15
ApÓLICES DA DíVIDA PÚBLICA UMA O!lESTÃO DE HONRA E CREDIBILIDADE Carlos Chanan AGldêmico do período e estagiário no Núcleo de PrátiGl Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Cruz Alt2/RS jane Cesca Nunes Pós-Graduada em Direito Processual Civil e Penal, Mestre em Direito da Integração Latino-Americana na UFSM;RS e professora de Direito Financeiro/Tributárío e Direito Administrativo na Faculdade de Direite da Universidade de Cruz Alt2/RS RESUMO No início do período republicano, o governo brasileiro celebrou contratos de mútuo com a finalidade de obter recursos para obras de infra-estrutura. Poucos prestamistas recuperaram seu dinheiro. O governo atual tenta repudiar a antiga dí- vida, alegando estar prescrita. Existem evidências de que os títulos são válidos, atua- lizáveis e não estão prescritos. INTRODUÇÃO Um dos debates jurídicos mais relevantes dos últimos tempos diz respeito às famosas apólices da dívida pública lançadas entre 1902 e 1964. O assunto vem ga- nhando importância, ocupando cada vez mais espaço nas considerações doutriná- rias, tem sido tema de inúmeros seminários e congressos e tem estado na pauta dos Tribunais visando clarear problemas relativos a tais documentos. Entretanto, para entender como surgiram os títulos em questão, é importante voltar-se às origens, ou seja, como tudo começou.

Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

4.0 TOLEDO DE ENSINO

'or videoconferência do em http:üwww.apama­)9. Tradução de Ellen Grace 8. Carlos Alberto Álvaro de

(on-line). Justiça Federal ,ado em 11 nov. 1999. :iro: Objetiva Ltda, 1995. líne': uma desagradável 'net em http://www.direi­

~idadania (on-line). Teia :a.com/mz/procdda.htm,

50 à justiça (tutela ante­~m http:üwwwteiajuridi­~99.

rocesso. 4. ed. São Paulo:

e). Direito Penal e Crimi­1.geocities.com/College­13 nov.1999. )9.800/99 - atos proces­icasADV/COAD, São Pau­

rtUlrcha. São' Paulo: RT,

dministrativo. 2. ed. São

loletim do IBCCrim, São ,1996. I eseus r~flexos na esfe­(on-line). Dablio -Ques­l-/.geocites.com/College­

~o Processual Brasileiro.

1 administração da jus­::a, 1994,

ApÓLICES DA DíVIDA PÚBLICA

UMA O!lESTÃO DE HONRA E CREDIBILIDADE

Carlos Chanan AGldêmico do 7° período e estagiário no Núcleo de PrátiGl

Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Cruz Alt2/RS

jane Cesca Nunes Pós-Graduada em Direito Processual Civil e Penal, Mestre em Direito da

Integração Latino-Americana na UFSM;RS e professora de Direito Financeiro/Tributárío

e Direito Administrativo na Faculdade de Direite da Universidade de Cruz Alt2/RS

RESUMO

No início do período republicano, o governo brasileiro celebrou contratos de mútuo com a finalidade de obter recursos para obras de infra-estrutura. Poucos prestamistas recuperaram seu dinheiro. Ogoverno atual tenta repudiar a antiga dí­vida, alegando estar prescrita. Existem evidências de que os títulos são válidos, atua­lizáveis e não estão prescritos.

INTRODUÇÃO

Um dos debates jurídicos mais relevantes dos últimos tempos diz respeito às famosas apólices da dívida pública lançadas entre 1902 e 1964. O assunto vem ga­nhando importância, ocupando cada vez mais espaço nas considerações doutriná­rias, tem sido tema de inúmeros seminários e congressos e tem estado na pauta dos Tribunais visando clarear problemas relativos a tais documentos. Entretanto, para entender como surgiram os títulos em questão, é importante voltar-se às origens, ou seja, como tudo começou.

Page 2: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

248 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Sabe-se que o Estado tem a faculdade de dispor do capital alheio por meio de empréstimo, comprometendo-se a reembolsar os credores. O entidades políticas podem lançar títulos públicos, sob a forma nominativa e ao portador. Mas, para que isto ocorra, é necessário ter "crédito na praça"... seja nacional ou alienígena, pois sem ele, não se contraem os empréstimos e, conseqüentemente, não se angariam recur-sos para investimentos em infra-estrutura, pagar compromissos extraorçamen­tários, antecipar receitas ou garantir o equilíbrio do mercado financeiro.

Este artigo avalia a importância do crédito, não só no momento de buscar o capital, mas, principalmente, na época de restituí-lo, pois o Governo necessita não só da credibilidade de seu povo, como também da credibilidade internacional, sob pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos de hoje, dizem respeito àvalidade/aceitação dos títulos que os detentores querem utilizar, como forma de ressarcimento, na compensação de tributos e/ou pagamen­to de aquisições de ações de empresas estatais em leilões de privatização.

Amaioria dos pareceres que defendem a prescrição são de pessoas envolvidas profissionalmente com ogoverno atual (Procuradores), cuja função primordial é de­

r: l'

I: ' fender os interesses do Estado), que agasalham decretos-lei inconstitucionais e pre­I· : 1<!: ' , ,,'

gam o calote/confisco aos particulares. Ao contrário, os que garantem a sua validade, defendem o seu resgate, são pro­

i j I

fissionais liberais, doutrinadores, economistas, professores, catedráticos, advogados, não pressionados pela posição que ocupam mas sim, por mões jurídicas e morais (al­gumas vezes, é claro, também com interesse profissional) que acreditam sejam sufici­entes para reconhecê-los como válidos. E, atualmente, somam-se a estes, juízes fede­

I.

I rais (categoria destinada a fazer valer o direito), dos mais diversos entes da Federação.

Até o momento (novembro/2000), aguarda-se uma decisão final do Superior ,. I •., Tribunal de Justiça. Mas, os contratos de mútuo oneroso foram firmados ... os resga­

tes, quando efetuados, ocorreram parcialmente e, apenas para alguns ... as regras fir­madas entre as partes não foram cumpridas pelo Governo (em todos os níveis: fe­deral, estadual, municipal ) ..

Vamos ao início de tudo para entendermos a polêmica existente

I. CRÉDITO PUBliCO

Ignorante é aquele que desconhece que o crédito é o maior capital

dentre todos os que nos proporcionam a aquisição da riqueza.

DEMÓSTENES

O vocábulo crédito se origina do latim creditum que, por sua vez, se origi­na do verbo credere, que sigrtifica "ter confiança".

