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Scott Westferld – Midnighters 2 – Touching Darkness
Comunidade Orkut Traduções e Digitalizações - http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=65618057
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Scott Westferld – Midnighters 2 – Touching Darkness
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Esta obra foi digitalizada/traduzida pela Comunidade Traduções e Digitalizações para proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício da leitura àqueles que não podem pagar, ou ler em outras línguas. Dessa forma, a venda deste e‐ book ou até mesmo a sua troca é totalmente condenável em qualquer circunstância. Você pode ter em seus arquivos pessoais, mas pedimos por favor que não hospede o livro em nenhum outro lugar. Caso queira ter o livro sendo disponibilizado em arquivo público, pedimos que entre em contato com a Equipe Responsável da Comunidade – [email protected] Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras. Traduções e Digitalizações Orkut - http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=65618057 Blog – http://tradudigital.blogspot.com/ Fórum - http://tradudigital.forumeiros.com/portal.htm Twitter - http://twitter.com/tradu_digital
Feita por: Édila
Scott Westferld – Midnighters 2 – Touching Darkness
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MIDNIGHTERS II - TOUCHING DARKNESS
Scott Westerfeld
Sinopse:
À medida que os midnighters procuram descobrir a verdade sobre a hora secreta,
desvendam terríveis segredos que fazem parte da própria história de Bixby e uma conspiração
que atinge o mundo do tempo regular.
Os midnighters enfrentam perigos de morte e um deles poderá mesmo partir para não mais
regressar.
Scott Westferld – Midnighters 2 – Touching Darkness
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11h:51min da Noite
LEIS DA GRAVIDADE
Pelo menos tudo estava separado.
Suas roupas tinham finalmente descoberto seu caminho para as gavetas corretas. Os
livros alinhados em sua ordem alfabética, e o emaranhado de cabos de seu computador tinham
sido dominados com faixas de borracha em um rabo de cavalo espesso. As caixas estavam lá
fora na garagem, dobradas na horizontal e embaladas com duas cordas para o caminhão de
reciclagem na segunda. Só uma última caixa, rotulada ‘PORCARIA’ com marcador preto, estava
no canto de seu quarto, preenchida com uma dúzia de pôsteres de bandas de garotos, dois
suéteres rosa, e um dinossauro de pelúcia, tudo o que parecia muito infantil para sua nova vida.
Jessica se perguntou se ela realmente tinha mudado daquele tanto desde o
empacotamento nas caixas em Chicago. Talvez fosse ser presa que tinha de repente feito ela se
sentir mais velha. (Ok, oficialmente ela tinha sido detida e transportada à custódia dos pais. Tanto
faz.) Ou talvez fosse por ter um namorado. (Embora que não fosse oficial ainda também, pense
nisso.) Ou talvez fosse o mundo secreto que tinha se aberto ao redor dela aqui em Bixby e em
seguida tinha tentado tão fortemente matá-la.
Mas tudo estava organizado agora, ela disse para si mesma.
Por exemplo: treze tachinhas estavam alinhadas debaixo de cada janela em seu quarto, e
treze clipes de papel descansavam sobre a verga da porta. Ela usava uma estrela de treze pontas
ao redor de seu pescoço, e em uma caixa de sapato debaixo de sua cama estavam
Anfractuously, Explosiveness e Demonstration1 (também conhecidos como um cadeado de
bicicleta, uma sinalização de auto estrada, e uma pesada lanterna). Todos seus nomes tinham
treze letras, e todos os três eram feitos de brilhante aço inoxidável.
Olhando para o relógio de cabeceira, Jessica sentiu o agitar dos nervos que sempre vinha
nesta hora da noite. Excitação, uma ansiedade por começar, e uma súbita língua seca, como se
ela estivesse prestes a fazer um teste de motorista a centenas de quilômetros por hora.
Ela tomou um profundo fôlego para se acalmar e sentou cuidadosamente em sua cama
organizadamente feita, relutante em perturbar qualquer coisa. Mesmo pegar um livro da prateleira
poderia desequilibrar toda a noite. Porém, a limpeza do quarto parecia precária; de qualquer
forma, isso podia ir morro abaixo.
Jessica tinha muito aquele sentimento nestes dias.
1 Relativo a fractal .Explosividade. Demonstração.
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De pernas cruzadas sobre a cama, ela sentiu algo no bolso da frente do seu jeans. Ela o
pescou para fora: os vinte cinco centavos2 que ela tinha descoberto no armário enquanto o
limpava. Os inquilinos anteriores devem ter deixado ele para trás. Jessica o virou no ar, o metal
piscando enquanto ele girava.
No terceiro giro, no topo do arco da moeda, um tremor pareceu passar através do quarto...
Não importava o quão cuidadosamente ela observasse seu relógio, o exato momento da
mudança sempre surpreendia Jessica, como o solavanco do trem L em Chicago quando ele
começava a rolar. A cor vazou do mundo, e a luz se tornou fria, plana e azul, e o baixo gemido do
vento de Oklahoma caiu de repente ao silêncio. Suspenso no ar diante dela, a moeda cintilou
suavemente, um minúsculo e imóvel disco voador. Ela olhou firmemente para ele por um tempo,
cuidadosamente, não chegando tão perto para quebrar o feitiço.
“Cara”, ela finalmente declarou, então alcançou debaixo da cama para libertar
Explosiveness e Demonstration de sua caixa de sapato. Ela as enfiou no grande bolso da frente
de seu moletom e rastejou para fora pela janela.
Fora no gramado, Jessica esperou novamente. Ela não se incomodou em se esconder,
embora ela ainda estivesse de castigo por outras duas semanas (um resultado da coisa toda de
ser presa). As casas ao redor dela brilhavam com a fraca luz azul. Ninguém estava olhando, nada
se movia na rua; nem mesmo as dispersas folhas caídas de outono pairavam imóveis no ar,
arrastadas das árvores escuras como um longo vestido. O mundo era de Jessica agora.
Mas não só dela.
Uma forma cresceu contra o céu nublado, arqueando de telhado em telhado,
graciosamente e silenciosamente saltando em direção a ela. Ele batia nas mesmas casas toda
noite, como um pinball seguindo uma rota familiar nos flippers. Bem como Dess disse, que ela
podia ver os números em sua cabeça, Jonathan afirmava que ele podia ver os ângulos de seu
voo, o caminho mais elegante se mostrando diante dele em linhas brilhantes.
Jess tocou o peso tranquilizador de sua lanterna através do algodão da blusa do moletom.
Todos eles tinham seus talentos.
Quando Jonathan aterrizou suavemente no solo diante dela, a energia nervosa de Jessica
começou a se tornar algo mais agradável. Ela observou o corpo dele se dobrar, seus joelhos se
flexionarem e os braços se estenderem absorvendo o impacto de seu reduzido peso da meia
noite contra a grama, e sentiu empacotar as últimas roupas de sua ansiedade em uma caixa
rotulada ‘PORCARIA’, na parte de trás de seu cérebro. O medo tinha sido necessário para suas
primeiras semanas aqui na hora secreta – sua sobrevivência tinha dependido disso. Mas ela não
precisava mais dela.
2 Quarter – uma moeda correspondente a vinte cinco centavos. Um quarto de um dólar
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“Ei”, ela disse.
Jonathan varreu seu olhar ao redor no horizonte, checando por qualquer coisa com asas.
Então se virou para ela e sorriu.
“Oi, Jess.”
Ela permaneceu parada, deixando ele cruzar o gramado para alcançá-la. Os passos dele o
carregavam em suaves arcos a um pé de altura, meio que como um astronauta dando uma
passeada na lua.
“Qual o problema?”
“Nada. Só olhando você caminhar.”
Ele rolou seus olhos. “É mais difícil do que parece, sabe. Eu prefiro voar.”
“Eu também.”
Ela se inclinou para frente cuidadosamente, não estendendo suas mãos, gentilmente
fechando seus olhos. Enquanto os lábios dela tocavam os dele, a gravidade elevou-se em
Jessica, uma leveza familiar fluindo através do corpo dela.
Ela se afastou e suspirou, seus tênis se assentando de volta na grama.
Os longos e escuros cílio dele piscaram. “Você está de bom humor.”
Jessica encolheu os ombros. ”Eu só estou... feliz.” Ela se virou ao redor, absorvendo o
suavemente cintilar das casas, o céu vazio. “Tudo isso parece seguro, finalmente.”
“Entendi. Então você não precisa mais de mim para te proteger?”
Ela girou para encarar Jonathan. Ele estava sorrindo largamente agora.
“Talvez não.” Ela deu um tapinha em Demonstration de novo, “mas nós precisamos
estudar para aquela prova de física.”
Ele estendeu sua mão. Jessica a tomou e a leveza a preencheu de novo.
Voar com Jonathan tinha se tornado como respirar. Eles mal falavam, negociando o curso
deles com um gesto em direção a um trecho aberto de estrada. Bem antes de saltar, Jess
apertava sua mão direita em torno da dele. Ela amava ver o mundo como ele via, olhando abaixo
nos picos do caminho de seus arcos, na malha de Bixby de ruas poeirentas e gramados
esmaecidos de outono, carros congelados, e casas escuras.
Eles não foram para o centro da cidade esta noite; ela o puxou em um curso sinuoso em
torno da fronteira de Bixby. Sem dizer uma palavra em voz alta, Jessica quis testar o quão perto
ela podia chegar do deserto, sem atrair atenção. Desde que ela tinha descoberto seu talento (não
tão maravilhoso quanto o de Jonathan, mas bem mais formidável), nenhuma das coisas que
viviam na hora congelada tinha ousado desafiá-la.
O deserto era visível daqui, uma mancha escura se esticando de um lado a outro no
horizonte azul, mas ela e Jonathan estavam sozinhos no céu, exceto por uma solitária e imóvel
coruja voando nos ventos quietos.
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Os Darklings e seus parentes estavam ainda com muito medo dela, Jessica disse para si
mesma.
“Precisa de descanso?” Jonathan perguntou.
“Claro. Em breve.”
Isso era um trabalho difícil, voar. Pular com toda sua força de novo e de novo, envolvendo
seu cérebro em torno da estranhas regras da gravidade da meia noite de Jonathan. Na física eles
tinham acabado de aprender sobre as três leis do movimento de Isaac Newton. Jessica tinha a
quarta.
Um: Pule ao mesmo tempo que Jonathan. Senão você sai girando.
Dois: Empurre-se para frente, não direto para cima. Você quer chegar a algum lugar, não
ficar pairando no ar.
Três: Plano é bom. Foque em aterrizar em telhados, estacionamento e estradas.
Gramados ornamentais podem ser dolorosos.
Quatro: Nunca solte a mão de Jonathan. (Ela tinha aprendido essa do jeito mais difícil.
Duas semanas depois os últimos machucados em seus joelhos e cotovelos estavam só
começando a desaparecer.)
“Que tal lá em cima?” Jonathan apontou em direção a um sinal no posto de gasolina que
se elevava na interestadual. Uma visão clara de todas as direções, sem possibilidades de um
ataque sorrateiro.
“Perfeito.”
Eles pousaram no teto do posto de gasolina, em seguida se empurrando acima, em um
ângulo alto, flutuando para a beira do sinal escurecido, os pés deles aterrizando suavemente no
metal enferrujado. Quando Jonathan libertou a mão de Jessica, o peso real pressionou sobre ela.
Ela engoliu em seco e firmou-se em seus pés, um temor da altura retornando junto com a
gravidade.
Algo estranho captou a atenção de Jessica. Meio visível no campo aberto, atrás do posto
de gasolina, uma coluna nebulosa subia de um matagal.
“Ei, o que é aquilo?”
Jonathan gargalhou. “Aquele é um verdadeiro redemoinho de areia de Oklahoma.”
Jessica espreitou através das trevas. Imóveis, fragmentos brilhantes estavam dispersos
por toda a aparição, suspensos em uma embaçada torre torta em azul.
“Ele se parece com um fantasma de um tornado.”
“Redemoinhos são tornados. Na verdade os fracos. Logo que eu me mudei para cá, eu
costumava ir ao deserto e procurá-los.”
“Hmm.” Jessica podia ver copos de papel e folhas de jornal suspensos no vórtex. “Parece
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com algum tipo de redemoinho de lixo, na verdade.”
“Talvez aqui perto da cidade. Embora, não lá fora no deserto. Só a pura poeira de
Oklahoma.”
“Parece... poeirento.” Jessica olhou acima. A lua negra estava apenas visível através de
um caminho nas nuvens. Ela suspirou. A hora da meia noite já estava acabando pela metade.
Eles se sentaram na beira do sinal, as pernas pendendo na precária inclinação. Com seu
braço atravessado no de Jonathan, a leveza dele a preencheu de novo, e a distância para o chão
não pareceu tão terrível.
Outra vista bonita, ela pensou. A estrada para Tulsa se esticava diante deles, pontilhada
com carretas guiadas por sonâmbulos. Ela viu outra coruja no alto, acima deles, balançando nas
correntes do ar que alimentava o redemoinho.
Jessica pressionou seu ombro contra o de Jonathan, percebendo que eles tinham se
beijado só uma vez esta noite, quando ele tinha pousado.
“Nós deveríamos provavelmente falar sobre aquela prova de física.” Ele disse.
“Oh, sim. Claro.” Ela olhou para ele e estreitou seus olhos. ”Você na verdade gosta de
física, não é?”
“O que há para não gostar?” Ele puxou uma barra de doce de seu bolso e começou a
inalá-lo. Voar deixava Jonathan faminto. Respirar deixava Jonathan faminto.
Jessica suspirou. “Uh, um bando de fórmulas para se lembrar, um monte de dever de
casa.”
“Sim, mas a física responde todas as perguntas importantes.”
“Como o que?”
“Como se você dirigir um carro na velocidade da luz e ligar seu farol alto, o que acontece?”
Jessica sacudiu a cabeça – “Yeah, como eu sobrevivi sem saber dessa?“, ela fez uma
careta. ”E eu só estou a três meses de uma licença. Você acha que esta vai estar na prova
escrita?”
Jonathan riu. “Você sabe o que eu quero dizer. A física é cheia de coisas loucas como
essa, mas é também real.”
Ela pensou na moeda suspensa no ar em seu quarto e sorriu. “Então, aqui vai uma
pergunta de física para você, Jonathan. Quando você joga uma moeda no ar, ela para de se
mover por um segundo no topo?”
“Essa é fácil: não.” Ele soou absolutamente seguro, bem irritante.
“Por que não?”
“Por que ela está sobre a terra, que está girando e orbitando o sol, e o movimento do sol
embora no espaço, como a seiscentos metros por -“
“Espere, pare.” Ela suspirou. “Ok, vamos dizer que a terra não estava girando ou qualquer
outro daqueles troços. A moeda pararia por um momento no topo?”
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“Não”, ele disse sem parar, olhando para o vórtex congelado do redemoinho como se
vendo a resposta lá. ”A moeda estaria girando em torno de seu eixo e provavelmente se moveria
em uma parábola.”
“Não esta moeda”, Jessica disse firmemente. “Ela vai para baixo e acima e não girando.
Então, bem no topo há este momento onde ela para de se mover, certo?”
“Errado.”
“Por que diabos, não?”
Jonathan disse com uma certeza irritante. ”Bem, há este certo ponto onde o vetor da
moeda é zero. Quando a gravidade cancela seu momento ascendente.”
“Então ela não está se movendo.”
Ele sacudiu sua cabeça. “Não. A moeda vai para cima, então no próximo instante ela volta
para baixo. O tempo zero passa quando ela não está em movimento, portanto ela está sempre
em movimento.”
Jessica rosnou. “Física! As vezes eu acho que os Darklings tem a resposta certa. Todas
essas novas ideias só podem dar a você um dano cerebral. A propósito, você está errado. A
moeda para.”
“Não, não para.”
Ela buscou a mão dele, o levantando. “Vamos voltar para meu quarto. Eu provarei isso
para você.”
Ele franziu a testa. “E sobre –“
Ela o puxou para mais perto e o beijou. “Apenas venha.”
Eles aceleraram em linha reta através da cidade, se atirando através da poeira que cobria
um monte de carros abandonados em uma revenda e abaixo em um trecho vazio da Rua
Division. Jessica puxou Jonathan em um silêncio determinado. Ela não se importava se ela
falhasse no teste na segunda ou não. Ela tinha gastado muito de seu tempo com Jonathan em
movimento, fugindo ou evitando coisas aladas enviadas para observá-la. Mesmo quando eles
descansavam, ela e Jonathan eram sempre equilibrados em algum cume vertiginoso - no topo de
um prédio, em um silo de grãos, ou em frios suportes precários de uma torre elétrica. Ela só
queria estar em algum lugar normal com ele.
Mesmo se fosse em seu quarto. De qualquer forma, em vinte cinco minutos ele teria que ir
para sua casa.
A vista familiar de sua rua se abriu embaixo deles, larga e alinhada com carvalhos
espalhando suas últimas poucas folhas. Eles fizeram um retorno na casa na esquina (telhas de
papel tingido de preto davam melhor atrito). Um último pulo os levaria para o gramado dela.
Ela o puxou para mais perto.
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“Jessica...” A voz dele estava fria.
”Venha só por alguns –“
“Jessica!”
Ele virou o corpo dele, os girando no ar, a mão livre dele apontando para o chão abaixo.
Jessica olhou, mas não viu nada. Seu sangue congelou. Ela alcançou instintivamente
Demonstration e trouxe-a para seus lábios, pronta para sussurrar seu nome.
Eles desceram para a grama, e ele a agarrou forte e a impulsionou de novo. Ela não sabia
onde Jonathan estava indo; ele tinha retornado ao voo completamente, como se ela fosse apenas
bagagem. Jessica observou os céus a procura de Darklings, slithers, ou qualquer coisa. Mas
havia apenas as nuvens e a lua se pondo acima deles.
O pulo foi baixo e forte e os enviou com dificuldade em uma parada sobre o telhado da
casa do outro lado da rua. Jessica sentiu uma unha quebrar enquanto suas palmas esfregaram a
ardósia. Esse foi o primeiro lugar que Jonathan tinha voado com ela, ela se lembrou por um
momento, e como a primeira vez, ela estava sendo levada como um balão em uma corda.
Eles pararam escorregando no ápice do telhado.
“Lá embaixo!”, ele sussurrou, apontando para os densos arbustos que iam de um lado a
outro da beira do jardim.
“Um Darkling?” Um mero slither não teria alarmado ele daquele jeito.
“Eu não sei. Parecia... humano.”
Um midnighter? Ela se perguntou. Por que um dos outros estaria os espiando?
Eles deslizaram para frente e espreitaram da beira do telhado.
A figura estava agachada nos arbustos, uma forma humana encolhida em um longo casaco
contra o frio do outono, segurando algum objeto escuro em seu rosto. Jessica contou até dez
lentamente; ele permaneceu absolutamente imóvel.
“Ele é só um cadáver”, ela disse alto, então percebeu que ela tinha usado uma palavra de
Melissa. ”Alguém normal.”
“Mas o que é... o que ele está fazendo lá?”
Eles se levantaram juntos e andaram da beira do telhado, em uma lenta e graciosa
descida.
Do chão ela podia ver a palidez fantasmagórica da pele do homem, a irrealidade de sua
postura congelada. Ele era jovem e bonito, mas pessoas do dia sempre pareciam desgraciosas
aqui na hora azul, como as inexplicáveis poses estúpidas que Jessica sempre conseguia
encontrar em fotografias. O relógio cravado com joias estava congelado exatamente na meia
noite.
O objeto em suas mãos era uma câmera, sua lente se sobressaindo através dos arbustos
como um focinho longo e preto.
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“Oh meu Deus”, ela sussurrou.
A câmera estava apontada para sua casa. Para sua janela.
“Jonathan...”
“Sim, estou vendo.”
“Ele é algum tipo de tarado!”
A voz de Jonathan ficou mais suave. “Que por acaso está aqui à meia noite? Observando
sua casa?”
“Ele não pode saber de nada. Ele é um cadáver.”
“Acho que sim.” Ele deu um tentador passo para mais perto do homem, batendo seus
dedos no rosto dele. Sem resposta.
“O que nós vamos fazer, Jonathan?”
Ele mordeu seu lábio. “Acho que nós vamos ver Rex amanhã e perguntar a ele o que isso
significa.” Ele se virou de volta para ela. ”Por agora você tem que voltar.”
“O que?” Ela olhou para sua janela. Ela a tinha deixado aberta, protegida só pela cortina
transparente. “Eu não quero voltar para lá com ele... observando.”
“Você tem, Jess. A meia noite logo vai acabar. Você não quer ser pega aqui. Você vai ficar
de castigo para sempre.”
“Eu sei, mas...” Ela olhou para o homem. Havia coisas piores do que ser castigada.
“Eu estarei bem aqui”, Jonathan disse. “Eu vou me esconder e esperar até que a meia
noite termine e me certificar que ele não faça nada.”
Os pés de Jessica estavam enraizados no lugar, o peso da gravidade normal sobre ela.
“Vá em frente, Jess. Eu estarei observando ele.”
Não havia como discutir. A lua da meia noite estava se pondo, e ela não queria se enfiar de
volta pela janela durante a hora normal. Uma vez que o homem descongelasse, ela estaria
provavelmente mais segura lá dentro que fora.
Ela tocou o braço de Jonathan. “Ok. Mas tenha cuidado.”
“Tudo vai ficar bem, eu prometo. Eu te ligarei amanhã de manhã.” Desta fez ele a beijou
forte e mais, dando a ela um último gosto da leveza de pluma. Então Jessica cruzou a rua e
rastejou adentro para sua janela.
O quarto obsessivamente arrumado parecia frio agora, hostil na luz azul. Jessica correu
seus dedos na parte de baixo peitoril da janela, sentindo as treze tachinhas. Em poucos minutos
elas seriam inúteis. O número mágico não a podia proteger do homem lá fora. Em breve até
mesmo Demonstration seria só uma lanterna.
Ela fechou a vidraça e a trancou, então se movimentou ao redor do quarto, trancando as
janelas.
Um olhar em seu relógio confirmou que ela não tinha tempo de checar as trancas de toda a
casa, sem acordar seus pais ou Beth. Mas ela tinha que fazer alguma coisa. Ela foi até a
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organizada gaveta de tesouras, fitas, e discos de computador, e encontrou um calço de borracha
e o prendeu sob a porta de seu quarto. Pelo menos se alguém tentasse vir a seu quarto, eles
teriam que fazer bastante barulho.
Ainda assim Jessica sabia que ela não teria muito sono aquela noite.
Sentada no chão, suas costas contra a porta, ela esperou, agarrando Demonstration em
suas mãos. Isso podia não fazer sua coisa de lança chamas na hora normal, mas com seu eixo
de aço pesado, ela era melhor que nada.
Ela fechou seus olhos, esperando para que o fim da segurança da hora azul terminasse.
A sacudida veio de novo – mais suave, como sempre quando o momento de suspensão da
meia noite terminava. O chão tremeu embaixo dela, o mundo estremecendo quando ele
começava de novo.
Um barulho alcançou seus ouvidos e seus olhos se arregalaram, seus nós dos dedos
brancos contra a lanterna. A cor tinha fluído de volta a seu quarto. Haviam fortes sombras e
brilho, detalhes acentuados em toda parte. Jessica apertou seus olhos na súbita luz forte, seus
olhos se movimentando rapidamente de janela em janela.
Então ela viu o que tinha feito o barulho e deixou sair um suspiro de alívio. A moeda se
assentava no chão onde ela tinha finalmente caído, brilhante contra a madeira escura.
Jessica se rastejou e a examinou.
“Coroa.” Ela murmurou.
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12h:01min da Manhã
REGIÃO PLANA
A hora normal veio sobre Jonathan como um cobertor de chumbo.
Ele se deitava sobre o telhado, logo acima do homem com a câmera. Os braços e pernas
de Jonathan estavam espalhados para reunir mais da fricção das telhas, mas quando a gravidade
retornou, ele deslizou por um vertiginoso segundo na inclinação do telhado. Um ruído raspado
escapou por debaixo dele, e ele amaldiçoou silenciosamente.
Então Jonathan ouviu o zumbido da câmera abaixo, uma série de insistentes sussurros
que pularam a vida à medida que a hora normal começou. O homem tinha estado tirando
múltiplas fotos, entre o momento exato da meia noite. Isso era mau. Mas pelo menos o chiado da
câmera afogou o som do deslizar dele.
Jonathan levantou sua cabeça com dificuldade. Era difícil até mesmo respirar, esmagado
sobre a expansão fria da ardósia pela súbita gravidade esmagadora. Abaixo, o homem baixava
sua câmera e checava a hora no seu relógio caro, que brilhou ao luar. Ele começou a
desencaixar a longa lente telegráfica.
Um calafrio passou através de Jonathan. O teto de ardósia estava frio, agora que a meia
noite tinha escapado, e o vento frio de Oklahoma vinha direto através dele. Ele tinha esperado
estar em casa antes da hora azul terminar, logo ele não tinha nem mesmo trazido um casaco.
Maldição, ele pensou, imaginando a longa caminhada para casa. Se movendo
silenciosamente, ele puxou seus membros para mais perto de seu corpo e soprou em suas mãos.
Abaixo, o homem tinha colocado sua câmera em sua caixa. Pressionando mais seu
casaco, ele cruzou o quintal da casa encolhido e graciosamente se puxou por cima da cerca de
madeira. O som dos passos diminuíram no beco.
Jonathan se debruçou na calha e olhou abaixo, desejando que ele não tivesse escolhido o
telhado para seu lugar de esconderijo. Um minuto atrás tinha parecido a coisa natural a se fazer –
natural quando você podia voar, de qualquer modo.
Mas aqui na região plana, era uma queda feia.
Ele se abaixou, seus dedos se agarrando na calha, que rangeu alto. Em seguida caiu como
um saco de batatas no solo.
Oh! Uma dor aguda atravessou seu tornozelo direito, mas Jonathan reprimiu o som,
esperando que tivesse sido coberto pelo gemido do vento entre as árvores. A agonia se apertou
em seus olhos, lágrimas quentes forçaram sua saída. Ele respirou fundo, ignorando a dor. O
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homem já estava muito a frente.
Jonathan mancou pelo gramado e se puxou sobre a cerca para olhar por cima. Ele podia
ver uma figura no fim do beco, andando rápido para longe no frio. Jonathan se rebocou para
cima, seus músculos se alongando. Sempre levava um tempo para se ajustar à gravidade normal,
tanto mentalmente quanto fisicamente. A meia noite durava só uma hora a cada dia, mas era a
única hora que Jonathan se sentia completo. Pelas outras vinte e quatro horas ele estava preso
na terra plana, preso ao solo como um inseto no mel.
Jogar-se na terra dura acumulada do outro lado da cerca enviou outro chicote de dor
através de seu tornozelo. Ele mordeu seu lábio para manter o silêncio, se agachando nas
sombras da cerca até que o homem virasse na esquina a frente.
Jonathan mancou atrás dele.
Alguns momentos depois o som de um carro ligando retumbou abaixo no beco. Jonathan
escapou para uma garagem traseira, mal escapando dos faróis. Em sua mente ele viu um fácil
pulo que o levaria para o teto acima e fora das vistas, mas na terra plana isso era tudo o que
Jonathan podia fazer, lutar nas sombras atrás de uma pickup estacionada.
O carro passou lentamente no beco não pavimentado, grunhindo sobre as pedras soltas e
o cascalho. Seus faróis eram ofuscantes. Os olhos de Jonathan não tinham se ajustado da hora
azul, não mais que o resto dele tinha. Ele sentiu gosto de sangue em sua boca, onde um latejar
de dor batia no tempo do palpitar do coração frenético. Em algum momento ele abriu seus lábios.
Depois que o carro passou, Jonathan mancou para fora de seu esconderijo, e se agachou
no clarão vermelho de suas lanternas para que ele pudesse ler a placa. Mergulhando de volta as
sombras, ele repetiu para si mesmo de novo e de novo, como algum feitiço de Dess.
O som desapareceu e Jonathan se permitiu um suspiro de alívio. Pelo menos o homem
tinha partido. Por um momento ele só tinha estado espiando.
Mas por que? Até onde Jonathan sabia, ninguém que não fosse um midnighter sabia sobre
a hora secreta. O silêncio tinha sempre sido um pacto não dito entre os cinco que tinham
experimentado a hora azul.
Mas este homem tinha que saber algo. Quais eram as chances de que isso fosse só uma
coincidência? Ele desceu o beco, favorecendo seu pé bom. Ele tinha tempo de sobra para pensar
sobre isso a caminho de casa, e entre tentar não congelar até a morte ou procurar por Clancy St.
Claire. O xerife sem dúvida teria Jonathan por envolvido, desde que proibiu a ele e Jessica, de
quebrarem o toque de recolher.
E era uma noite de sábado, Jonathan percebeu, não a melhor hora para entrar em conflito
com St. Claire. Ele não se importou em passar duas noites na cadeira, ricocheteando nas
paredes na hora secreta e esperando pela segunda de manhã chegar.
Ele mancou até o fim do beco e olhou para fora cuidadosamente, então deu uns poucos
passos para a rua. Nenhum carro, nada.
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Ele olhou de volta para a casa de Jessica embaixo na estrada. A luz dela ainda estava
ligada. Ela estava provavelmente assustadíssima, observando sua janela e se perguntando o que
espreitava lá fora.
Jonathan estremeceu, pensando sobre saltar no frio caminho de casa. Nos finais de
semana seu pai dificilmente teria notado, e o piso de Jessica seria muito mais quente que
algumas valas. Ele podia sair de manhã cedo, antes que qualquer um na casa se movimentasse.
Jessica tinha pedido a ele para ir para casa com ela, ele se lembrou. Ela tinha desejado
mostrar a ele alguma coisa. Ou talvez ela apenas desejasse estar com ele em algum lugar seguro
e privado. Eles mal tinham se beijado hoje à noite.
“Merda”, ele disse suavemente, desejando ter pensado nisso antes de enviar Jessica para
casa. Ela provavelmente teria dito sim.
Ela provavelmente ficaria feliz em ver em ele em sua janela.
Depois de um longo e frio minuto, Jonathan suspirou e liberou os pensamentos frustrados.
Esta não era mais a hora secreta. Esta era a terra plana. Mesmo um tapinha sobre a janela, era
um risco deles serem pegos, e Jessica seria culpada. Os pais dela surtariam se eles o
descobrissem lá. Jonathan tinha bastante certeza que os policiais tinham mencionado seu nome
a eles quando levaram Jessica para casa. Ele duvidava que fosse bem vindo a qualquer hora do
dia, muito menos no meio da noite.
Ele se virou e deu mais alguns passos dolorosos à distância. Quando ele podia voar, a
viagem da casa de Jessica levava menos que cinco minutos, mas na gravidade normal. (E com
um tornozelo torcido, ele tinha muita certeza), isso ia tomar pelo menos duas horas.
Ele se contraiu em sua camiseta, checou por carros de polícia Na estrada escurecida a
frente, e foi para casa.
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3
1h:19min da Manhã
GEOESTACIONÁRIO
O sonho veio outra vez, cheio de grades de arame brilhante, linhas de fogo formando
esferas, como os duplos oitos de uma costura de uma bola de beisebol ou o giro de uma casca
largada, depois que uma laranja era descascada em um longo espiral. As linhas giravam ao redor
uma da outra, cobras cintilantes se entrelaçando em uma bola de praia, fazendo novos truques
toda noite. Ela examinou suas combinações incessantemente, procurando por um padrão fora
dos muitos...
Dess acordou suando, apesar de que seu quarto estivesse frio.
Ela esfregou seus olhos com os polegares ruídos e olhou para seu relógio. Maldição. Era
depois da meia noite; ela tinha dormido através da hora secreta de novo.
Dess sacudiu sua cabeça. Isso nunca costumava acontecer. Mesmo naquelas raras
ocasiões quando ela ia para cama antes da meia noite, a passagem para a hora azul sempre a
acordava com os tremores dela e o repentino silêncio. Qual era a importância de se ter uma hora
secreta inteira se você dormia nela?
Mas de algum modo ela a tinha perdido de novo.
As formas ardentes do sonho ainda pulsavam através da mente de Dess, seu mais novo
projeto incomodando seu cérebro de novo, exigindo respostas que não existiam ainda nos
pedaços de dados que ela tinha conseguido reunir.
O sonho vinha todas as noites agora, sua mente um mecanismo de cálculo traidor
ressoando na escuridão. Mas ela veio a entender o que algumas das imagens significavam.
As esperas eram a Terra, esta adorável bola de diversão que a humanidade estava
enfiada, exceto por Jonathan na hora secreta, sortudo. As linhas brilhantes eram as coordenadas
– longitude e latitude e qualquer que fosse às outras geometrias invisíveis que faziam Bixby
importante. (Agora haviam duas palavras que nunca deviam vir juntas: Bixby e importante. O que
quer que tenha decidido que esta cidade devesse ser o centro da hora azul precisava de uma
olhada a mais no Canal de Viagens.)
Dess fez uma careta. O sonho de hoje a noite tinha conjurado uma nova imagem em sua
cabeça: um círculo de diamantes brilhantes uniformemente espaçados ao redor de uma das
Terras de bola de praia, em órbita em um ritmo suntuoso. Haviam vinte quatro delas, sua mente
dizia a ela, um número bem Darkling. Mas o que a imagem significaria?
Algumas vezes ela se perguntava se todo esse projeto tinha endoidado ela. Talvez ela
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estivesse lendo muito da localização de Bixby.
Dess sacudiu sua cabeça. Os mapas de perfuração de petróleo de seu pai eram muito
precisos, e a matemática nunca mentiu.
A intersecção de 36 ao norte e 96 a oeste se situava a alguns quilômetros fora da cidade,
totalmente no poço da cobra. Aqueles dois números estavam entulhados de doze. Isso tinha que
significar alguma coisa; como o poço da cobra era uma fonte de conhecimento de Rex e um
grande imã de Darkling, ocupado no deserto como uma gigante aranha no meio de sua teia.
Uma coisa tinha se tornado bastante clara para Dess: a geometria da hora azul era muito
mais complicada que uma teia de aranha. Haviam assimetrias no modo que a hora secreta se
formava, sutilezas no modo de suas linhas alcançando através do duro deserto e em Bixby.
Mellissa às vezes reclamava sobre como sua telepatia mudava, dependendo de onde ela
estivesse, ganhando ou perdendo força como um rádio de carro sumindo e aparecendo em uma
viagem através das montanhas. E agora que Dess tinha se incomodado em mapear todos os
lugares de conhecimento preciosos para Rex, um padrão tinha emergido dali também. E, é claro,
haviam as pessoas que desapareceram, como o xerife Michaels há dois anos atrás. Os Darklings
nunca pareciam se incomodar com os cadáveres, mas eles tinham que comer alguma coisa. Rex
disse que haviam lugares especiais onde a barreira entre a hora congelada e normal eram
instáveis.
Esta era a verdadeira razão por trás do famoso toque de recolher de Bixby. Se uma pessoa
normal – uma vaca ou um coelho, azarados – acabassem ficando congelados perto de um
desses lugares, eles poderiam ser sugados através da barreira para uma inesperada viagem na
cadeia alimentar.
Tudo isso significava uma coisa: a meia noite tinha um formato, com ondulações e pontos
irregulares. Talvez houvesse lugares onde o número mágico de Dess era mais forte ou mais
fraco, onde o portar da chama de Jessica realmente detonaria, ou onde os Darklings não
poderiam ir. Talvez houvesse também lugares para se esconder.
Grande teoria, mas os detalhes eram a parte complicada. Sua matemática era difícil. Foi a
trigonometria sobre os asteroides e pensar sobre isso que esgotavam Dess o dia todo e então
deturpavam seus sonhos a noite.
Ela ficou lá, olhando para as notas rabiscadas em seu quadro negro, desejando que ela
tivesse algum tipo de máquina de calcular para descomplicar os números. Dess franziu a testa de
novo; ela nunca tinha usado uma mera calculadora em sua vida. E o computador da escola que o
Sr. Sanches deixava ela hackear de vez em quando não detalharia isso também. O que ela
realmente precisava para estas coisas era de um supercomputador da NASA, dos que previne-o-
aquecimento-global-e- rastreia-o-dia-do-juízo-final-pelos-asteroides.
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Do outro lado do quarto, Ada Lovelace3 permanecia em sua pequena plataforma, olhando
para Dess, impassível como sempre.
“Yeah, eu queria que você pudesse me ajudar também,” ela disse a boneca. Mas a
verdadeira Ada estava há muito tempo morta (há 153 anos, na verdade), todo aquele talento
perdido a toa antes que o mundo fosse inteligente o suficiente para perceber o quão brilhante ela
era. “Eu conheço o sentimento, querida.”
Dess rolou para fora da cama.
O grande problema era dimensionar tudo isso. A hora azul não vinha com placas de rua e
tabelas trigonométricas e você não podia pesquisar ela no Google por mais detalhes. Quando ela
sondava Melissa por mais dados, Dess sempre escondia seus pensamentos, sem querer revelar
seu súbito interesse nos problemas de recepção de um telepata. Por alguma razão, Dess queria
manter esta descoberta seu próprio segredinho... bem, ok, ela sabia a razão. Rex e Melissa
definitivamente tinham seus segredos, depois de tudo, e Jessica e Jonathan estavam bem lá em
cima como o Casal da Montanha, ela estava considerando em enviar uma equipe de resgate.
Essa coisa era dela. Mas seu segredo não deixava Dess muito com que se trabalhar, só a fofoca
de midnighter e os mapas de perfuração de petróleo de seu pai. E aqueles que ela tinha que pedir
emprestado no meio da noite.
“Falando em...”
Eram 1h:25min da manhã agora, um sólido 16.500 segundos antes da velha irritação do
alarme do relógio disparasse, se ele estivesse trabalhando neste fim de semana. À hora perfeita
para fazer um pequeno mapa matemático.
Dess balançou seus pés descalços no chão, sentindo o vento empurrar entre as antigas
placas. Ela testou seu peso contra a madeira – algumas noites havia mais rangidos do que
outras. A porta do seu quarto se abriu silenciosamente, graças ao seu tratamento semanal de
WD-404. (Algumas vezes era útil ter um pai que tinha desejado um filho.)
O vento estava forte hoje a noite, um baixo e insistente gemido marcado pelo bater de uma
persiana em algum lugar no parque de trailers do outro lado do campo lá atrás. Felizmente,
haviam bastantes ruídos aleatórios por toda a casa para cobrir qualquer barulho que ela poderia
fazer.
No meio da sala de estar estava um grande arquivo plano, o topo de metal marcado com
círculos de ferrugem de circunferência exata de uma garrafa de Pabst Blue Ribbon5. Entre
vasilhames e tampas de garrafa preenchidas com cinzas de cigarro estava uma linha de controles
remotos precisamente arranjados que ela raramente tocava. Dess havia feito os impostos de seus
pais e pagava suas faturas desde que ela era uma menina, mas ela não mexia nos manuais de
3Ada Lovelace – Foi a primeira mulher que pensou em construir um computador.
4 WD-40 – é um anticorrosivo, lubrificante, etc.
5 Pabst Blue Ribbon – marca de uma cerveja.
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VCR.
Na última semana ela já tinha trabalhado com três gavetas de mapas, então
cuidadosamente ela abriu a quarta abaixo. O cheiro incerto de Oklahoma bruto surgiu, o que
significava que o pai, em alguma parte do cérebro dela, veio à mente meias-luas pretas que
nunca deixavam as unhas dele.
As beiradas dos mapas se curvaram, como se eles estivessem sorrindo a vista dela.
“Oi, meus lindinhos”, ela sussurrou, então apertou os olhos no escuro. ”De que terras
vocês são?”
Acabrunhado no centro dos mapas havia um pequeno dispositivo desconhecido, quase tão
grande quanto um pacote de cigarros. Ele parecia novo, sem as manchas de óleo e cantos
tocados que os trecos de seu pai sempre adquiriam. Por um momento ela pensou em algum novo
controle remoto, o tipo de troço que poderia comandar uma antena parabólica.
Mas então ela o pegou e viu o logotipo de bússola acima da pequena tela em branco,
lendo em uma varrida de seus olhos a multidão de minúsculos botões abaixo.
“Whoa.” Sua mente piscou de volta a nova imagem em seu sonho: os vinte quatro
diamantes brilhantes em órbita ao redor de uma Terra em armação, uniformemente espaçado ao
redor o seu equador e lançando linhas de triangulações que curvavam em sua superfície.
Ela correu os dedos de um lado a outro do dispositivo e subitamente soube o que os
diamantes eram – satélites geoestacionários, para sempre suspensos a cima, em um lugar do
planeta, enviando sinais do sistema global de posicionalmente durante todo o dia.
Dess apertou o botão do power, e a telinha veio a vida.
N 12° 16.41320°
W 92° 51.21380°
“Oh, sim.”
As coordenadas flutuaram através da mente de Dess, movimentando-se em um radiante x
e y através de um mapa bem memorizado na segunda gaveta de cima. Eles eram familiares, mas
muito mais precisos do que ela podia imaginar, de pequenos números que marcharam em torno
das margens do mapa: o dispositivo estava dando a posição de sua casa. Sua sala de estar, na
verdade, até um metro de precisão.
Esqueça o super computador – esta era a máquina que ela precisava. Uma pequena fera
que sempre sabia exatamente onde ela estava, que daria a ela todos os números que precisava
para quebrar o código da hora azul.
Dess olhou para o dispositivo, de repente com sede, sua unha do polegar entre seus
dentes. O único problema era como pegar ele emprestado. A coisa não funcionaria na hora
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secreta – mesmo se a coisa vodu da portadora de chamas em Jessica o ligasse, um único
receptor GPS era inútil sem aqueles vinte quatro satélites sondando no espaço. Dess teria que
usar ele na hora normal.
Que seria complicado a menos que ela...
Dess engoliu em seco. Certamente seu pai não tinha comprado isso. Ela não gastaria um
bom dinheiro de cerveja em uma ferramenta. Ele era um chefe de tipografia agora; a companhia
deve ter dado isso para ele. Ele provavelmente nem mesmo o estava usando. O pai odiava todas
as formas de tecnologia extravagante sem relação com os replays de futebol.
Ela olhou abaixo para os números brilhando de novo.
“Gracinha...”, ela sussurrou E maldito fosse se geoestacionário6 não fosse um
tridecatologismo, treze letras exatamente!
Na pior das hipóteses, ela teria que esconder o GPS com cuidado e escutar a velha
reclamação mau humorada e enfurecida da casa de cabeça para baixo por algumas horas. Como
isso não acontecesse cada vez que ele perdia as chaves do carro. Não fazia sentido, sentada
aqui no escuro, Dess decidiu. Ela já sabia o que ela ia fazer. Seus sonhos tinham mostrado o que
ela precisava.
Mas Dess parou por um momento com aquele pensamento. Por que ela tinha sonhado
sobre o Sistema Global de Posicionalmente quando sua mente desperta não tinha tido nenhuma
ideia de que seu pai se apropriava de uma dessas coisas? Isso era algo a se pensar.
Entretanto...
Ela fechou sua mão ao redor do dispositivo e sussurrou. “Meu.”
6 Geostationary é uma palavra de 13 letras e sua tradução única se torna uma palavra de 15 letras. Não é possível
achar um sinônimo para ela.
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9h:45min da Manhã
FORÇA DE CORIOLIS7
“Dia, Beth.”
“O que há de bom nele?”
Jessica virou para encarar sua irmãzinha, que estava segurando um pedaço de pão
integral em sua mão.
“Eu na verdade não disse „bom dia,‟ Beth. Só „dia‟. Então eu não tenho que explicar por
que ele é bom.”
Beth olhou para Jessica, os olhos estreitados, seu pequeno cérebro correndo enquanto ela
tomava um gole de suco de laranja. “Eu não disse que você disse que ele era bom. Eu só estava
fazendo uma simples pergunta.”
“Isso é tão sem noção. Pai, diz a Beth que é sem noção.”
“Garotas”, o pai de Jessica murmurou em um jeito ameaçador distraído, sem se incomodar
em olhar acima de seu jornal.
“Ele não pode te ajudar, Jess. Ele na verdade não está ouvindo o que nós estamos
dizendo”, Beth explicou. “Ele só reage ao nosso tom de voz. Como algum tipo de cachorro.”
“Eu escutei isso”, Don Day disse, dando a Beth um olhar realmente ameaçador. Ela se
escondeu atrás de seu suco de laranja de novo.
A mãe se moveu rapidamente vestida para o trabalho, o que era comum nas manhãs de
domingo nesses dias. Seu novo trabalho na Aeroespacial de Oklahoma era o que tinha trazido
todos eles para Bixby.
“Dia, mãe. Quer alguma coisa para comer?” Jessica se virou para colocar pão na
torradeira.
“Ei, gente. Não obrigada, Jess. Nós vamos ter um café da manhã na reunião.”
“Então quando seu novo emprego vai se tornar seu antigo emprego, mãe? E você vai ficar
em casa nos finais de semana?” Beth perguntou.
Jessica se virou e viu que seu pai também estava esperando uma resposta.
Sua mãe olhou para os três e suspirou. “Eu não sei. Embora, hoje é minha culpa. Eu me
voluntariei para este comitê sobre uma nova pista de decolagem.
“Nunca se voluntarie.” O pai disse, jogando seus olhos de novo no jornal.
A mãe de Jessica olhou para ele daquele novo jeito que tinha desenvolvido nas últimas
7 Geostationary é uma palavra de 13 letras e sua tradução única se torna uma palavra de 15 letras. Não é possível achar um
sinônimo para ela.
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poucas semanas, um olhar frio que provavelmente tinha algo haver com o fato de que ele não
tinha um emprego aqui ainda. À espera da última hora secreta, Jessica tinha escutado eles
discutindo sobre ele conseguir um emprego temporário sem haver computadores, para trazer
algum dinheiro extra e tirá-lo de casa.
Entretanto Donald Day não viu o olhar. Ele nunca via.
“Eu vi um redemoinho noite passada”, Jessica disse, tentando quebrar a tensão.
“Noite passada?” Beth perguntou docemente.
Jessica olhou para baixo, passando manteiga na torrada dela. “Anteontem à noite, eu
quero dizer. No caminho da escola para casa. Ele era realmente grande, tipo uns 30 metros de
altura.”
“Esta é a região dos tornados.” O pai disse, seu jornal farfalhando enquanto ele olhava
acima. “É por causa da força de Cariolis. Eu vi essa coisa no canal do tempo –“
Beth gemeu. “O canal do tempo de novo não.”
Jessica enfiou a torrada em sua boca. O desemprego tinha tornado seu pai um viciado em
algumas atividades estranhas.
“O que tem de errado com o canal do tempo?” ele perguntou.
“Duas palavras, pai: tempo... canal.”
Ele a ignorou. “De qualquer modo a força Cariolis é causada pela rotação da Terra abaixo
de nós, deixando o ar para trás. Ela faz o vento soprar mais forte em lugares planos como
Oklahoma; não há nada que possa pará-lo.”
Jessica piscou. “Na verdade, isso faz sentido.”
Talvez fosse por que o vento não soprava na hora secreta: a Terra tinha parado de girar
sob Bixby. Beth estava olhando para ela, chateada com Jessica que estava mostrando algum
interesse. Ela só presumia que sua irmã mais velha era uma puxa saco.
“Sim, Jess, como se nós nunca tivéssemos nenhum vento em Chicago.”
O telefone tocou. Antes que Jessica pudesse se mover um centímetro. Beth tinha girado
em sua cadeira e o alcançado para responder.
“É para mim?” A mãe olhou para seu relógio e puxou a bolsa de couro em seu ombro, se
afastando do café fresco que ela tinha começado.
“Não, é para Jessica.” Beth estendeu o telefone docemente. “Alguém chamado Hank?”
Jessica deu um tênue sorriso. “Hank”, era o codinome de Jonathan quando ele ligava para
sua casa. Jessica tinha bastante certeza de que Beth não sabia disso ainda, mas sua irmãzinha
sempre agia como se ela soubesse de alguma coisa, desde o princípio.
“Eu pego no corredor. Tchau, mãe.”
Jessica não disse nada até que ela ouviu o reconfortante clique, que significava que Beth
estava fora da linha.
“Alô?”
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A voz de Jonathan estava rouca, como se ele estivesse com um resfriado, mas era bom
escutá-lo. Ele disse a ela o que aconteceu na noite passada, sobre o homem dirigindo para longe
logo depois do fim da hora secreta. Então a grande notícia: ele tinha estado tirando fotos no
momento exato da meia noite.
“Então, ele sabe.” Ela disse suavemente. “Ele tem que saber.”
Houve uma pausa. “Eu acho que sim.”
“Ok, eu falarei com Rex sobre isso hoje.” Jessica suspirou.
Ela podia deixar seu pai acreditar que ela estava estudando com Rex, embora isso
provavelmente contasse como seu primeiro evento semanal de estar fora do castigo. É claro,
qualquer coisa era melhor que estar enfiada em sua casa o dia todo com Beth, que parecia não
ter encontrado amigos aqui ainda e invejava sua irmã mais velha pelos que ela tinha.
“Eu irei com você.” Jonathan disse.
“Sério?” ela exclamou, mas sua felicidade se apagou rapidamente. O fato de que Jonathan
estivesse desejando suportar a companhia de Rex Green só mostrava o quão séria a situação
era.
Jessica Day tinha inimigos humanos agora.
“Acredite-me”, Jonathan disse. “Você não quer ir até o Rex sozinha.”
“Que confortante.”
“Você sabe onde ele mora?”
Ela não sabia. Agora que ela pensou sobre isso, Jessica nunca tinha estado em nenhuma
das casas dos outros midnighters, nem mesmo na de Jonathan. Entre os perigos letais da hora
secreta e a inconveniência de ser castigada, não havia tido tempo só para sair por ai. A vida
normal estava ainda - congelada.
Jonathan deu a ela o endereço e eles concordaram de se encontrar em uma hora.
Enquanto Jessica baixava o telefone, ela olhou do corredor para a janela da porta da
frente. O dia parecia brilhante e frio. Ela estremeceu, percebendo que o homem poderia estar lá
fora neste momento. Pelo menos quando os Darklings tinham estado perseguindo ela, ela tinha
tido vinte quatro horas de segurança todo dia. Mas agora o dia tinha sido invadido.
Ela só tinha se sentido segura aqui em Bixby por uma semana, antes de tudo ter mudado
de novo. Agora ela estava no modo perigo.
Da cozinha ela escutou a voz de sua irmã.
“Encare isso pai. Não há força de Carioilis. Oklahoma apenas venta.”
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10h:51min da Manhã
REUNIÃO SOCIAL COM SORVETE
Jessica parou sua bicicleta e olhou para a casa de Rex Greene, que se situava
miseravelmente na rua, cercada de casas mais novas em ambos os lados, o gramado da frente
reduzido a trechos tostados.
O lugar parecia vazio, como se tivesse estado abandonado há anos. Mas o pai de Rex
tinha respondido ao telefone uma hora antes. Ele tinha dito que Rex estava lá e então desligado,
sem se incomodar em chamar ele. Dos outros midnighters Jessica tinha tido a impressão de que
alguma coisa estava errada com o velho, mas ninguém tinha dito exatamente o que.
Ela olhou para seu relógio, ainda uma hora adiantado do tempo mantido durante a hora
secreta, e desejou que Jonathan já tivesse aparecido. Ela não queria encarar a esquisitice do pai
de Rex sozinha.
“Jessica!”
Ela pulou, girando para encarar o som, antes que ela percebesse quem era.
“Caraca, Jonathan. Você me assustou.”
Ele surgiu por detrás de um antigo carvalho, que lançava uma imensa sombra que
atravessava a maior parte da frente do jardim.
“Desculpe.”
A voz dele estava arranhada. ”Eu estava meio que... me escondendo, no caso de seu pai
ter trazido você. Eu não queria que ele me visse.”
Jessica rolou seus olhos. “Não que ele não saiba como você se parece. Aliás, desde que
ele e mamãe decidiram que eu estava só parcialmente de castigo, ele não tem sido tão
paranoico.”
Embora como adivinhado, o pai tinha contado esta visita como um cartão de saída da
prisão semanal de Jessica. Ela esperava que sua mãe revogasse a regra depois do trabalho hoje
à noite, caso ela não estivesse muito exausta.
Jessica levantou sua bicicleta até a varanda da frente e começou a trancá-la na grade de
ferro.
“Você na verdade não precisa fazer isso aqui”, Jonathan disse.
Jessica enroscou a corrente entre seus raios e a fechou, estalando. “Me faça rir. Os
hábitos de cidade grande são difíceis de largar. Além do mais, eu gosto de ter Recursividade por
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perto.”
“Recursividade? Esse é o nome do seu cadeado?”
“Treze letras. E por que você perguntou, ele significa „serpenteante.‟”
Jonathan piscou. “‟Serpenteante?” Dess tem haver alguma coisa com isso?”
“Quem mais?” Ela fechou o cadeado no lugar. O modo que seus elos de metal se
enroscavam em espiral através da estrutura de sua bicicleta lembravam a ela uma cobra.
Quando ela se virou de volta a Jonathan, ele veio à frente e se reuniu a ela em um longo
abraço. Ela se pressionou contra ele, aproveitando o calor sólido do corpo dele. Na hora da meia
noite Jonathan parecia tão leve, quase frágil em sua falta de peso, como se ele não estivesse
realmente lá. A meia noite podia permitir a eles voar, mas de algum modo, a enganava quanto à
substância de Jonathan.
“Você está bem?”, ele perguntou.
“Claro. Não dormi muito. E quanto a você? Você parece estar ficando doente.”
Ele encolheu os ombros. “Esqueci de levar a jaqueta na noite passada. Foi uma caminhada
gelada para casa.”
“Oh, meu Deus.” Ela olhou para ele. ”Eu esqueci...” Ela não tinha pensado na caminhada
de Jonathan até sua casa – ela sequer o imaginou andando a qualquer parte. “Mas, estava
congelando noite passada.”
Ele sorriu e grasnou. “Nem me fale.”
Jessica olhou para o chão. Ela tinha estado com medo, mas pelo menos ela tinha estado
quente e lá dentro. Eram quilômetros de volta para casa dele. Ela olhou acima para seus olhos
castanhos e disse silenciosamente.
“Sabe, você poderia ter vindo –“
A tela da porta da frente foi aberta com um guincho das molas enferrujadas.
“Onde eles estão? Vocês os viram em algum lugar?”
Ambos viraram para encarar o grito. Emergindo da casa dilapidada estava um velho, seu
rosto alinhado pelo tempo e barba por fazer. As mãos tremendo descontroladamente, ele esticou
seus dedos e olhou abaixo para a varanda, agarrando algo invisível.
“Eles foram embora!”
“Sinto muito.” Jessica falou. ”Um, quem desapareceu?”
“Meus bebês.”
Os olhos dele a varreram, olhando através de um filme branco leitoso. Um olhar de
confusão tomou sua expressão de pânico, e uma linha brilhante de baba sobre seu queixo cintilou
ao sol. Tufos de barba branca pipocavam ao longo de suas rugas, como se uma lâmina não
pudessem alcançar as rachaduras de seu rosto antigo.
“Tudo bem, pai. Eu irei encontrá-los.”
Através da tela da porta, Jessica viu o rosto pálido de Rex nos óculos entrar em foco. As
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molas rangeram de novo, enquanto ele se estendia para tomar o ombro de seu pai firmemente.
“Apenas sente aqui e nós procuraremos por eles.”
Rex puxou seu pai pela porta, as palavras do velho reduzidas a murmúrios ao toque dele.
A porta de tela se fechou atrás deles, batendo até uma parada em uma série de batidas contra a
batente.
Jessica se aproximou e apertou a mão de Jonathan. “A propósito, eu disse obrigada por ter
vindo?”
“Eu não perderia isso por nada neste mundo”, ele grasnou.
Passos retornaram, e Jonathan soltou a mão dela.
“Foram vocês que me ligaram mais cedo?” Rex abriu a porta e saiu, franzindo os olhos ao
sol. Ele acenou para um trio de cadeiras do gramado na extremidade da varanda. Ele estava
vestido com o mesmo uniforme que ele usava todo dia na escola: calças pretas e camiseta de
colarinho tão preta que seu rosto pálido tinha parecido pairar no ar atrás da tela da porta. Suas
botas caminharam pesadamente na varanda, as correntes de metal em torno de seus tornozelos
tinindo e faiscando ao sol. Ele tinha dito a Jessica os nomes das tornozeleiras alguns dias antes -
tridecalogismos como Consciencioso8 e Confiabilidade”.
“Sim, era eu.”
Os degraus de madeira se curvaram ligeiramente debaixo dos pés de Jessica enquanto ela
subia para varanda. Ela notou que Jonathan esperou até que ela estivesse a caminho, antes de
segui-la, não querendo testar as antigas pranchas com o peso dos dois. Ele parecia estar
mancando. O que tinha acontecido a ele a caminho de casa na noite passada?
“Lamento pelo meu secretário.” Rex disse secamente. “Ele está um pouquinho distraído
ultimamente.”
“Uh, claro. Mas ele me disse que você estava em casa. Então nós viemos.”
Rex tirou seus óculos, olhando para os olhos de Jessica com uma intensidade que a fez
olhar para longe. Sem os óculos, ela sabia, o mundo era um borrão para Rex na hora normal.
Mas os rostos dos outros midnighters eram diferentes: ele os podia ver perfeitamente, de dia ou a
meia noite.”
“Eu pensei que você ainda estivesse de castigo.” Ele disse.
“Sim, mas eu posso ver os amigos uma vez por semana.”
Rex se sentou e então olhou para Jonathan. “Eu estou honrado.”
Jessica relaxou cuidadosamente em uma cadeira do gramado, meio que esperando pela
queda. Sua estrutura de alumínio era fria até mesmo para sua saia de lã, e os braços eram
ásperos com a ferrugem marrom.
“Algo aconteceu”, Rex disse simplesmente. Ele sabia que eles não tinham vindo para um
8 Conscientious – Escrupuloso e Dependability – Segurança, confiança.
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bate papo.
Jessica olhou acima para a janela próxima a suas cabeças. Ela estava aberta, rajadas de
vento frio sugando a tela solta de mosquitos para dentro e para fora como se fosse alguma
membrana viva.
“Não se preocupe com ele”, Rex disse, sorrindo um pouco. “Eu não guardo nenhum
segredo de meu pai.”
“Nós vimos algo na noite passada”, Jonathan disse . Ele deu a palavra noite o título de
ênfase que todos eles usavam quando ele s queriam dizer a hora secreta.
Rex acenou sabiamente. “Animal, vegetal ou Darkling?”
“Humano”, Jessica disse. “Congelado na rua em frente a minha casa, apontando uma
câmera para minha janela.
Rex franziu a sobrancelha, as botas raspando ao longo da varanda enquanto ele se
endireitava na cadeira do gramado. De repente ele pareceu do modo que ele era na escola:
nervoso e indeciso. Sua arrogância só aparecia na hora secreta ou quando negócios midnighter
estavam sendo discutidos. A menção de um humano comum tinha diminuído ele.
“Como um caçador?”
“Nada tão normal”, Jonathan disse.
Jessica olhou para ele de lado. Caçadores eram normais agora?
“Eu observei ele depois do fim da hora”, ele continuou. ”O cara estava tirando fotos
exatamente a meia noite. Ele tinha uma daquelas câmera que...”, ele segurou uma câmera
invisível em sua mão e sugou seus dentes, fazendo uma série de ruídos sibilados. “Você sabe,
que tiram um monte de fotos em série. Eu acho que ele estava tentando ver se alguma coisa...
mudou na meia noite.”
“Você tirou o filme, certo?”
“Um...” Jonathan e Jessica olharam um para o outro.
“Não?” Rex sorriu, colocou seus óculos de volta e se inclinou de volta na cadeira, como se
em familiar terreno de novo. “Bem, não é grande coisa. As fotos podem revelar um desvio da
meia noite, quero dizer, você provavelmente moveu as suas cortinas durante a hora secreta.” Ele
deu de ombros. “Pessoas tentaram algo chamado fotografia espiritual no início de 1900;
Especialmente aqui em Bixby. Mas ela realmente não mostra nada.”
“Como você age como se isso não fosse grande coisa?” Jessica exclamou. “O cara
obviamente sabe sobre a meia noite!”
Rex concordou, balançando sua cadeira lentamente. “Isso não é sem precedentes.”
“O que você quer dizer?”
Ela se levantou, andando ruidosamente para a tela da porta e a abrindo com um guinchar.
“Deixe-me te mostrar algo.”
Mesmo com todas as janelas abertas, a casa tinha um cheiro. Mas do que um, na verdade.
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Havia um cheiro de pessoa velha, como a casa de repouso nos arredores de Chicago, onde sua
avó estava silenciosamente ficando mais senil. E havia também um distinto cheiro de cigarros
marinados em cinzeiros preenchidos com água.
“É uma coisa por segurança”, Rex disse, quando ela levantou suas sobrancelhas para a
tigela encharcada de charutos se desintegrando. “Papai não é muito bom em colocar as pontas
para fora. A água ajuda.”
Por baixo de tudo mais estava o insistente cheiro de xixi de gato. Um grande gato se
espalhava através de um sofá bem arranhado, observando eles passarem, dando um olhar
aborrecido, chateado, e majestoso ao mesmo tempo.
O pai de Rex estava localizado em uma grande poltrona, os olhos deles travados em um
aquário vazio com paredes de vidro arranhadas.
“Onde eles estão?” Ele perguntou debilmente, enquanto Jessica passava na ponta dos
pés.
“Nós iremos encontrá-los, eles devem estar por aqui em algum lugar.”
“O que?”, ela sussurrou enquanto eles se viravam para um corredor escuro. “Seu peixe?”
Sem olhar de volta para ela, Rex sacudiu sua cabeça. “Não, suas aranhas.”
Ela olhou para Jonathan, que deu de ombros.
O quarto de Rex era no fim de um corredor e tinha um cheiro diferente do resto da casa. O
mofo era dos velhos livros e demonstrativos de museu. Pilhas de livros e papéis soltos estavam
arranjados precariamente em torres, e filas de livros cobriram cada parede. Uma estante
bloqueava a única janela do quarto – certamente parecia como se Rex tivesse mais medo da luz
do que da escuridão.
