Transformações Socioespaciais no Bairro de Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco

8/18/2019 Transformações Socioespaciais no Bairro de Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco

1/31

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOINSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO

RELATÓRIO FINAL

(201! 201"#

E$TERNALIDADES URBANAS NO ENTORNO DO COMPLE$O INDUSTRIALPORTU%RIO DE SUAPE-PE

TRANSFORMAÇ&ES SOCIOESPACIAIS NO BAIRRO DE BARRA DE'ANGADA

Relatório Final apresentado à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação eInovação, como parte dos requisitos doPrograma de Iniciação Cientíica doIFP!, so" orientação do Pro# A)*+

G./ B)/)#

ADRIANNO 'OSÉ LINS DE ALMEIDARECIFE

'ULO3201"14 RESUMO


2/31

2

Com presente tra"al$o, nos propomos a analisar as transormaç%es socioespaciais, as

quais possam ser compreendidas como e&ternalidades do Comple&o Industrial Portu'rio de

(uape, que v)m acontecendo no "airro de *arra de +angada no município de +a"oatão dos

Guararapes P!, à margem da rodovia estadual P!-., al/m de identiicar os principais

atores destas transormaç%es e as estrat/gias quem t)m ocorrido neste processo# Para tanto,

"uscamos atrav/s da apropriação de conceitos como o espaço ur"ano, "airro, espaço

conce"ido e espaço vivido, marketing , est/tica da mercadoria, etc# esta"elecer um di'logo

entre a literatura e o nosso o"0eto empírico de pesquisa# 1este sentido, adotamos uma

a"ordagem qualitativa aliada à coleta de dados atrav/s do (istema I*G! de Recuperação

2utom'tica que, 0unto às o"servaç%es in loco e entrevistas reali3ados, nos au&iliaram a

o"tenção dos o"0etivos propostos# !videnciamos que o "airro de *arra de +angada possui doisconte4dos sim"ólicos, ilustrados pelas comunidades da Praia do (ol e 1ovo 5ori3onte e que

disp%e de p/ssima inraestrutura e escassos equipamentos p4"licos de la3er# 6s

empreendimentos que estão sendo instalados neste "airro em nada condi3em com esta

realidade# Consideramos que essas transormaç%es t)m desacelerado, devido ao quadro

econ7mico nacional, todavia, tão cedo este mel$ore, os promotores imo"ili'rios devem

retomar os investimentos na 81ova *arra9, que desde o nome tende a romper com o "airro

$istórico, construída de rente para o mar e de costas para o que $' de vel$o#

P)5)6)/!78)6.9 *arra de +angada: transormaç%es socioespaciais: mercantili3ação do

espaço


3/31

3

24 INTRODUÇÃO

6 presente relatório tem por propósito especiicar as atividades que v)m sendo

desenvolvidas como tra"al$o de iniciação cientíica, "em como elucidar o conte&to teórico emetodológico pelo qual pretendemos alcançar uma discussão proveitosa a respeito do tema

selecionado; As transformações socioespaciais no bairro de Barra de Jangada# Ressalvamos

ainda que, como parte de um pro0eto maior, "uscamos estudar dessas transormaç%es as que

possam ser conce"idas como e&ternalidades ur"anas decorrentes da recente consolidação do

Comple&o Industrial Portu'rio de (uape ?, quando não

apenas esse comple&o rece"eu seus maiores investimentos, como o !staleiro 2tl@ntico (ul, 0'

em operação, e a Reinaria 2"reu e Aima, em uncionamento inicial#

!m virtude da pro&imidade com o megapro0eto imo"ili'rio da Reserva do Paiva e o

CIP(, o "airro de *arra de +angada, na ai&a litor@nea sul do município de +a"oatão dos

Guararapes, est' sendo procurado por v'rias construtorasBincorporadoras para o lançamento

de diversos empreendimentos# 2 maioria destes tem como clientela-alvo; investidores,

pequenos empres'rios, empreendedores e tra"al$adores da região de (uape# 6s

empreendimentos tendem a ser conce"idos para segunda resid)ncia, sendo alguns deles na

modalidade home service, produto imo"ili'rio compacto que unciona como resid)ncia, mascom serviços de $ot/is# 1o caso em apreço, os home services t)m ainda a locali3ação

praticamente à "eira mar como um dos seus principais atrativos# Conorme descreve (antana