INSTITUIÇÃO TOLED

Abase do crédit cede o crédito, de qUI pode ser obtida, som; credor tem que o devt assumiu; e o subjetivc aquilo que faz com ql quantia mutuada será responde ao decurso e o crédito e a prestação tente na sua devoluçãe

O crédito públie lançar mão para obter com base na confianç2 to, que este processo c dever de restituição da

Os empréstimos res positivos para o pai recebe, a título de emf do-o. Assim, eles não s~

propriamente ditas.! Na maioria dos p:

so ordinário e normal e tem em que não há anti ambos determinam o c num paralelismo entre e Uns e outros comporiô morre, não incorre em j sonalidade jurídica e p( cessíveis em contraste

Financeiramente, tribuição da renda nacie organizada.

lI. EVOLUÇÃO DO C

As origens do cré em estudo sobre as renl

'ROSAJR., Luiz EmydLo . dJ In I 'BALEEIRO, Aliamar. Uma Introd 'BALEEIRO, op. cÜ., p. 671

Page 3: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

nçÃo T OLEDO DE ENslNo

lo capital alheio por meio de jores. O entidades políticas e ao portador. Mas, para que nacional ou alienígena, pois entememe, não se angariam ompromissos extraorçamen­~rcado financeiro. só no momento de buscar o ois o Governo necessita não dibilidade internacional, sob algum. Os questionamentos

IS que os detentores querem o de tributos e/ou pagamen­Ses de privatização. :ão são de pessoas envolvidas ,cuja função primordial é de­)s-lei inconstitucionais e pre­

:ndem o seu resgate, são pro­lres, catedráticos, advogados, r razões jurídicas e morais (al­11) que acreditam sejam sufici­;omam-se a estes, juízes fede­sdiversos entes da Federação. ma decisão final do Superior iO foram firmados ... os resga­las para alguns ... as regras fir­emo (em todos os níveis: fe­

lêmica existente

'1te é aquele que desconhece o crédito é o maior capital

os os que nos proporcionam a aquisição da riqueza.

DEMÓSTENES

~m que, por sua vez, se origi-

INSTITUlçÃO TOLEDO DE ENSINO 249

Abase do crédito é a confiança que o credor deposita na pessoa a quem con­cede o crédito, de que a mesma lhe restituirá o capital das quantias havidas e esta pode ser obtida, somando-se dois elementos: o objetivo, ou seja, a certeza que o credor tem que o devedor é economicamente capaz de liquidar o empréstimo que assumiu; e o subjetivo, que (tiz respeito aos requisitos morais básicos do devedor, aquilo que faz com que o credor acredite no cumprimento da obrigação, que a quantia mutuada será honrada. Deve-se acrescentar ainda, o fator tempo, que cor­responde ao decurso de prazo entre a prestação atual por parte de quem concede o crédito e a prestação futura a ser cumprida por quem dele se beneficiou e consis­tente na sua devolução.

O crédito público inclui-se entre os vários processos de que o Estado pode lançar mão para obter fundos, como método fiscal, ou para outros fins extrJfiscais, com base na confiança que inspira, e nas vantagens que oferece. Écerto, entretan­to, que este processo difere das receitas tributárias, uma vez que estas não geram o dever de restituição das quantias recebidas.

Os empréstimos são considerados simples ingressos porque não criam valo­res positivos para o patrimônio público uma vez que a cada entrada que o Tesouro recebe, a título de empréstimo, existe um lançamento no passivo, contra balançan­do-o. Assim, eles não são considerados receitas, ou quando o são, como receitas im­propriamente ditas 1

Na maioria dos países, nos últimos séculos, o crédito público constitui proces­so ordinário e normal de suprimento dos cofres públicos e, vários financistas insis­tem em que não há antinomia entre esse processo, e o da tributação, garantindo que ambos determinam o caráter eX1:raordinário do empréstimo público. Mas, o fazem num paralelismo entre os impostos extraordinários e os empréstimos extraordinários. Uns e outros comporiam as finanças extraordinárias', uma vez que o Estado não morre, não incorre em falência e goza da perenidade do grupo ao qual serve de per­sonalidade jurídica e política, obtém dinheiro em condições excepcionais e até ina­cessíveis em contraste com os particulares.

Financeiramente, o crédito público cria uma divisão de sacrifícios e uma redis­tribuição da renda nacional entre os diversos grupos da coletividade politicamente organizada.

n. EVOLUÇÃO DO CRÉDITO PÚBliCO

As origens do crédito público remontam aos tempos antigos. XENOFONTE J,

em estudo sobre as rendas de Atenas, alude às despe-sas com as trirremes (barcos

'ROSA]R., Luiz Emyclio . da In Novo Manual de Direito Finameiro e Direito Tributário, 6'ed., p. 9)

'BALEElRO, Aliomar. Uma Introdução á Ciência das Finanças. na ed. ,forense, p. 454 'BALEElRO, ap. ciL, p. 671

Page 4: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

r

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO250

de guerra de propriedade pública) que, seguidamente, serviam de parâmetro em re­lação aos empréstimos: não se pode saber se as expedições serão bem ou mal suce­didas, ninguém terá a certeza de rever o dinheiro subscrito ou o de reaver o que se pagou.

Pompeu e até o austero Brutus se dedicaram a negócios usurários emprestan­do dinheiro a reis e municípios subjugados por Roma.

Brutus emprestou aAriobarzano, futuro rei da Armênia, e associou-se a nego­cistas para uma operação a48% ao ano, com o Senado de Salamina, que buscava fun­dos para pagar um tributo àCidade Eterna'

Em relação aos empréstimos medievais, e até os dos primeiros séculos da Ida­de Moderna, havia governantes que não cumpriam o acordo de devolução dos re­cursos, abriam falênda, repudiavam a dívida, bem como os seus sucessores que ale­gavam ser a matéria objeto de obrigação pessoal, portanto, não transmissível à ge­ração futura. Os herdeiros e sucessores poderiam pagar, se quisessem fazê-lo, por pura deferência à memória do antecessor, mas não eram vinculados pelo direito. Es­tas atitudes não eram mal recebidas pela opinião pública uma vez que os juros eram

~ :', l: ; exagerados a ponto de chocarem idéias religiosas e morais. I,i' Écerto que para as partes chegarem a entendimentos, era avaliado qual o realI;,'I, " ,'" . destino dos recursos obtidos pelo empréstimo. Conforme Baleeiro: j j I Os prestamistas exigiam juros onerosíssimos garantias humilhan­

tes ,que iam desde o fio da barba sacratíssima de Sua Majestade, príncipes tomados como reféns, relíquias de santos até openhor da

,I •. coroa, jóias ou a vinculação de certas rendas ao serviço de juros

I: li

e amortizações da dívida 5

Em vista disso, o volume dos empréstimos acabava sendo pequeno, se com­parado com o volume das operações das nações modernas.

Baleeiro6 menciona que, além dos altos juros e das situações citadas anterior­mente, havia outros fatores que impediam o crescimento da dívida pública, como a inexistência de vultosos capitais como expressão da riqueza mais ou menos genera­lizada; (...) doutrinas morais e religiosas infensas ao juro, que fora condenado pela Igreja no Concílio de Viena7

; a insegurança jurídica e política numa fase histórica de

'BALEEIRO, op. cit., vol.ll, p. 671. 'Idem. op. cir. , p. 43 'op. cir., p. 434-435 'BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e Tributário, Bastos cita Sousa Franco sobre as repercu&5ões religlosas no crédito público: "Nos paises católicos. com efeito, a proibição da usura tomava difícil que os reis recorressem confessadamente a operaçõesfinanceiras, mesmo quando se passava de sociedade feudal a formas sociais mais evoluídas. Nos Estados protestantes,joram-se ao invés, desenvolvendo instituições de crédito que entravam em relações com os principes. Mesmo nos paises católicos, porém o recurso ao créditoporpane do príncIpe - COmo da Coroa -fazia-

INSTITUIÇÃO TOLJ

absolutismo, e de pc erário, além da prec grande parte de seu presas sem que os ti temporâneo.

Nesse períodc zadas pelos monarc ou de puro caráter c tas, ímprobas ou dis

Nos séculos X res como Montesqui tizaram o empréstim lharam ou justificara

David Ricardo nicioso do crédito p\ do a ruína das naçõt ra no comércio e na tas" que, graças ao jL empresas.

Posteriormentl dito público, perceb como mais produtivc sua para o Estado sei tal e falta de disdplir

O século XIX transferência de ene; não estivesse dirigidc do, poderia vir a aurr rações.