“Lar doce lar”, ele disse.
Enquanto os olhos de Jessica se ajustavam a escuridão, uns poucos títulos vieram em
foco. Bastante do que ela teria esperado, mas muito mais. Haviam histórias de Oklahoma, diários
dos colonos e cálculos de deslocamentos e a imigração indígena, quando os nativos americanos
tinham povoado o território de Oklahoma há mais de cem anos atrás.
Indo mais atrás, haviam livros sobre povos pré históricos do Novo Mundo e ferramentas e
animais da Idade da Pedra. Ela e Jonathan foram para as pilhas de documentos em papéis
escritos a mão portando o selo da cidade de Bixby e velhas páginas do Registro de Bixby.
Tanto quanto Jessica podia dizer, Rex tinha tirado cópias de cerca da metade da biblioteca
local e empilhado os resultados em seu quarto. Mesmo sua cama estava coberta de papéis. Em
alguns estava inscritos as figuras esguias que registravam a tradição midnighter. Ela reconheceu
uma runa como uma tocha para o próprio talento dela – portadora-da-chama.
Há alguns almoços passados Rex tinha tentado ensinar a ela os símbolos para os outros
talentos: gênio, acrobata, vidente e telepata. Mas ela dificilmente podia compreender qualquer
coisa da densidade das páginas rabiscadas.
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Uma mochila estava pendurada na única cadeira no quarto. Rex tomou a cadeira e limpou
sua garganta.
“Dess te disse sobre Bixby, certo?”
Jessica olhou para as pilhas e prateleiras ao redor dela. “Talvez não tudo sobre isso. O que
exatamente?”
“Os sinais da meia noite, as escadas com treze degraus, os símbolos.”
“Claro”.
Dess tinha insinuado sobre as esquisitices de Bixby na primeira vez que elas tinham se
encontrado, antes que Jessica percebesse que a hora azul era qualquer coisa menos um sonho.
Desde então ela tinha visto os sinais em toda parte: as estrelas de treze pontas no selo da
cidade, no emblema da escola, nas antigas placas que as pessoas penduravam em suas casa.
Mesmo as palavras Bixby, Oklahoma, totalizavam treze letras.
“Alguma vez você já se perguntou quem colocou todos esses sinais no lugar?”
Jessica franziu a sobrancelha. “Não haviam midnighters aqui há muito tempo? Você disse
que eles tinham lutado com os Darklings por dez mil anos. Desde que o tempo azul foi criado.”
“Verdade. Mas a luta não foi sempre tão secreta quanto ela é agora. Antigamente não
eram apenas os midnighters que sabia o que estava acontecendo.”
Jessica acenou lentamente. De acordo com Dess, a cidade inteira tinha sido construída
com especificações anti-Darkling. Esta era a razão que um bando de midnghters precisaria de
ajuda para subtrair algo como isso. A menos que houvesse algum tipo de talento para arquitetura
que ninguém tinha dito a ela ainda.
Rex continuou. “Cada pequena cidade tem seus segredos, coisas que os forasteiros não
precisam saber. Há muito tempo atrás Bixby era uma cidade muito menor, com muito maiores
segredos que a maioria.”
“Ela ainda é um lugar estranho, mesmo se você nunca sequer tenha visto à hora secreta”,
Jonathan disse. “Eu poderia dizer isso no momento que eu me mudei para cá.”
“Tudo o que você tem que fazer é beber a água.” Jessica disse.
Rex concordou e colocou uma mão em uma pilha de cópias. “Se você sabe o que procurar
nestes papéis velhos, é fácil ler as entrelinhas. Não eram só superstições locais que faziam esta
cidade do modo que ela é. Os códigos de construção são projetados para repelir Darklings,
jornais reportam estranhos avistamentos de animais que pode ter sido feito a meia noite, e há um
monte de clubes e sociedades dedicadas a preservação de Bixby. „Este é o meu favorito‟.”
Ele levantou um pedaço de papel bem gasto do topo de uma pilha e o entregou para
Jessica. Ela leu:
Liga das senhoras anti-tenebrosidade;
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Reunião com sorvetes e leilão de torta;
Admissão a 5 centavos;
Encontro da liga a seguir (só para membros).
Jessica levantou uma sobrancelha. “O que é tenebrosidade?”
“É uma antiga palavra para escuridão.”
“Ok. Mas uma reunião social com sorvete?”
Rex sorriu. “É um modo de combater o mal. Eles tinham venda de assados também.
Praticamente todo mundo tinha que saber o que estava acontecendo.”
“Havia sempre alguém que não sabia o que estava acontecendo.” Jonathan disse.
Rex olhou para ele diretamente pela primeira vez, desde que eles tinham chegado,
espiando por cima dos óculos para avaliar a expressão de Jonathan. Então ele deu de ombros.
“Sim, você está certo. Para a maioria era provavelmente uma coisa social, como ir a igreja
é para um monte de gente. Mas naquela época os midnighters eram apoiados pela comunidade.”
Ele tomou o papel de volta de Jessica e murmurou. “Mas do que nós sequer seremos.”
“Mas o que mudou?”. ela perguntou. “Quero dizer, como pôde todo mundo simplesmente
esquecer?”
“É uma boa pergunta.” Ele acenou sua mão para as prateleiras, as pilhas de papel. “Eu
estive trabalhando. Tão de perto quanto eu possa imaginar, tudo mudou há cerca de sessenta
anos atrás. Primeiro houve um crescimento do óleo, um monte de pessoas novas vieram para
trabalhar nos campos. Pessoas que não entenderiam.”
“Então os antigos se mantiveram calados sobre o pequeno problema de Darklings em
Bixby.” Jonathan disse.
“Sim. Você não ficaria?” Rex pegou uma pilha de papéis de sua cama. “A cidade passou
de cem para doze mil em dez anos. Tempo de expansão. Espere, eu consegui os números
exatos em algum lugar aqui.”
Jessica e Jonathan esperaram silenciosamente enquanto ele folheava através dos papéis.
Ela tentou imaginar a cidade onde uma centena ou mais de pessoas sabiam a verdade sobre a
meia noite, enquanto milhares mais permaneciam no escuro. É claro, mesmo se alguém soltasse
o segredo, parecia improvável que os recém chegados acreditassem neles, exceto por uns
poucos nascidos no soar da meia noite, que podia ver ela com seus próprios olhos.
E compartilhar o segredo com uma centena de pessoas seria muito mais fácil do que ser
só um entre cinco...
O gato empurrou seu caminho através do quarto e se esfregou nos tornozelos de Jessica,
escapando entre as pilhas, para desaparecer debaixo da cama de Rex. Ela se perguntou onde as
aranhas do velho tinham ido, e suas pernas formigaram.
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Finalmente Rex encolheu os ombros, colocando os papéis em cima de uma pilha sobre o
chão.
“Não consigo encontrá-lo, mas isso é quase o que aconteceu. A parte óbvia.”
Ainda estremecendo pela imaginação das aranhas, Jessica perguntou, ”O que é a parte
não tão óbvia?”
Ele tirou os seus óculos e olhou acima para ela. “Os midnighters desapareceram.”
“Desapareceram?”
Ele concordou. “Não há conhecimento depois de 1956. Nenhuma marca ou registros de
nenhuma espécie que eu tenha encontrado. E quando Melissa e eu éramos crianças, não haviam
midnighters mais velhos que nós, ninguém para nos dizer o que estava acontecendo. Ela tinha
me descoberto por conta própria, quando nós tínhamos oito anos de idade. Antes daquela noite
eu pensei que eu era o único.”
Ele suspirou e baixou uma mão até quase ao chão. O gato emergiu para cheirá-la, então
permitiu ser afagado.
“Antigamente era diferente. Havia sempre pelo menos um telepata, alguém para encontrar
os novos midnighters. Quando eles ficavam velhos o suficiente para entender o tempo azul, havia
cerimônias de iniciação, professores. Você sabia que pertencia a algo.” Ele colocou seus óculos
de volta. “Mas tudo isso desapareceu em torno de cinquenta anos atrás, tanto quanto eu posso
dizer.”
“Então alguma coisa aconteceu a eles?” Jonathan disse.
Rex concordou. “Alguma coisa ruim, nós podemos presumir.”
“Mas o cara da noite passada...” Jessica disse. “Talvez ele fosse dos velhos tempos ou
algo assim. Como se ele se mudou da cidade e então acabou de voltar?”
“Ele parecia tão velho?” Rex perguntou.
“Eu acho que não.” Ela olhou para Jonathan, que concordou.
“Jovem.” Ele se deslocou inquieto em um pé. “Ele pulou uma cerca de dois metros e meio
com muito mais facilidade que eu pulei, também. O relógio dele tinha joias.”
“Então como ele sabe?” Rex disse suavemente. “Melissa nunca sentiu outra presença de
Midnighter além de nós cinco, e ela nunca provou uma mente do dia que soubesse a verdade. É
claro, ela não tem estado procurando por nenhuma ultimamente. Mas quando nós éramos
crianças...”
Ele caiu em silêncio, e Jessica se descobriu olhando para as quatro paredes de livros
cercando eles. O quarto era seu próprio pequeno mundo, uma fatia imaginária do passado.
Subitamente ela entendeu Rex um pouco melhor. Não era de se estranhar ele sempre parecer
deslocado, infeliz com o mundo que ele se encontrava. Ele desejava ter nascido nos velhos
tempos, onde haviam regras e encontros e iniciações, mesmo as reuniões sociais com sorvete.
Quando um vidente era provavelmente o chefe da coisa toda.
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“Eu peguei o número da placa do cara.” Jonathan disse.
Rex sorriu. “Talvez o xerife St. Claire possa te ajudar com isso.”
O rosto de Jonathan se fechou, e ele olhou para o gato abaixo, que estava esfregando sua
cabeça contra os pés dele. “Bem, de qualquer modo, isso é alguma coisa.”
Jessica suspirou. “Então, o que nós vamos fazer, Rex.”
“Melissa vai vir hoje à noite, depois que meu pai estiver na cama. Eu direi a ela o que
vocês viram. Talvez ela possa fazer uma pequena projeção e descobrir o que há de novo em
Bixby. Nós iremos dar uma volta ao redor da sua vizinhança hoje à noite, para ver se
encontramos qualquer pensamento disperso. Se o seu caçador estiver lá mais tarde, quando a
maioria dos outros foram dormir, ele deve ser fácil de encontrar.”
“O que nós devemos fazer?”
“Sejam cuidadosos.”
“Só isso? Jonathan disse. “Sermos cuidadosos?”
Rex acenou. “Muito cuidadosos. Isso que a história parece recomendar. Quando os antigos
midnighters desapareceram, tudo aconteceu de repente, tão rapidamente que nada foi registrado
na tradição. Algo se livrou deles de uma só vez.”
“Como Darklings, certo?” Jessica sentiu o peso reconfortante de Demonstrações em seu
bolso.
Rex deu de ombros. “Talvez fossem os Darklings... ou talvez algo tenha acontecido em
plena luz do dia.”
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11h:02min da Noite
TOQUE
“Você tem certeza que está pronta para isso?”
Melissa olhou para ele do outro lado do banco da frente de seu velho Ford, um olhar seco
em seu rosto. “Bem, isso é um terrível grande passo.”
Rex se sentiu corar. Depois de oito anos ele estava acostumado à ideia de que Melissa
podia sentir suas emoções e o ler melhor do que qualquer um que tivesse o direito, mas nada
disso fazia ser mais fácil quando ela usava seu poder para deixá-lo sem graça.
“Quero dizer,” ela continuou, ”eu só quero fazer isso se você achar que está pronto.”
“Eu pensei que você...”
A mandíbula dele apertou. A coisa toda tinha sido ideia dela, e agora ele estava sendo
gozado por seu problema. Isso era bem Melissa: ela tomava a meia noite e suas tradições a sério
– mais a sério do que qualquer um deles – mas algumas vezes ela tinha que demonstrar que tudo
era uma grande piada. Um desperdício da preciosa energiazinha que ela despendia da mera
existência no mundo.
Mesmo quando ele teve que repetir as novidades que Jessica tinha entregue esta manhã.
Melissa não tinha parecido alarmada, como se nenhuma ameaça humana comum enervasse a
imperturbável deusa vadia.
Ela acenou, puxando os dedos de uma luva. “Yeah, isso foi ideia minha. Mas talvez nós
estejamos apressando as coisas. Eu odiaria arruinar uma bela amizade.”
Com aquelas palavras Rex sentiu uma risada contida escapar. Ele olhou acima das suas
mãos e viu que o sorriso dela tinha se suavizado. A raiva dele se apagou, substituída com a
ansiedade que tinha gradualmente se construído o dia todo.
Ele limpou sua garganta. “Eu ainda vou respeitar você de manhã.”
Ela riu, radiante por um momento. Mas então o rosto dela ficou sério, e ela olhou para fora
pelo para-brisa da frente. “Sobre isso nós veremos.”
Rex podia ver agora que ela estava nervosa também. É claro, se a tradição estivesse
correta, ele estava prestes a sentir exatamente o quanto estava nervoso. O toque de pessoas
normais enojava Melissa, redobrando as habituais invasões dela na sua mente – ela mal podia
suportar as visitas ao médico. Mas com os outros midnighters a conexão ia a ambos os lados e
era muito mais intensa. Ele engoliu em seco, alguma de sua própria apreensão retornando, e se
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lembrou que ele tinha desejado isso a muito tempo. Era um teste para a tradição, um modo de
descobrir mais sobre como os talentos trabalhavam juntos. Talvez era até mesmo um modo de
romper a concha de Melissa e finalmente conectá-la com o resto do grupo.
E talvez, Rex permitiu-se esperar, ele poderia ter sua própria ligação com Melissa, como
ele sempre tinha desejado e nunca podido. Ele sufocou aquele pensamento.
“Vamos simplesmente acabar com isso”, ela disse.
“Ok. Tem algum policial por aí?”
“Geesh, não desde que eu chequei há três minutos atrás.”
Então ela suspirou, obedientemente fechando seus olhos. Eles estavam muito longe do
centro da cidade, onde as projeções dela eram mais claras. O ruído da explosão de mentes de
Bixby estava a quilômetros atrás deles, e nessa hora a maioria da população já tinha sucumbido
ao sono. Os seres no deserto que preencheram a mente dela com seus sabores estranhos e
antigos medos – as coisas da meia noite – não tinham acordado ainda. Depois de um instante ela
sacudiu sua cabeça.
“Nada de policiais.”
“Ok. Então vamos fazer isso.” Ele tomou fôlego.
Lentamente Melissa puxou sua luva direita. Sua mão pálida era luminosa na escuridão;
não havia luzes públicas nesta distância, e a lua era só um turvo brilho no alto, escalada por
nuvens.
Rex pousou sua própria mão direita no banco do carro, a palma para cima. Ele a viu
tremer, mas não se incomodou em firmá-la.
“Se lembra da primeira vez?”
Rex engoliu em seco. “Claro, vaqueira.”
Tudo tinha acontecido há muito tempo atrás, mas ele recordava de suas experiências
iniciais na hora secreta com uma maravilhosa clareza. Eles tinham dado uma longa caminhada
pelas ruas azuis vazias de Bixby. Melissa estava mostrando como seu talento funcionava,
apontando para uma casa para dizer, ”uma velha morreu lentamente ali; eu ainda posso sentir
isso.” Ou, ”uma criança afogou na piscina deles, eles sonham com isso toda noite.” Uma vez ela
parou para olhar para uma casa parecendo normal por um sólido minuto. Rex invocando imagens
terríveis enquanto esperava. Mas finalmente Melissa disse, ”Eles são felizes lá. De qualquer
modo, eu acho que é isso.”
Em algum momento quando ele tinha oito anos, Rex tinha se aproximado – sem saber e
inocentemente tomado a mão dela, aquela primeira e última vez.
“Eu realmente lamento sobre isso, vaqueira.”
“Eu vou me recuperar. Não é sua culpa, que eu sou assim.”
“Nem sua também.”
Melissa apenas sorriu para ele e estendeu, lentamente, a mão dela tremendo tanto quanto
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a dele. Nesse momento Rex sabia que ela queria isso também. Nenhuma leitura de mente era
necessária.
Ele não ousou se mexer, então ele apenas fechou seus olhos.
Seus dedos se tocaram, e foi feroz, muito mais intenso do que Rex se lembrava. Ele sentiu
a fome selvagem primeiro, a necessidade animal dela de consumir seus pensamentos, e ele
quase puxou sua mão de volta, mais lutou para mantê-la firme. A mente dela veio então, entrando
nele com audácia, a inevitável explosão de energia, se apressando para os cantos e recantos, e
arrancado as memórias há muito enterradas.
O carro girou em torno de Rex, as mãos dele se apertaram para segurar qualquer coisa
real e sólida, mas suas unhas só se enterraram na carne dela, fazendo o contato mais forte.
As próprias emoções de Melissa acompanharam a primeira investida, carregada com os
amargos efeitos colaterais. Rex podia sentir a constante fobia dela em ser tocada, tão bem
quanto seus novos receios sobre a súbita intimidade devastadora entre eles.
Rex sentiu sua garganta apertar, seu estômago girar enquanto ele reconhecia o medo
latente dela deste momento, de repente compreendendo o quanto maior a ansiedade dela tinha
sido do que a dele.
Mas ainda assim, ela confiava nele o suficiente para estender sua mão...
Pedaços de cruéis conhecimentos vieram através deles: o modo de como uma mente
Darkling era ao paladar quando ela era muito antiga, tão amargo quanto um prego enferrujado
debaixo de uma língua seca; o caos da escola de Bixby antes do sinal tocar, quase alto o
suficiente para rachar a mente dela; o terror com um toque, um de mentes gritando que
assediavam cada momento de seu dia invadido e a violando; e finalmente a doce hora do
princípio da hora azul, um silêncio tão glorioso, era como se todos no mundo tivessem sido
exterminados, seus pensamentos mesquinhos finalmente extintos.
Então, finalmente, acabou.
Ele olhou abaixo para sua mão, vazia e pegajosa com o suor. Melissa tinha conseguido de
algum modo se afastar. Rex olhou em silêncio para sua palma, observando as quatro meias luas
aparecerem, as marcas de suas próprias unhas escavando, depois que ela tinha deslizado para
fora do alcance dele.
Mas pelo menos estava em silêncio agora. Ele estava sozinho de novo dentro de sua
cabeça.
Ele se afastou dela para olhar pela janela, sentindo tão desolado quanto o deserto de
carvão se esticando a frente dele. Estranho. Rex tinha esperado se sentir cheio, uma vez que
acabasse. Esta era uma informação nova, como o conhecimento de seus livros ou a garantia da
tradição, coisas que sempre fizeram parte dele se sentir maior. Isso era algo que ele queria dela
tanto quanto ele podia se lembrar. Mas de alguma forma o conhecimento de Melissa, do que era
como ser ela, o tinha esvaziado.
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“Talvez da próxima vez.” Ela disse.
Ele piscou para ela. “O que?”
“Talvez seja melhor da próxima vez.” Ela retirou seus olhos dele e ligou o motor, o carro
saltando para a vida embaixo deles.
Rex tentou oferece garantias e dizer algo esperançoso. Talvez que ela construiria
resistência. Ou que eles ganhariam mais controle, compartilhando os pensamentos e ideias ao
invés de sensações brutas e medos cegantes. Talvez um dia eles pudessem fazer mais do que
se tocar por uns poucos momentos – talvez qualquer coisa fosse possível.
Mas Melissa sacudiu sua cabeça no momento que isso cruzou na mente de Rex , nunca
tirando seu olhar da estrada. Essa não era sua sensibilidade de sempre, ele percebeu. Melissa
tinha estado dentro a cada instante do turbilhante e sentiu a desolação que ela tinha deixado
nele.
Não havia nada que ele pudesse dizer que ela já não soubesse.
Ele observou os sinais dos midnighters que passavam. Era muito melhor que pensar sobre
o que tinha acontecido entre ele e sua velha amiga.
A invasão da meia noite tinha parado, isso era certeza. Quando Jessica Day tinha pela
primeira vez aparecido na cidade, as marcas tinham estado em toda parte, trechos de acentuado
foco através do borrão da visão de Rex, revelando onde os Darklings e seus soldados rasos
tinham perturbado a noite do dia. Eles vinham se empurrado para mais adentro da cidade a cada
noite, apesar do metal limpo e das estrelas de treze pontas que protegiam Bixby, encorajados
pelo seu ódio por Jessica.
Mas agora as marcas estavam se apagando. Desde que ela tinha descoberto seu talento,
os Darklings estava sem poder para atacar Jessica diretamente. A cidade estava suavizada
agora, perdendo o foco. Os Darklings estavam em retirada.
Mellissa fez uma curva. Rex franziu as sobrancelhas, incerto de onde eles estavam indo,
mas não querendo perturbar o silêncio que havia caído entre eles desde que se tocaram. O plano
tinha sido de dirigir ao redor da vizinhança de Jessica e tentar captar os pensamentos de seu
caçador humano. Mas eles não estavam indo para a cidade. O deserto estava ainda à vista, um
horizonte negro se esticando em direção a Rustle‟s Botton e ao poço da cobra.
“Você não pegou meu recado?” Melissa disse.
“Que recado?”
“Sobre onde nós estamos indo.”
Rex mordeu seu lábio. Por um momento se perguntando por que ele devia se incomodar
em responder uma vez que ela podia evidentemente ler cada pensamento na mente dele agora.
“Recado? Você sabe, meu pai –“
“Não de uma chamada telefônica. Da minha mente, estúpido.” Ela se virou para encará-lo.
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“Tudo o que você teve foi uma merda?”
“Eu não chamaria isso de merda.”
A majestade do saborear a meia noite, sua profunda solidão, sua longa tendência em
odiar a humanidade – nada daquilo era uma merda. Tudo isso era...
“Não fica depressivo para mim, Rex. Eu tentei te enviar uma mensagem, isso é tudo. Eu
pensei que era o modo que você queria que funcionasse. Então pare de sentir pena de mim e
pense por um segundo.”
Ele tomou um profundo fôlego, virou para olhar pela janela, e começou a examinar os
fragmentos mentais que ela tinha deixado dentro dele. Ele tinha ignorado o que ele tinha
aprendido, a terrível tristeza disso. Ele tinha se esquecido por um momento que ele nunca tinha
conseguido entender sua melhor amiga...
“Rex...”, ela rosnou.
"Oops, desculpe-me. Pensando sobre a mensagem agora.”
E de repente lá estava contra um pano de fundo exposto. Um tipo de pensamento não
digerido em sua cabeça, como um sonho não lembrado pela manhã. Ele fechou seus olhos, mas
estranhamente aquilo fez o pensamento desaparecer, então ele os abriu de novo e olhou para os
campos de óleo passando. Gradualmente sua atenção foi presa pelo ritmo do subir e descer das
torres de perfuração embaixo dos brilhantes sóis azuis de lâmpadas de mercúrio. E então ele veio
claro, como olhar de um lado para uma estrela cadente e descobrir que a visão periférica é mais
forte do que a central.
“Nós temos que ter Jessica Day.” Ele murmurou.
“Bingo”, Melissa disse.
“Você ouviu isso...? Na hora normal?”
“Dê ao cara um charuto.”
Rex piscou, ouvindo a voz, distante mais clara, exatamente como Melissa tinha tido
quando eles estavam dirigindo na volta de Rustle‟s Bottom aquela noite.
“Era uma humana. Você sabia por uma semana inteira que alguma coisa humana queria
Jessica.”
“A Águia pousou. Houston, nós temos um vencedor.”
Ele olhou silenciosamente para fora, incapaz de acreditar que ele tinha escutado em sua
mente ou compreendia a histeria na voz dela. Por que ela escondeu isso dele?
Então subitamente ele piscou. O velho Ford de Melissa estava passando uma casa que ele
reconhecia, a casa colonial de dois andares, instalada impecavelmente sobre a visão que ela
tinha deixado dentro dele. Eles estavam no exato ponto da rua Keer, onde ela escutou a voz.
“Por que você não me disse? “ Rex perguntou assombrado.
“Por que...”, a voz de Melissa se sufocou, e ela respirou profundamente, colocando-se sob
controle. Finalmente ela suspirou.
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“Bem, Loverboy, por que você não descobre isso por conta própria?”
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11h:24min da Noite
MANSÃO DARKLING
Rex estava pau da vida. Você não tinha que ser um telepata para saber disso.
Ele olhou com mau humor pela janela, observando as casas passarem, sua mente
provando do ácido do estômago e do dia da velha Mountain Dew, o sabor de traição com uma
cobertura de autoridade ferida.
Quanto a Melissa, ela não se importava muito que Rex estivesse com raiva. Era bem
melhor do que ter que sentir a pena dele.
Ela ainda sentia o formigamento na sua mão direita, como se o plástico descascando do
volante estivesse zumbindo embaixo dela.
O toque não tinha sido tão mal na verdade. Um pequeno turbilhão descuidado nunca
machucou ninguém. E antes do fim ela sentiu alguma espécie de alívio, algo compartilhado entre
eles que não era apenas os terrores noturnos e as angústias cósmicas. Algo que ela queria tentar
novamente.
Mas Loverboy tinha surtado. Como se houvesse qualquer razão para ficar chateado sobre
o psicodrama que era a existência dela. Melissa percebeu que era como as coisas eram. E ela
tinha conseguido dar a ele a memória, um pequenino símbolo de comunicação entre a
tempestade de merda. Isso era alguma coisa pelo menos.
“Eu ainda não entendo.” Ele disse.
Ela suspirou. Ele nunca entenderia.
Por que ela não tinha dito a ele? As razões pareciam ficar em pedaços enquanto ela
pensava nelas, dividindo-se mais e mais... por que ela não tinha tido realmente certeza se ela a
tinha escutado. Por que ela não podia conseguir se importar com cada pensamento disperso. Por
que Jessica Day de qualquer forma, não era seu problema.
Entretanto ele sabia agora. E ela tinha dado a ele o conhecimento de um modo que era
mais... interessante do que dizer a ele.
Engraçado – ela odiava ver as outras pessoas darem suas mãos na escola, seus
pensamentos eram adocicados demais e envolvidos em si mesmos. Mas com Rex isso não tinha
parecido tão mal.
Talvez da próxima vez ele não surtasse.
A mente de Melissa vagou novamente, abrindo-se amplamente para captar os sonhos e
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pesadelos da Bixby adormecida. Dificilmente alguém acordava, mesmo antes da meia noite (Que
imã perdedor essa cidade era).
A maioria das mentes conscientes estava focada nos shows de TV. Centenas de psiques
espalhadas através da cidade, todas rindo das mesmas piadas e dos mesmos palhaços de circo.
Algumas vezes, nas noites de quinta, Melissa tinha que sofrer com toda a porcaria em conjunto
da última comédia de sucesso ou da suada final de um milhão de dólares de algum reality show.
Ela estremeceu. Só quatro meses até o temido Super Bowl.
Nenhum desses perambulantes descerebrados sequer notava que os shows de TV eram
chamados de programas? A mesma palavra que significava um monte de números enfiados em
um computador para fazê-lo dançar para seus mestres?
Melissa bufou, percebendo que ela tinha tomado emprestado aquela última imagem do
cérebro de Dess. A garota estava trabalhando em algum projeto secreto, como pequenas rodas
de hamster girando tão rápido que Melissa podia sentir o cheiro de fumaça da meia noite. Em
breve ela e Rex iam ter que se sentar com a senhorita gênio, e perguntar exatamente o que
estava pegando.
Ela olhou para Rex. Por que manter segredos era errado, não era?
Um fragmento de pensamento a golpeou, e Melissa diminuiu o carro.
Nada no contexto, mas algo sobre o sabor fez ela reexibir as palavras em sua cabeça...
‘Não podemos nos atrasar.’
Provavelmente só alguém correndo para chegar em casa, tentando pegar algum filme na
TV a cabo pela décima segunda vez. Mas havia algo sobre a mente, tão familiar quanto o cheiro
da sala de laboratório do ano passado.
“Captou alguma coisa?” Rex perguntou.
“Talvez.”
Ela virou na próxima esquina a esquerda, do princípio ao fim de um portão de ferro e uma
plantação de McMansões, gigantes casas novas do tipo biscoito9, cravadas em minúsculos lotes,
fora do alcance das taxas de propriedade de Tulsa. O pensamento tinha vindo daqui, ela tinha
certeza.
Ninguém parecia estar acordado; metade das casas ainda não tinha moradores. Ela podia
ver as janelas sem cortinas e sentir as salas vazias por trás delas. Feias como eram, Melissa
sonhava em viver em uma casa como aquelas um dia – imaculada e há anos sem habitação
humana, sem preocupações insones escorrendo por suas paredes, sem resíduos de antigas
9 Cookie-cutter houses – Casas do tipo padrão, todas as construções iguais. È possível ver esse tipo de casa no filme: Edward
Mãos de Tesoura.
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brigas mesquinhas.
A maioria das pessoas que se mudaram para o complexo estava dormindo, seus sonhos
eram tão suaves e mutáveis quanto os gramados bem cuidados.
Então ela sentiu de novo e apertou forte o volante. Melissa sabia que aquela era a mesma
mente que tinha pensado tão intensamente há uma semana atrás. Nós temos que ter Jessica
Day.
“O que você -?”
“Xiii!”
Já estava indo embora, se movendo rápido pelo vazio terreno psíquico.
“Merda!” Estava em um carro (Ele estava em um carro – um homem, de repente ela pôde
dizer.). Os tentáculos da mente dele se arrastando para longe como uma nuvem condensada
atrás de um avião a jato. “Eu provei ele, Rex. Mas ele esta dirigindo.”
“Que direção?”
“Eu... não sei.” Ela sacudiu sua cabeça; os últimos traços estava se apagando. Ela parou o
carro. “Ele estava por aqui em algum lugar.”
“O mesmo cara?”
Melissa concordou. “E nós só estamos a um quilômetro de onde eu o ouvi da primeira vez.
Mas nós o perdemos, indo para alguma coisa, da qual ele estava atrasado. Quer olhar mais por
aí?”
“Claro.” Os óculos de Rex estavam fora, e ele estava olhando para vastidão de casas. “Há
sinais aqui. Foco.”
Ela tirou seu pé do freio, recuando para a pista.
“Sério? Neste lugar?”
Claro eles estavam perto do deserto, mas Melissa não podia imaginar os Darklings tendo
interesse nesse local em desenvolvimento, cheio de pequenos novos acessórios e sistemas
regadores de aço inoxidável. Mas as marcas que Rex podia ver prolongavam-se mais que os
traços de mente Darkling, então não havia o porquê de discutir. Ela dirigiu o carro lentamente ao
longo das ruas sinuosas, mantendo sua mente a procura de policiais ou guardas de segurança
privados. Seu velho Ford preso aqui como um cocô de cachorro em cima de um bolo de anjo10.
Era bom sentir a mente de Rex trabalhar, clara e pura, enquanto ele procurava por sinais
de foco. Em sua animação ele tinha perdoado sua ofensa contra sua autoridade, muito intoxicada
pelos seus poderes de vidente para guardar rancor. De algum modo ele ainda era o menino que
ela tinha resgatado da solidão dos oito anos, fascinado pelos mistérios da meia noite,
impulsionado pela necessidade de saber mais. Melissa tinha certeza que eles se dariam as mãos
de novo, em breve.
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Angel Food Cake – São aqueles maravilhosos bolos de baunilha e morango, super confeitados.
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“Pare”, Ele sussurrou. Melissa parou o carro, sentindo o zumbir da animação dele.
A casa que eles estavam olhando parecia como todas as outras, dois andares e grandes
janelas, uma dominante garagem dupla apresentava-se orgulhosamente para o mundo.
“Eu queria que você pudesse ver isso, vaqueira. Ela é tão focalizada. Eles têm estado
rastejando por toda parte nela.”
Ela deixou sua mente a deriva nos pensamentos de sua grande porta da frente. O lugar
quase não tinha nenhum sabor humano.
“Ninguém em casa. E se alguém mora lá, não tem sido há muito tempo.”
“Mansão Darkling.” Rex disse silenciosamente. “Nem um tijolo limpo no todo.”
Ela olhou para seu relógio. Vinte para meia noite. “Bem, nós vamos dar uma olhada antes
da hora das bruxas?”
“E sobre seu amigo?”
“Ele estava a caminho de algum lugar às pressas.” Ela provou o ar. “Muito longe.”
“Ok. Mas dez minutos no máximo. Nós temos que estar de volta ao carro e há alguns
quilômetros daqui antes da meia noite chegar.“ Ele sacudiu sua cabeça. “Eu não quero estar de
penetra em uma festa na casa Darkling.
A porta estava destrancada.
“Que interessante.”
Melissa a abriu, suas novas dobradiças completamente silenciosas. O corredor de entrada
era grande e com eco, sem tapetes para abafar o som de seus calçados através do piso de
madeira polida. Nem nada, ela percebeu. As paredes eram sem pinturas, e sem sapatos ou
casacos pendurados na sala de espera. As duas grandes portas das salas da frente estavam
vazias, exceto por um telefone portátil. Assentado sozinho em um peitoril da janela, seu cabo
enrolava-se de um lado ao outro da extensão do tapete, um olho vermelho demoníaco mostrando
que ele estava recarregando.
E o lugar tinha o sabor completamente morto. Nem uma sobra de pensamento em lugar
algum. Até mesmo o embotado rugido do centro de Bixby, há quilômetros de distância, parecia
silenciado por suas paredes.
“Nada para roubar, eu acho.” Ela disse.
“Mas um monte de atividade Darkling.” Rex estava olhando para a escadaria, nos cantos.
“Como lá fora, ela está toda em foco.”
“Talvez algum tipo de fraternidade Darkling.”
“Eu nunca vi antes eles se estabelecerem em uma habitação humana. Talvez em um
quintal ou um pneu vazio, mas não uma casa. É claro, ninguém mora aqui.”
“Não”, Melissa disse, ”mas os Darklings não estão pagando a conta do telefone...”
Rex mastigou seu lábio. “Bom argumento.”
Na cozinha eles encontraram sinais de habitação. Ou talvez vandalismo. A torneira tinha
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sido arrancada da pia, as maçanetas dos armários despedaçadas, cada peça de metal removida.
Não haviam equipamentos, e uma lâmpada pendurava-se do teto.
“Uma amigável cozinha Darkling. A propósito, o que eles comem?”
Rex apenas olhou para ela, enviando uma punhalada de irritação.
“Oh, certo. Nós.”
Melissa não pensava muito nisso naqueles termos, mas que era e sempre tinha sido a
principal fonte de conflito entre as duas raças: a coisa toda da cadeia alimentar. Engraçado como
isso podia estragar um relacionamento.
“Vamos olhar lá em cima.” Rex disse, tendo terminado as gavetas e armários, e as
encontrado vazias.
Ela olhou para seu relógio. “Ok. Mas cinco minutos e saímos.”
Ele virou sua cabeça lentamente, da esquerda para direita enquanto eles subiam as
escadas, seus olhos arregalados com o foco. “Completamente.”
A parte de cima era dividida em três quartos vazios, o maior com uma grande varanda que
dava para a escura noite de Oklahoma. Melissa olhou através da porta de deslizar e percebeu
algo. Ela tirou a luva e colocou sua mão no vidro frio.
“Sabe, Rex, está quente aqui.” O lado de fora estava quase congelando, mas alguém tinha
deixado o aquecedor ligado, embora eles não tivessem se incomodado em fechar a porta...
“Olhe para isso!”, ele exclamou, sua mente inundando o quarto em deleite.
Ele puxou alguma coisa de um armário, uma caixinha de peças retangular que cintilou na
escuridão. Ele se agachou no chão e as despejou com um barulho. Enquanto as mãos dele
variam através das peças espalhadas, ela reconheceu o som de madeira.
“Eu não sabia que você gostava tanto de dominós.“ Ela disse com indiferença.
“Não dominós.” Rex estava virando todos eles com a face para cima. Ele não tinha
colocado seus óculos, então eles deviam estar marcados com o foco.
Ela se ajoelhou ao seu lado e franziu os olhos para os símbolos nas peças. Elas eram
figuras bem trabalhadas da tradição, o alfabeto secreto usado para registrar a história dos
midnighters por dez mil anos.
“Ah”, O pensamento que alguém além de Rex usasse os antigos sinais a deixou muda por
um instante.
“Mas eles não são a mesma coisa”, ele murmurou. ”É como um alfabeto ligeiramente
diferente.”
Melissa não respondeu. Ela se firmava com uma mão sobre o chão. A sensação da análise
dele dos símbolos era estonteante, sua mente surrava a dela com um frenesi de cálculo.
“Ou talvez alguns deles sejam sinais que eu não conheça”, ele disse, escolhendo entre
eles, levantando um para uma inspeção mais de perto. “Símbolos para conceitos que não existem
na tradição.”
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Melissa forçou sua mente a se fechar para a pirotecnia mental dele. “Mas o que são essas
coisas, Rex?”
A pergunta trouxe ao cérebro dele uma interrupção rodopiante. “Eu não sei.”
Ela pensou nos cadáveres que eles frequentemente encontravam no poço da cobra,
congelados enquanto olhavam para a pilha de rochas que a lenda de Bixby dizia que se
moveriam a meia noite (é claro, algumas vezes Melissa as movia, só por brincadeira – e para
aterrorizar os idiotas que passavam dos limites.)
“Alguém os poderia usar para se comunicar com os Darklings?”, ela perguntou.
“Isso não faz nenhum sentido. Darklings odeiam símbolos e sinais, qualquer linguagem
escrita. Esta é uma das novas ideias que os assustou há dez mil anos atrás, junto com a
matemática e o fogo e o metal.”
“Mas Rex, você tirou seus óculos.”
“Eu o que?” Ele colocou uma mão em seu rosto.
Melissa percebeu que Rex tinha momentaneamente se esquecido que ele não estava
usando as lentes grossas. A propósito, a casa estava tão marcada com o foco que ele podia ver
tudo claramente.
“Então os Darklings tocaram nisso”, ele murmurou, uns poucos dominós deslizando através
de seus dedos. “Mas como?”
“Rex...” Um sabor familiar estava penetrando no protesto devastador do entusiasmo de
Rex. “Que horas são?”
Ele olhou seu relógio. ”Você está certa. Nós temos que ir logo. Me deixe só pegar uns
poucos –“
“Rex!”
Não foi com a meia noite iminente que ela tinha se preocupado, foi algo que ela tinha
sentido antes. E estava vindo em direção a eles. A voz pareceu subitamente romper através do
silêncio psíquico da casa.
‘Nós vamos fazer isso, não graças a você, Angie.’
A cabeça dela girou, tentando ordenar a turbulência mental de Rex, dos pensamentos se
aproximando. Eles vinham através da fúria e determinação, com raiva de algum inconveniente, e
acima de tudo, ansioso.
“É ele...”, ela sussurrou
“Quem?”
‘Mantenha-se na estrada, idiota. Nós estamos quase lá.’
Ela reconheceu a espécie exata de medo agora; era do tipo familiar, vindo umas mil
manhãs da escola. Havia sempre pelo menos uma mente posterior, depois que todas as outras
tinham se assentado em suas mesas, precipitando em pânico com a ideia de punição. Que era o
que ela sentia no sabor. O medo de estar atrasado.
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“Ele estava com pressa quando saiu.” Ela murmurou, ”mas ele estava com pressa para
voltar pela meia noite?”
“O cara que você ouviu?”
“Sim! Nós temos que sair daqui agora.” Ela ficou em pé, ainda tonta. Por alguma razão, se
projetar nesta casa era como caminhar através de xarope.
Rex estava pegando com dificuldade as peças, tentando retorná-las para a caixa.
“Não tem tempo!”
Ela provou as maldições amargas do homem, enquanto ele virava o volante, sentiu a
oscilação do seu corpo nas voltas rápidas, ouviu os pneus derrapando.
Rex olhou para cima. Ele tinha escutado os pneus também.
Faróis espalharam de um lado a outro do teto, e uma derrapada veio da garagem.
“Ele está aqui”, ela disse, tarde demais.
“Não se preocupe com ele”, Rex disse, pegando a mão enluvada dela suavemente
enquanto ele checava seu relógio. “Nós só temos que nos manter escondidos por quatro minutos.
O que vai vir depois da meia noite é que me preocupa.”
Eles empurraram os dominós Darklings de volta ao armário e se deslizaram para o quarto
menor. Por sorte o homem não ia bisbilhotar pela casa vazia com tão pouco tempo sobrando
antes da meia noite. Rex apontou um largo guarda roupa com portas deslizantes.
O som da porta da frente se abrindo foi carregado acima pelas escadas, enquanto eles iam
para a escuridão do guarda roupa. Melissa sentiu a respiração forte de Rex próxima a ela, sem
equilíbrio enquanto ele tentava evitar tocá-la acidentalmente. Ela deslizou a outra luva de volta e
o firmou com aquela mão, sussurrando.
“Relaxe. Deixe-me concentrar.”
A mente de Rex se acalmou, e ela podia sentir agora que haviam dois deles nas escadas,
o homem e...Angie. A mulher irradiava apenas calma; não era de se imaginar que ela tinha
estado invisível a Melissa até agora.
“Você tem sorte que nós fizemos isso”, veio a voz abafada do homem, seus passos
audíveis nas escadas.
Melissa controlou sua respiração. O modo que o som ecoou através das paredes da casa
vazia, um golpe contra a porta do guarda roupas e eles seriam descobertos.
“Eu não pedi por uma falha. Próxima vez eu não vou me incomodar em te ligar.”
A voz dela estava baixa e controlada, não esbaforida como a dele. A mente dela não
sustentava nenhum medo de estar atrasada. Melissa sentiu a mulher olhar seu relógio – uma
explosão de satisfação enquanto ela confirmava que tudo estava sob controle. Agora que eles
estavam dentro da casa, Melissa podia sentir o sabor deles claramente.
“Promessas, promessas”, o cara gritou do banheiro principal. Uma precipitação de alívio
preencheu seu cérebro como o som de xixi escorrendo que alcançou as orelhas de Melissa. Ela
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estremeceu com o ato íntimo.
“Como se você pudesse lidar com isso por conta própria”, a mulher disse em uma voz tão
suave que mal alcançou Melissa enquanto pensava.
Ela travou na mente de Angie agora: ela estava saturada com um enjoativamente doce
desprezo pelo homem. Angie não precisava dele aqui, em primeiro lugar – ele mal podia
interpretar os símbolos do conhecimento, mal podia ver as figuras grandes, estava sempre se
arrastando por aí com sua estúpida câmera, que é claro nunca capturava os fantasmas. Se ele
não tivesse relação com o patriarca...
A mente da mulher se aproximou, seus passos lentos carregando seus pensamentos no
corredor acima. Ela parou bem do lado de fora do quarto em que eles estavam escondidos.
“Nós precisamos realmente desta casa grande?”
Os músculos dos ombros de Rex se enrijeceram debaixo do aperto de Melissa, a mente
dele se enevoando com uma onda de medo. „Relaxe’, ela desejou a ele.
“Localização, localização, localização”, o homem disse. “Isso é tudo com que os fantasmas
se importam. Além do mais, se esta área é tão grande quanto eles dizem, nós devemos fazer
cerca de cem vezes o que o custo desta caixa de biscoito.”
A mulher deu mais um passo para o quarto e ligou a luz. Uma ofuscante faixa de
iluminação forçou seu caminho através da fenda entre as portas duplas do guarda roupa. Melissa
apertou os olhos, sentindo como se a luz estivesse a cortando a meio, de cima a baixo. Rex tinha
parado de respirar.
Melissa fechou seus olhos, tentando alcançar com insistência a mente da mulher no que
ela estava pensando, por que ela estava olhando para as porta fechada. Mas o terror de Rex
abafou aqueles recolhidos pensamentos estáveis.
“ Vamos lá, Angie! Trinta segundos.”
A mulher não se moveu. Melissa fez um punho com sua mão livre. Um sólido soco no
intestino poria qualquer um abaixo em meio minuto. Tempo suficiente.
“Angie!”
Finalmente os passos recuaram, rápidos e determinados agora. Melissa escutou o barulho
dos dominós sendo derramados no outro quarto, sentiu a antecipação aumentar nos dois
intrusos, como o alívio inundar Rex.
E então, segundos depois, o sempre glorioso...
Silêncio.
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12h:00min da Madrugada
HALFLING
“Vamos lá! Nós temos que nos apressar!”
Melissa sacudiu sua cabeça e se movimentou rápido se afastando dele. Seus olhos
brilharam com a terrível claridade que eles sempre tinham na hora azul; liberta do ruído das
mentes tumultuadas da humanidade, ela podia ser sem medo e ousada.
Rex suspirou. Ela podia também ser um saco.
“Eu vou atacar essa mulher”, ela disse, passando por ele e indo para o quarto principal.
Ele a seguiu, indo parar na porta. Os dois estavam congelados no outro lado da bagunça
de peças, o homem ajoelhado, a mulher em pé. O rosto do homem estava obscurecido por uma
câmera apontada para o chão. Rex percebeu que seu relógio estava exatamente na meia noite
de Bixby e que sua face era marcada com minúsculos olhos de joias.
“Bem, o que você sabe?” Rex disse. “Ele vai atrás dos Darklings tanto quanto por Jessica.”
“Ela é quem importa.” Melissa disse.
A mulher imóvel era alta e loira, vestida em roupas de negócios. A meia noite tinha
segurado sua expressão: respeito e medo misturados em expectativa. Todas as peças estavam
de cabeça para baixo, prontas para serem viradas e arranjadas em mensagens.
Rex sacudiu sua cabeça, ainda incapaz de envolver sua mente nisso. Como um Darkling
podia se comunicar usando os odiosos símbolos midnighter? E onde essas pessoas tinham se
escondido por cinquenta anos?
Melissa ficou diante da mulher, estendendo suas mãos.
“Não há tempo!” Rex gritou. “O deserto é só a meio quilômetro de distância. O que quer
que esteja vindo estará aqui logo!”
“Ela é a inteligente, Rex. Você devia sentir a mente dela. Ela sabe o que vai acontecer.”
“O que vai acontecer é que nós estamos prestes a ser invadidos por Darklings!”
“Esteja pronto então. Eu estarei lá embaixo em cinco.”
Rex hesitou. Por que ninguém o escutava? Especialmente em horas como aquela, quando
realmente importava. Embora parecesse cara, esta casa era um lugar Darkling. Não para
humanos. Ele podia ver isso, Melissa não.
Ele notou que a porta de vidro da varanda esta aberta agora.
“Faça em três”, Rex disse friamente, e correu escada abaixo.
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Ele rompeu através da porta da frente e correu para o carro, sem importar em checar os
céus. De qualquer modo, eles tinham uns poucos minutos. Mesmo Jonathan Martinez não podia
chegar aqui tão rápido.
Perversamente, ele esperava que algo grande estivesse vindo. Os mais antigos viviam no
profundo deserto e levaria mais tempo para chegar aqui. E ter que encarar algo realmente
assustador poderia convencer Melissa escutá-lo da próxima vez.
É claro, se isso se tornasse só alguma chegada de Darklings e alguns slithers de segunda
linha, Rex não ia reclamar.
Ele alcançou o banco de trás e puxou sua mochila. Ela estava deprimente de tão leve; eles
não tinham trazido nenhum metal importante hoje a noite, por pensar que eles estariam
enfrentando uma ameaça humana e não uma casa Darkling.
Rex xingou.
O maravilho poder da portadora da chama tinha feito ele confiante. O zíper da mochila
estava preso em seus dedos nervosos, mas ele conseguiu abri-la. Uma grande lanterna de
plástico, inútil sem Jessica para ligá-la. Um martelo chamado Arachnofhobia11. Um saco de
parafusos e pregos para se jogar. E uma chave de roda em ferro com o nome de Stratocumulus12,
que Rex só agora se lembrou que tinha sido usado para afastar slithers antes. Seu poder tinha
provavelmente se apagado. Melissa só mantinha ele na caminhonete para trocar os pneus.
Era isso.
Hora de soltar as grandes armas.
“Esquerda de trás, esquerda de trás”, Rex murmurou para si mesmo, batendo a porta e
correndo em torno do carro.
Ele bisbilhotou a calota traseira esquerda com Stratocumulus, útil para alguma coisa pelo
menos. Enquanto ele puxava, Rex se permitiu um sorriso satisfeito. Ele e Dess tinham trabalhado
muito nesta, concordando em usá-la só quando em absoluta necessidade.
Que seria agora.
A calota pulou, chacoalhando na rua. Em torno da margem interna estava uma multidão de
minúsculos símbolos. Pictogramas da idade da pedra, trinta e nove deles, desenhados por Dess
com as instruções de Rex. Ela tinha usado uma broca roubada da aula de práticas, feita de uma
liga de tungstênio de tão alta tecnologia que ela poderia furar através do aço como gesso
molhado.
Rex empurrou a calota na mochila, esperando que ela fosse o bastante.
Ele correu de volta para a porta da frente aberta e gritou acima nas escadas.
“Melissa!” Ela não respondeu. ”Vamos!”
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Arachnofhobia – Aracnofobia 12
Stratocumulus – camada de nuvens com baixa formação.
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Em seguida ele escutou um som vindo acima.
Ela estava chorando.
Rex a encontrou de joelhos, diante da mulher, seus dedos ainda estendidos em seu ato de
projeção da mente, sacudindo sua cabeça e gemendo.
“Alguma coisa está vindo...”
Rex suspirou. “Como eu disse.”
“Esta tão doente, Rex...”
Ele engoliu em seco. Melissa não surtava com os pensamentos Darklings. Ela sempre dizia
que suas antigas e áridas mentes eram uma centena de vezes mais fácil de tolerar que aquelas
da humanidade.
“Vamos.” Ele puxou Melissa e a empurrou em direção as escadas.
Ela não lutou com ele, somente se arrastou, fazendo barulho de soluços, como uma
criança tentando não chorar.
Rex tentou não pensar no que ela tinha visto.
A porta da frente ainda estava entreaberta, e ele a chutou. A casa do outro lado da rua
parecia ocupada, esperançosamente cheia de metais brilhantes e máquinas modernas. Rex tinha
mais um truque em sua manga – ou, na verdade, recheando sua bota direita.
Melissa correu com ele de um lado a outro do asfalto, finalmente sacudida de seu pânico.
Mas quando ele olhou para dela trás, a luz fria se levantando da lua azul cintilou em uma única
lágrima em sua bochecha.
Ela estava chorando. Melissa não chorava.
Rex engoliu forte em seco. Nós estamos mortos.
A porta da frente estava trancada, então ele jogou Stratocumulus no centro do pequeno
vitral da janela, enfiou seu braço para dentro, e procurou a maçaneta do outro lado. O vidro
quebrado apunhalou a dobra de seu cotovelo, mas seus dedos descobriram a fechadura e a
girou. Enquanto a porta se abria, Rex escutou o som de um pano rasgando vindo de sua manga.
“Cozinha”, ele disse. Sempre as melhores ferramentas estavam lá.
Melissa correu a frente, enquanto Rex parava para checar seu braço, abrindo o tecido
rasgado para revelar a carne perfurada. Enquanto o sangue brotava da ferida, a cor vermelha foi
varrida, se tornando um azul acinzentado diante de seus olhos.
“Aqui!” Melissa gritou da parte detrás da casa.
Ele tirou seu olhar do corte e correu, se perguntando por um momento se os Darklings
eram como tubarões. Eles podiam ser impulsionados a um frenesi pelo cheiro do sangue?
A cozinha era imensa, maior que a sala de estar de Rex, com longos trechos de espaço no
balcão e duas pia de inox. A luz ambiente azul da hora secreta cintilava vinda dos aparelhos de
metal e de um conjunto de facas.
Rex sorriu. Eles ainda não estavam mortos.
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Ele puxou as gavetas até que ele descobriu a prataria e trouxe uma colher para seus olhos
afiados.
“Aço inoxidável coreano”, ele leu feliz, e empurrou a gaveta inteira nos braços de Melissa.
”Encontre um quarto lá em cima sem cadáveres.”
Ela assentiu muda, sua face ainda vazia com o choque.
Rex saqueou a cozinha, enchendo sua mochila com cerâmica antiaderente, talheres, todos
os materiais da era espacial que sempre começavam em jatos aéreos e acabavam em frigideiras.
Depois de trinta segundos frenéticos ele suspendeu a pesada sacola sobre um ombro e agarrou o
conjunto de facas com sua mão livre – as facas pareciam terríveis. Ele se dirigiu para as escadas.
Melissa tinha descoberto um aposento perfeito. Era o de estudos, com uma pequena janela
de vidro que dava para a rua da mansão Darkling. Um computador dominava a pequena mesa, e
um quadro de avisos cheio de cabos preenchia uma parede. Mais metal limpo para se pegar.
Ela estava olhando pela janela, estremecendo de novo.
“Eles estão quase aqui.”
Rex largou a sacola e fechou batendo a porta. Puxou uma faca do conjunto e espreitou
atentamente, ele sorriu.
“Alguém gosta de cozinhar.”
As facas eram japonesas e maravilhosas, carregadas de palavras mágicas. Nunca
precisavam de afiação. O que significava um alto conteúdo de titânio e amolação a laser, um item
moderno equivalente a uma ponta de lança pós salutream - a tecnologia da idade da pedra que
finalmente tinha levado os Darklings para a hora secreta.
Ele puxou o pedaço de papel vindo de sua bota e o desdobrou, em seguida se virou para a
porta e empurrou a faca com força contra ela. A madeira se dividiu com um satisfeito thud.
“Anormalidades13,” Rex puxou outra faca do conjunto. “Aboriginally14”, ele leu de um
pedaço de papel. Thud. Puxou outra faca...
Ele sorriu. Este era um pequeno recurso que Dess nunca tinha pensado (não que ela
precisasse de ajuda em descobrir tridecalogismos.)
“Acceptability15.” Imagine.
O pedaço de papel era a penúltima página de um dicionário de palavras cruzadas, o único
tipo de glossário que Rex já tinha encontrado que listava palavras pelo comprimento.
“Acidentalismo.” Seja lá o que isso fosse. Thud. A porta seria uma rocha sólida uma vez
que ele colocasse treze...
As facas se esgotavam em doze.
Rex apertou seus olhos fortemente. Por que ele não tinha contado antes? Nove teria sido
13
Abnormalities – Anormalidades (com treze letras). 14
Aboriginally – Primordialmente, originariamente ou ainda relativo a aborígene. 15
Acceptability - Aceitabilidade (14 letras)
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bom o suficiente. E qualquer coisa seria melhor que doze.
Ele girou ao redor e agarrou uma faca de passar manteiga da gaveta de talheres, virou-se,
e a impeliu contra a porta com toda a sua força. A ponta sem corte patinou para fora, levando seu
pulso a uns poucos centímetros da borda serrilhada da linda faca japonesa.
“Maldição”, ele disse. Ainda doze facas. Ele tornaria a porta um imã de Darkling! Como ele
pode ter sido tão -?
Thud
Rex piscou, olhando para a faca tremendo na madeira, ao lado de sua cabeça. Sua lâmina
estava gravada com cobras e sapos, seu cabo carregava algo como duas caudas escamosas de
lagarto, e seu punho, um minúsculo crânio com olhos de vidro, parecia estar sorrindo para Rex.
Ele nunca tinha visto a faca antes e se descobriu percebendo que ele não era o único midnighter
que tinha algumas armas ao lado para um dia ruim.
“Magnificently Instanteneous Gratification16”, Melissa disse.
Ele se virou para encará-la. Ela ainda estava do outro lado da sala – ela a tinha jogado
perto da cabeça de Rex.
Melissa tinha limpado suas lágrimas, e sua expressão tinha retornado para seu usual
sarcasmo da meia noite.
“Eu estou ok agora.”
Ele deixou sair sua respiração e começou a assentir, mas o movimento lá fora na janela
captou seu olhar. Ele cruzou a sala.
“Não olhe, Rex. Você não quer –“ Mas ele já tinha visto.
A coisa veio abaixo com asas ondulantes, duas velas curtidas vindo dos longos braços
articulados. Suas mãos, longas garras agarrando o ar com compulsivas contrações, deviam ter
nove metros. Sua cauda espetada chicoteava através do vento a cada batida de asas, como se
para contrabalancear a carga da besta grotesca.
Seu corpo era delgado, a parte Darkling, de qualquer maneira, as costelas se mostrando
através de sua carne encouraçada. As pernas finas da coisa tropeçaram, tremendo debilmente
enquanto ele pousava no telhado do outro lado da rua, suas asas deram uma chicotada para se
firmar enquanto ele ganhava equilíbrio.
Melissa, ainda voltada de costas para a janela, fez um ruído asfixiado.
Ele não tinha uma cabeça. De qualquer modo, não uma cabeça Darkling. Um torso
humano parecia estar submerso na carne da criatura, e uma meio visível face humana olhava
vitreamente de seu peito macilento. Dois braços secundários lançados do tronco submerso,
terminando em mãos e dedos de uma pessoa – uma criança, Rex agora via – que estavam
fechadas como se em dor.
16
Magnificamente Instantaneamente Gratificação.
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“Ele pensa...” Melissa disse estridentemente ”... como nós.”
Algo arrebentou através da janela, uma explosão de vidro quebrado, asas tremulando, e
guinchos como de rato. Agulhas de gelo se atiraram no peito de Rex enquanto um slither alado
atacava e um súbito emaranhado de filamentos negros pareceu agarrar seu peito.
Faíscas azuis o cegaram, as correntes de metal do punho de Melissa golpeando o slither o
jogando ao chão. Rex ofegou tentando respirar através dos pulmões congelados, observando
como ela casualmente derrubava a gaveta de talheres em cima da besta ainda se sacudindo. O
metal cuspiu mais faíscas, enquanto a coisa fritava embaixo da pilha.
“Você vai para a janela”, ela ordenou, chutando os garfos e colheres cintilando, e as facas
em torno do chão para evitar qualquer slither rastejante se esgueirasse até eles.
Rex concordou e alcançou a mochila. Ele jogou dois punhados de parafusos de Dess e
apertou a janela, trazendo os gritos e o fogo azul das coisas que pairavam ou dos slithers lá fora.
Uma batida com Arachnofhobia, o martelo17, desalojando algo largo que tinha estado pendurado
na soleira.
“Ajude-me com isso”, ele girou, o gelo do slither golpeado ainda arranhando seus
pulmões.
O quadro de avisos cheio de cabos de computador veio abaixo facilmente da parede.
Alguns dos cabos eram preenchidos com cobre e ouro inúteis, Rex sabia, mas alguns conteriam
também ligas avançadas, isolando plásticos, e tomara que algumas fibras óticas, todas que
atormentariam seus atacantes. Eles o inclinaram contra a janela, e Rex começou a esvaziar a
mochila, nomeando os potes e frigideiras com os últimos tridecalogismos da sua esfarrapada
página do dicionário de cruzadas.
“Pronto”, Melissa disse, empurrando ele para longe quando sua lista acabou. Ela nomeou
os últimos pontos de metal, invocando as memorizadas palavras de emergência que todos eles
mantinham em suas cabeças.
“Ininteligente18”, ela murmurou.
Rex se inclinou contra a parede e estremeceu. Cada respirada era o gelo do ataque do
slither. Seus ombros estavam dormentes e seus dedos se moviam lentamente, como uma luta de
bola de neve sem luvas. Uns poucos centímetros mais alto e o slither teria acertado ele no
pescoço. A tradição dizia que alguns midnighters tinham na verdade morrido daquela forma –
sufocando. Suas traqueias sufocadas com o gelo.
Ele tinha estado tão impressionado pela... coisa que eles tinham visto, que ele quase foi
morto por um slither comum.
“Irresponsável”, Melissa nomeou um frigideira.
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Ball-peen hammer - tipo de martelo usado em construção para assentar azulejos. Suas pontas são redondas. 18
Unintelligent - Burro, não inteligente, estúpido.
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“O que era aquilo?” Ele grasnou.
Ela se virou para ele, sacudindo sua cabeça. “Ele pensa como nós.”
“Um humano, você quer dizer?”
“Uma midnighter. Eu acho que ela é... ela era uma de nós.”
“Fundida com um deles.”
Melissa olhou para um termômetro de carne em sua mão e sussurrou.
“Indescritível.”
Algo grande pairou contra o quadro. Os cabos do computador enrolados do computador
viraram círculos cintilantes, como luzes de natal ainda em suas caixas. Um longo tentáculo
serpenteava por detrás do quadro frágil, enrolando-se em volta da cintura de Melissa. Ela enfiou a
ponta do termômetro de carne nele e o tentáculo recuou com um grito.
“Só um Darkling mais fraco”, ela disse.
Rex se afundou no chão. Melissa jogou suas últimas defesas no lugar e se agachou ao
lado dele, segurando suas mãos, protegidas por sua luva grossa de lã.
“Eu vou te mostrar o que eu senti”, ela disse. “Da coisa naquela mulher. Depois que nós
sairmos daqui. Amanhã nós nos tocaremos de novo.”
“Depois que nós sairmos daqui?”, ele olhou para a porta com treze facas, o quadro cheio
de metal cintilando. Talvez ela segurasse, talvez não. É claro, depois do que ele tinha visto, a
morte era relativa.
Melhor comido que... mudado.
“Sim, Rex. Depois que nós sairmos daqui.”
Uma vibração e guinchos vieram da janela bloqueada, um slither batendo suas asas
enquanto ele morria.
“Eles estão infelizes por termos visto aquela coisa, não estão?”
Melissa concordou pensativamente. “Como você disse. Eles não vão desistir facilmente.”
Outro slither se jogou na janela, o cheiro de carne queimando fazendo Rex ter ânsia de
vômito. As mentes estúpidas dos piões dos Darklings estavam se sacrificando para esgotar as
defesas do quarto. Rex sorriu sinistramente, levaria mais que alguns slithers para conseguir
atravessar aquela pilha de metal da era espacial e os tridecalogismos.
Barulhos vieram do lado de dentro da casa agora, o bater frenético de asas preenchendo o
corredor lá fora. A treze facas começaram a brilhar.
Uma cabeça negra de cobra se espremeu por debaixo da porta, então outra – slithers
rastejantes a testando.