?, p# DD=, so"re esse novo modelo de resid)ncias, trata-se de 8E### pr/dios e condomínios

que, atualmente, passam a concentrar in4meros serviços e equipamentos intramuros, antes

distri"uídos pela cidade, como orma de redu3ir deslocamentos, aumentar a perman)ncia em

casa e supostamente garantir maior segurança9, e como veremos a seguir, a presença destes

serviços / um dos principais argumentos de venda para estes produtos#

Como parte da 0ustiicativa de a3er este tra"al$o de iniciação cientíica, incitados

pelos assuntos da Geograia r"ana, a pesquisa em conte&to adquire grande relevo em termos

acad)micos ao se propor a estudar a produção do espaço ur"ano levando em conta as

transormaç%es socioespaciais que ocorrem nesse recorte espacial e, dessa orma, toma por

"ase a ação dos promotores imo"ili'rios, como ainda procura elucidar os elementos su"0etivos

que se inserem nesse processo e que $a"ilmente são tra"al$ados por meio da ótica da est/tica

da mercadoria


4/31

4

suposta nova *arra de +angada, tal recorte espacial nos pareceu um o"0eto "astante relevante

para uma pesquisa cientíica#

!smiuçando o que seria esta 1ova *arra, sua locali3ação privilegiada, com a presençade amenidades naturais


5/31

5

Figura ? Aitoral sul de Pernam"uco, trec$o Recie (uape# Fonte; Google Qapas se atin0a .

mil$%es de toneladasBano#


6/31

6

Gr'ico ? - Qovimentação de cargas no porto de (uape# Fonte; Plano diretor de (uape

6 desenvolvimento das atividades secund'rias e terci'rias no litoral sul

pernam"ucano, lideradas pelo CIP(, atraiu uma grande quantidade de mão de o"ra capacitada,

como e&ecutivos que, muitas ve3es, v)m transeridos de outros estados# 2tualmente o CIP(

conta com ?M empresas instaladas e DM em instalação, totali3ando RT M "il$%es em

investimentos provados e M mil empregos diretos ??=# Cada ve3 mais,

as atividades do CIP( v)m modiicando a din@mica de produção do espaço ur"ano no litoral

sul de Pernam"uco, onde anteriormente apenas predominavam as atividades turísticas, $o0e

em dia dividem espaço com as atividades desse comple&o industrial-portu'rio, al/m do

lançamento de v'rios empreendimentos imo"ili'rios para dar conta da demanda residencial

relacionada com o alu&o de tra"al$adores do CIP(#

6s uncion'rios de alto escalão, por pro"lemas como tr@nsito, viol)ncia, poluição ou

similares, aca"am criando uma demanda residencial de alto status, o mais longe das cidades e

pró&imo ao tra"al$o possível, sem a"rir mão da comodidade que esta oerece# !ssa situação /

a oportunidade pereita para que os promotores imo"ili'rios este0am sempre na "usca de

oerecer novos produtos ao mercado, no intuito incessante de atender às demandas solv'veis


7/31

7

capacitadas a participar do mercado de terras e $a"itaç%es9


8/31

8

:4 OB'ETIVOS

:41 O;.+- 2nalisar criticamente as estrat/gias de marNeting adotadas na comerciali3ação dos

novos produtos imo"ili'rios lançados na orla de *arra de +angada e em seu entorno

imediato#- !videnciar o processo de alteração do conte4do socioecon7mico desse "airro, tendo

por "ase o peril econ7mico dos compradores dos novos produtos imo"ili'rios

residenciais que estão sendo lançados#D- Weriicar se o !stado, no @m"ito municipal ou no estadual, tem alguma política ur"ana

para o "airro, em vista das atuais transormaç%es socioespaciais#M- Identiicar como moradores do entorno perce"em tais mudanças socioespaciais no

"airro em conte&to#


9/31

9

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1a tentativa de compreender as recentes mudanças no "airro de *arra de +angada e

suas inlu)ncias na realidade socioecon7mica daquele espaço, "uscamos dialogar com autoresque t)m produ3ido con$ecimentos que possam nos au&iliar nessa tarea, partindo do

pressuposto teórico de que o espaço ur"ano / produto de um processo social e cultural,

economicamente conce"ido e $istoricamente determinado#

1um primeiro momento, procuramos delimitar teoricamente o nosso campo de estudo

e, para tanto, recorremos às palavras de Corr)a


10/31

10

coali3%es entre si e com corporaç%es internacionais a e&emplo da Construtora e

Incorporadora Rio 2ve que ter' o grupo espan$ol Qeliã na gestão do 8 pool $oteleiro9 de seu