Asituação atua vital nos Estados cap ções com títulos da c

se disfarçadamente, porprc menta de um incipiente cap a católica passa a aceitar qt Assim, a criação de institui! Inglaterra) tornam genera protestantes como 1IOS caló/. públicas, op. cir p. 517). 'BALEEIRO, A op. cir, p. 67' 9BASTOS, C. .op. cir, p. 56

Page 5: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

"UIÇÃO TOlEDO DE ENSlNO

,serviam de parâmetro em re­lições serão bem ou mal suce­scrito ou o de reaver o que se

legócios usurários emprestan­I.

~mênia, e associou-se a nego­de Salamina, que buscava fun­

;dos primeiros séculos da Ida­I acordo de devolução dos re­na os seus sucessores que ale­rtanto, não transmissível àge­19ar, se quisessem fazê-lo, por 1m vinculados pelo direito. Es­ica uma vez que os juros eram 10rais. lentos, era avaliado qual o real )[me Baleeiro:

síssimos garantias humilhan­cratissima de Sua Majestade, tias de santos até openhor da 1S rendas ao serviço de juros

)ava sendo pequeno, se com­lemas. das situações dtadas anterior­;nto da dívida pública, como a iqueza mais ou menos genera­uro, que fora condenado pela política numa fase histórica de

IS cita Sousa Franco sobre as repercussões

que os reis recorressem confessadammte 'ai a formas sfJciais mais evoluídas. Nos réditoque entravam em relações com os

al1e doprincipe - como da Coroa -fazia-

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 251

absolutismo, e de poder pessoal dos príncipes, cujo patrimônio não se distinguia do erário, além da precariedade dos sistemas financeiros, pois os monarcas buscavam grande parte de seus recursos nos rendimentos dominiais da terra ou de suas em­presas sem que os tributos representassem o papel que lhes coube no mundo con­temporâneo.

Nesse período histórico, o fato de contrair dívidas eram manobras raras, utili­zadas pelos monarcas para empreendimentos guerreiros, muitas vezes temerários ou de puro caráter dinástico, ou para embaraços provindos de administrações inep­tas, ímprobas ou dissipadorasB

Nos séculos XVII e XVIII, homens considerados de espírito lúcido, pensado­res como Montesquieu, Colbert, Saint-Simon e Quasney, na França, não só estigma­tizaram o empréstimo público, como processo financeiro, mas alguns deles aconse­lharam ou justificaram o repúdio das obrigações dele decorrentes. 9

David Ricardo e Adam Smith, na Inglaterra, tentaram demonstrar o lado per­nicioso do crédito público, o mau uso que os governos faziam do mesmo provocan­do a ruína das nações, afastando os capitais das aplicações produtivas na agricultu­ra no comércio e na indústria, enquanto se formava uma classe de "pessoas parasi­tas" que, graças ao juro, não trabalhavam, nada produziam, não assumiam riscos de empresas.

Posteriormente, o pensamento liberal não viu com bons olhos o apelo ao cré­dito público, percebendo que os orçamentos poderiam crescer demais. Tinham como mais produtivo o capital em mãos de particulares, pois qualquer transferênda sua para o Estado seria considerada como medida financeira da prodigalida~e esta­tal e falta de disdplina financeira.

O século XIX também visualizou o crédito público como negativo, como transferência de encargos das gerações presentes para as futuras, quando seu uso não estivesse dirigido a finalidades reprodutivas. Caso contrário, ou seja, bem dirigi­do, poderia vir a aumentar o rendimento nacional e assim benefidar as futuras ge­rações.

Asituação atual é muito diversa, pois o crédito público tem uma importânda vital nos Estados capitalistas modernos. Após a Segunda Guerra Mundial, as opera­ções com títulos da dívida pública tinham mais por finalidade exercer um controle

se disfarçadamente, porprocessos pessoais, desviados e ir/directos, como necessidade inelutável do desenvolvi­mento de um incipiente capitalismo. No século XY!II, o documento pontificio Vix pervenit permite afirmar que a católica passa a aceitar que seria legitimo pagarjuros em certas situações e com determinadosfundamentos. Assim, a criação de instituições orçamentais (Inglaterra) e o desenvolvimento do sistema bancário (Holanda. Inglaterra) tomam generalizado e legitimo o recurso ao crédito público, no século XY!II, tanto nfJS Estados protestantes como rIOs católicos, cessando as dúvidas, teóricas e práticas, quanto a sua legitimidade" (Finanças públicas, op. cit. p. 517). 'BAlEEIRO, A. op. ciL, p. 674, in fine. 'BASTOS, C. .op. cit., p. 56

Page 6: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

INSTlTUlÇÃO TOLEDO DE ENSINO252

sobre a liquidez da economia, eram instrumentos destinados a repercutir no equilí­brio entre a oferta e a demanda. Quando a procura era grande, prenunciando uma alta inflação, o Estado vendia títulos de sua responsabilidade, recolhendo assim par­te da moeda circulante. Quando a conjuntura prenunciava uma recessão econômi­ca, uma fraca procura, o Poder Público resgatava esses títulos. Com isso, injetava re­cursos monetários na economia, responsáveis por um incremento da procura de bens e serviços, estimulando, destarte, as atividades econômica. IO

Nos tempos modernos, o crédito público passou a ser utilizado como fonte de financiamento das despesas estatais, e ganhou carac-terísticas próprias que o di­ferenciam do crédito privado, pois até mesmo as suas finalidades clássicas foram am­plamente alteradas.

m. O CRÉDITO NO REINO DE PORTUGAL

Aforma como Portugal utilizava sua influência para obter crédito junto aos rei­nos da Europa teve reflexos nos costumes financeiros do Brasil do século XIX.

, I, I',

Apalavra "apólices", para designar títulos públicos é originária da metrópole , , lusitana, próximo ao tempo da independência. As empresas guerreiras de conquis­i:: ta nos séculos XV a XVII, para criação e conservação dum império, foram o móvel

dos primeiros e principais empréstimos." As expedições comerciais e, por que nãor'!: dizer predatórias, para a colonização do Brasil, deram origem a incontáveis operações creditícias, que os reis "armadores" e perdulários não pagavam.

O infante D. Henrique, D. Manuel e seus sucessores, em seus testamentos, I" recomendavam que esses empréstimos fossem pa-gos, indicando inclusive rendas e

autorizando venda de jóias para tal. Mas, passou o tempo e essas orientações não foram cumpridas, Novos empréstimos vieram a se somar aos antigos compromissos. Os reis de Portugal emitiam obrigações de juros (conhecidas por padrões de juro), além dos empréstimos, em favor dos navegadores, militares e outros, que prestavam serviços encomendados pela Coroa e eram chamados então de juristas (aqueles que possuíam documentos nos quais o soberano confessava ser devedor de determina­da soma) e a imputava à Casa da Índia, para que esta, por suas rendas, pagasse ao ti­tular os juros devidos, que no início eram de 12 a 1696 ao ano.

Na época do reinado de Dom Sebastião, em Portugal, fez-se bancarrota da dí­vida pública no estrangeiro através do Alvará de 02 de fevereiro de 1560. Esse docu­mento suspendeu o pagamento de juros a cargo da Casa da Índia, sendo uma das razões, a de ordem teológica, tendo em vista que os juros exigidos pelos credores eram exorbitantes, considerados contra os princípios da Igreja e faziam com que

"BASTOS, C. Idem, r 57, "BALEEIRO, A1iom:tf op, cÍt. p, 675

INSTlTUIÇÃO TOLEDO

àqueles corressem "pefii padrões de juro de 596, s'

Conforme BALEEI! conta que a dívida públz co, ( ..) quebrou 56 veze!