As primeiras queimaram na bagunça dos talheres e tachas caídas, mas mais vieram.
Melissa pisou sobre suas formas serpentiformes, as tornozeleiras ao redor de seu sapato
cintilando em azul e então branco. Rex empunhou Arachnophobia, esmagando os slithers com o
martelo até que suas mãos doessem.
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Depois de longos minutos o ataques slither cedeu. As asas se sacudindo cessaram, o
metal espalhando ao redor do quarto perdeu seu brilho selvagem.
Rex afundou no chão, enxugando o suor de seus olhos. Seus pulmões estavam cheios do
fumo da carne slither queimada, seus músculos completamente exaustos.
“Eles estão desistindo?”, ele grasnou.
Melissa permaneceu imóvel, olhos fechados.
Então Rex escutou. Algo estava vindo pelas escadas. Ele não podia imaginar a coisa meio
humana se movendo pela casa, então era provavelmente um Darkling normal, um jovem
precipitado em invadir esta casa moderna. Melissa não disse o que ela provou, apenas olhava
para o chão com o rosto inexpressivo em fadiga. As escadas rangiam debaixo de seu peso, e as
treze facas começaram a brilhar de novo.
O terror ameaçou paralisá-lo, mas em seguida a mente de Rex voltou com o que ela tinha
dito: Amanhã nós nos tocaremos de novo. Sua cabeça nadou com o pensamento. Felizmente
havia a promessa de algo mais entre ele e Melissa. Eles não iriam morrer hoje à noite.
Ele puxou a colota da mochila.
“Venha e pegue.” Ele disse suavemente.
As facas estremeceram na madeira, lanças de trêmulas chamas azuis entre elas. O som
de arranhar de patas viajou lentamente por debaixo da porta, e Rex podia ouvir a respiração
ofegante de um gato grande. Ele tinha tomado uma forma caçadora.
Uma faca entalhada começou a balançar, quase escorregando da porta, mas Rex a
impulsionou de volta na madeira. O breve contato com o metal cintilando queimou a sua palma.
Ele trouxe a calota para seus lábios.
“Categorically Unjustifiable Apropriation.19”
O metal deu ignição, fluindo com a chama azul ao longo de suas bordas, as minúsculas
figuras parecendo dançar. A calota vibrou na mão dele, soltando um calor vibrante que rastejava
acima pelo seu braço e para seu ombro.
Rex sorriu cruelmente. Ele tinha visto que realmente bom trabalho Dess podia fazer.
Portanto venham Darklings.
O arfar do outro lado parou por um momento, um suspender da respiração da criatura.
Um risinho escapou dos lábios de Melissa. “Gato com medinho.”
Um rosnar respondeu do outro lado, um imenso rugir de dor e fúria que fez o aposento
inteiro estremecer. Mas Rex sabia pelo som frustrado, que o Darkling tinha sentido a arma
pulsando em sua mão e tinha decidido não jogar fora sua vida fria e prolongada.
As escadas rangeram de novo enquanto o Darkling descia, as facas se apagando em um
embotar, ficando cinza, e o pavor que tinha perdurado sobre o quarto lentamente diminuiu.
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Categorically Unjustifiable Apropriation – Categoricamente, Injustificável, Apropriação (15, 14, 11 letras, respectivamente)
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Antes da hora acabar, Rex deu uma última olhada em um dos cortes no quadro arranhado
e agredido. Ele viu o halfling20* partir, fazendo seu desgracioso caminho da varanda do quarto
principal para o teto, e então tomando suas asas sobrecarregadas.
“Pronto para correr?” Melissa disse.
“O que?”, ele perguntou.
“Todos eles estão partindo. O séquito também.” Melissa sorriu. “Nós temos alguns minutos,
mas eu não acho que nossos amigos imóveis vão gostar do que nós fizemos em sua casa.”
Ele olhou ao redor do quarto. “Pode ter certeza.”
“Malditas crianças com seu vandalismo disparatado”, ela disse.
Rex suspirou, pensando na janela quebrada lá embaixo. “Eles podem ter um sistema de
alarme, pense nisso.”
Melissa puxou Magnificently Instanteneous Gratification da porta.
“Ele não funcionará – “ ele começou, mas a expressão dela o silenciou.
“Eu também uso isso para a proteção normal, Rex. No caso de alguém tentar me tocar.”
“Ah.” Ele olhou para seu relógio.
Eles correram escadas abaixo. Na porta da frente Melissa jogou sua última projeção, e
então acenou.
“Tudo limpo.”
Eles alcançaram o velho Ford enquanto a hora azul terminava. Rex nunca tinha estado tão
feliz em ver a escuridão varrendo contra o céu. No momento que a hora normal os alcançou,
carregou um vento frio de Oklahoma, um alto toque preencheu a noite.
“Maldição”, ele disse. “Eles tinham um alarme.”
Melissa pulou dentro e ligou o carro, e eles se afastaram com uma derrapada. Rex ficou
em silêncio enquanto ela dirigia, deixando ela se projetar em procura da polícia. Poucos minutos
depois ela desviou o carro para a margem da estrada e desligou os faróis do Ford, colocando ele
fora de vista.
Rex se abaixou também em seu banco, pegando o vislumbre de dois carros de seguranças
particulares, enquanto eles passavam às pressas.
Melissa tomou a mão dele, sua luva de lã quente contra sua pele. “Consiga um pouco de
veneno, Rex.”
“Fazer o que?”
“Algo que mate rápido. Como uma daquelas cobras que param seu coração em vinte
segundos.”
O que ela tinha visto esta noite finalmente empurrou Melissa para o precipício? “Melissa,
eu não posso –“
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Halfling – metade Darkling. A palavra Darkling pode ser traduzida como companheiro das trevas ou o que vive nas trevas.
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“Não para mim, idiota”, Ela sacudiu sua cabeça. “Sabe o midnighter dentro daquele
monstro?”
“Sim.”
“Ela ainda está viva lá, em algum lugar. Eu pude senti-la. Eles mantêm a mente dela viva,
então eles poder usar a parte humana para ela pensar nos sinais e símbolos. Mas ela sabe o que
aconteceu consigo mesma.”
Rex colocou seu rosto em suas mãos. Depois de alguns momentos ele disse, ”Mas como
daríamos o veneno a ela?”
“Não para ela. Você.” Melissa ligou os faróis, olhou pelo para-brisa da frente. “Ela está
doente, provavelmente morrendo, e em breve eles decidirão que eles precisam de outro e vão
atrás de você.”
Ele piscou, sacudindo sua cabeça. “O que...?“
“Pense, Rex. Eles já podem voar, eles já podem projetar a mente, e eles odeiam
matemática.“ Melissa foi para a estrada. “Ela é uma vidente.”
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11h:10min da Manhã
SEGUNDAS DEPRIMETES
“Você ouviu as últimas?”
Jessica suspirou. “Só a que eu me queimei na prova de física desta manhã. É claro, isso
está mais fato do que na categoria das últimas.”
Constanza Grayfoot fez uma careta e se pressionou no armário de Jessica, deixando um
bando de calouros passarem.
“Oh, Jess, que saco. Talvez sua mãe finalmente te deixe em liberdade daquelas aulas
avançadas.”
Jessica levantou o volume pesado que era seu livro de trigonometria. “Sem chance.”
“Você não estudando com você-sabe-quem?”
“Sim, eu estava. Exceto que nós... ficamos distraídos.”
Um sorriso radiante iluminou o rosto de Constanza. “Jess, sua garota má! Esse tipo de
distração não parece tão ruim”
Jessica retornou o sorriso, mas sua expressão vacilou. Se as interrupções tivessem sido o
que Constanza estava pensando, poderia ter valido a pena falhar um teste de física. Mas passar
todas as meias noites procurando por pessoas a espreita ao redor de sua casa não tinha deixado
tempo para nenhum tipo de boa distração ou mesmo estudos. Rex e Melissa nem sequer tinham
se incomodado em aparecer e ajudar. Talvez Melissa achasse que uma ameaça de um simples
ser humano não valeria seu tempo.
“Bem”, Constanza continuou. “Talvez os rumores desta manhã te distraiam da sua tragédia
em física. Então isso extraído da mãe de alguém que trabalha no departamento do xerife. Ela é
como uma perita forense, ou uma policial psíquica, ou algo assim. Enfim, houve algum tipo de
vandalismo demoníaco noite passada em Las Colonias.”
Jessica enfiou seu livro de trigonometria em sua mochila, se perguntando o que mais ela
devia trazer para o período de estudos.
“Demoníaco o que?”
“Vandalismo”, Constanza repetiu, então adicionou em um sussurro, “mas com rituais
esquisitos. O que aconteceu foi, toda essa família estava dormindo, e de repente seu alarme
disparou – bem no meio da meia noite.”
A mão de Jessica congelou, o zíper de sua mochila meio fechado. “Meia noite?”
“Yeah. Alguém arrombou a casa deles enquanto estavam dormindo – e fez todas aquelas
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coisas psíquicas sem os acordar.”
Jessica tomou um baixo e uniforme fôlego. “E isso foi noite passada?”
“Sim, noite passada”, Constanza insistiu. “Preste atenção, Jess. Eu vou chegar na parte
assustadora. Então quando o alarme disparou, a família acordou e olhou ao redor, mas os
invasores, ou adoradores do demônio, ou o que quer que fosse já tinham partido. É como se eles
simplesmente desaparecessem.”
Jessica acenou, lentamente, ficando com a sensação tumultuada na cabeça que ela
sempre tinha quando a meia noite invadia o mundo do dia. Constanza era a única amiga não
midnighter que ela tinha aqui em Bixby. Escutar ela falar sobre os eventos que só podiam ter
acontecido na hora secreta faziam Jessica ficar atordoada.
“Então que tipo de coisas eles fizeram?”, ela disse.
Constanza enlaçou seu braço em torno do de Jessica e a puxou em direção a biblioteca.
“A coisa esquisita é que eles não roubaram nada. Apenas danificaram a casa e deixaram
todos aqueles símbolos doidos. Como uma coisa, tinha essa porta com doze facas enfiadas nela.
E sangue em uma delas.”
“Doze? Não treze?”
Constanza piscou. “Bem, isso é o que todo mundo está dizendo. Por quê?”
“Bem... você sabe. “Jessica encolheu o ombro, tentando soar indiferente. “Treze parece
muito mais demoníaco do que doze.”
“Uh, acho que sim.” Constanza deu uma risadinha. “Talvez eles fossem adoradores de
demônio que não sabiam contar.”
“Eu espero que não”, Jessica disse suavemente para si mesma. Parecia bastante óbvio
onde Melissa e Rex tinham estado noite passada. A coisa assustadora era, ela não os tinha visto
na escola por toda manhã.
Na biblioteca a mesa de Constanza já estava em plena atividade. Detalhes do prévio
vandalismo demoníaco da noite estava sendo trocados e analisados – talheres, potes e panelas
dispostas misteriosamente em uma sala do computador; manchas de sangue descobertas no
tapete e em uma das facas; uma janela de cima quebrada pelo lado de fora ou, pelo outro lado, a
porta da frente quebrada. Mas havia uma coisa que todos concordavam: haviam sido exatamente
doze facas na porta. Enquanto Jessica escutava a fofoca, ela olhou para Dess sentada em seu
lugar de sempre em um canto. Jessica se perguntava se ela sabia o que realmente tinha
acontecido noite passada.
“Só de pensar que eles estavam dormindo enquanto isso tudo estava acontecendo”, Jess
continuou dizendo. “O que é mais assustador que isso?”
“Talvez eles estivessem drogados”, Liz disse.
“Talvez eles fizeram isso por si mesmos!” Maria sugeriu.
“O que? A família?” Constanza pareceu duvidar. “Em Las Colonias? Aquelas casas são
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muito legais. Eu acho que minha prima tem uma. Não é uma vizinhança de adoradores de
demônio.”
Maria estremeceu. “Claro, mas não faz nenhum sentido que alguém mais o faça. Como
você poderia fazer todas aquelas coisas em total silêncio?”
Uma voz veio da mesa da bibliotecária. “Falando em total silêncio – garotas vocês não tem
nada para estudar?”
“Sim, Srª Tomas”, Constanza respondeu, então rolou seus olhos e sussurrou. “Falando em
demônios.”
Jessica olhou para Dess. Ela estava provavelmente escutando, sua expressão ilegível
atrás dos óculos escuros. Pensando nisso, Jessica não tinha ideia do que Dess tinha estado
fazendo todo final de semana. Ela sequer sabia sobre a situação do espião?
“Na verdade, é melhor eu trabalhar. Trigonometria é a minha próxima metade do período.”
Constanza acenou lentamente e olhou por cima para o canto. Jessica sorriu levemente.
Constanza tinha começado a notar quanto tempo Jessica passava com Dess e os outros, os
almoços bem como períodos de estudo, e estava provavelmente se perguntando o que de
apelativo era. Exceto por Jonathan, os outros midnighters estavam vestindo-se daquela-coisa-
toda-preta, e seus sensíveis olhos da meia noite os forçava a usar óculos escuros, sempre que
eles pudessem. Eles não eram realmente do tipo de pessoas que Jessica teria passado o tempo
em Chicago.
Ela desejou poder conhecer Constanza melhor, mas entre estar de castigo e sobreviver à
hora secreta, Jessica não tinha passado tanto tempo quanto queria com ela. Como com
Jonathan, a meia noite parecia manter longe qualquer coisa normal de se acontecer.
“Dess não é tão má”, Jessica disse silenciosamente, e imediatamente se odiou por colocar
isso assim.
Constanza deu uma risadinha. “Bem, Jess, pelo menos com ela não há muita chance de
ficar distraída.”
“Você parece que esta de bom humor.”
Dess removeu seus óculos escuros, revelando uma expressão serena ao invés de sua
costumeira cara feia de segunda-feira.
“Foi um belo fim de semana. Brincar com uma nova ferramenta, que é super secreta, a
propósito – eu não posso te dizer nada. E esta manhã está se mostrando... interessante.”
Jessica olhou de volta para a mesa de Constanza e baixou sua voz. “Você escutou sobre a
coisa da noite passada?”
Dess assentiu. “Claro, mas não é nada. Acontece um monte disso em Bixby – rumores
sobre garotos fazendo coisas aleatoriamente, a maioria baseada nos últimos bandos de rumores.”
“Eu não teria tanta certeza. E sobre as facas?”
“Doze delas? Obviamente um engano. De qualquer modo, quem poderia ter sido? Eu
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estava ocupada. E Las colonias é uma saída para o deserto. Rex e Melissa não estavam na
cidade, ajudando vocês com seu espião?”
Jessica franziu seu nariz. “Então você sabe sobre ele?”
“Rex me ligou ontem. Me alertou para estar a procura.” Ela deu de ombros. “Meio estranho,
acho.”
“Sim.” Jessica se inclinou para frente. “Mas aqui está o mais estranho. Rex e Melissa não
apareceram ontem à noite. E eu não os vi hoje também.”
”Eles não vieram? Mas Rex disse...” Dess ficou em silêncio, um olhar distante em seu olho
que Jessica conhecia como o de fazer trigonometria juntas. Era o olhar de Dess calculando todos
os ângulos.
“Bem”, Dess disse finalmente, “o que significa duas coisas. Mais provavelmente algum
idiota na cadeia do rumor não entendeu o número certo por que a maioria das pessoas não chega
nunca aos números certos. Ou então Rex e Melissa devem ter lutado noite passada, foram
encurralados, enfiaram treze facas em uma porta, e dormiram até mais tarde esta manhã.”
Jessica engoliu em seco. “Qual é a outra possibilidade?”
“Eles entraram numa luta noite passada, enfiaram treze facas em uma porta, e um deles se
deu mal.”
“Se deu mal? O que você quer dizer?”
“Bem, o que significaria – “ Dess mastigou seu lábio – “que eles não iriam vir para a escola
hoje.”
Quando tocou o sinal do meio dia, Dess e Jessica foram para a cafeteria, fazendo em
tempo recorde. Jonathan estava esperando por elas na mesa de sempre de Rex. Sozinho.
“Martinez?” Dess disse, obviamente surpresa por vê-lo lá.
Jonathan dificilmente comeria com os outros midnighters. Ele deve ter escutado os
rumores também.
“Oi, Dess.”
Jonathan disse, embora com a boca cheia de sanduíche de manteiga de amendoim em um
pão de banana. Ele puxou uma cadeira para Jessica, mas não disse oi, apenas sorriu com
cansaço e se manteve comendo. Sua preocupação por Rex e Melissa evidentemente não tinham
afetado seu apetite de acrobata.
A voz de Jonathan ainda estava esganiçada da caminhada para casa há duas noites atrás.
Jessica tinha começado a perceber que ele nunca usava um casaco, não importava o quanto frio
estivesse. Ele não gostava de nada (ou ninguém) que restringisse seus movimentos.
“Vocês escutaram?”, ele disse entre as mordidas.
“Sim.” Os olhos de Dess varreram a cafeteria, que estava começando a se preencher com
corpos se acotovelando e os cheiros de comida de cafeteria. “E eles definitivamente não estão
aqui.” Ela suspirou, olhando para os dois. “Ok, eu acho que eu tenho que fazer uma ligação. Tem
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um trocado?”
Jessica pescou em seu bolso e descobriu uma única moeda, os vinte e cinco centavos que
ela tinha tirado cara ou coroa há duas noites atrás. Ela tinha estado a carregando por ai,
esperando que sua sorte mudasse. Até agora, ela só tinha trazido problema.
Dess a varreu de sua mão e a arrebatou, sem se incomodar em dizer obrigada.
Jess observou a movimentação nervosa de seu longo vestido preto até que ela foi engolida
pela multidão.
“Por que ela está tão mal humorada sobre isso?”
Jonathan deu de ombros, como se aquilo fosse óbvio. “Eu e você. Rex e Melissa. E então
há Dess.” Ele mordeu uma maça.
“Yeah, acho que sim.“
Jessica não podia discordar, embora no momento ela estivesse se perguntando se
Jonathan e ela eram dignos de ser invejados. Ela tinha reprovado no teste de física, um espião
estava atrás dela, e Rex e Melissa estavam perdidos em meio a rumores de sangue à meia noite
e destruição. Ainda assim, Jonathan estava sentado lá, comendo como um demônio e, como
sempre, na hora normal, sem tocá-la.
Na hora secreta era sempre automático – os dedos se tocavam, a leve pressão de ombro
contra ombro, ou braços entrelaçados. Mas de dia Jonathan não parecia ver interesse em contato
físico. Como se ele não percebesse que houvesse mais na vida que voar.
Ainda assim, Jessica disse a si mesma, que não era como se ela não pudesse segurar a
mão dele agora mesmo. Era só se aproximar e segurá-la. O quanto ridículo isso era? Esperar por
ele fazer tudo e odiá-lo por não ler sua mente?
É claro, se ela se aproximasse e ele se afastasse, não importava o quão ligeiramente, seria
realmente um saco.
Ela suspirou, se sentindo egoísta por não estar se preocupando com Rex e Melissa
perdidos. Algo horrível tinha acontecido noite passada, e não muito longe do deserto. Ela não
podia tirar de sua cabeça a imagem de doze facas ensaguentadas enfiadas numa porta. De
acordo com os rumores, nenhum corpo havia sido encontrado, mas os Darklings deixavam corpos
para trás quando eles... seja lá o que eles faziam?
“Então você acha que se ferrou nela?”
“O que? Oh.“ Jessica gemeu, se lembrando agora o que os rumores demoníacos tinham
permitido se esquecer. “Física. Eu sei que eu me ferrei. Me deu um branco total na parte das
fórmulas. E a parte das leis. Na parte de física, basicamente.”
Jonathan ainda estava sorrindo; ele estava tranquilo quanto à aula, tão confiante com as
leis do movimento quanto Dess tinha com os números.
“Ainda assim, você deve ter recebido um crédito extra.”
“Não. Não chega a tanto.”
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Jonathan riu. “O que acontece quando você joga uma moeda? Me dê três razões do
porque ela nunca para, mesmo no topo?”
Jessica apenas olhou para ele e suspirou.
“Sem resposta em Melissa. E o pai de Rex atendeu. Não dá para conseguir nada dele; Rex
deve ter dobrado seus remédios.“ Dess não se sentou, só cruzou seus braços e olhou abaixo
para eles. “Desperdício de uma boa moeda.”
“Qual o problema com o pai de Rex, afinal?” Jessica disse. “É tão triste, o jeito que ele é.”
Jonathan limpou sua garganta.
“Ele, triste?” Dess bufou. “Era mais triste antes do acidente.”
“O que você quer dizer?”
Um desagradável olhar cruzou o rosto de Dess. “Bem, tudo isso aconteceu antes de eu
encontrar Rex, mas eu sei que ele não era o melhor pai do mundo.”
“Oh, ainda assim.” Jessica lembrou da baba no queixo do velho, a expressão perdida em
seus olhos.
Dess sacudiu sua cabeça. “Não, de verdade. Poupe sua pena. Pergunte algum dia ao Rex
sobre as aranhas debaixo da casa.” Ela se virou para Jonathan. “Você pegou o carro do seu pai
hoje?”
“Sim.”
“Tem alguma coisa importante acontecendo esta tarde? “
Jonathan hesitou por um momento, então sacudiu sua cabeça.
“Então vamos lá.”
Jonathan suspirou, jogou o resto de seu sanduíche dentro do saco de lanches, e afastou
para trás sua cadeira.
“O que? Agora?” Jessica perguntou, arrebatando sua mente com os pensamentos do pai
de Rex. “Mas não tem como nós voltarmos antes do quinto período.”
“Tragédia profunda.” Dess disse. “Mas se você não quer vir, dê ao Sr. Sanches minhas
sinceras desculpas. Os olhinhos dele ficam tão tristes quando eu mato trigonometria.”
Jonathan descansou sua mão no ombro de Jessica, finalmente a tocando. “Você não quer
vir?”
“Um...” ela queria, mas Jessica não podia ignorar a corrente de medo em seu estômago.
Superando a imagem de facas manchadas de sangue estava uma visão dos rostos de seus pais,
carrancudos e de mau humor. “Eu não posso.”
“Tudo bem, Jess. Nós vamos deixar você saber.” Ele apertou o ombro dela suavemente.
“Te vejo hoje a noite.”
Eles se viraram e se afastaram, a deixando sozinha.
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12h:14min da Madrugada
DESSOMETRICS
Dess deu olhares furtivos em seu novo brinquedo enquanto eles dirigiam. Os números se
deslocando acalmavam seus nervos, lembrando a ela que cada problema tinha uma solução,
cada pessoa perdida um local e cada ponto na Terra um conjunto de deliciosas coordenadas.
Sua mente esta zunindo do final de semana. No que quer que os outros tivessem
conseguido se envolver, Dess tinha se divertido. Ela tinha passado todo o domingo pedalando em
torno da cidade, observando Geostacionário facilmente desafiar as coordenadas, transformando
Bixby em números. O que poderia ser melhor?
Ela tinha vivido aqui toda a sua via, mas pela primeira vez, Dess sentia que realmente
conhecia a cidade, podia ver seus padrões, podia mapear suas ruas e prédios em sua mente. O
mundo tinha se tornado finalmente inventariado e enumerado; Dess tinha feito a matemática do
último.
Enquanto isso, o resto deles passou o fim de semana sendo perseguido, tentando
perseguir os espiões, e colocando-se a si mesmos encurralados pelos Darklings. Que era o que
sempre parecia acontecer quando eles se deixavam fora de sua vista.
“O que é essa coisa?” Jonathan disse, olhando abaixo o receptor GPS nas mãos dela.
Ela o puxou para fora da vista dele. “Nada.”
Ele apenas riu, mordendo seu terceiro sanduíche. “Ok.”
Eles viraram na rua de Rex, que ia quase a leste, e Dess deu furtivamente uma olhada nos
números norte-sul estabilizando, o valores leste e oeste caindo lentamente. Depois desta visita
ela teria as exatas coordenadas para ambas casas, a sua e a de Rex. Talvez houvesse algum
padrão na localização das casas dos Midnighters.
O carro parou, e Dess se forçou a empurrar o receptor no bolso de seu casaco. Ela
deixaria Rex ciente de suas descobertas em breve o suficiente, mas ela precisava da matemática
firmemente em sua cabeça antes que ele tumultuasse isso com sua tradição bagunçada.
Matemática era pura, mas história era sempre cheia de estranhos vácuos e contradições.
A varanda inclinada estava vazia, o velho pai assustador em lugar nenhum. Talvez Rex
estivesse mantendo ele dentro de casa esses dias.
Do outro lado do gramado desgastado, uma voz áspera irrompeu da casa.
“Essas malditas crianças não sabem que é dia de escola?”
Ela se encolheu, então viu o rosto de Rex através da porta da frente. Uma imitação nada
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má de seu pai, ela tinha que admitir. Foi boa o suficiente para enviar calafrios em sua espinha.
Ele veio pela porta, rindo do susto que ele tinha dado a eles. Melissa o seguiu, e Dess
desgarrou sua mão do receptou GPS em seu bolso, resolvendo não pensar sobre ele. Em meio
ao clamor de Bixby High, a leitura de mente de Melissa era tão inútil quanto um telefone celular
na parte mais funda do Grand Canyon. Mas aqui no subúrbio escassamente povoado, Dess teria
que guardar seus pensamentos.
“Então, o que traz vocês dois a minha humilde casa?”
Dess franziu a sobrancelha. Rex parecia estranhamente feliz, especialmente se eles
tiveram uma briga confusa noite passada. E o cabelo de Melissa estava molhado, como se ela
tivesse acabado de tomar banho. Ela não estava com fones e estava até mesmo conseguindo
sorrir atrás de seus óculos escuros. Se isso fosse em qualquer outra pessoa... Dess estremeceu
e se lembrou que Melissa podia estar escutando. Além disso não tinha jeito – tipo literalmente De-
Jeito-Nenhum, que qualquer coisa como aquela tivesse acontecido.
Jonathan não estava falando muito, é claro, então ela respondeu.
“Nós ficamos sabendo que vocês tiveram um pouco de problema ontem a noite.”
Rex riu e concordou. “Essa fofoca já está rolando? Cara, eu amo essa cidade.”
Dess se permitiu rir em resposta para ele. Eles estavam realmente bem. A preocupação
que ela tinha lutado para não sentir, que a sorte daqueles dois amigos poderia ter terminado na
hora secreta, finalmente evaporou em alívio.
“E por falar nisso que diabos vocês estavam fazendo lá fora? Burros. Não era para você
estarem na cidade?”
“Yeah”. Jonathan adicionou com coragem. “Nós procuramos por vocês toda a hora.”
Rex sorriu e acenou para um quarteto de cadeiras de gramado enferrujadas. Eles se
sentaram como um bando de velhos na varanda.
“Eu senti o sabor de algo à caminho”, Melissa disse, “e nós acabamos atrás deles.”
“Parece mais como se eles perseguissem vocês.” Dess observou.
Melissa concordou. Puxando seu casaco em torno dela, embora não estivesse tão frio aqui
no sol. “Sim, eu acho que sim.”
“Eu espero que vocês tenham tido algum metal decente com vocês.” Dess disse.
Rex deu de ombros. “Bem, eles meio que nos pegaram de surpresa. Mas nós
improvisamos. E Categorically Unjustifiable Appropriation21 assustou os vilões.”
Dess sorriu, com prazer de ouvir isso. Ela sempre pensou que a velha calota era uma das
suas melhores. Ela tinha sido abandonada em 1989 (que era um 153 x 13) da Mercedes-Bens
(que era um tridecalogismo, se você não contasse o hífen) em 1264 (1 + 2 + 6 + 4 = duh, 13).
Obviamente destinada a detonar.
21
Categoricamente Injustificável Apropriação
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“Espere um pouco, Las Colonias não estão no caminho para Jéssica”, Jonathan disse,
como se ele tivesse acabado de perceber que Rex e Melissa não estavam contando a eles tudo.
Dess podia ver isso em seus rostos. Os dois estavam sorrindo como ladrões de loja que tinham
saído pela porta e no contornando da esquina, com os bolsos salientes.
“Não, Mas eu provei esse cara a quilômetros de distância”, Melissa disse. “Nos tornando o
seu caçador, Jonathan.”
“Não só isso”, Rex adicionou, “mas ele aparentemente trabalha para os Darklings.”
O alívio de Dess começou a desfiar. “Ele trabalha para eles? Como?”
Rex tomou um profundo fôlego, então deslanchou toda a história – os pensamentos sobre
Jéssica que Melissa tinha escutado, a casa Darkling e os dominós, o espião e sua namorada, o
abrigo do outro lado a rua (Rex mostrou o corte insignificante que tinha produzido o famoso
sangue) então o aparecimento da horrível meia coisa, e finalmente a luta. Melissa adicionou seu
próprio comentário e contradições na primeira metade, em seguida na maior parte apenas se
sentou e estremeceu, os globos oculares tremendo por baixo das pálpebras fechadas.
Enquanto Dess escutava, fascinada e levemente enojada, ela começou a perceber o
porquê eles pareceram tão engraçadinhos hoje. Eles estavam ainda muito assustados, mijando
nas calças de susto, até os ossos. O que eles tinham visto em Las Colônias deve ter mantido eles
acordados a noite toda – basicamente muito aterrorizados para dormir – e finalmente, depois de
algumas horas indecisas de inconsciência, eles estavam como ela os via agora: um cachorro
cansado e ainda bastante histérico.
Não foi à toa que eles não apareceram na escola. Rex não estava em boa forma para o
mundo real, e Melissa... em Bixby High seu cérebro teria derretido como um bruxa em um lava-
jato.
Quando a história terminou, Dess se inclinou para trás e deixou sua mente vagar,
acariciando Geoestacionário. Horrorizada com tudo, este pequeno conto prometia novos dados
para as coordenadas de seu projeto. Talvez esses fãs de Darklings, quem quer que eles fossem,
já soubessem a forma da hora secreta. Eles tinham estado se escondendo em algum lugar nos
últimos cinquenta anos...
“Nós temos que dizer a Jéssica.” Jonathan disse, as chaves do carro já em suas mãos.
“Aqueles dois podem ter ordens de ir atrás dela hoje.”
“Relaxe. Não é muito provável.” Rex tinha um sorriso presunçoso. Depois de uma pausa
dramática ele alcançou seu bolso, puxou algo, e abriu sua mão. Descansando em sua palma
estava um pequeno retângulo de marfim amarelo – como um antigo dominó, como ele tinha dito,
exceto que ao invés de pontos...
“Huh”, Dess disse. Era a marca, o símbolo do conhecimento para o portador da chama.
“Eu tomei a liberdade de roubar isso e alguns outros. Como um conjunto de dominós para
soletrar nomes humanos, que deve ter sido usado para dizer aos fãs quem Jéssica era.” O sorriso
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de Rex ficou mais presunçoso. “Há centenas de símbolos. Deve tomar um pouco de tempo aos
fãs para perceber que alguns estão faltando. Enquanto isso os Darklings vão ficar terrivelmente
frustrados se eles tentarem comunicar qualquer coisa sobre Jéssica.”
Melissa esfregou um dedo no dominó (perto perigosamente do toque da pele de Rex, Dess
percebeu). “Tem sabor de Darklings e parece velho. Talvez cinquenta anos. Há provavelmente só
um conjunto desses, passado através de gerações.”
“Espere um segundo. Se há um humano halfling22, como você disse, por que ela
simplesmente não escreve o que os Darklings querem dizer?” Dess disse, a imagem da criatura
que passou pela sua mente lhe dando um calafrio.
Rex sacudiu sua cabeça. “Mesmo através dela, os Darklings não podem pensar em nada
tão novo quanto o inglês. Os símbolos da tradição tem dez mil anos de idade, mais velho do que
qualquer linguagem falada hoje.” A voz dele ficou mais suave. “ Este é o porquê eles tem que
usar um vidente.”
Jonathan falou, ainda segurando os braços enferrujados de sua cadeira; “Mas quem são
esses caras? De onde eles vem?”
Rex deu de ombros; “Isso é o que vamos descobrir. Mas eu acho que nós podemos
assumir que eles são as mesmas pessoas que afastou nossos antecessores. Eu não descobri
nenhum dos nossos símbolos, além dos de Jéssica, então o resto de nós deve ter cuidado
também.”
“Mas onde eles têm estado se escondendo?” Dess perguntou. Ela se virou para Melissa.
“Por que você não sentiu essa coisa half antes?”
Melissa respondeu lentamente. “Há algo estranho naquela casa. E não posso me projetar
lá dentro. As únicas vezes que eu pude ouvir o cara foi antes dele ter saído ou pouco antes de
voltar. É algum tipo de zona morta psíquica. É como se as paredes comessem os pensamentos.”
“Localização, localização, localização.” Rex murmurou.
Com aquelas palavras mágicas outro calafrio passou por Dess, um de estímulo. “Me leve
lá.”
Os três juntos disseram. “O que?”
“Me leve lá, agora mesmo.” Ela puxou o receptor GPS do bolso, o acenou em frente a eles.
“Eu sabia que tinha que haver lugares desse jeito em Bixby – lugares escondidos. Eu tenho tido
esses pesadelos...”
Ela hesitou. Todos estavam olhando para ela como se sua boca tivesse começado a
espumar.
Dess rosnou. “Escutem, esta coisinha torna os lugares em números, coordenadas. Eu
tenho tentado quebrar os padrões - o modo que a hora secreta é formada. E como topologia...”
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Halfling – Metade Darkling, metade humano.
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Ok, as caras ficaram confusas com aquela. “Mas melhor. Oh, esquece isso. Só me leve lá e eu
posso descobrir como tudo funciona.” Ela sibilou entre seus dentes para suas expressões vazias.
“Eu só preciso de um padrão!”
Rex foi o primeiro a proferir um som, um baixo e suave suspiro. “Bem, você tem estado
ocupada.”
Ela rolou seus olhos. Hora de um vidente saber o melhor discurso.
“Mas você pode não ter que ir lá, Dess.”
“Eu consegui projetar um pouco a mente da mulher antes da” – Melissa mordeu seu
trêmulo lábio inferior – “coisa ficar perto demais.”
“Ela compartilhou o que viu comigo”, Rex disse. “Nós podemos ter os números que você
precisa.”
“Eh?” Dess sentiu sua garganta apertar com as expressões nos rostos de Rex e Melissa.
Compartilhar? Algo estava mais estranho sobre os dois que só um pouco de histeria pós luta.
Não tinha como. Dess se lembrou.
“Nós tentaremos escrever um pouco disso para você.“ Rex deu de ombros.
“Parece como planos para algo sendo construído, algo que tem que ser feito com o
halfling. Mas a maior parte com um bando de números, logo tudo isso é grego para mim.”
“Árabe”, Dess disse distraidamente. Melissa estava dando a ela aquele olhar.
“O que?” Rex perguntou.
“Números são árabes, idiota.” Ela tirou seu olhar para longe de Melissa. “Toda a velha
matemática é. Álgebra – como em álgebra – tinha essa cara há mil anos atrás.“
Tentando não pensar em nada mais do que tinha se passado entre os dois. Dess imaginou
um bando inteiro de menções matemáticas após ela. Dessologia? Desstochaticos?
“Dessometrico?” Melissa falou alto, um sorriso brincando em seus lábios.
Dess estremeceu. Fracassou.
Ela acenou Geoestacionário. “Eu não me importo com o que você conseguiu dela.“ Ou
como vocês compartilharam. “Isso vai me dar tudo o que eu preciso. Só me leve lá.”
Rex e Melissa olharam um para o outro, e Dess se permitiu sentir uma pequena explosão
de triunfo quando suas expressões revelaram absoluto horror. Eles estavam realmente ainda
aterrorizados, da cabeça aos pés.
Rex sacudiu sua cabeça. “Alguém pode ter notado o Ford. É do tipo que se sobressai
naquela vizinhança. E nós podemos ter deixado impressões digitais...”
Dess gargalhou das desculpas esfarrapadas e deu um tapinha na coxa de Jonathan.
“Vamos lá, aviador. Nós vamos para a mansão Darkling.”
Ele ficou de pé, pronto para partir, e deu a ela e a Melissa um olhar desconcertado. “O que
é Dessometricos?”
Ela sorriu. “Eu te digo no caminho.”
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1h:45min da tarde
MAIS REGIÃO PLANA
“A arte da leitura de mentes de Melissa”, Dess botou para fora com tristeza.
“Huh?”
Jonathan estava passando uma carreta23, tentando persuadir o carro de seu pai a fazer
mais de 65 km por hora no terreno plano. Ele também estava olhando para o desvio na via
principal, praticamente certo de que as direções sofriam da incerteza de uma telepata. Não que
ele pudesse culpá-la, mas Melissa tinha uma tênue compreensão da realidade às vezes.
“Dessometricos. Você me perguntou o que era.”
Jonathan olhou para ela mordendo seu polegar, enquanto encarava o para-brisa da frente.
Ela e Melissa tiveram algo lá atrás – concurso de olhares, tinha parecido. “Sim, certo. E você
pode fazer isso? Ler a mente dela?”
“Bem, isso ajuda se Rex está ao redor. Ele é o único que revela.”
A carreta finalmente desistiu do racha com ele e deslizou para trás com um aceno
amigável do motorista. Jonathan relaxou.
“Revela o que?”
Dess se contorceu no banco ao lado dele.
“Você não notou uma certa...puxa-saquice entre aqueles dois?”
“Hmmm”, Ele decidiu não passar o próximo caminhão a frente. Nessa hora, a interestadual
norte e sul estava lotada com as mercadorias mexicanas vindas pelo Texas. Mesmo a menor das
carretas poderia esmagar seu carro como uma barata.
Apesar de como os anúncios de automóveis tentavam fazer isso parecer, Jonathan tinha
aprendido este ano que dirigir não era como voar. Na verdade, dirigir absorvia demais se
comparado a voar. A região plana a noventa e seis quilômetros por hora ainda era uma região
plana.
E sua dor na garganta da outra noite que não tinha ido embora totalmente. Ele engoliu
cautelosamente antes de falar.
“Na verdade, esse dois praticamente detonaram meu medidor de bajulação. Eu tendo a
não notar as flutuações menores.”
Dess riu ao seu lado, um baixo ruído disso trazendo um sorriso ao seu rosto. Jonathan não 23
Eighteen-wheeler – Caminhões grandes de dezoito rodas.
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tinha saído muito com Dess ultimamente, ele percebeu. Pelo menos não desde que Jessica tinha
chegado à cidade.
“Eles não estavam do tipo... amigáveis?”, ela continuou. “E tagarelas.”
Ele olhou para Dess. Sua expressão esperançosa o chateava. Quem era para ser o leitor
de mentes aqui? Ele encolheu os ombros.
“Eu acho que eles só estavam assustados pelo o que viram noite passada. Ao inferno, eu
estaria.”
O pensamento que ele estava dirigindo direto de volta para onde tudo tinha acontecido não
estava o animando também. Ele se perguntava o porquê ele estava aqui ao invés de volta a
escola, para dizer a Jessica o que tinha acontecido e ter certeza que ela estava bem.
Talvez por que de todos eles, ele confiava mais em Dess para ajudar Jessica quando ela
realmente precisava. Dez dias atrás ele tinha visto quem tinha liderado os outros dois através de
um deserto infestado de Darklings quando ele e Jessica tinham estado encurralados no poço da
cobra.
“Claro. A coisa trauma foi parte disso.” Dess estava concordando. “Mas havia mais.”
“Como o que? O que mais poderia haver?”
“Bom, você sabe o que eu quero dizer.”
Um caminhoneiro explodiu sua buzina bem atrás deles, procurando manter a velocidade de
seu veículo que tinha ganhado rapidez na encosta de um viaduto. Jonathan deslocou o carro para
fora do caminho dele, ganhando um respeitoso dedo do meio, enquanto o caminhão rugia. Esta
conversa tinha se tornado uma distração perigosa.
“Você está doida”, Jonathan disse. “Sai fora.”
“Verdade. De algum modo. É mais complicado que isso.”
Ele bufou. “Eu não posso imaginar nada mais complicado que isso.”
Ela riu, e então disse,” Você sabe que eles fizeram...uma vez.”
Jonathan olhou para ela com alarme. “Fizeram o que?”
“Não isso”, Ela riu. “Mas quando eles eram crianças, Rex tocou Melissa por acidente.”
“Oh”, A mão esquerda de Jonathan tremeu por um momento, uma memória se movendo
através de seu corpo em uma onda de tontura. Ele apertou forte o volante, se concentrando nas
linhas pontilhadas brancas que pulsavam na frente do carro, e conseguiu manter o veículo em
linha reta até que o feitiço passasse.
“Rex me disse tudo sobre isso”, Dess estava dizendo. ”Disse que foi uma total pancada na
cabeça , como ela se amontoando dentro da mente dele e ele estava se enfiando na dela.”
Jonathan concordou. “Yeah. É como é.”
“O que? Como você saberia?”
Ele hesitou. Ele se perguntava por que ele nunca tinha dito a ninguém sobre isso, nem
mesmo a Jessica. (Especialmente não a Jessica, pense bem) Rex deve ter percebido o que
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estava acontecendo quando isso aconteceu, mas nem ele ou Jonathan tinham sequer tocado no
assunto. E é claro, Melissa não tinha dito nada depois daquele agradecimento no deserto.
“Bem, foi no penúltimo final de semana, quando nós descobrimos que Jessica era uma
portadora da chama. Quando vocês estavam tentando chegar ao poço da cobra e você deu uma
de amazona.”
“Aquilo foi legal. Resplandecida Incandescente Simbolizações chutaram aquelas bundas
Darklings.”
“Sim, bem. Mas você deve lembrar que deixou Rex e Melissa cercados por um zilhão de
aranhas. E eu tive que voar de volta para salvá-los.”
Dess ficou em silêncio por um momento, e então ela deixou soltar um longo arfar. “Isso
mesmo! Você trouxe Melissa de volta ao poço da cobra. Então você dever ter...”
“Tocado ela.”
Jonathan sentiu uma fraca sombra da tontura vir sobre ele de novo – a nauseante
precipitação de pensamentos e sentimentos, o desespero que permeavam Melissa, sua repulsa
daqueles poucos segundos de contato humano. Desde aquela noite ele não a via do mesmo jeito.
Ele podia detectar algo por trás de seu rosto fechado de seu ódio pela humanidade – algo frágil.
Jonathan estremeceu. Com tratamento de silêncio ou não, ele de algum modo se sentia
mais perto dela agora. Tinha sido muito mais fácil quando ela tinha sido só a vadia real.
“Maldição”, Dess disse suavemente. “Rex deve odiar você por aquilo.”
“O que? Por salvar ambas suas vidas?” Ele sacudiu sua cabeça, de repente esperando
que Dess não respondesse. Ele desejava que toda aquela conversa não tivesse começado.
Felizmente, o desvio estava logo à frente. “Esquece que eu mencionei isso.”
Mas Dess não calou a boca. “Rex disse que antigamente, os telepatas podiam controlar
suas habilidades. Eles podiam tolerar multidões, até mesmo transmitir informação através de um
aperto de mãos. Eles eram os únicos que passavam as notícias, que mantinham todos unidos.”
“Sério?” Jonathan sabia que haviam tido telepatas na história de Bixby, mas ele nunca
tinha imaginado um sadio. “Então por que Melissa é um caso perdido?”
“Rex não sabe. Talvez ela só seja uma louca. Mas ele sempre quis descobrir se ela pode
aprender a tolerar isso. Talvez noite passada fosse algum tipo de experiência de ligação ou algo
assim. E agora eles estão tentando se conectarem.”
Jonathan olhou para sua mão esquerda, sempre tinha parecido como se o toque abrasador
de Melissa tivesse ter deixado uma marca. Mas a palma dele não carregava nada além de uma
fina camada de suor.
Ele engoliu em seco de novo, sua garganta ainda dolorida.
Eles saíram da estrada principal, indo em direção a Las Colonias. As direções de Melissa
começaram a fazer sentido depois de tudo. O deserto estava à frente deles agora, um único
rasgo de sol manchava de branco de um lado a outro do horizonte.
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Jonathan se lembrou dos dois na varanda, Rex todo sorrisos, Melissa tão relaxada quanto
ele sequer tinha visto ela na hora normal. Mas então ele sentiu outro toque - Melissa tremendo no
canto de sua mente e sacudiu sua cabeça.
“Eu só espero que eles saibam o que estão fazendo.”
Dess riu. “ Você ainda não percebeu, piloto? Nenhum de nós sabe o que nós estamos
fazendo.”
O arco de entrada de Las Colonias era guardado por um carro de segurança privada. Dois
seguranças relaxados em suas capotas, bebendo café e se bronzeando no sol. Um levantou sua
mão, seus olhos varrendo o carro velho com óbvio desprezo. Jonathan rolou sua janela a
presença de uma figura de autoridade sangrando em seu estômago como um drink de ácido.
“O que vocês querem aqui?”
“Só dando uma volta oficial.” Seguranças particulares adoravam quando você os chamava
de oficial.
“Estão aqui para ver a casa demônio, huh? Temo que hoje só os moradores. Então por que
vocês não dão a volta no veículo e voltam de onde vieram.”
Jonathan pensou em umas coisas para dizer, mas percebeu que se ele botasse para fora,
um dos dois poderia perceber que era dia de escola. Então ele tocou o chapéu imaginário de
vaqueiro e começou a virar o carro.
“Devagar, Jonathan”, Dess começou. “Só estamos dando uma volta oficial.”
“O que você diria? Estou aqui para investigar a paranormalidade?”
Dess riu e pronunciou pausadamente como uma caipira. “Que tal. „Só carregando minha
nova namorada pra conhecer meu pai? Nós estamos nos ajeitando pra casar.‟”
Ele riu. “Próxima vez você é quem fala.”
“Então agora o que?
“Agora nós olhamos pela porta de trás.“
Jonathan virou na poeirenta estrada de serviço que contornava a comunidade, seus olhos
seguindo a cerca de metal de dez pés de altura que a cercava. Mesmo na hora normal seu
cérebro acrobata ainda funcionava. Ele podia ver os ângulos – onde um pé iria num impulso, e
então um apoio, outro dentro do alcance daquele...
Finalmente ele localizou um lugar. Em cupinzeiro perto da cerca, cortando um par de pés
de sua altura. Jonathan diminuiu o carro.
“Nós não podemos subir naquilo.” Dess disse.
“Eu posso. Só me mostre como essa coisa funciona.”
Os olhos de Dess se alargaram, e ela se afastou.
Seu rosto se contorceu por um momento, mas finalmente ela fez uma careta e disse.
“Ok. Mas se você o perder, quebrar, ou ser preso e eles o tomarem, você está morto.”
Jonathan apenas rolou os olhos e escutou, enquanto ela explicava como capturar as
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coordenadas. Enquanto ele se afastava do carro, ele sussurrou para si mesmo.
“Bem vindo.”
Do outro lado Jonathan caiu no chão à beira de um terreno inacabado, então parou para
tirar os cupins de seus tênis e a dor de seu tornozelo ainda torcido. Os materiais de construção
estavam espalhados no chão seco. Não havia moldura ainda, só uma calçada levando a
fundação descoberta. Ele se moveu rapidamente através do lugar, percebendo que ele seria mais
discreto caminhando na rua que se esgueirando em um terreno vazio.
A essa hora em um dia de semana, poucos carros passavam por ele e ninguém pareceu
prestar atenção nele. Metade das casas pareciam desocupadas. Ele podia sentir o cheiro de tinta
fresca e ver as fendas dos gramados recém desenrolados.24
Localizar a casa Darklings foi fácil. Ela estava no outro lado da rua da casa do demônio,
que tinha uma janela quebrada no segundo andar. A porta da frente estava selada com a fita
amarela da polícia. Jonathan se perguntou o que a família estava fazendo hoje. Sentada ao redor
da TV e tentando não se perguntar o que aconteceu na noite passada? Ou eles tinha ido para um
hotel por enquanto?
É claro, a verdadeira casa mal-assombrada estava do outro lado da rua. A casa Darkling
parecia muito com outra casa em desenvolvimento. Tudo sobre ela – a garagem, janelas,
gramado – era desnecessariamente grande. A calçada estava vazia, e Rex e Melissa disseram
que eles não tinham visto um traço sequer de móveis, então parecia improvável que alguém
estivesse em casa. Ele andou ao redor dela, tentando parecer interessado ao invés de criminoso.
Na parte de trás ele descobriu uma varanda com portas de vidro deslizantes, que Rex
havia descrito. Embaixo dela, tão perto quanto ele podia chegar da casa, Jonathan levantou o
GPS e pressionou o botão de capturar. Os números se deslocando congelaram.
De acordo com Dess, era isso.
Jonathan hesitou. Durante o dia a casa não deu a ele os calafrios que ele tinha esperado.
Ela era tão nova, diferente de qualquer outro lugar Darkling que ele tinha visto. Ele se perguntou
se haveria alguma dica lá dentro, algo que diria a ele a quem ela pertencia e quem estava por trás
da nova ameaça a Jéssica.
De novo à frente, ele viu a caixa de correio. Sua pequena bandeira vermelha em pé. Ele
cruzou o gramado, olhando acima e abaixo da rua ainda vazia.
Seu passo diminuiu quando ele a viu. Olhando para ele da janela da casa demônio estava
uma mulher. Ela parecia como alguém que teve uma noite sem sono, seu rosto sombrio com a
suspeita.
Jonathan sorriu e acenou. Ela não acenou de volta. Ele abriu a caixa e descobriu uma
única carta. Puxando-a, ele acenou novamente e se virou em direção a casa.
24
Gramados comprados por metro quadrado, não cultivados direto em um jardim.
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“Droga”, ele sussurrou.
A porta da frente estava provavelmente fechada, e os cabelos da nuca de Jonathan diziam
que ele ainda estava sendo observado. Ele deu a volta para a parte de trás da casa no caminho
que ele tinha vindo, dando uma última olhada por cima de seu ombro.
O rosto da mulher estava ainda na janela, mas ela não estava mais olhando para ele. Ela
estava olhando para o carro da segurança particular que estava vindo na rua sinuosa.
Jonathan comprimiu o envelope em seu bolso e correu, se lançando no quintal, rolando
através de uma cerca baixa e caindo em outro quintal. Ele passou por outra casa gigante vazia e
atravessou a outra rua acima.
Ele continuou até que ele estava sem fôlego, se movendo através das ruas ao invés de
abaixo delas. Os seguranças nunca o pegariam a pé, mesmo com seu tornozelo doendo a cada
passo. O guinchar de pneus veio a sua direita enquanto eles tentavam emparelhar o carro com
ele.
Na margem do canteiro de obras, de onde Jonathan tinha vindo, as casas estavam ainda
sob construção e o terreno era mais grosseiro. Uns poucos trabalhadores silenciosamente
observaram ele passar não tendo muito interesse. Ele se esquivou das pilhas de terra e tijolos
quebrados, desejando por uma explosão de dez segundos da gravidade da meia noite para levá-
lo daqui. Um pulo forte na direção que o carregaria de volta a Dess.
Finalmente ele alcançou a cerca. Ele podia ver o carro de seu pai através das barras. Mas
não havia nenhum cupinzeiro deste lado, nenhum apoio para os pés, nenhum modo de escalar.
Ele girou ao redor. O carro de segurança vinha à vista cem metros de distância, deixando a
estrada e rosnando sob a faixa de terra dos quintais sem grama, seus pneus cuspindo cascalho e
lançando uma chuva de poeira.
Jonathan olhou ao redor freneticamente por algo para impulsionar – uma pilha de tijolos,
uma toco de árvore, qualquer coisa. Mas a cerca se estendia ao longo do solo vermelho e plano
tão longe quanto ele podia ver.
Então seus olhos caíram sobre um velho pneu deitado ao sol, suas faixas entupidas com a
terra, sua borracha rachada. Ele correu até ele, o levantou e o enviou rolando a frente dele com
um forte chute. O viveiro da água de mosquitos espalhou suas entranhas enquanto ele se
balançava a frente. O apoiando de lado contra o muro, Jonathan plantou um pé e se empurrou.
O pneu afundou enquanto ele pulava, mas suas mãos conseguiram agarrar as pontas de
cima da cerca. Os pneus guinchantes do carro soaram como se eles estivessem bem abaixo
dele. Jonathan puxou e se soltou do outro lado, cada grama de seu peso normal da gravidade
aterrissando em seu tornozelo machucado.
“Finalmente”, Dess disse enquanto ele mancava. “Eu estava ficando entediada.”
Jonathan ligou o carro, olhando para trás para os guardas de segurança. Eles giraram em
uma parada do outro lado da cerca, o carro deles imediatamente engolido por sua própria nuvem
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de poeira. Os dois seguranças tossiram na tempestade de terra, e olharam para ele, lamentando-
se através da cerca. Um testou o pneu com seu pé, mas ele afundou até quase ficar plano sob
seu peso.
Jonathan tomou um profundo fôlego. Sem motivo para pressa.
“Ei, aqueles idiotas de novo”, Dess disse. “Eles perseguiram você?”
“Sim.”
“Legal. Sabe, até que você não é um completo perdedor na hora normal.”
“Certo.” Seu coração estava martelando, sua garganta estava arranhando da poeira
inalada, e seu tornozelo latejando. Ele nunca se sentiu daquele modo na meia noite, meio morto
por correr um insignificante quilômetro. Ele puxou o GPS de seu cinto. “Espero que essa coisa
ainda funcione.”
“É melhor”, ela disse, o ligando. Ela olhou para os números gravados no pequeno visor.
Um momento depois um sorriso de satisfação se espalhou, cruzando seu rosto. “Ah, isso é tão
bom!”
Jonathan se sentiu sorrindo também. Talvez não fosse tão mal, ter seu coração
martelando. Não tão bom quanto voar, é claro. “Isso veio direto de debaixo da varanda, como
você disse.”
“Estou vendo...” Seus olhos estavam arregalados como aquelas crianças de quatro anos
na entrada de sua primeira apresentação de teatro. “Eu tenho o padrão agora. Isso é tão
esquisito.”
Ela se virou e saltou para o banco da frente, o beijando na bochecha direita, forte e
molhado.
Jonathan riu, então olhou para os policiais de novo, eles estavam indo lentamente para o
carro. Estava à milhas do portão e daqui. Ele estava simplesmente se divertindo sentado aqui,
ignorando eles.
Então Jonathan se lembrou da carta em seu bolso. Ele a puxou, e o sorriso caiu de seu
rosto.
Não eram boas novas. Não mesmo.
“Você acha isso esquisito, dê uma olhada nisso.” Ele a jogou para Dess.
Ela levantou seus olhos enquanto ele colocava o carro de volta a estrada, guiando rápido
para a via principal. Eles tinham que voltar para a escola.
“Que merda...?”, ela murmurou.
“Estava na caixa de correio da casa Darkling. Deve ser o nome do proprietário, cortesia da
Oklahoma Power e Light25.
“Oh, cara, Jonathan”, Dess exclamou. “Com um nome desses, eles devem ser parentes.”
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Nome da companhia de luz.
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Ela começou a sacudir sua cabeça. “Jessica não vai gostar disso.”
“Não. E eu também não.”
Ele dirigiu rápido em direção a escola.
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2h:58min da Tarde
PACIÊNCIA
Eles não tinham voltado.
Os olhos de Jessica varreram o estacionamento estudantil, tentando achar o carro de
Jonathan entre a multidão escapando de Bixby High. Todos estavam cheios da energia do último
sinal, pulando capotas e jogando bola no estacionamento, buscando caronas para casa. Na rua
uma linha de ônibus escolares expelindo fumaça cinza, suas janelas preenchidas com rostos
impacientes.
Mas em nenhuma parte ela viu Jonathan ou Dess.
“Hei, Jess. E aí?”
Ela se virou para encontrar Constanza Grayfoot ao lado dela.
“Oh, só procurando uma pessoa.”
Constanza sorriu. “Sr. Lindo?”
“Yeah”, Ela se virou em direção ao estacionamento. “Ele saiu mais cedo da escola hoje,
mas eu pensei que ele tinha voltado.”
“Escapando, huh?” Constanza sacudiu sua cabeça. “Eu pensei que vocês dois iam evitar
chamar a atenção sobre vocês, depois de serem presos.”
“Não presos. Detidos e transportados para a custódia dos pais”, Jessica disse. “Mas sim,
nós estamos.” Ela teria explicado que Jonathan estava se certificando que dois dos seus não
tinham sido comidos vivos, mas de algum modo ela não pôde encontrar as palavras apropriadas.
“Ele meio que teve que fazer uma coisa.”
“Eu conheço o sentimento”, Constanza acenou para um grupo de líderes de torcida que
cruzavam o estacionamento.
Enquanto mais e mais carros partiam, Jessica se tornou ainda mais certa de que Jonathan
não estava em lugar algum. O que significava o fato de ele e Dess não terem voltado? Que
estava tudo bem? Que seus piores temores tinham sido verdade? Poderia ser que eles não
tivessem se incomodado em dizer que Rex e Melissa estavam bem. A menos que por não ter ido
atrás de Rex, ela tinha se provado irremediavelmente fraca e os quatro tinham decidido largá-la
permanentemente.
“Qual o problema, Jess?”
Jessica se virou e deu a Constanza um sorriso cansado. Ela desejou poder compartilhar
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sua ansiedade com alguém, mas sendo a única midnighter que não tinha escapado da escola
hoje, ela estava por conta própria.
“É só que...” O que ela poderia dizer?
“Problema na terra dos casais?”
Jessica acenou. “Acho que sim.”
“Então me diga qual é o problema.” Constanza sorriu. “Você sabe que quer.”
Jessica percebeu que ela queria, e ela não estava sob juramento do segredo sobre tudo
em sua vida. “Bem, Jonathan é realmente ótimo, a maior parte do tempo. Como a noite.”
“Mas ele não é tão ótimo assim na manhã seguinte?”
Jessica rolou seus olhos. “Isso não é sobre manhãs seguintes, que a propósito, não houve
nenhuma. Eu só estou falando daqui na escola. Nós nunca parecemos estar tão ligados quando
nós estamos juntos aqui.“
“Oh, entendi. Ele tem medo de DPA.”
“Sim. Não muito em Demonstração Públicas ou privadas de Afeto, na verdade. Exceto a
noite. É meio difícil de explicar.”
Constanza bufou. “Não tão difícil.”
“Quero dizer, não é o que você pensa.”
“O que você acha que eu penso?”
Jessica sentiu o sorriso em seu rosto. “O que você pensa que eu penso do que você
pensa?”
Constanza levantou uma sobrancelha. ”Eu penso que você sabe o que eu penso.”
O soltar dos freios hidráulicos guincharam no estacionamento e Jessica olhou acima para
ver o primeiro ônibus na fila começar a sair.
“Ah, merda. Eu preciso correr.”
“Perai, Jessica.” Constanza segurou seu braço. “Isso está ficando interessante. Me deixe
dar uma carona para você até sua casa.”
Jessica olhou para ela. “Sério? É a quilômetros de distância de seu caminho.”
Constanza deu de ombros. “E daí? Desde que você ficou de castigo, eu mal tenho visto
você.” Ela colocou seu braço ao redor de Jessica e começou a andar com ela entre os poucos
carros remanescentes. “Você nunca mais ficou com a gente na sala de estudos.”
“Ah, sim. Me desculpe sobre isso.”
“Tudo bem. Eu sei que você tem essa estranha dor, onde acredita que a sala de estudos é
para estudos de verdade.” Ela deu uma risadinha. “E não é como eu estivesse com ciúmes da
senhorita gótica do canto.”
Jess suspirou. “Na verdade, Dess é muito legal.”
É claro, ela não podia se imaginar tendo uma conversa sobre a fobia de Jonathan de
segurar nas mãos, com Dess. E esqueça Rex ou Melissa.
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“Yeah. Super legal”, Constanza disse. “Mas eu acho que ela conhece sua trigonometria.
Ela não é um dos tietes de matemática do Sanches?”
“Tipo assim.”
Constanza abriu sua bolsa e tirou um chaveiro ruidoso com uma mini lanterna, um cortador
de unha, um pé de coelho, e um monte de chaves. Ela a apertou, e a Mercedes azul a frente
delas soltou um pio.
“Tanto faz e quem importa? Nós vamos passar esse tempo falando sobre você e seu
garoto problema, senhorita Day.” Constanza deu a volta no carro.
Jessica sorriu e abriu a porta do passageiro, relaxando um pouco pela primeira vez desde
a prova de física que tinha atingido sua mesa aquela manhã. Sair com Constanza tinha sido seu
primeiro punhado de sorte do dia todo. Pelos próximos vinte minutos, pelo menos, ela não teria
que ouvir sobre Darklings ou slithers, antigos feudos de sangue, tradição perdida e até mesmo
reuniões sociais com sorvete.
Lá dentro, Constanza começou a mexer no rádio.
“Então, seu garoto DPA é tímido durante o dia. Do tipo atraído por vampiros?”
“Yeah.”
“Uma síndrome muito comum. E está bastante claro o que fazer.” Constanza ligou o carro,
colocando ambas as mãos ao volante e olhou além dela.
“O que?”
“Seja paciente.”
“Paciente?”
Os olhos de Jessica se esbugalharam. Paciente não era o conselho que ela tinha esperado
de Constanza.
“Sim. Apenas deixe sua raiva suavizar dentro de você, envelhecendo como um vinho fino.
Então quando Jonathan fizer algo que realmente te irrite, deixe ele ter ambos os barris.”
Jessica piscou. “Hum, me perdi. São barris de vinho?”
“Preste atenção, Jessica. São barris de raiva.” Constanza suspirou, batendo no volante. “O
problema com os garotos é, você não pode dizer a eles toda vez que alguma coisa te chateia. Se
você reclamar de cada simples segundo que Jonathan não segura sua mão, você parecerá fraca,
chorona e desesperada. Então você tem que acertá-lo com todas as falhas dele de uma só vez. O
que significa...” Ela engrenou o carro. “Espere até que ele faça algo que ele saiba que é ruim e
tenha um registro de todas as suas reclamações prontas em sua cabeça. Seja paciente, mas
esteja preparada – esse é o meu lema.”
Jessica sacudiu sua cabeça enquanto elas iam para fora do espaço do estacionamento.
