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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA POR MEIO DA INTERAÇÃO UNIVERSIDADE - EMPRESA: UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO PARA O VALE DO TAQUARI Cristiani Reimers Lajeado, junho de 2009

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA POR MEIO DA INTERAÇÃO ...€¦ · área de propriedade intelectual e transferência de tecnologia produzida nas ... Indústria e Comércio Exterior

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

POR MEIO DA INTERAÇÃO UNIVERSIDADE - EMPRESA:

UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO PARA O

VALE DO TAQUARI

Cristiani Reimers

Lajeado, junho de 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

POR MEIO DA INTERAÇÃO UNIVERSIDADE - EMPRESA:

UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO PARA O

VALE DO TAQUARI

Cristiani Reimers

Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Direito, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª. MS. Thaís Carnieletto Müller

Lajeado, junho de 2009

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DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas! Mário Quintana

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho, gostaria de agradecer a todos aqueles que me

apoiaram, direta ou indiretamente, durante a sua realização. Eu lhes manifesto, aqui,

meus agradecimentos mais sinceros:

a Deus por ter a oportunidade de cursar o ensino superior;

aos meus pais, Armindo e Ornélia, ao meu esposo, Felipe, e a minha filha,

Amanda, por seu carinho e apoio, por não medirem esforços para que eu chegasse

até esta etapa de minha vida, tolerando minhas ausências;

à professora e orientadora Thaís Carnieletto Müller, por seu apoio e

inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos, que me

levaram à execução e conclusão desta monografia;

às professoras Elizete de Azevedo Kreutz e Simone Stülp, pelo convívio, pelo

apoio, pela compreensão e pela amizade;

aos amigos e colegas do Escritório de Relações com o Mercado, da

UNIVATES, pelo incentivo e pelo apoio constantes;

à Reitoria da UNIVATES, pela oportunidade contínua de desenvolvimento

profissional.

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RESUMO

Uma das formas de desenvolvimento de um país ocorre por meio da inovação e da pesquisa científica e tecnológica voltadas para o ambiente produtivo. Dentro deste espírito, o Governo Federal promulgou a Lei 10.973/2004, conhecida como Lei da Inovação. Dessa forma, avança-se mais um passo em direção ao desenvolvimento industrial, científico e tecnológico, abordado pelos arts. 218 e 219 da Constituição Federal de 1988. A Lei da Inovação surgiu da necessidade de estimular o processo de inovação tecnológica no Brasil, visando ao aumento da competitividade das empresas brasileiras no mercado nacional e internacional. Como a Lei da Inovação irradia seus efeitos somente sobre as relações entre entes públicos com empresas nacionais privadas e com organizações de direito privado sem fins lucrativos, as universidades privadas ficaram à margem da Lei. Apesar disso, algumas idéias podem ser extraídas e perfeitamente aplicadas na esfera da universidade privada, tais como: criação de políticas institucionais de propriedade intelectual e de transferência de tecnologia, criação de Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT, desenvolvimento de ações de formação de recursos humanos na área de propriedade intelectual e transferência de tecnologia produzida nas instituições acadêmicas. Considerando-se que a Lei estabeleceu a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica – NITs com a responsabilidade de administrar a política de inovação nas Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), o Centro Universitário UNIVATES criou, no final de ano de 2006, o Escritório de Relações com o Mercado, com a missão de promover a interação entre a UNIVATES e a comunidade, intermediando negociações e transferindo o conhecimento produzido na Instituição, visando ao desenvolvimento regional. O objetivo geral da presente monografia é sugerir ações de interação universidade-empresa para a promoção da transferência de tecnologia no Centro Universitário UNIVATES com o intuito de promover o desenvolvimento regional. PALAVRAS-CHAVE: Interação. Inovação. Transferência de Tecnologia. Universidade-empresa.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APL Arranjo Produtivo Local

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento

C,T & I Ciência, Tecnologia e Inovação

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CF Constituição Federal

CGU Controladoria Geral da União

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CPI Código de Propriedade Intelectual

CUP Convenção da União de Paris

CVT Centro Vocacional Tecnológico

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

DIRTEC Diretoria de Contratos de Tecnologia e outros Registros

DNPI Departamento Nacional de Propriedade Intelectual

EBT Empresa Brasileira de Tecnologia

ERM Escritório de Relações com o Mercado

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FND Fundo Nacional de Desenvolvimento

FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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FUNTEL Fundo Nacional para o Desenvolvimento Tecnológico das

Telecomunicações

FUVATES Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social

ICT Instituição Científica e Tecnológica

INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

LPI Lei da Propriedade Industrial

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MEC Ministério da Educação

MIC Ministério da Indústria e Comércio

MME Ministério de Minas e Energia

MPE Micro e Pequena Empresa

MS Ministério da Saúde

NIT Núcleo de Inovação Tecnológica

OBMEP Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas

OCDE Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento

OMC Organização Mundial do Comércio

OMPI Organização Mundial da Propriedade Intelectual

ONU Organização das Nações Unidas

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PDP Política de Desenvolvimento Produtivo

PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

RDE Registro Declaratório Eletrônico

SIBRATEC Sistema Brasileiro de Tecnologia

TIB Tecnologia Industrial Básica

TRIPS Trade Related Aspectos of Intellectual Property Rights

U-E Universidade-Empresa

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

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UNIVATES Centro Universitário UNIVATES

WIPO World Intellectual Property Organization

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Tipos de inovação............................................................................ 22

TABELA 2 - Metas da política de desenvolvimento produtivo............................. 56

TABELA 3 - Tipos de relação na cooperação universidade-empresa................. 104

TABELA 4 - Motivações e barreiras para as empresas e universidades............. 106

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Melancia quadrada........................................................................... 31

FIGURA 2 - Máquina a vapor............................................................................... 32

FIGURA 3 - Transistor.......................................................................................... 32

FIGURA 4 - Modelo science-push........................................................................ 41

FIGURA 5 - Modelo market-pull........................................................................... 41

FIGURA 6 - Organograma da propriedade intelectual......................................... 74

FIGURA 7 - Processo de cooperação universidade-empresa............................. 105

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Proposta Inovação X Tecnologia................................................... 59

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................

13

2 ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA TRANSFERÊNCIA DE

TECNOLOGIA.....................................................................................................

17

2.1 Ciência e tecnologia..................................................................................... 17

2.2 Inovação tecnológica................................................................................... 19

2.2.1 Tipos de inovação..................................................................................... 23

2.2.1.1 Inovação de conceito............................................................................. 23

2.2.1.2 Inovação de processo............................................................................ 24

2.2.1.3 Criação de marca................................................................................... 24

2.2.1.4 Aperfeiçoamento gradual...................................................................... 25

2.2.1.5 Reorganização tecnológica................................................................... 25

2.2.1.6 Reformulação......................................................................................... 26

2.2.1.7 Inovação de serviço............................................................................... 27

2.2.1.8 Inovação de design................................................................................ 27

2.2.1.9 Inovação de embalagem........................................................................ 28

2.3 Transferência de tecnologia........................................................................ 33

2.3.1 Tipos de contrato de transferência de tecnologia................................. 36

2.3.1.1 Exploração de patentes......................................................................... 37

2.3.1.2 Desenhos industriais............................................................................. 38

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2.3.1.3 Uso de marcas......................................................................................... 39

2.3.1.4 Fornecimento de tecnologia.................................................................. 39

2.3.1.5 Prestação de serviços de assistência técnica e científica.................. 39

2.3.1.6 Franquia................................................................................................... 40

2.3.2 Processos de inovação e transferência de tecnologia.......................... 41

2.4 Evolução histórica da transferência de tecnologia no Brasil...................

41

3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INOVAÇÃO NO BRASIL..................................... 48

3.1 Principais incentivos à inovação vigentes no Brasil................................. 53

3.2 Programa gaúcho de inovação e tecnologia – Agenda 2020.................... 57

3.3 Legislação Federal........................................................................................ 63

3.3.1 Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004)........................................................ 63

3.3.2 Lei de Informática (Lei nº 11.077/2004).................................................... 69

3.3.3 Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005)................................................................ 71

3.3.4 Lei Rouanet de Pesquisa (Lei nº 11.487/2007)......................................... 72

3.4 Leis de Proteção Intelectual......................................................................... 73

3.4.1 Lei de Software (Lei nº 9.609/1998)........................................................... 75

3.4.2 Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998)............................................. 77

3.4.3 Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9456/1997).................................... 82

3.4.4 Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996)....................................

83

4 RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA: AÇÕES DE TRANSFERÊNCIA

DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL........................

97

4.1 A relação universidade-empresa................................................................. 99

4.2 Motivações e barreiras do processo de interação universidade-

empresa...............................................................................................................

105

4.3 Facilitadores do processo de interação universidade-empresa.............. 108

4.4 Relação universidade-empresa nas universidades - o caso do Centro

Universitário UNIVATES.....................................................................................

112

4.5 Sugestões de ações de interação universidade-empresa........................

115

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................

119

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 122

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1 INTRODUÇÃO

Com o intuito de promover o desenvolvimento do País por meio da inovação e

da pesquisa científica e tecnológica voltadas para o ambiente produtivo, o Governo

Federal promulgou a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, regulamentada pelo

Decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005. Trata-se de mais um passo em direção

ao desenvolvimento industrial, científico e tecnológico, vindo ao encontro do espírito

constitucional relativo ao tema (arts. 218 e 219 da Constituição Federal de 1988).

A Lei nº 10.973, de 02/12/2004, denominada Lei da Inovação, surgiu da

necessidade de estimular o processo de inovação tecnológica no Brasil, visando ao

aumento da competitividade das empresas brasileiras no mercado nacional e

internacional.

No seu art. 1º, a Lei da Inovação define seu desígnio de efetivar os arts. 218 e

219 da Constituição Federal de 1988, que encarregam o Estado de criar medidas de

incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo,

com vistas à capacitação tecnológica e ao alcance da autonomia tecnológica e

conseqüente desenvolvimento industrial do País.

Dentre os principais objetivos desta Lei, destaca-se o art. 16, que prevê a

criação de ambientes apropriados para a interação entre a comunidade científica e o

setor privado, estimulando o empreendedorismo científico e tecnológico, o qual será

abordado no presente trabalho.

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Cabe salientar que a Lei da Inovação é uma lei federal, que irradia seus

efeitos sobre as relações entre entes públicos federais (Universidades e Instituições

Científicas e Tecnológicas - ICTs) com empresas nacionais privadas e com

organizações de direito privado sem fins lucrativos, como, por exemplo, as

Fundações de direito privado. A Lei não se aplica às universidades privadas,

entretanto, é possível extrair algumas idéias, tais como: criação de políticas

institucionais de propriedade intelectual e de transferência de tecnologia, criação de

Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT, desenvolvimento de ações de formação de

recursos humanos na área de propriedade intelectual e transferência de tecnologia

produzida nas instituições acadêmicas.

Considerando-se as especificidades da Lei da Inovação, principalmente o fato

de não se aplicar às universidades privadas, escolheu-se como problema: Quais as

possíveis ações, amparadas nas orientações da Lei 10.973/2004, que o Centro

Universitário pode adotar para impulsionar a inovação e a transferência de

tecnologia no Vale do Taquari/RS?

Pensando neste problema e considerando-se que a Lei estabeleceu a criação

de Núcleos de Inovação Tecnológica - NITs com a responsabilidade de administrar a

política de inovação nas Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), o Centro

Universitário Univates criou, no final de ano de 2006, o Escritório de Relações com o

Mercado, com a missão de promover a interação entre a Univates e a comunidade,

intermediando negociações e transferindo o conhecimento produzido na Instituição,

visando ao desenvolvimento regional.

Em 2008, o Escritório de Relações com o Mercado – ERM - apresentou uma

proposta de divisão da sua estrutura em cinco Núcleos de Trabalho. Entre eles está

o Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia – NITT, que será responsável:

a) pela elaboração de uma proposta de um plano institucional de Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D), visando a regulamentar o tema na instituição; b) pela

prospecção tecnológica das pesquisas desenvolvidas pela UNIVATES; c) por

propostas de eventos de difusão tecnológica e ações para a capacitação de

recursos humanos na área de gestão da propriedade intelectual e da transferência

de tecnologia.

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Muito embora a Lei da Inovação tenha surgido com o espírito de favorecer as

parcerias público-privadas, ela não contemplou as universidades e instituições de

pesquisa privadas e comunitárias. Existe um equívoco na Lei, uma vez que as

instituições privadas e comunitárias também estão sujeitas aos órgãos de controle.

Para o meio empresarial, a realização da pesquisa conjunta entre

universidade e empresa ainda é entendida apenas como uma prestação de serviços.

A cultura de inovação no setor empresarial ainda é muito frágil, o que resulta na

pouca valorização do conhecimento científico como uma das principais fontes de

competitividade do mundo globalizado. As universidades, por sua vez, passaram por

um período histórico de afastamento das empresas, algumas por razões puramente

ideológicas.

Nesse sentido, como participante do Fórum Nacional de Gestores de

Inovação – FORTEC - e integrante da equipe do ERM, há uma natural curiosidade e

interesse acadêmico pelo tema, e o que se pretende é apresentar sugestões de

ações a serem desenvolvidas no Centro Universitário UNIVATES para promover a

interação universidade-empresa, com o objetivo de impulsionar a transferência de

tecnologia na Região do Vale do Taquari. A criação do ERM e a proposta de sua

divisão possibilitaram abordar o tema da presente monografia.

Antes de abordar as propostas de ações, faz-se necessário observar os

objetivos específicos deste trabalho monográfico. No primeiro capítulo, estudam-se

aspectos conceituais e históricos da transferência de tecnologia, bem como os

processos de transferência de tecnologia. No segundo capítulo, identificam-se

aspectos relevantes das políticas de P&D no Brasil, na esfera nacional e estadual,

bem como são analisadas as leis de proteção intelectual, dando-se destaque à Lei

de Software, Lei de Direitos Autorais, à Lei de Proteção de Cultivares e à Lei de

Propriedade Industrial. Após essas abordagens, propõem-se ações de transferência

de tecnologia para o desenvolvimento do Vale do Taquari/RS, com base na

interação universidade-empresa, o que se faz no terceiro capítulo.

Quanto à abordagem, a pesquisa será investigativa, abordando as políticas

públicas de inovação no Brasil e as interpretações possíveis para o tema estudado.

O método a ser utilizado para o desenvolvimento deste trabalho de monografia será

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o dedutivo, partindo-se de argumentos gerais para particulares. Ou seja, inicia-se

pela abordagem de aspectos conceituais e históricos da transferência de tecnologia

para realizar o estudo das políticas públicas de inovação no Brasil, e, ao final, faz-se

a análise da relação universidade-empresa e propõem-se ações para a promoção da

interação do Centro Universitário Univates com o setor empresarial.

A pesquisa será eminentemente documental e bibliográfica, fundada em

revisão teórica que envolve doutrina na área, artigos de revistas, sites

especializados e legislação.

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2 ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA TRANSFERÊNCIA

DE TECNOLOGIA

Este capítulo visa a conceituar os termos utilizados neste trabalho, uma

introdução necessária para entender o processo de transferência de tecnologia,

situar historicamente o tema no Brasil e estudar os instrumentos jurídicos utilizados

neste processo.

2.1 Ciência e tecnologia

Das várias definições existentes para ciência e tecnologia, Reis (2008)

apresenta a definição utilizada pela Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO: “a ciência é conjunto de

conhecimentos organizados sobre os mecanismos de causalidade dos fatos

observáveis, obtidos por meio do estudo objetivo dos fenômenos empíricos” (p. 31),

ao passo que “tecnologia é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos

diretamente aplicáveis à produção ou melhoria de bens ou serviços” (p. 31).

De acordo com Reis (2008) a diferença entre ciência e tecnologia reside em:

A ciência está intimamente ligada ao conhecimento dos fenômenos, à comprovação de teorias, etc., enquanto a tecnologia está associada a impactos socioeconômicos sobre uma comunidade, resultantes da aplicação de novos materiais, novos processos de fabricação, novos métodos e novos produtos nos meios de produção. A ciência, embora influa

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sobre a comunidade, não tem por escopo impactos sociais e econômicos, ao passo que a tecnologia fica destituída de sentido se não estiver sintonizada com as preocupações econômicas e o bem-estar de uma sociedade. [...] A ciência está normalmente associada à publicação de ativos, teses, livros, tratados, etc., e os conhecimentos por ela criados são livremente veiculados, por serem considerados patrimônio da civilização e não objetos de propriedade particular. A tecnologia, por sua vez, é sistematicamente vinculada a um produto ou processo, de natureza privada, passível de ser negociado e enquadrado por patentes (Reis, 2008, p. 31-32).

Para Chalmers (1993, p. 23), “a ciência é baseada no que podemos ver, ouvir,

tocar, etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm

lugar na ciência”. Para o autor, a ciência é objetiva, afirmando que, “o conhecimento

científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente”

(p. 23).

Já Capra (1983) define a ciência em dois momentos distintos:

A natureza da ciência medieval era muito diferente daquela da ciência contemporânea. Baseava-se na razão e na fé, e sua principal finalidade era compreender o significado das coisas e não exercer a predição ou o controle. Os cientistas medievais, investigando os desígnios subjacentes de vários fenômenos naturais, consideravam do mais alto significado as questões referentes a Deus, à alma humana e à ética. A perspectiva medieval mudou radicalmente nos séculos XVI e XVII. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção de mundo como se ele fosse uma máquina, e a máquina do mundo converteu-se na metáfora dominante da era moderna. Esse desenvolvimento foi ocasionado por mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e Newton. A ciência do século XVII baseou-se num novo método de investigação, defendido vigorosamente por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência na concretização dessas importantes mudanças, os historiadores chamaram os séculos XVI e XVII de a Idade da Revolução Científica (Capra, 1983, p. 49-50).

Em uma concepção ampla, Assafim (2005, p.13) define a tecnologia como “o

conjunto de conhecimentos científicos cuja adequada utilização pode ser fonte de

utilidade ou benefícios para a Humanidade”. Já de uma maneira mais restrita, o

mesmo autor conceitua tecnologia como “o conjunto de conhecimentos e

informações próprios de uma obra, que pode ser utilizado de forma sistemática para

o desenho, desenvolvimento e fabricação de produtos ou a prestação de serviços”

(Assafim, 2005, p. 13-14).

No mesmo sentido, Abetti apud Steensma (1996, p. 104) define tecnologia

como “um corpo de conhecimentos, ferramentas e técnicas, derivados da ciência e

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da experiência prática que é usado no desenvolvimento, projeto, produção e

aplicação de produtos, processos, sistemas e serviços”.

A partir da contextualização dos autores, é possível dizer que o termo

“tecnologia” passou por uma série de modificações e alterações no decorrer da

história, tendo seu ponto de partida no “artesanato”, em que os artesãos foram

inventando ou aperfeiçoando instrumentos para suprir as necessidades da vida

prática. A tecnologia está embutida no processo ou em operações do sistema

produtivo, como vantagem competitiva.

Diferenciando conceitualmente ciência e tecnologia, Reis (2004) esclarece

que a utilização da expressão “ciência e tecnologia” é apropriada pelo grau de

interação entre os dois termos, não se podendo definir onde estão os limites de

ambos. Entende-se que a relação conceitual entre ciência e tecnologia pode ser

representada como dois sistemas que se encontram no espaço: em alguns

momentos estão distantes, em outros se sobrepõem de forma harmoniosa,

formando um único ambiente colaborativo.

2.2 Inovação tecnológica

Para explicar a questão da inovação, surgiram duas grandes correntes:

a) A corrente econômica (derivada do pensamento shumpeteriano); e

b) A corrente da sociologia construtivista das técnicas (derivada do

pensamento latouriano).

Entretanto a corrente econômica foi a que mais se destacou, eis que a

economia teve e tem um impacto direto sobre as transformações tecnológicas e o

conseqüente desenvolvimento econômico.

Simantob e Lippi (2003, p. 24) trazem um conceito simples de inovação:

“Inovar é ter uma idéia que seus concorrentes ainda não tiveram e implementá-la

com sucesso. A inovação faz parte da estratégia das empresas: seu foco é o

desempenho econômico e a criação de valor”. Ainda segundo os autores, “a

inovação é uma iniciativa modesta ou revolucionária, que surge como uma novidade

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para a organização e para o mercado e que, aplicada na prática, traz resultados

econômicos para a empresa – sejam eles ligados à tecnologia, gestão, processos ou

modelos de negócio” (p. 25).

A inovação não precisa nascer necessariamente em empresas de grande

porte. As empresas menores possuem igual capacidade inventiva, como se pode ver

no exemplo:

O conceito de linhas de montagem na produção de automóveis desenvolvido por Henry Ford nos anos 10 e a criação do Windows, pela Microsoft, no final da década de 80, foram idéias visionárias que deram uma reviravolta em seus setores. Mas não é preciso ser uma empresa do porte da Ford ou Microsoft para inovar. Exemplo disso é a Brasilata, companhia brasileira fabricante de latas metálicas, que desenvolveu um novo sistema de fechamento de latas de tintas já patenteado na Europa, Japão e Estados Unidos e que agora é exportado para o México, gerando, inclusive, receitas de royalties (Guia Valor Econômico de Inovação nas Empresas, 2003, p. 02).

Para uma melhor compreensão do termo “inovação”, faz-se necessário

estabelecer a diferenciação entre invenção e inovação. Para Barbieri (1990, p.179),

invenção é “a concepção intelectual de novos produtos e processos, bem como de

modificações já conhecidas, que resultam do esforço criativo e deliberado”. Já

inovação, o autor entende que é a “incorporação de novos conhecimentos

tecnológicos às atividades produtivas. É a invenção sendo aplicada efetivamente na

prática” (Barbieri, 1990, p. 179).

Inovação, segundo o Manual de Oslo (2005), é:

a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas” (Manual de Oslo, 2005, p. 55).

Um dos principais fatores que compõem a inovação tecnológica é a

tecnologia, que segundo Valeriano (1998, p. 29), é “o conjunto ordenado de

conhecimentos científicos, técnicos, empíricos e intuitivos empregados no

desenvolvimento, na produção, na comercialização e na utilização de bens ou

serviços”.

Ocorre que, normalmente, a inovação tecnológica modifica a base da

competição industrial/tecnológica e se torna a principal fonte de vantagem

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competitiva. Por isso, a inovação tecnológica pode ser conceituada da seguinte

forma:

Inovação tecnológica é a incorporação de novos conhecimentos tecnológicos às atividades produtivas. É a invenção sendo aplicada efetivamente na prática. A inovação pode referir-se a produtos e processos produtivos. No primeiro caso, trata-se da introdução de novos produtos no mercado, ou de alterações em produtos conhecidos, a partir de um avanço no conhecimento tecnológico. A inovação de processo é a introdução de novos processos produtivos, bem como de aperfeiçoamento em processos existentes, para modificar as condições de operação de unidades produtivas instaladas (Dahab, 1995, p. 54).

Sendo um dos principais componentes da trilogia “invenção-inovação-

difusão”, a que se referia Schumpeter (1982), a inovação tecnológica exerce um

efeito maior que as demais sobre o processo de desenvolvimento econômico.

Para Schumpeter (1982), a inovação é um conjunto de novas funções

evolutivas que alteram os métodos de produção, criando novas formas de

organização do trabalho e, ao produzir novas mercadorias, possibilita a abertura de

novos mercados mediante a criação de novos usos e consumos.

As limitações do crescimento e desenvolvimento de uma economia, na visão

de Schumpeter (1982), estão na falta de projetos rentáveis, na ausência de estoque

de conhecimentos e na pouca disponibilidade de pessoas capazes de empreender.

Assim, a limitação do crescimento econômico e social não está vinculada somente à

falta de investimentos, mas à falta de competências para identificar as oportunidades

de negócios.

As principais formas de inovação classificadas por Schumpeter (1982) são:

a) Introdução de um novo bem, ou de uma nova qualidade, com o qual os

consumidores ainda não estão familiarizados.

b) Introdução de um novo método de produção que ainda não tenha sido

testado pela indústria de transformação e que, de algum modo, precisa estar

baseado numa descoberta científica nova, que pode constituir uma nova maneira de

comercializar uma mercadoria.

c) Abertura de um novo mercado, em que um ramo particular da indústria de

transformação do país em questão não tenha entrado.

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d) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens

semimanufaturados, independentemente do fato de essa fonte já existir ou ter que

ser criada.

e) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a

criação de uma posição de monopólio ou a fragmentação de uma posição de

monopólio.

Logo, é a inovação que permeia e modela os novos paradigmas tecno-

econômicos de acumulação de capital, devendo ser entendida como um processo

cumulativo e articulado que intermedia a invenção e a difusão tecnológica.

A tabela abaixo lista algumas inovações de diferentes organizações

brasileiras que enxergam a inovação como um diferencial competitivo. Esses casos

foram estudados pelo Fórum de Inovação da Fundação Getúlio Vargas/Escola de

Administração de Empresas de São Paulo.

TABELA 1 - Tipos de inovação

Empresa Setor de Atividade Foco da Inovação

Tipo de Inovação

Banco do Brasil Financeiro Tecnologia Pioneiro e líder na utilização de ferramentas web (portal e leilão eletrônico) para otimizar o relacionamento com agentes do agronegócio

Brasilata Metalurgia Produto Novo sistema de fechamento de latas de tintas

Copesul Química e Petroquímica

Gestão Nova arquitetura organizacional, baseada em processos empresariais conduzidos por unidades de negócios e times semi autônomos

Embrapa Pesquisa Agropecuária Processo Mudança de paradigma a fim de entender pesquisa e desenvolvimento como um negócio

Monsanto Agroquímicos e Biotecnologia

Modelo de Negócio

Pioneirismo e mudança de paradigmas no desenvolvimento de um novo campo tecnológico: a biotecnologia agrícola

Fonte: <http://www.inovforum.org.br/arquivos/publicacoes/inovarparacompetir.pdf>.

De uma forma bastante abrangente, entende-se que inovação tecnológica é

toda novidade implantada pelo setor produtivo, resultante de pesquisa científica e

investimento, com o objetivo de aumentar a eficiência do processo produtivo para

aprimorar processos e produtos já existentes, assim como lançar novos produtos.

