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EDUCAÇÃO EM DEBATE Cristiane Porfírio de Oliveíre do Rio! Trabalho, sindicato e consciência de classe: o debate (ainda) , . necessano' I FC I Resumo o presente artigo empreende, de forma introdutória, o debate ainda necessário acerca das categorias marxis- tas: trabalho, sindicato e consciência de classe. Estes conceitos permanecem importantes na atual crise estrutural do capital, espraiada a todas as dimensões do ser social, pela persistência do trabalho como categoria central da sociabilidade humana, bem como pela importância da organização e da luta dos trabalhadores no processo de superação da sociedade de classes. Esta realidade demanda por parte dos organismos de representação dos trabalha- dores, dentre eles o sindicato, o vigoroso papel de arregimentar a consciência de classe, presa nos desvãos dos discursos mistificadores da ideologia dominante, empunhando - mais do que nunca - a desafiadora tarefa de articular os interesses imediatos aos interesses históricos do "ser que vive do trabalho" com vistas à construção do socialismo. Palavras-chave: trabalho, sindicato, consciência de classe. Abstract Labor, labor unions and class consciousness: the debate still needed The article focuses upon the debate around the Marxist categories related to labor, labor unions and class consciousness. The author defends that the relevance of the above mentioned debate is reaffirmed in the present social context, which is characterized by the effects of capital's structural crisis (Mészâros) over ali dimensions of the social being. From this theoretical point of view, it is stated that the labor category remains central to the understanding of the process of social reproduction, and, moreover, it reasserts the importance of the labor struggle towards the overcoming of the capitalist order. In this process labor unions play a most significant role concerning the development of class consciousness, against the dominant wave of mystifying paradigms and speeches about reality, undertaking the task of articulating immediate and historical interests, from the perspective of the working class. Keywords: labor, class consciousness, labor union. _ ane Porfirio do Rio, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da UFC. Bolsista da CAPE- . rio ig.corn.br. o e pane integrante da Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira C=:\~r5;ll!"-::'~~ í-eeerat Ceará - UFC. É pane também da produção do grupo de pesquisa Trabalho, Educação e Luta de Class - - e Pes isas 1ovimento Operário - IMO, da Universidade Estadual do - .•• _'1026. V I - N° 47 - 2004

Trabalho,sindicato e consciência de classe: o debate ... · ... o salto ontológico do ser bi- ... do trabalho" está equivocada, ... uma necessidade natural de intercâmbio do homem

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EDUCAÇÃOEM DEBATE

Cristiane Porfírio de Oliveíre do Rio!

Trabalho, sindicato e consciênciade classe: o debate (ainda)

, .necessano'

IFC I

Resumo

o presente artigo empreende, de forma introdutória, o debate ainda necessário acerca das categorias marxis-tas: trabalho, sindicato e consciência de classe. Estes conceitos permanecem importantes na atual crise estrutural docapital, espraiada a todas as dimensões do ser social, pela persistência do trabalho como categoria central dasociabilidade humana, bem como pela importância da organização e da luta dos trabalhadores no processo desuperação da sociedade de classes. Esta realidade demanda por parte dos organismos de representação dos trabalha-dores, dentre eles o sindicato, o vigoroso papel de arregimentar a consciência de classe, presa nos desvãos dosdiscursos mistificadores da ideologia dominante, empunhando - mais do que nunca - a desafiadora tarefa dearticular os interesses imediatos aos interesses históricos do "ser que vive do trabalho" com vistas à construção dosocialismo.

Palavras-chave: trabalho, sindicato, consciência de classe.

Abstract

Labor, labor unions and class consciousness: the debate still needed

The article focuses upon the debate around the Marxist categories related to labor, labor unions and classconsciousness. The author defends that the relevance of the above mentioned debate is reaffirmed in the presentsocial context, which is characterized by the effects of capital's structural crisis (Mészâros) over ali dimensionsof the social being. From this theoretical point of view, it is stated that the labor category remains central to theunderstanding of the process of social reproduction, and, moreover, it reasserts the importance of the laborstruggle towards the overcoming of the capitalist order. In this process labor unions play a most significant roleconcerning the development of class consciousness, against the dominant wave of mystifying paradigms andspeeches about reality, undertaking the task of articulating immediate and historical interests, from theperspective of the working class.

Keywords: labor, class consciousness, labor union.

