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TRANSFORMAÇÃO - Parte 3

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Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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TRANSFORMAÇÃO – PARTE 3

Você estaria disposto a deixar sua família para ir defrontar-se com o perigo absoluto e fulminante numa missão ordenada pelo Senhor?

Na segunda parte da aventura, Carlos e Nick Gradinno acertaram

contas com Lucas e os demais capangas de Vip. No meio do tiroteio Alan Xavier levou um tiro por Carlos e está entre a vida e a morte. Em sussurros pediu para que Carlos o levasse a um endereço desconhecido até então.

A casa onde Carlos levou o ferido é simples e revelou outra etapa da história de Alan. Um casal por nome de Fábio e Vitória socorreu Alan e chamaram um amigo em comum, Andrey.

Axel chegou ao local do confronto e notou muitas irregularidades. A principal delas: muito sangue e um só corpo encontrado. O de Nick Gradinno.

Carlos se viu entre os amigos de Alan e todos pareciam também ser convertidos ao Evangelho de Cristo.

O momento final chegou assim como o confronto final. O que irá acontecer? Alan e Carlos provarão sua inocência? Alan conseguirá alcançar o coração de Carlos e fazê-lo entender que

Deus o ama? E quanto a Carlos? Conseguirá ele resgatar sua noiva e derrotar

toda a quadrilha? E o grande segredo da Quadrilha? Quem será o misterioso Vip? Nestes capítulos finais você estará “DESCOBRINDO A VERDADE!”

Naasom A. Sousa

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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TRANSFORMAÇÃO PARTE 3

Naasom A. Sousa

Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através do

site Letras Santas, com autorização do Autor. A reprodução no todo ou em parte deste livro, por qualquer meio, sem autorização do autor é expressamente proibido.

O Autor gostaria de receber um e-mail de você com seus comentários e críticas sobre o livro: [email protected]. O Letras Santas gostaria também de receber suas críticas e sugestões. Sua opinião é muito importante para o aprimoramento de nossas edições: [email protected] ou [email protected]. Estamos à espera do seu e-mail.

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Edição Letras Santas

© Copyright - 2003 by Naasom A. Sousa

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Parte Três

DESCOBRINDO A VERDADE

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Capítulo 23

eus olhos se abriram quando um raio de sol despontou pela janela e ofuscou seu rosto. Ergueu o cenho e apertou os olhos para acostumar-

se rapidamente a luminosidade do dia que clareava lá fora. Havia voltado às cinco horas e quinze minutos para a casa da rua Josué Golfinho, número 308. No mesmo instante em que cruzara a porta, fora abordado por Vitória, que logo lhe ofereceu um colchonete e sem que ainda respondesse, esticou-o no chão da sala, logo após cobrindo-o com um cobertor limpo. Não tivera como recusar. Deitara, mas não dormira imediatamente. Sua mente permanecera ocupada por muito tempo depois. Ela variara de Nicole para Vip, e de Vip para Alan, de Alan para Lucas e de Lucas para si mesmo. Bolara planos e mais planos inconseqüentes para resgatar Nicole da sede da quadrilha. Porém, mais tarde sempre descobria que tudo era uma grande tolice, pois todos eles findavam na sua morte, na de Nicole ou na de ambos. E foi assim — pensando e planejando — que acabara dormindo.

Agora, Carlos passou a mão no rosto e sentiu a barba por fazer. Devo estar um trapo ambulante, pensou. Sentou sobre o fino colchonete e em seguida levantou-se. Respirou fundo e perguntou-se como teria amanhecido o pastor. Voltou o olhar para o quarto e viu a porta aberta. E mais que isso, enxergou Vitória ajoelhada no chão e debruçada sobre a cama e com Fábio sentado junto a ela. Eles oravam silenciosos, mas de maneira fervorosa.

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Carlos observou-os por um momento e notou que seus olhos estavam fechados e apenas seus lábios se mexiam numa tagarelice sussurrada. Fez um sinal de desaprovação com a cabeça e quis saber por que faziam aquilo. Como podem perder tempo com isso? Resmungou.

&&&

Carlos foi surpreendido por Vitória quando esta entrou na cozinha

e pegou-o sentado à mesa tomando um copo com água. Vitória era uma jovem mulher muito bonita. Naquela manhã,

parecia que estava mais bonita que de madrugada, pensou Carlos. Ela estava dentro de um vestido roxo que escondia as curvas do seu corpo bem torneado. Seus cabelos castanhos emolduravam o rosto redondo e cheio, liso como seda e os seus olhos brilhantes poderiam guiar um navio de longe como um farol.

Ele fitou-a sem dizer uma só palavra. Vitória sorriu. Um dos sorrisos mais belos que Carlos já tinha em

toda a sua vida. — Você estar com fome. Quer café? Ele hesitou. — Sim, por favor. Ela caminhou até a garrafa térmica e em seguida até o armário onde

pegou nas mãos três xícaras e levou tudo à mesa. — Como o pastor está esta manhã? — perguntou Carlos. — Ele parece melhor. Andrey saiu depois que você dormiu e disse

que até naquele momento não poderia dar nenhuma conclusão concreta. Ele disse que voltaria logo que amanhecesse para verificar o seu estado. Ele é o médico da turma.

Carlos estreitou os olhos. Dormira tanto que não vira Andrey sair. — Que horas o seu amigo médico saiu? — Eram quase seis. Se está pensando que ele irá fazer algo contra

você, pode ficar tranqüilo. Nada acontecerá com você enquanto estiver aqui.

Ele pensou sobre aquilo. Como ela podia ter certeza daquilo? Ninguém o podia. Mas de alguma forma ele se sentiu tranqüilizado. Ele indagou com expressão séria:

— Você falou de uma turma. Que turma é essa? — Era a nossa turma. Fábio, Andrey, Joás e eu. — Joás? Quem é Joás? Onde ele está? Vitória sorriu.

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— Está em lua-de-mel. Casou-se há quatro dias — o sorriso repentinamente desvaneceu. — Só não sei como ele irá receber a notícia de que Alan está aqui em casa, e… ainda correndo risco de vida.

Vitória encheu as xícaras e indicou a Carlos a sua. — Não creio que seja… posso dizer… prudente ligar e contar uma

coisa daquelas logo na lua-de-mel do homem. A jovem esposa tomou um gole do café da sua xícara e disse: — Eu pensei nisso, mas acho que Joás não nos perdoaria se

escondêssemos isso dele. Ele, assim como todos nós, somos muito amigos de Alan.

— Isso dá pra se notar. Você e Fábio são casados? — Somos — respondeu Vitória sem nenhuma cerimônia. Carlos fez um sinal afirmativo com a cabeça e engoliu um pouco do

líquido negro. — Ele não vai tomar café agora? Vitória abanou a cabeça. — Não. Ele está agora orando por Alan. Depois vai vir. Orando? De forma estranha aquela pequena palavra o perturbava.

Ele pensou rapidamente e tentou dentro de si saber por quê. Mas por hora, achou melhor mudar de assunto.

— Diga-me, como vocês conheceram o pastor? — indagou. Ela ergueu o sobrolho diante da pergunta. — Oh, isso é uma longa estória e acho que quem deva contá-la seja

o próprio Alan. — Por que acha isso? — Não sei… Isso é apenas um pressentimento. Carlos ficou a olhá-la, como se tentasse descobrir o que pensava. Ele

tomou mais um gole de café quente. — Posso lhe pedir uma coisa? — perguntou Vitória. Carlos foi pego de surpresa. — Eu… eu não sei… — pensou na loucura e nos costumes

esquisitos daquela mulher e de seus amigos, como por exemplo, ficar de joelhos e debruçada sobre a cama que acolhia Alan. — Está bem. Peça. — disse por fim.

— É uma coisa muito simples. — falou ela. — pode ir até a sala, pegar um livro de capa preta, procurar o nome Salmos na parte superior e ler os números 139 e… 57?

Carlos estreitou os olhos, confuso. — Ler parte de um livro? Para quê isso? Vitória sorriu.

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— Apenas leia, por favor. O que contém nesse livro pode ajudá-lo. — Me ajudar?! — desdenhou Carlos. — Você só pode estar

brincando. — Você irá fazer alguma coisa agora? Nesse momento? Carlos pensou no mesmo instante em ligar para Vip e até mesmo se

sentiu tentado a mentir dizendo que iria sair naquele momento. Mas então fez uma menção negativa com a cabeça.

— Não. Não irei a lugar algum agora. Vitória deu uma última golada do seu café e retirou-se da cozinha

dizendo: — Então faça o que lhe pedi. Você não tem nada a perder. Carlos levou sua xícara à boca e ponderou: Creio que você tem toda a razão. Nesses últimos dias eu não tenho muita

coisa a perder.

&&&

A sala de Pablo e Caio era uma das maiores da central e também uma das mais confortáveis. Axel gostava de lá, mas admitia que aquilo não pertencia a ele — como queria o capitão dali por diante — e sim continuava sendo posse dos antigos ocupantes. Ele afundou na acolchoada poltrona atrás da mesa de mogno envernizado e petrificou o olhar, recordando tudo o que havia acontecido na madrugada. Tudo aquilo o deixara confuso. No momento nada se encaixava muito bem.

Com tudo o que acontecera, não tivera tempo de voltar para casa, porém, fez um esforço para dar um telefonema para Tina. Ainda se lembrava que a voz da esposa parecia fraca como o de alguém que tinha passado a noite aos prantos. Aquilo o preocupara e resolveu que assim que terminasse seu relatório, voltaria correndo para casa e então encontrá-la e também a seu filho.

A porta da sala foi subitamente aberta e Levi entrou como um furacão.

— Queria falar comigo, Axel? — indagou ele. O agente fez um sinal positivo com a cabeça. — Sim, eu quero saber se você já descobriu algo a respeito do

homem morto nessa madrugada na rua Treze. Qual o seu nome? Ele tem mulher, Filhos? Sai às noites, tem casa própria, qual o modelo e ano do carro dele… ? Essas coisas.

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Levi sorriu e Axel percebeu que ele já se encontrava com uma pasta na mão. Levi ergueu-a e Axel pôde ler Nick Gradinno escrito com pincel atômico.

— Sou todo ouvidos — disse Axel para que Levi começasse seu relatório.

— Como você já viu, o nome dele era Nick Gradinno, descendente de italiano. Não tinha mulheres, filhos nem casa própria. Foi preso várias vezes por porte ilegal de armas, agressão, roubo de carros, extorsão, tentativa de assassinato, assassinato… Resumindo, a ficha é bem longa. Esse cara era um caso perdido.

— Nada está perdido, meu amigo. Levi não entendeu. Axel olhou alguns papéis sobre sua mesa e organizou-os,

colocando-os a seguir para o lado. Abriu a gaveta, pegou outros papéis e entregou-os a Levi.

— O que é isso? — São os retratos-falados dos dois suspeitos. Quero que você

espalhe isso por toda a cidade. Pregue em cada poste, em cada vitrine, em cada banheiro. Também entregue à mídia. Já entreguei para todos os jornais impressos locais e certamente já prensaram o rosto deles nas primeiras páginas.

— Isso é muito bom — falou Levi confiante — Quem sabe assim conseguiremos colocar as mãos nesses dois assassinos.

Axel hesitou. — É, mas… não sei não. Tem alguma coisa estranha em tudo isso

que não está batendo. — O que você está pensando? — Pode ser apenas minha imaginação, mas… primeiro mandam a

Pablo e a Caio para uma emboscada, onde são assassinados. Depois, os culpados pelo assassinato são capturados, um pouco fácil de mais, e levados por uma estrada onde dificilmente alguém passa. A viatura bate por culpa do motorista, porém este era considerado o melhor motorista da polícia de Melmar. Daí, os suspeitos escapam e, ao invés de fugirem para uma outra cidade ou país, retornam para cá. O motorista morre subitamente. O telefonema dado pelos suspeitos que poderia ser a chave para desvendar esse caso desaparece dos registros da companhia telefônica e, por fim, há um novo confronto no mesmo endereço onde tudo isso começou. Há balas, vidros e sangue por toda parte e apenas um corpo foi encontrado. Pense bem. Há algo muito esquisito aí.

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Alguma coisa nas entrelinhas; algo encoberto. Não tenho a menor idéia do que seja por enquanto, mas vou descobrir.

O telefone tocou. Era Caroline. Sua voz estava um tanto alterada. — Axel, queria me encontrar com você mais uma vez no trailer do

George, agora se fosse possível. É algo urgente que queria tratar com você.

Axel pensou por um momento. Mais uma urgência era tudo o que não queria. Tina mais uma vez teria que esperar.

— Tudo bem, irei encontrá-la daqui uma hora.

&&&

O livro grosso e preto estava em suas mãos. Ele leu as letras douradas que estavam impressas na capa.

BÍBLIA SAGRADA Primeiro quero saber se você conhece a Bíblia Sagrada. Conhece? Lembrou

das palavras de Alan. Porque Nela está escrito, em um livro chamado de Carta aos Romanos, que

todos os seres humanos estão sujeitos a fazer tudo isso que você fez e muito mais. Lá está escrito: Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há um só. Também está lá: porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Todos somos iguais, e com isso estamos a mercê do mesmo julgo. Assim como você está agora, como eu também estou… poderia ser qualquer outra pessoa, pois somos todos iguais…

Parecem ser todos iguais esses loucos, pensou Carlos com relação a Alan e os donos da casa.

Fitou a bíblia por um longo tempo e depois a abriu. O nome que viu no canto superior foi Juizes. Não gosto deste nome, disse consigo mesmo. Folheou algumas páginas até encontrar o nome Samuel. Gostou do nome. Havia vários números espalhados por todas as páginas algumas maiores que as outras. Ele observou a grande: 17 (capítulo 17). Leu o nome Davi e Golias. Algo lhe impulsionou a ler o que estava escrito naquelas pequenas linhas.

Os israelitas e os filisteus se punham em ordem de batalha, fileira contra fileira. E Davi,

deixando na mão do guarda da bagagem a carga que trouxera, correu às fileiras; e, chegando, perguntou a seus irmãos se estavam bem.

Enquanto ainda falava com eles, eis que veio subindo do exército dos filisteus o campeão, cujo nome era Golias, o filisteu de Gate, e falou conforme aquelas palavras; e Davi as ouviu.

E todos os homens de Israel, vendo aquele homem, fugiam, de diante dele, tomados de pavor.

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Diziam os homens de Israel: Vistes aquele homem que subiu? pois subiu para desafiar a Israel. Ao homem, pois, que o matar, o rei cumulará de grandes riquezas, e lhe dará a sua filha, e fará livre a casa de seu pai em Israel.

Então falou Davi aos homens que se achavam perto dele, dizendo: Que se fará ao homem que matar a esse filisteu, e tirar a afronta de sobre Israel? pois quem é esse incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo? E o povo lhe repetiu aquela palavra, dizendo: Assim se fará ao homem que o matar.

Eliabe, seu irmão mais velho, ouviu-o quando falava àqueles homens; pelo que se acendeu a sua ira contra Davi, e disse: Por que desceste aqui, e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Eu conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração; pois desceste para ver a peleja.

Respondeu Davi: Que fiz eu agora? porventura não há razão para isso? E virou-se dele para outro, e repetiu as suas perguntas; e o povo lhe respondeu como da

primeira vez. Então, ouvidas as palavras que Davi falara, foram elas referidas a Saul, que mandou

chamá-lo. E Davi disse a Saul: Não desfaleça o coração de ninguém por causa dele; teu servo irá, e pelejará contra este filisteu.

Saul, porém, disse a Davi: Não poderás ir contra esse filisteu para pelejar com ele, pois tu ainda és moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade.

Então disse Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai, e sempre que vinha um leão, ou um urso, e tomava um cordeiro do rebanho, eu saía após ele, e o matava, e lho arrancava da boca; levantando-se ele contra mim, segurava-o pela queixada, e o feria e matava.

O teu servo matava tanto ao leão como ao urso; e este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. Disse mais Davi: O Senhor, que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me livrará da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo.

E vestiu a Davi da sua própria armadura, pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de uma couraça.

Davi cingiu a espada sobre a armadura e procurou em vão andar, pois não estava acostumado àquilo. Então disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si.

Então tomou na mão o seu cajado, escolheu do ribeiro cinco seixos lisos e pô-los no alforje de pastor que trazia, a saber, no surrão, e, tomando na mão a sua funda, foi-se chegando ao filisteu.

O filisteu também vinha se aproximando de Davi, tendo a: sua frente o seu escudeiro. Quando o filisteu olhou e viu a Davi, desprezou-o, porquanto era mancebo, ruivo, e de gentil aspecto.

Disse o filisteu a Davi: Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus? E o filisteu, pelos seus deuses, amaldiçoou a Davi. Disse mais o filisteu a Davi: Vem a mim, e eu darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo.

Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo; mas eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado.

Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às feras da terra; para que toda a terra saiba que há Deus em Israel; e para que toda esta assembléia saiba que o Senhor

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salva, não com espada, nem com lança; pois do Senhor é a batalha, e ele vos entregará em nossas mãos.

Quando o filisteu se levantou e veio chegando para se defrontar com Davi, este se apressou e correu ao combate, a encontrar-se com o filisteu. E Davi, metendo a mão no alforje, tirou dali uma pedra e com a funda lha atirou, ferindo o filisteu na testa; a pedra se lhe cravou na testa, e ele caiu com o rosto em terra.

Assim Davi prevaleceu contra o filisteu com uma funda e com uma pedra; feriu-o e o matou; e não havia espada na mão de Davi.

— Interessante — foi tudo o que Carlos disse. Passou a procurar o livro dos Salmos para ler aqueles números que

Vitória havia lhe pedido para ler. 139 e 57, respectivamente. Seus olhos vaguearam pelo Salmo 139 e leu-o mentalmente.

Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes meu assentar e o meu levantar;

de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo

ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces… …Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás

também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.

Se disser: Decerto que as trevas me cobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa…

…Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.

Com certeza aquilo era uma poesia. Uma vez leu uma para Nicole. Ela

adorou. Pensou por um momento no que estava escrito naquelas linhas. Não poderia se esconder de Deus? Ele sorriu. Poderia se esconder de qualquer um, até mesmo de Deus.

Continuou com um sorriso nos lábios e passou as páginas retrogradamente até quando avistou o número 57. Um pouco acima estava escrito: Salmo de Davi.

Quem seria Davi? Perguntou-se. Então se lembrou do confronto de Davi e Golias. Seria o mesmo? Ele leu:

Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, por que a minha alma

confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades. Clamei ao Deus altíssimo, ao Deus que por mim tudo executa. Ele enviará desde os

céus, e me salvará do desprezo daqueles que procuram devorar-me. (Selá.) Deus enviará a sua misericórdia e a sua verdade.

A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada.

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Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; seja a tua glória sobre toda a terra. Armaram uma rede aos meus passos; a minha alma está abatida. Cavaram uma cova diante de mim, porém eles mesmos caíram no meio dela. (Sela.)…

…Preparado está o meu coração… …Se exaltado, ó Deus, sobre os céus; e seja a tua gloria sobre toda a terra.

Aquelas pequeninas letras fez Carlos compenetrar-se. Com certeza, esse tal de Davi estava numa grande fria quando escreveu

esse… salmo, pensou Carlos. — É… talvez eu e você temos algo em comum — disse Carlos, como

se Davi pudesse escutá-lo. — Nos metemos numa encrenca do tamanho do mundo e o inimigo está na espreita só esperando a gente cair no buraco para eles encherem de terra.

Virou mais algumas páginas e encontrou no livro de Oséas uma fotografia. Não parecia tão antiga. Ele observou-a bem. Lá estavam Fábio, Vitória, Andrey, outro jovem — pensou instantaneamente em Joás e, no meio dos quatro, Alan com um sorriso do tamanho do mundo aberto para a câmera. Virou as costas da foto e viu uma data: 14 de agosto de 1996. Tornou a virar a fotografia e olhou os rostos de cada um deles. Todos estavam sorrindo, mas parecia que todos estavam com lágrimas nas faces. Ele não entendia aquilo. Como uma pessoa poderia sorrir e chorar ao mesmo tempo? Certamente eram loucos.

Uma coisa chamou a atenção de Carlos. Os Quatro jovens se trajavam de modo extravagante… ou melhor, de modo esquisito. Usavam jaquetas de couro rasgadas e calças sujas e desbotadas. Andrey estava com argolas nas orelhas e uma no nariz. Vitória, agora com os cabelos na cintura, antes usava um cabelo ralo e o Fábio da foto não se parecia nada com o Fábio esposo de Vitória.

Carlos Levou a mão à fronte. Tentando raciocinar. O que houve com eles? O que Alan teria a ver com a mudança daqueles jovens? Havia algo aí, que Carlos não compreendia. Foi então que prometeu a si mesmo descobrir.

&&&

Dois copos de suco de laranja estavam sobre a mesa à frente da

repórter e do agente. Axel havia chegado há cinco minutos atrás e imediatamente feito o pedido a Patrício que se aproximou com seu bloquinho de anotações.

— Como está Pablo, Caroline, alguma melhora ou algo que nos possa deixar confiante?

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Caroline suspirou. — Infelizmente, não houve qualquer alteração no estado dele. Axel tocou-lhe as mãos. — Eu lamento. Um sorriso torto apareceu da face triste da repórter. — Obrigada, Axel, pelo apoio que você tem me dado nesses

momentos de angústias que tenho passado. Você é um grande amigo. — Ele apenas sorriu; ela continuou. — Sabe… venho andado com medo…

—Medo? — interrompeu o agente de cor. — Medo de quê? — Sim… medo de que os homens da quadrilha acabem sabendo do

paradeiro de Pablo, sabendo que ainda esteja vivo e com isso dêem um fim nele… — Calou-se por um breve instante e tornou a falar. — Nessa madrugada mesmo, eu estava no quarto de Pablo e o Dr. Stone entrou e…

— O que aconteceu? — Ele entrou e eu pensei que fosse alguém da quadrilha ou algo

parecido. Quase tive um troço. Depois conversei com ele a respeito do perigo que Pablo está correndo. Ele contestou por algum tempo, mas… — ela fitou o agente, esperando sua reação e completou: — ele concordou em me ajudar a retirar Pablo de onde está agora.

— O que você falou, Caroline? Você quer tirar Pablo do hospital…? — Escute bem, Axel. Temos que fazer alguma coisa para continuar

mantendo Pablo em segurança… — Não acho isso… — Olhe, vou tirá-lo de lá e preciso de sua ajuda. Isso deixou Axel ainda mais aturdido. O que poderia fazer para

tirar isso da cabeça de uma mulher apaixonada? Nada, ponderou finalmente.

— Está bem, vou ajudá-la.

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Capítulo 24

maçaneta foi girada e a porta aberta. Andrey entrou na pequena casa com sua maleta de instrumentos na mão direita e rapidamente

voltou-se para fechar e trancar a porta novamente. Imediatamente, seus olhos se depararam com Carlos sentado no sofá com a bíblia nas mãos, segurando a fotografia de toda turma. Notou que o homem dera apenas uma olhadela para ele e após isso tornou a fitar a foto entre seus dedos. Parecia interessado em algo nela.

Passos foram ouvidos pelo corredor e então Vitória entrou no aposento e se encaminhou rapidamente até Andrey e o abraçou como se não o visse por uma semana.

— Como está? — indagou ela. — Tudo bem? — foi então que notou que o olhar do amigo estava congelado em Carlos.

— Pra falar a verdade, Vitória, estava — essa parte chamou a atenção de Carlos que logo se voltou para eles. Andrey continuou: — Tudo estava muito bem até eu receber um exemplar do jornal de hoje. — mais que depressa, abriu sua maleta e tomou na mão o volume de papel impresso. Mirou no meio da mesinha de centro e jogou o jornal sobre ela.

A primeira página caiu aberta e todos puderam ver o letreiro: “Assassinos de policiais continuam foragidos e polícia pede ajuda à população”. E, bem abaixo das grandes letras, os rostos de Alan e Carlos se

A

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encontravam desenhados perfeitamente com a legenda: “FUGITIVOS PROCURADOS”.

Todos os olhares estavam agora sobre Carlos.

&&&

Eram 9h e 30mim e o templo da 1ª Igreja Evangélica de Melmar estava com poucas pessoas ocupando os largos bancos de madeira envernizados. Apenas poucos vivos estavam ali buscando o Senhor em espírito de oração. E foi com esse intento que Tina Brendel rompeu pelas grossas portas do templo. Ela caminhou até um dos bancos que estavam à oito metros do púlpito e lá ajoelhou-se, deixando que as lágrimas imediatamente fluíssem de seu interior e que as palavras jorrassem dos seus lábios.

Iniciou uma oração pelo seu casamento, sua família, sua casa e principalmente por Axel. Não suportava mais o trabalho sufocante de Axel, que não conseguia mais parar um minuto dentro de sua casa. Vida de policial, eu sei, mas… mas não é dessa forma que se é feliz, Senhor… clamava Tina. Entretanto, no fulgor de sua oração, ouviu subitamente um outro clamor, não muito alto, mas perceptível. Parecia uma mulher aflita. Sua voz suplicava:

— Senhor, ele tem que voltar para mim. Traga-o para mm novamente, Pai. Não me deixe nesta agonia sufocante!

Sem ter muito o controle de sua reação, Tina deixou de orar por um momento e passou prestar bastante atenção na oração da mulher.

— Ó, meu Senhor, não deixe que ele se vá, mas… eu te suplico, traga o meu companheiro que tu me destes de volta para o meu lado…

Tina ficou a escutar a mulher até o termino da oração e então pensou consigo mesma: Meu Deus, ela tem o mesmo problema que eu. Deve está passando pelos mesmos conflitos que estou passando.

Viu quando a mulher se ergueu e sentou-se no banco àlguns metros de onde estava. Sentiu imediatamente um conflito íntimo. Acho que tenho que conversar com ela. Talvez possamos nos ajudar e nos confortar mutuamente, contar nossos problemas uma para a outra. Mas… será que não será um abuso da minha parte? Será que ela quer ficar sozinha nesse momento? Tina hesitou. Não, eu não vou.

Meio minuto depois, estava de pé e caminhando até a mulher. Enquanto andava, notou os cabelos claros da jovem senhora e de como brilhavam com a luz que vinha das janelas do templo. Parou ao lado do banco e ficou sem ação por algum tempo. Respirou fundo e sentou-se ao

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lado da mulher, que estava de cabeça baixa (como estava desde que terminara a oração).

— Com licença… oi — a voz de Tina estava trêmula. A mulher levantou a cabeça rapidamente, as lágrimas ainda

escorrendo dos olhos. Porém, parecia um tanto assustada. — Oi. — Desculpe interromper, mas… bem, eu sempre venho aqui e

nunca… assim… nunca vi a senhora. — Tina buscava palavras. — A verdade é que vim hoje aqui orar, sabe, e… ao chegar aqui eu… eu ouvi a senhora orando… Isso é estranho, pois nunca fiquei escutando as orações das pessoas, mas… hoje, não sei porquê, fiquei prestando atenção às palavras ditas pela senhora enquanto orava.

Tina pausou e observou a mulher que não disse palavra alguma, apenas ouvia-a. Tina continuou:

— Notei que a senhora está passando dificuldades no seu casamento, e… eu também estou passando momentos difíceis no meu relacionamento conjugal. Meu casamento já não é o mesmo de sete anos atrás. Meu marido está longe de mim e… não estou mais agüentando essa situação — subitamente, a voz de Tina se transformou em pequenos soluços. Foi então que sentiu a mão da mulher ao seu lado tocar-lhe o ombro num gesto confortante.

— Eu compreendo e… sinto muito. Um leve sorriso brotou nos lábios de Tina, que perguntou: — Como se chama? Mulher retribuiu o sorriso e respondeu: — Melina Xavier. Prazer.

&&&

Carlos acabava de se explicar: — Por isso estamos sendo literalmente caçados por toda a cidade. E

agora com nossas caras estampadas nas primeiras páginas de cada jornal que circula por aqui… está ficando cada vez mais difícil.

Andrey estava andando de um lado para o outro. Parecia nervoso quando levou as mãos à cabeça e exclamou preocupado:

— Meu Senhor, onde é que o Alan foi se meter?! — Ei, meu chapa, ele entrou nessa porque quis. Acho até que foi

estúpido da parte dele, mas ele estava no lugar errado na hora errada. Aliás, não tenho a mínima idéia por que ele veio a fazer isso.

