74
CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS PARA PROFESSOR ADJUNTO EM PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO LOCAL INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO EDITAL n. 53, DE 05/10/2005 MEMORIAL CANDIDATA: CLÁUDIA RIBEIRO PFEIFFER (NOME ANTERIOR: CLÁUDIA TAVARES RIBEIRO)

Trajetc3b3ria Profissional 1983 2006

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trajetc3b3ria Profissional 1983 2006

Citation preview

Memorial

concurso pblico de provas e ttulos para

professor Adjunto

em planejamento E Desenvolvimento Local

instituto de pesquisa e planejamento urbano e regional

Universidade federal do rio de janeiro

Edital n. 53, de 05/10/2005

memorial

candidatA:

Cludia Ribeiro PfeiffeR

(Nome anterior: Cludia Tavares Ribeiro)

Novembro / 20051Observaes Iniciais

Rever a trajetria profissional sempre uma oportunidade interessante. um momento em que paramos para refletir sobre o caminho que vimos trilhando na direo tanto da nossa realizao profissional quanto da nossa contribuio, nesse campo, ao desenvolvimento das instituies e da sociedade das quais fazemos parte.

Rever a trajetria profissional com o propsito de justificar a candidatura a uma vaga de Professor Adjunto em um Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional de uma universidade pblica brasileira, mais do que interessante, uma oportunidade estimulante. Afinal, esse um dos principais cargos que uma sociloga, com mestrado e doutorado em Planejamento Urbano e Regional, pode aspirar nesse Pas.

Concorrer a uma vaga de Professor Adjunto na instituio na qual se trabalha e na qual se tem uma histria um grande desafio...

Por fim, concorrer a uma vaga para Professor Adjunto na rea de Planejamento e Desenvolvimento Local, rea na qual se encontram duas estradas profissionais percorridas nos ltimos 20 anos (a estrada do Planejamento Urbano e Regional e a estrada do Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento) uma excelente oportunidade de sntese e de planejamento do futuro.

O percurso que levou a essa encruzilhada bem como as novas trilhas abertas ao encontr-la sero expostos a seguir.

Ao final do memorial, tratarei de demonstrar como esse percurso se traduziu na minha produo intelectual.

Cabe registrar que no relato da estrada do Planejamento Urbano e Regional sero apresentadas as minhas trajetrias acadmica (mestrado e doutorado) e profissional no IPPUR, visto que elas esto diretamente relacionadas.

2 Da Concluso da Graduao Entrada no IPPUR - Momentos Iniciais da Trajetria

Em 1983, aps concluir o Curso de Cincias Sociais na UFRJ e, com isso, ver encerrado meu perodo de estgio no Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil, da Fundao Getlio Vargas (CPDOC/FGV) - onde desenvolvi, dentre outras, atividades de levantamento e coleta de dados para a pesquisa Trabalhadores do Brasil, de ngela Maria de Castro Gomes -, fui contratada pelo Ncleo de Estudos Sobre a Mulher, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (NEM/PUC - Rio), para trabalhar como auxiliar de pesquisa no Projeto O Impacto da Urbanizao sobre a Participao da Mulher de Baixa Renda.

Essa pesquisa tinha como objeto de estudo a mulher migrante residente na Favela do Vidigal, favela situada em morro da zona sul da cidade do Rio de Janeiro; e como objetivo, verificar em que medida a adoo de hbitos tipicamente urbanos por parte dessa mulher quando de sua insero em uma sociedade to complexa como o Rio de Janeiro se articulava com a sua participao na comunidade.

Nesse primeiro emprego, ainda jovem, tive a oportunidade de conhecer a realidade das pessoas que moram em favelas e de viver experincias que marcam a minha vida profissional at hoje.

Por exemplo: foi atuando nesse projeto que percebi, pela primeira vez, a dificuldade da comunicao entre tcnicos do poder pblico, professores universitrios e populao, ento, e muitas vezes at hoje, denominada de baixa renda, em tentativas de resoluo de problemas desta. Foi tambm atuando nesse projeto, que percebi, pela primeira vez, como era injusto propor a essa populao, que j vivia em grande desvantagem social, que lutasse pela prestao de servios pblicos, acessveis a segmentos sociais de renda mdia ou alta sem que estes tivessem de fazer esforo.

Mas a opo por trabalhar com a questo urbana no resultou diretamente dessa experincia, embora ela a tenha influenciado.

Em 1984, por motivos de natureza pessoal (doena e morte de pessoa muito prxima na famlia), tive de me afastar do NEM/PUC - Rio. E no retorno vida profissional, decidi voltar a estudar.

Na busca de cursos de especializao na rea de cincias sociais, tomei conhecimento do Curso de Especializao em Economia Poltica da Urbanizao do Instituto Metodista Bennett e fui convencida pela coordenadora do curso, a professora Estrela Bohadana, que este seria uma boa alternativa para os meus propsitos naquele momento.

O Corpo Docente desse curso era formado por vrios ex-alunos do Programa de Planejamento Urbano e Regional (PUR) da UFRJ e, por influncia deles e de colegas de turma, candidatei-me ao mestrado em Planejamento Urbano e Regional, em 1985, sendo aprovada.

3A Trajetria Acadmica/Profissional no IPPUR a Estrada do Planejamento Urbano e Regional

A aprovao no mestrado foi um grande estmulo para mim. Novos horizontes se abriam na minha vida. Teria a chance de me qualificar profissionalmente, recebendo um apoio financeiro para tanto - a bolsa de mestrado.

E assim comeou a minha trajetria no IPPUR.

De fato, o IPPUR foi uma tima oportunidade de qualificao profissional. No apenas pela formao obtida no mestrado e no doutorado (fui da primeira turma do Doutorado em Planejamento Urbano e Regional do IPPUR), como ainda, pela experincia adquirida na casa nas diversas atividades realizadas ao longo desses 20 anos e pela convivncia com profissionais socialmente responsveis, para usar uma expresso atualmente em voga.

As primeiras atividades profissionais que realizei no IPPUR foram como pesquisadora no projeto Dinmica Imobiliria e Estruturao Intra-Urbana na Cidade do Rio de Janeiro, no perodo Ps-64, coordenada pelo professor Martim Smolka. A pesquisa tinha por objetivo construir um banco de dados imobilirios sobre a cidade (preo das unidades habitacionais efetivamente negociados no mercado, quantidades de novas moradias agregadas anualmente ao parque imobilirio, suas caractersticas e localizao intra-urbana, dentre outros), com base nas informaes do Imposto de Transmisso de Bens Imveis (ITBI).

A participao nessa pesquisa foi importante, em termos acadmicos, porm, mais ainda, em termos de insero institucional. Em decorrncia do fato de ter trabalhado por mais de dois anos nesse projeto, entrei para o quadro tcnico-administrativo da UFRJ contratada como sociloga. Um processo de regularizao funcional em toda a Universidade, para legalizar a situao de profissionais que prestavam servios instituio, de forma contnua, por um perodo superior a dois anos, me beneficiou, assim como outros colegas do mestrado.

No perodo entre minha contratao (1986) e a defesa da dissertao de mestrado (1990), atuei como pesquisadora do projeto Dinmica Imobiliria e Estruturao Intra-urbana no Rio de Janeiro, no perodo Ps-64, j referido (desliguei-me do projeto em 1988, em virtude do tema no me motivar); assumi a responsabilidade pela edio do Informe IPPUR, rgo informativo do Instituto; propus, coordenei e organizei o Seminrio Emancipao da Barra: Sim ou No?, realizado no auditrio Archimedes Memria, da Faculdade de Arquitetura da UFRJ; e produzi, junto com a professora Tamara Egler e o Ncleo de Criao e Produo da UFRJ, o primeiro vdeo do IPPUR, Rio/Barra/Rio. Cabe registrar que essas duas ltimas atividades estavam vinculadas diretamente ao objeto da minha pesquisa para dissertao de mestrado a proposta de emancipao da Barra da Tijuca.

Em 1990, defendi minha dissertao de mestrado, Da Questo Urbana ao Poder Local: o Caso da Barra da Tijuca, a qual pretendia contribuir para a compreenso do estgio em que se encontrava o processo de busca de alternativas poltico-administrativas para o enfrentamento de problemas urbanos, que se desenvolvia no Pas desde a dcada de 1960, contextualizando, nesse processo, a proposta de elevao da 24 Regio Administrativa do Municpio do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca) categoria de Municpio, apresentada por empresrios e polticos da regio, em 1987.

Para a elaborao dessa dissertao, estudei, em profundidade variada: os processos de urbanizao e metropolizao no Brasil; as polticas urbanas formuladas no perodo autoritrio de governo; o deslocamento da formulao de alternativas para a resoluo de problemas das cidades, do governo federal para os governos locais e para diversos segmentos organizados da sociedade; experincias de gesto das cidades nesse novo contexto.