Portugal reorganiza préstimo por meio de títl de juros), como os de w mantido no Brasil, mas n; saram a ser chamadas de tração do empréstimo e, dor e os endossáveis, Dat 18 meses e semelhantes à te. O decreto de 1835 est correntes de empréstimo~

dão no livro da Dívida Púl Adívida externa, en

ro de Londres, cerca de 1 a assumir um dos emprb

N. ORIGEM DA DÍVm COMO TUDO COM

Antes de tornar-se ir vida pública, no sentido té sem empréstimos desde o

Em carta endereçad: gente escreveu relatando ­pouco mais ou menOSi ao ao Visconde do Rio Seco, {­administrativas, Conclui a! ce. Não há maior desgraç. e arrancar tudo e nilo hú fundado por D, João VI .

No ano de 1812. o fl Gama, apresentou exposiç do a extinção dos bilhetes

12BALEEIRO, A, Uma Introdução ã C 'lldem, ar. cit. p. 335,

Page 7: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

[TUIÇÃO TOLEDO DE ENSlNO

:stinados a repercutir no equilí­era grande, prenunciando uma Ibilidade, recolhendo assim par­lnciava uma recessão econômi­es títulos. Com isso, injetava re­um incremento da procura de econômica. IO

;sou a ser utilizado como fonte lrac-terísticas próprias que o di­s finalidades clássicas foram am­

para obter crédito junto aos rei­DS do Brasil do século XIX. )Iicos é originária da metrópole mpresas guerreiras de conquis­o dum império, foram o móvel ções comerciais e, por que não I origem a incontáveis operações ia pagavam. essores, em seus testamentos, DS, indicando inclusive rendas e tempo e essas orientações não

imar aos antigos compromissos. inhecidas por padrões de juro), lilitares e outros, que prestavam IS então de juristas (aqueles que sava ser devedor de determina­,por suas rendas, pagasse ao ti­J% ao ano. artugal, fez-se bancarrota da dí­le fevereiro de 1560. Esse docu­aCasa da Índia, sendo uma das s juros exigidos pelos credores os da Igreja e faziam com que

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSlNO 253

àqueles corressem "perigo da consciência". Assim, o capital ficava convertido com padrões de juro de 5%, seguindo o exemplo de Felipe lI, na Espanha.

Conforme BAlEEIRül2 não deve espantar esse episódio, se for levado em conta que a dívida pública da França, mais ou menos no meSI/1O período históri­co, ( ..) quebrou 56 vezes.

Portugal reorganiza sua dívida pública apenas em 1796, quando lança um em­préstimo por meio de títulos de redação mais simples (JO invés de tençJs e padrões de juros), como os de uso no comércio, chJmando-os de apólices, termo que foi mantido no Brasil, mas não em terras lusitams (pois lá, desde 1835 as Jpólices pas­saram a ser chamadas de inscrições). Constituiu-se um órgão público para adminis­tração do empréstimo e, ainda nessa época, surgiram os primeiros títulos ao porta­dor e os endossáveis. Datam de 1803 os bilhetes de crédito e circulação, vencíveis a 18 meses e semelhantes às letras de câmbio, como instru-mentos da dívida flutuan­te. ü decreto de 1835 estabeleceu em Portugal o registro geral das obrigações de­correntes de empréstimos ao erário. A"inscrição" era o registro do crédito do cida­dão no livro da Dívida Pública PortuguesJ.

Adívida externa, em moldes modernos, foi concebida no mercado financei­ro de Londres, cerca de 12 ou 13 anos antes da inde-pendência do Brasil, que viria a assumir um dos empréstimos.

N. ORIGEM DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA. COMO TUDO COMEÇOU. ..

Antes de tornar-se independente de Portugal o Brasil ainda não tinha uma dí­vida pública, no sentido técnico do termo, embora governantes da Colônia contraís­sem empréstimos desde os séculos XVI e XVII.

Em CJrra endereçadJ ao pai, antes de serarar-se da metrópole, o Príncipe Re­gente escreveu relatando -as dívidas do Erário alidam.' ao Banco por 12.000.000, pouco mais ou menos; ao Young & Fillie anda por dois mil e tantos contos de réis; ao Visconde do Rio Seco, por bem perto de um milhão... Eexistiam ainda as dívidas administrativas. Conclui assim: OBanco que se prestava e ainda se presta, já tor­ce. Não !Já maior dev;raça do que esta em que me vejo, que édesejarfazer o bem e arrancar tudo e não haver com quem 1) Referia-se ao primeiro Banco do Brasil, fundado por D. João VI .

No ano de 1812, o futuro Marquês de Baependi, Manoel Jacinto Nogueira da Gama, apresentou exposição detalhada do estado da Fazenda Pública, aconselhan­do a extinção dos bilhetes de circulação de crédito, para os quais a Naç:io não esta­

"BALEEIRO, A Uma Introdução à CiêrlCia das Finanças e Polilica Fiscal, Y ed., Forense, p.334. "Idem, op. cito p 335.

Page 8: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

I

.

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO254

ria preparada por falta de confiança no real Erário e por falta de luzes, confundindo tais bilhetes com papel-moeda. 14

Em maio de 1822, Nogueira da Gama sugeriu ao Príncipe uma novação da dí­vida, explicando que a Comissão não concebia esta medida como a de um emprés­timo e, muito menos, como a de um pronto e efetivo pagamento dos credores, mas tão-somente a trazia como uma concordata. Existiram ironias sobre o pedido. Mem­bros da Comissão diziam que para movimentar agrande máquina do crédito era pre­ciso não tê-lo perdido e, mesmo desmoralizando o Tesouro com suas informações, alguns meses após, foi coberto com excedentes o empréstimo interno efetuado para a aquisição de navios de guerra.

Por sugestão do primeiro ministro da Fazenda do Brasil - Martim Francisco ­em agosto de 1824, nosso imperador foi a Londres, acompanhado de Felisberto Brant Pontes (futuro Marquês de Barbacena) e Gameira Pessoa, como plenipotenci­ários ad hoc, para celebrar, com algumas firmas inglesas, o primeiro contrato de nossa dívida externa que, desde o início, deu-se em condições leoninas: ( ..) um ter­ço da soma emprestada produzia apenas 175por cada titulo de 1100i outro ter­ço a 82 e o último a 87 por 100, vencendo todos ojuro de 5%, além dos descontos e comissões, das quais 2% para aqueles dois emissários do país. 15 (grifo nosso)

Como as firmas ficavam com um terço do empréstimo de r. 3.000.000, os ou­tros dois terços foram fornecidos pelos ingleses por contrato firmado em! 12.01.1825, ficando gravadas as rendas das alfândegas nacionais, como garantia. Desde então, o Brasil passou aser cliente dos Rotschilds e, com o tempo, de outros banqueiros internacionais. Acada dificuldade do Tesouro, crises, déficits crônicos, guerras como as de Rosas e Lopez os solícitos prestamistas estendiam as mãos e no­vos títulos brasileiros apareciam em Londres.

Ésabido, que à operação inicial de t 2.000.000 se somou outra, por efeito do Tratado de 29.8.1825, pela qual Portugal reconheceu a independência do Brasil, de valor igual, em virtude de ter o jovem Império, a título de indenização, assumido o empréstimo que a ex-metrópole contraíra em Londres, em 1823, para resistir à sua rebeldia.