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2.2.1 Tipos de inovação

No item anterior, diferenciou-se inovação de invenção e defendeu-se o

conceito de inovação apresentado pela corrente econômica. A Comissão Europeia1

no Livro Verde Sobre a Inovação procurou agrupar as inovações por diferentes tipos,

que serão abordadas a seguir. Os dados foram obtidos no site

<http://www.spi.pt/documents/books/inovint/ippo/acesso_ao_conteudo_integral/capit

ulos/2.1/cap_apresentacao.htm>.

2.2.1.1 Inovação de conceito

Inovação de conceito pode ser definida como: tecnologias que estão

disponíveis ou que já estão sendo utilizadas para outros fins, podendo ser aplicadas

em ideias novas, que não existem no mercado. A inovação de conceito pode ser

aplicada a produtos ou processos. Como exemplos de inovação de conceito,

podemos citar:

a) Telefone celular: Criado em 1979 pela Ericsson, introduziu no mundo das

telecomunicações um conceito inovador de um aparelho que, utilizado da mesma

forma que um telefone convencional, não tivesse a limitação de uma ligação física a

uma rede. Para tal, o telefone celular, tal como o rádio e a televisão, utiliza ondas

eletromagnéticas como meio de propagação, o que representou uma ruptura

completa com o conceito base do telefone convencional.

b) Código de barras: Embora tenha sido criado em 1949, só na década de 70

se reuniram as condições técnicas necessárias para a aplicação bem-sucedida da

idéia original, com o aparecimento dos primeiros leitores ópticos e a normalização

introduzida pela codificação universal de produtos, fazendo corresponder letras e

números às barras verticais. Com múltiplas aplicações, a utilização do código de

1 A Comissão Europeia é a instituição politicamente independente que representa e defende os interesses da União Europeia (UE) na sua globalidade, propõe a legislação, política e programas de ação e é responsável por aplicar as decisões do Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia.

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barras nos hipermercados, para identificar os produtos e os preços nas caixas, é

provavelmente a mais familiar. Nesta aplicação em concreto, tornando-se

desnecessário digitar o preço, acelera-se o processo de pagamento.

c) Air bag: Constituiu uma inovação de conceito em termos de segurança

passiva na indústria automobilística. Apresentada em 1981 pela Mercedes, a idéia

original remonta à década de 50. O air bag consiste essencialmente numa almofada

que se infla em caso de impacto em que haja uma forte desaceleração. Este

enchimento é efetuado através de uma pequena carga explosiva, detonada quando

os sensores detectam um choque, e processa-se em coordenação com o alargar e o

prender do cinto de segurança, igualmente comandado por sensores.

2.2.1.2 Inovação de processo

Consiste, em geral, na utilização de tecnologias inovadoras no processo, que

podem ser completamente novas ou resultar de um processo de transferência e

adaptação tecnológica a partir de outras áreas. Como exemplo de inovação de

processo, podemos citar:

a) Just in time: A introdução da metodologia do Just in Time objetiva a

minimização dos estoques em armazéns, representando um processo inovador de

gestão e controle de mercadorias.

2.2.1.3 Criação de marca

A criação de marca normalmente não é reconhecida como uma inovação,

mas corresponde a um processo em tudo semelhante ao processo de inovação

associado ao desenvolvimento de um novo produto. Ocorre quando se aplica uma

nova marca a produtos já existentes. Como exemplo de inovação de criação de

marca, podemos citar:

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a) Chiclets: Esta é a designação que a maioria dos consumidores utiliza

quando pretende referir-se à goma de mascar. Chiclets é o nome de uma goma de

mascar criada pela Adam's2.

2.2.1.4 Aperfeiçoamento gradual

As inovações que se enquadram no perfil correspondente a aperfeiçoamento

gradual são todas aquelas em que o novo produto, processo, procedimento ou

serviço é o resultado da alteração de um já existente, na busca de uma maior

satisfação do cliente. Alguns exemplos de inovação correspondente a

aperfeiçoamento gradual são:

a) As normas ISO 9000: Ao longo de todo o século XX, tem-se assistido ao

aumento da importância da qualidade nas organizações. Hoje, a qualidade é

entendida como algo que se estende a todos os níveis de uma organização. Nesta

lógica, as normas ISO são uma ferramenta que as empresas têm ao seu dispor para

estruturar e aperfeiçoar um conjunto de atividades que normalmente já realizam,

mas que nem sempre são conduzidas da forma mais adequada.

b) A escova de dentes: Este exemplo serve para ilustrar que podem existir

aperfeiçoamentos graduais com valores de investimento baixos. O desenvolvimento

de novas escovas de dente (mais macias, com maior alcance, com limpador de

língua,...) constitui um aperfeiçoamento gradual deste produto.

2.2.1.5 Reorganização tecnológica

Com a reorganização tecnológica, a empresa pode não pretender introduzir

qualquer modificação na forma como o cliente percebe o produto ou o serviço, mas

sim aumentar a rentabilidade dos meios que tem ao seu dispor, maximizando a

eficiência da sua produção, ou, em alternativa, alterando alguns componentes do

produto ou serviço. Algumas das ferramentas que as empresas têm hoje ao seu

dispor para efetuar reorganizações tecnológicas, quando desenvolvidas e aplicadas

2 INPI – Processo nº 002297337.

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pela primeira vez, constituíram inovações de conceito ou de processo. É

considerado exemplo de inovação de reorganização tecnológica:

a) Os iogurtes com pedaços de fruta: O desenvolvimento de iogurtes com

pedaços de fruta ou, mais recentemente, com cereais, corresponde a uma situação

em que, existindo um produto de base, são alterados alguns dos seus componentes,

obtendo-se outro produto, que o cliente percebe ser diferente do anterior.

2.2.1.6 Reformulação

Este tipo de inovação pode, por vezes, ser confundido com o aperfeiçoamento

gradual, no entanto apresenta algumas diferenças. Quando se efetua a reformulação

do produto, existem, tal como no aperfeiçoamento gradual, alterações que são

introduzidas no produto. Em ambas procura-se a satisfação do consumidor, mas, na

reformulação, procura-se mais a manutenção dessa satisfação sem alterar, na

generalidade, as características bases do produto. Ao contrário, no aperfeiçoamento

gradual, procura-se reforçar a satisfação do consumidor, modificando um produto de

base através da alteração ou adição de alguns elementos. Alguns exemplos que

correspondem a inovações deste tipo são:

a) Os iogurtes: A alteração da composição da mistura de ingredientes

utilizados na preparação do iogurte (ex.: diminuição do percentual de gordura) tem

como objetivo adaptar as características organolépticas do produto às alterações

das preferências do consumidor.

b) O automóvel: Quando um dado modelo de uma marca de automóveis se

aproxima de uma fase do seu ciclo de vida em que as vendas estagnam ou

começam a apresentar sinais de diminuição de vendas, a maioria das empresas do

setor efetuam o que normalmente se designa re-styling ou refreshment. Esta

operação apresenta alguns elementos de melhoria dos atributos do produto que

poderiam ser classificados como inovações do tipo aperfeiçoamento gradual. No

entanto, não se verifica um esforço constante de melhoria, mas antes, uma

preocupação em continuar a assegurar a satisfação dos potenciais clientes,

utilizando o mesmo conjunto base de elementos e introduzindo um número limitado

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de modificações. A inovação no nível do design normalmente tem uma grande

importância nesta operação.

c) As pilhas Duracell3: A principal preocupação ao desenvolver pilhas com um

tempo de utilização superior, embora se esteja a adicionar valor ao produto

anteriormente existente, é a manutenção da satisfação do consumidor, não se

procurando alterar a percepção de fundo que este tem de uma pilha.

2.2.1.7 Inovação de serviço

Neste caso cria-se um novo serviço, mas a inovação não está exclusivamente

associada ao serviço em si, resultando, sobretudo, da sua utilização num

determinado enquadramento que anteriormente não existia. Como exemplo, cita-se:

a) Future Kids4: Pretendendo transmitir o mesmo tipo de conhecimentos que

outras empresas, as metodologias utilizadas pela Future Kids traduzem-se numa

abordagem distintiva da formação em informática dirigida a crianças e jovens. Por

isso, é possível afirmar que a principal inovação se encontra no nível do serviço,

pela forma como este é prestado.

2.2.1.8 Inovação de design

Quando o cliente não reconhece diferenças significativas entre um produto

produzido por empresas concorrentes e compra qualquer marca, a inovação no nível

do design pode ser uma forma de diferenciação que, se valorizada pelo cliente,

potencializa as vendas. Neste tipo de inovação, como o próprio nome indica, o

produto sofre alterações nos elementos do seu design (ex.: cor, forma e dimensão),

mantendo, no entanto, inalteradas as suas funcionalidades.

Este tipo de inovação é muito freqüente, contudo é normalmente difícil

enumerar exemplos, pois é uma realidade inerente a todos os produtos com que

3 INPI – Processo nº 006502040. 4 INPI – Processo nº 816827125.

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lidamos no dia a dia. Quais os produtos cuja principal motivação de compra é o seu

design? Cada um de nós será capaz de enumerar alguns, mas há poucos aos quais

associamos uma empresa ou uma marca. Importa salientar, e isso talvez ajude a

descobrir alguns, que o design é algo que o cliente valoriza em produtos duradouros.

Alguns exemplos onde se encontra inovação de design são:

a) As motos Harley Davidson: Estas motos fazem parte da mitologia do

mundo motorizado. A notoriedade que obtêm em todo o mundo deve-se muito ao

seu design arrojado, completamente distinto do dos outros fabricantes mundiais de

motocicletas.

b) Móveis: Um dos principais critérios que os consumidores utilizam na

escolha de móveis é o design. Neste tipo de produtos, em que cada consumidor se

identifica mais ou menos com determinados estilos, as empresas necessitam criar

modelos que vão ao encontro das suas expectativas.

2.2.1.9 Inovação de embalagem

Não sendo um elemento intrínseco ao produto, a embalagem é, para muitos

produtos, a alavanca de consumo, o primeiro elemento com o qual o cliente contata

e a partir do qual ele estabelece associações, verdadeiras ou não. Os atributos que

o cliente associa ao produto a partir da embalagem, verdadeiros ou não, constituem

a sua primeira motivação de compra. Esta é uma das motivações para as inovações

de embalagem, mas existem outras duas igualmente importantes: a redução dos

custos das embalagens e o aumento da segurança relativa à integridade do produto.

Como exemplo de inovação de embalagem, podemos citar:

a) O WC pato5: Este produto, como o nome transmite de uma forma

extraordinária, diferencia-se de toda a concorrência pela revolucionária forma da

embalagem, com a extremidade em formato do pescoço de um pato. No entanto a

associação do nome à forma da embalagem não é o elemento-chave. O seu lema,

"Vai aonde os outros não chegam", traduz a vantagem competitiva que o produto

apresenta: com tal forma, o WC Pato consegue desinfetar a borda dos sanitários de 5 INPI – Processo nº 811238180.

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forma eficiente, satisfazendo, deste modo, uma necessidade que se encontrava

insatisfeita.

Ao analisar os tipos de inovações do Livro Verde Sobre a Inovação, é

possível perceber que, para implementar cada inovação, são necessários dispêndios

financeiros, em diferentes níveis, dependendo do grau de inovação. Por outro lado,

os benefícios associados à inovação encontram-se proporcionalmente relacionados

aos custos associados à implementação da mesma.

O Manual de Oslo (2005) é a principal fonte internacional de diretrizes para

coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria. Elaborado sob a

proteção e o amparo da Organização para Cooperação Econômica e

Desenvolvimento - OCDE e da Comissão Europeia, o Manual foi redigido por

especialistas de cerca de 30 países que coletam e analisam dados sobre inovação.

Dentre os objetivos do Manual, está o de fornecer uma estrutura dentro da qual as

pesquisas existentes possam evoluir em direção à comparabilidade e ajudar os

recém-chegados a este importante campo (Manual de Oslo, 2005).

Diferente da classificação adotada pelo Livro Verde Sobre a Inovação, o

Manual de Oslo (2005) resume as inovações em quatro tipos: de produto, de

processo, de marketing e organizacional.

Um conceito de inovação de produto foi estabelecido no Manual de Oslo

(2005):

Uma inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou de outras características funcionais (Manual de Oslo, 2005, p. 57).

Em outras palavras, as inovações de produto possibilitam a origem de novos

produtos ou produtos aprimorados. Como exemplos, podemos citar o fio de cobre

utilizado na fibra óptica, o tubo de creme dental de metal substituído pelo de plástico

ou ainda um automóvel com câmbio automático comparado ao de câmbio manual.

Inovação de processo “é a implementação de um método de produção ou

distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças

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significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares”, de acordo com o mesmo

Manual (Manual de Oslo, 2005, p. 58).

As inovações de processos são formas aprimoradas para a realização de

atividades ou para a produção com mais eficiência. Cita-se o caso de uma reunião

por vídeo conferência de uma equipe de vendedores de diversas cidades: dinamiza

a tomada de decisões, reduz custos e aumenta a produtividade. Outro exemplo é um

automóvel produzido por robôs em comparação ao produzido por mão-de-obra

humana.

Já por inovação de marketing, o Manual (2005, p. 59) entende que “é a

implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na

concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento dos produtos, em

sua promoção ou na fixação de preços”.

Uma inovação organizacional pode ser entendida como “implementação de

um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na

organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas” (Manual de

Oslo, 2005, p. 61).

Tendo em vista a multiplicidade de situações abarcadas pelo conceito de

inovação tecnológica, torna-se necessário diferenciar categorias distintas de

inovação. Segundo Reis (2008), existem dois tipos de inovação tecnológica: a

incremental e a radical.

Inovação incremental, ou menor, é aquela representada pelas mudanças técnicas menores surgidas da acumulação de experiências, assim como as melhorias de produto e/ou processo introduzidos posteriormente à inovação original. [...] Inovação radical, ou maior, seria aquela atividade criativa associada à gestão de mudanças tecnológicas maiores, normalmente advinda de atividades de P&D (Reis, 2008, p. 45).

As inovações incrementais podem ser entendidas como pequenas melhorias

e aperfeiçoamento de produtos ou métodos de fabricação, resultando em melhores

acabamentos, melhor qualidade e funcionalidade. Já as inovações radicais

envolvem alterações mais significativas no conjunto de conhecimentos aplicados,

originando produtos e processos totalmente diferenciados em relação à versão

anterior (Reis, 2008).

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Para uma melhor compreensão a respeito dos tipos de inovação, faz-se

necessário estabelecer as diferenças entre eles:

As inovações incrementais são introduzidas continuamente na produção como resultado da formação tecnológica e são muito pouco exigentes em termos de novos conhecimentos tecnocientíficos. As inovações radicais são compreendidas nas tecnologias de ponta. Muito mais densas e inovadoras em relação aos seus conteúdos tecnocientíficos (Reis, 2008, p. 45-46).

Podemos dizer que inovação incremental é uma melhoria em relação a algo

que existia antes. Neste caso, temos o exemplo de um agricultor japonês que

desenvolveu melancias quadradas. Há mais de 20 anos, o agricultor teve a idéia de

dar formas mais retas às frutas para que elas pudessem ser guardadas nas

geladeiras dos consumidores e cortadas com facilidade. Para mudar o design das

frutas, os fazendeiros as cultivaram em caixas de vidro. Desse modo, naturalmente,

a melancia adotou o formato da caixa. Uma melancia quadrada não sai por menos

de 10 mil yens, o equivalente a US$ 83. A fruta está sendo vendida em lojas de

departamento e em supermercados caros. Há quem use a melancia quadrada como

peça de decoração.

FIGURA 1 – Melancia quadrada

Fonte: <www.g1.globo.com>.

Inovações radicais podem ser consideradas inovações baseadas em

descobertas tecnológicas capazes de alterar a estrutura produtiva de todo um setor

da economia, criando novos paradigmas. Como exemplos, podemos citar a

descoberta da máquina a vapor, do transistor, da xerografia, do laser, dos raios X e

de tantas outras conquistas científicas e tecnológicas que alteraram profundamente

o panorama socioeconômico que prevalecia na época de sua aplicação na indústria.

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FIGURA 2 – Máquina a vapor

Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maquina_vapor_Watt_ETSIIM.jpg>.

FIGURA 3 - Transistor

Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maquina_vapor_Watt_ETSIIM.jpg>.

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2.3 A transferência de tecnologia

A transferência de tecnologia pode ser considerada um processo inserido no

contexto histórico mundial, pois foi na Revolução Industrial o seu primeiro grande

destaque, ao provocar um fluxo significante de novas tecnologias de uma pequena,

mas influente nação, a Inglaterra, para a indústria de três grandes economias e

sistemas políticos: Européia, Americana e Russa. A expansão das atividades

industriais pela transferência da produção tecnológica continuou através do Século

XIX, atingindo um grande desenvolvimento na segunda metade do século passado,

e vem aumentando cada vez mais no início deste Século XXI.

Conforme definição do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),

contrato de transferência de tecnologia “é o comprometimento entre as partes

envolvidas, formalizado em um documento onde estejam explicitadas as condições

econômicas da transação e os aspectos de caráter técnico”

(<http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/contrato/pasta_oquee>).

De acordo com o Ato Normativo nº 35 do INPI, de 15/04/97, são requisitos

dos contratos de transferência de tecnologia: o objeto, a remuneração ou os

royalties, os prazos de vigência e execução e as demais cláusulas e condições da

contratação, quando o fato concreto exigir.

No Brasil, todos os contratos de transferência de tecnologia realizados entre

empresas nacionais, ou entre empresas nacionais e sediadas ou domiciliadas no

exterior, devem ser averbados pelo INPI para serem validados e estarem aptos a

produzir efeitos econômicos. O pedido de averbação e registro poderá ser requerido

tanto pela empresa cedente quanto pela empresa cessionária da tecnologia, da

franquia ou dos serviços a serem executados.

Em linhas gerais, a expressão “transferência de tecnologia” significa uma

transferência formal de novas descobertas e/ou inovações resultantes de pesquisa

científica administrada pelas instituições de pesquisa ou empresas para o setor

industrial e comercial. Patentear e autorizar o uso das inovações é uma forma de as

instituições de pesquisa transferirem tecnologia pronta. Os passos principais neste

processo incluem: 1) a descoberta ou invenção; 2) proteção com patenteamento da

inovação e simultânea publicação da pesquisa científica; e, por último, 3)

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autorização dos direitos para utilização das inovações para a indústria e para o

desenvolvimento comercial (MCT, 2001).

Para Terra (2001, p.152-153), “a transferência de tecnologia é um processo

que se realiza entre organizações, não podendo ser considerada, simplesmente,

como um contrato de compra e venda”. A mesma autora completa a expressão:

Como nem toda a informação necessária para a utilização da tecnologia na organização receptora pode ser repassada pela fornecedora, há muito para ser feito a fim de adaptar, ajustar, aperfeiçoar e assimilar o objeto da transferência. Além disso, um determinado nível de capacitação é necessário para identificar, escolher, negociar e adquirir a tecnologia necessária. A transferência de tecnologia só é possível se houver capacitação tecnológica, gerencial, organizacional e operacional suficientes para a sua realização. O comércio de tecnologia é um processo complexo, sofisticado e demandante de uma ampla gama de informações – mercado, preço, qualidade, concorrência, propriedade industrial e assistência técnica.Todos esses fatores devem ser considerados para que o comércio de tecnologia contribua para a melhoria do parque tecno-industrial nacional e para a qualidade de vida da sociedade (Terra, 2001, p. 153).

Diante do exposto pela autora, é possível compreender que o processo de

transferência de tecnologia não depende meramente da vontade de interação entre

o interessado e o fornecedor de uma determinada tecnologia, é necessária uma

compreensão ampla sobre o assunto para que o processo seja levado a termo com

sucesso e seus resultados aplicáveis para a melhoria da qualidade de vida da

sociedade.

Assafim (2005) traz um entendimento mais complexo sobre a expressão

“transferência de tecnologia”:

Sem dúvida, a própria expressão “transferência de tecnologia” revela por si mesma que a tecnologia, isto é, o conjunto de idéias, regras, conhecimentos técnicos e habilidades ou modos de atuação sobre a realidade material, não tende a ficar enclausurada no âmbito pessoal do seu criador, pois, da mesma forma que os conhecimentos em geral, tem vocação para a expansão, a universidade e a permanente mobilidade. Neste sentido, pode-se afirmar que, quando no horizonte de alguém que cria uma técnica, não está presente a rentabilidade econômica, a maior recompensa será precisamente, “comunicar” aos demais a técnica por ele criada e, desse modo, ser reconhecido como seu autor. Durante longo tempo isto foi o que ocorreu: enquanto não surgiam os interesses de rentabilidade econômica, não houve a necessidade de criar mecanismos de proteção à tecnologia. Porém, o panorama mudou com o surgimento desses novos interesses nas aspirações dos criadores: somente estavam dispostos a “comunicar” suas descobertas e as respectivas técnicas se lhe fossem oferecidas condições para satisfazer tais interesses, o que também ocorre atualmente: o criador comunica a técnica em troca da concessão de um direito de monopólio pela coletividade ou, de forma mais direta e particular, em troca de uma

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contraprestação econômica por parte dos interessados em utilizar a técnica por ele criada (Assafim, 2005, p. 1-2).

Para o autor, a transferência de tecnologia implica a transmissão ou o

intercâmbio entre dois ou mais sujeitos. A transferência pressupõe, de um lado, a

existência de um controlador da tecnologia e, de outro, de um dependente que

carece dessa tecnologia e dela necessita. Portanto, a transferência de tecnologia

compreende, na realidade, as operações de aquisição e de disponibilidade.

Assim, o processo da transferência de tecnologia pode ser entendido como

uma troca de conhecimentos técnicos entre dois ou mais sujeitos, em que um é o

detentor da tecnologia (fornecedor) e o outro é o que carece dela (receptor), ou seja,

é uma relação de oferta e necessidade.

A transferência de tecnologia é de vital importância para as micro e pequenas

empresas que não possuem disponibilidade de recursos para investir em uma

estrutura interna de P&D e capacitar adequadamente os recursos humanos. No

Brasil, o processo de transferência de tecnologia está iniciando sua caminhada,

fomentando iniciativas como: incubadoras de empresas, parques tecnológicos e

alguns editais de fomento à pesquisa voltada conjuntamente à universidade e às

empresas e à formação de Núcleos de Inovação Tecnológica nas universidades.

De acordo com o manual O Sucesso no Licenciamento Tecnológico (2008) da

Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), para se obter sucesso no

Licenciamento Tecnológico, é necessário observar 5 (cinco) princípios fundamentais:

1. Licenciamento tecnológico só ocorre quando uma das partes possui bens intangíveis e valiosos, conhecidos como Propriedade Intelectual (PI) e, devido a esta posse, detém o direito legal que impede a outra parte de utilizá-los. Uma licença é um consentimento dado pelo proprietário da PI para a sua utilização em troca de dinheiro ou algo de valor. Licenciamento tecnológico não pode ocorrer quando não há PI. 2. Existem diferentes tipos de licenças tecnológicas. As licenças são conhecidas por vários nomes, mas é importante pensá-las em três categorias. Licenças podem ser somente para certos direitos de PI (ex.: uma licença de uso de determinada patente ou para copiar e distribuir um certo trabalho autoral). Licenças podem ser para todos os direitos de PI, sem exceção, necessários para a reprodução, fabricação, utilização, comercialização e venda de produtos baseados num certo tipo de tecnologia (ex.: uma licença para desenvolver um novo produto de software protegido por patente, direito de autor, marca registrada e segredos industriais). Uma licença também pode ser aplicada a todos os direitos de PI necessários para criar e comercializar um produto que obedeça a padrões técnicos e especificações (ex.: um grupo de empresas entra em acordo a respeito de um padrão técnico para garantir a interoperabilidade dos

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projetos – o grupo concorda em combinar seus direitos de PI e licenciar entre si todos os direitos necessários para a produção e venda do produto. 3. Licenciamento tecnológico ocorre no contexto de relações de negócios em que outros acordos são frequentemente importantes. Estes acordos são inter-relacionados, seja em documentos particulares, ou integrados em um documento geral. É importante considerar como, de forma bastante prática, os termos destes acordos relacionados afetam uns aos outros por meio do tempo, preço e valor geral. Por exemplo, concordar em desenvolver um produto (acordo de pesquisa e desenvolvimento, P&D), sem decidir sobre questões relacionadas aos direitos de PI (licenças de PI), ou sobre quem terá a licença para produzi-lo (acordo de produção) ou a que preço uma das partes irá comprar as unidades (acordo de venda), pode levar a problemas nos negócios. 4. Negociações de licenciamento tecnológico, como todas as negociações, têm lados (partes) cujos interesses são distintos, mas que devem coincidir de alguma forma. O sucesso no licenciamento tecnológico ocorre somente quando o negociador compreende completamente os benefícios disponíveis para ambas as partes. É difícil ser bem sucedido na negociação para uma licença, que lhe garanta direitos a uma tecnologia, se você tiver pouco a oferecer em troca. 5. Licenciamento tecnológico envolve chegar a acordos baseados em um conjunto de termos complexos, em que cada um tem uma série de soluções possíveis. Portanto, uma preparação antecipada é essencial. Em antecipação à negociação, antes mesmo que a outra parte seja abordada, a equipe pode levar meses definindo objetivos de negócios, avaliando influências, pesquisando o outro lado, decidindo posições estratégicas, preparando documentações e protegendo a PI, entre outras tarefas (O Sucesso no Licenciamento Tecnológico, 2008).

A partir do entendimento da OMPI, pode-se dizer que um licenciamento

tecnológico é um acordo de vontades entre duas ou mais partes, com o objetivo de

trocar benefícios e valores semelhantes. Para o sucesso desta transação, é

imprescindível que todas saiam ganhando com a transação.

2.3.1 Tipos de contratos de transferência de tecnologia

A Lei de Propriedade Industrial, nos arts. 62 e 140, prevê a necessidade de

averbação dos contratos no INPI. Ambos os artigos possuem redação igual, pois

tratam das licenças, conforme segue:

Art. 62 e 140. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI.

Já o art. 211 da mesma Lei prevê a averbação dos contratos de transferência

de tecnologia, de franquia e similares:

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Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a terceiros.