A elaborao dessa dissertao tambm me fez uma revelao importante, qual seja: os empresrios entravam na gesto da cidade de uma forma nova, tentando assumir o controle poltico formal de uma parte territorial da mesma.

Esse estudo e essa revelao foram norteadores de todas as minhas atividades profissionais ps-mestrado.

Assim que obtive o ttulo de Mestre, passei a exercer, no IPPUR, o cargo de Docente Associado. As atribuies desse cargo so quase idnticas quelas desenvolvidas pelo Quadro Docente da UFRJ, mas a remunerao no. O Docente Associado tem a remunerao correspondente sua insero funcional no Quadro Tcnico-administrativo.

O Docente Associado pode/deve:

desenvolver atividades de ensino na especializao, no mestrado e no doutorado, dependendo de sua titulao, embora apenas as atividades de ensino na especializao possam ser oficializadas; desenvolver atividades de pesquisa e extenso, sem nenhuma restrio; exercer funes de coordenao no mbito da especializao; e desenvolver qualquer atividade considerada de natureza tcnico-administrativa. O Docente Associado no pode:

exercer funes de direo; e participar de Bancas de Seleo de Concursos de Mestrado e Doutorado.As primeiras atividades que desenvolvi j como Mestra e Docente Associada do IPPUR foram na rea de ensino, em 1991. Nesse ano, participei da Comisso de Seleo de Alunos do IV Curso de Especializao em Planejamento e Uso do Solo Urbano, no qual ministrei as disciplinas Urbanizao e Metropolizao no Brasil e Gesto Urbana , difundindo parte do conhecimento consolidado ao longo da elaborao da dissertao de mestrado.

Desde ento as minhas atividades de ensino no IPPUR vm se desenvolvendo, principalmente, no mbito desse curso. Ao longo dos ltimos 15 anos, participei de diversas Comisses de Seleo de Alunos. Coordenei suas 4, 5 e 14 edies. Alm das disciplinas acima referidas, tambm ministrei as cadeiras Introduo ao Mtodo ZOPP, Laboratrio I e II, Mtodos e Tcnicas para a Elaborao de Monografias, Modalidades Recentes de Administrao Urbana e Gesto e Desenvolvimento Local, todas com 18 horas de carga horria. Orientei monografias.

Em 2004, tive a satisfao de apresentar o curso no I Seminrio Nacional de Experincias de Capacitao e Desenvolvimento Institucional, promovido pelo Ministrio das Cidades, em cooperao com o Lincoln Institut of Land Policy e a Caixa Econmica Federal.

A participao nesse curso tambm me propiciou uma experincia de extenso universitria de fundamental importncia para o estgio profissional em que me encontro atualmente - a conduo da elaborao e a coordenao do Projeto Morar na Vila Elza. Esta experincia se tornou possvel em razo do fato de ter participado do curso Introduo ao Mtodo ZOPP - Zielorientierte Projekt-Planung (Planejamento de Projetos Orientado para Objetivos), promovido pelo IPPUR/FAU (UFRJ) e pela Universidade Tcnica de Hamburg-Harburg (TUHH), da Alemanha, em 1992, no qual conheci o mtodo e as tcnicas de trabalho que, desde ento, adoto em processos de planejamento e gerenciamento de projetos sociais e de desenvolvimento dos quais participo, seja pelo IPPUR, seja pela Management de Projetos e Processos Ltda., uma pequena empresa de consultoria da qual sou scia.

O Projeto Morar na Vila Elza constituiu resultado de um trabalho iniciado no mbito das disciplinas Laboratrio I e II, j mencionadas, as quais tinham como objetivo capacitar os alunos a lidarem, na prtica, com temas e problemas relativos rea de conhecimento do planejamento urbano.

Tratava-se de um projeto voltado para a melhoria das condies de moradia da populao residente na Vila Elza - "comunidade carente" localizada na 3 Regio Administrativa do Municpio do Rio de Janeiro (Rio Comprido) -, elaborado pelos moradores da localidade, com a assessoria de um grupo de sete alunos das referidas disciplinas, com base em metodologia inspirada no Mtodo ZOPP, por mim desenvolvida e aplicada.

Para a sua execuo foi firmado um convnio entre a UFRJ, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (Secretaria Municipal de Habitao) e a Associao de Moradores da Vila Elza, cabendo Universidade, em conjunto com os moradores, o detalhamento do projeto e a elaborao dos subprojetos necessrios para o alcance de seu objetivo; Secretaria Municipal de Habitao, a execuo do projetado; e Associao de Moradores, o monitoramento dessa execuo.

Esse convnio foi cumprido no mbito do Programa Bairrinho, criado pela Secretaria Municipal de Habitao para promover a urbanizao e integrao das pequenas favelas cidade, com base nessa e em outras experincias semelhantes.

Essa experincia foi de fundamental importncia para o meu estgio profissional atual, porque com base nela passei a acreditar na possibilidade de cooperao entre poder pblico, universidade e cidados em torno de objetivos comuns e, mais ainda, na possibilidade de esse tipo de cooperao gerar resultados concretos para os ltimos.

Ao longo dos ltimos 15 anos, como Docente Associada do IPPUR desenvolvi outras atividades de ensino, pesquisa e extenso, que devem ser mencionadas.

Em 1993, fui convidada pela professora Roslia Piquet para organizar com ela uma disciplina sobre responsabilidade social da empresa, no mbito do curso de mestrado em Planejamento Urbano e Regional do instituto. A disciplina tinha por objetivo apresentar elementos para o debate sobre o papel da empresa, enquanto instituio pblica ou privada, no processo de reestruturao econmica e social ento em curso na sociedade brasileira.

Vi nesse convite a possibilidade de fazer avanar a minha reflexo iniciada quando da elaborao da dissertao de mestrado - a respeito da entrada do setor privado, sob uma nova forma, na resoluo de problemas das cidades brasileiras, e o aceitei.

Em pesquisa bibliogrfica realizada para este fim, tomei conhecimento do livro Responsabilidade social: a empresa hoje (Duarte e Dias, 1986) e fui convencida pelos autores da importncia de se conhecer o universo de empresas privadas que vinham atuando com o objetivo explcito de contribuir para a soluo de problemas da sociedade e das cidades brasileiras. Segundo eles, j naquela poca, tanto no Brasil como no resto do mundo, existiam muitas empresas que pautavam sua atuao por filosofias abertas ao interesse social, bastando uma breve pesquisa no noticirio da imprensa para se identificar iniciativas dessa natureza.

As implicaes desse curso para a minha trajetria no IPPUR dizem respeito ao fato de que o interesse por esta temtica me levou a dedicar a minha tese de doutorado ao enfrentamento da seguinte questo: por que as empresas privadas esto atuando aparentemente na direo da resoluo de problemas das cidades, que at muito recentemente eram de competncia das administraes pblicas municipais e/ou assumidos por entidades filantrpicas?

Mas do doutorado e de seus desdobramentos no IPPUR tratarei posteriormente.

Dando continuidade minha trajetria profissional nessa instituio, cabe ainda registrar que, no perodo imediatamente anterior minha entrada no doutorado (1991-1993), estive mais voltada para atividades de pesquisa e para a organizao de eventos.

Participei, junto com a professora Ana Clara Torres Ribeiro, do projeto As Abordagens da Pobreza Urbana: Formulaes e Prticas (dos anos 60 aos anos 80), desenvolvido com o apoio financeiro do Ministrio da Ao Social. Essa pesquisa visava resgatar e analisar as diversas abordagens adotadas no reconhecimento e no enfrentamento da pobreza urbana pelo pensamento terico-tcnico, no perodo compreendido entre 1960 e 1980.

E fui pesquisadora no projeto Follow-Up - Trajetrias Profissionais dos Ex-Alunos do IPPUR, desenvolvido com o apoio financeiro da Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extenso - SR-5 desta Universidade, sob a coordenao do professor Martim Smolka. O projeto tinha por objetivo retomar o contato com todos os ex-alunos do instituto para promover uma avaliao da relevncia dos conhecimentos adquiridos no mestrado para a sua trajetria profissional e do papel do IPPUR na formao de quadros para as atividades de planejamento urbano e regional no Brasil.

Tambm nesse perodo, organizei o Colquio 20 Anos do IPPUR - Follow-up, e propus e organizei o Seminrio Invaso a Soluo?, ambos promovidos pelo IPPUR. O primeiro com o objetivo de apresentar os resultados da pesquisa acima referida para os profissionais do planejamento urbano e regional. O segundo, com a finalidade de debater as possveis alternativas para o problema habitacional nas grandes cidades brasileiras.