novo empreendimento residencial, o Qeliã *arra conerem "ons e&emplos de

interescalaridade das aç%es no recorte territorial desta pesquisa#

Compreendemos que esta relação local-glo"al vem ocorrendo presidida pelos

interesses de reprodução do capital, em sua din@mica contínua de acumulação e reprodução#

eendemos que, neste processo, nem o local nem o glo"al podem ser e&plicados por si

mesmos, isto /, de orma isolada, como se um não inluenciasse o outro# 2o a3er isso,

estaríamos redu3indo a um localismo se opt'ssemos por, neste movimento interescalar, alar

em local desconectado das relaç%es de verticalidade


11/31

11

2"re-se aqui, a perspectiva da an'lise do vivido atrav/s do uso do espaço, pelo corpo, revelandose enquanto processo de apropriação# 2qui vaigan$ando signiicado o espaço imediato da vida das relaç%es cotidianas maisinas as relaç%es de vi3in$ança, o ato de ir às compras, o ato de camin$ar, a

ação que marca o encontro com os con$ecidos, permite os 0ogos e as "rincadeiras, dão sentido ao ato de $a"itar# Lrata-se de lugares que o $omem$a"ita dentro da cidade que di3em respeito ao seu cotidiano e a seu modo devida: onde se locomove, tra"al$a, lana, o espaço da casa e dos circuitos decompras, dos passeios, ormas atrav/s das quais o $omem se apropria de seumundo imediato que vai gan$ando o signiicado dado pelo uso e suas possi"ilidades D, p# M?=#

X a respeito deste conte4do sim"ólico, ligado ao modo de vida, que surgem as nossas

inquietaç%es# 2 literatura cientíica est' repleta de autores que deinem o nosso momento$istórico atual como 8pós-moderno9, uma realidade em que as relaç%es sociedade-espaço-

tempo v)m se modiicando# Para Carlos D, p# ?=, vivemos as marcas de um 8tempo

e)mero9, como resultado da acumulação de espaços amn/sicos, 8onde os reerenciais se

diluem no espaço da metrópole e, com ele, os traços, em que se "aseiam a construção da

identidade produ3ida pela vida de relaç%es entre os $omens9# Qas dei&aremos essa discussão

para mais adiante#

Para compreendermos as recentes transormaç%es em *arra de +angada, não nos "asta

entendermos o que / o espaço ur"ano, / necess'rio analisar o papel dos agentes que o

produ3em# *arra de +angada, recentemente, vem sendo palco de um crescimento imo"ili'rio

com características dierentes do que vin$a $istoricamente acontecendo# (ão produtos

imo"ili'rios residenciais de alto padrão, completamente al$eios à realidade das resid)ncias

simples e do com/rcio inormal que avistamos nas ruas do "airro# Qas, como nos alerta (ou3a

?, p# ?MM=, 86s "airros, suas imagens e seus limites podem ser condicionados por

intervenç%es do !stado e, na verdade, pelo próprio Capital imo"ili'rio, que pode ter interesseem YampliarZ os limites de certos "airros valori3ados, criar ou recriar imagens e identidades e

assim segue9#

1a tentativa de entender quem são os agentes respons'veis por essa mudança,

classiicamos em cinco os agentes produtores do espaço ur"ano, segundo a acepção de Corr)a


12/31

12

estreitar as relaç%es e, at/ certo ponto, diminuir os conlitos entre os mesmos# 6 que nos leva

a considerar a possi"ilidade de encontrarmos grupos se transvestindo em dierentes agentes,

na "usca pela ma&imi3ação da reprodução do capital#

2inda tratando da din@mica de reprodução do espaço ur"ano, Carlos D= classiica

a ação com"inada desses agentes como tr)s planos distintos e 0ustapostos, da seguinte orma;

E### esta reprodução sinali3a a articulação indissoci'vel de tr)s planos; .7@


13/31

13

Conorme Poulant3as


14/31

14

+a"oatão com o oceano, e de costas para o que / antigo, antiquado e ultrapassado, ou se0a, o

próprio "airro de *arra de +angada# Como descreve (antana ?=; 8Certamente, as novas

representaç%es sociais de determinado lugar serão construídas a partir de aç%es e pr'ticas

discursivas, apresentadas ao p4"lico por meio da propaganda e da pu"licidade9# 2 criação de

uma 81ova *arra9 demonstra a ragmentação do espaço pelo capital atrav/s de seu próprio

discurso, ressigniicando uma pequena parte do atual "airro e ignorando o que resta,

mantendo o valor do solo "ai&o para uturos investimentos na ampliação desse novo "airro#