Em 1827, o Brasil copiou da França e da Inglaterra a idéia do registro geral de todos os títulos da Dívida. Pela Lei de 15 de novembro daquele ano, criou o Grande Livro da dívida pública interna e externa, e a Caixa de Amortização regulando então, de forma racional e metódica, a administração dos empréstimos nacionais.

Até o final do Império, foram celebrados dezesseis empréstimos externos. A dívida interna até 31 de dezembro de 1889, atingiu o valor de cinco vezes a receita daquele ano - 583.535.700$. Um século atrás ...

"BALEEIRO, ibidem, p. 336 "CASTRO CARREIRA, in op. cil. coma que o pagamemo da comissão havia sido autorizado através da portaria de 0501.1824

INSTITUIÇÃO TOLEOO [

Rui Barbosa, Ministl do, a situação financeira d escondeu os números: dí1 da e fiutuante) -alcançav:

Já estávamos naquel ceitas do fim do Império pois Estados e Município~

Circunstâncias criticas fiZé Federal recorresse à mora gamento de prestações d loall. 16

Os credores estrang Após a Revolução de 193C cujo resgate só é retomad gociado com Londres (M. Brasil deixou de recorrer a ção do não cumprimento

V. OS TÍTULOS DA DÍV

No período de 1902 apólices com o intuito de contratuais garantiam ao J contemplar a correção mo

Os agentes econômi ter a maturidade de duzen dos como instrumento de seriam pagos após aconclt via Madeira Mamoré (desal Bolívia, a ferrovia São Luiz-'

As apólices da dívid2 ações, administradores de te estrangeiros, que passar cer da Fundação Getúlio V: tulo, lançado em Contos d

J'TENÓRIO, Igor e MAlA, JMotLl. Dic loan: fundo de consolidação ou emf da externa, que incluem o principal, nA respeitável entidade conclui que ser reconhecida. (Clóvis de Faro· DiJ - Professor da EPGE!FGY.)In p. da W

Page 9: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

i

rUlçÃO TOLEDO DE ENSINO

ar falta de luzes, confundindo

oPríncipe uma novação da dí­ledida como a de um emprés­pagamento dos credores, mas 1ironias sobre o pedido. Mem­je máquina do crédito era pre­:souro com suas informações, empréstimo interno efetuado

do Brasil - Martim Francisco ­" acompanhado de Felisberto ira Pessoa, como plenipotenci­:lesas, o primeiro contrato de mdições leoninas: ( ..) um ter­ada titulo de .f 100; outro ter­:ro de 5%, além dos descontos n'os do país. 15 (grifo nosso) éstimo de ,to 3.000.000, os ou­

por contrato firmado em ~as nacionais, como garantia. Ids e, com o tempo, de outros ouro, crises, déficits crônicos, listas estendiam as mãos e no-

se somou outra, por efeito do a independência do Brasil, de o de indenização, assumido o s, em 1823, para resistir à sua

rra a idéia do registro geral de )daquele ano, criou o Grande Amortização regulando então, lpréstimos nacionais. seis empréstimos externos. A valor de cinco vezes a receita

ia sido aUlOrizado alravés da ponaria de

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 255

Rui Barbosa, Ministro da Fazenda do Governo Provisório, ao expor, alarma­do, a situação financeira do País, um mês e meio após o início do novo regime, não escondeu os números: dívida externa ,t 30.419.500 e que somada à interna (funda­da e flutuante) - alcançava 1.071.122.138$.

Já estávamos naquela época em uma situação inquietante, uma vez que as re­ceitas do fim do Império eram minguadas. Com a República, a situação agrava-se, pois Estados e Municípios também se envolvem em processos de endividamento. Circunstâncias críticas fizeram com que, por duas vezes (1898 e 1914), o Governo Federal recorresse à moratória com seus credores, dando-lhes novos títulos em pa­gamento de prestações da dívida através da operação conhecida como Junding­loan. 16

Os credores estrangeiros foram tratados com correção pelo Brasil até 1930. Após a Revolução de 1930, ocorreu a suspensão do pagamento da dívida externa, cujo resgate só é retomado após a concretização de um terceiro Junding-loan, ne­gociado com Londres (M. Rotschilds & Co.) Portanto, houve um período em que o Brasil deixou de recorrer ao mercado externo, pois teve seu crédito abalado em fun­ção do não cumprimento do pactuado com os credores.

V. OS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBUCA BRASILEIRA

No período de 1902 a 1964, o Governo brasileiro, em todos os níveis, emitiu apólices com o intuito de "fazer caixa" para investir em infra-estrutura. As cláusulas contratuais garantiam ao portador de cada apólice uma taxa de 5% ao ano, e sem contemplar a correção monetária.

Os agentes econômicos adquiriam esses papéis que muitas vezes chegavam a ter a maturidade de duzentos anos, uma vez que, naquele tempo, eram considera­dos como instrumento de poupança de prazo longo e raro risco. Alguns, inclusive, seriam pagos após a conclusão de obras a que estavam vinculados, como a da Ferro­via Madeira Mamoré (desativada há 30 anos) que representou a conquista do Acre à Bolívia, a ferrovia São Luiz-Caxias e a Passo Fundo-Uruguai, dentre outras iniciativas.

As apólices da dívida pública foram descobertas em 1996 por operadores de ações, administradores de recursos do exterior e alguns investidores, principalmen­te estrangeiros, que passaram a negociar esses papéis após a obtenção de um pare­cer da Fundação Getúlio Vargas 17

, do Rio de Janeiro, definindo o valor de face do tí­tulo, lançado em Contos de Réis.

16TENÓRlO, Igor e MAlA,].Molla. Dicionário de Direito Tributário. Bushalsky. p. 160 explicam o que sejaJunding­loan: fundo de consolidação ou empréstimo fundado ou ainda consolidado. Faz-se pela emissão de Ululas da dívi­da eXlerna, que incluem o principal, juros de juros, considerando-se uma espécie de empréstimo de caixa. liA respeilável entidade conclui que a dívida de um ESlado, desde que não seja para financiar ma guerra, [em de ser reconhecida. (Clóvis de Faro - DireLOr Financeiro da FGVe Professor da EPGE / FGV - Luiz Guilherme Shymura - Professor da EPGE/FGV)ln p. da Web hllp:l/users.sti.com.br/ baiamollle/Principal.hunl

Page 10: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

:' I: ~

"

;,':<

: i:. I;'

, I. ,

I .'"