Durante o doutoramento, para alm da coordenao do Projeto Morar na Vila Elza e das aulas na Especializao j mencionadas, fui pesquisadora no projeto Avaliao do Planejamento Urbano e Regional no Brasil, desenvolvido e financiado pela Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR), sob a coordenao da professora Roslia Piquet, com a finalidade de colher subsdios para a elaborao de programas de renovao do ensino e da pesquisa nessa rea de conhecimento.

E coordenei o projeto Avaliao do Planejamento dos Projetos do Programa Favela-Bairro 1 Etapa, desenvolvido no IPPUR/UFRJ, com o apoio financeiro da FINEP e da Secretaria Municipal de Habitao do Rio de Janeiro. Nessa etapa, o programa visava implantar melhorias fsico-ambientais nas favelas da cidade, integrando-as aos bairros onde se localizam, seguindo as diretrizes gerais da Poltica Urbana adotada pelo Poder Pblico Municipal e os seguintes pressupostos: adeso e participao da populao residente nas favelas; preservao de suas especificidades; aproveitamento do acervo imobilirio j existente; reassentamento e/ou remanejamento de famlias no interior da prpria favela, caso seja necessrio.

Entre 1997 e 1999, afastei-me oficialmente do IPPUR, no s para concluir o doutoramento, mas tambm para usufruir de direitos relacionados maternidade, voltando a trabalhar no instituto aps a defesa da minha tese de doutorado, em dezembro de 1999.

Entre 2000 e 2004, permaneci com as minhas atividades relacionadas Especializao em Planejamento e Uso do Solo Urbano, ministrei um Curso de Extenso sobre elaborao e gerenciamento de projetos sociais com base no Quadro Lgico; e organizei eventos institucionais voltados prioritariamente para o pblico interno a IX e a X Semanas IPPUR e algumas Oficinas Planejamento. As primeiras, realizadas uma vez por ano, com o propsito de divulgar e debater a produo cientfica da casa (alunos, pesquisadores, professores). As Oficinas, realizadas mensalmente, com o objetivo de promover debates em torno de temas considerados relevantes e de interesse para a reflexo em torno do planejamento urbano e regional.

Tambm nesse perodo assumi uma atividade administrativa importante para a instituio, qual seja: coordenar o processo de levantamento e sistematizao das informaes necessrias para o preenchimento do Coleta CAPES.

Mas a realizao das minhas expectativas e dos meus projetos profissionais e acadmicos ps-doutorado ocorreu, principalmente, fora do Instituto.

Ao longo dos ltimos cinco anos, as atividades que desenvolvi no IPPUR, decorrentes do conhecimento e da experincia acumulados na pesquisa para a tese de doutorado e na sua elaborao, foram as seguintes: o Curso de Extenso Terceiro Setor no Brasil: construo, caminhos e descaminhos, realizado na Federao de Bandeirantes do Brasil, em 2002; a coordenao do Workshop Responsabilidade Social: O que isso? A quem cabe fazer o que?, realizado pela Federao das Fundaes Privadas do Estado do Rio de Janeiro (Funperj), com o apoio do Centro de Integrao Escola Empresa (CIEE), em 2003.

O Curso de Extenso tinha como finalidade apresentar subsdios para a reflexo acerca do papel do Terceiro Setor no enfrentamento de problemas sociais das cidades brasileiras, demonstrando como a idia da existncia do Terceiro Setor foi construda no Brasil; como a idia da importncia de sua consolidao para o desenvolvimento social sustentvel foi difundida no mesmo; as estratgias propostas e implementadas tendo em vista essa consolidao; e como o Terceiro Setor se transformou em nova oportunidade de negcios.

O Workshop tinha como propsito caminhar na direo da definio das responsabilidades sociais especficas do governo (em seus diversos nveis), das empresas, das organizaes da sociedade civil e do Terceiro Setor e das universidades no Brasil atual, na perspectiva de identificar as formas possveis de colaborao entre esses diversos setores/organizaes da sociedade brasileira para a superao de problemas desta e para o seu desenvolvimento saudvel, ou em outros termos, na perspectiva de contribuir para que um nmero cada vez maior de pessoas possa desfrutar de condies de existncia dignas em nosso Pas.

Antes de passar ao relato da minha histria profissional fora do Instituto, no entanto, cabe ainda explicitar como o tema Planejamento e Desenvolvimento Local permeou minha trajetria no IPPUR.

3.1 Planejamento e Desenvolvimento Local no IPPURO tema do Planejamento e Desenvolvimento Local entra na minha trajetria no IPPUR por meio da disciplina Gesto Urbana, ministrada no Curso de Especializao em Planejamento e Uso do Solo Urbano, em suas mais novas verses denominada de Modalidades Recentes de Administrao Urbana e Gesto e Desenvolvimento Local.

Esse curso foi dado pela primeira vez no incio da dcada de 1990. Seu objetivo consistia em apresentar os diversos agentes econmicos, polticos e sociais que vinham atuando no enfrentamento de problemas relativos a carncias e defasagens na apropriao social de equipamentos e servios de infra-estrutura urbana nas cidades brasileiras, a partir da dcada de 1980, e as alternativas por eles formuladas tendo em vista tal enfrentamento.

Os agentes econmicos, polticos e sociais que atuaram na dcada de 1980 neste enfrentamento eram basicamente os seguintes: governos municipais, partidos polticos, associaes de moradores, organizaes no-governamentais, representantes de diversos movimentos sociais e empresrios. As propostas para tal enfrentamento, voltadas para:

a descentralizao da administrao pblica;

a ampliao da participao popular na gesto pblica;

o estabelecimento de normas e procedimentos para a atuao dos Estados e Municpios brasileiros na poltica urbana; e, em nmero bem menor,

a emancipao de reas territoriais de municpios categoria de municpios.

Ento, a primeira verso desse curso, apresentava e debatia textos que tratavam de:

modelos alternativos de planejamento e gesto urbana, principalmente os que valorizavam a participao popular;

novas formas de participao poltica na cidade, especialmente da atuao das associaes de moradores;

experincias democrticas em governos municipais;

gesto urbana na Constituio de 1988;

papel dos governos municipais nesse novo contexto; e

desafios para as organizaes da sociedade civil na dcada de 1990.

A partir de 1993/94, surgiram novos fenmenos na resoluo de problemas das cidades brasileiras, que tambm comearam a ser tratados no curso:

a proliferao e o destaque que passa a ser dado ao papel das organizaes no-governamentais na resoluo desses problemas;

a valorizao da entrada das empresas privadas nesse processo e a conseqente proliferao de parcerias pblico-privadas na gesto municipal;

a construo do chamado Terceiro Setor no Brasil; e, sobretudo,

a formulao e implementao pelos governos municipais de estratgias voltadas para a promoo do desenvolvimento econmico, para a melhoria da atividade governamental ou para o alargamento (radicalizao) da democracia e da cidadania, em termos polticos e econmicos, em cidades brasileiras, as quais denomino de empresariamento urbano (com base em conceituao de Harvey, 1989), de empreendedorismo governamental (com base em Osborne e Gaebler, 1996) e de ativismo democrtico (com base em Moura, 1997).

Para abranger tais fenmenos, o curso foi reformulado, ganhando sua segunda verso, que tratava das estratgias acima referidas e da valorizao das organizaes da sociedade civil e do Terceiro Setor na resoluo dos problemas da sociedade e das cidades brasileiras. Naquele momento, a disciplina passou a se chamar Novas Modalidades de Administrao Urbana.

A participao das empresas privadas na resoluo dos problemas sociais e relativos infra-estrutura urbana das cidades, da qual tratava a minha tese de doutorado, no foi includa na disciplina, por falta de tempo para dar conta dessa realidade no mbito da mesma.

Na penltima verso do curso, trs temas novos foram inseridos no programa, em funo de:

reconhecimento e difuso da importncia da participao comunitria em programas e projetos sociais por organismos multilaterais de desenvolvimento;

mudanas na orientao da gesto urbana no Rio de Janeiro - que trouxe a perspectiva do desenvolvimento endgeno (ou seja, a perspectiva que teoriza sobre as possibilidades do desenvolvimento com base na utilizao dos potenciais econmicos, humanos, naturais e culturais internos a uma localidade, incorporando ao instrumental econmico neoclssico variveis como a participao e gesto local) para o planejamento municipal; e

proliferao de propostas e projetos voltados para um novo tipo de desenvolvimento, baseado no conceito de cooperao, que vem sendo chamado de desenvolvimento humano e social sustentvel.Nessa direo foram includos textos que tratam de:

papel da participao comunitria dentro de um movimento mais geral de reafirmao da participao na gerncia de vanguarda, das principais resistncias participao e de estratgias para enfrent-las (Kliksberg, 1999);

mudana de paradigma na gesto da cidade do Rio de Janeiro, do empresariamento urbano para o desenvolvimento endgeno (Plano Estratgico da Cidade do Rio de Janeiro II: As Cidades da Cidade); e conceitos e estratgias propostos para inovar em desenvolvimento aplicando a cooperao (Monteiro, 2003).

