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1 UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE DIREITO Disciplina: Teoria do Direito JOÃO HENRIQUE RIBEIRO NUNES PÂMELA PIRES NUNES TRABALHO DE PESQUISA SOBRE INQUISIÇÃO Professor: GILBERTO BRITTO Campus: Guaíba

Trabalho - Inquisição

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Trabalho sobre a Inquisição no Brasil e em Portugal.

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20130331 Trabalho - Inquisio.docx

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE DIREITO

Disciplina: Teoria do Direito

JOO HENRIQUE RIBEIRO NUNES

PMELA PIRES NUNES

TRABALHO DE PESQUISA SOBRE INQUISIO

Professor: GILBERTO BRITTO

Campus: Guaba

Camaqu RIO GRANDE DO SUL

2013/1

SUMRIO

INTRODUO

2 - OBJETIVOS

2.1 - OBJETIVO GERAL

2.2 - OBJETIVOS ESPECFICOS

3. CONCEITO DE INQUISIO

4. ASPECTOS HISTRICOS DA INQUISIO

4.1 A INQUISIO MEDIEVAL

4.2 A INQUISIO MODERNA

4.3 A INQUISIO NO BRASIL COLNIA

5 - ASPECTOS JURDICOS DA INQUISIO

5.2 TIPOS DE PROCESSO

5.2.1 O ACUSATRIO

5.2.2 O INQURITO

5.3 FORMAS DE ACUSAO

5.4 MTODOS COMUMENTE UTILIZADOS

5.5 DIREITO A DEFESA

5.6 TIPOS DE CONDENAO

CONCLUSO

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

INTRODUO

A inquisio foi ferramenta de represso, disposta aos interesses da igreja durante quase um milnio. A inquisio medieval coincide com o perodo das grandes navegaes e colonizao das Amricas e da ndia, onde podemos identificar as prticas inquisitoriais modernas como instrumento de afirmao da f catlica.

Importante analisar os seus aspectos histricos para delinear a sua importncia na histria humana e a amplitude de sua execuo.

A inquisio assumiu formatos distintos durante sua evoluo quer seja no aspecto metodolgico, quer seja nos fins a que esteve intimamente ligada. Ao passo em que esta evolui, podemos identificar tambm a evoluo do estado e a relao promscua da soberania absolutista dos monarcas em favor dos interesses da Igreja e da mquina religiosa como afirmao e manuteno do poder secular apoiado pelo poder espiritual.

Conjuntamente identificamos a evoluo do direito civil, a partir da evoluo do direito cannico, assimilando e incorporando a este alguns conceitos do direito romano.

2 - OBJETIVOS2.1 - OBJETIVO GERAL

Efetuar pesquisa bibliogrfica acerca do tema: Inquisio.

2.2 - OBJETIVOS ESPECFICOS

Definir o conceito de Inquisio;

Explicitar s principais caractersticas histricas da inquisio;

Identificar os aspectos jurdicos da inquisio;

Concluir sobre a sua importncia na evoluo histrica do direito.

3. CONCEITO DE INQUISIO

O significado de inquisio extrapola aquele encontrado no dicionrio, qual afirma: tribunal onde se julgavam os crimes em matria de religio. A santa inquisio foi um instrumento genuinamente catlico que visava punir e exterminar os condenados de descrena ou desvio dos preceitos da religio.

Rodeada de uma aurola de fanatismo e intransigncia, constituiu uma instituio complexa, que variou notavelmente de forma segundo os lugares e pocas histricas.

Santo Ofcio foi a designao dada ao tribunal eclesistico vigente na Idade Mdia e comeo da modernidade, que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia catlica. Sua origem remonta ao sculo IV , mas atingiu o auge no sculo XIII, no combate s heresias e a outras prticas contra a f e a unidade do cristianismo. Depois entrou em declnio, at ressurgir em novos moldes na Espanha e em Roma, onde alcanou enorme poderio.

4. ASPECTOS HISTRICOS DA INQUISIO

4.1 A INQUISIO MEDIEVAL

Foi no perodo da Baixa Idade Mdia (sculo XII e XIII) que o poder eclesistico atingiu o seu apogeu. Os reis recebiam o seu poder da Igreja, que os consagrava e podia excomung-los. A organizao e o prestgio do papado saram fortalecidos da questo das investiduras.

