Trabalho, Magistério e Gênero em Nova Iguaçu

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  • 7/24/2019 Trabalho, Magistrio e Gnero em Nova Iguau

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    Trabalho, Magistrio e Gnero em Nova Iguau

    Miriam de Oliveira Santos - [email protected]

    Dandara de Oliveira Ramos - [email protected]

    Resumo: O objetivo desse artigo analisar os dados obtidos nos arquivosdisponveis sobre gnero e magistrio de 1930 a 2000, no municpio de Novagua!u especialmente aqueles relacionados "s escolas normais e a secretariamunicipal de educa!#o$ Nesse perodo ocorreu uma trans%orma!#o na educa!#oe uma grande quantidade de mul&eres entraram na pro%iss#o, ainda encaradacomo se o magistrio %osse uma e'tens#o do lar$ ( importante lembrar queinicialmente o magistrio era um trabal&o e'clusivamente masculino e somente os

    &omens estudavam e ensinavam$ )nalisaremos como a mul&er passou a sededicar ao trabal&o docente e de que maneira esta *rea passou a ser vista comouma pro%iss#o %eminina por e'celncia, inclusive associando+a a necessidade dequalidades %emininas- como, por e'emplo, a maternidade e sensibilidade$ )scondi!.es sociais q ue a mul&er tin&a na sociedade s#o transpostas para asinstitui!.es escolares e resultam em separa!.es e discrimina!.es e%etuadas combase nas rela!.es de gnero e ainda em uma desvalori/a!#o do magistrio apartir da inser!#o %eminina$ ) metodologia utili/ada %oi a pesquisa documental ebibliogr*%ica, bem como entrevistas, &istrias de vida e depoimentos$ Objetiva+secontribuir para uma &istria do trabal&o docente em Nova gua!u$

    om base nos estudos reali/ados por NO45)620078, podemos a%irmar

    que o trabal&o %eminino e'iste desde o sculo d$ , onde os %ilso%os %a/iam

    questionamentos a respeito das mul&eres o que s#o e quais suas %un!.es$

    )%irmavam que antes de tudo, as mul&eres tin&am seu lugar e seus deveres, ou

    seja, j* e'istia desigualdades nas rela!.es de classe e gnero$

    om a 5evolu!#o ndustrial, no sc ::, ocorre uma intensi%ica!#o da

    inser!#o %eminina no mundo do trabal&o, j* que a maquinaria podia dispensar o

    uso da %or!a muscular$ 4nt#o, junto com o advento da maquinaria ocorre o

    ingresso de%initivo da mul&er no mercado de trabal&o$ om a entrada da mul&er

    1Doutora em )ntropologia ;ocial pela niversidade esquisadora associada do N?cleonterdisciplinar de 4studos @igratrios e pro%essora adjunta do nstituto @ultidisciplinar da niversidade

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    nas %*bricas, o capital come!a a se bene%iciar, uma ve/ que, tare%as como

    costurar, remendar, bordar, etc$, s#o substitudas pela compra de mercadorias j*

    con%eccionadas, aumentando assim a circula!#o de mercadorias$

    m %ator importante, era o %ato da m#o+de+obra %eminina custar mais

    barato$ om isso, permitia+se que o capitalismo e'tra+se o m*'imo de mais+valia

    absoluta atravs, simultaneamente, da intensi%ica!#o do trabal&o, da e'tensa

    jornada e dos sal*rios mais bai'os que os masculinos$ Na dcada de C0, a mul&er

    trabal&adora intensi%ica suas lutas pela sua emancipa!#o, acentua sua luta

    poltica e sindical$

    ) sociedade brasileira ainda bastante conservadora da dcada de C0 assistiu

    estarrecida verdadeiras revolu!.es %eministas$ )s mul&eres 6$$$8, n#o mais seaceitaram somente como reprodutoras da ra!a6$$$8 O casamento dei'ou de ser a?nica op!#o de vida$ 6)D@4E), 199F p$C28