A verso atual continua na mesma linha da anterior. Mas apresenta, ainda, uma outra estratgia que vem ganhando espao no contexto metropolitano e, principalmente, na gesto do desenvolvimento local e comunitrio, no incio desse sculo, no Brasil: a estratgia chamada Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel (DLIS).

O DLIS vem sendo apresentado como uma estratgia de induo ao desenvolvimento local que prev a adoo de uma metodologia participativa, pela qual mobilizam-se recursos locais para a realizao de diagnsticos da situao de cada localidade, a identificao de suas potencialidades, a escolha de vocaes e a confeco de planos integrados para o seu desenvolvimento. (www.dlis.org.br)

Essa estratgia de induo ao desenvolvimento se fundamenta na hiptese de que se forem implantados processos de desenvolvimento local em um nmero considervel de localidades do Pas ser possvel promover o desenvolvimento humano e social sustentvel, ou seja, o crescimento econmico, com a melhoria da vida das pessoas, de todas as pessoas, das que esto vivas hoje e das que vivero amanh (Paula, 2002).

O processo de implantao da estratgia pode ser feito com base nos recursos da localidade, disponibilizados e alavancados pelas comunidades locais, assim como por instituies de mbito estadual, regional ou nacional, que adotem localidades com essa finalidade.

DLIS tem sua origem em um processo de conversao entre instituies, vrias delas com experincia na promoo de desenvolvimento econmico local (gora, FASE, Banco do Nordeste, PNUD, SERE etc.). Esse processo foi articulado pelo Conselho da Comunidade Solidria, entre 1997 e 1999, resultando no desenho e implantao de um programa, chamado Comunidade Ativa (uma estratgia federal de induo ao DLIS), que tinha como objetivos combater a pobreza e promover o desenvolvimento por meio do DLIS.

Essa estratgia hoje aplicada pelos mais diferentes agentes, sendo difundida no Pas inteiro, por diversas organizaes e, particularmente, pela Rede DLIS, pela Agncia de Educao para o Desenvolvimento (AED), pelo Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas empresas (Sebrae) e pela Caixa Econmica Federal (CEF).

E foi nesse contexto que o tema do Desenvolvimento Local se introduziu na minha carreira profissional no IPPUR.3.2O Tema no Meu Momento Profissional Atual A forma como o tema do Desenvolvimento Local entrou na minha trajetria profissional no IPPUR fez com que eu pudesse perceber que por desenvolvimento local entende-se diversos tipos de desenvolvimento (econmico, econmico local, endgeno, local, integrado e sustentvel, humano e social sustentvel etc.); que por local, entende-se tanto municpios, quanto qualquer recorte scio-territorial delimitado com base em uma caracterstica eletiva de identidade; que em funo desses fatos esto sendo propostas diversas estratgias para promov-lo, ancoradas em diferentes matrizes e abordagens tericas e ideolgicas.

E diante dessas constataes, como professora da rea de planejamento urbano e regional, achei que deveria trabalhar no sentido de contribuir para o esclarecimento e a preciso tanto dessas concepes e estratgias, quanto de seus resultados.

Com este intuito, venho realizando estudo sobre o tema desde o ano passado, o qual resultou, at o momento, nas seguintes constataes:

1. Existem, no que se refere ao desenvolvimento local, abordagens polticas, econmicas, geogrficas, neoinstitucionalistas e ligadas ao conceito de capital social, localistas etc.

2. Em quase todas as abordagens so apresentadas: concepes especficas de desenvolvimento, de local, de desenvolvimento local; estratgias, polticas, instrumentos, mtodos e tcnicas para a sua promoo; e experincias j realizadas nessa direo.

3. Ao contexto de surgimento das propostas e dos debates em torno do desenvolvimento local so associados: a globalizao; o ps-fordismo, o ps-industrialismo ou a sociedade informacional; o desemprego estrutural e generalizado; fenmenos espaciais para os quais as teorias tradicionais sobre desenvolvimento econmico no apresentam explicao satisfatria; a endogeneizao no desenvolvimento econmico regional e local; interesses de agncias multilaterais de desenvolvimento; mudanas nas atitudes de governos nacionais em relao ao enfrentamento de disparidades regionais e de problemas urbanos; competio entre cidades para sua insero nos espaos econmicos globais; atitudes dos governos locais no sentido de tal insero, por meio da promoo do desenvolvimento econmico local; novos parmetros de articulao e organizao, em que a chamada sociedade civil emerge com potencial de co-protagonismo.

4. As crticas se referem principalmente s abordagens do desenvolvimento local endgeno e s abordagens localistas.

5. Dentre os autores que tratam do tema, encontram-se: David Harvey, Manuel Castells, Jordi Borja, Alain Lipietz, Edmon Preteceille, Erik Swyngedouw, Antonio Vzquez Barquero, Georges Benko, Robert Putnam, Ladislau Dowbor, Jair do Amaral Filho, Paulo Haddad, Augusto de Franco, Tnia Fischer, Suzana Moura, Caio Mrcio Silveira, Giuseppe Cocco, Carlos Vainer, Tnia Moreira Braga, Dante Pinheiro Martinelli.

Ao final desse estudo, pretendo organizar disciplinas sobre o tema Desenvolvimento Local, com base no seguinte contedo programtico:

A questo do desenvolvimento. A endogeneizao no desenvolvimento econmico regional e local. Desenvolvimento local: marcos conceituais e histricos. Desenvolvimento local nas agncias multilaterais de desenvolvimento. Os governos locais na promoo do desenvolvimento local. Agenda 21 e Agendas 21 locais. Desenvolvimento local e desenvolvimento comunitrio. Mtodos e tcnicas para o planejamento do desenvolvimento local. Experincias de desenvolvimento local. Possibilidades e limites do desenvolvimento local. Desenvolvimento local no Brasil. Desenvolvimento local integrado e sustentvel.

Assim termina o relato sobre a minha trajetria no IPPUR.

4A Estrada do Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento

Como dito anteriormente, a rea de Planejamento e Desenvolvimento Local onde se encontram duas estradas profissionais percorridas nos ltimos 20 anos (a estrada do Planejamento Urbano e Regional, percorrida dentro do IPPUR e a estrada do Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento percorrida fora do IPPUR).

Para que se possa entender como se deu esse encontro, e uma vez que j tratei da estrada do Planejamento Urbano e Regional, passo a expor, a partir de agora, no s a minha trajetria profissional no Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento, mas tambm como o tema do Desenvolvimento Local foi aqui introduzido.

4.1 Momento Inicial

Como j referido, em 1992 fiz o curso Introduo ao Mtodo ZOPP - Zielorientierte Projekt-Planung (Planejamento de Projetos Orientado para Objetivos), promovido pelo IPPUR/FAU (UFRJ) e pela Universidade Tcnica de Hamburg-Harburg (TUHH), da Alemanha, e conheci um mtodo e tcnicas de planejamento de projetos de desenvolvimento, participativos, que considerei muito teis para projetos sociais e urbanos.

Para me capacitar na aplicao do mtodo, realizei, em 1993, os cursos Aperfeioamento no Mtodo ZOPP e Introduo Moderao, ambos no IPPUR/UFRJ; e, em 1995, Tcnicas de Moderao de Eventos, promovido pela Deutsche Stiftung fr Internationale Entwicklung (Fundao Alem para o Desenvolvimento Internacional), em colaborao com o Servio de Administrao de Projetos da GTZ (Sociedade Alem de Cooperao Tcnica).

Ainda objetivando tal capacitao, fiz um trabalho de co-moderao na Oficina de Planejamento Desenvolvimento Integrado e Sustentvel da Bacia Hidrogrfica do Rio Meia Ponte, promovida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hdricos de Gois (Semar-GO) e pela Sociedade Alem para a Cooperao Tcnica (GTZ), em 1996. Uma vez capacitada na aplicao do mtodo, passei a ministrar cursos sobre o mesmo e a moderar oficinas de planejamento.

Entre 1995 e 1997, para alm da disciplina Introduo ao Mtodo ZOPP, que ministrei no Curso de Especializao em Planejamento e Uso do Solo Urbano do IPPUR, e do Projeto Morar na Vila Elza, j mencionados, fui instrutora do curso Planejamento Estratgico-Mtodo ZOPP, realizado na Fundap/SP, e moderei as seguintes oficinas de planejamento:

Licenciamento Brasil, promovido e organizado pelo Projeto FEEMA/GTZ.(1996)

Reforo Institucional do Departamento de Proteo do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (DEPROT/IPHAN), promovida pelo IPHAN. (1997)

Encontro CIP-Rio/Angra, promovido pelo Projeto FEEMA-GTZ e pela Coordenao Inter-Projetos Ambientais Urbano-Industriais da Cooperao Tcnica Brasil-Alemanha (1997).

