Veja a transexual 'crucificada' e outras polmicas com smbolos cristosViviany Beleboni, que desfilou na cruz na Parada Gay, diz sofrer ameaas.Madonna, Saramago e outros tambm j foram alvo de polmica.

Retrato de Viviany Beleboni, que desfilou crucificada na Parada Gay no ltimo domingo (7) em So Paulo (Foto: Victor Moriyama/G1)A transexual crucificada na 19 Parada do Orgulho LGBT, Viviany Beleboni, no foi a primeira a gerar polmica por usar smbolos religiosos. Personalidades famosas como a cantora Madonna, o escritor Jos Saramago, o carnavalesco Joosinho Trinta e o cineasta Martin Scorsese tambm foram alvo de crticas. Veja os casos:1. Parada Gay 2015: a transexual crucificada

Manifestao contra a homofobia na 19 Parada do Orgulho LGBT na Avenida Paulista, neste domingo (7) (Foto: Reuters/Joao Castellano)Neste ltimo domingo (7), Viviany Beleboni chocou parte dos participantes encenando o sofrimento de Jesus na cruz durante a Parada Gay. Ela ficou crucificada durante todo o evento, em cima de um dos trios. Foi o fotgrafo Joo Castellano, da agncia Reuters, quem capturou a transexual pendurada durante a marcha.Desde ento, ela tem recebido ameaas e milhares de crticas, inclusive de setores da Igreja Catlica e lideranas evanglicas (leia mais abaixo)."As pessoas estavam querendo a minha morte. Tinha gente falando que eu tenho que morrer", disse Viviany, que tambm recebeu, pelas redes sociais, mensagens de apoio de simpatizantes sua causa.A atriz diz que pretendia representar a agresso e a dor que a comunidade LGBT tem passado. Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem acontecido com muita genteno meio GLS, mas com isso ningum se choca, disse em entrevista ao G1.2. Madonna e o clipe de 'Like a Prayer'

Madonna no clipe da msica "Like a Prayer", do disco de 1989 que leve o mesmo nome (Foto: Reproduo/Youtube)O quarto lbum da cantora Madonna traz a msica Like a Prayer, lanada em 1989. A polmica comeou pela letra, que fala sobre uma jovem apaixonada por Deus, quase como quem ama uma figura masculina. Madonna fez um clipe com cenas dentro de igrejas, danando com um coral religioso, beijandoum santo. O encerramento mostra a artista cantando em frente s cruzes em fogo.Aps a gravao, a cantora disse querer que o vdeo fosse o mais provocante do que tudo o que ela j havia feito antes. Na poca, diferentes grupos religiosos se manifestaram e realizaram protestos contra oclipe, que consideraram como blasfmia das imagens crists. Alm de causar problemas para a cantora com patrocinadores do vdeo, o Papa Joo Paulo II tambm proibiu a presena de Madonna na Itlia.Em 2012, a cantora voltou a chamar a ateno aps cantar uma msica pregada a uma cruz e com a coroa de espinhos na cabea durante um show realizado na Polnia.3. O 'Cristo mendigo' de Joosinho Trinta

31 de maro de 1989 Joosinho causou polmica com uma imagem do Cristo Redentor vestido de mendigo na Beija-Flor; a escola foi vice-campe naquele ano (Foto: Arquivo/AE)Alm de Madonna, o ano de 1989 teve polmica com smbolos religiosos tambm no Brasil. Joosinho Trinta, carnavalesco da escola de samba Beija-Flor, um dos autores do desfile Ratos e Urubus, Largem Minha Fantasia.O desfile, que falava sobre desigualdade, teria uma esttua do Cristo Redentor vestido como mendigo, criao de Joosinho. Em 31 de maro, dia do Carnaval, a escola teve de cobrir o Cristo com um plstico preto: a Igreja Catlica entrou com uma ao na Justia contra o uso da imagem. Mesmo assim, o carnavalesco manteve a esttua no carro alegrico e, sobre o plstico preto, escreveu a mensagem: Mesmo proibido olhai por ns!No Carnaval de 2012, a Beija-Flor homenageou o mestre levando para a Sapuca uma alegoria de Joosinho Trinta como o Redentor.