    >ara )D@4E) 6199F8,o %eminismo levou " introdu!#o do conceito de

    gnero como categoria cient%ica que e'plicita as rela!.es sociais entre os se'os,

    num sentido amplo o gnero passa a ser entendido como uma constru!#o social,

    cultural e &istrica elaborada sobre a di%eren!a se'ual e'istente entre &omens e

    mul&eres$Eiante disso, a perspectiva %eminista permite por parte das mul&eres,

    apropriar+se de uma conscincia poltica que as mobili/e no sentido de levar "

    apreens#o de que as desigualdades s ser#o superadas se %orem abolidas as

    divis.es sociais de se'o, assim como de ra!a e classe social$

    niciaremos com um &istrico de como o magistrio se tornou um nic&o

    pro%issional %eminino$3( importante lembrar que inicialmente o magistrio era

    e'clusivamente masculino e somente os &omens estudavam e ensinavam$

    )t a independncia do Brasil n#o e'istia educa!#o popular, mas depois

    dela o ensino, pelo menos nos termos da lei, se tornou gratuito e p?blico, inclusive

    para mul&eres$ sso aconteceu a partir da primeira lei do ensino, datada de 1G2C,

    que deu direito " mul&er de se instruir 6porm com conte?dos di%erenciados dos

    ministrados aos &omens8 e que admitiu o ingresso de meninas na escola prim*ria

    6B5;HN e )@)EO, 19GG8$ ) partir da a %orma!#o de pro%essoras do se'o

    3A RAIS (Relao Anual de Informaes Sociais) do Ministrio do Traal!o e em"re#o a"onta $ue em2%%&' dos 2**2+ "ostos de traal!o "ara "rofessores ,,- eram ocu"ados "or mul!eres

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    %eminino se %e/ necess*ria, pois os tutores deveriam ser do mesmo se'o que

    seus alunos$

    ) no!#o de que as mul&eres devem ser controladas est* implcita

    nas atividades que ela e'erce e que sempre e'erceu na sociedade e a sua

    aceita!#o da mul&er como docente n#o vai mudar as rela!.es e'cludentes de

    gnero$

    @esmo quando a mul&er entra no mercado de trabal&o, essa no!#o de

    controle est* implcita nas atividades que ela e'erce$ >odemos perceber isso na

    a%irma!#o de Brusc&ini e )mado 619GG, p$ F8

    Ee uma %orma velada, o controle da se'ualidade %eminina justi%icaria da por

    diante, que mul&eres trabal&assem com crian!as, num ambiente n#o e'posto aosperigos do mundo e protegido do contato com estran&os I especialmente os dose'o oposto$

    @as o controle e a administra!#o do ensino continuavam sob gerncia

    masculina$ >or mais que a educa!#o ten&a passado por algumas mudan!as na

    pr*tica escolar, a %emini/a!#o do magistrio continua se perpetuando mais e

    mais, desvalori/ando o papel da mul&er docente ano aps ano$ 4 o &omem

    continuou se distanciando das salas de aulas in%antis$

    No entanto, a condu!#o da educa!#o n#o era e'ercida pelas mul&eres,

    elas apenas lecionavam$ ) estrutura!#o da mesma, os cargos administrativos e

    de lideran!a, eram geridos pelos &omens$ Eessa %orma, &avia um grande controle

    sobre a atua!#o das pro%essoras, inclusive sobre sua se'ualidade$ ) escola

    continuava relegando a mul&er a um plano secund*rio, perpetuando a submiss#o

    e'istente na sociedade patriarcal$

    Observamos que, no decorrer do sculo ::, os &omens que se dedicavam

    " educa!#o possuam %acilidades de promo!#o na carreira do magistrio e nosistema educacional em geral, enquanto as mul&eres tin&am uma ascens#o

    pro%issional muito di%cil, o que as %a/ia continuar na carreira de pro%essora

    prim*ria por longo tempo$

    ma das possveis e'plica!.es para essa di%iculdade pode estar

    relacionada com o %ato de que quem cursava o normal at a dcada de 1970 n#o

    podia ter acesso aos cursos superiores$ Eessa %orma, as mul&eres, que j* eram

    maioria nessa *rea, dos institutos normais n#o podiam continuar seus estudos e,assim, tin&am que se restringir ao magistrio prim*rio$ )ps essa dcada abriu+se

