[Transcrição] Entrevista com Lawrence Kuhn - A Existência de Deus Pode Ser Demonstrada - William Lane Craig

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    A EXISTNCIA DEDEUS PODE SER

    DEMONSTRADA?WILLIAM LANE CRAIG

    Entrevistado por Robert Lawrence Kuhn

    RLK: Bill, a existncia de Deus pode ser demonstrada?

    WLC: Bem, eu acho que isso depende do que voc quer dizer com "demonstrao", Robert. Eu

    no acho que voc pode demonstrar a existncia de Deus com uma certeza matemtica que

    convena a todos.

    RLK: Ou faz-lo aparecer aqui.

    WLC: Certo. Mas eu acho que h bons argumentos a favor da existncia de Deus. H boas

    razes para acreditar que Deus existe.

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    RLK: Ns temos tido razes por milnios sobre a existncia de Deus, ento... Eu estou

    realmente interessado no seu sentimento de quais so os melhores argumentos hoje.

    WLC: Um dos argumentos que mais apelaram para mim pessoalmente, que eu acho

    convincente o Argumento Cosmolgico para a existncia de Deus.

    RLK: E em que isso consiste?

    WLC: Bem, essa uma famlia de argumentos que tentam mostrar que h uma primeira causa,

    ou razo suficiente para a existncia do mundo.

    RLK: Ento, tudo deve ter uma causa.

    WLC: Nem tudo o que existe deve ter uma causa, mas eu colocaria dessa forma: "Tudo o que

    comea a existir deve ter uma causa." Tudo o que vem existncia deve ter uma causa. E isso

    baseado na idia metafsica de que "ser" no pode vir de "no-ser". Nada vem do Nada.

    Ento, se algo vem existncia, deve haver uma causa que o trouxe existncia.

    RLK: Ento, a nica coisa que voc excluiria disso o prprio Deus.

    WLC: Bem, eu no excluiria Deus disso, mas eu diria que Deus nunca comeou a existir. Em

    outras palavras, esse argumento lhe levar a uma primeira causa eterna e no-causada, que

    nunca comeou a existir.

    RLK: E isso Deus.

    WLC: Certo, e a premissa chave aqui ser demonstrar que o Universo comeou a existir.

    Porque, se o Universo comeou a existir, segue-se logicamente que o Universo tem uma causa.

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    RLK: E esse o Argumento Cosmolgico.

    WLC: Certo.

    RLK: O que mais?

    WLC: Bem, h outras verses do Argumento Cosmolgico, que no dependem do Universo ter

    um comeo. Por exemplo, o grande filsofo alemo Leibnitz pergunta, "porque existe algo em

    vez de nada?" E eu acho que todos ns pensamos sobre o mistrio da existncia. Porque existe

    algo? E... no deve haver algum tipo de explicao final da realidade? E eu acho que esse umprincpio bem plausvel, que tudo o que existe deve ter algum tipo de explicao para sua

    existncia, at voc chegar a um ser absolutamente necessrio, que auto-existente e no

    explicado por qualquer coisa fora de si mesmo.

    RLK: Alguns argumentam que existem "fatos brutos", que significa... simplesmente est l e

    no tem explicao.

    WLC: Certo. Eu acho que podem haver fatos brutos, mas no acho que existam coisas brutas.

    Objetos concretos, coisas que realmente existem, no "simplesmente existem", sem nenhuma

    explicao. Coisas que so reais, que realmente existem, tm sua explicao em causas que as

    produzem ou, se voc fala em abstratos (nmeros, etc...), existem pela necessidade de sua

    prpria natureza.

    RLK: Ento, de novo, ns temos o Argumento Cosmolgico como "causa eficiente" e voc

    precisa de um princpio.

    WLC: Sim.

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    RLK: Que outros argumentos voc tem?