_ ane Porfirio do Rio, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da UFC. Bolsista da CAPE-. rio ig.corn.br.

o e pane integrante da Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação BrasileiraC=:\~r5;ll!"-::'~~í-eeerat Ceará - UFC. É pane também da produção do grupo de pesquisa Trabalho, Educação e Luta de Class

- - e Pes isas 1ovimento Operário - IMO, da Universidade Estadual do

- .••_'1026. V I - N° 47 - 2004

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Introdução

Vivemos "tempos de divisas, tempo degente cortada" como já anunciava nosso poetamaior, Drummond. Em tempos como estes aconsciência humana é impulsionada pela ideo-logia dominante a fragmentar-se em concepçõesparciais e/ou a caminhar na direção dos irra-cionalismos, se desenraizando da objetividadematerial. Assim, afirma-se na atualidade - regidapelo capital em crise - que o trabalho perdeu acentralidade na sociabilidade dos homens e queteríamos aportado à sociedade do conhecimento,a qual teria a ciência como principal motor. Esseemaranhado teórico, a nosso ver duvidoso, põeem cheque as grandes narrativas para daí aduzira superação do construto marxista, paradigma demaior vulto da modernidade.

Preocupados com tais elaborações, escre-vemos este artigo com o intuito de reafirmar otrabalho enquanto categoria fundante e centralda sociabilidade humana e elucidar a importân-cia da organização e da luta dos trabalhadoresatravés dos seus históricos instrumentos de or-ganização, dentre eles, o sindicato, no sentidode arregimentar a consciência de classe com vis-tas à superação da ordem societal estranhada emistificadora do capital.

Para tanto, dividimos o artigo em três par-tes: na primeira apresentamos a coneepção mar-xista de trabalho, reafirmando sua centralidadeno mundo dos homens; na segunda, tratamos dadiscussão referente ao papel do sindicato, en-quanto importante instrumento de organizaçãoda luta dos trabalhadores, apontando com Més-záros os desafios postos, hoje, ao movimento sin-dical combativo; e, por fim, na terceira parte, tra-ramos da importante questão relativa à forma-ção da consciência de classe dos trabalhadores,apresentando em seguida as considerações finais.

Esfera do ser social: o fazer-sehomem pelo trabalho

o processo evolutivo, complexo e contra-ditório, que originou, através de milhares de sé-:ulos e mediações, as esferas ontológicas, carre-zou no seu bojo possibilidades de saltos que fo-ram do inorgânico para o orgânico e deste para a

esfera do ser social, guardando, bem entendido,a intrínseca relação entre as mesmas.

A esfera do ser social é hospedeira do "serque dá respostas", do ser que rompeu com o ca-sulo puramente instintivo, passando a agir ori-entado por uma teleologia, possuidor que é, pelaprimeira vez na história do planeta, de um ele-mento que lhe impele para além de si mesmo,que lhe possibilita superar as forças hostis danatureza, colocando-as a seu serviço.

A consciência, é o elemento que possibilitaao homem, o ser que dá respostas, dar um saltoontológico em relação aos outros animais da es-fera biológica pela via da reprodução, pela via dotrabalho.

Dessa forma, o salto ontológico do ser bi-ológico para o ser social dá-se pela reprodução,nas palavras de Lukács (1978, p.4-S) da "basedinâmico-estrutural de um novo tipo de ser".Mister observar que o salto não se expressa nafabricação do produto como tal, e sim no papelque a consciência passa a exercer, uma vez que oproduto antes mesmo de materializar-se na for-ma de objeto já existia de forma ideal na consci-ência do trabalhador. Desse modo, a consciênciadeixa de ser um epifenômeno da reprodução so-cial e passa a atuar como "um poder ontológicoefetivo", para uso mais uma vez da expressãolukacsiana, como parte essencial do processo detrabalho humano, como ato/pôr teleológico noprocesso de transformação da natureza e cons-trução de um mundo humanizado.

Assim, a grande característica do ser so-cial não é a história da reprodução biológica dosindivíduos, mas a história do desenvolvimentode como os indivíduos se organizam para trans-formar a natureza no sentido de responder àssuas necessidades, ou seja, o que determina ahistória dos homens não é, primordialmente, odesenvolvimento biológico, mas o desenvolvi-mento das relações dos homens entre si, dasrelações sociais.

Para Marx (1999 p. 27), o esforço intelec-tual distingue os homens dos animais pela cons-ciência, pela religião ou por qualquer outro ele-mento, no entanto, " ... eles próprios começam ase diferenciar dos animais tão logo começam aproduzir seus meio de vida, passo este que éconsiderado por sua organização corporal. Pro-duzindo seus meios de vida, os homens produ-zem, indiretamente, sua própria vida material".

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A centralidade do trabalho postaem questão: os termosfundamentais do debate

Tornou-se lugar comum nesta última dé-cada o discurso que afirma o fim da sociedade dotrabalho, o desaparecimento da classe trabalha-dora e o surgimento de uma nova sociabilidade,cujas determinações já não poderiam ser expli-cadas pela ontologia rnarxiana'.