Partindo a uma discussão para mel$or compreender o papel do marketing dentro da

produção do espaço ur"ano e identiicar de que orma os incorporadores imo"ili'rios se

utili3am deste con0unto de t/cnicas para sedu3ir seus consumidores, atendendo às suas

necessidades, ou criando novas, quando necess'rio, tra3emos as palavras de (antana ?, p#

D?=, para quem,

E### as estrat/gias de marNeting e os enunciados das propagandas voltados para a comerciali3ação e para o consumo terão um estilo condi3ente com o p4"lico a que se destinam# Produ3irão sentidos para os su0eitos,transormando seus son$os em realidades plausíveis# Cria-se uma linguagemde sedução, em que certos elementos são selecionados de acordo com o peril do segmento a ser atingido# Palavras-c$ave que gan$am destaque emenunciados, imagens que alam por si mesmas#

esta orma, identiicamos então, o papel marketing na construção de um produto que

atenda a todas as demandas do potencial comprador, se0am elas reais ou não# 2ssim sendo,

8Por meio do marNeting as mercadorias são meticulosamente conce"idas e divulgadas para

despertar e por ve3es reali3ar dese0os, e ao mesmo tempo incitar a sua transormação em

novas necessidades9 ?D, p# ?.K-?..=# Para compreender esse 0ogo de sedução,

entre a mercadoria e o consumidor $a"ilmente arquitetado, no caso do mercado imo"ili'rio,

pelos incorporadores iniciamos a an'lise da estética da mercadoria.

Para 5aug


15/31


16/31

16

(e0a o que or uma 8"orda ininita9, o nosso questionamento / se seriam todos esses

aparatos, de ato, necess'rios ao consumidor desse produto# Facilmente encontramos a nossa

resposta nas palavras de 5aug


17/31

17

Wale di3er que tudo isso est' relacionado com a ideia de hipercosumismo, como trata

AipovetsN] ?>=, e que tem no seu motor a est/tica do produto, conorme a concepção

teórica tra"al$ada por 5aug# Para este 4ltimo, a est/tica da mercadoria; 8E### designa um

comple&o uncionalmente determinado pelo valor de troca e oriundo da orma inal dada à

mercadoria, de maniestaç%es concretas e das relaç%es sensuais entre o su0eito e o"0eto por

elas condicionadas9


18/31

18

"4 METODOLOGIA DO TRABALO

Conorme undamentado na seção anterior, nosso pressuposto teórico / de que o

espaço / meio, produto e condicionante social, e que o mesmo, dentro do modo de produção

capitalista, vem sistematicamente sendo posto so" a condição de mercadoria e, de orma

gradativa, a sociedade vem sendo privada de seu pleno usuruto#

(o" o ponto de vista da metodologia, consideramos que uma pesquisa qualitativa seria

ideal, de acordo com o o"0eto a ser estudado e os preceitos teóricos que tomamos# (o"retudo

quando consideramos as palavras de 5aguette ?=, que airma; 8os m/todos quantitativos

sup%em uma população de o"0etos de o"servação compar'vel entre si e os m/todos

qualitativos enati3am as especiicidades de um en7meno em termos de suas origens e de suara3ão de ser9# 1esse sentido, em"ora os dados quantitativos possam ser utili3ados, em

nen$um momento eles invalidam e tiram a import@ncia da an'lise qualitativa do processo

espacial estudado em *arra de +angada#

Como nossa pesquisa a3 parte de um programa de iniciação cientíica e tem nature3a

e&ploratória, optamos por tomar como estrat/gia de pesquisa o estudo de caso# Uuanto ao

estudo de caso, C$i33otti = airma que,

Constitui-se, pois, em uma "usca intensiva de dados de uma situação particular, de um evento especíico ou de processos contempor@neos,tomados como YcasoZ, compreend)-lo o mais amplamente possível,descrev)-lo pormenori3adamente, avaliar resultados e aç%es, transmitir essacompreensão a outros e instruir decis%es , p# ?=#