“Você provavelmente está certa. Quero dizer, sobre não incomodá-lo. Ele surtaria se eu
ficasse toda pegajosa. Eu terei uma conversa com ele.”
“De qualquer forma, espere até que você tenha uma vantagem. Paciência é uma virtude.”
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“Uh, sim, eu acho."
Embora em algum momento, Jessica sabia por experiência, que a paciência também era
ser um covarde.
Quando elas chegaram à margem do parque de estacionamento, um carro desviou-se da
rua, guinando numa parada em frente ao delas. Constanza pisou nos freios e parou a Mercedes a
centímetros de distância.
Eram Jonathan e Dess, parecendo com muita pressa. Seu carro estava sujo, como se
tivessem estado dirigindo fora de estrada, e Jonathan, tinha uma expressão nos olhos
arregalados.
Ele olhou para o carro Constanza, então deu uma olhada entre os dois para-brisas para
Jessica.
"Jeez. Falando em paciência... ", disse Constanza disse.
Jessica engoliu em seco. Alguma coisa séria havia acontecido. "Olha, é melhor eu ir. Ele
parece chateado. Aquela coisa que ele tinha que fazer... talvez não foi tão bem."
"Claro, Jess."
Jessica abriu sua porta. "Eu realmente sinto muito, Constanza. Eu adoraria uma carona
para casa uma outra hora."
"Sem problema. Te vejo amanhã. Eu quero saber mais sobre isso. "
"Ah... claro."
Se eu puder te dizer qualquer coisa. Jessica se perguntou o que estava prestes a
descobrir. Da forma como Jonathan e Dess pareciam, ontem à noite havia sido ruim.
Constanza riu. "Quero dizer, mesmo que Jonathan esteja sendo um saco, você tem que
admitir, o cara sabe como fazer uma entrada.”
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11h:45min da Noite
INTRUSO
Jessica levantou de um canto nas sombras para espreitar lá fora, imaginando se o
movimento poderia ser visto dos arbustos do outro lado da rua. Suas luzes estavam apagadas, é
claro, e ela havia colocado camisetas em todo os olhos pulsantes26 no seu relógio de cabeceira e
do computador em stand by. A única luz no quarto dela penetrava por debaixo da porta: o fraco
brilho da luz noturna no corredor.
Ela não podia ver nada do lado de fora – de qualquer modo, nada humano. Só
entrelaçados de ramos de árvores, folhas caídas, e algumas piscinas de iluminação reunidas sob
a luz da varanda.
Em algum lugar lá fora, Melissa estava procurando, vasculhando as poucas mentes
despertas com um pensamento de perseguição. Se ela e Rex estivessem realmente na cidade
hoje à noite e não fossem ao deserto para se meterem com monstros.
Jonathan lhe contou a história quando ele tinha dirigido de sua escola para casa, como
tinham se deparado em uma casa onde Darklings davam ordens para seguidores humanos em
sessões da meia noite.
Jessica estremeceu, tentando imaginar o halfthing que fez essa comunicação possível, o
midnighter sequestrado fundido de alguma forma com um Darkling.
Jonathan também havia passado as garantias de Rex que Jessica estaria segura por
enquanto; algo sobre um dominó roubado, que não tinha sido totalmente convincente. E se o
homem com a câmera já tivesse suas ordens? E se ele tivesse um conjunto extra de dominós?
Não parecia muita coisa para se apostar sua vida.
Jessica sabia que ela não estaria fora de perigo até o momento que a hora azul viesse,
quando ela e Jonathan poderiam subir acima de Bixby para a segurança. Ela olhou para seu
relógio: apenas doze minutos para vir.
Um ruído penetrou no quarto.
Era o som da madeira rangendo. Era definitivamente de dentro da casa. Jéssica soltou a
cortina da janela, virou-se e congelou.
Ao longo da faixa de luz, rastejando por baixo da porta, uma sombra se moveu,
acompanhada pela menor das queixas no piso de madeira. 26
Luz do stand-by.
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Mãe? Sua boca se moveu para formar a palavra, mas nenhum som saiu. Ela apertou seus
lábios. Se fosse sua mãe, ela iria bater ou dizer algo, não iria?
Jessica esperou imóvel durante o que pareceu ser um minuto sólido, sua pulsação subindo
lentamente em sua garganta. A sombra embaixo da porta não se mexeu. Na escuridão, a visão
de Jessica começou a invocar movimentos nos cantos do quarto dela. A luz sob a porta pareceu
crescer em intensidade, e o gemido do vento lá fora, ficando cada vez mais alto.
Eles estavam esperando pela meia noite? Não faria qualquer sentido se fossem seres
humanos normais. A menos que eles planejassem atacar nos últimos minutos antes que a hora
secreta viesse, para empacotá-la para os Darklings. Mas por quê? Para juntá-la com algum corpo
de Darkling para fazer a ligação deles? Jessica mordeu o lábio. Ela não podia simplesmente ficar
aqui.
Lentamente, ela se ajoelhou ao lado da cama, deslizando sua caixa de armas. Ignorando a
lanterna e o isqueiro, ela puxou Anfractuously, o cadeado da bicicleta. Feita de aço pesado, ele
era adequado tanto para as ameaças da meia noite e para as do dia.
Ela deu passos lentos em direção à porta, ficou de lado, de costas contra a parede, e
levantou Anfractuously acima de sua cabeça.
Um barulho alto preencheu o quarto, o cadeado da bicicleta tinha atingido a parede atrás
dela.
Jessica congelou.
Um sussurro atravessou a porta: "Jess?"
“Beth?”Ela jogou a porta aberta, revelando sua desgrenhada irmã, lá em pé. “Sua dedo
duro! O que você está fazendo na minha porta?", ela sibilou.
Beth entrou no quarto, olhando ao redor interessada. "Bem, na maior parte imaginando o
que você estava fazendo aqui dentro de seu quarto.
"Shhh! Você vai acordar a mamãe e o papai", Jessica murmurou. Beth tinha falado em um
tom normal de voz.
"Então, feche a porta."
Jessica gemeu e olhou para o relógio, mas os números estavam obscurecidos pela
camiseta que ela tinha jogado sobre ele. Se sua irmã ainda estivesse aqui à meia noite, as coisas
iam ficar complicadas.
Beth seguiu seu olhar. "Interessante. É para esconder a luz?"
"Shhh!" Jessica sibilou novamente. Ela se inclinou e fechou a porta. A última coisa que ela
precisava era de seus pais se juntando a elas. "O que você quer?"
"Eu quero saber o que está acontecendo com você."
"O que quer dizer, Beth?"
"Bem, as cortinas estão puxadas, as luzes estão desligadas, você está vestida, e tem um
cadeado de bicicleta na sua mão. Ta indo para algum lugar?”
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Jess olhou para Anfractuously. "Isso na verdade era para arrebentar com seus miolos."
Beth sorriu docemente. "Quem você achou que eu era?"
"Ninguém", Jessica disse. “Só algum serial killer retardado de pijama. Agora, por que você
não volta para a cama? "
"Você precisa arrumar o seu relógio", Beth anunciou. "Está errado todas as manhãs."
Jessica hesitou, embora soubesse que a hesitação era sempre uma má ideia com Beth.
Dava tempo a seu pequeno cérebro para pensar que sabia mais do que ele realmente sabia.
"Sim, eu acho que ele está adiantado."
"Sim, mas exatamente uma hora? Todas as manhãs?"
“Eu sinto falta do horário de Chicago”, Jessica disse, uma gota de suor começando a
rastejar pelas suas costas. O quanto Beth tinha percebido?
"Bela tentativa. A hora de Chicago e de Bixby são as mesmas."
Jessica suspirou. "Ok, Beth, você ganhou. Toda noite eu voo até Nova York, em minha
vassoura para ir a umas festas loucas, e de manhã às vezes eu me esqueço de ajustar o relógio
para o horário de Bixby. Satisfeita?”
Beth se sentou na cama, balançando a cabeça lentamente. "Não completamente, mas pelo
menos estamos chegando a algum lugar."
"Onde você está ficando em apuros. Saia. Este é o meu quarto!”
“Então chame mamãe.”
Jessica respirou fundo e abriu a boca, mas tudo o que escapou foi outra pausa mortal, que
era tão incontrolável quanto o sorriso aumentando de Beth.
"Achei que não. Em um ponto relacionado, Jess, eu tentei te acordar domingo de manhã.
Mas misteriosamente, eu não consegui abrir sua porta."
“Talvez eu a tranquei.”
Beth bufou. “Sua porta não tem uma fechadura. Eu sou sua irmãzinha – eu conheço essas
coisas. Eu suspeito que você prendeu isso debaixo dela. “Ela levantou um calço, um que Jessica
tinha segurado sua porta na noite que ela tinha visto o cara espreitando.
“Isso é meu.”
Beth o deixou cair sobre a cama com um sorriso. "Sim, é. E quando eu descobrir o que
você está fazendo, você vai ser minha."
Jessica olhou para seu relógio. Seis minutos. Se os fãs de Darkling aparecessem agora
mesmo, ela poderia pular em seu armário, e, na confusão eles presumiriam que Beth era ela e a
levariam para o deserto, onde ela poderia irritar os Darklings até que fossem forçados a fugir para
outra hora escondida ou talvez, completamente, para uma outra dimensão. Uma situação de
ganhos mútuos.
“Esperando por alguém?” Beth perguntou.
“Sim... você. Para sair.”
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“Alguém está vindo, ah...” Beth levantou a camiseta do relógio de cabeceira. “Doze?”
Jessica apenas sacudiu sua cabeça. Seu coração estava martelando muito forte para ela
dizer qualquer coisa. Talvez se ela ficasse muito quieta e voltasse a este ponto exato quando a
hora tivesse terminado, Beth não notaria quaisquer mudanças minúsculas em sua posição.
Mas Beth, como parecia, estava notando tudo.
Ela se sentou na cama, os olhos varrendo o quarto.
"Você está totalmente de castigo, mas tem sempre sujeira em seu tênis pela manhã. E
ferrugem e graxa em seu jeans. É como se você saísse para mergulhar em lixeiras27 todas as
noites."
Jessica rangeu seus dentes. Beth devia estar espionando ela há semanas, provavelmente
desde que eles chegaram a Bixby. Todo esse tempo ela tinha se preocupado com sua irmã sem
amigos, tendo problemas para se ajustar à nova cidade, a pequena dedo duro tinha estado
ocupada bisbilhotando.
Ocorreu a Jessica que ela podia realmente deixar Beth dar uma boa olhada. Tudo o que
tinha a fazer era esperar até a meia noite chegar e quando terminasse estaria de pé logo atrás
dela, ou completamente em outra sala, desaparecendo diante do superior olhar arrogante de
Beth.
É claro que se Beth a visse desaparecer, ela podia começar a falar sobre isso. A mãe e pai
não acreditariam nela, mas se ela contasse para alguém na escola, a história poderia
eventualmente voltar para os outros Midnighters. Rex não ficaria muito feliz com isso.
E pior, ao invés de ficar aterrorizada, Beth, provavelmente, decidiria começar a aparecer
toda noite à meia noite, tentando descobrir exatamente o que estava acontecendo.
"Você acha que eu não iria notar o quanto apaixonadinha, você está o tempo todo?" Beth
continuou. "Ou estava, pelo menos até que você ficou paranoica todos sábados à noite. E agora
você está acenando com essa coisa aí." Beth apontou para o cadeado da bicicleta, ainda nas
mãos de Jessica. "Aquele cara com quem você foi pega, Jonathan, ele está com um monte de
problemas com a polícia, certo?"
“Beth, você não sabe do que está falando?”
“Certo, eu não sei. Eu nunca encontrei esse cara; pelo que eu sei, ele poderia ser um
completo psicopata.” Seus olhos caíram ao chão. “Jess, eu estou preocupada com você.”
Jessica piscou. “Você o que?”
“Preocupada. Com. Você.” Beth puxou seus joelhos para cima da cama e os abraçou. O
sorriso superior tinha desaparecido de seu rosto. “Você nunca trouxe policiais para casa antes, ou
fugiu por ai, ou mentiu para mim.”
“Beth, eu não –“
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Dumpster diving: É a prática de ir a lixeiras de escritórios ou residenciais para descobrir coisas uteis que foram jogadas fora.
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“Você mente para mim agora o tempo todo, Jessica. Eu sei.”
Beth olhou firme para ela, desafiando-a a discordar. "Você não era assim antes de virmos
para esta cidade estúpida. Eu conhecia todos os seus amigos de lá."
Jessica engoliu em seco. Pareceu há muito tempo atrás, como uma outra vida, mas ela se
lembrava. Antes a mãe e o pai tinham anunciado a grande mudança para Bixby e o fazer de
malas e despedidas tinha tornado Beth uma chorona em tempo integral, as duas sempre tinham
conversado. Brincadeiras e discussões na maior parte, mas nunca mentiram uma para outra.
"Beth. Eu não quero manter segredos de você. É só que... ", a voz de Jessica ficou presa.
Os olhos de Beth estavam tão cheios de lembranças, ela precisava de algo para se agarrar aqui
em Bixby.
Seria tão fácil dizer para ela.
Se sentindo culpada, Jessica se permitiu imaginar o olhar de espanto no rosto de sua
irmãzinha. Beth primeiro não acreditaria, mas Jessica poderia prová-lo em outro dois minutos,
voando de um lugar para outro em um piscar de olhos. Beth teria que aceitar a verdade, e Jessica
teria uma aliada quando tivesse que acobertar as coisas. Haveria menos uma pessoa no mundo
para enganar.
“Beth...”
“O que?”
As palavras não vieram, é claro. Ela se odiaria se as dissesse. Por anos os outros tinham
mantido o segredo de todos – amigos, família, a policia tinha forçado em Bixby um toque de
recolher sem misericórdia. Não era conveniente, mas o que mais eles poderiam fazer?
Rex disse que muitas pessoas costumavam saber sobre a meia noite, mas olha só o que
tinha acontecido – um dia todos os midnighters tinham desaparecido. O segredo era a única
proteção de verdade deles. Agora mesmo suas cortinas estavam fechadas e janelas trancadas
por causa de alguém lá fora que sabia.
E havia coisas piores que um homem com uma câmera.
A visão imaginada de Jessica de um halfthing veio a sua mente. A meia noite não era só
secreta; era cheia de horrores. Ela não podia despejar seus pesadelos em sua irmãzinha – não
era justo. Toda a ideia era estúpida e egoísta.
Jessica suspirou e olhou para sua irmã de novo. Quarenta segundos. “Deixa eu vou te
mostrar uma coisa.”
Os olhos de Beth se alargaram. “Sério?”
Jessica sorriu – só mais uma mentira hoje a noite. “Sério. Venha aqui.”
Ela abriu a porta de seu armário, apontando para a escuridão. Tudo que ela tinha que fazer
era distrair Beth por uns poucos segundos; contanto que ela não estivesse olhando para Jessica
no soar da meia noite, sua irmãzinha não ia perceber nada.
Beth se levantou e cruzou o quarto, agora um pouco desconfiada. "Ninguém está lá dentro,
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certo?"
"Sim, claro. Eu mantenho meu novo namorado psicopata no armário. Não seja uma
covarde. Olha." Seu relógio marcava 24 segundos agora.
Beth franziu a testa com cautela, mas veio. "Vai ligar uma luz ou algo assim?"
"Claro." Ela acendeu a luz do teto, mas Beth apenas franziu mais a testa, como tudo isso
foi muito fácil. "Vamos lá." Jessica pegou o ombro de sua irmã e a puxou para o armário. Quinze,
quatorze...
"O que é?" Beth olhou para a escuridão.
“Apenas olhe. Deixe seus olhos se ajustarem.” Dez. Jessica tirou a mão do ombro de Beth,
deu um passo para fora da visão dela. Beth se virou captando seu movimento.
"É melhor você não estar tirando -"
"Olha lá!" Jessica agarrou. Isso estava se tornando mais complicado do que ela imaginava;
manobrar Beth era como juntar um gato. E seu relógio não era sempre perfeito nos segundos. Só
havia uma maneira de ter certeza...
"Jess, não há nada lá dentro além -"
Sua irmãzinha gritou enquanto Jessica a empurrava para dentro do armário, tropeçando
contra as roupas penduradas com um barulho. Ela fechou a porta atrás de Beth até que ela
clicou.
"Jess!" Veio um rugido abafado. Um sólido baque se seguiu, provavelmente um pontapé.
Jessica inclinou seu peso contra a porta, assistindo o vai e vem da meia noite. Esse era o
problema com os relógios de quartzo, Rex sempre disse. Eles tendiam há perder alguns
segundos a cada dia.
"Você está tão morta! Se você não abrir essa porta em cinco segundos, eu vou gritar."
Cinco segundos deve estar bom, Jessica pensou.
"Um, dois, tr-"
O familiar tremor veio, um ondular na sólida madeira do chão debaixo dos seus pés e na
porta contra seus ombros, um simultâneo asfixiar da irmã e do vento gemendo de Oklahoma. A
distorção atravessou o quarto, deixando tudo imóvel, plano e iluminado pelo suave brilho azul.
Jessica suspirou. O grito que vinha era quase certamente inevitável, e seus pais já podiam
ter ouvido o tumulto. Mas foi Beth que tinha invadido seu quarto, afinal de contas, se recusando a
sair. Em qualquer caso, as explicações e recriminações estavam todas deixadas de lado a meia
noite.
Ela deixou a porta do armário fechado, incapaz de imaginar uma visão pior do que um pré-
grito congelado no rosto pálido e furioso de Beth. Se armando com a Explosiveness e
Demonstration e calçando seus tênis, Jessica destravou e abriu uma janela, balançando uma
perna do outro lado do peitoril.
Olhando para o quarto, ela ficou momentaneamente orgulhosa de si mesma por resistir à
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tentação de contar os segredos. Ela tinha feito a coisa de adultos e protegeu Beth da verdade.
Talvez ela até mesmo pedisse desculpas quando sua irmã saísse do armário.
"Te vejo em uma hora, querida", Jessica falou, e soltou-se no chão lá fora.
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12h:00min da Madrugada
ACARICIANDOTE
“Lá!" Jessica apontou com a mão livre, o movimento enviando os dois em um giro lento.
Jonathan olhou para baixo. "Eu não vejo Rex e Melissa em parte alguma."
"Nem eu. Apenas o carro. Que é meio difícil de se perder."
Jonathan riu. "Deve ser algum tipo de vudu telepata, mantendo um velho pedaço de
porcaria daquele funcionando."
Ele a puxou para mais perto, tomando a mão livre nas suas. A livre rotação deles diminuiu
enquanto eles desciam, de alguma forma anulado pelo seu movimento. Um flash de
aborrecimento passou por Jessica. Aquela coisa de reação igual e oposta de novo. Jonathan
entendia automaticamente disso, no entanto, aquela particular lei do movimento sempre parecia
deixá-la à deriva.
No entanto sua irritação passou rapidamente. O momento parecia muito bom para se ficar
com raiva, descer desse jeito, sua cabeça apoiada no peito dele. Ela fechou os olhos, sentindo
quando eles estavam prestes a aterrissar pela tensão dos músculos dele. Suas pernas
entrelaçadas por um momento, enquanto o chão os segurava, joelhos flexionados e corpos
pressionados um contra o outro por apoio.
Eles pularam novamente, Jessica seguindo a liderança de Jonathan, mantendo as duas
mãos nas dela. Ela abriu os olhos: o salto tinha sido o suficiente para sair da casa, entre o último
pouso e o Ford estacionado.
Quando chegaram ao pico, ele disse: "Você parece melhor hoje."
"Melhor do que o quê?"
"Que hoje à tarde."
"Ah, isso." Havia tido muito para se digerir, com a casa Darkling e o meio ser, e algo
complicado sobre Dess pensar que Rex e Melissa estavam... se tocando. "Tem sido uma longa
semana, só isso."
"É segunda feira à noite, Jess."
"Exatamente isso. Mas sim, estou melhor agora." As coisas eram sempre melhores com
Jonathan na hora secreta. "Aliás, é oficialmente parte de terça."
Eles pousaram na rua próxima ao carro, as roupas de Jonathan ondulando um pouco
enquanto eles espiralavam em uma parada final.
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"Ei! Eu acabei de perceber... você está usando uma jaqueta!" Ela voltou a olhar para ele
com surpresa, o peso normal tomando ela.
Jonathan deu de ombros. "No caso de eu ter de ir para casa. Você sabe, se encontrarmos
o espião ou algo assim e eu ir atrás dele.”
Ela sorriu, olhando dentro de seus olhos. Todas as noites lá estava ele, pronto para
protegê-la. Tomando as mãos dele mais uma vez, a falta de peso cresceu nela como uma risada.
"Jonathan, você não tem de ir para casa. Se você ficar preso aqui na cidade de novo..." Ela
ficou de lado. "É loucura congelar até a morte. Basta bater na minha janela da próxima vez."
"Seus pais vão surtar."
"Eles não vão saber que você está lá."
Ele riu. "Então você vai me esconder em seu armário a noite toda?"
O sorriso de Jessica diminuiu e ela soltou um gemido.
"Na verdade, meu armário está meio... ocupado agora. É uma longa história."
Deixou cair a mão dele e suspirou. Com Beth agindo da forma como ela tinha, Jessica
estava tão propensa a não estar, por esconder Jonathan em seu quarto quando ela iria para o
carro de Melissa.
O Ford enferrujado parecia ainda mais quebrado que o de sempre esta noite. Uma das
calotas estava faltando.
"Onde eles estão, afinal?"
"Eles provavelmente não devem ter ido muito longe." Ele olhou para o relógio. "Não em
onze minutos. Seu armário está ocupado?"
Ela suspirou novamente. "Você não tem uma irmã caçula, tem?"
"Não. Mas o que -?"
"Ei!"
A voz de Rex chamou por eles do outro lado da rua. Ele e Melissa emergiram por trás de
uma fileira de arbustos, suas roupas pretas quase invisíveis nos profundos azuis da meia noite.
Os olhos de Jessica se arregalaram. Os dois estavam de mãos dadas, as balançando,
como crianças de dez anos de idade em um parquinho. Melissa estava usando luvas, é claro,
mas a visão da telepata com outro ser humano era chocante. E ela estava sorrindo.
Jessica ousou um rápido olhar para Jonathan.
“Deixa quieto.” Ele disse suavemente. “Descobriram algo?”
Rex balançou sua cabeça. "Nem uma brisa. Nós estivemos dirigindo por aqui, desde pouco
depois das dez."
"Nada no ar além do zumbidos de TVs e sonhos eróticos", Melissa disse.
"Ah", Jessica murmurou. "Obrigada por compartilhar."
Melissa deu uma risadinha. Que também foi uma nova e assustadora melhora.
"Parece que o meu grandioso roubo do dominó fez as coisas se adiarem no momento",
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Rex disse.
Jessica fez uma careta. Por Rex estar convencido de que a ameaça era de menos, porque
ele tinha em suas mãos o dominó do portador da chama. Imagine só. Esse era o modo como ele
via o mundo: controle os símbolos, controle tudo.
"Eu não teria tanta certeza", Jonathan disse. "Tudo que realmente sabemos é que eles não
estão por aí hoje à noite. E mesmo assim, à meia noite não é a hora natural para eles fazerem
algo. Se eles realmente queriam machucar um de nós, eles não iriam fazer isso no meio do dia?"
"Verdade". Um olhar pensativo cruzou o rosto de Rex. "E com Jessica, provavelmente eles
estão esperando que ela venha até eles. Um convite para uma festa, talvez."
Jessica fez uma careta. "Do que você está falando?"
Rex olhou para Jonathan. "Você não disse a ela?"
Jonathan olhou para baixo, timidamente. "Oh, Dess mencionou isso para vocês?"
"É claro que ela mencionou sim. Imediatamente."
"Mencionou o quê?" Jessica exclamou.
Os olhos escuros de Jonathan se arregalaram enquanto ele se virava na direção dela.
"Bem, houve um monte de coisas para se dizer no carro. Eu já estava depositando tanto
sobre você. Uma vez que eu te tivesse longe da escola, eu imaginei que você estaria segura até
que eu lhe dissesse hoje a noite."
"Me dito o quê? Segura de quê?"
“Bem, Dess e eu descobrimos de quem pertence à casa Darkling. Havia uma conta de gás
na caixa de correio." Ele engoliu em seco. "Ela estava endereçada a Ernesto Grayfoot."
Jessica piscou os olhos, a tontura brotou nela. "Deve ser uma coincidência."
"Não é exatamente um nome comum, Jess", disse Jonathan. "E esta é uma cidade
terrivelmente pequena."
“Você não sabe a quem eles estão relacionados", ela insistiu, sua voz oca em seus
ouvidos. Constanza era sua única amiga normal na cidade ... Ela não podia ser um dos
seguidores dos Darklings.
"Eu só descobri um Grayfoot na lista telefônica de Bixby", disse Rex. "É o número de
Ernesto na casa Darkling. Mas o lugar está vazio. O pai de Constanza não deve estar na lista."
"Então talvez Ernesto esteja fora da cidade!" Jessica exclamou. "Do outro lado do país!"
"Ou talvez ele seja o irmão mais velho de Constanza."
“Ela não tem nenhum.” Jessica hesitou, subitamente incerta.
Quando ela tinha passado a noite na casa de Constanza, ela não tinha conhecido nenhum
irmão, mas um mais velho que vivia em algum outro lugar não podia ter sido mencionado. E com
certeza foi apenas uma coincidência que ela fosse em direção a Jessica no estacionamento e
então lhe oferecido uma carona para casa...
"Jess." Jonathan pegou sua mão, mas ela se afastou. "Nós não estamos dizendo que
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Constanza é um deles. Só que você deve perguntar a ela sobre sua família. Descubra o que você
puder."
"Precisamos encontrar Ernesto", Rex disse. "Melissa precisa de outra projeção sobre
aquela mulher que vimos na casa Darkling. Ela tem algum tipo de plano em sua cabeça, sobre
algo que está sendo construído no deserto."
Jonathan falou baixinho. "Apenas diga a Constanza você está fazendo um relatório ou algo
assim."
"Eu vi que o nome remonta a gerações, mesmo antes do boom do petróleo", Rex disse.
"Se você disser que está trabalhando sobre a história local, vai fazer sentido para ela."
"Mas não vai fazer sentido para mim", Jessica exclamou. "Eu não quero usá-la. Constanza
é a minha única amiga... “
Houve um momento de silêncio embaraçoso.
“Quero dizer, além de vocês”, ela adicionou sem jeito.
Rex e Jonathan apenas olharam para ela. Ela tentou fazer sua boca trabalhar, vir com algo
que mudaria o que ela tinha dito.
“Nós somos seus únicos amigos, Jessica.”
Os três olharam para Melissa, incapazes de acreditar que ela realmente disse as palavras.
Mesmo Rex ficou sem palavras.
“Nós somos os únicos que sabem como o mundo real é", Melissa continuou. "Quero dizer,
Rex e eu quase não conseguimos sair de Las Colonias. E quando você chegou aqui pela primeira
vez, quase sendo morta por uma coisa noturna." Ela bufou, uma extensão de seu desprezo
costumeiro retornando. "Você acha que Constanza Grayfoot enfrentou algo parecido? Ela teve
um darkling atrás dela antes?" Ela se virou. "Então, nós entendemos que você não goste de mais
ninguém. Nós somos seus amigos.”
Os olhos de Jessica caíram na rua, onde as folhas levadas pelo vento pairavam a poucos
centímetros acima do asfalto. "Eu não quis dizer que vocês não eram meus amigos", ela disse
baixinho.
"Não se preocupe", Melissa disse. "Rex e eu examinaremos isso. Talvez segui-la depois de
deixar a escola, fazendo um pouco de leitura de mente."
"Claro", Rex acrescentou. "Não tem problema."
“Obrigada", disse Jessica. "E sim, eu vou falar com ela."
“Eu queria que você me tivesse dito isso esta tarde.”
Jonathan não respondeu.
“É só que eu poderia não ter sido uma vaca na frente deles, se eu já tivesse tempo para
pensar sobre isso.” Ela explicou.
“Me desculpe”, ele disse sem graça. “Pela décima vez.”
Jessica suspirou. Do modo como ela se sentia, ela não se importaria com outras dez. Não
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que fosse totalmente culpa dele. Qualquer um que conseguisse parecer uma diva egoísta imatura
e vadia perto de Melissa, tinha que ter algum crédito para si mesma.
Eles se sentaram juntos no telhado da Shop Mart de Bixby, cercados pelas formas escuras
dos exaustores e ar condicionados industriais.
"Eu só não sei o que fazer", Jonathan disse, finalmente quebrando o silêncio.
"Sobre o quê?"
"Sobre você. Por você, eu quero dizer."
Ele pegou uma pedra e a atirou no estacionamento vazio. Após ela deixar sua mão, ela
gradualmente ficou lenta, como se estivesse caindo em uma espuma invisível no ar. A rocha
finalmente parou, se unindo a galáxia flutuante de cascalho que ele tinha jogado no asfalto.
Jonathan era diferente do resto deles quanto a gravidade. Algo sobre tempo e distorção do
espaço... algo sobre física.
Ela suspirou novamente. "Eu ainda não entendo."
Jonathan jogou outra pedra.
"Quero dizer, era uma coisa quando eram os Darklings. Eu poderia ajudá-la com isso. Eu
poderia voar com você para longe. Mas desta vez os bandidos vêm de Região Plana28"
"Vem de onde?"
Ele franziu a testa. "Eu pensei que você tinha o Sanchez em trigonometria. Ele faz todas as
suas classes avançadas lerem este livro, região plana.”
"Ah, espere”, disse ela. “Dess o mostrou para mim. Região plana é este mundo
bidimensional, certo? Onde todo mundo é um triângulo ou um quadrado, e esse cara esfera em
3D aparece." Ela jogou uma pedra por si mesma, que levantou voo através das outras e caiu ao
chão, deslizando no estacionamento. "Ele falhou em melhorar minha compreensão em
trigonometria."
"É este", disse Jonathan. "Então, quando eu estou na gravidade normal e eu não posso
voar, não posso saltar, não posso ver os ângulos... "
"Não é possível olhar de cima para baixo para todo mundo?", ela perguntou.
Ele atirou outra pedra e bufou, seus olhos castanhos lampejando o violeta na luz na lua
escura.
"Claro, isso também. Todas essas coisas que é a região plana. É como ser esmagado em
duas dimensões." Ele se virou para encará-la por um momento. "Eu não posso fazer qualquer
coisa para protegê-la desses caras. Melissa ainda pode ler suas mentes, Dess ainda pode fazer a
matemática, Rex ainda pode... Eu não sei, pesquisar. Mas eu sou inútil."
“Inútil?" Ela balançou a cabeça. "Você não é inútil."
"Eles poderiam te levar até a escola amanhã, e levá-la embora, e eu não poderia fazer
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Flatland - Um romance de várias dimensões. Do escritor Edwin Abbott Abbott.
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uma maldita coisa sobre isso. Exceto, talvez, mancar atrás do carro deles."
Ele se levantou, favorecendo um pé, e atirou outra pedra, arremessando tão forte que ela
desapareceu na escuridão.
"Obrigada pela imagem mental." Jessica fez uma careta. "É a coisa da região plana a
razão pela qual você nunca segura minha mão?"
"O quê?" Ele olhou para a sua palma, que ele tinha estado massageando distraidamente.
"Nós nos damos às mãos o tempo todo."
Ela sacudiu sua cabeça. Fã dos Darkling ou não, talvez Constanza tivesse dado o
conselho certo.
Talvez agora, quando todas as coisas estavam atrapalhadas de qualquer maneira, era o
momento certo para falar com ele.
"Não na hora normal. Não na região plana."
Jonathan pareceu imudecido por um segundo, olhando para sua mão como se esperando
que ela confessasse algo para ele.
"Sério?", Ele finalmente conseguiu dizer.
"Sério."
Ele sentou-se novamente, ainda com uma expressão desconcertada.
"Ah, ótimo. Outra coisa em que eu sou uma droga na região plana."
Ela gemeu. "Não é que você não seja bom nisso. É que você nunca o faz! É como se nós
não existíssemos lá."
Seus músculos se contorceram por um momento sob o seu casaco, como se suas roupas
estivessem muito apertadas ou se algo invisível estivesse prendendo ele.
"Desculpe-me", ele murmurou.
Ela levantou seus ombros. "Essa é a décima primeira."
Eles ficaram em silêncio por um tempo, mas pelo menos Jonathan tinha parado de atirar
pedras. A lua começou a se pôr diante deles, a luz negra brilhando do vidro quebrado no
estacionamento e Jessica percebeu que eles teriam que começar a ir para casa logo. Ela ainda
tinha um quase grito de Beth para lidar quando a meia noite passasse.
Que grande noite havia se tornado.
Jessica olhou para a lua escura até que a sua cabeça começasse a doer. Ela não queria
que esta noite acabasse desse jeito. Tomando a mão de Jonathan, ela suavemente começou a
massageá-la.
"Eu gosto de você o tempo todo, Jonathan", ela disse. "Vinte e cinco horas, os sete dias."
Ele sorriu para ela.
"Além do mais", ela acrescentou, "se houver um clube do inútil de dia, eu sou a presidente.
A menos que você trema diante do grande poder da portadora da lanterna."
Ele riu, então olhou dentro dos olhos dela por um momento. Ela viu um lampejo de decisão
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cruzar seu rosto.
"O quê?"
Ele enfiou a mão no casaco. "Eu trouxe uma coisa."
"Um presente? Por quê? Por reclamar muito?"
"Não. Porque eu sabia que você ia ficar chateada sobre Constanza. E porque eu deveria
ter dito. Eu não podia pensar em mais nada a fazer." Ele puxou uma corrente fina que cintilou em
azul, resplandecendo na luz da lua negra. "Como você e eu, ela não tem poderes no tempo
normal."
Ele entregou para ela, uma delicada corrente de prata, seus elos tão pequenos que ela
veio como areia em sua palma.
Talismãs pendiam dele, ela reconheceu uma pequena casa, um gato enrolado, mãos em
oração...
"É lindo."
"Era da minha mãe. Eu subtrai alguns... dos amuletos, aqueles talismãs pequenos, por isso
há treze agora."
"Ah, Jonathan." Ela o colocou em volta do pulso, fechando o fecho minúsculo com cuidado.
"Prometo jamais jogá-la em um Darkling. Qual é seu nome?"
"Acariciandote."
"Hum, como é?"
"Acariciandote. É espanhol. Meu pai não fala mais, mas minha mãe sempre falava."
Ela tentou as sílabas devagar, encolhendo enquanto elas iam terrivelmente erradas em sua
boca. "Espanhol funciona em Darklings?"
"Gringa." Ele balançou a cabeça, sorrindo. "Espanhol estava detonando com os Darkling
cerca de quatrocentos anos antes do inglês chegar aqui."
"Oops, desculpe-me. Eu nunca pensei sobre isso." Ela tentou dizer o nome de novo , se
perdendo depois das três sílabas. "O que significa isso?"
"Engraçado sobre isso." Ele pegou a mão dela. “Significa: „tocando você‟, como quando
nós voamos."
Ela sorriu. "Como sempre, você sabe." Ela segurou o bracelete na luz. "É absolutamente..."
Jessica hesitou, olhando além dos talismãs pendurados para a lua.
Já estava metade posta.
"Nós temos que ir." Ela estava em pé. "Eu não posso chegar atrasada. Minha irmã está no
meu armário."
"Huh?"
Ela agarrou o pulso dele e o puxou para uma rápida corrida ao longo do telhado, em
direção à beira.
"Eu te digo no caminho."
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Eles foram pela rua Division, saltando baixo e forte, deixando impressões de tênis sobre o
longo telhado plano de um caminhão de dezoito rodas. Uma forte curva em direção a sua
vizinhança os enviou violentamente através da cobertura de um imenso carvalho, espalhando
folhas e galhos no vento congelado. Mesmo embora os braços de Jessica estivessem cobertos
com arranhões, ela riu alto, feliz por estar voando em velocidade novamente, movimentando
velozmente com o chão um borrão embaixo deles. Ela sentiu suas preocupações sumirem por
uns poucos instantes, espiões e Grayfoots e halflings perdidos em seu rastro.
Eles conseguiram, inclinando-se numa parada em frente ao seu gramado com cinco
minutos para meia noite, mal tempo suficiente para Jonathan ir para casa antes do vento
congelado voltar.
Jessica virou o rosto dele para ela, sentindo-se melhor desde que o espião tinha entrado
em sua vida.
Ela levantou Acariciandote, que deu um leve som de tilintar, os talismãs ainda girando do
voo deles.
“Obrigada por isso, Jonathan.” Ela o beijou apaixonadamente, tirando os pés dele fora do
chão.
Ele sorriu e olhou para longe, encolhendo os ombros.
"Agora, vá para casa a salvo e rápido. Não ande!" Ela o apontou de volta em direção a
cidade, lhe dando um empurrão. "Vejo você amanhã na região plana."
Ele riu e começou a correr. Seus longos passos tornando-se meios grupos de pulos até um
fantástico salto que o levou para o ar e para fora da vista.
Jessica o observou e sorriu. Seu peso normal não foi tão esmagador como normalmente
parecia quando ele a deixou. Talvez as coisas ainda seriam atrapalhadas amanhã na região
plana, mas pelo menos o metal frio de Acariciandote estaria em torno de seu pulso, um lembrete
da meia noite.
Ela respirou fundo, deixando o ruído de seu coração diminuir gradualmente enquanto ela
retirava as folhas e grama de seu cabelo e roupas.
Com trinta segundos para se apressar, ela subiu pela janela, lembrando-se de chutar seus
sapatos enquanto ela atravessava o quarto.
"Beth, ok. Faça o seu pior." Ela respirou fundo outra vez, colocando uma mão na maçaneta
da porta do armário.
A meia noite terminou como tinha começado, no final de relógio de Jessica, atrasando
aqueles mesmos nove segundos antes que o tempo normal retumbasse através das solas dos
pés, a luz azul e o silêncio juntos drenados do mundo.
“-ês, quatro...” veio uma voz abafada do armário.
Jessica o abriu, revelando Beth com o rosto vermelho e os punhos cerrados.
"Ok, você venceu", Jessica disse, levantando as palmas das mãos em sinal de rendição.
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"Não grite."
"Eu vou fazer mais do que gritar, Jess!" Cuspiu, empurrando Jessica e indo para o quarto.
"Quando eu falar pra minha mãe que tentou me prende..."
Sua voz falhou, o olhar de raiva sumindo em um de confusão.
"Que diabos, Jess?"
"O quê?"
"Você parece... Você não está..." Os afiados olhos escanearam Jessica dos pés à cabeça,
em seguida, Beth se aproximou para puxar uma folha perdida em seu cabelo. "O que...?"
"Isso é uma folha, um gênio."
"Ela não estava lá. Você está diferente. O que você fez?"
Jessica engoliu em seco. Ela percebeu que ainda estava sem ar da corrida para casa. Seu
rosto estava, provavelmente, vermelho como o de Beth. Suas mãos estavam arranhadas da
viagem através do carvalho, e seu cabelo tinha que estar uma bagunça.
E Beth estava olhando para a pulseira...
"Ah, isso", ela disse, esperando por uma explicação atingisse seus lábios a tempo. "Sim, é
isso que eu queria te mostrar. Mas eu não quero que você veja onde eu a escondo porque é
como um... grande segredo. Bonita, huh?"
Os olhos de Beth foram para a janela aberta, e Jessica gemeu por dentro. Ela havia estado
fechada e bloqueada alguns segundos antes.
"Você esconde essa pulseira... lá fora?"
"Uh, sim, ok. Você me pegou."
Os olhos de Beth se apertaram ainda mais. "Você me empurrou para dentro de um armário
para que você pudesse saltar pela janela onde você guarda seu bracelete? Você está totalmente
doida?"
"Não. Mas se você disser algo sobre Jonathan..." Jessica lutou para se lembrar. Essa
conversa tinha sido há uma hora para ela, mas apenas um minuto tinha se passado para Beth.
"Sim, ele tem estado em problemas com a polícia."
"Certo! É isso." Ela levantou a pulseira para a luz. "Mas eu queria que você visse isso. Ele
a deu para mim." O sorriso no rosto dela era enorme, idiota, e radiante. "Não é fantástico?"
"Sim, claro", Beth disse, com os olhos ainda grudados em Jessica. "É maravilhoso. E eu
estou contente por você escondê-la... lá fora. Nos arbustos."
Jessica suspirou. "Seu nome significa „tocando você‟."
"Ela tem um nome?"
"Claro." Jessica deu de ombros. "De qualquer forma, obrigada por vir. Fico feliz em mostrar
isso para você."
Ela abraçou forte Beth. "Te vejo amanhã."
Jessica abriu a porta do quarto, e sua irmã saiu, lançando olhares cautelosos para trás,
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totalmente tão perdida quanto à forma que ela acabou tão confusa.
"Vou me certificar que você o conheça em breve", Jessica sussurrou.
Beth acenou com a cabeça uma vez e foi para seu próprio quarto na correria, os pés
silenciosos.
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2h:42min da Tarde
ZONA MORTA
A casa não parecia grande coisa. Ela se assentava na escuridão, sem reparos e coberta
com a vinha se retorcendo, sombreada do sol da tarde pela nuvem de cogumelo do salgueiro,
que dominava o jardim da frente.
Dess olhou para Geostacionário novamente. Este era o lugar. De fato, as equações que a
levaram até aqui deveriam ter sido óbvias o tempo todo. Depois ela percebeu que era uma coisa
de base sessenta, a matemática tinha sido fácil.
Na álgebra avançada no ano anterior, Sanchez havia ensinado a eles como se converter
em base dois (transformando números regulares em uns e zeros), o tempo todo, alegando que
este conhecimento iam colocá-los em empregos de informática um dia. Sim, certo. Algumas
máquinas a mais no laboratório de informática de Bixby High poderiam ter ajudado mais.
Mas sempre Dess cedia a Sanchez, e praticar as novas bases era uma distração
agradável. Isso tinha mantido seu cérebro ocupado nos dias anteriores ao aparecimento de
Jessica Day, para manter todos ocupados o tempo todo.
Depois de dominar o binário (que tinham tomado cerca de 256 segundos), Dess tinha
abordado a base sessenta, porque haviam sessenta segundos em um minuto, sessenta minutos
em uma hora. Então Dess tinha percebido com perfeição que, por exemplo, 02h:31m da manhã
eram 9.060 segundos depois da meia noite.
Claro, o que você faria com essa pequena trívia?
A resposta veio quando ela começou a brincar com os mapas de perfuração de petróleo de
seu pai há duas sextas-feiras atrás.
Todas as horas secretas estavam dentro de um único grau de latitude e longitude, o doze
crivado em 36 ao norte, por 96 a oeste. Mas os graus, como se verificou, eram uma espécie de
hora. Eles eram divididos em sessenta minutos, e cada um daqueles minutos, era dividido em
sessenta segundos.
Isso tinha sido a grande revelação: se as coordenadas usassem a mesma matemática
como o tempo, então o lugar onde a hora secreta acontecia poderia ser cortada em minutos e
segundos, assim como a hora em si.
Relembrando, Dess sabia que ela devia ter percebido isso antes.
Das montanhas além Rustle‟s Bottom, ela muitas vezes tinha observado o rolar da meia
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noite. Como o amanhecer, que varria do leste para o oeste, carregado pela rotação da Terra. E
como o amanhecer, ela não vinha em uma perfeitamente reta. Havia saliências e ondulações na
chegada da meia noite.
Mas as sombras que se enrolavam na hora secreta não eram lançadas pelos picos das
montanhas ou das torres de água. Elas foram na verdade lançadas pelos números. Tudo o que
se tinha a fazer era começar a ver os minutos e segundos, que se situavam em uma grade em
toda as ruas de Bixby, e era óbvio onde a turbulência surgiria.
Dess colocou Geoestacionários no bolso de seu casaco, desceu de sua bicicleta, e tirou os
óculos de sol. Ela estava sem fôlego. No momento em que seu cérebro havia terminado os
cálculos, ela tinha praticamente corrido do prédio da escola, perdendo o último período e
pedalando a bicicleta aqui em cerca de oitenta quilômetros por hora.
Agora, porém, Dess se descobriu que não havia nenhuma pressa para se aproximar da
casa. Que tipo de pessoa viveria em um local como este? Apenas alguns aleatórios Bixbynianos
que não podiam pagar por alguma coisa melhor? Ou algo pior, como um congresso de fãs dos
Darklings?
Mas então ela percebeu a estrela treze pontas pendurada ao lado da porta e se sentiu
muito melhor. Corretores de imóveis sempre diziam aos recém-chegados em Bixby, que
antigamente, as placas mostravam que as casas tinham seguro contra incêndio. Esta era apenas
uma meia mentira. O tridecagramas eram seguros, tudo bem, mas não contra infernos.
A estrela era um bom sinal. Ela não podia imaginar os fãs de Darklings deixando um
tridecagrama enfiado em sua casa. Seus olhos buscaram por mais garantias e facilmente as
encontrou: a passarela era de trinta e nove lajes de comprimento, 169 tijolos na chaminé alta.
Talvez esse barracão tivesse sido a sede da Liga das Senhoras 'AntiTenebrosidade‟, que Rex
estava sempre falando.
Dess começou a inclinar a sua bicicleta contra o velho salgueiro. Mas depois ela viu as
marcas e congelou.
Um pé de comprimento e pelo menos um centímetro de profundidade, três sulcos paralelos
tinham sido cortados na casca grossa. Garras gigantes tinham varrido através do velho salgueiro,
como canivetes de tapete dilacerando a carne. A seiva verde e amarela brotou como sangue e
congelou. A julgar pelo tamanho das garras, a ferida vinha de um Darkling muito antigo da
variedade dos dentes de sabre.
Ela tocou a marca, ainda pegajosa. Ela não precisava de Rex para lhe dizer que isto tinha
acontecido recentemente... provavelmente nas últimas duas semanas.
Dess engoliu em seco, o pensamento inundando através dela mais uma vez, que ela
realmente não deveria ter vindo aqui sozinha. Este lugar poderia estar escondendo alguma coisa.
Poucos momentos depois que Jonathan tinha entregado a ela as coordenadas da casa
Darkling, o padrão de minutos e segundos tinham se juntado na mente de Dess. Ela entendia
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agora porque Melissa nunca tinha localizado as operações indizíveis extraídas em Las Colonias.
Haviam zonas mortas em Bixby, lugares onde a chegada da meia noite despejava imperfeições,
como bolhas presas em Lucite29.
Há habilidade de Melissa era inútil, a forma do tempo congelado por si mesmo, confundia-
se demais em sua mente para penetrar. Quando Dess tinha feito as contas, os números de seu
novo brinquedo a levaram até aqui.
Bem no meio dos subúrbios, não tão muito longe de onde Jéssica morava, esta casa se
assentava sobre a mais morta do zonas mortas. Dess ficou lá por um tempo, tentando afastar
seus dentes dos nacos desgastados de suas unhas.
Finalmente, porém, ela fez uma careta e deixou sua bicicleta cair contra a árvore em plena
luz do dia; nenhum Darkling estava à espreita. E a estrela de treze pontas mostrava que os
mocinhos tinham feito esta casa nos velhos tempos.
Dess tinha trabalhado durante dias tentando entender como as coordenadas se inclinavam
na superfície curvada da meia noite, e esta descoberta era para ela fazer. Sozinha.
Ela foi até o caminho.
A casa estava aberta atrás de uma porta de tela fechada. Dess apertou um botão
pendurado na moldura da porta por um único parafuso, mas nada aconteceu.
Abaixando os óculos para espreitar através da tela enrugada e furada, ela fez um punho
para bater.
Saindo da escuridão, um rosto pálido olhava para ela.
Elas se entreolharam por um momento. A velha estava embrulhada em uma camisola
vermelha escura, tão fina de usada, que se deslocava na brisa quase imperceptível que passava
por Dess e através da porta. Os olhos da mulher estavam bem abertos, os brancos brilhando na
escuridão, mas sua expressão mostrava mais curiosidade do que medo.
"Pode entrar", ela disse. "Levou a você tempo suficiente."
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Lucite - material plástico transparente utilizado como substituto do vidro.
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02h:54min da tarde
UM EXCEPCIONAL DEPOIS DA ESCOLA
Trinta segundos antes para que guincho do último sinal soasse, os fones de ouvido de
Melissa estavam no lugar, sua faixa marcava sua canção.
Ela se reencostou, fechando os olhos. Através de Bixby High ela podia sentir os dedos se
apertando nas laterais das carteiras, livros e canetas reunidos, mochilas sendo fechadas sob a
exaustão e cumplicidade dos olhares de professores.
As mentes ao redor dela zumbiam com as rotas antecipadas, o modo mais rápido para sair
para os armários, para a porta mais próxima e para o ônibus, o caminho mais rápido para fora. O
barulho se expandiu de forma irritante nos últimos segundos e preencheram sua cabeça como
batidas em uma mesa na cafeteria...
Fora, fora, fora!
Finalmente o sinal soou, e o prédio explodiu em torno dela.
"Aaaah", disse Melissa. O último sinal não se comparava a chegada da meia noite, mas
era ainda o segundo melhor momento de seu dia.
Ela apertou o play e inclinou sua cabeça para trás. Os poderosos acordes de metal
detonaram em seus ouvidos, afogando os arranhares das mesas e guinchos de tênis ao redor
dela. Ela sentiu os corpos lutando uns sobre os outros nos corredores, os dedos atacando as
combinações de armários, e as conversas destampadas, jorrando através dos corredores.
Em seguida, o fluxo alcançou às portas e à pressão que tinha atormentado sua mente
durante todo o dia começou a diminuir, como um ponto em ebulição derramando seu conteúdo
que escorria finalmente.
Ela suspirou, abrindo seus olhos. O Sr. Rogers estava perto dela. A sala estava vazia,
exceto pelos dois. Ela desligou a música.
"Melissa? Você está bem? "
"Nunca estive melhor."
Seu sorriso satisfeito só o perturbou ainda mais. No último semestre ela tinha ensaiado em
como lidar com o professor do último horário com o ritual da música. Ela esperava que Rogers
não fosse dar a ela nenhum problema.
"Você faz isso depois de cada aula?"
"Não, só nessa. Eu gosto de relaxar por um momento após os rigores de um duro dia
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escolar. Espero que esteja tudo bem para você, Sr. Rogers."
"Sabe, ouvir música não é permitido nas salas de aula."
Os olhos dela se estreitaram. “Eu não ligo até que o último toque do sinal. Quando a aula
acaba. Quando a escola termina."
Ela podia saborear a resposta antes que ele abrisse a boca. O sabor da manteiga rançosa
de uma mente pequena tomando o controle.
"Ainda assim, Melissa", ele disse, "esta é uma sala de aula, e eu apreciaria se você
esperasse até que estivesse no corredor antes de ligar essa coisa."
Uma resposta afiada curvou sua língua, mas Melissa a deixou deslizar. Nestes últimos dias
seu temperamento se tornou mais fácil de se controlar.
Além do mais, como seu professor de Estudos Sociais diria, sempre haviam modos mais
produtivos para se canalizar o protesto.
"Claro, Sr. Rogers", ela disse em tom agradável. "Por acaso você mora em Bixby?"
"O quê? Sim, acima da usina Dr. Pepper. Por que você pergunta?"
"Nada. Só por curiosidade."
Ela sorriu. O Sr. Rogers morava perto o suficiente para uma visita, uma noite dessas
durante a meia-noite.
Imbecil.
As arquibancadas vazias fediam a derrota. Melissa nunca prestou atenção ao futebol, mas
sentada aqui ela poderia dizer que os Tigers de Bixby foram vencidos e tinha sido há muito
tempo. Sua mente foi preenchida com a futilidade e o sabor desolador de se torcer por um time
que não teve chance.
Flutuando dos espaços escondidos abaixo, ela também sentiu o cheiro dos prazeres
secretos, juntamente com um medo persistente de ser pego. Levantando seus óculos de sol para
espiar através do arquibancada, ela viu tocos de cigarro escondidos nas sombras das ripas de
madeira. Melissa sempre poderia sentir os lugares escondidos – os becos estreitos entre as salas
de aula temporárias, os armários dos zeladores e as portas do porão que atraiam os que
matavam aula para eles. Todos eles tinham o mesmo gosto: a doce liberdade momentânea
temperada com olhares nervosos sobre os ombros.
Ela se perguntou o que estava segurando Rex.
Bixby High estava na maior parte vazia, deixando apenas o sabor do ensaio da banda, um
ensaio de teatro, e do treino da equipe de futebol, que estavam fazendo uma ginástica mecânica
no campo em frente a ela. Melissa fechou seus olhos, inalando profundamente o saborear da paz
depois do despovoamento da escola.
De repente, uma imagem começou a se formar em sua mente, um remanescente dos
escassos minutos em que ela tinha tido estado conectada à mulher na casa Darkling.
Angie, que era o nome dela, cheia de confiança e desprezo por seu parceiro. Melissa havia
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pescado apenas fragmentos da mente de Angie antes da meia coisa os perseguirem, mas aqui,
esperando por Rex, os longos bancos das arquibancadas desencadearam uma imagem
passageira. Ela flutuava diante de seus olhos agora: a construção no deserto, uma estrada que
se estendia para as salinas, até que simplesmente... terminava.
Ela era enorme. E tinha algo haver com o halfling. Angie nunca tinha visto a criatura
apavorante, é claro. Ela ficou rígida quando ele apareceu. Mas ela tinha se comunicado com o
halfling através dos símbolos da tradição e sabia que ele carregava alguma relação com a coisa
que está sendo construída no deserto... a estrada para lugar nenhum.
"Ei!" Voz Rex veio de baixo, espalhando a imagem meio formada em sua mente.
As arquibancadas balançaram, enquanto ele vinha para cima, mãos nos bolsos de seu
longo casaco entre os assentos. Ele se sentou pesadamente ao lado dela, levantando suas botas
pretas. O sol brilhava ao longo do aro de metal de Conscientious ao redor de seu tornozelo.
“Ei, vaqueira.”
“Ei, Loverboy.“ Rex sorriu para seu novo apelido, como ele sempre fazia agora que a coisa
do toque estava funcionando.
Uma bola saltou contra a fileira inferior da arquibancada, balançando até uma parada
indecisa há uns poucos metros de distância. Os exercícios físicos acabaram. Os dois observaram
um jogador em um uniforme do Tigers recuperar a bola e hesitar para dar a eles um olhar
desconfiado.
"Esquisitos", ele chamou, em seguida, se virou e correu de volta para se juntar aos outros
rapazes usando capacetes roxos e calças de lycra douradas.
"Jogadores são retardados", Melissa disse. “Eles nem mesmo estão na rodada.”
Rex encolheu os ombros. "Isso deve ajudar nosso time. Afinal, faz o jogo mais sem
propósito."
"Por que eles apenas não jogam uma moeda?"
Ele olhou para ela. "Hum, eles fazem. No início."
"Ah." Melissa suspirou.
Mesmo Rex não entendia o quão pouco ela sabia sobre coisas sem sentido, como
esportes.
Mas Melissa tinha que admitir que ela podia ver o mundo de forma mais clara ultimamente.
Bixby High não era tão avassaladora, como de costume.
Hoje na verdade tinha sido decente até que o Sr. Rogers ficou irritado com ritual da
música. Agora que a escola estava quase vazia, Melissa tinha até mesmo se recuperado daquele
aborrecimento. Os idiotas desajeitados espalhados de um lado a outro do campo de futebol eram
estranhamente interessantes de se assistir, perseguindo a bola errante como um bando de patos,
até mesmo fazendo o mesmo tipo de ruídos.
Ela sorriu. Tocar Rex, deixando sua mente aberta para a dele, a tinha mudado. Ele aliviou
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a pressão em seu cérebro. Foi como deixar alguns milhares de barris de óleo bem comprimido
explodissem. Ela se viu desejando que eles tivessem começado há mais tempo.
"Então, qual é ela?", perguntou ela.
Rex se voltou para o teste de líderes de torcida que estava começando à parte. Garotas
em roupas de malha ou em uniformes do ano passado estavam lutando para conseguir os pares
de uma pilha de pompons.
“Ela é uma das altas", disse Rex. Melissa notou que os candidatas a líderes de torcida
dividiam-se em muito altas e muito baixas. Ela se perguntou o que a altura tinha a ver com liderar
torcidas.
"Ela é parte indígena e está vestindo um uniforme. De tênis vermelho?" Rex começou a
levantar o braço para apontar, mas Melissa o empurrou para baixo.
"Eu a vi. Ela é bonita."
"Você nunca a notou antes? Ela é, tipo, famosa."
"Eu não percebo nada, Rex. As coisas ou caem sobre mim ou não."
Melissa fechou os olhos. Nada distinto estava vindo de nenhuma das líderes de torcida,
apenas um competitivo zumbido embaçado de garota alfa - a sensação da espuma da cerveja
indo para o nariz. E dos idiotas cheios de testosterona no campo de futebol não estava ajudando
a recepção também.
Ela abriu os olhos.
"Ainda muito cheio. Vamos segui-la depois que isso terminar." Ela cuspiu entre as ripas da
arquibancada para limpar os gostos acumulados em sua boca.
"Claro", Rex disse. "Só pensei que iríamos tentar. Mas eu não quero perdê-la. Ela é nossa
melhor chance de encontrar Ernesto Grayfoot."
Melissa deu dê ombros. "Tanto faz. Uma vez que ela esteja longe do clube do pompom, eu
devo ser capaz de segui-la."
"Você não captou nada na biblioteca?"
"Dificilmente."
Melissa tinha escapado do quarto período para se demorar lá fora no período de estudos
de Constanza e Jessica. Com aulas e aulas acontecendo, tinha sido um total desperdício de
tempo. Somente as mentes dos dois Midnighters tinha vindo - a de Jessica, tentando tomar
coragem para falar com Constanza e falhando miseravelmente, e o cérebro de Dess zumbindo
através das últimas fases de uma solução matemática. Ela tinha estado depois do sexto período
com pressa, carregando suas novas coordenadas do brinquedo e irradiando pensamentos de
mapas e números em todas as direções.
Melissa se lembrou da imagem que tinha visto mais cedo, o fragmento da mente de Angie.
"Ei Rex, podemos esperar para a Srta. Líder de torcida no estacionamento? Essas
arquibancadas estão deixando minha bunda dormente."
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Ele riu. "Claro." Uma onda de excitação passou por ele.
"Sim", ela respondeu a sua pergunta não dita, "Tem algo que eu quero te mostrar."
Ela puxou um dedo de cada vez da luva enquanto eles desciam. "Enquanto eu estava
esperando, algo desencadeou minha memória. Eu vi a imagem na mente daquela mulher
novamente, mas desta vez mais clara."
"O projeto de construção?”
"Sim." Fez uma pausa na parte inferior das arquibancadas, apontando para baixo, no
comprimento do banco mais baixo. "O que quer que eles estejam construindo no deserto, é longo
e plano, como uma estrada."
"Uma estrada? Para onde?"
Melissa encolheu os ombros. "Para lugar nenhum. Ela apenas termina."
"Darklings não constroem coisas." Rex sacudiu a cabeça. "E eles odeiam as rodovias que
passam através do deserto. Mas talvez os fãs de Darklings estejam construindo uma pista para
sair para algum lugar de tradição."
"Eu não sei, Rex. É muito grande para uma pista. A maior coisa que eu já vi."
Ele apertou seu ombro. "Venha me mostrar. Nós vamos descobrir isso depois que nós
encontramos Ernesto."
Melissa acenou e sorriu, sentindo a confiança tranquila de Rex com o zumbido da prática
de futebol e o ânimo irracional das líderes de torcida. Ela pôs o braço em volta de sua cintura
enquanto caminhavam de volta para o carro dela, contente pela milésima vez por ela ter
rastreado ele a oito anos antes, percorrendo as ruas azuis vazias em um pijama de vaqueira,
procurando pela única mente que ela poderia sentir em Bixby. Ela não podia esperar para tocá-lo
novamente - pelo menos eles tinham algo a fazer enquanto esperavam.
Seguir Constanza Grayfoot se tornaria uma longa tarde.
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3h:04min da Tarde
MADELEINE
“No meu tempo haviam mapas. Você não precisava consultar um gênio toda vez para
construir uma casa. Você quer chá?”
Dess piscou novamente, percebendo que ela não havia dito uma palavra, desde ter
cruzado o solado da porta. Seus olhos tinham se ajustado rapidamente à escuridão, mas seu
cérebro estava dominado pela desordem empilhada por toda parte: tridecagramas enferrujados,
brasões da cidade de Bixby, protetores de aço de janelas com treze barras, grelhas de lareira
com uma fina rede tecida nos padrões de trinta e nove. Uma vasta horda de antiguidades anti-
Darkling estavam empilhadas contra todas as paredes, misturadas com esculturas de metal
entrecortadas, que imploravam para terem seus ângulos calculados.
Ela ia começar a responder, mas da outra sala o lamento de uma chaleira irrompeu, se
arrastando de um baixo gemido para um grito zangado.
"Eu vou tomar isso como um sim", a velha disse. "Na minha época, os jovens não levavam
tanto tempo para responder perguntas simples."
Dess fechou a boca.
Rex ia ficar louco quando visse este lugar. Fazia sua coleção histórica parecer uma estrada
decadente para o zoológico. Aqui valia uma cidade inteira em relíquia dos midnighter, o
patrimônio das gerações perdidas tranquilamente enferrujando. Dess se perguntou se havia
tradições aqui também, e não apenas algumas migalhas de informações escritas de forma
invisível em rochas no deserto, mas uma biblioteca tão extensa quanto um bazar ao redor dela.
Ela teria que perguntar. Havia muito o que se perguntar, uma vez que ela colocasse sua boca
para trabalhar de novo.
“Leite ou açúcar?” A pergunta gritada e o chacoalhar de uma bandeira precederam o
retorno da velha. “Ou isso é uma pergunta muito difícil para você?”
“Só leite." Dess odiava chá, mas pareceu tarde demais para se mencionar o fato.
"Muito sensato", a velha disse. "Leite reveste o estômago, e açúcar corrói os dentes. Eu
nunca toquei em açúcar de qualquer espécie. "Ela sorriu largamente, mostrando duas fileiras
ininterruptas de um branco resplandecente.