Na base de tal discurso, que pretende de-clarar a invalidade do arcabouço teórico mar-xiano, duas teses são fundamentais: a de que aincorporação da ciência e dos avanços tecno-lógicos aos processos de trabalho, passou a cons-tituir-se na principal fonte criadora de riquezasocial, deixando para trás, sob a poeira do capi-talismo clássico, o trabalho, velho fator de pro-dução. E a de que a relação economia/política,base e superestrutura pensadas por Marx, foraminvertidas, fazendo caducar a teoria marxiana dovalor e do fetichismo.

Quanto à questão da perda da centralidadedo trabalho na sociabilidade humana, as análi-ses de Antunes (2000) nos mostram com clare-za e consistência que a concepção dos "críticosdo trabalho" está equivocada, uma vez que tomaa categoria trabalho de forma unívoca, identifi-cando a crise do emprego como crise do traba-lho. Para esclarecermos tal confusão ~eórica, faz-se necessário retomarmos à teoria marxiana so-bre o duplo caráter do trabalho.

Marx, desde os Manuscritos de 1844,quando escreve sobre o Trabalho alienado, e pos-teriormente, em O Capital, esclarece sobre o du-plo aspecto do trabalho: de um lado, como umprocesso natural, uma eterna necessidade de in-tercâmbio do homem com a natureza, o traba-lho concreto, criador de valor de uso; de outro, otrabalho abstrato, criador de valor de troca, comoa forma histórica de organização do trabalho sobo capitalismo:

Todo abalho humano é, de um lado, dispên-'0 'e ôr a humana de trabalho, no sentido

fisiológico, e, nessa qualidade de trabalho hu-mano iguaJ ou abstrato, cria o valor das mer-cadorias. Todo trabaJho, por outro lado, é dis-pêndio de fôrça humana de trabalho, sob for-ma especiaJ, para um determinado fim, e, nessaqualidade de trabaJho útil e concreto, produzvalores-de-uso. (s/d, p. 54).

O trabalho concreto constitui-se, segundoMarx, uma necessidade natural de intercâmbiodo homem com a natureza, necessidade detransformá-Ia a seu serviço, de hurnanízá-la, cri-ando as condições de sua própria liberdade, umavez que, escapando do jugo das forças da natu-reza, torna-se livre, capaz de realizar sua plenaexistência. Na perspectiva marxiana/lukacsiana,o trabalho" é o ato gênese do agir humano, e,enquanto tal, constituiu-se ao longo do proces-so histórico, como também, na sociedade con-temporânea, o centro/fundamento da sociabili-dade dos homens e da criação de riquezas' .

De acordo com Lukács, o trabalho é "aprotoforma do agir humano" (1996, p. 24), é acapacidade singular que possui o ser social deproduzir o novo, de transformar o mundo ao seuredor de forma consciente e direcionada. Atravésdo trabalho o homem transforma a natureza e asi mesmo, ou seja, torna-se 'homem e humanizao mundo ao seu redor. O trabalho assume umcaráter universal, ocupando o centro da vida hu-mana enquanto criador de valores de uso. Naspalavras de Marx:

o trabalho, como criador de valores-de-uso,como trabalho útil, é indispensável à existên-

cia do homem, - quaisquer que sejam as for-

mas de sociedade, - é necessidade natural e

eterna de efetivar o intercâmbio material en-

tre o homem e a natureza, e, portanto, de

manter a vida humana (S/d, p. 50).

Quanto ao segundo aspecto, trabalho abs-trato, no qual o trabalho particularmente foi ass -

3 Dentre os autores que advogam a tese do fim da sociedade do trabalho, com diferentes nuances entre si, destacamos: jü _Haberrnas, Claus Offe, André Gorz, Adam Schaff e Robert Kurz.

4 De acordo com Lessa (1996), a essência do trabalho constitui-se pela relação dialética entre teleologia e causalidade, encapacidade de projetar idealmente e previamente a finalidade de uma ação 'e os nexos causais do mundo objetivo/real. O queleva a reforçar com esse autor que a teleologia, no pensamento lukacsiano, longe de constituir-se um epifenômeno da processual'social, constitui-se enquanto "categoria ontologicamente objetiva" pertencente à essência do mundo dos homens .

. Isso não significa dizer que todos os atos humanos sejam reduzidos a atos de trabalho. Contudo, reafirmamos, com Lukács,trabalho constitui-se a protoforma da atividade humana, modelo de toda práxis.