(a"emos, ainda, das limitaç%es da estrat/gia de pesquisa escol$ida, como alerta

5aguette ?, p# H=; 8Por causa da sua e&trema le&i"ilidade, ela / ameaçada

constantemente por atores de contaminação que podem provocar distorç%es dos próprios

dados adquiridos, levando a interpretaç%es err7neas so"re o en7meno estudado9# Cientes

dessa questão, procuramos nos aparel$ar de procedimentos metodológicos que possam nos

ornecer inormaç%es suicientes para serem conrontadas, evitando a tomada de conclus%es

"aseadas em dados 8não imparciais9# Conorme 5aguette ?, p# K e KD=, 8E### o ponto-

c$ave no controle de qualidade dos dados em todos os casos situa-se no uso sistem'tico de

dados de outras ontes relacionadas com o ato o"servado a im de que se possa analisar a

consist)ncia das inormaç%es e sua validade9#


19/31

19

entre esses procedimentos mencionados estão; revisão "i"liogr'ica, o"servação in

loco do o"0eto empírico de estudo, entrevistas semiestruturadas, registro otogr'ico, consulta

a dados do Instituto *rasileiro de Geograia !statística - I*G! e an'lise e ta"ulação dos

dados#

2 escol$a da entrevista semiestruturada se deu pela possi"ilidade de a"ertura para o

entrevistado levantar assuntos que ele considera pertinentes a respeito do tema proposto, mas

sem que o di'logo se distancie demasiadamente das indagaç%es que acreditamos precisarem

ser respondidas para o alcance dos nossos o"0etivos, conorme especiicados no terceiro

tópico desse relatório# Lodas as entrevistas oram gravadas, com o livre consentimento dos

su0eitos entrevistados, e posteriormente transcritas para a mel$or apreciação de seus

conte4dos#

6s dados que oram consultados do I*G! são provenientes do "anco de dados

censit'rios da instituição, o"tidos atrav/s da plataorma do (istema I*G! de Recuperação

2utom'tica (IR2, para o qual tivemos treinamento ministrados nos dias >. e a"ril e de

maio do corrente ano, disponi"ili3ado pelo Grupo de Pesquisa e !studos Geogr'icos

GP!G, e pela Coordenação do Curso de Aicenciatura em Geograia CG!6, onde pudemos

contar com tr)s uncion'rios do I*G! para a promoção desta capacitação#

1ão oi possível, entretanto, o levantamento de dados para o "airro de *arra de

+angada anteriores ao censo de >?, pois nas pesquisas anteriores a esta data a preeitura

municipal de +a"oatão dos Guararapes ainda não $avia regulamentado legalmente os limites

ísicos do "airro# 2s inormaç%es pertinentes aos levantamentos anteriores a esta data estão

presentes no "anco de dados do I*G!, por/m desagregadas entre todos os setores censit'rios

que atualmente comp%e o "airro, portanto o acesso a estas inormaç%es / mais comple&o e,

devido a alguns pro"lemas t/cnicos na plataorma (IR2, não tivemos tempo $'"il para a

o"tenção dos mesmos#


20/31

20

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

a mesma orma que "uscamos na seção de reerencial teórico, destinada

principalmente à an'lise da literatura a respeito do tema, um di'logo mesmo que pontual com

o nosso o"0eto empírico de estudo, pretendemos neste tópico e&por os rutos das nossas

o"servaç%es e entrevistas em di'logo com os con$ecimentos dos quais nos apropriamos e sem

os quais qualquer ponderação so"re o empírico se tornaria rasa e con0ectural#

ito isto, partimos para uma an'lise mais criteriosa do "airro de *arra de +angada# 6

primeiro aspecto que pretendemos elucidar, e talve3 o mais pertinente para a nossa discussão

so"re a situação socioespacial dos moradores de *arra de +angada, di3 respeito aos conte4dos

que caracteri3am um "airro, conorme de"atido no início do tópico D ?=# 2pesarde ter um mesmo conte4do composicional, na esera do sim"ólico, ou do espaço vivido

D=, / evidente que e&istem dois signiicados dierentes para o mesmo "airro; a

comunidade Praia do (ol, uma comunidade constituída atrav/s de Instituto de 6rientação às