A averbação dos contratos no INPI produz efeitos como: legitima pagamentos

para o exterior através do registro do contrato no Registro Declaratório Eletrônico

(RDE), permite, quando for o caso, a dedutibilidade fiscal dos pagamentos

contratuais efetuados no Imposto de Renda, produz efeitos perante terceiros e

permite o registro do contrato no Banco Central do Brasil.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) apresenta seis tipos de

contratos de transferência de tecnologia, passíveis de averbação, abordados a

seguir.

2.3.1.1 Exploração de patentes

São contratos que objetivam o licenciamento de patente concedida ou pedido

de patente depositado no INPI. Nestes contratos deverão constar o número e o título

do pedido ou da patente, respeitando o disposto nos arts. 61, 62 e 63 da Lei nº

9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial), conforme segue:

Art. 61. O titular de patente ou o depositante poderá celebrar contrato de licença para exploração. Parágrafo único. O licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os poderes para agir em defesa da patente. Art. 62. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI. Art. 63. O aperfeiçoamento introduzido em patente licenciada pertence a quem o fizer, sendo assegurado à outra parte contratante o direito de preferência para seu licenciamento.

Quando a patente for concedida, a empresa deverá solicitar alteração do

Certificado de Averbação no INPI, retroagindo a remuneração à data do início da

licença.

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2.3.1.2 Desenhos industriais

Os contratos de desenhos industriais objetivam o licenciamento de desenho

industrial concedido ou pedido de desenho industrial depositado no INPI. Esses

contratos deverão indicar o número e o título do pedido ou do desenho industrial,

devendo respeitar o disposto nos arts. 94 a 98 e 121 da Lei nº 9.279/96 (Lei da

Propriedade Industrial), conforme segue:

Art. 94. Ao autor será assegurado o direito de obter registro de desenho industrial que lhe confira a propriedade, nas condições estabelecidas nesta Lei. Parágrafo único. Aplicam-se ao registro de desenho industrial, no que couber, as disposições dos arts. 6º e 7º. Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Art. 96. O desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no estado da técnica. § 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo e no art. 99. § 2º Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente ou de registro depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente. § 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12. Art. 97. O desenho industrial é considerado original quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores. Parágrafo único. O resultado visual original poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos. Art. 98. Não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter puramente artístico. [...] Art. 121. As disposições dos arts. 58 a 63 aplicam-se, no que couber, à matéria de que trata o presente Título, disciplinando-se o direito do empregado ou prestador de serviços pelas disposições dos arts. 88 a 93.

Da mesma forma que ocorre com a patente, quando o desenho industrial for

concedido a empresa deverá solicitar alteração do Certificado de Averbação no INPI,

retroagindo a remuneração à data do início da licença.

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2.3.1.3 Uso de marcas

Esses contratos objetivam o licenciamento de uso de marca registrada ou

pedido de registro depositado no INPI. Além das condições relacionadas à

exclusividade ou não da licença e permissão para sublicenciar, os contratos deverão

indicar o número do pedido ou da marca registrada, devendo respeitar o disposto

nos arts. 139, 140 e 141 da Lei nº 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial), conforme

segue:

Art. 139. O titular de registro ou o depositante de pedido de registro poderá celebrar contrato de licença para uso da marca, sem prejuízo de seu direito de exercer controle efetivo sobre as especificações, natureza e qualidade dos respectivos produtos ou serviços. Parágrafo único. O licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os poderes para agir em defesa da marca, sem prejuízo dos seus próprios direitos. Art. 140. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI. Art. 141. Da decisão que indeferir a averbação do contrato de licença cabe recurso.

Assim, como já visto anteriormente, quando o pedido se tornar registro, a

empresa deverá solicitar alteração do Certificado de Averbação no INPI.

2.3.1.4 Fornecimento de tecnologia

Contratos de fornecimento de tecnologia objetivam a aquisição de

conhecimentos e de técnicas não amparados por direitos de propriedade industrial,

destinados à produção de bens industriais e serviços. Esses contratos deverão

conter uma indicação perfeita do produto, bem como o setor industrial em que será

aplicada a tecnologia.

2.3.1.5 Prestação de serviços de assistência técnica e científica

Contratos de prestação de serviços de assistência técnica e científica

estipulam as condições de obtenção de técnicas, métodos de planejamento e

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programação, bem como pesquisas, estudos e projetos destinados à execução ou

prestação de serviços especializados. São passíveis de registro no INPI os serviços

relacionados à atividade fim da empresa, assim como os serviços prestados em

equipamentos e/ou máquinas no exterior, quando acompanhados por técnico

brasileiro e/ou gerarem qualquer tipo de documento, como, por exemplo, relatório.

O objeto da contratação deverá ser detalhado com clareza definindo os

serviços que serão executados. Nesses contratos, será exigida a explicitação do

custo em função do número de homens/hora ou dia, detalhado por tipo de técnico e

o valor total da prestação do serviço, ainda que estimado.

2.3.1.6 Franquia

Os contratos de franquia destinam-se à concessão temporária de direitos que

envolvam uso de marcas, prestação de serviços de assistência técnica,

combinadamente ou não, com qualquer outra modalidade de transferência de

tecnologia necessária à consecução de seu objetivo.

Nestes contratos, deverão estar caracterizados o pedido à marca registrada

envolvida na franquia e a apresentação da circular de oferta ou declaração de

recebimento da circular. Os contratos deverão relacionar as marcas e/ou os pedidos

de registro, as condições de exclusividade e subfranqueamento, a ocorrência de

prestação de serviços, bem como outros aspectos julgados necessários.

Quanto aos valores dos contratos de transferência de tecnologia, as formas e

os prazos de pagamento são de acordo com a negociação contratual, devendo ser

levados em conta os níveis de preços praticados nacional e internacionalmente em

contratações similares, excetuando-se os contratos de Prestação de Serviços de

Assistência Técnica e Científica, cujo valor é usualmente calculado a partir dos

salários dos técnicos contratados.

No que se refere à vigência contratual, os contratos de transferência de

tecnologia, em geral, são averbados por um prazo máximo de 5 (cinco) anos,

conforme Lei nº 4131/62, excetuando-se os que tenham por objeto direitos de

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propriedade industrial. As licenças de patentes ou marcas são averbáveis pelo prazo

de validade desses privilégios.

2.3.2 Processos de inovação e transferência de tecnologia

De acordo com Reis (2008), baseando-se em estudos realizados por Langrish

et al. o caminho pelo qual o conhecimento é produzido e colocado em operação foi

descrito em um modo contínuo, ou seja, da pesquisa básica à pesquisa aplicada e

desta ao desenvolvimento tecnológico, conhecido como “modelo linear-sequencial”

do processo de inovação. O modelo linear-sequencial pode ser dividido em duas

categorias identificadas como: science-push e market pull. O modelo science-push

ocorre quando a ciência inicia o processo de inovação, ou seja, a pesquisa básica

orientada pela curiosidade. Já o market pull é o processo inverso, a demanda de

mercado dá início ao desenvolvimento da inovação, conforme demonstrado a seguir:

FIGURA 4 - Modelo science-push

Pesquisa básica orientada pela curiosidade

► Pesquisa aplicada

► Desenvolvimento experimental

► Inovação tecnológica

FIGURA 5 - Modelo market-pull

Procura pelo mercado ► Pesquisa aplicada

► Desenvolvimento experimental

► Inovação tecnológica

Fonte: Adaptado de Reis (2008, p. 53).

De acordo com o exposto, podemos dizer que market pull é a inovação a

partir do mercado, demanda advinda de consumidores de produtos/serviços já

existentes, em grupos focais, em análises de mercado, em estudo da concorrência,

etc. Science push é a inovação a partir da ciência e da tecnologia, baseando-se em

investigação de tecnologias, em laboratórios ou departamentos de pesquisa,

inovação e desenvolvimento, na imaginação dos engenheiros.

2.4 Evolução histórica da transferência de tecnologia no Brasil

Segundo Assafim (2005), o primeiro instrumento legislativo que regulamenta a

Propriedade Industrial no Brasil surgiu no século XIX, com a publicação do Alvará de

1808, de 1º de abril, que versava sobre a autorização das fábricas e manufaturas no

Brasil. A aprovação desta norma ocorreu com a chegada da Família Real

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Portuguesa ao Rio de Janeiro, com o objetivo de possibilitar a produção industrial do

Brasil.

A proteção específica para o “inventor” surgiu com o Alvará de 28 de abril de

1809, que estabelecia em seu § IV:

Sendo muito conveniente que os inventores e alguma nova máquina e invenção gozem de privilégio exclusivo além do benefício que possam ter ao favor pecuniário, ordeno que todos os que tiverem neste caso apresentem o plano de seu novo invento à Real Junta do Comércio e que esta, reconhecendo a verdade e fundamento dele, lhes conceda o privilégio por 14 anos, ficando obrigada a publicá-lo depois, para que, no fim deste prazo, toda a Nação goze do fruto dessa invenção.

Percebe-se que, já naquela época existia a preocupação em regulamentar

matéria, concedendo ao inventor o monopólio sobre a sua invenção por um lapso de

tempo, protegendo-o, assim, de terceiros interessados na apropriação ou na

exploração econômica da sua invenção.

Em 15 de janeiro de 1819, um Alvará incentivou a produção intelectual,

concedendo prêmios aos inventores que se destacavam nas diferentes áreas do

conhecimento, dando um enfoque maior nas artes, agricultura e navegação

(Assafim, 2005).

Entretanto foi a Constituição Imperial de 25 de março de 1824 que, pela

primeira vez, utilizou a expressão “propriedade”:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. XXVI. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou das suas producções. A Lei lhes assegurará um privilegio exclusivo temporario, ou lhes remunerará em resarcimento da perda, que hajam de soffrer pela vulgarisação.

Dessa forma, ficava reconhecida a propriedade dos inventores e a lei lhes

assegurava o uso, gozo e fruição por um determinado período, garantindo-lhes

ainda, o ressarcimento em caso de perdas.

Em 24 de janeiro de 1891, a Constituição Republicana reafirmou a proteção

jurídica às invenções, reforçando a proteção aos sinais distintivos, instituindo a

“marca de fábrica”:

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Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 25 Os inventos industriais pertencerão aos seus autores, aos quais ficará garantido por lei um privilégio temporário, ou será concedido pelo Congresso um prêmio razoável quando haja conveniência de vulgarizar o invento. § 26 Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo de reproduzi-Ias, pela imprensa ou por qualquer outro processo mecânico. Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a lei determinar. § 27 A lei assegurará também a propriedade das marcas de fábrica.

No ano de 1904, foi implementada a Lei de Marcas, que não trouxe nenhuma

modificação significativa sobre o assunto. O marco realmente importante foi a

aprovação do primeiro Código da Propriedade Industrial – CPI, em 1945 (Decreto

Lei nº 7903, de 27/08/45), numa época em que o país expandia seu comércio

internacional. O referido Código tratava da concessão de patentes de invenções,

modelos e desenhos industriais, marcas de indústria e comércio, nomes comerciais,

marcas de estabelecimentos, insígnias comerciais ou profissionais, expressões e

sinais de propaganda e, além disso, tipificava como delitos uma série de infrações

contra a propriedade industrial (Assafim, 2005).

Na década de 70, uma nova fase foi inaugurada no cenário da propriedade

industrial, o antigo Departamento Nacional da Propriedade Industrial (DNPI) foi

extinto, dando lugar ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão

autônomo, vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC), hoje denominado

de Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Dentre as

diversas atribuições do INPI, figurava o registro dos contratos de transferência de

tecnologia (Assafim, 2005).

Junto com a criação do INPI, foi aprovado o novo Código da Propriedade

Industrial (CPI), em 21 de dezembro de 1971, através da Lei nº 5.772, que vigorou

até 1997, quando entrou em vigor a atual Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279,

de 14 de maio de 1996). O capítulo XI (arts. 26 a 32) foi inteiramente dedicado à

regulamentação “da transferência, da alteração de nome e sede do titular de

privilégio depositado ou concedido e dos contratos para sua exploração”.

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Em 1971, o art. 126 da LPI fez, pela primeira vez, menção aos contratos de

transferência de tecnologia, firmados em território brasileiro:

Art. 126. Ficam sujeitos à averbação no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, para os efeitos do artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 5.648, de 11 de dezembro de 1970, os atos ou contratos que impliquem transferência de tecnologia.

Dessa forma, atendeu-se a disposição do Ato Normativo nº 15 do INPI, que

fundamentava que todos os contratos de transferência de tecnologia deveriam ficar

reunidos por tipo de inscrição na administração pública.

Modificando um pouco essa atuação do Estado, a Constituição Federal de

1988 protege amplamente a livre iniciativa e a concorrência de mercado, restringindo

apenas a atuação dos particulares quando o interesse social o exigir, sempre por

intermédio de lei específica restritiva.

A preocupação com a transferência de tecnologia no Brasil é recente,

segundo Terra (2001, p.173):

No decorrer dos anos 90, houve o início da regulamentação da propriedade intelectual. Aos poucos, ficou consciente a importância de estabelecer mecanismos para garantir a apropriação do conhecimento gerado nas universidades e a necessidade de organizar a transferência de tecnologia de maneira a promover maior desenvolvimento econômico e maior competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional.

Quando a Resolução nº 22, de 27 de fevereiro de 1991, revogou o Ato

Normativo nº 15, amenizou os efeitos das disposições reguladoras dos Contratos de

Transferência de Tecnologia, suprimindo a figura da “cooperação técnica industrial”

e reduzindo as categorias de contratos sujeitos à aprovação pela administração

pública, restando os seguintes contratos: exploração de patentes, uso da marca,

fornecimento de tecnologia e prestação de serviços de assistência técnica e

científica (Assafim, 2005).

De 1975 até 1991, vigia o Ato Normativo nº 15, do INPI, que se fixou como

padrão para análise dos contratos submetidos à autarquia. A Resolução nº 22, de

27/02/91, a Instrução Normativa nº 1, 02/07/91 e, posteriormente, o Ato Normativo

nº 120, de 17/12/93, revogaram o conteúdo e os parâmetros do Ato Normativo nº

15, sem oferecer um novo roteiro. Com a aprovação do Ato Normativo nº 120, surgiu

uma nova política no INPI, que limitou a atuação do poder público à verificação dos

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requisitos de inscrição dos contatos. O Ato Normativo nº 135, de 15/04/97, que se

encontra atualmente em vigor, deixa de prescrever quaisquer regras quanto à

condução do exame pelo INPI (Barbosa, 2002).

Observa-se que até 1991, os contratos de propriedade industrial e de

transferência de tecnologia eram regulados por um único ato normativo. Já a partir

de 1991, esses contratos passaram a ser regulados por um amplo conjunto de

normas.

Nas Instruções Normativas, observam-se uma instabilidade e uma

divergência sobre a interferência do Estado nos contratos de transferência de

tecnologia. Se o Estado sobrepõe os interesses coletivos aos individuais das partes

contratantes, em consonância com a política econômica vigente no país, fica clara a

existência de dirigismo contratual.

O Lei da Propriedade Industrial, Lei nº 9.279/96, submete à averbação no

INPI os contratos de transferência de tecnologia:

Art. 62. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI. Art. 140. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI. Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a terceiros.

Dentro da estrutura do INPI, a Diretoria de Contratos de Tecnologia e Outros

Registros - DIRTEC, consoante o disposto nos arts. 61, 62, 63, 68, 121, 139, 140,

141, 211, da Lei nº 9.279 de 14 de maio de 1996 (Lei da Propriedade Industrial), e

com a legislação complementar, é responsável pela averbação/registro dos atos e

contratos que impliquem transferência de tecnologia, licença de direitos da

propriedade industrial e franquia.

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Então o Ato Normativo nº135, de 15/04/97, vem ao encontro da Lei nº

9.279/96 e normaliza os procedimentos de averbação ou registro de contratos de

transferência de tecnologia e de franquia no INPI.

Conforme definição do INPI, contrato de transferência de tecnologia “é o

comprometimento entre as partes envolvidas, formalizado em um documento onde

estejam explicitadas as condições econômicas da transação e os aspectos de

caráter técnico” (INPI, 2009). Os contratos, consoante o estabelecido no item 3 do

Ato Normativo do INPI nº 135, de 15 de abril de 1997, deverão indicar claramente o

seu objeto, a remuneração ou os royalties, os prazos de vigência e de execução do

contrato, quando for o caso, e as demais cláusulas e condições da contratação.

Como foi mencionado anteriormente, o INPI averba/registra, conforme o Ato

Normativo nº 135/97, os contratos que impliquem transferência de tecnologia, assim

entendidos os de licença de direitos (exploração de patentes e de desenho industrial

e uso de marcas), os de aquisição de conhecimentos tecnológicos (fornecimento de

tecnologia e prestação de serviços de assistência técnica e científica) e os de

franquia.

Um grande incentivo à transferência de tecnologia surgiu a partir da Lei de

Inovação (10.973/2004), que busca promover e incentivar a pesquisa e o

desenvolvimento tecnológico, conforme estabelece seu art. 1º:

Art. 1o Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País, nos termos dos arts. 218 e 219 da Constituição.

Essa Lei permite uma série de ações voltadas para a parceria entre as

Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) e o setor privado. Dentre seus

principais mecanismos, ressaltamos a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica

(NITs) que se tornam obrigatórios para as instituições públicas (Universidades, ICTs)

e ganham importância significativa perante a Lei de Inovação. Além de gerir as

políticas e organizar as atividades de pesquisa, o NIT tem responsabilidade pelos

resultados da exploração econômica decorrente de uma propriedade intelectual

utilizada e pela utilização de recursos públicos ou de infraestrutura financiada por

recursos públicos (Barbosa, 2006).

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A Lei da Inovação, no seu art. 16, legitima a criação dos Núcleos de Inovação

Tecnológica:

Art. 16. A ICT deverá dispor de núcleo de inovação tecnológica, próprio ou em associação com outras ICTs, com a finalidade de gerir sua política de inovação. Parágrafo único. São competências mínimas do núcleo de inovação tecnológica: I - zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia; II - avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das disposições desta Lei; III - avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção na forma do art. 22; IV - opinar pela conveniência e promover a proteção das criações desenvolvidas na instituição; V - opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição, passíveis de proteção intelectual; VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual da instituição.

Dado o espírito que norteia a Lei da Inovação, o NIT tem a missão de

disseminar a cultura da proteção dos resultados de pesquisa e estimular o

pesquisador a participar do processo de inovação por meio da parceria com a

empresa, de forma a transferir à sociedade os resultados da pesquisa, contribuindo

para o ciclo virtuoso da inovação. Não cabe ao NIT interferir nas questões que

cabem à administração central da ICT, tampouco obrigar o pesquisador a proteger

os resultados de sua pesquisa ou a firmar parceria com empresas, principalmente no

caso das universidades, onde a cultura da pesquisa é mais livre.

O Governo Federal sentiu a necessidade de incentivar a inovação no país,

criando diversas políticas públicas para apoiar projetos relacionados à inovação,

conforme será abordado no próximo capítulo.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INOVAÇÃO NO BRASIL

Antes de abordar as políticas públicas de inovação no Brasil, é necessário

situar mundialmente a regulamentação do tema “propriedade intelectual”, cujo marco

foi no ano de 1967, com a criação da Organização Mundial da Propriedade

Intelectual (OMPI), da qual o Brasil é signatário.

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) é uma entidade

internacional de Direito Internacional Público com sede em Genebra (Suíça),

integrante do Sistema das Nações Unidas. Criada em 1967, é uma das 16 agências

especializadas da ONU e tem por propósito a promoção da proteção da propriedade

intelectual ao redor do mundo, através da cooperação entre Estados. Atualmente, é

composta de aproximadamente 184 Estados-membros, representando 90% dos

países do mundo e administrando 24 tratados internacionais.

Em 1974, a OMPI tornou-se agência especializada da ONU, harmonizando

seus objetivos com o interesse público e com as metas humanitárias da ONU.

Segundo o acordo entre a OMPI e a ONU, a proposta da OMPI foi redefinida para a

promoção da atividade intelectual criativa e a facilitação da transferência de

tecnologia relacionada à propriedade industrial para os países em desenvolvimento

de forma a acelerar seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

As metas estratégicas da OMPI foram revistas e ampliadas ao longo do

tempo e são parte de um processo de alinhamento global e têm lugar importante na

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organização. As novas metas permitirão à OMPI cumprir de forma eficaz o seu papel

frente aos desafios da propriedade intelectual do século XXI. As nove metas

estratégicas definidas no Programa de Orçamento para o biênio 2008-2009 são as

seguintes:

- Desenvolvimento equilibrado do quadro internacional da Propriedade

Intelectual (PI);

- Prestação de serviços de qualidade na área de PI;

- Facilitação do uso da PI para o desenvolvimento sustentável;

- Coordenação e desenvolvimento de infraestrutura de PI em nível global;

- Fonte de referência no mundo da informação e análise sobre PI;

- Cooperação internacional para reforçar o respeito à PI;

- Abordagem da PI no contexto das questões globais de política pública;

- Comunicação eficaz entre a OMPI, os seus Estados-Membros e as partes

interessadas;

- Estrutura de eficiência administrativa e de apoio financeiro que encoraja a

implementação de programas da OMPI.

Sendo o Brasil signatário de tratados da OMPI, a Assembléia Nacional

Constituinte, na década de 80, atendendo a preceitos dos tratados, incentivou a

inovação no país, introduzindo dispositivos, na Constituição Federal de 1988, que

contemplassem essas necessidades e anseios do país, principalmente da classe

empresarial:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; [...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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[...] XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.

Conforme o art. 3º da CF/88, é papel do Estado garantir o desenvolvimento

nacional, buscando implementar ações para a erradicação da pobreza e da

marginalização, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais.

No seu art. 5º, a CF/88 incorporou a proteção aos direitos de propriedade

intelectual. A propriedade é reconhecida como um direito e uma garantia

fundamental, assegurando privilégios aos autores e inventores, à medida que suas

obras atendam objetivos de cunho social e favoreçam o desenvolvimento

tecnológico e econômico do País.

A CF/88 trata da ordem econômica nos arts. 170 a 181, trazendo, no art. 170,

os princípios norteadores da ordem econômica nacional. Ordem econômica é a

ciência com parâmetros constitucionais que encontra, na justiça social, a

implementação do princípio da dignidade da pessoa humana e estuda fatos

econômicos que pretendem impulsionar o desenvolvimento social, pois, diante dos

princípios constitucionais econômicos, a economia visualiza, dentro das

necessidades oriundas das manifestações dos indivíduos, qual será o melhor

emprego de recursos da receita geral da sociedade. Segundo Nascimento (1999,

p.1),

[...] pode-se assegurar que o Estado teve sua origem em razão do poder criativo do homem, vinculando-se à satisfação de suas necessidades. Dotado de uma estrutura orgânica viabilizadora da realização dos ideais políticos da nação, revela sua missão grandiloqüente no contexto social.

De acordo com Moraes (2006, p. 2003), “o art. 170 da Constituição Federal,

com a nova redação que lhe deu a Emenda Constitucional nº 06/95, consagrou a

ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa”.

Estabeleceu ainda a finalidade da ordem econômica constitucional, que é a garantia

de uma existência digna, de acordo com a regra da justiça social.

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Estão elencados, no art. 170 da CF/88, os princípios que regem a ordem

econômica brasileira:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

No parágrafo único do mesmo artigo, assegura-se a todos o livre exercício de

qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos

públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Preocupado com o atendimento dos princípios constitucionais, o art. 174 da

CF/88, trata da intervenção do Estado como agente normativo e regulador da

atividade econômica:

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento. § 2º - A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. § 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros. § 4º - As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei.

Reale Júnior (1992, p. 8) entende a intervenção do Estado na economia da

seguinte forma:

O Estado intervém na economia, segundo o art. 174 da CF, como agente normativo e regulador, exercendo, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Como se vê, a intervenção se faz,

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tão só, por lei, sendo o planejamento apenas indicativo para o setor privado. Esta atuação do Estado como agente normativo ou regulador é de ser concretizada com respeito aos princípios que regem a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, visando a assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170 da CF).

Diante dos preceitos dos arts. 170 e 174 da Constituição Federal,

vislumbramos a possibilidade de intervenção do Estado na economia, desde que

obedecido o princípio da legalidade, sempre que houver a necessidade de defender

o interesse público e combater o abuso do poder econômico, assegurando as

garantias constitucionais da ordem econômica.

Para Garcia (2008, p. 110), “o caput do art. 218 estabelece que é dever da

União, Estados e Municípios promover e incentivar o desenvolvimento científico a

pesquisa e a capacitação tecnológicas”, conforme segue:

Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas. § 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências. § 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. § 3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho. § 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho. § 5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.

O previsto no art. 218 vem ao encontro dos objetivos fundamentais do Art. 3º,

incisos II e III da CF/88 e fundamentando ainda o Art. 1º, incisos I, III e IV, conforme

segue:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

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Percebe-se que, além da preocupação com a soberania política, existe uma

preocupação com a busca da solução dos problemas do povo brasileiro, a

diminuição das desigualdades sociais e o comprometimento com o desenvolvimento

nacional. Os § 1º e 2º do art. 218 arrolam duas formas de pesquisa, a pesquisa

científica básica e a pesquisa tecnológica. Moraes (2006, p. 2177), estabelece a

diferença entre elas:

A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências. A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderadamente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

Para Garcia (2008, p. 110), “a pesquisa científica básica compreende

conhecimento direcionado para toda a humanidade e para o correspondente

progresso científico”, cabendo ao Estado suprir de forma prioritária os recursos para

tal atividade. Quanto à pesquisa tecnológica “consagra-se a posição que o papel da

ciência e tecnologia é de constituir-se em instrumento de desenvolvimento social,

atendendo à população na medida em que resolva, prioritariamente, os problemas

brasileiros, voltando-se para o desenvolvimento econômico nacional e regional” (p.

110).

Para o mesmo autor, o art. 219 da CF/88, direciona-se ao mercado interno,

regulando-se pela Lei nº 10.973/2004, no tocante à autonomia tecnológica do país.

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.

Ressalta-se que o arts. 218 e 219 da CF/88 são matriz constitucional da Lei nº

10.973/2004 (Lei da Inovação), pois tratam do tema de ciência e tecnologia,

deixando claro que são papéis do Estado a promoção e o incentivo ao

desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica.

