dias de semana e 4h24min nos finais de semana.

Figura 1: Razões pelas quais usa a Internet.

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (p. 59).

5 A Pesquisa Brasileira de Mídia intitula-se 2015, porém foi publicada em 2014.

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Segundo apresentam as Figuras 1 e 2, a maioria dos brasileiros acessa a Internet para

conseguir informações (67%), do seu interesse como curiosidades de filmes, produtos,

acontecimentos do cotidiano ou também em busca de entretenimento (67%), como vídeos de

Youtube, sites e etc. Também utilizam para passar o tempo livre (38%), para estudo ou para

aprender, descobrir e conhecer coisas novas (24%). Independentemente do uso da Internet,

televisão ou rádio, os horários de uso desses meios é semelhante e tem uma correlação, ou

seja, as pessoas estão conectadas a esses meios quase que ao mesmo tempo, seja na semana

inteira, nos finais de semana, o auge da utilização da Internet é às 20 horas da noite (BRASIL,

2014).

Figura 2: Plataformas de uso da Internet.

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (p. 61).

As idades e a renda familiar alteram quem é um cidadão conectado e quem não é, mas

pela pesquisa pode-se observar, independente de qualquer fato, que os jovens são os usuários

mais intensos das novas mídias. A pesquisa demonstra que 65% dos jovens com até 25 anos

acessam a Internet diariamente, já os idosos (65 anos ou mais) têm um porcentual de 4%. Os

Brasileiros com renda familiar de um salário mínimo R$ 724 acessam a Internet uma vez por

semana 20%, os Brasileiros com renda superior acessam a rede mais frequentemente subindo

o porcentual para 78%. Porém, a variável que mais se altera em relação à conectividade é a

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escolaridade: quem tem ensino superior acessa a Internet com mais frequência do que

Brasileiros que fizeram até a quarta série (BRASIL, 2014).

A pesquisa indica que são vários os fatores que ainda tem pessoas que não utilizam a

internet, como a falta de interesse (43%), a falta de habilidade com o computador, atingindo

os brasileiros mais velhos e que tem escolaridade baixa (41%), a falta de necessidade (24%), e

os custos que envolvem a utilização das novas mídias (14%) empacando os mais pobres, essa

é uma das principais razões pela qual os brasileiros não usam a Internet.

Segundo a pesquisa (Figura 3), em relação às redes sociais mais utilizadas e às

mensagens instantâneas, está no topo da lista o Facebook (83%), seguido pelo Whatsapp

(58%), depois o Youtube (17%), o Instagram (12%), o Google+ (8%) e, por fim, o Twitter

(5%).

Figura 3: Redes sociais mais utilizadas

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (p. 62).

Com relação ao suporte utilizado para entrar na Internet está em primeiro lugar o

computador 71%, em segundo lugar está um suporte que está evoluindo no seu acesso que é o

celular com 66%, e os Tablets com 7%. Além do suporte utilizado, a pesquisa também relatou

o que os usuários fazem durante a sua conexão: 31% responderam que comem alguma coisa

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durante o acesso, 23% conversam com outras pessoas, 20% usam o celular, 18% assistem à

televisão, e 16% trocam mensagens instantâneas. Entretanto, a pesquisa concluiu que há um

bom índice de atenção dos seus usuários, sendo que 32% não realizam outras ações enquanto

conectados (BRASIL, 2014).

O Brasil deve crescer muito mais em termos de acesso à Internet. Há uma estimativa

de que crescerá em média 10,2% ao ano até 2019, e serão aplicados R$ 29 bilhões em acesso

à rede. Já o investimento voltado para a Internet fixa vai ceder espaço para a Internet móvel

que, em cinco anos terá um aumento de 50%. Diante disso, fica visível que as empresas irão

investir mais em publicidade para Internet móvel, investimentos que devem chegar a R$ 3,4

bilhões, com crescimento de 15,5% ao ano (ACESSO..., 2015).

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3 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL

3.1 Formatos audiovisuais na web

3.1.1 Conceitos de Web-vídeo e Web-série

Para definição, neste trabalho, considera-se Web-vídeo todo vídeo produzido

especificamente para a Internet. Conforme Hergesel (2014, p. 32), a Web-série foi criada

como um meio narrativo de linguagem audiovisual dividida em episódios e veiculada no

ciberespaço. Devido à falta de patrocinadores, cada episódio costuma ter uma duração curta

de tempo, temporadas menores e baixo orçamento. A narrativa é voltada para uma difusão na

hipermídia. Muitas séries surgem na televisão, mas, para conseguirem manter seu público

acompanhando, se estendem para a Internet, sendo que ocorre muito raramente o inverso

(uma Web-série tornar-se programa de TV), apesar de acontecer.

Hergesel (2014, p. 34) explica que a narrativa da Web-série também pode ocorrer por

meio das redes sociais, das plataformas multimídia e até mesmo do Whatsapp, através de

envios de pequenos fragmentos de vídeos, caracterizando-se assim uma crossmídia, referente

à distribuição que se complementa com diversas plataformas. A Web-série pode ser acessada

pelo espectador de diferentes maneiras, ela não necessariamente segue uma modelo linear,

mas podem haver episódios avulsos sem se prejudicar a narrativa. O usuário pode pausar,

voltar e continuar como quiser, pois tem uma liberdade que a televisão tradicional não

proporciona.

Aeraphe (2013, apud HERGESEL, 2014) define a Web-série como uma narrativa

audiovisual dividida por episódios, que são publicados diariamente ou semanalmente na rede,

ou seja, repetem a forma tradicional de séries de TV, porém com canais de resposta para os

espectadores. Dessa forma, ela é criada de maneira colaborativa, com a participação de outras

pessoas que agreguem conteúdo ou, pelo menos, gerem opiniões.

3.1.2 O remix no audiovisual

Conforme Luna (2008, p. 27), a cultura remix é uma incubadora que se acumula e se

baseia na recombinação de elementos já existentes, prática que surgiu por causa da sociedade

capitalista industrial, originada na própria cultura industrial, que tende a absorver diferentes

obras e conteúdos e recriá-los ou recombiná-los. Segundo a autora,

Entende-se que o remix se iniciou junto com a primeira mídia, uma vez que, tudo

que é construído no contesto dessa cultura, depende de uma gama de contribuições,

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e não de algo (ou alguém) singular. A ação de remixar está, presente em tudo o que

se vai fazer, de forma explicita ou não. Esta afirmação está baseada em Lessing

(2007) quando ele fala que a essência em ser humano é remix, e isto inclui a cultura,

o conhecimento, a politica entre outros. Independente de qualquer coisa estamos

remixando a cultura, pelo fato de estar experienciando-a todos os dias através de

escolhas, como por exemplo o ato de consumir. (LUNA, 2008, p. 28)

De tanto a sociedade ser alimentada diariamente com diversas informações, surgem as

remixagens, as colagens, os reaproveitamentos de músicas, vídeos e matérias, dando-se

origem ao remix na cibercultura.

Existe uma relação entre os meios clássicos e as novas mídias, sendo que os usuários

buscam conectar um meio ao outro para se chegar a algo criativo e inovador, como uma foto

clássica de um jogador que fez alguma situação inusitada durante um jogo, colada a um texto

que introduz uma gíria da atualidade, ou algum imagem que se uma aleatoriamente a outro

texto e, assim, resulte em um meme. Essa intertextualidade, aliada à liberdade que a Internet

proporciona é o que forma o remix (LUNA, 2008, p. 29). Sendo assim, reaproveitar um jogo

de vídeo-game para produzir um filme também é considerado um remix. Os filmes

cinematográficos que utilizam computação gráfica praticam o remix, por exemplo, ao

reaproveitarem imagem dos meios clássicos e mixá-los a meios novos.

Conforme Luna (2008, p. 30), o próprio nome remix já existe desde os anos 70,

quando era usado para misturar as músicas dos anos 70 em diferentes versões. O remix foi

crescendo e se espalhou pelo mundo atingindo outros meios, mídias e outras formas de

comunicação como imagens, vídeos, textos, roupas e carros, o remix não é apenas um

reaproveitamento de materiais existentes, mas também de ideias e oportunidades existentes.

