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1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SUJEITO SURDO E REFLEXÕES SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE REGEM A EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL Iara Mikal Holland Olizaroski SEMED/SEED 1 RESUMO: O presente trabalho almeja, por meio da pesquisa bibliográfica, conceituar e caracterizar a surdez, apontar as principais causas que provocam a surdez nos períodos pré, peri e pós-natal e relacionar considerações enunciadas sob o ponto de vista clínico e educacional. Propõe-se, também, investigar a trajetória dos surdos ao longo dos séculos, assim como a história da educação destinada a esses sujeitos e o porquê da necessidade da criação de leis para assegurar a eles direitos que já são garantidos a todos através da Constituição Federal de 1988. Desta forma, a ênfase se dará ao fato de que, enquanto no contexto médico a surdez era tratada apenas como uma deficiência, no educacional o surdo é visto, atualmente, como um sujeito comum com uma singularidade linguística que deve ser respeitada e valorizada a partir do uso de sua língua natural, a Língua Brasileira de Sinais Libras. Assim, conhecendo e entendendo o panorama histórico e educacional, analisar-se-á leis federais a iniciar pelo ano de 1990 até os dias de hoje que definem a educação especial e que foram elaboradas no intuito de garantir às pessoas com deficiência o direito a educação na rede regular de ensino, bem como, a especificação sobre como deve ser realizado o atendimento às essas pessoas (em especial, aos surdos). Em linhas gerais, visa mostrar que, durante muitos anos, os surdos sofreram os mais variados tipos de preconceito e crueldade impostos por uma sociedade excludente e, só depois de muitas lutas em busca da valorização da identidade surda, asseguraram-se, através de leis, direitos exclusivos a eles. PALAVRAS-CHAVE: Sujeito surdo; Trajetória história; Legislação. 1 Professora do Núcleo de Apoio Pedagógico às Pessoas com Surdez – NAPPS – do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS – da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Cascavel-PR – SEMED e da Rede Estadual de Ensino do Paraná – SEED. Graduada em Letras – Português/Inglês, especialista em Língua Portuguesa e em Educação Especial.

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TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SUJEITO SURDO E REFLEXÕES

SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE REGEM A EDUCAÇÃO

DO SURDO NO BRASIL

Iara Mikal Holland Olizaroski – SEMED/SEED1

RESUMO: O presente trabalho almeja, por meio da pesquisa bibliográfica, conceituar e

caracterizar a surdez, apontar as principais causas que provocam a surdez nos períodos

pré, peri e pós-natal e relacionar considerações enunciadas sob o ponto de vista clínico e

educacional. Propõe-se, também, investigar a trajetória dos surdos ao longo dos séculos,

assim como a história da educação destinada a esses sujeitos e o porquê da necessidade

da criação de leis para assegurar a eles direitos que já são garantidos a todos através da

Constituição Federal de 1988. Desta forma, a ênfase se dará ao fato de que, enquanto no

contexto médico a surdez era tratada apenas como uma deficiência, no educacional o

surdo é visto, atualmente, como um sujeito comum com uma singularidade linguística

que deve ser respeitada e valorizada a partir do uso de sua língua natural, a Língua

Brasileira de Sinais – Libras. Assim, conhecendo e entendendo o panorama histórico e

educacional, analisar-se-á leis federais – a iniciar pelo ano de 1990 até os dias de hoje –

que definem a educação especial e que foram elaboradas no intuito de garantir às

pessoas com deficiência o direito a educação na rede regular de ensino, bem como, a

especificação sobre como deve ser realizado o atendimento às essas pessoas (em

especial, aos surdos). Em linhas gerais, visa mostrar que, durante muitos anos, os surdos

sofreram os mais variados tipos de preconceito e crueldade impostos por uma sociedade

excludente e, só depois de muitas lutas em busca da valorização da identidade surda,

asseguraram-se, através de leis, direitos exclusivos a eles.