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O um breve momento de silêncio até que Carlos falou sarcasticamente:

— Agora vejam só o que ele vinha dizendo. Que entrou nessa história para me ajudar! Devo dizer que até agora não me ajudou muito e sim só tem me trazido azar...

— O quê!? — interrompeu Vitória com voz alterada. — Do que você está falando, cara? Como pode dizer uma idiotice dessas e com que coragem você fala isso?! Veja! Dê só uma olhada para a cama no meu quarto! Alan está entre a vida e a morte enquanto você está aqui inteirinho! — a voz de Vitória era de angústia e raiva. — Olha aqui, seu Carlos não-sei-de-quê, Alan não entrou nessa para ajudá-lo, porque ele não ajudou você, simplesmente salvou a sua vida. E se a sua vida não vale nada para você, Alan vale muito para mim. Por isso veja como fala dele na minha frente…

Carlos explodiu: — Eu não pedi para que ele se tornasse o meu herói, assim como

não pedi para estar aqui com um bando de malucos! droga! Aliás, maldita hora em que vim parar nesse lugar! — Caminhou até a porta, abriu-a e bateu-a atrás de si ao deixar a casa.

O casal de amigos trocaram olhares e Andrey opinou: — Não sei se foi uma boa idéia deixá-lo ir. — Como assim? — quis saber Vitória. — Não sei ao certo, mas… acho que Alan o trouxe até aqui por que

tinha algo em mente. Acho que estava reservando algo para Carlos aqui. — Acho que de alguma forma também senti isso — Vitória sentou

no sofá com expressão de desapontamento. — Mas… mas eu não podia deixar que ele continuasse falando do Alan daquele jeito. Parecia zombar dele ao falar…

Andrey caminhou até ela e a abraçou carinhosamente. — Sei que você não fez por mal — ele amenizou. — Acho que se

demorasse um pouco mais, eu mesmo teria saído de mim e acabaria fazendo o mesmo.

— É, mas… se ele não voltar mais? Andrey respirou fundo e disse: — Ele já saiu. Já está feito. Agora seja o que Deus quiser. Faça Ele a

Sua vontade.

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As atenções estavam voltadas para Andrey no momento em que pegou o pulso de Alan e o examinou por completo.

Fábio, que havia se desligado da agulha e do fino tubo de borracha que o ligava a Alan, perguntou com a voz aparentemente fraca:

— Como ele está, já apresenta alguma melhora? — pareceu mais uma súplica para que a resposta fosse “sim”.

Andrey começou a guardar seu equipamento clínico na pequena maleta e fixou o olhar no casal.

— Bem… aparentemente ele parece se encontrar melhor, mas eu somente poderia afirmar isso com certeza se tivesse uma aparelhagem adequadamente apropriada. Mas… com a história de Carlos, acho que seria perigoso sair com Alan na rua e levá-lo até minha clínica.

Vitória aproximou-se da cama e ajoelhou-se junto a Alan. Pegou sua mão nas dela e suspirou.

— Deus… não consigo compreender por que Alan foi se envolver em toda essa confusão — disse ela.

Fábio juntou-se a ela e tocou-lhe suavemente a nuca. — Não se preocupe, querida, logo ele vai estar de pé e responder

todas as nossas perguntas. Um leve sorriso despontou nos lábios de todos demonstrando a

esperança. — Pessoal, eu estava pensando… — pronunciou-se Andrey. —

Melina, a esposa de Alan. Não seria melhor ligarmos para ela e dizer o que está acontecendo? Creio que ela deve estar por fora dos últimos acontecimentos.

Vitória levantou-se começou a andar de lado para o outro. — Não sei não, Andrey, mas… pense bem. Por que Alan preferiu

vir para cá, ao invés de pedir para que Carlos o levasse até sua casa? — O que você está querendo dizer com isso? — perguntou o

médico? Foi Fábio quem deu a resposta: — Ela está querendo dizer que Alan poderia ter pedido para Carlos

tê-lo levado para casa, mas não quis porque não queria que Melina ficasse de algum modo ligada a tudo isso que está passando. Queria poupá-la ou, vamos dizer, protegê-la.

— Isso deve ser realmente perigoso, não é? — quis saber Andrey, imaginando o que seria.

Os três se entreolham sem nenhuma resposta.

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As lágrimas desciam dos seus olhos enquanto seus lábios tremiam

ao confidenciar parte da sua vida à jovem mulher à sua frente. Não entendia muito por que fazia aquilo, pois havia acabado de conhecê-la. Mas se sentia impelida a fazer assim, abrir seu coração, desabafar tudo o que sentia. Queria descarregar a julgo pesado que vinha carregando até então.

— Sinto que meu marido tem outra mulher, Melina, uma amante. — viu nos olhos da nova colega a pergunta: Por que você acha isso? E continuou: — Sei que não estou equivocada. Ele sai de casa às vezes e quando acaba seu turno, não volta para casa como fazia nos primeiros anos de casamento. Está sempre telefonando e se desculpando e desmarcando compromisso conosco, quero dizer, comigo e nosso filho Leonardo que tem oito anos, e ele também está percebendo que o pai está distante de nós.

“Entendo que a vida de policial é cansativa e difícil. Às vezes tem que sair no meio da noite; tem os plantões; sem falar em todo o estresse, mas há algo mais que o está fazendo deixar sua família em segundo plano.

— Sinto muito por isso — lamentou Melina. — Você já tentou abrir o jogo com ele? Contar o que você está sentindo; seus receios?

Tina enxugou as lágrimas com um lenço que puxou de dentro de sua pequena bolsa de couro.

— Já pensei várias vezes em fazer isso, mas… temo pelo que ele venha a fazer depois disso. Sempre me pergunto: “Será que vai sair de casa? Ficará chateado? Irá se distanciar de mim e Leonardo?” É sempre assim. Nunca tive a coragem de encarar isso de frente, entende?

Melina sorriu acanhadamente. Tocou as mãos de Tina e disse: —Sei que é difícil, querida, mas tente se acalmar — pausou por um

momento breve. — Não sei por quê, mas… algo está me impulsionando a dizer que ele ainda ama você e não irá deixá-la. Creio que isso deva ser o trabalho. Daqui a pouco vai voltar tudo ao normal, você vai ver.

Tina meneou a cabeça meio que confusa. — Não sei não, mas quem sabe pode ser isso mesmo. Agora que ele

pegou esse caso do assassinato de um amigo nosso… A expressão de Melina foi de surpresa. — Amigo de vocês? Oh! Sinto muito. — É, tem sido difícil para todos nós. Mas tudo irá se resolver. Logo

pegarão esses dois homens que fugiram anteontem e a justiça será feita, se Deus quiser.

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Melina pensou por alguns instantes, agora apreensiva. — Qual o nome do amigo de vocês? — Pablo Tavares. Ele também era policial e foi morto numa

emboscada… — Tina meteu a mão dentro de sua bolsa e retirou algumas folhas e mostrou à Melina. — Veja, esses são os assassinos que Axel está atrás.

Melina já não escutava coisa alguma. Tomou o jornal em sua mão e imediatamente seu corpo estremeceu e um nó se formou na sua garganta. Seu coração disparou e tudo à sua volta começou a girar. Não conseguia acreditar no que via. O rosto de seu marido estava estampado na primeira página do jornal do dia e ela estava falando com a esposa do policial que estava atrás de Alan. Por fim, ela desmaiou e tombou sobre o corpo de Tina.

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Capítulo 25

a porta de vidro estava escrito com grandes e vistosas letras: Aberto hoje até às 12h. Motivo: Jogo da seleção. – Aproveite as promoções e

as delícias do nosso cardápio. Carlos olhou através do vitral para dentro da lanchonete, que

parecia um bom lugar para se comer, enquanto sua barriga roncou no mesmo instante. Ele entrou, olhou em volta e estudou o lugar. Um bonito estabelecimento, espaçoso e confortável com várias mesas de madeira maciça de canto com quatro cadeiras cada uma delas. Havia um grande balcão para quem quisesse desfrutar de bebidas das mais diversas onde já existiam alguns fregueses de lábios úmidos. Avistou uma mesa no canto do aposento onde parecia ter o seu nome escrito por estar bem afastado das demais. Caminhou até lá e sentou-se. No mesmo minuto a garçonete se aproximou.

— O que deseja, senhor — ela não esperou uma resposta começou a ler o cardápio. — Temos...

Carlos não a deixou continuar. — Apenas um café com torradas na manteiga. A garçonete sorriu e voltou para o balcão onde um homem forte

estava limpando alguns copos. Ele olhou para Carlos e acenou com a cabeça. Carlos retribuiu o sinal e então se trancou novamente em seu mundo particular, um mundo que só pertencia a ele, pois dificilmente

N

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alguém desejaria ter um igual. Balançou a cabeça num puro descontentamento.

Essa droga de quadrilha tomou-me tudo… Que burrada foi me envolver nisso tudo. Agora é Nicole quem está pagando por isso… Como ela estará?… será que conseguirá pelo menos me perdoar?

Olhou em volta e observou se não havia policiais por ali. O lugar estava limpo.

A garçonete retornou com o café e as torradas devidamente cobertas por uma camada de manteiga derretida, tudo tão quente que a fumaça se lançava pelo ar.

— Obrigado — Carlos tentou ser gentil. Ela tornou a deixá-lo só. Ele tomou a primeira golada do líquido negro que cheirava bem.

Observou alguém caminhar até uma grande televisão presa a uma coluna por uma armação de metal e aumentar o volume. Estava passando uma reportagem especial no Canal Sete.

Comeu uma torrada esfumaçante e trouxe à sua lembrança a discussão com os jovens e o estado de Alan. Principalmente das palavras duras de Vitória:

Veja! Dê só uma olhada para a cama no meu quarto! Alan está entre a vida e a morte enquanto você está aqui inteirinho! Olha aqui, seu Carlos não-sei-de-quê, Alan não entrou nessa para ajudá-lo, porque ele não ajudou você, simplesmente salvou a sua vida. E se a sua vida não vale nada para você, Alan vale muito para mim. Por isso veja como fala dele na minha frente...

— Droga, eu não pedi um herói! — protestou consigo mesmo. Mas por que Alan havia de salvar sua vida? O que ganharia com

isso? Carlos só pôde pensar que Alan só podia ganhar a morte. E mesmo que quisesse outra coisa, Carlos não estava disposto a dar coisa alguma, mesmo porque não tinha nada para oferecer.

Olhou para o balcão e viu o atendente cumprimentá-lo outra vez com um sorriso torto como se dissesse: “É bom tê-lo aqui em meu estabelecimento. Espero que volte sempre”. Desconfiado ele retribuiu com o polegar para cima. Viu o atendente servir uma bebida a um freguês e respirou mais aliviado. Só estava realmente querendo ser gentil? Carlos não acreditava muito em gentilezas. Sempre havia algo por trás disso.

Voltou-se para a TV novamente e viu na tela uma morena com um microfone na mão falando algo. Havia as letras em amarelo na margem

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superior da tela onde se podia ler: PLANTÃO. E um pouco abaixo do ventre da mulher: Caroline Lima - Repórter.

Carlos estreitou os olhos ao vê-la. Concentrou-se em seus lábios para poder compreender melhor o que estava a falar.

— O que estamos vivendo nesses dias difíceis são crises financeiras e o acúmulo de casos de corrupção em nossa cidade — comentou ela no meio da tela da TV —, além da falta de escolas para nossos filhos estudarem e se tornarem bons profissionais entre muitas e muitas coisas que vem tornando nossa cidade num verdadeiro caos. Mas realmente, o que preocupa, é o aumento significativo da violência e a diminuição da segurança em Melmar nos últimos anos. Todavia, não devemos culpar as autoridades competentes desta cidade, muito menos a polícia, que faz um excelente trabalho para resolver os crimes cometidos neste distrito. O que temos que fazer é conscientizar a população de que ela é uma peça fundamental para acabar com a maior parte dessas questões negativas. Para que isso aconteça, basta apenas que ela denuncie. Isso mesmo. Denunciar a fraude, a corrupção, os maus tratos, as coisas erradas que ocorrem em Melmar, principalmente com relação à violência.

Ela olhou para outra câmera e continuou: — Você está disposto a acabar com a violência em sua cidade? Então

denuncie. Como? Denunciando quem a pratica. Exemplos são os casos recentes de seqüestro que foram resolvidos através de denúncias. Esses são fatos positivos que todos podem contribuir para a diminuição desses crimes. Então, vamos começar tentando ajudar hoje mesmo.

Duas fotos saltaram para frente e fizeram Carlos engasgar com uma das torradas que acabava de engolir. A tosse veio em seguida. Seu rosto e a de Alan estavam perfeitamente desenhados e agora ocupavam toda a tela da TV.

Caroline tornou a falar: — Esses dois homens são os principais suspeitos por dois brutais

assassinatos de dois dos mais condecorados policiais da cidade e você pode ajudar a encarcerá-los. Se você tiver qualquer informação sobre esses dois homens ligue para estes telefones que estão aparecendo na tela e com certeza você tornará Melmar numa cidade muito melhor para se viver.

O homem do balcão pegou um bloco de notas, emocionado com as palavras de incentivo da repórter. Seu filho havia morrido por uma bala perdida e se dependesse dele poderiam fuzilar todos os bandidos da cidade. Anotou o telefone e olhou bem para a cara dos dois bandidos. Com sua memória fotográfica, se os visse, com certeza iria reconhecê-los e denunciá-los às autoridades. Mas… espere um pouco! Alarmou-se o homem. Observou bem a foto do homem mais robusto. Ele parecia… ou melhor… Ele era… “O das torradas”!

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Rapidamente o homem voltou-se para a mesa de Carlos, mas lá havia apenas duas cédulas, o valor do café e das torradas. Carlos havia sumido.

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Era uma construção não muito glamurosa nem grande, mas algo de

encher os olhos. A casa de frente azul-marinho encontrava-se entre muitas outras que pareciam ter saído da mesma prancheta ou mente iluminada na rua Largo Jardim.

Axel parou em frente à porta grossa de cedro, apertou a campainha logo ao lado e esperou. Um minuto depois, sentiu uma presença pelo olho mágico no meio da madeira. Então, a entrada foi aberta.

— Pois não — uma mulher na casa dos quarenta apareceu. Tinha uma boa aparência e usava um bom perfume.

— Olá… — Axel tentou ser cordial — Talvez a senhora não me conheça, mas sou o agente Axel Brendel e desejaria falar com Oliver. Ele é…

A mulher atropelou-o. — Sim, ele é mau marido. — Eu sei. Ele está em casa? Subitamente um vulto se fez notar por detrás da senhora e disse

rispidamente: — Estou sim, Axel. O que deseja? Estou muito ocupado, e… — Oh, não se preocupe — cortou Axel —, não vou me demorar.

Apenas quero fazer algumas perguntas sobre o que realmente aconteceu na rodovia Três, sabe, esclarecer e entender os fatos.

Axel pôde ver o semblante de Oliver mudar várias vezes durante dez segundos e percebeu que certamente existia algo ali que ainda não sabia.

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Melina abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi a voluptuosa

barriga do Pastor Cross ao seu lado. Assustou-se, mas foi acalmada rapidamente por Tatiane que também estava presente no escritório da igreja onde todos se encontravam, e isso incluía Tina Brendel.

— Melina, minha filha, o que aconteceu? — adiantou-se o pastor Cross.

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Melina levou as mãos à cabeça e notou que ainda segurava as folhas de jornal na mão.

— Ah, pastor Cross… — sibilou. — é Alan novamente… Tina tentou ajudar: — É o marido dela, pastor. Ele a está traindo… — O quê?! — balbuciou Nilton sobressaltado. — Não! Não é isso! — tentou consertar Melina. — Como não? — quis saber Tina. — Eu a ouvi orando para que… Melina interrompeu-a bruscamente voltando-se para seu pastor. — Pastor Cross, por favor, preciso falar urgentemente com o

senhor… em particular — fitou as outras mulheres presentes. — Pastora, senhora… por favor. Depois falo com vocês.

Tatiana e Tina trocaram olhares e se retiraram em seguida. A porta do escritório foi fechada e imediatamente lágrimas começaram a brotar dos olhos meigos de Melina.

— O que aconteceu, Melina — tentou novamente o largo pastor. Melina abriu a folha de jornal na altura dos olhos de Nilton. — Veja, pastor, Alan está sendo procurado por assassinato. Algo

que com toda certeza ele não cometeu. — Tenho certeza que não, minha querida. — O senhor sabe quem me deu isso, pastor? — indagou Melina, que

certamente já sabia o que Nilton responderia. Ela própria então respondeu: — aquela mulher que estava junto a mim quando… quando desmaiei. Ela… ela é a esposa do policial que está no caso que envolve Alan e, com isso, quer pegá-lo e prendê-lo… Oh, pastor, isso não pode acontecer!

— Se acalme, minha filha. Certamente o Senhor não permitirá que isso aconteça.

— Eu creio nisso, pastor Cross. Mas… — Melina hesitou. — Mas… o quê? — Mas estou querendo falar com a mulher do policial: Tina, e

contar para ela o que realmente está acontecendo. Alan é inocente e está correndo sério risco de vida do jeito que as coisas estão se encaminhando. Penso que contando para ela, talvez possa me ajudar e, assim, ajudar Alan. Acho que devo confiar e esperar em Deus, mas também devo fazer o que está ao meu alcance. E… eu queria a sua opinião. Devo ou não devo abrir todo o jogo com Tina?

O pastor Cross apenas fitou-a sem saber o que dizer.

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A sala da casa de Oliver era bem requintada e decorada por

algumas obras de arte. Não havia o que reclamar do espaço e muito menos do conforto. Axel observava tudo à sua volta até que a voz firme de Oliver fez-se soar asperamente:

— O que você quer saber realmente? Acho que já lhe contei muitas coisas sobre o caso…

— Mas não o suficiente, Oliver. Ainda restam algumas dúvidas que sobrevoam os papéis deste caso e minha cabeça principalmente.

Oliver tentou permanecer inabalável. — Muito bem, então. Faça as perguntas que tem que fazer. Mas não

se demore, pois tenho um compromisso inadiável daqui a alguns minutos.

— Como eu disse antes, não me demorarei. — Axel fez uma pausa, fitando a expressão um tanto sombria do veterano policial e tentando descobrir algo em sua fisionomia que o denunciasse. Respirou fundo e começou friamente: — Primeiro queria que você relatasse tudo o que aconteceu no interior da viatura na madrugada em que Pablo foi morto. Desde o momento em que você, Selton e os dois suspeitos entraram nela até o momento em que você foi resgatado dela.

— Você quer que eu conte tudo? — Oliver pareceu indignado. — Isso duraria o dia inteiro!

— Fale apenas o necessário. O que você me falou quando chegou no N.R., mas mais detalhadamente.

Oliver suspirou. — Tudo bem. Eu… — Espere — interrompeu Axel. Ele puxou um pequeno gravador do

bolso e colocou na mesa de centro da sala. — Um gravador? Para quê isso, homem? Axel tentou tranqüilizá-lo. — Não se preocupe. Eu tenho um pouco de falha de memória.

Ultimamente tenho esquecido das coisas rapidamente e com isso posso lembrar das coisas mais tarde. Mas por favor… continue.

Oliver tentou parecer firme, como sempre fôra e iniciou de forma passiva.

— Bem, como você já sabe, prendemos os suspeitos e os colocamos na viatura. Eles…

— Desculpe-me a interrupção, mas por que você algemou um ao outro ao invés de prender cada um com a sua algema?

Oliver não precisou pensar muito para responder aquela questão.

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— Meu amigo, os dois homens mataram um policial, quem sabe tenham atirado em Caio para os outros carbonizá-lo! Você queria que eu fizesse o quê? Desse um tapinha no rosto de cada um e depois servisse um chá? Faça o favor! Se ao invés de algema eu tivesse arame farpado, prenderia os dois com ele e sentiria o maior prazer. Você não?

— É, talvez — mentiu Axel. — Mas continue. Você e Selton prenderam eles, colocaram-nos na viatura e saíram nos deixando tomando conta do corpo de Pablo. E…

Oliver entendeu a deixa e emendou: — E aí fomos em direção à Central… Axel se interpôs novamente. — Certo, mas como era que eles se comportavam dentro do carro? Oliver pensou bem. — Bem… ahm… por alguns momentos ele se comportaram, mas

depois de certo tempo começaram a escrachar e a nos provocar… — Isso aconteceu antes ou depois de vocês mudarem o curso e

entrarem na rodovia Três ao invés de ir direto à Central de polícia — Axel tentou surpreender.

— Bem… eu… eu não estou certo… — Por que dobrar na rodovia Três e não ir direto para a central,

Oliver? — Eu não sei… — Não sabe? Como assim não sabe? Você deveria… Oliver já parecia alterado quando se explicou: — Olha, Axel, eu realmente não sei! Quando dei por mim, Selton já estava

virando naquela rodovia e eu não sabia o que ele estava fazendo. Perguntei várias vezes por que havia feito aquilo, mas não me dizia nada.

— Ok, então foi Selton quem fez a viatura dobrar para a rodovia e deixar o caminho da Central.

— Isso mesmo. Axel permaneceu calmo quando indagou: — Selton guiou a viatura por mais de vinte quilômetros e você não

fez nada para impedir que ele continuasse? Tinha alguma idéia do por quê ele havia desviado?

— Primeiro: eu não sabia de droga nenhuma do ele estava fazendo; e… e segundo: não fiz nada porque confiava no meu parceiro. Com certeza ele tinha alguma coisa para fazer por ali.

Axel achou ter pego alguma coisa. — Oliver, tenho certeza que na rodovia Três, Selton não poderia

fazer nada, por que num raio de setenta quilômetros de estrada não há

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coisa alguma a não ser mata, pedras e bichos da noite e você sabe muito bem disso.

Houve um momento de silêncio por parte de Oliver. Então, Axel aproveitou para fazer outra pergunta:

— Você falou que um deles estava conseguindo abrir a algema com algum tipo de arame. Pelo que eu me lembro, você prendeu os suspeitos e não os revistou. Por quê? Eles poderiam estar armados ou estar com esse arame o qual você mencionou. Você não se preocupou em revistá-los…

Oliver ergueu-se de sua poltrona e vociferou: — Olhe aqui, meu amigo, se você está pensando que estou metido

com os caras que apagaram Pablo, está redondamente enganado! — Espere aí, Oliver, eu não falei isso! Nem ao menos mencionei a

Quadrilha Vip. Por que acha que penso assim? — Suas perguntas estão revelando isso. Escute aqui! Se você está

pensando em desconfiar em alguém, por que não de Selton? Era ele quem estava no volante, quem estava no comando da situação.

— Você nunca desconfiou que ele poderia estar envolvido com a Quadrilha? Como você disse, você eram parceiros…

— E como eu disse, confiava nele. Éramos parceiros antes mesmo de você vestir um uniforme de tira! Você não sabe de nada.

— Então, se confiava nele, por que acha que eu deveria desconfiar dele?

— Eu não acho nada, meu amigo. Você é quem está colocando palavras em minha boca.

Oliver olhou rapidamente para o relógio. — Olha, Axel, tenho que sair agora. Não tenho mais tempo para

nenhuma de suas perguntas. Axel pensou e rapidamente reconstituiu uma nova questão. — Tudo bem, eu só tenho mais uma pergunta. — Faça-a depressa. — instigou Oliver. — Bem, quando você foi resgatado, foi achada a sua arma debaixo

do acento da viatura. Agora eu pergunto: se ela estivesse no coldre não poderia cair. Então, essa arma só poderia estar fora do coldre. Quem sabe na sua mão…

— Ela estava em cima do painel do carro — explicou Oliver. — No caminho eu a limpei e achei melhor deixá-la à vista dos suspeitos.

— Então esses caras devem ser muito corajosos para tentar uma reação vendo que sua arma estava a um palmo de você.

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— Eles tiveram a coragem de matar dois policiais. O que você queria mais?

Axel exibiu um sorriso torto. — Acho que ninguém tem uma coragem desse tamanho. Mas

mesmo assim, obrigado pelo seu tempo e cooperação — levou a mão ao pequeno gravador, desligou-o e o colocou de volta no bolso.

Oliver apenas resmungou. Guiou o agente até a saída e fechou a porta logo em seguida.

Axel ficou a olhar a bonita casa por um momento pelo lado de fora. Realmente era bem bonita. Retirou o gravador do bolso escutou uma pequena parte da conversa. Desligou e tornou a guardá-lo.

— Você está tentando me esconder algo, Oliver. Mas já estou começando a juntar o quebra-cabeça e logo vou descobrir o que você está fazendo questão de encobrir.

Entrou em seu veículo, deu a partida e fez o carro se deslocar para outro lugar.

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Capítulo 26

ateram na porta e Vitória atendeu. Carlos estava parado com o rosto suado e visivelmente abalado. — Nossos rostos também estão em todas as TV’s da cidade. Vitória fitou-o e abriu caminho. — Entre. Carlos entrou e seus olhos se depararam com Andrey e com um

novo casal. O olhar se fixou no Jovem. Arriscou: — Joás? — Você me conhece? — o rapaz de estatura mediana fitou-o

curioso. Seus olhos transmitiam inteligência e seu rosto revelava uma pequena cicatriz; talvez feita por uma navalha ou algo parecido.

— Vi uma foto sua, aliás, de todos vocês dentro daquele livro preto que Vitória pediu para eu ler. Mas… o que faz aqui? Não estava de lua-de-mel?

Foi Vitória quem respondeu. — Eles voltaram porque Joás sentiu que algo estava errado. Deus

tocou-lhe o coração — ela indicou a esposa de Joás. — Esta é Sônia. Agora, Sônia Alcântara.

Carlos cumprimentou-a e voltou-se para Joás. — Seu instinto fez com que sentisse o que estava acontecendo e o

trouxe de volta? — indagou Carlos — Meu instinto não, Carlos. Foi Deus quem me mandou voltar.

B

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— Lá vem vocês com esse papo de Deus novamente! Fábio tentou: — Ele se importa com você, Carlos… Carlos sorriu ceticamente. — Ah! Você acha? Se realmente Deus se importasse comigo, porque

eu estaria enterrado até o pescoço numa enrascada do tamanho do mundo? Toda a cidade está atrás de mim, meu amigo! Até num simples restaurante eu não posso entrar mais se não é provável que eu seja preso! Se Deus realmente tivesse um mínimo de consideração por mim, isso não estaria acontecendo.

Andrey caminhou até ficar frente à frente com Carlos. — Você só está olhando pelo seu próprio lado. Olhe agora pelo lado

de Deus. Ele te criou, deu a vida para você, até hoje te deu saúde, livrou-te da morte até esse momento. Agora me responda: quantas vezes você agradeceu por tudo isso que Ele te deu de graça? Quantas vezes você já olhou para o céu e disse apenas um obrigado? Tenho certeza de que nunca fez isso, não é mesmo? Deus te deu tanta coisa de graça e nunca recebeu sua gratidão por isso, e você ainda diz que Ele não tem nenhuma consideração por você?

A expressão de Carlos estava inabalável diante dos quatro jovens. Mas no fundo tudo era guardado dentro de si. Ele tentou pegar a todos em suas próprias armadilhas:

— Muito bem, já que vocês estão lutando tanto para que eu acredite nisso, me respondam uma coisa: todos vivem dizendo que nada acontece se não for da vontade de Deus. Então eu pergunto: É da vontade dEle que eu passe por todo esse inferno que estou passando agora? E se é, por quê? E também, se é, por que Ele não move um só dedo para me ajudar?

Foi Vitória quem se adiantou e proferiu: — É verdade que tudo o que acontece é da vontade de Deus e nada

se faz sem a permissão dEle. E se você está nessa confusão toda, Carlos, é porque com certeza essa é a vontade de Deus. O por quê de Deus querer que você passe por tudo isso, é uma coisa muito simples: Ele está querendo que você se aproxime de Sua presença; chegue-se mais perto dEle. Diz-se que é nas horas mais difíceis que as pessoas se lembram de Deus, e eu acho que é por isso que Ele mesmo planeja que isso aconteça. É isso que Ele espera. E é isso que Ele está esperando que você faça. Creio que antes você não conhecia direito esse Deus de quem falamos ou nem ao menos sabia o verdadeiro significado da palavra “Deus”, mas

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acredito que Alan vem falando dEle para você, não é mesmo? Ele faz isso muito bem, e graças ao nosso Pai por isso.

Vitória fez uma pequena pausa para que suas palavras penetrassem na mente de Carlos.