Cooperativas 5a"itacionais I16C66P: e a comunidade 1ovo 5ori3onte, antigamente

con$ecida como (ovaco da Co"ra, que em quase sua totalidade oi originada de ocupaç%es

irregulares de uma antiga 'rea de mangue#

Qesmo com as dierenças no peril econ7mico dos moradores das distintas

comunidades, ica evidente que am"as estão diretamente ligadas às mesmas centralidades e

territorialidades dentro do espaço do "airro, denunciando que am"as comungam do mesmo

conte4do interacional# Qesmo dentro de suas dierenças, am"as as comunidades a3em parte

da constituição $istórica e sim"ólica do "airro, que segundo os moradores vem sendo

construído $' mais de anos# esta orma, o peril socioecon7mico geral dos seus

moradores pode ser ilustrado nos serviços mais "'sicos de inraestrutura ur"ana p4"lica, como

/ o caso da precariedade do sistema de saneamento no "airro


21/31

21

Rede de esgoto ou pluvialFossa séptica

Fossa Rudimentar

0 5,000 10,000

1,965

1,398

6,625

r!"co 2 # $ipos de esgotamento sanit!rio % &uantidade de domic'lios

&uantidade de domic'lios

Fonte( )*+, 2010 -adaptado.

os ?#KD municípios conta"ili3ados pelo I*G!, no ano de >?, no "airro de *arra

de 0angada, apenas ?K,?>O contam com rede de esgoto, ?>,K.O disp%e de ossa s/ptica e, agrande maioria, ?O contam apenas com uma ossa rudimentar, con$ecida pelos moradores

do "airro como 8cai&a de gordura9# estacamos neste gr'ico os domicílios que contam com

um "an$eiro, segundo as deiniç%es do I*G!, os cerca de KO restantes contam apenas com

sanit'rio, que para o propósito do levantamento censit'rio / compreendido da seguinte orma;

8C7modo ou local limitado por paredes de qualquer material, co"erto, ou não, por um teto e

que dispusesse de vaso sanit'rio ou "uraco para de0eç%es, como tam"/m o "an$eiro de uso

comum a mais de um domicílio9?# einição que nos parece demasiada prec'ria para a3er

parte do cotidiano de um d/cimo da população do "airro#

2pesar da maioria das ruas da comunidade Praia do (ol serem calçadas, poucas das ruas do

"airro e praticamente nen$uma da comunidade 1ovo 5ori3onte são saneadas# 6 resultado

deste quadro / o trans"ordamento das ossas e o desgaste das principais vias do "airro


22/31

22

Foto ? Weículos desviando de "uracos na 2v# Crici4ma# Fonte; 2drianno 2lmeida, 0ulB>?M#

2 otograia acima retrata as condiç%es da 2v# Crici4ma, principal via de acesso do

"airro de *arra de +angada, em p/ssimas condiç%es de tr'ego, al/m do visível

trans"ordamento das ossas que se acumularam às margens da pista# (ituação e&plícita nas

palavras de uma das moradoras que entrevistamos,

!u ac$o um "airro muito su0o# Falta de organi3ação, principalmente nosesgotos, no li&o, que / muito li&o na rua, eu ac$o, sa"eV ! assim, muitocac$orro, tem muito cac$orro na rua a"andonado E### Principalmente naentrada ali no inal de Candeias, que t' entrando pra *arra de +angada, temum lamaçal de esgoto, que / em rente à madeireira, ali / uma coisa $orrível#Fa3 at/ vergon$a à gente, que vem um turista de ora, eu tive que ir pra outra pista, por tra3, porque a entrada de *arra de +angada / um $orror, um esgoto#

! esta realidade se perpetua por todo o "airro, se0a na comunidade 1ovo 5ori3onte,

se0a na comunidade Praia do (ol mesmo em rente à estação de saneamento do "airro , se0a

nas esquinas na P!-., onde estão sendo construídos os novos empreendimentos

imo"ili'rios no "airro de *arra de +angada =# 6u seria correto di3er; onde estão

construindo o "airro da 1ova *arraV


23/31

23

Foto >- !squina da Rua Gramado com a Rua 2lvorada, ao lado dos !diícios Qaria Isadora e QariaIsa"ela# Fonte; 2drianno 2lmeida, 0ulB>?M#