Pode-se dizer que o remix ajudou na evolução da sociedade, no nascimento da

maioria das culturas, ou seja, na reformulação de uma cultura é que surgiram as novas

culturas. Por exemplo, os artistas de antigamente utilizavam outros métodos para fazerem

suas criações, já os da atualidade usam os métodos dos antigos reaproveitados e reformulados.

Segundo Luna,

SMS, lista de e-mails, blogs, endereços eletrônicos, firewire, bluetooth, entre outros

são trajetos que estimulam as pessoas a selecionaram todo tipo de informação de

várias fontes, no seu próprio espaço, onde se pode tanto remixar como deixar

disponível para que outros façam uso. A cultura sempre esteve sob a

“remixibilidade”, mas agora, está “remixibilidade” está disponível a todos os

participantes da cultura da internet. (LUNA,2008 , p. 31)

A autora considera que o remix é o centro da cibercultura, pois mantém as

informações ilimitadas navegando pela Internet. Essa base utiliza o princípio da

conectividade, bem como do compartilhamento e da cooperação.

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O vídeo é considerado uma mídia tradicional, porém o remix exerce um efeito muito

forte sobre ele. Isso ocorre porque qualquer edição de vídeo envolve um pouco de remix.

Além disso, o vídeo pode ser um remix inteiro de colagens de imagens em movimento, o que

pode ser comparado ao ato de ver os detalhes de um DVD, onde existem menu,

documentários, Making-of, comentários de atores e diretores, etc. (LUNA, 2008, p. 37).

É importante ressaltar o papel do remix nos vídeos digitais que circulam pela rede, que

normalmente são vídeos caseiros feitos pelos usuários que os postam, liberando a

oportunidade de remixagem a partir da sua exposição. Essa prática de remixar os vídeos

disponíveis na rede encontra-se com inúmeras repetições dos mesmos vídeos remixados e

recontextualizados para outras temáticas ou dinâmicas, buscando o entretenimento dos

usuários da Internet. Essa prática é uma cultura onde todo “lixo digital” é reaproveitado,

tornando-se um tipo de valor dentro da rede ou uma oportunidade para reconfigurar e

transformar em conteúdos para páginas, blogs e sites (LUNA, 2008, p. 38).

O uso do remix não pertence apenas aos meios digitais, mas também, aos meios

tradicionais, como a televisão, em que o remix pode ser visto em VTs comerciais. Esses VTs

completamente remixados, por exemplo, podem alterar a sintonia de uma música para

combinar melhor com o produto. Assim pode-se identificar claramente quando o comercial

usou alguma música, vídeo ou texto que circula pela Internet, buscando acompanhar a rápida

percepção do receptor que está acostumado com o meio digital e seu vasto conteúdo digital

(LUNA, 2008, p. 39).

A autora explica que os chamados “lixos digitais”, que são inseridos na Internet pelos

usuários, acabam tornando-se os vídeos que mais circulam pela rede. Por serem “lixos

digitais” deveriam ser insignificantes, entretanto são amplamente vistos e utilizados pelos

usuários de forma proveitosa para desenvolvimento de novos conteúdos. Quanto maior a

quantidade de “lixos”, maior a prática de remodelagem e recontextualização, criando-se e

disseminando-se novos produtos audiovisuais e culturais. Isso reflete a liberdade que os

usuários têm de criar ou modificar conteúdos na Web.

3.2 A criação audiovisual

3.2.1 O roteiro

Conforme Rodrigues (2007, p. 49), todo filme só pode ser criado a partir de um

roteiro, e para isso é preciso um roteirista com uma visão fílmica, que não faça roteiros

impossíveis de se gravar, caso contrário o roteiro não passa de um sonho impossível de filme.

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A função do roteirista varia de acordo com o seu objetivo, que pode ser desenvolver uma ideia

original, adaptar um livro, escrever um musical, uma peça de teatro ou até mesmo um

videoclipe. O primeiro passo da atividade do roteirista é escrever a sua ideia em pelo menos

duas páginas, retratando o início, o meio e o fim de uma história, o que é chamado de sinopse.

Em seguida, se desenvolve o argumento, que é a descrição do roteiro contendo alguns

diálogos, com algumas cenas esquematizadas e alguns ângulos já definidos em seus lugares.

Depois disso, o argumento pode ou não ser aprovado, mas uma vez aprovado, o roteirista

segue para a etapa final, escrevendo cenas, ações e diálogos detalhadamente. Para se escrever

bem um roteiro é necessário conhecer sobre o assunto, pesquisar sobre cinema, ler muito

sobre produção, ver muitos filmes e escrever muito. Um filme, seja ele de qualquer formato

audiovisual, sempre é criado a partir da imaginação de alguém, uma ideia que não se pretende

deixar somente no papel. De acordo com Rodrigues (2007, p. 49) “a ideia pode nascer a partir

de diversas razões. O jornal está cheio de acontecimentos que induzem roteiros para um filme.

A vida de nossos amigos, contos, livros, sonhos, enfim, devemos estar atentos a nossa volta”.

Para o autor, o roteiro é uma história contada, um conto que faz o leitor viajar em seus

pensamentos, portanto, ele deve ser capaz de permitir a visualização de cenas, diálogos e

acontecimentos previstos em uma produção audiovisual. O roteiro é essencial para o bom

andamento da produção audiovisual, e isso vale tanto para o cinema, quanto para os vídeos

independentes ou para os VTs publicitários.

Rodrigues (2007, p. 50), acredita que normalmente os filmes que mais conquistam o

público são os de fácil compreensão, que nos seus primeiros vinte ou trinta minutos.

Apresentam a história, seus personagens e o que eles fazem. No enredo, há o conflito que, de

alguma forma, muda a vida desse personagem, tirando-o da rotina e, no final, se resolve ou

não esse conflito, mudando-se a vida do personagem para sempre. Não existe drama sem

conflito, nem história sem ação, são esses os motivos que impulsionam as histórias. Amor,

piedade, carinho, ódio, desprezo entre outros sentimentos universais, são elementos que

devem constar na vida dos personagens principais para que o público se identifique, porque o

público também expressa esses sentimentos e, assim, se relaciona com os personagens.

Portanto, geralmente um roteiro deve ter personagens suficientemente interessantes, uma

história com conflito e uma situação universal para liberar a imaginação do público.

Existem muitas razões para ir ao cinema, e a seleção do espectador é influenciada

por fatores como sua idade, sexo, instrução, inteligência e pela maneira de como o

filme foi criado. Os motivos podem variar de como se passou o dia no trabalho à

mera intenção de fugir do calor. O que a maioria realmente deseja, no entanto, é

deixar para trás, por algumas horas, a banalidade e a rotina do dia-a-dia e viver uma

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nova vida na tela, pela identificação com os conflitos dos personagens do filme

(RODRIGUES, 2007, p. 50).

As etapas para a elaboração do roteiro são as seguintes formas: Storyline, sinopse,

argumento, roteiro literário e roteiro técnico. Storyline é a ideia base do roteiro, expressa em

cinco linhas ou menos. A sinopse, em no máximo duas páginas, contém as ideias centrais, os

seus personagens e alguns detalhes do conflito. O argumento contém as ações do roteiro

definidas: onde, quando, como vai acontecer, os seus personagens, as situações dramáticas,

sendo escrito com pouca narração e sem diálogos. O roteiro literário possui todos os diálogos

e ações, onde faltam apenas os planos de câmera. Por fim o roteiro técnico é o roteiro

decupado pelo diretor, com indicações de planos e movimentos de câmera, ou seja, é o guia

técnico da equipe (RODRIGUES, 2007, p. 51).

3.2.2 Etapas e equipe de produção

Conforme Bertomeu (2010, p. 148), a pré-produção é a fase de planejamento de um

filme, em que são divididas as tarefas e reunidos os recursos necessários. Nessa parte, o

orçamento já foi aprovado. É essencial que todos os participantes da produção tenham a

clareza da criação e a visão da ideia principal, o seu objetivo, sem perder o foco ou confundir

com outras ideias. Nessa reunião, deve ser apresentado o roteiro, ou pelo menos a sinopse, o

storyboard, além de aspectos importantes do briefing.

A pré-produção apresenta também as visões e a distribuição de atividades do processo

para que cada um dos profissionais possa compreendê-lo, tornando esse um processo coletivo.