PALAVRAS-CHAVE: Sujeito surdo; Trajetória história; Legislação.

1 Professora do Núcleo de Apoio Pedagógico às Pessoas com Surdez – NAPPS – do Centro de

Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS – da

Secretaria Municipal de Educação da cidade de Cascavel-PR – SEMED e da Rede Estadual de Ensino do

Paraná – SEED. Graduada em Letras – Português/Inglês, especialista em Língua Portuguesa e em

Educação Especial.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho almeja, por meio da pesquisa bibliográfica, conceituar e

caracterizar a surdez, apontar as principais causas que provocam a surdez e relacionar

considerações enunciadas sob o ponto de vista clínico e educacional; fazer um resgate

da história dos surdos com ênfase na trajetória educacional e apontar leis que tratam da

educação especial – definindo-a e caracterizando-a – com ressalvas a artigos e

respectivos parágrafos e incisos que tratam exclusivamente da educação do sujeito

surdo.

O texto será divido em três partes, sendo que a primeira delas apontará

conceitos, características e causas da surdez, numa tentativa de diferenciar o ponto de

vista clínico do pedagógico ao longo dos séculos e diferenças de tratamento direcionado

aos surdos entre essas duas áreas do conhecimento. Não serão, neste trabalho, abordadas

as formas de tratamentos clínicos contemporâneos. Posteriormente, averiguar-se-á a

trajetória dos surdos ao longo dos séculos assim como a história da educação destinada

a esses sujeitos. E, por fim, a análise das políticas públicas para a educação do sujeito

surdo no Brasil, desde os anos de 1990 até os dias de hoje e o porquê da necessidade da

criação de leis para assegurar aos surdos direitos que já são garantidos a todos através

da Constituição Federal de 1988.

A pesquisa será essencialmente bibliográfica e documental e não pretende

esgotar o assunto, pois se considera aqui que há, ainda, muito a se pesquisar a esse

respeito.

SURDEZ: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Observa-se que, no contexto médico, a surdez é enfrentada como uma

deficiência. No entanto, sabe-se que aquele que possui esta diferença não a enxerga

como uma doença ou um sofrimento, apenas vive a experiência da falta de um dos

sentidos.

De acordo com os estudos feitos pela professora doutora Nídia Limeira de Sá,

pode-se definir o surdo como sujeito que possui um déficit auditivo – seja ele leve,

profundo, congênito ou pré-linguístico – e usa uma forma linguística diferenciada para

se comunicar:

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Podemos definir uma pessoa surda como aquela que vivencia um

déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a

língua oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói

sua identidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando-se

de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e

culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem (SÁ, 2006).

Ao utilizar o termo “deficiente auditivo”, os profissionais da área da saúde

acabam desconsiderando aspectos psicossociais e culturais da pessoa surda, uma vez

que esta não se considera deficiente, mas diferente: não consegue ouvir sons, no

entanto, desenvolveu – de maneira bem mais apurada – os sentidos remanescentes.

Além disso, possui um modo diferente de compreender e explicar o mundo que a cerca

e, consequentemente, de se comunicar e se expressar.

A surdez, vista por esse ângulo, não pode ser entendida enquanto falha,

fatalidade ou como um mal que deva ser consertado pelos avanços da medicina. Precisa

ser aceita e respeitada. Estima-se que 25% da população humana tenha o gen. da surdez.

Além desta causa, vale ressaltar outros fatores que podem ocasionar a falta ou perda da

audição. Incluem-se nesta lista uma série de doenças hereditárias, malformações

congênitas, infecções congênitas (rubéola, citomegalovirus, toxoplasmose, sífilis,

herpes ou outras infecções maternas que ocorrerem durante a gestação), a prematuridade

(inferior a 32 semanas), o baixo peso do recém-nascido, comprometimentos no sistema

nervoso central (ocasionados por convulsão, meningite ou hemorragia intraventricular),

utilização de antibióticos ototóxicos e o surgimento de doenças neurológicas.

