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8/7/2019 [Transcrio] Entrevista com Lawrence Kuhn - A Existncia de Deus Pode Ser Demonstrada - William Lane Craig
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WWW.DEUSEMDEBATE.BLOGSPOT.COM
A EXISTNCIA DEDEUS PODE SER
DEMONSTRADA?WILLIAM LANE CRAIG
Entrevistado por Robert Lawrence Kuhn
RLK: Bill, a existncia de Deus pode ser demonstrada?
WLC: Bem, eu acho que isso depende do que voc quer dizer com "demonstrao", Robert. Eu
no acho que voc pode demonstrar a existncia de Deus com uma certeza matemtica que
convena a todos.
RLK: Ou faz-lo aparecer aqui.
WLC: Certo. Mas eu acho que h bons argumentos a favor da existncia de Deus. H boas
razes para acreditar que Deus existe.
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RLK: Ns temos tido razes por milnios sobre a existncia de Deus, ento... Eu estou
realmente interessado no seu sentimento de quais so os melhores argumentos hoje.
WLC: Um dos argumentos que mais apelaram para mim pessoalmente, que eu acho
convincente o Argumento Cosmolgico para a existncia de Deus.
RLK: E em que isso consiste?
WLC: Bem, essa uma famlia de argumentos que tentam mostrar que h uma primeira causa,
ou razo suficiente para a existncia do mundo.
RLK: Ento, tudo deve ter uma causa.
WLC: Nem tudo o que existe deve ter uma causa, mas eu colocaria dessa forma: "Tudo o que
comea a existir deve ter uma causa." Tudo o que vem existncia deve ter uma causa. E isso
baseado na idia metafsica de que "ser" no pode vir de "no-ser". Nada vem do Nada.
Ento, se algo vem existncia, deve haver uma causa que o trouxe existncia.
RLK: Ento, a nica coisa que voc excluiria disso o prprio Deus.
WLC: Bem, eu no excluiria Deus disso, mas eu diria que Deus nunca comeou a existir. Em
outras palavras, esse argumento lhe levar a uma primeira causa eterna e no-causada, que
nunca comeou a existir.
RLK: E isso Deus.
WLC: Certo, e a premissa chave aqui ser demonstrar que o Universo comeou a existir.
Porque, se o Universo comeou a existir, segue-se logicamente que o Universo tem uma causa.
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RLK: E esse o Argumento Cosmolgico.
WLC: Certo.
RLK: O que mais?
WLC: Bem, h outras verses do Argumento Cosmolgico, que no dependem do Universo ter
um comeo. Por exemplo, o grande filsofo alemo Leibnitz pergunta, "porque existe algo em
vez de nada?" E eu acho que todos ns pensamos sobre o mistrio da existncia. Porque existe
algo? E... no deve haver algum tipo de explicao final da realidade? E eu acho que esse umprincpio bem plausvel, que tudo o que existe deve ter algum tipo de explicao para sua
existncia, at voc chegar a um ser absolutamente necessrio, que auto-existente e no
explicado por qualquer coisa fora de si mesmo.
RLK: Alguns argumentam que existem "fatos brutos", que significa... simplesmente est l e
no tem explicao.
WLC: Certo. Eu acho que podem haver fatos brutos, mas no acho que existam coisas brutas.
Objetos concretos, coisas que realmente existem, no "simplesmente existem", sem nenhuma
explicao. Coisas que so reais, que realmente existem, tm sua explicao em causas que as
produzem ou, se voc fala em abstratos (nmeros, etc...), existem pela necessidade de sua
prpria natureza.
RLK: Ento, de novo, ns temos o Argumento Cosmolgico como "causa eficiente" e voc
precisa de um princpio.
WLC: Sim.
8/7/2019 [Transcrio] Entrevista com Lawrence Kuhn - A Existncia de Deus Pode Ser Demonstrada - William Lane Craig
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RLK: Que outros argumentos voc tem?