Assim, todas as ideias, propostas e definições devem ser expostas e analisadas nesta etapa,

que também faz parte da criação coletiva. A proposta da pré-produção é avançar para a

próxima etapa, que é a produção, com uma grande roteirização que limite possíveis erros e

futuras dificuldades. Ao final do processo, todos os detalhes da produção do filme devem

estar relatados em um documento chamado checklist, mostrando onde, como, quando, quem e

o que será produzido (BERTOMEU, 2010, p. 149).

Segundo Rodrigues (2007, p. 68), a produção é que cuida de todo o envolvimento de

cenários, planejamento logístico, da tática de filmagem, da captação de recursos, do custo do

filme, do retorno do dinheiro aplicado, controlando sua distribuição e exibição. A produção

deixa tudo disponível para o diretor e sua equipe, para que não falte nada durante toda a

gravação, no tempo, no prazo e no orçamento pré-estabelecidos. As produtoras normalmente

são criadas para produzir filmes, sendo que os equipamentos podem ser terceirizados, mas sua

função é principalmente dar o suporte financeiro, executivo e administrativo à produção

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cinematográfica. Para poder produzir um filme ou VT, a pessoa tem que pelo menos ter as

habilidades de orçar, planejar, organizar, administrar e executar.

Conforme Rodrigues (2007, p. 68), o produtor é uma peça fundamental em qualquer

produção audiovisual, pois é ele quem cria as condições fundamentais para que todos os

elementos necessários sejam providenciados. Portanto, ele é a peça que tem o controle

absoluto sobre a execução de um filme, tanto que, de modo geral, é o produtor quem fica com

total responsabilidade se o filme será um sucesso ou fracasso. Ele também se encarrega de

obter o máximo de qualidade com o mínimo de custo, decidindo se o filme será gravado em

estúdio ou locação, qual o processo de captação do som, qual o nível de desenho da produção,

do figurino, enfim, de toda a equipe técnica, a duração do filme e os dias necessários para a

filmagem ou a gravação.

Já o produtor executivo é uma função diferente do produtor, pois fica encarregado

principalmente do orçamento, além de decidir em quais locações serão realizadas as

filmagens, podendo haver a necessidade de negociar com órgãos e instituições que forem

executar algum tipo de trabalho em parceria. Em resumo, é o produtor executivo quem

assegura que o orçamento e o cronograma de filmagens não sejam ignorados, assim, é de

extrema responsabilidade dele que, terminadas as gravações, fique encarregado de

supervisionar o processo de pós-produção, como montagem, sonorização, efeitos, música,

dublagens, mixagens e créditos.

Conforme Rodrigues (2007, p. 70), o objetivo principal do diretor é conseguir fazer a

ação do filme ocorrer de acordo com a proposta do roteiro da melhor forma possível. O

diretor é responsável pelo resultado final e artístico de cada cena, conseguindo encaixar a

trama no filme ou no VT. Desempenha um trabalho fundamental chamado decupagem de

direção, em que, depois de ler o roteiro, descreve a sua visão detalhadamente acerca do filme,

com especificações de ângulos de câmera, incluindo o ângulo definido pela lente, de maneira

que consegue ter uma visão geral do filme de uma só vez. A planta baixa é uma visão

octogonal onde o diretor fica na parte superior do set de filmagem, coordenando atores,

câmeras, planos e lentes (RODRIGUES, 2007, p. 71).

A escolha e o ensaio dos atores também influencia no desenvolvimento do filme,

dependendo da forma que o diretor executa os ensaios e as escolhas dos atores. No set de

filmagem, as principais funções do diretor são: instruir a equipe técnica para reproduzir a sua

visão de ângulos e planos de câmera, controlando os movimentos dos atores em cena e suas

atuações. O diretor deve saber quando um roteiro está pronto ou quando é necessário

reescrevê-lo, assim como, quando achar necessário o diretor pode gravar novamente uma

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cena, trocar o elenco e determinar os personagens, além de cuidar toda a montagem, a trilha

sonora e a finalização do filme (RODRIGUES, 2007, p. 71).

Sobre a equipe técnica, o autor explica que um filme não é formado apenas por diretor,

produtor e roteirista, mas sim por uma coletividade de profissionais que funcionam como uma

máquina, com engrenagens fundamentais para que filme seja encaminhado. No modo de

produção tradicional, sem a equipe técnica, não existiria filme. O número de componentes em

uma equipe varia de acordo com as necessidades e o tamanho da produção.

Nesse sentido, existem dois tipos de técnicos quanto à divisão de responsabilidades: os

que ocupam a mesma função independentemente do tamanho da produção, como é o caso, por

exemplo, do diretor, do diretor de fotografia, do operador de câmera, do técnico de som, do

maquiador, dentre outras funções; e os outros cujas responsabilidades podem ser mais amplas

e variáveis, dependendo da produção do filme e de suas necessidades, por exemplo, o

primeiro assistente de direção e o diretor de produção.

Ainda segundo o autor, a equipe técnica de filmagem se divide em dois grupos: uma

equipe de produção, encarregada de processos como administração, logística, tática e custos

da filmagem, e outra encarregada da parte artística da produção.

Segundo Rodrigues (2007, p. 77), há também o apoio de set, que são os responsáveis

por ajudar os técnicos, o assessor de imprensa, responsável pela divulgação do filme, o

coordenador de produção, responsável por manter o contato entre o diretor de produção e as

tarefas da produção no set, o coprodutor, responsável por repassar as decisões e informações

do produtor e diretor ao restante da equipe, e o diretor de produção, responsável pela parte

administrativa e pela organização geral do filme. Outras funções são referentes ao fotógrafo,

ao produtor associado (efeitos visuais), ao produtor de elenco, ao produtor de finalização e ao

produtor musical. Já a equipe de direção reúne todos os envolvidos na parte artística e visual

do filme, como o primeiro e o segundo assistentes de direção, o continuísta, o técnico de

efeitos visuais, o montador e o editor de imagens.

3.2.3 Criação colaborativa

Segundo Bertomeu (2010, p. 130), que aborda a produção de VTs publicitários, para a

construção de um comercial de TV, precisa-se de três profissionais cooperando um com o

outro, são eles: o cliente, a agência de propaganda e a produtora. São muitos fatores que

influenciam no processo de produção de um filme publicitário, como briefing, roteiro,

shootings, verbas e prazos. O número de funcionários também depende da verba da empresa,

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sempre tentando da melhor forma produzir um comercial que comunique clara e

objetivamente para que todos possam entender a mensagem com êxito.

A criação coletiva depende de todo o time que irá trabalhar na construção do

comercial, todos eles são coatores da obra. O diretor é fundamental assim como a produtora, o

fotógrafo, o cenógrafo e os roteiristas. Na criação coletiva, os profissionais não criam

separadamente e sim com contribuições para a realização inicial da ideia. Um diretor não

pode decidir sozinho o que irá utilizar se nem mesmo sabe quais recursos há disponíveis ou o

que pode ser realizado. Por isso, a criação coletiva requer um esforço conjunto. A produção

de um comercial é tão ampla em linguagens e conhecimentos, que dificilmente um

profissional sozinho daria conta da produção de um comercial (BERTOMEU, 2010, p. 131).

Entre esses profissionais, os mais conectados e que devem ter praticamente a mesma

visão sobre o produto final são o diretor e o roteirista. A pessoa que teve a ideia inicial deve

se juntar com o diretor para, juntos criarem a visão da história, sendo que o roteirista

considera as ameaças e oportunidades que possam influenciar no roteiro, enquanto o diretor

considera as oportunidades e ameaças, relativas ao set de filmagem. Além da criação coletiva,

os outros integrantes da produção devem estar cientes da ideia, ou até mesmo acrescentarem

as suas ideias e propostas para uma melhor produção. É dessa forma que os profissionais

fazem a criação coletiva, trabalhando em equipe em uma sintonia perfeita.

Ainda que o autor trate da produção do VT publicitário, suas considerações podem ser

aplicadas e úteis para a produção audiovisual independente, porque as etapas de produção

audiovisual são essencialmente as mesmas. O que ocorre, às vezes, é que na produção

independente há um acúmulo de funções em uma só pessoa, ou até mesmo uma supressão de

etapas de produção (BERTOMEU, 2010, p. 135).