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.:. ao longo das sociedades regidas pelo po-ce mando do capital, sobretudo na socieda-

italista, quando o estranhamento das re--- - ociais de produção são elevadas à mais- • tência, fazendo com que os produtores se- :entem como proprietários de objetos- leis, convertendo o homem e as relaçõese tabelecern entre si em mercadoria:

o trabalhador torna-se tanto mais pobre quan-to mais riqueza produz, quanto mais a suaprodução aumenta em poder e extensão. Otrabalhador torna-se uma mercadoria tantomais barata, quanto maior número de bensproduz. Com a valorização do mundo das coi-sas, aumenta em proporção direta a desvalo-rização do mundo dos homens. O trabalha-dor não produz apenas mercadorias; produz-se também a si mesmo como uma mercado-ria, e justamente na mesma proporção comque produz bens. (2001, p. 111).

Compreendido o duplo aspecto do tra-balho, parece-nos claro que, enquanto atividadegeral/universal, enquanto busca de respostas àsnecessidades reais da existência humana, o tra-balho constitui-se, como já afirmara Marx, umfator ineliminável, uma eterna necessidade queperdurará concomitantemente à existência dohomem, e que, portanto, perpassou e perpas-sará todas as fases de produção material de suaevolução.

Na sociedade capitalista, por sua vez, otrabalho universal ou geral é subordinado à leido mercado, aos valores de troca. O trabalho,enquanto valor de uso, executado para satisfa-zer as necessidades humanas só é levado a cabo.se apresentar um valor de troca, um produtoque tenha como fim a troca, ou seja, uma merca-doria. Conforme as belas palavras contidas nos

Manuscritos: (Ia atividade vital, a vida produ-tiva, aparece agora para o homem como um únicomeio que satisfaz uma necessidade, a de man-ter a existência física. (... ) A vida revela-se sim-plesmente como meio de vida (Marx, 2001, p.116) (grifos do autor)."

Desse modo, o trabalho particular, abstratoou criador do valor de troca, é aquele que tomacomo principal objetivo a criação do valor detroca, ou seja, transformar-se numa mercadoria.Sob o capitalismo, alerta Marx, o trabalho tor-na-se uma atividade alienada/estranhada, já queneste modo de produção o homem é levado aproduzir apenas para gerar mais riquezas, maisdinheiro para os detentores do capital" .

Reconhecemos que o trabalho abstratovem sendo alvo de profundas transformações,conseqüência direta da reordenação do capitalpara se reerguer de sua crise estrutural, porémnão podemos cair na grotesca ingenuidade deachar que estamos diante do fim do trabalho, ouque o trabalho abstrato perdeu sua centralidadeno processo de valorização do capital, pois nãovislumbramos, até o momento, nenhum sinal deesgotamento do capitalismo, condição fundamen-tal para sua extinção.

o sindicato: brevesconsiderações íntrodutôrías?

Conforme Giovanni Alves (1999), um dostraços mais característicos do pensamento clás-sico de Marx, Engels e dos marxistas em relaçãoao sindicalismo é a compreensão deste a partir deuma dupla dimensão: de um lado, o pleno reco-nhecimento dos limites do sindicalismo frente aomovimento do capital; e, de outro, a intransigen-te defesa da importância dos sindicatos.

6 Marx, ao analisar a alienação/estranhamento do trabalho sob o capitalismo, o faz sob três aspectos, quais sejam: "1) A relação dotrabalhador com o produto do trabalho como a um objeto estranho que o domina, a qual é ao mesmo tempo a relação com omundo externo sensível, com os objetos naturais, assim como com um mundo estranho e hostil; 2) A relação do trabalho com oato da produção dentro do trabalho. Tal relação é a relação do trabalhador com a própria atividade assim como com alguma coisaestranha, que não lhe pertence, a atividade como sofrimento (passividade), a força como impotência, a criação como emasculação,a própria energia física e mental do trabalhador, a sua vida pessoal - e o que será a vida senão atividade? - como uma atividadedirigida contra ele, independente dele, que não lhe pertence; 3)0 homem é uma criatura genérica, não só na acepção de que fazobjeto seu, prática e teoricamente, a espécie (tanto a sua própria como a das outras coisas), mas também (...) no sentido de que elese comporta diante de si mesmo como a espécie presente, viva, como um ser universal, e portanto livre. (...) Já que o trabalhoalienado torna alheia a natureza do homem, aliena o homem de si mesmo, o seu papel ativo, a sua atividade fundamental, alienado mesmo modo o homem a respeito da espécie; transforma a vida genérica e a vida individual; depois, muda esta última na suaabstração em objetivo da primeira, portanto, na sua forma abstrata e alienada." (MARX, 2001, p. 115-6) (grifos do autor).

; Faz-se importante elucidar que esta parte do artigo foi publicada com algumas modificações no livro Trabalho, educação e formaçãohumana organizado pelas professoras Belmira Magalhães e Edna Bertoldo da Universidade Federal de Alagoas - UFAL, editado pelaEdufal em 2005.