Em 1998/1999, no realizei nenhum trabalho nessa rea, em virtude de estar totalmente dedicada concluso do meu doutoramento e maternidade - minha filha nasceu em 31 de julho de 1998, e defendi minha tese em dezembro de 1999.

Mas no retorno s minhas atividades profissionais, percebi que os conhecimentos e as experincias adquiridos no gerenciamento de projetos de desenvolvimento, somados aos conhecimentos e experincias adquiridos ao longo de toda a minha vida acadmica e, especialmente, ao longo do doutoramento, me permitiam abrir uma nova frente de trabalho e de militncia profissional: trabalhar com gerenciamento de projetos sociais no setor privado, com e sem fins lucrativos e, particularmente, com empresas privadas e organizaes do Terceiro Setor.

Havia concludo, no final da minha tese, que a participao empresarial na resoluo de problemas sociais e relativos infra-estrutura urbana das cidades brasileiras tende a permanecer por um perodo longo, porque no apenas traz diversos benefcios para as empresas, como tambm necessria para que o seu projeto de organizao poltica da sociedade se realize. Qual seja: implantar o modelo de democracia trissetorial americano no Pas, caracterizado por um governo reduzido, em suas dimenses, porm capaz de assegurar a integridade territorial, a justia, a segurana pblica, a estabilidade da moeda e a igualdade de oportunidades, por meio de um sistema eficiente de educao, sade e eqidade fiscal; por uma economia que garanta competitividade, estimule investimentos e, com isso, crie empregos, propiciando melhor distribuio de riqueza e expectativa de melhoria do padro de vida; e por uma forte ao de cidadania participativa, isto , de pessoas e entidades que, sem buscar poder poltico ou resultados monetrios, exeram individual e coletivamente um empenho decisivo para construir, em todos os nveis da sociedade civil, a comunidade que julgam adequada sua viso do bem comum.

Por outro lado, tambm havia constatado que essa participao vem ocorrendo, em grande parte: sem nenhum compromisso com a melhoria das condies de vida dos beneficirios de seus projetos e, muito menos, com o propsito de contribuir para assegurar a todos os indivduos que compem a sociedade condies de existncia reconhecidas socialmente como dignas; e sem um mtodo de gerenciamento de projetos que permita avaliar o alcance de seus resultados e objetivos bem como seu impacto social.

Como o mtodo de gerenciamento com o qual venho trabalhando favorece a participao dos beneficirios no planejamento dos projetos, o compromisso, no mnimo, com a melhoria de suas condies de vida e, ainda, a avaliao do alcance dos resultados, objetivos e impactos sociais esperados, em um tempo que pode ser aceito por empresrios, decidi tentar transmiti-lo para empresas e organizaes do Terceiro Setor, acreditando que, assim, poderia contribuir para transformar a sociedade, no apenas beneficiando grupos em desvantagem social, mas mudando a mentalidade do empresariado.

Como no IPPUR no havia espao para o desenvolvimento desse tipo de trabalho, passei a realiz-lo na Management de Projetos e Processos Ltda., uma empresa de consultoria e treinamento em gerenciamento de projetos, criada em 1999, da qual sou scia.

4.2Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento na Management de Projetos e Processos Ltda.

Por meio da empresa, dei vrios cursos sobre Gerenciamento de Projetos Sociais, presenciais e distncia. Realizei palestras em eventos e organizaes. Prestei consultoria para empresas pblicas e privadas, para organizaes do Terceiro Setor, da sociedade civil e do Governo. Entrei no mercado e, por conta disso, fui convidada para integrar o Corpo Docente do MBE em Responsabilidade Social e Terceiro Setor, do Instituto de Economia da UFRJ, onde permaneo h quase trs anos, dando aulas na disciplina Elaborao e Anlise de Projetos Sociais Comunitrios e Gesto de Conflitos.

4.3 Elaborao e Anlise de Projetos Sociais Comunitrios e Gesto de Conflitos no IE

A experincia no MBE tem sido muito rica. Alm de permitir que eu pratique a minha militncia profissional, exige que mantenha atualizados os meus conhecimentos sobre Responsabilidade Social Corporativa e sobre o Terceiro Setor no Brasil e gera consultorias que me fazem imergir e interferir no mundo real, nele colhendo subsdios para a minha atividade acadmica.

Essa atuao profissional no MBE, por exemplo, foi responsvel pela minha contratao pelo Ncleo de Articulao do Projeto Cidade de Deus, para conduzir, moderar e relatar o processo de elaborao do Plano para o Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus; trabalho esse que trouxe o tema do Desenvolvimento Local para a estrada do Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento, que passo a relatar.

4.4O Desenvolvimento Local no Gerenciamento de Projetos Sociais e de Desenvolvimento - O caso da Cidade de Deus

Em novembro de 2003, fui convidada por uma ex-aluna do MBE a participar de uma seleo de proposta para a sistematizao das informaes sobre o desenvolvimento do Projeto Cidade de Deus, a ser realizada pelo Ncleo de Articulao do Projeto, composto pelo Comit Comunitrio da Cidade de Deus, pela Federao do Comrcio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomrcio), pela Federao Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalizao (Fenaseg), pela Federao das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), pela empresa Linhas Amarelas S.A. (Lamsa) e pelo Sebrae/RJ. O projeto havia comeado no incio daquele ano.

Na primeira reunio com o Ncleo de Articulao, na qual os representantes do Comit Comunitrio no estiveram presentes, solicitei os documentos j existentes sobre o projeto, para avaliar se existiam informaes suficientes para a realizao de tal sistematizao ou se informaes ainda teriam de ser levantadas. O propsito da solicitao era avaliar o tempo que teria de despender para realizar esse trabalho e, com base nisso, estabelecer a remunerao adequada para tanto.

Eles no tinham os documentos naquele momento e ficaram de envi-los para mim.

Os documentos que chegaram s minhas mos no dispunham de informaes suficientes e consistentes para serem sistematizadas e, muito menos, para orientar o relato do processo. Para tanto, seria necessrio realizar uma pesquisa, relativamente ampla e custosa, pela qual os contratantes no estavam dispostos a pagar.

Diante da situao, propus que tentssemos organizar o processo em curso, elaborando, junto com a populao, o Programa Cidade de Deus - um programa que articulasse projetos e propostas, j em curso ou a desenvolver, em torno de um objetivo comum, com a finalidade de promover a melhoria da qualidade da vida das pessoas que residiam na localidade.

Norteadas por este objetivo, seriam desenvolvidas as seguintes atividades:

1. Realizao de Oficina de Trabalho, com a participao de representantes do Comit Comunitrio e do Ncleo de Articulao, com os propsitos de:

Definir o objetivo do Programa, ou seja, a melhoria, mudana ou o impacto social positivo que o Programa visasse promover na vida da populao local, em perodo estabelecido previamente (1 ou 2 anos).

Definir os tipos de projetos que deveriam ser apoiados/desenvolvidos pelo Programa, para o alcance do seu objetivo.

Identificar tanto os projetos que j estivessem sendo desenvolvidos junto populao local na direo definida, quanto os que deveriam ser desenvolvidos nessa mesma direo, bem como os responsveis por eles, quando fosse possvel.

Com base nos recursos disponveis para o Programa, definir os projetos a serem apoiados/desenvolvidos, identificando a forma como esse apoio/investimento seria feito e os responsveis por cada um deles.

Se no existissem recursos suficientes para todos os projetos considerados necessrios para o xito do Programa, definir se e como esses recursos seriam captados.

2. Planejamento/formatao dos projetos que seriam apoiados/desenvolvidos no contexto do Programa, especificando: os objetivos e resultados a alcanar no perodo definido, em termos quantitativos e/ou qualitativos (o que incluiria a definio de indicadores do alcance de tais resultados e objetivos); as atividades necessrias para esse alcance; os riscos existentes para o seu xito; a operacionalizao do planejado; os responsveis por essa operacionalizao etc.

3. Criao, desenvolvimento e implantao de um sistema para o gerenciamento do Programa.

Essa proposta foi negociada com os representantes das organizaes empresariais, com base no interesse manifesto pelo Comit Comunitrio, resultando na aprovao de uma proposta para elaborao de um Plano Estratgico da Cidade de Deus - um plano no qual seriam definidas as aes e/ou atividades principais a serem realizadas para a promoo da melhoria da qualidade da vida das pessoas que residem na localidade, nos prximos cinco anos.

Para a elaborao do Plano, foram definidos os seguintes procedimentos:

1. Realizao de Oficina de Planejamento, com a participao de representantes do Comit Comunitrio e do Ncleo de Articulao, com os propsitos de:

Identificar os principais problemas da Cidade de Deus.