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4 METODOLOGIA

4.1 Abordagem e método da pesquisa

O objetivo da pesquisa é compreender a produção audiovisual independente na web

caracterizando comparativamente os canais “Porta dos Fundos” e “Nostalgia”. Para isso, foi

utilizada a abordagem de pesquisa qualitativa, que segundo Godoy (1995, p. 68), objetiva

compreender um fenômeno estando o pesquisador em contato próximo ou direto com o

objetivo de estudo. Essa abordagem não busca enumerar ou medir as situações estudadas, mas

entendê-las melhor, interpretando dados. Conforme Gerhardt e Silveira (2009, p. 32), nessa

abordagem, o cientista é sujeito e objeto da pesquisa, sendo que o conhecimento do

pesquisador pode tornar o desenvolvimento do estudo imprevisível, mas sempre se deve, da

melhor forma possível, aprofundar as perguntas.

A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não

podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das

relações sociais. Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo

de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a

um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não

podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em

estudos de antropologia e sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa

dominante, tem alargado seu campo de atuação a áreas como a psicologia e a

educação. A pesquisa qualitativa é criticada pelo seu empirismo, pela subjetividade

e pelo envolvimento emocional do pesquisador. (MINAYO, 2001, apud

GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32)

Outro método utilizado foi a pesquisa exploratória que, segundo Gil (2007), torna o

pesquisador familiar com o problema, a fim de elaborar hipóteses ou de tornar a temática da

pesquisa mais explícita. Na presente pesquisa, a etapa exploratória envolveu o levantamento

bibliográfico que foi utilizado no referencial teórico, a fim de conhecer mais profundamente o

tema abordado, ou seja, o papel da Web no desenvolvimento do audiovisual independente, o

consumo de Internet no Brasil e conceitos referentes à produção audiovisual.

Além disso, foi utilizado o método de estudo comparativo, que, conforme Bulgacov

(1998, p. 56), é utilizado para pesquisas mais complexas, que dependem de comparações para

se diferenciarem as formas de execução de um problema, de diferentes entrevistados que,

apesar de estarem no mesmo ramo, encontraram formas diferentes para alcançar o sucesso,

com a finalidade de estabelecer relações entre suas variáveis ou categorias analíticas. Em

resumo, o método comparativo se baseia, por exemplo, na comparação entre dados

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encontrados em dois universos diferentes ou em dois casos analisados, desde que haja entre

eles algo em comum ou algo que os vincule e justifique essa comparação. Na presente

pesquisa, a comparação foi feita entre dois canais diferentes que têm em comum o fato de

serem independentes e serem disponibilizados na Web e, presume-se, serem dirigidos a um

público semelhante.

Com a comparação entre as características de um canal e de outro, pretende-se

estabelecer e identificar diferenças e/ou semelhanças entre eles. Dessa forma, além de

comparativa, a análise dos dados é descritiva. Segundo Triviños (1987, apud GERHARDT;

SILVEIRA, 2009), a pesquisa descritiva objetiva descrever fatos e fenômenos relativos ao

objeto de estudo. Isso significa que o pesquisador coleta uma série de informações sobre o

objeto, neste caso, sobre os canais independentes analisados, com a finalidade de caracterizá-

los.

4.2 Instrumento de coleta e categorias de análise

Como instrumento de coleta dos dados, foi elaborado um roteiro de pesquisa contendo

as categorias de análise que, a partir de uma visualização prévia dos canais, se mostraram

úteis para a caracterização dos objetos investigados. Para a comparação entre os dados,

considerando que na pesquisa descritiva as técnicas de coleta são variadas (questionários,

escalas, entrevistas), optou-se pela elaboração de um roteiro com três tabelas para o

levantamento.

Assim, o levantamento foi registrado da seguinte forma: a primeira tabela contém

características dos programas produzidos por cada canal; a segunda é referente à temática, à

linguagem e à presença de publicidade nos programas; e a terceira contém dados referentes às

mídias e plataformas utilizadas pelos canais. O quadro 1 mostra as categorias descritas.

Quadro 1. Categorias.

Caracterização dos programas Título do Web-vídeo, Data da publicação, tempo de duração, Link, número

de visualizações, abertura, apresentador, elenco, cenário/estúdio, locações

externas, uso de remix, equipe técnica.

Temática e tom Sinopse, Veiculação (mídias utilizadas) e tom.

Mídias e plataformas Mídia(s) de veiculação dos programas, site, aplicativos, redes sociais

oficiais, canal de comunicação com o público, número de seguidores ou

curtidas, conteúdo especifico para segunda tela.

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4.3 Os canais analisados

Na seleção dos canais analisados, foram escolhidos os web-canais “Nostalgia” e “Porta

dos Fundos”. Para essa seleção, foram estabelecidos alguns critérios. Os dois canais

escolhidos:

1) São expressivos em número de visualizações na web, alcançando de um a cinco

milhões de espectadores;

2) São expressivos em número de seguidores nas redes sociais, tais como Facebook,

Instagram e Youtube, apresentando de dois a sete milhões de seguidores;

3) Ambos os canais são do mesmo gênero, isto é, buscam o entretenimento de seus

espectadores com conteúdos audiovisuais;

Porém, apesar de ambos serem do mesmo gênero, suas abordagens de conteúdo são, à

primeira vista, diferentes. O canal “Porta dos Fundos” produz sketches e histórias utilizando o

humor e situações do cotidiano para conquistar os seus espectadores. Já o canal “Nostalgia”

produz um documentário remixado, abordando assuntos que despertem nostalgia ou

saudosismo nos seus espectadores, tais como: curiosidades, segredos e informações extras do

universo do entretenimento (jogos, desenhos, TV, cinema e música).

4.3.1 Canal “Porta dos Fundos”

O canal “Porta dos Fundos”6 é uma produtora de vídeos veiculada na rede social

Youtube, por meio de uma parceria com o site “Kibe Loco” e uma produtora chamada “Fondo

Filmes”. O “Porta dos Fundos” foi fundado em março de 2012 e, em apenas seis meses, o

canal conseguiu atingir trinta milhões de compartilhamentos pelo Youtube. A maior parte dos

seus espectadores são pessoas de vinte a quarenta anos de idade. O canal conta com um

elenco formado por Gregorio Duvivier, Fábio Porchat, Clarice Falcão, Thai Lopes, Antonio

Tabet, Rafael Infante, Júlia Rabello, Luis Lobianco, Gabriel Totoro e João Vicente de Castro,

com a direção de Ian SBF.

É um dos canais brasileiros com mais inscritos no Youtube, repercussão que levou o

canal a transmitir seus episódios pelo canal da TV a cabo “FOX”, sem perder o seu humor e a

sua essência. O canal lança novos vídeos todas as segundas-feiras, quintas-feiras e sábados, às

11h. Além do Youtube, eles contam com site, Twitter, página no Facebook, Instagram e

Vimeo. Os episódios da Web-série exploram a liberdade que a Internet proporciona.

6 Disponível em: https://www.youtube.com/user/portadosfundos. Acesso em: 15 ago. 2015.

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Em menos de dois anos de existência, o canal atingiu a marca de 1,6 bilhões de

visualizações e de 10 milhões de inscritos, tornando-se o maior fenômeno da Internet

brasileira e um dos maiores canais de entretenimento mundo.

4.3.2 Canal Nostalgia

O canal “Nostalgia”7 foi fundado em 15 de novembro de 2011 e tem sua distribuição e

veiculação na rede social Youtube. Seu fundador, Felipe Castanhari, é o apresentador,

roteirista e produtor do canal que aborda assuntos e curiosidades nostálgicas de jogos, filmes,

artistas, desenhos entre outros temas relativos ao entretenimento. Segundo o próprio

apresentador, tudo começou quando Castanhari notou que muitos usuários compartilhavam

aberturas de desenhos antigos, filmes clássicos de diferentes gêneros, músicas antigas, entre

outros conteúdos que despertavam nostalgia nos usuários da rede. Como tinha experiência em

design e animação 3D, além de gostar de rever desenhos antigos, jogos e filmes, passou a

reunir todo tipo de informação e de conteúdos referentes a esses temas em seus Web-vídeos.