3.1 Principais incentivos à inovação vigentes no Brasil

No final do ano de 2007, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou o

Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação, conhecido como PAC da Ciência

(2007-2010), com o objetivo de estimular os investimentos em pesquisa e

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desenvolvimento no setor privado, por meio de bolsas para a capacitação de

recursos humanos e pesquisa através de programas, como os Fundos Setoriais, e

oferecer incentivos fiscais para as empresas realizarem P&D nos ambientes

produtivos brasileiros. O PAC da Ciência prevê um investimento total de R$ 41

bilhões de reais em pesquisas e capacitação científica até 2010.

Esses recursos financeiros serão aportados por diversos ministérios e fundos

de financiamento, como o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Ministério de

Minas e Energia (MME), o Ministério da Saúde (MS), o Ministério da Educação (ME),

o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Banco Nacional de

Desenvolvimento (BNDES), o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (FNDCT), o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND), o Fundo para

o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTEL) e o Fundo

Nacional de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Segundo o MCT (2007), o PAC da Ciência está calcado em 4 (quatro) áreas

estratégias, que são:

1. Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C,T&I

O Brasil já possui uma série de ações que impulsionam as políticas de

Ciência, Tecnologia e Inovação junto ao setor empresarial. Como exemplo disso

temos a Lei da Inovação, a Lei do Bem, a Lei Rouanet da Pesquisa, a Lei da

Informática, entre outras. A esse contexto juntam-se novas metas, como o aumento

do número de bolsas para a formação e a capacitação de recursos humanos

qualificados e o aperfeiçoamento do sistema de fomento para a consolidação da

infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas diversas áreas do

conhecimento.

2. Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas

Esta meta visa a facilitar a inserção de pesquisadores no setor produtivo e a

estruturação do Sistema Brasileiro de Tecnologia (SIBRATEC), cujo objetivo é

apoiar o desenvolvimento das empresas e a oferta da prestação de serviços

tecnológicos, principalmente aqueles voltados para a Tecnologia Industrial Básica

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(TIB). Outras ações voltadas para as incubadoras de empresas e parques

tecnológicos também fazem parte desta meta.

3. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas

As ações previstas nesta meta estão voltadas para programas de

desenvolvimento nas áreas estratégias como biotecnologia, nanotecnologia,

agronegócio, Amazônia e semi-árido, biodiversidade e recursos naturais, energia

elétrica, hidrogênio e energias renováveis, petróleo, gás e carvão mineral e

programas para as áreas nuclear e espacial, de meteorologia e mudanças

climáticas, defesa e segurança nacionais.

4. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social

A consolidação do desenvolvimento social representa a promoção, a

popularização e o aperfeiçoamento do ensino de ciências nas escolas, bem como a

produção e a difusão de tecnologias e inovações para a inclusão social. Ações como

a realização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP),

a promoção da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a implantação de

Tecnologias Assistivas e Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), o apoio aos

Telecentros e Arranjos Produtivos Locais (APLs), bem como a P&D para a

Segurança Alimentar e Nutricional fazem parte desta meta.

De acordo com dados do MCT, no ano de 2008, o PAC da Ciência

apresentou os primeiros resultados: a regulamentação do Fundo Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a implementação do Sistema

Brasileiro de Tecnologia (SIBRATEC) e o aumento nas bolsas oferecidas pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) - que

é extensivo aos benefícios da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes/MEC).

Em maio de 2008, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

(MDIC) lançou a Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP, que retoma a

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE, lançada em março

de 2004, porém com pretensões maiores quanto à sua abrangência, profundidade,

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articulações, controles e metas. A PDP é um conjunto de medidas que visam ao

fortalecimento da economia do país, tendo como base o setor industrial. Tais

medidas, se implementadas com sucesso, devem alterar o patamar de produtividade

da indústria brasileira e seu grau de competitividade, gerando reflexos para toda a

sociedade. A PDP estabelece 4 (quatro) macrometas a serem alcançadas até o ano

de 2010, com o objetivo de incentivar a inovação no país. Essas metas estão

demonstradas na tabela abaixo, de acordo com informações extraídas do site

<http://www.mdic.gov.br/pdp/index.php/sitio/conteudo/index/3>.

TABELA 2 – Metas da política de desenvolvimento produtivo

Meta Posição Meta para 2010 Ampliação do investimento fixo – PIB

17,6% (R$ 450 bilhões) em 2007

21% (R$ 620 bilhões)

Elevação do gasto privado em P&D

0,51% (R$ 11,5 bilhões) em 2005

0,65% (R$ 18,2 bilhões)

Ampliação da participação das exportações brasileiras

1,18% (R$ 160,6 bilhões) em 2007

1,25% (US$ 208,8 bilhões)

Dinamização do gasto privado em P&D – Número de MPEs Exportadoras

11.792 empresas em 2006 Aumentar em 10% o número de MPEs exportadoras

Fonte: Elaborado pela autora.

Além das quatro macrometas estabelecidas na Política de Desenvolvimento

Produtivo - PDP, foram definidos os 25 (vinte e cinco) setores chaves a serem

atendidos por suas diretrizes, dentre os quais 6 (seis) foram considerados

prioritários: nanotecnologia, biotecnologia, complexo de defesa, complexo industrial

da saúde, energia e tecnologia da informação. Segundo o jornal O Globo online, o

objetivo do pacote é aumentar as exportações e os investimentos no país,

consolidando o atual ciclo de crescimento e expandir participação brasileira no

exterior (NOVA, 2008).

Foi lançada, em 31 de março de 2004, a Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior – PITCE, com o objetivo de fortalecer e expandir a base industrial

brasileira por meio da melhoria da capacidade inovadora das empresas. Concebida

a partir de uma visão estratégica de longo prazo, a PITCE teve como pilares centrais

a inovação e a agregação de valor aos processos, produtos e serviços da indústria

nacional.

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A PITCE atuou em três eixos: linhas de ação horizontais (inovação e

desenvolvimento tecnológico, inserção externa/exportações, modernização

industrial, ambiente institucional), setores estratégicos (software, semicondutores,

bens de capital, fármacos e medicamentos) e em atividades portadoras de futuro

(biotecnologia, nanotecnologia e energias renováveis).

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos - DIEESE (<http://www.dieese.org.br>), a PITCE não obteve o

resultado esperado quando de seu lançamento. Não conseguiu articular as diversas

instâncias públicas que concorreriam com seu êxito e, também, devido a timidez e

pouca abrangência, não empolgou a iniciativa privada. Seu legado foi a instituição

de alguns marcos legais que favoreceram restritos setores da economia e a criação

de linhas de crédito do BNDES para esses mesmos setores. Portanto, são medidas

pontuais que, dadas suas limitadas abrangências, não devem ser caracterizadas

como Política Industrial, conforme a pretensão do Governo naquela época.

O Brasil possui uma série de instrumentos, que inclui financiamentos,

incentivos fiscais, subvenções econômicas e operações de capital de risco, para

apoiar projetos relacionados à inovação. O objetivo deste capítulo é identificar as

políticas públicas e P&D vigentes no país, bem como apresentar propostas de ações

que estão acontecendo no Estado do Rio Grande do Sul.

3.2 Programa gaúcho de inovação e tecnologia – Agenda 2020

Em março de 2006, surgiu, no Estado do Rio Grande do Sul, a Agenda 2020,

um movimento que une os gaúchos para buscar um futuro melhor, dentro dos

parâmetros da chamada “democracia participativa”, com a participação ativa do

cidadão. A Agenda 2020 organiza propostas concretas de interesse da sociedade

rio-grandense, nas quais gaúchos de todos os setores estão atuando em busca de

soluções para o Rio Grande.

Atualmente, 11 (onze) temas estão sendo trabalhados: desenvolvimento de

mercado, desenvolvimento regional, inovação & tecnologia, gestão pública, infra-

estrutura, educação, saúde, ambiente institucional, disponibilidade de recursos

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financeiros, cidadania e responsabilidade social e meio ambiente . O discurso que se

faz é que a Agenda 2020 transformará o Rio Grande no melhor Estado para se viver

e trabalhar, buscando um futuro melhor para todos os gaúchos

(<http://www.agenda2020.org.br>).

Uma das propostas da Agenda 2020 é o Programa Gaúcho de Inovação e

Tecnologia, que tem por objetivo promover, fomentar e estimular a importância do

uso de tecnologias pelas empresas e sociedade, aumentando assim o nível de

inovação nas empresas do Estado.

Destaca-se que a Agenda 2020 reúne mais de 100 (cem) entidades

participantes que indicam seus representantes nos fóruns temáticos e também no

Fórum de Gestão da Agenda 2020. Dentre os participantes, estão entidades civis,

como federações da indústria e do comércio, organizações não-governamentais e

centrais sindicais, entre outras. Tem como objetivo estabelecer um programa de

longo prazo, capaz de melhorar a situação econômica do Estado e apresentar

respostas a demandas essenciais da sociedade gaúcha. As propostas são:

Desenvolvimento de Mercado, Desenvolvimento Social, Inovação & Tecnologia,

Gestão Pública, Infraestrutura, Educação, Saúde, Ambiente Institucional,

Disponibilidade de Recursos Financeiros, Cidadania e Responsabilidade Social e

Meio Ambiente.

Cada proposta possui entes responsáveis pela sua efetivação, bem como

metas e ações a serem cumpridas. No presente estudo, será abordada apenas a

proposta “Inovação & Tecnologia”, que vem ao encontro do tema abordado neste

trabalho.

No quadro a seguir vislumbram-se os projetos integrantes da proposta

“Inovação & Tecnologia”, bem como os responsáveis pela sua efetivação, metas e

ações, de acordo com informações do site

<http://www.agenda2020.org.br/propostas>.

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QUADRO 1 – Proposta Inovação & Tecnologia

Projetos O que é De quem depende Metas Ações Programa Gaúcho de Inovação e Tecnologia

O Programa Gaúcho de Inovação e Tecnologia tem por objetivo promover, fomentar e estimular a importância do uso de tecnologias pelas empresas e sociedade, aumentando assim o nível de inovação nas empresas do Estado.

Sociedade, Governo Federal e Estadual, entidades do setor.

• Formar lideranças empresarias, em médio prazo, que promovam os conceitos de inovação e tecnologia de forma continuada.

• Fortalecer e apoiar, através de ações do Estado, as relações entre empresas e instituições de ensino e pesquisa.

• Implantar uma Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Estado que assegure os recursos para tecnologia e inovação e estimule pesquisas conjuntas entre empresas e instituições de ensino e pesquisa.

• Sensibilizar o empresariado para a necessidade de inovação e tecnologia a fim de ganhar em competitividade.

• Fomentar a criação de Empresas Brasileiras de Tecnologia (EBTs) com forte viés de inovação.

• Atrair investimentos qualificados, naqueles setores estratégicos para o Estado, como forma de impulsionar um incremento tecnológico e uma capacidade competitiva no parque produtor local, gerando mais emprego e renda, buscando a atuação em novos nichos;

• Intensificar os esforços para aproximar as empresas das Universidades e Centros de Pesquisas em projetos de inovação, reforçando a necessidade de um modelo com capacidade de integrar, coordenar e gerenciar as relações entre as instituições;

• Articular com empresas e agentes de pesquisa e desenvolvimento (Universidades e Centros de Pesquisa do Estado) a construção de diretrizes estratégicas que lhes permitam realizar os projetos tecnológicos de interesse do Rio Grande do Sul;

• Formular e aprovar uma Lei de Inovação Estadual, que promova um ambiente propício para a inovação no Estado;

• Promover ações de melhoria da imagem do produto rio-grandense no Brasil e no exterior, visando ao crescimento de seu fluxo internacional de comércio, através de uma participação constante nos principais eventos associados aos mercados-foco;

• Fomentar as parcerias de empresas em âmbito mundial visando à transferência de tecnologia ou ao desenvolvimento cooperativo;

• Fortalecer as iniciativas de cooperação para a inovação através de redes de empresas, incubadoras e parques tecnológicos que já estão estabelecidos no estado, e propiciar a criação de novos empreendimentos;

• Utilizar o poder de compras do Estado através de legislação adequada como indutor do desenvolvimento tecnológico das empresas locais;

• Estimular e financiar a realização de projetos de pesquisa tecnológica, priorizando sua realização no ambiente empresarial, fortalecendo as instituições existentes como agentes incentivadores de pesquisa tecnológica;

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• Estimular o empreendedorismo em negócios que desenvolvam produtos, processos ou serviços inovadores;

• Articular as instâncias responsáveis pela gestão pública, principalmente no âmbito federal – CGU, Receita, Fazenda, entre outras, visando a identificar e gerenciar os gargalos nos processos de inovação;

• Tratar de forma diferenciada as empresas nascentes com alto potencial de inovação, por exemplo, isentando de tributação nos primeiros anos de vida;

• Criar uma sistemática para difusão dos incentivos governamentais para a inovação (Lei de Inovação, Lei do Bem, Lei do MEC, Editais FINEP, CNPQ) e capacitar empresas no desenvolvimento de projetos de inovação;

• Estimular boas práticas de gestão em empresas de pequeno e médio porte visando a facilitar a absorção da inovação e a capacitação da empresa para novas oportunidades de negócios;

• Fomentar a melhoria do ensino de Ciências Exatas, Língua Inglesa e Informática no Nível Fundamental, Técnico de Nível Médio e Superior e Profissionalizante, a partir da experiência acumulada pelo Sistema "S" e seus Centros Tecnológicos;

• Estimular a articulação e a convergência dos projetos propostos ou em execução pelos vários entes envolvidos com CT&I no Estado, direcionando-os para os setores estratégicos pré-definidos, evitando sobreposições;

• Alinhar as demandas tecnológicas dos setores empresariais organizados através de APLs aos agentes de pesquisa e desenvolvimento, criando projetos para a captação de recursos junto a programas federais (Fundos Verde-Amarelo, Petróleo e outros);

• Estimular e financiar a realização de trabalhos de conclusão, estágios de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutoramento em empresas, com vistas a criar nelas paulatinamente uma cultura da inovação;

• Colaborar no fortalecimento das universidades e centros de pesquisa, com vistas à capacitação de

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recursos humanos e à implantação de estruturas qualificadas que possibilitem a introdução dos mecanismos de Avaliação da Conformidade e da Certificação Internacionais;

• Fortalecer a interação entre os agentes de pesquisa e as empresas do Estado visando a intensificar a captação de recursos junto aos programas federais e legislação vigentes.

Projeto Integração de Polos Tecnológicos

No RS, as empresas participantes de Incubadoras e Parques Tecnológicos geram cerca de 33 mil postos de trabalho direto. A Agenda 2020 propõe integrar polos tecnológicos, governo e sociedade e estimular o diálogo entre estes agentes.

Sociedade, Governo Federal e Estadual, Entidades representativas da sociedade.

• Ter, até 2010, 50% dos polos tecnológicos integrados através da plataforma.

• Aumentar o ranking da competitividade, em um indicador ligado ao valor agregado dos produtos, do Estado do Rio Grande do Sul, em uma posição, até 2010.

• Aumentar os postos de trabalho especializados em 20%, até 2010.

• Criar uma plataforma de comunicação entre agentes públicos e privados voltados para inovação;

• Contratar consultoria de comunicação; • Fazer reuniões de apresentação do portal; • Contratar serviços técnicos de TI/design; • Produzir conteúdo para o site; • Locar servidor; • Contratar suporte; • Fazer reuniões de definição de requisitos dos

portais; • Dar treinamentos de uso do portal; • Construir material de apoio (guias, tutoriais); • Fazer a divulgação (assessoria de imprensa,

anúncios; • Agente de integração; • Disponibilizar bolsas de pesquisa; • Prover estrutura física para funcionamento; • Contratar bolsista; • Contratar Secretária; • Redação de periódicos; • Plano de inovação e tecnologia; • Contratação de consultor de planejamento; • Demais reuniões de ajustes; • Imersão para definição do plano; • Contratação de gerente de projetos.

Projeto Rede de Competências

O projeto visa aproximar a demanda das empresas e a oferta das instituições e centros de pesquisa por tecnologia e inovação, contemplando todos os setores da economia gaúcha.

Federações, Órgãos Financiadores e Governo.

• Definir os critérios e a forma de ampliação da Rede de Competências, sobretudo quanto a novas áreas, instituições, setores, formas de acesso e formas de sustentabilidade;

• Definir mecanismos de ampliação da Rede de Competências;

• Implementar a ampliação da Rede de Competências a partir das macro definições e do escopo estratégico do

• Instalação do Forum Permanente do Sistema S, com objetivo de discutir os projetos relacionados pela Agenda 2020 e que tenham afinidades com essas entidades. Três áreas serão trabalhadas em conjunto: inovação e tecnologia, educação e desenvolvimento de mercado;

• PARCERIA SISTEMA S - Identificar os principais sistemas existentes (ferramentas e tecnologias da informação) nos ICTs do RS e demais participantes do projeto que irão aderir seus serviços à

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projeto. • Identificar os sistemas existentes

(ferramentas e tecnologias da informação) nos ICTs do Rio Grande do Sul, visando a sua integração à ferramenta da Rede de Competências;

• Realizar o mapeamento completo das incubadoras e parques do Estado do Rio Grande do Sul;

• Mapear as competências dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) do Rio Grande do Sul, através de sistema Web, de forma a disponibilizar um banco de competências a ser ofertado aos demandantes de conhecimento;

• Estabelecer e implantar um modelo de governança definidor da forma de oferta e demanda do banco de competências no âmbito local;

• Implementar a formalização da utilização da Plataforma da Rede de Competências e da Agenda 2020.

Plataforma da Rede de Competências; • Identificar as necessidades de recursos (físicos,

humanos, financeiros, etc.) complementares para viabilizar a integração de outros setores de atividade econômica (agricultura e comércio/serviços) à Rede de Competências;

• Formalizar a utilização da Plataforma da Rede de Competências pela Agenda 2020;

• Apresentar o resultado do mapeamento completo das incubadoras de empresas e parques tecnológicos do Estado do Rio Grande do Sul;

• Apresentar o resultado do mapeamento das competências dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) do Rio Grande do Sul, através de sistema Web, de forma a disponibilizar um banco de competências a ser ofertado aos demandantes de conhecimento;

• Estabelecer e implantar um modelo de governança para o banco de competências adaptado ao âmbito local, a partir do modelo existente no projeto original da indústria;

• Apresentar os critérios, formas e mecanismos de ampliação da Rede de Competências (critérios de adesão e permanência), sobretudo quanto a novas áreas, instituições, setores, formas de acesso e sustentabilidade.

Fonte: Elaborado pela autora.

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Esse programa da Agenda 2020 demonstra a preocupação do Estado do Rio

Grande do Sul em traçar estratégias em consonância com as políticas públicas de

Ciência, Tecnologia e Inovação em nível de Brasil, para que as ações ocorram de

forma concomitante.

3.3 Legislação Federal

3.3.1 Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004)

Segundo Barbosa (2006), a Lei da Inovação implementa os arts. 218 e 219 da

Constituição Federal de 1988, uma vez que tais dispositivos encarregam o Estado

do dever de promover medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e

tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e à autonomia

tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País.

O Decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005, regulamentou a Lei no 10.973,

de 2 de dezembro de 2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa

científica e tecnológica no ambiente produtivo. Garcia (2008) apresenta as

definições de diversos termos descritos no art. 2º da Lei:

[...] agência de fomento, que pode ser instituição de natureza pública ou privada, tendo entre seus objetivos o financiamento de ações de estímulo e promoção do desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação, art. 2º, I; a criação, abarcando a invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, programa de computador, topografia de circuito integrado, nova cultivar e, ainda, qualquer outro desenvolvimento tecnológico acorrentando o surgimento de novo produto, processo ou processo incremental, art. 2º, II; o criador, pesquisador que seja inventor, obtentor ou autor de criação, art. 2, III; inovação, introdução e novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social resultando em novos produtos, processos ou serviços, art. 2º, IV; Instituição Científica e Tecnológica, ICT, órgão ou entidade da administração pública, tendo por missão institucional e execução de atividades de pesquisa básica ou aplicada, de caráter científico ou tecnológico, art. 2º, V; núcleo de inovação tecnológica, núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação, art. 2º, VI; instituição de apoio, instituições criadas sob o amparo da Lei nº 8.958/94, com a finalidade de apoiar projetos de pesquisa e desenvolvimento institucional, científico e tecnológico, art. 2º, VII; pesquisador público, ocupante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego público, realizando pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico, art. 2º, VIII; inventor independente, pessoa física não ocupante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego público, que seja inventor, obtentor ou autor de criação (Garcia, 2008, p. 116-117).

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Para implementar a Lei da Inovação, o legislador a dividiu em 5 (cinco) grupos

de normas, classificadas da seguinte forma por Barbosa (2006):

a) Constituição de ambiente propício às parcerias estratégicas entre as

universidades, institutos tecnológicos e empresas: Neste grupo de normas, estão os

arts. 3º, 4º, 5º e 9º, que têm por objetivo comum propiciar a cooperação entre os

atores do processo inovador.

Nestes casos, a Lei criou formas de facilitar e simplificar a relação entre o

setor privado e as ICTs, seja por meio da cooperação no uso de equipamentos e

instalações, de parcerias personalizadas ou não-personalizadas.

b) Estímulo à participação de instituições de ciência e tecnologia no processo

de inovação: Fazem parte deste grupo, os arts. 6º, 7º e 8º, que contemplam a

realização de contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento de

patentes e a prestação de serviços tecnológicos pelas ICTs.

Art. 6º. É facultado à ICT celebrar contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida. § 1º A contratação com cláusula de exclusividade, para os fins de que trata o caput deste artigo, deve ser precedida da publicação de edital. § 2º Quando não for concedida exclusividade ao receptor de tecnologia ou ao licenciado, os contratos previstos no caput deste artigo poderão ser firmados diretamente, para fins de exploração de criação que deles seja objeto, na forma do regulamento. § 3º A empresa detentora do direito exclusivo de exploração de criação protegida perderá automaticamente esse direito caso não comercialize a criação dentro do prazo e condições definidos no contrato, podendo a ICT proceder a novo licenciamento. § 4º O licenciamento para exploração de criação cujo objeto interesse à defesa nacional deve observar o disposto no § 3o do art. 75 da Lei no 9.279, de 14 de maio de 1996. § 5º A transferência de tecnologia e o licenciamento para exploração de criação reconhecida, em ato do Poder Executivo, como de relevante interesse público, somente poderão ser efetuados a título não exclusivo. Art. 7º. A ICT poderá obter o direito de uso ou de exploração de criação protegida. Art. 8º É facultado à ICT prestar a instituições públicas ou privadas serviços compatíveis com os objetivos desta Lei, nas atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. § 1º A prestação de serviços prevista no caput deste artigo dependerá de aprovação pelo órgão ou autoridade máxima da ICT. § 2º O servidor, o militar ou o empregado público envolvido na prestação de serviço prevista no caput deste artigo poderá receber retribuição pecuniária, diretamente da ICT ou de instituição de apoio com que esta tenha firmado acordo, sempre sob a forma de adicional variável e desde que custeado exclusivamente com recursos arrecadados no âmbito da atividade contratada.

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§ 3º O valor do adicional variável de que trata o § 2o deste artigo fica sujeito à incidência dos tributos e contribuições aplicáveis à espécie, vedada a incorporação aos vencimentos, à remuneração ou aos proventos, bem como a referência como base de cálculo para qualquer benefício, adicional ou vantagem coletiva ou pessoal. § 4º O adicional variável de que trata este artigo configura-se, para os fins do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, ganho eventual.

Nestes casos a Lei possibilita que as ICTs realizem contratos de transferência

de tecnologia e de licenciamento de patentes de sua propriedade, além de

prestarem serviços de consultoria especializada nas empresas. Ao encontro disso os

arts. 14 e 15 também abordam o assunto:

Art. 14. Para a execução do disposto nesta Lei, ao pesquisador público é facultado o afastamento para prestar colaboração a outra ICT, nos termos do inciso II do art. 93 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, observada a conveniência da ICT de origem. § 1º As atividades desenvolvidas pelo pesquisador público, na instituição de destino, devem ser compatíveis com a natureza do cargo efetivo, cargo militar ou emprego público por ele exercido na instituição de origem, na forma do regulamento. § 2º Durante o período de afastamento de que trata o caput deste artigo, são assegurados ao pesquisador público o vencimento do cargo efetivo, o soldo do cargo militar ou o salário do emprego público da instituição de origem, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, bem como progressão funcional e os benefícios do plano de seguridade social ao qual estiver vinculado. § 3º As gratificações específicas do exercício do magistério somente serão garantidas, na forma do § 2o deste artigo, caso o pesquisador público se mantenha na atividade docente em instituição científica e tecnológica. § 4º No caso de pesquisador público em instituição militar, seu afastamento estará condicionado à autorização do Comandante da Força à qual se subordine a instituição militar a que estiver vinculado. Art. 15. A critério da administração pública, na forma do regulamento, poderá ser concedida ao pesquisador público, desde que não esteja em estágio probatório, licença sem remuneração para constituir empresa com a finalidade de desenvolver atividade empresarial relativa à inovação. § 1º A licença a que se refere o caput deste artigo dar-se-á pelo prazo de até 3 (três) anos consecutivos, renovável por igual período. § 2º Não se aplica ao pesquisador público que tenha constituído empresa na forma deste artigo, durante o período de vigência da licença, o disposto no inciso X do art. 117 da Lei no 8.112, de 1990. § 3º Caso a ausência do servidor licenciado acarrete prejuízo às atividades da ICT integrante da administração direta ou constituída na forma de autarquia ou fundação, poderá ser efetuada contratação temporária nos termos da Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, independentemente de autorização específica.

Pode-se observar que esses artigos reforçam o incentivo para que os

pesquisadores realizem pesquisas e consultorias no setor produtivo, com o intuito de

promover a inovação. Já o art. 16 dispõe sobre a necessidade de criação de órgãos,

nas ICTs, que façam a gestão das atividades de inovação e de articulação, ou seja,

a criação dos NITs – Núcleos de Inovação Tecnológica.

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Art. 16. A ICT deverá dispor de núcleo de inovação tecnológica, próprio ou em associação com outras ICT, com a finalidade de gerir sua política de inovação. Parágrafo único. São competências mínimas do núcleo de inovação tecnológica: I - zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia; II - avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das disposições desta Lei; III - avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção na forma do art. 22; IV - opinar pela conveniência e promover a proteção das criações desenvolvidas na instituição; V - opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição, passíveis de proteção intelectual; VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual da instituição.