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Para Marx e Engels, conforme o referidoautor, os sindicatos se constituíram produto daslutas espontâneas dos trabalhadores contra a ex-ploração dos capitalistas. E as greves foram vis-tas como os primeiros passos para a aprendiza-gem revolucionária, daí o seu caráter pedagógicoe de resistência contra as usurpações dos capita-listas, não importando o resultado imediato quepudessem trazer.

Para Engels, as greves tinham assim "comoescolas de guerra, uma eficácia sem igual". Pormais que a derrota fosse o desfecho quase certodas greves travadas naquela época, massacradaspela repressão capitalista via aparato policial.Ainda assim, "Marx e Engels nunca aconselha-ram os operários a renunciarem à luta econômica,posto que as greves tinham principalmente umcaráter pedagógico e de resistência contra os abu-sos dos capitalistas". (ALVES, 1999, p. 03).

Na esteira desse pensamento, Lênin en-tende os sindicatos enquanto escolas da luta declasses, quando a práxis sindical deve ser media-dora da ação política dos trabalhadores, organi-zando-os para a luta revolucionária e anticapi-talista. Esta concepção está presente na sua obraSobre os Sindicatos, quando ao referir-se à "táticada luta de classe do proletariado", cita duas ob-servações de Marx a esse respeito, presentes res-pectivamente na Miséria da Filosofia e no Manifes-to Comunista. A primeira faz menção às lutas e àsorganizações econômicas do proletariado:

A grande indústria concentra num só lugaruma multidão de pessoas desconhecidas umasdas outras. A concorrência divide seus inte-resses. Mas a defesa dos salários, interessecomum frente ao patrão, une-as numa idéiacomum de resistência, de coalizão (...) As co-alizões, a princípio isoladas, organizam-se emgrupos, e, diante do capital sempre unido,manter essa associação vem a ser para elesmais importante que a defesa dos salários(... ) Nessa luta - verdadeira guerra civil -reúnem-se e desenvolvem-se todos os ele-mentos necessários para a batalha futura.Ao chegar a esse ponto, a coalizão adquirecaráter político. (1979, p. 8) (grifos nossos).

A segunda observação direciona-se às ta-refas políticas: "Os comunistas lutam paraatingir os objetivos e interesses imediatosda classe operária: mas, ao mesmo tempo,também defendem, dentro do momento atual,

o futuro desse movimento." Partindo de taisobservações, Lênin afirma ser este "o programae a tática da luta econômica e do movimentosindical de vários decênios, de toda e prolonga-da época durante a qual o proletariado preparasuas forças 'para a batalha futura'" (Idem,ibidem, p. 9) (grifos nossos).

Lênin afirma que a greve põe os operáriosnuma posição de classe contra classe, reafirman-do-a enquanto "escola de guerra" no sentido daemancipação humana:

Assim, as greves ensinam os operários a uni-rem-se, as greves fazem-nos ver que somenteunidos podem agüentar a luta contra os capi-talistas, as greves ensinam os operários a pen-sarem na luta de toda a classe operária contratoda a classe patronal e contra o governo au-tocrático e policial. Exatamente por isso, ossocialistas chamam as greves de 'escola deguerra', escola em que os operários apren-dem a desfechar a guerra contra seus inimi-gos, pela emancipação de todo o povo e detodos os trabalhadores do jugo dos funcioná-rios e do jugo do capital. (1979, pp. 45-46).

Marx sempre manteve, não obstante te-nha destacado a importância das lutas sindicaispara a classe trabalhadora, uma postura críticaem relação aos limites desse tipo de organi-zação, que tem como característica mais mar-cante manter-se, por sua própria natureza, nointerior do círculo do domínio do capital. Naspalavras de Alves,

Para Marx, enquanto o movimento do prole-tariado persistir vinculado, de maneira exclu-siva à forma-sindicato, cuja característica é aluta meramente defensiva, de caráter econô-mico ou político, contra o capital, continuarácom sérias limitações diante da própria lógi-ca do capital, submetida à esse sujeito quedomina o complexo societário contemporâ-neo (Idem, ibidem, pp. 5-6).

Em contraposição à forma-sindicato,Marx propunha o "centro de organização daclasse operária":

...implicava transformar os velhos sindicatos- em uniões de operários que organizassem os

trabalhadores assalariados-empregados edesempregados, não apenas enquanto vende-dores, reais ou virtuais, da mercadoria força

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de trabalho, mas sim como indivíduos-pro-dutores, potenciais criadores de uma nova so-ciedade, sem explorados e exploradores ...(Idem, ibidem, p.06).