A reprodução dos vídeos do canal “Nostalgia” é em formato de documentário

informal, utilizando-se o humor e a ironia para entreter espectadores, sempre referindo a uma

nostalgia de gerações anteriores, como um desenho dos anos oitenta, um filme clássico de

terror dos anos noventa ou até mesmo os primeiros jogos produzidos para os primeiros vídeo-

games. O canal também tem outro quadro, chamado “curiosidades nostálgicas”, que trata

sobre dúvidas que alguns fãs tenham sobre determinados seriados, filmes, segredos e mitos do

entretenimento. Todos os vídeos realizados pelo canal “Nostalgia” contam com a figura do

apresentador, sendo os programas publicados todas as quartas-feiras, às 18 horas, e domingos,

às 11h.

7 Disponível em: https://www.youtube.com/user/fecastanhari. Acesso em: 15 ago. 2015.

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30

5 ANÁLISE DESCRITIVA DOS CANAIS “PORTA DOS FUNDOS” E

“NOSTALGIA”

A análise descritiva dos dados é constituída por uma caracterização dos canais “Porta

dos Fundos” e “Nostalgia”. Assim, a análise inicia com os dados presentes na Tabela 1,

referentes às características dos programas. Já a Tabela 2 descreve especificamente os dados

referentes à temática e ao tom utilizado, e a Tabela 3 traz a veiculação dos programas em

mídias e plataformas. Devido ao grande volume de informações descritas, as três tabelas são

apresentadas na sequência e, em seguida, são feitas as discussões.

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33

Tabela 1. Descrição de dados: caracterização dos programas. Web-

vídeo

Título

do web-

vídeo

Data de

publicação, tempo

de duração e link

Número de

visualizações

(até 31/10/15)

Abertu

ra

Aprese

ntador

Elenc

o

Cenário/

estúdio

Locações

externas

Uso de

remix

Equipe técnica (créditos)

PORTA DOS

FUNDOS

VP1 Casamen

to

4 de março de

2013.

Tempo 3:32

minutos.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=-

nb2Tu8rAHg

16.618.425

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP2 Calma 21 de agosto de

2014.

Tempo 3:02

minutos.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=qFl

lqv6AvMA

6.947.221

Milhões.

Sim Não Sim Sim Não Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP3 Amigos 16 de dezembro de

2013.

Tempo 3:46 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=H8

ezy9ShA6I

7.721.879

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP4 Mendigo 8 de junho de 2015.

Tempo 1:39 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=Vaf

PPmlNlbQ

3.442.066

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP5 Ciúmes 26 de dezembro de

2013.

Tempo 2:49 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=W

10.373.894

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

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34

HVjHuvPAFY

VP6 Pena 7 de setembro de

2015.

Tempo 2:04.

Link

https://www.youtub

e.com/watch?v=Nd

Iqyc-jSSs

4.438.248

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP7 Deus 21 de março de

2013.

Tempo 3:20 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=t11

JYaJcpxg

10.714.263

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP8 Tiros de

vingança

– cenas

excluídas

1 de julho de 2013.

Tempo. 2:20 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=PJu

WLRYQnvI

2.736.159

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP9 Corte de

gastos

27 de dezembro de

2012.

Tempo 2:33 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=SIT

IFVzSXG8

5.008.702

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

VP10 Término

de

namoro

1 de novembro de

2012.

Tempo 4:01 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=eL

71_oNwlUk

14.569.927

Milhões.

Sim Não Sim Sim Sim Não Elenco, direção, roteiro, direção

de fotografia, edição e cor, som

direto, assistente de direção,

direção de produção, produção,

produção de set e figurino.

NOSTALGI

A

VN1 9 coisas

que você

não sabia

sobre um

21 de maio de

2014.

Tempo 7:55 min.

Link:

1.582.121

Milhões.

Sim Sim Não Sim Sim Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

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35

maluco

no

pedaço.

https://www.youtub

e.com/watch?v=ivU

Afx_W9hc

VN2 DC

Comics –

Nostalgia

.

2 de setembro de

2015.

Tempo 47:15 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=6R

GDX8d1P1w

1.193.255

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN3 11 coisas

que você

não sabia

sobre

Will

Smith.

9 de setembro de

2015.

Tempo 14:37 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=x1e

R-enTwV8

1.674.502

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN4 9 coisas

que você

não sabia

sobre

filmes de

terror.

12 de agosto de

2015.

Tempo 20:45 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=abn

HrJhvqR4

2.097.564

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN5 Os 10

jogos

mais

jogados

antigame

nte.

22 de julho de

2015.

Tempo 17:12 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=Wp

i_iFNvTHs

1.343.529

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN6 Jurassic

Park –

Nostalgia

10 de junho de

2015.

Tempo 43:31 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=I7

HW9dGlJp0

1.451.912

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN7 12 coisas 6 de maio de 2015. 2.027.297 Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

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36

que você

não sabia

sobre o

Coringa.

Tempo 17:34 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=az4

xMubYUM8

Milhões. fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN8 Mamona

s

Assassin

as –

Nostalgia

25 de março de

2015.

Tempo 38:54 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=fM

HDJuXIXWA

1.659.684

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN9 13 coisas

que você

não sabia

sobre os

Simpson

s

4 de fevereiro de

2015.

Tempo. 11:51 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=Fk

L6w0OTcrk

2.733.967

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

VN10 14 coisas

que você

não sabia

sobre

Dragon

Ball

19 de novembro de

2014.

Tempo 12:17 min.

Link:

https://www.youtub

e.com/watch?v=2X

CClWpesog

1.996.253

Milhões.

Sim Sim Não Sim Não Sim Direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som e

figurino.

* Apresentador mencionou que

fez roteiro com colaborador.

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38

Tabela 2. Descrição de dados: temática, linguagem e publicidade. Web-

vídeo

Sinopse Veiculação

(citar cada uma das mídias

utilizadas)

Tom

PORTA

DOS

FUNDOS

VP1 O vídeo tenta de forma humorística

retratar o relacionamento gay entre dois

amigos, onde um está prestes a casar e o

outro tentando contar o seu segredo para

todos.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP2 O homem do casal tenta

desesperadamente pegar o seu celular de

volta enquanto a mulher fica ameaçando

ver as suas conversas do Whatsapp.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP3 Os amigos estão jogando cartas enquanto

suas mulheres grampearam um deles

para escutar tudo o que eles conversam.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP4 O vídeo retrata a realidade brasileira

onde a sociedade se preocupa mais com

os animais abandonados nas ruas que os

mendigos.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP5 A mulher do casal sente ciúmes ao ver o

namorado em uma foto e tenta de todas

as formas descobrir com quem ele

estava.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP6 O Juiz condena os culpados de forma

humorística onde ressalta o preconceito e

a falta de credibilidade da sociedade em

julgar seus condenados.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP7 O vídeo fala sobre a religião, onde uma

jovem conhece deus e por não seguir

corretamente sua doutrina acaba indo

para o inferno.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP8 O ator tem que fazer propaganda por fora

para ganhar dinheiro e o vídeo faz de

maneira exagerado a forma que é feita a

propaganda do produto.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP9 O vídeo demostra visivelmente a

importância de todos os profissionais da

área do audiovisual.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

VP10 O namorado tenta de todas as formas

terminar com a sua namorada, mesmo ele

sendo um criminoso ela não quer desistir

dele.

Site, Twitter, Facebook, Instagram,

Google + Youtube e Vimeo.

Humor

e ironia

NOSTALGI

A

VN1 O vídeo explica sobre 9 curiosidades

sobre o seriado “Um maluco no pedaço”

onde o ator Will Smith começou a sua

fama.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN2 O vídeo retrata sobre todo o universo de

super heróis da Dc Comics, como

superman, Batman, Flash entre outros.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN3 O vídeo fala sobre 11 curiosidades que

não sabemos sobre Will Smith, como

quando começou sua carreira como MC

entre outras curiosidades.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN4 9 coisas que você não sabia sobre filmes Youtube, Facebook, Twitter, Humor

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39

de terror retrata sobre os filmes clássicos

de terror e suas curiosidades que muita

gente não sabe, como o diretor de O

exorcista ser maníaco.