Em 1229, ante o fracasso das medidas de represso contra a seita dos albigenses, na Frana, o snodo de Toulouse decidiu instituir um tribunal especial contra os hereges. Finalmente, em 1231, o papa Gregrio IX criou o Tribunal da Inquisio, com o objetivo de investigar, prender e julgar todos os suspeitos de heresia. Atuou sobretudo no sul da Frana, norte da Itlia, reino de Arago e na Alemanha.

O termo heresia englobava qualquer atividade ou manifestao contrria ao que havia sido definido pela Igreja em matria de f. Dessa forma, na qualificao de hereges encontravam-se os mouros, os judeus, os ctaros e albigenses, alm dos supostos praticantes de bruxaria. A chamada Inquisio Medieval, consistia na identificao e condenao de indivduos suspeitos de heresia.

No que tange aos procedimentos e penas aplicados, o processo era sumrio. Mulheres, crianas e escravos eram admitidos como testemunhas de acusao, mas no de defesa. Se o processado delatava parentes, amigos e outras pessoas, passava a gozar de regalias. Era crime, para o Santo Ofcio, qualquer ofensa f ou aos costumes. Considerava-se crime de judasmo acender velas ou usar toalhas limpas no comeo do sbado, abster-se de comer carne de porco ou de peixe sem escamas, jejuar no dia do Perdo ou da rainha Ester. O tribunal recolhia denncias de quem quer que fosse, mesmo feitas por fontes annimas.

Depois de preso, o ru era submetido a longos interrogatrios, no lhe sendo comunicado o motivo da priso, nem o nome do denunciante. O advogado de defesa era nomeado pelo Santo Ofcio. Os rus que se declaravam culpados eram reconciliados com a Igreja e quando absolvidos, assinavam o termo de segredo, em que juravam nada revelar do que se passava a portas fechadas. A violao do segredo era equiparada ao crime de heresia.

A prtica da tortura para obter a confisso do ru, habitual nos processos civis da poca, foi repelida de incio pelos papas, que chegaram a encarcerar alguns inquisidores por sua crueldade. Em 1252, no entanto, o papa Inocncio IV autorizou o uso da tortura quando se duvidasse da veracidade da declarao dos acusados. A partir de ento, o emprego de mtodos hediondos na busca pela confisso se generalizou, atingindo vrios pases da Europa Ocidental e Oriental, e tornando a condenao cada vez mais desumana, variando entre execuo dos condenados pelo fogo, banimento, trabalhos forados, priso, e invariavelmente, no confisco de bens.

Durante os sculos XIV e XV a inquisio caiu paulatinamente e passou a ser utilizada com fins polticos. Exemplo disso foi a morte na fogueira de Joana Darc, em 1431.

4.2 A INQUISIO MODERNA

Se na Idade Mdia, no exato perodo de sua instituio, a Inquisio cumpria o objetivo especfico de conter os desvios da f Catlica, na Idade Moderna apresentar motivaes mais poltico-econmicas do que religiosas.

Sua criao pela Igreja Catlica e expanso at meados do sculo XV, est inserida em um contexto de ameaa s bases do catolicismo, j na Idade Moderna, no h essa ameaa , e no entanto, a instituio persistiu, caracterizando o que chamaremos de segunda fase inquisitria. Nesta fase, no ser mais a Igreja a entidade responsvel por controlar a Inquisio, mas os Estados Nacionais em formao, que a utilizaro conforme seus interesses polticos e econmicos. Os perseguidos pela Inquisio tambm sero diferentes. Ao invs de bruxas e hereges, o principal foco de perseguies ser composto por judeus convertidos. Isso porque esse grupo havia enriquecido durante a ocupao muulmana, sendo assim, sua perseguio foi o meio mais eficaz que os Estados encontraram de se apropriarem rapidamente de suas riquezas. Alm disso, a inquisio foi utilizada para conter o avano dos protestantes na Itlia e para punir inimigos dos reis. Dentre os inquisidores mais cruis desta fase, est o frade dominicano Toms de Torquemada, o principal inquisidor espanhol. Este tinha tanto poder que rivalizava com os reis da Espanha. Calcula-se que Torquemada tenha condenado morte de 2.000 10.000 pessoas.

A frieza do frade era tamanha que ele rezava baixinho enquanto os acusados tinham sua pele queimada ,unhas arrancadas e parafusos aplicados no polegar.