De acordo com os médicos e professores Aziz Lasmar e Marcelo Veloso

Peixoto, os fatores citados podem ocasionar problemas diferenciados no aparelho

auditivo:

As DA podem ser causadas por alterações das diversas partes do

aparelho auditivo. Conforme a região afetada, as DA serão

classificadas em condutivas (doença das orelhas externa e média) e

neuro-sensoriais (doença da orelha interna). As doenças condutivas

geralmente causam alterações leves ou moderadas ao estímulo sonoro.

Embora as alterações possam ser permanentes (doenças estruturais ou

agenesias), os distúrbios transitórios são muito mais comuns. No

entanto, dependendo da duração dos sintomas, especialmente em

crianças na fase pré-lingual ou em início de aprendizado, uma perda

pequena da audição pode desencadear distúrbio da linguagem e do

aprendizado. Nas doenças neuro-sensoriais as alterações são sempre

de caráter permanente, geralmente associadas a perdas maiores da

audição (LASMAR &PEIXOTO, 2010).

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Os níveis de surdez também são variáveis. Pode-se considerar como uma surdez

leve aquela em que há perda de até 30 dB; como moderada aquela em que há perda de

até 60dB; como grave a que há perda de até 90 dB e como profunda aquela em que há

perda maior de 90 dB. No primeiro caso o indivíduo sente dificuldade para discernir

sons em distâncias maiores de um metro; no segundo, surge a dificuldade em entender

palavras ditas a menos de um metro; no terceiro, a conversação – mesmo a menos de

um metro – só pode ocorrer com ajuda de próteses; e no quarto, não há resposta aos

sons, como se verifica no gráfico abaixo:

http://www.audiobem.com.br/audiometria/audiograma-sons-familiares

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Por muito tempo na história da humanidade, os surdos foram vistos como

incapazes. Hoje, na “era da inclusão”, verifica-se que inábil mesmo era a capacidade e a

sensibilidade dos ouvintes ao insistirem na “loucura” de obrigar aqueles que não

podiam ouvir a se adequar a sociedade dos falantes.

Nota-se, que os surdos podem atuar em sociedade, porém de acordo com suas

limitações, assim como qualquer outro ser humano. Paulatinamente mudanças vêm

ocorrendo na sociedade e a inserção do surdo a ela, torna-se a cada dia mais visível, pois

os esforços das comunidades surdas já promoveram, entre outros benefícios aos surdos,

o surgimento de Associações de Surdos e a disseminação da língua de sinais. No

entanto, o acesso à educação comum continua restrito, profissionais proficientes na

língua de sinais não suprem a demanda e o “todos são iguais perante a lei” da

Constituição Brasileira ainda é, neste caso, realidade distante.

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE SURDOS

Difícil precisar desde quando existem surdos, mas fácil é imaginar que há muito

tempo eles existem e, para tanto, fez-se necessário uma forma alternativa de

comunicação, ou seja, a língua de sinais, ou “gestual”, como era antigamente conhecida,

que nasceu da necessidade de expressão de suas ideias, sentimentos, emoções etc.

Lamentável, porém, é saber como se desenvolveu a história, não só no que diz respeito à

educação de surdos, mas ao próprio direito à vida. Warde, ao falar sobre a História da

Educação, postula que:

A História da Educação desenvolveu-se no campo da Educação,

quando o lógico seria que ela tivesse se constituído numa

especialização da História, assim como as outras especializações, que

resultam na busca cada vez maior de cientificidade (WARDE apud

SOARES, 1999, p. 11).

Os surdos, durante séculos, lutaram para conseguir não só o direito à educação

bem como o reconhecimento de sua própria identidade e cultura. Foram diversas

batalhas travadas contra a sociedade, instituições tanto religiosas quanto governamentais

e, em alguns casos, até mesmo familiares.