    WLC: Bem, h o famoso Argumento Teleolgico, que diz que o Universo exibe uma

    complexidade em sua estrutura que no pode ser plausivelmente atribuda nem ao acaso, nem necessidade fsica. E que, portanto, isso melhor explicado dizendo que o produto do

    design inteligente.

    RLK: E Teleologia significa que, de eventos primordiais, voc projeta um resultado final.

    WLC: Sim, a idia de que existe uma finalidade em mente, para a qual as coisas existem.

    Ento, as coisas so literalmente projetadas.

    RLK: Ento o Argumento Teleolgico o Argumento do Design

    WLC: Certo! Uma nova vida foi dada a esse argumento pela descoberta da fina sintonizao

    do Universo para a vida inteligente, que no parece ser explicvel com base na necessidade

    fsica, porque essas constantes e quantidades, que so to finamente sintonizadas, so

    independentes das leis da natureza. E isso no pode ser explicado plausivelmente pelo acaso,porque as chances disso so to esmagadoras que parece racional pensar que a razo porque o

    mundo parece projetado que foi projetado!

    RLK: O que mais voc tem no seu saco de truques e argumentos?

    WLC: Bem, h o Argumento Moral para a existncia de Deus, que diz que, se no existe Deus,

    realmente no existem valores e deveres morais objetivos. Nessa viso, a menos que haja Deus

    para servir como uma base para valores e deveres morais, os valores e deveres morais so

    apenas subprodutos da evoluo sociobiolgica. E, nessa viso, sem Deus, tudo relativo. Os

    humanos so apenas primatas relativamente avanados. E os valores morais so apenas algo

    que evolumos para se dar bem na sociedade sem se matar.

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    RLK: Esse argumento soa diferente para mim, porque voc precisa supor o absolutismo dos

    valores morais. Nos outros argumentos, voc supe que o mundo teve um incio, que acho que

    todos admitem. Mas, ao lidar com questes morais, voc precisa fazer a suposio de que hvalores morais absolutos e no relativos. Se voc no tem valores absolutos, voc certamente

    no precisa de Deus.

    WLC: Eu prefiro falar sobre valores morais "objetivos". Ou seja, valores mente-independentes.

    E voc est certo, esse seria o 2 passo do argumento: dizer "mas h valores e deveres morais

    objetivos." Essa uma premissa no argumento.

    RLK: Mas essa uma suposio!

    WLC: Bem, uma premissa. Eu no acho que seja apenas uma suposio. Eu acho que no h

    mais motivos para negar a realidade objetiva dos valores morais do que h para negar a

    realidade objetiva do mundo fsico.

    RLK: Essa uma forte afirmao.

    WLC: Certo. Qualquer argumento que voc possa me dar para negar a realidade objetiva dos

    valores morais, eu posso construir um argumento paralelo para ser ctico sobre a realidade

    objetiva do mundo externo. Se confiamos nas nossas intuies sensrias de que existe um

    mundo de objetos independente de ns, no acho que temos nenhuma base para desconfiar de

    nossas intuies morais do mundo de valores objetivos que percebemos. Certamente, para

    verificar a objetividade do mundo externo, dependemos de nossos sentidos. E no h como

    sair de seus sentidos para provar que voc no um corpo deitado na Matrix, programado

    para crer nisso.

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    RLK: Certo, certo, todos concordam com isso. Mas, quando voc chega aos valores morais, isso

    diferente, no uma objetividade da mesma forma. Todo mundo, toda sociedade na histria

    do mundo teria a mesma viso dessa cadeira ou desse carpete. Mas, se voc lida com valores

    morais, diferentes sociedades tm tido diferentes valores morais.

    WLC: Bem, eu acho que isso verdade, mas muitas vezes voc descobrir que h uma

    comunidade entre culturas que ultrapassa as diferentes expresses culturais desses valores

    morais. Por exemplo, a Modstia um valor moral comum, mas o que considerado modesto

    pode diferir entre culturas. Ou, por exemplo, tribos canibais acreditam na tica de amar o

    prximo, mas no consideram pessoas das outras tribos como seus prximos. Ento, embora

    eles no canibalizem membros da prpria tribo, canibalizariam membros de outra tribo. Ento,por baixo da diversidade moral aparente, existe um cdigo moral comum...