Mészáros (1993), também herdeiro dopensamento marxista, traça uma contundenteanálise do sindicalismo, afirmando que este, des-de os seus primórdios até os nossos dias, nãoconseguiu evitar a setorialidade e a parcialidade,o que não significa dizer que tenha adotado umaestratégia incorreta, mas que se deu por força dedeterminações materiais objetivas, ocasionandonuma postura que se combinou, segundo o mes-mo autor, com sua articulação defensiva.

Observa esse autor que o aprofundamentoda postura defensiva significou um avanço pa-radoxal, quando o movimento operário, atra-vés dos seus primeiros sindicatos, passou a serao mesmo tempo interlocutor e adversário docapital. Tal fato se tornou ainda mais desastroso,conforme Mészáros, pela postura adotada pe-los partidos políticos os quais para obter algumavantagem junto ao capital, davam como contra-partida o afastamento do movimento socialistade seus reais objetivos, aceitando a ordem polí-tica e econômica estabelecida como única for-ma possível para solução do conflito entre capi-tal e trabalho.

Dessa forma, no entendimento do referidoautor, o desafio para o movimento operário tra-duz-se em criar formas de atuação autônomas,capazes de articular intimamente as ações eco-nômicas (sindicais) e as ações político-parlamen-tares (partidárias), superando as divisões e fratu-ras que desde o seu nasce douro até o presente sóserviram para fragilizar as lutas dos trabalhado-res, acabando por fortalecer o capital. Portanto,faz-se extremamente necessário e urgente, dian-te da ofensiva criminosa e destrutiva do capital, arearticulação do movimento socialista autêntico,o que se fará, conforme defende Mészáros, pela

combinação completa do braço industrialcom o braço político do movimento traba-lhista: mediante, de um lado, a atribuição dossindicatos de tomada de decisão significativa(incentivando-os a serem diretamente políti-cos) e, de outro, pela transformação dos pró-prios partidos políticos em participantes de-safiadoramente ativos nos conflitos industri-ais, como antagonistas incansáveis do capital,assumindo a responsabilidade pela luta den-

tro e fora do parlamento. (Idem, ibidem, p.23) (grifos do autor).

Portanto, entendemos pelo pensamentomarxista os limites do movimento sindical, sobre-tudo se continuar preso à setorialidade e às açõesdefensivas, priorizando a "linha de resistência mí-nima", ou seja, o reformismo. Contudo, reafirma-mos as possibilidades de superação de tais fraturasorganizativas, ao se assumir como desafio, articu-lar a ação econômica com a ação política, tomandocomo horizonte estratégico a ruptura com o capi-tal com vistas à construção do socialismo.

Sobre a emergência daconsciência de classe

Mészáros, um dos mais qualificados intér-pretes da obra marxiana na atualidade, relata quea teorização de Marx quanto às classes sociaisgerou uma ambigüidade básica que tem confun-dido os seus intérpretes:

... de um lado, ele estava muito convicto deque as contradições engendradas pelo capita-lismo levariam inevitavelmente a um prole-tariado com consciência de classe e, daí, a umarevolução proletária. Mas, por outro lado, eleatribuiu à consciência de classe, à ação polí-tica e à sua teoria científica da história umpapel preponderante na realização desse re-sultado (1993, p. 76).

Argumenta este autor, que entender a cons-ciência de classe como mera subjetividade esubproduto do capitalismo, leva-nos a um errogrotesco da concepção marxiana, fato este queocorre quando se substitui seu complexo dialéticopor um modelo determinista unilateral.

Mészáros chama a atenção à complexidadeda metodologia dialética de Marx, esclarecendoque, enquanto numa concepção mecanicista háuma demarcação rígida entre o determinado e seusdeterminantes, na metodologia dialética há quese atentar para as interações complexas, nas quaisos determinantes são também determinados.

Desse modo, as várias manifestações insti-tucionais e intelectuais da vida humana não sãosimplesmente constituídas sobre uma baseeconômica, mas também estruturam ativamenteessa base econômica, através de uma estruturaprópria, imensamente intrincada e relativamenteautônoma.

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Essas "interações complexas" ocorretambém nó campo da consciência, em todas assuas formas de manifestações, determinando deforma recíproca as estruturas econômicas da so-ciedade e sendo, ao mesmo tempo, por elas de-terminada. Dito de outro modo, existência e cons-ciência estão reciprocamente imbricadas.

Para uma devida compreensão do conceitomarxiano de consciência de classe, sempre se-gundo Mészáros, é imprescindível entender, igual-mente, a sua concepção de "causalidade social",do mesmo modo que tal conceito só atinge seusentido pleno se compreendido enquanto "focode uma multiplicidade de fenômenos sociais es-truturalmente interligados." Caso contrário, cair-se-á no voluntarismo, no objetivismo, e noaventureirismo (Idem, ibidem, p. 80).