2pesar de esta 1ova *arra, que vem se conigurando neste ragmento do "airro de

*arra de +angada, a3er parte da composição material do "airro, os seus demais conte4dos

nada t)m em comum com a sua vi3in$ança# !sta não poderia ser uma den4ncia mais evidente

da nature3a ragmentada e articulada do espaço =#


24/31

24

Podemos evidenciar a presença de um discurso desenvolvimentista, que evoca o novo

em detrimento das construç%es $istóricas e sim"ólicas# iscurso este que apoiado dos avanços

t/cnico-cientíicos decreta o"soleto tudo aquilo que não corro"ora com o sociometa"olismo

do capital, com o processo auto'gico de o"solesc)ncia programada e recusa a uma identidade

coletiva que não se0a a do consumo em massa, do mais e mel$or ?D=#

2ssim, indierentemente à realidade prec'ria do "airro, conorme demonstrado na oto

>, a 1ova *arra vem sendo conce"ida como um espaço de classe m/dia alta# Conorme

consultado 0unto aos corretores, para inanciar imóveis como os oertados, uma amília

precisa de renda m/dia mensal acima de RT K#,, um valor aqu/m da renda amiliar

m/dia mensal para o "airro de *arra de +angada, aerida como RT ?#>H,D, pelo I*G! para o

ano de >?, consideravelmente inerior à m/dia do município de +a"oatão dos Guararapes,

RT ?#KD,M, e da Região Qetropolitana do Recie, RT >#H,>, valores tam"/m o"tidos pelo

instituto para o mesmo ano# Walores que ilustramos no gr'ico , a"ai&o, para mel$or

visuali3ação proporcional#

>DK

?

? > D?,>H#D?,KD#M >,H#>

K,#

Gr'ico - Renda m/dia mensal por domicílio

Fonte; I*G!, >?#


25/31

25

Foto - 1ovos !mpreendimentos na P!-. vistos da praia# Fonte; 2drianno 2lmeida, 0ulB>?M#

(elecionamos a otograia acima para tentar ilustrar a presença das amenidades

naturais


26/31

26

suas aç%es "aseados um uma visão ragmentadora do espaço ur"ano, especulando o valor de

alguns espaços enquanto atuam nas 'reas que, de imediato, possam oerecer maior lucro#

Aevantamos esta argumentação para descrever, à lu3 da literatura, esta ragmentação do

espaço e mudança na escala de atuação corriqueiras às grandes construtoras, como evidente

nas palavras de um dos corretores que pudemos entrevistar#

2 Uueiro3 Galvão, a Wale do 2ve e a Rio 2ve, tam"/m, elas tem terreno aquia tr)s por dois>, são estoques de terreno, que eles tem muito por aqui# !lesestão estocados em terrenos aqui, e não são 'reas pequenas, não# E### !&istesim a ideia de desenvolver esse "airro daqui, se não eles não tin$amcomprado# !&iste essa ideia de aumentar isso aqui, os plane0amentos delessão esses, só não estão iniciando muito por causa disso, por causa dessareada que deu por conta da crise# E### A' em candeias, ali onde c$amam a

comunidade (ovaco da Co"ra, a Uueiro3 Galvão, a Qoura u"eu&, temquadras e quadras que eles adquiriram#

!ssas reservas de território, às quais, um dos corretores imo"ili'rios que entrevistamos

se reeriu, contam com a pretensa valori3ação do terreno ruto do aumento do status da 'rea,

que em "oa parte acontece pela presença dos empreendimentos que 0' oram instalados ?M#

2 otograia D pretende ilustrar como a presença de terrenos "aldios, que à primeira

vista parecem ser ruto do desinteresse de seus propriet'rios, na realidade demonstram uma

2 8Lr)s por dois9 / uma igura de linguagem que a3 reer)ncia a a"und@ncia, a uma grandequantidade de algo#


27/31

27

das estrat/gias da produção capitalista do espaço# Lodavia, a especulação imo"ili'ria / apenas

uma das diversas erramentas das quais disp%em os promotores imo"ili'rios#

Lratando dos meios pelos quais estes agentes impulsionam o valor de seus produtos,

certamente o marketing tem um crescente papel de destaque dentro da realidade em que

vivemos, e se durante o tópico D deste tra"al$o discorremos quanto as concepç%es teóricas de

(antana, 5aug e AipovetsN] acerca do assunto, podemos agora e&empliicar que tipo de

discurso tem sido insinuado, atrav/s do marketing , quanto a estes empreendimentos na P!-

.# Para tanto, o"servemos a oto M que o"tivemos de um outdoor instalado em um destes

ediícios#

Foto M - Outdoor de ediício em construção na orla de *arra de +angada# Fonte; 2drianno 2lmeida, 0ulB>?M#

epois de o"servada a igura, c$amamos a atenção para dois principais elementos que

argumentam com os dese0os do consumidor# 6 primeiro, mais su"0etivo, est' diretamente

relacionado aos anseios de elicidade de quem o"serva a imagem, um casal 0ovem e "onito,


