4
j TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO B.B. de Brito A Geotect6nica nasceu, tem vivido e tem sido revivificada, sob 0 singo de debate cientifico. Como 0 ramo mais abrangente das cienicas geo Logdc as , ela e ao mesmo tempo de grande car-enc i.a de fatos cientificos, de forma que nenhuma informa9ao geologica nova e dispensavel ao seu contexto. Assim sendo, e a fac9ao das geociencias mais sensivel ao progresso do conhecimento, nas muitas var Lave Ls envolvidas neste progresso, nas diferentes escalas de espa90 (geografico/geologico) e tempo. Tendo ainda em vista a diversidade dos centros de Lrrve s t Lgac ao cientifica (geografica, forma9ao, afinidade, idioma, natureza dos paradigmas), facilmente se entende a pluralidade de hipoteses, teorias e modelos. Nestes termos, 0 debate e conseql1encia natural, pois 0 "nosso modelo" e sempre melhor do que "0 do nosso vizinho" e "sempre sera melhor daquele do nosso rival politico ou cientifico", como liga9ao livre de um pensamento einsteiniano. Neste seculo, a partir dos anos 60, 0 debate fixismo x mobilismo recrudesceu indiferente. e esteve em destaque, nao deixando nenhum geocientista Fixismo - cunho pejorativo e ir6nico criado pela outra fac9ao - e fixistas de um lado, seguidores da Teoria Geossinclinal, ou da chamada Escola Kober- Stille-Aubouin. Na realidade, escola que primou pela descriyB.o detalhada (que? onde? como?), a compara9ao com os paradigmas (Alpes, Apalaches), muito afeita as ciencias naturais, e que sempre deixou as causas (por que?) em plano secundario (Teoria da contra9ao ou outras de fundamenta9ao discutivel) em seus modelos. Esta escola subsidiou de forma notavel 0 desenvolvimento das ciencias geologicas por mais de um seculo. Mobilismo e mobilistas estariam agora atrelados a chamada "Tect6nica de P'l .ac as ", nascida no fate do "sea floor spreading", com Hess,

TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO

j

TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO ~

B.B. de Brito Neves~

A Geotect6nica nasceu, tem vivido e tem sido revivificada, sob 0

singo de debate cientifico. Como 0 ramo mais abrangente das cienicas

geoLogdc as , ela e ao mesmo tempo de grande car-enc i.a de fatos cientificos, de

forma que nenhuma informa9ao geologica nova e dispensavel ao seu contexto.

Assim sendo, e a fac9ao das geociencias mais sensivel ao

progresso do conhecimento, nas muitas varLaveLs envolvidas neste progresso,

nas diferentes escalas de espa90 (geografico/geologico) e tempo. Tendo ainda

em vista a diversidade dos centros de Lrrve s t Lgacao cientifica (geografica,

forma9ao, afinidade, idioma, natureza dos paradigmas), facilmente se entende a

pluralidade de hipoteses, teorias e modelos. Nestes termos, 0 debate e

conseql1encia natural, pois 0 "nosso modelo" e sempre melhor do que "0 do nosso

vizinho" e "sempre sera melhor daquele do nosso rival politico ou cientifico",

como liga9ao livre de um pensamento einsteiniano.

Neste seculo, a partir dos anos 60, 0 debate fixismo x mobilismo

recrudesceu

indiferente.

e esteve em destaque, nao deixando nenhum geocientista

Fixismo - cunho pejorativo e ir6nico criado pela outra fac9ao ­

e fixistas de um lado, seguidores da Teoria Geossinclinal, ou da chamada

Escola Kober- Stille-Aubouin. Na realidade, escola que primou pela descriyB.o

detalhada (que? onde? como?), a compara9ao com os paradigmas (Alpes,

Apalaches), muito afeita as ciencias naturais, e que sempre deixou as causas

(por que?) em plano secundario (Teoria da contra9ao ou outras de fundamenta9ao

discutivel) em seus modelos. Esta escola subsidiou de forma notavel 0

desenvolvimento das ciencias geologicas por mais de um seculo.

Mobilismo e mobilistas estariam agora atrelados a chamada

"Tect6nica de P'l.acas ", nascida no fate do "sea floor spreading", com Hess,

Page 2: TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO

Tuzo Wilson, Le Pichon, Parker, e muitos outros, a partir da avalanche de

descobertas geologicas/ geofisicas de 1960 em diante. Por conviccao, corrente

afeita as c Len c Las exatas e aos dados fisicos e quimicos da Terra e do seu

interior.

Durante vinte anos, com respingos ate 0 presente, mobi1istas e

fixistas tem-se dig1adiado de varias formas, em varios fronts: artigos ,

replicas , simposios, congressos , a boca pequena. Um abismo foi gradativamente

sendo criado entre estas fac~6es. Se ja preexistia prolixa terminologia

geossinc1inal, nova terminologia mobilista comecou a vicejar. Raramente houve

a preocupacao de ligar termos novos com termos preexistentes, de forma que por

muito tempo estas 1inguagens estarao em searas parale1as.

Em 1977, A. Kroner advertiu sobre a necessidade imperiosa de urn

t raco de unf.ao entre as duas f accoes , e 0 C.G.I. de Paris, 1980, coLocouv as

1ado a 1ado nas mesmas salas para aparar arestas (com poucos resultados

prat.Lcos ) .