Sêneca (4 a.C. à 65 d.C.), um dos mais importantes intelectuais do Império

Romano na época do Renascimento declarou:

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Não se sente ira contra um membro gangrenado que se manda

amputar; não o cortamos por ressentimento, pois, trata-se de um rigor

salutar. Matam-se os cães que estão com raiva; exterminam-se touros

bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as

demais não sejam contaminadas. Matamos os fetos e os recém-

nascidos monstruosos. Se nascerem defeituosos ou monstruosos,

afogamo-los. Não é devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as

coisas inúteis das saudáveis (SÊNECA apud SILVA, 1986, p.128-

129).

Esta afirmação norteará as reflexões e, consequentemente, as ações destinadas

às pessoas com deficiência entre o século XIII e início do século XVII e ocasionará

ausência de direitos em relação à própria sobrevivência, assim, conclui-se que, se os

deficientes não tinham sequer direito a vida, jamais chegariam a ter direito à educação

ou, ainda, a um tratamento digno, pois eram levados à morte ao nascerem ou ao serem

descobertos.

Na Antiguidade, os surdos sofreram os mais diversos tipos de preconceito e

crueldade, sendo sacrificados de maneira penosa ou, então, vistos como incompetentes

ao ponto de não poder casar, possuir propriedades, receber herança ou ter empregos

dignos, pois realizavam serviços como de “bobos da corte”. Já a Igreja afirmava que os

surdos não tinham alma mortal, uma vez que não conseguiam proferir os mandamentos

divinos.

Foram séculos de sofrimento e até mesmo de negação do direito à vida, direito

este tirado das pessoas surdas que, sem poderem se defender, ficavam a mercê da

“vontade divina”, segundo os conceitos religiosos daquela época. Esses conceitos

mudaram apenas no fim da Idade Média, mas até então surgiram vários estudiosos,

médicos e intelectuais que tentaram de diversas maneiras ensinar aos surdos, todavia em

divergência quanto ao método utilizado, uma vez que alguns defendiam o oralismo

enquanto outros utilizavam gestos e outros, ainda, apenas dedicaram-se ao ensino da

escrita.

A partir do século XVI, já na Idade Moderna, aumentou-se de forma

considerável o interesse pela educação de surdos. Charles-Michel de L’Épeé fundou na

França, no ano de 1760, a primeira escola pública para surdos. L’Épeé foi considerado o

“pai dos surdos”, porquanto, sendo homem rico, dedicou-se exclusivamente à educação

da pessoa com surdez defendendo, incansavelmente, a língua de sinais e utilizando, em

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seu trabalho, os sinais já conhecidos pelos surdos “e também inventou outros, que

denominava de sinais metódicos, usados para o desenvolvimento da linguagem escrita”

(ROCHA, 2007, p. 18). Seus métodos de ensino influenciaram novos educadores e,

consequentemente, a criação de novas escolas no mundo todo, propagando a língua de

sinais e fazendo com que a história dos surdos evoluísse e ganhasse credibilidade,

fundamentada num ensino de bons resultados. Porém, lamentavelmente, outros métodos

de ensino que não priorizavam a língua de sinais, ainda subsistiam pelo mundo. Na

Alemanha, Samuel Heinicke fundou a primeira instituição para surdos, em Leipzig, no

ano de 1778. Seu método de ensino era o oral embora utilizasse alguns sinais e o

alfabeto digital, com o objetivo de desenvolver a fala.

Em 1857, inicia-se, então, a história da educação de surdos no Brasil quando, a

convite de D. Pedro II, o professor francês surdo Hernest Huet, veio ao Brasil para

fundar a primeira escola para surdos, o Imperial Instituto de Surdos Mudos, hoje,

Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES. Este convite se deu ao fato de, em

junho de 1855, Huet ter apresentado ao Imperador D. Pedro II um relatório em língua

francesa, cujo conteúdo manifestava o plano de um estabelecimento para surdos. Sua

solicitação foi atendida através da Lei nº 939 de 26 de setembro de 1857, que fixava a

despesa e orçava a receita do Império para o exercício de 1858/1859.