Torquemada difundia que os judeus no eram confiveis e que o pas (a Espanha) precisava possuir apenas sangre limpia, ou seja, sangue puramente cristo. No af de obter dos reis catlicos a expulso de todos os judeus, promoveu, em 1490, uma inquisio espetculo, onde as vtimas foram oito judeus, acusados de praticar rituais satnicos de crucificao de crianas crists. Pressionados pelo clima de crescente intolerncia, em 31 de maro de 1492, Isabel de Castella e Fernando de Arago, (os reinos catlicos que unidos formaram a Espanha) publicaram o dito de Expulso. Foi permitido aos judeus que permanecessem at julho na Espanha, a partir da, os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram para Portugal ou Norte da frica, onde encontraram mais perseguies, outros, sem alternativas, permaneceram na Espanha como judeus ocultos. A ao intolerante de Torquemada trouxe-lhe resistncias, as quais chegaram ao papa Alexandre VI, que restringiu gradativamente seus poderes de atuao, at destitu-lo do cargo em 1494.

Entre os terrveis instrumentos de tortura que se generalizaram nesta segunda fase esto o corta-joelhos, o triturador de cabeas, o arranca seios e a donzela de ferro.

A inquisio foi extinta gradualmente ao longo do sculo XVIII, embora s em 1821 se d sua extino formal, deixando, no entanto, como herdeira a Congregao pela Doutrina da F , a mais antiga das nove congregaes institudas pela Cria Romana em substituio Suprema e Sacra Congregao do Santo Ofcio, que era a responsvel pela criao da Inquisio em si. Todavia, sua atual funo difundir a doutrina catlica e defender os pontos de sua tradio que possam estar em perigo, como consequncia de doutrinas novas no aceitveis pela Igreja Catlica. A congregao tambm trata dos casos de abuso sexual e da instituio dos ordinariatos pessoais.

4.3 A INQUISIO NO BRASIL COLNIA

Diferentemente do que ocorrera nas colnias espanholas, a Amrica portuguesa no contou com tribunal do Santo Ofcio prprio, apesar da malograda tentativa do seu estabelecimento no perodo filipino. Com efeito, a Colnia ficou sob a gide da Inquisio de Lisboa, que exercia jurisdio tambm sobre outras partes do Imprio luso: as Ilhas Atlnticas, Norte e poro Ocidental da frica.

Apesar de nunca ter tido uma sede na Colnia, a Inquisio portuguesa agiu no Brasil por meio de vrias estratgias, que variaram no tempo e no espao. As visitaes, a colaborao dos bispos e das Ordens Regulares (sobretudo a Companhia de Jesus), a Justia Eclesistica e uma rede de agentes, composta principalmente por Comissrios e Familiares, foram os principais mecanismos utilizados pelo Santo Ofcio para atingir a Colnia portuguesa.

Antes do envio das visitaes colnia e da formao da rede de agentes prprios, a colaborao dos bispos foi muito importante para a atuao do Santo Ofcio na Amrica Portuguesa.

Os bispos tinham poderes para efetuar prises, confiscar bens e enviar prisioneiros ou seus processos para a inquisio de Lisboa, que tratava dos casos relativos ao Brasil. Assumindo feies diversas, essa relao entre membros da esfera Eclesistica e Inquisio existiu durante todo o perodo colonial.

No final do sculo XVI , a Inquisio passou a enviar visitaes Amrica Portuguesa. A primeira delas, realizada por Licenciado Heitor Furtado de Mendona, ocorreu em 9 de junho de 1591, na Bahia, e estendeu-se at 1593, quando partiu para Pernambuco, onde permaneceu durante dois anos. A Bahia seria novamente visitada entre 1618 e 1621 por Marcos Teixeira. Ainda na dcada de 1620, embora a documentao seja mais escassa, temos notcia sobre uma outra visitao que percorreu o Brasil, passou por Esprito Santo, Rio de Janeiro, Santos e So Paulo. Para esta ltima apenas uma pessoa foi processada, Izabel Mendesm acusada de judasmo.

De 1591 a 1624 foram processados 245 cristos-novos, acusados de judasmo. Em 1646 realizou-se no Colgio de Campanha de Jesus, na Bahia, uma grande inquisio. Foram ouvidas mais de 120 testemunhas e denunciadas mais de 100, entre cristos-novos, hereges e feiticeiros.