— E quanto à pergunta do por quê Deus não move um só dedo para ajudá-lo… Bem, temo em dizer que você está completamente enganado ao fazer essa indagação. Primeiro: Deus sempre o ajudou poupando a sua vida até hoje. Você tem enfrentado diversos perigos, mas sempre escapou com vida. Sabe por quê? O Senhor te guardou. Sempre. Mais uma prova disso foi quando mandou Alan te encontrar e entrar de cabeça nessa confusão toda. Talvez você já se tenha perguntado por que ele estava se dando ao trabalho de entrar numa confusão como esta; por que fez isso. Ele está fazendo isso por Deus, e… por você também. Porque Deus te ama, mesmo que você não sinta o mesmo por Ele. Ele te ama e tem te guardado. Mostrou isso ao mandar Alan até você para salvar sua vida e, sinto que não foi só essa vez. Já o salvou antes também.

Um filme começou instantaneamente a rodar na mente de Carlos, que pôde ver Oliver conversando com Alan e debochando por ele crer em Deus. Houve um flash e a imagem seguinte foi a dos dois policiais gargalhando incontrolavelmente, o carro patrulha dando de encontro com o poste e por fim, ele e Alan fugindo. Aquilo teria sido um escape de… Deus? Perguntou-se Carlos.

— E por último — falou Vitória —, às suas vistas, mais uma vez, Deus provou que o ama, fazendo com que Alan interceptasse a bala destinada para você. Tudo isso foi por você, Carlos. O nosso Deus, o nosso Senhor Jesus Cristo ama você. E sabe o que mais? A única coisa que Ele quer de você é que você passe a percebê-lo, a pensar nEle, e principalmente a abrir seu coração para que Ele possa habitar dentro de você. Para terminar: Deus te ama e te ajuda. E você? O que você pode fazer por Ele?

Os olhos de Carlos permaneciam fixos na jovem mulher à sua frente. As palavras não fluíam para que pudesse se desvencilhar nem coisa alguma vinha-lhe à cabeça para que conseguisse desmontar a intrepidez de Vitória com uma frase de desdém ou descrédito. Isso contribuiu para que ela dissesse algo mais:

— A resposta está com você, Carlos. Está em você. Pense e decida-se.

Subitamente, pôde-se ouvir a porta do quarto ser aberta e a voz de Fábio soar estridente para todos, euforicamente:

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— Andrey, Vitória, Joás… todos! Alan está falando algo! Ele… acordou!

Instantaneamente, todos se puseram a correr em direção ao quarto. A ansiedade à flor da pele; a hesitação presente em cada pensamento; a esperança fluindo em cada coração.

Carlos entrou por último no aposento e observou que todos os olhares estavam sobre ele. Foi só então que percebeu que Alan balbuciava o seu nome. Carlos andou lentamente até a cama e postou-se ao lado do móvel escalavrado. Alan se encontrava com algumas gotas de suor sobre a testa e de olhos fechados. Pareceu estar delirando quando falou:

— Carlos… Deus sabe de todas as coisas. Vê todas as coisas. Pode todas as coisas…

Onisciente. Onipresente. Onipotente. Lembrou Carlos. Alan falava: — Ele sempre olhou para você, e a toda hora trabalhou por você. Eu

não salvei sua vida… Foi o Senhor Jesus quem o salvou. Se não fosse Ele, eu não o encontraria… Se não fosse Ele, você não estaria vivo… E quanto à sua fita, tudo o que está nela não é segredo para mim, muito menos para o Deus a quem sirvo… Quero que você saiba, Carlos, que nessa fita não está o seu livramento. Seu livramento está no Deus que tudo pode. Você tem que dar crédito a estas palavras, Carlos… Você só será feliz com Jesus em seu coração… Somente assim você será livre.

Jesus te ama, Carlos… Ele morreu por você… Deu a própria vida por você… recordou Carlos do que Alan falara-o no carro em que roubara no meio da madrugada. Olhou para os demais presentes no quarto e notou que todos estavam de olhos fechados, como se meditassem no que Alan falava. Carlos não sabia o que fazer diante daquela situação. Uma das poucas vezes em que não sabia se desvencilhar ou o que fazer para sair dali.

De repente, Alan se calou e tudo se tornou silêncio. Parecia que tinha voltado a adormecer subitamente.

Andrey adiantou-se, verificou o pulso de Alan e examinou seus olhos. Virou-se para todos.

— Voltou a desvanecer. Joás estava ocioso quando perguntou: — Com esta reação pode-se dizer que ele está bem? Que vai se

recuperar? — Sinceramente, não posso afirmar isso. Ele perdeu muito sangue

e… está certo que recebeu o de Fábio, mas tudo foi muito recente. Deus

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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queira que tudo esteja bem com ele. Que isso não cause nenhuma seqüela.

Carlos tentou deixar seus devaneios causados pelas palavras de Alan e perguntou:

— E isso é tudo o que podemos fazer? Ficar parados e esperar? — No momento sim… ou não — falou Andrey. — Podemos todos

orar. A oração remove montanhas. — Muito bem, então vamos todos orar — concordou prontamente

Vitória. Todos os olhares se fixaram em Carlos novamente. Foi Fábio quem

propôs: — Se você não quer ficar mesmo de braços cruzados e quer

realmente fazer alguma coisa por Alan, pode formar essa corrente de oração e interceder pelo nosso amigo, Carlos. Isso é com você. O que decide?

Carlos prendeu a respiração. Estava num beco sem saída mais uma vez. E agora, o que fazer? Perguntou-se. Queria realmente fazer algo pelo homem que há um dia atrás não tinha a mínima idéia de quem era e que acabara salvando sua vida por um motivo o qual não tinha conhecimento? Queria se envolver com um bando de lunáticos e fazer parte de uma… corrente de oração, uma coisa que não tinha consciência do que era? Um grande dilema estava diante de si.

&&&

— Quero lhe contar uma coisa muito importante — confidenciou

Melina à Tina, que parecia um tanto confusa com tudo o que se havia passado nos últimos minutos no interior do templo da P.I.E.M.

— Estou aqui para ser sua amiga, Melina. Conte comigo — a esposa do tira encorajou-a.

Melina tentou um sorriso e respirou fundo procurando forças para iniciar a difícil missão de tentar salvar seu marido e tentar esclarecer um terrível engano, o qual estava estampado no jornal que mostrara ao pastor Nilton Cross.

As duas estavam sentadas, uma de frente para a outra no escritório que Nilton havia cedido para que ficassem em particular. Melina balbuciou:

— Olha, Tina, sinto muito por seu amigo ter morrido de uma forma tão horrível. Sinto também pelo que você vem enfrentando em seu casamento, pelo sofrimento constante que vem sentindo. Ultimamente,

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como você ouviu em minha oração há pouco, também venho enfrentando problemas em minha vida…

— Também em seu casamento? — especulou Tina. — Não… não exatamente. De qualquer forma se trata de meu

marido. Seu nome é Alan Xavier e há quase dois dias ele saiu de casa me deixando sozinha com meus três filhos.

Os traços do rosto de Tina sofreram uma metamorfose e o que se pôde notar foi uma expressão de pena.

— sinto muito por você — disse ela. — Tenho certeza que você tem enfrentado uma barra.

— E tenho mesmo — confirmou Melina balançando a cabeça. — Minha filha menor é quem sente mais sua falta. Ele mimou-a bastante. Mas, o que importa agora é que gostaria que você me ajudasse.

Tina se espantou. — Eu? Mas… mas como eu poderia ajudá-la, e… e por que você iria

querer minha ajuda? Uma pessoa que mal conhece? Melina tomou as mãos de Tina nas suas e apertou-as fortemente. — Você pode me ajudar, e muito, Tina. E nesse momento, a grande

chance para que tudo se resolva de uma vez. A chance para que a angústia que toma conta de mim seda lugar a alegria que havia antes, há dois dias atrás.

— Posso perguntar o que aconteceu há dois dias atrás? Melina ficou por um momento somente a olhar dentro dos olhos

negros de Tina, tentado adivinhar qual seria sua reação ao ouvir a história que tinha para contar. Sentiu suas mãos esfriarem e então soltou as da mulher à sua frente. Sentiu a voz fraca quando começou dizendo:

— Bem… meu marido, Alan, recebeu uma… digamos… uma missão muito especial. Uma missão dada por Deus. Porém, era uma tarefa difícil e penosa. O objetivo era pregar a palavra de Deus para um certo homem de nome Carlos. Ouvindo assim, tudo parece muito simples e normal para qualquer cristão, mas é muito pelo contrário. Acabei descobrindo que Carlos é um traficante de drogas e que está envolvido com uma quadrilha conhecida e muito perigosa e certamente você já deve conhecê-la bem, pois ela é a Quadrilha Vip.

Agora parecia que Tina já não piscava ou muito menos respirava. Sua boca se encontrava levemente entreaberta com o choque emocional que estava levando. Melina continuou:

— Acho que Alan saiu de casa no mesmo dia em que tudo aconteceu de ruim. Seu amigo foi assassinado junto com o parceiro e a culpa caiu sobre meu marido junto com o tal Carlos, que de alguma

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forma conseguiram escapar e estão foragidos — ela fechou os olhos. — Graças a Deus. O que eu quero dizer é que a pessoa que seu marido está procurando é meu marido. Mas Alan é inocente. Não sei quanto a Carlos, mas o meu Alan é inocente de todas as acusações. Ele não pode ter matado esse policial, pois não faz mal a uma mosca sequer. Por isso, agora estou pedindo sua ajuda, pois sei que foi o Senhor quem mandou você aqui hoje, exatamente neste templo para se encontrar comigo. Ajude-me, Tina. Ajude-me, por favor.

Tina tentou falar algo, mas palavra alguma saia de sua boca. Ela estava de frente com a esposa do suposto assassino de Pablo e aquilo que ouvia apagava tudo o que pensara a todo instante: Justiça. Melina esperava uma resposta, mas ela não sabia o que pensar, muito menos dar qualquer resposta.

&&&

Axel abriu a porta e entrou em sua casa. No mesmo instante, ouviu

pequenos passos apressados vindo em sua direção. Já sabendo quem seria, abriu um largo sorriso e os braços enquanto se ajoelhava. Então, um grito singelo e bem conhecido se fez soar enchendo a sala:

— Paapppaaaaaaiiiiiiiii!!!!! Leonardo aconchegou-se fortemente nos braços do pai e gargalhou

de alegria. — Tudo bem, garotão? — indagou Axel. — Tudo. — Onde está sua mãe? — Mamãe saiu. Disse para eu ficasse assistindo comportado a

televisão e que logo viria. — E você sabe para onde ela foi? — Não sei não, mas ela saiu daqui meio triste, quase chorando. — Mesmo? E sabe me dizer por quê? — Não muito bem, papai — Leonardo baixou o olhar para o chão.

— a mamãe vem andado muito triste. Sempre pergunto o que ela tem, mas ela nunca responde. Diz que não é nada.

Axel fitava seu filho. Como ele era lindo e como era inteligente também. Já sabia ler e escrever bem e vivia perguntando as coisas para entendê-las melhor e explicar para seus colegas menos dotados de conhecimentos. Axel iria elogiá-lo pela centésima vez quando o garoto decidiu continuar com a palavra:

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— Papai, eu… assisti na televisão que uma pessoa nunca deve mentir para outra. Isso é verdade?

— É sim, filho. Mentira é uma coisa muito feia que ninguém deve praticar, principalmente você que é um excelente garoto.

Estranhamente Leonardo não ficou radiante com o elogio do pai. — Então se eu fizer uma pergunta para o senhor, não irá mentir

para mim, não é? — Claro que não, mas por quê… Leonardo levou a pequenina mão até a boca do pai e bloqueou-a

para que o deixasse falar. Axel entendeu. O outro indagou — Então responda, papai… O senhor está traindo a mamãe? Agora, nem se Leonardo retirasse a mão da boca de Axel, ele não

conseguiria falar uma sílaba sequer. Aquela pergunta havia-o pegado terrivelmente de surpresa.

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Capítulo 27

udo continuava da mesma forma. O terror imperava junto com a agonia e pareciam unir forças para transtorná-la um pouco mais a

cada minuto. Nicole sentia que sua respiração se encontrava fraca assim como

seu organismo já um tanto debilitado. Não era por menos. Não digeria coisa alguma a dois dias. A culpa não era da comida, que parecia até muito suculenta, e sim de seus nervos que viviam num “curto circuito” constante, não lhe permitindo engolir alimento algum. Suspeitou então, que o sofrimento a sustentava.

A solidão insistia em assolá-la e por mais que se esforçasse não conseguia se acostumar com aqueles macabros quadros nos quatro cantos do quarto. Por quanto tempo mais iria suportar ficar ali? Perguntou-se.

Ela estava sentada sobre a cama com a cabeça entre as mãos. O desespero retornando ao coração, como fazia de dez em dez minutos. Meu Deus! Gritou em silêncio. Tenho que sair daqui, se não acabarei ficando louca! Tenho que fazer algo…

Voltou os olhos para a porta, onde no centro havia uma pequena fresta que permanecia fechada. Levou sua atenção novamente para todo espaço à sua volta. Então se ergueu e respirou fundo, decidindo que iria fazer o que já devia ter feito há tempos atrás: iria escapar dali ou morreria tentando.

T

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&&&

Do lado de fora do “calabouço luxuoso”, o capataz de guarda estava a postos. Com sua arma na cintura, ele permanecia rijo ao lado da porta como se fosse um arranjo vivo cumprindo a ordem que Lucas lhe dera: “Guarde esta porta como se fosse sua própria vida, porque se a pessoa que está aí dentro escapar, ninguém poderá guardá-lo ou escondê-lo de mim, entendeu?” Sabia que as palavras de Lucas valiam por toda uma vida, pois já tinha visto vários exemplos disso e não queria se transformar em um deles.

Subitamente surgiram gritos horrendos surgiram de dentro do quarto:

— Meu Deus, Não!! Por favor, não faça isso comigo!! Aaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!!

Os pensamentos do capataz ligaram-se instantaneamente em Lucas: Ninguém poderá guardá-lo ou escondê-lo de mim… um suor frio percorreu-lhe a testa sem demora enquanto os gritos continuavam dentro do aposento sinistro. Se acontecer algo com a prisioneira? O que acontecerá comigo?

Os gritos cessaram subitamente. Rapidamente postou-se diante à porta, entreabriu a fresta e

observou o cômodo. Seus olhos não detectou ninguém. Escancarou a fresta. Nenhuma pessoa à vista.

— Droga! — proferiu. Levou a mão ao bolso da calça jeans azul e alcançou a chave. Enfiou-

a na fechadura e girou. A porta abriu. Ele entrou lentamente e esquadrinhou o lugar com o olhar. Ela não estava mais ali. Pensou então rapidamente: Pode estar no banheiro. Quem sabe estava enjoada e…

Os pensamentos estancaram quando um vulto saiu de trás da porta como um relâmpago. Levantou um pequeno abajur com as duas mãos e desceu-o com toda a força possível na cabeça do homem, que caiu no chão inconsciente.

Nicole soltou a respiração que há muito tempo prendia. Sem demora, correu ao encontro do homem. Virou seu corpo robusto que estava de bruços e retirou a arma de sua cintura. Observou-a em suas mãos trêmulas. Seria capaz de usá-la? Tirar a vida de alguém? Pensou nas horas de angústia e agonia que passara ali e concluiu que faria qualquer coisa para escapar. De qualquer forma, irei para longe daqui, contritou-se.

Apertou a arma com as duas mãos e deu os primeiros passos em direção à porta, em direção à liberdade. Porém, tentou advinhar quantas

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pessoas haviam naquele lugar. Teria que passar por todos eles de um modo ou de outro para sair. O que não iria acontecer era voltar a estar presa naquela prisão; uma solitária privilegiada que para ela não significava nenhuma maravilha.

Passou pela porta e nada a deteve. Com a arma firme entre as mãos, Nicole podia ouvir as batidas aceleradas do seu próprio coração. Observou um grande corredor diante de si que dobrava à esquerda mais adiante. Tentou não tremer e apressou seus passos.

De repente, ouviu um barulho às suas costas e virou-se consternada com a arma de prontidão apontada para frente e o olho na mira. Ninguém estava ali. Soltou a respiração aliviada, mas com as pernas ainda trêmulas como uma bandeira no mastro.

Virou-se de volta e sentiu imediatamente um cano frio de aço encostar-se ao meio de sua testa no mesmo momento em que a arma foi arrematada de si por uma mão ágil e forte.

Nicole contemplou aturdida o rosto petrificado de Lucas por detrás da pistola reluzente apontada para sua cabeça. A esperança de se libertar havia escorrido pelo ralo numa fração de segundos; o pesadelo iria começar novamente: o terror, a solidão, a angústia, o medo… Não! Decidiu ela. Aquilo teria que acabar naquele exato momento. Fechou os olhos diante do silêncio de Lucas e aos berros ordenou:

— Acabe com isso de uma vez por todas! Atire! Vamos, seu miserável, atire logo, pois para aquele quarto eu não volto mais! Atiiireeee!!!

Em menos de um segundo, o gatilho foi puxado e a arma estava pronta para disparar.

&&&

— E então, Tina — Melina reforçou a pergunta fitando os olhos da

mulher de pele morena à sua frente —, você está disposta a me ajudar e acabar com essa injustiça que estão fazendo?

Por um momento, Tina permaneceu em silêncio, apenas matraqueando com as mãos, tocando as pontas dos dedos uns nos outros. Começou a andar de um lado para o outro com passos lentos, e então parou e voltou-se para Melina Xavier.

— Olha… tenho que lhe dizer que tudo isso que você me falou pegou-me de surpresa; totalmente desprevenida…

— Sei que isso é uma reviravolta e tanto para você, mas é um inocente precisando de sua ajuda — interrompeu-a Melina. — E acho,

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que como uma cristã, você deve fazer aquilo que é certo, porém, eu saberei compreender se desejar apoiar seu marido nessa hora em que está diante de você uma decisão tão importante.

— Como eu disse, é uma coisa muito… bem, é um impacto muito forte tudo isso que estou ouvindo agora, pode ter certeza. Mas posso adiantar que não posso deixar de ajudar uma pessoa que realmente precisa de uma mão e que está sendo injustamente culpado de um crime que não cometeu.

Uma leve expressão de alívio surgiu nas faces de Melina. — Então isso quer dizer que você… — Não exatamente, Melina — desta vez cortou Tina. — Antes tenho

que lhe pedir desculpas e também fazer algumas perguntas, e quero que deixe seu amor de lado; seu lado esposa. Responda sem titubear, porém com a verdade na ponta dos lábios.

Melina não pestanejou ao responder: — Dou-lhe minha palavra de que responderei com a mais pura

verdade. — Certo. Então responda-me: em todo esse tempo em que está ao

lado do seu marido, dias e noites em sua companhia, você pode me garantir, Melina, que ele não seria capaz de cometer um crime sequer em sua vida? Um deslize qualquer e se afundar nele sem querer? Ele nunca fez algo que pudesse colocá-lo em suspeita?

A expressão do rosto de Melina em sua tranqüilidade, confiança e força já adiantava a resposta.

— Não sei se você vai acreditar, Tina, mas Alan é o homem mais sincero que já conheci em toda a minha vida, e se há uma pessoa em que, não somente eu, mas o mundo inteiro pode confiar além de Jesus Cristo nosso salvador, essa pessoa é Alan. Ele não seria capaz de cometer crime algum. Seria sim, capaz de cometer um deslize, mas não afundaria nele, porque ele é um vaso de Deus e o Senhor está ao seu lado. E nunca ele foi um suspeito para mim, pois jamais me deu algum motivo para que isso viesse a acontecer. Como eu já afirmei para você antes: Alan é inocente.

Tina tentou enxergar nos olhos de Melina algum resquício de dúvida ou até mesmo de mentira. Não encontrou nada. Então, decidiu fazer o que tinha que ser feito:

— Muito bem — disse Tina —, diante da sua plena certeza, devo admitir que estou convencida. Pode ficar segura de que farei o que estiver ao meu alcance para ajudar você e ao seu marido Alan. — ao final, ela abriu um bonito sorriso de conforto.

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Melina não resistiu à decisão de Tina e abraçou-a subitamente. — Obrigada, Tina. Obrigada, Senhor.

&&&

Um empurrão fez com que Nicole batesse com a cabeça no chão e gemesse de dor. Com lágrimas nos olhos, ela tornou a olhar os quadros bizarros. Estava de volta ao seu túmulo. Voltou-se na direção da porta onde Lucas estava a observá-la com expressão fria e calculista de sempre. Não tinha atirado nela. Preferiu puni-la jogando-a de volta naquele quarto. Isso era pior que a morte para ela.

— Não tente fugir de novo e queira se comportar — aconselhou ele. — Você só ainda está viva graças a uma pequena fita que está em poder de Carlos.

Um aperto no coração fez Nicole arquejar. Lucas continuava: — Aliás, ele tem se esforçado para ter você de volta, sabia? Deve

agradecê-lo muito, isto é, se os dois saírem dessa com vida, o que eu acho impossível. Mas mesmo assim, desejo boa sorte, o que não vai resolver.

Ela não falou uma só palavra. A vontade que tinha era de morrer naquele mesmo instante e acabar com todo o pesadelo que a rodeava.

Lucas bateu a porta, trancando-a logo a seguir. Nicole estava na solidão e sem esperança novamente. O choro fluiu como uma fonte natural, jorrando e esvaziando a alma abatida, amargurada, perdida. Tentou impedir que as lágrimas continuassem a descer e que a loucura a possuísse. Sentou-se de volta na cama desarrumada.

Carlos apareceu em sua mente disturbada como um cavaleiro de armadura cintilante, montado em seu cavalo robusto e com uma espada desembainhada na mão, pronto para salvá-la, mas aquilo estava muito aquém da realidade. Se Carlos aparecesse, seria fuzilado num segundo.

…Aliás, ele tem se esforçado para ter você de volta, sabia? Deve agradecê-lo muito…

No momento, ela não queria agradecê-lo, e sim estar com ele, senti-lo perto, estar em segurança. Sentiu que mesmo ele tendo escondido o que é para ela e tê-la metido naquele inferno, não conseguia esquecê-lo nem odiá-lo.

Onde ele estaria? Perguntou-se então. Como estaria? O que estava pensando e pelo que estava passando?

Ela não podia imaginar.

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&&&

Carlos fitava a todos, variando de olhar para olhar. Todos aguardavam pacientemente sua resposta. Ele mordeu os lábios, perguntando-se por que se sujeitaria àquilo. Seria humilhante se juntar àquela loucura. Seus olhos se depararam com Alan estendido sobre a cama velha coberta com um pano amarelo. Sentia que devia agradecê-lo e, mesmo que não gostasse nem um pouco da idéia — pois nunca tinha agradecido nada a alguém na vida —, pensou que talvez fosse aquela a hora de fazê-lo. Seria mesmo? Não poderia ser feito em outra ocasião? Respirou fundo e foi surpreendido quando um pensamento tomou-lhe a mente: e se não houver outra ocasião?

— Carlos… — chamou Andrey. — vamos orar? O visitante sentiu que aquela definitivamente era a hora da decisão.

Olhou para o piso de vermelhão do quarto e então fixou o jovem médico e deu de ombros.

— Certo. Vamos nessa. O que vou fazer? Pensou. Isso tudo é uma grande loucura. Todos se deram as mãos. As de Andrey e Vitória estavam

estendidas na direção de Carlos. Ele as tomou nas suas ainda se questionando se não seria melhor voltar atrás.

Andrey voltou-se para Joás e pediu mansamente: — Dê inicio à oração, Joás, com a certeza de que o Senhor irá nos

ouvir e mandar a resposta às nossas súplicas. Joás sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça. Começou com um

louvor ao Senhor dos exércitos, uma canção de exaltação ao soberano Deus que tudo pode, e todos o seguiram no mesmo tom, fazendo com que um cheiro suave subisse até as narinas de Deus.

Quando a canção parou, deu-se lugar à oração fervorosa feita por todos de uma maneira completa e eficaz.

Carlos, desde o começo, não havia fechado os olhos assim como os outros. Preferiu observar o que acontecia à sua volta: todos de mãos dadas gritavam e falavam, algumas vezes, ao seu ver, alterados. Ouvia todos pedirem misericórdia a um Senhor que não conhecia. Rogavam perdão por suas faltas e pecados. Alguns deles choravam e ao mesmo tempo sorriam enquanto outros apenas exibiam seus rostos com expressão singela. Carlos nunca tinha visto algo parecido na vida. Fábio dizia: Aleluia! E Vitória balbuciava suavemente: Glórias a Deus! Sônia gritava: Santo! Santo! Santo! Andrey, por sua vez, louvava: Digno és de toda honra e toda glória, Senhor!

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Subitamente, Carlos fechou os olhos e tentou pronunciar alguma coisa, mas nada lhe veio aos lábios. Experimentou imitar os demais, porém foi inútil. Não conseguia fazer os lábios se mexerem. Ouviu por várias vezes a palavra “Deus” ser pronunciada e tentou reproduzi-la. Continuou mudo como se tivessem cortado sua língua. Sentiu de repente como se estivesse preso, acorrentado por elos invisíveis e poderosos. Algo começava a querer sufocá-lo.

Abriu os olhos e constatou que ninguém o segurava. Pensou em chamar um dos jovens presentes e questionar sobre o que estava acontecendo. Sentia que não tinha forças para sair do lugar, nem um resquício sequer para que pudesse erguer um dos braços ou uma das pernas ao menos para chamar atenção.

Tornou a fechar os olhos e, em pensamento, numa tentativa desesperada de dissipar o que estava se passando consigo, falou:

Não sei o que está acontecendo aqui e não sei se quero saber, mas… por favor, se realmente existe um Deus aí, faça com que isso que estou sentindo pare agora!

Carlos esperou por um momento e nada aconteceu. Foi então que caiu em si e descobriu-se que pela primeira vez tentava… orar? Falar com Deus?

Sem que esperasse, captou seu nome ser mencionado na oração feita pelo grupo. Seus ouvidos ficaram alerta. Ouviu pedirem para que o Senhor tivesse misericórdia também de sua vida e que o perdoasse, pois ainda não tinha o conhecimento da verdade. Rogaram para que ele fosse transformado e moldado, para que viesse a perceber que o melhor da vida não estava em jogos, ou em drogas, ou em mulheres, ou no dinheiro, e sim na adoração a Deus, vivendo em plena comunhão com Ele.

— Senhor, sabemos que Carlos é humano e falho assim como todo homem, pois herdamos isso de Adão e Eva — intercedeu Joás —, ele tem esperado o melhor da vida e nunca desfrutou realmente dela. Sofreu grandes decepções, angústias e amarguras, e tudo isso Tu sabes, ó Deus, porque nos sondas e nos conheces. Sentimos, Pai, que este homem está acorrentado pelo pecado e sendo oprimido por hostes malignas. Está cego espiritualmente e leigo a respeito de tudo aquilo que Tu és.

“Entretanto, Senhor, temos a convicção que és Deus de amor e que estás pronto a ouvir a voz dos que de coração quebrantado Te clamam. Por isso, ouve agora minha voz, pois Te peço agora, em nome de Jesus, que quebre neste momento as cadeias que cercam este homem e combata o combate por nós, porque maior é o que está em nós do que o que está no mundo!

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Instantaneamente, Carlos sentiu o peso que parecia afundar-lhe a cada minuto transformar-se simplesmente em coisa alguma, e isso o intrigou veementemente.

Como podem saber o que se passa em meu corpo e em minha mente? Parecem conhecer cada passo da minha vida até aqui! primeiro o pastor e agora Joás! Aparentam que há muito tempo são pessoas próximas a mim.

Carlos não entendia que tudo aquilo era revelação de Deus. Em meio as vozes exaltadas de júbilo, uma sensação estranha

invadiu repentinamente sua alma e uma vontade imensa de chorar e desabafar todas as coisas erradas que ocorreu em sua vida tomou-lhe por completo. Chorar? Segurou a lágrima e concentrou-se para não dar uma “grande mancada” na frente de todos. Espantado, indagou a si mesmo o que fazia com que viesse a experimentar aquela sensação singular e indistinta. Lembrou que havia muito tempo que não derramava lágrima alguma por coisa alguma nem por ninguém. Tanto tempo que não tinha idéia de quando teria sido a última vez.

Sentiu Vitória apertar-lhe a mão e olhou para ela. De olhos bem fechados, a jovem mulher adorava a Deus em um língua diferente a qual Carlos não conseguia discernir. Talvez um idioma estranho; uma língua estranha.