Definir as condies de vida que se pretende produzir/alcanar na localidade, at 2009.

Traar a estratgia para alcanar tais condies, com base na anlise das alternativas possveis, identificando os resultados concretos que se pretende produzir e as aes/atividades principais necessrias para tanto.

Identificar os projetos que j estavam sendo desenvolvidos junto populao local na direo escolhida, assim como os previstos.

A preparao da Oficina seria feita em reunio com os participantes, na Cidade de Deus.

2. Redao do esboo do Plano Estratgico, para fins de apresentao e apreciao pela comunidade, em reunio do Frum Comunitrio.

3. Redao final do Plano.

A proposta foi realizada como planejado, mas o nome do Plano foi mudado, passando a ser denominado Plano para o Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus, pelas razes que exponho a seguir. Esta exposio ser feita por ser de interesse para a compreenso da entrada do tema do Desenvolvimento Local na estrada ora em descrio.

Como explicitado acima, a proposta, a conduo e a moderao do processo participativo de elaborao do Plano Estratgico da Cidade de Deus foram feitas por mim. O nome de Plano Estratgico, dado ao plano que se propunha elaborar, no entanto, no foi de minha autoria e, sim, dos representantes das organizaes empresariais do Ncleo de Articulao.

Esse nome me incomodava profundamente, porque no correspondia metodologia de elaborao do plano proposta e, muito menos, ideologia qual tal expresso remete.

Na tentativa de resolver esse problema pessoal-profissional, perguntei ao grupo, ao final da elaborao do Plano, como deveramos nome-lo.

No debate gerado pela pergunta, representantes das organizaes empresariais propuseram novamente cham-lo de Plano Estratgico. E o representante da Caixa Econmica, que nesse momento se inseria no processo, props cham-lo de DLIS.

Expliquei ento ao grupo que o plano que havamos elaborado no seguia nem a metodologia do Planejamento Estratgico, nem a metodologia da estratgia de induo ao desenvolvimento denominada de DLIS. Que essas duas expresses remetiam a concepes, polticas, estratgias e mtodos diferentes dos que tinham orientado a nossa experincia. Que essas denominaes dificultariam a compreenso do plano. E que, por isso, eu insistia que dssemos outro nome a ele.

Logo aps esse momento, recebi um papelzinho de um dos integrantes do Comit Comunitrio, no qual estava escrito Plano para o Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus. Feliz com a soluo proposta, a repassei ao grupo, que a aprovou sem nenhum problema. 5A Encruzilhada no Planejamento e Desenvolvimento Local O debate em torno do nome do Plano da Cidade de Deus me levou a perceber como fundamental que todos ns, que atuamos direta ou indiretamente na resoluo de problemas das cidades, tenhamos clareza em relao s diversas propostas de desenvolvimento local que esto colocadas na gesto (entendida no sentido lato) da cidade.

Com base nessa experincia, voltei s referncias bibliogrficas sobre Desenvolvimento Local e descobri, em Martinelli (2005), definies de desenvolvimento local e de desenvolvimento comunitrio, do Instituto de Formao em Desenvolvimento Econmico Comunitrio (IFDEC) um instituto canadense -, que ilustram bem o fato de que ao adotarmos uma definio de desenvolvimento local, seguem nela, implcitas, uma abordagem, concepes e estratgias de enfrentamento de problemas especficas, que traro conseqncias diferenciadas.

Segundo esse autor:

Para o IFDEC, a abordagem associada ao desenvolvimento local caracterizada pela importncia concedida criao de empregos. As iniciativas realizadas, entre outras coisas, estimulam a promoo do empreendedorismo privado local e de medidas de desenvolvimento da empregabilidade da populao, em um mbito de acordos ou de intervenes de parcerias. Visto desse modo o desenvolvimento local concebido como:

Uma estratgia de interveno socioeconmica atravs da qual os representantes locais do setor privado, pblico ou social, trabalham para valorizar os recursos humanos, tcnicos e financeiros de uma coletividade, associando-se em uma estrutura setorial ou intersetorial de trabalho, privada ou pblica, com o objetivo central de crescimento da economia local (Martinelli, 2005:46)Por outro lado, a abordagem associada ao desenvolvimento comunitrio baseada na idia de assumir responsabilidades. As iniciativas so caracterizadas por objetivos sociais ligados aos econmicos (ainda que essa caracterstica tambm esteja associada abordagem do desenvolvimento local), delegao de responsabilidades, ajuda mtua e busca de autonomia, entre outros. Trata-se de um preconceito positivo sobre as formas econmicas alternativas, empresas comunitrias, auto-gesto. Em conseqncia, o desenvolvimento comunitrio definido como:

Uma estratgia global para a revitalizao scio-econmica de uma comunidade marginalizada em que, atravs da valorizao dos recursos locais e da utilizao de novas solidariedades, organizaes e instituies controladas democraticamente por seus representantes so criadas, facilitando a representao da comunidade em questo, diante de instituies exteriores que influenciam a gesto dos recursos locais (Martinelli, 2005: 46).E foi assim que as minhas duas estradas profissionais se encontraram no tema do Desenvolvimento Local.

6As Trilhas Abertas Perspectivas no Ensino, na Pesquisa e na Extenso

Com base nessa experincia, para alm de organizar disciplinas sobre Desenvolvimento Local no mbito da especializao, do mestrado e do doutorado no IPPUR, como j previsto na descrio da estrada do Planejamento Urbano e Regional, pretendo realizar cursos de extenso para lideranas comunitrias, tambm em torno dessa temtica - especificamente, em torno das diferenas entre desenvolvimento comunitrio e desenvolvimento local -, bem como desenvolver projetos de pesquisas sobre:

concepes de desenvolvimento, de desenvolvimento local e de desenvolvimento comunitrio dos diversos agentes econmicos, polticos, sociais que se encontram em experincias voltadas para o desenvolvimento comunitrio, como definido acima em Martinelli (2005) ou para o desenvolvimento de comunidades em desvantagem social, segundo definio de Neumann (2004: 97) comunidade de baixa renda considerada em desvantagem por no contar com todas as condies para desenvolver seu potencial social e econmico;

mtodos e tcnicas de gerenciamento que vm sendo adotadas na promoo do desenvolvimento comunitrio e local.

Na direo da finalizao desse memorial e antes de suas observaes finais, cabe apresentar ainda a minha produo intelectual ao longo dos ltimos 20 anos.

7A Produo Intelectual

O relato da minha trajetria sugere que minha produo intelectual ao longo desses 20 anos est ligada aos temas das pesquisas das quais participei, aos temas da minha dissertao de mestrado e da minha tese de doutorado e aos temas relacionados ao gerenciamento de projetos sociais.

De fato, isso ocorreu. Mas cabe destacar que os trabalhos que tiveram maior alcance e/ou maior importncia para o meu desenvolvimento intelectual foram os trabalhos derivados da pesquisa realizada para a avaliao do planejamento dos projetos da primeira etapa do Programa Favela-Bairro (tive um artigo publicado em um peridico alemo); e, sobretudo, os trabalhos decorrentes do meu doutoramento, incluindo a tese provavelmente pelo fato de o objeto da minha pesquisa para fins de doutoramento tratar de fenmeno novo e ainda pouco abordado tanto pela academia quanto pela sociedade em geral, qual seja: a participao empresarial na resoluo de problemas sociais e relativos infra-estrutura urbana das cidades brasileiras, por meio de parcerias com as administraes pblicas municipais, da realizao de projetos sociais ou de apoio a organizaes da sociedade civil e do Terceiro Setor que os desenvolvem.

Por essa razo, gostaria de fazer uma breve apresentao de alguns desses trabalhos.

Relatrio Planejamento dos Projetos do Programa Favela-Bairro (1 etapa) - Avaliao

Esse relatrio resume os resultados da avaliao do planejamento dos projetos da 1 etapa do Programa Favela-Bairro, realizada com base nas anlise das normas e instrues que o orientaram; em entrevistas estruturadas com coordenadores de quatro das 15 equipes contratadas para faz-lo; em um workshop de avaliao, com a participao de representantes de oito dessas 15 equipes; e de diretrizes utilizadas no mbito de atuao da Cooperao Tcnica Alem para a avaliao de projetos. So eles:

Uma verso do processo de planejamento dos projetos da 1 etapa do Programa Favela-Bairro;

A avaliao propriamente dita.

A avaliao do planejamento dos projetos da 1 etapa do Programa Favela-Bairro foi realizada em resposta iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro de financiar pesquisas que contribussem para a coleta de subsdios para a reengenharia do Programa, em sua fase de expanso.Solidariedade, Fraternidade, Assistencialismo, Filantropia: valores e prticas da dcada de 90?