A estratgia de ao do Santo Ofcio atravs das visitaes, foi utilizada sobretudo no sculo XVI e na primeira metade da centria seguinte. A partir desse perodo as visitaes entram em decadncia. Concomitante ao declnio das Visitaes, notamos um crescimento do nmero de habilitaes de agentes inquisitoriais expedidas pelo Santo Ofcio, cujo pice foi atingido no sculo XVIII. Em sua primeira dcada a Inquisio fez prises em massa. No Auto-da-F de 1711 havia 52 brasileiros.

Isso significa que a Inquisio foi mudando sua estratgia, passando a se apoiar cada vez mais na rede de agentes prprios, composta principalmente por Comissrios, Notrios, Qualificadores e Familiares.

As perseguies e os confiscos nesse perodo levaram a uma paralisao crescente na fabricao do acar, principal artigo produzido pelo Brasil na poca, o que prejudicou seriamente o comrcio. De 1694 a 1748, 18 brasileiros foram condenados morte pela Inquisio de Lisboa.

Desde as primeiras visitaes, no entanto, as denncias de prticas herticas surgiam das mais variadas formas, qualquer declarao sem provas ou deduo precipitada bastava para que as autoridades retirassem o condenado de seu lar para responder ao processo. Aps preso pelas autoridades, o acusado passava por uma srie de torturas que tinham como principal funo obter a confisso do herege. Uma das punies mais comuns era cortar as plantas dos ps dos acusado e , depois de unt-las com manteiga, expor as feridas em um braseiro. Somente quando algum no confessava o pecado a morte na fogueira era utilizada.Sendo um instrumento de forte natureza coercitiva, os membros do tribunal da Inquisio acreditavam que a humilhao pblica era um instrumento de combate bem mais eficiente que a morte. Ao longo de toda a Inquisio , cerca de 500 pessoas foram denunciadas no Brasil, sendo a maioria acusada de disseminar o judasmo.

5 - ASPECTOS JURDICOS DA INQUISIO

Em funo da inter-relao entre Igreja e Estado na Idade Mdia, a inquisio tornou-se uma operao primariamente judicial, com foco na manuteno dos interesses da Igreja pela afirmao como nica religio possvel, e do estado na perseguio de nobres e opositores ao regime do soberano e diminuio da ameaa econmica e patrocnio da coroa pelo confisco dos bens dos condenados.

O incipiente direito laico da era medieval foi fortemente influenciado pelo direito cannico. O direito cannico foi o nico redigido e era analisado desde a Alta Idade Mdia alm de aplicado exclusivamente pelos tribunais eclesisticos. A jurisdio destes tribunais, durante a Idade Mdia, estendeu-se tambm aos leigos. Portanto, era de competncia destes tribunais julgarem todo e qualquer crime ou infrao cometidos contra a religio, desde heresia e bruxaria, at adultrio.

5.2 TIPOS DE PROCESSO

Entre os sculos XII e XIII houve uma mudana no sistema penal no que confere ao regime do processo, passando de um tipo irracional (acusatrio) para um tipo racional (inquirio). Este foi o perodo de formao dos principais direitos europeus. Esta mudana foi desencadeada pela Igreja, atravs da proibio em 1215 da participao de clrigos nos ordlios, pondo fim ao processo irracional, o qual estava atrelado a participao do religioso abenoando-o. Esta mudana deve-se ao fato de que o novo modelo racional de processo garantia melhores resultados aos interesses da Igreja, pois minimizava possveis falhas de procedimento e concentrava o poder decisrio nas mos dos juizes. Para entender esta mudana, caracterizamos os dois principais tipos de processos, a seguir.

5.2.1 O ACUSATRIO

Neste tipo de processo a ao era provocada por uma pessoa particular ou seu representante, que efetuava uma acusao pblica sob juramento, iniciando um processo contra o acusado. Em caso de provas contundentes ou confisso, passava-se a sentena emitida pelo juiz. Porm, em caso de dvida, o julgamento era procedido de forma irracional, atravs, geralmente de um ordlio. Colocava-se o assunto nas mo de Deus, no cabendo ao homem investigar o suposto crime. Da a classificao de processo irracional. Os ordlios mais comuns envolviam submerso em gua ou leo fervente, e no caso de um milagre de Deus o suspeito era considerado inocente. Em caso de inocncia do suspeito o processo virava contra o acusador.

O juiz era neste tipo de processo um rbitro imparcial, nunca decidindo, apenas orquestrando o processo, o que resultava deveras num outro tipo de soluo das questes, o duelo judicial, onde o acusado e o acusador, ou seus padrinhos, duelavam e a vitria de um presumia sua inocncia.