Ouviu a voz de Joás finalizar emocionado: — Obrigado, Senhor, pois já sinto que Tuas mãos se moveram e que

começaste a trabalhar e batalhar por nós. Tudo entregamos nas Tuas mãos. Pai querido, é no nome de Jesus, Teu filho amado, que Te pedimos essas bênçãos e desde já Te agradeço. Amém.

Todos os demais repetiram: Amém! Carlos não falou nada. Desconfiado, olhava para todos. No rosto,

uma expressão de assombro. Mas apesar disso, estranhamente sentia-se mais calmo, como se parte de suas preocupações tivessem se perdido no ar. Porém, as mais contundentes continuavam a povoar seu subconsciente como um redemoinho que teimava a girar ao seu redor. Ele especulou cada um dos jovens crentes com os olhos e quase sem querer perguntou:

— O que vem a seguir? O que vamos fazer agora? — a indagação foi lançada a todos. Fábio foi que se adiantou:

— Todos nós, diante às circunstâncias, fizemos o que estava ao alcance das nossas possibilidades. Você trouxe o Alan, Andrey o operou, doei meu sangue a ele. Tudo o que aparentemente precisava ser feito foi feito. Agora, o que nos resta é esperar em Deus. Ele se encarregará de fazer o que for necessário.

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Carlos apenas observou-o. Em seu olhar habitava a pura incredulidade.

O que eu fiz e no que eu vim me meter! Pensou Carlos. Tudo isso é uma loucura ou talvez apenas um sonho maluco que teima em povoar minha mente como uma grande nuvem tenebrosa..

Voltou-se para Alan e, como se este pudesse entender o que pensava, perguntou-lhe em silêncio:

Será que você vale todo esse sacrifício, pastor? O que eu vi de diferente em você? Aliás, o que você viu de diferente em mim para que viesse ao meu encontro e arriscasse sua vida para deixar que eu vivesse? Por quê? Que valor acha que tenho para que tomasse aquela bala por mim para me salvar? Qual a sua intenção, Alan Xavier? Qual a intenção de… Deus?

Alan continuava imóvel, assim como Carlos continuava sem suas respostas.

&&&

Leonardo ainda fitava o pai com olhar especulativo e inquisitivo.

Axel sentia-se acuado diante do menino de oito anos de idade. Aquela foi uma pergunta que o fez desmoronar completamente por dentro. Sentiu-se enjoado e um filete de suor escorreu por sua testa. Ele olhava para seu filho sem saber o que falar. Apenas tentava fazer com que alguma palavra saísse de sua boca, mas nem isso acontecia.

— Filho… foi sua mãe quem falou isso para você? — arriscou Axel. — Não, papai, não foi. O senhor irá responder minha pergunta de uma

vez, ou não? Axel hesitou. Esforçou-se em pensar em algo. — Filho, eu… Repentinamente, ouviu-se o bip do pager preso à cintura do agente

policial. Rapidamente, Axel pegou-o em sua mão e olhou a mensagem na tela de cristal líquido:

“PLANO PRONTO PARA SER POSTO EM PRÁTICA.”

CAROLINE. Axel voltou-se e tornou a olhar Leonardo. — Olha, Leo, não fique pensando em coisas como esta. Isso pode

fazer muito mal para você. Não se preocupe, papai e mamãe se amam e nada irá nos separar, está bem?

Abaixou-se um pouco até encontrar a face do menino com seus lábios carnudos e dirigiu-se à saída da casa.

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— Leo — disse sem se virar —, não pense mais nisso. Se preocupe apenas em pensar que papai e mamãe amam muito você.

— Está certo, papai — concordou o garoto. Já o lado de fora da casa, abrindo a porta do carro, Axel pegou-se

pensativo. Por que Leonardo havia pensado aquilo de uma hora para outra? O que o tinha levado a se preocupar com tal coisa? Será mesmo que a televisão tem o poder de despertar esse tipo de curiosidade em crianças de apenas oito anos?

Entrou no carros e enfiou a chave na ignição. Então algo chamou sua atenção e o fez estremecer. Um pensamento que parecia tão óbvio quanto aterrorizante:

Se Leonardo, que era um menino, estava preocupado em saber se ele estava a trair sua mãe, certamente Tina, que se tratava de uma mulher inteligente e experiente, não estaria da mesma forma preocupada e pensando nisto também?

Axel ligou o motor e acelerou, querendo que todos aqueles pensamentos assoladores deixassem de sobrevoar sua cabeça.

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Capítulo 28

O que você acha de Carlos? — perguntou Vitória ao seu marido.

Os dois estavam dentro do carro de Andrey a caminho do supermercado. Sabiam que Carlos estava com fome e a dispensa estava quase vazia. Resolveram então fazer compras. Não dispunham de dinheiro na ocasião, mas Andrey e Joás ajudaram dando uma boa quantia.

Fábio, ao volante, tirou os olhos da pista por dois segundos e fixou-os na esposa, retornando rapidamente para frente.

— Carlos? O que é que tem ele? — quis saber. — O que acha dele? Quero dizer… o que passa pela sua cabeça

quando pensa nele? Fábio levantou o sobrolho. — O que penso? Bem… não sei exatamente. Ele me parece estranho

às vezes. O que posso dizer assim de cara é que ele precisa muito de ajuda, e você sabe qual é a ajuda de que estou falando.

— Sem dúvida alguma Carlos precisa de Jesus em sua vida — acrescentou Vitória fazendo um sinal positivo com a cabeça.

— Por que você me perguntou isso? — Porque pensei em nós nos tempos passados. Em como éramos e

como agíamos. Então a figura de Carlos veio em minha mente. Na realidade ele é como nós éramos. Não nas mesmas circunstâncias, mas em se tratando de vida. “Vida perdida”.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— É verdade — concordou Fábio. — Quando conversamos, algo me tocou. Creio que foi o Senhor.

Disse para que ele lesse alguns trechos da Bíblia. Fui à sala e vi sem que percebesse que estava lendo. Não sei, mas… — ela olhou contrita para o marido —, senti naquela hora que o Senhor o ama e tem algo a fazer através da vida dele. É algo que não sei explicar. Algo verdadeiramente divino.

— Isso é somente mais uma prova de que Carlos não está em nossa casa por acaso. Devemos dar glórias a Deus porque cada vez mais está abrindo nossa mente para o seu propósito.

&&&

Era quase meio-dia. Os corredores do terceiro andar do N.R.

estavam quase desertos. O silêncio no momento estava presente ali — o que se tratava de uma raridade — e por isso, teria que acontecer naquele exato momento… E aconteceu.

&&&

No painel das salas das enfermeiras e auxiliares de enfermagem,

uma luz entre muitas outras começou a piscar (isto significava que um paciente estava necessitando de auxílio). Uma enfermeira se ergueu da cadeira, desligando-se da fofoca do dia discutida pelas demais mulheres no recinto. Deixou seu café sobre uma mesa e dirigiu-se ao paciente indicado. Entretanto, antes que alcançasse a porta, uma segunda luz foi acionada. Outra mulher se precipitou. Outro chamado. Outra luz. Um novo pedido de ajuda. Mais uma luz acesa no painel, e mais outra e outra. No final, eram doze chamados feitos ao mesmo tempo. Todas as profissionais presentes — um total de cinco — se entreolharam confusas. Uma delas deu de ombros e saiu, sendo seguida logo após pelas demais.

&&&

O primeiro chamado foi atendido. — Sim, Sr. Durval, está presisando de alguma coisa? — indagou a

enfermeira. O paciente girou o corpo magro e de pele engelhada sobre a cama e

fixou o olhar na mulher de uniforme claro.

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— Como assim? Eu não chamei ninguém! Por que acha que estou precisando de algo?

— O senhor não me chamou? Mas… o painel mostrou que… — Então aquele painel está biruta, querida, pois estava num ótimo

cochilo até você me acordar! A enfermeira coçou levemente a cabeça, confusa e ligeiramente

aborrecida. Mal sabia ela que suas colegas de trabalho recebiam naquele momento a mesma resposta negativa.

&&&

Enquanto isso, passos apressados quase inaudíveis eram dados com

cautela em um dos corredores e cessaram quando entraram no elevador e a porta metálica se fechou levando para o último andar três vultos receosos e um inconsciente.

&&&

A porta foi aberta e a claridade pôde entrar no quarto vazio. Foi o

Dr. Stone quem entrou primeiro. Acendeu a luz e puxou a maca onde Pablo se encontrava. Caroline entrou logo em seguida, segurando um pequeno cilindro de oxigênio e encostando uma máscara rente ao nariz do homem inconsciente, garantindo-lhe assim a vida, já que estava desligado dos aparelhos. Axel entrou logo em seguida dando cobertura.

O doutor guiou a maca até um leito limpo no canto do recinto e com a ajuda de Axel removeu Pablo, acomodando-o.

Caroline, ainda segurando a máscara, disse: — Caramba! Acho que nunca tinha corrido assim em toda a minha

vida. Nem na minha época de escola. Ainda bem que fui rápida o bastante para acionar os chamados sem que fosse vista.

Axel voltou-se para o doutor e indagou preocupado: — O senhor tem certeza que já não vem mais ninguém aqui? — Está área era um conjunto de salas de cirurgia, mas foi

desativado àlguns meses para reformas e ampliação para comportar mais leitos. As reformas, com os recursos de que o hospital dispõe, só será possível daqui a um ano. Até podemos ficar sossegados. Ninguém coloca os pés aqui há um longo período. Mas devo advertir: não podemos manter isso por muito tempo. Temos que torcer para que o Sr. Tavares se recupere o mais rápido possível.

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— Mesmo assim eu lhe agradeço, doutor — falou Caroline emocionada. — Não esquecerei o que o senhor está fazendo por mim e por Pablo.

— Disponha, senhorita… A voz do Dr. Stone foi interrompida quando a porta foi sendo

aberta lentamente, fazendo com que os três ficassem paralisados de temor.

Uma cabeça com mexas loiras apareceu e olhou esquisito para os três. Foi então que o Dr. Stone suspirou aliviado e disse:

— Não se preocupem. Esta é Elis, minha enfermeira de confiança, ou melhor, minha amiga.

As palavras do doutor pareceu tirar um peso de uma tonelada das costas de Axel e Caroline.

— Meu Deus! Pensei que iria ter um infarto — confessou a repórter. A enfermeira entrou com um sorriso e pode mostrar seu uniforme

devidamente limpo e engomado. O doutor explicou: — Ela ficará tomando conta de Pablo enquanto eu estiver

medicando e fazendo minhas rondas de rotina. O doutor ligou os aparelhos já previamente instalados no quarto e a

loira abriu o armário onde pegou o material para entubar Pablo novamente.

— Tudo ficará bem — amenizou Axel. — Pablo logo sairá desta. Ele é forte e não será desta vez que conseguirão derruba-lo definitivamente.

O sorriso de Caroline apareceu. — Claro que sim — concordou. — Mas… por falar em derrubar,

Axel, quero que fale com o seu capitão sobre o “enterro” de Pablo. Temos que fazer isso acontecer o rápido possível.

— Certo. Falarei com ele assim que eu sair daqui.

&&& — Você bem que poderia levar pelo menos uma sacola destas, não é

mesmo? — reclamou Fábio com quatro sacolas penduradas nas mãos para Vitória acabando de sair do supermercado.

Ela sorriu. — Agüente, estamos quase chegando ao carro. Eu sei que você é

forte, meu amor. Da outra vez você levou sei sacolas! Fábio fez uma careta.

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— Mas é porque vi que você já levava duas delas. Não são vocês que fazem questão de direitos iguais? Então está na hora de provar se realmente merecem ou não.

— Ora, vamos! Deixe de reclamar e… — Vitória! Fábio! — a voz ressoou alta ao longe. Os dois jovens voltaram os olhos para a pessoa que os havia

chamado e levaram um tremendo choque. Melina caminhava a passos largos na direção deles.

Fábio se apressou em sussurrar à esposa: — Fique calma e lembre-se: ela não pode ficar sabendo que Alan

está em nossa casa. Ele certamente não iria gostar de vê-la envolvida no que está acontecendo. Não podemos “dar na vista”.

Vitória concordou com a cabeça e sorriu para Melina, que ao se aproximar os abraçou calorosamente no mesmo instante em que lágrimas de alegria e dor escorreram de seus olhos.

— Que bom tê-los encontrado nesse momento, meus queridos. O casal trocou um olhar rápido e vitória adiantou-se: — Melina, você está chorando! Você está bem? Está acontecendo

alguma coisa? A Sra. Xavier fez um gesto positivo com o cenho. — Está sim, queridos. Algo muito grave e acho que vocês podem

me ajudar. Graças a Deus os encontrei, pois preciso muito conversar com os dois. Mas se estiverem ocupados é claro que irei entender…

Vitória segurou a mão de Melina enquanto Fábio declarou: — Melina, estamos livres pra você a qualquer hora do dia ou da

noite. Espere só um momento. Vou deixar as compras no carro e conversaremos no restaurante logo aqui ao lado do supermercado…

— Não… — adiantou-se Melina. — Não acho que seja muito seguro falarmos em ambientes públicos. Eu… eu gostaria muito de ir até a casa de vocês, sabe…

O casal mais uma vez trocou um olhar e prendeu a respiração. Estavam encurralados e acuados diante dos olhos meigos e tristes de Melina e da situação inusitada que acabava de lhes pregar uma terrível peça. Em seus rostos quase se podia ver claramente a pergunta: O que faremos agora?

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Capítulo 29

ábio e Vitória ainda se olhavam sem dizer uma palavra quando a Melina cobrou uma resposta:

— Então, gente? Estou a um minuto esperando me dizerem alguma coisa! Há algo errado? Não querem que eu vá à casa de vocês? Ah… Tudo bem…

Vitória meneou a cabeça e tentou contornar o mal entendido. — Por favor, Melina… Não é o que está pensando! Não é que não

queremos que vá à nossa casa, mas sim que temos visitas lá, e você sabe o quanto nosso lugarzinho é pequeno e apertado. Também não daria para termos uma conversa particular, entende?

Melina apertou levemente o braço de Vitória e esboçou seu sorriso irresistível.

— É claro que compreendo, minha querida. E já que é assim, sou obrigada a convida-los a me acompanhar até a minha casa.

O sorriso do casal foi instantâneo, certo de que o objetivo de não levar Melina ao encontro de Alan estava alcançado.

— E se não for abusar demais — desconfiou-se Melina — será que poderíamos passar no colégio das crianças e pegá-los? Creio que já devem estar saindo da sala de aula.

— Você está brincando — exclamou Vitória. — Cristo! Há tanto tempo que não vejo aqueles anjinhos que eu faria questão de ir pegá-los a qualquer momento.

F

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Fábio franziu a testa e disse: — Ótimo. Iremos, então, mas… se não for abusar também, será que

dava pra cada uma me ajudar com uma sacolinha, hein?

&&& Novamente encontrava-se sentado no sofá. O corpo estava relaxado,

mas os olhos fixavam, pelo corredor, o quarto de Fábio e Vitória. Carlos observava Joás e sua esposa sentados do lado direito e Andrey sentado do lado esquerdo da cama que amparava Alan. Os três conversavam em voz baixa esperando o retorno do casal que saíra para fazer compras e sempre estavam tocando no “pastor”, medindo sua temperatura, acariciando-lhe os cabelos.

Notou Joás. Ele segurava a mão de Alan e a alisava como um carinho dado de filho para pai.

Admiração e curiosidade tombaram sobre Carlos. Aquela era mais uma cena que o deixava confuso. Intrigava-o ver como todos aqueles jovens estavam ligados a Alan. Todos se juntavam para cuidar dele. Pareciam estar dispostos a passar noites em claro para garantir sua recuperação e até mesmo aparentavam estar preparados a transpor quaisquer barreiras para salvá-lo, nem que isso significasse pagar com a própria vida.

Carlos percebeu que vagava em seus pensamentos. Quando voltou a si, sacudindo a cabeça, foi surpreendido pelo olhar de Joás.

O jovem recém-casado ergueu-se e caminhou até a sala. Sentou ao lado de Carlos, afundando no sofá e suspirou profundamente. Parecia cansado do retorno da lua-de-mel. Não havia ainda descansado, pois ficara o tempo todo ao lado de Alan.

— Andrey falou que Alan lhe pediu para trazê-lo até aqui. Eu lhe agradeço por ter feito isso — Joás sorriu sem jeito como num agradecimento formal.

— Não há de quê Eu pensei um pouco e… agora realmente sei porquê ele fizera tal pedido. Vocês o tratam como um pai.

Joás confirmou com a cabeça. — E ele, de certa forma, é nosso pai. — É mesmo? — De verdade. Quando ele apareceu em nossas vidas nós pudemos

nascer de novo. Carlos baixou o olhar quando disse:

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— Encontrei uma fotografia dentro do livro que Vitória me deu pra ler onde estavam todos vocês. Juntos pareciam uma família. Pude reparar que estavam muito diferentes do que estão agora.

Novamente um sorriso apareceu nos lábios do jovem. — Devo admitir que antes éramos como verdadeiros irmãos, mas

depois que Alan apareceu nos tornamos mais que isso. Agora devo dizer que somos apenas “um só corpo”. Se um se alegra, todos se alegram; se um chora, todos choram juntos com ele; e se alguém se fere, todos trabalham para que a ferida cicatrize o mais rápido possível.

Os olhos de Carlos puderam transmitir o ar de curiosidade quando fitou Joás e indagou:

— Vocês falam muito de “antes” e “quando” ou “depois que Alan apareceu”. O que aconteceu nesse antes e no quando Alan os encontrou? Como eu disse, na foto vocês estavam diferentes do que são agora. Alan tem alguma participação nisso?

— Você já perguntou isso a alguém? — Já. — E o que foi que essa pessoa lhe disse? — Disse que… — Carlos hesitou e lembrou do que Vitória tinha-lhe

dito: Oh, isso é uma longa história e acho que quem deva contá-la seja o próprio Alan. — Bem… disse que você seria o mais indicado para contar isso pra mim. — Mentiu ele.

Joás abanou a cabeça num aceno de protesto. — Não. Essa pessoa está enganada. A pessoa mais indicada para

contar isso a você seria o Alan. Espere ele se recuperar e logo saberá de tudo.

Carlos protestou em silêncio enquanto Joás se erguia do sofá e caminhava de volta ao quarto. Porém, quando estava no corredor, estancou e virou-se lentamente. Coçou o queixo e voltou à sala.

— Pensando bem, acho que posso lhe contar somente uma pequena parte de tudo o que aconteceu.

Carlos apenas ficou atento para absorver o que iria ser falado. Joás iniciou:

— Como viu na foto, nenhum de nós éramos de fato como somos agora. Éramos totalmente diferentes. Nossos trajes, pensamentos, atos, nossa visão do futuro, ambições, enfim, nossa vida não era exatamente o que se podia chamar de vida, entende? Fazíamos parte de uma gangue. “Os Ferozes” era como se chamava. Todos eram barra pesada. Éramos malucos. Todos nós éramos viciados em alguma droga. De maconha à cocaína; das pílulas ao crack. Ninguém era capaz de nos impedir. Os

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ferozes eram o terror do bairro. Roubávamos, seqüestrávamos, brigávamos no mínimo duas vezes por semana com gangues rivais. Aquilo era uma maravilha aos nossos olhos. Mas… isso nos custou muito caro durante toda a nossa ímpia vida.

Carlos notou que Joás tentava prender as lágrimas que se acumulavam em seus olhos. O jovem parecia vivenciar naquele momento todos os tristes acontecimentos do passado. Ele prosseguiu:

— Aconteceram-nos muitas coisas ruins que cegamente achávamos que nos era honroso, pois dizíamos que aquilo eram provas que teríamos que agüentar para sermos os melhores, para sermos respeitados por não temermos nada nem ninguém. Não temos vergonha de dizer isso, Carlos. Andrey foi internado várias vezes por oversose; Fábio quase perdeu a perna de um tiro que levou; Vitória… — ele hesitou por alguns instantes, mas continuou desabafando: — ela foi estuprada por membros de uma gangue rival e eu… bem, você pode ver no meu rosto uma das marcas que me deixaram. Tudo isso aconteceu conosco no passado. Gente morreu por nossa causa, pessoas ficaram deformadas e outras ficaram inválidas. Tudo porque queríamos ser “grandes”. Alguém poderia dizer: “Meu Deus! Vocês eram uns monstros!” E eu diria que irrefutavelmente éramos. Todavia, naquele tempo isso era a nossa vida, nossa rotina e alimento. Mas então…

— Então apareceu o pastor — adiantou-se Carlos, seriamente. — Ele os salvou, não é?

Joás fez uma menção negativa com a cabeça fazendo que Carlos visse que não era nada daquilo que pensava e corrigiu:

— Ele fez mais do que isso. Alan apareceu no meio de uma verdadeira guerra. Os Ferozes estavam frente-a-frente com o seu maior rival, os Tigres da Noite. Uma carnificina estava para acontecer. Fábio, que era o nosso líder, já estava com o canivete erguido, e isso significava que quando ele baixasse o braço partiríamos para cima dos inimigos. Foi então que ouvimos uma voz que gritou: “Ferozes e Tigres, não cometam essa loucura!” Era Alan. Ele veio e ficou entre nós e a outra gangue. Falou para não continuarmos com aquilo e alertou-nos que aquilo não nos traria felicidade nenhuma no futuro. Aquilo seria uma desgraça para as nossas vidas, pois talvez, se fossemos adiante, elas acabariam ali mesmo.

“Fábio alertou-o para sair daquele lugar, pois aquilo não era de sua conta. O líder da gangue rival gritou para Alan que iria matá-lo. Compreendi que Alan era louco, pois não arredou o pé de onde estava. Ele decretou que não iria embora antes de falar tudo o que queria; tudo

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o que tinha para nos dizer. Falei que era louco e que iria morrer de toda forma. Foi nessa hora que ele me quebrou no meio com um só olhar e me falou que, se morresse, morreria com honra não deixando que nos destruíssemos uns aos outros. Falou que honra não era ser o mais forte, não era conquistar o seu espaço destruindo as coisas ou denegrindo as pessoas, não era morrer por coisas banais como por um território que não era nosso e sim de uma população inteira. Falou que honra não era viver sendo preso, mal visto ou odiado por outras pessoas. Honra não era ser espancar e ser espancado, maltratar e ser maltratado, estuprar e ser estuprado. Onde estava a honra nisso.

Joás mordeu o lábio olhando para Carlos e notou que ele fitava-o com olhar de quem pedia para que não parasse. Joás não estava nem um pouco com vontade de parar.

— Alan falou uma coisa que me irritou ainda mais: “Ter honra significa ser respeitado, mas acima de tudo respeitar.” Naquele momento eu puxei meu canivete e cortei-o no peito, dizendo que saísse imediatamente da nossa frente. Mesmo sangrando ele não se moveu um tanto sequer, e ainda falou que ninguém precisaria mais morrer, pois alguém já havia morrido por todos nós da forma mais vergonhosa do mundo e isso já bastava para que tivéssemos honra e andássemos de cabeça erguida, sem termos que morrer ou matar por isso.

Por um instante Joás se calou e fechou os olhos, emocionado. — Eu posso me lembrar como Alan estivesse falando a um minuto

atrás as palavras que mudaram a minha vida e a de todos nós: “ Sei que nenhum de vocês têm paz. Alguns até mesmo não conseguem dormir à noite. Não sabem o que acontecem e o que fazem para que isso venha a cessar é roubar, mentir, destruir… Porém eu tenho a solução para todos esses e os demais problemas de todos vocês, sem distinção de raça, cor, pensamento. Vocês podem deixar isso que chamam de vida para trás e tornarem-se pessoas realmente honradas, que podem dizer sem vergonha o que são sem nada temer. Quero que saibam de uma coisa: sei que no fundo vocês querem mudar, mas não encontram apoio para isso. Tenho o verdadeiro apoio para dar a cada um. Eu prometo que mudarão. Agora… Quem será que é realmente corajoso para mudar? Sei que muitas vezes pedem para morrer quando estão no fundo do poço. Mas a melhor saída não é morrer e sim tomar um rumo diferente, o rumo certo. Perguntem agora a si mesmo: Será que ainda quero matar ou morrer por uma honra que não existe? Quem de vocês quer experimentar a verdadeira honra que um homem ou uma mulher pode

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ter? Venham comigo e arrisquem encontrar a paz, liberdade e honra sem ter que arriscar a própria vida ou a de seus amigos.

“Eu lhe perguntei por que deveríamos acreditar naquilo, pois como poderíamos obter honra e liberdade sem ter que lutar? Alan disse que não precisávamos acreditar, mas disse-nos para pensar no que ele estaria fazendo ali, arriscando a vida se não por algo verdadeiro? “Quem me mandou aqui ama a cada um de vocês e não quer que se machuquem mais uns aos outros, mas sim que vivam com uma felicidade que está acima de tudo isso. Como vocês dizem: Paguem pra ver!” disse ele sem nenhum temor nos olhos, mas com uma simplicidade que me arrebatou no mesmo momento.

Joás suspirou. Carlos estava magnetizado pela história. Aquilo parecia anedota, mas de algum jeito ele sabia que tudo não passava da mais pura verdade, pois a foto, a emoção do jovem à sua frente e a própria experiência que tivera junto a Alan davam veracidade aos fatos.

— Então você e todos os outros seguiram o conselho do pastor — finalizou Carlos.

— Não, ainda não. Levou mais alguns minutos para que essa maravilha acontecesse. — Joás apontou para a cicatriz em seu rosto. — Uma parte dos Tigres avançou pra nos atacar. Cortaram-me aqui e furaram outros membros da nossa gangue. Alan nos defendeu, pedindo que parassem com aquele derramamento de sangue. Mas, ao invés disso, deram três golpes de canivete neles e deixaram-no no chão. Ainda assim ele falou que Jesus nos amava. Foi então que eu pensei: “Ou esse cara é completamente pirado ou ele tem realmente algo bom pra mim.” No mesmo instante, em que os Tigres acertaram Alan, presenciamos o primeiro milagre em nossas vidas: eles correram. E uma coisa era certa: eles nunca corriam de nada nem de ninguém. — Ele olhou com a alegria saltando de seus olhou e acrescentou: — O segundo milagre aconteceu logo a seguir. Eu e mais alguns membros de ambas as gangues fomos com ele. Hoje eu sei que Alan não era louco e sei que ele teria morrido por amor as nossas vidas, tentando nos levar até o verdadeiro sentido da vida, pois somos muito importantes. E o verdadeiro sentido da vida não está em bebidas, drogas, prostituição, mortes. O verdadeiro sentido da vida está em viver em paz consigo mesmo, e mais que isso, ter Deus dentro do seu coração, pois somente Ele é capaz de dissipar as nossas dores e trazer a solução para todos os problemas.

Carlos se mexeu no sofá e tentou falar algo. Não acreditara muito naquelas últimas palavras. Para ele elas não significavam muito. Seus problemas pareciam não ter fim. Mas Joás disse depressa:

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— Eu disse quaisquer problemas, Carlos. Não importam de que tamanho eles sejam. Os meus eram bem grandes, pode ter certeza disso. Se você acha que para os seus não têm solução, preste atenção no que vou dizer: Alan foi até você porque Deus é maior do que qualquer obstáculo que possa existir na vida. E se ele se meteu em toda essa confusão com você é porque tem algo de especial para lhe entregar assim como teve para mim.

Joás se ergueu e mirou os olhos de Carlos. — Pense bem nisso, Carlos. Alan jamais se engana nesse sentido,

pois não é guiado por vãos impulsos, mas sim por aquele que está acima de todos: o único e verdadeiro Deus.

Carlos apenas observou Joás deixar a sala e seguir de volta para o quarto sem olhar para trás.

Pôs-se a pensar no risco que Alan havia enfrentado para tirar Andrey, Joás, Fábio e Vitória da gangue e das ruas. Coçou o queixo e deixou-se afundar ainda mais no sofá. Era-lhe quase impossível acreditar que alguém pudesse correr riscos para ajudar outros sem ao menos conhecê-los direito. Agora pelo menos sabia porque os jovens amavam tanto a Alan. Mas quem não amaria alguém que arriscasse a vida para ajudá-lo? Pensou ele. Foi então que, como se um raio caísse sobre sua cabeça, Carlos teve um pensamento que o fez engasgar de estupor: Alan havia feito por ele tudo aquilo que fizera para os quatro jovens, e até mais do que isso quando interceptou a bala destinada ao seu peito que certamente o levaria à morte.