O artigo sintetiza a minha aproximao ao tema desenvolvido no doutorado. Foi apresentado na Mesa-Redonda Descentralizao do Estado e Participao da Sociedade na Gesto Urbana, do V Encontro Nacional da ANPUR, em 1993. Publicado nos anais do Encontro, ainda em 1993, e, em uma segunda verso, na Srie Estudos e Debates do IPPUR, em 1995.

Apresenta o que eu considerava, na poca, novos contornos da participao da sociedade civil no enfrentamento de problemas sociais visveis nas grandes cidades brasileiras: a proliferao de organizaes no-governamentais (as ONGs) atuando em conjunto com organizaes populares; um certo reconhecimento e valorizao poltico-sociais do assistencialismo, em geral, e do papel das entidades de assistncia social como parte orgnica das estratgias de sobrevivncia das classes populares, em particular; a constituio de um movimento poltico-social que tentava articular Estado, mercado e sociedade civil na busca de solues para os problemas mencionados; a resposta social imediata a esse movimento; a multiplicao de iniciativas empresariais de "carter social".

E, ainda, trs hipteses explicativas para esses fenmenos:

A desconfiana da sociedade civil em relao capacidade de as instituies governamentais resolverem os problemas urbanos.

A necessidade de mobilizao de todos os segmentos, setores ou grupos da sociedade no sentido do enfrentamento da dimenso assustadora das crises social e urbana brasileiras, cujas conseqncias violentas escapam ao controle do Estado, ameaando individualmente e cotidianamente a vida dos membros de todos esses grupos, inclusive os de elite.

A possibilidade de estarem em redefinio as fronteiras entre o Estado e a sociedade civil, com esta tornando-se mais compacta; aproximando-se de si mesma; desenvolvendo formas de ao transversais, que vo da associao formalizada ao comum informal, para realizar seus objetivos; reinserindo os indivduos em redes de solidariedade diretas.

A parceria pblico-privado na Gesto Urbana: reflexes iniciais

Esse trabalho, exposto na II Semana de Planejamento Urbano e Regional do IPPUR, em 1995, tinha o propsito de sistematizar reflexes iniciais sobre parceria pblico-privado em cidades brasileiras, apresentando, com base na leitura de artigos de alguns autores brasileiros: definies de parceria pblico-privado; justificativas existentes para o seu surgimento em nosso Pas; algumas experincias realizadas; seus aspectos positivos e negativos; e sugestes para que essa alternativa de gesto frutificasse.

Por que as empresas privadas investem em projetos sociais e urbanos no Rio de Janeiro?

Trata-se da publicao da minha tese de doutorado em forma de livro, em 2001, fato que facilitou em muito sua circulao e foi muito importante para a minha insero na rea de Responsabilidade Social e de Gerenciamento de Projetos Sociais nesse contexto.

Ela apresenta razes, formas, possibilidades, limites e riscos da participao de empresas privadas na resoluo de problemas sociais e relativos infra-estrutura urbana da cidade do Rio de Janeiro, com base em:

Contextualizao dessa participao, tanto no processo de valorizao poltica da parceria pblico-privado em administraes pblicas locais da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil, iniciado na dcada de 1980, quanto no processo de difuso de idias em torno da filantropia privada, da cidadania empresarial, do investimento social privado, da cidadania participativa, da responsabilidade social da empresa e da importncia do Terceiro Setor nos meios empresariais brasileiro e latino-americano, tambm iniciado na dcada de 1980, mas intensificado na dcada de 1990.

Caracterizao da atuao de empresas privadas em tal resoluo.

Qualificao das hipteses levantadas inicialmente para explic-la (marketing institucional, nova forma de filantropia, interesse em consolidar o Terceiro Setor no Brasil, responsabilidade social, inovao no mbito da poltica social, reaes a estmulos do governo municipal, estratgia para lidar com o impacto da violncia urbana sobre os negcios).

As empresas privadas na resoluo de problemas da cidade do Rio de Janeiro: possibilidades, potencialidades, limites e riscos

Esse artigo constitui o melhor resumo que fiz da minha tese de doutorado e foi apresentado no Workshop Responsabilidade Social Empresarial no Brasil Hoje: Um Balano, promovido pelo Mestrado Profissional em Sistemas de Gesto e pelo Mestrado em Cincia Poltica, da Universidade Federal Fluminense, dentro das atividades da pesquisa sobre Responsabilidade Social na Amrica Latina, do professor Felipe Aguero, da Universidade de Miami, para a Fundao Ford, em 2003.Projetos de Responsabilidade Social no Brasil Atual

Trata-se de um position paper exposto no I Encontro de Professores Universitrios sobre Responsabilidade Social da Empresa, promovido pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social e pela Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), em 2002, que apresenta:

uma definio de Projeto de Responsabilidade Social ou Socialmente Responsvel no Brasil Atual, qual seja: Projetos de Responsabilidade Social so aqueles que contribuem para que indivduos ou grupos sociais que hoje no tm possibilidade nem capacidade de fazer escolhas passem a t-las;

uma tipologia de projetos que podem, de fato, contribuir para a realizao desse propsito. So eles: projetos voltados para a melhoria da qualidade do ensino pblico; para a profissionalizao de jovens e adultos em atividades para as quais haja mercado de trabalho; para a transmisso de informaes relevantes para o exerccio da cidadania; para o levantamento da auto-estima e para o desenvolvimento da resilincia de/em grupos estigmatizados pela sociedade; para a orientao/apoio a famlias na educao de seus filhos; e

aspectos que devem ser considerados em sua elaborao, gerenciamento e avaliao, como, por exemplo: os projetos devem visar promover melhorias ou mudanas sociais sustentveis; ter objetivos e resultados realistas, claramente definidos e avaliados em seu alcance; e buscar ser inspiradores de polticas pblicas.

A Participao Empresarial Recente na Resoluo de Problemas Sociais da Cidade do Rio de Janeiro (A Partir da Dcada de 80)

Trata-se de uma apresentao em slides, realizada na Semana IPPUR, em 2002, que atualiza o movimento de difuso de idias em torno da filantropia privada, da cidadania empresarial, do investimento social privado, da cidadania participativa, da responsabilidade social da empresa e da importncia do Terceiro Setor, no meio empresarial brasileiro, detalhado na tese de doutorado, destacando como idias mais recentes, as idias de solidariedade egosta e de capitalismo inclusivo.Parceria pblico-privado: alternativa plausvel na resoluo de problemas das cidades brasileiras? um ensaio, publicado na Rede DLIS Desenvolvimento Local (http://www.rededlis.org.br), em 2004, que consiste em uma tentativa de fazer avanar reflexes que venho realizando, desde a elaborao da minha tese de doutorado, sobre as possibilidades de contribuio efetiva do envolvimento de empresas privadas no planejamento de projetos de desenvolvimento urbano, na realizao de obras e na prestao de servios de infra-estrutura urbana, para a melhoria das condies de vida das pessoas que nelas residem e, particularmente, para a melhoria das condies de vida das pessoas que vivem hoje em situao mais precria.

Nesse sentido, o ensaio apresenta:

anlises de experincias concretas realizadas no perodo 1993-1998, na cidade do Rio de Janeiro - perodo em que autoridades municipais e empresariado, inspirados em experincias internacionais de renovao urbana, reconhecidas internacionalmente como bem-sucedidas, difundiam a crena de que a parceria pblico-privado cada vez mais importante para a insero competitiva das cidades nos espaos econmicos globais e para a vida cotidiana de seus cidados -, quais sejam: a elaborao do Plano Estratgico da Cidade do Rio de Janeiro e a colaborao de empresas privadas de porte e setores/ramos de atividades diversos na realizao de obras e servios de infra-estrutura urbana;

relatos de parcerias entre governo e empresas privadas por prefeitos de governos que privilegiam a equidade e a justia social nas intervenes pblicas;

o conceito de cooperatividade sistmica, difundido pela Agncia de Educao para o Desenvolvimento (AED).

O Plano para o Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus: elaborao, implementao, desafios

Palestra proferida, em novembro de 2005, no 1 Seminrio Nacional de Gerenciamento de Projetos no Terceiro Setor, promovido pelo Project Management Institut do Rio de Janeiro, junto com uma representante do Comit Comunitrio da Cidade de Deus, que apresenta a elaborao e implementao do Plano de Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus, como um caso de gerenciamento de projetos no Terceiro Setor que contem indicadores de sucesso, com base na definio do que se considera exitoso nesse contexto.

Concluindo a apresentao da minha produo intelectual, cabe registrar, ainda, que pretendo, nos prximos dois anos, publicar um livro sobre os meus 10 anos na Responsabilidade Social e no Terceiro Setor no Brasil.