Enfim, para uma adequada compreensãodos conceitos marxianos de classe e consciênciade classe, é necessário o estudo de seu pensa-mento como um todo, nas palavras de Mészáros:"uma análise cujo foco seja o conceito de 'con-flito social e seus determinantes', avaliados deacordo com a dialética dos determinantes recí-procos" (Idem, ibidern, p. 83).

Atento à complexa totalidade da concep-ção rnarxiana, Mészáros afirma que, de acordocom Marx, a consciência de classe é inseparáveldo reconhecimento do interesse de classe, toman-do como base a posição social real das diferentesclasses presentes na estrutura da sociedade.

Para o referido autor, a essência da teoriade classes e da consciência de classes de Marx,reside no conceito de subordinação estruturalnecessária do trabalho ao capital na sociedadede mercadorias, quando o interesse de classe doproletariado é definido em termos de mudançadessa subordinação estrutural.

As diferenças qualitativas entre os interes-ses das classes fundamentais deixam claro o ní-vel de dificuldades de organização e de elevaçãoda consciência de classe por parte dos trabalha-dores, uma vez que para a classe dominante,

- -- esse individual dos membrospo dominante está direta-

•=""-"......,~ao objetivo geral de retenção- egiada e estruturalmente do-

5' 00. como um todo, tem narraascendência do auto-interesse

individual' na ; ecão do interesse coletivo daclasse é, portanto, urna mera ficção, uma vezque essa 'transcendência', na realidade, não sig-nifica nada a não ser uma proteção efetiva dopuro interesse (Idem, ibidern, p. 92).

Por outro lado, o que ocorre com a classedominada é bastante diferente:

.., os interesses a 'curto prazo' dos indivíduosparticulares, e mesmo da classe como um todo,em um momento dado, podem estar em opo-sição radical ao interesse de mudança estru-tural 'a longo prazo'. É por isto que Marx podee tem de apontar a diferença fundamentalentre a consciência de classe contingente ou'psicológica' e a consciência de classe necessá-

ria" (Idem, ibidern, p. 94).

O proletariado, portanto, constitui-se deforma contraditória: por um lado, enquanto merasoma total de seus membros individuais, é umacontingência sociológica (estratificada e divididapor interesses de classe), dotada de objetivos es-pecíficos, poderes e instrumentos mais ou me-nos limitados para sua efetivação. Por outro lado,o mesmo proletariado é também parte constitu-inte do antagonismo estrutural da sociedade ca-pitalista.

Marx denominou a essa constituição doproletariado, conforme Mészáros, de "contra-dição entre o ser e a existência do trabalho", sendoo fator crucial para sua resolução o desenvolvi-mento de uma consciência de classe adequadaao ser social do trabalho? (Idem, ibidem, p. 95).

É importante observar com esse mesmoautor que o desenvolvimento da consciência declasse não se dá de forma mecânica ou espontâ-nea, mas sim de forma dialética: "o desenvolvi-

8 Conforme Mészáros, a diferença fundamental entre a consciência de classe contingente e a consciência de classe necessária, resideno fato de que: "... enquanto a primeira percebe simplesmente alguns aspectos isolados das contradições, a última as compreende'em suas inter-relações, isto é, como traços necessários do sistema global do capitalismo. A primeira permanece emaranhada emconflitos locais, mesmo quando a escala da operação é relativamente grande •..enquanto a última, ao focalizar a sua atenção sobre otema estrategicamente central do controle social, preocupa-se com uma solução abrangente, mesmo quando seus objetivosimediatos parecem limitados ...•• (Idem, p.ll8). .

9 Para Mészáros, a consciência de classe do proletariado constitui-se na" ... consciência do trabalhador de seu ser social enquanto serenquistado no antagonismo estrutural necessário da sociedade capitalista, em oposição à contingência da consciência de grupo quepercebe somente uma parte mais ou menos limitada da confrontação global" (Idem, ibidem, p. 96).

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mento da consciência de classe é um processodialético (...) o desenvolvimento 'direto' e 'es-pontâneo' da consciência de classe proletária -seja sob o impacto de crises econômicas ou comoresultado do auto-esclarecimento individual - éum sonho utópico" (Idem, ibidem, p. 96).

Por fim, conclui Mészáros que, "a auto-cons-ciência da classe em si e para si não pode serdiferente da consciência de sua 'tarefa histórica'de constituição de uma alternativa histórica realà ordem vigente na sociedade: uma tarefa enraí-zada nas contradições irreconciliáveis do seu pró-prio ser histórico-social" (Idem, ibidem, p. 107).