WLC: Bem, h o famoso Argumento Teleolgico, que diz que o Universo exibe uma
complexidade em sua estrutura que no pode ser plausivelmente atribuda nem ao acaso, nem necessidade fsica. E que, portanto, isso melhor explicado dizendo que o produto do
design inteligente.
RLK: E Teleologia significa que, de eventos primordiais, voc projeta um resultado final.
WLC: Sim, a idia de que existe uma finalidade em mente, para a qual as coisas existem.
Ento, as coisas so literalmente projetadas.
RLK: Ento o Argumento Teleolgico o Argumento do Design
WLC: Certo! Uma nova vida foi dada a esse argumento pela descoberta da fina sintonizao
do Universo para a vida inteligente, que no parece ser explicvel com base na necessidade
fsica, porque essas constantes e quantidades, que so to finamente sintonizadas, so
independentes das leis da natureza. E isso no pode ser explicado plausivelmente pelo acaso,porque as chances disso so to esmagadoras que parece racional pensar que a razo porque o
mundo parece projetado que foi projetado!
RLK: O que mais voc tem no seu saco de truques e argumentos?
WLC: Bem, h o Argumento Moral para a existncia de Deus, que diz que, se no existe Deus,
realmente no existem valores e deveres morais objetivos. Nessa viso, a menos que haja Deus
para servir como uma base para valores e deveres morais, os valores e deveres morais so
apenas subprodutos da evoluo sociobiolgica. E, nessa viso, sem Deus, tudo relativo. Os
humanos so apenas primatas relativamente avanados. E os valores morais so apenas algo
que evolumos para se dar bem na sociedade sem se matar.
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RLK: Esse argumento soa diferente para mim, porque voc precisa supor o absolutismo dos
valores morais. Nos outros argumentos, voc supe que o mundo teve um incio, que acho que
todos admitem. Mas, ao lidar com questes morais, voc precisa fazer a suposio de que hvalores morais absolutos e no relativos. Se voc no tem valores absolutos, voc certamente
no precisa de Deus.
WLC: Eu prefiro falar sobre valores morais "objetivos". Ou seja, valores mente-independentes.
E voc est certo, esse seria o 2 passo do argumento: dizer "mas h valores e deveres morais
objetivos." Essa uma premissa no argumento.
RLK: Mas essa uma suposio!
WLC: Bem, uma premissa. Eu no acho que seja apenas uma suposio. Eu acho que no h
mais motivos para negar a realidade objetiva dos valores morais do que h para negar a
realidade objetiva do mundo fsico.
RLK: Essa uma forte afirmao.
WLC: Certo. Qualquer argumento que voc possa me dar para negar a realidade objetiva dos
valores morais, eu posso construir um argumento paralelo para ser ctico sobre a realidade
objetiva do mundo externo. Se confiamos nas nossas intuies sensrias de que existe um
mundo de objetos independente de ns, no acho que temos nenhuma base para desconfiar de
nossas intuies morais do mundo de valores objetivos que percebemos. Certamente, para
verificar a objetividade do mundo externo, dependemos de nossos sentidos. E no h como
sair de seus sentidos para provar que voc no um corpo deitado na Matrix, programado
para crer nisso.
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RLK: Certo, certo, todos concordam com isso. Mas, quando voc chega aos valores morais, isso
diferente, no uma objetividade da mesma forma. Todo mundo, toda sociedade na histria
do mundo teria a mesma viso dessa cadeira ou desse carpete. Mas, se voc lida com valores
morais, diferentes sociedades tm tido diferentes valores morais.
WLC: Bem, eu acho que isso verdade, mas muitas vezes voc descobrir que h uma
comunidade entre culturas que ultrapassa as diferentes expresses culturais desses valores
morais. Por exemplo, a Modstia um valor moral comum, mas o que considerado modesto
pode diferir entre culturas. Ou, por exemplo, tribos canibais acreditam na tica de amar o
prximo, mas no consideram pessoas das outras tribos como seus prximos. Ento, embora
eles no canibalizem membros da prpria tribo, canibalizariam membros de outra tribo. Ento,por baixo da diversidade moral aparente, existe um cdigo moral comum...