    RLK: Algumas tribos canibais praticam canibalismo para ingerir a sabedoria de seus

    ancestrais.

    WLC: Bem, eu acho que voc teria dificuldade para encontrar exemplos de grupos tribais que

    canibalizam seus prprios... seu prprio povo.

    RLK: Certo, vamos continuar, mas acho que h uma diferena entre o argumento moral e os

    outros.

    WLC: Sim, eu acho... acho que isso no verdade. Me parece que temos bons motivos para

    aceitar nossa experincia moral. Quando eu falo com as pessoas, 99% delas me dizem "sim, eu

    acho que h uma diferena objetiva entre torturar uma criana por diverso e amar essa

    criana e cuidar dela, que esses atos no so moralmente indiferentes. E eu simplesmente

    digo "porque desconfiar dessa intuio moral?" Ns claramente percebemos diferenas morais

    objetivas no mundo. Mas, se elas existem e essa primeira premissa est certa, segue-se logica e

    inescapavelmente que Deus existe.

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    RLK: Eu acho que aquela primeira premissa crtica para o argumento moral. O que mais voc

    tem?

    WLC: Esse seria o argumento baseado na pessoa de Jesus de Nazar. Eu no acho que

    qualquer historiador que seja puramente naturalista pode dar uma explicao plausvel para

    eventos como a morte e ressurreio de Jesus. Eu acho que temos aqui, em essncia, um

    argumento a partir de milagres para a existncia de Deus. Isso pode surpreender muitas

    pessoas, mas o fato que h uma maioria de crticos bblicos do Novo Testamento que vieram

    a crer que, parte do retrato do Jesus histrico que estabelecido por um exame das evidncias,

    que depois da sua morte Jesus foi sepultado em uma tumba por um sinedrista judeuchamado Jos de Arimatia, que, no primeiro dia da semana aps sua crucificao, essa tumba

    foi encontrada vazia por um grupo de mulheres seguidoras suas que, depois, vrios

    indivduos e grupos de pessoas experimentaram aparies de Jesus vivo aps sua morte e que

    os discpulos originais, de forma repentina e sincera, vieram a crer que Jesus ressuscitou dos

    mortos apesar de terem toda predisposio ao contrrio.

    Esses so os fatos concordados de forma no unnime, mas geral, e a pergunta "como melhor

    explic-los?" Eu no sei de nenhuma hiptese naturalista que possa explicar esses fatos semdistorc-los. Eu acho que a melhor explicao a que os discpulos deram: "Deus ressuscitou

    Jesus dos mortos", e isso inclui a existncia de Deus.

    RLK: Eu acho que essa uma bem longa sucesso de premissas para chegar sua concluso,

    mas vou deixar isso para voc e ir para o prximo.

    WLC: Bem, o prximo seria o Argumento Ontolgico. E esse o argumento de que, o prprio

    conceito de Deus, quando propriamente entendido, implica que Deus existe. E a idia aqui

    que Deus um ser maximamente grande. Ele o maior ser concebvel, por definio. Mas o

    maior ser concebvel teria que necessariamente existir. Ele seria Onisciente, Onipotente,

    Moralmente Perfeito...

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    RLK: E Realmente ser Existente!

    WLC: Sim, em qualquer mundo possvel! E, como esse um mundo possvel, segue-se queDeus deve existir nesse mundo. E, portanto, Ele existe. E, eu acho que esse argumento um

    argumento slido para a existncia de Deus.

    RLK: E argumentos que so pessoais, voc no pode convencer os outros com eles, mas que

    voc sente... Eu sei que as pessoas tem isso, eu falo com elas. Mas eles so filosoficamente

    legtimos?