"Você não adivinharia que eu não tenho ido a um dentista em 49 anos."
Dess engoliu em seco. "Não, eu tenho certeza que não."
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A bandeja de chá sacudiu até parar na mesa diante de Dess, e a mulher se sentou em
frente a ela, agarrando as cordas penduradas no pote para balançar os saquinhos de chá
vigorosamente para cima e para baixo.
"Não posso confiar em mim mesma quando eles ligaram aquele gás. Poderiam também
alugar o balão da Goodyear para fazer propaganda de onde eu estou."
Estas palavras giraram no cérebro Dess por um momento, em seguida se assentaram em
um momento de clareza.
"Você é uma telepata", disse ela.
"E você tem um bom tino para o óbvio." A mulher puxou os saquinhos de chá da panela e
os largou em um baque molhado em um pires. Ela serviu duas canecas fumegantes, adicionando
o leite generosamente em ambas.
Por um instante, o silêncio caiu sobre a reunião do chá. A velha tomou um gole com
delicadeza, e Dess aqueceu as mãos na caneca, levantando-a uma vez para cheirar o aroma
floral de sua mistura. O único chá que ela gostava era o chá gelado, com muitíssimo limão e
açúcar, que era basicamente limonada com cafeína.
Ela se perguntou se a mulher podia sentir sua aversão ou se o efeito amortecedor da casa
era muito forte. Quanto tempo ela tinha dito? Quarenta e nove anos... o ano que Rex sempre deu
para quando o último conhecimento havia sido registrado. Mas ela não poderia ter estado sentada
aqui nesta casa deteriorada o tempo todo, poderia?
A mulher parecia estar esperando por ela para lhe dizer algo.
"Hum, meu nome é Dess."
"É claro que sim", a mulher rebateu. "Eu conheço todos os seus nomes. Mas é educado de
você dizê-lo, Desdêmona. Eu sou Madeleine."
"Prazer em conhecê-la", Dess disse. Ela sentiu o ranger das engrenagens sob o olhar
afiado da mulher.
“E eu a você. Embora eu conheça todos vocês muito bem, é claro.”
“É claro...” Dess franziu a sobrancelha “Então você pode nos sentir daqui? Você pode se
projetar, mesmo nesta zona morta?”
"Zona morta? Que tipo de bobagem é essa?" Madeline ergueu a colher e mexeu seu chá
com força. "Esta é uma contorção crepuscular, a melhor em Bixby. Como eu disse, nós tínhamos
mapas no meu tempo. Há um por aqui em algum lugar. Você pode querer vê-lo, querida." Ela se
levantou e saiu da sala, sua xícara de chá chacoalhando em seu pires.
Dess soltou um longo suspiro e se recostou, seu cérebro girando novamente. Ela puxou
Geoestacionário para confirmar exatamente onde estava, confortadoramente expresso em
números brutos, em vez de palavras, bobagem ou não. Alguns instantes de olhar para as
coordenadas começaram a clarear seus pensamentos, e ela finalmente se permitiu que um
sorriso rastejasse lentamente através de seu rosto.
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Ela havia feito sua descoberta, e era uma extraordinária. Em todas as suas vidas havia um
outro midnighter, um remanescente escondido de uma geração anterior, bem debaixo de seus
narizes. Enquanto eles tinham tropeçado cegamente, uma testemunha viva da história secreta de
Bixby tinha estado bem aqui na cidade.
Era hora de começar a fazer perguntas. Se Rex estivesse aqui, ele gostaria de começar
pelo começo: O que aconteceu há quarenta e nove anos atrás? Por que ela tinha se escondido
este tempo todo? E como é que ela conseguiu desaparecer tão completamente? Será que ela
realmente nunca saia de casa?
"Ah, aqui está ele!" A voz de Madeleine ecoou pela casa. Houve um ruído e, em seguida,
um baque como algo que caiu na sala ao lado. Ela voltou, um longo rolo de papel na mão, o
chocalhar da xícara e do pires na outra.
Ela se sentou com um ruído de contentamento, entregou o rolo de papel para Dess, e
derramou mais chá.
Enquanto o mapa se desenrolava, as perguntas que Dess tinha a intenção de fazer se
evaporaram. Repousado no papel usado estava Bixby, mas não a familiar Bixby do mapa habitual
do posto de gasolina ou das elevações de perfuração de petróleo de seu pai. Impresso em tinta
desbotada e desordenado como antiga decoração, estava a brilhante grade da meia noite, os
minutos e segundos intrincados em torno de si em zonas mortas e vórtices. O padrão sugerido
pelas coordenadas da casa Darkling era escrito aqui em detalhes compreensivos. Este mapa
mostrava a Bixby na hora secreta, a Bixby de seus sonhos.
Dess xingou baixinho, percebendo que ela reconhecia estas linhas e curvas e formas.
“Você tem estado se projetando em mim enquanto eu estava dormindo.”
"Eu acho que você deve ganhar as melhores notas na escola, mocinha." Madeleine sorriu
enquanto mexia seu chá. "Sempre há recompensas para aqueles que afirmam o óbvio
frequentemente e com convicção."
Dess respirou fundo. Uma pergunta foi respondida em cheio, a mulher poderia se projetar
pra valer do interior desta zona morta, ou enigma crepuscular, ou seja lá o que isso fosse. Os
sonhos que a levaram para o receptor GPS de seu pai e finalmente para esta casa tinha sido em
Technicolor cristalino e insistente. Ela tinha estado atraindo ela para cá como um cachorro em
uma coleira.
“Você queria que eu te encontrasse.”
“Eu tinha esperança que seria mais cedo, mas acho que com a sua carência de educação,
você o fez tão bem quanto se poderia esperar."
Os olhos de Dess se estreitaram. "Carência de educação? Estou em trigonometria
avançada!"
Madeleine sorriu. "Eu espero que sim, sendo uma gênio da matemática. Mas não me refiro
à sua educação em Bixby High, inadequada como isso deve ser. Quero dizer a todos vocês, os
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pobres órfãos, lutando para entender a hora secreta." Ela levantou a caneca aos lábios, a voz
sumindo. "Tão sozinhos."
Dess baixou os olhos de expressão da mulher e olhou para as pilhas de sucatas, que
cercavam a mesa de chá. Os metais pareciam como se tivessem sido empilhados às pressas,
sem pé nem cabeça, mas não recentemente. A ferrugem juntava as peças, e uma camada de
poeira obscurecia cada superfície. Madeleine tinha estado por aqui há um tempo. E, como ela
disse, tão sozinha.
"Você fica aqui... o tempo todo?" Dess perguntou.
A velha sorriu para si mesma. "Eu costumava sair mais. Antes que Melissa nascesse, o dia
não era um problema, contanto que ninguém me reconhecesse." Ela deu uma risadinha. "Quando
eu era jovem, eu tinha uma peruca e um par de óculos terrivelmente feios. Naturalmente, agora
eu só posso sair quando Melissa está na escola. Pobre menina."
Dess franziu a sobrancelha. A resposta de Madeleine tinha apenas levantado mais
questões. Perucas? De quem ela estava se escondendo?
Pelo menos a última parte fez sentido.
"É por isso que Melissa nunca sentiu você, certo?"
"É claro. Normalmente ela poderia ver outro telepata como um campo de petróleo se
incendiando em um horizonte escuro. Se não fosse por Bixby High, eu estaria presa aqui o dia
inteiro." A velha sacudiu a cabeça. "E lembre-se, Dess: ela nunca deve saber. Tudo na mente de
Melissa vai eventualmente sair para o deserto. À meia-noite, os pensamentos de ninguém é seu
próprio."
O silêncio caiu sobre elas novamente. Dess percebeu que ela devia descobrir mais e
quase desejou que Rex estivesse aqui. Ele apreciava cronologias, sequências ordenadas de
eventos. Comece pelo começo, ele insistiria. Mas o que era o começo aqui? A história era tão
bagunçada, como algumas equações infinitas onde cada passo só levava a um outro grupo de
variáveis. Ela ficou quieta ainda por um momento, tentando colocar a pergunta certa do
emaranhado de sua mente.
"Então... o que aconteceu?" Ela disse finalmente.
A mulher suspirou. "Eles venceram."
Dess piscou e tomou um gole de chá. Estava morno e amargo, mas clareou sua cabeça.
"Foi o boom do petróleo que fez isso", Madeleine continuou. "Bixby era uma família antes
de toda aquelas pessoas chegarem, todo aquele dinheiro. Nós sabíamos quem podia ser de
confiança e quem não podia. "
Dess tentou imaginar Bixby na época, mas tudo o que podia invocar foi um videoclipe
granulado em preto-e-branco com um bando de gente simples bebendo limonada, costurando, e
acenando umas para as outras em caminhonetes. Mas alguém deve ter feito a matemática, feito a
fabricação das armas, e chutado as bundas dos Darklings. E eles teriam usado óculos escuros,
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não teriam? Os olhos dos Midnighters não conseguiam lidar com força total da luz do sol. Será
que eles até mesmo tinham óculos escuros na época?
Ela sacudiu a visão de sua cabeça. "Sessenta anos atrás, certo? Rex sempre diz que foi
quando mudou."
"Um rapaz inteligente, seu Rex." Madeleine sorriu. "Bixby tinha sobrevivido às tempestades
de poeira e a Grande Depressão, foi o dinheiro que nos derrubou. Claro que, como jovem, eu
achava que era excitante. Novos rostos, roupas de uma loja, o nosso próprio cinema. Mas depois
de um tempo, não conhecíamos mais nossos vizinhos." Ela cerrou os dentes. "Lembro-me do
verão, quando isso aconteceu."
Um dedo frio e invisível traçou a espinha de Dess. "Quando eles vieram e levaram todos?"
A velha levantou uma sobrancelha. "Oh, não, não isso. Estou falando do ar-condicionado."
"Huh?"
"No verão de 1949, eu tinha acabado de completar onze anos. Nós brincávamos o dia
todo, até que escurecesse, que no verão era muito tarde. As crianças e adolescentes juntos,
enquanto os adultos se sentavam nas varandas, visitando. Tudo era em aberto, todos podiam ver
uns aos outros." Madeleine puxou seus braços para os ombros. "Mas então em uma noite em que
nós estávamos brincando, nós olhamos para cima e todos os adultos tinham desaparecido."
Dess engoliu em seco. "Darklings?"
"Não." A velha balançou a cabeça tristemente. "Ar condicionados. Foi a primeira noite
realmente quente daquele verão, e eles todos foram para dentro, fechando as portas tão forte
quanto podiam. Em vez de nossos pais e vizinhos, tudo o que restou para nós foi um fraco brilho
azul proveniente de janelas."
"Um brilho azul? Como a meia noite? "
"Não. A televisão."
"O quê?"
"Tente prestar atenção, querida", Madeleine rebateu. "Naquele verão, todo o dinheiro
daquele boom do petróleo foi gasto em sistemas de ar condicionado e televisões. Era o começo
do fim."
Dess limpou a garganta. "Espera um pouco, você quer dizer que vocês perderam para os
Darklings por causa do ar condicionado?"
Madeleine levantou um dedo firmemente.
"E a televisão. Você não pode com desconto de televisão. Veja, Dess, após essa primeira
noite, os adultos ficavam lá dentro, assistindo o Sr. Jack Benny30, em vez de cuidar de nossas
brincadeiras infantis." Ela levantou os olhos e olhou diretamente para os de Dess, um leve sorriso
nos lábios. "As brincadeiras mudaram naquele verão. Certas crianças sempre quiseram jogar um
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Jack Benny – Antigo programa de variedades com esse ator, comediante e músico.
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tipo diferente de jogo. Você sabe o tipo que eu quero dizer?"
Dess engoliu em seco. Por um momento o rosto de Madeleine pareceu exatamente como o
de Melissa, mudando o modo de ser dela, quando o silêncio da meia noite caia de repente, frio e
remoto.
"Hum, eu acho que não."
"Eu acho que sim. As brincadeiras que certas crianças se divertiam eram de crueldade e
dominação e, o mais importante, de exclusão. Agora, eles tinham a sua chance."
Dess disse suavemente: "Soa como algo do tipo de Bixby High." Ela se inclinou para trás e
tomou um gole do chá amargo, imaginando se a velha estava brincando, ou louca, ou realmente
dizendo a verdade. Ar condicionado?
Madeleine concordou. "Esse foi o início de Bixby High como ela é agora. Nos dias de aula
eu dificilmente posso sentir o sabor de alguma coisa daquele lugar." Ela suspirou. "Aquela pobre
menina Melissa. É uma maravilha que ela não tenha feito coisas piores do que ela tem."
Dess se inclinou para frente, sua voz firme, tentando colocar Madeleine de volta para a sua
história.
"Mas isso não é tudo o que aconteceu. Quero dizer, Rex diz que as tradições
simplesmente terminam. Vocês não pararam de lutar contra Darklings porque vocês estavam
ocupados assistindo TV, não é?"
Madeleine balançou a cabeça lentamente. "Isso aconteceu sete anos mais tarde, mas o fim
já tinha começado naquele verão. Três crianças aprenderam o segredo. Em um dos jogos que
nós jogávamos, um jovem midnighter revelou a verdade."
"Porquê?"
Ela pareceu querer dar de ombros, mas saiu como um tremor de seus ombros.
"Para conseguir favores, para ser incluído, suponho. Milhares de anos de segredo perdidos
por que ninguém estava prestando atenção.”
"Em qualquer caso, uma vez que estes três daylighters souberam a verdade, eles
começaram um novo jogo. Eles foram para o deserto todas as noites e organizavam pedras,
esperando enviar mensagens para os seres que eles sabiam que estavam lá fora."
Dess assentiu. "As crianças ainda fazem isso. Elas tentam, de qualquer maneira."
“A tradição é antiga. Mesmo eu posso senti-las. Às vezes, o terror ou decepção vinda
através do deserto, logo após a meia noite. Mas esses três foram mais determinados do que a
maioria. Eles queriam jogar este jogo até o fim. Por anos eles tentaram aprender o significado que
tinha das pedras que se movimentavam, e quando isso falhou, eles trouxeram uma jovem vidente
para o deserto com eles uma noite. Um presente para os Darklings.”
Dess colocou sua caneca de chá abaixo com barulho, e o líquido morno espirrou da boca,
manchando seus dedos. “O halfling.”
Madelene concordou. “Um termo apropriado, suponho. Nunca houve um nome apropriado
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na tradição para o que ela se tornou. Eu a conhecia como Anathea.”
"Mas você é uma telepata. Por que você não sabia o que estava acontecendo?"
"Nenhum de nós sabia. No início, os três haviam se mudado para Broken Arrow, fora do
alcance dos nossos poderes. Eles nunca vinham a Bixby, assim como eu tenho medo de sair
desta casa. Eles fizeram os seus planos em segredo e ficaram muito ricos."
"Ricos? O Darklings pagam bem?"
"De certa forma, sim. O mais antigo deles sabe o que está no deserto, as veias das rochas,
e os leitos antigos de água. Como um perito de metalurgia." Ela sorriu da confusão Dess . "Um
talento que você nunca ouviu - existem muitos outros, pobre garota. Basta dizer que o Darklings
podem saborear a terra, assim como saboreiam sua pequena mente inteligente à meia noite."
Madeleine estreitou os olhos e Dess sentiu um calafrio passar por ela. "Então, os três foram
pagos. Petróleo por sangue."
"Ah." A palavra petróleo enviou um arrepio nela. Ela se lembrou do nome na carta que
Jonathan tinha encontrado na casa Darkling. "Alguns desses garotos eram chamados de
Grayfoot, por acaso?"
"Muito bom." Os excelentes dentes de Madeleine apareceram na luz se evaporando da
tarde. "Você pode ainda ter uma chance, jovenzinha."
Dess franziu o cenho. "Mas eu pensei que Darklings odiavam poços de petróleo."
"Odeiam. Mas o Darklings também dizem aos Grayfoots onde não furar. Eles usam seus
aliados humanos para preservar seus próprios lugares."
Dess concordou lentamente. "E, eventualmente esses... aliados vieram e te acharam."
"Com a ajuda de seus contratados. Levou só uma noite, nas primeiras horas depois da
meia noite, e nós e nossos mais próximos aliados do dia se foram." Varreu os olhos ao redor do
quarto bagunçado. "Nós estávamos preparados para um ataque de Darklings, não de homens.
Todo o metal presente... inútil."
"Pelo menos você escapou."
Madeleine concordou. "Eu tinha escapado da casa de meus pais naquela noite para
brincar em alguns desses jogos que eu mencionei antes. Nós viemos aqui, sabendo que este era
o lugar mais seguro na hora secreta, uma contorção tão profunda que os Darklings não sabiam
de sua existência." Ela bateu com um nó ossudo do dedo fortemente contra a estrutura da mesa.
"E ainda não, bate na madeira."
"Nós? Há mais de você?"
Madeleine balançou a cabeça lentamente. "Haviam. Um deixou Bixby poucos dias depois,
e nós nunca mais ouvimos falar dele. Os outros envelheceram e morreram, um por um. Aqui
nesta casa."
Dess respirou fundo, o cheiro de mofo da sala, de repente, tendo um sabor perturbador.
Ela esperava encontrar aqui um mistério, um terreno novo e estranho da meia noite em
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meio ao emaranhado de minutos e segundos. Mas este lugar sustentava apenas tragédia,
isolamento e morte lenta.
Madeleine sorriu, sua expressão lembrando a Dess de Melissa novamente.
"Você pediu, minha querida. Eu não posso ser culpada por responder."
Dess bufou. "Espera um pouco, você me chamou." Ela fez uma careta. "Por que você me
chamou, de novo?"
"Porque eu estou cansada de me esconder." Madeleine tomou um gole de chá. "E eu
também tenho certeza de que sem a minha ajuda, nenhum de vocês irá sobreviver."
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10h:42min da Noite
CONSTANZA
Constanza Grayfoot tinha uma vida ocupada.
Em uma tarde ela os levou ao hospital de veteranos na I – 35, em uma longa visita as lojas
no centro de Bixby, e através do agitado Tulsa Mall. E agora, nove dólares em gasolina depois,
eles terminaram onde deveriam ter começado – na rua de sua casa, esperando a meia noite cair.
Só um problema: eles estavam praticamente desarmados. Rex olhou pelo para-brisa
dianteiro para uma algarobeira retorcida e atrofiada, o sinal mais imediato das proximidades com
o deserto.
“Isso não é bom.”
“Eu pensei que você disse que a casa estava limpa”, Melissa disse.
“E está.” Em poucas voltas, Rex havia determinado que a casa de Constanza não tivesse
uma lambida de foco nela. Se sua família estava trabalhando com os Darklings, eles estavam
fazendo isso em algum outro lugar. “Mas eles não nos sentirão aqui fora?”
Melissa deu de ombros. “Se estiverem procurando por nós, eles irão.”
“Sim, bem, eu estraguei todas as minhas armas no sábado a noite. Essa não é uma boa
hora para uma luta.
“Nós sempre podemos fazer outra improvisação brilhante”, ela disse. ”E Categorically
Unjustifiable Appropriation esta no porta-malas, ainda intocado por mãos não humanas. A
propósito, eu ainda estou esperando que você a coloque de volta no meu pneu. Qualquer dia
seria ótimo.”
“Nós devemos esperar”, Rex disse. “Dirija agora de volta para a cidade e volte depois que
nós conseguirmos algumas armas de Dess.”
“De Dess?” Melissa riu. “Você não notou? A garota está muito ocupada com seus próprios
projetos para fazer qualquer coisa para nós. Ela é tão útil quanto Jonathan esses dias.”
Rex sacudiu sua cabeça. “Dess estará nos armando em breve o suficiente. Nós
precisaremos dela para o que quer que esteja lá fora no deserto. Até então, ela pode brincar com
todos os mapas que ela quiser.”
“Você acha que Dess pode transformar as imagens que eu captei da mente de Angie em
coordenadas?”
“Isso poderia ser complicado”, Rex olhou para ela e franziu a sobrancelha. "Você pode ter
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que..." Ele não se incomodou em terminar. Eles estavam a quilômetros das mentes barulhentas
no centro de Bixby, era tarde da noite, e a emoção era forte nele, Rex sabia que ela podia ler o
pensamento.
Ela sorriu e estendeu a mão para tocar em seu braço com uma mão enluvada.
"Não se preocupe, Loverboy. Eu não pensaria em manchar sua honra desse jeito."
Ele sorriu para ela, mas sentiu seu rosto corar. Não havia sentido em negar a pontada de
ciúme ao pensamento de Melissa tocando Dess, compartilhando sua mente, como ela
compartilhou com ele. Tinha sido ruim o suficiente naquela vez com Jonathan, no meio do
deserto. Mas não houve escolha, Rex lembrou a si mesmo. Se ela não tivesse, todos eles teriam
sido comida de Darkling.
Falando nisso... Ele olhou para o relógio. Mais de uma hora.
Tempo suficiente para voltar para casa e em segurança antes da meia noite.
"Talvez devêssemos voltar com Jessica. Nós não precisaríamos de armas com ela ao
redor."
"Ah, a poderosa portadora da chama. Pena que ela está de castigo."
Rex suspirou, se perguntando se algum vidente na história teve que lidar com tal variedade
de midnighters.
"Claro", Melissa continuou, "ela poderia passar a noite com Constanza neste fim de
semana. Então ela estaria esperando aqui por nós, a lanterna na mão. Só que ela ficaria muito
covarde agora. Pena que você e Piloto tiveram que tagarelar."
Rex olhou para ela. "O que mais nós faríamos? Apenas "esquecer" de dizer a Jessica
sobre Ernesto Grayfoot? deixá-la passar a noite aqui fora, sem saber do perigo?"
"Sim, você está certo. Jonathan teria contado a ela de qualquer maneira." Melissa riu.
"Além disso, é errado guardar segredos. E na medida em que os segredos continuam, você não
iria querer que Jessica testemunhasse alguma projeção grave, você iria? Ela pode se perguntar
por que seus pais a deixaram ir naquela festa na semana passada."
Rex apenas manteve sua boca fechada, não mordendo a isca. Melissa tinha mudado muito
nos últimos três dias. Ela quase podia tolerar a escola agora, havia se mantido até mesmo calma
no Tulsa Mall, e teve que captar o cheiro de Constanza toda vez que a tinham perdido na estrada.
Sua mente parecia clarear o tempo todo.
Mas certas coisas não tinham mudado. Rex sabia em primeira mão o quão sarcástica, ela
estava por dentro, ainda ferida pelos dezesseis anos de isolamento físico. Sem mencionar os oito
anos de solidão antes dos dois se encontrarem, uma infância passada lutando contra a
tempestade de mente coletiva da humanidade totalmente sozinha. Ele imaginou se Melissa se
recuperaria de ser a única telepata em Bixby.
Ele olhou para o relógio. "Bem, não é tão tarde. Nós poderíamos ligar para ela da Seven-
Eleven na Quarenta e quatro e dizer a ela e ao Jonathan para virem aqui esta noite."
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O sorriso no rosto dela se moveu novamente em diversão. "Pedir ajuda ao Piloto?"
"Ele salvou sua vida, eu me lembro."
O sorriso desapareceu. "Ah, isso. Minha vergonha secreta." Ela soltou um longo suspiro.
"Tudo bem. Aqui está uma moeda."
A janela da cozinha se abriu facilmente, mas escalá-la se tornou complicado.
Especialmente enquanto carregavam Categorically Unjustifiable Appropriation, que Rex havia
trazido para o caso de não haver tempo para voltar ao carro. Quando ele cegamente plantou seu
pé em uma pia cheia de louça suja, o barulho ecoou por toda a casa.
"Cristo, Rex", Melissa disse atrás dele. "Sorte você não ser um arrombador de verdade.
Você poderia acordar os mortos."
“Eu estou pensando mais na pressa do que com a discrição, vaqueira. Não provou nada
ainda?"
Ela levantou o nariz no ar, seus olhos captando o arco do nascer da lua com um flash
violeta.
"Eles estão curiosos, mas nada mal intencionado vem. Ainda. E Jonathan foi em direção a
Jessica no horário." Ela fez uma careta. "Isso é engraçado. Eu não posso sentir Dess em lugar
nenhum."
"Talvez ela descobriu um de seus pontos cegos", ele disse. "De qualquer forma, vamos lá."
A casa era ainda maior do que parecia do lado de fora, a sala de estar grande o suficiente
para manter uma pista de boliche. Enquanto Melissa parava para dedillhar algumas notas no
piano no canto, Rex procurou por sinais de foco. Mas a casa estava limpa por dentro também.
Ele sorriu. Talvez eles fossem sair daqui sem uma luta.
"Lá em cima?", ele sugeriu.
Quando encontraram o quarto de Constanza, Melissa soltou uma risada.
"Este é a única amiga de Jessica?”
Ela balançou a cabeça. “Eu não sei por que nós nos incomodamos tentando competir."
Rex teve que rir. Roupas estavam espalhadas por toda parte, como se um vendaval
tivesse esvaziado os dois armários enormes. Uma parede inteira estava coberta de espelhos, em
frente da qual uma Constanza congelada posava, provando uma de suas compras do dia. O chão
estava cheio de etiquetas de preços descartadas, qualquer uma representava o orçamento das
roupas de Rex para a década.
"Ela fica em pé até tarde", disse ele.
"Por que dormir quando você pode olhar para si mesmo no espelho?"
"Só tome cuidado com ela."
Melissa bufou. "Tentarei não danificar a etiqueta de compras."
Rex riu, mas se afastou enquanto as mãos dela alcançavam a figura imóvel. Ele poderia
fazer isso sem ver a expressão de prazer de Melissa, enquanto ela entrava na mente de
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Constanza. Era diferente com os cadáveres, naturalmente, um único sentido de intervenção,
completamente diferente quando os dois compartilhavam. Mesmo durante as horas do dia, se
Melissa acidentalmente tocasse em um humano normal isso apenas aumentava sua sensibilidade
habitual. A única verdadeira ligação acontecia entre um telepata e outro midnighter.
Ainda assim, ele não quis assistir.
O corredor no andar de cima o levou para outro quarto, ainda maior que o de Constanza.
Duas figuras congeladas ocupavam a cama, e Rex se retirou do quarto após uma olhada em suas
faces pálidas e vazias.
O último aposento do segundo andar era um de estudos, a mesa cheia de papéis e livros.
Rex sentou e começou a folheá-los, procurando números de telefone, cartas ou qualquer coisa
com o nome de Ernesto nele. A maioria dos papéis tinha haver com perfuração de petróleo, os
regulamentos federais e previsões financeiras, longas colunas de números que, possivelmente,
até mesmo Dess teria achado chato. Depois de alguns minutos, no entanto, um maço preso
chamou sua atenção. A primeira página lia-se:
Comunidade de Impacto da pista de emergência
Aeroespacial Oklahoma
Salinas de Bixby
Ele tomou um fôlego, relembrando a imagem que o toque de Melissa tinha deixado em sua
mente no estacionamento esta tarde. Uma longa estrada escura, absolutamente reta, se
esticando para as salinas, terminando no meio do nada.
“Uma estrada no deserto...” Rex murmurou. Ele se lembrou de ver em um editorial no
Diário de Bixby no fim de semana, alguém reclamando e uma nova pista sendo construída fora da
cidade.
É claro. Os fãs não estavam construindo essa coisa, eles estavam tentando impedir que
ela fosse construída.
Os Darklings odiavam intromissões humanas no deserto, estradas, oleodutos e torres de
petróleo que os forçavam para ainda mais longe no deserto. E qualquer coisa construída pela
Aeroespacial Oklahoma traria metais avançados e máquinas engraçadas junto com ela – para
começar o tipo de tecnologias novas que havia perseguido os Darklings na hora secreta.
Rex abriu a pasta e espiou o relatório. Alegava que a pista estava sendo construída para
permitir que Aeroespacial Oklahoma testasse aeronaves experimentais, cujo o estrondo das
enormes aeronaves acordaria todo mundo na cidade no meio da noite.
Ele levantou uma sobrancelha. Rex duvidava que alguém fosse querer pousar um avião
perto de Bixby a menos que realmente fosse uma emergência.
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Ele se lembrou dos pensamentos roubados que Melissa tinha compartilhado com ele da
mente de Angie, a estrada no deserto e o halfling estavam fortemente associados. Mas o que
poderia ter uma pista haver com uma criatura meio midnighter e meio darkling? Eles tinham de
encontrar Angie novamente ou alguém que a conhecia.
Rex procurou o editorial, mas o nome do seu autor não estava em lugar nenhum.
Ele se lançou mais fundo à mesa, abrindo gavetas e procurando em escaninhos, não mais
tentando esconder o fato de que ela tinha sido remexida.
Tinha que haver mais de uma aqui, uma lista de nomes relacionados ao relatório ou
alguma indicação da organização patrocinadora, qualquer coisa que mostraria quem mais estava
envolvido com os seguidores dos Darklings. Mas diferente da pasta, ele encontrou só
documentos de negócios sobre petróleo, umas poucas cartas pessoais, um monte de faturas de
cartão de crédito, e um convite para uma festa. Nada mais sobre uma pista de decolagem de
emergência, e nada que mencionasse Ernesto Grayfoot. Haviam mapas e dados geológicos que
Dess podia ser capaz de entender, mas ele não podia dizer o que era importante.
Finalmente Rex suspirou e deixou cair os papéis de suas mãos. Ele não podia fazer muito
através da massa de papel, no que restava da hora secreta, não sem ajuda. Mas talvez saber
sobre a pista de emergência ajudasse a focar a projeção de Melissa. Os pais de Constanza
devem ter algo de útil em suas cabeças.
Rex ficou de pé, segurando a pasta na mão e se virou para a porta.
Melissa estava ali, com o rosto sombrio.
"O que é?", ele perguntou. "Constanza sabe de alguma coisa?"
"Nenhuma pista sobre Darklings ou alguém chamado Angie. Mas eu achei Ernesto
Grayfoot lá. Acho que eles são primos."
"Ok, isso é um começo. Eu quero que você... " Sua voz sumiu em silêncio. Melissa tinha
fechado seus olhos, se balançando em seus pés. "O que foi?"
Seus olhos se abriram lentamente. "Eles estão vindo, Rex."
O medo apertou seu estômago, como no tempo em que seu pai teve uma arma carregada
apontada para ele, completamente bêbado.
"O halfling?"
"Não é o halfling, nada tão exótico. Apenas três Darklings antigos... dos com fome."
Ele olhou para seu relógio: eram 25 minutos da hora secreta. "Onde diabos estavam
Jonathan e Jessica?"
Melissa ergueu a cabeça, procurando na teia psíquica da hora secreta pelo gosto familiar
de suas mentes. "Há quilômetros daqui. Acima da Aeroespacial Oklahoma."
"Vindo para cá?"
"Não. Apenas sentados ali. Eles estão... confusos... " Ela abriu seus olhos. "Eu pensei que
você disse que falou com ela."
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"Eu disse que deixei um recado. Ela não me deixou falar com Jessica."
"Você deixou um recado? Quem não o deixou falar com Jessica?"
"A menina que atendeu ao telefone. Mas ela disse que diria a Jessica imediatamente. Eu
acho que era sua irmãzinha."
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12h:00min da Madrugada
ENDEREÇO
A cerca de arame farpado se esticava, e em ambas as direções a perder de vista,
brilhando como um fogo pálido na luz escura, na lua totalmente cheia. Jonathan se lembrou do
voo através do complexo da Aeroespacial Oklahoma há duas semanas passadas, a agitação
incessante de seus perseguidores. Ele tinha quase perdido Jessica naquela noite, quando suas
mãos tinham se separado e ela caiu no solo. A memória enviou um calafrio nervoso dentro dele.
É claro, agora aquelas mesmas criaturas estavam assustadas com Jessica, agora que ela
conhecia seu talento. Mesmo tão perto do deserto, eles não tinham visto um slither por toda a
noite.
"Você lembra-se de alguma coisa?" Perguntou ele.
Jessica balançou a cabeça lentamente, apontando para o leste. "A cerca estava à nossa
esquerda, então nós estávamos indo por aquele caminho."
"Sim, isso faz sentido. Esse caminho leva a Rustle‟s Bottom."
"Ótimo." Ela sorriu alegremente, apontando na direção oposta. "Então, Constanza teve que
voltar naquele caminho."
Jonathan deu um profundo suspiro. Ia levar uma eternidade. "Eu pensei que você tivesse
passado a noite lá.”
“Uma vez, ok? Constanza me levou de sua casa para escola. Eu não prestei muita atenção
para onde nós estávamos indo.”
“Não brinca.”
“Eu estava meio preocupada. Sabe , em descobrir meu místico destino e tudo mais?”
“Tudo bem, desculpe-me.” Ótimo, lá ia outra noite de desculpas. “Vamos continuar.”
Eles se viraram e deram-se as mãos, lançando-se pela estrada vazia, passos largos
vencendo a distância. As bobinas de arame farpado ao seu lado direito passavam sinistramente
com a velocidade deles aumentada.
"Eu não entendo porque Rex achou que eu ia saber onde a casa de Constanza é. Eu só
estou nesta cidade há um mês." Suspirou. "Mesmo que pareça como se houvesse anos."
"Está tudo bem, Jess. Nós vamos encontrá-la. "Jonathan esperava que ela mantivesse sua
mente no voo. Um passo em falso e eles se descobririam abrindo caminho no topo do arame
farpado a sessenta quilômetros por hora, não seria bonito.
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“Eu teria ligado para Constanza ou algo assim, mas Beth não me deu o recado até que ela
desligou um telefonema de Chicago. Cinco minutos antes da meia noite. Bobinha.”
Jessica afundou em silêncio, sua expressão fechada, Jonathan se perguntou se Beth seria
esse saco se Jessica não tivesse trancado ela em seu armário. Outros poucos saltos e eles
tinham demarcado o perímetro da Aeroespacial Oklahoma, as bobinas de arame farpado ficando
para trás deles. Finalmente.
“Olha, Rex e Melissa estão bem provavelmente. Eu aposto que eles só queriam te mostrar
alguma coisa. O que sua irmã disse exatamente?”
Jessica ficou em silêncio até que eles aterrizaram e pularam de novo, angulando ao passar
um velho fusca congelado na rodovia. “Ela disse, „Rex e Melissa estão em Constanza. Eles
precisam de você.‟ Isso não soa opcional.”
Jonathan bufou. Soava como Rex dando ordens. "Vamos lá. Você sabe como Rex é
cauteloso. Ele não iria tão longe à meia noite sem armamento pesado. Talvez eles tenham levado
Dess junto. "
"Eu espero que você esteja certo. Vamos apenas chegar lá."
"Seria bom se nós soubéssemos onde é."
"Eu estou tentando, ok?"
Eles subiram um viaduto na rodovia, e Jonathan, gemeu a vista diante deles. A estrada se
estendia em direção ao deserto, com uma dúzia ou mais de desvios entre aqui e as outras
extremidades do condado de Bixby, cada uma das quais levava a longos trechos de conjuntos
habitacionais. De cima, nas montanhas no tempo normal, você podia vê-las brilhando, o rio negro
de asfalto girando em vórtices brilhantes de postes e luzes de segurança de quintal. Mas aqui à
meia-noite, nada brilhava exceto a lua escura. A casa de Constanza poderia estar em qualquer
lugar no firmamento azul do deserto.
Embora isso fosse frustrante, pelo menos eles estavam voando. Sua dor na garganta se
foi, seu tornozelo tinha parado de doer, e na noite passada ele começou a por em ordem as
coisas entre ele e Jessica. Se Rex não tivesse deixado a sua pequena mensagem cifrada, essa
teria sido à hora perfeita para passar o tempo em alguns dos lugares altos com ela, sozinhos.
Obrigado, Rex e Melissa.
Jonathan se perguntou como os dois poderiam ter se colocado em problemas de novo tão
cedo, quarenta e nove horas depois de sua última dificuldade. Eles estavam tentando ser mortos?
Ontem à noite, Melissa parecia diferente, como a tranquilidade de Rex, a sanidade coletada
estava lentamente se infiltrando dentro dela. Mas talvez o oposto estivesse acontecendo também,
e a loucura de Melissa estivesse vazando para Rex.
Desde que Jonathan havia tocado nela, sentir o que realmente era estar dentro de sua
cabeça, ele se perguntou se no centro de sua amargura havia um desejo de morte verdadeiro, um
desejo de escapar do tormento permanente de nunca ter o cérebro dela para si mesma.
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De repente, algo passou pela sua mente.
"Rua Decatur?" Ele disse baixinho.
"Sim!" Jessica exclamou. "Eu estava pensando nisso. Eu me lembro agora. Essa é a saída
que ela tomou."
Jonathan engoliu em seco. "Isso é estranho."
"Então você sabia onde ela morava o tempo todo?"
"Eu?" Jonathan riu. "Sim, certo. Como eu passasse muito tempo com líderes de torcida."
Ele apontou para a direita, puxando Jessica em direção a uma rampa de saída. Eles
pularam em um quarteto de postos de gasolina dispostos ao redor de um cruzamento, descendo
em um campo áspero e subdesenvolvido. Um arco íris de cactos pontilhavam o campo como
bolas de basquete espetadas, e Jonathan diminuiu o ritmo deles. Ele tinha se perfurado em um
cacto uma vez na hora secreta, tão afiado quanto o fio de navalha, com a vantagem adicional de
espinhos que se partiam e ficavam em você.
Do alto do próximo pulo deles, Jonathan viu um aglomerado de casas escuras no
horizonte.
"Parece familiar?"
"Yeah. Eu acho que é o seu bairro. Ela não é apenas uma líder de torcida, sabe."
"Desculpe-me", Jonathan murmurou. "Eu só estou dizendo, que eu não tinha
absolutamente nenhuma ideia de onde Constanza vivia. Eu nunca havia pensado nisso até hoje a
noite."
"Mas você disse -"
"Eu sei."
Ele podia sentir os últimos saltos se colocando em sua mente, a forma como os ângulos
sempre faziam. Mas essa familiaridade não fazia sentido. De alguma forma, ele podia ver a
aproximação para a casa de Constanza claramente, como a viagem para a de Jessica todo noite,
cada campo e telhado em aberto, todas as aterrissagens entre aqui e a mansão de dois andares,
assentada no maior lote da expansão. Mas ele nunca tinha estado aqui antes. Nem uma única
vez sequer.
Uma névoa surgiu no horizonte, uma coluna torta como o redemoinho que eles tinham
visto três noites antes. Mas este era muito maior e em movimento, as formas negras e flutuantes
de slithers formando um vórtice girando sobre a casa.
"Merda. Parece que eles precisam de nós."
"Eu espero que não estejamos atrasados demais."
Jessica pegou a lanterna e a colocou nos seus lábios. Jonathan a ouviu sussurrar acima do
chiar, "Demonstrações". A nuvem girava no ar diante deles, começando a se afastar para o
deserto, o bater de asas encouraçadas rugindo como uma centena de bandeiras em um vento
forte. Ele se perguntou se os Darklings já tinham saído, suas mentes antigas sensíveis o
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suficiente para sentir a portadora da chama vindo, e espertas o suficiente para fugir.
"Hum, Jonathan... você poderia?" Jessica lhe estendeu o pulso.
Ele sorriu e disse: "Acariciandote", lento e claramente para a pulseira.
"Obrigada", disse ela. "Eu vou aprender. Prometo."
"Eu vou te ensinar." Jonathan puxou sua corrente por sobre a sua cabeça e
murmurou:”Rubbernecking31." Foi bom tê-la pronta, mesmo que ele provavelmente não fosse
precisar dela com Jessica ao redor.
No pico de seu próximo salto, a lanterna veio à vida na mão dela, seu feixe ofuscante
cortando através do enxame de slithers alados. Os olhos de Jonathan se fecharam, sensibilizados
pela surpreendente intromissão da luz branca na azul fria e etérea da hora secreta. Combinada
com os gritos horríveis que preenchiam o ar, uma última imagem ficou gravada na sua visão:
slithers explodindo em chamas ao toque da luz, impetuosos corpos triangulares explodindo no
horizonte negro, a lua negra se empalidecendo em comparação ao poder da portadora da chama.
Então o cheiro de carne queimada atingiu seu nariz.
Jonathan tossiu e forçou seus olhos a abrirem.
Jonathan tentou piscar para longe os pontos diante dos seus olhos, "Você me avisa da
próxima vez?"
"Desculpe-me." Ela apertou sua mão.
Através das faixas gravadas em sua visão, ele viu que os olhos dela estavam selvagens,
sua expressão eletrificada das ondas de energia que haviam percorrido através dela. Sua mão
formigava onde as palmas estavam pressionadas juntas.
Ele piscou novamente: Acariciandote estava brilhando em seu pulso, os talismãs brilhantes
como diamantes.
Eles se colocaram no jardim da casa grande. Os slithers mortos repousavam ao seu redor,
em meio a faíscas de metal. Jonathan ajoelhou-se e pegou uma furadeira, a broca de aço
enegrecida pelo fogo.
"Eles pelo menos travaram uma luta."
"Rex!" Jessica gritou. "Melissa?”
Um assobio respondeu a eles, um som molhado e estremecido, que carregava um fedor
através o gramado. Uma forma maciça se balançava entre a casa de Constanza e a vizinha, uma
profusão de pernas se empurrando em todas as direções como se a coisa se esforçasse em se
manter ereta.
Jonathan sentiu ânsias com o cheiro, os olhos lacrimejando quando eles contemplaram a
criatura.
31
Rubbernecking: É o mesmo que olhar curiosamente, xeretar, olhar como um espectador. 13 letras. Sem tradução com a mesma
quantidade de letras.
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Tinha sido uma tarântula não muito tempo atrás, a maior parte de sua massa reunida em
um corpo bulboso. Mas ela estava tentando desesperadamente se transformar, as pernas
recuando dentro da besta, seu corpo se estendendo, se contorcendo como uma minhoca
cabeluda gigante. A asa molhada batendo surgiu de suas costas, meio formada e doentia. O
Darkling sibilou novamente, e um fluxo de líquido viscoso se atirou de sua boca ao chão, a
poucos metros de Jessica.
Ela estava morrendo.
"Feche seus olhos", ela disse.
"Sem problema."
O grito o ensurdeceu em primeiro lugar, depois Jonathan ouviu a explosão de chamas,
sentiu seu calor secando sua carne exposta como uma fogueira no deserto. Ele não respirou por
um tempo infinito e, finalmente, foi obrigado a encher os pulmões com o cheiro do Darkling antigo
morrendo.
Quando ele abriu seus olhos, tossindo enquanto ele lutava para inspirar, não havia nada
deixado, apenas um pedaço enegrecido de gramado e um brilho de metal. Jonathan piscou
através das lágrimas em seus olhos.
A calota estava na grama, onde o Darkling tinha estado.
"Aquilo o feriu", ele disse.
"Feriu ele?" Uma voz chamou. "Eu acho que Unjustifiable Appropriation consegue matar."
Melissa e Rex tropeçaram em torno da lateral da casa, com os rostos e as mãos
enegrecidas, onde armas improvisadas tinha queimado em chamas azuis.
"Só porque você apareceu a tempo de liquidar com os restantes, não vá ganhando o
crédito, Jess."
Os olhos de Melissa estavam brilhantes, sua voz à beira da risada. O suor de seu rosto
brilhava como uma faca.
Rex parecia doente do estômago. "Nunca mais", ele disse baixinho, caindo na varanda da
frente. Ele ergueu seus olhos, cansado. "Então você pegou o meu recado."
Jessica concordou. "Mais ou menos. Da próxima vez, deixe o endereço."
Rex pensou por um segundo, então disse: "Oh."
"Nós não teríamos feito isso de modo algum, exceto no último instante em que Jonathan se
lembrou de onde Constanza morava."
"Eu não tinha ideia", Jonathan disse.
Melissa estava olhando para ele, estreitando os olhos, temperando o olhar enlouquecido
em seu rosto. "Mas de repente você sabia", ela disse baixinho.
Ele retornou seu olhar e concordou. Ela sabia de algo sobre o que tinha acontecido em sua
cabeça.
"Aliás, o que vocês estavam fazendo aqui?", Jonathan disse.
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"Passamos o dia todo seguindo Constanza", Rex respondeu: "tentando descobrir o que
podíamos sobre o Ernesto. Foi um fracasso, então achamos que seria legal tentar na hora
secreta."
Jonathan franziu a sobrancelha e olhou para Melissa. "Você pode fazer isso? Ler as
mentes das pessoas quando elas estão congeladas?"
"É a melhor hora para isso", ela disse suavemente, seu sorriso enviando um calafrio em
sua espinha. "Descobrimos que Ernesto é seu primo. Isso é tudo que eu consegui antes das
coisas ficarem cabeludas. E escamosas."
"Falando de escamas, temos que limpar tudo isso?", Jéssica perguntou. slithers mortos e
os restos do Darkling estavam espalhados em manchas escuras ao redor deles. O cheiro tinha
sido em maior parte extinguido por Demonstrações, mas o gramado sob os pés ainda estava
ligeiramente espesso.
Rex soltou uma risada seca. "Irá evaporar uma vez que a hora normal retorne. Aquela luz
da varanda deve faze o trabalho na maior parte. O nascer do sol vai acabar com isso."
Jonathan olhou para a lua. "Ah, sim a hora normal. Talvez devêssemos discutir isso
amanhã. Eu tenho cerca de quinze minutos para voltar até a casa de Jessica e depois para minha
casa."
Rex concordou. "Na hora do almoço, então. Só que eu tenho uma prova de história do
período seguinte."
"Como se você precisasse estudar para isso." Melissa riu.
"Você o colocou lá..." Jonathan engoliu em seco. Eles estavam a quilômetros de distância.
"Você projetou algo em minha mente, não foi?"
Melissa abanou a cabeça lentamente, o olhar em seu rosto se suavizou, como se ela
estivesse perdida em pensamentos.
"Essa é a coisa mais louca, Piloto", ela disse calmamente. "Eu provei isso, mas isso com
certeza não era eu."
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12h:16min da Madrugada
ROTA DA MEMÓRIA
Dess arrancou com sua bicicleta mais rápido, na esperança de que as baterias de seu farol
não falhassem totalmente, antes que ela chegasse em casa. A pequena piscina de luz
estremecida que viajava a frente dela tinha iniciado bem fraca, e estava se apagando. Sininho32
cheia de bolo envenenado. Ela deveria ter ido para casa tempos atrás, os pais iam surtar por que
ela estava fora depois da meia noite.
Entretanto um bom trabalho tinha sido feito hoje.
Dess deu uma batidinha em Geostacionário em seu casaco. Sua mente pareceu mais clara
pela primeira vez em uma semana, finalmente removida do turbilhão dos seus sonhos.
Finalmente as equações tinham feito o que sempre faziam, resolvidas em regras e padrões e
significados. Mais uma vez, sua mente lhe tinha dado a resposta.
Uma careta atravessou o rosto de Dess. As respostas... Eles pareciam vagas agora. Ela se
lembrou de um padrão de algum tipo que se esticava de um lado a outro de Bixby. Uma coisa de
base sessenta, tendo haver com minutos e segundos. Mas por que ela tinha estado aqui andando
de bicicleta até depois da meia noite?
Seu sorriso voltou. Nada para se preocupar. Este triunfo especial de Dess brilhava de novo
e estava se assentado bem no meio de seu peito. Ela não conseguia se lembrar de tudo tão
claramente, de como ela tinha feito desde que deixou escola, mas imaginava. Ela tinha estado
abstraída, perdida no mundo da matemática pura. E as respostas eram confusas, porque às
vezes as soluções realmente complicadas acabavam se exaurindo, antes que seu cérebro as
esfriasse.
Qual era o truque para isso novamente? Isso mesmo, lá estava ela...
"Lovelace", ela disse em voz alta.
Uma porta se abriu em sua mente, e o gosto amargo do chá leitoso inundou em sua boca.
Ela lembrou...
"Maldição." O farol vacilou por alguns segundos.
A casa em ruínas assentada no centro da zona morta, a velha, a história secreta de Bixby
se derramando nela como o sol se pondo. Mas, como qualquer bom segredo, Dess tinha que
esconder isso do restante deles, especialmente de Melissa. 32
Tinkerbell – personagem de Peter Pan. Sininho.
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Então, ela estremeceu no frio crescente, lembrando o que tinha estado a incomodando, a
razão que deslizou suas memórias há dez minutos atrás, por que ela queria esconder até de si
mesma.
Madeleine tinha começado excêntrica e talvez um pouco atordoada, mas tinha se tornado
progressivamente muito mais assustadora, até mesmo... como Melissa.
Mas isso não era justo. Mesmo que sua história tivesse assustado horrores a Dess, a
mulher não era nada como Melissa. Por um lado, crescerem em Bixby não tinha deixado
Madeleine uma aleijada mental.
De alguma forma ela tinha nascido com o dom de moldar a mente, sem enlouquecer.
Definitivamente, ela era sã.
Bem, talvez não tão sã. Havia o pequeno problema do ar condicionado. Com a televisão,
Dess podia lidar - Madeleine não era a primeira pessoa de idade a fazer alarde sobre a TV para
uma extensão levemente maluca. (O pensamento fez Dess fazer uma careta enquanto ela se
perguntava se a casa tinha cabo ou não. Outro arrepio se passou por dentro dela - presa por
quarenta e nove anos sem o Discovery Channel.)
Ainda assim, louca ou não, você não podia negar que Madeleine falava por experiência.
Ela realmente esteve lá quando o Darklings tinha eliminado toda uma geração de Midnighters. Se
ela quisesse culpar o ar condicionado... tanto faz.
Os faróis dos carros estavam se aproximando, e Dess pedalou mais forte. Ela estava se
mantendo nas rodovias secundárias, tentando evitar ser vista. Não era o toque de recolher que a
enervava, mas a parte final da história de Madeleine.
Quando o carro ficou fora de vista, Dess soltou um suspiro de alívio. Seu farol estava
apagando agora, talvez ela devesse simplesmente desligá-lo. A invisibilidade podia ser mais
segura.
A velha tinha observado Rex e Melissa pelos últimos dezesseis anos e Dess há quinze
anos, sempre se perguntando por que os Darklings não se incomodavam em apanhá-los. Não foi
apenas por suas indiferenças de animais selvagens ou o fato de que nenhum deles sequer serem
uma grande ameaça, não até Jessica ter aparecido, pelo menos. Midnighters eram bons para se
comer, afinal de contas.
Mas o que Madeleine tinha lentamente percebido foi que o Darklings realmente queriam
um pouco de Midnighters ao redor, enquanto eles fossem isolados, desorganizados e ignorantes
da história. Os midnighters eram úteis, em caso de se alguma coisa acontecesse com o precioso
halfling. Midnighters podem ser ceifados.
Outro par de faróis apareceu à distância. Era uma van branca e genérica, do tipo de
pedaço de merda que você alugaria para um sequestro. Enquanto ela se dirigia para mais perto,
o vento frio Oklahoma aumentou, mordendo por dentro do casaco de Dess e arrepiando sua
carne diretamente até seus ossos.
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Uma das janelas estava abrindo...
A van passou, uma lata de cerveja vazia chacoalhando na rua atrás dela.
"Perdeu!" Ela chamou por entre os dentes. "Imbecis."
Seu coração martelando gradualmente diminuiu, e ela apagou o farol. Ficar no escuro era
mais seguro afinal de contas. Agora ela realmente se lembrava do que ela estava esperando
pensar sobre tudo isso, até que ela chegasse em casa. Era muito assustadora a maldita estrada
aberta durante a noite.
Ela murmurou para a outra metade do truque da mente. "Ada"
A porta em sua consciência se fechou novamente, deixando uma última memória se
apagando diante de seu olho da mente. Como ela havia deixado a casa de Madeleine, a velha
tinha estendido a mão e lhe tocado no rosto, lhe pedindo para dizer o nome de alguém importante
para ela com a história, e uma coisa enorme e poderosa havia surgido através da mente de Dess.
Uma porta. Era o que tinha sido - uma barreira para protegê-la dos novos conhecimentos
do bisbilhotar de Melissa, porque o que Melissa soubesse, os Darklings saberiam em breve. Eles
poderiam provar muito bem o gosto de cada um do outro lado do deserto.
Então a porta se fechou completamente, fechando os pensamentos terríveis sobre ceifa e
velhinhas solitárias e ar-condicionado, deixando apenas um imperativo: não deixe Melissa te
tocar.
Dess riu. Claro, como Melissa sequer tocasse em alguém se ela pudesse impedir.
Ela lutou no escuro por enquanto. Carros passavam, mas ela os ignorou, sentindo apenas
o brilho feliz de matemática bem feita, as equações resolvidas em regras e padrões e
significados. Sua mente clara pela primeira vez na semana, finalmente removida do turbilhão dos
seus sonhos.
Um galho de árvore caído agarrou-se debaixo da roda dianteira, e ela amaldiçoou. Por que
exatamente ela estava pedalando no escuro?
Ela ligou o seu farol. Fraco, mas melhor que nada.
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11h:26min da Manhã
ESCLARECIMENTO NÃO ANTECIPADO33
“Então quando nós chegamos lá, haviam tipo uns mil slithers no ar. E esse antigo Darkling
louco.” O estômago de Jessica revirou com a lembrança do cheiro da morte da coisa. “Melissa já
o tinha matado com esta calota, mas eu só finalizei.”
“Ah, a poderosa Categorically Unjustifiable Apropriation foi finalmente colocada em uso.”
Dess disse. Ela se inclinou de volta no armário ao lado do de Jessica, um sorriso iluminando seu
rosto.
“Yeah, a coisa estava totalmente ferrada”, Jessica disse.
Ela olhou para sua palma, ainda picando por segurar Demonstrações. Todos os abalos da
manhã haviam surgido através dela, enviando arrepios acima em seu braço. Nas noites após
descobrir seu talento, Jessica tinha experimentado com isqueiros, flash de câmeras, e foguetes
de sinalização de estrada, mas nada lhe dava o zumbido de uma verdadeira batalha.
Ela respirou fundo, e o corredor lotado de Bixby High voltou ao foco.
"Então, você tem outro nome brilhante para mim", perguntou. "Algo leve...?
Dess fechou um olho, dando ao assunto um microssegundo de pensamento. "Que tal
Descafeinados?"
Jessica deu uma risadinha. "Não é esse tipo leveza, boba. Mais como luminescente... Ei,
isso funciona?"
"Não... Apenas doze. Coronafobiaco?"
"O que quer dizer...?"
"Alguém que tem medo de eclipses."
Jessica levantou uma sobrancelha. "Como você sabe dessas coisas?"
Eu escuto, leio, assisto ao Discovery Channel, e esse tipo de tridecalogismos... vem a
tona."
"Hmm. Coronafobiaco? Ainda não é bem o que eu estava querendo." Jessica abriu seu
armário e considerou a pilha de livros, infeliz. "Não tenho tempo para trigonometria hoje. Prometi
a Rex que eu interrogaria Constanza sobre sua família."
Ela pegou o livro de estudos sociais. Talvez se ela trouxesse isso para a biblioteca,
Constanza presumiria que ela estava escrevendo um relatório sobre a história local. 33
Unanticipated Illuminations
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"Você deveria perguntar a ela se algum deles vivem em Broken Arrow."
Jessica olhou para cima. "Porquê?"
Dess encolheu os ombros. "Só uma ideia. Caso Melissa não tenha ouvido seus
pensamentos todos esses anos, eles provavelmente ficam fora da cidade."
"Mas o principal poço da cobra Darkling, é o que está em Broken Arrow, não é?
“Condado de Broken Arrow, sim. Mas a cidade é mais ao leste, um pouco além dos limites
da hora secreta. O lugar perfeito para os seguidores dos Darkling montar uma loja."
"Ok, eu vou perguntar a ela." Jessica sorriu. "Ei, todo aquele negócio de mapa que você
tem feito está valendo a pena."
Dess devolveu o sorriso. "Você ficaria surpresa." Ela olhou para além de Jessica, de
repente, franzindo a testa, e disse: "Ada."
Jessica virou. "Quem?"
"Melissa e Rex, eu quero dizer."
Os dois estavam próximos no fundo do corredor, Melissa com fones na cabeça, mas com
os olhos mais estreitados do que Jessica tinha já a visto na escola. Rex parecia bem descansado,
cerca de mil por cento melhor do que ele estava na noite passada.
"Indo para biblioteca?", ele perguntou
"Sim", Jessica disse. "Nenhuma pedra no cérebro de Constanza deve permanecer intacta."
"Isso deve levar cerca de cinco minutos", Melissa murmurou.
Rex revirou os olhos em tom de desculpas. "A propósito, nós esquecemos de agradecer a
noite passada? Você sabe, pelo salva vidas."
Jessica deu de ombros. "Estava implícito – por não serem mortos. Desculpe, mas nos
perdemos no caminho."
"Vocês chegaram a tempo." Ele olhou para Melissa. "De alguma forma."
"Ah, certo." Jessica virou-se para Dess. "Essa foi a parte mais estranha de toda a noite.
Enquanto nós estávamos procurando pela casa de Constanza, Jonathan e eu, de repente,
tivemos este flash no cérebro e sabíamos exatamente onde ela estava. Foi totalmente por acaso."
"Por acaso?" Um olhar perplexo veio no rosto de Dess, como se houvesse algo na ponta
de sua língua. Jessica suspeitava que ela estivesse prestes a começar uma palestra sobre o
pecado mortal de usar termos matemáticos livremente.
Mas Dess disse, "Unanticipated Illuminations."
"Huh?”
"Um novo nome para sua lanterna." Dess sorriu, como se de uma piada privada, a
expressão perplexa nunca deixando seu rosto.
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"Você não vai acreditar no que aconteceu na noite passada."
Jessica fitou os olhos arregalados de Constanza e descobriu que ela simplesmente não
conseguia se segurar. "Mais vandalismo demoníaco?"
Constanza abriu a boca. Fechou. Abriu de novo. "Quem te disse?"
Jessica deu de ombros. "Eu simplesmente adivinhei. Ou talvez eu escutei algo no
corredor?"
Constanza abanou a cabeça. "De jeito nenhum. Não contei a ninguém. Exceto Liz. E
Maria. Mas ninguém."
"Perai." Jessica forçou seus próprios olhos abertos a ficarem maiores. "Isso não aconteceu
em sua casa, não é?"
Constanza olhou para os dois lados do corredor, em silêncio por um momento enquanto
uns poucos calouros passava para a biblioteca. "Ok, isso tem que ficar em total segredo,
Jessica."
"Nem uma alma."
"Então, meu pai acorda na noite passada porque ele sente o cheiro de algo realmente
podre, e em seu escritório ele vê que alguém passou por sua mesa. Então, ele corre por lá
acendendo todas as luzes, e a cozinha está toda bagunçada, e suas ferramentas estão
espalhadas por todo o gramado. E a grama está toda queimada, como se alguém fizesse uma
fogueira sobre ela, mas com um cheiro totalmente de rato morto."
"Eww." Jessica estremeceu.
Depois de toda a excitação da noite anterior, ela não tinha pensado muito sobre o que
seria acordar com as sequelas. E ela não tinha percebido que Rex e Melissa tinham estado
vasculhando na mesa de ninguém. Claro, era menos pior que vasculhando o cérebro de alguém?
"E adivinha quando foi tudo isso”, disse Constanza.
Jessica piscou. "Sai fora."
"Bem no toque da meia-noite. "
O último sinal tocou, e Constanza saltou.
"Garotas", a voz Sra. Thomas veio de dentro. "Por favor, cruzem a soleira ou vocês estarão
atrasadas."
Constanza suspirou, olhando para a longa mesa cheia de seus amigos. "Eu prometi a
minha mãe não espalhar isso por toda escola, pois poderia ser uma situação totalmente
deprimente. Mas eu não sei como eu vou me sentar lá e não dizer uma palavra. Quero dizer, Liz e
Maria estão sentadas ali, simplesmente morrendo de vontade de falar sobre isso."
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"Bem", Jessica disse: "você poderia me ajudar com uma coisa em seu lugar." Ela acenou o
livro de estudos sociais no ar. "Você sabe alguma coisa sobre a história da sua família?"
"Então, o Grayfoots eram uma família de Bixby até que eles foram expulsos?"
"Sim, esse é o modo que meu pai diz isso." Constanza olhou para a mesa grande,
estreitando os olhos, enquanto ela checava pela centésima vez se Liz e Maria não estavam
ocupadas espalhando os boatos sobre o vandalismo da noite passada. Ela se virou para Jessica.
"Meu avô é totalmente louco sobre qualquer lugar perto de Bixby. Ele nunca sequer a atravessou
completamente. Se ele quiser ir para o oeste, ele vai até Tulsa e depois acabou."
"Mas vocês vivem aqui."
Ela bufou. "Bem, meu pai se mudou para cá quando tinha dezoito anos, só para chatear o
velho. Eles sempre brigavam o tempo todo enquanto ele crescia, então meu pai veio para cá para
fugir. Meu avô ficou sem falar com ele durante anos, até que eu nasci, basicamente. E mesmo
agora, meu pai diz que eles não lhe falam tudo sobre os negócios da família. Meus primos sabem
muito mais sobre o que está acontecendo do que papai. Eles são todos puxa-sacos e nunca vem
em Bixby também.”
Jessica concordou. É claro que qualquer um no clã que soubesse a verdade sobre a meia
noite, também saberia sobre telepatas e iria ficar longe de Bixby. Ela se perguntou como o velho
avô de Constanza era e como ele havia aprendido sobre a hora secreta há tanto tempo atrás.
"Esse é o problema de se ter nascido rico." Constanza suspirou. "Você tem que andar na
linha ou você é excluído. É por isso que eu quero ser atriz, para que eu possa fazer o meu próprio
dinheiro."
"Então, quando tudo isso aconteceu? Quero dizer, há quanto tempo o Grayfoots partiram?"
"Anos. Como quando o meu avô era um adolescente. Então, algo como cinquenta anos?
Havia muito de dinheiro no negócio de petróleo durante o boom, e o Anglos não queriam que nós
nativos americanos fizéssemos nenhum. O que quer que aconteceu, meu avô ficou totalmente
traumatizado. Ele nunca fala sobre isso."