Este perodo classificado na histria do direito como o da vingana privada.

5.2.2 O INQURITO

O processo por inqurito substituiu o acusatrio a partir do sculo XIII e foi o principal procedimento da chamada Santa Inquisio a partir do sculo XVI. Era caracterizado pela figura do juzo humano, pautado nas regras racionais do direito. O procedimento racional, evitava as principais falhas do acusatrio, como a dificuldade de julgamento dos crimes ocultos, a possibilidade de manipulao dos ordlios, o risco ao acusador, e a compurgao (vide Direito defesa) dos abastados.

Neste procedimento a acusao ainda poderia ser privada, mas o acusador no era responsabilizado, podendo ser inclusive annimo. Veio de encontro ao interesse da Igreja em sufocar a influncia dos judeus, mouros e rabes, bem como a proliferao das seitas nos territrios europeus. Os oficiais, Inquisidores, podiam eles mesmos investigar e denunciar quem quisessem com base em suas prprias desconfianas. Alm do que quaisquer boatos nas aldeias j serviam de base para os procedimentos inquisitoriais. Qualquer alterao de comportamento ou humor poderia desencadear acusaes de heresia, inclusive acusaes provocadas por inimizade eram investigadas. Porm o procedimento racional no representou um avano evolutivo do ponto de vista da defesa, pois ao concentrar os poderes de investigao, julgamento e execuo nas mos dos oficiais inquisidores, resultou na possibilidade de ao das maiores barbries cometidas pelo homem contra si mesmo at ento.

Os crimes denunciados eram julgados pelos oficiais, que representavam o sagrado e o soberano, visto que este era expresso do poder secular consagrado pelos bispos, e as penas executadas sob o prisma do direito de punir do soberano. Os crimes investigados pela inquisio no eram mais de uma parte a outra e sim crimes contra o prprio estado. Este perodo ficou caracterizado na histria do direito como perodo da vingana pblica.

5.3 FORMAS DE ACUSAO

No acusatrio, a denncia privada.

No inquisitrio, denncia privada, inclusive annima; de oficio (dos prprios inquisidores) baseada em boatos, fofocas, suspeitas pblicas baseadas nos tratados de bruxaria, e indicao de cumplicidade extrada do ru atravs de tortura. Este tipo de acusao, transformava cada processo concluso em uma gama de novos processos ocasionando a multiplicidade dos mesmos. As acusaes geralmente estendiam-se aos familiares do investigado.

5.4 MTODOS COMUMENTE UTILIZADOS

No acusatrio, os mtodos de julgamento eram irracionais. Ficavam a cargo do divino. Eram utilizados desde ordlios at duelos judiciais. No haviam investigaes alm das provas apresentadas pelo acusador. O juiz era apenas um organizador do processo.

No inquisitrio, o interrogatrio do acusado e de testemunhas era a principal ferramenta de investigao. Alm do interrogatrio, o corpo dos acusados de bruxaria e pacto com o demnio era inspecionado na busca de sinais na pele (genticos ou cicatrizes) e alfinetado sistematicamente na busca por reas de insensibilidade como prova da ligao com o satnico.

As denncias eram acatadas de diversas fontes, e a necessidade de resoluo dos casos dentro do mtodo judicial cannico exigiu a adoo de mtodos de tortura, autorizados pela Igreja em 1252, tambm para os crimes de heresia e bruxaria, conforme orientao dos tribunais seculares. A utilizao da tortura, cada vez mais tcnica e cruel, ocasionou um fenmeno de confisso superior a 95% dos casos, e era pea fundamental do inqurito, pois os juzes no queriam condenar algum injustamente, mas invariavelmente fariam qualquer coisa para obterem uma confisso.

Um dos aspectos identificados na evoluo das tcnicas de tortura corresponderia hoje ao critrio de dosimetria da pena. Algumas tcnicas eram preferidas por possibilitarem a dosagem do sofrimento a ponto de estender a aplicao da tcnica sem levar o acusado a morte, e suspender mais facilmente aps a obteno da confisso desejada.

O condenado, caso confesso, era obrigado a assumir em pblico os seus desvios, alm de pedir perdo a Deus e aos santos pelos seus pecados. Na maioria dos casos era a ltima sada para um desfecho misericordioso: ser morto por estrangulamento antes de ser queimado, para no sofrer demasiado sendo queimado ainda vivo.