Instagram e Google+. e ironia

VN5 O vídeo relembra os jogos e vídeo-games

mais jogados nos anos 80, 90, até 2000.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN6 Esse vídeo fala sobre tudo o que rolou no

filme Jurassic Park e também relembra

dinossauros adorados pelo público.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN7 12 coisas que você não sabia sobre o

Coringa explica a origem de um dos

vilões mais famosos de todos os tempos.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN8 O canal fala sobre a saudade de uma das

maiores bandas que o Brasil já teve, os

queridos Mamonas Assassinas.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN9 O vídeo traz curiosidades sobre o seriado

Simpsons, onde uma de suas

curiosidades é que os Simpsons são

amarelos para simplesmente chamarem a

atenção.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

VN10 “14 coisas que você não sabia sobre

Dragon Ball” traz curiosidades, como o

fato de ter sido baseado em uma lenda

chinesa, entre outras.

Youtube, Facebook, Twitter,

Instagram e Google+.

Humor

e ironia

Tabela 3. Descrição de dados: mídias e plataformas. Mídia(s) de

veiculação

dos

programas

Possui

site

próprio

Oferece

aplicativo(s)

para

celular/tablet

Possui

redes

sociais

oficiais

Oferece canal

dialógico de

comunicação

com o público

Número de

seguidores ou

curtidas nas

redes sociais

oficiais do

canal (até

31/10/2015)

Apresenta

conteúdo

específico

para

segunda

tela

(celular ou

tablet)

PORTA DOS

FUNDOS

Internet

(Youtube)

TV (canal

“FOX”, TV

a cabo)

Sim.

Link:

http://ww

w.portad

osfundos.

com.br/

Sim.

Link:

http://www.p

ortadosfundo

s.com.br/apli

cativos/

Youtube

FacebookG

oogle+

Twitter e

Instagram

Sim.

E-mail,

contato no site

oficial e

comentários

nas redes

sociais.

10.752.176

Milhões de

inscritos no

Youtube.

7.329.702

Milhões de

curtidas na

página do

Facebook.

1.246.124

Milhões de

Seguidores no

Google+

609.556 Mil

seguidores no

Instagram.

1.086.223

Milhões de

Sim

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40

Iniciando pelas Tabelas 1 e 2, nota-se que ambos os canais possuem diferenças nas

suas formas de produção e execução, como pode ser visto nas características elencadas. Por

exemplo, conforme referido na sinopse, o vídeo VP1 apresenta uma narrativa sobre um

casamento em que um dos amigos do noivo tenta, de alguma forma, revelar para todos que o

noivo é homossexual. O web-vídeo utiliza elenco e figurantes, encena um roteiro em uma

locação externa (Tabela 1), empregando recursos de humor na linguagem, a fim de conquistar

o público que busca esse gênero de entretenimento. No final do vídeo, um dos roteiristas do

canal “Porta dos Fundos” pede realmente a sua namorada em casamento, o que acaba

aproximando mais o público do ambiente em que os produtores convivem.

Já o vídeo VN1 não apresenta para o seu público uma história como o primeiro, mas

sim, um documentário sobre o seriado norte-americano de TV “Um Maluco no Pedaço”.

Dentro do sentimento de nostalgia que o canal se propõem a explorar, o web-vídeo busca

explorar esse sentimento saudosista que existe na mente do espectador em relação ao seriado.

Não é utilizado elenco ou locação externa, apenas o apresentador emite uma conversa dirigida

a seu público, também empregando geralmente humor e ironia para entreter quem lhe assiste.

seguidores no

Twitter.

NOSTALGIA

Internet

(Youtube)

Não. Sim.

Link:

https://www.

microsoft.co

m/pt-

br/store/apps

/nostalgia-

com-felipe-

castanhari/9

wzdncrdxd4f

Youtube,

Facebook

Google+

Twitter e

Instagram

Sim.

E-mail e

comentários

nas redes

sociais.

4.688.389

Milhões de

inscritos no

Youtube.

2.762.345

Milhões de

curtidas na

Página do

Facebook

91.455 mil de

seguidores no

Google+

1.166.485

Milhões de

seguidores no

Twitter.

991.123 mil

seguidores no

Instagram.

Sim

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41

Outra diferença é que, no web-vídeo de “Nostalgia”, o apresentador faz publicidade de seus

produtos explicitamente, enquanto conversa diretamente com o público por intermédio do

vídeo (Tabela 2).

No vídeo VP2, desenrola-se uma história baseada em situações corriqueiras e

cotidianas de casais, artifício que realiza toda uma identificação do público com o enredo,

abordando de uma forma exagerada e humorística as complicações que alguns casais passam

por causa de um celular, com a atuação de dois atores em um cenário. No episódio, é feito um

product placement8 do aparelho celular. Já o vídeo VN2, repete o formato de VN1, com o

apresentador abordando sobre a DC Comics, ao ressaltar a origem do universo dos super-

heróis e levar ao público curiosidades e informações sobre os seus personagens favoritos. O

web-vídeo mistura uma linguagem de documentário, ao fazer um retrospecto dos personagens

de HQs, com imagens remixadas e recontextualização de notícias sobre o tema.

Em VP3, os atores do elenco principal do canal dão vida à história de quatro amigos

homens durante uma partida de jogo de cartas, sendo que um deles encontra-se grampeado

para que suas respectivas mulheres ouçam suas conversas. A produção do programa foi

cuidadosa no sentido de buscar a identificação do público com a situação encenada, o que

pode ser notado pelo cenário, o qual recria um ambiente que é possivelmente familiar ao

espectador, pela circunstância representada e pelo exagero da comédia que compõe o roteiro.

O vídeo VN3, como o título aponta, aborda “11 Curiosidades que você não sabia sobre

Will Smith”, tema cuja escolha foi feita por meio de votação dos fãs do canal, ou seja, o canal

já conseguiu entreter seu público antes mesmo de veicular o Web-vídeo, possibilidade

estabelecida através da segunda tela. O espaço aberto para comentários no vídeo anterior

permitiu que os espectadores dessem a sua opinião quanto ao programa veiculado, além de

escolherem o tema do próximo vídeo.

Um dos vídeos mais polêmicos do canal “Porta dos Fundos” foi o VP4, que abordou a

maneira como a sociedade trata os cachorros de rua de forma diferente de como trata os

mendigos. Com humor, o vídeo faz uma crítica às pessoas que se entristecem com os cães de

rua, enquanto ignoram ou simplesmente não ajudam os mendigos ou moradores de rua. Na

página oficial do canal, as pessoas colocaram suas opiniões, críticas e elogios ao vídeo. Já o

vídeo VN4 do canal “Nostalgia” foi sugerido pelos fãs na própria rede social do apresentador

Felipe Castanhari. No seu Instagram o público sugeriu que o apresentador falasse sobre

curiosidades dos filmes clássicos de terror, originando o episódio.

8 Product Placement é a estratégia que integra marcas e mensagens ao conteúdo audiovisual, geralmente na linha

do entretenimento (ANDRADE, et al., 2014).

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42

VP5 trouxe um dos maiores efeitos de segunda tela do canal “Porta dos Fundos”, fato

devido ao tema escolhido: ciúme. O roteiro foi produzido representando de maneira exagerada

o ciúme de uma personagem mulher pelo seu namorado. A partir da sua publicação nas

plataformas, foram originados vários comentários na página oficial do canal e pelo próprio

Youtube, principalmente com mulheres dizendo se identificarem com a situação. Enquanto

isso, o vídeo VN5 relembrou os “10 jogos mais jogados antigamente”, com o apresentador

admitindo sua paixão pelo tema e, dizendo-se contente pela sugestão dos seguidores do canal

ao citarem esse conteúdo. Felipe Castanhari referiu à nostalgia provocada por muitos jogos

que os jovens adultos da atualidade jogavam quando eram mais novos.

O canal “Porta dos Fundos” mais uma vez produziu um vídeo polêmico, desta vez

intitulado “Pena”. VP6 representa, de forma irônica e com humor, uma das realidades do

Brasil, referente à Justiça. Nele, o ator Fábio Porchat interpreta um juiz que decide de forma

aleatória quantos anos de prisão os réus terão, decisão tomada de acordo com o grau de

intimidade do juiz com o réu ou conforme o julgamento preconceituoso que faz dele. No

canal “Nostalgia”, VN6 inicia com o apresentador falando sobre um novo produto à venda

pelo canal, é a almofada do próprio programa. Em seguida, o apresentador começa a falar de

modo descontraído sobre o clássico filme Jurassic Park, novamente novamente sugerido

pelos fãs em comentários no Instagram, trazendo todas as lembranças e curiosidades do filme

de dinossauros mais famoso de todos os tempos.

O canal “Porta dos Fundos” tem o costume de representar o cotidiano das pessoas e

também de tratar de assuntos polêmicos, como ocorre no web-vídeo VP7. O roteiro é baseado

nas diferentes religiões do Brasil e, de forma humorística, aborda a morte de uma mulher que

encontra Deus e, pelo fato de não seguir a mesma doutrina que Ele, é condenada a uma vida

de dor e sofrimento. Já a escolha do tema do vídeo VN7 foi devida à repercussão e aos

comentários acerca da divulgação do ator que interpretará o vilão “Coringa” nos cinemas.

Como os espectadores do canal estavam curiosos sobre esse novo “Coringa” o canal decidiu

centrar o episódio em “12 coisas que você não sabia sobre o Coringa”, empregando para isso

imagens de filmes remixadas.

No vídeo VP8, pode ser visto de forma bastante explícita um merchandising da marca

Danette, sendo que o roteirista aproveitou a propaganda da marca como argumento, fazendo

com humor o merchandising. A repercussão do web-vídeo foi alta, pois foi bastante

comentado positivamente pelos fãs do canal a “sacada” da história, referente a um ator que

recebe pela propaganda por fora da produção e, assim, passa a fazer inserções do produto nas

melhores situações possíveis, uma ideia diferenciada para misturar humor com

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43

merchandising. O vídeo VN8 explorou o saudosismo dos espectadores em relação a uma das

bandas mais amadas do Brasil, da geração dos anos noventa, os “Mamonas Assassinas”. Por

meio de arquivos audiovisuais, imagens e documentários, conta toda a trajetória da banda,

desde seu início até o acidente aéreo que os vitimou.

No vídeo VP9, o canal faz uma comparação entre produções profissionais e amadoras,

demostrando que todos que trabalham com direção, produção, som, figurino, elenco, entre

outros são fundamentais para uma produção audiovisual. Nesse web-vídeo, os produtores

estão cortando gastos e demitindo alguns profissionais, sendo que, a cada retirada de

profissional, o próprio vídeo começa a perder qualidade. No vídeo VN9, o apresentador antes

de começar a falar as curiosidades sobre os “Simpsons” explica que teve receio de fazer o

vídeo por causa de complicações com direitos autorais que anteriormente teve, em outro

episódio, com os detentores do direito de imagem do seriado. Apesar disso, o apresentador

prossegue com o tema e cita uma faculdade de animação, aconselhando espectadores que

tenham interesse no gênero a cursarem essa faculdade específica.

Em VP10, a situação representada sobre o cotidiano das pessoas é em relação ao

término de namoro, um recado indiretamente para pessoas que insistem em namoros ruins. Na

história, um marginal tenta de todas as formas terminar o relacionamento com a namorada,

mas ela não aceita de modo algum. No vídeo VN10 de “Nostalgia”, o apresentador inicia

inserindo em sua conversa com o espectador os seus aplicativos de jogos disponibilizados.

Logo depois, ele fala sobre “14 Coisas que você não sabe sobre Dragon Ball”, relembrando o

desenho que muitas crianças dos anos noventa e dos anos dois mil acompanharam em suas

infâncias, considerando que, ainda hoje, Dragon Ball é um dos desenhos mais vistos no

mundo todo.

A descrição de dados presente na Tabela 1 comprova que as diferenças entre os canais

se constatam principalmente nos formatos e nos conteúdos dos programas. O programa “Porta

dos Fundos” produz web-vídeos que se constituem narrativas audiovisuais, com diálogos

roteirizados e atores interpretando papeis em situações do cotidiano, representadas com

humor, isto é, a fim de provocar o riso. Além disso, a maioria dos episódios não se restringe a

apenas produzir o riso pelas situações exarcebadas ou inusitadas que apresentam, mas também

contêm certa crítica a costumes a atitudes humanas ou a figuras da sociedade em geral.

Já os programas do canal “Nostalgia” se configuram de maneira distinta do primeiro:

um apresentador, em um estúdio, diante de um cenário, introduz um tema de modo informal e,

em seguida, traz imagens (em movimento e/ou estáticas) compondo um remix audiovisual

sobre o assunto tratado, sempre relativo ao mundo do entretenimento.

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A tabela 2 demonstra que o tom utilizado pelos dois canais possuem certas

semelhanças: os dois canais utilizam o humor e a ironia para entreter o público, porém de

maneira um pouco distinta. O canal “Porta dos Fundos” usa o humor e a ironia de forma

planejada, roteirizada e produzida, buscando que o público se identifique com a situação, ao

mesmo tempo em que exagera as situações parar tornar o tema engraçado. Já o canal

“Nostalgia” usa o humor e a ironia para ter uma conversa mais leve e totalmente informal

com os seus espectadores, o que não é feito com grandes produções, mas sim como uma

forma de prender a atenção do espectador ao tema e aproximar apresentador e público.

Apesar das diferenças quanto à produção e à execução nos canais, podemos considerar

que eles conseguem atingir seu público-alvo, tendo em vista o alto número de visualizações

para cada web-vídeos nas plataformas, bem como de seguidores nas redes sociais oficiais

(Tabela 3).

Além disso, a equipe envolvida neles é um pouco distinta para um e outro canal. Uma

característica principal do canal “Porta dos Fundos” é que o que seria a sua abertura aparece

somente no final do vídeo. Nos créditos de cada web-vídeo, constata-se o amplo número de

profissionais envolvidos nas diferentes etapas de produção, que, a exemplo das definições de

Bertomeu (2010) e Rodrigues (2007), parecem seguir a divisão de processos e tarefas

característica do audiovisual comercial (VTs publicitários e filmes), com funções de pré-

produção (por ex.: figurinista), produção (ex.: direção e assistente) e pós-produção (ex.: cor e

edição). Enquanto isso, o canal “Nostalgia” também apresenta créditos da equipe que seguem

a tradicional divisão de funções, ainda que com uma equipe técnica reduzida em comparação

com o primeiro canal e, às vezes, atuando com colaboradores de outros canais, como em

VN10, que contou com a colaboração de um roteirista de outro canal independente.

Por fim, a Tabela 3 mostra as mídias de veiculação utilizadas pelos dois canais, sendo

que os dois utilizam a Internet para o seu conteúdo independente ter maior liberdade de

expressão, sem ter que passar pelo crivo de emissoras de TV, e também pela facilidade de

divulgação, como é próprio dos conteúdos feitos para a Internet. O canal “Porta dos Fundos”

também utiliza a TV, o canal “FOX”, para a veiculação dos seus episódios, com a diferença

de que, na TV, existe um apresentador para entreter o público nos intervalos dos episódios. Os

dois canais oferecem aplicativos para celular e Tablet, como aplicativos de jogos e do próprio

programa, para que o espectador acesse os vídeos de forma mais ágil.

Ambos os canais utilizam diversas redes sociais, como página do Facebook, Twitter,

Instagram, Google+, Youtube e Vimeo. Em resumo, são utilizadas as mesmas redes sociais

para divulgação, porém, ao contrário do “Porta dos Fundos”, o canal “Nostalgia” não tem site

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próprio, apenas disponibiliza os web-vídeos nas plataformas já existentes na rede (Youtube e

Vimeo). A concentração do sucesso em termos de acesso dos dois canais se encontra no

Youtube, pois é nessa rede que eles têm o seu formato principal, o maior número de

seguidores e de visualizações. As outras redes utilizadas têm um número de seguidores

considerável, porém, em algumas plataformas, como Vimeo, pode ser notada a redução de

seguidores em comparação para o canal “Porta dos Fundos”, que, no Youtube, atinge no

mínimo quatro milhões de visualizações para cada web-vídeo, enquanto no Vimeo alcançam

uma média de apenas quatro mil visualizações para cada episódio. Quanto às inserções

publicitárias, o canal “Porta dos Fundos” utiliza destacadamente o método de product

placement, enquanto o canal “Nostalgia” utiliza o apresentador para fazer merchandising

explícito dos seus produtos, geralmente produtos do próprio canal, como camisetas e

almofadas.