— Sendo assim… — disse súbita e inconscientemente consigo mesmo com voz fraca — a lógica não seria que eu também… o amasse?

&&&

Por um momento o capitão Afonso Sander notara que seu queixo

caíra. Axel estava bem à sua frente sentado numa cadeira e acabara de revelar a farsa sobre a morte de Pablo. O capitão mostrara uma expressão de puro estarrecimento e ceticismo. Jogou o corpo espaçoso sobre a poltrona detrás de sua mesa e permaneceu assim por um longo tempo.

Axel olhava-o e notava que agora estava pensativo alisando seu bigode. Como eu queria saber exatamente o que pensa, lamentou o agente.

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— Não consigo acreditar que vocês esconderam isso de todos nós — exclamou Sander indignado. — Todo esse tempo lamentando a morte de alguém que nem veio a falecer…

Axel interrompeu-o cuidadosamente. — Pablo morreu, capitão, para todos os efeitos! A quadrilha

planejou cuidadosamente sua morte. Se souberem que ele continua vivo, mesmo que em coma profundo, farão o que for preciso para acabar com ele de uma vez por todas. — ele se levantou da cadeira, mesmo sabendo que isso poderia desagradar o capitão Sander. — Mas além de vir revelar isso para o senhor, vim pedir também o seu apoio para… — houve um momento de hesitação antes que dissesse: — Para fazermos o enterro de Pablo.

Afonso Sander arregalou os olhos sem ter certeza de haver compreendido corretamente as palavras ditas pelo agente.

— Não entendi perfeitamente o que disse, agente Brendel, pode repetir, por favor?

Axel sabia muito bem que ele havia escutado direito. — É isso mesmo que ouviu, capitão. Já se passou muito tempo

desde a suposta morte de Pablo. Agora o próximo passo será fazermos um enterro.

Foi a vez de Afonso Sander ergueu-se de sua poltrona num pulo, esbravejando:

— Vocês só podem estar ficando loucos! Além de trazerem a público uma morte que não aconteceu, estão querendo promover um enterro sem defunto! Francamente, Axel Brendel!

O agente olhou para trás. O capitão estava falando muito alto. Perguntou-se se daria para escutar a conversa do lado de fora da sala. Ele praguejou em silêncio. Se ouvissem aquilo ele estava frito. Voltou-se para o capitão, que o fitava furioso.

— Por favor, capitão, não estou pedindo que aceite essa idéia, mas pelo menos nos dê o seu apoio e colaboração! Está claro que Pablo e Caio estavam quase desmantelando essa quadrilha, e foi por isso que foram tão covardemente emboscados. No momento Pablo é a única pessoa que pode desemaranhar a rede que essa quadrilha rege aqui em Melmar, mas ele, na atual circunstância, não está em condições de fazer coisa alguma, não é mesmo? Então, acho que devemos protegê-lo e fazer o possível para que se recupere e nos ajude. Quem sabe ele não saiba muito mais agora do que sabia antes?

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Afonso Sander fitou Axel em silêncio por mais um minuto, então afundou na poltrona outra vez. Suspirou fortemente, mordeu o lábio e disse, parecendo estar mais calmo:

— Quando pretendem realizar esse… enterro? — Estamos querendo realizar amanhã. — Amanhã? Já? — Já era pra termos feito antes. Já se passou tempo demais. Tenho

até medo que a quadrilha já tenha suspeitado dessa demora. Como falei, capitão, se ele suspeitarem de algo, Pablo não viverá por muito tempo. — pôs as mãos sobre a mesa do seu superior e acrescentou em voz baixa: — Não podemos deixar que isso aconteça! Seria o fim de anos de investigações e de tudo o que Pablo fez para acabar com essa quadrilha.

O silêncio pairou no ar. Axel olhava para Afonso Sander como se almejasse uma resposta positiva naquele exato momento. O capitão ficou imóvel por algum tempo, a cabeça baixa e reflexiva. Moveu-se, passou a mão sobre o rosto e bufou pelas largar narinas antes de dizer:

— Se é meu apoio e colaboração que querem, já os têm. Devo isso ao Pablo. Mas… quero que me explique isso mais detalhadamente. Eu nunca me envolvi num enterro que não tivesse um morto antes.

Axel sorriu. — Obrigado, capitão. Queremos que o senhor tome as providências

do enterro da seguinte forma…

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Capítulo 30

O que está acontecendo? Por que ele não liga de uma vez? Será que o maldito entregou a prova aos tiras? Se isso aconteceu…

Lucas estava impaciente. Andava de um lado para o outro no grande salão de reuniões onde estava a sós com Vip. Carlos não ligara mais e isso o deixava nervoso.

— Acalme-se, Lucas. Se você conhece Carlos bem deveria saber que, enquanto houver um pingo de esperança nele de que sua noiva ainda está viva, não se precipitará a fazer qualquer coisa contra nós. Entregar a fita será a última coisa que ele fará.

— Mas depois do que aconteceu no último encontro, não sei mais se é correto ter tanta certeza disso.

— Mas o que está em jogo é o amor, meu caro — ponderou o chefe. — Não se preocupe. Ele irá ligar de novo.

Vamos esperar mais um pouco. Mais um pouco, disse Vip a si mesmo, sabendo que no fundo vivia atormentado com a idéia de seu império estar nas mãos de um simples homem cujo trabalhara para ele, ou seja, estivera em suas mãos, porém agora estava fora de seu alcance.

Subitamente o telefone tocou e Rodolfo trouxe para o aparelho para as mãos de Vip e este sorriu antes mesmo de colocá-lo ao ouvido.

— Eu falei que ele ligaria — gabou-se.

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A voz do outro lado da linha falou-lhe algo que o desagradou e o deixou silencioso. Ouviu mais algumas palavras e desligou. Diante do olhar especulativo de Lucas ele disse:

— Não era Carlos. Era Hector Góes nos dando um alerta. Estamos com sérios problemas na MELMARTEL.

&&&

Axel estava pensativo enquanto guiava seu carro pelas ruas da

cidade quando o Pager sobre o painel tocou. Trouxe o aparelho ao seu campo de visão e leu a mensagem: “PRECISO FALAR COM VOCÊ O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. VENHA PARA CASA”. TINA.

Rapidamente um suor frio fluiu dos poros do agente e achou que começava a ficar zonzo de repente. Para ele aquela conversa já estava clara, pois já poderia imaginar o conteúdo das palavras que Tina proferiria.

Ele parou o carro no acostamento, baixou o vidro, fechou os olhos e tomou um pouco de ar puxando-o para dentro dos pulmões. Repetiu esse procedimento por três vezes. Sentiu-se melhor. Colocou a cabeça para dentro do carro e esperou um instante antes que engatasse a primeira marcha. Foi então que através do pára-brisa enxergou Alberto Linhares caminhando pela calçada do outro lado rua. Notou que o rapaz aparentava estar tenso e apreensivo. Axel reparou que Linhares não o tinha visto ainda.

Alberto passou em frente a uma loja de conveniências e então por uma floricultura e então por um beco e então… subitamente ele caiu no chão. Axel estreitou os olhos sem entender o que havia acontecido. Rapidamente saiu do carro e correu ao encontro do amigo. Ao chegar lá encontrou uma poça de sangue se formando ao redor do corpo de Alberto Linhares.

— Oh, Deus, Não! — exclamou. Olhou de um lado para o outro, mas não soube identificar ninguém ou a direção certa de onde os silenciosos disparos haviam saído. — Alberto! Alberto! Agüente firme, amigo… Chamem uma ambulância! — Gritou ele para algumas pessoas que andavam na rua.

Alberto tossiu sangue e abriu os olhos debilmente. Já com dificuldade para respirar se esforçou para pronunciar as palavras que queria.

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— Não fale, Alberto. — pediu Axel. — O socorro já está chegando… — Eu encontrei, Axel… Encontrei… — tossiu novamente — o

telefone que … você estava procurando. Para… onde os ass… assassinos ligaram, eu… eu encon… trei.

Alberto não respirou mais e Axel não pôde deixar de prantear pelo amigo.

&&&

O telefone tocou novamente e ele atendeu. Um sorriso estampou-se

em seu rosto em seguida. Ele bradou de alegria quando parabenizou a pessoa com quem falava pela linha:

— Ótimo. Mais um grande ponto para você, Tito. A cada trabalho seu eu me surpreendo ainda mais com sua rapidez e agilidade. Depois nos acertamos… Claro! Pode retornar para cá. Sua missão aí está terminada… Sim… depois conversamos sobre isso.

Vip apertou um botão e desligou o aparelho. Voltou-se para Lucas para declarar:

— Está feito. O rapaz da Melmartel, Alberto Linhares está “deletado”. Tito o apagou de nossas vidas. Isso graças ao alerta de Hector Góes. Porém, ele falou que um agente policial chegou quase no mesmo instante em que Alberto foi acertado.

— Será que Alberto não falou ainda alguma coisa para esse policial? — Isso eu não posso saber no momento — disse Vip passando a

mão pelo queixo. — Mas em todo caso vamos entrar em contato com Hector e mandá-lo revistar o computador do Alberto. Mande também alguns homens à casa do falecido. Quero uma limpeza geral nas coisas dele.

Rodolfo trouxe duas taças com bebida e serviu aos dois. Ambos brindaram.

— Uma peça do tabuleiro caiu. Faltam só mais algumas para darmos um cheque-mate — disse Vip.

O telefone tocou pela terceira vez e foi entregue para Vip. Ainda com um sorriso nos lábios atendeu. Entretanto, o sorriso foi desaparecendo pouco a pouco até dar lugar a uma expressão de angustia e absoluto terror.

— Não pode ser verdade isso que você está dizendo — falou ao fone. — Ok. Ficarei esperando sua ligação de volta. Saiba que sua recompensa já está garantida, como sempre. Até logo.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Ao desligar o olhar de Vip na direção de Lucas fez com que este se preocupasse antes mesmo de saber do que se tratava. O chefe da quadrilha levou as mãos à cabeça.

— Não posso acreditar nisso! — O que aconteceu? — Acabaram de me informar que Pablo Tavares continua vivo!

&&& Outro policial estava interrogando Axel na cena do crime enquanto

as medidas de praxe eram tomadas pela equipe de profissionais da homicídios. Ele respondia as perguntas esporadicamente sem se importar muito se elas batiam ou não com a verdade dos acontecimentos. Ele se lamentava e perguntava por que havia de acontecer aquilo logo com Alberto Linhares, um jovem cheio de vida e com um futuro brilhante pela frente. Suspirou e observou na cintura de um policial que passava por perto um aparelho celular. Precipitou-se e arrematou o telefone nas mãos. Fez um gesto para o policial para que esse não se preocupasse, pois restituiria o preço da ligação. Teclou alguns números e esperou Tina atender.

— Alô? — Tina, querida… aconteceu uma coisa muito ruim, e… quando eu

chegar em casa conversamos. Estou ligando para dizer que não sei a que horas vou chegar em casa…

Desta vez Tina detectou um tom de veracidade na voz do marido e preocupou-se.

— O que aconteceu, Axel? Está me deixando nervosa! — Fique calma… Foi… Foi o Alberto Linhares. Ele… Ele foi

assassinado há poucos instantes e eu vi o exato momento em que aconteceu, mas infelizmente não vi o autor dos disparos.

— Oh, meu Deus, que coisa horrível! — lamentou Tina sem saber mais o que dizer.

— Tente não pensar muito nisso, certo? Assim que eu terminar aqui eu prometo que irei para casa e conversaremos. — Ele hesitou antes de dizer: — Eu… te amo. Tchau.

&&&

Os gritos das crianças chegaram à cozinha, onde Melina, Fábio e

Vitória estavam sentados à mesa. Melina repreendeu os três pequeninos para que brincassem em silêncio e voltou-se novamente para o casal.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Quando vocês tiverem os filhos de vocês, irão ver o quando dão trabalho. Mas são herança do Senhor e bênçãos para nós.

Todos riram. Fábio tomou mais um gole do suco que Melina servira para eles e indagou:

— Você falou que conversou com Tina Brendel, a esposa do agente policial que é responsável pelo caso em que Alan é suspeito de assassinar dois policiais. Ela prometeu ajudá-la?

Melina fez menção positiva com a cabeça. — Isso é bom, não é? — alegrou-se Vitória. — Já é o resultado de

suas orações. O Senhor não falha. — Isso é verdade. Mas apesar disso ainda estou tão preocupada…

fico pensando onde ele possa estar… Num beco? Num gueto? Debaixo da ponte? — tentou não pensar em morto?

O casal prendeu a língua para não revelar o paradeiro de Alan. Vitória tocou os ombros de Melina e anuiu:

— Tenho certeza que ele está seguro e confortável. Quem sabe está agora numa cama descansando em meio a toda essa turbulência? Você conhece o seu marido. Dificilmente algo o abate.

— Nisso você está mais que correta. Bem… o que me resta é confiar no nosso Deus Todo-Poderoso de que ele esteja realmente em segurança.

Fábio sorriu ao dizer: — Confie nisso. Ele está bem. Ela também sorriu parecendo estar mais confiante. — Querem almoçar aqui? Fiz um prato delicioso… — Oh! Não podemos… como dissemos, temos visitas em casa. — É mesmo! Eu conheço os visitantes? O casal cruzou um olhar. — Ahn… Acho que não… — falou Fábio. — São alguns irmãos

convidados da igreja de Andrey, ele ficou fazendo sala pra eles enquanto fomos comprar algumas coisas para o almoço.

— Entendo. Vitória abraçou Melina carinhosamente. — Temos que ir agora, minha irmã em Cristo. — Isso mesmo. Vamos perplexos com o que você contou sobre

Alan, mas também vamos mais tranqüilos já que você esclareceu os fatos com a mulher do policial. Sabemos que tudo se resolverá.

— Amém — proferiu Melina. — Mas… sabem… Eu daria qualquer coisa para estar do lado de Alan nesse momento.

Mais uma vez o coração do casal ficou apertado de remorso.

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&&& Nilton e Tatiana Cross estavam sentados à mesa estudando a

Palavra de Deus. O pastor estava escrevendo algumas partes de Salmos 121. De repente cessou de escrever e olhou para sua esposa. Ela estava estudando Deteuronômio, capítulo 14, versículo 2; e havia escrito:

Porque és povo santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe

seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a face da terra. Ele repousou a caneta de lado e indagou: — O que você acha de tudo isso que está acontecendo com Alan? Sem levantar os olhos das suas anotações ela respondeu com

firmeza: — Isso tudo é uma prova de Deus para com ele, mais uma vez —

ela ergueu os olhos para o marido. — Dá pra se ver que esta é uma prova muito dura, querido. E vou dizer uma coisa desoladora: tudo o que Melina vem sentido com relação a ele não é simples emoção; tudo é real. Eu mesmo senti isso de Deus. Tenho orado por ele a todo momento. Entretanto, devo admitir que nada está muito bem para a nossa ovelha, Nilton.

— Oh, meu pai — clamou o pastor Cross, — O que o Senhor está preparando para o Alan?

Tatiana pegou as mãos de Nilton nas suas. — Tenho certeza de que é algo maravilhoso o que o Senhor tem a

dar para ele. Disso podemos ter certeza.

&&& Joás e Sônia estavam ainda à espera de Fábio e Vitória e também

Andrey que saíra repentinamente, e da cozinha onde estavam podiam ver Carlos sentado no sofá com o olhar distante.

— Ele parece estranho — comentou Sônia. — No abismo em que ele se encontra eu me surpreenderia se não

estivesse assim. Sem que percebessem, Carlos olhou pelo corredor e notou que não

havia ninguém ao lado de Alan. Ergueu-se e direcionou-se ao aposento. Ao chegar lá viu Alan nas mesmas condições: pálido e inerte. Ele fechou os olhos e passou a mão pelo rosto.

Será que estou me preocupando? Pegou-se a pensar. Preocupando com o “pastor?” …a quem não conheço… a quem salvou a minha vida! DROGA!

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Carlos abriu os olhos e a surpresa que teve foi uma das maiores da sua vida. Alan estava com os olhos arregalados em sua direção. Não se controlou e imediatamente indagou se aproximando ainda mais:

— Pastor… Como você está? Alan esboçou um leve sorriso por contempla-lo ali. Em seu interior

glorificou ao Senhor pelo milagre de fazer com que aquele homem de coração duro permanecesse junto aos filhos de Deus.

— Você quer que eu chame os seus amigos? Acho que eles podem fazer mais por você do que eu…

— Não! — falou Alan com a voz fraca. — Quero falar a sós com você. Sente-se, por favor.

Carlos sentou na cadeira ao lado da cama onde Fábio havia permanecido enquanto doava o seu sangue para Alan.

— Eu sei… Carlos… que você tem muitas perguntas sem respostas dentro de si: por que exatamente fui ao seu encontro? Como posso saber quase tudo sobre você? Como sei o conteúdo da fita?

O homem ao lado da cama balançou positivamente a cabeça. — Sim. Aliás, vocês todos sabem muito sobre mim. Por quê? Alan respondeu vagarosamente: — É bom que entenda que eu não sabia tudo desde o princípio… Eu

sabia como encontrá-lo e qual o seu nome, mas não sabia que estava metido naquilo tudo… Fiquei um pouco surpreendido quando descobri que você era… Bem, acima de tudo te encontrei. E sabe por quê? Porque Deus quis assim. Ele te ama e não quer que viva desta forma tão sem sentido. Afinal, qual é o sentido da vida? Muitas pessoas não sabem responder essa pergunta. Será que você é uma delas?

Diante do silêncio de Carlos ele continuou: — Deus tem algo pra lhe entregar, mas você continua a rejeitá-lo.

Sabe o que você está rejeitando? O sentido da vida. — Não fale besteira, pastor! O sentido da minha vida nesse

momento está sendo refém do Vip, se é que ela continua viva! — E o que você está fazendo aqui? Está se sentido obrigado por eu

ter recebido aquela bala em seu lugar? Não precisa se sentir assim. Há alguém que fez algo muito maior por você, e foi Ele quem me enviou para que eu pudesse testemunhar dEle para você. Tomei aquela bala para que hoje você pudesse estar nesse lugar e recebesse um recado.

Carlos estreitou os olhos. — Recado? Que recado é esse? — Preste atenção: Não há nada que você possa fazer… para tentar

sair desse inferno em que está sem que venha reconhecer que você não é

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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nada sem Deus e que sem Ele não conseguirá escapar das garras do inimigo. Deus te ama, Carlos, e… Ele quer te ajudar a sair da cova que você cavou para si mesmo. Ele está com as mãos estendidas para você, mas não pode fazer nada enquanto você não fizer nada. Ele irá mover a mão dEle quando você mover a sua e pedir-lhe que tome conta da sua vida, reconhecendo que sem Ele você não é nada, e com Ele você é mais que vencedor.

Carlos passou os dedos pela barba por fazer e declarou: — Não vou lhe mentir, mas não acredito muito nessas suas

palavras. Com o mesmo olhar de tranqüilidade e confiança Alan acrescentou: — Não há nada de errado em se dizer a verdade, mas é um erro

muito grande não acreditar no poder de Deus, Carlos. Olhou bem para os jovem que estão nesta casa? Precisava vê-los antes de conhecer verdadeiramente a Deus… O olhar deles era mesmo que estar olhando os seus olhos agora. Basicamente estavam na mesma situação… Não tinham mais vida… para viver! Mas apresentei a eles o autor da vida assim como estou lhe apresentando agora, e veja no que eles se tornaram! Andrey retomou os estudos e tornou-se num médico, Joás é gerente de banco e… Fábio e Vitória é o casal mais feliz que conheço. Enfim, são pessoas livres e felizes como muitos não podem ser. Agora… me responda com sinceridade: você não quer que estas duas qualidades básicas, mas essenciais entrem em sua vida?

Carlos percebeu que estava com um nó do tamanho do mundo no meio da garganta e com lágrimas que queriam fluir de seus olhos. Nunca sentira uma tal felicidade a qual Alan estava a prometer-lhe e aquilo era uma coisa que realmente faltava em sua vida: uma verdadeira felicidade e sentido para levar uma vida verdadeiramente livre.

Subitamente ele ouviu um barulho atrás de si e voltou-se para ver quem era. Estavam ali na porta Andrey, que estava de volta, Joás e Sônia e Fábio e Vitória ainda com as sacolas de compras nas mãos. Todos fitavam seus olhos mareados. Sentiu-se novamente encurralado e saber se haveria explicações a dar sobre sua emoção.

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Capítulo 31

Gravando! — afirmou Edgar Serra por detrás da câmera.

Caroline segurou firme o microfone, pigarreou e iniciou sua reportagem do local onde Alberto Linhares fora assassinado. Ainda havia policiais no local, fazendo perícia e tentando encontrar alguma pista ou alguma ligação entre outros crimes para identificar o autor dos disparos. Caroline falava:

— E este é mais um crime que, sem sombra de dúvida, nos deixa preocupados com a segurança em nossa cidade e nos faz indagar: como isso será solucionado? Os policiais estão trabalhando aqui desde que o corpo foi encontrado pelo agente Axel Brendel e até agora nada foi encontrado. A expectativa é a de que seja encontrada alguma pista que leve a quem praticou esse crime, que, segundo o agente Brendel, pode estar ligado aos assassinatos de Pablo Tavares e Caio Vieira.

Ela fez uma ligeira pausa e concluiu: — E já está confirmado o enterro do ex-agente de polícia, Pablo

Tavares, para amanhã no cemitério PAZ E DESCANSO. A cerimônia será destacada pela presença de todo batalhão da polícia de Melmar. —enquanto falava os retratos falados de Alan e Carlos apareciam na tela e logo abaixo um número de telefone. — A polícia pede a contribuição de todos os habitantes de Melmar. Se você vir ou tiver informações sobre qualquer um desses homens ligue para o número abaixo…

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&&&

Os olhos de Bete se arregalaram ao se deparar com um legítimo desenho do rosto de Alan na TV. Subitamente ficou perplexa. Como aquele bondoso homem poderia estar sendo procurado por assassinar dois policiais? Quando se encontraram, ele parecia tão dócil e gentil que seria difícil acreditar no que a repórter estava falando.

Uma mão tocou-lhe levemente o ombro. Era Tatiana. — Não acredite no que estão falando de Alan, Bete, pois nada disso

é verdade. — tranqüilizou-a. — Lembra-se do homem que estava com ele quando se encontraram?

— Sim, lembro. — É por causa dele que Alan se envolveu em tudo isso. Mas ele não

matou ninguém. Você verá que tudo irá se esclarecer e o Senhor irá exaltar o seu servo.

Bete pensou por um momento, fitou Tatiana e pediu contrita: — Pastora… Já me ensinaram aqui que a oração remove montanhas

se a gente tiver fé, mas eu não sei orar e nem tenho uma fé que possa fazer uma montanha sair de um lugar para outro. A senhora pode me ajudar? Pois… eu quero orar pelo Alan e ajudá-lo onde quer que ele esteja nesse momento.

Tatiana Cross sorriu com a felicidade visível em seus olhos. Deu a volta e ficou de frente para Bete. Tomou as mãos dela nas suas e ambas começaram a orar em favor de Alan Xavier e Carlos Lacerda.

&&&

Após concluir a matéria, Caroline avistou Axel acabando de passar

instruções para um policial. Ela se aproximou e abraçou o amigo. — Sinto muito por Alberto. Sei que eram muito amigos. O homem, com um sentimento de perda no coração, confirmou

dizendo: — Sim, éramos. Alberto significava muito para mim. Era como um

elo que me ligava a uma vida cheia de esperança, uma vida parece muito distante.

— Não diga uma coisa dessas! — protestou Caroline. — Você não conheceu como eu era antes… Eu… — Axel abanou a

cabeça e mudou radicalmente de assunto: — O enterro está mesmo marcado para amanhã às nove horas, certo?

— Certo.

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— Ok. Tudo dará certo não se preocupe. Ninguém suspeitará de nada.

Caroline tentou sorrir e transmitir tranqüilidade. — Axel, obrigada por ajudar Pablo e… a mim também. — Não há de quê. — E Tina, como está? Subitamente Axel estremeceu. — Oh… Ela está bem. — E você como está? — Só ficarei bem quando essa história toda terminar de uma vez.

Isso tudo parece até um terrível pesadelo. — Você tem razão — disse a repórter. Ela estendeu a mão e se

despediu: — Tenho que ir, agora. Ela se distanciou e Axel caminhou até a viatura. Ao entrar no carro

procurou Caroline com o olhar e encontrou-a dando um telefonema pelo seu celular.

&&&

O telefone soou pela quinta vez quando Tina finalmente atendeu. A

voz de Melina se fez ouvir, singela: — Olá, Tina. Como vai? — Melina, que prazer! A voz da Sra. Xavier demonstrava traços de timidez. — Eu… liguei para saber se você já conseguiu falar com seu

marido… Devo admitir que estou bastante impaciente. Por favor, perdoe-me, eu…

— O que isso, minha irmã — Tina tranqüilizou-a. — Eu lhe entendo perfeitamente. Se eu estivesse em seu lugar também estaria aflita. Fique calma, pois já disse a Axel pelo telefone que tenho uma coisa muito importante para falar-lhe, e ele disse que assim que voltasse para casa iríamos conversar, então falarei com ele.

— Oh! Tina, eu não sei como agradecê-la… — Não se preocupe. Ligue-me daqui algumas horas e você falará

diretamente com ele, certo? — Está certo.

&&&

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O quarto parecia estar um pouco escuro demais, mas Axel não comentou nada. Afinal, tudo era para a segurança de Pablo. O Dr. Stone e a enfermeira Elis também estavam presentes no recinto. Axel aproximou-se de Pablo e fitou-o por um momento, sabendo que ele ainda corria grande risco de vida. Voltou-se para os dois profissionais da saúde e recomendou:

— Vocês já sabem que iremos fingir um enterro amanhã. O enterro de Pablo Tavares. Será um passo importante para mantermos a integridade física do seu paciente, doutor, e quero também a sua colaboração.

— O que tiver que ser feito faremos, agente Brendel — firmou o Dr. Stone.

— Faço das palavras do doutor as minhas — disse a enfermeira. — Ótimo — Axel agradeceu. — Peço, por favor, que, não deixem

em hipótese alguma Pablo só e, se acharem alguma coisa suspeita, não hesitem em chamar alguém da segurança. Já chequei todos e são de confiança.

De repente pôde-se ouvir o bip do pager do Dr. Stone. Ele o tomou nas mãos e olhou a mensagem e de modo repentino pareceu nervoso.

— Desculpe-me, mas tenho que dar um telefonema urgente, se não se importa. Entretanto, tem a minha palavra de que farei o que estiver ao meu alcance em prol da recuperação do Sr. Tavares.

— Obrigado, doutor. O Dr. Stone deixou o quarto apressadamente e dirigiu-se para os

andares inferiores. Axel fitou Elis e disse: — Gostaria, com todo o respeito, que você ficasse aqui amanhã.

Você parece ser uma profissional bem eficiente. Certamente você será bem recompensada pelos seus esforços.

— Não se preocupe com isso. Estarei aqui para cuidar do seu amigo enquanto estiverem no enterro.

— Está tudo acertado, então. Tenho que ir, agora — disse ele saindo do recinto. Desceu um lance de escadaria e passou pelo portão que dava acesso ao andar em que Pablo estava. No final, pegou o elevador e desceu até o primeiro piso. Naquele instante seu pager tocou. A mensagem era do capitão Sander. Queria que lhe ligasse. Axel se dirigiu ao balcão de recepção, pediu para dar um telefonema urgente. Um aparelho lhe foi cedido e ele discou rapidamente o número da central.

Ao atender, a secretária passou para o ramal do capitão.

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— Axel, quero um relatório sobre o crime ocorrido com Alberto Linhares. As especulações estão demais por aqui e esse relatório pode ajudar.

— Não se preocupe, capitão logo estará sobre a sua mesa. — Ótimo, mas mesmo Assim quero que venha até a central e me

passe algumas informações sobre o caso. É possível? Aquilo soou mais com um “Isso é uma ordem”. Axel olhou para o

relógio em seu pulso e informou: — Dentro de vinte minutos estarei aí. — então desligou. Ao deixar o balcão de recepção, Axel pôde observar que Elis estava

ao telefone público em uma parte reservada do hospital. A vontade que teve foi a de perguntar se o Dr. Stone já havia retornado ao quarto de Pablo, mas achou melhor ignorar, por enquanto. Ela não seria tão irresponsável.