Jessica respirou fundo. Cinquenta anos atrás – cerca do mesmo tempo que a tradição
tinha misteriosamente acabado.
É claro, a história como Constanza tinha aprendido fazia sentido também. Rex falou muito
sobre como na história de Oklahoma houve uma grande tentativa de grilagem de terras. O resto
do país tinha enviado populações para as reservas daqui, quando isso ainda era um depósito de
pó inútil. Então, no momento em que brancos quiseram a terra, todos os tratados tinham virado
fumaça, e o último território nativo americano tornou-se o quadragésimo oitavo Estado. A
descoberta do petróleo apenas piorou as coisas para as tribos.
Talvez a verdade fosse uma mistura de ambas as histórias. Jessica se perguntou se a Liga
das Senhoras Anti –Tenebrosidade teriam convidado todos os nativos americanos para suas
reuniões com sorvete. Segundo a tradição, os povos antigos daqui tinha combatido os Darklings
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por milhares de anos, mas talvez eles tivessem sido cortados da sociedade secreta após colonos
brancos tomarem a cidade. Segundo Rex, que era a forma como todo o resto tinha funcionado
até então.
A tradição terminou e Bixby perdeu todos os seus Midnighters apenas por causa de
tratados quebrados e velhas dívidas sendo resolvidas?
“Parece horrível”, Jessica disse. “Mas é também realmente interessante, Obrigada.”
Constanza pegou o pegou o livro de Jessica. "Mas espere, você está levando o de história
mundial. De novo, para quem é que você está escrevendo isso?"
Jessica olhou para o livro. Um mapa múndi se esticava por toda a sua capa, a bandeira de
Oklahoma em lugar nenhum. "Hum, eu realmente não estou escrevendo um relatório. Eu só me
interessei porque eu conheci esse cara... bem, realmente não o conheci. Eu duvido que ele se
lembre de mim. Mas acho que ele estava relacionado a você... "
"Quem?"
"Uh, você tem um primo chamado... Ernesto?"
Constanza riu. "Ernesto? O quê? Ele te impressionou?"
"Não!" Jessica se sentiu corar, pensando, perseguida, sim... impressionada, não.
"Oh, não fique com vergonha." Constanza deu uma risadinha. "Ele impressiona todo
mundo, mas realmente ele é um fofo. Na verdade, se você quer conhecer ele apropriadamente,
ele vai me pegar hoje aqui na escola.”
Jessica engoliu em seco. "Ele vem?"
"Sim, todos nós vamos a Broken Arrow para ficar com o vovô por uns dias. O velho está
ainda mais assustado que os meus pais por causa do você-sabe-o-quê da noite passada. Traz de
volta velhas más recordações."
"Claro, más recordações. Ernesto está vindo aqui?"
"Sim, ele escapa para Bixby às vezes para me visitar. Ele até possui uma casa de
investimento em... ", o rosto de Constanza ficou pensativo. "Las Colonias! O quanto assustador é
isso?"
"Muito." Jessica recostou-se em sua cadeira, uma sensação de alfinetadas vindo sobre ela.
Seu espião estava vindo aqui, para a escola.
"Então, você quer uma carona? Você vai gostar dele. E ele é uma gracinha, não é?"
"Hum, não. Jonathan está me levando para casa hoje." Jessica esperava que ele tivesse
trazido o carro do pai.
"Onde você se encontrou com Ernesto, afinal? E por que todo esse interesse?"
Jessica deu de ombros. "Eu acho que foi em Broken Arrow ou em Tulsa? Ele estava
tirando fotos de... alguma coisa, e eu apenas peguei por cima seu último nome. Então eu pensei
em lhe perguntar."
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"Sobre a história da minha família inteira?" Constanza sacudiu sua cabeça, rindo. "Bem,
você não é cheia de surpresas, Jessica Day." Ela piscou. "Eu vou dizer que ele tem uma
admiradora secreta."
"Ótimo." Jessica conseguiu sorrir.
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12h:11min da Tarde
BARULHO
A cafeteria produzia um gemido incessante em sua cabeça, como o som de uma serra
zumbindo através de uma caixa de ratos. Melissa podia ouvir o aguçado do metal cortando, o
rasgar do papelão indefeso, e o grito dos pequenos mamíferos lutando ao se aproximarem uns
em cima dos outros. Estranho – a sobremesa era pudim de chocolate hoje, que geralmente
continha o desespero até que o açúcar fluísse. Foi provavelmente o cinzento e viscoso fígado de
frango, preenchendo a todos com pensamentos de prisão e pânico.
Mais oito meses de comer aquela porcaria! Ela se manteve escutando.
Melissa aumentou o volume de seus fones, mas o barulho da guitarra arranhando só fez as
coisas piores. Ela fechou seus olhos e visualizou uma barreira ao redor de sua mente, mas ela
desmoronou sob um novo ataque de ansiedade: o pudim de chocolate estava acabando.
Ela ultimamente tinha deixado sua guarda baixa na escola, esperando que as coisas
ficassem fáceis, como se ao se conectar com Rex estivesse salvando ela de Bixby High. Era o
que acontecia quando você deixava alguém entrar – todos os outros tentavam entrar também.
É claro, talvez isso pudesse também funcionar no sentido contrário...
Melissa cerrou os dentes e desligou o aparelho. Primeiro, o turbilhão em sua cabeça
redobrou, sem a margem do heavy metal para cortá-lo. Mas Melissa respirou fundo e se deixou
parar de lutar com a cacofonia de vozes. Isso foi o que finalmente tinha funcionado com Rex:
permitir que a inundação de pensamentos alheios varresse através dela, confiando em sua
própria mente para ainda estar lá quando o assalto terminasse.
Por um terrível momento ela se sentiu sendo apagada, esmagada pela multidão, se
afogando em suas disputas mesquinhas sobre as melhores cadeiras e o pudim de chocolate.
Mas, lentamente, como quando ela e Rex se tocavam, ela voltou a si, recuperando sua
estabilidade, apesar da tempestade.
Melissa abriu os olhos e segurou uma mão na frente do rosto. Mal tremia, apesar de que
seus dedos estavam brancos como osso, do apertar desesperado do seu punho no momento
passado. Ela tomou outro fôlego profundo e, pela primeira vez na cafeteria, puxou os fones.
Ninguém notou. Todos eles escutavam Jessica ansiosamente.
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"O resto da família dela nunca vem para a cidade. O avô de Constanza os ameaçou cortá-
los de seu testamento, se eles alguma vez pusessem os pés em Bixby. Eles estão totalmente
com medo até de dirigir por ela!"
Bem, Melissa pensou, Jessica finalmente teve coragem de fazer a Constanza Grayfoot
algumas perguntas simples.
Deem a garota uma salva de palmas.
"Todos eles moram em Broken Arrow", Jessica continuou, em seguida, disparou para
"Como você disse que eles poderiam..."
Mesmo no caos da cafeteria, Melissa provou a resposta estranha que borbulhava no
cérebro de Dess – a satisfação por ter sido provada correta, seguida pela confusão momentânea.
Em seguida, seus pensamentos voltaram para a massa.
Interessante.
Jessica se inclinou a frente. "De qualquer forma, o principal é o timming. Seu avô deixou
Bixby a cerca de cinquenta anos atrás, exatamente quando a tradição parou."
Ela fez uma pausa para sorrir para Rex, extremamente orgulhosa de si mesma por
perceber o óbvio. Pelo menos no barulho do refeitório Melissa não tinha que provar do
entusiasmo de Jessica. Noite passada, seu sabor metálico de portadora da chama tinha ido além
das expectativas, sufocando Melissa como uma boca cheia de moedas. Na verdade, Melissa
tinha sentido o próprio estremecer da meia noite, em todo o caminho para as velhas mentes
fétidas nas montanhas.
Os Darklings tinham todo o direito de ter medo de Jessica Day: seu talento perfurava direto
através do tecido da hora secreta. E ela se divertia demais com isso. Seus olhos verdes ainda
estavam selvagens e brilhando enquanto ela se entregava cada vez mais na inteligência profunda
que ela havia controlado.
"Porque ele se mudou para cá, seu pai não fala muito sobre os negócios da família. Há
apenas um Grayfoot que sempre vem aqui de Broken Arrow. E adivinhem qual o nome dele."
Todos eles olharam para ela estupidamente.
"Ernesto"? Piloto finalmente conseguiu dizer. Era tão fofo quando um casal terminava as
frases um do outro. E o que tinha Jessica? Ela estava tocando Jonathan como um macaco
catando piolhos para comer.
O vago desconforto dele com o contato meloso não se elevou acima do barulho, mas você
podia vê-lo em seu rosto.
"Exatamente." Jessica inclinou para trás e a mão envolta sobre o ombro de Jonathan.
"Bem, isso tudo faz sentido", Rex disse. "Mas o pai de Constança não está totalmente sem
saber de nada. Encontrei algo interessante em sua mesa. "Ele puxou uma pasta que ele tinha
roubado e passou a explicar a visão que Melissa tinha apreciado da cabeça de Angie.
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Melissa parou de escutar e se perguntava se alguém ia levantar a questão realmente
importante sobre a noite passada: Como diabos tinha Jonathan e Jessica encontrado o caminho
para a casa de Constanza?
Melissa tinha sentido os dois se atirando na estrada, suas mentes hesitantes e frustradas,
como novos calouros tentando descobrir o caminho para as salas de aula temporárias. Então, de
repente, algo havia clicado no lugar, preenchendo ambas cabeças com a certeza e o propósito.
Um lampejo de inspiração de lugar algum, descarregando a informação em suas cabeças vazias.
O que quer que tenha feito o trabalho não havia deixado nenhum vestígio de si, mas por
uma fração de segundo Melissa havia provado algo novo lá fora...
Momentaneamente à deriva na memória desconcertante, seu controle escorregou, e o
aglomerado de mente da cafeteria a esmagou por alguns segundos terríveis. Ela se forçou a
relaxar e enfrentar a tempestade.
Quando voltou a si, Dess estava dizendo: "Não há nenhuma pista em qualquer um dos
meus mapas."
"Ela não foi construída ainda." Rex encolheu os ombros. "E eu sequer sei onde ela vai ser."
"Espera, eu acho que minha mãe sabe algo sobre isso", Jessica disse. "Ela está em algum
comitê no trabalho. "
"Mas o que é que uma pista tem a ver com o espião de Jessica?" Jonathan perguntou. "Ou
o halfling nesse assunto?"
"Nós não sabemos ainda", Rex admitiu . "Mas é óbvio que o Grayfoots estão envolvidos
em todos os três."
"Então o que nós vamos fazer?" Dess perguntou.
"Jessica, você deve descobrir o que puder sobre a pista com sua mãe", Rex disse. "Mas
também precisamos voltar para a casa de Constanza. Há toneladas de papéis que não tive tempo
de olhar. E, mapas e outras coisas que Dess pode ser capaz de descobrir."
"A casa de Constanza?" Jessica reclamou. "O que, a noite passada não foi um desastre
suficiente para vocês?"
"E agora o Darklings estarão nos esperando", Dess acrescentou. "E o Grayfoots sabem
que estamos atrás eles, graças a vocês dois. "
"Sim, ok", Rex disse. "Nós irmos sozinhos foi burrice. Mas desta vez todos os cinco vão
estar lá. Os Darklings não ousarão mexer com a gente se Jessica estiver lá desde a chegada das
doze. E com mais pessoas podemos pesquisar mais rápido, espero que sem destruir o lugar. "
"O que quer dizer com „desde as doze‟?", Jéssica perguntou. "Voar por aí toma tempo."
“Não haverá tempo para voar", Rex disse. "É perto do deserto, precisamos de você por
volta da meia noite, se queremos evitar outra batalha."
"Você não espera que eu passe a noite em Constanza, não é?" O medo de Jessica dos
Grayfoots atravessou o barulho da cafeteria, com o sabor de leite azedo. "Eles não estão nem
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mesmo ficando lá, vocês os assustaram muito."
“Isso é ótimo”, Rex disse. “Você pode passar a noite com Dess. Melissa e eu te pegaremos
antes da meia noite. Nós vamos todos juntos.”
“E quanto a mim?” Com o pensamento de ser deixado de fora, Jonathan estava agarrando
o braço de Jessica agora.
“Voar ou dirigir.” Rex deu de ombros. “É sua escolha.”
Ninguém disse nada. Melissa podia sentir a duvida em todos eles, mas eles estavam com
mais medo de não fazer nada. Todos começaram a ficar paranoicos com os seguidores de
Darklings.
"Tudo bem, então, nesta sexta?" Rex disse, sorrindo. "Todos os cinco juntos à meia noite
de novo?"
Ninguém discordou.
"Bem, yee-ha", Melissa disse baixinho, mas nenhum deles a escutou acima do barulho.
Enquanto Melissa andava com Rex para sua aula de história, o turbilhão foi deixado atrás
de si, sua mente se acalmando em lentas etapas. Em comparação com o cafeteria, o resto da
escola era moleza, e seu sentidos se aguçavam a cada passo.
Melissa já havia lido algo em uma parede do banheiro da estação de ônibus: O que não me
mata, me deixa mais forte. A sentença tinha atravessado ela, em parte por causa da coisa mais
estúpida que ela já tinha lido. Coisas que não te matava, poderia te deixar aleijado, ou surdo e
cego, ou simplesmente louco.
Nada que contaria como mais forte no livro de Melissa. Mas o cara do banheiro tinha um
ponto. Às vezes, não morrer, como não ser apagada por todos esses anos de barulhos mentais
de Bixby High, podia ter uma recompensa. Sobreviver a desordem na cafeteria, em vez de
combatê-la deixou sua cabeça mais clara, Melissa teve que admitir que se sentia um pouco mais
forte.
Enquanto eles caminhavam, ela provou um brilho nervoso na mente Rex.
"Relaxe, Loverboy. Desde quando você teve problemas com uma prova de história?"
"Eu vou matar o teste", ele disse. "Estou muito mais preocupado sobre descobrir o que vai
estar acontecendo na hora."
"Na hora de quê?"
"Nós deixamos uma confusão em Constanza. Eu ouvi boatos sobre isso o dia todo. O
Grayfoots devem saber que sabemos sobre eles agora. Eles vão agir contra um de nós em
breve."
"Talvez", ela disse. "Então nós revistaremos a casa de Constanza, como você disse."
Ele parou e olhou para ela. "Você estava me ouvindo?"
Ela sorriu. "Eu sempre escuto. Ou tento, pelo menos. Então, o quão difícil pode ser
descobrir o que eles estão fazendo?
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Rex suspirou. "Muito. Nós não sabemos o que estamos procurando, e pode ser que
Grayfoots já tenham limpado as provas em Bixby. Se não encontrarmos nada na sexta-feira, isso
nos deixa ir a Broken Arrow, onde nós não estamos protegidos pela hora secreta. E do jeito que
são os pais de Jéssica, nós não podemos levá-la a parte alguma na hora real."
"Podemos corrigir o modo como eles são, Rex."
Ele balançou a cabeça. "Nós já fizemos o suficiente disso."
Melissa sentiu o sabor amargo da culpa de Rex apodrecendo – um exemplo perfeito de
algo que, enquanto não te matasse, poderia te deixar muito, muito louco.
"Ok, tanto faz. Talvez Dess possa ajuda. Seu último projeto parece ter se acalmado. Não
há muito atividade cerebral hoje, exceto o sentimento presunçoso sobre si mesma. Ela vai
procurar por algo para afundar seus dentes. Nós podemos lhe mostrar o que encontramos no
cérebro de Angie."
"Certo... mas se você tiver que...?"
Ela sentiu isso nele novamente, a emoção enjoativa que tinha cintilado através dele antes
da luta na noite passada, possessiva e ressentida.
Ela reduziu o passo enquanto a emoção subjugava sua mente, colocou uma mão em sua
cabeça.
"Rex, relaxa." Pessoas passavam por eles, os ombros se acotovelando, punindo sua
resposta delicada.
"Desculpe." Ele a puxou para fora do fluxo e se inclinou contra a parede.
Ela abriu os olhos e respirou fundo. "Como eu sequer pensasse em fazer isso." O
pensamento da pequena aglomeração de cálculos zumbido em Dess no seu cérebro, fez Melissa
doente.
Mas Rex simplesmente ficou lá, mordendo seu lábio forte o suficiente para ela sentir isso.
"E se essa for a única maneira de mostrar a ela o que você conseguiu da mente de Angie?", ele
perguntou.
Melissa afundou as costas contra os armários, desejando que ele parasse de ficar
obcecado com isso. Seu cérebro viajava no pensamento sobre caminhos já desgastados, como a
mente de alguém que passou a noite toda memorizando uma única fórmula. Ela focou sua mente
sobre o forte nó da combinação do cadeado pressionado em suas costas.
"Não só as imagens", Rex continuou, "mas as coisas que Dess pode usar. Eu não posso
levar todos aqueles números na minha cabeça. É principalmente símbolos matemáticos que eu
nem sei os nomes. Você pode ter que tocá-la para - "
"Pare!", ela gritou.
As emoções dele estavam torcendo suas entranhas, como se uma jiboia estivesse
rastejando dentro dela e começasse a apertar. Melissa quase não podia respirar, o ruído da
mente de seu ciúme enfurecido como a cafeteria, cada porção invadindo e muito mais pessoal.
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Ela engasgou no gosto dele, e o mundo desapareceu por um momento.
E ela viu o que estava enterrado na mente de Rex, tão profundo que ele mal podia
vislumbrar isso por si mesmo.
Isso não era sobre Dess. Era sobre aquela noite a duas semanas atrás, quando ela tinha
tomado a mão de Jonathan. Tinha sido horrível – ela podia ainda sentir o sabor de surpresa do
acrobata, no que ele tinha sentido dentro dela, sua pena insípida rolando para dentro de sua
cabeça enquanto eles tinham voado. Mas a mente de Rex estava borbulhando em uma única
coisa: antes de permitir a ele entrar em sua mente, Melissa tinha compartilhado a si mesma com
o Piloto, cuja existência era há muito uma afronta a autoridade de Rex.
Quando ela abriu os olhos, Rex a estava segurando, sua cabeça virou-se para manter a
pele nua de seu rosto longe da dela. O corredor estava quase vazio, mas as pessoas estavam
olhando para eles.
Melissa o empurrou. Merda. Seu rosto estava molhado.
"Eu não faria isso com você, Rex. Aquela vez com Jonathan foi péssimo, tá certo?"
"Você podia ter."
Ela olhou dentro dos olhos de Rex, deixando suas emoções inundarem através dela, sem
resistência, se perguntando se ele entendia quantas vezes ela tinha tido uma dor de cabeça por
alguma discussão amorosa idiota que parecia exatamente assim: sem propósito, obsessiva e vã.
Melissa tinha sido forçada a uma dieta de ciúme ouvida por acaso, nessas salas há anos. A
última coisa que ela precisava era a mesma coisa de Rex. Ele não percebia que se ela tivesse
aprendido alguma coisa dos dezesseis anos na cabeça das outras pessoas, era que trair seus
amigos era um jogo de idiotas?
O sinal tocou. Rex estava atrasado para o teste.
"Você pode ter", ele repetiu.
Ela balançou a cabeça. "Experimente e me faça."
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6h:28min da Tarde
TRANSORBITAL
A noite Beth Espaguete retornou inesperadamente.
Em Chicago, Beth tinha feito o jantar para a família toda noite cada quarta-feira nos últimos
quatro anos. Desde que ela tinha nove anos, ela fazia o mesmo molho, usava a mesma medida
de espaguete (nº. 18), e aplicava a mesma regra simples: os outros eram permitidos na cozinha,
mas só Beth poderia tocar nos alimentos antes da hora de comer.
Quando o cheiro familiar de tomate cozinhando em fogo brando escapuliu para o quarto de
Jessica, ela olhou para seu calendário de mesa por um momento confuso, em seguida, jogou seu
livro de física e correu pelo corredor. Sua irmã se voltou da panela borbulhante e lhe disparou um
olhar para informá-la que a regra ainda estava em vigor.
Jessica encostou-se no batente da porta e sorriu. À noite, Beth Espaguete tinha sido uma
das pequenas e importantes coisas perdidas na mudança, como o manual do VCR ou o limpador
de para-brisa34 de seu pai, quase esquecido entre todos os outros deslocamentos.
Mas em algum lugar lá dentro, Jessica já sabia, ela tinha saudades disso.
"Cheira bem", ela disse.
"É bom", Beth respondeu.
Jessica quis atravessar a cozinha e abraçar sua irmã, mas o cheiro e a visão de Beth ao
trabalho pareceu muito frágil para se desfazer. Além disso, ficar tão perto do fogão poderia
implicar em uma infração da regra.
"Não finja que você está de mau humor, Beth."
"Eu não estou."
"Não finge ou está de mau humor?"
"Nenhum dos dois.” Beth virou-se para olhar Acariciandote no pulso de Jessica, como se
para tranquilizá-la que nenhuma quantidade de massa devia implicar que ela tinha sido perdoada
pelo incidente do armário.
Jessica suspirou. "Eu disse que estava arrependida.”
Beth não respondeu. Dois dias de tratamento do silêncio tinha sido sua única retaliação
para a noite antes de ontem, mas estava lentamente começando a tocar Jessica. Esta era a
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Windshield scraper – é um raspador de para-brisas, para raspar neve.
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suprema vantagem em posse das caçulas choronas: faziam o seu silêncio ainda mais assustador.
Mas, um momento depois, Beth se virou e disse o impensável: "Quer provar?"
Jessica ficou paralisada por um momento. Mas quando sua irmã estendeu o braço, ela
forçou seus pés a atravessarem a cozinha, tentando reprimir a suspeita de que a colher estava na
verdade preenchida com molho de pimenta extra forte, ou ácido de bateria, ou pior. Ela soprou
suavemente, e uma gotinha vermelha respingou no chão de azulejos brancos. Ele certamente
parecia e cheirava a molho de espaguete. Jessica fechou olhos e envolveu sua boca ao redor da
colher de madeira densamente preenchida.
Ele não estava terminado ainda, mas o familiar sabor amanteigado das cebolas quase
demais reduzidas, preencheram ela de alívio. Esse não tinha sido um plano de vingança
elaborado, afinal.
"Está ótimo."
Beth concordou. "Eu te disse." Ela se voltou para a panela. "Então eu posso encontrar esse
cara?"
Jessica piscou. "Jonathan?"
“Duh.”
“Claro. É claro. Você poderia amanhã. Ele me trás para casa da escola.” As últimas
palavras trouxeram momentaneamente a imagem de Ernesto Grayfoot, mas Jessica a retirou de
sua mente, esperando não arruinar o momento.
“Próxima vez que ele vier, direi a ele um oi. Você sabe, se eu não estiver trancada em um
armário ou algo assim.”
Ela sorriu. ”Ok, Beth.” Perdoada finalmente.
O tinir de chaves na porta da frente foi captado pela orelha de ambas, e o assunto foi
deixado. Mas Jessica o sentiu entre elas, depois de tudo, um segredo compartilhado.
Os sons de aproximação pararam perto da porta da cozinha, e Jessica se virou para se
juntar ao olhar da mãe de surpresa. Uma sacola de mercearia tombava contra seu colo,
projetando talos de aipo sugerindo alguma refeição planejada agora sendo abandonada as
pressas na cabeça da mãe.
“Ah... eu comprei...”
“Não sobre o balcão.”
Jessica levantou os ofensivos mantimentos do aperto de sua mãe e os removeu
seguramente para a sala de estar.
“Mãe, eu poderia passar a noite na casa de Dess nesta sexta-feira? "
"Quem é Dess?"
Beth se afastou de sua culinária. "Você tem uma amiga chamada Dess, Jess?"
"Sim, é uma confusão", ela disse com um sorriso. "Seu verdadeiro nome é Desdêmona.
Ela está na minha aula de trigonometria, e seria ótimo se pudéssemos sair e, você sabe,
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estudar?" Jessica inclinou ambos os cotovelos na mesa da cozinha e sorriu, perguntando se sua
ênfase na última palavra tinha sido demasiadamente óbvia.
O ângulo do estudo era a maneira mais fácil de trabalhar a culpa de sua mãe. Tinha sido
ideia dela inscrever Jessica em todas as classes avançadas após a mudança.
Mas o lado de planejamento da mãe assumiu. "Você não já passou o domingo estudando
com Rex?"
"Sim, isso foi com história."
"Sim, mas você usou o seu dia fora do castigo para ir lá, Jessica."
"Não, „história„ como na semana passada."
"Eu pensei que seu pai disse que contou como esta semana." Ela apontou para o
calendário na parede da cozinha, onde a semana começava no domingo e terminava no sábado.
Jessica olhou de soslaio para ele. "De jeito nenhum! Domingo é o fim de semana, então a
semana terminou e agora é esta semana."
A mãe dela abriu a boca, mas apenas um suspiro exausto surgiu. Ela estendeu as mãos.
"Claro. Ótimo."
Jessica sentiu um solavanco por dentro, como se ela estivesse em um carro que tivesse
freado rapidamente, seus argumentos empilhando uns sobre os outros como crianças sem cinto
no banco traseiro. (Primeira lei do movimento, o seu novo volume de física a informava) Beth
virou-se da água ainda-não-fervente para lhe jogar um olhar metálico. A mãe que nunca teria
desistido tão facilmente em uma discussão técnica em Chicago, antes de um longo dia na
Aerospacial Oklahoma, tinha começado a se dar por vencida. Ao invés de uma onda de vitória,
Jessica só sentiu pena dela.
Ela tentou sorrir. "Ah, ótimo. Legal. Então, como funciona?"
Um suspiro suave. "De forma viável."
"É isso? Vamos lá, mãe. Você está lá, tipo 12 horas por dia. Deve haver algo que contar."
Jessica deu de ombros. "Que tal a pista que estão fazendo?"
A mãe olhou para cima, um pouco confusa. "A pista?"
"Yeah, você não está em algum tipo de comitê?" Jessica tentou parecer casual, como se
ela sempre tivesse conversas sobre pistas de emergência. "É só que esses garotos estavam
falando na escola", tecnicamente não é uma mentira, “sobre como algumas pessoas na cidade,
não querem que vocês a construam?"
A mãe assentiu, cansada, depois se inclinou para trás até que sua cabeça repousasse
contra a parede da cozinha.
"Na escola também? Cristo. Eu tenho lidado com isso todos os dias. De repente, a cidade
inteira ficou louca com essa coisa. Eu pensei que ser da comissão ia ser uma boa."
"Então, me diga tudo sobre ela."
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"Bom..." Sua mãe fez uma careta. "Eu tenho falado sobre freios à ar, certo?"
"Sim, isso foi logo depois dos pássaros e das abelhas", Beth falou.
"Claro, mãe", Jessica disse, ignorando sua irmã. "Esse barulho alto e assustador depois
que você aterriza, que é a inversão dos motores para desacelerar o avião."
"Exatamente. Bem, e não assustava com isso, porque isso quase nunca acontece..."
"Mais seguro do que dirigir. Certo, mamãe?"
Ela ignorou Beth. "Mas às vezes o mecanismo de freio à ar falha no espaço entre o céu e
terra. Uma luz se acende na cabine, então eles sabem antes de pousar, mas eles têm que levar o
avião para uma pista especial que é bastante longa. Elas são colocadas em todo o país, mas
principalmente no centro. E eles estão construindo mais agora, porque as pistas extras são
realmente importantes, se ... bem ... se, de repente, você tem que aterrizar cada avião no país de
uma só vez. Sabe?"
"Sim, mãe", Jessica disse em tom tranquilizador. "Beth e eu sabemos sobre os garotos,
sabemos sobre drogas, e sabemos sobre terrorismo."
A mãe sorriu cansada. "Bem, ok, eu acho. Contanto que vocês digam não."
"Dois em cada três", Beth resmungou.
Jessica atirou um olhar, mas a caixa tinha estourado em ebulição, e o espaguete
deslizando de sua caixa, prometia que Beth estaria ocupada pelos outros próximos minutos. Ela
se virou para a mãe.
"Então, como alguém poderia ser contra?"
"Ninguém era. Então, de repente, há todos esses anúncios no Register. Nós pensamos
que todo esse movimento é uma invenção dessa família do petróleo em Broken Arrow que
querem perfurar lá. Embora, eles devam estar loucos." Ela chutou sua bolsa de couro do trabalho
no chão ao lado dela. "O nosso geólogo diz que não há nada nas salinas que valha perfurar,
mineração, ou até mesmo para se olhar."
Os olhos de Jessica se desviaram para a bolsa.
"Relatórios geológicos? Legal."
"Perdão?"
"Quero dizer, eles podem ser interessantes de se olhar", ela disse.
Talvez não para qualquer pessoa normal, mas Dess morreria por um vislumbre de algo
como um mapa e numerações que tinham haver com a pista. Ela e Jonathan poderiam voar até lá
hoje à noite, e Dess teria uma meia hora ou mais para devorá-los.
"É só que todos estão falando sobre isso na escola. Talvez eu possa fazer um relatório ou
alguma coisa."
A mãe riu e deu outro chute desdenhoso na bolsa. "Fique a vontade. Mas os Grayfoots não
vão admitir que se trata de petróleo. Eles conseguem que a prefeitura trabalhe em expansões
sônicas e explosões experimentais, como nós construindo a pista para testar os transorbitais ou
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algo assim."
"Claro, eu acho que eu ouvi sobre isso também. Ei... transorbitais?" Jessica disse
suavemente, levantando os dedos da mesa um por um.
Sua mãe concordou. "Sim, eu disse a você sobre isso. Os aviões que entram em órbita
baixa? Eles podem voar de Nova York a Tóquio em apenas - "
"Treze!"
“O quê?
O sorriso triunfante de Jessica diminuiu, e ela viu que Beth tinha se virado para olhar
também.
"Uh, é só que transorbitais tem... hum, treze letras."
"O quê?" Ambas disseram.
"Que cheiro fantástico é esse?" Donald Day apareceu na porta da cozinha, deixando cair o
saco de golfe no chão com um chacoalhar.
"Eu vou pôr a mesa." Jessica disse rapidamente. "Deixe-me tirar isso do seu caminho."
Ela puxou a mochila pesada do chão e a arrastou para a sala de estar, colocando ela ao
lado das compras banidas não relacionadas ao espaguete. Ela notou sua exata localização para
reconhecimento posterior, no qual esperava que sua mãe suspendesse todos os trabalhos
domésticos, em comemoração a edição em Oklahoma da primeira de Noite Beth Espaguete.
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03h:48min da tarde
REUNIÃO DO CHÁ
"Ada", Dess disse.
Ela viu o conhecimento partir. Um momento a casa amarrotada portava o fascínio e a
promessa, a visão dela a preenchia com a fascinação e a emoção do sigilo. Poucos segundos
depois, ela era apenas mais um casa, as janelas com cortinas nada significando, como uma
porção de outros lugares degradados que ela tinha visto no caminho até aqui, sem um segundo
olhar.
Exceto que parada lá, sem se lembrar de nada, Jessica deu uma segunda olhada. A
geometria exata de suas calhas quebradas e a varanda cedida despertava algo dentro dela, uma
súbita, necessidade inexplicável de falar um nome alto.
“Lovelace”, ela sussurrou
A porta em sua mente foi reaberta, e Dess vacilou em seus pés. A história secreta de Bixby
inundou de volta em sua mente – o sequestro da vidente e os sobreviventes escondidos, a
convulsão crepuscular e a luta perdida para o ar-condicionado - junto com as memórias de mapas
e cartas que ela tinha estudado aqui, tudo o que ela tinha aprendido do arquivo secreto. E
surgindo do fluxo de conhecimento estava o prazer de lembrar que tudo isso tinha sido revelado a
ela e só para ela.
Dess sorriu. Abrir e fechar a porta em sua mente era legal. Talvez mais uma vez...
"Pare de brincar aí fora! Você está me dando uma dor de cabeça."
Dess pulou pela chamada explodindo da casa. O que tinha haver mau humor e telepatas?
Ela foi pelo caminho coberto de folhas e através da porta de tela sem bater. Ser gritada,
contava como sendo convidada a entrar.
"Cuidado para não bater com a cabeça", Madeleine disse, puxando uma corda que pendia
do teto. A escada do sótão descia, como a prancha de um disco voador pertencente a
alienígenas, que eram realmente molas enferrujadas. Quando o degrau final tocou o chão, a
velha subiu com passos rápidos e confiantes.
Dess olhou com ar de dúvida para a bandeja de chá que ela segurava.
“Bem, vamos lá. Não deixe ele esfriar. Se eu posso trazer isso aqui em cima, com certeza
uma pessoa jovem como você pode.”
Dess fez uma careta para a comparação injusta. Ela não tinha visto Madeleine carregar
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nada mais pesado que um pedaço de papel enrolado. Mas ela colocou um pé na escada
vacilante, trazendo uma minúscula queixa das molas antigas. Outro passo acima e ela descobriu
seu equilíbrio, os objetos na bandeja começando a bater como os dentes.
“Vamos lá, garota! Não demore.”
Por que alguém iria querer construir uma casa com um sótão aqui em Oklahoma, Dess não
sabia. Seria uma armadilha assassina de calor no verão e implacavelmente preenchida o ano
todo com poeira. Ela continuou a subir passo a passo, alcançando o topo com apenas um
momento de terror cego, quando seu centro de gravidade se deslocou, a bandeja a empurrando
para trás como uma mão pesada, antes cedendo e permitindo ela prosseguir.
Uma vez que Dess tinha passado o portal, Madeleine levantou o fardo de seus braços e
disse: “Faz muito tempo desde que eu tive o meu chá aqui em cima."
"Ai meu Deus, eu me pergunto por que", Dess resmungou.
Mas enquanto ela entrava no sótão, seu aborrecimento virou surpresa. Dess esperava um
ferro velho, como o resto da casa, multiplicado pelo seu estado de porão. Mas estava quase vazio
aqui, sem mobília, nada, exceto uma pilha de almofadas em um canto. Uns poucos trecho de sol
da tarde iluminava o ar empoeirado, brilhando através das frestas nas pequenas janelas pintadas
no alto. As vigas do telhado encontravam-se acima, deixando espaço suficiente apenas para ficar
de pé.
Com um andar agachado, Madeleine carregou a bandeja de chá para o canto com as
almofadas e começou a arrumar os pratos, gritando: "Isto pode explicar as coisas." Ela jogou o
pedaço enrolado de papel para Dess.
Desenrolando ele, Dess imediatamente reconheceu os ângulos da casa, uma planta de
três quartos, desenhada antigamente, antes que o lugar começasse a ceder. Era como o mapa
de Bixby de Madeleine, marcado com os turbilhões e redemoinhos de meia noite, mas em escala
para mostrar detalhes incríveis. Dess franziu a testa e tirou Geoestacionário, checando os dígitos
de alta precisão, sem esforço convertendo o curioso plano em pés e polegadas para metros e
centímetros.
Ela olhou ao redor do sótão novamente, vendo as suas dimensões claramente agora, e
seus olhos caíram sobre o canto ocupado pela bandeja de chá. Claro, bem ali, onde Madeleine
havia colocado sua própria almofada...
"É daí que você se projeta.” Dess exclamou.
"Eu sabia que a sua compreensão do óbvio não falharia."
Dess ignorou a zombaria e olhou para o diagrama, afundando em suas geometrias. Não
era de se admirar que tinha construído um sótão para a casa! Este era o ponto onde a contorção
crepuscular se abria para o resto da meia noite, um espelho de uma via, por trás do qual
Madeleine estava escondida, mas do qual ela podia observar, sem se revelar e talvez até mesmo
...
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"Ei, você ajudou meus amigos anteontem à noite? Colocando algo em suas cabeças?"
Madeleine hesitou, a xícara se derramado diante dela, e lançou um olhar frio para o outro
lado do sótão. "Não poderia ser evitado."
Dess ergueu as sobrancelhas. "Uh, na verdade eu acho que eles apreciaram isso. Ou
teriam, se estivessem sabendo o que diabos estava acontecendo. Rex e Melissa seriam comida
até Jess aparecer."
"Concordo. Venha aqui e se sente." Madeleine derramou mais chá. "O leite, sem açúcar,
certo?"
"Claro", Dess disse, indo agachada até a sua almofada, o cheiro de chá rodando em seu
estômago. Um pouco de leitura de mente. Madeleine nem sabia que ela detestava chá, até
mesmo aqui no céu dos telepatas, a mãe de todas as cortinas do mergulho psíquico. Embora
talvez porque Dess estava aqui sozinha, sua mente estava blindada também. O que era um
pensamento reconfortante.
"Para alcançar aquela distância, durante a meia-noite..." Madeleine sacudiu a cabeça.
"Eles me sentirão."
"Melissa com certeza. Jonathan e Jessica também."
"Não eles, sua simplória. Os antigos no deserto."
"Caramba, me desculpe." Mais mal - humor.
"Eles estarão procurando por mim agora." Madeleine olhou para cima e firmou seus olhos,
muito séria.
Dess assentiu. Não era de se admirar que ela estivesse em tal estado de péssimo humor.
O pequeno estrago de Rex e Melissa em Constanza tinha custado a Madeleine sua cobertura
psíquica. Quarenta e nove anos de segredo jogados fora, porque eles não tinham se incomodado
em deixar um recado claro.
"Sim, aqueles dois não têm suas cabeças muito no lugar ultimamente", Dess disse.
"Eles estão fazendo algo psíquico desagradável com o outro, que tem feito eles agirem...
estranho."
Madeleine lhe atirou um olhar. "Eu sei sobre isso também, é claro. Pensar que há algo de
errado com uma telepata tocando outro Midnighter é um monte de bobagem. Isso está ajudando
Melissa a ganhar controle." Ela balançou a cabeça. "Se eu pudesse tê-los guiado, eles poderiam
ter começado há muito tempo."
Dess franziu a testa, lembrando-se que Madeleine tinha tocado nela também, casualmente,
quando ela tinha saído daqui na terça à noite. Um contato de alguns segundos entre os dedos e
bochechas era tudo o que tinha levado, e da abertura da porta da garagem mental que escondia
o novo conhecimento de Melissa, havia sido instalado.
Dess assistiu ao leite rodando em seu chá – uma colisão de duas galáxias, uma clara, uma
escura.
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"Bem, você não estava guiando ninguém, você estava se escondendo."
Ela olhou para cima, esperando uma bronca.
"De fato", foi tudo o que Madeleine tinha a dizer.
Dess tomou um gole de chá: uma explosão de ácido combinado com um indício inquietante
de flores. Ela apertou os lábios. Por que ela sempre acabava bebendo a coisa? Maldita pressão.
Madeleine mexeu o chá, o tilintar de metal e porcelana enchendo o sótão.
"Eles estarão com mais medo de vocês agora, se suspeitarem que vocês não são mais
órfãos. Eles podem ir contra vocês mais cedo do que eu esperava."
"Ir contra nós", Dess repetiu secamente. Rex continuava a dizer isso também, como este
era um jogo de xadrez.
"Sim, esse é o porquê eu te chamei aqui hoje."
“Me chamou ...?" Dess bufou. "Eu tinha a esquisita noção que vir aqui foi ideia minha."
Noite passada, Jéssica e Jonathan tinham aparecido durante a hora secreta com uma pilha
de relatórios de geologia da Aeroespacial Oklahoma, incluindo um mapa detalhado da pista
planejada. Durante este período de estudo desta manhã, Dess subitamente percebeu que ela
devia cruzar as informações de Jessica com o arquivo daqui.
Mas talvez Madeleine tivesse posto essa inspiração em sua cabeça, como ela tinha
mostrado a rota a Jonathan para Constanza.
Dess fez uma careta. Se isso era um jogo de xadrez, ela só tinha sido rebaixada como
peão. Que era uma merda. Toda a razão para que ela tenha trabalhado tão duro nas
coordenadas e na meia noite, era para ter sua própria coisa, um pedaço da meia noite separada
dos outros quatro, como eles tinham suas realidades privadas de casal.
Ela tomou um longo gole de chá, seu sabor ácido combinando com seu humor.
“Todos os telepatas são tão manipuladores?”
Madeleine levantou uma sobrancelha. “Manipuladores?”
“Uh, sim. Talvez os Darklings nem mesmo se incomodem mais com você. Talvez você só
esteja por aqui por que você se diverte puxando as cordas das pessoas. E ocasionalmente – e
relutantemente – nos ajudando.”
“Ajudar vocês? Eu não só ajudei vocês, mocinha. Eu fiz vocês.”
Dess piscou. “Como é?”
Madeleine colocou no lugar sua xícara e pires firmemente na bandeja, com um olhar tão
intimidador que Dess se inclinou em sua almofada. Um telepata realmente fazia qualquer coisa
com seu toque? Ela se perguntou. Madeleine tinha colocado um bloqueio mental em seu cérebro
com um roçar de seus dedos – ela poderia simplesmente jogar a bandeja e acertar o interruptor
de apagar, deixando ela um idiota babante? Os dedos de Dess se flexionaram, alcançando o
peso reconfortante de Geoestacionário no bolso da jaqueta.
“Quantos segundos tem em um dia, Dess?” Madeleine perguntou suavemente.
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“Oitenta e seis mil e quatrocentos”, ela replicou automaticamente. ”Duh.”
“E quantos novos estudantes tem Bixby High nos últimos três anos?”
Dess deu de ombros. ”Eu não sei... dez?”
“E quantas dessas por acaso são Midnighters?"
Um choque percorreu Dess. Dois... Jessica e Jonathan.
"Oh meu Deus." Sua cabeça começou a girar, calculando as probabilidades.
Tudo depende de quão próximo você tinha que ter nascido da meia noite para ver a hora
secreta. Mas mesmo se uma pessoa nascesse dentro do minuto, um ou outro se tornava um
Midnighter, ainda seria apenas um em cada 720 pessoas, e não dois em cada dez. E se você
tivesse que nascer dentro de um segundo ou assim, as chances sobem para cerca de quarenta
mil por um, o que faziam as chances de dois Midnighters aparecendo em seguida em torno de 1,6
bilhões por um, caso em que dois em dez era... bastante malditamente improvável.
Dess percebeu, com horror crescente, que ela tinha feito a coisa que mais odiava, rangia
mais os dentes a cada dia, e constantemente criticava sempre que alguém ouvisse...
Ela não tinha feito as contas.
"Tão famosa pela minha compreensão do óbvio", Dess murmurou.
Ela pensava que a mãe de Jessica e seu sortudo novo trabalho Aerospacial Oklahoma, e o
pai de Jonathan e seus problemas com a polícia que o obrigaram a se mudar de Pittsburgh...
como se qualquer um se mudasse para Bixby para fugir de policiais. Ela olhou para o outro lado
da bandeja de chá.
"Você tem estado jogando as pessoas ao redor."
Madeleine sorriu.
“E quanto a nós três?" Dess continuou. "Todos os nascidos em Bixby dentro de um ano de
cada outro? Isso deve ser um acaso aleatório, como os dinossauros atravessados por um
meteoro!”
"Eu tenho que estar muito quieta à meia-noite", Madeleine disse suavemente. "Mas, anos
atrás, eu podia me projetar livremente durante o resto do dia. Quando uma mulher está em
trabalho de parto, sua mente é muito aberta a sugestões. Se ela for empurrada para o momento
certo... "
Dess sentiu-se mal do estômago. Sem nem mesmo se empenhar em disfarçar isso. Ela
tomou cada significado que já tinha pensado sobre Melissa, porque aqui, agora mesmo, ela
estava sentada e tomando chá com a maior rainha vadia de todos os tempos.
"Isso só funciona uma vez em cem”, Madeleine disse. "Depois do meu sucesso, eu estava
exausta."
“Mas Jonathan e Jessica se mudaram para cá vindo de centenas de quilômetros de
distância... você esta dizendo que pode bagunçar com pessoas nessa distância toda em
Chicago?”
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“Dentro desta contorção eu posso sentir os Midnighters em potencial por todo o continente,
então eu sabia que Jessica era especial. E na minha idade eu não preciso tocar daylighters para
mudar suas mentes. Mas eu fiz um bom trabalho aqui em Bixby, certificando que certos
executivos da Aeroespacial Oklahoma formassem uma boa opinião sobre a mãe de Jessica.”
Dess estreitou seus olhos. “O pai dela perdendo o emprego ao mesmo tempo?”
“Ele estava prestes a isso”, Madeleine bufou. “Não é preciso ser um telepata para fazer
uma companhia chamada sockmonkeys.com35 sair dos negócios.
A pele de Dess ainda estava formigando, a sensação de estar sendo manipulada... criada
por alguém, fez ela querer fugir direto pela escada frágil e pela porta afora. Mas ela tinha que
fazer mais uma pergunta:
"Por quê?"
"Para salvar Rex e o conhecimento."
"O que quer dizer, salvar Rex?"
"Ele é mais velho que você e Melissa, e ele nasceu naturalmente à meia-noite, um vidente.
Ele era a minha oportunidade de criar uma nova geração. Sozinho, Rex teria ido a loucura e a
irrelevância. Ele precisava do resto de vocês para liderar e para protegê-lo da escuridão.”
Dess se lembrou das histórias de Rex sobre ver as marcas que mais ninguém podia ver,
pensando que ele era louco e que o mundo azul congelado era um sonho. Ela lembrou de seu
próprio terrível isolamento, antes que Melissa tivesse finalmente a encontrado. Uma vida inteira
sendo um Midnighter solitário teria sido terrível.
É claro que Madeleine sabia tudo sobre enfrentar a hora secreta sozinha...
"Então você atraiu todo o restante de nós só por causa de Rex?"
"Telepatas sempre recrutaram Midnighters de longe, Dess", ela disse. "Tem sido feito desta
forma há milhares de anos. As antigas tribos mandariam grupos guerreiros para sequestrar
crianças com o dom. E no século passado, haveriam telegramas com ofertas de emprego. Minha
própria mãe foi trazida para cá como uma professora, quando eu era uma criança. Este é um
depósito de pó, Dess. Ele nunca foi um lugar populoso."
"Ah." Ela tomou um gole, sua mente ainda se recuperando. "Eu simplesmente não tinha...
feito a matemática."
Houve um longo silêncio, em que Dess se concentrou em não se sentir como uma
marionete. Bixby era tão pequena - é claro que eles teriam que trazer Midnighters de fora. Caso
contrário, você nunca teria mais que poucas décadas, debilmente bisbilhotando a hora secreta
sozinho, sem saber se aquilo era real ou não.
Deixando sua mente vagar, Dess encontrou-se perturbada pela fraca, mas crescente
possibilidade que ela estivesse começando a gostar de chá quente. Ela se perguntava se
35
Sockmonkeys.com é uma companhia verdadeira que faz bonecos de macacos de pano.
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Madeleine estava se aproximando de sua mente agora mesmo, mudando os neurônios na cabeça
de Dess, um por um, até seu paladar germinasse numa configuração correta.
Ou talvez beber chá era como descobrir algum fato novo horrível, e como uma má notícia:
eventualmente, você se acostumava a ela.
"Então o que devemos fazer para sobreviver?", ela disse, depois de um tempo. "Quer dizer,
eu não gostaria de perder seus dezesseis anos de investimento.”
"Esse é o espírito", Madeleine disse. "E o meu pedido é muito simples: você tem que
acabar com a ameaça dos Grayfoots para sempre."
Dess bufou. "Ah, isso é tudo?"
“Mais fácil do que você poderia pensar, Desdêmona. Anathea está definhando."
"Por quê? Ela vive apenas uma hora por dia, logo cinquenta anos foi apenas alguns anos
para ela, certo?"
"Eles a tomaram muito jovem. A metade humana do seu corpo está sendo consumida por
seu lado Darkling. Quando ela morrer, os Darklings não terão como se comunicar com seus
aliados humanos. E, com a portadora da chama aqui em Bixby, os Darklings não se atreveria a
agir contra qualquer um de nós. Eu poderia até mesmo ser livre de novo."
Os olhos de Dess se arregalaram. Talvez isso tivesse sido a real motivação de Madeleine
o tempo todo. Não era sobre salvar Rex, era sobre levantar seu próprio exército particular para
libertá-la do castelo de contorções crepuscular.
"Então nós só temos que esperar o halfling morrer?" Ela perguntou.
Madeleine sacudiu sua cabeça. "Eles vão tentar fazer outro, com o meu Rex. Mas você
deve se assegurar que eles nunca o façam, Dess."
Ela engoliu em seco. "Como?"
Madeleine inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Por um momento ela pareceu
como Melissa quando ela estava se projetando - sua expressão sensual e ainda desumanamente
distante.
"Unir um ser humano com um Darkling é um negócio complicado. O lugar onde Anathea foi
transformada deve ser especial, como é único o local onde estamos sentadas agora. Você deve
levar Jessica lá e destruir o terreno com o poder da portadora da chama. Uma vez que a luz
branca arda lá, ele será destruído." Ela abriu seus olhos. "Eles nunca farão outro halfling
novamente."
"Tudo bem", disse Dess. "Me diga aonde."
Madeleine encolheu os ombros. "Eu temo que não haja nos velhos mapas, e é tão oculto
quanto este que estamos aqui. Você terá que encontrá-lo por si mesma."
Dess mordeu seu lábio, lembrando-se dos mapas e pastas que Jéssica e Jonathan tinham
trazido na noite anterior, o ponto negro da pista se sobressaindo no deserto, a sua simples
geometria misturada com os redemoinhos e turbilhões de meia-noite.
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E de repente, sem saber exatamente onde seu alvo permanecia, Dess percebeu o que
tinha deixado os Darklings em pânico.
“Você sabe sobre a pista?”, ela perguntou.
Madeleine acenou, sorrindo lento e regiamente, sua expressão como a de um gato.
“Por que Desdemona. Não é uma sensação agradável sentir quando suas manobras
superam o óbvio?”
No caminho de casa, Dess se perguntou por que ela estava ajudando Madeleine.
A mulher tinha arrastado ela ao redor como um cachorro em uma coleira, manipulando
seus sonhos sem pedir. Ela tinha lacrado uma parte da memória de Dess e a manteve fechada
para proteger ela mesma dos Darklings. E ela tinha mexido com a mãe de Dess quando ela
estava em si mais vulnerável, a estimulando a dar a luz no exato momento da meia noite. E ela
tinha feito isso centenas de outras vezes também, uma série de 11:59 e 12:01 que não tinham
acertado na mosca, tudo para construir para o seu querido Rex, um grupo.
Um carro passou, espirrando cascalhos que pularam através dos aros da bicicleta de Dess.
Sua sombra estava se alongando a frente dela, os últimos raios de calor em suas costas,
sangrando a distância. Ia ser outra escura e fria volta para casa.
Pensando em casa, Dess se perguntou por um momento em como sua vida seria se ela
tivesse sido um daqueles 11:59 s. Será que ela conheceria os números como ela sabia? Talvez
polimatemáticos fossem pessoas que eram bons em matemática de qualquer modo, que só por
acaso nasciam à meia-noite. Mas sem a hora secreta não seria o mesmo. Claro, ela ainda
poderia construir pontes, desenhar jogos de computador, ou inventar foguetes para o espaço,
mas na matemática da hora regular, era apenas uma ferramenta para a engenharia. E algo lindo
por si só, é claro, uma música congelada de valores, proporções e padrões.
Mas na hora azul a matemática detonava.
Nascida sem isso teria sido um saco. Ela teria sido apenas outra criança que vivia ao lado
de um parque de trailers. Claro, uma que facilmente ganharia As em trigonometria e que saberia
que um dia ela iria deixar esta cidade sórdida para trás e faria montes de dinheiro na bolsa de
valores ou algo assim.
Mas ela nunca teria forjado uma arma como Resplendently Scintillating Illustrations e
matado um Darkling com ela. No mundo do dia não havia Darklings para matar.
Talvez esse fosse o porquê que ela estava ajudando Madeleine. Ela podia ser uma vaca
manipuladora, mas Dess não podia se imaginar vivendo em qualquer outra realidade do que
numa dessas manipulações que haviam criado. De certa forma, Dess devia algo a velha telepata.
Como sua vida, tal como era.
Então à porta, quando Madeleine tinha pedido para Dess se podia tocá-la novamente, ela
disse que sim.
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"Apenas um pedacinho de conhecimento, uma proteção no caso de Melissa tentar tocar
em você. Algo para jogar no rosto dela."
Dess parou de pedalar, a sua bicicleta vacilou. Ela a deixar rolar até parar, se
concentrando no terreno e respirando com dificuldade, tentando manter seu estômago sob
controle. Mas no final, ela deixou cair a bicicleta e correu para dentro do capim, vomitando o
almoço e o ácido do estômago com a memória que Madeleine tinha dado a ela.
Eles tinham feito realmente aquilo? Quando eles tinham doze anos de idade?
Dess sacudiu sua cabeça, arrancando um punhado de mato seco e limpando sua boca
com ele. Seu estômago estava vazio agora, mas ela não queria lidar com tudo isso a caminho de
casa. Estava quase escuro e o vento estava aumentando.
“Ada”, ela disse, e a memória deslizou, felizmente, para longe.
Ela podia sentir ela tão fora do alcance, entretanto pronta, para se ela precisasse acabar
com Rex e Melissa.
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08h:44min da Noite
DOMÍNIO DE ARANHAS
“Aqui estão seus remédios, pai.”
Rex se ajoelhou diante do pai, segurando um pequeno copo de pílulas em ambas as mãos.
Os olhos coroados de branco se abaixaram da TV e se encontraram com os de Rex, preenchidos
com a costumeira ansiedade e suspeita. Mas a mão trêmula de seu pai tomou o copo, o trouxe
para sua boca, e o inclinou. Rex refletiu que engolir em seco era um de seus poucos truques que
o velho cachorro de seu pai tinha aprendido desde o acidente.
“Isso é bom de verdade, pai.”
Uma coisa a menos para se pensar, de qualquer maneira. Melissa estava chegando as dez
para levá-lo a Constanza, e com um amarelo extra na mistura, o pai não estaria causando
nenhum problema entre o agora e a meia-noite. Rex não gostava de alterar as prescrições de seu
pai, mas deixá-lo sozinho na madrugada, o velho era mais que um perigo para si mesmo do que
um sedativo extra jamais seria.
"Você viu o meu...? Você viu o meu...? "
"Por aqui, em algum lugar", Rex disse, levantou, e se virou.
Na cozinha Daguerreotype36 estava esperando pelo seu prato de comida, esfregando o
queixo contra o canto do balcão.
"Dag esperto", Rex murmurou. O velho Tom sempre corria para cá quando o som de
frascos de comprimido sendo abertos chegava a seus ouvidos. "Isso mesmo. Papai tem seus
remédios, agora Daggo tem o seu."
Ele girou a chave da lata de sardinhas, o denso cheiro de óleo de peixe se derramando e
enviando o gato a um frenético esfregar no tornozelo. Rex limpou uma sardinha viscosa de seu
suco e a sacudiu pela cauda. Daguerreotype levantou uma pata manhosamente, em seguida
miou alto e olhou com reprovação a sua tigela.
“Não é hora para brincadeiras, é, Daggy?”
“Mrrrreeow”, veio a resposta. Comer era uma negócio sério.
Rex atirou a sardinha em sua própria boca e puxou mais seis enquanto mastigava, as
jogando na tigela a altura do joelho com um barulho oleoso. Ele observou o assalto voraz do gato
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Nome do gato. Daguerreotype – Daguerreótipo – é um processo fotográfico feito sem uma imagem negativa.
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por um momento, e depois limpou as mãos, pegou o telefone e discou.
"Sim?"
"Dess?", ele perguntou.
"Sou eu, Rex. O beagle pousou."
"O quê?"
Dess suspirou. "Jessica esteve aqui a tarde toda. Estaremos prontos para vocês as
10h:30m, todos armados, como eu disse. Você precisa falar com Jess? Porque estamos
ocupadas fazendo alguma coisa aqui."
"Não. Tudo bem. Te vejo em ... " Ele virou o pulso para registrar a hora exata.
"Até mais, Rex."
A linha ficou muda. Rex suspirou. Esta viagem a Constanza tinha parecido excitante
quando que ele teve a ideia, todos juntos à meia-noite, pela primeira vez, desde que Jessica
havia descoberto seu talento. Mas agora que a noite estava em cima, tudo o que Rex podia
contemplar era ter que conciliar as cinco personalidades a noite toda, além de ninguém ser morto.
“Por que você não nasceu a meia noite, Dag? Então você poderia fazer o meu trabalho.”
O gato parou para olhá-lo acima, então mergulhou de volta ao prato.
O telefonema era outra coisa fora do caminho. Ele já falou com Melissa, e Rex não via
razão em ligar para Martinez. Com Jessica indo para o perigo, Jonathan estaria lá a tempo, senão
mais cedo.
Ele foi a seu quarto para se preparar.
Dess estava trazendo as armas, então Rex guardou pouco. Na sua mochila ele entulhou os
relatórios da pista que ele tinha roubado do pai de Constanza, uma bússola, pilhas extras, uma
nota amassada de vinte dólares para a gasolina, e um kit para picada de cobra (inútil para
slithers, mas útil para as cobras). Finalmente ele enfiou uma lanterna extra no bolso de seu
casaco - para quando ficasse escuro, mas escrito na lateral em letras maiúsculas estava o nome
INTENTIONALLY37, apenas no caso de Jessica poder usá-la.
Esqueça a leitura do conhecimento ou ver as marcas da meia-noite, Rex pensou. Este era
seu verdadeiro trabalho: se certificar que alguém se preocupasse em estar pronto para qualquer
coisa. Ele colocou uma garrafa de álcool e curativos em sua mochila.
Os sons de um carro arrancando lá fora chamou sua atenção. Ele franziu a sobrancelha.
Era mais que uma hora até que Melissa devesse chegar aqui, e o que ele não precisava
realmente esta noite era de uma das visitas surpresa de sua mãe. Ela vinha de Norman, às vezes
no fim de semana, para dispensar um conselho (e às vezes dinheiro, mais útil) e se convencer de
que ela não tinha estado fora totalmente, após o acidente do seu pai.
Rex caminhou silenciosamente pelo corredor escuro de volta para a sala. Seu pai não
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Intentionally – Intencionalmente (16 letras)
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estava dormindo ainda - seus olhos leitosos cintilavam no brilho inquieto da TV - mas o amarelo
extra tinha funcionado rapidamente o suficiente para que não houvesse menção de aranhas. O
terrário vazio tocou o ombro de Rex na luz bruxuleante, formas imaginárias dançando atrás de
suas paredes riscadas. Uma quase ideia se formou em sua mente, que estava mais escuro na
sala do que o habitual.
Ele espiou pela janela, esperando que o Cadillac Mary-Kay-rosa de sua mãe não estivesse
ocupando a calçada da frente.
Haviam duas vans na rua, suas portas laterais se abriram e figuras se expeliram em cores
escuras. Seis ou sete deles, movendo-se rapidamente na escuridão, se espalhando por todo o
gramado, ao redor da casa.
Rex assistiu, estupefato. Inutilmente e tarde demais, ele percebeu porque a sala estava
muito escura.
Os rígidos retângulos brancos que geralmente inundavam pelas janelas da frente estavam
ausentes. A solitária luz da rua que os lançava haviam sido quebrada.
Levou um esforço de vontade para se virar para longe da vista espantosa dos atacantes.
Enquanto Rex recuava pelo corredor – primeiro andando, depois correndo – seu cérebro só
admitiu lentamente que as coisas que ele tinha visto pela janela não faziam parte de um filme ou
de um sonho. Eles realmente tinha ido atrás dele.
Ele devia saber que chegaria a isso. Melissa disse que o halfling estava doente, os
Darklings precisariam criar outro antes que ela morresse ou perdesse sua conexão com os seus
aliados humanos para sempre.
Eles deviam ter desejado se livrar de Jessica, antes de enviar os seguidores atrás dele,
mas Rex tinha feito aquela bagunça com os dominós. Agora eles estavam desesperados, com
apenas um curso de ação deixado: levar Rex Greene para o deserto e transformando-o lá.
Em seu quarto, ele puxou o paletó e pegou a mochila, desligou a luz da escrivaninha, e
deu dois passos em direção à porta, em seguida, percebeu que ele estava descalço. Seus olhos
varreram o chão do quarto apagado, se esforçando para escolher as botas, entre as pilhas de
papéis e livros e roupas descartadas.
Não aqui. Isso era certo, eles estavam na porta de trás. Ele correu para a cozinha com
passos suaves, tentando escutar seus atacantes. De forma irritante, não havia nenhum som,
nenhum carro passando, nem o gemido do vento de outono nas árvores. Rex desligou as luzes
da cozinha e olhou por cima dos óculos. Mesmo na escuridão as botas se destacavam com o
brilhante detalhe do foco dos slithers esmagados na casa de Constanza.
Ele se sentou no chão, costas apoiada contra a porta de saída.
Finalmente ele estava pronto para correr.
Rex sentado ali, imaginando o quão longe ele iria. Ele já estava ofegante, e as figuras lá na
janela tinham sido tão rápidas, seus movimentos tão graciosos e confiantes. Ele se lembrou das
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palavras de Melisssa: Consiga veneno. Rex tinha se deixado pensar que ela só estava sendo
muito melodramática. Mas a percepção se ergueu lenta e horrivelmente dentro dele, que talvez
ele devesse tê-la escutado depois de tudo...
A casa ainda estava em silêncio, a noite perturbada só pelos sons de um jogo de beisebol
na televisão. Pelo menos seu pai estaria quase inconsciente por agora.
Nenhuma luz na casa estava ligada. A única vantagem de Rex era sua fotofobia de
Midnighter. Ele praticamente podia ver no escuro.
Um som chegou aos seus ouvidos, enfim. Uma batida na porta.
Rex fechou seus olhos. A batida veio de novo, mais forte, e seu pai fez um pequeno som
de irritação: Alguém atenda isso.
Por que eles estavam batendo?
Por um momento Rex se permitiu acreditar que sua paranoia tinha conseguido o melhor
dele. Talvez fosse apenas duas vans carregadas de turistas perdidos, perguntando por direções.
Ele engoliu em seco, lutando contra o desejo de responder a batida. Seria tão mais fácil fingir que
ele não sabia quem eram e porque eles estavam aqui. Apenas vá e abra a porta para eles.
Ninguém jamais saberia que ele tinha acabado de desistir.