Marx, na Ideologia Alemã, ao referir-se àconsciência, afirmou que:

Os homens são os produtores de suas repre-sentações (...). A consciência jamais pode seroutra coisa do que o ser consciente, e o ser doshomens é o seu processo de vida real. (...) Se aexpressão consciente das relações reais destesindivíduos é ilusória, se em suas representa-ções põem a realidade de cabeça para baixo,isto é conseqüência de seu modo de atividadematerial limitado e das suas relações sociaislimitadas que daí resultam (1999, pp. 36-37).

Assim sendo, se a consciência dos homensestá invertida é porque seu modo de vida mate-riallhe impõe limites. O modo de produção ca-pitalista, criação social dos próprios homens, quea tudo transforma em mercadoria, 'roubou des-tes a condição de criadores, transformando-os emcriaturas, desumanizou-os e deu-Ihes tambémformato de mercadoria, expropriando-lhes a con-dição humana, a capacidade de dar respostas paratornar-se livre.

Dessa forma, a fina flor do processo evolu-tivo, o homem, transformou-se em presa dos seuspróprios grilhões, grilhões que também não reco-nhece como criação sua. Estranhou-se e perdeu-se na sua pré-história, de onde não consegue sair.

A saída do labirinto está na articulaçãoentre os elementos necessários da subjetividadee da objetividade que o rodeia. Lembrando maisuma vez as sábias palavras de Marx na supra-citada obra, para quem os elementos materiaisde uma subversão total compõem-se, de umlado, " ... pelas forças produtivas existentes e, deoutro, a formação de uma massa revolucionáriaque se revolte, não só contra as condições parti-ulares da sociedade existente até então, mas

também contra a própria 'produção da vida' vi-gente, (...) sobre a qual se baseia" (1999, p. 57).

À guisa de conclusões

O esforço teórico empreendido neste ar-tigo buscou contribuir de forma simples com adiscussão em torno das categorias marxistas: tra-balho, sindicato e consciência de classe, uma vezque vislumbramos a importância de reafirmar avalidade de tal referencial diante do atual con-texto de crise estrutural do capital e suas conse-qüências nefastas para a objetividade e a subje-tividade dos trabalhadores. Faz-se da mais ex-trema necessidade, por parte das entidades re-presentativas dos trabalhadores, mormente ossindicatos, cumprir o seu papel perspícuo dearregimentação da consciência de classe, veladapelo discurso alienante do fim da sociedade dotrabalho e por assim dizer da sua tarefa enquan-to sujeito revolucionário capaz de superar a or-dem destrutiva do capital.

Na contramão desse discurso oco e misti-ficador, reafirmamos, com a perspectiva mar-xiana/lukacsiana, que o trabalho é o ato gênesedo agir humano, e, enquanto tal, constituiu-seao longo do processo histórico, como também,na sociedade contemporânea, o centro/funda-mento da sociabilidade dos homens e da criaçãode riquezas. Na verdade, o discurso do "fim dotrabalho" tece-se, no interior da classe dominante,através dos seus intelectuais orgânicos e segueem direção oposta ao movimento real dos fatos,com o objetivo único de escamotear as velhasrelações capitalistas de exploração e expropria-ção da força de trabalho, além de desmantelar asresistências e as formas de organização da classetrabalhadora.

A partir desse invólucro deturpador, o dis-curso burguês passa a ser apreendido de formabastante perversa pelo olhar desatento de paneconsiderável da classe dominada, via fala eatuação de suas lideranças. Sabemos que a cons-ciência proletária não acontece de forma linear, ahistória tem nos mostrado isto, há momentos defluxos e de refluxos, tudo permeado pelo grau daofensiva ideológica dominante e das próprias con-dições objetivas em que estão inseridos os tra-balhadores. No entanto, quanto mais clareza ti-ver o trabalhador da condição contraditória en-tre seu ser e sua existência, como bem denomi-nou Marx, mais condições terá de articular sua

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práxis sindical no sentido de transitar da"em si", pautada nas reivindicações econômicaque não rompem com as causas de sua explo-ração, a sociedade capitalista, à luta "para si",quando adquirindo a compreensão da totalida-de social em que vive, torna-se capaz de imporum projeto político revolucionário, superandode vez a subordinação estrutural imposta pelaordem do capital.

Por fim, consideramos urgente aos traba-lhadores uma firme formação política e ideoló-gica, capaz de lhes dar suporte para entender arealidade na sua totalidade, possibilitando o avi-vamento da consciência de sua tarefa histórica.°materialismo histórico-dialético é, a nosso ver,a teoria que falta ao movimento sindical nos tem-pos atuais, uma vez que a agudização das péssi-mas condições de vida e de trabalho reclama umaresposta radical por parte dos trabalhadores, oque nos coloca novamente diante do velho desa-fio posto por Rosa Luxemburgo: socialismo oubarbárie? Ou como diz Mészáros: "socialismo oubarbárie, se tivermos sorte de chegar lá!"

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