&&&

O almoço estivera uma delícia. Todos degustaram o saboroso prato

preparado por Vitória e não houvera comentários a respeito do que Alan havia falado a Carlos. Carlos observara-os a maior parte do tempo em que estiveram à mesa e se perguntou porque todos fecharam os olhos e ficaram por um instante em silêncio antes de comer. Não entendia porque não sabia o que era uma oração de agradecimento pelo alimento.

Agora, fartos e nutridos, Carlos, Joás e Fábio estavam na sala enquanto Andrey estava cuidado de Alan no quarto e Vitória e Sônia se encontravam limpando as louças do almoço.

Carlos hesitou antes de falar objetivo: — Obrigado pela comida. — Não tem que agradecer. Seria esse o desejo de Alan — disse

Fábio. Houve um instante de silêncio. — Pelo menos ele parece estar se recuperando — comentou Carlos

quebrando o gelo do silêncio mais uma vez. — Ele se esforçou bastante para falar aquilo para você, Carlos —

Falou Joás olhando em sua direção. — Ele quer que eu me torne um de vocês, não é? — O quê? — Fábio não entendeu. — É isso mesmo. Quer que eu me torne uma pessoa que só pense

em… orar, que espere por outra pessoa para resolver meus problemas…

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— E é isso mesmo que ele e todos nós queremos. Mas essa decisão é só sua.

— Ninguém pode me ajudar — falou Carlos com olhar inexpressivo —, nem mesmo algum Deus que possam me apresentar. Enquanto tentam me convencer minha noiva pode estar sendo executada!

— É verdade que Vitória lhe deu a Bíblia para que lesse? — Sim. — E o que leu? Pensou por um breve momento. — Algumas coisas que não lembro muito bem agora, mas… havia

uma… ou melhor, de um… Salmo. Dizia que Deus sondava os pensamentos.

Joás explicou o que quer dizer: — Isso que dizer que Deus o conhece e sabe o que se passa em sua

vida, Carlos. Ele está a olhar você onde quer que vá e o que quer que o aconteça. E se você está com problemas basta que lhe dê uma chance para que Ele aja em sua vida e certamente o perigo passará como uma tempestade que se transforma em brisa suave. Jesus falou que estaria conosco todos os dias da nossa vida. E Ele está contigo; ao teu lado. Basta autorizá-lo a intervir em toda essa confusão.

&&&

Em meia hora Axel chegou à sala do capitão Sander. Estava falando

sobre Alberto : — Ele disse que havia encontrado algo e foi por causa disso que o

mataram! Precisamos ir até à Melmartel e procurar em seus arquivos, também no apartamento dele e verificar em seu computados e em todos os cômodos do lugar.

— Darei ordem para fazerem isso, Axel. Acho que Levi pode cuidar dessa busca. Mas… — baixou a voz e perguntou cauteloso: — Está confirmado o horário do enterro para às nove da manhã?

— Sim. Espero que tudo dê certo. — Vai dar, agente. Tem que dar. — Sander pegou o fone e discou

um número e logo a seguir dispensou Axel.

&&&

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Carlos ouviu o telefone chamar três vezes antes que atendessem. Como sempre, Rodolfo foi quem atendeu. Minutos depois Vip estava na linha.

— Carlos?… Carlos o interrompeu automaticamente e esbravejou: — Escute, Vip, não quero ouvir mais um pio seu. Coloca ela na

linha agora mesmo, ou a fita vai estar em um minuto em todas emissoras de TV e nas mesas de cada tira da cidade.

Houve um prolongado silêncio desassossegado e então Carlos pode ouvir Vip resmungando para alguém próximo. Não se ouviu mais nada pelo aparelho por um momento e para Carlos pareceu uma eternidade. Até que alguém pegou o fone.

— Alô… Era a voz de Nicole, doce, mas ao mesmo tempo um amargo de

agonia, meio abafada. — Nicole, é Carlos! Como você está? Alguém te machucou? — Eu… eu estou… bem. E… você? — O que acontece comigo não importa e sim com você! Tudo isso é

culpa minha, eu… me perdoe… — havia tanta coisa para se dizer em tão pouco tempo e agora tão pouca segurança. — Nossa como você me faz falta.

— Você também me faz fal… Houve um barulho do outro lado da linha e Carlos sentiu um frio

invadir seu corpo. Vip estava de volta à linha. — E então Carlos, como ficamos agora? — Não faça nada a ela, Vip, pois quem tem as rédeas do jogo agora

sou eu; agora quem dá as cartas sou eu. Telefonarei outra vez em breve e até lá nada de gracinhas. Esta é sua última chance.

Ao colocar o fone de volta ao gancho Carlos imediatamente se lembrou do que ouvira de Joás:

…Basta autorizá-lo a intervir em toda essa confusão.

&&&

Axel entrou em casa e a primeira coisa que sentiu foi o abraço de Tina que se jogou sobre ele.

— Oh, querido, sinto tanto por Alberto — disse ela. O abraço permaneceu apertado por mais alguns segundos e então o

agente relatou:

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— O crime foi bem na minha frente e eu não pude fazer nada. Quando o socorri só deu tempo dele me dizer que havia encontrado algo. Acho que isso o tenha matado. Seja lá o que tenha encontrado solucionaria uma parte ou integralmente este caso. O que posso garantir é que ele foi morto pelos mesmos mandantes do crime cometido contra Pablo e Caio.

Tina o abraçou novamente e então falou: — Tenho que lhe contar sobre o que aconteceu hoje comigo. É por

isso que falei que queria falar com você. Axel estremeceu e afastou-se um pouco a ponto de fitar-lhe os

olhos. — O que aconteceu? — Me encontrei com uma mulher hoje… Meu Deus! Sandra Evans subitamente apareceu no pensamento de

Axel. Tina continuou: — E você não vai acreditar, mas ela é a esposa de um dos foragidos. A expressão do agente policial mudou radicalmente. Do temor

passou à incredulidade. — Não entendi, Tina. Conte-me esta história direito. Tina Brendel contou sobre seu encontro com Melina e falou o que

ela lhe contara. Depois de ouvir tudo Axel estava perplexo. — Você está brincando comigo, não está? — Acha que eu brincaria com algo tão sério? Axel meneou a cabeça. — Ela lhe deu um endereço onde eu pudesse encontrá-la ou um

telefone para contatá-la? — Não, mas ela garantiu que ligaria para você e isso deve ser a

qualquer momento. — Então esperaremos.

&&&

O telefone tocou uma hora depois. Já dormindo no sofá, Axel e Tina foram acordados pela sirene do aparelho. Tina atendeu rapidamente.

— Alô… Melina? Sim está aqui… Vou passar para ele. O fone foi estendido e Axel o tomou nas mãos. — Alô, Melina… Sim, sou o agente responsável pelo caso… Sim

queria muito falar com a senhora… Sim… Sim, mas eu preciso investigar isso, senhora… Acalme-se, por favor. Olhe, dou-lhe minha palavra que amanhã estarei em sua casa assim que puder… Sim irei lhe

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ouvir e isso contribuirá para o bem do seu marido… Dê-me seu endereço, por favor… Certo, estarei aí amanhã após o enterro de um amigo.

A ligação foi finalizada. Axel olhou para Tina. — E então, o que ela disse? — Disse que o marido é inocente e que tudo isso é uma armação.

Que ele está… está pregando a Palavra para o outro suspeito. — Isso é uma coisa que você já fez muitas vezes, não foi? —

indagou Tina aproveitando o ensejo. Axel apenas confirmou com a cabeça.

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Capítulo 32

imprensa, um grande número de membros da força policial e a família de Pablo — Caroline — estavam presentes no cemitério “PAZ

E DESCANÇO”. Axel estava ao lado da repórter e do Capitão Afonso Sander. A TV

transmitia a cerimônia fúnebre ao vivo para as telinhas de toda cidade. O agente olhou ao redor. Algum homem da quadrilha do Vip

estaria ali espionando? Pensou.

&&&

Vip encontrava-se em frente à televisão. Assistia naquele instante o caixão lustroso chegando ao local. Sua feição era séria e pensativa.Lucas e Tito estavam próximos a ele de olhos fitos na tela.

— Aí vem a urna. Sem dúvida será um teatro e tanto — falou Lucas. Vip permaneceu silencioso.

&&&

Enquanto podia ver seis homens fardados da força policial carregando o caixão através da tela da TV, Melina enxugava os olhos cheios de lágrimas. Clamava ao Senhor e repetia:

— Oh, Deus… Alan não matou aquele policial! Ele não o matou!

A

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81

&&&

Carlos, sentado no sofá também se ligava ao “programa” do dia transmitido pela TV. Todos os demais estavam também se encontravam no recinto a observar o enterro.

Todos estavam dispersos até que Andrey ligara o aparelho e chamara a todos, eufórico:

— Ei, pessoal, estão transmitindo o enterro do policial que dizem que Alan e Carlos haviam matado!

Agora estavam taciturnos, não sabendo se prestavam mais atenção na notícia ao vivo ou nas expressões na face de Carlos.

Vip, seu miserável, quem deveria estar dentro desse caixão era você, esbravejou Carlos intimamente.

&&&

Axel olhou para seu relógio de pulso. Ele marcava nove horas em

ponto. Tudo estava saindo conforme o planejado. Pensou que, com isso, Pablo estava mais protegido.

Todo o cenário estava armado. Caroline estava com seus óculos escuros e numa mão segurava um lenço e na outra uma foto de Pablo em que estava trajado com seu uniforme policial.

O capitão falou baixinho próximo ao ouvido de Axel: — Espero que tudo esteja a contento, Sr. agente. Foi difícil, ou

melhor, quase impossível arranjar um corpo indigente e colocá-lo naquele caixão. Vai ficar me devendo uma.

Axel apenas acenou com a cabeça para não atrair olhares especulativos. A urna se aproximava enquanto os flashes espocavam por todos os lados. Ele sentiu que começava a suar.

&&&

Ele tinha o plano passado e repassado na mente. Sabia exatamente o

que fazer e como fazer. Completar o trabalho que Lucas não tinha feito: eliminar Pablo Tavares de uma vez por todas. Nada poderia dar errado — e não iria dar, garantira a si mesmo.

Enquanto se esgueirava por um dos corredores do NR, ele calçou as luvas e checou o pente de balas da sua pistola automática. O caminho estava livre.

&&&

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Axel olhou para o relógio novamente. 9h e 15mim. Estava inquieto.

Olhou para as câmeras presentes e para os repórteres. Todos estavam assistindo ao enterro naquele momento. Aquele seria um belo dia para o ibope dos telejornais.

Seus olhos encontraram os de Caroline e os de Afonso Sander. Estreitou o olhar e meneou levemente a cabeça tentando afastar o pensamento que inesperadamente surgiu na mente.

O que estou pensando? Isso não seria possível. Ou seria? Esfregou os olhos e espreitou ao redor outra vez. Respirou fundo. E

se essa intuição for um… aviso? — Tenho que sair, infelizmente. Continuem sem mim. Depois

conversamos — ele falou para que os dois pudessem ouvir.

&&&

— Agora não tem jeito, Pablo Tavares — disse Vip com voz estridente em tom de comemoração. — Hoje sua sorte acaba definitivamente e você irá morrer… de verdade.

O riso foi imediato e sua alegria foi compartilhada com Lucas e Tito. Depois disso concluiu:

— Daí, então, restará apenas Carlos. Esse também logo estará à sete palmos abaixo da terra.

&&&

Axel estava acelerando ao máximo, fazendo com que seu carro

corresse quase que descontroladamente pelas ruas. A sirene estava gemendo e o trânsito não estava tão movimentado. Talvez todos realmente estivessem ligados na transmissão do enterro. Ele torcia para que aquela mentira desse certo. Entretanto, se aquilo que estava martelando em sua mente tinha fundamento, tudo aquilo afundaria como um navio em alto-mar.

Ele torceu para que seu pressentimento estivesse enganado-o.

&&&

O caixão estava descendo ao fundo do solo enquanto alguns soldados atiravam para cima em cerimônia de respeito aos serviços prestados por Pablo. Caroline deixou rolar uma lágrima. Os jornalistas deliraram com os closes das câmeras.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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&&&

Um vulto passou despercebido pelos corredores do hospital.

Parecia que tudo estava conspirando a seu favor. Naquele momento o NR estava silencioso — nada parecido com os outros dias. Um ânimo a mais lhe invadiu ao pensar nisso. Levou a mão ao bolso e alcançou um objeto cilíndrico de aço. Era um silenciador. Seu intento era o de que tudo seria feito o mais rápido e silencioso possível. Chegou à ala desativada do hospital. Era ali que faria o que mais gostava: matar.

&&&

Axel rompeu pelas portas do hospital correndo. Seus olhos

imediatamente avistaram dois policiais que garantiam a segurança do estabelecimento e fez um sinal para que o seguissem. Os três foram em direção à escada a toda velocidade.

&&&

As últimas flores foram lançadas sobre o caixão. A derradeira foi

Caroline quem jogou, mas antes disso beijou-a, fazendo questão que todos vissem a suposta última homenagem a quem amava.

Em seguida começaram a cobrir a urna com uma terra que parecia mais cinzenta do era normalmente.

&&&

Os olhos do assassino avistaram a porta do quarto onde, segundo a

informação que lhe deram, encontrava-se Pablo Tavares. Parecia mais fácil do que imaginava. Todos estavam muito ocupados acompanhando o enterro na televisão e isso deixaria tudo mais simples para ele.

Caminhou a passos cuidadosos em direção ao aposento, mas então avistou a enfermeira saindo do quarto. Prendeu a respiração e correu. Não deu tempo para que ela gritasse ou fizesse qualquer movimento que pudesse ameaçar seu objetivo. Em segundos a mulher estava inconsciente no chão. Agora o caminho estava totalmente livre.

&&&

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Axel não sentiu nenhuma dificuldade para alcançar o último degrau da escadaria que levava à ala onde Pablo estava, ao contrário dos dois policiais que o acompanhavam, estavam exaustos e ficaram um pouco para trás.

Ele puxou a arma e colocou-a de prontidão. Precipitou a cabeça através do corredor e avistou a enfermeira caída. O homem estava com a arma na mão e passava por sobre ela.

Oh, meu Deus, eu estava certo! — Aqui é a polícia. Parado aí mesmo! — Axel bradou. O homem pareceu surpreso ao ouvir a voz e virou-se. A arma na

sua mão cuspiu fogo na direção do agente e este recolheu a cabeça e se protegeu no corredor da escadaria. De repente os dois policiais chegaram assustados por causa dos disparos e perguntaram.

— O que está acontecendo? — perguntou um deles. — Depois respondo! Dêem-me cobertura agora! — ele não queria

dar tempo para o homem entrar no quarto. Os dois policiais se puseram a atirar protegidos pela parede. O

assassino se escondeu numa coluna ainda em construção em frente à porta do quarto. Ele olhou para ela e pensou em correr para dentro.

Tem que ser agora, pensou Axel. Ele saltou para o meio do corredor e percebeu quando o bandido colocou a cabeça para fora da coluna e atirou. A bala fez o sangue jorrar da fronte do homem, que, desnorteado, cambaleou para o meio do corredor. Num último esforço tentou atirar novamente, mas os policiais atrás de Axel não lhe deram tempo. Foram muitos disparos desferidos contra ele e isso o empurrou para trás até dar de encontro com a janela no fim do corredor. Os vidros não agüentaram seu peso e então o corpo, já desfalecido, voou para fora do hospital e pousou pesada e barulhentamente à frente da entrada principal da urgência e emergência.

Droga, protestou Axel ouvindo os gritos de histeria lá fora, agora é que o bicho vai pegar.

&&&

O enterro acabara e Vip aplaudiu o final do ato. Disse: — Esplêndida apresentação, digna de um Oscar©. Porém, a essa

altura o trabalho já deve ter chegado ao fim, para a nossa tranqüilidade, e para a intranqüilidade desses farsantes hipócritas.

&&&

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O fim da cerimônia havia chegado e as pessoas já estavam se

despedindo de Caroline e indo embora. Todos fizeram questão de apertar-lhe a mão e ela agradeceu a cada um pelos sentimentos. Quando o último deu seus cumprimentos, ela murmurou para o capitão Sander.

— Fico feliz que tenha terminado.

&&&

Muitos policiais já estavam no local, sondando, investigando, tirando fotos. Axel estava na janela e olhava para baixo onde o corpo do homem estava agora sendo coberto com um saco preto. Pablo agora estava com segurança exclusiva. Levi se aproximou sem que Axel percebesse.

— Como você está? Axel assustou-se subitamente e fitou o colega de profissão. — Não estou muito bem. Isso aqui é mais uma prova de que

estamos numa verdadeira guerra sangrenta e não há meios de escapar dela. — fez uma pausa, pensativo, então confessou: — Há muito tempo que eu não atirava em alguém e não desejei fazer isso hoje, mas fui obrigado.

— Eu entendo, e… eu não queria deixar você mais para baixo, mas devo lhe dizer que fui ao apartamento de Alberto Linhares, mas ao chegar lá, já haviam colocado tudo de pernas pro ar e nada mais estava no lugar. Com certeza foi a quadrilha do Vip quem fez essa visita nada formal. — Levi deu um passo até a janela e olhou o corpo lá embaixo. — Não posso garantir, mas parece que não encontraram nada. Acho que se existe alguma coisa, quero dizer, se Alberto encontrou algo que possa ajudar a solucionar o caso, no apartamento dele não estava.

Axel levou os olhos para baixo novamente. — Pensando bem, Alberto não guardaria uma coisa tão importante

para que alguém pudesse encontrar tão facilmente. — Acho que você está certo — concordou Levi. — Mas… podia me

explicar o que aconteceu aqui? Afinal, por que escondeu Pablo e mentiu sobre a morte dele? — Ele fez uma careta. — Isso vai dar problemas.

— Estou pouco me importando. Com os problemas que tenho, um pouco a mais ou um pouco a menos não vai fazer muita diferença.

— Espero que não se importe mesmo… — Não, não me importo. Entretanto, um problema maior está se

formando; o pior de todos.

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— Posso saber qual é? — perguntou Levi, curioso. — Alguém próximo a Pablo está conspirando contra a vida dele. Axel levou os dedos aos olhos e os esfregou. Eles ardiam. Sabia que

agora tinha mais uma investigação árdua à sua frente: descobrir quem havia telefonado e dado as informações ao assassino.

Os telefonemas. Desde a hora em que chegara ao cemitério pela manhã as

lembranças dos quatro telefonemas não haviam-no deixado em paz. Primeiro fora o telefonema de Caroline depois de cobrir o assassinato de Alberto Linhares; após isso houvera o chamado do Dr. Stone pelo seu pager e então ligara para alguém; Depois avistara, quando saia do hospital, a enfermeira Elis fazendo uma ligação de um telefone público; e, por fim, restava o capitão Sander, que o dispensara e fizera um telefonema em seguida.

Os quatro eram suspeitos. Mas… será que havia mais algum? Esta pergunta surgiu instantaneamente quando lembrou que falara com o capitão em sua sala com tom de voz um tanto alterado. Talvez, qualquer um na central poderia ter ouvido e…

Oh, não! Balbuciou estarrecido com o pensamento que lhe sobreveio em seguida: se alguém nos tiver ouvido… qualquer um dos vários tiras da central poderia ser suspeito. Subitamente surgiu outro pensamento pior ainda: Isso poderia dizer que existia corrupção na polícia de Melmar!

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Capítulo 33

le já estava lá embaixo vendo os paramédicos recolherem o corpo do assassino para dentro do furgão do IML. Sua cabeça estava a mil.

Não conseguia tirar suas conclusões da mente, e aquilo o perturbava. Quatro suspeitos.

O policial Antônio Gonzaga se aproximou e cumprimentou Axel. — Acho que gostaria de ver isso. Acabou de chegar. Ele estendeu um relatório. Era sobre o assassino. Axel leu o nome

do homem: Felipe Noar. Uma linha abaixo informava que estava na condicional e mais algumas linhas depois transcrevia o endereço que ele havia informado às autoridades ao sair da cadeia.

— Levi — chamou o agente. — Pegue este endereço e… — olhou para o policial Gonzaga — vá com ele à casa desse cara. Veja o que encontra.

Os dois saíram e Axel os seguiu com o olhar. Quase no mesmo momento os carros de Sander e Caroline chagaram ao local e chamaram sua atenção. A mídia vinha logo atrás.

Aquele com certeza não seria um bom dia, pensou Axel.

&&&

E

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O apresentador que comentou todo o enterro se despediu com “um bom dia”, e Melina desligou a TV. Perguntou-se se aquele agente policial viria realmente visitá-la. Ajoelhou-se no sofá e elevou as mãos.

— Oh, Deus, que o Senhor faça com que ele venha e que Tu possas me usar para convencê-lo de que Alan é inocente. Ajude-me, Senhor! — clamou ela.

&&&

Carlos olhava pela janela a rua pouco movimentada lá fora. O

enterro já havia acabado e agora ele estava pensativo. Tudo aquilo estava acontecendo graças a sua ambição pelo status, pensou.

Droga! Lembrou-se de Vera e em toda a educação que ela não lhe dera.

Talvez fosse por causa disso que sua vida estava naquele buraco. Olhou ao redor e suspirou. Não agüentava mais ficar enfurnado naquela casa sem poder sair livremente por aí. Ainda mais com aqueles tagarelas sempre lhe falando de Deus.

As palavras de todos ali lhe vieram à lembrança. — Pode ir até a sala, pegar um livro de capa preta… — Agora me responda: quantas vezes você agradeceu por tudo isso que Ele

te deu de graça? Quantas vezes você já olhou para o céu e disse apenas um obrigado?

— Deus te ama, Carlos, e… Ele quer te ajudar a sair da cova que você cavou para si mesmo. Ele está com as mãos estendidas para você, mas não pode fazer nada enquanto você não fizer nada.

Não. Para mim não existe mais volta ou saída, conjecturou Carlos

consigo mesmo. Vou ter que dar um jeito em toda essa situação… e sei que terei que matar ou morrer para conseguir isso.

Porém, ele preferia matar. Principalmente ter bem diante da mira Vip e Lucas como alvos.

&&&

Caroline parecera uma louca ao sair do carro e mais ainda ao avistar

um corpo dentro do furgão do IML. Não soubera se gritava, se chorava ou se martirizava a si mesma quando levou as mãos à cabeça e puxou os cabelos a ponto de quase arrancá-los. Um médico que estava por perto

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tivera que sedá-la e Axel levara uns cinco minutos para convencê-la de que o corpo dentro do veículo não era o de Pablo.

Agora, ela parecia estar mais calma e repousava sonolenta dentro do carro de Axel.

O agente negro chegou-se ao capitão Sander e fitou-o por um momento.

— O que foi, Axel? Nada, apenas estou suspeitando de você. — Nada, capitão, apenas estou… pensando em fazer algumas

perguntas ao Dr. Stone e a enfermeira Elis. Sander passou a mão pela barriga e então alisou o bigode. Meneou

a cabeça para falar. — Infelizmente a enfermeira está sob cuidados médicos. Ela foi

acertada por um forte golpe. O cara parecia saber de algum tipo de artes marciais.

— E o doutor? — Está lá na recepção. Já mandei o policial Regis fazer algumas

perguntas… Axel tomou um leve susto. — Desculpe, capitão, mas eu mesmo queria interrogá-lo. — Porquê? — indagou Afonso Sander. — Questões de segurança — disfarçou. — Coisa minha. Acho que

tenho alguma culpa no que aconteceu por aqui. O capitão fez uma careta e resmungou: — A coisa está começando a feder, Axel. Espere o pior daqui por

diante. — dito isso ele deu-lhe as costas e se distanciou. O agente apenas o observou com a mente povoada de maus

presságios. Vou esperar, capitão. Vou esperar.

&&&

Axel estava com o Dr. Stone na recepção e fizera questão para que ninguém ficasse por perto para interromper ou espionar.

— Que caldeirão está esse hospital, hein, doutor? — indagou o agente lançando um olhar especulativo sobre o médico.

O Dr. Stone passou a mão pelo cabelo, tentando aparentar tranqüilidade.

— Já é um a cada dia; imagine agora. — Fez uma breve pausa e acrescentou: — Sinto muito pelo que aconteceu aqui, agente, e fico feliz

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pela vida do Sr. Pablo Tavares, isso graças a você. Mas, agora… ou melhor, há poucos instantes fui despedido deste hospital e…

— Não se preocupe, doutor. Caroline lhe garantiu que arranjaria um novo emprego se necessário. Se ela prometeu certamente o senhor estará trabalhando logo-logo. Pode confiar nela.

Será que pode mesmo? Axel pegou-se repentinamente em dúvida. — Como ela está? — Está muito abalada. Tomou um choque ao pensar que Pablo

tivesse sido assassinado. Ela o ama muito. Ama ou finge que ama? — Parece realmente amá-lo — reconheceu o médico. Axel respirou fundo e forçou o novo assunto: — Ouça, doutor, tenho que fazê-lo algumas perguntas e gostaria

que as respondesse o mais diretamente possível. O Dr. Stone estreitou os olhos de repente. — Claro. — Onde o senhor estava quando tudo aconteceu? — Fazendo minha ronda. Tenho outros pacientes que precisam ser

supervisionados. Tenho que medicá-los, instruir os enfermeiros… — Mesmo sabendo que aquela hora seria a mais perigosa para

deixar o seu paciente só? — Ele não estava só; Elis estava com ele… — Mas o que Elis poderia fazer contra um homem… — E o que eu poderia ter feito contra um assassino armado, policial

Brendel? — interrompeu o Dr. Stone com voz alterada. Axel calou-se por um momento tentando amenizar o clima Antônio

Gonzaga e olhou para o nada. — Desculpe-me, doutor, estou um pouco transtornado, mas… tenho

só mais uma pergunta a fazê-lo: para quem o senhor telefonou ontem quando o seu pager tocou, ou melhor, quem o chamou?

— Minha esposa. Ela estava grávida e telefonei para saber o que tinha acontecido. A bolsa dela tinha estourado naquele exato momento e estava prestes a dar a luz — respondeu sem hesitar, transmitindo ar de convicção.

Axel fez um aceno com a cabeça e puxou um bloquinho de anotações. Anotou algumas informações e guardou-o de volta. Disse:

— Obrigado, doutor. Desculpe pelo que aconteceu. Espero que compreenda que as perguntas são apenas rotina e… se precisar de alguma coisa ou se lembrar de algo que possa nos ajudar… não tarde em entrar em contato.

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&&&

Fábio e Joás sentaram próximo da cama a pedido de Alan que

permanecia deitado. Sua melhora era visível, porém Andrey ordenara que ele conservasse o leito. Alan olhou na direção da porta e quis saber:

— Como Carlos está? Como tem se comportado? — Está visivelmente inquieto e angustiado — disse Fábio. — Parece

que está engaiolado. Quase todo o tempo olha pela janela e fica a fitar o nada lá fora. O que ele tem?

— Está preocupado com a noiva. Nicole é o nome dela. Sente culpa por ela estar nas mãos dos seus inimigos. Mas já falei para ele entregar sua vida e a dela nas mãos de Deus…

— Nós também, Alan, mas… ele parece estar lutando contra a Palavra — falou Joás.

Fábio hesitou. — Alan… se ele não aceitar todas as nossas palavras e… se não vier

a abrir seu coração para Cristo… Será que todo o seu sacrifício terá valido a pena?

Alan olhou para o teto, pensou por um momento e anuiu conciso: — O que penso é que… se ele vier a aceitar ao Senhor e assumir um

compromisso com Ele, o meu esforço terá sido algo ínfimo comparado à grandeza dessa transformação e no que ela acarretará. Minha felicidade e principalmente a do Senhor será incalculável. — respirou fundo e concluiu: — O que temos que fazer é continuar lançando a semente e orar para que o Espírito venha fazê-la brotar.

&&&

Depois de conferir a enfermeira sendo atendida pelos médicos do

hospital, Axel concluiu que aquela não seria o melhor momento para interrogá-la. Pensou em fazer algumas perguntas à Caroline, mas no estado em que ela se encontrava não poderia tirar nada dela. Restou-lhe o capitão Sander. Entretanto, o homem era seu superior. Como poderia interrogá-lo sem acusá-lo de algum jeito? Foi quando se lembrou de Melina e admitiu que aquele seria uma ótima hora para fazer-lhe uma visita, principalmente porque não saberia como explicar toda aquela situação envolvendo a mentira sobre a morte de Pablo à corregedoria mais tarde. A visita também serviria para desanuviar as idéias nebulosas

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que pairavam sobre si. E ainda, talvez conseguisse algumas respostas para variar.