Huet, assim como L’Épeé, era adepto a língua de sinais e utilizava em suas

aulas o método combinado. Os surdos tiveram, finalmente, a oportunidade de criar sua

própria língua: a Língua Brasileira de Sinais – Libras, que utilizavam livremente para a

comunicação e expressão e também a recebiam em sua educação acadêmica, ministrada

naquela época, apenas em escolas especializadas.

Chega, no entanto, a Idade Contemporânea, uma grande perda para a história da

educação dos surdos no mundo, pois em Milão, na Itália, em 1880, realizou-se o

Congresso Internacional de Surdo-Mudez, onde ficou definido que o Método Oral era o

mais adequado na educação do surdo. Nesse Congresso, a visão oralista defendeu a tese

de que só através da fala o indivíduo surdo poderia ter seu pleno desenvolvimento e

uma perfeita integração social.

Lamentavelmente a língua de sinais foi proibida para a comunicação e ensino

dos surdos, obrigando-os a fazerem uso da língua oral e foi através desta que se efetuou,

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a partir de então, a educação dos surdos no mundo todo. Cita Skliar, que existiram dois

grandes períodos na história da educação de surdos:

Um período prévio, que vai desde meados do século XVIII até a

primeira metade do século XIX, quando eram comuns as experiências

educativas por intermédio da Língua de Sinais, e outro posterior, que

vai de 1880, até nossos dias, de predomínio absoluto de uma única

“equação” segundo a qual a educação de surdos se reduz á língua oral

(SKLIAR, 1997, p. 109).

Uma história que se iniciou marcada pelo sofrimento em consequência da

opressão e até mesmo pela ausência de conhecimento por parte dos ouvintes, seguida de

experiências educacionais divergentes entre si, ora através da gestualidade (língua

gestual), ora através da imposição do oralismo. Foram décadas e até mesmo séculos sem

uma definição concreta de como alcançar o surdo por meio de um ensino eficaz e isso

tudo se agravou a partir do Congresso de Milão – evento que denotou uma perda

imensurável para educação de surdos. Quanto a isso, Skliar (1997) afirma que todas

essas transformações foram produtos de interesses políticos, filosóficos e religiosos e

não educativos e que essa concepção, em que a educação é subordinada ao

desenvolvimento da expressão oral, enquadra-se com perfeição no modelo clínico

terapêutico da surdez, valorizando a patologia, o déficit biológico.

Diante do quadro apresentado, compreende-se a necessidade de se assegurar

legalmente o direito à educação às pessoas com deficiência. Para tanto, a Lei nº

10.436/2002, regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005, garante, entre outras

providências, a educação bilíngue – Libras/Língua Portuguesa, para que a tão almejada

educação de qualidade aconteça sem prejuízos à pessoa surda. É como se fosse uma

forma de compensar anos de sofrimento causados por diversas instituições que, no

intuito de “favorecer” o surdo, vieram, ao longo dos anos, causando a ele prejuízos de

forma agressiva e pejorativa. Reflexos desses prejuízos são até hoje sentidos, pois há

muitos alunos surdos numa situação de fracasso escolar e educadores numa situação de

insegurança e constante inquietação em busca de novos métodos para assegurar uma

educação que possa, com excelência, ensinar ao surdo sem ao menos se ter a ideia de

inclusão uma vez que a educação é direito de todos e, segundo o capítulo I, artigo 5º da

Constituição Federal do Brasil, de 1988 “todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza”.