5.5 DIREITO A DEFESA

No acusatrio, o direito a defesa resumia-se ao mtodo irracional, onde podia contar com a sorte, subornar os responsveis pelos ordlios, ou caso tivesse condies, utilizar-se da compurgao. A compurgao consistia em reunir muitas testemunhas a favor da inocncia e da honestidade do acusado, garantindo assim sua absolvio. Era um artificio empreendido unicamente por pessoas de renomada reputao e/ou muitas posses.

J no inquisitrio, ao contrrio do que possa parecer, e apesar da sistematicidade pelo mtodo desenvolvido a partir do direito cannico, onde eram registradas todas as etapas do mesmo a partir da acusao, o direito a defesa era quase incuo. Conforme (Foucalt, 2012), os procedimentos corriam em segredo absoluto. Tamanho segredo era utilizado de modo que o acusado no sabia muitas vezes do que tinha sido acusado, quem o acusara, e na remota hiptese de absolvio, assinava um termo de compromisso de manter em segredo tudo o que foi desenvolvido dentro do processo de investigao. Este segredo tolia a possibilidade de ampla defesa, e a nica averiguao s vezes utilizada pelos inquisidores era perguntar ao acusado uma lista de seus inimigos para ver se dentre eles figurava o acusador. A confuso dos acusados era tamanha que algumas vezes confessavam sob tortura um crime, e na verdade estavam sendo acusados de outro.

5.6 TIPOS DE CONDENAO

A confisso obtida era o auge do processo inquisitrio, em seguida vinha a condenao, e imediatamente a execuo da pena.

Durante a vigncia do processo inquisitrio, as penas comumente aplicadas eram, humilhao pblica, priso, priso perptua, mutilao seguida de morte, morte na fogueira, estrangulamento seguido de incinerao, morte por decapitao podendo utilizar-se da guilhotina.

Todo condenado confesso era obrigado a assumir a culpa em pblico, para caracterizar o grau exemplar da pena como forma de constranger o restante da populao em cometer os mesmos delitos, e assim justificar a ao dos inquisidores oficiais.

Em todos os casos de condenao, a pena, sem carter de pessoalidade, passava pelo confisco total dos bens do condenado, sob o pretexto de custear o processo como um todo. A pena de confisco foi amplamente utilizada e incentivada durante a Inquisio espanhola na Idade Mdia contra os infiis como forma de arrecadao pela coroa de Arago e Castella, e de equilbrio econmico entre a nobreza espanhola predominantemente feudatria, contra os povos judaicos e rabes, competentes mercantilistas.

Alm do que esta impessoalidade da pena expandia pelo critrio inquisitorial da hereditariedade as acusaes a todos os membros da famlia do condenado, passando estes ao grau de suspeitos pelos mesmos crimes do executado.

CONCLUSO

Como visto, a Inquisio foi um tema bastante amplo no que tange ao estudo da Idade Mdia e da Idade Moderna, pois sendo fruto da expresso do poder dual, exercido pela Igreja e pelo estado absolutista medieval ,serviu a ambos em seus propsitos de afirmao. A Igreja utilizou-se da perseguio aos infiis e descrentes e contou com o aparato blico do estado em seu favor. O estado absolutista utilizou-se deste mecanismo desenvolvido pela igreja para eliminar os entraves aos seus interesses econmicos e de poder, respaldando-o sempre que necessrio. um fenmeno na histria da humanidade to importante pelas revolues que o sucederam quanto pelo enorme genocdio que provocou. Foram tantas arbitrariedades provocadas nestes processos inquisitrios, que acabaram levando uma gama de pensadores a disseminar doutrinas revolucionrias, como as que embasaram a revoluo francesa no final da Idade Moderna. Esta revoluo marcou o fim de uma relao de poder exercido pela monarquia sobre o povo e veio a decretar o nascimento do reconhecimento positivo dos direitos fundamentais do homem.

No podemos dizer que a humanidade aprendeu a lio, pois, aps a Idade Mdia ainda vem presenciando vrios tipos de genocdio e toda sorte de atentados condio humana, mas, se esquecermos deste episdio, corremos o risco de repetir os nossos erros do passado.

Identificar os aspectos legais e jurdicos da inquisio fornece subsdios ao entendimento do sistema jurdico e penal que exercemos na contemporaneidade e como ele se desenvolveu, ajuda a entender que ele no perfeito e instiga a pensar como poderamos melhor-lo sem recair nas armadilhas as quais j so por ns conhecidas.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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