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    camin&o para que as alunas oriundas dos cursos normais pudessem cursar

    alguns cursos de

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    indivduos durante a in%Mncia$ Eessa %orma, a mul&er deveria seguir seu dom- ou

    voca!#o- para a docncia$

    $ Eiante disso, o magistrio prim*rio passou a ser visto como uma e'tens#o

    do lar- e as pro%essoras como- segundas m#es-, por isso a pro%iss#o estar

    relacionada " quest#o da maternidade, concomitantemente uma quest#o

    %eminina$

    4n%im, para Nvoa 619928, a %emini/a!#o do magistrio, em especial

    o magistrio das sries iniciais um dos principais aspectos que contriburam

    para desvalori/a!#o social da pro%iss#o, pois tem em sua gnese como

    pro%iss#o, caractersticas como docilidade, %alta de competitividade e obedincia,

    sendo estes %atores de suma importMncia para a manuten!#o da ordem que,

    aliado ao %ato da escola ser concebida como o espa!o do silncio, da obedincia,

    da disciplina, lugar de ouvir e n#o %alar, trans%orma a educa!#o e a pro%essora

    em meros reprodutores de um sistema$

    Na cidade do 5io de =aneiro a %orma!#o de pro%essores institucionali/ada

    em 1GG0 atravs da %unda!#o da 4scola Normal do @unicpio da orte, que em

    1930 seria trans%erida para a ijuca com o nome de nstituto de 4duca!#o$

    Os dados preliminares que obtivemos para Nova gua!u comprovam aquilo

    que a literatura aponta para o estado do 5io de =aneiro e o Brasil de um modo

    geral, a ?nica singularidade observada que, talve/ pela implanta!#o tardia do

    ensino regular no municpio, o processo de %emini/a!#o ocorreu nas primeiras

    dcadas do sculo :: e n#o na transi!#o do sculo :: para o ::$

    Contexto Histrio

    O municpio de Nova gua!u %ica na regi#o metropolitana do estado do 5io de

    =aneiro, na *rea denominada Bai'ada

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    maior atividade no setor de servi!os CC,GGR , seguido da ind?stria, com 17,22R

    6dados do B4, 200J, n >re%eitura @unicipal de Nova gua!u8$

    Historicamente, o municpio teve sinais de progresso em sua economia no

    %inal do sculo :: e incio do ::, quando se tornou a re%erncia do estado na

    produ!#o de laranjas$ ) citricultura c&egou a seu *pice no municpio entre as

    dcadas de 1920 e 1970$ ) pro'imidade com a metrpole, o transporte do

    produto pela via %rrea alm das boas condi!.es de solo %avoreceu a citricultura

    atraindo vastos investimentos para a regi#o$ >orm o crescimento %oi interrompido

    com a queda nas e'porta!.es diante do incio da ;egunda uerra @undial,

    levando a economia ao declnio$ ) citricultura atacada tambm pela debilidade

    no transporte, que j* carecia de investimentos para sua mel&ora, alm de

    di%iculdades no arma/enamento dos produtos e in%esta!#o de pragas que

    devastam planta!.es 6;oares, 19F78$

    )ssim, Nova gua!u que compreendia nove distritos e'perimenta um

    perodo de crise e %ragmenta!#o nas dcadas %inais do sculo passado$ 4ntre

    seus distritos &avia di%eren!as marcantes e regi.es claramente independentes do

    poder central e cuja popula!#o se caracteri/ava como suburbana e estabelecendo

    rela!.es de trabal&o di*rio com a @etrpole do 5io$ Eesta %orma nota+se a

    independncia destas regi.es, que &oje comp.em os municpios da Bai'ada

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    c&egada de pessoas de diversas regi.es do estado e tambm do pas que

    passam a residir na Bai'ada$ 7

    ! e"ua#o em Nova Iguau

    O primeiro estabelecimento de ensino regular da 5egi#o de Nova gua!u

    %oi o Umn*/io Deopoldo %undado em 1930J, apesar de ser uma escola particular

    %oi subvencionado pelo governo municipal e recebeu quin&entos mil reis mensais

    a partir da sua instala!#o %icando tambm isento de impostos municipais$

    )travs de um artigo publicado no jornal O lobo- de 09Q02Q1930 pudemos

    descobrir que o colgio o%erecia internato para meninos e e'ternato para ambos

    os se'os e ensino secund*rio$ O diretor era o pro%essor Deopoldo @ac&adoBarbosa e o corpo docente composto pelos seguintes pro%essores )lberto Nunes