&&&

Axel chegou à casa de Melina e apertou a campainha. A porta foi

aberta e ele observou a mulher que o atendeu. Era uma bonita jovem senhora com ar generoso e olhar simples. Ela estava desconsertada e visivelmente nervosa. Estendeu-lhe a mão dizendo:

— Que bom que veio… policial Brendel… Meu nome é Melina Xavier e queria muito esclarecer algumas coisas…

Axel teve que sorrir. A mulher estava em frangalhos, mas as palavras que acabara de dizer realmente o animou. Disse:

— Esclarecimento, Sra. Xavier, é exatamente o que vim procurar.

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Capítulo 34

elina pareceu extremamente cansada quando, olhando nos olhos negros de Axel, falou em voz súplice: — Tem que acreditar em cada palavra que acabei de lhe dizer, pois

é a mais pura verdade e, além do mais, nunca meu marido poderia fazer qualquer coisa para prejudicar alguém, entende?

Axel recapitulou tudo, pedindo para Melina contar-lhe novamente passo a passo tudo o que acabara de contar minutos atrás. Ela contou mais uma vez. No fim, disse:

— Não sei o que houve, Sr. Brendel, mas se Alan está metido nisso é porque ele quer resgatar esse tal Carlos, e tenho quase certeza de que eles estão juntos agora. E quer saber mais? Isso está me cheirando a armação dessa quadrilha para que a culpa caísse em cima do meu marido junto com esse homem. Por que o senhor acha que os levaram para aquela rodovia senão para dar cabo dos dois? Como isso é chamado… Queima de arquivo, não é?

Axel se surpreendeu com a interpretação de Melina sobre o ocorrido com Oliver e Selton. Ele mesmo já havia pensado naquela hipótese, mas teimava em não acreditar que dois dos melhores tiras da cidade fariam tal coisa. Entretanto, depois do recente atentado a Pablo e suas suspeitas sobre o co-autor — e entre eles o próprio capitão da central — aquela interpretação começava a tomar uma forma mais sólida e palpável.

M

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Axel se ergueu do sofá aconchegante dando a entender que a entrevista tinha chegado ao seu fim. Melina apressou-se a perguntar:

— O senhor vai fazer alguma coisa para… limpar o nome do meu marido e trazê-lo de volta em… segurança?

Axel sorriu, perguntando-se como apenas a voz de uma pessoa podia expressar tanta honestidade e sinceridade.

— Não se preocupe, Sra. Xavier. Se depender de mim, seu marido voltará para casa logo.

&&&

— Droga, eu não acredito nisso! — esbravejou Vip, irritado por saber pelo noticiário de plantão que Pablo Tavares estava vivo. — Isso já tá virando baderna! Será que meus planos e minhas ordens nunca serão atendidos por aqui?

Na sala em que estavam uma grande parte de sua quadrilha não se ouviu uma respiração sequer. Vip fitou a cada um e então fazendo uma expressão de descontentamento mandou que lhe trouxessem o telefone. Imediatamente entregaram-lhe o aparelho. Ele digitou rapidamente um número.

— Alô? — Oliver, você precisa fazer um serviço pra mim e não aceitarei um

não como resposta. De uma vez por todas mate Pablo Tavares. Não o quero mais respirando. Não quero mais ouvir falar que ele está vivo, está me entendendo?

— Mas… como eu… Isso é impossível! Eu… — Não quero saber, Oliver. Faça isso ou pode dar adeus à sua

mulherzinha. Vip apertou a tecla que pôs fim à ligação.

&&& Oliver olhou para o fone ainda em sua mão e começou a suar frio.

Como poderia matar Pablo com um pelotão inteiro dando-lhe proteção? Devolveu o fone ao gancho e pensou em sair da quadrilha e fugir. Mas agora era tarde demais. Se fugisse com certeza o achariam, e se não fizesse o que Vip ordenara sua mulher morreria. Ele teria que matar outro tira para sair de mais uma enrascada.

&&&

Ao chegar à central, Axel foi abordado por um oficial recém-formado na academia. Seu nome era Túlio Dantas.

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— Agente Axel, o capitão Sander ligou procurando por você. Ele comentou que seu pager deveria estar desligado e falou que precisa falar-lhe urgente e pessoalmente.

— Obrigado, Túlio — o jovem policial acenou com a cabeça e se distanciou, mas parou e voltou-se novamente para Axel.

— Veio um jovem à sua procura — falou Túlio. — Disse que só falaria com você. Como eu não sabia se você vinha por aqui agora, ele falou que voltaria depois. Acho que era algo importante.

Axel perguntou-se se seria importante mesmo. Agradeceu novamente e caminhou para sua sala. Afundou na cadeira e então pôs-se a pensar no que Melina Xavier havia falado. Se ela estiver falando a verdade e estiver com a razão sobre o ocorrido com Oliver e Selton… pensou consigo mesmo. Meu Deus, que coisa! Será mesmo queima de arquivo ou algo parecido? Se for isso mesmo, o que farei daqui por diante?

&&&

Melina discou ansiosamente o número no console do telefone e esperou que o pastor Cross ou alguém na PIEM atendesse ao toque. Ficou contente quando a voz grave de Nilton soou.

— Oh! Pastor, que bom que o senhor atendeu. Tenho boas notícias: o agente que está à frente do caso em que Alan está envolvido veio até em minha casa e conversamos.

— Isso é muito bom, minha filha… — Pois é, pastor. Tive que contar tudo o que Alan me falou sobre

sua missão e o que certamente ele estava fazendo no local em que ouve toda aquela confusão onde mataram aquele agente… Caio Vieira…

— E o que ele disse a respeito? Ele acreditou nas suas palavras? — E não era pra acreditar? Eu só falei a verdade! Ele disse uma

coisa muito confortante no final: que faria o possível para trazer Alan de volta para casa.

— Isso é um bom sinal — anuiu Nilton Cross. — Estou confiante, pastor Cross… — Isso é bom, minha filha, mas, melhor que confiar nos homens, é

confiar em Deus. Melina sorriu. Sim, acima de tudo ela confiava em Deus, e por isso

mesmo sabia que seu marido voltaria para casa rapidamente.

&&& — Olhe, Carlos, não pareço estar melhor? Peço-lhe obrigado porque

me trouxe para cá… — a voz de Alan parecia mais regulada e firme.

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Estava sentado no sofá. Fora deixado ali a seu pedido por Andrey e Joás, depois pediu para que o deixasse a sós com Carlos. Todos os jovens respeitaram seu pedido e se enclausuraram na cozinha.

Carlos suspirou e fitou Alan. Ele realmente parecia estar melhor. Era incrível como podia ainda estar vivo. Era um… milagre? Não, não acreditava naquilo.

— É, parece estar se recuperando bem. — E você, como está? Dissera-me que andou um pouco nervoso e

impaciente… — Como não estaria? — disse Carlos jogando as mãos ao alto. —

Nicole ainda está nas mãos de Vip e eu estou aqui de mãos atadas. Alan sentiu uma leve pontada de dor e então indagou: — E você pensa em fazer alguma coisa a esse respeito? — Já telefonei para Vip e aconselhei-o para que não fizesse nada a

Nicole. Vou tentar trocá-la pela fita novamente, mas agora vou até a toca da raposa. Vai ter que ser ele o que fará a troca comigo. Agora vai ser tudo ou nada. De algum jeito eu a tirarei das mãos dele. — Carlos levou a mão aos olhos e os esfregou. — É isso mesmo, pastor, não penso em outra coisa senão resgatá-la de uma forma ou de outra e… se puder… fugir, viajar para longe. Tão longe que ninguém possa nos encontrar. Isso é… — ele hesitou por um doloroso momento. — Isso é, se ela ainda tiver algum sentimento bom por mim.

Alan se esforçou para tocar o ombro de Carlos. — Veja bem, Carlos… posso ter uma solução para o seu problema.

Quer ouvir qual é? Por um segundo diria não, pois sabia que certamente viria uma

coisa louca de religião, porém, algo dentro de si pediu para que dissesse…

— Sim. — Ótimo — alegrou-se Alan. Apontou para uma pequena mesa. —

Quer pegar aquele livro preto que está ali em cima para mim, por favor. Carlos esticou o braço e alcançou a Bíblia. Entregou-a a Alan. — Escute, Carlos, não quero que pense que isso é um truque de

minha parte, pois não é. Isso é puro poder de Deus. Quero que saiba que Deus quer o melhor para sua vida. Eu também quero. Por isso quero orar por você e queria que aceitasse essa oração.

Carlos ficou em silêncio e Alan aproveitou para fechar os olhos e clamar a Deus:

— Senhor, sei que Tu me ouves e que estás comigo, pois Tu És poderoso e nem um outro Deus há além de Ti, que se preocupa com os

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teus e peleja por eles. Senhor, também sei que tens algo preparado para Carlos porque Tu assim me disseste. Por isso, venho Te pedir para que fales com ele através da Tua poderosa palavra, e que ele possa compreender o significado daquilo que queres para ele, ó Deus. É em nome de Jesus que assim te peço. Amém.

Alan abriu os olhos e voltou-se para Carlos, percebendo que ele estava de cabeça baixa. Quando ele percebeu que a oração havia terminado, projetou o olhar na direção do homem à sua frente esperando o que viria em seguida. Surpreendeu-se quando Alan ofereceu-lhe a Bíblia que minutos atrás tinha pedido para si.

— Pegue-a. Não vou fazer nada. Agora é entre você e Deus — Alan estava fazendo o que o Espírito o mandava fazer. Não sabia o que viria a seguir. Somente esperava que Deus falasse ao seu coração como deveria agir.

— O que você quer que eu faça? — podia-se ver uma nítida expressão de confusão e insegurança da parte de Carlos. — Quer que eu esfregue este livro para que um gênio apareça e atenda a três pedidos meus?

Alan fechou os olhos mais uma vez, baixou a cabeça e orou em espírito rapidamente. Carlos, olhando o movimento do outro homem, esperou uma resposta. A voz de Alan se fez ouvir novamente:

— Não, você não vai fazer isso. O que vai fazer é perguntar alguma coisa… O que quer saber a respeito da sua vida, dos seus problemas, o que deve fazer para sair deles, o que você quiser. Para tudo Deus tem uma resposta. Como eu disse, agora é entre você e Deus. Pergunte e Ele responderá.

Carlos estava cético. Meneou a cabeça sem saber o que pensar daquilo que acabara de ouvir.

— Só isso? — Não. Tudo isso. Apenas pergunte e terá sua resposta ao abrir a

Bíblia que está em sua mão e ler aonde seu olho bater. Carlos cruzou os braços, descruzou e então passou a mão pela boca.

Não podia acreditar que por um minuto pensara que aquele homem realmente pudesse ter a solução para os seus problemas.

— Vamos lá, Carlos. Não quer a solução para os seus problemas? Ela está nas suas mãos!

Olhou para Alan, para a Bíblia em suas mãos, suspirou profundamente.

— Muito bem, então — disse pensando em mais essa loucura que iria fazer. — Vejamos… se é como você fala, pastor, que tenho todas as

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respostas em minhas mãos, quero saber, primeiro que tudo, se essa doidice funciona, se Deus realmente falar comigo… — ele abriu a Bíblia.

Seus olhos deram de encontro com as pequenas letras em Jó 13:22 e então leu num tom que desse para Alan escutar:

Então chama tu, e eu responderei; ou eu falarei, e me responde tu.

Olhou para Alan e sorriu desconsertado. Fechou a Bíblia e abriu-a

novamente. Leu:

E disse: Na minha angústia clamei ao senhor, e ele me respondeu... (Jonas 2:2)

Carlos olhou rapidamente para Alan. — Como você fez isso? — Não fiz nada, Carlos. Como falei, é entre você e Deus. Você está

perguntando e abrindo o livro da verdade. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.— Não sou eu quem está manuseando a Bíblia como também não sou eu quem está te respondendo. Quer mais uma prova? Abra mais uma vez.

Carlos abriu mais uma vez e deu de encontro com mais um versículo:

Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo. (Jo 4:26)

Desta vez ele ficou sem palavras. Fechou o livro novamente. Olhou

para Alan e perguntou: — Isso é real, não é? Não é nenhuma brincadeira sua… Alan cortou asperamente: — Isto pelo que você… pelo que nós estamos passando é bem real

para você? Da mesma forma a palavra de Deus é real e verdadeira para mim e para todos aqueles que crêem. Ele citou I Tm 4:9: Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação.

Mais uma vez Carlos ficou em silêncio. Mordeu o lábio e fitou o livro preto em suas mãos. Uma certa confusão e uma ponta de receio preencheram-lhe de forma surpreendente que não conseguiria explicar a quem quer que fosse. Alan falou mais uma vez:

— Se quiser… perguntar em silêncio… Ele também pode te ouvir.

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Carlos não retirou os olhos da Bíblia. Hesitou por um instante. Seu coração parecia bater descompassadamente. Perguntou-se o que acontecia. Achou melhor acabar com aquilo logo. Fechou os olhos num súbito apelo de calma e perguntou intimamente: Por que está acontecendo isso comigo? Sei que fiz coisas ruins, mas… por que tinha que acontecer logo comigo? A resposta veio-lhe na Palavra de Deus:

Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o coração; e isso para dar a cada

um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações. Como a perdiz que ajunta pintainhos que não são do seu ninho, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no

seu fim se mostrará insensato. (Jr 17:10-11) O coração pareceu-lhe acelerar. E ligeiramente fechou os olhos

novamente. O que esse pastor quer fazer comigo, afinal? Outra resposta Divina:

O Senhor vosso Deus, que vai adiante de vós, ele pelejará por vós, conforme

tudo o que tem feito por vós diante dos vossos olhos, no Egito,como também no deserto, onde vistes como o Senhor vosso Deus vos levou, como um homem

leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar. (Dt 1:30-31)

Então ele foi enviado por Deus para trazer-me até este lugar? …até

este momento? Fechou os olhos e suspirou profundamente. Pensou: Acho que estou ficando doido. Abriu os olhos e fitou o livro preto. Você é um Deus realmente? O que quer comigo? Por que não me deixa em paz! A resposta a seguir o fez tremer:

Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou

Deus, e não há outro. (Is 45:22) Sentiu suas mãos estranhamente trêmulas de forma que não

conseguia controlar. Engoliu seco antes de indagar: Pode me ajudar? Não sei o que fazer…

Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu

te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Eis que envergonhados e confundidos serão todos os que se irritam contra ti; tornar-se-

ão em nada; e os que contenderem contigo perecerão. (Is 41:10-11)

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Seus olhos estavam vidrados, agora não pensava mais em nada, a não ser nas respostas dadas através da palavra de Deus. E quanto à Nicole ela está bem? Pode fazer algo… por ela? A resposta foi exata.

Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa. (At 16:31)

O nó na garganta de Carlos parecia sufocá-lo. Era algo que ele não

podia controlar. Por que está me dando estas respostas? O que você viu em mim? Uma surpreendente palavra foi-lhe entregue.

De longe o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor eterno te amei,

também com benignidade te atraí. (Jr 31:3) O coração de Carlos batia descontroladamente. O nó cresceu em sua

garganta e algo inimaginável para ele se instalou em seu peito. Seus olhos se encheram de lágrimas. Como da vez em que orou com os donos da casa, tentou sufocá-las como da última vez, porém agora não teve êxito. As gotas quentes escorreram pelo seu rosto e caíram nas finas páginas do precioso livro em suas mãos. A voz de Alan surgiu suavemente:

— Eu não poderia fazer você… ficar neste estado, Carlos. Este é o Espírito Santo. Ele quer habitar em você, e esse fogo no seu peito permanecerá aceso, mas, ao invés de se sentir culpado como agora, você vai se sentir leve, alegre, livre — e como se sua voz se tornasse em algo sobrenatural, ressoou como eco aos ouvidos de Carlos: — Se quiser, basta dizer sim… sim… sim… sim…

Com os olhos ainda cheios de lágrimas, Carlos voltou o olhar para Alan. Seus lábios estavam trêmulos quando disse com voz entrecortada.

— Não… não posso. Estou sujo… sujo demais. É… o que estou sentindo agora. — mesmo estando voltados para Alan, seus olhos pareciam distantes contemplando algo que só estava à frente de si mesmo. Ele acrescentou: — Como… como se sangue de pessoas inocentes escorressem das minhas mãos, como se… um rio de lama pairasse sobre minha cabeça… — fechou os olhos, deixando que uma pequena cascata de lágrimas fluísse e disse, enfim: — Acho que nenhum Deus que se preze quereria alguém assim para si.

Alan não pôde deixar de sentir a presença do Espírito Santo trabalhando na vida de Carlos e deixou uma lágrima também descer de seus olhos. Era inexplicável a eficácia da Palavra de Deus na vida do ser humano, que nada é na presença gloriosa do Senhor. Ele se aproximou

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de Carlos. A dor em seu corpo parecia já não existir mais. Tocou no ombro do velho homem desmontado pela espada de dois gumes e falou num sussurro:

— Carlos nesta mesma Palavra que você acabou de ler está escrito que Deus é grande em misericórdia e amor. E quer saber mais? Ele é recordista em perdoar transgressões. Perdoou as transgressões de Fábio, Vitória, Andrey, Joás… — fez uma pausa. Deu um sorriso amarelo, mas cativante e acrescentou: — Perdoou as minhas culpas e transgressões também. Eu, que era o mais vil dos homens.

Os olhos de Carlos se estreitaram. — Você? Como uma pessoa como você pode ser o mais vil dos

homens? Alan fechou os olhos e meneou a cabeça. Disse: — Deus é tão misericordioso, meu amigo, que foi capaz de me

perdoar. Eu, que era nada mais nada menos que era… um estuprador de mulheres e quase um assassino de… crianças.

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Capítulo 35

enfermeira estava com os sentidos totalmente recuperados, entretanto, sua cabeça encontrava-se enfaixada. O médico que a

atendera explicara a Axel que o homem que a atacara abrira um corte profundo no couro cabeludo da mulher. O impacto havia sido enorme e por sorte não tinha acontecido uma fratura intracraniana. Mas, apesar disso, ela foi liberada para o interrogatório.

O agente olhava-a, tentando sondá-la de forma que pudesse intimidá-la. Tentou sorrir e então perguntou:

— Como se sente? As dores ainda a incomodam? — Mais ou menos. De vez em quando ainda sinto umas pontadas

horríveis. Aquele monstro sabia mesmo o que queria, não é? Por falta de sorte eu estava no meio do caminho.

Uma ótima desculpa, pensou Axel. Talvez ela soubesse exatamente o que falar, como se tudo já estivesse programado.

— Para quem você tem telefonado ultimamente, enfermeira? — Como assim? — ela demonstrou surpresa. — Eu telefono para

várias pessoas: meus pais, meu noivo, meus amigos… acho que isso não é nenhum crime…

— Claro que não, moça, mas… — ele se aproximou e passou por trás da cadeira onde ela estava sentada. — da última vez que a vi, você estava telefonando no saguão. Eu queria lhe perguntar o por quê, já que me disseram que você tem um bonito celular…

A

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A enfermeira ergueu-se num salto da cadeira e fitou o agente encolerizada.

— O senhor está insinuando que fiz parte nesse atentado? Por favor, senhor, olhe para mim! Acha que eu pedi esse corte na cabeça? — apontou na direção das faixas ao acrescentar: — O médico me falou que vou ficar com uma marca do tamanho o Grand Canyon entre meus cabelos. E se tudo isso é por causa daquele telefonema… Meu celular estava descarregado. Deixei-o na sala dos plantonistas na tomada pegando carga. Se quiser pode perguntar à enfermeira Simplício, ela pode confirmar.

Ela fez uma pausa para tomar um pouco de ar. Seu tom de voz tornou-se mais branda quando continuou:

— Hoje seria a minha folga. O Dr. Stone pediu-me para adiar. Por isso telefonei para casa avisando que ficaria hoje por aqui. Pode confirmar com o doutor, pode confirmar com a minha mãe, pode confirmar com todas as pessoas que me conhecem. Eu não seria capaz de ajudar uma pessoa a matar outra. Minha vida é salvar vidas e não tirá-las.

Axel suspirou. Aquela era uma resposta bem consistente. Posicionou-se de frente para a enfermeira e olhou-a nos olhos.

— Obrigado pelo seu depoimento, enfermeira. Foi de grande utilidade. Porém, tenho que confirmar o que me disse e peço-lhe que não saia da cidade até esclarecermos o caso.

&&&

Ligeiramente boquiaberto, Carlos fitava Alan com olhar cético. Enquanto isso, o servo do Senhor mantinha uma expressão serena, mas, no entanto espelhava um misto de alegria e tristeza. Ele suspirou ao declarar:

— Posso dizer que não me orgulho do que fiz um dia e muito menos gosto de recordar disso tudo, mas essa é a verdade. Uma verdade que me machuca, mas ao mesmo tempo me traz um resquício de alegria, pois foi desse modo que encontrei a salvação — os olhos de Alan encheram-se de lágrimas novamente. Diante da atenção de Carlos, continuou: — Eu tinha vinte e três anos na época e me lembro bem que vivia nos bares e boates. Já não morava com meus pais e sim numa pensão barata. Quase todas as noites eu ficava embriagado junto com meus “amigos”, se é que se pode chamar de amigos um bando de aproveitadores que só gostavam do dinheiro que eu ganhava fazendo alguns bicos aqui e ali. Essa rotina de bebedeiras estava me deixando

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louco. Já não conseguia pensar com tudo o que se passava à minha volta. Houve um tempo que não consegui mais trabalho e, na pensão, passei a me misturar com todo tipo de pessoas ruins: ladrões, cafetões, prostitutas… Ahh… as prostitutas… Foi quando enlouqueci de vez. Minha sede por mulheres explodiu. Virei um animal insano que queria se satisfazer a qualquer preço e a bebida aguçava ainda mais essa necessidade. Então foi quando aconteceu pela primeira vez.

Alan fez mais uma pausa, pôs o rosto entre as mãos e balbuciou: Oh, Senhor! Só Tu és tão grande em misericórdia…

Carlos estava abalado com o que ouvia. Nunca pensara que um homem como aquele pudesse ter passado por tudo aquilo de fato. Esperou o que mais Alan iria contá-lo. Ele ouviu atentamente quando o outro continuou:

— Eu estava alcoolizado como de costume e… queria uma mulher desesperadamente. Como já não tinha dinheiro pala alugar uma e muito menos porte para conversar decentemente, resolvi que era hora de fazer algo drástico e demoníaco: Eu partiria para a força.

A voz de Alan parecia sufocada pelas lágrimas que desciam de seus olhos. O aperto no peito e o arrependimento feria-o sagazmente, mas teria que contar tudo, para que o nome do Senhor fosse glorificado.

— Passei a procurar minha vítima — tornou ele a dizer. — Encontrei-a numa praça não muito longe dos bares onde costumava freqüentar. Ela deveria ter uns vinte e dois anos de idade. Estava sozinha lendo e foi fácil imobilizá-la com um estilete que peguei no bar. Levei-a para um local escuro e deserto e então eu… — ele abanou a cabeça, tentando afastar a dor das lembranças. — Oh, Deus! Eu… eu fiz o que queria e… depois… deixei-a largada, ferida e inconsciente.

Carlos continuou atônito. Não conseguia criar uma imagem em sua mente daquele homem fazendo tal atrocidade. Tentou fitar Alan nos olhos e tentar ler neles algo que pudesse denunciar uma mentira, entretanto Alan continuava com a face entre as mãos e os pingos de lágrimas gotejavam de seu queixo para o chão. Com voz trêmula ele voltou a falar:

— Quando voltei a ficar sóbrio e tomei consciência do tinha feito eu fiquei louco e também quis morrer. Bebi até cair. Entrei em depressão, mas um mês depois toda a minha insanidade voltou e logo estava traçando planos para abordar outra mulher.

— Você era um monstro — não se conteve Carlos.

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— Sim, eu era. Acho que mais do que isso. Ataquei mais duas mulheres e acabei matando uma por estrangulamento… e o sentimento de culpa que eu sentia já não existia mais.

“O álcool estava me consumindo e minha insanidade ajudava nesse trabalho. Depois de algum tempo eu já estava fraco e percebi que eu não conseguiria mais segurar uma mulher adulta foi então que a idéia mais monstruosa se apossou da minha mente: “atacar uma criança”. E então logo eu estava à procura de uma inocente menina.

Alan suspirou sentindo um aperto indescritível no coração, mas continuou:

— Encontrei-a numa noite escura, saindo de sua casa com um pequenino livro debaixo do braço. Apressei-me até postar-me andando ao seu lado para conversar e prometer algo. Perguntei onde ela ia e contente me respondeu que ia para a igreja, me mostrou o livrinho que carregava e disse que era um NOVO TESTAMENTO. Falou também que estava se adiantando na frente dos seus pais e seu irmão, que iriam depois, porque ela fazia parte de um conjunto infantil e tinham que ensaiar para cantar. Perguntei seu nome e ela disse ser Leandra Salazar. Então passei a contar-lhe sobre o lindo presente que tinha para lhe dar e que estava num lugar próximo dali. Ela disse que iria receber um presente na igreja também e não poderia se atrasar. Disse-lhe que seria bem rápido, mas mesmo assim não aceitou ir comigo. Fiz muitas tentativas de iludi-la, mas ela era irredutível.

Nesse momento Alan olhou para Carlos e seus olhos brilharam. — Ela tinha apenas oito anos e ninguém lhe tiraria da cabeça que

haveria coisa mais importante naquele momento do que ir para a igreja. Isso me aborreceu de tal forma que a tomei em meus braços e corri para o local escolhido para a brutalidade acontecer. Quando chegamos lá a larguei no chão e comecei a desabotoar minhas calças. Surpreendeu-me o fato de ela não gritar por socorro e sim sussurrar: “Jesus, me ajude! Jesus, me ajude!” Não entendi aquilo ou talvez não quisesse entender. Quando me pus de joelhos e peguei-a pelos ombros ela abriu os olhinhos negros e olhou dentro dos meus e me disse: “Moço, não faça isso! Jesus te ama! Te ama e quer te salvar!” Recebi aquelas palavras como um soco no meio da cara. Como alguém poderia me amar apesar de tudo o que eu havia feito? Perguntei-me. Então a ordenei que se calasse, mas ela não se calou. “Não importa o que você fez, não importa o que você é. Ele é Deus de amor e perdoa você. Jesus te ama e você não precisa mais fazer isso.” Continuava ela a dizer sem parar. “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho para que

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todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Ele te perdoa, moço, Ele te ama”.

Alan enxugou as lágrimas do rosto e abriu um leve sorriso. Reconstituindo-se terminou:

— Todas aquelas palavras me pegaram desprevenido e me abalaram por completo. Uma menina que certamente morreria dizia que alguém me amava e que eu não precisava mais fazer aquilo. Não pude mais me mexer do lugar onde estava e toda a vergonha e sentimento de culpa voltaram para dentro de mim numa fração de segundos. Não tive mais ousadia de tocar naquela menina. Minha estrutura interior fora quebrada.

“Ela estava assustada, ainda, mesmo assim, de sua pequena garganta saiu um convite: “Você quer ir à igreja comigo?” Quando… quando dei por mim, estava caminhando para a igreja com a menina do meu lado. Ela ainda olhava-me desconfiada. Naquele momento uma voz grossa surgiu atrás de nós. Era o pai de Leandra chamando-a. Ele estava junto com a esposa e o filho. Perguntou-a porque ainda estava ali, se já tinha saído de casa há algum tempo. Ela simplesmente disse-lhe que tinha me encontrado e que agora eu ia com ela para a igreja. Leandra se aproximou de sua mãe e grudou no longo vestido que ela usava. Seus olhos ainda demonstravam desconfiança e medo. Mesmo assim, Ancelmo Salazar, o pai de Leandra, concordou, pegou-me pelo braço e guiou-me até a igreja.

Fez uma pequena pausa. — Ao chegar lá me assustei com tanta gente. Fiquei com medo que

soubessem quem eu realmente era. Mais nenhum deles tinha a menor idéia do monstro que acabava de entrar no templo. Sentei-me junto com a família Salazar e ouvi o pregador falar dessa Palavra — apontou para a Bíblia — que você está segurando em suas mãos. Nela estava toda a minha vida e a solução para ela: Jesus Cristo. Ele foi a solução para mim. Quando o pastor perguntou quem queria aceitá-lo, não vacilei e corri me ajoelhando. Aceitei-o e no mesmo momento senti que tudo de podre dentro de mim começava a sair de forma inexplicável. Senti-me leve. O que aconteceu a seguir foi espantoso: Leandra correu até mim e me abraçou dizendo que não tinha mais medo de mim, pois eu tinha aceitado a Cristo e Ele tinha me transformado. Acho que pôde ver quando o Senhor retirou tudo de ruim da minha vida. E aqui estou, livre graças a Jesus Cristo.