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SURDO NO BRASIL

Desde a promulgação da Constituição de 1988, desigualdades foram instituídas

na sociedade e, com isso, surgiu a necessidade da elaboração de leis para garantir o

acesso e permanência na educação do sujeito com deficiência. Neste trabalho abordar-

se-ão algumas leis – as de maior importância e de cunho nacional – que fazem

referência apenas ao sujeito com deficiência, com relevância às que tratam,

especificamente, do sujeito surdo e à sua língua natural com ênfase na garantia da

educação bilíngue. Iniciar-se-á pelo ano de 1990, quando em 13 de julho se promulgou

a Lei de nº 8.069, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente – o

Estatuto da Criança e do Adolescente – que, em seu Capítulo IV, onde trata do Direito à

Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, demanda que:

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

[...]

III - atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis

anos de idade (BRASIL, 1990).

O texto acima do Estatuto da Criança e do Adolescente assegura a educação aos

deficientes como obrigação do Estado e ao se considerar também o inciso IV, nota-se

que esta educação deve se iniciar logo após o nascimento. No que se refere à criança

surda é primordial às que nascem em lar de ouvintes em que os pais não têm a Libras

como sua segunda língua, que iniciem a vida escolar ainda na sua tenra idade em

escolas que ofertem a elas a língua de sinais como primeira língua e a Língua

Portuguesa, na modalidade escrita, como segunda língua.

Nesse mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu

artigo 58, define a educação especial e especifica como deve ser esse atendimento e,

reforça, também, o fato de que ele deve acontecer desde a mais tenra idade da criança;

e, em seu artigo 59 estipula métodos e técnicas para esse atendimento:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta

Lei, a modalidade de educação escolar oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação.

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado,

na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de

educação especial.

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§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou

serviços especializados, sempre que, em função das condições

específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas

classes comuns de ensino regular.

§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do

Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a

educação infantil (BRASIL, 1996).

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e

organização específicos, para atender às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem

atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,

em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em

menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio

ou superior, para atendimento especializado, bem como

professores do ensino regular capacitados para a integração

desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva

integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas

para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho

competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins,

bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior

nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais

suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino

regular (BRASIL, 1996).

Já os Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares: estratégias

para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais de 1999, legislado

para fins da educação de alunos com necessidades especiais, ao longo de seu texto, faz

menção à inclusão de alunos com necessidades especiais e define as adaptações

curriculares. Referente ao aluno surdo as adequações são inúmeras, sendo de suma

importância a que se refere à dificuldade de comunicação e à importância da utilização

da língua de sinais. Há a específica observância quanto às singularidades linguísticas

que o aluno surdo possui para a comunicação e expressão, sendo, para tanto, necessários

métodos diferenciados e direcionados para seu ensino e aprendizagem, bem como

recursos físicos, materiais; devendo ser diferenciados também os métodos avaliativos,

possibilitando, assim, um ensino de qualidade.

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Em dezembro de 2001 foram instituídas as Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial na Educação Básica, que em seu artigo 5º, inciso II, refere-se ao surdo como

aquele que tem “dificuldade de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais

alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis”, garantindo em seu

artigo 7º o atendimento “em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou

modalidade da Educação Básica”. Estabelece, também, a garantia do tradutor intérprete

e profissionais que possam estar presentes, quando solicitados até mesmo intra e

interinstitucionalmente, conforme se confere no artigo 8º:

Art. 8º. As escolas da rede regular de ensino devem prever e

prover na organização de suas classes comuns:

IV – serviços de apoio pedagógico especializado, realizados nas

classes comuns, mediante:

[...]

b) atuação de profissionais-intérpretes de linguagens e códigos

aplicáveis;

c) atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra

e interinstitucionalmente (BRASIL, 2001).

O artigo 12, deste documento, mais precisamente em seu parágrafo 2º, trata da

acessibilidade aos conteúdos através da Libras; possibilita aos pais e alunos surdos a

opção de ensino desejada, mas também os norteia a se aterem às orientações referidas

pelos profissionais da área:

§2° Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que

apresentem dificuldades de comunicação e sinalização

diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos

conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e

códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua de sinais,

sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-

lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que

julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em

cada caso (BRASIL, 2001).