28/31

28

am"os "rancos e de ol$os a3uis, em uma posição descontraída, ao lado de um modelo

computadori3ado do ediício com a areia da praia, o mar e o c/u ao undo# 2 literatura nos

leva a considerar o marketing uma erramenta para a condução do dese0o dos indivíduos em

direção ao consumo e à valori3ação dos "ens


29/31

29

e&plicitamos anteriormente atrav/s do pensamento de Poulant3as, / resultante de uma

intermin'vel disputa de interesses entre as raç%es que o comp%e, como ica evidente na ala

de um dos nossos entrevistados quando airma que;

!lias GomesD tem eito e só não a3 mais porque essa 'rea aqui / uma 'reaque t' "rigando Esic; patrim7nio da união, (P, porque di3 que / 'rea demarina e que não vai a3er, meio am"iente tam"/m di3 que não pode, E###tem estudo para ser eito e eles não li"eram enquanto não tiver um estudocompleto#

6 resultado da ineici)ncia do poder p4"lico em cumprir as demandas da sociedade aca"a por

ser sentido apenas nas parcelas menos aortunadas da população visto que, como 0'

esclarecido, a população que ten$a renda para tanto pode optar por atender aos seus anseios e

dese0os atrav/s da oerta de empresas privadas, que encontrar na incapacidade do !stado

ótimas oportunidades de negócios, demonstrando a malea"ilidade que o capital assume na

"usca por novas ormas de se reprodu3ir#

4 re=eito do munic'pio de >aoat?o dos uararapes no momento da pes@uisa


30/31

30

4 CONSIDERAÇ&ES FINAIS

iante do e&posto, nos parece que o "airro de *arra de +angada vem sorendo

transormaç%es socioespaciais consider'veis, mesmo que em uma ai&a muito restrita da 'reado "airro, o modelo de ur"anístico, "em como os consumidores que v)m sendo instalados na

margem da P!-., não tem qualquer semel$ança com a realidade vivenciada pelos

moradores de *arra de +angada, quer se0am da comunidade Praia do (ol ou da comunidade

1ovo 5ori3onte# ito isto, consideramos que em um uturo pró&imo $aver' a possi"ilidade de

novos estudos para a proposição da criação de outro "airro naquele espaço

Concordamos ainda, que o principal estopim para as transormaç%es que v)m

acontecendo oi o desenvolvimento do polo portu'rio e industrial de (uape, "em como ainstalação do CIR( Reserva do Paiva, outra e&ternalidade do CIP( (uape que $o0e tem o

próprio vulto, mesmo sem ter atendido às e&pectativas iniciais de vendagem do

empreendimento# esta orma, analogicamente com o quadro de recessão econ7mica no país,

diminuição do crescimento do CIP(, "em como do mercado imo"ili'rio, as o"ras no litoral de

*arra de +angada t)m entrado em marc$a lenta, e deve voltar a ser interesse dos promotores

imo"ili'rios assim que o mercado se aqueça e 0ustiique os investimentos, considerando que

diversas construtoras esta"eleceram reservas de território para a especulação imo"ili'ria#

entro deste processo, consideramos este estudo e&tremamente importante para que se

consolide no imagin'rio da população uma visão mais crítica so"re a est/tica da mercadoria e

da orma que o marketing se esta"eleceu no nosso cotidiano# Portanto, não devemos nos

dei&ar levar pelo discurso de sedução que nos persegue na pós-modernidade, quando todos os

produtos são marcas, e o consumo / sin7nimo de inclusão#

2inda, apesar de desacreditarmos que o ca"o de guerra do !stado resulte numa açãovoltada unicamente ao "em estar da população, esperamos que se tome partido dos moradores

de *arra de +angada para que usuruam de uma mel$ora na qualidade de vida# 2 situação

destes moradores / "astante prec'ria, principalmente no reerente a saneamento, podendo os

esgotos a c/u a"erto serem vetores de diversas doenças, principalmente numa região de clima

c$uvoso como o litoral pernam"ucano#


31/31

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGR%FICAS

*2R*6(2, 2dauto Gomes# E75*/

Documents

Transformações Socioespaciais no Bairro de Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco