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Flávio Eduardo de Souza Caldas T2 Francisco Inácio Bueno Imagem 1. Uma coisa branca, 2. Eis o meu desejo. 3. Uma coisa branca, 4. De carne, de luz, 5. Talvez uma pedra, 6. Talvez uma testa, 7. Uma coisa branca. 8. Doce e profunda, 9. Nesta noite funda, 10. Fria e sem Deus. 11. Uma coisa branca, 12. Eis o meu desejo, 13. Que eu quero beijar, 14. Que eu quero abraçar, 15. Uma coisa branca 16. Para me encostar 17. E afundar o rosto. 18. Talvez um seio, 19. Talvez um ventre, 1

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Flvio Eduardo de Souza Caldas T2Francisco Incio Bueno

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Imagem

1. Uma coisa branca,2. Eis o meu desejo.

3. Uma coisa branca,4. De carne, de luz,

5. Talvez uma pedra,6. Talvez uma testa,

7. Uma coisa branca.8. Doce e profunda,

9. Nesta noite funda,10. Fria e sem Deus.

11. Uma coisa branca,12. Eis o meu desejo,

13. Que eu quero beijar,14. Que eu quero abraar,

15. Uma coisa branca16. Para me encostar

17. E afundar o rosto.18. Talvez um seio,

19. Talvez um ventre,20. Talvez um brao,

21. Onde repousar.22. Eis o meu desejo,

23. Uma coisa branca24. Bem junto de mim,

25. Para me sumir, 26. Para me esquecer,

27. Nesta noite funda,28. Fria sem Deus.Este poema de Dante Milano apresenta em sua estrofao 14 dsticos que totalizam 28 versos em sua maioria de redondilha menor (pentasslabo), porm os versos 18, 19 e 20 esto dispostos em tetrasslabos, criando a quebra da regularidade mtrica sem comprometer a cadencia rtmica do poema, a acentuao tnica tambm varivel, sendo predominante nas primeiras slabas, mas ocorrem tambm as acentuaes nas segundas e terceiras slabas poticas. Utilizando-se do sistema mtrico latino encontramos como variantes os seguintes ps mtricos em combinao: Troqueu, anapesto e jmbico. Obtemos a partir do observado acima esta tabela que relata em sua estrutura o nmero do verso, metro, acentuao das slabas poticas e ps bsicos:VersoMetroAcentuaoPs Bsicos

1(pentasslabo)1,5

2(pentasslabo)1,5

3(pentasslabo)1,5

4(pentasslabo)2,5

5(pentasslabo)2,5

6(pentasslabo)2,5

7(pentasslabo)1,5

8(pentasslabo)1,5

9(pentasslabo)3,5

10(pentasslabo)1,5

11(pentasslabo)1,5

12(pentasslabo)1,5

13(pentasslabo)3,5

14(pentasslabo)3,5

15(pentasslabo)1,5

16(pentasslabo)1,5

17(pentasslabo)3,5

18*(tetrasslabo)2,4

19*(tetrasslabo)2,4

20*(tetrasslabo)2,4

21(pentasslabo)1,5

22(pentasslabo)1,5

23(pentasslabo)1,5

24(pentasslabo)2,5

25(pentasslabo)1,5

26(pentasslabo)1,5

27(pentasslabo)3,5

28(pentasslabo)1,5

No poema as rimas que compem seu encadeamento[footnoteRef:1] no formam uma unidade regular, porm a recorrncia que acontece com os versos 1, 2, 9 e 10 parece nos indicar a temtica do poema, em outras ocorrncias podemos notar algumas que se utilizam do encadeamento por meio de sinonmias como o caso dos versos iniciados com Talvez, respectivamente versos 5, 6, 18, 19 e 20 utilizando as substituies: pedra; testa; seio; ventre; brao; Estas por sua vez sempre rementem ao contato do Eu lrico com o objeto de desejo que busca ao longo do poema, outras recorrncias de sinonmia encontramos em versos como: [1: Encadeamento como repetio em versos livres como especificado por Manuel Bandeira no cap. A versificao em lngua portuguesa p. 536.]

13. Que eu quero beijar,14. Que eu quero abraar,

16. Para me encostar25. Para me sumir,26. Para me esquecer,Este conjunto de recorrncias faz com que notadamente percebamos o Eu lrico atravs do pronome possessivo Meu, do verbo Querer conjugado na 1 pessoa do singular e do pronome pessoal oblquo Me. E no verso que se repete por mais vezes no poema (6 versos) apresenta-se o objetivo, a busca do Eu lrico, logo nos dois primeiros versos do poema essa temtica j a apresentada e sua repetio o reforo dessa procura, um busca pela nomeao, pela fuso entre o Ser lrico e o Ser desejado.Entre a coisa branca feita De carne, de luz e coisa Doce e profunda ocorre uma evocao sensorial entre tato e viso, e entre paladar e reflexo que se fundem imagem do sono, tambm profundo, noite funda, fria e sem Deus. Existe tambm uma oposio clara entre a coisa branca, de luz, e a mesma noite funda, fria e escura em que a juno desses elementos incorpora a viso da solido.Esta solido uma imagem que se constri a partir do cenrio de erotizao (v. 13 a 22) em que a revelao da inteno de tocar, beijar, abraar, afundar o rosto em um seio, ventre ou brao, consumada com a anulao de si diante do objeto desejoso, uma fuso (v.24, 25,26 - Bem junto de mim, para me sumir, para me esquecer) entre o elemento corpreo, fsico e ttil com o mundo voltil, imaterial e subjetivo que o Eu lrico no campo dos sonhos e desejos faz essa fuso parecer unicamente um subterfgio para escapar a essa solido que o envolve.Este mesmo sentimento de solido, se pode deduzir pela nasalizao em funda, profunda, a vogal posterior fechada /u/, e somando-se a ele um sentimento de aflio, angstia. A contraparte imagtica dessa alternncia de sentidos entre a coisa branca e noite funda pode ser deduzida pela disposio dos elementos lexicais, que so lanados ao longo da tira do poema, dando a impresso de um tnel que se inicia na parte superior pela sada luminosa, claridade, luz que gradativamente se ofusca pela contaminao dos elementos de angstia e que por fim se apaga, configura-se ento uma imagem mais forte que a do Eu lrico dentro de um tnel escuro (final do poema), e que, a coisa branca personificada atravs da metfora que transforma a Carne (objeto material) e Luz (objeto visual), aparece como um objetivo distante (topo da pgina). Essa distncia inalcanvel reforada pela sugesto do ttulo Imagem que pode ser a representao espectral do desejo buscado pelo Eu lrico distante pela no materialidade do objeto, ou mesmo a busca por algo que j est l, no caso a coisa branca que o prprio papel e sua margem branca em torno do poema que est l para satisfazer o contato com o poeta por meio de seu Eu lrico representado pelas linhas do poema, e trava-se em angstia e solido o contato do poeta e do papel por meio da escrita, mostrando que no incio do poema se fez a luz ao e o final do poema seria o ponto de partida como num movimento de descida e subida de um sentimento, ou no caso de uma produo potica. Referncias BibliogrficasCANDIDO, Antonio. O estudo analtico do poema. 6 edio. So Paulo: Associao Editorial Humanitas, 2006._______________. Na sala de aula: caderno de anlise literria. 8 edio. So Paulo: tica, 2009.BANDEIRA, Manuel. A versificao em lngua portuguesa. In: __________. Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.p.533-557.