Sem duvida, a Teoria Geossinclinal e seus modelos pertencem ao

passado. Mas e riec e s sdr Lo reconhecer e mostrar a riqueza de sua terminologia

"naturalista" ~ "descritivista", posto que de forma sobranceira ela preconizou

e designou todos os processos e acidentes geo16gicos/geotectonicos que hoj e

estao sendo "redescobertos" e interpretados a luz da tectonica global.

t preciso enaltecer a antecipacao dos fixistas, mais afeitos a

descr Lcao (duas dimensoes), mesmo preocupados com causas, eles foram

extremamente felizes no seu amp10 leque de observacoes e designacoes. Em

varias areas pre-cambrianas do mundo - inclusive no Brasil foi com 0 poder

de discernimento e a terminologia fixtsta que se alicercaram as bases de toda

r egf.onaLfzacao geo t.ec corri.ca ja feita e a ser feita. Isto em condLcoe.s "sine

qua non", ou sej a, sem esta terminologia muito pouco teria sido feito ate

agora. Mesmo porque ainda nos fal tam os dados da 3a d i.meris ao ( e dos outros

compromissos) da Tectonica Global.

Para conferir esta verdade, e so rever ALMEIDA (1967) e ALMEIDA

(1969), quando as estacas do nosso conhecimento geotectonico foram afincadas .

Muita gente nao se refere a isto por puro desconhecimento da

hist6ria , ou ainda por puro arrivismo, com r e l ac a o as ordens e as falas da

matriz cultural.

A colecao de termos aqui posta foi escolhida baseada nos

22

Page 3: TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO

classicos da analise geotectonica do. Brasil e de suas sintese (vide ALMEIDA &HASUI, 1984 e SCHOBBENHAUS et al., 1984) principais.. E uma amostragem pequena,

mas suficiente e representativa para c1arear 0 abismo que tem assustado e

agitado os incautos.

o interessante e notar que praticamente todos os termos da

tectonica global, velhos, novos, novissimos (em fase de introdu~ao) ja

dispunham de equiva1entes, de cunho absolutamente naturalista, desvinculados

de certa forma das razoes de causa. E este compromisso de causa (por que?),

louvavel, dos mobilistas, esta fazendo nascer e crescer vertiginosamente nova

terminologia na Geotectonica.

De fato, de fato mesmo, 0 abismo e de linguagem . Nao ha

qua1itativamente muito de novo debaixo do Sol (parafraseando-se 0 Livro do

Eclesiastes). Isto nao significa que nao esteja havendo progresso, tendo em

vista a moderniza~ao dos modelos e a possibilidade de quantifica9ao dos

fenomenos tectonicos.

REFERtNCIAS BIBLIOGRAFICAS

AI11EIDA, F.F .M. de (1967) Origem e Evo Lucao da Plataforma Brasileira. Bol.

24l,Div.Geol.Min. ,DNPM, Rio de Janeiro.

AI11EIDA, F. F .M. de (1969) DLfe r enc i.acao Tec t orri.ca da Plataforma Brasileira.

In : CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 23, Salvador, 1969 . Anais. Salvador,

SBG, p.19-46.

AI11EIDA, F.F.M. de & HASUI, Y. (1984) 0 pre -Cambriano do Brasil. Sao Paulo,

Edgard Blucher, 378p.

SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D.A.; DERZE, G.R.; ASMUS, H.E. (1984) Geological do

Brasil. Texto Exp 1icativo do Mapa Geo16gico do Brasil e da Area OceAnica

Adjacente, incluindo Dep6sitos Minerais, Escala 1:2.500.000.

23

Page 4: TRAgO DE UNIAO ENTRE FIXISMO E MOBILISMO

ENSAIO DE EQUIPARA9AO DOS TERMOS HAIS USUAIS

Linguagem FixistaCraton (continental, antepais

Maci~o Marginal

Maci~o Mediano

Alempais (Backland)

Coberturas Singeossinclinais

Coberturas Tardi a P6s­geossinclinais: antefossas,intrafossas molassicas.

Coberturas Dobradas Li~

das a Reativa~ao

Reativa~ao de Plataforma:Autonoma

Reflexa

Faixas/Sistemas Dobramentos

Faixas/Sistemas DobramentosDistais

Faixas/Sistemas Dobramentos

"Granitoide Belts"; Vulcano­plutonic belts

24

Linguagem Mobilista"Foreland", parte estavel da

placa continental emsubduc~ao, na convergencia.Antepais na colisao. Craton.

Margem retrabalhadR da placacontinental, na transformanciae na colisao: "indentationtectonics", "forelandtectonics"

Microplaca, microcontinente,terreno suspeito "Mobile core"Acep~ao variavel

Hinterland'; placa continentalconvergente, cavalgante nacolisao.Parte intracratonica dosThrust -and-fold belts."Bacias de antepais""Foreland basins" (Bacias deantepais), bacias flexurais;bacias pull-apart tardi a p6s­colisionais.Varias designa~6es (R.L.A.;R.M.A., etc.)

Rifts de manto ativado.Processos acrescionados

abortadosRifts de litosfera ativada,"foreland tectonics" e "escapetectonics"

Migeoclineos, Thrust-and-foldbelt (Assembleia I ou QPC)

"Internal belts", internides,zonas tectonicas internas

(Assembleias BVAC, Greestone,etc)

a) Raizes de Or6genoscolisionais, linhaatualista.

b) Modelo nao atualista deKroner e

c) Modelo BMR (Or6geno tipoBarramundi)

Arcos Magmaticos