    WLC: Absolutamente! Eu diria que minha crena na existncia de Deus no , no final,

    baseada nesses argumentos. Esses argumentos do confirmao ou reforo para minha crena

    de que Deus existe. Mas minha crena de que Deus existe baseada na minha experincia

    pessoal de Deus. Ele uma realidade viva em minha vida, e tm sido desde que me tornei um

    cristo na adolescncia. E eu acho que possvel defender isso. Ns falamos antes sobre nosso

    conhecimento do mundo externo. No h como provar que o mundo externo existe! No h

    como provar que voc no um crebro em um tubo de qumicos, programado por eletrodospara pensar que estamos aqui nessa sala tendo essa conversa. Da mesma forma, no h como

    provar que o passado real, que tudo no foi criado h cinco minutos atrs com memrias

    falsas e aparncia de velhice. Essas so o que os filsofos chamam de "crenas

    apropriadamente bsicas." Elas esto na fundao de nosso sistema de crenas. Essas crenas

    no so arbitrrias: elas esto baseadas na experincia, minha experincia de ver, sentir e

    cheirar objetos, lembrar-se do passado e assim por diante. Ento, essas crenas so baseadas na

    experincia, mas so crenas apropriadamente bsicas da fundao do meu sistema de crenas.

    E eu diria que, da mesma forma, a crena que Deus existe , para aqueles que o experimentam,

    uma crena apropriadamente bsica, baseada na experincia do prprio Deus. E, na ausncia

    de alguma esmagadora refutao ou objeo a crer em Deus, o crente perfeitamente racional

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    em aceitar que Deus existe, assim como ns somos perfeitamente racionais em crer no mundo

    externo e na realidade do passado.

    RLK: Bem, muitos sentimentos internos das pessoas sobre as coisas so aculturados pelasociedade, famlia, experincias e problemas ou benefcios psicolgicos que as pessoas

    viveram. Como voc pode depender de algo que to emocionalmente baseado para basear

    sua mais profunda crena?

    WLC: Bem, eu acho que um ateu com esse argumento teria que mostrar que h um perfil

    psicolgico particular que as pessoas religiosas tm. E isso simplesmente nunca foi

    demonstrado no mundo todo. No existe nenhum tipo de perfil psicolgico particular exibidopor crentes religiosos. Eles vm de todo tipo de contextos, todo tipo de sistema de crenas,

    todo tipo de criao emocional e cultural. Ento, eu acho que seria muito difcil para o

    descrente tentar mostrar que essa experincia de Deus espria ou no verdica.

    RLK: Mas o que voc est dizendo demonstra que todas essas diferentes expresses de crenas

    so tipos vastamente diferentes de deuses, religies, sistemas, doutrinas... Toda essa mistura!

    Mas, voc est apontando para uma comunidade central entre todas essas diferentessuperficiais, que, de alguma forma, prove a existncia de Deus, mas os deuses so todos

    diferentes!

    WLC: Na verdade, eu no estava apelando para isso. Eu estava pensando em pessoas que

    acreditam em um conceito testa tradicional de Deus: elas no apresentam nenhum tipo de

    perfil psicolgico. Freud tentou fazer isso, dizendo que a projeo de uma figura paternal

    celestial por um complexo de dipo. E isso foi, eu acho, totalmente esvaziado de qualquer

    plausibilidade. Ento, eu no estava falando de conceitos pantestas de Deus, ou outros. Essa

    uma questo bem diferente. O que eu quis dizer que crentes no conceito tradicional de um

    Deus monotesta no exibem nenhuma comunidade de criao psicolgica, ou cultura, ou um

    perfil que nos levaria a pensar que essa uma experincia no verdica.

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    RLK: E voc, como um indivduo real, confiaria nisso mais do que em todos outros

    argumentos da cincia e filosofia.

    WLC: Sim, confiaria. Eu acho que a experincia de Deus, para quem a tem, uma experincia

    que confirma a si mesma algo to real que esmaga as refutaes que so levantadas contra

    ela.