Rex se levantou lentamente e espiou pela janela da cozinha. O quintal parecia vazio com a
exceção da pilha habitual de peças de carro abandonado. Mas movimento chamou a atenção de
Rex. Seu velho balanço de pneu gentilmente balançou de um lado para o outro.
Eles estavam lá também.
Outra batida na porta. Impaciente agora.
Rex levantou o telefone de seu receptor e o segurou em sua orelha. A concha pequena de
plástico estava totalmente silenciosa; como a rua, eles tinham cortado a linha telefônica.
Ele se agachou novamente, lembrando todas as vezes que ele tinha de escapar da ira do
pai, todos os truques que ele tinha conhecido antes do acidente. Tinha havido uma saída para o
telhado através da janela de seu quarto, mas foi bloqueada agora pelas estantes. O lugar para se
esconder embaixo da pia da cozinha estava ainda lá, mas os quatro anos de crescimento tinham
deixado ele grande demais para caber.
Então Rex se lembrou do espaço espalhado debaixo da casa, onde seu cão Magnetosfera
sempre escapava por estar frio no verão e, finalmente para morrer. O pensamento do espaço,
úmido e frio fez a pele de Rex se arrepiar. E como ele poderia chegar lá, afinal? Ele teria que
encontrar uma maneira primeiro.
Então ele se recordou da janela do banheiro.
Rex tinha frequentemente se retirado para o banheiro quando seu pai começou a ficar com
a cabeça quente. Ele era o único aposento da casa com um cadeado na porta, e a janela tinha o
tamanho certo para uma criança percorrê-la. Mas isso foi há quatro anos. Rex queria saber se ele
ainda poderia caber.
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Teriam seus atacantes colocado alguém no lado mais estreito do jardim? Não havia
nenhuma porta lateral, e nenhuma outra janela dava para aquele caminho.
Ele ficou em pé, lutando com as memórias de medo da infância. Era sua única chance. E
Rex estava velho demais para ainda estar assustado pelas mentiras de seu pai: ele sabia muito
bem que debaixo daquela casa não eram de onde as aranhas vinham.
Os passos de Rex não estavam mais silenciosos. Suas botas bateram pesadamente no
corredor até o banheiro e rangeram nas placas do piso, ele parou e escutou novamente. As
batidas tinham parado.
Em seguida o som de metal chacoalhando alcançou seus ouvidos vindo da sala de estar. A
maçaneta estava sendo arrombada ou golpeada. O som atacou a raiz de seus dentes, e Rex
quase desejou que eles simplesmente irrompessem através da porta ao invés de estarem sem
pressa.
É claro, eles o tinham cercado, tirado dele qualquer ajuda. Por que eles deveriam se
apressar?
Ele destrancou a janela do banheiro e lentamente a colocou aberta, esforçando para
mantê-la silenciosa. Calada pelo frio de outono, a madeira deslizou fácil. Com um pé no banheiro,
Rex se empurrou para cima e enfiou a cabeça para fora.
O caminho estreito da lateral do jardim estava vazio. Os seguidores de Darklings tinham
coberto a frente e a parte de trás, sem esperar que Rex fosse por debaixo da casa. Rex escutou
arfar do cachorro dos Guddersons próximo a porta, e sorriu. É claro que os invasores se
afastariam do velho rottweiller. O animal estava sempre escutando e por qualquer razão
começava um justificado latido.
Ele se lançou para mais longe e descobriu que seus ombros passavam pela janela na
diagonal. Se eles cabiam, certamente o resto dele não fariam isso? A imagem de estar entalado a
meio caminho encheu sua mente, mas Rex a sacudiu para fora de sua cabeça.
Ele se empurrou e levantou a mochila, derrubando-a suavemente sobre a grama. Em
seguida, com ambos os pés em cima do vaso sanitário e as mãos no peitoril da janela, Rex
hesitou...
O dominó, os sinais de conhecimento que ele tinha roubado da casa Darkling, ele não tinha
pensado em qualquer razão para trazê-los à noite, então eles estavam assentados sobre sua
mesa, pronto para serem examinados. Mesmo se ele escapasse, os seguidores dos Darklings os
recuperaria. Eles teriam o símbolo para a portadora da chama novamente, e seriam capazes de ir
atrás de Jessica. Ela sempre tinha sido seu verdadeiro alvo, afinal.
Ele ficou lá por mais alguns segundos, tentando ouvir os murmúrios além da TV. Eles
ainda estavam lá? Havia tempo para voltar e pegar o dominó? O banheiro era ao lado de seu
quarto, não levaria trinta segundos.
Rex suspirou. Ele não podia pôr em perigo Jessica para se salvar. Ele baixou um pé e
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depois o outro suavemente no chão.
De novo no corredor escuro, ele nada viu. Mas seu pai fez um som suave, um que ele
conhecia dos anos de interpretar os grunhidos do velho e gemidos confusos, por um rosto
desconhecido. Eles estavam lá dentro.
Rex deu uns poucos passos para seu quarto, recuando com o suave thud de suas botas
contra o chão. Ele pegou os dominós Darkling de sua mesa, então parou novamente. Deitado
sobre a mesa estava Spontaneously Machiavellian Deceitfulness, um abridor de carta que
Melissa tinha dado a ele a um mês atrás. Como uma arma para a hora regular, era inútil. Mas se
ele fosse capturado hoje, poderia servir para carregar uma mensagem...
Ele segurou o abridor e pressionou o frio contra sua testa, concentrando-se todo o terror e
sua ansiedade nele. Imaginou-se despido e mutilado, sua carne se fundindo com a do Darkling,
sua mente escravizada para ajudar seus inimigos.
Então ele colocou a ponta da lâmina contra a madeira suave da mesa e empurrou tão forte
quanto ele podia até ser presa na posição vertical, tremendo como uma flecha enquanto ele
puxava a mão.
Um barulho veio da sala de estar, um protesto abafado de seu pai. Rex engoliu em seco.
Eles não fariam nada com o velho, não é? Claro, eles não sabiam quanto ele estava drogado, o
quão improvável levantaria qualquer tipo de alarme.
Rex fechou sua mente de qualquer pensamento em seu pai. Se dominar o velho bastardo
os mantivesse ocupados por alguns momentos extras, que assim seja.
Ele deslizou de seu quarto e deu dois passos no corredor. Um passo do banheiro, sua bota
se prendeu em uma forma suave e queixosa. "Brrrrp?"
Rex parou na porta do banheiro. "Dag, shhh", ele sussurrou.
Um passo soou atrás dele, vindo da extremidade do corredor escuro. Rex não se virou.
Com a janela aberta para o luar, ele sabia que era uma silhueta contra a porta do banheiro.
"Rex Greene?" Uma voz chamou.
A hora do silêncio acabou.
Ele foi para dentro e bateu a porta do banheiro, a fechando, então pulou no vaso e se
jogou na boca da janela.
No meio do caminho Rex chegou a um ponto nauseante de equilíbrio, sua metade da
frente e costas balançaram, o peitoril da janela cavando em sua barriga, sangue correndo para
sua cabeça enquanto ele balançava para frente. O momento se prolongou, indeciso pela
gravidade...seus quadris estava presos.
Então Rex percebeu: seus ombros mal tinham cabido através diagonalmente, mas agora
seu corpo estava ereto através da janela. Ele tentou se contorcer, girar os quarenta e cinco graus
que ele precisava, mas sua luta desalojou a moldura solta da janela, que caiu fechada,
pressionando ele mais forte.
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Um ruído abafado chegou aos seus ouvidos – a porta do banheiro rompendo. Seus
atacantes também tinham dispensado o silêncio.
Rex sentiu uma mão firme segurar seu tornozelo e agitou com os pés, enquanto seus
dedos se agarravam para alcançar o trilho de alumínio da casa. Uma das botas conectou-se
solidamente, e um grunhido medonho irrompeu através da janela. A colisão o empurrou uns
poucos centímetros para frente e os quadris ficaram livres.
O chão estava se apressando até ele...
"Uhnn."
Seus ombros explodiram com a dor, a cabeça turvando enquanto o mundo girava sobre si
mesmo. Após um momento de desorientação Rex encontrou-se de costas, a respiração retirada
dele. Ele levantou-se penosamente num cotovelo para olhar ao redor. Nenhuma figura escura,
nenhum som tinido da besta rosnando ao lado.
Então uma voz gritou da janela: "Ele está na lateral do quintal! Por aqui!"
Eles não conseguiam passar pela janela, mas eles podiam vê-lo. Eles iriam vê-lo rastejar
sob a casa. Mas talvez demoraria muito tempo para puxá-lo para fora, especialmente se a
vizinhança inteira fosse acordada...
Ele deslizou com suas botas em cima do muro entre sua casa e a dos Guddersons,
batendo na madeira como um tambor apenas a poucos centímetros da cabeça do Rottweiler. O
latido feroz se iniciou de imediato, como se o animal estivesse esperando a noite toda por uma
desculpa para começar a uivar.
Rex se arrastou para o outro caminho, se puxando através do espaço estreito entre o
revestimento de alumínio e a terra, sua cabeça e parte superior do corpo mergulhados no mundo
frio e úmido debaixo da casa. Isto tinha sido a constante ameaça de seu pai, exilar o jovem Rex
para este lugar de sombra, onde o velho e doente Magnetosfera tinha se arrastado para morrer,
este lugar onde tarântulas se reproduziam e se multiplicavam na escuridão.
Ele se sentiu nu, como se ele estivesse prestes a segurar uma aranha peluda voraz, com
um punhado de terra. Mesmo sua visão de Midnighter era inútil na escuridão total. Frágeis coisas
mortas arranhavam seu rosto, folhas e galhos que tinham sido soprados para cá para apodrecer.
Ele estava quase a todo o caminho debaixo da casa. Eles perderiam tempo seguindo ele aqui
embaixo com o cachorro no vizinho ficando louco... iriam?
Então ele sentiu mãos fortes tomarem seus tornozelos.
Rex atacou, tentando se conectar-se a algo novamente. Mas mais mãos o seguraram,
duas em cada pé, puxando de volta tão rápido que o casaco e a camisa subiram, seu estômago
nu deslizando sobre a terra. Suas unhas agitaram a terra dura inutilmente. Se retorcendo pela
metade, ele chegou até a agarrar as vigas do piso da casa, mas elas foram cobertas em um
molde úmido, tão lisas quanto rochas cobertas de algas em um riacho.
Ele desistiu, enfiando as mãos nos bolsos para agarrar e espalha os dominós Darkling na
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escuridão.
E então ele estava fora, o súbito luar brilhando sobre seus rostos suados, pelo menos
quatro deles reunidos em torno dele, um estendendo a mão para baixo em direção ao seu rosto.
Mas o cachorro dos Guddersons ainda estava latindo. Talvez tudo que ele precisasse para trazer
toda a vizinhança era um único e horripilante grito.
Rex respirou fundo.
Químicas preencheram seus pulmões, um consultório de dentista, o mortuário cheiro que o
inundou, seu grito instantaneamente se silenciou, sua mente flutuando. Mas no breve trânsito
entre o pânico selvagem e inconsciência total, Rex sentiu uma leve e drogada satisfação: eles
não encontrariam os dominós.
Jessica estava segura. Ninguém mais, além dele se atreveria em rastejar para dentro
daquele espaço escuro, ainda assombrado pelo fantasma de
Magnetosfera, o frio e úmido e vil domínio das aranhas...
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09h:56min da Noite
SPONTANEOUSLY MACHIAVELLIAN DECEITFULNESS38
Melissa mal podia esperar para chegar a Rex e provar sua presença calma ao lado dela no
carro. As noites de sexta feira eram a melhor hora para dirigir em direção ao deserto, deixando
para trás o frenesi coletivo de Bixby se perguntando por que isso não era divertido. Pelo menos
em noites de escola a maioria deles estaria indo para a cama por agora, e não dirigindo por ai
meio embriagados, procurando por distrações que não existiam.
Mas quando Melissa se deteve do lado fora da casa deteriorada, ela não pode sentir Rex lá
dentro.
Ela olhou para o relógio e tocou a buzina.
"Vamos, Loverboy. Não está tão frio." Geralmente ele estava lá fora esperando, cinco
minutos mais cedo ou não.
O volume escuro afundado da casa permaneceu imóvel.
Ela buzinou novamente. Cristo, a rua está escura.
A lua crescente brilhava por todas as telhas, mas não havia uma única luz no interior, e
alguns caipiras tinham arruinado o poste de rua. Rex tinha caído no sono?
“Perdedor”, ela murmurou, desligando o motor e abrindo sua porta.
Andando pelo caminho, Melissa captou um vislumbre da TV lá dentro. Ótimo, o velho
estava acordado. Ela pensou que Rex fosse congelar ele, como ele sempre fazia em expedições
importantes. Espiões, pistas misteriosas, e o halfling – eles tinham o suficiente sem psicopatas
envelhecendo no caminho.
Ela alcançou a campainha, mas hesitou. A maçaneta pendurada frouxamente na porta,
como se o espírito da casa tivesse finalmente partido, deixando para trás só os ossos quebrados.
Girando lentamente sua mão, a porta foi a frente na menor das pressões.
Um arrepio começou a rastejar pela espinha de Melissa. O metal frio tinha sabor de
excitação nervosa, acre como a fumaça de uma fogueira de carvão com muito combustível.
“Oi?”
Seus olhos Midnighter podiam ver perfeitamente na instabilidade da TV. O pai de Rex
estava esparramado grotescamente na cadeira, a boca aberta e babando. Havia um cheiro
estranho vindo dele - um de verdade, não em sua mente. Era acentuado e químico, como
38
Espontaneamente Maquiavélico Falsidade – 15, 12 e 9 letras, respectivamente
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solvente de tintas. Ela podia ouvir o velho roncando suavemente.
Melissa caminhou rapidamente para o quarto de Rex, mantendo as mãos nos bolsos. A
janela do banheiro estava aberta na outra extremidade do corredor escuro, preenchendo a casa
com o frio e úmido brilho gelado do luar.
"Rex", ela chamou hesitante.
Se o velho não estivesse dopado, ela não queria ter que acordá-lo. Mas ela queria uma
resposta, algum tipo de ruído de Rex, antes que ela abrisse a porta do quarto. Ela ainda não
podia senti-lo, o que era estranho. O seu gosto devia estar na língua dela agora que ela estava a
esta distância dentro da casa. A mente dele sempre vinha mais clara, como se ele tivesse o seu
próprio canal.
A menos que ele estivesse em um sono profundo e sem sonhos. Ou então era... Melissa
empurrou a porta do quarto com o pé, às mãos curvadas em punhos nos bolsos.
O quarto era uma confusão de formas escuras, os papéis empilhados, e montes de roupas,
estantes pressionando ela em todas as paredes.
Mas a cama estava vazia, um emaranhado de folhas brancas brilhando na escuridão, a
mochila de Rex tinha ido embora de onde sempre estava pendurada, na parte de trás de sua
cadeira.
Talvez ele já tivesse partido, algum telefonema rápido dele não a encontrando. Mas que
emergência poderia o ter arrastado para longe do trabalho que eles tinham a fazer esta noite? E
quanto ao carro?
Ela entrou na sala, puxando suas mãos para o ar frio, espalhando seus dedos para sentir
as ressonâncias desordenadas do espaço.
Um gemido queixoso veio da porta atrás dela, um borrão de suaves pensamentos curiosos
carregados de fome e irritação.
“Venha aqui Dag.”
Melissa se ajoelhou, seu longo vestido encontrando a piscina de veludo ao redor dela, e
estendeu sua mão. Daguerreotype andou dentro do alcance e então começou a lamber seus
dedos. A mente do gato tinha o gosto inquieto, como se seu minúsculo reino tivesse sido
invadido, e recente o suficiente para que seu pequeno cérebro confuso não tivesse acalmado
ainda.
Melissa se levantou, provando o ar. Algo cortante e ansioso veio da mesa. Ela fez seu
caminho através da desordem, localizando a origem do sabor brilhando em um trecho do luar.
Spontaneously Machiavellian Deceitfulness a esperava por lá, dividindo a madeira da
mesa. Ela o tinha dado a Rex uma semana antes do início das aulas, um abridor de carta, aquele
bobo cruzamento entre faca e material de escritório.
Sua mão se fechou sobre ele, e uma sombra lançada de sua mente correu para a dela, -
pânico e medo, caçado em sua própria casa, a certeza de um terrível destino se ele fosse
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capturado. Eles já estavam aqui, no interior, rastejando através da escuridão para cercá-lo e levá-
lo. As emoções ferviam do minúsculo pedaço de metal, e então ele estava frio novamente, mas
não deixou nenhuma dúvida em sua mente.
Melissa puxou sua mão para longe e gemeu.
Os seguidores tinham ele, seu Rex, e hoje à noite o Darklings iriam transformá-lo em um
deles.
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10h:19min da Noite
ARMAS DE DESTRUIÇÃO MATEMÁTICA
“De novo, o que tem a base sessenta?”
“É como a base de dez, exceto que no lugar destas vai ao cinquenta e nove39, e vale uma
centena de três mil e seiscentos.”
“Huh?”
“Três mil e seiscentos”, Dess repetiu. “Sessenta ao quadrado, boba.”
Jessica olhou abaixo para o escudo, uma espiral elegante cortado da lateral de uma lata de
lixo e formada para envolver ao redor do pulso. Era para Jonathan, uma espécie de asa para
ajudá-lo com as manobras no ar. Números cercavam a borda, mas não do tipo árabe normal. Eles
eram algarismos fenícios, traços simples, como l's agrupados com Vs ao lado, organizados em
algo que Dess se mantinha chamando de "base sessenta."
Jessica empurrou um lápis em direção a ela. "Basta escrever, eu copiarei."
Dess rolou os olhos, mas colocou o lápis no papel, os números cuspindo de sua ponta tão
rápido quanto o movimento de uma máquina de costura.
Jessica correu os dedos pela asa, ansiosa para trabalhar novamente. Esta tarde ela
descobriu que gostava de soldar, adorava observar a ponta de calor transformar o fio em gotas de
metal fundido, e nem sequer se importou que as baforadas de fumaça cheirassem a um
cruzamento entre um carro novo e uma velha fogueira.
Andar com Dess era legal.
No caminho para cá Jessica tinha estado um pouco nervosa sobre passar a noite com a
gênio da matemática. As únicas vezes que elas ficavam juntas era no período de aulas ou na
hora secreta. Ela não tinha ideia do que Dess fazia para se divertir no tempo normal. A ida de
ônibus tinha sido longa, e a vizinhança que elas tinham ido parar...
Talvez vizinhança não fosse realmente a palavra para isso. Eram a maioria trailers, como
os temporários na escola, do tipo de largura dupla que você via movendo-se pesadamente na
estrada com placas de triângulo sobre risco delas. Mas descansando em blocos de concreto
como estes, conectados com tubos e fios como pacientes de um hospital, eles não pareciam que
se moveriam novamente.
Dess vivia em uma casa de verdade, embora algo sobre ela não parecesse completamente 39
59 e 61 são dois primos gêmeos.
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sólido. Quando o vento soprava, o que era bem constante aqui, o frio penetrava nas paredes, a
moldura toda rangendo como um navio no mar agitado. O piso soava com um som oco enquanto
elas caminhavam.
Mas o quarto de Dess era fascinante. Dess fazia coisas. Construções de metais
desordenadas sobre cada superfície e penduradas no teto, grupos de sucata de ferro soldadas e
filigranas leves de clipes de papel e tachinhas. As paredes roxas escuro eram cobertas com
pinturas em aquarela e um grande quadro negro rabiscado com cálculos em giz vermelho.
"É você!" Jessica tinha dito quando elas entraram. Um autorretrato de Dess com cabelo
comprido pendurado em uma parede - Legos preto, branco e cinza colocados juntos para formar
a imagem em blocos.
"Duh."
Em um banco longo repleto de armas incompletas e um aparelho de solda, Jessica viu
uma bailarina mecânica vestida de preto, suas engrenagens se derramando pela madeira.
"E essa é Ada Lovelace", Dess disse, depois recuou, como se dizer o nome lhe tivesse
dado uma dor de cabeça. "Ela foi a primeira programadora de computadores, antes que eles
tivessem computadores."
"Isso deve ter sido complicado."
Dess encolheu os ombros. "Computadores imaginários são melhores, de qualquer
maneira. Eu andei mexendo com os que estão na escola. Eles parecem mais se preocupar com a
pontuação."
Jessica fez uma careta. "O meu não."
Os olhos de Dess se arregalaram. "Você tem um computador?"
"Yeah. Meu pai sempre o trazia para casa, quando ele tinha um emprego."
"Whoa". Dess balançou a cabeça lentamente, como se chocada com a revelação.
Jessica teve a mesma sensação desconfortável que ela tinha tido na casa de Rex no
domingo – ela nunca se sentiu rica antes de vir para Bixby.
Ela pegou o ferro de soldar para escapar do momento embaraçoso. "Então isso é onde a
mágica acontece, huh?"
"Sim." Dess sorriu. "Você sabe, Rex e Melissa acabaram com todas as suas armas na
outra noite, e eu tenho que fazer mais. Você sabe como se solda?”
Jessica sacudiu a cabeça. Quando ela tinha no início acreditado na hora secreta, os três
deram a ela um curso rápido sobre metais e tridecalogismos, telepatia e números anti-darklings.
Mas ela realmente não sabia como os ângulos de uma estrela de treze pontas repelia slithers, ou
o que permitia que os Darklings tivessem mais medo, ou o que fazia uma arma poderosa que
outra do que seu nome.
Talvez fosse hora de ela aprender mais sobre como essas coisas realmente funcionavam.
"Nem uma pista. Mostre-me."
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Elas tinham trabalhado durante toda a tarde, absorvidas no cheiro de solda e de
tungstênio, ignorando o sons dos pais de Dess chegando em casa. Sua mãe havia finalmente
batido à porta para chamá-las para jantar, e elas comeram rapidamente e em silêncio, enquanto o
pai de Dess constantemente bebia cerveja e assistia TV na sala de estar, por cima dos ombros de
Jessica. Ela podia sentir Dess querendo voltar para seu quarto, de volta para o espaço seguro
dos números e construções que tinha reunido do lixo ao redor dela.
Mas, enquanto ela comia, Jessica começou a perceber toques de Dess no resto da casa.
Todas as luzes tinham controle de iluminação, haviam tomadas de telefone e tomadas elétricas
extra em cada aposento, e as janelas da cozinha eram coloridas com vitrais em belos padrões
anti-darkling. Depois do jantar o pai de Dess tinha perguntado sobre a última fatura do cartão de
crédito, e ela iniciou uma longa explicação sobre os saldos transferidos e como eles não teriam
que pagar por mais um mês.
Ele sorriu e disse: "Essa é a minha garota."
Dess sorriu por um momento, tão orgulhosa como uma menina que ganhava As. E então
seus pais tinham ido para a cama incrivelmente cedo.
"Eles trabalham aos sábados", Dess explicou.
"Minha mãe também."
Então elas começaram a soldar ferros novamente, o quarto silencioso para o silvo da
fundição de metais. Rex ligou as nove para se certificar que tudo estava pronto, mas Jessica
estava tão absorta que ela mal o escutou. O escudo para Jonathan estava lentamente tomando
forma, a sua decoração formando um padrão que tinha penetrado em sua mente na lenta
repetição de marcas minúsculas. Até mesmo a coisa da base sessenta não lhe dava mais uma
dor de cabeça, caso ela não pensasse muito sobre isso.
Ela estava perdida nos números, quando, cerca de uma hora depois, o telefone tocou
novamente.
"Jeez, Rex, acorde os meus pais", Dess respondeu, então veio um olhar perplexo em seu
rosto.
"Melissa...?"
Houve uma longa pausa, e Jessica pode ouvir a voz de garota do outro lado, frenética e
tropeçando enquanto ela percorria uma história.
Não parecia em nada com Melissa.
"Ok, nós vamos. Vejo vocês em breve." Dess desligou o telefone, muda.
Jessica se afastando de sua solda, os olhos ardendo da fumaça. "Quem era?"
"Melissa. Você tem que ligar para Jonathan. Diga a ele trazer seu traseiro para cá agora."
Dess empurrou o telefone para ela. "Ah, cara."
"O que aconteceu?"
Dess sacudiu a cabeça, como se incapaz de acreditar suas palavras: "Rex se foi."
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"Se foi, para onde?"
"Levado. Sua casa foi arrombada e ele foi levado. E ele deixou uma mensagem para
Melissa: eles o têm." Ela colocou o telefone firmemente nas mãos de Jessica. "Ligue para
Jonathan. Nós precisamos dele agora. Melissa estava em um orelhão. Ela já está a meio caminho
daqui."
"Mas quem -?"
"Chame o Piloto!"
Jessica olhou para o telefone, os numerais de base dez em seus botões
momentaneamente misteriosos para ela. Ela discou o número de Jonathan com os dedos
trêmulos.
Ele respondeu após um toque.
"Venha para Dess... e rápido. Rex se foi."
"Jessica? Se foi, para onde?"
"Sequestrado." Ela olhou para os olhos arregalados de Dess para confirmação e encontrou
seu olhar atordoado devolvido.
"Rex foi sequestrado? Por quem?"
"Só venha aqui. Rápido. Eu preciso de você. Por favor... "
"Tudo bem. Eu estarei aí o mais rápido possível." Ele desligou o telefone.
"Lovelace", Dess estava murmurando. "Lovelace. Ouça, Jessica? Você tem que fazer algo
por mim quando Melissa chegar aqui."
Jessica olhou para o telefone mudo, incapaz de pensar. "Fazer algo?"
Dess segurou os seus ombros e falou lentamente e com cuidado.
"Você tem que dizer a ela. Eles levaram Rex para o deserto, onde a pista está sendo
construída. Esse é o único lugar que eles podem mudá-lo. Nós precisamos chegar lá e encontrá-
lo antes da meia-noite. Você pode dizer isso a Melissa?"
Jessica engoliu em seco. "Claro. Mas para onde você está indo?”
"A lugar nenhum", disse Dess. "Eu vou estar aqui. Mas você tem que se lembrar. Você tem
que dizer a ela."
"Por quê? Quero dizer, Melissa vai ouvir você mais do que ela vai a mim. Ela não gosta
mesmo de mim. E você é a única que sabe sobre os mapas e essas coisas."
Dess fechou os olhos, seu polegar direito entre seus dentes. "Mas eu não me lembrarei."
"O quê?"
"Eu não me lembrarei, ou Melissa vai descobrir..." Dess sacudiu a cabeça e murmurou:
"Merda! Eu não posso te dizer também, ela irá provar isso em sua cabeça. Isso não vai funcionar.
"Ela começou a xingar, um resmungo contínuo em tom baixo.
"Dess, o que está acontecendo? O que há de errado com você?"
"Há algo em minha cabeça, algo que tenho que esconder de Melissa. Mas eu tenho
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certeza que eu sei onde Rex está, ok? Ele irá estar em algum lugar na pista. É aí que eles fazem
os halflings, então eles vão levá-lo lá. Por isso, os Darklings não querem a pista construída. Vai
direto ao local onde eles fazem os halflings!"
Jessica sentiu náuseas aumentando nela com a ideia de Rex transformado. Pelo menos os
Darklings tinham tentado apenas matá-la, não transformá-la em algo desumano. Ela apertou seus
olhos e os abriu novamente para limpar a imagem de sua mente.
"Como você sabe disso, Dess?"
"Eu não posso te dizer, ou Melissa vai ver em sua mente. Ela não pode saber onde eu
consegui a informação, entende?"
"Uh, não."
"Ouça, os Darklings sentem Melissa mais do que eles fazem com o resto de nós, Jess.
Temos que manter esse segredo longe dela. Ok?"
"Que segredo"?
Dess afastou-se, as mãos trêmulas. "Terra para Jessica, se eu te disser, não vai ser um
segredo."
Jessica gemeu e se sentou na cama com a cabeça nas mãos. Dess tinha enlouquecido. Se
o desaparecimento de Rex estava enlouquecendo ela tanto assim, Melissa ia ser um caso
perdido. Jessica desejou que Jonathan já estivesse aqui, mas ele estava a quilômetros de
distância, a caminho do outro lado da cidade.
“Escute”, Dess disse, sua voz sob controle de novo. “Isso é como a coisa de base
sessenta. Você não tem que entender, você só tem o que fazer o que eu digo.” Ela agarrou um
pedaço de papel e rapidamente rabiscou a pista, cada extremidade marcada com colunas de
números que se derramavam do lápis. “Me diga para levar você para a pista. Eu ainda saberei
onde ela é por que você me mostrou o mapa; ela não viu.”
“Ela quem?” Jessica perguntou. ”Melissa?”
“Não. Outro alguém.” Dess escreveu REX em letras imensas de um lado a outro do papel e
o deu a Jessica. “Diga a Melissa que eu desenhei isso, e eu concordo com você por que essa é a
verdade... eu acho.”
“Você acha que é verdade que você desenhou isso?” Jessica perguntou, o papel
deslizando de suas mãos.
“Não, eu acho que eu saberei que você... por que eu me lembrarei de desenhar isso... Ah,
merda. Apenas diga a ela que nos leve a pista!”
Jessica levantou o papel da cama e olhou para ele, números misteriosos e tudo o mais.
Dess estava ficando maluca sem Rex por ali, e Melissa tinha soado bem ruim.
Jessica respirou fundo, tentando lembrar da sensação que ela tinha obtido por empunhar
Demonstrações contra os Darklings, o poder fluindo através dela. Ela tinha ganhado bastante fé
desde sua chegada a Bixby – confiando nas fileiras de treze tachinhas para protegê-la,
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acreditando na história que não estava em seus livros, apostando em uma lanterna para salvar
sua vida. Mas até agora, ela tinha sobrevivido.
Ela tinha que confiar em Dess agora, mesmo se a garota não fizesse sentido.
“Ok”, Jessica disse em uma voz firme e calma. “Eu direi a Melissa que nós iremos para a
pista. Por que você disse.”
“Beleza. Ótimo.”
“Por enquanto vamos terminar essas armas, ok? Nós podemos precisar delas.”
Qualquer coisa para manter Dess ocupada até Melissa chegar aqui.
“Claro. Só mais uma coisa.”
“O que?”
Dess olhou para Jessica, seus olhos em pânico. “Não pense nessa conversa quando ela
chegar aqui. Não deixe Melissa sentir nada que eu tenha dito a você. Se ela souber, os Darklings
saberão. Só... não... pense sobre isso.”
“Com certeza.”
Jessica acenou lentamente e se virou para o escudo novamente. Os Darklings saberão o
que? Enquanto Jessica trabalhava para terminar o escudo, ela se perguntou como você não
pensaria sobre algo, como manter isso longe de sua mente sem isso estar em sua mente em
primeiro lugar, a qual você não estivesse supostamente que tê-la em mente...
Pensar desse jeito era de longe muito pior que a base sessenta.
Jessica ainda estava ocupada em não pensar sobre a coisa que ela não tinha que pensar,
quando o carro de Melissa deslizou em uma parada lá fora.
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10h:44m da Noite
TARANTULAS
“Ada", Dess disse suavemente, e sentiu a porta se fechar.
O conhecimento escorregou de sua mente, mas com Melissa do lado de fora esperando, a
transição não era clara. Apesar de suas lembranças apagadas, a ansiedade que preenchia Dess
não desapareceu, mas foi lançada à deriva. Seu cérebro parecia desarticulado, cheio de
preocupações não resolvidas, atormentado por pontas soltas de incerteza e de medo.
"Que diabos?", ela murmurou.
"Ela está aqui", Jessica disse, levantando escudo de Jonathan. "Eu terminei. E você?"
Dess olhou abaixo para o banco diante dela, a pilha de discos jogados feitos de tampas de
lata marcadas com múltiplos de treze em fenício.
"Uh, sim", ela disse inexpressivamente.
Por que ela se sentia desse jeito, tão preocupada e tensa? Ah, certo, duh, Rex estava
desaparecido. Os seguidores o tinha levado e ele era refeição de Darkling, a menos que eles o
descobrissem a meia-noite. Dess piscou, se perguntando por que sua cabeça não parecia clara.
Cara, ela pensou, estou a caminho de me envolver demais no trabalho às vezes. Não é de
se admirar que metade dos gênios na história da matemática não conseguem amarrar seus
próprios sapatos.
Ela começou a enfiar as armas em sua mochila. “Vamos sair antes que ela comece a
buzinar e acordar meus pais.”
“Nós vamos esperar por Jonathan, certo?”
“Claro.” Dess concordou. “Mas você vai explicar isso para Melissa.”
Jessica fez uma careta. “Então eu vou ter que explicar tudo para Melissa, huh?”
Dess olhou para Jessica. Do que diabos ela estava falando?
Elas jogaram os armamentos terminados dentro da sacola, e Dess colocou
Geoestacionário em seu bolso. Ela tinha aberto a janela e estava a meio caminho quando Melissa
soltou um longo toque de sua buzina. O latido de vira-latas raivosos espalharam-se por todo o
parque de trailers, como um incêndio em um campo seco.
“Obrigada Melissa”, Dess murmurou.
Pelo menos era sexta a noite, e seus pais estariam esperando ser acordados umas poucas
vezes. Haviam sempre brigas e música alta no parque de trailers durante a hora das bruxas.
Elas correram, a mochila chacoalhando, através do gramado da frente para o velho Ford,
abrindo a porta e se amontoando na parte detrás. Levou um instante para Dess perceber que o
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assento próximo a Melissa estava vazio.
É claro – Rex sempre ia na frente.
Ela engoliu em seco. Fora os raros vislumbres no corredor da escola, ela não podia se
lembrar de ver Melissa sem Rex ao seu lado.
Os nós dos dedos da telepata estavam brancos sobre o volante. Sem olhar para trás, ela
disse em uma voz baixa e angustiada.
“O que nós faremos agora?”
Dess hesitou. Aonde diabos o levariam os seguidores de Darkling afinal? Para Broken
Arrow? Ela se encolheu no assento, tentando trocar de lugar com a sacola, uma das varas da
barraca de seu pai, a extensora, estava apunhalando seu estômago, e ela ainda não podia
pensar direito.
“Ok”, Jessica disse, fria e controlada, “Dess acha que eles levaram Rex para o deserto.
Para onde a pista deverá ser.
“Eu acho?” Dess perguntou.
Jessica atirou para ela um olhar chateado. “Sim, você acha. Este é o porquê os Darklings
estarem com medo da pista, lembra? Vai aniquilar o lugar onde eles fazem halflings.” Ela puxou
um pedaço de papel de seu bolso e o deu para Dess.
"Ah, sim. Isto." Ela se lembrou de desenhar o mapa baseada no material que Jessica havia
tomado emprestado de sua mãe. Mas será que os seguidores Darkling realmente levariam Rex
lá?
"Talvez..." A voz de Melissa veio na frente. Sua testa descansada contra o volante. "A pista
estava na cabeça de Angie, e parecia como se tivesse algo haver com o halfling." Ela engrenou o
carro.
"Espera aí!” Jessica gritou. "Temos de esperar por Jonathan."
Melissa bateu suas palmas contra o volante. “Não podemos esperar. Não podemos
simplesmente ficar paradas aqui sem fazer nada.”
“Ele estará aqui em dez minutos.”
“E daí? Ele é inútil!”
“O que?”
“Ele não pode voar até a meia noite”, Melissa disse. “E nós temos que encontrar Rex antes
disso.”
O carro começou a se mover.
“Espere!” Jessica gritou. “Ele não é inútil!” Ela abriu sua porta. “Eu vou ficar aqui e esperar
por ele.”
Melissa pisou no acelerador, o cascalho cuspindo ao redor do carro. "Não, você não vai.
Nós poderemos precisar de você se chegarmos lá atrasados."
"Então nós precisamos dele também!"
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"Não há tempo", Melissa disse.
O carro saltou à frente, pressionando Dess de volta ao seu banco. Jessica olhou para ela,
os olhos selvagens. A porta ainda estava aberta, como se ela estivesse pronta para pular. O
pensamento de ir para o deserto com uma Melissa enlouquecida e sem Jonathan não estava
claramente a fazendo muito feliz.
“Cuidado, Jess!” Dess se estendeu e agarrou o braço dela. Através da porta ainda aberta a
estrada estava correndo, uma mancha de cascalho e asfalto irregular. Jessica tentou se afastar, e
o extensor conseguiu se enfiar entre as costelas de Dess como vingança. "Ai! Vamos lá! "
Jessica parou de lutar. O carro estava indo muito rápido agora.
"Faça ela parar!" Jessica disse em um sussurro intenso. "Ou eu vou contar para ela tudo!"
"Huh?" Dess manteve seu aperto no braço de Jessica. Ela tinha ficado maluca?
"Se você não fazê-la parar, eu vou dizer a Melissa a coisa que eu não tenho que pensar!"
"Do que você está falando?" Dess perguntou. Com Rex desaparecido ela podia entender
Melissa se perdendo, mas porque Jessica tinha ficado maluca?
"Eu vou dizer a ela!" Jessica murmurou.
"Dizer o quê?"
O carro girou numa parada, jogando ambas para a frente contra o banco de trás com um
baque. Uma sufocante nuvem de poeira se levantou da porta aberta de Jessica, antes que ela se
fechasse com a guinada do carro.
Melissa desligou o motor e se virou lentamente, fechando os olhos diante de Dess. Ela fez
um ruído inalado.
“Você sabe algo sobre Rex”, ela disse suavemente. “Algo... secreto.”
Dess engoliu em seco. “Vocês duas dobraram os comprimidos para maluquice essa
manhã?”
“Você sabe”, Melissa disse. Ela olhou para Jessica, que se sentava lá, encarando de olhos
esbugalhados. “Você disse a Jessica. Ela pede para não pensar nisso.”
“Disse a ela o que?” Dess disse, lutando para não tossir na poeira rolando através do
carro. “Você ficou totalmente doida?”
“E eu posso provar isso em você”, Melissa disse. “Algo como... chá.” Ela franziu o nariz.
“Com leite.”
Uma dor acentuada se atirou através da cabeça de Dess. “Eu odeio chá.”
"Eu provei isso antes", Melissa murmurou, em seguida, seus olhos brilharam. "Na outra
noite, quando Jessica e o Piloto conseguiram ajuda para encontrar o caminho. Você sabe algo
sobre isso, não é?”
Dess cruzou seus braços em frente a ela. “Você está totalmente doida, Melissa.”
“Não. Eu acho que eu estou prestes a descobrir isso.” Melissa tirou suas mãos do volante e
olhou para ela. “Como você sabe onde Rex está? Me diga.”
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“Eu pareço uma seguidora de Darklings? Quero dizer, o que Jessica disse pode ser
verdade, mas como eu saberia?”
Mellissa fechou seus olhos. “Você sabe, em algum lugar lá. Mas está escondido... por
alguém esperto.” Ela abriu seus olhos e sacudiu sua cabeça. “Cara, Rex sabia que isto
aconteceria. O quanto isso é assustador?” Ela começou a puxar uma luva, dedo por dedo.
Dess se afundou em seu banco, sentindo algo nauseante crescendo dentro dela. “Não
ouse me tocar.” Seu estômago rolou com o pensamento.
“Eu tenho que fazer isso, queridinha.” Melissa disse. “Eles pegaram Rex, você não
entende? Além do mais guardar segredos é errado.”
“Ada”, Dess sussurrou, sem ter certeza por que o nome tinha lhe vindo a mente, exigindo
ser falado.
“Eu não vou ficar sozinha de novo”, Melissa disse. A luva estava fora.
O estômago de Dess pesou, e algo se levantou em sua mente, uma horrível memória vindo
do nada, algo que tinha sido dado a ela para se proteger.
"Apenas relaxe." Melissa se estendeu
."Ou o quê?" Dess cuspiu. "Você vai me fazer igual ao pai do Rex?
A mão de Melissa congelou, com o rosto pálido de repente. As palavras vindas do nada
tinham funcionado; elas a levaram a parar.
"O que – o que você quer dizer?" Jessica gaguejou.
Dess podia ver o velho agora - os olhos vazios, a baba cintilante em seu queixo meio
barbeado.
A percepção aprofundou. "Você fez isso com ele. E Rex ajudou."
Melissa mordeu o lábio. "Isso foi um acidente."
"Um acidente?" Dess sentiu sua voz se erguendo, qualquer coisa para manter Melissa na
defensiva. "Você deixou ele um vegetal por acidente?"
Houve uma pausa. "Mais ou menos. Nós não sabíamos o que estávamos fazendo."
Jessica se encolheu em seu canto no banco de trás, os olhos arregalados. "Você pode
fazer isso? Vocês nunca me disseram..."
"Nós nunca dissemos a ninguém." Os olhos de Melissa se estreitaram em Dess, os dedos
de sua mão nua se flexionando. "Nem mesmo a pequena Dess. Mas alguém lhe disse."
"Como você pôde?" Jessica gritou. "Com o pai de Rex?”
"Foi fácil", Melissa cuspiu. "Você deveria ter visto o que ele estava fazendo a Rex."
"Jesus", Dess disse. "Eu sei que o cara era um babaca, mas..."
Melissa sacudiu sua cabeça lentamente. "Eu não estou falando sobre os espancamentos,
Dess. Inferno, tem hora que eu quero bater em Rex. Mas ele não podia suportar as tarântulas ... "
"O quê?" Dess sussurrou, mas ela se lembrou do terrário, vazio durante todo o tempo que
ela conhecia Rex. Ela sempre pensou que as tarântulas só tinham existido na mente do velho.
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“As aranhas peludas. O pai de Rex queria fazê-lo um homem ao invés de um bicha. Ele
costumava forçar Rex a permanecer quieto enquanto elas se rastejavam em cima dele.” Melissa
fez um som suave estrangulado. “Esta foi a primeira imagem que eu recebi dele, sabia? A
primeira vez que nós nos tocamos, quando Rex e eu tínhamos oito anos. Tarântulas. A mente
dele estava apodrecida com isso. Este é o porque demorou tanto para eu tocá-lo de novo.”
Houve silêncio no carro por um momento. Mesmo os cachorros lá fora se acalmaram,
como se eles estivessem escutando.
"Rex não teria sobrevivido se não tivéssemos feito o que fizemos", Melissa disse
finalmente.
"Jesus", Jessica disse.
A mente de Dess tinha ficado vazia. Ela não conseguia se trazer imaginando aquilo, não
queria tentar. Tudo o que foi deixado em sua cabeça era algo martelando mais e mais,
bloqueando qualquer outro pensamento: Mantenha ela falando. Não deixe ela te tocar.
"E eu era jovem", Melissa disse. "Eu não sabia como fazer isso. Eu não vou te machucar,
Dess." Sua voz era quase suplicante.
"Mas eu não sei de nada." Dess virou-se para Jessica por ajuda.
"Não, Melissa", Jessica disse. "Ela não quer você. Você não pode. "
"Então, apenas deixe Rex morrer? Pior que morrer?" Melissa sacudiu sua cabeça e tomou
Dess pelo braço com a mão enluvada. A outra se estendeu em direção a garganta dela. "Sinto
muito."
"Ada", Dess disse, respirando com dificuldade, o nome jorrando dela. "Não me toque."
"Melissa!" Jessica gritou, mas se encolheu mais longe, puxando-se em sua jaqueta,
apavorada agora pelo toque da telepata. "Nós iremos agora. O que você quiser. Nós não temos
que esperar por Jonathan. Só não... "
Melissa abanou a cabeça. "Você sabe onde Rex está."
Algo enorme correu dentro Dess e puxou suas pernas, a fazendo se agitar como uma
marionete. "Ada, Ada... "
E então aconteceu: a mão fria Melissa agarrou seu queixo, e uma onda de emoção
cascateou através dela. O esmagamento do estômago em pânico e ansiedade, o medo
avassalador que ela perdesse ele - seu Rex, seu Loverboy - e estar sozinha de novo, para
sempre. Oito anos de isolamento rolaram através de Dess, sozinha contra a invasão de dez mil
mentes... o jeito que Melissa havia sofrido antes de finalmente rastrear Rex através do terreno
escuro da meia-noite, correndo pelas ruas descalça no pijama de vaqueira.
E dentro de si Dess sentiu as coisas se desmoronando, barreiras dobrando-se sob o peso
da mente de Melissa, a casa deteriorada e o sótão vazio, os mapas antigos que mostravam as
correntes psíquicas de Bixby. E, finalmente, Madeleine, sua face enrugada proibida de se pensar,
trazendo o gosto amargo do chá tão agudo quanto o ácido do estômago em sua boca... Um abalo
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sacudiu seu corpo.
Aqui, apegue-se a isso Dess.
Outra onda inundou sua mente vinda de Melissa, mas desta vez eram números...
abençoadas fileiras de dígitos constante, que corriam como as coordenadas precisas de
Geoestacionário, tão molhada quanto uma fria toalha pressionada em sua cabeça em uma febre.
Elas se envolveram em torno da imagem da pista de emergência, carregada no nome de Angie.
Elas começaram a dançar, transformadas pela matemática de minutos e segundos, as
ondulações e convulsões se jogando de um lado a outro na mente refém de Dess.
Bem, encontre Loverboy. Isso é tudo o que importa.
Dess estremeceu, despojada de seus segredos e de sua vontade, até que finalmente ela
exausta disse, "Lovelace", em rendição e a última das barreiras caíram.
Segundos depois, a matemática estava feita...
Melissa escorregou a mão de seu rosto. A telepata caiu de volta no banco da frente,
respirando com dificuldade.
Dess se afastou, tentando não vomitar. Seu estômago doía e, muito pior, sua mente
parecia esmigalhada, aspergida com os temores e solidão de Melissa, todos os restos de sua
vida podre.
"Cara", Melissa disse silenciosamente do banco da frente. "Você tem estado ocupada."
"Eu te odeio. Isso era meu, não seu."
As mãos frias de Jessica tocaram o rosto de Dess. "Você está bem?"
Ela abriu os olhos e olhou para Jessica. Apesar do quanto ela ainda se sentia machucada
e quão repugnante a coisa toda tinha sido, sua cabeça estava mais clara do que ela esteve há
dias. Tudo aquilo que Madeleine tinha construído dentro dela... Melissa tinha os afastado. Dess
sabia a história secreta de novo, completamente e sem obstáculos.
"Telepatas", ela disse. "Eles são um saco."
"Você está me dizendo?" Melissa murmurou baixinho na frente. "Ela nos deixou sozinhos
todos estes anos... "
"Dess, você está bem?" Jessica repetiu.
As mãos frias pareciam boas contra a pele febril de Dess. "Não tão ótima." Ela tomou um
fôlego lento. "Mas vou viver. E eu sei onde eles levaram Rex. O lugar exato estava na cabeça de
Angie."
"Eu achei que sim", Melissa disse suavemente.
Faróis varreram o carro, tornando o espelho retrovisor em um olho, olhando horizontal.
"Merda, é depois de toque de recolher", Melissa murmurou.
"Talvez seja Jonathan", Jessica disse.
"Talvez", Melissa disse. "Se for a polícia, Rex está morto.”
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11h:07min da Noite
ESTRADAS ESCURAS
O velho Ford estava estirado de um lado a outro da estrada como se ele tivesse girado. As
luzes estavam apagadas e o motor silencioso. Ele não podia ver ninguém através das janelas.
"Cristo", Jonathan disse.
Ele trouxe o carro de seu pai a uma guinada e saltou, certo de que ele estava atrasado.
Primeiro não tinha havido nenhuma resposta quando ele bateu na janela de Dess. Então, ele
avistou longas marcas de derrapagem na estrada do cascalho, marcando onde um carro tinha
acelerado descontroladamente em frente de sua casa.
E agora isso. O carro de Melissa abandonado a um quilômetro abaixo da estrada.
Os seguidores dos Darklings tinham tomado todos eles.
Mas quando alcançou o Ford, Jonathan viu formas amontoadas dentro. Melissa estava
espalhada através do banco do motorista, a cabeça declinada para um lado. Jessica e Dess
estavam agachadas no meio da parte de trás, segurando uma a outra.
E sem Rex. Ele realmente se foi?
"Ei, Piloto", Melissa disse, abaixando sua janela. Seu rosto estava tão branco quanto a
morte. "É bom te ver."
A porta se abriu, e Jessica caiu fora. Ela jogou seus braços ao redor dele, seu rosto riscado
com lágrimas.
"O que diabos aconteceu?"
"Só um pouco de discussão sobre direção", Melissa disse. Sua voz era áspera. "Mas eu
acho que está resolvido."
A outra porta se abriu, e Dess ficou de pé e olhou vitriamente por cima do teto do Ford para
ele. "Eu sei onde Rex está. Nós temos que ir." Ela andou em direção ao seu carro, trêmula.
Todas as três pareciam terríveis.
"Vamos lá", Jessica disse, batendo a porta atrás dela e o puxando em direção ao carro do
pai de Jonathan.
"Alguém não deveria ir com Melissa?", Ele perguntou. "Ela não está tão bem."
"Apenas entre no carro e dirija", Dess disse.
Eles foram em direção a Aeroespacial Oklahoma, Melissa os seguindo e Dess no banco da
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frente ao lado dele, seus olhos treinados no brilho do GPS. Jessica sentou-se na parte de trás,
inclinada a frente para se manter tocando nele, agarrando-se a ele como se tivesse acabado de
ser resgatada de uma casa em chamas.
No caminho, Dess lhes disse sobre Madeleine, a velha telepata que ela tinha encontrado
escondida em Bixby, três dias antes. Jonathan mal podia acreditar nisso – havia tido outro
Midnighter na cidade todo esse tempo. A hora secreta era quase demais às vezes. A terra plana
podia ser bidimensional, mas, pelo menos as regras não ficavam mudando a cada dez segundos.
"Ela não sai de casa há cinquenta anos?", ele perguntou, horrorizado com a ideia. Ter que
ficar dentro por uma semana, quando ele esteve doente o deixou maluco.
"Quarenta e nove", Dess disse. "Ela podia ir lá fora, às vezes, enquanto ela estava
disfarçada. Se alguém reconhecesse ela, o Grayfoots poderiam ouvir que ela apareceu
novamente. E, depois que Melissa nasceu, ela só saia durante o horário da escola."
"O que vai acontecer agora?", Jessica disse.
“Agora que a rainha das vadias sabe?” Dess sacudiu sua cabeça, seus olhos nunca
deixando o GPS. “ Eu não quero pensar sobre isso. Tão logo nós resgatemos Rex, nós temos
que alertar Madeleine. Ou talvez ela tenha sentido isso por si mesma.”
“Mas eu pensei que os Darklings não podiam descobri-la por causa de onde a casa dela
esta.” Jessica disse.
“Yeah, mas eu sei o lugar exato, dentro e fora.” A voz de Dess era seca e exausta. “Como
Angie sabia onde levar Rex, sabia?”
Jonathan olhou de volta para Jessica. “Um, não de verdade.”
“Coordenadas significam algo para mim, algo sólido, como emoções tem sabor para
telepatas.“ Dess disse. “A localização na mente de Melissa agora. Ela as tirou de mim. Os
Darkling vão tirar isso dela em breve ou mais tarde.”
Jonathan fez uma careta. “Tomara que mais tarde.”
"Bem", Dess disse, "se nós dermos um murro no cérebro de Melissa antes da meia-noite,
não será um problema."
Houve um longo silêncio. Jonathan sentiu os braços de Jessica apertarem-se em volta de
seu peito, e ele se concentrou nas linhas brancas da estrada.
"Ninguém se habilita?" Dess suspirou. "Vamos lá, pessoal. Eu estou apenas brincando."
Jonathan engoliu em seco. Elas não tinham dito a ele exatamente o que tinha dado errado
no carro ou porque ele tinha girado para fora a um quilômetro da estrada que dava para casa de
Dess. Só que Melissa tinha tocado Dess, dando-lhe as coordenadas onde Rex havia sido levado.
E que seu toque tinha aberto toda a lata de minhocas de Madeleine.
Mas tinha que ser mais do que isso, Jonathan percebeu. Ele ainda tinha tremores quando
ele se lembrava de Melissa o tocando. Dess não poderia ter estado entusiasmada com o
compartilhamento de mentes com ela, e Jessica não estava empolgada por ter visto também. Até
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onde interessava, Rex ia enlouquecer.
Se eles chegassem a ele a tempo.
Jonathan olhou para o relógio: 11h:33min. Eles nem mesmo estavam na Aerospace
Oklahoma ainda. Voando, ele poderia cortar direto pela cidade e estar lá em questão de minutos.
Mas se o Darklings iam fazer alguma coisa a Rex, mesmo por pouco tempo após a meia-noite,
podia ser tarde demais.
"Desligue", Dess disse.
Jonathan reduziu, apertando os olhos na escuridão. Não havia nenhuma luz na rua aqui.
"Hum, onde?"
"Bem aqui." Ela apontou para o deserto. "Precisamos ir por esse caminho."
"Sim, mas um caminho seria legal."
Dess assobiou suavemente. "De acordo com os mapas da mãe de Jessica, deve haver
uma estrada de acesso bem... ali." Ela gemeu. "Ou talvez haverá. Talvez ela não esteja
construída."
Jonathan brecou o carro, observando o deserto sem luz estendido diante dele. "Olha, nós
podemos dirigir nas salinas sem problema. Mas isso é mato, areia solta, e cactos. Você quer ficar
presa?"
Dess sentada ao lado dele em pensamento silencioso. Os faróis de Melissa se ergueram
atrás, enchendo o carro com luz.
"Continue dirigindo", Dess finalmente disse, "mas pare no instante em que você puder.”
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11h:46min da Noite
PRIMEIRA LEI DO MOVIMENTO
“Lá!” Jessica gritou, apontando.
A entrada entrou no campo de visão, não mais do que um par de sulcos de pneus na terra.
Eles tinham finalmente encontrado um caminho para a planície. Ela foi a frente tomando os
ombros de Jonathan enquanto ele fazia a curva, tremendo novamente com o alívio, quando ele
apareceu. Jonathan podia ser um saco a respeito da terra plana às vezes, mas ele também era o
único entre os Midnighters que não era louco - o único que fazia ela se sentir segura. Nos
momentos presa no carro com uma Melissa delirante e uma Dess esquizofrênica, acelerando
para longe sem ele, fizeram Jessica bastante certa sobre isso.
A cerca de arame farpado da Aeroespacial Oklahoma estava a um par de milhas atrás
deles, as obras brilhantes visíveis em todo o deserto escuro. Eles tiveram que dirigir por todo o
caminho dela, antes de encontrar um caminho para o deserto.
"Cuidado com a segurança", disse ela. "Eles fazem todas essas coisas secretas aqui."
"Seguranças", Jonathan murmurou. "É só o que precisamos."
O carro arremeteu na estrada desnivelada, e Jessica soltou Jonathan e recostou-se,
abraçando-se contra o banco de trás. Ela olhou por cima do ombro para os faróis de Melissa, na
esperança de que o velho Ford tivesse atolado na areia. Mas o carro seguiu, ainda perto, como
um determinado cão de caça em seu rastro.
Jessica olhou para Dess a frente, seu rosto suavemente iluminado pelo brilhante visor de
seu dispositivo. Ela não falou muito desde depois de falar sobre Madeleine.
Jessica queria falar com ela, para ter certeza de que ela estava realmente bem. Claro, ela
teve dois telepatas mexendo com seu cérebro, por isso talvez ok não era bem a palavra. Mas no
momento em que as duas estivessem sozinhas, Jessica teria que dizer o quanto ela se
lamentava. Ela tinha sido a que revelou o segredo de Dess. E então ela ficou lá sentada
assistindo, com medo de se mover, enquanto Melissa tinha feito aquilo a Dess...
O carro deslizou violentamente para um lado, seu motor rugindo, enquanto os pneus
perdiam a tração por um momento sobre a areia. Pedras soltas sibilavam na estrutura de metal
embaixo dela. Jonathan lutou com o volante, e eles se precipitaram a frente de novo.
Através de tudo isso, Jessica viu, Dess nunca tirou os olhos do GPS. "Estamos quase nas
salinas", ela disse.
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"Eu posso vê-las", Jonathan respondeu.
Um momento depois, o carro nivelou, de repente, dirigindo tão suavemente como se eles
tivessem encontrado asfalto.
"Bem vindos a pista de emergência de Bixby, extremidade sul", Dess anunciou.
Jonathan pisou no acelerador, pressionando Jessica de volta ao banco. Uma imensidão de
luar branco brilhava diante deles, os restos salgados de um mar antigo, tão plano quanto um
estacionamento.
O carro de Melissa guinou atrás deles, então arrancou ao lado deles. Através da janela
traseira Jessica pode ver caudas enormes de poeira levantando-se dos dois carros, brancas e
cristalinas, brilhando sob o luar.
"Essa coisa tem um relógio?" Jonathan perguntou a Dess.
"Exato em um milésimo de segundo", ela disse.
"Ótimo. Diga-me quando frear. Eu não quero ir através do para-brisa"
Jéssica engoliu em seco.
“Nós não sabemos o que acontece se você dirige um carro exatamente a meia noite”, ele
explicou. “Nós poderíamos manter nosso instante enquanto o carro congela. Ou talvez não.”
“Por alguma razão, nenhum de nós se voluntariou para testar a teoria.” Dess disse em tom
seco.
“A maldita primeira lei do movimento de novo! “ Jéssica rosnou. “O quão longe estamos de
Rex?‟
Dess calculou por um momento. “Oito quilômetros – cinco milhas para vocês crianças – e
há três minutos e trinta segundos atrás. Nós precisamos fazer isso a noventa milhas por hora.”
Houve uma pausa, quando Jonathan disse. “Está a toda velocidade e nós mal fazemos
setenta.”
“Nós estaremos baixos por 1.11.” Dess disse suavemente. “E esta coisa não funcionará na
hora secreta.”
“Apesar de que estaremos perto”, Jonathan insistiu, ”e nós estaremos voando.”
Dess olhou pela janela. “Olhe como a rainha das vadias tem o cheiro.”
Jéssica seguiu seu olhar. Melissa estava a frente.
******
Dess contou em regressiva de dez. “Nove... oito...”
Jéssica checou seu cinto de segurança de novo, desejando que eles não estivessem
reduzindo tão perto. Eles não estavam tão longe do local e, independentemente do que os
Darklings planejassem fazer a Rex, tinha que levar algum tempo. Mas Dess e Jonathan estavam
determinados a chegar tão perto quanto eles pudessem antes que a hora das bruxas soasse.
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E ela teve que admitir que 70 milhas por hora estava diminuindo a distância mais
rapidamente do que Jonathan poderia voar.
"Três... dois... um... freie!"
Ela foi sacudida para a frente e carro o derrapou, os pneus soltando um grito enquanto eles
se prendiam ao sal. O cinto de segurança de Jessica mordeu em seu ombro, e uma enorme
nuvem branca subiu ao redor deles, borrando a lua. O carro balançava como um brinquedo de
parque de diversões até que a nuvem encheu o para-brisa dianteiro - eles tinham girado 180
graus.
Antes que eles derrapassem completamente até parar, outra sacudida os atingiu, de
repente como se os pneus do carro tivessem presos em um mata moscas. Um banho de azul
varreu a expansão branca, e o cinto de segurança cortou através de Jessica como uma faca, sua
cabeça batendo contra o assento traseiro.
E então, tudo estava quieto, um absoluto silêncio caiu sobre o rugido do motor e guincho
dos pneus.
"Ai!" Jessica exclamou.
"O quê?" Jonathan perguntou, virando-se. "Eu não senti nada."
"Você está brincando", Jessica gemeu. Parecia que uma armadilha de urso tinha se
fechado em seu ombro.
"Deve ser uma coisa de acrobata", ele disse.
"Quase são ruins quanto telepatas", Dess murmurou enquanto ela se desprendia,
esfregando seus ombros e pescoço.
Eles desceram. Jessica tossiu, sentindo o gosto das nuvens suspensa de sal que
serpenteava no giro do carro e nos pneus congelados. Ela viu uma nuvem igualmente imóvel a
frente, marcando onde o carro de Melissa tinha acertado a parede da meia-noite.
"Você pode voar com nós duas, certo?" Dess disse, levantando a sacola chacoalhante
sobre um ombro.
"Não será tão rápido", Jonathan disse.
"Nós precisamos de você, Dess", Jessica insistiu. Ela não ia a deixar aqui para trás.
"Segure a mão esquerda dele."
Com Jonathan no meio, eles se dispuseram na direção em que eles tinham estado se
dirigindo. O primeiro salto saiu mal no impulso de Jessica que era muito forte, que os enviou
girando em órbita ao redor de Jonathan. Eles patinaram numa desajeitada parada através do sal.
"Comece devagar", ele disse. Jessica se lembrou de quando ela aprendeu a voar, fazendo
passos fáceis para saltos gigantes.
Eles se empurraram de novo, um salto de aproximadamente dez metros, e em seguida,
dobrando ele na próxima vez para o ar.
Logo eles estavam vencendo o deserto abaixo deles, indo em direção da pluma congelada
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do carro de Melissa.
"Isso não é bom", Jonathan disse.
Jessica espreitou dentro da escuridão. "O que não é?"
"Seu rastro de poeira não é tão grande quanto o nosso", ele disse. "É como se ela não..."
Sua voz foi sumindo enquanto eles davam seu próximo passo que os levou através da nuvem
picante de sal, uma chuva de agulhas, que forçou seus olhos e boca a se fecharem. Quando eles
se afastaram dela, Jessica pode finalmente ver o carro por si mesmo, um vulto negro no
firmamento azul brilhante.
"Ela não o fez", Dess disse.
"Não fez o quê?", Jessica perguntou.
"Freou a tempo."
Um cintilante triangulo se espalhava a frente do carro, um spray de brilho do vidro de
segurança vindo de um buraco no para-brisa
Vinte metros adiante, um vulto escuro estava deitado sobre o sal.
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12h:00min da Madrugada
CHOQUE
A meia noite não parecia tão boa.
Ela não tinha trazido o seu costumeiro silêncio impressionante. Em vez disso, tinha sido
uma explosão súbita de ruído e a violenta dor na mente que a tinha deixado aqui, nadando neste
lugar escuro.
Melissa se lembrou de dirigir rápido, olhando para o relógio, deixando o pé no acelerador,
diminuindo enquanto ela esperava até o último momento para apertar os freios.
