3
Outro grito por liberdade é o da banda Legião Urbana. Ativa entre janeiro de 1982 e outubro de 1996, mês da morte de seu vocalista, Renato Russo, várias de suas produções abordam essa questão, de diversas formas. Apesar de a grande maioria de seus álbuns serem posteriores à época do regime militar no Brasil, seus integrantes nasceram e viveram nesse contexto. Isso, obviamente, influenciou a história, o pensamento e as músicas que compuseram. O único disco feito por Dado, Bonfá e Renato no período tem o mesmo nome do conjunto, e foi gravado em 1985. Contém músicas como “O Reggae”, “Baader-Meinhof Blues” e “Geração Coca-Cola”, que abordam o tema em questão. Na primeira, o eu lírico fala sobre o que chama de “meu primeiro contato com as grades”, aos três anos de idade, em seu primeiro dia na escola. Diz: “Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me dissessem.” A segunda leva o nome de uma organização terrorista alemã que matou muitas pessoas no país nos anos 70. Uma de suas estrofes diz: “Não estatize meus sentimentos. Pra seu governo, o meu estado é independente.” “Geração Coca-Cola”, diferentemente das outras duas, é extremamente conhecida e admirada pelo público. A letra da música fala por si só. Aponta a falta de liberdade a ponto de comparar as pessoas de sua geração a robôs. No final de sua apresentação, Renato ainda comenta: “Vamos torcer pra que as coisas mudem, né?” TOCA MÚSICA “GERAÇÃO COCA-COLA”, 2’ Em toda a obra do grupo, o assunto persiste. Seja no âmbito trabalhista, em “Fábrica”, do disco “Dois”, cultural, em “’Índios’”, também deste, no da violência (A música “Teatro dos Vampiros”, do quinto álbum, intitulado V, tem um verso que diz: “Os assassinos estão livres, nós não estamos.”) A abordagem toca até em planos como as drogas (em “Dado Viciado”) e a depressão (em “Clarisse”), que impedem a liberdade. A prisão é demonstrada nas duas músicas, pertencentes ao mesmo trabalho, póstumo, chamado “Uma Outra Estação”, da

Trabalho - Professor Santoro (Jornalismo no Rádio e na TV)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho dos alunos de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) para a disciplina do primeiro ano (Jornalismo no Rádio e na TV)

Citation preview

Page 1: Trabalho - Professor Santoro (Jornalismo no Rádio e na TV)

Outro grito por liberdade é o da banda Legião Urbana. Ativa entre janeiro de 1982 e outubro de 1996, mês da morte de seu vocalista, Renato Russo, várias de suas produções abordam essa questão, de diversas formas.

Apesar de a grande maioria de seus álbuns serem posteriores à época do regime militar no Brasil, seus integrantes nasceram e viveram nesse contexto. Isso, obviamente, influenciou a história, o pensamento e as músicas que compuseram.

O único disco feito por Dado, Bonfá e Renato no período tem o mesmo nome do conjunto, e foi gravado em 1985. Contém músicas como “O Reggae”, “Baader-Meinhof Blues” e “Geração Coca-Cola”, que abordam o tema em questão.

Na primeira, o eu lírico fala sobre o que chama de “meu primeiro contato com as grades”, aos três anos de idade, em seu primeiro dia na escola. Diz: “Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me dissessem.”

A segunda leva o nome de uma organização terrorista alemã que matou muitas pessoas no país nos anos 70. Uma de suas estrofes diz: “Não estatize meus sentimentos. Pra seu governo, o meu estado é independente.”

“Geração Coca-Cola”, diferentemente das outras duas, é extremamente conhecida e admirada pelo público. A letra da música fala por si só. Aponta a falta de liberdade a ponto de comparar as pessoas de sua geração a robôs. No final de sua apresentação, Renato ainda comenta: “Vamos torcer pra que as coisas mudem, né?”

TOCA MÚSICA “GERAÇÃO COCA-COLA”, 2’

Em toda a obra do grupo, o assunto persiste. Seja no âmbito trabalhista, em “Fábrica”, do disco “Dois”, cultural, em “’Índios’”, também deste, no da violência (A música “Teatro dos Vampiros”, do quinto álbum, intitulado V, tem um verso que diz: “Os assassinos estão livres, nós não estamos.”)

A abordagem toca até em planos como as drogas (em “Dado Viciado”) e a depressão (em “Clarisse”), que impedem a liberdade. A prisão é demonstrada nas duas músicas, pertencentes ao mesmo trabalho, póstumo, chamado “Uma Outra Estação”, da mesma forma: A imagem tanto de Dado quanto de Clarisse trancados no banheiro. Ele, injetando heroína. Ela, “fazendo marcas no seu corpo com seu pequeno canivete”, nas palavras do próprio artista.

Entretanto, o disco que mais trata sobre o tema é “Que País é Este”, o terceiro da banda, lançado em 1987. Isso porque contém músicas da época do “Aborto Elétrico”, o grupo do qual Renato era integrante antes da formação da Legião e que deu origem não só a esta, mas também ao Capital Inicial.

O próprio álbum recebe um acréscimo no nome, entre parênteses. O nome correto é: “Que País é Este (1978/1987)”. E é justamente a essa primeira data, nove anos antes de o trabalho estar à venda, que se referem as músicas que o compõem. Ano em que houve a proibição, por exemplo, de greves.

Page 2: Trabalho - Professor Santoro (Jornalismo no Rádio e na TV)

O Aborto Elétrico seguia um gênero mais voltado pro punk rock, por influência das bandas que inspiraram seus componentes: “Smiths” e “The Cure” são algumas delas. O contexto, o estilo e a juventude de seus membros cooperaram para as músicas agressivas e cheias de críticas ferrenhas que produziu.

Tendo, portanto, florescido em 1987, mas com raízes em pleno governo militar brasileiro, a obra conta com músicas como “Faroeste Caboclo”, “Mais do Mesmo”, “Conexão Amazônica” e a que dá nome ao disco, que foram impedidas de tocar nas rádios. Todas são, de uma forma ou de outra, contrárias ao governo e às mazelas sociais, transmitindo a ideia não simplesmente de liberdade, mas de libertação.

Faroeste, em sua imensa letra, sugere o rock e, implicitamente, a maconha como a forma usada por João de Santo Cristo pra “se libertar”. “Conexão Amazônica” foi duramente criticada, para além de sua temática (o tráfico de drogas) - que a faz censurada até hoje - por ser considerada “bate-estaca”, ou seja, repetitiva, e musicalmente fraca. Entre seus versos, encontram-se: “O que eu quero eu não tenho/O que eu não tenho eu quero ter/Não posso ter o que eu quero/E acho que isso não tem nada a ver”.

Que País é Este trata novamente da questão cultural, uma vez mais citando os índios, e fala sobre sua a exploração e sobre o descaso do governo e da população em geral por eles, e, por outro lado, da supervalorização do enriquecimento do país