INSTITUIÇAO TOLEDO INSTITUlçAO TOLEDO DE ENSINO256

De acordo com M ses papéis pelo Governo que, embora tenha sido o emissor dos mesmos, tem feito

Apolêmica existente atualmente é em relação à prescrição e à aceitação des­o Congresso encontrav2

malabarismos para não recebê-los como forma de extinção de tributos, pois o resga­ às apólices. Praticamentl te pode significar aos cofres do Tesouro Nacional, algo em torno de R$ 35 bilhões18

, pelo governo militar, nal segundo cálculos exagerados da Procuradoria da Fazenda Nacional. que os titulares de apól

(e, estadual e municipal cidas, pois não havia COIV 1. PRESCRIÇÃO/VALIDADE o ESTADO DE DIREITO,

AUnião defende que as apólices não podem ser resgatadas, porlJue estariam a natureprescritas, segundo os Decretos-leis n° 263/67 e nO 396/68, Aprimeira norma esta­feítas, nãbeleceu um prazo de seis meses para a apresentação dos títulos para resgate, prazo servado (esse que seria contabilizado conforme um edital previsto pelo próprio decreto-lei, a lídadeA(ser publicado pelo Banco Central. No dia 04,07,1968, o Diário Oficial da União apre­

sentou o edital do Banco Central prevendo que as apólices deveriam ser apresenta­Em relação ao ato]das entre OU)7, 1968 e 01011969

as obrigações do Estado (Seis meses depois, em 30 12.68 foi editado o Decreto-lei 396/68, que prorro­paro do Código Civil (argou de seis para doze meses o prazo de resgate dos papéis. Com a edição da nova dem ser alteradas unilat! regra, a União entende lJue o prazo para restituição dos títulos foi esticado até o dia pios constitucionais e a I 02,07.1969 -primeiro dia após ovencimento do prazo, (Mas, atenção I ODecreto-lei Kleber Leite de Castrou. J263/67 previa a publicação de um regu!:lmento e o de nO 396/68 previa a edição de torizativos de sua emissãi novos editais... publicações essas, que nunca chegaram a acontecer I). direitos ao patrimônio deA Procuradoria da Fazenda Nacional diz que, para pagamento de tributos, tos e direitos adquiridos.caso o prazo final dado pelo edita! seja considerado inválido, prevaleceria a prescri­prescrição dizem respeit<ção de cinco anos, que é o previsto pela legislação fiscal. do; logo, não poderiam ~ Segundo alguns especialistas, dentre eles Aristides ,lunqueira Alvarenga, o res­TMDADE évedada pelogate parcial promovido pelos decretos-lei de 1967 e 1968 das arólices supra-citadas troagir para beneficiar o I ocorreu de forma irregular, ao atropelar direitos adquiridos, atos jurídicos perfeitos,

Saulo Ramos eArnleis em rlena vigência à época de suas edições, e, finalmente, ao fulminarem a pró­NAl e concordaram que.pria Constituição FederaL!' Isso porque o Decreto de 1967 afrontou normas consti­síveis, portanto, de resgatucionais então vigentes, quando, em seu art. 12, delegou ao Conselho Monetário

Para oCoordenadoNacional o "poder" de regulamentá-lo, atribuição essa que era (art. 83, II da Carta de ral da Fazenda Nacional, ]1967) e continua sendo indelegável e relativa ao Presidente da República, firmou posição quanto àO mesmo diploma legal também é inconstitucionallJuando em seu art. 3°, rem as apólices seculare!rarte final, versa sobre a matéria de prescrição, proibida de ser estabelecida por de­

creto-lei, consoante () regime constitucional vigente. " REALE]R Miguel, In p. Website 21Uma vez que [ndos devem ler rf.Assim, de nada valeu o edital do Banco Central convocando os portadores dos de apólices estaduais e municipai~títulos da dívida pública para resgate, uma vez que ausente avigência da autorização "REALE]R. Miguel. Idem, op, dI.

legislativa, Válidas, portanto as apólices e demais títulos a que se referem os Decre­ "REALE]R., Miguel. Ibidem "CASTRO,]osé Kléber Leite de, h "RAMOS, Saulo e,outros, Ibidem

"Fome: Revista da OAB.iRS. Ano I, n" 06, p,lü·17

tos supra mencionados c, então, passíveis de resgate.

16NUNES, ]orge Amaury Maia, apu

''ALVARENGA, Aristides). In r da Web 1illp://users.slÍ,com,bribai:llllOme J'JrisladlUni al1igos,

Page 11: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

TUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

àprescrição e à :lceitação des­:missor dos mesmos. tem feito inção de tributos, pois o resg:l­8 em torno de R$ 3,5 bilhões18

,

enda Nacional.

~r resgatadas, porque estariam 196/68 Aprimeira norma esta­dos títulos para resgate, prazo isto pelo próprio decreto-lei, a oDiário Oficial da União :lpre­ólices deveriam ser apresenta­

'ecreto-Iei 396/68, que prorro­papéis. Com :l edição da nova JS títulos foi esticado até o dia I. (Mas, atenção I ODecreto-lei ~ nO 396/68 previa a edição de maacontecer !). para pagamento de tributos,

wálido, prevaleceria a prescri­:aI. les ]unqueira Alvarenga, o res­168 das apólices supra-citadas ridos, atos jurídicos perfeitos, Imente, ao fulmiI1:lrcm :l pró­1967 afrontou normas consti­egou ao Conselho Monetário que era (art. 83,11 da Carta de :lente da República. ional quando em seu art. 30 ,

ja de ser estabelecida por de-

Jnvocando os portadores dos ~nte avigência da autorização )s a que se referem os Decrc­

urisladJUnl

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 257

De acordo com Miguel Realle Jr. 20 , em 28.02.1967 por força do AI. 4 e do AI. 5,

o Congresso encontrava-se em recesso, impedido de apreciar a matéria pertinente às apólices. Praticamente, foram proibidos que todos os atos do legislativo baixados pelo governo militar, naquela época, fossem contestados na justiça. Daí, entende-se que os titulares de apólices da dívida pública interna fundada do Governo Federal (e, estadual e municipal/, têm direito a, no mínimo, exigir que elas sejam reconhe­cidas, pois não havia como recorrer à justiç:l pelo simples motivo de que não h:lvia o ESTADO DE DIREITO, sendo tudo resolvido à força22

; e porque continuam com

a natureza de título creditício exigível e, como tal, devem ser satis­feitas, não só porque são válidas, mas também, para que seja pre­servado o Crédito Público, a respeitabilidade do Estado e a Mora­lidade Administrativa. ÉConstitucional, Legal, Moral ejusto. 23

Em relação ao :lto jurídico perfeito e ao direito adquirido, não há dúvida que as obrigações do Est:ldo originárias da emissão das apólices da dívida pública, ao am­paro do Código Civil (art. 1.505 e seguintes ou de legislação extravagante, não po­dem ser alteradas unilateralmente, por decretos-lei, colocando-se contra os princí­pios constitucioI1:lis e a lei de introdução ao Código Civil, segundo parecer de José Kleber Leite de C1Stro 24

. Além disso, as condições inscritas nos títulos e decretos au­torizativos de sua emissão constituíram relações juridicas definitivas e incorporaram direitos ao patrimônio dos seus portadores, consubstanciaram atos jurídicos perfei­tos e direitos adquiridos. E, disse mais: as regras referentes ao pr:lZO de resgate e à prescrição dizem respeito à substância do ato jurídico perfeito e do direito adquiri­do; logo, não poderiam ser vulneradas por legislação superveniente, cuja RETROA­TMDADE é vedada pelo texto constitucional. E, vale lembrar, que a lei só pode re­troagir para beneficiar o contribuinte (o prestamista, no caso).

Saulo Ramos e Arnold Wald 25 também definiram o decreto INCONSTITUCIO­NAL e concordaram que as Apólices representam Dívida Pública fundada e são pas­síveis, portan to, de resgate.

Para o Coordenador-Geral de Assuntos Jurídicos Diversos da Procuradoria-Ge­rai da Fazenda Nacional, Dl'. Jorge Amaury Nunes, aAdministração Pública Federaljá firmou posição quanto à imprestabilidade dos títulos em questão, dizendo não te­rem as apólices seculares qualquer significado juridiCO.26

N REALEJR. l\1iguel. In p. Website citado. "Uma vez que lOdos devem ler lmamemo igualitário, °eSlado de direito não existia lambém para os portadores de apólices estaduais e municipais, não há motivo para lralamemo Merenciado. "REALE JR. Miguel. Idem. op. ciL "REALE JR., Miguel. Ibidem uCASTRO, José Kléber Leite de. In p. Web CiL "RAJ\10S, Saulo e.omros. Ibidem "NUNES, Jorge Amaury Maia, apud CASTRO, Aldemario Araújo na Revisla Dalavenia ano IV, março 99, nO 22, seção anigos.