Neymar estampou a capa da revista "Placar"em 2012 (Foto: Reproduo/RevistaPlacar)4. Neymar crucificadoA capa da revista Placar de outubro de 2012 trouxe o craque da seleo brasileira e, agora, do Barcelona, no lugar de Jesus na cruz. A manchete reitera a mensagem: a crucificao de Neymar. No subttulo, outra explicao: "chamado de 'cai-cai', o craque brasileiro vira bode expiatrio em um esporte onde todos jogam sujo".Em sequncia, a Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se manifestou em nota de repdio revista Placar, disse que os bispos estavam indignados e afirmou que a capa era uma provocao. A nota foi assinada pelo cardeal Dom Raymundo Damasceno.Na poca, a Igreja Catlica tambm se pronunciou em comunicado oficial: "A revista mostrou-se, no mnimo, insensvel ao recente cenrio mundial de deplorvel violncia causada pelo uso inadequado de figuras religiosas".Os editores da publicao explicaram que a ideia no era atingir qualquer entidade religiosa. Naquela poca, Neymar era acusado de utilizar o recurso de simular faltas para tentar induzir a arbitragem a errar durante as partidas.

Jornal francs Charlie Hebdo fez diversas stirascom entidades (Foto: Reproduo/Charlie Hebdo)5. A stira de Charlie HebdoO jornal francs Charlie Hebdo, durante toda a sua histria, usou imagens religiosas e criticou quase todas as vertentes e entidades em suas capas. Em maro de 2013, os editores opinaram sobre a poltica dentro do Vaticano. Em francs, a manchete diz: 'Vaticano: outra eleio fraudada. Naquele momento, o atual Papa Francisco tinha sido escolhido para substituir Bento XVI. Na ilustrao, a figura de Jesus Cristo aparece e diz: Soltem-me, eu quero votar.

A figura Maom, do Isl, tambm foi alvo do jornal. Em outra capa o Deus do islamismo aparece beijando cartunista na boca, com o texto o amor, mais forte do que o dio. Em todas as capas, organizaes religiosas se pronunciaram com posicionamentos contrrios.Em janeiro deste ano, a sede de Charlie Hebdo foi atacada por radicais do Isl, deixando 12 jornalistas mortos.6. Barbie religiosa e o Cristo Ken

Dentre as peas montadas est a imagem de Nossa Senhora Aparecida (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)Pool Paolini e Marianella Perelli, artistas argentinos, criaram verses religiosas da Barbie e do Ken em setembro de 2014. As bonecas estavam caracterizadas como Maria Madalena, Nossa Senhora Aparecida eNossa Senhora do Carmo. J a verso masculina trazia a vestimenta de So Caetano, So Roque e Jesus Cristo Crucificado.Mais uma vez, os religiosos se rebelaram nas redes sociais contra o uso das imagens sagradas. Os artistas usaram suas contas no Facebook para se explicar: "Usamos o humor para ressaltar a desconexo do universo histrico e poltico, destacando a fico religiosa. E com isso conseguimos chamar a ateno dos mais velhos".Os bonecos estavam expostos em uma mostra em Buenos Aires, intitulada 'Barbie: ThePlasticReligion', que acabou suspensa aps ameaas de grupos radicais catlicos.

Jos Saramago (Foto: Reuters)7. O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Jos SaramagoO livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, obra do escritor portugus Jos Saramago lanada em 1991, traz uma nova verso da histria do mrtir catlico, com uma viso moderna e crtica da vida de Jesus.

As igrejas catlicas do Brasil e de Portugal se manifestaram contra o livro. Em 1993, a obra foi retirada da

candidatura ao Prmio Literrio Europeu, um dos principais do continente, pelo sub-secretrio de Estado da Cultura portugus, Antnio Sousa Lara. No mesmo ano, o escritor deixou o pas para morar na Espanha.

A ltima tentao de cristo (Foto: Reproduo/Imdb)8. Martin Scorsese e a 'ltima tentao de Cristo'O filme "A ltima tentao de Cristo", de Martin Scorsese, lanado em 1988, foi proibido em vrios pases na poca por mostrar Jesus sob uma nova tica, como um homem comum que vivia o conflito entre ser o messias predestinado ou apenas um cidado empenhado em constituir famlia, menos divino e mais humano.Em So Paulo, o prefeito Jnio Quadros tentou impedir a exibio do filme interditando oito salas que iriam mostrar a obra alegando problemas de segurana.A Arquidiocese do Rio condenou o filme na poca chamando-o de "blasfemo" e "pornogrfico".

Telogos explicam as polmicasMas, afinal, por que sempre que algum faz uma representao usando um smbolo religioso provoca polmica? O telogo e professor da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), Antnio Manzatto, no acha que o ato de Viviany chegou a desrespeitar o smbolo. Segundo ele, no h qualquer registro da Bblia contrrio ao uso da cruz. A cruz nem era um smbolo religioso quando a Bblia foi escrita. Os smbolos foram criados ao longo dos anos, explica.O telogo da PUC-SP chama ateno para o que representa a imagem cruz. Os smbolos religiosos se referem a uma situao. A cruz se refere aos abandonados e oprimidos. Se ela usou essa imagem para fazer a sociedade perceber a situao de dominao, est certa. As pessoas no enxergam isso e so elasque deram qualquer outro significado para aquele smbolo, disse.