Neste artigo, a Lei estabelece um rol mínimo de competências do Núcleo.

Porém outras atribuições podem ser atribuídas à lista consoante a competência de

gestão da política de inovação. O NIT pode ser considerado um executor das

políticas institucionais de inovação e transferência de tecnologia ao mesmo tempo

em que avalia suas atividades. O NIT será visto como um órgão de estímulo e não

de regulamentação, o que prejudicaria sua principal função de servir como

interlocutor ativo e interessado entre produtores e demandantes de conhecimento

prático.

c) Normas de incentivo ao pesquisador-criador: Este conjunto de normas

abrange os arts. 8º, 11, 13 e 15 e tem por objetivo estimular a atividade criativa,

repassando aos pesquisadores vinculados às ICTs recursos financeiros resultantes

dos serviços prestados ou royalties advindos da exploração econômica do seu

invento ou criação, além da sua remuneração normal.

Art. 8º. É facultado à ICT prestar a instituições públicas ou privadas serviços compatíveis com os objetivos desta Lei, nas atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. § 1º A prestação de serviços prevista no caput deste artigo dependerá de aprovação pelo órgão ou autoridade máxima da ICT. § 2º O servidor, o militar ou o empregado público envolvido na prestação de serviço prevista no caput deste artigo poderá receber retribuição pecuniária, diretamente da ICT ou de instituição de apoio com que esta tenha firmado acordo, sempre sob a forma de adicional variável e desde que custeado exclusivamente com recursos arrecadados no âmbito da atividade contratada. § 3º O valor do adicional variável de que trata o § 2o deste artigo fica sujeito à incidência dos tributos e contribuições aplicáveis à espécie, vedada a incorporação aos vencimentos, à remuneração ou aos proventos, bem como a referência como base de cálculo para qualquer benefício, adicional ou vantagem coletiva ou pessoal.

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§ 4º O adicional variável de que trata este artigo configura-se, para os fins do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, ganho eventual. Art. 11. A ICT poderá ceder seus direitos sobre a criação, mediante manifestação expressa e motivada, a título não-oneroso, nos casos e condições definidos em regulamento, para que o respectivo criador os exerça em seu próprio nome e sob sua inteira responsabilidade, nos termos da legislação pertinente. Parágrafo único. A manifestação prevista no caput deste artigo deverá ser proferida pelo órgão ou autoridade máxima da instituição, ouvido o núcleo de inovação tecnológica, no prazo fixado em regulamento. [...] Art. 13. É assegurada ao criador participação mínima de 5% (cinco por cento) e máxima de 1/3 (um terço) nos ganhos econômicos, auferidos pela ICT, resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação protegida da qual tenha sido o inventor, obtentor ou autor, aplicando-se, no que couber, o disposto no parágrafo único do art. 93 da Lei no 9.279, de 1996.

Além do estímulo à atividade criativa, a Lei também prevê o afastamento

temporário dos pesquisadores para colaborar em projetos de pesquisa com

instituições e empresas e uma licença não-remunerada ao pesquisador, para que

este constitua uma empresa de base tecnológica.

Art. 15. A critério da administração pública, na forma do regulamento, poderá ser concedida ao pesquisador público, desde que não esteja em estágio probatório, licença sem remuneração para constituir empresa com a finalidade de desenvolver atividade empresarial relativa à inovação. § 1º A licença a que se refere o caput deste artigo dar-se-á pelo prazo de até 3 (três) anos consecutivos, renovável por igual período. § 2º Não se aplica ao pesquisador público que tenha constituído empresa na forma deste artigo, durante o período de vigência da licença, o disposto no inciso X do art. 117 da Lei no 8.112, de 1990. § 3º Caso a ausência do servidor licenciado acarrete prejuízo às atividades da ICT integrante da administração direta ou constituída na forma de autarquia ou fundação, poderá ser efetuada contratação temporária nos termos da Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, independentemente de autorização específica.

De acordo com Barbosa (2006), a licença do art. 15 não pode ser aplicada em

atividades em que o pesquisador é empregado por terceiros. Quando for este o

caso, deverá ser atendido o disposto no art. 91 da Lei nº 8.112/90: “A critério da

Administração, poderão ser concedidas ao servidor ocupante de cargo efetivo,

desde que não esteja em estágio probatório, licenças para o trato de assuntos

particulares pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração”. A referida

Lei dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das

autarquias e das fundações públicas federais.

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d) Incentivo à inovação na empresa: Integram este conjunto os arts. 19, 20 e

28, que estabelecem sobre a disponibilização de recursos financeiros.

Art. 19. A União, as ICTs e as agências de fomento promoverão e incentivarão o desenvolvimento de produtos e processos inovadores em empresas nacionais e nas entidades nacionais de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, mediante a concessão de recursos financeiros, humanos, materiais ou de infra-estrutura, a serem ajustados em convênios ou contratos específicos, destinados a apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento, para atender às prioridades da política industrial e tecnológica nacional. § 1º As prioridades da política industrial e tecnológica nacional de que trata o caput deste artigo serão estabelecidas em regulamento. § 2º A concessão de recursos financeiros, sob a forma de subvenção econômica, financiamento ou participação societária, visando ao desenvolvimento de produtos ou processos inovadores, será precedida de aprovação de projeto pelo órgão ou entidade concedente. § 3o A concessão da subvenção econômica prevista no § 1o deste artigo implica, obrigatoriamente, a assunção de contrapartida pela empresa beneficiária, na forma estabelecida nos instrumentos de ajuste específicos. § 4o O Poder Executivo regulamentará a subvenção econômica de que trata este artigo, assegurada a destinação de percentual mínimo dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT. § 5o Os recursos de que trata o § 4o deste artigo serão objeto de programação orçamentária em categoria específica do FNDCT, não sendo obrigatória sua aplicação na destinação setorial originária, sem prejuízo da alocação de outros recursos do FNDCT destinados à subvenção econômica. Art. 20. Os órgãos e entidades da administração pública, em matéria de interesse público, poderão contratar empresa, consórcio de empresas e entidades nacionais de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, de reconhecida capacitação tecnológica no setor, visando à realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, que envolvam risco tecnológico, para solução de problema técnico específico ou obtenção de produto ou processo inovador. § 1o Considerar-se-á desenvolvida na vigência do contrato a que se refere o caput deste artigo a criação intelectual pertinente ao seu objeto cuja proteção seja requerida pela empresa contratada até 2 (dois) anos após o seu término. § 2o Findo o contrato sem alcance integral ou com alcance parcial do resultado almejado, o órgão ou entidade contratante, a seu exclusivo critério, poderá, mediante auditoria técnica e financeira, prorrogar seu prazo de duração ou elaborar relatório final dando-o por encerrado. § 3o O pagamento decorrente da contratação prevista no caput deste artigo será efetuado proporcionalmente ao resultado obtido nas atividades de pesquisa e desenvolvimento pactuadas. [...] Art. 28. A União fomentará a inovação na empresa mediante a concessão de incentivos fiscais com vistas na consecução dos objetivos estabelecidos nesta Lei. Parágrafo único. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional, em até 120 (cento e vinte) dias, contados da publicação desta Lei, projeto de lei para atender o previsto no caput deste artigo.

Como se observa, estes artigos estabelecem que a União, as ICTs e as

agências de fomento, por meio de parcerias, subvenções econômicas e

financiamentos, disponibilizarão recursos financeiros, humanos, materiais e

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infraestrutura para as empresas que se dedicarem à pesquisa e ao desenvolvimento

de produtos e processos, desde que atendidas as prioridades da política industrial e

tecnológica nacional.

e) Apropriação de tecnologias: A norma de apropriação de tecnologias diz

respeito ao cumprimento do princípio constitucional de que as tecnologias devem ser

primeiramente apropriadas em favor do setor produtivo nacional, conforme

estabelece o art. 12.

Art. 12. É vedado a dirigente, ao criador ou a qualquer servidor, militar, empregado ou prestador de serviços de ICT divulgar, noticiar ou publicar qualquer aspecto de criações de cujo desenvolvimento tenha participado diretamente ou tomado conhecimento por força de suas atividades, sem antes obter expressa autorização da ICT.

Esse artigo trata da restrição ao princípio da liberdade de conhecimento, uma

vez que a Constituição Federal impõe apropriação em favor da comunidade

nacional, ou seja, quem pagou pelo processo criativo, neste caso a ICT, pode

apropriar-se de seus resultados.

Diante do exposto, pode-se concluir que a Lei da Inovação é um conjunto de

medidas que incentiva a cooperação entre Instituições de Ciência e Tecnologia

(ICTs), universidades, pesquisadores e empresas na busca pelo desenvolvimento de

projetos tecnológicos que tornem nossos produtos competitivos no mercado interno

e externo, capacitando o capital intelectual do país.

3.3.2 Lei de Informática (Lei nº 11.077/2004)

No final de 2004, o Governo Federal sancionou a Lei nº 11.077, que substituiu

a Lei nº 10.176/01, alterou a Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991, a Lei nº 8.387,

de 30 de dezembro de 1991, e a Lei nº 10.176, de 11 de janeiro de 2001, além de

dispor sobre a capacitação e competitividade do setor de informática e automação e

dar outras providências.

Através dessa Lei, concede-se incentivo fiscal às empresas que investem em

pesquisa e desenvolvimento no país, localizadas fora da Zona Franca de Manaus,

mediante o desconto no recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados

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(IPI) referente ao produto a ser fabricado no Brasil. Os produtos passíveis de

incentivo constam no Decreto nº 6.405, de 19/03/2008. A Lei não obriga que os

produtos fabricados no Brasil sejam desenvolvidos aqui, mas sua reedição criou um

adicional para produtos cujo desenvolvimento é feito localmente, o art. 4º, § 5º e 7º

da Lei de Informática:

Art. 4º. As empresas de desenvolvimento ou produção de bens e serviços de informática e automação que investirem em atividades de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação farão jus aos benefícios de que trata a Lei no 8.191, de 11 de junho de 1991. [...] § 5o O disposto no § 1o-A deste artigo não se aplica a microcomputadores portáteis e às unidades de processamento digitais de pequena capacidade baseadas em microprocessadores, de valor até R$ 11.000,00 (onze mil reais), bem como às unidades de discos magnéticos e ópticos, aos circuitos impressos com componentes elétricos e eletrônicos montados, aos gabinetes e às fontes de alimentação, reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinados a tais equipamentos, que observarão os seguintes percentuais: I - redução de 95% (noventa e cinco por cento) do imposto devido, de 1o de janeiro de 2004 até 31 de dezembro de 2014; II - redução de 90% (noventa por cento) do imposto devido, de 1o de janeiro até 31 de dezembro de 2015; III - redução de 70% (setenta por cento) do imposto devido, de 1o de janeiro de 2016 até 31 de dezembro de 2019, quando será extinto. [...] § 7o Os benefícios de que trata o § 5o deste artigo aplicam-se, também, aos bens desenvolvidos no País, que sejam incluídos na categoria de bens de informática e automação por esta Lei, conforme regulamento.

Percebe-se que a redação do caput deste artigo continua fiel à redação dada

pela Lei nº 8.248/91, porém os § 5º e 7º sofreram alterações, adicionando incentivos

aos produtos fabricados no país.

A empresa pode obter redução de 80% do IPI do produto incentivado (esta

regra vale até 2014, sendo reduzido o percentual após esta data). Uma observação

necessária é de que o incentivo é somente para hardwares, os softwares não são

incentivados pela Lei, já que não há incidência de IPI sobre eles, que são protegidos

pela Lei nº 9.609/98 (Propriedade Intelectual de Programa de Computador).

Ressalta-se que o investimento a ser feito pela empresa como contrapartida,

até o ano de 2014, é de 4% do faturamento anual dos produtos incentivados,

descontados os impostos de comercialização (COFINS, PIS, ICMS, IPI). Existem

regras para que sejam descontados também valores referentes à exportação de

produtos e à compra de produtos incentivados.

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Essas regras determinam que o modo como o investimento deve ser feito

varie em função do faturamento da empresa: para empresas, cujo faturamento bruto

anual é inferior a R$ 15 milhões, o investimento pode ser feito dentro da própria

empresa; para empresas, cujo faturamento bruto anual é superior a R$ 15 milhões,

tal investimento deverá ser feito na seguinte proporção: 2,16% podem ser investidos

na própria empresa e 1,84% deverá ser investido externamente.

As empresas interessadas em usufruir dos benefícios da Lei da Informática

deverão submeter seus pedidos ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que é o

órgão responsável pela concessão ou não do incentivo. A solicitação deverá ser

instruída com detalhes do projeto de pesquisa que a empresa pretende conduzir

como contrapartida e informações gerais sobre a empresa e o processo de

fabricação. Os investimentos em P&D deverão ser comprovados por meio de

Relatório Demonstrativo de Resultados, encaminhado ao MCT anualmente,

contendo as informações referentes ao faturamento da empresa e aos investimentos

conduzidos.

3.3.3 Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005)

A Lei nº 11.196, de 21/11/2005, regulamentada por meio do Decreto nº 5.798,

de 07/06/2006, conhecida como Lei do Bem, trata de incentivos fiscais para pessoas

jurídicas que realizam pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica.

Esta Lei faz parte do plano de promover a inovação no país e pode ser

aplicada a todas as empresas, independente de área de atuação, desde que estas

invistam em P&D para inovação ou aperfeiçoamento de produtos e processos. A

estas empresas são concedidos incentivos fiscais que compreendem deduções no

Imposto de Renda (IR) e na Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Existe

também a possibilidade de dedução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)

para empresas que investirem na compra de equipamentos para P&D.

O que diferencia a Lei do Bem das leis anteriores é o fato de que a empresa

não necessita de uma aprovação prévia do(s) seu(s) projeto(s) de pesquisa para ter

o direito de acesso aos benefícios fiscais. Conforme o Decreto nº 5.798/2006, a

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empresa interessada deverá informar, até o dia 31 de julho de cada ano, ao

Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, por meio de formulário eletrônico

disponibilizado no site do Ministério, sobre o desenvolvimento dos seus projetos de

inovação tecnológica.

3.3.4 Lei Rouanet de Pesquisa (Lei nº 11.487/2007)

Conhecida como Lei Rouanet de Pesquisa, a Lei nº 11.487/2007 altera a Lei

nº 11.196/2005 (Lei do Bem), para incluir novo incentivo à inovação tecnológica e

modificar as regras relativas à amortização acelerada para investimentos vinculados

à pesquisa e ao desenvolvimento.

Pode-se afirmar que objetivo da Lei é aproximar as instituições científicas e

tecnológicas das empresas. Se hoje as universidades são consideradas referência

na pesquisa aplicada, o potencial de gerar propriedade intelectual tende a aumentar

no momento em que houver uma aproximação maior entre a universidade e o setor

produtivo.

Para o Ministério da Educação, a nova Lei estabelece critérios do direito de

propriedade intelectual: empresas que investirem em pesquisa receberão isenção

fiscal proporcional ao direito de propriedade. Quanto menor a isenção fiscal, maior é

o direito da empresa sobre a pesquisa e vice-versa. As instituições científicas e

tecnológicas, por exemplo, terão sempre um percentual da propriedade intelectual,

que será de 15%, no mínimo, e 83%, no máximo. Pela Lei, podem participar

instituições científicas ou tecnológicas, como universidades, institutos e laboratórios

(<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9463>).

Ao incluir a isenção fiscal para empresas que atuarem em parceria com

instituições científicas e tecnológicas (ICTs), a Lei Rouanet de Pesquisa modifica a

“Lei do Bem”. De acordo com o editorial do Jornal O Estado de São Paulo (2007), a

Lei Rouanet de Pesquisa permite a pessoas físicas e jurídicas deduzir um percentual

do Imposto de Renda para investir em projetos culturais devidamente aprovados por

comissões de especialistas. O objetivo dessa medida é aumentar a produção

nacional de ciência e tecnologia, elevar o número de patentes registradas e

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comercializadas e, assim, agregar mais valor aos bens e serviços exportados pelo

país.

3.4 Leis de Proteção Intelectual

Duas das razões que levaram os países da OMC (em torno de 148) a

fortalecer e padronizar os direitos de propriedade intelectual foram o processo de

globalização e o crescimento dos custos de pesquisa para o desenvolvimento de

novas tecnologias, produtos e processos. O Acordo sobre os Aspectos da

Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio – TRIPs, firmado entre a OMPI

(Organização Mundial da Propriedade Intelectual) e a OMC (Organização Mundial

de Comércio), que entrou em vigor em janeiro de 1995, fez com que o Brasil

assumisse o compromisso de criar normas relativas à propriedade intelectual,

envolvendo invenções, modelos de utilidade, desenhos industriais, marcas, direito

autoral e demais formas de criação do intelecto humano a fim de proteger

pesquisadores e instituições de pesquisa, públicas ou privadas. Frente a este

panorama, foi sancionada, em maio de 1996, a Lei da Propriedade Industrial (Lei nº

9.279).

Segundo definição da OMPI, propriedade intelectual é:

“A soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico”. (<http://www.wipo.int>).

Considerando-se a propriedade intelectual como gênero, identificam-se três

subáreas: direito autoral, propriedade industrial e obtenção de cultivares. Fazem

parte dos direitos autorais as obras literárias e artísticas, os programas de

computador, os domínios na internet e a cultura imaterial. A propriedade industrial

inclui as marcas, patentes, os desenhos industriais, as indicações geográficas e

proteção de cultivares, conforme demonstração a seguir:

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FIGURA 6 - Organograma da Propriedade Intelectual

Fonte: Elaborado pela a autora.

No Brasil, o órgão responsável por registros de marcas, concessão de

patentes, averbação de contratos de transferência de tecnologia e de franquia

empresarial, registros de programas de computador, desenho industrial e indicações

é o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), uma autarquia federal

vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, criada

pela Lei nº 5.648, de 11 de dezembro de 1970.

O registro de obras intelectuais, de acordo com a Lei nº 9.610/98, dá-se

perante a Fundação Biblioteca Nacional - Escritório de Direitos Autorais e tem por

finalidade assegurar ao autor direitos sobre sua obra. O registro permite o

reconhecimento da autoria, especifica direitos morais e patrimoniais e estabelece

prazos de proteção tanto para o titular quanto para seus sucessores.

Quanto à concessão da proteção de cultivares, esta poderá ser obtida por

meio da concessão de Certificado de Proteção de Cultivar, concedido pelo Serviço

Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), vinculado ao Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Considerando-se a especificidade das espécies da PI, é necessário descrevê-

las individualmente.

PROPRIEDADE INTELECTUAL

Propriedade Industrial

Lei 2.979/96

Direito Autoral Lei 9.610/98

Cultivares Lei 9.456/97

Patentes de Invenção (PI) e

Patentes de Modelo de

Utilidade (MU)

Modelos e Desenhos Industriais

Marcas Indicações Geográficas

Software Lei 9.609/98

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3.4.1 Lei do Software (Lei nº 9.609/1998)

A Lei do Software dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de

programa de computador e sua comercialização no País. Para uma melhor

compreensão da Lei, o art. 1º explica o que é um “programa de computador”:

Art. 1º. Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.

O art. 2º esclarece qual é o objeto de proteção da Lei do Software:

Art. 2º. O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. § 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação. § 2º Fica assegurada a tutela dos direitos relativos a programa de computador pelo prazo de cinqüenta anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subseqüente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação. § 3º A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro. § 4º Os direitos atribuídos por esta Lei ficam assegurados aos estrangeiros domiciliados no exterior, desde que o país de origem do programa conceda, aos brasileiros e estrangeiros domiciliados no Brasil, direitos equivalentes. § 5º Inclui-se dentre os direitos assegurados por esta Lei e pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País aquele direito exclusivo de autorizar ou proibir o aluguel comercial, não sendo esse direito exaurível pela venda, licença ou outra forma de transferência da cópia do programa. § 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos casos em que o programa em si não seja objeto essencial do aluguel.

Por meio da interpretação do art. 2º e seus parágrafos, conclui-se que a

proteção à criação do programa de computador é a mesma conferida pela Lei de

Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98), ou seja, quando existirem lacunas na Lei nº

9.609/98, estas poderão ser sanadas por meio da aplicação da Lei nº 9.610/98.

De acordo com o §2º do art. 2º da Lei do Software, os direitos de titularidade

sobre a autoria de um programa de computador são vigentes durante o prazo de 50

(cinquenta) anos, a contar do dia 1º de Janeiro do ano subsequente ao da sua

publicação ou da sua criação.

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Quanto à titularidade sobre o programa de computador, salvo estipulação em

contrário das partes, ela será sempre do contratante que pactua com o prestador de

serviço para sua produção, bem como do empregador, durante a vigência de um

contrato, ou quando a própria natureza do serviço enseje um vínculo

empregador/empregado, inclusive em relação a bolsistas, estagiários e

assemelhados, conforme podemos observar no art. 4º e §:

Art. 4º. Salvo estipulação em contrário, pertencerão exclusivamente ao empregador, contratante de serviços ou órgão público, os direitos relativos ao programa de computador, desenvolvido e elaborado durante a vigência de contrato ou de vínculo estatutário, expressamente destinado à pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividade do empregado, contratado de serviço ou servidor seja prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza dos encargos concernentes a esses vínculos. § 1º Ressalvado ajuste em contrário, a compensação do trabalho ou serviço prestado limitar-se-á à remuneração ou ao salário convencionado. § 2º Pertencerão, com exclusividade, ao empregado, contratado de serviço ou servidor os direitos concernentes a programa de computador gerado sem relação com o contrato de trabalho, prestação de serviços ou vínculo estatutário, e sem a utilização de recursos, informações tecnológicas, segredos industriais e de negócios, materiais, instalações ou equipamentos do empregador, da empresa ou entidade com a qual o empregador mantenha contrato de prestação de serviços ou assemelhados, do contratante de serviços ou órgão público. § 3º O tratamento previsto neste artigo será aplicado nos casos em que o programa de computador for desenvolvido por bolsistas, estagiários e assemelhados.

Na utilização de qualquer programa de computador, a garantia de legalidade

é o contrato de licença de uso ou, na sua falta, o documento fiscal comprobatório

correspondente, conforme rege o art. 7º da Lei. Caso contrário, o detentor do direito

autoral deverá ser indenizado:

Art. 7º. O contrato de licença de uso de programa de computador, o documento fiscal correspondente, os suportes físicos do programa ou as respectivas embalagens deverão consignar, de forma facilmente legível pelo usuário, o prazo de validade técnica da versão comercializada.

Outro aspecto importante, ressalvado pela Lei, é a possibilidade de

transferência de tecnologia, além dos contratos de licença de uso e comercialização,

conforme rege o art. 11, parágrafo único da Lei:

Art. 11. Nos casos de transferência de tecnologia de programa de computador, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial fará o registro dos respectivos contratos, para que produzam efeitos em relação a terceiros. Parágrafo único. Para o registro de que trata este artigo, é obrigatória a entrega, por parte do fornecedor ao receptor de tecnologia, da documentação completa, em especial do código-fonte comentado, memorial

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descritivo, especificações funcionais internas, diagramas, fluxogramas e outros dados técnicos necessários à absorção da tecnologia.

No Capítulo V – Das Infrações e Das Penalidades, o art. 12 da Lei deixa claro

que a violação ao direito do autor de programa de computador está sujeita à sanção

criminal:

Art. 12. Violar direitos de autor de programa de computador: Pena - Detenção de seis meses a dois anos ou multa. § 1º Se a violação consistir na reprodução, por qualquer meio, de programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente: Pena - Reclusão de um a quatro anos e multa. § 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, introduz no País, adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, produzido com violação de direito autoral. § 3º Nos crimes previstos neste artigo, somente se procede mediante queixa, salvo: I - quando praticados em prejuízo de entidade de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo poder público; II - quando, em decorrência de ato delituoso, resultar sonegação fiscal, perda de arrecadação tributária ou prática de quaisquer dos crimes contra a ordem tributária ou contra as relações de consumo. § 4º No caso do inciso II do parágrafo anterior, a exigibilidade do tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, processar-se-á independentemente de representação.

Os avanços da informática exigem do direito uma legislação pertinente, para

assegurar a garantia dos preceitos fundamentais de ordem intelectual.

3.4.2 Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998)

No Brasil, os direitos autorais e conexos são regulados atualmente pela Lei nº

9.610, de 19 de fevereiro de 1998 e assim como a Lei que a que antecedeu, a Lei nº

5.988/73, dispõe em seu art. 1º: “Esta lei regula os direitos autorais, entendendo-se

sob esta denominação, os direitos de autor e os que lhe são conexos”.

Bittar (2005, p. 8) define direito do autor como “um ramo do Direito Privado

que regula as relações jurídicas advindas da criação e da utilização econômica de

obras intelectuais estéticas compreendidas na literatura, nas artes e nas ciências”.

Lendo o art. 7º da Lei nº 9.610/98, encontram-se as obras intelectuais que são

protegidas: "as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em

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qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”. Nos

incisos lista-se o rol exemplificativo das criações protegidas.

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual. § 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica, observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis. § 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou materiais contidos nas obras. § 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade imaterial.

Para Cabral (2003, p. 26), “a lei protege as criações do espírito, o que é

consenso universal. A obra criativa não se confunde com a invenção técnica, que

recebe outra proteção legal”. Nesse mesmo sentido, o autor ainda afirma que “ fica

bem claro que a lei protege a manifestação concreta da criação literária, científica

ou artística – a sua expressão formal, porém sem limites de formas ou meios de

fixação, existentes ou que venham a existir no futuro” (p. 26).

Como a lista do art. 7º é exemplificativa, o art. 8º da Lei estabelece o que não

pode ser objeto de proteção de direitos autorais:

Art. 8º. Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: I - as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos como tais; II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios; III - os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções;

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IV - os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais; V - as informações de uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; VI - os nomes e títulos isolados; VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas obras.

Ressalta-se que o surgimento do direito de autor se dá com a criação de uma

obra intelectual (literária, científica ou artística), tenha ela sido registrada ou não. O

art. 18 da Lei nº 9.610/98 prevê que “A proteção aos direitos de que trata esta Lei

independe de registro”, isto é, o registro é facultativo e meramente declaratório não

constituindo uma obrigação do autor.