Page 12: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

I

I

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO258

Para Aldemario Araújo Castro, Procurador da Fazenda Nacional,

não obstante a escorreita conclusão do parecerjá citado, apenas para aprofundar a discussão sobre certos aspectos da possível uti­lização destes títulos, adotamos a opção metodológica de que eles não estão prescritos, são válidos epodem ser opostos ao emitente e terceiros. 27

Na verdade, o Governo (federal, estadual ou municipal) está diante de crédi­tos contra a União, Estado ou Município, venddos ou não, dependendo do radocí­nio a ser observado.

Ultrapassadas as dificuldades relativas à higidez desses documentos, há ainda a problemática de saber se podem, entre outros, ser utilizados no campo trihutário para: pagamento, dação, consignação, suspensão da exigibilidade, garantia do jtÚZO em execução fiscal ou compensação.

Embora não seja o objeto de nosso trabalho, salientamos que existem várias sentenças da Justiça Federal conferindo aos portadores das apólices o direito de efe­tuarem compensação com tributos e contribuições federais, pelo valor de face ... ; e o (...) direito de utilizarem as apólices como garantia de dívidas contra a União, e suas Autarquias, pelo valor de face (art. 11,Ir, da Lei 6.830/80) ... 28

Éde ser citado, ainda, o processo na 97.0062142-1- ação ordinária de Earth In­vest-Economia Auxiliar de Recursos, Tecnologia, Hahitação Ltda. E Outros versus União Federal, onde o Exmo. Juiz Federal, Dr Pedro Paulo Lazarano Neto, em rela­ção à Medida PrO\~sória n° 1238/95, § 3°, do art. 1°,29 reafirma que as correções de leis, revogações de artigos ou parágrafos, não atingem direito adquirido, (... ) pois

VCASTRO, Aldemario. op. cit , seção artigos. "No julgamento da ação de tmela antecipada realizado em Goiãnia, em 14.8.98 pelo Exmo. Dr. Carlos Humbeno de Sousa, in página da Web citada onde diz que: "Determino: 1) até que os Amores resolvam a lorma pela qual farão uso dos ciladas utulos, sejam os respectivos originais custodiados junto a qualquer agência do Banco do Brasil S/' devendo eSte banco aceitá-las e emitir, no prazo de 48 h, o competente recibo de custódia, nele especilkado o valor atualizado de cada apólice apurado em 310198 (fls.65), pela Fundação Getúlio Vargas, e constando também que tais títulos são divisíveis, transferíveis e endossáveis; 2)em função da plena elicácia mobiliária dessas apólices, que ora reconheço e declaro, o seu registro no CETIP-BACEN, procedimento a ser efetivado au-avés da Secretaria do Tesouro Nacional; 3) que a negociação desses titulas, para os Amores que assim o quiserem, peran-te quaisquer órgãos federais, se realize pelo valor de tace, devidamente atualizado ... ; 4) que sejam aceltOs os mencionados títu­los públicos, como moeda de privatização, coníorme a opção a ser exercida pelos Amores (arL 288,c/c An. 571, § 2°, ambos do CPC). "...E, mais adiante: ".-..antevejo uma sobrecarga de processos desaguando na Justiça Federal em todo o país ... é porque o Governo negou ao cidadão qualquer de seus vários direitos que liles confere a Carta Magna... C.) ~Esta Medida Provisória reconheceu o direito adquirido dos atUares do processo em questão. Diz assim o artigo referido: "O Poder Público fIxará mediame decreto nos meses de janeiro a julho de cada ano os limites de substi­tuição dos utulos a que se refere o Decreto-Lei 263/67, para o respectivo exercício". Este artigo veio a ser revoga­do, posteriormente. Mas, dita revogação, como salienta o despacho atacado no processo em questão, não alcança direitos adquiridos.

INSTITUIÇÃO TOLEDO

nos termos do § 4° do ; texto de lei já em vígor

Falta apenas o ava sejam respeitados oprir tiva, do equilíbrio finan< causa, para que se proce por imperativo de justiç

VI. CONSIDERAÇÕES

Ninguém poderia Real", pessoas físicas e ju durante o governo do Pr

Apesar de não rece da República e respaldad ral- órgãos responsáveis I tido muito sucesso com ~

zação das apólices como Diante do exposto,

aconteceu a prescrição d cobrar a amortização do original e os Decretos-lei jurídico perfeito, o c1ireitc tência do Presidente da RI da em decreto-lei, segund

ODecreto-lei 396/6 para interromper o prazo um novo edital tivesse sid lei 263/67, por ele alterad<

AMedida Provísória República oDecreto-lei 26 ao determinar a forma de prescritos. Ese não estão' te citadoJ1

, não estão presc

JONo que diz respeito àmanifestação tais teriam sido publicados e divulga publicação dos editais. Mesmo adec - o anúncio no mundo imeiro- não Ih zado o dito anúncio, e acostá·lo aos "Ver notas de rodapé 28,29 e 30.

Page 13: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

nçÃo TOLEDO DE ENSINO

~nda Nacional,

oparecer já citado, apenas 10s aspectos da possível uti­ia metodológíca de que eles ~m ser opostos ao emitente e

nicipal) está diante de crédi­'tio, dependendo do raciocí­

lesses documentos, há ainda :ilizados no campo tributário jgibilidade, garantia do juízo

ientamos que existem várias das apólices o direi to de efe­erais, pelo valor de face ... ; e de dívidas contra a União, e 30/80) .. 28

'- ação ordinária de Eanh In­ação Ltda. E Outros versus ulo Lazarano Neto, em rela­:afirma que as correções de direito adquirido. (..) pois

I pelo fumo Df. Carlos Humbeno de Ires resolvam a torma pela qual farão lquer agência do Banco do llrasil S/ le custódia, nele especificado o valor lia Vargas, e constando também que 'ácia mobiliária de&Sas apólices, que 'r efetivado através da Secretaria do sim o quiserem. peran-te quaisquer

sej1ffi aceitos cs mencion~dos Útu­

elos Autores (arL 288,c/c An. 571, § )s desaguando na Justiça Federal em 's direitos que lhes confere a Carta

sso em questão. Diz assim o areigo 10 de cada ano os limites de substi· :íád'. ESle artigo velD a ser revoga~

,processo em questão, não alcança

INST1TU1ÇÃO TOLEDO DE ENS1NO 259

nos termos do § 4° do art. 10 da Lei de Introdução ao Código Civil são correções a texto de lei já em vigor e consideram-se lei nova. ~o

Falta apenas o aval final a ser dado pelo Superior Tribunal de Justiça, para que sejam respeitados o princípio da equivalência, da boa-fé, da moralidade administra­tiva, do equilíbrio financeiro dos contratos e da proibição do enriquecimento sem causa, para que se proceda o resgate das apólices e demais títulos da dívida pública, por imperativo de justiça.

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ninguém poderia imaginar que quatro anos após a implan-tação do "Plano Real", pessoas físicas e jurídicas brigariam na Justiça pelo resgate de títulos emitidos durante o governo do Presidente Campos Saltes.