Em 24 de abril de 2002, entrou em vigor a Lei nº 10.436, a qual dispõe sobre a

Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências, a citar a que assegura a

língua de sinais como primeira língua do sujeito surdo e garante a ele o ensino bilíngue.

Esta lei é de suma importância para a educação de surdos no Brasil, uma vez que, desde

o Congresso de Milão em 1880, a língua de sinais havia sido proibida em todo o mundo

para a educação e comunicação das pessoas surdas.

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Por isso, durante muitos anos a educação de surdos se realizou, em todo o

mundo, sem a utilização da língua de sinais e houve, em especial no Brasil, a retomada

de métodos não mais utilizados até então para a alfabetização e letramento de surdos,

como a disciplina de Linguagem Articulada que induzia os surdos a se comunicarem

através da oralidade – um verdadeiro retrocesso. Contudo, a língua de sinais não

“morreu”, uma vez que continuou sendo utilizada nos corredores das instituições e

associações de surdos (nada formal, portanto). Assim, apenas no século XXI,

precisamente no ano de 2002, por força da Lei nº 10.436, conforme consta em seu artigo

1º, a Língua Brasileira de Sinais – Libras – passa a ser “reconhecida como meio legal de

comunicação e expressão” do sujeito surdo. A regulamentação desta lei se deu em 22 de

dezembro de 2005, através do Decreto nº 5.626. Mais uma vitória para as pessoas com

surdez, pois este decreto regulamenta a lei acima citada, complementando-a e

esclarecendo-a, promovendo, portanto, grandes avanços na educação de surdos no

Brasil. Isso se confere através do Capítulo IV:

Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir,

obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à

informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos

conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e

modalidades de educação, desde a educação infantil até a superior.

§ 1oPara garantir o atendimento educacional especializado e o acesso

previsto no caput, as instituições federais de ensino devem:

I -promover cursos de formação de professores para:

a) o ensino e uso da Libras;

b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e

c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas

surdas;

II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da

Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para

alunos surdos;

III - prover as escolas com:

a) professor de Libras ou instrutor de Libras;

b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa;

c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua

para pessoas surdas; e

d) professor regente de classe com conhecimento acerca da

singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos;

IV - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de

alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também,

em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização;

V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre

professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares,

inclusive por meio da oferta de cursos;

VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de

segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto

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semântico e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no

aspecto formal da Língua Portuguesa;

VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação

de conhecimentos expressos em Libras, desde que devidamente

registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos;

VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de

informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a

educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva (BRASIL,

2005).

Assim sendo, ficam garantidos os direitos das pessoas com surdez nas

instituições escolares em todos os níveis de ensino, que devem ofertar,

obrigatoriamente, professor bilíngue ou, na impossibilidade deste, intérprete para

auxiliar no ensino e aprendizagem de todas as disciplinas. E, quando necessário devem

ofertar também o reforço escolar em contra turno para aprimorar a aprendizagem

principalmente da Língua Portuguesa que deverá sempre ser trabalhada com o surdo

como a segunda língua, já que a primeira é a de sinais e deve ser a de instrução,

conforme consta no Capítulo VI, desta mesma lei em que trata da educação bilíngue:

Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação

básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência

auditiva, por meio da organização de:

I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e

ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos

iniciais do ensino fundamental;

II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino,

abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino

fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes

das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade

linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores

e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa (BRASIL, 2005).

A educação bilíngue é outra significativa vitória, pois se antes os surdos eram

alvo de tentativas frustradas na educação acadêmica, resultando em futuro fracasso

escolar por falta de método, ou melhor, de consenso sobre o método apropriado de

ensino ao surdo, hoje podem comemorar por terem garantido por lei o direito de

receberem esta instrução em sua própria língua através de (i) instrutor/professor de

Libras; (ii) professor bilíngue; (iii) intérprete em sala; (iv) professor de apoio em contra

turno; tudo isso para que possam ter acesso ao conhecimento e aperfeiçoar a língua

natural. Outra particularidade diz respeito à avaliação: tem o sujeito surdo o direito a ser

avaliado por profissionais cientes da singularidade linguística que possui, tanto em

avaliações escolares, quanto em vestibulares, concursos públicos etc.. Diferencial

notável e considerável para que haja sucesso escolar e inserção social.