No que tange aos direitos autorais, estes são divididos em: direitos morais de

autor, considerados direitos de personalidade, pois a obra intelectual, como criação

de espírito, vincula-se à personalidade de seu criador; e direitos patrimoniais,

considerados como direitos reais do autor, sendo: alienável; penhorável; temporário;

prescritível.

Os direitos morais de autor são considerados indisponíveis, intransmissíveis e

irrenunciáveis, como podemos verificar no art. 27 da Lei de Direitos Autorais:

Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis.

Diante do exposto, pode-se dizer que no direito autoral, há proteção da

identificação pessoal da obra, da autenticidade da obra e da autoria da obra.

Enquanto que, segundo a doutrina, o direito patrimonial confere ao autor da obra

intelectual o privilégio de receber remuneração pela exploração econômica da obra.

A obra poderá ser explorada pelo próprio autor ou por pessoa por ele autorizada em

contrato.

A Lei de Direitos Autorais contempla os direitos patrimoniais do autor nos arts.

28 a 45, que tratam de normas gerais sobre direitos patrimoniais de autor e sua

duração.

Destacam-se os artigos 28 e 29 da Lei nº 9.610/98, quanto aos direitos

patrimoniais:

Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica. Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

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I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição; III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV - a tradução para qualquer idioma; V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual; VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário; VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante: a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical; c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência coletiva; f) sonorização ambiental; g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais; i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas; IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero; X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas.

Enquanto o art. 28 traz a definição exata da exclusividade do autor, o art. 29

demonstra como na prática é aplicada essa exclusividade. Dessa forma, é possível

compreender que o direito autoral foi construído com base em uma concepção de

proteção através da exclusão. O autor é protegido no sentido de que ninguém pode

utilizar uma obra autoral sem a sua autorização prévia.

De regra, tudo o que versar sobre direitos autorais necessita da autorização

do detentor dos direitos patrimoniais, porém a própria Lei nº 9.610/98 apresenta um

rol taxativo de hipóteses em que autoriza o uso sem consulta prévia ao autor, no art.

46:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução: a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos; b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada ou de seus

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herdeiros; d) de obras literárias ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso provado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro; III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de quem as ministrou; V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização; VI- a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para produzir prova judiciária ou administrativa; VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores.

Outro aspecto relevante da Lei de Direitos Autorais é a duração dos direitos

patrimoniais do autor, conforme podemos observar no art. 41 e seguintes da Lei:

Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil. Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.

Neste caso, os sucessores do autor da obra perdem os direitos autorais

adquiridos setenta anos após a morte do mesmo, dependendo do tipo de obra

protegida.

Nos arts. 101 a 110 da Lei nº 9.610/98, constam sanções cíveis aplicáveis no

caso de violações de direitos autorais, sem prejuízo das sanções penais, quando

cabíveis. No caso de violação de direito autoral, conforme o caso, pode caber

aplicação de sanção penal, prevista nos arts. 184 a 186 do Código Penal Brasileiro

que cuida dos crimes contra a propriedade imaterial.

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3.4.3 Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9.456/1997)

A Lei de Proteção de Cultivares (LPC), sancionada em 25/04/1997, é uma

forma de proteção intelectual dos direitos de criação do pesquisador. O objetivo da

Lei é incentivar pesquisadores a desenvolverem pesquisas na área vegetal, visando

a melhorar a genética das plantas em geral.

Segundo Santos e Jabur (2007, p. 316) “o art. 2º da Lei de Proteção de

Cultivares estabelece, desde logo, o âmbito de incidência da proteção, nos

seguintes termos”:

Art. 2º. A proteção dos direitos relativos à propriedade intelectual referente a cultivar se efetua mediante a concessão de Certificado de Proteção de Cultivar, considerado bem móvel para todos os efeitos legais e única forma de proteção de cultivares e de direito que poderá obstar a livre utilização de plantas ou de suas partes de reprodução ou de multiplicação vegetativa, no País.

A Lei de Proteção de Cultivares concede direitos de propriedade intelectual

àquele que obtiver uma cultivar ou espécie de planta melhorada devido à alteração

ou introdução de uma característica nova, não-existente anteriormente. A Lei

impede, durante determinado período, a comercialização de variedades vegetais por

terceiros não autorizados, assim como de seu material de reprodução comercial em

todo o território brasileiro, conforme rege o art. 9º da Lei nº 9.456/97:

Art. 9º. A proteção assegura a seu titular o direito à reprodução comercial no território brasileiro, ficando vedados a terceiros, durante o prazo de proteção, a produção com fins comerciais, o oferecimento à venda ou a comercialização, do material de propagação da cultivar, sem sua autorização.

Com o advento dessa Lei, o uso, pelo produtor de sementes, de uma cultivar

protegida, somente poderá ser feito mediante prévia autorização do criador da

cultivar, que poderá ou não exigir o pagamento de royalties pela sua exploração

comercial, não ferindo o direito de propriedade sobre a cultivar:

Art. 10. Não fere o direito de propriedade sobre a cultivar protegida aquele que: I - reserva e planta sementes para uso próprio, em seu estabelecimento ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha; II - usa ou vende como alimento ou matéria-prima o produto obtido do seu plantio, exceto para fins reprodutivos; III - utiliza a cultivar como fonte de variação no melhoramento genético ou na pesquisa científica;

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V - sendo pequeno produtor rural, multiplica sementes, para doação ou troca, exclusivamente para outros pequenos produtores rurais, no âmbito de programas de financiamento ou de apoio a pequenos produtores rurais, conduzidos por órgãos públicos ou organizações não-governamentais, autorizados pelo Poder Público.

A exclusividade concedida pela Lei de Proteção de Cultivares não impede o

uso, pela pesquisa, da cultivar protegida para obtenção de novas cultivares por

terceiros, mesmo sem autorização do detentor do direito, como o que geralmente

ocorre nas legislações sobre patentes.

Em geral, o período de proteção da cultivar é de 15 anos, contados da data

da expedição do Certificado Provisório de Proteção. Porém, para árvores frutíferas,

florestais e ornamentais, este prazo aumenta para 18 anos, conforme o art. 11 da

Lei de Cultivares:

Art. 11. A proteção da cultivar vigorará, a partir da data da concessão do Certificado Provisório de Proteção, pelo prazo de quinze anos, excetuadas as videiras, as árvores frutíferas, as árvores florestais e as árvores ornamentais, inclusive, em cada caso, o seu porta-enxerto, para as quais a duração será de dezoito anos.

No Brasil, o órgão responsável pela proteção de cultivares é o Serviço

Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), vinculado ao Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento – MAPA, que deve observar a aplicação da Lei nº

9.456/97, analisar pedidos, conceder certificados de proteção e zelar pelo

cumprimento dos ordenamentos internacionais.

Com o advento da Lei de Proteção de Cultivares, houve um salto dos

investimentos privados na pesquisa agrícola. Porém, na grande maioria das vezes,

os investimentos do setor privado visam apenas às culturas de exportação, como a

soja e o algodão, sem atender as demandas dos pequenos agricultores.

3.4.4 Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/1996)

Regulamentada pelo Decreto nº 2.553/98, a Lei de Propriedade Industrial é

mais conhecida como Lei de Patentes e regula os direitos e obrigações relativos à

propriedade industrial do país. Conforme demonstrado na Figura 6, a propriedade

industrial faz parte de um ramo mais amplo do direito, denominado propriedade

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intelectual. É subdividida em 7 (sete) títulos: Patentes, Desenhos Industriais,

Marcas, Indicações Geográficas, Crimes Contra a Propriedade Industrial,

Transferência de Tecnologia e Franquia. O órgão executor dessa legislação é o

INPI.

Segundo o INPI, foi a Convenção da União de Paris - CUP, de 1883, que deu

origem ao hoje denominado Sistema Internacional da Propriedade Industrial, sendo

ainda, a primeira tentativa de uma harmonização internacional dos diferentes

sistemas jurídicos nacionais relativos à propriedade industrial. Posteriormente, em

1995, surge o Acordo sobre os Aspectos da Propriedade Intelectual Relativos ao

Comércio – TRIPs, firmado entre a Organização Mundial da Propriedade Intelectual

(OMPI) e a Organização Mundial de Comércio (OMC).

A Convenção de Paris foi elaborada de modo a permitir razoável grau de

flexibilidade às legislações nacionais, desde que fossem respeitados alguns

princípios fundamentais. Tais princípios são de observância obrigatória pelos países

signatários. Cria-se um "território da União", constituído pelos países contratantes,

onde se aplicam os princípios gerais de proteção aos direitos de propriedade

industrial (INPI).

Segundo os arts. 1º e 2º da Convenção de Paris de 1883, propriedade

industrial é o conjunto de direitos que compreende as patentes de invenção, os

modelos de utilidade, os desenhos ou modelos industriais, as marcas de fábrica ou

de comércio, as marcas de serviço, o nome comercial e as indicações de

proveniência ou denominações de origem, bem como a repressão da concorrência

desleal.

ARTIGO 1.º

1) Os países a que se aplica a presente Convenção constituem-se em União para a protecção da propriedade industrial. 2) A protecção da propriedade industrial tem por objecto as patentes de invenção, os modelos de utilidade, os desenhos ou modelos industriais, as marcas de fábrica ou de comércio, as marcas de serviço, o nome comercial e as indicações de proveniência ou denominações de origem, bem como a repressão da concorrência desleal. 3) A propriedade industrial entende-se na mais larga acepção e aplica-se não só à indústria e ao comércio propriamente ditos, mas também às indústrias agrícolas e extractivas e a todos os produtos fabricados ou naturais, por exemplo: vinhos, grãos, tabaco em folha, frutos, animais, minérios, águas minerais, cervejas, flores, farinhas.

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4) Entre as patentes de invenção compreendem-se as diversas espécies de patentes industriais admitidas nas legislações dos países da União, tais como patentes de importação, patentes de aperfeiçoamento, patentes e certificados de adição, etc. ARTIGO 2.º 1) Os nacionais de cada um dos países da União gozarão em todos os outros países da União, no que respeita à protecção da propriedade industrial, das vantagens que as leis respectivas concedem actualmente ou venham a conceder no futuro aos nacionais, sem prejuízo dos direitos especialmente previstos na presente Convenção. Por consequência, terão a mesma protecção que estes e o mesmo recurso legal contra qualquer ofensa dos seus direitos, desde que observem as condições e formalidades impostas aos nacionais. 2) Nenhuma condição de domicílio ou de estabelecimento no país em que a protecção é reclamada pode, porém, ser exigida dos nacionais de países da União para o efeito de gozarem de qualquer dos direitos de propriedade industrial. 3) Ressalvam-se expressamente as disposições da legislação de cada um dos países da União relativas ao processo judicial e administrativo e à competência, bem como à escolha de domicílio ou à constituição de mandatário, eventualmente exigidas pelas leis de propriedade industrial.

Já a Lei da Propriedade Industrial em vigor (Lei nº 9.279/96) expressa o

seguinte:

Art. 2° - A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, se efetua mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão à concorrência desleal.

A Lei de Propriedade Industrial regula os direitos e as obrigações da

propriedade industrial, com o objetivo de garantir ao inventor de um novo produto,

processo ou modelo de utilidade com aplicação industrial a propriedade de sua

invenção por um período de tempo, durante o qual, qualquer outro interessado em

fabricar a invenção, com fins comerciais, deverá obter licença do autor e pagar-lhe

royalties. No art. 2º, incisos I a III, o legislador protegeu quatro espécies de bens

imateriais:

Art. 2º. A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de registro de marca;

Nos incisos IV e V, o legislador garantiu a repressão às falsas indicações

geográficas e à concorrência desleal.

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A propriedade industrial é a proteção conferida às invenções, desenhos

industriais, marcas e indicações geográficas que tenham aplicabilidade na indústria

e sejam produzidos em série, atendendo a especificações técnicas, explicitadas a

seguir, de uma forma geral.

a) Invenções: a invenção de um produto ou processo é protegida por meio de

um registro de patente, que pode ser entendido como um título que institui

propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo

Estado aos inventores ou a outras pessoas detentoras de direitos sobre a criação. O

direito de exclusividade que decorre da patente permite ao detentor excluir terceiros

não-autorizados de atos de produção, uso, comercialização, importação, etc.

relativos à invenção ou ao modelo de utilidade.

b) Desenho industrial: o desenho industrial é uma forma plástica ornamental

de um objeto ou o conjunto de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,

proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que

possa servir de tipo de fabricação industrial. Ao titular do registro do desenho

industrial o Estado confere a propriedade temporária sobre sua obra, bem como o

direitos de exclusividade nos mesmos moldes do concedido à patente e aos modelo

de utilidade.

c) Marca: a marca pode ser entendida como todo nome ou sinal distintivo

visualmente perceptível que identifica e distingue produtos e serviços de outros

equivalentes, ou mesmo certifica a conformidade desses produtos ou serviços com

determinadas normas ou especificações técnicas.

d) Indicação geográfica:

• Indicação de procedência: refere-se ao nome geográfico de um

país, cidade, região ou localidade que se tornou conhecido pela

fabricação ou extração de um produto ou pela prestação de um

serviço determinados;

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• Denominação de origem: indica o nome geográfico de um país,

cidade, região ou localidade que disponibiliza ao mercado

produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam

exclusivamente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais ou

humanos.

Consoante o inciso I do art. 2º da Lei 9.279/96, a patente poderá ser de

invenção ou de modelo de utilidade. A patente de invenção está sujeita aos

requisitos do art. 8º da LPI, ou seja, “é patenteável a invenção que atenda aos

requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial”. No que se refere à

novidade, destaca-se a existência de um período de graça. A LPI considera que a

divulgação do invento, quando ocorrida durante os doze meses que precedem a

data de depósito da patente, não fere a novidade promovida pelo inventor, conforme

o art. 12:

Art. 12. Não será considerada como estado da técnica a divulgação de invenção ou modelo de utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze) meses que precederem a data de depósito ou a da prioridade do pedido de patente, se promovida: I - pelo inventor; II - pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos por ele realizados; ou III - por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente do inventor ou em decorrência de atos por este realizados. Parágrafo único. O INPI poderá exigir do inventor declaração relativa à divulgação, acompanhada ou não de provas, nas condições estabelecidas em regulamento.

Ou seja, se a invenção se tornar pública antes do registro, não perde o

caráter de novidade para seu titular, se este efetivar o pedido de registro dentro de

12 meses contados a partir da data da publicação.

A patente de modelo de utilidade é a nova forma ou disposição que resulta

em uma melhoria funcional no uso do objeto ou em sua fabricação, suscetível de

aplicação industrial. Não há, propriamente, invenção, mas acréscimo na utilidade de

alguma ferramenta, instrumento de trabalho ou utensílio pela ação da novidade

parcial que se lhe agrega. Assim, goza de proteção autônoma em relação à

invenção cuja utilidade foi melhorada, estando sujeita aos requisitos do art. 9º da

LPI:

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Art. 9º. É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.

No caso de patente de modelo de utilidade, requer-se novidade, ato inventivo,

melhoria no uso ou fabricação e aplicação industrial para sua validade, porém a

inovação neste modelo é bem menor do que aquela observada quando da patente

de invenção.

Algumas criações não são privilegiáveis, ou seja, sequer são entendidas

como invenções ou modelo de utilidade, nos termos do art. 10 da LPI:

Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

Quanto aos prazos de duração, as patentes de invenção e de modelo de

utilidade possuem prazos diferentes de vigência, conforme art. 40 da LPI:

Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de depósito. Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de modelo de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de força maior.

A patente de invenção tem prazo de duração de 20 anos e a de modelo de

utilidade, de 15 anos, contados a partir do depósito do pedido de patente (data em

que o pedido foi protocolado no INPI). Contudo o prazo de duração do direito

industrial não poderá ser inferior a 10 anos para as invenções, ou 7 anos para os

modelos de utilidade, contados da concessão da patente.

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Atendido o disposto quanto à vigência dos prazos das patentes, não existe

nenhuma hipótese de prorrogação, porém são observadas situações em que o titular

será obrigado a licenciar terceiros na exploração da invenção ou do modelo de

utilidade correspondente. São os casos de concessão de licença compulsória por

abuso de direito, nos termos do art. 68, ou pelo interesse público e emergencial

nacional, nos termos do art. 71, ou ainda nas demais hipóteses expressas no art. 70,

todos da LPI.

Art. 68. O titular ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela praticar abuso de poder econômico, comprovado nos termos da lei, por decisão administrativa ou judicial. § 1º Ensejam, igualmente, licença compulsória: I - a não exploração do objeto da patente no território brasileiro por falta de fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou, ainda, a falta de uso integral do processo patenteado, ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando será admitida a importação; ou II - a comercialização que não satisfizer às necessidades do mercado. § 2º A licença só poderá ser requerida por pessoa com legítimo interesse e que tenha capacidade técnica e econômica para realizar a exploração eficiente do objeto da patente, que deverá destinar-se, predominantemente, ao mercado interno, extinguindo-se nesse caso a excepcionalidade prevista no inciso I do parágrafo anterior. § 3º No caso de a licença compulsória ser concedida em razão de abuso de poder econômico, ao licenciado, que propõe fabricação local, será garantido um prazo, limitado ao estabelecido no art. 74, para proceder à importação do objeto da licença, desde que tenha sido colocado no mercado diretamente pelo titular ou com o seu consentimento. § 4º No caso de importação para exploração de patente e no caso da importação prevista no parágrafo anterior, será igualmente admitida a importação por terceiros de produto fabricado de acordo com patente de processo ou de produto, desde que tenha sido colocado no mercado diretamente pelo titular ou com o seu consentimento. § 5º A licença compulsória de que trata o § 1º somente será requerida após decorridos 3 (três) anos da concessão da patente. [...] Art. 70. A licença compulsória será ainda concedida quando, cumulativamente, se verificarem as seguintes hipóteses: I - ficar caracterizada situação de dependência de uma patente em relação a outra; II - o objeto da patente dependente constituir substancial progresso técnico em relação à patente anterior; e III - o titular não realizar acordo com o titular da patente dependente para exploração da patente anterior. § 1º Para os fins deste artigo considera-se patente dependente aquela cuja exploração depende obrigatoriamente da utilização do objeto de patente anterior. § 2º Para efeito deste artigo, uma patente de processo poderá ser considerada dependente de patente do produto respectivo, bem como uma patente de produto poderá ser dependente de patente de processo. § 3º O titular da patente licenciada na forma deste artigo terá direito a licença compulsória cruzada da patente dependente. Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal, desde que o titular da patente ou seu licenciado não atenda a essa necessidade, poderá ser concedida, de ofício,

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licença compulsória, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular. Parágrafo único. O ato de concessão da licença estabelecerá seu prazo de vigência e a possibilidade de prorrogação.

Nos casos de licença compulsória, o titular da patente deverá ser remunerado

pelo licenciado, uma vez que a intenção não é punir o titular, mas corrigir eventuais

problemas advindos da exclusividade. Após a concessão da primeira licença

compulsória, a LPI, no art. 80, prevê:

Art. 80. Caducará a patente, de ofício ou a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, se, decorridos 2 (dois) anos da concessão da primeira licença compulsória, esse prazo não tiver sido suficiente para prevenir ou sanar o abuso ou desuso, salvo motivos justificáveis. § 1º A patente caducará quando, na data do requerimento da caducidade ou da instauração de ofício do respectivo processo, não tiver sido iniciada a exploração. § 2º No processo de caducidade instaurado a requerimento, o INPI poderá prosseguir se houver desistência do requerente.

Concedida a primeira licença compulsória, a LPI, no art. 80, prevê o prazo de

2 anos para que a exploração econômica da invenção ou modelo de utilidade seja

feita pelo licenciado de forma satisfatória. Passado esse prazo e persistindo a

situação irregular, a patente caduca, o inventor perde a titularidade de todos os

direitos industriais, e a invenção ou modelo de utilidade caem em domínio público.

Quanto à extinção da patente, os arts. 78 e 79 da LPI prevêem:

Art. 78. A patente extingue-se: I - pela expiração do prazo de vigência; II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros; III - pela caducidade; IV - pela falta de pagamento da retribuição anual, nos prazos previstos no § 2º do art. 84 e no art. 87; e V - pela inobservância do disposto no art. 217. Parágrafo único. Extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público. Art. 79. A renúncia só será admitida se não prejudicar direitos de terceiros.

Então, a patente extingue-se pelo término do prazo de duração, pela renúncia

de seu titular aos direitos industriais, que somente poderá ser feita se não prejudicar

terceiros (por exemplo, os licenciados), pela caducidade, pela falta de pagamento da

taxa de retribuição anual devida ao INPI e pela falta de representante no Brasil,

quando o titular for domiciliado no exterior.

A modalidade de desenho industrial diz respeito à forma dos objetos,

especificidades que permitem sua imediata identificação, com caráter meramente

estético. O art. 95 da LPI define desenho industrial:

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Art. 95. Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial.

Percebe-se, a partir da leitura do artigo, que o desenho industrial possui

caráter ornamental e funcional, não requerendo atividade inventiva como na patente,

mas requerendo um resultado visual novo e original.

O registro de desenho industrial é um título de propriedade temporária,

outorgado pelo Estado aos autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras

de direitos sobre a criação. Durante o prazo de vigência do registro, o titular tem o

direito de excluir terceiros de atos relativos à matéria protegida, tais como

fabricação, comercialização, importação, uso, venda, etc.

Para o registro de desenho industrial, os requisitos estão contemplados nos

arts. 96 97 e 98 da LPI, quais sejam: a novidade, a originalidade, a utilidade

industrial e o desimpedimento.

Art. 96. O desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no estado da técnica. § 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo e no art. 99. § 2º Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido de patente ou de registro depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado como incluído no estado da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente. § 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12.

Como primeiro requisito, depreende-se que o desenho industrial deve ser

novo, isto é, não compreendido no estado da técnica. A forma criada deve propiciar

um resultado visual inédito, desconhecido dos técnicos da área. Há também o direito

de prioridade, que, neste caso, é de 6 meses.

Art. 97. O desenho industrial é considerado original quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores. Parágrafo único. O resultado visual original poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos.

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Quanto à originalidade, deve apresentar uma configuração visual diferente em

relação a outros objetos anteriores, enquanto a novidade é entendida como uma

questão técnica, por isso, define o art. 98 da LPI:

Art. 98. Não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter puramente artístico.

Não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter puramente

artístico, pois esta pode ser protegida pelo Direito Autoral. Assim, é necessário que o

desenho industrial tenha aplicabilidade industrial.

A LPI apresenta situações em que não é possível o registro de desenho

industrial, conforme elenca o art. 100:

Art. 100. Não é registrável como desenho industrial: I - o que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimentos dignos de respeito e veneração; II - a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.

Uma vez preenchidos os requisitos da lei, o registro é concedido

automaticamente, sem qualquer exame de mérito, contudo, pode o titular do

desenho industrial requerer o exame do objeto do registro, nos termos do art. 111 da

LPI:

Art. 111. O titular do desenho industrial poderá requerer o exame do objeto do registro, a qualquer tempo da vigência, quanto aos aspectos de novidade e de originalidade. Parágrafo único. O INPI emitirá parecer de mérito, que, se concluir pela ausência de pelo menos um dos requisitos definidos nos arts. 95 a 98, servirá de fundamento para instauração de ofício de processo de nulidade do registro.

Por tal razão, é aconselhável que o interessado no registro de um desenho

industrial realize uma busca prévia para evitar o risco de obter a concessão de um

registro, já existindo outro pedido anterior de terceiros, que poderá levar à nulidade

do registro posteriormente, se questionado administrativamente ou em juízo.

Quanto à vigência do registro, o art. 108 da LPI dispõe:

Art. 108. O registro vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos contados da data do depósito, prorrogável por 3 (três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada.

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§ 1º O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano de vigência do registro, instruído com o comprovante do pagamento da respectiva retribuição. § 2º Se o pedido de prorrogação não tiver sido formulado até o termo final da vigência do registro, o titular poderá fazê-lo nos 180 (cento e oitenta) dias subseqüentes, mediante o pagamento de retribuição adicional.

Então o prazo de vigência do registro do desenho industrial é de dez anos, a

partir da data do depósito, prorrogável por até três períodos sucessivos de cinco

anos cada, depois disso, caí em domínio público.

Diferentemente dos desenhos industriais, as marcas têm como função

identificar um produto, garantir a qualidade e a distinção dos demais, além de,

indiretamente, servir como meio de publicidade. Para que a marca possa ser

registrada no INPI, deve atender aos requisitos da novidade relativa e da não-

coincidência com marca notória, além de não integrar o rol de impedimentos do art.

124 da LPI, como por exemplo, as marcas oficiais do Estado, o nome civil, etc.,

salvo autorização pelo seu titular.

De regra, a proteção da marca restringe-se à classe a que pertence. O

enquadramento das marcas pelo INPI se dá de acordo com a Classificação

Internacional de Produtos e Serviços (Classificação de Nice). A classificação

internacional só foi adotada pelo INPI a partir de janeiro de 2000, pois até então vigia

o classificador brasileiro, que diferentemente do atual, na sua 9ª edição, permitia o

enquadramento em classes e subclasses, de acordo com o produto ou serviço

específicos. Desta forma, o titular do registro de uma marca terá direito à sua

exploração exclusiva nos limites fixados por esta classificação, não podendo opor-se

à utilização de marca idêntica ou semelhante por outro empresário em atividade que

não se enquadra na classe em que o titular obteve o seu registro. Porém o art. 125

da LPI traz uma exceção à regra:

Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade.

Assim, quando se tratar de marca de alto renome, esta terá assegurada

proteção especial em todos os ramos de atividade. O registro de determinada marca

na categoria de alto renome é ato discricionário do INPI, sendo assim, insuscetível

de revisão pelo Poder Judiciário, senão quanto aos seus aspectos formais, em vista

da tripartição constitucional dos poderes do Estado.

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Salienta-se que marca de alto renome e marca notória não são sinônimos. O

art. 126 da LPI, que trata das marcas notoriamente conhecidas e traz a possibilidade

de serem protegidas independente de registro, refere-se apenas ao ramo de

atividade que as marcas se destinam:

Art. 126. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil. § 1º A proteção de que trata este artigo aplica-se também às marcas de serviço. § 2º O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida.