Apesar de não reconhecer avalidade dos papéis lançados nos primeiros anos da Repúhlica e respaldado pela Procuradoria da Fazenda Nacional e aAdvocacia Ge­rai -órgãos responsáveis pela sua defesa em processos judiciais -o Governo não tem tido muito sucesso com seus argumentos e o número de ações na Justiça para utili­zação das apólices como garantia de dívidas vem crescendo...

Diante do exposto, chega-se a inúmeras conclusões. Segundo a doutrina, não aconteceu a prescrição das ações dos titulares das apólices da dívida pública para cobrar a amortização do débito do Estado, na forma acordada no negócio jurídico original e os Decretos-lei 263/67 e 396/68 são inconstitucionais por ferirem o ato jurídico perfeito, o direito adquirido, por tratar de matéria que não era de compe­tência do Presidente da j{epública, e mais, por tratar de matéria de prescrição veda­da em decreto-lei, segundo a Carta Magna da época.

ODecreto-lei 396/68 não teve o seu edital publicado, o que já seria suficiente para interromper o prazo de prescrição, a partir de dezembro de 1968. E, ainda que um novo edital tivesse sido publicado, o mesmo estaria ineficaz porque o Decreto­lei 263/67, por ele alterado, ainda não estava vigendo e é inconstitucional.

AMedida Provisória de nO 1238195 veio abençoar com o aval do Presidente da República o Decreto-lei 263/67 (e, conseqüentemente, ode na 396/68) uma vez que, ao determinar a forma de substituição dos títulos, reconheceu que eles não estão prescritos. Ese não estão prescritos para os prestamistas do processo anteriormen­te citadol1, não estão prescritos para os demais. Ofato do artigo 30 dessa Medida ter

~No que diz respeito àmanifestação da União afirmando inexistir prova da plena validade dos títulos e que os "edi­tais teriam sido publicados e di\1Jlgados, a mesma não pode ser acolhida, ante a absoluta falta de comprovação da publicação dos editais. Mesmo a declaração de ex-ministro, no caso o Df. Delfim Netto, que afIrma haver di\1Jlgado - o anúncio no mundo inteiro- não lhe aproveitl, eis que com mais razões e com maiores facilidades pode ser locali­zado o dito anúncio, e acostã-lo aos autos. São Paulo, 19.3.1998" "Ver notas de rodapé 28,29 e 30.

Page 14: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

---

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO260

sido revogado, não significa que os direitos adquiridos venham a ser ignorados, mas sim, que o Governo deverá buscar uma maneira diversa de ressarcir os portadores das apólices.

Éo momento de realizar um recadastramento desses papéis, após o reco­nhecimento da autenticidade de cada um, pelos órgãos indicados por cada entida­de política envolvida - e proceder-se à quitação dos mesmos, como ocorre com os precatórios. Ou, ainda, permitir que sejam utilizados para garantia de execuções fis­cais, consignação em pagamento, compensação com tributos federais, estaduais e municipais, e, também, como pagamento de aquisições de ações de empresas esta­tais em leilões de privatização.

Após a sucessão de equívocos do passado, resgatar-se o que não foi pago e é devido por lei, é uma questão de direito, é afirmar a credibilidade do governo bra­sileiro. Aqui e "lá fora". (ou será que De Gaulle estava certo... (?) e este não é um País

, . I ,)seno...

INSTITUIÇÃO TOLEDO

REFERÊNCIAS BIBLIC

BAlEEIRO, Aliomar. Uma neira: Forense, 1955

. Uma Introduçl de Janeiro: Forense, 196~

BASTOS, Celso Ribeiro. ( Paulo: Saraiva, 1995. CASTRO, Aldemario Araú. JARDIM, Eduardo Marcial Paulo: Saraiva, 1996. NASCIMENTO, Carlos VaI edição, Rio de Janeiro: Fo ROSA JR., Luiz Emydio F. edição, Rio de Janeiro: Re TENÓRIO, Igor e MAIA,].

Páginas da WEB http://userssti.com.bribai http://www.direitobancari http://www.pgfn.fazenda.! http://home.ism.com.br/ií http://www.estado.com.br http://www.jus.com.br/do

Revistas e jornais Revista ISTO É, 29.10.1997 Revista da OAB - seção Ril Revista VEJA, 19.06.1996. Gazeta Mercantil, 1° e 08.0°Estado de São Paulo, 06.

Legislação e Pareceres Código Civil - Lei de Intro Código Tributário Nacional Constituição Federal- 198 Decreto-Lei nO 263/67; Dec Lei nO 8.383/91; Lei nO 9.2S Medida Provisória nO 1238/ Parecer da Proc. Geral Faz.

Page 15: Tradução de Ellen Grace Carlos Alberto Álvaro de - CORE · pena de não conseglur realizar, a curto prazo, negócio algum. Os questionamentos . de hoje, dizem respeito . à. validade/aceitação

ÃO TOLEDO DE Er---'SINO

ham aser ignorados, nus le ressarcir os portadores

sses papéis, após o reco­dicados por cada entida­lOS, como ocorre com OS

garantia de execuções fis­utos federais, estaduais e ~ ações de empresas esta­

,r·se o que não foi pago e libilidade do governo bra­L(?) eeste não é um País

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 261

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALEEIRO, AJiomar Uma Iizlrodução à Ciência das Finanças, 13a edição, Rio de Ja­neiro: Forense, 1955

---. Uma Introdução à Ciência das Finanças e Política Fiscal, 3a edição, Rio de Janeiro Forense, 1964 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e Tributário, 3a edição, São Paulo Saraiva, 1995. CASTRO, A1demario Araújo. Revista Datavenia ano IV, na 22, março 1999. JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Dicionário jurídico Tributário, 2a edição, São Paulo: Saraiva, 1996. NASCIMENTO, Carlos Valder do. Comentários ao Código Tributário Nacional, 2a

edição, Rio de Janeiro: Forense, 1998. ROSA JR., Luiz Emydio F da. Novo .Manual de Direito Financeiro e Tributário, 6a

edição, Rio de Janeiro Renovar, 1989. TENÓRlO, Igor e MAlA, ]. Motta. Dicionán'o de Direito Tributário, Bushatsky.

Páginas da WEB http/lusers.sti.com.br/baiamonte/principal.html http://v.'WW.direitobancario.com.br http://wv..W[?gfn.fazenda.gov.br/publicamm085998.html http/lhomeism.com.br/nbusines/divitdaslfi.htm http://v.wwestado.com.brliornaI!97/07/06/news090.h tm I http://wv.w.jus.com.br/doutrina

Revistas e jornais Revista ISTO É, 29.10.1997 e 04.02.1998. Revista da OAB - seção Rio Grande do Sul- ano I, na 06, março/abril 1999. Revista VEJA, 1906.1996. Gazeta Mercantil, 10 e 0807.1997 e; 19.07 e 24.09.1998. O Estado de São Paulo, 0607.1997 e 12.12.1998.

Legislação e Pareceres Código Civil - Lei de lntrodução(Decreto-Lei na 4.657 de 4.09.1942) Código Tributário Nacional- Lei 5172 de 25. 10.1966 Constituição Federal- 1988 e anteriores. Decreto-Lei na 263/67; Decreto-Lei na 396/68; Decreto 578/1992 Lei na 8.383191; Lei na 9.250/95; Lei na 9.430196 Medida Provisória na 1238/95 ; Medida Provisória 176}62/1999 Parecer da Proc. Geral Faz. Nac. na 859/1998. Publicado D.O.D. 06.7.1998