A questo do direito igualdade de todo o ser humano, independentemente de sua crena, raa ouopo sexual. Tem gente discutindo porque a pessoaest crucificada na Parada Gay e acaba mudando o foco do que importante discutir. mudar o foco para no discutir os direitos homossexuais. E assim fica a estrutura de dominao.Outro telogo, Jaldemir Vitrio, presidente da Sociedade de Teologia e Cincias da Religio (Soter),

confirma a posio de Manzatto. No h registro, diz. O que existe so leis criadas por cada Pas, como

As pessoas pensam assim: o smbolo meu e no quero que ningum mexa com ele"

Antnio Manzatto. telogo

o caso do Brasil, mas de qualquer forma no vi como um desrespeito f crist. Quem garante que ela no usou a imagem de Deus justamente para demonstrar sua f? As pessoas enxergam o que querem, completa Vitrio.Manzatto acredita que, nas prprias palavras, o que acontece uma coisa muito natural e As pessoas pensam assim: o smbolo meu e no quero que ningum mexa com ele.Para Nelson Domingues, professor de teologia e psiclogo clnico, as pessoas so muito apegadas aos smbolos. O smbolo uma coisa que vem de fora. As pessoas se apegam muito religiosidade e acabam esquecendo da coisa mais importante que Jesus ensinou: amar. O mais importante o amor parao cristianismo. Entre o smbolo e o amor, preciso ficar com o amor, completa.Para o telogo, o ato de Viviany foi uma falta de respeito de fato. Mas ele diz que isso no deveria afetar tanto aqueles que creem em Jesus. Vi que ela [Viviany] est sendo ameaada de morte. Gente dizendo que vai cair fogo do cu na cabea dela. A Bblia que eu acredito no ensina o ser humano a ser assim, completa.Arcebispo de SP critica

Cardeal se pronunciou na noite desta segunda-feira (Foto: Reproduo/Facebook)Aps a crucificao de Viviany Beleboni na Parada Gay deste ano, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de So Paulo, escreveu sobre o assunto tambm em sua pgina do Facebook na noite desta segunda-feira.Ele disse ter recebido muitas mensagens sobre o assunto: Muitas pessoas me questionaram sobre a imagem de um transexual na cruz durante a Parada Gay. Entendo que quem sofre se sente como Jesus nacruz. Mas preciso cuidar para no banalizar ou usar de maneira irreverente smbolos religiosos, em respeito sensibilidade religiosa das pessoas. Se queremos respeito, devemos respeitar."O deputado federal e pastor Marco Feliciano se pronunciou nas redes sociais. Nesta tera-feira (9), ele gravou um vdeo argumentando contra o uso da imagem de Jesus pela transexual.Estou indignado com o que aconteceu ontem. Mas eles mostraram quem so, pagos com o dinheiro dos cofres pblicos. Essas pessoas so intolerantes e me acusam daquilo do que eles fazem, diz em trecho da gravao. Tambm estou indignado por pegarem o smbolo da minha f e terem exposto publicamente em um ato de completa falta de respeito. Estou falando de pessoas que acham que o direito deles maior que o meu direito, completa.

Feliciano lembrou o artigo 208 do Cdigo Penal: "Escarnecer de algum publicamente, por motivo de crena ou funo religiosa; impedir ou perturbar cerimnia ou prtica de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena - deteno, de um ms a um ano, ou multa".O deputado federal Jean Wyllys escreveu um texto na mesma rede social questionando as crticas contra Viviany. O poltico relembrou diferentes momentos em que a imagem de Jesus e outros smbolos religiososforam utilizados para a criao artstica. Se assim, ento por que essa celeuma toda em torno da apropriao da iconografia da crucificao de Jesus feita por uma artista transexual na Parada LGBT de So Paulo?, questionou."Ora, porque se trata de uma representao feita por um membro da comunidade LGBT! A celeuma - iniciada e estimulada por lideranas poltico-religiosas oportunistas, demaggicas e intelectualmente desonestas tem, portanto, o objetivo claro de difamar lsbicas, gays, bissexuais e transexuais por meio da manipulao dos preconceitos anti-homossexuais histricos ainda arraigados no corao e na mente da maioria da populao."Carolina DantasDo G1, em So Paulo

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