Segundo o art. 122 da LPI, as marcas podem-se apresentar das seguintes

formas: nominativas (o nome por si só); figurativas (desenho ou figura); mistas

(expressão mais a figura); tridimensionais (em três dimensões).

A LPI, no art. 123, incisos II e III, introduziu, além da marca de produtos e

serviços, duas outras categorias de marcas: marca de certificação e marca coletiva:

Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa; II - marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade.

Para exemplificar marca de certificação, pode-se citar a Fundação ABRINQ e

a ISO, e como exemplo de marca coletiva, a Holambra, que é uma cidade localizada

numa das regiões mais ricas e desenvolvidas tecnologicamente do país, a Região

Metropolitana de Campinas (RMC), possuindo atualmente cerca de 10 mil habitantes

e indicadores sociais e econômicos de primeiro mundo. O nome da cidade é a

junção de Holanda, América e Brasil, e se dá em virtude da colônia neerlandesa que

se firmou na antiga fazenda Ribeirão. A cidade destaca-se por ter o sétimo melhor

índice de qualidade de vida do Brasil e o melhor índice de segurança do país. Com

mão-de-obra qualificada no setor agrícola, o município destaca-se como o maior

centro de produção de flores e plantas ornamentais da América Latina. Holambra é

considerada oficialmente uma estância turística e anualmente promove a maior

exposição de flores da América Latina: a Expoflora.

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O Licenciamento da marca legitimará o licenciado para agir em defesa da

marca, porém a licença deverá ser averbada no registro junto ao INPI para que

produza efeito perante terceiros.

Disciplina o art. 133 da LPI que o registro da marca tem duração de 10 anos a

partir da sua concessão. Além disso, diferente do prazo fixado para patentes e

registro de desenho industrial, é contado a partir da efetiva concessão e prorrogável

por períodos iguais e sucessivos, indeterminadamente.

Nos termos do art. 124 da LPI, a extinção das marcas se dá: pela expiração

do prazo de vigência, sem pedido de renovação; pela renúncia; pela caducidade; ou

pela falta de manutenção de procurador domiciliado no Brasil, quando seu titular for

estrangeiro.

Embora alguns confundam marcas com indicações geográficas, trata-se de

coisas diferentes. O art. 176 da LPI trata das indicações geográficas, dividindo-as

em duas espécies: indicação de procedência e denominação de origem. O INPI é o

órgão competente para conceder o registro, que deve ser requerido pelos sindicatos,

associações, institutos ou qualquer outra pessoa jurídica de representatividade

coletiva, com legítimo interesse e estabelecida no respectivo território cujo nome se

quer registrar. Este registro tem efeito meramente declaratório e não-constitutivo.

São exemplos de indicações geográficas: Parma (para presunto); Região dos Vinhos

Verdes (para vinhos); Cerrado (para café); e Vale dos Vinhedos (para vinhos e

espumantes). Vale lembrar também que o Decreto nº 4.062/2001 define as

expressões "cachaça", "Brasil" e "cachaça do Brasil" como indicações geográficas.

O registro dos bens industriais deve ser requerido no Instituto Nacional de

Propriedade Industrial (INPI) e, somente após o ato concessivo correspondente,

nasce o direito à exploração econômica com exclusividade, não obstante o fato de a

lei pôr a salvo os direitos do inventor, desde o depósito do pedido. Esses bens

integrarão o patrimônio do seu titular, que terá o direito de explorá-los

economicamente e aliená-los por ato inter vivos ou mortis causa, ou ainda impedir

sua utilização pela concorrência. Para que um terceiro explore bem industrial

patenteado ou registrado (invenção, modelo, desenho ou marca), ele necessita de

autorização ou licença do titular do bem.

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Conhecendo os tipos de bens intelectuais e a proteção a eles destinados, é

possível abordar a relação universidade-empresa, bem como, as motivações,

barreiras e facilitadores encontrados neste processo.

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4 RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA: AÇÕES DE

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

REGIONAL

O objetivo deste capítulo é caracterizar a relação universidade-empresa (U-

E), apresentando a forma como ocorrem as transferências de tecnologia no âmbito

das instituições públicas e privadas, bem como as motivações, barreiras e

facilitadores encontrados neste processo. Ao final, pretende-se sugerir ações de

interação universidade-empresa para o Centro Universitário UNIVATES.

No Brasil, as primeiras grandes universidades surgiram na década de 30. A

universidade moderna, que conciliava ensino com pesquisa, veio somente em 1961,

com a criação da Universidade de Brasília e, na mesma década, da Universidade

Estadual de Campinas – UNICAMP, que, além da pesquisa aplicada e da pós-

graduação, foi pioneira na relação com o setor produtivo, e, de acordo com Brisolla

et al. (1997, p. 22) “contemplou explicitamente a disposição em contribuir para o

desenvolvimento industrial, interagir com a área empresarial e participar das

resoluções das questões tecnológicas do país”.

No caso das universidades americanas, a relação universidade-empresa-

governo, segundo Terra (2001), está caracterizada nas diversas atividades

desenvolvidas pelos escritórios de transferência de tecnologia que exercem funções

nas áreas de gestão do conhecimento e de inovação tecnológica e são compostos

por diversos órgãos com funções específicas (comercialização, licenciamento,

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escolas de negócios, divulgação, capital de risco, etc.). Os escritórios de

transferência de tecnologia possuem o objetivo estratégico de administrar todos os

passos da transferência de tecnologia.

Como foi visto no capítulo anterior, a Lei da Inovação (10.973/2004) incentiva

a colaboração entre universidades, Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs),

pesquisadores e empresas brasileiras no desenvolvimento de projetos tecnológicos

cujo objetivo é o aprimoramento de produtos competitivos no mercado exterior. Além

disso, a Lei possibilita a transferência de tecnologia e o licenciamento de patentes

de propriedade das ICTs para ambientes produtivos. A idéia é que cada ICT tenha o

seu Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), e, com isto as instituições e seus

pesquisadores possam estar resguardados legalmente da exploração indevida de

suas invenções ou inovações.

Conforme Terra (2001), as empresas buscam a criação de produtos

inovadores, competitivos e de sucesso no mercado mundial. O Governo Brasileiro,

preocupado com essa necessidade e tendência global, vem buscando desempenhar

o seu papel como incentivador desse processo, lançando políticas públicas de

inovação, conforme explicado no capítulo anterior. As universidades também estão

inseridas neste processo de transformação, buscando adequar a produção de

conhecimento às demandas regionais, com vista aos objetivos nacionais.

Reconhecendo a importância da relação U-E no processo de inovação

tecnológica do país, o Governo Federal vem direcionando políticas públicas para

incentivar esta área, a exemplo da Lei de Inovação de 2004. Nesta relação bilateral,

o desafio maior está na gestão dos interesses, pois se está falando de duas áreas

com natureza, objetivos e formas de trabalho muito distintas: as universidades têm

por objetivo o ensino com qualidade, e as empresas objetivam lucro.

A relação U-E vem se posicionando como uma alternativa para o

desenvolvimento tecnológico, possibilitando a obtenção de vantagens para os dois

lados envolvidos, auxiliando-os na conquista de seus objetivos, mesmo que se

apresentem de natureza distinta.

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4.1 A relação universidade-empresa (U-E)

No Brasil, a parceria entre as universidades públicas e o setor produtivo está

se inserindo num novo contexto organizacional, mesmo que historicamente este

tema tenha sido polêmico para ambas as partes.

Dessa forma, várias experiências de cooperação bem-sucedidas têm trazido

resultados positivos para os dois lados. Carvalho Alvim (1998) é da opinião que a

relação é importante para as universidades, pois permite, em determinadas áreas, a

orientação das atividades de pesquisa, e ao mesmo tempo, possibilita a revisão e

atualização dos conteúdos e a oferta de disciplinas, auxiliando na preparação de

cursos de reciclagem e atualização, conforme a realidade de mercado. Pelo lado da

empresa, o autor entende que a relação é um instrumento de atualização

permanente, possibilitando a introdução de inovações em seus processos de

produção, além da utilização da infraestrutura universitária de laboratórios na

prestação de serviços tecnológicos.

Rangel (1999) concorda com essa afirmação, pois acredita que a

universidade pública brasileira deve aceitar a participação da iniciativa privada nas

suas atividades. Alerta, entretanto, que esta participação não pode interferir na

autonomia e liberdade do meio acadêmico, responsável pela profusão de novas

idéias, ao mesmo tempo em que o setor produtivo não pode negar sua dependência

em relação à universidade, seja na formação de seu pessoal, seja no

desenvolvimento de pesquisas de seu interesse.

Por outro lado, não se deve esquecer o distanciamento entre a academia e o

mercado. Na visão dos empresários, a academia é conjunto de profissionais pouco

inteirados da realidade empresarial (regras do mercado) e, por isso, não enxergam a

universidade como uma fonte importante de informação, capaz de contribuir

significativamente para o desenvolvimento de suas empresas. Para a área

acadêmica, os empresários desconhecem as potencialidades e possibilidades

tecnológicas da universidade. Enquanto o setor empresarial tem a expectativa de

que a formação de profissionais qualificados pela universidade seja capaz de

assegurar o bom funcionamento dos diversos setores da economia, a universidade

espera que seus egressos sejam absorvidos pelo mercado de trabalho.

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Diante do exposto, podemos dizer que o distanciamento entre universidade e

meio empresarial interfere diretamente na produtividade e na competitividade da

indústria brasileira.

A dinâmica da inovação dos países tecnologicamente avançados tem cada

vez mais as universidades como colaboradoras desse processo. Etzkowitz (1993)

considera que a atual participação da universidade no desenvolvimento econômico,

incorporando-o como função acadêmica, junto com o ensino e a pesquisa, constitui-

se a Segunda Revolução da Academia, cuja palavra-chave é “capitalização do

conhecimento”. A Primeira Revolução, ocorrida no final do século XIX, tornou a

pesquisa uma função universitária, ao lado da tarefa tradicional do ensino.

Diante deste cenário, no qual governos, empresas e universidades de vários

países começaram a dedicar recursos crescentes à promoção de arranjos

cooperativos interinstitucionais nas duas últimas décadas, Plonski (1994) escreve:

[...] da parte das universidades, a cooperação é percebida, entre outros, como uma forma de superar a insuficiência das fontes tradicionais de recursos, e assim manter essas instituições nos níveis desejados de ensino e pesquisa; da parte das empresas, a cooperação é percebida como capaz de prover uma solução para a dificuldade de lidar sozinha com os desafios multidimensionais da inovação [...], além do tradicional interesse em ganhar acesso privilegiado no recrutamento de talentos jovens; e da parte do Governo, a cooperação é percebida como estrategicamente importante para a viabilidade econômica e social de regiões e de nações, no novo paradigma econômico (Plonski, 1994, p. 361).

Para o mesmo autor, a interação entre o setor produtivo e a academia ganhou

mais força em fins da década de 70, nos países mais desenvolvidos e, uma década

mais tarde, nos menos desenvolvidos. A geração de riquezas fica mais atrelada à

capacidade de gerar novos conhecimentos, assim a pesquisa básica e a visão

privilegiada do estado da arte da academia ganham importância para as empresas.

Essas mudanças de paradigmas são sentidas nas universidades de todo o

mundo, estimulando o “empreendedorismo científico”, conforme afirma Velho (1996):

As relações entre as universidades e as empresas resultaram tanto de pressões externas à universidade como de decisões dos próprios pesquisadores. Como exemplo de pressões externas, está a mudança nos padrões do financiamento da pesquisa acadêmica, ocorrida em função da redução das verbas estatais. Sem os tradicionais recursos do Estado, os pesquisadores são premidos a superar o medo de que o atrelamento ao setor privado pudesse comprometer a autonomia de suas atividades, ao tempo que os empresários começam a vislumbrar, nas pesquisas

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acadêmicas, um importante filão dos conhecimentos que eles precisavam para sobreviver num mercado cada vez mais competitivo (Velho, 1996, p. 162).

Como exemplo, no caso do Brasil, pode-se citar o Plano de Desenvolvimento

Produtivo – PDP, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior –

MDIC no qual foram definidos os 25 (vinte e cinco) setores chaves a serem

atendidos por suas diretrizes, dentre os quais 6 (seis) foram considerados

prioritários: nanotecnologia, biotecnologia, complexo de defesa, complexo industrial

da saúde, energia e tecnologia da informação. Assim, todos os financiamentos para

a pesquisa deveriam atender as áreas estratégicas da política nacional, levando os

pesquisadores acadêmicos a direcionar suas pesquisas.

Plonski apud Flores (2002) conceitua a relação universidade-empresa da

seguinte forma:

[...] um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações de natureza fundamentalmente distinta, que podem ter finalidades diferentes e adotar formatos bastante diversos. Incluem-se nesse conceito desde interações tênues e pouco comprometedoras, como o oferecimento de estágios profissionalizantes, até vinculações intensas e extensas como os grandes programas de pesquisa cooperativa em que chega a ocorrer repartição dos créditos resultantes da comercialização de seus resultados (Flores, 2000, p. 42).

Segatto apud Flores (2000) comenta sobre a complexidade e a fragilidade do

processo de cooperação U-E:

[...] envolvem etapas que devem ser observadas com cuidado para que se evitem e se previnam equívocos que, possivelmente, poderão gerar complicações futuras, impedindo a obtenção da máxima produtividade e qualidade possível em tal tipo de arranjo (Flores, 2000, p. 43).

Destaca-se que a relação U-E não é uma relação que se constrói facilmente,

é um processo contínuo de convencimento entre as partes, que possui, no mínimo

três etapas: a primeira é a manifestação de interesse das partes em se

relacionarem; a segunda é uma análise de potencialidades, de preços e condições

para a efetivação, bem como a persuasão com argumentos, razões ou fatos que

levem ao convencimento das partes sobre os benefícios dessa parceria; e a terceira

é a efetivação na prática.

No Brasil, na maioria das vezes, as deficiências das políticas nacionais de

inovação afetam em muito a relação U-E. Esta interação por si só já é afetada

devido à natureza distinta dos objetivos do setor produtivo e do meio acadêmico e

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científico, tornando-se escassos os casos onde a interação ocorre de forma

espontânea, sem que haja estímulos para isso. Para Frischtak e Guimarães (1992),

as universidades perseguem programas de investigação autônomos, ignorando as

necessidades do setor produtivo. Assim como as empresas, que raras vezes

encaram os institutos tecnológicos e as universidades como fornecedores de

tecnologia ou prestadoras de serviços técnicos.

Velho (1996) corrobora esta percepção, pois, para a autora, a indústria

nacional, desde o início da sua história, sempre que precisou de tecnologia, buscava

alternativas no exterior, uma vez que os pesquisadores brasileiros não

contemplavam as necessidades da indústria nacional. Em função desse afastamento

histórico, até pouco tempo atrás, a relação entre empresários e pesquisadores

praticamente inexistia. Como apresenta a autora, o pesquisador era alguém alienado

do mundo empresarial, desconhecendo os problemas da produção e do mercado e

das relações entre capital e trabalho. Além disso, os pesquisadores viam nos

empresários uma total falta de responsabilidade no desenvolvimento da ciência

brasileira.

Hoje, este cenário se mostra em transformação, os empresários estão

buscando a solução de problemas tecnológicos no meio acadêmico e científico, e,

por outro lado, as carências de recursos públicos para P&D têm levado os

pesquisadores universitários a direcionar as suas linhas de pesquisa para interesses

do setor produtivo.

No caso da UNIVATES, os projetos de pesquisa aprovados pelo Conselho

Universitário devem contemplar as unidades de Pesquisa em Ciências Ambientais;

Planejamento, Gestão e Inovação Organizacional; e Ensino, Saúde, Informação e

suas Tecnologias. Estas unidades devem ter como focos temáticos: gestão

ambiental; sistemas produtivos; pequenas e médias empresas; saúde e bem-estar

social; historicidades, culturas e simbologias regionais; e, recentemente, a

UNIVATES definiu como áreas estratégicas: "ambiente" e “alimentos”, tendo em

vista a característica da região do Vale do Taquari na qual a Instituição está inserida.

A aproximação entre universidades e empresas tem propiciado aos recursos

humanos formados um contato com a realidade do mercado, estimulando um

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ambiente em que a oferta e a demanda de tecnologias encontrem aplicações do

aprendizado institucional em prol do aumento da capacidade competitiva das

empresas. Esta aproximação se apresenta de diversas formas, desde consultorias

de docentes e prestação de serviços técnicos até complexas estruturas fixas de

interação, tais como parques tecnológicos e incubadoras de empresas no âmbito

universitário.

No Rio Grande do Sul, têm-se vários parques tecnológicos ligados às

universidades, dentre eles, destaca-se o TECNOPUC, com reconhecimento em nível

nacional. O TECNOPUC é vinculado à Pontifícia Universidade Católica do Rio

Grande do Sul – PUCRS e é um parque tecnológico multi-temático, focado em três

áreas: Tecnologia da Informação e Comunicação; Energia e Física Aplicada;

Ciências Biológicas, da Saúde e Biotecnologia. Estas áreas temáticas foram

definidas em função da competência acadêmica da Universidade, envolvendo

grupos de pesquisa científica e tecnológica e cursos de pós-graduação (mestrado e

doutorado), associados à existência de demanda da sociedade.

Com o objetivo de alavancar o empreendedorismo no Vale do Taquari, a partir

da capacidade de mobilização da UNIVATES, oportunizando a constituição e

consolidação de empreendimentos inovadores de produção e prestação de serviços,

a UNIVATES criou a INOVATES em 2003, que é uma incubadora empresarial e,

como tal, é um empreendimento que oferece a pessoas empreendedoras espaço

físico e/ou suporte técnico e gerencial, por um período determinado, para a

instalação de novas empresas. Os empreendimentos devem ter como sócios ou

associados professores, alunos ou egressos há até 2 anos. A UNIVATES não possui

ainda seu parque tecnológico, mas já iniciou estudos nesta área, com o objetivo de

avaliar todos os aspectos envolvidos num empreendimento como esse.

Bonaccorsi e Piccaluga apud Reis (2008, p. 123) propõem uma classificação

dos tipos de relação universidade-empresa, conforme se visualiza na tabela a

seguir:

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TABELA 3 - Tipos de relações na cooperação universidade-empresa

Tipo de Relações Descrição Exemplos Tipo A: Relações pessoais informais

Ocorrem quando a empresa e um pesquisador efetuam trocas de informações, sem a elaboração de qualquer acordo formal que envolva a universidade.

Consultorias individuais Publicações de pesquisa Trocas informais em fóruns Workshops

Tipo B: Relações pessoais formais

São como as relações pessoais informais, porém com a existência de acordos formalizados entre a universidade e a empresa.

Trocas de pessoal Funcionários da empresa como estudantes internos Cursos tipo “sanduíche”

Tipo C: Instituições que promovem a interação

E existe uma terceira parte. Essas associações que intermediarão as relações podem estar dentro da universidade, ser completamente externas, ou, ainda, estar em uma posição intermediária.

Associações industriais Institutos de pesquisa aplicada Unidades assistenciais gerais Escritórios que promovem a interação

Tipo D: Acordos formais com objetivos específicos

São relações em que ocorrem a formalização do acordo e a definição dos objetivos específicos desse acordo.

Pesquisa contratada Formação de trabalhadores Projetos de pesquisa cooperativa

Tipo E: Acordos formais do tipo guarda-chuva

São acordos formalizados como no caso anterior, mas cujas relações possuem maior abrangência, como objetivos estratégicos e de longo prazo.

Empresas patrocinadoras de P&D nos departamentos universitários

Tipo F: Criação de estruturas próprias para o relacionamento

São as relações entre empresa e universidade realizadas em estruturas permanentes e específicas criadas para tal propósito.

Contratos de associação Consórcios de pesquisa universidade-empresa Incubadoras tecnológicas

Fonte : Reis (2008, p. 123-124).

Da análise da classificação proposta, nota-se que os seis diferentes tipos têm

um diferente nível de envolvimento organizacional. No tipo A, não existe

envolvimento da universidade, os contatos são individuais, sem qualquer

formalização, independem até mesmo do conhecimento da universidade, o que não

é considerado relevante para as partes envolvidas (universidade e empresa). No

tipo B, as relações também são informais, porém existem acordos formalizados

entre as partes. A dimensão do acordo pode variar, como no tipo B (pequeno) e no

tipo E (grande). No caso do tipo F, uma estrutura especializada é criada para

administrar esta relação, como, por exemplo os parques e as incubadoras

tecnológicas.

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Para Reis (2008, p. 125) “a formalização do acordo está presente e é

necessária em todos os tipos de relacionamentos, exceto quando há intermédio de

instituições que promovam a interação, em que pode ou não existir, e no caso de

relacionamento pessoal informal, em que é inexistente”. Por isso, a formalização é

imprescindível para evitar conflitos entre as partes que objetivam sua autonomia

organizacional.

4.2 Motivações e barreiras do processo de interação universidade-empresa

Atualmente, cresceu a necessidade de se realizarem pesquisas que atendam

ao rápido processo de inovação tecnológica global, o que gerou a necessidade de

uma aproximação maior entre universidades e empresas. Porém esta aproximação

não ocorre de um momento para o outro, algumas etapas devem ser observadas.

Uma primeira etapa seria a disposição das partes em buscar esta cooperação

e, em consequência disso, ocorre a segunda etapa, que é o intercâmbio de

informações, ou seja, uma troca de informações entre ofertas tecnológicas das

universidades e demandas do mercado. Vencidas as duas primeiras etapas, é na

terceira que a cooperação se torna efetiva, ambas as partes já se conhecem e os

benefícios e riscos dessa relação já foram analisados.

Os autores Bonnacorsi e Piccaluga apud Reis (2008) desenvolveram um

modelo para o processo de cooperação universidade-empresa, representado a

seguir:

FIGURA 7- Processo de cooperação universidade-empresa

Motivações → Processo de cooperação → Resultados

Barreiras e/ou facilitadores Fonte: Adaptada de Bonnacorsi e Piccaluga apud Reis (2008).

Como exemplo, pode-se citar o caso de uma empresa “X” com necessidade

de tratar os efluentes líquidos resultantes do seu do processo de produção, e a

universidade “Y” que detém o conhecimento sobre o processo que acelera este

tratamento. A empresa procura a universidade com o objetivo de buscar cooperação

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para a resolução do seu problema, e a universidade vê com bons olhos esta relação,

tendo em vista a oportunidade de aplicabilidade prática dos resultados da pesquisa

realizada nesta área. Concluíram-se as duas primeiras etapas do relacionamento, ou

seja, houve a disposição das partes em buscar a cooperação e o intercâmbio de

informações (oferta e demanda). Na terceira etapa, as partes formalizarão esta

relação, por meio de termo de parceria, no qual ficam bem claras as obrigações e os

benefícios das mesmas.

Esta relação é um processo complexo, pois cada etapa necessita de uma

análise criteriosa, a fim de prevenir complicações futuras que interfiram na

produtividade e qualidade desta relação.

A motivação pode ser considerada a mola propulsora do processo de

cooperação universidade-empresa, gerando expectativas distintas que justifiquem

este andamento. De acordo com Reis (2008), no Brasil já foram realizadas diversas

pesquisas sobre a cooperação entre universidade e empresas, envolvendo

pequenas e médias empresas e universidades públicas e privadas. O autor

apresenta as principais motivações e barreiras para as empresas e universidades,

conforme segue:

TABELA 4 - Motivações e barreiras para as empresas e universidades

Motivações para as empresas, em ordem decrescente de importância

• Aquisição de novos conhecimentos; • Acesso à inovação, estar a par das novas

descobertas; • Obtenção de opiniões independentes e

diferentes; • Identificação dos melhores alunos para

contratação; • Melhoria da imagem e do prestígio da

empresa aos olhos dos clientes; • Obtenção de apoio técnico para a solução de

problemas; • Redução dos custos de pesquisa; • Acesso aos recursos humanos da

universidade; • Acesso aos laboratórios e equipamentos.

Motivações para a universidade, em ordem decrescente de importância

• Realização da função social da universidade ao transferir conhecimentos que promovam a melhoria da qualidade de vida da população;

• Divulgação de uma boa imagem da universidade;

• Aplicação de conhecimentos teóricos à realidade;

• Obtenção de conhecimentos da realidade empresarial úteis ao ensino e à pesquisa;

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• Facilitação à inserção de graduandos e graduados no mercado de trabalho;

• Obtenção de casos reais para aplicação nas aulas;

• Facilitação para o estabelecimento de contrato entre alunos e empresas;

• Obtenção de recursos financeiros adicionais; • Obtenção de equipamentos, matérias-primas,

serviços, etc., fornecidos pela empresa; • Obtenção de benefícios para a carreira

acadêmica do professor; • Aquisição de prestígios pelo

professor/pesquisador aos olhos da comunidade empresarial e acadêmica;

• Possibilidades de emprego fora da universidade.

Principais barreiras ao processo de interação entre as empresas e as universidades, pela ordem de importância

Para a empresa: • Aplicação prática reduzida dos trabalhos

acadêmicos; • Falta de um órgão de gestão do processo; • Complexidade dos contratos; • Necessidade de confidencialidade; • Inexistência de canais adequados para a

inserção; • Falta de uma estratégia da universidade para

as relações com a empresa; • Falta de uma estratégia da empresa para as

relações com a universidade. Para a universidade: • Falta de uma estratégia da universidade para

o relacionamento com a empresa; • Falta de uma estratégia da empresa para o

relacionamento com a universidade; • Burocracia da universidade; • Inexistência de canais adequados para a

interação; • Aplicação prática reduzida dos trabalhos

acadêmicos; • Existência de preconceitos, de ambas das

partes. Fonte: Adaptado de Reis (2008).

Observa-se que os benefícios para a relação U-E trazidos pelas motivações

são mais relevantes que as barreiras que terão que ser enfrentadas para completar

o ciclo deste processo. Um trabalho de conscientização, envolvendo as duas partes,

pode amenizar estas barreiras, e até mesmo superá-las, em prol do bem comum.