Ah, sim. Realmente é importante frear...
Com esforço, ela abriu os olhos. Havia estrelas em frente a ela, pontinhos de luz dançando
contra um céu frio e escuro.
Não pode se distrair. O freio...
Melissa moveu o braço dolorosamente, trazendo o pulso a frente de seus olhos. Ela teve
que lutar para trazer os números em foco.
A face do relógio estava quebrada, os ponteiro parados nos oito segundos para meia-noite.
Ela se deixou cair de volta no sal, finalmente entendendo.
"Relógio barato estúpido...", ela murmurou.
Então sua cabeça começou a latejar. Melissa sabia tudo sobre dores de cabeça. Ela sentia
a sua própria e a de todos os outros desde o dia em que ela nasceu. Totalizando, ela
provavelmente passou anos de sua vida com uma dor de cabeça. Mas esta... era a pior.
Ela nadou na escuridão por um tempo, a dor se espalhando como uma ferida até a ponta
dos dedos. Então ela ouviu passos batendo através do chão do deserto.
"Melissa!"
Estúpida portadora de chama barulhenta. O cérebro de Jessica zumbia com o gosto de
uma bateria de nove volts pressionada contra a língua de Melissa.
"Silêncio", ela ordenou, perguntando se os seus olhos estavam fechados. Abertos ou
fechados, haviam estrelas na frente dela. Altas como um alarme de carro.
"Não a mova."
Talvez essa fosse a voz de Jonathan. O sabor exuberante do Piloto estava por aqui em
algum lugar.
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Melissa decidiu abrir os olhos. As vozes não iriam embora até que ela olhasse para eles.
Olhar era bom para fazer as pessoas irritantes fecharem a boca.
O rosto turvo preocupado de Jessica apareceu.
"Eu estou bem."
Tudo estava bem... exceto pela tontura e a sensação de que ela ia vomitar e a dor de
cabeça. Enfim, havia um frasco de aspirina no porta-luvas, como sempre.
Onde estava o seu carro, afinal? Ela levantou a cabeça para olhar. Jeez, estava a
quilômetros de distância.
"Fique imóvel", Jessica aconselhou.
Sim, eu estava prestes a começar a dançar. Melissa pensou.
Em seguida, um pedaço de memória caiu do céu estrelado, o porquê ela estava dirigindo
tão rápido.
E mesmo através da dor ela disse: "Vão buscar o Rex, seus idiotas."
Os três se entreolharam, e ninguém disse o que eles estavam pensando, enquanto
preciosos segundos se passavam.
Finalmente Dess disse: "Tudo bem. Eu vou ficar aqui."
Melissa fechou os olhos. Pobre Dess, sempre a de fora. Não podia voar, não poderia trazer
a chama. Os três deveriam ir, deixando ela para os Darklings. Ser comida não podia ser pior que
essa dor de cabeça.
Mas, a discussão doiria também.
Suas vozes e pensamentos ficaram ainda mais altos. Dess mantinha-se dizendo a Jessica
que direção tomar.
Piloto estava ansioso para começar e também o aliviado silêncio por ter apenas um
passageiro para transportar. E durante todo o tempo, nem mesmo uma milha de distância, o
gosto árido de coisas sombrias estava se reunindo.
"Vão", ela tentou dizer.
Se Rex estava lá fora, ele estava inconsciente. Melissa não podia prová-lo. Mas ela tinha
ido em frente seguindo o sabor de uma mente familiar. Angie não estava longe, sua confiança
insolente silenciada agora pela meia noite.
Ah, se apenas Melissa pudesse se arrastar aquela milha, as coisas que ela faria a Angie. O
pai de Rex poderia sapatear ao redor dela depois que Melissa terminasse.
Mas deitada era melhor. Então, ela ficaria imóvel por enquanto.
“Acorde.”
Só Dess agora. Os outros dois tinham desaparecido, finalmente voando para ajudar Rex.
Os pensamentos da gênio da matemática preencheram o ar enquanto Dess colocava barreiras
no chão, proteção das coisas sombrias ao redor delas.
“Acorde!” Você tem uma concussão. Se você dormir, você pode morrer.”
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Melissa rosnou. “Para mim, tudo bem.”
“Que coincidência. Está ótimo para mim também.”
Ela abriu seus olhos, olhou para a pobre e solitária Dess, o sabor tão amargo quanto
borracha queimada. Dess pensou que ela tinha sido roubada de sua amiga secreta. Ela não via o
que Madeleine era? O que ela tinha feito a todos eles? Melissa não tinha tido escolha.
Ela lambeu seus lábios, querendo desesperadamente um gole de água.
“Eu sinto muito ter te tocado Dess. Mas eles levaram Rex... eu tinha que achá-lo.”
Nenhuma resposta, apenas o bater das estacas no chão duro. Cada golpe era como um
picador de gelo através do cérebro de Melissa.
Finalmente o martelo parou. "Eles sabem sobre ela agora, não é?"
"Eles já sabiam."
Melissa fechou os olhos. Aqui, semiconsciente no meio do deserto, ela estava inundada
pelos pensamentos Darkling, seus ritmos lentos mais fáceis de tomar do que o zumbido dando
dor de cabeça dos humanos.
Não tinha sido o primeiro erro de Madeleine quando ela apareceu no curso dos cérebros
de Jonathan e de Jessica. Ao longo dos anos, os Darklings tinham farejado a existência dela.
Eles dificilmente poderiam perder o jorrar de jovens Midnighters aparecendo em Bixby. E os mais
velhos e mais paranoicos tinham sempre suspeitado que alguém tivesse sobrevivido.
Então ela percebeu o óbvio.
"Esse é o porquê eles nos deixarem viver", ela resmungou.
As batidas pararam.
"O quê?"
Falando machucada, mas pelo menos Dess não estava dirigindo as estacas da barraca
enquanto ela ouvia. Melissa ergueu a cabeça um pouco e rolou dolorosamente para o mesmo
lado, sentindo os ombros contundidos e as mãos rasparem o sal.
"Nós não éramos uma ameaça, não até que Jessica apareceu. Assim, o Darklings foram
espertos: eles nos deixou sobreviver. Para encontrar Madeleine."
E para deixar Rex maduro, ela pensou. Eles haviam tomado Anathea muito jovem, e foi
por isso que ela estava morrendo depois de apenas dois anos no tempo Darkling.
Eles queriam Rex para ser seu escravo pelos séculos...
Melissa gemeu, sua cabeça afundando de volta ao sal.
“Você pode senti-la?” Dess perguntou.
Melissa suspirou. Projetar-se de tão longe machucaria sua cabeça, como tudo fazia. Ela
podia sentir o sangue escorrendo em seu rosto agora, seu progresso tão lento quanto óleo
espesso. Mas ela devia a Dess uma resposta.
Ela enviou sua mente além da margem do deserto para a cidade em silêncio, procurando
pelo local nulo que os números de Dess tinham descoberto, escondido atrás das contorções da
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meia noite.
Bem na hora Melissa os sentiu observando e percebeu o que ela quase tinha feito. Os
Darklings estavam ao redor, desconfiados da barreira que Dess tinha feito, mas prestando muita
atenção. Eles tinham quase seguido seus pensamentos a Madeleine.
Melissa sorriu e deixou o conhecimento que ela tinha tomado de Dess se dispersar como
vidro fragmentado. A coisa sobre atravessar um para-brisa, fez fácil não pensar. Eles filtrariam o
lugar secreto de Madeleine de sua mente, eventualmente, mas não esta noite, não com esta
concussão enfurecendo em sua cabeça.
"Madeleine está bem", disse ela. Por agora.
Dess começou a martelar as estacas de novo. A proteção poderia nem mesmo ser
necessária – os Darklings tinham um peixe maior para fritar. Uma massa escura deles borbulhava
furiosamente por perto, excitados por algo em seu...
“Não”, Melissa murmurou, e sua cabeça afundou de volta no chão duro.
Ela se deixou ser invadida, dentro e fora da corrente de sono misericordioso que poderia
matá-la, a consciência muito dolorosa para suportar.
É claro, ela realmente deveria lembrar a Dess sobre o carro suspenso a dezoito metros de
distância. Ele estava congelado agora, mas o velho Ford estava imóvel fazendo melhor que 40
milhas por hora e direto na direção delas, sem ninguém ao volante.
Mas as palavras de advertência não poderiam se formar no emaranhado de sua mente.
Em meio ao encontro de Darklings estava um sabor que distraia, o sabor mais familiar que ela
conhecia... mas agora diferente.
Não muito longe dali, Rex estava acordando.
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12h:00min da Madrugada
INDEFESO
O mundo estava girando, seu coração batendo num ritmo de pânico. Ele queria correr, mas
suas pernas pareciam estar afundadas em algo denso e amargamente frio. Então ele se lembrou
que era tarde demais – eles já o tinham capturado.
Rex debilmente moveu suas mãos, arranhando a parede que se pressionava contra ele.
Então o mundo se inclinou de novo, e ele lentamente percebeu que a expansão dura era o chão.
Ele estava e de bruços. Seus pulmões trabalhavam contra algum peso terrível, como se um
imenso e inconsciente corpo deitasse sobre ele.
E ele estava cego.
Ele tossiu, sentindo o sal e o sangue em sua boca. Respirar não era fácil, o que quer que
os sequestradores tinham usado para golpeá-lo, ainda preenchia sua cabeça.
Rex tentou abrir seus olhos, mas algum tipo de sujeira se agarrava em seu rosto. Ele
também a sentia espalhada em seu peito e entre seus dedos. Viscosos, fios quentes de coisas
puxavam de seus lábios quando eles se repartiram para soltar um gemido, como se ele tivesse
sido jogado em um buraco cheio de vísceras frescas de um matadouro.
Imagens de aranhas preencheram sua mente, e Rex se lembrou do velho Darkling em
Constanza, cuspindo muco fumegante enquanto ele morria. O coração dele começou a bater de
novo, o pânico brotando e suas mãos arranhando cegamente. Mas tarântulas de verdade não
disparavam teias, ele lembrou a si mesmo.
Ele puxou uma mão pesada em direção ao seu rosto e sentiu o arrastar de areia fina. Virar
a cabeça parecia impossível - como se estivesse preso em um torno - mas ele forçou os dedos a
raspar de um lado do seu rosto até que seu olho direito conseguiu abrir uma fenda.
Rex vislumbrou a luz azul e, pela primeira vez, notou o silêncio. Apenas o seu próprio
batimento martelava em seus ouvidos. Ele deve ter ficado inconsciente por horas, a hora estava
azul aqui.
Um vislumbre de esperança passou por ele. O entendimento de seus sequestradores da
hora secreta não podia ser perfeito. Eles nunca tinham lido a tradição Midnighter, apenas ordens
tiradas dos seus "fantasmas" às cegas, sem real compreensão. Talvez eles não perceberam que
Rex ainda estaria acordado enquanto eles estavam congelados. Talvez eles tivessem cometido
um erro.
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Mas ele tinha que se mexer, tinha que se levantar. A hora azul poderia estar apenas
começando ou quase acabada. E essa coisa pegajosa sobre ele provavelmente não era um bom
sinal.
Rex limpou seu rosto com as duas mãos, rasgando a sujeira grudante até que ele pudesse
abrir ambos os olhos. O chão do deserto azul encheu sua vista através da visão turva; ele ainda
não conseguia virar a cabeça. Ele tentou empurrar-se acima, mas seu peito só subiu apenas
alguns centímetros do chão, antes de afundar novamente. Lutando para se virar, ele rasgou com
os dedos na terra, mas o peso enorme em cima dele o pressionava firmemente contra o chão,
quase paralisado, sem respirar com o esforço de lutar. Ele não conseguia sentir as pernas.
O que estava em cima dele?
Com seu rosto esmagado contra a terra, Rex provou o sal. Estas eram as salinas, ele
percebeu. Ele tinha sido despejado longe no deserto, a milhas da humanidade. Mesmo se a meia
noite tivesse apenas caído, eles estariam aqui em breve.
Então ele ouviu algo, um grito abafado.
Ele escutou, e sons distantes o alcançaram de todas as direções, estridentes e não
humanos. Ele fracamente agarrou suas orelhas para afastá-los. E de repente o barulho tornou-se
ensurdecedor. O silêncio tinha sido só por causa da sujeira em seus ouvidos.
Eles já estavam aqui, todos ao seu redor.
Rex sentiu sua respiração prender no medo e alcançou Glorification40 no pescoço. Mas as
correntes de aço tinham sumido, juntamente com o casaco e camisa. Ele não sentia nada contra
sua pele, exceto o lodo grudando e o peso opressivo que o pressionava para baixo contra o sal.
Algo preto e brilhante deslizou dentro da visão.
Um rosto pequeno, a centímetros do seu, olhou para Rex. Um slither rastejando, seus
olhos sem alma o espreitando com curiosidade.
Enquanto sua mente se esforçava para chegar a um tridecalogismo, ele se perguntou o
que um slither golpeado no globo ocular sentiria.
"Descompressão", ele resmungou.
Um punho invisível atingiu seu estômago, forçando o ar de seus pulmões escassos, como
se o deserto tivesse arremetido zangado nele.
O slither se contorceu fora da vista. Encorajado por esta vitória, Rex empurrou-se contra o
chão do deserto novamente.
De repente, o peso se levantou dele, todo o seu corpo subindo no ar. Os braços de Rex
bateram fracamente e o que quer que o tenha carregado balançou, o horizonte azul inclinando.
Através de sua visão turva, ele vislumbrou as formas de aranhas e vermes, cobras
gigantes e felinos de caça, e coisas que ele não reconheceu, bestas pavorosas que misturavam
40
Glorification – Glorificação, admiração. Não possuem 13 letras.
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réptil e mamíferos e aves de rapina. Mais Darklings do que tinha imaginado, envelhecidos e
antigos. O chão debaixo deles fervilhava com slithers, contorcendo-se entre os tornozelos dos
três seres humanos congelados. Rex reconheceu o rosto imóvel de Angie, Ernesto Grayfoot com
sua câmera.
Um som humano veio da balburdia Darkling, como uma criança chorando.
Ele forçou seus olhos a se forcarem e viu uma jovem garota entre as formas escuras. Ela
se deitava encolhida sob o chão, nua, um fino e estrangulado ruido vindo dela.
Outra vítima aqui fora no deserto.
Mas Rex não tinha metal, nem armas de nenhuma espécie, nem mesmo roupas, nada
além de palavras para lutar. Ele puxou uma dolorosa respiração em seus pulmões.
“Magnificência.”
Outro golpe o esmurrou, e ele cambaleou para trás, balançando muito alto no chão, como
um amador em pernas de pau. Mas o equilíbrio voltou, e ele finalmente viu as grandes asas
encontrando o ar de cada lado dele, puxando-o na posição vertical. Um cintilante lodo viscoso se
apegava a elas.
Ele deixou seus olhos se fecharem, finalmente compreendendo. O que a garota era; o que
ele tinha se tornado.
"Desaparecimento41", ele sussurrou.
A dor aguda e impressionante golpeou de novo, como se ele estivesse vomitando algo
espetado enorme. As palavras de treze letras eram venenosas em sua boca, é claro. Mesmo
pensar nelas fazia sua mente se dividir ao meio, rasgando a parte de seu cérebro que ainda não
podia acreditar no que tinha acontecido, a parte que era ainda humana.
Era tarde demais para fugir, tarde demais para lutar.
Rex era um deles agora.
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Disappearance – Desaparecimento. O que Rex diz tem 13 letras.
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12h:00min da Madrugada
VIDENTES
O primeiro slither atingiu sem aviso.
Um enxame pairava à distância, marcando o local onde Rex devia estar, mas a cobra
voando pareceu vir do nada, olhando para o braço de Jessica e deixando ele zumbido como um
martelo até o osso.
Com sua mão meio dormente, Jessica puxou lanterna.
"Unanticipated Illuminations42", ela sussurrou, e a virou.
Poder surgiu através dela, e outro slither reluziu em seu raio, enchendo a escuridão com
uma chama vermelha e um grito estridente. Jessica varreu a luz branca através do caminho
deles, incendiando um punhado mais de slithers diante deles.
"Do que esta coisa é chamada?" Jonathan perguntou, apertando os olhos na luz e
gesticulando com o seu escudo.
"Uh... Dess disse para chamá-lo de Brogdignagian Perambulation.43"
"Isso é Inglês?"
"Sim, significa „Walking Tall 44‟, de certa forma." Ela tocou o escudo e disse o nome
novamente.
Enquanto eles desciam, Jessica captou movimento no chão do deserto abaixo. Ela
apontou o feixe para baixo, incendiando um ninho de slithers rastejantes que tinha estado
esperando por eles.
"Eles estão por toda parte!"
"Tentando nos atrasar", disse ele.
Algo agitou-se atrás deles, e Jonathan gritou enquanto um slither o golpeava no meio das
costas. Ele tropeçou enquanto aterrissavam, arrastando Jessica no sal, antes que ela perdesse o
aperto da mão dele, a gravidade normal se cobrindo sobre ela como um cobertor de chumbo. Ela
caiu sobre slithers mortos, o fedor de carne queimada enchendo seus pulmões.
Batidas de asas encouraçadas diminuindo ao torno deles, carregando os gritos para
longe.
Jonathan viu seus olhos lampejarem o violeta da chama. "Quanto tempo faz aquela última
42
Unanticipated Illuminations - Esclarecimento não antecipado 43
Brogdignagian Perambulation - Perambulação Brogdignagian 44
Walking Tall – deixei em inglês porque literalmente seria caminhando alto. Mas seria melhor colocado como caminhando
firme, ereto
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coisa?"
"Meia hora, eu acho. Mas ela vai sair, se eu a soltar."
"Não. Eu não posso ver nada, mas é melhor do que ficar mastigado em pedaços." Ele
estendeu uma mão, mantendo a outra sobre os olhos, favorecendo a sua perna direita. "Você
navega. Diga-me quando saltar."
Jessica tomou a mão dele. A leveza de Jonathan a guardando, misturando com as
energias selvagens fluindo através de seu corpo e da chama sibilando. Ela calculou o próximo
salto, puxando a mão para indicar a direção.
"Três, dois, um..."
Eles saltaram, mas a perna mordida de Jonathan se curvou, enviando-os girando em torno
um do outro. Jessica corrigiu o voo deles com um toque de seus ombros, a segunda lei,
finalmente e misticamente tornando-se clara em sua mente. Tarde demais para um teste de
física, mas talvez a tempo para salvar Rex...
Seus pés tocaram abaixo, e ela puxou Jonathan para o próximo salto, perfeitamente desta
vez. No ar, ela o puxou para perto de modo que ele não lançaria um trecho de sombra no céu do
deserto e abriria uma linha de ataque. Ele enterrou o rosto no ombro dela, fugindo das centelhas
de Explosividade que giravam em torno deles.
"Mais um e nós estaremos lá", ela disse no ápice do salto deles. Já a nuvem de slithers e
Darklings a frente estava se dispersando, aterrorizados com a chama brilhante, destinada em
direção a eles. Jessica sentiu seu próprio cabelo chamuscado no véu de faíscas, mas, como a
soldagem na casa Dess, o cheiro de combustão só a estimulou.
"Dois... um..."
Eles aterrizaram e pularam novamente em perfeita sintonia, voando direto para o enxame.
Foi como cair através de um coro de gritos.
Chamas se espalharam em todas as direções, enquanto slithers muito lentos ou muito
estúpidos para fugir, eram incendiados por Explosividade. Estes debulhavam suas asas ardentes
e tornavam-se nos outros, carregando o inferno em uma esfera se expandindo, como um grande
olho brilhando abrindo-se ao redor deles. Um Darkling, na forma de uma pantera alada, foi preso
pelo incêndio se espalhando. Ele girou em círculos, tentando se colocar para fora antes de cair do
céu.
"Isso soa bastante intenso", Jonathan disse, com os olhos fechados.
"Bastante", Jessica respondeu. Seu corpo inteiro cantarolou com o sibilar bravejando da
chama.
Eles caíram através da massa, um anel de queda, bestas ardendo iluminando o chão do
deserto abaixo deles.
"Nós estamos descendo", Jessica avisou, segundos antes que eles aterrizassem e
cambaleassem até parar.
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No centro dos slithers queimando – direto no lugar que Dess tinha predito - havia três
cadáveres, congelados pela meia-noite. Um deles era o espião de Jessica, o lindo Ernesto
Grayfoot, câmera na mão.
Outro era uma mulher alta com cabelos loiros, o terceiro um velho, elegantemente vestido
com roupas que pareciam de décadas atrás. Mesmo a distância, Jessica podia ver a semelhança
entre Constanza e seu avô.
A quarta figura encolhida no sal entre eles, pequena, nua e pálida.
Jessica soltou a mão de Jonathan e correu para a figura trêmula, carregando Explosividade
sobre sua cabeça, as sombras demoníacas cuspindo em todas as direções.
Não era Rex.
A menina estava doente e debilitada, as pernas finas demais para se sustentar. Pedaços
de pele curtida agarrava-se a sua carne humana, que brilhava num branco albino dos anos na
escuridão.
“Brilho...” ela disse com a garganta seca, tão cega quanto Jonathan pela chama.
É claro, ela era ainda uma Midnighter. Uma vidente, Rex e Melissa tinham dito. Jessica
escondeu a chama atrás dela, e os olhos abriram numa fresta, cintilando roxo.
“Você finalmente veio.”
Jessica piscou. Finalmente – depois de cinquenta anos. A garota não podia compreender o
quão longo tinha sido.
“Sim. Você está bem agora.” Ela não parecia bem. Ela mal podia sustentar sua cabeça
levantada, seus músculos enfraquecidos dos anos aprisionada na carne Darkling.
“Eu não te conheço,” ela disse suavemente. “Eu sou Anathea.”
“Nós somos novos na cidade.“ Jonathan disse, mancando atrás de Jessica. “Anathea nós
estamos procurando por um amigo...”
“O outro vidente”, ela disse, acenando triste. “Eles o transformaram e me deixaram aqui.”
“Você sabe para onde eles o levaram?”
“Eu posso olhar.” Ela apontou um dedo fino para Explosividade. “Mas ponha isso para
fora.”
Jessica se virou e a jogou na escuridão. No momento que ela deixou sua mão, a chama
faiscou, morrendo antes que ela atingisse o chão. Ela puxou Unanticipated Illuminations de novo,
no caso de algum slithers ousar perfurar o chão ao redor.
A garota suspirou em alívio na súbita escuridão e abriu bem seus olhos. Ela varreu seu
olhar de vidente através do horizonte, então acenou.
“Eles voaram por ali.”
“Voaram...” Jessica mal podia distinguir um bando de formas contra a lua crescente. Rex e
sua nova comitiva.
Eles estavam muito atrasados.
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“Nós temos que segui-lo...”, ela disse desesperadamente. “Tentar salvá-lo.”
“Se você mantê-lo no chão até o sol aparecer”, a garota disse. “a carne do Darkling
queimará, eu acho.”
“Eu tenho o meu próprio sol”, Jessica disse. Sua mão agarrando Unanticipated
Illuminations. “Vamos, Jonathan.”
Ele hesitou, olhando para Anathea. “Você vai ficar bem?”
A garota sacudiu sua cabeça. “Eu sei por que eles me deixaram ir.” Ela afundou de volta no
chão, exausta.
“Vamos!”
“E se eles voltarem e machucá-la?” Jonathan disse.
“Eles não querem minha carne”, Anathea respondeu. “Eu sou uma deles agora.”
Jessica olhou para o enxame em fuga, gelando pelas palavras. Se isso era verdade, então
Rex era um deles também. “Nós temos que ir, Jonathan.”
Jonathan parou, então tirou sua jaqueta e a envolveu ao redor dos ombros frágeis da
garota.
“Nós voltaremos”, ele disse a Anathea, e então tomou a mão de Jessica.
Unanticipated Illuminations varreu o céu noturno nervosamente, seu feixe abrindo um
caminho diante deles.
Uns poucos enxames de slithers desafiaram a luz, mas explodiram instantaneamente em
bolas de fogo, consumidos enquanto eles caiam em direção ao chão.
Mesmo com Jonathan meio as cegas, eles ganharam vantagem sobre o enxame
rapidamente. Logo Jessica podia ver o porquê. Em seu centro oscilado um darkling em quase
forma humana. Seu voo era desajeitado, descoordenado e as asas do corpo se sacudiam
terrivelmente, como se estivessem em guerra consigo próprio. Sua longa cauda espetada
balançava como a de um gato nervoso através do ar.
"Rex", ela sussurrou.
Eles se aproximaram, e a lanterna começou a rasgar a margem rastejante do enxame,
incendiando slithers e levando o resto a vórtices loucos.
Dois Darklings desceram para se juntar a coisa no centro, tomando suas posições um de
cada lado e tentando o persuadir a frente, mas Jessica viu seus braços humanos debatendo, os
rechaçando.
No pico do próximo salto deles ela apontou Unanticipated Illuminations direto para o
enxame, e disse o nome dela de novo, desejando cada grama de seu poder estivesse sobre ela.
O feixe varou através da massa, e os dois Darklings gritaram e se afastaram, o halfling
explodindo em chamas.
"Rex", ela chorou.
A forma em chamas caiu, girando em direção ao chão como um avião de papel amassado.
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No último momento ele conseguiu ondular uma aba de suas asas em chamas, trazendo-se
suavemente para a terra antes de desmoronar.
O enxame se retorceu ao redor, transformando-se em um turbilhão que cercava a criatura
caída. Slithers se separaram da massa retorcendo, lançando-se do caminho de sua lanterna,
desintegrando-se enquanto eles voavam. O fedor dos gritos dos animais queimando começou a
sufocá-la.
Então, um atingiu o ombro direito de Jessica, riscando abaixo e enviando um dardo gelado
de dor através de seu braço. Ela girou a lanterna ao redor, queimando slithers em todas as
direções.
Mais havia tantos deles, e ela não tinha outra chama.
“Pare!” Ela gritou enquanto eles aterrizaram e Jonathan tropeçou cegamente numa parada.
“Há muitos!”
Uma forma assomou-se diante dela, e Jessica reflexivamente levantou a mão para
proteger o rosto. O slither saltou de seu pulso com um guincho, deixando os talismãs de
Acariciandote brilhantes. Em meio à escuridão, ela viu as formas elegantes distinguindo-se
através do deserto, os felinos de caça vindos na direção deles há dez metros.
Ela podia queimar todos eles, um por um, Jessica sabia, mas enquanto isso os slithers
rastejantes a cortariam em pedaços. Os Darklings, entretanto, cautelosos e temerosos depois de
sua longa vida, estavam dispostos a se sacrificar para salvar o seu novo halfling.
E matar Jessica Day no processo.
“O que é que eu faço?”, ela murmurou.
"Eu tenho você", Jonathan disse. Os olhos bem fechados contra sua luz emitindo branco,
ele envolveu-se em torno de Jessica, protegendo suas costas. "Apenas se mantenha lutando."
Ela sentiu o corpo se enrijecer enquanto um slither o acertava por trás.
"Jonathan!"
Ele gemeu. "Apenas lute!"
Não havia tempo para discutir. Ela virou Unanticipated Illuminations no Darkling mais
próximo, que tropeçou e uivou enquanto a chama patinava através de seu pelo. Ela varreu a luz
através de um bando de slithers para chegar ao outro grande felino. O animal pulou para o lado,
mas ela o seguiu com um movimento do pulso dela até que ele foi reduzido a brilhantes partículas
dispersas de um lado a outro do sal. Jonathan vacilou novamente como se algo o ferisse,
puxando-a para fora de equilíbrio enquanto ele sacudia Perambulation cegamente.
Jessica cerrou seus dentes e ignorou seus gritos de dor, mirou sua lanterna em outra
pantera, cujos olhos brilharam em roxo, em seguida agitou sua cabeça. A coisa gritou, lançando-
se no ar, asas explodindo em chamas mesmo enquanto elas brotavam de suas costas.
Ele caiu no chão perto o suficiente para estremecer o deserto sob seus pés, revolvendo
uma nuvem que rolou entre eles, enchendo os olhos de Jessica com picadas salgadas.
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Outro slither se incendiou por trás dela, enquanto Jonathan o afastava com seu escudo.
Um assobio veio de cima, um enorme Darkling mergulhando através do ar. Mas o feixe de
Ilumination o transformou em um brilhante meteoro guinchante caindo no chão. Ele veio direto em
direção a eles, uma roda girando ardente de garras e dentes e asas. Jessica lutou, tentando não
sair do caminho dele, mas Jonathan estava envolvido em torno dela, ainda cego pela luz branca.
"Jonathan! Se aproximando!"
Ele resmungou e a arrastou para trás, enquanto Jessica mantinha a luz focada sobre a
besta. A criatura queimou enquanto ela caia e se desintegrou quando atingiu a terra perante eles,
espalhando brasas ardentes ao redor de seus pés, como os restos de uma fogueira se apagando
chutada pelo chão do deserto.
Uivos vieram de todos ao redor deles, então, sons terríveis de derrota e terror.
Jessica jogou-se ao redor por outra forma negra no ar ou no chão, mas o seu feixe não
encontrou nada além de poucos slithers desgarrados.
Os outros Darklings deviam ter desistido, seus antigos medos finalmente o levando de
volta à noite. À distância ela podia apenas distinguir os restos esfarrapados do enxame fugindo
através da salina.
"Eu acho que é isso", ela disse no silêncio repentino.
Os braços Jonathan escorregaram de sua volta, e ele caiu sob suas mãos e joelhos.
Jessica virou. Seu rosto listrado de suor estava contorcido em dor.
“Jonathan!"
"Vou viver", ele ofegou. "Vá buscar Rex."
Ele levantou sua cabeça e estreitou os olhos através do deserto, apontando para a
amarrotada pilha ardente onde o halfling tinha caído.
Jessica mordeu o lábio, examinou o céu novamente. Nada.
"Ok. Fique aqui."
Ela partiu numa corrida louca através da salina, jogando o feixe da lanterna em Rex
enquanto ela se aproximava. Os restos de seu corpo Darkling queimando em grande de gotas de
fogo branco, as asas desaparecendo em lençóis de chama, a camada externa da pele explodida
dele como terra sob uma mangueira de incêndio.
Quando estava terminado, ela virou a lanterna e correu para onde ele estava encolhido no
sal.
"Rex!"
Ele olhou para ela com olhos selvagens, sibilando em seus dentes através de dentes
cerrados.
"Rex, você está...?"
Um estremecimento atravessou o corpo dele. Ele olhou com espanto para os braços
pálidos e nus.
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Seu cabelo estava meio queimado, mas sua pele não parecia ferida, como se o fogo
branco de Unanticipated Illuminations tivesse parado no limite de sua humanidade.
"Rex"?
"Você a viu?", ele resmungou. "A outra"?
"Anathea? Sim, ela está lá atrás.”
"Leve-me até ela."
Jonathan correu, mancando horrivelmente. "Tem certeza que você pode...?"
Rex se levantou, sem um trecho de roupa em seu corpo, e disse: "Rápido. Ela está
morrendo.”
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12h:00min da Madrugada
ANATHEA
A Liberdade estava a matando, ela sabia.
Ela não tinha pensado em nada mais todo esse tempo, nada além de sair da carne do
Darkling, voltar para Bixby, para mamãe e papai. Em seus sonhos esfarrapados Billy Clintock
sempre vinha voando através do deserto para salvá-la, agarrando-se a ela enquanto o sol nascia
sobre o deserto e a libertando.
Mas a realidade tinha se tornado em desagradável. Ela tinha ficado muito fraca dentro
daquele outro corpo. Eles não tinham deixado o suficiente a ela para sobreviver sem sua outra
metade.
Ainda assim, era bom ser ela mesma de novo. Humana, mais ou menos.
Anathea curvou-se sobre o sal, esperando que ela sobrevivesse até o amanhecer ou pelo
menos até que a lua escura se pôr-se.
Quando eles voltaram, como o jovem acrobata tinha prometido, haviam três deles.
Eles aterrizaram, o outro vidente tropeçando. Ele estava nu, até que ele colocou seu longo
casaco que tinha sido descartado no sal, mas a carne Darkling tinha sido estripada de alguma
forma.
Anathea encontrou-se tanto zangada e feliz por eles ter salvado ele, como ninguém jamais
a salvou.
A menina ruiva tinha dito que ela havia trazido seu próprio sol, Anathea se perguntou
novamente o estranho e intenso foco que se agarrava a ela. Ela carregava algum tipo de eixo de
metal em sua mão, uma arma que Anathea tinha observado cortar através de um enxame inteiro
para resgatar o amigo deles. E os olhos dela estavam errados.
Qual era o talento dela? E por que Anathea não conhecia nenhum deles? Tinha se
passado muito tempo?
“Você é Anathea?”, o outro vidente perguntou a ela.
“Sim.” Ela disse suavemente. Sua voz tinha ficado mais fraca depois de todo esse tempo
dentro do Darkling.
“Que ano é?”, ele perguntou.
Ela franziu a sobrancelha.
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“Quero dizer, que ano você se lembra?”
Ela não tinha pensado em anos e meses por tanto tempo... Darklings contando em doze e
a contagem bruta parecia mais natural para ela agora.
“1952?”
Ele acenou, como se feliz com a informação. Ela deixou seus olhos fechados.
"Você sabe o que aconteceu?", ele disse. "Para o resto de seu povo, os Midnighters do seu
tempo?"
"Meu tempo?" Ela estremeceu, lembrando-se agora. Havia ordens dadas por suas próprias
mãos há muito tempo atrás, dispostas nos blocos de soletrar para os desprezíveis daylighters
lerem. Mas isso tinha sido há muito tempo, muito tempo para recordar. Ela estremeceu. "Coisas
terríveis. Mas não foi culpa minha. Ela entregou o segredo. Não eu."
"O segredo"?
"Ninguém deveria dizer." Ela balançou a cabeça. "Isso foi que começou tudo, Madeleine
Hayes contando segredos. Aqueles meninos Grayfoot sabiam o que eles estavam fazendo
quando me trouxeram aqui... "
Anathea deixou-se mergulhar de volta ao chão. Pensar em coisas que tinham acontecido
antes da transformação machucava sua cabeça. Talvez ela não era tão mais humana, afinal. E
falar roubava sua respiração escassa. Ela sentiu esvaindo-se.
O acrobata, o garoto bonito mexicano, falou. "Podemos fazer alguma coisa por você?"
Ela sorriu e estendeu a mão. Todo esse tempo ela tinha tido asas, mas era um trabalho
duro, trabalhando dentro daquele horrível outro corpo. Nada como quando Billy Clintock tinha
levado ela para levantar voo, o que parecia ser há anos atrás.
"Por favor?"
Ele entendeu e pegou a mão dela, e aquela leveza a preencheu. Tinha sido assim há muito
tempo...
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12h:00min da Madrugada
PLANOS
Eles decidiram deixá-la lá nas salinas. Os três seguidores de Darkling - Angie, Ernesto, e o
mais velho Grayfoot - ainda estavam congelados, olhando para o local onde haviam deixado Rex
para o Darklings. Talvez a aparência de uma menina morta em seu lugar iria dar-lhes algo a se
pensar.
Jonathan virou-se, incapaz de observar enquanto Rex organizava os dominós em torno de
Anathea. Rex tinha se vestido, encontrando suas roupas intocadas, onde os Darklings haviam
descartado elas, e ele parecia estranhamente normal. Tudo o que estava diferente era o cabelo
queimado e suas mãos, que tremiam como as de seu pai agora.
Jessica também não olhou. Ela se pressionava contra seu peito, chorando, mas Jonathan
descobriu que não sabia como se lamentar por Anathea, nascida em 1940, mas morta hoje a
noite só aos catorze anos. Seu corpo descartado, mal parecia ter doze, a idade que ela tinha tido
quando ela foi tomada...
E o que ela tinha dito sobre Madeleine Hayes, antes do fim? A velha telepata era quem
tinha traído sua geração tempos atrás? Ele teria que perguntar a Dess sobre isso.
“Ok, vamos.” Rex chamou.
Jonathan se virou e viu o que Rex tinha deixado para os seguidores, e um calafrio viajou
por suas contusões e espinha espancada. Ele olhou para os olhos do vidente: sem lágrimas por
Anathea, só uma feroz expressão assombrava, como se Unanticipated Illuminations não tivesse
extinguido toda a escuridão para fora dele.
Rex tinha ignorado os significados da tradição dos dominós, os arranjando em letras a um
pé de altura. Ao redor do corpo de Anathea elas soletravam em simples inglês:
VOCÊS SÃO OS PRÓXIMOS
Isso fazia um quadro terrível, mas esse era o propósito, Jonathan supôs. Poderia
convencer a Angie e os outros a seguir uma carreira diferente. Sem nenhum halfling deixado, esta
terrível mensagem seria a última para que os seguidores Darkling seguissem.
Jonathan pegou a mão de Jessica e a beijou, provando o sal das lágrimas. "Não olhe", ele
disse.
Ela sacudiu sua cabeça.
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Os ataques do slither através das costas de Jonathan estavam desaparecendo reunidas
em uma gigante contusão, e ele piscou enquanto ele estendia sua mão para Rex, cujo tremor não
tinha parado, quando a gravidade da meia noite os conectou.
Eles não tinham dito a ele ainda sobre Melissa atravessar o para-brisa Enquanto eles
voavam, os saltos do vidente fracos e hesitantes ao lado dele, Jonathan se perguntou se Rex
sobreviveria, se ela não tivesse sobrevivido.
Eles alcançaram o carro enquanto a lua negra estava se pondo.
Melissa ficou de pé trêmula enquanto eles aterrizavam, o rosto manchado de sangue, mas
conseguindo sorrir. Rex puxou sua mão da de Jonathan e tropeçou em direção a ela através dos
padrões de Dess de estacas e arame, reunindo Melissa em um abraço.
"Eu sabia", ela disse. "Você tem gosto humano novamente."
Jonathan olhou para Dess, que revirou os olhos. Ela parecia melhor do que quando tinham
deixado ela.
"Me ajuda com isso?", ela disse, inclinando-se para puxar uma estaca de tenda no chão
duro. "Com Jessica por aqui, podemos limpar isso antes dessa monstruosidade se movimentar de
novo."
Jonathan seguiu o gesto de Dess para o velho Ford, apontado para eles e arrastado por
uma nuvem de poeira.
"Oh, yeah. Bem lembrado."
Ele segurou a mão de Jessica por mais um momento, e então eles começaram a trabalhar,
as mordidas de slither doíam enquanto ele se inclinava para puxar para cima as estacas de metal.
Sua perna esquerda e toda suas costas pareciam como se tivessem sido atingidas com um
bastão de beisebol, em seguida, queimada em extra crocante. E ele estava faminto. Ele mal
podia esperar para voltar para o sanduíche de manteiga de amendoim no pão de banana
escondido em seu porta-luvas.
"Você acredita nesses dois?" Dess sussurrou enquanto ela puxava um carretel de fio.
Rex e Melissa ainda abraçados, com os rostos próximos, os olhos reluzindo em roxo da lua
se pondo. Ele sacudiu a cabeça.
"Nós temos que dizer a eles sobre o carro?" Dess disse calmamente, um sorriso brincando
em seu rosto listrado de terra.
Jessica não sorriu de volta, apenas curvou-se para levantar uma outra estaca, e Jonathan
se estendeu e tocou seu braço. A morte era real demais para piadas sobre esta noite.
Eles se afastaram uma boa centena de metros para ver os dois carros saltarem para a vida
outra vez, cruzando o deserto em seguida enquanto a luz azul desaparecia do mundo. Jonathan
virou-se para uma rápida parada, mas o velho Ford sacudiu através da salina por uma meia
milha. Ele já havia alcançado dentro para desligar o motor e os faróis, assim ele desapareceu na
escuridão, apenas uma nuvem de poeira marcando sua passagem.
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"Eu vou buscá-lo amanhã", ele prometeu a Melissa novamente. Era fim de semana, e
ninguém estaria aqui por alguns dias. Como se de qualquer forma alguém fosse roubar aquele
sórdido ferro velho, com seu para-brisa quebrado
"Eu odeio hospital", Melissa choramingou novamente. "Todas aquelas pessoas doentes. E
os médicos me tocando."
"Você precisa de pontos", Rex disse. E você pode ter dano cerebral."
"Pode?" Dess murmurou.
Jonathan suspirou e foi em direção a seu carro. Ia ser um verdadeiro teste de direção
voltar para a cidade. Finalmente foi como Rex tinha planejado, todos os cinco juntos novamente.
Mas pelo menos todos eles estavam vivos. Mais ou menos.
O rosto de Melissa tinha parado de sangrar, mas ela teria cicatrizes em sua testa e na
bochecha esquerda por um tempo, talvez para sempre. As mãos de Rex ainda tremiam e ele se
agitava a súbitos sons. Ele caminhou cuidadosamente, meio cego, seus óculos perdidos em
algum lugar lá fora no deserto. Jessica não tinha dito uma palavra desde que Anathea tinha
morrido: ela se agarrava ao braço de Jonathan, exausta pela luta e por tudo o que eles tinham
visto.
Só Dess parecia ela mesma.
“Madeleine está bem?” Ela perguntou enquanto eles iam em direção ao carro de Jonathan.
Melissa inclinou sua cabeça para trás no ar, e acenou. “Ela sobreviveu a noite. Mas ela
sabe o que aconteceu: eles a encontrarão em breve.”
“Você está em tantos problemas.” Dess disse.
“Você é a quem guarda as merdas de segredo.”
“Você é quem não pode manter suas mãos para si mesma!”
Jonathan desligou da briga, puxando Jessica para mais perto, feliz por seu apoio enquanto
eles faziam o doloroso caminho para seu carro. Ele precisava do seu toque, especialmente aqui
nas salinas, o trecho mais plano que havia da Terra Plana.
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9h:11min da Manhã
PARADIGMA DE SANIDADE
Sua visão ia e vinha, detalhes nítidos desaparecendo em um borrão e vice-versa. Em seu
caminho para o hospital, a luz da manhã tinha sido violentamente brilhante, o metal refletido na
luz do sol deixando listras em seus olhos.
As paredes do hospital eram crivadas de foco, mas não a marca da meia-noite. Rex podia
ver coisas novas agora, os traços de mãos de daylighter, como impressões deixadas por suas
mentes enquanto eles resolviam problemas, trabalhavam seus truques com números e ligas e
máquinas inteligentes.
Tinha levado toda a manhã para ele perceber o que essas novas visões eram: trilhas de
presas.
Por cem mil anos os Darklings tinham perseguido os seres humanos, aprendido a
monitorá-los, ler os seus lugares e seus caminhos. Como os predadores ousavam caçá-los, eles
conheciam os seres humanos melhor do que qualquer outro animal vivo, melhor do que os
bípedes meio cegos conheciam a si mesmos. Rex pode ver esses sinais, agora, podia sentir as
manifestações de tudo o que Darklings ansiavam... e temiam.
Um interfone acima rosnou algumas chamadas de emergência, e ele recuou.
Havia máquinas em toda parte neste lugar - luzes fluorescentes, aparelhos para medir o
sangue e a carne, milhares de ferramentas inteligentes. Rex desejou correr para a porta e para
algum campo aberto, longe de todos esses sinais esmagadores da perspicácia humana. Elas
faziam suas mãos tremerem, o medo apertado em seus ombros.
Mas ele tinha que ver Melissa e mostrar-lhe o que a mudança tinha feito a ele.
Ele olhou para o número em cima da porta que ele estava passando, e o mundo se borrou
de novo, momentaneamente.
Ele não tinha trazido seu par de óculos reserva, ele não parecia precisar mais deles, agora
que o Foco agarrava-se a quase tudo. Mas houve momentos em que sua visão desapareceu.
Eles não tinha mudado ele em todo o processo depois de tudo. Ele ainda era um ser humano,
ainda Rex Greene, um vidente, não uma besta.
Uma máquina de raios-X passou nas proximidades, sua chama violeta atingindo seus
olhos através das paredes do hospital, e Rex piscou novamente, sibilando através de seus
dentes.
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Ele tinha que encontrar Melissa e compartilhar isso com ela. Ele precisava do toque dela
para fazê-lo se sentir humano de novo.
Ao redor de outra esquina ele encontrou seu corredor, o código de números e letras,
finalmente, fazendo sentido. Ele esperava que não estivesse perdendo a capacidade de ler
símbolos humanos. Provavelmente era apenas cansaço de esperar por três horas na sala de
emergência ontem à noite. Tinha tomado muito tempo antes que eles admitissem Melissa e o
mandassem para casa, acreditando que finalmente na história deles - que ela tinha perdido sua
identidade no acidente, tinha dezoito anos, e não tinha pais para ligar.
Enquanto ele ia pelo corredor, algo afiado chamou a atenção de Rex à frente, uma figura
brilhante com o Foco.
Uma senhora, deixando o quarto de Melissa.
Rex parou. As marcas eram profundas sobre ela, detalhes trabalhados em cada linha em
seu rosto.
Ela estava olhando para ele com uma expressão de reconhecimento, um sorriso brincando
através de sua envelhecida e pálida feição.
“Rex! Meu menino.” Ela estendeu uma mão enluvada, e ele se encolheu. Que truque era
esse?
Ela sacudiu sua cabeça. “Pobre Rex. Ainda assustado, é claro. Foi por pouco noite
passada. Tão perto de qualquer coisa que já tenha visto. E eu já vi muito.”
“Quem é você?”
“Eu sou... a madrinha de Melissa. Madeleine.”
Ele sacudiu sua cabeça. Não havia tal pessoa, não que ele pudesse se lembrar. Mas
lembrar era difícil hoje. Rex tinha se revirado a noite toda, tentando desvendar tudo em sua
cabeça, tudo o que ele aprendeu com Melissa quando eles se abraçaram nas salinas. E depois,
quando eles se tocaram na sala de emergência, trocando suas dores e como duas crianças com
algo muito quente para segurar.
Mas esta manhã, ele mal teve tempo para se ordenar através das mudanças em si mesmo,
muito menos tudo o que Melissa tinha compartilhado com ele.
Esta mulher, Madeleine, tinha algo a ver com os cálculos de Dess e com a geração perdida
dos Midnighters, que era tudo o que ele podia lembrar.
"Eu pensei em visitá-la", ela estava dizendo. "Veja, eu posso não ter muito tempo. E eu
sempre quis conhecê-la melhor." Ela balançou a cabeça. "A culpa é minha, na verdade, deixando
isso tão tarde assim."
Um raio-X reluziu novamente, e Rex girou em direção a ele, um tremor percorrendo seu
corpo.
Ela não percebeu a reação animal ou fingiu que não e repetiu baixinho: "Tudo é minha
culpa, realmente, eu estava tão assustada, tão horrorizada com o que eu tinha feito."
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Ele olhou para ela novamente, e uma medida de sua antiga visão retornou. Rex percebeu
que seu foco era do tipo mais familiar, a marca da meia-noite.
"Você é uma de nós", ele disse.
"Sim, Rex. Mas Melissa irá dizer-lhe tudo sobre isso. Nós vamos nos visitar, veja,
conhecendo uma a outra. Ela está esperando por você."
A mulher roçou-lhe enquanto ela descia para o final do corredor, Rex viu que ela estava
usando apenas uma luva.
Ele se virou e correu para o quarto de Melissa.
Seus olhos estavam fechados, o rosto pálido à luz fluorescente zumbindo. As feridas, duas
em sua testa e uma se alongando por sua bochecha, estavam costuradas agora, traçada com fio-
de-rosa que prendia a pele juntas. Os pontos eram feitos de algo sintético; Rex podia sentir sua
terrível e inteligente novidade.
Ela tinha o mesmo Foco que a mulher no corredor.
"Melissa?", ele chamou suavemente. Se perguntando o que a velha tinha feito a ela em
seu sono.
Seus olhos se abriram, e ela sorriu. "Parece bem, Rex. Como o cabelo."
Ele suspirou de alívio e exaustão. Melissa parecia estar em seu velho eu.
A outra cama no quarto estava vazia, e ele sentou-se sobre ela, esfregando sua palma da
mão em seu couro cabeludo raspado. Ele tinha cortado na metade de um centímetro, cortando
todos os cachos queimados.
"Obrigado. Você parece bem."
Ela bufou. "Obrigada, Rex. E eu estava preocupada que essas cicatrizes afetassem
tragicamente a minha popularidade na escola.“
Ele riu, mas o som era oco. Haviam muitas máquinas aqui – botões de chamada e
interfones, uma parede especial para monitores cardíacos, um completa infraestrutura de cabos e
aço em torno deles. E de repente Melissa estava se levantando em direção a ele como uma
múmia, a minúscula cama, os motores inteligentes a fazendo flexionar no centro.
“Você tem um gosto estranho, Rex.”
Ele olhou para suas mãos tremendo. “Você acha?”
“ Do tipo... do gatinho psicopata. Eles mudaram você, não foi?”
Ele piscou, então concordou. Havia tanta coisa em sua cabeça, nova espécies de sabores
e visões, pensamentos selvagens borbulhando de algum animal enterrado dentro dele. Mas uma
pergunta se fez através da confusão.
“Quem era ela?”, ele perguntou.
Melissa sorriu. “Minha madrinha, como ela disse. A madrinha de todos nós.“ Ela suspirou.
“Até eles descobrirem ela, de qualquer modo. Eles estarão procurando agora.”
Rex fechou seus olhos, sua cabeça atormentada com muitas sensações novas e agora
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mais informações a lotando. Vir aqui foi uma má ideia Ele precisava ir para o deserto, para
encontrar algum lugar exposto e vazio para sentar e pensar.
"Venha aqui, Rex."
Ele sacudiu a cabeça. "Você está muito fraca. Você não será capaz de tirar o que está em
minha cabeça." Ele olhou para as paredes, marcada com impressões de mãos de pessoas
doentes e moribundos, presas fáceis de se tirar do rebanho. "Especialmente quando você está
neste lugar."
Ela riu. "Não é um problema."
"Eu achei que você odiasse os hospitais."
"Eu odiava tudo, Rex."
Ele franziu a testa, alguma parte de sua mente recordando a complexidade da gramática.
"Odiava?"
“Não mais." Melissa estendeu a mão, pegando-o pelo braço. Ela o puxou em direção a ela
e, pela primeira vez, pressionou os lábios contra os dele.
Ela veio a ele, não com o costumeiro fluxo louco de emoções, mas de uma forma
comedida e controlada, moldada pela técnica de uma centena de gerações de telepatas, uma arte
passada de mão em mão através dos séculos. Os números de Dess tinha encontrado isso, a
única coisa que Rex tinha sempre procurado, a conexão com seu passado que a tradição nunca
tinha oferecido.
E Melissa tinha dado aqui em carne e osso, esta manhã, por Madeleine e a anfitriã de
antecessores em sua memória. Finalmente um vínculo com a história viva, enfim, para Melissa e
o resto deles, o toque humano.
Mesmo carregando aqueles séculos, o beijo foi entre os dois apenas, sua velha amizade
virando de repente e completamente ao avesso, oprimindo-lhe quase tanto quanto a sua
transformação no deserto.
E Rex sabia que sobreviveria.
Ele podia ser meio besta, com medo das marcas da humanidade ao redor dele, ferido
pelos Darklings que tinha alcançado dentro e virado uma parte dele contra a outra, mas ele a
tinha para carregá-lo.
Nada jamais tinha provado essa doçura.
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12h:00min.
INTRODUÇÃO
"Não foi tão difícil, de verdade. Dess trouxe sua coisa GPS, então nós sabíamos
exatamente onde o carro estava. Perto o suficiente, de qualquer maneira."
"E você dirigiu todo o caminho de volta a Melissa?"
"De jeito nenhum. Só para a estrada. Melissa pode chegar em sua casa por si mesma. Isso
vai ensiná-la a usar cinto de segurança." Jonathan sorriu. Mesmo na hora azul seu rosto escuro
revelava que ele tinha pego algum sol na travessia da pista nesta tarde. "No caminho de volta
através das salinas, sem para-brisa foi a pior parte." Ele lambeu os lábios. "Eu ainda sinto gosto
de sal."
Jessica sorriu, olhando abaixo para o quintal, reparando no andamento frenético de
jardinagem de seu pai. Ela se sentia segura sentada aqui em seu próprio telhado, ficando perto
de casa esta noite.
"Vocês não viram... Anathea, não é?" Ele balançou a cabeça.
"Nós não fomos lá." A dor que ela sentiu o dia todo se atirava através de Jessica mais uma
vez. "Talvez devêssemos tê-la enterrado."
Jonathan suspirou. "Nós não tínhamos uma pá, não tínhamos tempo. E alguém tinha que
levar Melissa para o hospital. Além disso, os seguidores Darkling mais provavelmente tomaram
conta do... "
Ele não terminou a frase.
"Oh, eu não tive a oportunidade de lhe dizer", ela disse. "Rex ligou. Melissa teve alta hoje.
Seus raios X não mostraram nada. Ele disse que ela esta realmente... em grande forma. "
"Melissa, em grande forma?" Jonathan riu. "Tanto faz. Me pergunto como ela vai explicar
isso tudo para seus pais."
Jessica esfregou o braço onde na noite passada a mordida do slither tinha se transformado
em uma mancha roxo amarelo.
"Eu não acho que Melissa tem de explicar as coisas para seus pais."
"Ah, certo." Jonathan olhou para baixo.
Jessica tinha dito sobre os poderes de Melissa - a verdade sobre o pai de Rex e que ela
tinha feito a Dess no banco de trás do Ford - mas Jonathan não pareceu ter tomado tudo em
consideração ainda. Ele só queria falar sobre o que Dess lhe contara sobre Madeleine ou sobre o
resgate do carro de Melissa, não sobre coisas terríveis feitas no passado ou mesmo na noite
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anterior... ou sobre Anathea, morta no deserto.
"Como Dess estava?", ela perguntou.
Ele deu de ombros. "Ela estava falando sobre a casa a prova de Darklings de Madeleine.
Ela parecia bem.”
"Ela não estava bem a noite passada." Depois que eles finalmente tinha chegado de volta
a casa de Dess, ela tinha dormido, mas só para ter pesadelos a cada hora, a maioria dos quais
envolvia gritos do nome de sua boneca Ada Lovelace, por algum motivo.
"Bem, agora que ela tem um novo projeto, ela vai ficar bem."
Jessica sacudiu a cabeça. "Você deveria ter visto isso, Jonathan. Era como Melissa... " Ela
não podia dizer a palavra. "Você apenas não sabe.”
"Eu sei, Jess. Melissa me tocou também."
Ela olhou para ele. "O quê?" Uma punhalada de algo doentio passou por ela, uma mistura
de ciúme e repulsa. "Quando? Por quê?."
"Na noite em que você descobriu o seu talento, eu tive que saltar com ela e Rex."
Jessica engoliu em seco. Ela lembrou deles planando, atravessando o deserto juntos, no
poço da serpente, mas ela nunca tinha percebido ...
"Deus, isso mesmo. Eu nem sabia naquela época."
"Nenhum de nós sabia, exceto Rex e Melissa."
Ela percebeu que ela se afastou e alcançou novamente a mão dele. "Sinto muito,
Jonathan."
Ele estremeceu ligeiramente. "Não lamente por mim. Lamente por Melissa."
"Vou guardá-lo para Dess, na verdade." Ela olhou para baixo, no jardim de seu pai
novamente. "Eu me pergunto se ela nunca fez nada com nossos pais."
"Melissa? Nah. Duvido que ela fosse se incomodar com o meu pai. Ele nunca me deu tanto
problema."
Ela assentiu com a cabeça. "Sim, mas e que tal quando meus pais me deixaram ir àquela
festa... e quando Rex precisou de mim lá."
"Mas você ainda está de castigo, Jessica, seis noites por semana, de qualquer modo."
Jonathan estendeu as mãos.
"Ela não tiraria você completamente?"
"A menos que ela estivesse tentando ser sutil."
"Melissa? Sutil? "Jonathan riu. "Vamos lá. Não podemos começar a ser paranoicos sobre
cada pensamento na cabeça de todo mundo, sabia?"
"Acho que sim." Ela suspirou. "Eu não sei por que eu sou desse jeito. Talvez por que..." Ela
se virou para ele, e as lágrimas que tinha estado a espreita de Jessica o dia todo turvando sua
visão novamente. "Eu nunca vi alguém morrer antes."
Ele colocou seu braço ao redor dela. "Eu também não."
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"Ela era da mesma idade de Beth quando eles a levaram."
"Ah, sim."
Ela sacudiu sua cabeça, repetiu as palavras que haviam estado em sua cabeça por horas.
"Sinto muito."
"Por chorar? Não sinta. Mas... " Jonathan mordeu o lábio, o que significava que ele não
queria dizer a coisa errada.
"Vá em frente."
"Bem, foi horrível o que eles fizeram com Anathea, mas isso foi há cinquenta e três anos
atrás, como algo em um recorte de jornal velho. Para mim, é como se a menina que vimos na
noite passada fosse um fantasma, e finalmente a colocamos para descansar."
Jessica olhou para a lua negra, que não machucava sua cabeça muito nestes dias ao olhar
para ela.
Talvez ela estivesse se tornando mais uma Midnighter. "Eu acho que é uma maneira de se
pensar sobre ela, como um fantasma que está livre agora."
"E você salvou Rex, então a mesma coisa não aconteceu novamente."
Ela apertou sua mão. "Tive alguma ajuda com aquilo."
Ele sacudiu a cabeça.
"Imagine só o velho Grayfoot lá quando terminou à meia-noite. Olhando abaixo para a
menina que ele raptou quando ele era um menino. Ele provavelmente morreu de um ataque
cardíaco."
Jessica se retraiu, não querendo imaginar tal coisa. Ela não queria que ninguém morresse,
ela sabia agora. Nem nunca. Ela estava feliz que os outros três estavam se superando de
Madeleine esta noite - Melissa escondendo a contorção para proteger o segredo de sua
localização, Dess trabalhando na casa a prova de Darkling, Rex começando a tarefa de ler
através de seus arquivos, adicionando para o conhecimento, talvez um dia encontrando algo para
manter todos a salvo à meia-noite para sempre.
"Desculpe", Jonathan disse, tendo sentido ela se afastar.
Jessica balançou a cabeça silenciosamente e olhou na rua para a fileira de arbustos onde
Ernesto Grayfoot tinha se escondido com sua câmera. "Eu não posso acreditar que foi só há uma
semana desde que meu espião apareceu."
"Sim, realmente." Jonathan riu. "Mostra o quanto você pode ter feito com um extra todos os
dias."
Ela sorriu fracamente. "Yeah. E o que pode ter feito com você."
Eles ficaram em silêncio por um tempo, a lua negra que se punha antes deles, antes de
Jessica ter coragem de perguntar.
"Eu não quero estar sozinha, Jonathan. Eu continuo vendo Anathea, morta, onde nós a
deixamos."
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Ele pegou a mão dela novamente. "Eu estou bem aqui."
"Quero dizer hoje à noite. Mais tarde."
Jonathan olhou para ela. "Você tem certeza que é uma boa ideia? Seus pais..."
"Estão dormindo", Jessica disse. "Minha mãe esteve no trabalho o dia todo, e meu pai
estava cavando o quintal. Ele vai plantar todos os nossos vegetais a partir de agora, segundo
ele."
Jonathan riu. "Trabalho exaustivo, eu acho. Claro, eu vou ficar com você."
"Só há um problema."
"Ei, sem problema. Eu vou dormir no chão."
"Não, você não vai", Jessica disse suavemente. "O problema é... há alguém que eu quero
que você conheça."
Noventa segundos antes da meia-noite terminar, eles pousaram do lado de fora de sua
janela.
Jessica se içou e estendeu sua mão atrás para Jonathan. Ele ainda estava mancando das
mordidas do slither e se aproximou deixando ela puxá-lo para dentro, Mas quando chegou lá
dentro, Jonathan gaguejou,
"Uh... Jessica?"
"Esse é o problema", ela disse. "Só por alguns minutos. Ela está querendo conhecê-lo."
"Sim, mas... você tem certeza que esta é uma boa ideia? Eu simplesmente aparecendo do
nada? "
Beth sentava-se na cama, onde Jessica tinha a deixado uma hora antes, as mãos sobre os
olhos, uma expressão irritada claramente visível em seu rosto imóvel.
"Sim, eu tenho certeza." Jessica sorriu. "Surpresas são boas para ela."
"Mas... ela não vai se perguntar de onde eu vim?
"Eu já disse a ela: Pensilvânia." Jessica deu uma risadinha.
Ela checou seu relógio, a excitação se construindo nela. Talvez esta fosse uma ideia louca,
mas ela queria dar a Beth alguma pequena medida da hora azul - Jonathan, aqui e agora, bem
quando a meia-noite terminasse.
Jonathan ficou parado, olhando para a janela aberta, como se contemplasse um salto
louco nos segundos restantes.
"Escute", Jessica disse: "Eu lhe disse que tinha uma surpresa para ela, e ela realmente
queria te conhecer. Só por alguns minutos, então ela vai para a cama."
Finalmente Jonathan riu nervosamente e se sentou no parapeito da janela, uma perna para
cima como se tivesse acabado de se lançar através dela.
"Ok, certo. Fico feliz em conhecê-la. Só uma pergunta."
"O quê?"
"O que há com você e sua irmãzinha, afinal?
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Jessica sorriu. "É um trabalho em progresso."
Segundos depois, o mundo tremeu. A luz azul desapareceu, e cores ricas assentaram
sobre a tudo. Seu quarto parecia vivo de novo, liberto da palidez do tempo congelado.
" - é tão retardado," Beth terminou
"Ok", Jessica disse. “Você pode olhar agora."
Beth deixou cair às mãos, uma expressão resolutamente não impressionada já fixada em
seu rosto, uma que durou cerca de meio segundo.
"Jesus!",ela exclamou, meio que pulando da cama. "Quem diabos...?”
Jessica começou a dizer algo, mas o riso resfolegou dela, ao invés de palavras. Ela lutou
para reprimir mais risadas e sentiu seu rosto ficar vermelho.
Jonathan sorriu, estendendo a mão.
"Oi, Beth, meu nome é Jonathan", ele disse educadamente. "É legal finalmente te
conhecer."
FIM
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