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Outra lei de suma importância é a que regulamenta a profissão de tradutor e

intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras, de nº 12.319, datada de 1º de

setembro de 2010 que, em seu Artigo 6º, especifica as atribuições do intérprete:

Art. 6º. São atribuições do tradutor e interprete, no exercício de suas

competências:

I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos,

surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Líbras

para a língua oral e vice-versa;

II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as

atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas

instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de

forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino

e nos concursos públicos;

IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim

das instituições de ensino e repartições públicas;

V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos

administrativos ou policiais (BRASIL, 2010).

As instituições de ensino tanto públicas quanto privadas podem – e devem –

contratar ou efetivar o profissional tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais

que, conforme a lei acima citada, deve aperfeiçoar-se para desempenhar com eficiência

este papel.

Para findar, por ora, esta lista de leis – pois além das leis federais já citadas, a

maioria dos estados e municípios do Brasil já possui sua legislação específica para

garantir direitos à pessoa com surdez, o que não será neste trabalho abordado – não se

pode deixar de citar a lei de nº 11.796, de 29 de outubro de 2008, que deve, com louvor,

ser comemorada, pois institui o dia 26 de setembro como o Dia Nacional dos Surdos,

data em que foi criada, no Brasil, a primeira escola para surdos, o Imperial Instituto de

Surdos Mudos, hoje, Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES; dia este que

tem como finalidade valorizar a identidade surda e incentivar o surdo a participar

ativamente da sociedade em que vive.

Há, contudo, diversas leis que asseguram direitos aos surdos, mas não asseguram

as ações. Por isso, sabe-se que para que haja uma educação de qualidade devem as leis

sair do papel e passarem à prática pedagógica através de docentes comprometidos com

esta educação, familiares envolvidos na vida escolar e social de seus filhos surdos e,

obviamente, o comprometimento do próprio surdo, sujeito em questão.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento desta pesquisa objetivou analisar por meio do estudo da

história como se fez a educação dos surdos no mundo ao longo dos anos e em que

contexto histórico ela se iniciou no Brasil. Nota-se que, por motivos distintos, a

trajetória histórica da educação do sujeito surdo perfez um árduo caminho, marcado

pela opressão e crueldade instituídas por uma sociedade excludente. Porquanto, a falta

de métodos ou consenso de um método apropriado para a educação do sujeito surdo

ocasionou frustação e fracasso escolar, sentidos até nos dias de hoje. E, ao se citar o

Congresso de Milão de 1880, percebe-se que todas as conquistas alcançadas depois de

anos de luta se perderam em equivocadas decisões, onde poucos – os ouvintes –

decidiram por muitos – os surdos – o que deveria ser adotado a partir de então e o

resultado foi a imposição ao oralismo. Um verdadeiro retrocesso.

Desta forma, por causa das desigualdades instituídas na sociedade, surgiu a

necessidade da elaboração de leis para garantir o acesso e permanência na educação do

sujeito com deficiência. Há, contudo, diversas leis que asseguram, teoricamente, direitos

aos surdos, mas não garantem as ações, pois, para que haja, na prática, uma educação de

qualidade, faz-se necessário o comprometimento e envolvimento entre educação, surdos

e seus familiares e a sociedade como um todo.

Cabe ressaltar que, se por um lado, há insuficientes registros sobre o histórico da

educação de surdos, por outro, são recentes os estudos sobre a legislação, sendo,

portanto, necessários novos trabalhos que possam ampliar o tema em questão.

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