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4.3 Facilitadores do processo de interação universidade-empresa

Como já visto, um dos caminhos para que uma empresa alcance com

sucesso a inovação tecnológica é a parceria com a universidade. Reis (2008) sugere

uma sequência de oito etapas que facilitam este processo de cooperação:

a) Definição de uma política/filosofia da universidade para as relações

empresariais

É importante que as universidades tenham uma área responsável pelas

relações empresariais, que desempenhem a função de interação com a comunidade

externa. Para que esta interação progrida com êxito, é necessário que a

universidade adote uma filosofia em prol da parceria universidade-empresa, em

todas as áreas e escalas hierárquicas da instituição. Esta relação aberta da

universidade em relação ao meio empresarial tem como consequência deixar à

mostra eventuais deficiências e limitações, para as quais a comunidade acadêmica

deve estar preparada.

O Escritório de Relações com o Mercado – ERM da UNVATES é o

responsável por promover esta relação com a área empresarial, seja através de

prestação de serviços, consultorias técnicas ou programas de extensão, como é o

caso recente do Programa de Extensão Empresarial Exportadora – PEIEX, um

convênio entre a UNIVATES e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e

Investimentos - Apex-Brasil, para a execução do Projeto Extensão Industrial

Exportadora – PEIEx, visando a atender indústrias com potencial exportador das

regiões do Vale do Taquari e Caí, no Rio Grande do Sul. O PEIEx caracteriza-se

como um sistema de resolução de problemas técnico-gerenciais e tecnológicos,

objetivando incrementar a competitividade e promover a cultura exportadora.

b) Autoconhecimento institucional

A universidade “deve conhecer o seu potencial técnico e de recursos

humanos, disponibilizando-os, sempre que possível, para os utilizadores” (Reis,

2008, p. 144). A área responsável pelas relações empresariais deve ter um portfólio

de técnicos e especialistas que mostrem interesse neste tipo de parceria. “É

importante, neste momento, ter disponíveis todas as áreas de competência nas

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quais cada setor da universidade atua e sabe como colaborar com o processo de

desenvolvimento social e econômico da região” (Reis, 2008, p. 144).

Todas as áreas da universidade que irão se envolver neste processo de

cooperação devem saber muito bem quais são os seus papéis e qual a sua

importância para o sucesso da interação com a empresa. A UNIVATES tem uma

área de vendas, vinculada ao ERM, que possui um portfólio de todos os produtos e

serviços disponíveis na instituição, bem como dos profissionais especializados

nestas áreas de atuação.

c) Marketing interno para as relações com as empresas

A comunidade interna da universidade deverá saber dos benefícios advindos

da relação com o meio empresarial. Os pesquisadores e suas equipes deverão ser

motivados para participarem do processo. Essa divulgação pode ocorrer das mais

diversas formas, conforme demonstrado a seguir:

Inserção mensal de resumos das pesquisas em andamento, dos cursos ministrados para as empresas, etc. em um jornal informativo interno; - exposição dos benefícios da parceria junto a todos os departamentos acadêmicos; - contatos individuais (entrevistas) com os professores de forma a conhecer o potencial do professor para as atividades de interação; - elaboração e distribuição de manual com o resumo de todos os mecanismos de parceria, seus benefícios e a forma de participação; - publicação de artigos em boletim informativo interno, dirigido aos estudantes e sua participação em projetos de interação (Reis, 2008, p. 145-146).

Na UNIVATES esta divulgação acontece através dos relatórios das

pesquisas, na Mostra de Ensino, Extensão e Pesquisa - MEEP, realizada

anualmente, nos jornais de circulação entre a comunidade acadêmica, site e rádio.

d) Infraestrutura adequada

Os laboratórios e equipamentos das universidades devem estar adequados

aos padrões mínimos de qualidade para garantir as necessidades das empresas

parceiras. Os professores responsáveis pelos laboratórios devem buscar, junto aos

órgãos de fomento e à própria universidade, recursos financeiros para atualização e

reposição dos equipamentos.

No caso de a universidade não possuir a infraestrutura necessária de

laboratórios para suprir a demanda de uma empresa, deve-se tentar a parceria com

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outras universidades ou instituições científicas e de pesquisa para a realização

cooperativa dos projetos.

Além disso, os projetos poderão prever a aquisição de equipamentos como

contrapartida da empresa, que pode, inclusive, requerer benefícios fiscais para

essas aquisições, conforme já demonstrado no capítulo 2 deste trabalho.

Os pesquisadores da UNIVATES estão constantemente na busca de recursos

externos para aquisição de infraestrutura e equipamentos para os laboratórios de

ensino e de prestação de serviços, com o objetivo de modernizar os laboratórios de

prestação de serviços, bem como proporcionar aos alunos ambientes modernos de

ensino-aprendizagem.

Esses recursos externos são captados por meio de editais de fomento à

pesquisa, lançados por órgãos como Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do

Rio Grande do Sul – FAPERGS, Financiadora de Estados e Projetos – FINEP,

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq,

Ministérios e Secretarias Especiais do Governo Federal e Estadual.

e) Marketing externo

Uma vez atendidas as etapas anteriores, pode-se desencadear um processo

de divulgação externa, mas para isso é muito importante que se conheça

exatamente o potencial interno. O marketing externo pode ser feito de diversas

formas, tais como:

Visitas programadas às empresas, buscando novos parceiros; - participação em congressos com apresentações de trabalhos; - participações em exposições e feiras; - confecção de material de divulgação específico; - avaliação e divulgação do nível de satisfação do cliente como forma de feedback institucional (Reis, 2008, p. 147).

Este é o momento em que a universidade se abre para a sociedade e também

o momento em que são possíveis “críticas e contestações sobre a sua agilidade e

flexibilidade na condução de processos de parceria” (Reis, 2008, p.147-148). Em

função disso, os casos de sucesso devem ser amplamente divulgados. Um dos

principais canais de marketing externo da UNIVATES é a Área de Vendas, que

realiza visitas às empresas, oferecendo serviços e cursos in company e buscando

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parcerias junto a entidades de classe, além de outros como o site, rádio, cursos de

extensão universitária, eventos e pós-graduação lato sensu e stricto sensu.

f) Gestão das relações universidade-empresa

A área responsável pelas relações empresariais deve-se preocupar também

com os aspectos relativos à propriedade industrial e intelectual, aos contratos, aos

convênios, aos royalties, etc., oferecendo suporte aos pesquisadores para que estes

se preocupem exclusivamente com a área técnica do projeto.

A proposta apresentada pelo ERM para a criação do Núcleo de Inovação e

Transferência de Tecnologia – NITT, estabelece que o NITT ficaria responsável pela

gestão das questões de propriedade industrial e intelectual, dos contratos, dos

convênios e dos royalties resultantes da relação U-E, além de outras atribuições,

que serão abordadas mais adiante.

g) Formação de gestores das relações universidade-empresa

Para Reis (2008, p. 148) “Deve-se cuidar para que os gestores das relações

universidade-empresa estejam permanentemente atualizados nas modernas

técnicas de gestão”. Com os gestores capacitados e atualizados, os processos de

parceria serão facilitados, incentivando as tomadas de decisão e a geração de

alternativas, contribuindo para o sucesso da relação U-E.

Como o tema gestão de tecnologia é bastante recente, são escassos os

recursos humanos capacitados nessa área. No Brasil, existem algumas instituições

que oferecem programas para capacitar gestores de ciência e tecnologia, como o

Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia –

FORTEC, que é um órgão de representação dos responsáveis nas universidades e

institutos de pesquisa pelo gerenciamento das políticas de inovação e das atividades

relacionadas à propriedade intelectual e à transferência de tecnologia, incluindo-se,

neste conceito, os núcleos, agências, escritórios e congêneres. O FORTEC conta

atualmente com cerca de 140 ICTs públicas e privadas filiadas.

Além de fazer parte do FORTEC, a UNIVATES proporciona aos seus

colaboradores a possibilidade de participar dos mais diversos eventos, congressos e

cursos nesta área, a fim de que a equipe de gestores esteja sempre atualizada.

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h) Avaliação junto aos utilizadores

O parceiro da universidade deve ser tratado como cliente, por isso é

importante que ele dê à universidade um feedback sobre a qualidade dos serviços

prestados para o aperfeiçoamento dos mesmos. Essa avaliação pode ser feita de

diversas maneiras, cabendo a cada universidade adotar o modelo que considerar

mais interessante, como, por exemplo questionários ou mesas-redondas com os

empresários.

Em todos os cursos e serviços oferecidos pela UNIVATES é adotada uma

“ficha de avaliação”, onde são avaliados diversos aspectos, desde a infraestrutura

disponibilizada até a qualidade dos serviços ou cursos prestados.

Para Reis (2008, p. 150), “A médio e longo prazo, a parceria consolidará a

própria universidade, fazendo dela uma agente de transformação junto à sociedade

na qual esta inserida”. Reforçando essa idéia, o mesmo autor afirma que “dessa

forma, a universidade, ciente do seu papel social, estará cumprindo a sua vocação e

colaborando com o avanço tecnológico do País” (p. 150). Atendidas estas oito

etapas, teremos parcerias bem estruturadas, produzindo os resultados esperados

pelas partes.

4.4 A relação universidade-empresa nas universidades – o caso do Centro

Universitário UNIVATES

A Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social –

FUVATES, mantenedora do Centro Universitário UNIVATES, sediada na cidade de

Lajeado (RS), tem como área de abrangência a região do Vale do Taquari,

localizada na região central do estado do Rio Grande do Sul. Organizada

politicamente em torno de entidades como AMVAT - Associação dos Municípios do

Vale do Taquari e CODEVAT - Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari, a

região caracteriza-se por discutir e planejar as iniciativas de cunho socioeconômico

e cultural de abrangência supramunicipal.

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A Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social –

FUVATES, mantenedora do Centro Universitário UNIVATES, no art. 3º do seu

Estatuto, prevê as suas finalidades:

Art. 3º - A FUNDAÇÃO, assumindo, como sucessora, todas as atividades da extinta Fundação Alto Taquari de Ensino Superior - FATES, tem por finalidade: I - promover a educação, a assistência social beneficente e atividades na área da saúde comunitária; II - fundar, manter ou promover a instituição ou manutenção de cursos, faculdades, centros ou instituições, nos vários graus de ensino; III - fundar, manter ou promover instituição ou manutenção de entidades ou programas culturais; IV - promover a pesquisa e o estudo em todos os ramos do saber e da divulgação científica, técnica e cultural, visando contribuir para a solução de problemas regionais e nacionais de natureza educacional, social, cultural e econômica; V - realizar e promover atividades culturais e pedagógicas em intercâmbio com outros graus de ensino, com associações ou fundações congêneres, nacionais ou estrangeiras; VI - promover atividades compatíveis com seus objetivos, com vistas à criação e manutenção da Universidade do Vale do Taquari; VII - criar e implantar planos de financiamento e de bolsas para a capacitação de seus alunos, funcionários e docentes; VIII - promover o intercâmbio de professores e alunos da região, país e exterior; IX - executar, através da outorga do órgão público competente e nos estritos termos da legislação pertinente, serviços de radiodifusão educativa, compreendendo a radiodifusão sonora (rádio), em qualquer de suas modalidades e a teledifusão (som e imagem - televisão) universitária e comunitária, como meio de cumprir as suas finalidades, para tanto mantendo ou promovendo a manutenção dos respectivos veículos de comunicação social devidamente outorgados; X - promover a integração ao mercado de trabalho. § 1º - A instituição ou a instalação de serviços, especialmente os previstos nos incisos II e IX do presente artigo, se darão sempre segundo dispositivos explicitados em estatuto ou regimento próprio aprovado pelo órgão público competente. § 2º - A FUNDAÇÃO, no cumprimento de seus objetivos voltados à assistência social beneficente, inclusive educacional e de saúde, presta serviços gratuitos, permanentes e sem qualquer discriminação de clientela. § 3º - Dependendo da disponibilidade de recursos, a FUNDAÇÃO poderá desenvolver outras atividades de saúde, educação e assistência social, de pesquisa e de cultura, além das finalidades previstas neste artigo.

Como podemos ver no inciso IV, a finalidade de “promover a pesquisa e o

estudo em todos os ramos do saber e da divulgação científica, técnica e cultural,

visando a contribuir para a solução de problemas regionais e nacionais de natureza

educacional, social, cultural e econômica” vem ao encontro do objetivo do presente

trabalho monográfico, assim como a “Missão” e a “Visão” do Centro Universitário

UNIVATES, mantida da FUVATES:

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Missão: Gerar, mediar e difundir o conhecimento técnico-científico e humanístico, considerando as especificidades e as necessidades da realidade regional, inseridas no contexto universal, com vistas à expansão contínua e equilibrada da qualidade de vida. Visão: Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhecida pela qualidade, onde se destacam os compromissos com a inovação, com o empreendedorismo e com os valores do associativismo. (http://www.univates.br/handler.php?module=univates&action=view&article=5).

A finalidade abordada no inciso IV do Estatuto da FUVATES, bem como a

Missão e Visão da UNIVATES, possibilitam a relação U-E como forma de incentivo

ao desenvolvimento regional.

Entre os principais objetivos da Lei da Inovação estão a capacitação de

recursos humanos e o alcance da autonomia tecnológica e do desenvolvimento

industrial do país através da transferência das descobertas das pesquisas realizadas

nos laboratórios acadêmicos para o mercado, beneficiando a comunidade em geral.

Segundo Marli Elizabeth Ritter dos Santos, coordenadora do Escritório de

Transferência de Tecnologia da PUCRS, em palestra realizada no 8º Encontro de

Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia, ocorrido no Rio de

Janeiro, em junho de 2005, a Lei da Inovação não se aplica às universidades

privadas, porém podemos prever alguns de seus reflexos, tais como: a inserção do

tema Inovação em suas políticas institucionais; a criação dos NITs; a

regulamentação do compartilhamento de ganhos econômicos com pesquisadores; e

a ação de formação de recursos humanos em áreas como empreendedorismo e

propriedade intelectual.

Como a Lei da Inovação não contemplou as parcerias das universidades

privadas e comunitárias com o setor empresarial, a UNIVATES, preocupada com o

desenvolvimento do Vale do Taquari/RS, no ano de 2006, por meio da Resolução

078/Reitoria/UNIVATES, de 04/09/2006, criou o Escritório de Relações com o

Mercado – ERM, órgão ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-

Graduação – PROPEX, com o objetivo de promover a interação entre a UNIVATES

e a comunidade, intermediando negociações e transferindo o conhecimento

produzido na Instituição, visando ao desenvolvimento regional.

Já no ano de 2008, o Escritório de Relações com o Mercado, diante da

necessidade de atender de forma mais pontual à área de inovação e transferência

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de tecnologia, decidiu propor a divisão da sua estrutura em cinco núcleos de

trabalho, dentre os quais está o Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia,

com os seguintes objetivos:

I – implementar, sedimentar e zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia; II – elaborar banco de dados de ofertas tecnológicas da UNIVATES; III – assessorar e acompanhar projetos tecnológicos realizados em parceria com outras instituições; IV – elaborar e gerir convênios e contratos de transferência de tecnologia; V – subsidiar o estabelecimento de políticas institucionais de propriedade intelectual e de transferência de tecnologia; VI – gerenciar a propriedade intelectual, inclusive os procedimentos para o registro e proteção de inventos, produtos e serviços, até sua comercialização ao setor produtivo; VII – avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa e; VIII – promover eventos de difusão tecnológica (Proposta de Resolução, 2008).

A divisão do ERM em cinco núcleos de trabalho vem ao encontro das

demandas internas e externas da Instituição e da preocupação crescente com a

proteção do conhecimento gerado no meio acadêmico. Considerando que o ERM é

o agente gestor da relação U-E, esta proposta merece ser acolhida a fim de

regulamentar as questões pertinentes à propriedade intelectual na UNIVATES.

4.5 Sugestões de ações de interação universidade-empresa

Na região do Vale do Taquari, onde a universidade é um importante fator de

desenvolvimento regional, algumas ações apresentam uma maior eficácia na

aproximação entre o meio acadêmico e o empresarial. Com base nas sugestões

propostas por Reis (2008), apresentamos algumas sugestões para a UNIVATES

fortalecer sua interação com o ambiente produtivo:

Dia da Indústria (ou do Comércio, ou da Agricultura, etc.):

Reis (2008) define este dia como uma solenidade festiva para promover a

aproximação entre os empresários e a comunidade acadêmica. Nesta solenidade

poderão ser entregues títulos como: “empresário homenageado do Curso de

Engenharia Civil”, “o ex-aluno que mais se destacou como empresário”, etc. Como a

UNIVATES possui um número considerável de ex-alunos que se tornaram

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empresários, esta sugestão poderia aproximá-los novamente do meio acadêmico e,

ao mesmo tempo, valorizá-los como profissionais.

Visitas dos dirigentes universitários às empresas

A idéia de Reis (2008) é que pessoas que ocupam cargos de direção, chefes

de departamentos e coordenadores de cursos devem participar das visitas às

empresas, cujo objetivo é possibilitar uma maior aproximação entre a universidade e

a empresa. Para a UNIVATES, esta ação poderia proporcionar uma relação de

confiança e de parceria entre as partes, mostrando que a Universidade está

preocupada com o meio empresarial, indo ao seu encontro a fim de ouvir seus

anseios e colocar a Instituição à disposição para relações de parceria.

Feira de empresas

Para Reis (2008), a empresa poderá ter um espaço físico na universidade

para demonstrar seus produtos e/ou serviços à comunidade acadêmica, sendo uma

oportunidade de conhecimento mútuo. Na UNIVATES, esta modalidade já ocorre

quando são realizadas as Semanas Acadêmicas dos cursos de graduação,

patrocinadas por empresas da área. Como contrapartida, nestes casos, a

UNIVATES libera espaços para a exposição dos produtos e serviços da empresa

envolvida no evento.

Encontros com a empresa

Esta sugestão refere-se a encontros periódicos, em que a universidade

convida gestores de empresas para participarem de painéis de relatos de

experiências, abordando dificuldades e oportunidades de mercado, juntamente com

alunos dos cursos afins. Em vários momentos, a UNIVATES realiza este tipo de

ação, principalmente durante as Semanas Acadêmicas dos cursos de graduação,

oportunidades em que são convidados gestores de empresas regionais e nacionais

para ministrar palestras aos acadêmicos. A idéia da autora desta monografia é que

estes encontros ocorram de forma mais sistemática e informal, podendo, inclusive

ocorrer em sala de aula durante as aulas regulares.

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Conselho empresarial

O conselho empresarial envolve a idéia de criação de um órgão consultivo da

direção da universidade relacionado à interação desta com o setor produtivo. Neste

caso, os empresários teriam a oportunidade de opinar sobre tendências do mercado,

cursos, currículos e necessidades das empresas. A UNIVATES possui três

Conselhos: da Administração, de Curadores e Universitário. Na composição de

todos os conselhos encontram-se empresários da Região do Vale do Taquari. A

autora desta monografia propõe a criação de um Conselho Empresarial, composto

somente de representantes das empresas da região, para tratar da relação

UNIVATES-empresas.

Mesas-redondas

Conforme Reis (2008), o objetivo destas mesas redondas seria o debate de

assuntos relativos à formação e ao desempenho dos profissionais formados pela

universidade. Participariam dos debates ex-alunos que já estão no mercado de

trabalho e seus supervisores nas empresas, assim como professores das áreas

afins, com o objetivo de aprimorar os currículos das disciplinas, conforme as

demandas de mercado.

Estágio dos professores nas empresas

Reis (2008) define que, tão importante quanto o estágio dos alunos na

empresa, é a realização de estágios pelos professores. É uma troca de experiências

que irá refletir na melhoria da qualidade de ensino, bem como a oportunidade de

realização de projetos conjuntos. Na UNIVATES, os alunos de vários cursos

realizam seus estágios curriculares nas empresas. Se o professor também

participasse deste tipo de relação, os resultados poderiam ser ainda mais positivos

para as partes.

Programa “Empresa no Ensino”

Este programa ocorre no caso da doação de equipamentos pela empresa

para serem utilizados pela universidade que, em contrapartida, deverá realizar

cursos de formação no uso desse equipamento para os clientes da própria empresa.

Não se pode esquecer que os alunos são futuros compradores desses

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equipamentos. A universidade beneficia-se na medida em que dispõe de

equipamentos atuais e em maior quantidade para atender os alunos. Já a empresa

beneficia-se na medida em que terá recém-formados treinados nos seus próprios

equipamentos, que, no momento em que atuarem nas empresas, poderão sugerir a

compra dos mesmos equipamentos. Trata-se de um mecanismo importante para a

UNIVATES, uma vez que a Instituição é uma importante cliente na área de

equipamentos de informática e equipamentos para laboratórios de ensino.

Programa “Balcão de Teses”

Para Reis (2008), além de todas as atividades inerentes ao órgão gestor da

relação U-E, um dos mecanismos mais interessantes é um programa para realizar a

divulgação das idéias desenvolvidas no ambiente acadêmico para as empresas,

com o objetivo de levantar e divulgar o potencial tecnológico da universidade. Este

mecanismo poderia ser uma importante ferramenta de promoção da interação U-E.

Reis (2008) cita ainda uma série de mecanismos para a interação U-E, como:

programa de acompanhamento de ex-alunos, visitas técnicas de alunos às

empresas, presença de um representante da indústria no Conselho diretivo máximo

da universidade, estágio curricular dos estudantes nas empresas, cursos de

extensão universitária, abertos ou in-company, prestação de serviços, incubadora de

empresas, entre outros. A UNIVATES, como uma instituição regional, preocupada

com o desenvolvimento do Vale do Taquari, já se utiliza de vários desses

mecanismos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, as relações entre universidades e empresas são vistas de forma

cada vez mais intensa e estratégica, fazendo parte das mais importantes instituições

de ensino superior do Brasil e do mundo. Com o advento da Lei da Inovação, as

universidades e as instituições de pesquisa públicas passaram a criar estruturas

para facilitar a gestão da transferência de tecnologia, conhecidas como Núcleos de

Inovação Tecnológica – NITs, com o desafio de avaliar o que as instituições têm a

oferecer e prospectar empresas e instituições que possam se interessar por seus

serviços.

A Lei da Inovação objetiva o desenvolvimento industrial, científico e

tecnológico do País vindo ao encontro dos preceitos constitucionais dos arts. 218 e

219 da Constituição Federal de 1988, entretanto ela não se aplica às universidades

privadas e comunitárias. Apesar disso, é possível extrair algumas idéias, tais como:

criação de políticas institucionais de propriedade intelectual e de transferência de

tecnologia, criação de Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT, desenvolvimento de

ações de formação de recursos humanos na área de propriedade intelectual e

transferência de tecnologia produzida nas instituições acadêmicas.

Considerando-se as especificidades da Lei da Inovação, principalmente o fato

de não se aplicar às universidades privadas, escolheu-se como problema: Quais as

possíveis ações, amparadas nas orientações da Lei 10.973/2004, que o Centro

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Universitário pode adotar para impulsionar a inovação e a transferência de

tecnologia no Vale do Taquari/RS?

Considerando que Lei estabeleceu a criação de Núcleos de Inovação

Tecnológica - NITs com a responsabilidade de administrar a política de inovação nas

Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), o Centro Universitário UNIVATES

criou, no final de ano de 2006, o Escritório de Relações com o Mercado, com a

missão de promover a interação entre a UNIVATES e a comunidade, intermediando

negociações e transferindo o conhecimento produzido na Instituição, visando ao

desenvolvimento regional.

Em 2008, o Escritório de Relações com o Mercado – ERM apresentou uma

proposta de divisão da sua estrutura em cinco Núcleos de Trabalho, entre eles o

Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia – NITT, que será responsável:

pela elaboração de uma proposta de um plano institucional de P&D visando A

regulamentar o tema na Instituição; pela prospecção tecnológica das pesquisas

desenvolvidas pela IES; e pela proposição de eventos de difusão tecnológica e de

ações para a capacitação de recursos humanos na área de gestão da propriedade

intelectual e da transferência de tecnologia.

A partir da criação do ERM e de sua divisão é possível abordar o objetivo

geral da presente monografia, que é sugerir ações de interação universidade-

empresa para a promoção da transferência de tecnologia no Centro Universitário

UNIVATES, com o intuito de promover o desenvolvimento regional.

No primeiro capítulo, foram estudados aspectos conceituais e históricos da

transferência de tecnologia, bem como os processos de transferência de tecnologia,

considerados importantes para situar o tema dentro de um contexto geral.

No segundo capítulo, identificaram-se as políticas de P&D vigentes no Brasil,

nas esferas nacional e estadual, assim como foram analisadas as leis de proteção

intelectual, dando-se destaque à Lei de Software, à Lei de Direitos Autorais, à Lei de

Proteção de Cultivares e à Lei de Propriedade Industrial, importantes para o

processo de transferência de tecnologia e a relação U-E.

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No terceiro capítulo, ressaltou-se que a interação U-E é uma forma relevante

de contribuição para o fortalecimento da inovação tecnológica no país e nas regiões

onde as universidades estão inseridas. Contudo, a relação U-E apresenta muitos

obstáculos ainda a serem vencidos. Não existem modelos perfectibilizados desta

relação nem mesmo em países desenvolvidos, onde ela já existe há várias décadas.

Por fim, foram apresentadas propostas para ações de interação U-E com vistas ao

desenvolvimento do Vale do Taquari/RS.

Conclui-se que a UNIVATES já possui uma considerável caminhada no que

diz respeito às relações U-E, sendo que entre as mais importantes buscas de

aproximação estão a criação da Incubadora INOVATES e o Escritório de Relações

com o Mercado – ERM.

Para que a Instituição avance nesta caminhada, realizando parcerias bem

estruturadas e produzindo os resultados esperados pelas partes, é preciso observar

e aperfeiçoar as etapas do processo de interação U-E, que são: definição e

divulgação, entre a comunidade acadêmica e empresarial, de uma política

institucional sobre o tema; autoconhecimento institucional por meio de um portfólio

de professores e pesquisadores capacitados e dispostos a atuar nesta relação;

marketing interno das parcerias formadas; infraestrutura adequada e preparada para

as demandas de mercado; criação do Núcleo de Inovação e Transferência de

Tecnologia – NITT, para atuar como gestor direto dessas relações; formação e

capacitação permanentes dos gestores de inovação e transferência de tecnologia;

utilização da ferramenta de avaliação como um mecanismo de controle da qualidade

dos cursos e serviços oferecidos pela Instituição.

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