Conforme visto anteriormente, o público da atualidade não quer apenas ser espectador

dos programas, mas comentá-los nas redes, compartilhá-los nas redes soiais, criar memes,

enfim, quer uma experiência completamente interativa (NEVES, 2013, apud FERRARI, 2015,

p. 150). Isso é obtido por “Porta dos Fundos” e “Nostalgia” à medida que abrem espaços

variados aos comentários e ao contato direto, ainda que intermediado pela rede, com o

espectador. Há, assim, uma potencialização do uso das redes sociais como segunda tela, pois

possibilitam que, enquanto assiste ao programa no aplicativo, o usuário interaja nas redes

sociais simultaneamente ao momento em que assiste ao web-vídeo.

A abertura para comentários nas plataformas multimídia (Youtube e Vimeo), além das

outras redes sociais abertas a seguidores (Instagram, Facebook e Twitter) estabelecem vias de

diálogo, canais de interação com seus espectadores. Também se destaca, no caso de

“Nostalgia”, a recorrência do uso dos comentários nas redes e plataformas como forma de

eleição dos conteúdos a serem abordados nos vídeos seguintes. Isso demonstra que a

conectividade própria da Web 2.0 não só atua na criação de vias de interatividade, mas

também na possível determinação dos conteúdos gerados por canais independentes. Essa

característica também tem relação com o conceito de criação colaborativa do audiovisual, que

conforme explica Bertomeu (2010), envolve um esforço conjunto dos profissionais.

O amplo uso do remix, outro recurso bastante empregado pelo “Nostalgia”, é uma

variável que demonstra como os chamados “lixos virtuais” podem ser aproveitados e

reutilizados na produção audiovisual independente. Não fosse o remix, dificilmente um canal

independente poderia falar de entretenimento, especificamente de cinema, seriados, músicas e

games mundialmente conhecidos, tendo poucos recursos ou uma equipe técnica reduzida. É

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um fenômeno que, segundo Luna (2008), sempre esteve disponível na nossa cultura, porém,

no contexto da Internet e da era do compartilhamento, torna-se muito mais frequente e

expressivo.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise descritiva dos dados que foram apresentados neste trabalho demonstrou

correspondência com conceitos bem defendidos por autores como Castells (2003) e Santaella

(2006), que destacam o apagamento crescente e quase que total da separação entre os polos

produtor e consumidor de cultura e de conteúdos: na Web, todos são potencialmente

produtores. Com as facilidades que o acesso à tecnologia proporciona, o público de hoje em

dia não se limita a ser apenas espectador de programas audiovisuais, pelo contrário, as

pessoas conseguem produzir conteúdos de forma independente, publicá-los na rede e, além

disso, divulgá-los amplamente nas redes sociais, ocasionando grande número de visualizações

dos web-vídeos. todo esse processo deu crescimento a canais online de grande sucesso, como

os dois exemplares analisados.

A Internet proporcionou que uma coletividade de usuários tenham a liberdade de

participar juntamente com os produtores de conteúdo dos processos de decisão (ou pelo

menos de influência) a respeito do que será produzido e veiculado nesses programas, o que é

intensificado pelo efeito da segunda tela, em que os usuários podem assistir às produções

audiovisuais e, simultaneamente, comentar, emitir suas opiniões a respeito de determinado

programa. Além disso, conforme a cultura da interatividade e do compartilhamento, qualquer

usuário que estiver em rede pode disponibilizar e veicular conteúdos de diferentes naturezas,

não só produções audiovisuais, mas também textos, imagens, músicas, entre outros.

A produção audiovisual evoluiu de uma complexidade de operações para uma

facilidade crescente de produção. Isso é visível quando se considera que, nos primórdios da

TV e do cinema, para se produzir audiovisual era necessário haver uma equipe completa,

composta por diretor, produtor, roteirista, continuísta, editor, elenco, figurinistas, entre outros

profissionais, tudo isso aliado a uma emissora da qual dependiam para a transmissão dos

programas, passando pela aprovação de terceiros, pela disponibilidade de encaixe de horários

na grade, venda de espaço para publicidade, dentre outros requisitos.

Com a difusão da Internet, o processo de produção audiovisual tornou-se mais

acessível (surgiu a possibilidade de simplificação) e com menos custos. Sem se preocupar

com horários ou aprovação, o usuário pode ser o seu próprio diretor, produtor, roteirista e

apresentador ou ator, basta estar em um nicho que os usuários queiram consumir, isto é,

produzir para um segmento específico de público, e, para isso, ter acesso a uma câmera ou um

celular. A Internet revolucionou a forma de produção do audiovisual.

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Cada vez mais, têm-se pessoas em busca de entretenimento migrando da televisão para

a Internet, o que já havia sido confirmado pela Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014),

que registrou a rede como a terceira mídia mais consumida do Brasil, sendo que seus usuários

buscam principalmente o entretenimento, mote de ambos os canais descritos. Isso também

explica o vasto número de visualizações que esses dois canais de sucesso possuem no

Youtube. Como visto pelos dados anteriormente, o consumo de Internet no Brasil está

aumentando, razão pela qual há uma grande oportunidade de planejamentos estratégicos de

conteúdos audiovisuais feitos especialmente para usuários que consumem conteúdo em redes

como Youtube e Facebook. É notável também o crescimento do uso do celular para acessar a

Internet, o que abre possibilidades a outras estratégias publicitárias, ainda pouco exploradas.

A Internet, a tecnologia e a produção audiovisual são as ferramentas que tornam possível o

sucesso dos Web-vídeos e Web-séries.

Conforme visto na análise descritiva, os canais possuem suas diferenças de conteúdo e

produção, especialmente equipe técnica, porém também existem algumas semelhanças entre

eles. Os dois canais utilizam o humor e a ironia como recurso em seus vídeos, além de

linguagem informal. Esse é um dos aspectos mais relevantes e encontra-se relacionado ao que

o usuário busca de entretenimento na rede: é notável que, dentre os programas brasileiros

independentes disponíveis nas plataformas, o humor chama mais atenção entre os usuários do

que os gêneros tradicionais, como ação, terror, drama ou suspense, tanto que são os mais

acessados. Outra semelhança entre os dois canais é que eles tentam de alguma forma

aproximar-se e provocar a identificação com o público, seja pela representação de uma

situação que poderia fazer parte do seu cotidiano, seja pela exploração do sentimento de

nostalgia, provocado por uma relação afetiva do usuário com temas de sua infância e

adolescência.

Já considerando os processos e atividades de produção, os canais apresentam

diferenças. “Porta dos Fundos” utiliza processos e equipe técnica numerosa, que o aproximam

da forma tradicional de produção audiovisual, com elenco, direção, roteiro, direção de

fotografia, edição e cor, som, assistente de direção, direção de produção, produção, produção

de set e figurino, com uma equipe responsável pela contratação de serviços, imagens e

veiculação dos vídeos.

Em comparação, o canal “Nostalgia” tem uma produção mais próxima da forma

videomaker independente, utilizando apenas direção, roteiro, direção de fotografia, edição e

cor, som e figurino, sendo que o apresentador acumula algumas dessas funções. Sua forma de

contato e veiculação dos Web-vídeos é feita através do acesso pessoal do apresentador ao

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Instagram ou ao Snapchat, onde os usuários podem sugerir qual tema querem para nos

próximos vídeos. Também a publicidade é feita diretamente do apresentador para o

espectador, com a oferta dos produtos, enquanto o canal “Porta dos Fundos” usa de forma

mais cinematográfica o product placement.

Com diferenças e semelhanças, a análise descritiva serviu para demonstrar que, com

seus formatos específicos, os dois produzem vídeos para a Web direcionando seus conteúdos a

usuários da rede que buscam o entretenimento. Assim, não se pode considerar que existe

apenas uma forma de se fazer a produção independente de conteúdos online, como Web-séries

e Web-vídeos. Pelo contrário, existem diferentes formas de se produzir audiovisual

independente na Web. Considera-se que os canais no Youtube estão no início da sua

exploração, o que significa que há um vasto público em busca de entretenimento na Internet,

razão que motiva os produtores (também usuários) a encontrarem meios para alcançá-lo e

aproximá-lo das suas produções, como o uso das redes em segunda tela.

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