RLK: Algumas tribos canibais praticam canibalismo para ingerir a sabedoria de seus
ancestrais.
WLC: Bem, eu acho que voc teria dificuldade para encontrar exemplos de grupos tribais que
canibalizam seus prprios... seu prprio povo.
RLK: Certo, vamos continuar, mas acho que h uma diferena entre o argumento moral e os
outros.
WLC: Sim, eu acho... acho que isso no verdade. Me parece que temos bons motivos para
aceitar nossa experincia moral. Quando eu falo com as pessoas, 99% delas me dizem "sim, eu
acho que h uma diferena objetiva entre torturar uma criana por diverso e amar essa
criana e cuidar dela, que esses atos no so moralmente indiferentes. E eu simplesmente
digo "porque desconfiar dessa intuio moral?" Ns claramente percebemos diferenas morais
objetivas no mundo. Mas, se elas existem e essa primeira premissa est certa, segue-se logica e
inescapavelmente que Deus existe.
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RLK: Eu acho que aquela primeira premissa crtica para o argumento moral. O que mais voc
tem?
WLC: Esse seria o argumento baseado na pessoa de Jesus de Nazar. Eu no acho que
qualquer historiador que seja puramente naturalista pode dar uma explicao plausvel para
eventos como a morte e ressurreio de Jesus. Eu acho que temos aqui, em essncia, um
argumento a partir de milagres para a existncia de Deus. Isso pode surpreender muitas
pessoas, mas o fato que h uma maioria de crticos bblicos do Novo Testamento que vieram
a crer que, parte do retrato do Jesus histrico que estabelecido por um exame das evidncias,
que depois da sua morte Jesus foi sepultado em uma tumba por um sinedrista judeuchamado Jos de Arimatia, que, no primeiro dia da semana aps sua crucificao, essa tumba
foi encontrada vazia por um grupo de mulheres seguidoras suas que, depois, vrios
indivduos e grupos de pessoas experimentaram aparies de Jesus vivo aps sua morte e que
os discpulos originais, de forma repentina e sincera, vieram a crer que Jesus ressuscitou dos
mortos apesar de terem toda predisposio ao contrrio.
Esses so os fatos concordados de forma no unnime, mas geral, e a pergunta "como melhor
explic-los?" Eu no sei de nenhuma hiptese naturalista que possa explicar esses fatos semdistorc-los. Eu acho que a melhor explicao a que os discpulos deram: "Deus ressuscitou
Jesus dos mortos", e isso inclui a existncia de Deus.
RLK: Eu acho que essa uma bem longa sucesso de premissas para chegar sua concluso,
mas vou deixar isso para voc e ir para o prximo.
WLC: Bem, o prximo seria o Argumento Ontolgico. E esse o argumento de que, o prprio
conceito de Deus, quando propriamente entendido, implica que Deus existe. E a idia aqui
que Deus um ser maximamente grande. Ele o maior ser concebvel, por definio. Mas o
maior ser concebvel teria que necessariamente existir. Ele seria Onisciente, Onipotente,
Moralmente Perfeito...
8/7/2019 [Transcrio] Entrevista com Lawrence Kuhn - A Existncia de Deus Pode Ser Demonstrada - William Lane Craig
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RLK: E Realmente ser Existente!
WLC: Sim, em qualquer mundo possvel! E, como esse um mundo possvel, segue-se queDeus deve existir nesse mundo. E, portanto, Ele existe. E, eu acho que esse argumento um
argumento slido para a existncia de Deus.
RLK: E argumentos que so pessoais, voc no pode convencer os outros com eles, mas que
voc sente... Eu sei que as pessoas tem isso, eu falo com elas. Mas eles so filosoficamente
legtimos?