    Brigag#o, ledon avalcante, =o#o Barbosa 5ibeiro, =os >edro ardoso,

    Henedina de Barros aulino e Orlando =os rocurava+se

    con%irmar que o processo de %emini/a!#o ocorreu da mesma %orma em todas as

    regi.es do Brasil$

    *

    Dados otidos atra/s do site da "refeitura de no/a I#uau.0ssa escola funciona at !oe "orm mudou de nome "ara ol#io eo"oldo

    ,

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    ) partir das bases tericas, percebeu+se que esse processo aconteceu em

    todas as regi.es do Brasil de %ormas parecidas, respeitando claro as

    especi%icidades de cada lugar$ 4m Nova gua!u n#o %oi di%erente, a escol&a do

    olgio Deopoldo justi%ica+se por ser a primeira escola da Bai'ada aulo$ 199F$ p$ C1+CG

    B5;HN, $L )@)EO, $ 4studos sobre mul&er e educa!#o$ Cadernos dePesuisa.;#o >aulo, n$ F7, p$ 7+13, %ev$, 19GG$

    )@>O;, &ristina ;iqueira de ;ou/a e ;DX), @aria Xera Ducia aspar da6org$8$!emini"a#$o do ma%ist&rio' vest(%ios do passado ue marcam o presente$Bragan!a >aulista niversidade ;#o H, 2002$

    ))N, E$ et al$ Histria, @emria e )utobiogra%ia da >esquisa 4ducacional e na

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    H)@ON, @agda$ raet+ria de !emini"a#$o do Ma%ist&rio' ambi%uidades econ,litos$ Belo Hori/onte 4d$ )utntica, 200J$

    ENY, @argaret&L X);ON4DO;, 5enata Nunes e @iranda, ;&irleU )parecida$

    O ue produ" o silenciamento das mulheres no ma%ist&rio/ nENY, @argaret& eX);ON4DO;, 5enata Nunes 6org$8$>luralidade cultural e inclus#o na%orma!#o de pro%essoras e pro%essores gnero, se'ualidade, ra!a, educa!#oespecial, educa!#o indgena, educa!#o de jovens e adultos$ Belo Hori/onte$2007$ p$22+7G$

    ereira arval&o$ 0 mulher como pro,issional deeduca#$o' al%uns aspectos de sua traet+ria de ,orma#$o.&ttpQQWWW$portalseer$u%ba$brQinde'$p&pQr%acedQarticleQvieWolticas rbanas$ n lobali"a#$o*

    !ra%menta#$o e Re,orma rbana.;#o >aulo, ivili/a!#o Brasileira, 199C

    DO5O, uacira$ Dopes$ )nero* se3ualidade e educa#$o' uma perspectivap+sestruturalista.>etrpolis, 5= Xo/es, 199C$

    @)5)orto, 4di!.es)%rontamentos,19CF$

    NO45), laudia @a//ei. 0 ,emini"a#$o no mundo do trabalho' entre aemancipa#$o e a precari"a#$o. ampinas, ;>$ )utores )ssociados$ 2007$

    NZXO), )ntonio$ Os pro%essores e sua &istria de vida$ n NZXO), ) $ 7ida dePro,essores, >orto >orto 4di!.es, 1992$

    >54)D E4 NOX) )[$ n&ttp\\WWW$WW$novaiguacu$rj$gov$br$)cessado em 2J de abril de 2009$

    5O;4@B45, ro%iss#o Eocente ma quest#o de gnero^ n!a"endo )nero n89 - Corpo* 7iol)ncia e Poder$

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    )@B)5), 4lomar$ )