8.Observaes Finais

com um sentimento de satisfao que chego ao final desse memorial. Penso que consegui transmitir o que considero ser o mais relevante na minha trajetria profissional: as escolhas conscientes dos caminhos que percorri e suas conseqncias. Escolhas essas que, em alguns momentos, foram ousadas e arriscadas, mas das quais no me arrependo.

A nica experincia relevante para a minha vida profissional no destacada nesse documento foi a minha passagem pela graduao, talvez por ela ter ocorrido em uma rea de conhecimento que no est relacionada diretamente s estradas profissionais relatadas a rea de Comunicao; talvez pelo fato de rejeitar completamente a instituio na qual ela ocorreu uma empresa privada que via a educao como mercadoria, o aluno como cliente e o professor como empregado do cliente.

Encerrando esse relato, gostaria de dizer que, no momento, me sinto colhendo os frutos que plantei, concorrendo vaga de Professor Adjunto desse concurso; e com a energia de 150 pessoas do meio empresarial e do Terceiro Setor, aplaudindo de p, ao final do 1 Seminrio Nacional de Gerenciamento de Projetos Sociais do Terceiro Setor, s 7 horas da noite, o relato da experincia de elaborao e implementao do Plano de Desenvolvimento Comunitrio em Cidade de Deus, feito por mim e pela pessoa mais corajosa que j conheci - Cleonice Dias.

Gostaria de dizer, ainda, que espero que a aprovao nesse concurso, caso ela venha a ocorrer, me d condies de realizar as perspectivas anteriormente apresentadas e, particularmente, as perspectivas em relao pesquisa e produo intelectual, s quais pretendo me dedicar nos prximos 10 anos e das quais venho sentido muita falta ultimamente.

DUARTE, Gleuso Damasceno e DIAS, Jos Martins. Responsabilidade Social: a empresa hoje. Rio de Janeiro; So Paulo: LTC - Livros Tcnicos e Cientficos: Fundao Assistencial Brahma. 1986.

Nesse documento, est-se entendendo, por organizaes do Terceiro Setor, instituies criadas em decorrncia de movimentos de diversas organizaes pblicas e privadas, internacionais e nacionais, que vm se desenvolvendo desde a dcada de 1970, mas, sobretudo, a partir da dcada de 1990, a fim de: incentivar a filantropia privada e empresarial nos pases ibero-americanos e no Brasil; intensificar e tornar mais eficiente o envolvimento empresarial comunitrio no pas; promover e divulgar prticas de investimento social privado para o desenvolvimento social do pas; estimular a prtica da cidadania participativa para implantar o modelo de democracia trissetorial americano no pas; promover o desenvolvimento humano e global sustentvel (definio de minha autoria). E, por organizaes da Sociedade Civil, instituies no-governamentais, segundo a concepo de Landim, qual seja: organizaes que, em sua grande maioria, comearam a se formar em pleno regime militar, na rea da oposio poltica, com o apoio de agncias financiadoras internacionais, na sua grande maioria crists e inspiradas por ideais igualitrios e democratizantes. (Landim, Leilah. Para alm do Mercado e do Estado: filantropia e cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: ISER, 1993. Srie Textos de Pesquisa)

Os autores utilizados como referncia, nessa primeira verso do curso, foram: Ana Clara Torres Ribeiro, Pedro Jacobi, Ilse Scherer-Warren, Maria da Gloria Gohn, Celina Maria de Souza, Linda Gondim, Ana Maria Brasileiro, Franklin Dias Coelho, Celso Daniel, Tnia Fischer, Felix Bombarolo, dentre outros.

As referncias bibliogrficas citadas so as seguintes:

HARVEY, David. Do gerenciamento ao empresariamento: a transformao da administrao urbana no capitalismo tardio. So Paulo, Espao e Debates, n. 39, p. 48-64, 1996.

OSBORNE, David e GAEBLER, Ted. Reinventando o governo: como o esprito empreendedor est transformando o setor pblico. 6 ed. Braslia: MH Comunicao, 1995. 436 p.

MOURA, Suzana. Cidades empreendedoras, cidades democrticas e a construo de redes pblicas na gesto local. In: Encontro Nacional da ANPUR, 7, 1997, Recife. Anais... Recife: MDU/UFRE, 1997. v. 3 p. 1760-1781.

Outros autores utilizados nessa verso do curso foram: John Donahue, Alan Wolfe, Leilah Landim, Rubem Csar Fernandes, Gian Maria Bernareggi, Henrique Fingermann e Maria Rita Loureiro, Elio Borgonovi e Ricaro Cappellin.

As referncias completas dos textos referidos so:

KLIKSBERG, Bernardo. Seis teses no-convencionais sobre participao. Rio de Janeiro, Revista de Administrao Pblica, v. 33, n.3, p.7-37, maio/jun., 1999.

Monteiro, Joo de Paula. Cooperao: saiba o que cooperatividade sistmica para um novo tipo de desenvolvimento. Braslia: Agncia de Educao para o Desenvolvimento, 2003. 59 p.

Por local entende-se qualquer recorte scio-territorial delimitado a partir de uma caracterstica eletiva definidora de identidade. Pode ser uma caracterstica fsico-territorial (localidades de uma mesma micro bacia), uma caracterstica econmica (localidades integradas por uma determinada cadeia produtiva), uma caracterstica tnico-cultural (localidades indgenas ou de remanescentes de quilombos,ou de migrantes), uma caracterstica poltico-territorial (municpios de uma microrregio). (Paula, 2002: 17).

PAULA, Juarez de. DLIS passo a passo: como atuar na promoo do desenvolvimento local integrado e sustentvel. Braslia: Agncia de Educao para o Desenvolvimento, 2002. 68 p.

A Rede DLIS uma rede mista e plural, envolvendo pessoas e organizaes de todos os setores, em todas as regies do Brasil e no exterior, que tem por objetivos: propiciar acesso a informaes e servios teis para pessoas/organizaes envolvidas na promoo do desenvolvimento local; facilitar a interlocuo e ampliar o debate entre pessoas que trabalham com o tema; gerar maior qualificao questo do desenvolvimento local; fomentar uma cultura de trabalho em rede (www.rededlis.org.br).

A Agncia de Educao para o Desenvolvimento (AED) um programa pblico que tem como objetivo aumentar a capacidade gerencial e empreendedora de micro e pequenas empresas, governos locais e organizaes do Terceiro Setor, sobretudo quando inseridos em processos de desenvolvimento integrado e sustentveis, com base em trs grandes linhas de ao: elaborao e disseminao de um novo paradigma de desenvolvimento; articulao da distribuio do conhecimento; capacitao de agentes de desenvolvimento (www.aed.org.br).

Sebrae um Servio Social Autnomo, institudo por escritura pblica sob a forma de entidade associativa de direito privado, sem fins lucrativos, que tem por objetivo fomentar o desenvolvimento sustentvel, a competitividade e o aperfeioamento tcnico das microempresas e das empresas de pequeno porte industriais, comerciais, agrcolas e de servios, notadamente nos campos da economia, administrao, finanas e legislao; da facilitao do acesso ao crdito; da capitalizao e fortalecimento do mercado secundrio de ttulos de capitalizao daquelas empresas; da cincia, tecnologia e meio ambiente; da capacitao gerencial e da assistncia social, em consonncia com as polticas nacionais de desenvolvimento (http://www.sebrae.com.br/br/osebrae/estatuto.asp).

Seminrio Internacional Cidadania Participativa : responsabililidade social e cultural num Brasil democrtico. Rio de Janeiro: Texto e Arte, 1995.

O Comit Comunitrio da Cidade de Deus uma rede de instituies e moradores da localidade, nascida da necessidade e sentimento comum de construir um projeto de desenvolvimento local que pressupe cooperao, autonomia, protagonismo, coordenao das aes, compartilhamento de valores, objetivos, responsabilidades, possibilidades e poder.

Martinelli, Dante.Desenvolvimento local e o papel das pequenas e mdias empresas. Barueri, SP: Manole, 2004.

Neumann, Lygia Tramujas Vasconcelos e Neumann, Rogrio Arns. Repensando o investimento social: a importncia do protagonismo comunitrio. So Paulo: Global; IDIS Instituto para o Desenvolvimento Social, 2004. (Coleo Investimento Social).

O grifo na palavra verso para chamar a ateno para o fato de que o relato do processo de planejamento foi elaborado sem levar em considerao os posicionamentos de autoridades e tcnicos da Prefeitura Municipal e da populao residente das favelas em relao ao mesmo, porque identificar tais posicionamentos constitua objetivo de projetos de avaliao do programa coordenados, respectivamente, pela sociloga Maria Las Pereira da Silva, do Ibam, e pela antroploga Gislia Potengy, do IAC.

Esses relatos encontram-se na publicao n. 1 do Frum Nacional de Participao Popular nas Administraes Pblicas, intitulada Poder Local, Participao Popular, Construo da Cidadania, de 1995.

PAGE 2