WLC: Absolutamente! Eu diria que minha crena na existncia de Deus no , no final,
baseada nesses argumentos. Esses argumentos do confirmao ou reforo para minha crena
de que Deus existe. Mas minha crena de que Deus existe baseada na minha experincia
pessoal de Deus. Ele uma realidade viva em minha vida, e tm sido desde que me tornei um
cristo na adolescncia. E eu acho que possvel defender isso. Ns falamos antes sobre nosso
conhecimento do mundo externo. No h como provar que o mundo externo existe! No h
como provar que voc no um crebro em um tubo de qumicos, programado por eletrodospara pensar que estamos aqui nessa sala tendo essa conversa. Da mesma forma, no h como
provar que o passado real, que tudo no foi criado h cinco minutos atrs com memrias
falsas e aparncia de velhice. Essas so o que os filsofos chamam de "crenas
apropriadamente bsicas." Elas esto na fundao de nosso sistema de crenas. Essas crenas
no so arbitrrias: elas esto baseadas na experincia, minha experincia de ver, sentir e
cheirar objetos, lembrar-se do passado e assim por diante. Ento, essas crenas so baseadas na
experincia, mas so crenas apropriadamente bsicas da fundao do meu sistema de crenas.
E eu diria que, da mesma forma, a crena que Deus existe , para aqueles que o experimentam,
uma crena apropriadamente bsica, baseada na experincia do prprio Deus. E, na ausncia
de alguma esmagadora refutao ou objeo a crer em Deus, o crente perfeitamente racional
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em aceitar que Deus existe, assim como ns somos perfeitamente racionais em crer no mundo
externo e na realidade do passado.
RLK: Bem, muitos sentimentos internos das pessoas sobre as coisas so aculturados pelasociedade, famlia, experincias e problemas ou benefcios psicolgicos que as pessoas
viveram. Como voc pode depender de algo que to emocionalmente baseado para basear
sua mais profunda crena?
WLC: Bem, eu acho que um ateu com esse argumento teria que mostrar que h um perfil
psicolgico particular que as pessoas religiosas tm. E isso simplesmente nunca foi
demonstrado no mundo todo. No existe nenhum tipo de perfil psicolgico particular exibidopor crentes religiosos. Eles vm de todo tipo de contextos, todo tipo de sistema de crenas,
todo tipo de criao emocional e cultural. Ento, eu acho que seria muito difcil para o
descrente tentar mostrar que essa experincia de Deus espria ou no verdica.
RLK: Mas o que voc est dizendo demonstra que todas essas diferentes expresses de crenas
so tipos vastamente diferentes de deuses, religies, sistemas, doutrinas... Toda essa mistura!
Mas, voc est apontando para uma comunidade central entre todas essas diferentessuperficiais, que, de alguma forma, prove a existncia de Deus, mas os deuses so todos
diferentes!
WLC: Na verdade, eu no estava apelando para isso. Eu estava pensando em pessoas que
acreditam em um conceito testa tradicional de Deus: elas no apresentam nenhum tipo de
perfil psicolgico. Freud tentou fazer isso, dizendo que a projeo de uma figura paternal
celestial por um complexo de dipo. E isso foi, eu acho, totalmente esvaziado de qualquer
plausibilidade. Ento, eu no estava falando de conceitos pantestas de Deus, ou outros. Essa
uma questo bem diferente. O que eu quis dizer que crentes no conceito tradicional de um
Deus monotesta no exibem nenhuma comunidade de criao psicolgica, ou cultura, ou um
perfil que nos levaria a pensar que essa uma experincia no verdica.
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RLK: E voc, como um indivduo real, confiaria nisso mais do que em todos outros
argumentos da cincia e filosofia.
WLC: Sim, confiaria. Eu acho que a experincia de Deus, para quem a tem, uma experincia
que confirma a si mesma algo to real que esmaga as refutaes que so levantadas contra
ela.