Carlos não piscava os olhos diante de toda a estória. Perguntou, ainda petrificado:

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— E quanto à vida que você tirou, o que fez para pagar isso? — Fui à polícia, mas não tinha nenhum caso de mulheres

estupradas ou desaparecidas registrado naquele ano, eles não fizeram nada sem provas nem queixas. Até hoje peço perdão pelo que fiz, mesmo sabendo que Deus já me perdoou no momento que dobrei os joelhos e O aceitei. A Palavra de Deus diz: Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda a injustiça. Eu confio nesta Palavra e eu confio em Jesus quando Ele falou que aqueles que forem a Ele, de maneira nenhuma os lançará fora. Essas palavras serviram um dia para mim, e hoje elas estão servindo para você, amigo.

Os olhos de Carlos novamente de marejaram de lágrimas.

&&& Estavam todos na cozinha. Conversando e se alegrando, mas acima

de tudo tensos e curiosos com o que poderia estar acontecendo a poucos metros de onde estavam.

— O que Alan pode estar falando? Ele está em condições de conversar assim por tanto tempo? — indagou Vitória para Andrey à sua frente.

— Mesmo não podendo, você acha que Alan iria me obedecer em se tratando de resgatar uma alma para Deus? Sem chance.

— Numa coisa Vitória está certa: eles estão lá já há bastante tempo — disse Joás com tom de preocupação.

— Vocês não acham melhor irmos até lá e checar se está tudo em ordem? — propôs Fábio.

— Pessoal, acho que devemos confiar em Deus e no que Ele planeja para a vida de Carlos. Se Alan pediu para ficar a sós com ele é porque mais uma vez sabe o que está fazendo, e o mais importante, é que certamente deve estar sendo guiado pelo Senhor como sempre foi.

— Amém! — responderam todos em coro com sorriso nos rostos.

&&& Levi entrou na sala de Axel e entregou em suas mãos uma pequena

pasta. Informou em voz acentuada: — Este é um pequeno relatório do que encontramos no apartamento

do cara. Nada de incomum. Parecia a residência de alguém normal e não de um assassino. Fizemos uma vistoria geral. Não encontramos drogas ou qualquer coisa roubada. Ele tinha um telefone.

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— Um telefone, você disse? — perguntou Axel. No tom de sua voz pôde-se perceber uma certa excitação.

— Sim, foi isso o que falei… — Esse telefone talvez possa nos dar alguma informação. Procure

saber para quem ele ligou ou se recebeu alguma chamada recentemente. Isso pode nos ser útil. Mais alguma coisa que eu deva saber?

— Sim. Também entreguei uma cópia desse relatório para o capitão Sander e… ele quer falar com você.

— É. Eu já sabia disso, mas não estou a fim de encará-lo no momento.

— Pois é bom se preparar. O homem não está nos seus melhores dias.

Axel abriu a pasta e passou rapidamente os olhos pelas folhas repletas de informações. Disse:

— Imagine eu, Levi. Imagine eu.

&&& Carlos enxugou mais uma vez as lágrimas quentes dos olhos e

suspirou. O peito parecia impregnado de algo que não conseguia identificar. Sabia somente que, à medida em que Alan falava do amor de Deus aquilo aumentava de volume. Alan continuava a declarar:

— Este é o meu Deus, Carlos. O Deus verdadeiro, capaz de tirar o mais vil homem do fundo do poço e erguê-lo, transformando-o a seguir numa nova criatura, que poderá andar com a cabeça erguida e seguir sempre em frente, com uma verdadeira alegria que nunca terá fim.

Carlos mordia o lábio inferior, remoendo cada palavra dita por aquele homem que parecia saber exatamente o que ele queria: andar de cabeça erguida, tendo uma alegria que procurara em vão nas mulheres, bebidas e até mesmo no mundo do crime, e ser verdadeiramente livre.

— Agora, quero lhe fazer uma pergunta — voltou a falar Alan, seus olhos incondicionalmente vidrados no semblante quebrantado de Carlos. — Talvez esta seja a mais importante que alguém já lhe fez na sua vida ou que ainda alguém fará. Diante de todas essas provas de que Deus é amor e que Ele o ama de maneira especial, de tal forma que tem lhe conservado a vida até o dia de hoje para que nesse momento você saiba de tudo isso. Carlos… você quer aceitar, assim como um dia eu aceitei e até hoje o sirvo… Quer aceitar a Jesus cristo como o seu Senhor e Salvador?

A respiração de Carlos era abafada e um tanto acelerada. Seus lábios tremiam novamente.

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— Eu… eu… Subitamente o telefone tocou. Os dois olharam sobressaltados para

o aparelho. Os demais jovens, sabendo que nenhum dos dois poderia atender qualquer ligação, voltaram à sala. Fábio atendeu, levou o fone ao ouvido. Voltou-se para Joás.

— É sua esposa. Quer falar com você. Envergonhado por certamente estar interrompendo a conversa

entre os dois homens, Joás deu de ombros olhando para Alan. — Desculpe… ela foi visitar os pais e… deve ter acontecido algo… — Não precisa se desculpar, Joás. Atenda tranqüilamente sua

esposa — apaziguou o homem de Deus. O jovem colocou o fone à altura da boca. — Olá, querida, tudo bem… — foi interrompido e seus olhos se

estreitaram e então se arregalaram numa expressão de espanto e incredulidade absoluta. — Você tem certeza disso? Passou na TV e todos viram… Sim, ele está bem, mas… Certo, certo. Está bem, querida, volte o mais breve possível, está bem? Eu te amo.

Desligou e encarou a todos com os mesmos olhos de espanto. — O que foi, Joás? O que aconteceu para você ficar desse jeito? — Minha mulher… Ela falou que estava assistindo TV com a mãe e

o plantão do jornal local entrou no ar e… deu a notícia de que o policial…

— Ele já foi enterrado, já sabemos — Fábio tentou ajudar. — Não… Ele não foi enterrado. Carlos ergueu-se num salto. — O quê? — A notícia dizia que ele não morreu… Ainda está vivo em um

coma profundo. Parece que um agente da polícia armou todo o esquema do enterro para livrá-lo de um outro atentado. Porém, parece que descobriram onde o policial estava e tentaram matá-lo… pra valer.

Carlos levou as mãos ao rosto. Um suspiro demorado saiu de suas narinas e então um gemido escapuliu lúgubre de sua boca.

— Essa não… Essa não! Vip está querendo acabar de vez comigo! Esse policial é minha chance de ficar limpo. Mas ele não quer deixar nem um fio de esperança que seja — baixou os braços e fitou Alan. — Tenho que sair daqui. Não há mais tempo para mim. Não posso ficar parado sem me defender enquanto ele está trabalhando contra mim.

— Deus trabalha pra você, Carlos. Aprenda isso! O outro abanou a cabeça com pesar. — Desculpe, pastor, mas… não posso. Não agora… Não posso.

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Caminhou para a porta. Parou, levou a mão para debaixo da camisa e tocou novamente a arma automática. Outra vez era os dois juntos para uma batalha; duas armas prontas para o pior.

Eu confio nesta Palavra e eu confio em Jesus quando Ele falou que aqueles que forem a Ele, de maneira nenhuma os lançará fora. Essas palavras serviram um dia para mim, e hoje elas estão servindo para você, amigo.

Tudo o que fora dito ainda martelava na sua mente, e uma voz lhe falava como um eco: Volta! Volta! Volta! Volta!

Ele abanou a cabeça teimando em afastar tudo aquilo tão nítido em sua alma. Não há volta, disse a si mesmo e saiu.

O silêncio reinou na sala por alguns minutos. Alan começou a soluçar num choro contido e abafado.

— Agora é contigo, Senhor. Faça-se a Tua obra da forma que Tu assim o quiseres — sussurrou.

&&&

Como o Habitual, Axel deu duas pequenas batidas na porta da sala do Capitão Sander antes de entrar.

— Pois não, capitão. Queria falar comigo? Afonso Sander balançou afirmativamente a cabeça com o ar de

superioridade de sempre. — Sim, Axel, queria muito lhe falar a respeito de tudo o que

aconteceu nesse bendito enterro e as conseqüências que ele acarretou para a minha reputação…

Axel suspirou imaginando o que viria a seguir, entretanto se equivocou.

— Mas tenho uma coisa mais urgente para tratar com você — ele tirou uma pasta de uma das gavetas de sua mesa e ofereceu-a para Axel. — Já sabe o que é isso?

— Sim. Levi já me entregou uma e me relatou o que encontrou. — É, mas… me aprofundei mais nisso, Axel, e… tenho uma notícia

que acho que vai chocá-lo. — O senhor mandou investigar o telefone? — Exatamente. E adivinhe o que encontramos: Existiam quatro

ligações recentes na lista que obtivemos, e elas foram feitas… pela namorada de Pablo, Caroline Lima.

Axel não pareceu tão abalado. Afinal, Caroline era um dos seus suspeitos. Apenas meneou a cabeça lamentando.

— Coitado do Pablo. Ele a amava cegamente.

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— Dizem que o amor é cego, meu caro, mas às vezes essa cegueira pode nos matar.

— Sem dúvida. E agora, o que faremos? — O próximo passo é saber onde ela se encontra no momento e

mandar alguém com o mandado de prisão que já pedi assim que recebi a investigação sobre os telefonemas. Ela não irá escapar.

— Espero que não, senhor.

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Capítulo 36

telefone foi atendido ao quarto toque. A voz grave de Rodolfo soou melancólica, mas Carlos não deixou que completasse uma só

palavra. — Coloque o Vip nessa linha agora mesmo. Diga a ele que é Carlos

quem está falando, e é bom que ele atenda logo ou irá se arrepender. Em dois minutos Vip estava com o fone colado ao rosto. A

respiração pereceu abafada e pesada, no tom de sua voz uma certa frustração que tentava esconder.

— Ei, Carlos, o que você quer agora? — Vou ser breve, por isso preste atenção. Não estou nem aí para o

império ou para isso que você chama de poder, isto é, não tenho medo de você. Já tive, um dia, mas agora você não significa nada para mim — sua indignação e ódio transpareciam em sua voz e fazia questão disso. — Sei que você quer de todo jeito me botar em maus lençóis com a morte daquele policial, mas desta vez você se deu mal, não foi?

— Quem você pensa que é, seu metido a espertalhão… — Ei! Sabe que eu posso ser aquele que pode transformar toda a sua

fortaleza em pó. Por isso vou falar pela última vez: não me passe para trás de novo. Quero Nicole… viva… ao meu lado. Apenas isso. É muito fácil pra você fazer isso, então faça, ou vou fazer essa fita voar até as mãos de pessoas que ainda não estão sob o seu domínio e além do mais não será muito difícil eu abrir o bico, como um bom pato que sou.

O

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113

Vip, sabendo que o tempo lhe era precioso por demais, foi direto ao assunto:

— Como quer que tudo seja feito? — Suas brincadeiras já me desgastaram. Quero um encontro. Um

último encontro, com você e com ninguém mais. Ou você estará presente com ela ou nada feito, aí você dança de vez.

Vip esboçou um sorriso Sarcástico. — Estamos falando da sua noivinha, estou enganado? Você quer

que ela morra? Sabe que se eu dançar, ela segue o mesmo caminho. — É um risco que tenho que correr, já que não tenho mais nada a

perder. A cidade inteira está atrás de mim. Estou me esgueirando pela escuridão para não ser visto por ninguém, e isso por uma coisa que eu não fiz, uma acusação de assassinato de um policial, coisa que não ocorreu. Se matá-la, será apenas algo a menos nessa minha vida miserável, não é mesmo? Mas… e quanto a você? Você tem tudo aos seus pés. Se as coisas esquentarem para o seu lado o seu mundo ruirá. Ou seja, tem muito mais a perder do que eu, Vip.

O silêncio de Vip apenas demonstrou que Carlos estava coberto de razão. Carlos não tinha nada, ao contrário dele, que tinha tudo e um pouco mais. Entre a moça morrer e a fita cair nas mãos da polícia, quem sairia perdendo imensamente era o chefão do crime de Melmar.

— Certo — concordou Vip. — Onde quer o encontro? No mesmo lugar de antes?

— Não. Não seria prudente de minha parte. Os tiras devem estar passando por lá freqüentemente agora e também eu daria uma brecha pra você e Lucas armar outra das suas armadilhas.

— Então me diga, meu caro, onde você quer que nos encontremos desta vez?

Houve um momento de silêncio por parte de Carlos que deixou Vip um tanto nervoso. Carlos respondeu secamente:

— Vamos nos encontrar no seu restaurante, e isso ainda vai ser hoje, às onze da noite. Quando…

— No meu restaurante, e ainda hoje? — Vip interrompeu-o ligeiramente transtornado. — Você é louco? Não posso…

— No seu restaurante ou tudo estará acabado pra você. Às onze é uma hora bem movimentada, não é? Assim tudo correrá bem, para a felicidade dos seus cliente, espero.

Vip ficou quieto. Carlos continuou:

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— Quando eu chegar lá, quero que você esteja me esperando na mesa central do salão com Nicole ao seu lado. Se eu vir algum dos seus capangas do seu lado, dou meia volta e você nunca mais me verá.

— Quero uma garantia de que você vai estar com a fita e que não existirá cópias.

— Dê-me uma garantia de que Nicole vai estar lá e que a irá me entregar ilesa.

— Dou-lhe a minha palavra — prometeu Vip, solenemente. — Apesar de saber que você não tem uma, espero que desta vez

haja uma exceção já que seu mundo está em jogo. — Você está… — Não falhe comigo de novo. Até lá — disse Carlos

apressadamente, sem esperar mais palavras ou explicações e desligou. — …me subestimando… — Vip viu que ninguém mais o ouvia do

outro lado da linha. — Droga! Carlos, você vai me pagar caro!

&&& Cinco homens estavam à frente da mesa de puro mogno onde Vip

sentava imponente. Encarou cada um deles com olhar inquiridor e perguntou sem suspense:

— O que vocês estão fazendo para encontrar Carlos e o outro homem que estava com ele?

Os capangas trocaram olhares antes de um deles responder com a voz entrecortada pelo receio:

— Temos procurado os dois, senhor, mas infelizmente não vimos tendo sucesso. Estamos continuando as buscas e sei que logo teremos uma boa notícia para lhe dar. Logo o senhor vai saber onde ele está.

— Como é o seu nome, filho? — Gilson, senhor. — Ouça aqui, Gilson, quero que você e esses quatro sumam da

minha frente. São uns incompetentes! Ele acabou de me ligar enquanto vocês estavam se divertindo em vez de fazer um trabalho decente. Da próxima vez que eu pedir para fazerem um trabalho, é melhor que façam ou não sei o que poderá acontecer a vocês.

Fez uma pausa para que aquilo ficasse gravado na mente de cada um deles. Disse finalizando:

— Vocês entenderam? — todos fizeram um sinal positivo com a cabeça. — Podem ir agora.

Quando todos saíram Vip ligou para Tito.

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— Tito, quero que resolva um problema: Sabe quem é Gilson? Pois bem, acho que ele não serve mais para a organização, entende o quero dizer? Ótimo… Confio em você.

Desligou, tendo a certeza que suas palavras continuariam tendo crédito para seus empregados depois daquela ordem.

&&&

Carlos desligou o telefone e ficou encostado ao telefone, pensando que aquela era a sua última oportunidade de ver Nicole com vida e sua última esperança para tê-la ao seu lado. Seus olhos umedeceram rapidamente ao pensar na possibilidade de viver com ela e ter uma vida comum, com um emprego comum.

Lembrou que mentira ao dizer, em outras palavras, que ele não se importava mais tanto com ela, pois ele não tinha muito o que perder já que sua vida estava um caos. Não, aquilo não era verdade. Ele a queria desesperadamente e faria de tudo para resgatá-la e recuperar seu amor, se fosse preciso.

Subitamente alguém se aproximou do telefone público onde estava. Ele deu as costas rapidamente, escondendo o rosto.

— O senhor já acabou com o telefone? — perguntou uma voz feminina. — Eu preciso usá-lo e…

— Oh! Sim, claro. Eu já estava de saída, fique à vontade. Imediatamente se esgueirou para longe dali, novamente

caminhando pelas sombras.

&&& Depois de um rápido telefonema, Melina e Tina resolveram

conversar pessoalmente. Encontraram-se na biblioteca da cidade e sentaram em um banco largo reservadas àqueles que quisessem se deliciar com uma boa leitura.

— Contei o que sabia e o que achava para o seu marido. Não sei explicar bem como reagiu, mas o que importa é que falei o que estava entalado na minha garganta. Meu marido não pode estar sendo procurado por uma coisa que não cometeu!

Tina concordou com um meneio de cabeça. — Eu sei, Melina. Tenha calma que tudo se resolverá. O que foi que

ele disse? — Não falou muita coisa. Pediu que repetisse tudo umas duas vezes

e no final disse que, se depender dele, Alan estará logo de volta para casa. O que acha?

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Bem… conhecendo Axel do jeito que conheço, não posso lhe garantir que ele acreditou plenamente em tudo o que você disse, mas… com toda a certeza ele vai até o fundo dessa história. Se no final ele constatar que tudo condiz com o que você relatou, sem dúvida alguma tomará providências a favor de Alan.

— Mas tudo o que falei é a mais pura verdade. Deus sabe que sim! Tina sorriu confortadoramente. Falou: — Sendo assim, querida, tenha confiança em Deus e na justiça, e

tudo acabará bem para você e seu marido. Melina sorriu finalmente, na esperança que aquelas palavras se

tornassem realidade.

&&& Caroline estava na redação, editando uma fita de sua mais recente

reportagem. Logo mais a matéria estaria em destaque no telejornal das oito horas.

Era começo de tarde. Ainda teria um bom tempo para deixá-la no capricho e isso a animava, pensou; ainda mais porque…

Subitamente a porta foi aberta atrás de si e ela girou sentada na cadeira. Axel e outros dois policiais estavam parados fitando-a com olhar inquiridor. Caroline se levantou e mostrou-se confusa ao perguntar com voz entrecortada:

— Axel… Algum problema? Descobriu algo mais que pode ajudar no caso de Pablo? Você sabe que pode contar comigo…

Axel interrompeu-a brandamente: — Descobri, sim, Caroline. Você está presa por ser a co-autora da

tentativa de assassinato de Pablo Tavares — Um dos policiais mostrou um mandato de prisão e caminhou até a repórter. Algemou-a a seguir.

— Espere, deve haver algum engano! Um grave engano, Axel! Como eu poderia ajudar a assassinar o homem que eu amo? Deus! Isso é um absurdo.

Entretanto o policial começava a levá-la para fora da sala de edição enquanto lia seus direitos. Ao passar pela sala de redação Caroline viu todos os olhares voltados para ela. As lágrimas começaram a descer de seus olhos e o desespero a tomar conta de si.

— Tem que me escutar, Axel. Não fui eu! Não fui eu! O policial falou: — Tudo o que disser será usado contra você no tribunal…

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Alguns minutos depois, Caroline Lima estava dentro da viatura estacionada na garagem do edifício do Canal Sete e pronta para ser levada para a cadeia.

&&&

— Como se sente? — indagou Andrey ao preocupado homem sentado ao seu lado no sofá. O olhar de Alan estava distante, perdido em algum ponto na parede. O médico insistiu na pergunta: — Alan… Como se sente? Ainda dói, ou sente náuseas?

O transe de Alan foi quebrado e seus sentidos voltaram à casa de Fábio e Vitória. Tentou sorri e falou:

— Estou me sentindo bem, apesar de ter a sensação de estar sempre cansado.

— Isso é normal. O importante agora é que você não faça qualquer esforço. Tente relaxar e descanse, pois e pior já passou.

Alan suspirou e pareceu voltar a fixar o olhar na parede. — Estava justamente pensando, Andrey, que o pior ainda não

passou, e… acho que não posso descansar ou relaxar por muito tempo, porque ainda tenho algo a fazer. Algo que ainda não sei, mas estarei esperando a voz do Senhor novamente me dizer do que se trata. Creio que agora tenho apenas que orar. — Voltou-se para o jovem médico. — Você pode orar comigo?

Andrey sorriu e assentiu com a cabeça. — Claro. Vamos orar, então.

&&& Dolorosamente, Axel escoltou Caroline — que continuava insistindo

que era inocente — até uma das celas da Central de polícia de Melmar e trancou-a atrás das grossas grades de ferro de cor escura — escura como a dor que sentia no peito por estar prendendo a mulher que há dois dias atrás pensara ser uma aliada, e há duas horas, somente, descobrira que se tratava de uma criminosa sem escrúpulos.

Pensou em alguns momentos em que Caroline se mostrara inegavelmente abalada com o que havia acontecido com Pablo. Como ela pode mentir tão descaradamente? O pior é que ele não percebera nada nela que pudesse denunciá-la e isso o chateou ainda mais.

Voltou à sala e deixou-se afundar na poltrona atrás da mesa repleta de papéis de relatórios. Aquele trabalho estava lhe custando alguns cabelos brancos, sem dúvida alguma.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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A porta se abriu chamando sua atenção. Era o corpulento capitão Afonso Sander entrando sem pedir licença, como sempre.

— Como foi, Axel? O que ela disse? O agente repousou a cabeça no encosto da poltrona antes de

responder: — Nada além de negativas. O senhor sabe melhor do que ninguém

que todos falam as mesmas coisas de sempre. — respirou profundamente. — Estou arrasado capitão… Isso é algo inconcebível! Como alguém pode seu tão hipócrita e disfarçar um caráter destes?

— Talvez ela nem disfarçou tão bem assim, meu caro. Talvez nesse jogo de tentar buscar as respostas depressa demais é que caímos na armadilha de não nos prender ao que está acontecendo próximo a nós.

Axel melancolicamente concordou balançando a cabeça. — Acho que tem razão. Sander sorriu e piscou o olho. — Eu sempre tenho. Com duas batidas na porta um oficial meteu a cabeça pela porta. — Com licença… Capitão, há um telefonema na sua sala que parece

urgente… Sem hesitar, Sander acenou para axel se despedido. Disse

finalmente: — Axel, você deu o melhor de si e isso é o que importa. — Acelerou o passo para a sua sala deixando o agente a fitar o oficial que ainda se mantinha à porta.

— Mais alguma coisa, oficial Lázaro? — Oh, sim, Axel! O rapaz do outro dia voltou novamente, e como

você tinha saído pra pegar a Caroline Lima… Ele disse que voltaria depois. Novamente insistiu que só falaria com você e com mais ninguém. Ele parecia meio nervoso.

— Como era esse rapaz, Lázaro? — Branco, com sardas no rosto, olhos profundos, na casa dos vinte

anos… Nunca o vi antes. Só sei que pareceu algo bem importante e indispensável.

Axel olhou para a sua mesa e desejou que toda aquela papelada sumisse como por encanto da sua vista e que a sua vida voltasse à rotina de antes. Retirou-se do mundo dos sonhos e dirigiu-se a Lázaro:

— Então faça o seguinte: quando esse rapaz aparecer novamente faça o favor de me localizar e eu virei falar com ele sem falta, está bem?

— Farei o possível — o oficial fechou a porta atrás de si. Axel fechou os olhos e tentou pensar em algo que mantivesse sua

mente distante dali, daquele dilacerante sentimento de angústia. Por

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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quê? O que aqueles sentimento representava num dia comum de tensão como estava acostumado a enfrentar? Seria pelo fato de terem tentado matar Pablo? Pela sua descoberta de que havia corrupção na polícia da cidade e ele estava indefeso a esse respeito; ou pelo triste acontecimento da tarde, em que prendera a repórter do Canal Sete — a então namorada de Pablo Tavares? Tantas perguntas e nenhuma resposta — mais uma vez. Será que alguma coisa podia tirá-lo daquela fossa?

Subitamente seu pager bipou. Pegou o pequeno aparelho na mão e levou-o à altura dos olhos.

COMO VOCÊ ESTÁ? ESTOU COM SAUDADES. TE ESPERO À NOITE PARA JANTAR. ME LIGA.

SANDRA. Prendeu-o de volta à cintura. Olhou para o aparelho telefônico e

trouxe para perto de si. Tomou o fone na mão e discou o número de Sandra. Começou a chamar. De repente desistiu e colocou o fone de volta ao gancho. O que estava fazendo? Perguntou-se. O que estava havendo para que nos últimos dias, ou melhor, desde o último encontro, seu interesse por Sandra tivesse diminuído tão drasticamente? No mesmo instante uma nítida imagem de Tina e Leonardo se formou em sua mente. Um aperto inesperado surgiu no fundo do peito e uma imensa necessidade de ligar para os dois se formou no seu íntimo rapidamente. Pegou o aparelho mais uma vez e levou o dedo para discar o número, mas a porta da sua sala foi inesperadamente aberta e Lázaro se postou à porta.

— Desculpe entrar sem bater, mas é que o rapaz voltou de novo. Ele realmente quer falar com você; ele não saiu daqui não faz duas horas.

Axel depositou o fone de novo sobre o aparelho e falou: —Vamos ver então o que esse rapaz tem de tão importante para

tratar comigo. Mande-o entrar, Lázaro, por favor. Lázaro concordou com um aceno de cabeça e distanciou-se mais

uma vez. A pessoa que apareceu em seguida foi um jovem alvo, alto e de sardas espalhadas pelo rosto. Lázaro, atrás dele o conduziu para dentro da sala.

— Obrigado, Lázaro — agradeceu Axel. — Pode nos deixar a sós. Após o oficial se retirar o cubículo, Axel apontou para uma cadeira. — Pode sentar, senhor… — Sagarta — emendou o jovem —, Manoel Sagarta.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Axel observou-o sentar na cadeira e permanecer imóvel, com jeito desconfiado.

— Em que posso ajudá-lo, Manoel? Disseram-me que você veio aqui outras duas vezes procurar por mim, mas eu não estava. Estou curioso para saber o porquê de tanta urgência em falar-me.

Manoel Sagarta limpou a garganta pigarreando e falou, tentando ser o mais claro possível:

— Estou aqui porque sou… era amigo de… Alberto Linhares… — Alberto? Você o conhecia de onde? O rapaz continuou lentamente: — Éramos amigos de escola, é claro que isso foi depois que ele se

livrou das drogas, e segundo ele, isso não teria sedo possível se você não tivesse entrado na vida dele.

Meio ruborizado Axel interpôs: — Bem, mas acho que isso não tem nada a ver com sua vinda aqui,

não é? — olhou nos olhos do jovem. — Ou será que tem? Manoel suspirou, visivelmente abalado ou como se suas forças

estivessem para se esvair falou: — Bem que eu queria que tivesse — disse ele —, mas infelizmente

não tem nada a ver. É algo que não sei se é seguro falar aqui… — receoso olhou para trás, na direção da porta.

— Pode falar, meu jovem — o agente tentou tranqüilizá-lo —, as pessoas hoje estão muito ocupadas por aqui e…

— Mas o que tenho para lhe entregar está diretamente ligado com algumas pessoas daqui — Manoel puxou um envelope de dentro da blusa. — Alberto me entregou este envelope e disse que, se ele não voltasse a me encontrar dentro de vinte e quatro horas, era pra eu entregar isso até você. Só a você.

Axel se levantou e deu a volta pela mesa até ficar atrás do rapaz. — E como você sabe que isso está relacionado com as pessoas

daqui. — Eu abri — disse Manoel secamente. — Sei que a curiosidade

matou o gato, mas Alberto morreu por causa disto aqui, tenho certeza. E eu queria saber o que há de tão macabro neste envelope que possa custar a vida de alguém. Agora eu sei.

Manoel estendeu o envelope na direção de Axel e este tomou em suas mãos. Sem demora abriu e passou os olhos por cada linha ali impressa. Em instantes, um embrulho começou a corroer seu estômago e um enjôo passou a lhe incomodar. Nada daquilo podia ser verdade.

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Tinha de ser uma invenção. Mas então se lembrou de que uma vida tinha sucumbido por causa daquelas linhas, daquelas verdades.

Sem agüentar mais ler o conteúdo do relatório descoberto por Alberto Linhares, Axel balbuciou súplice:

— Oh, Deus! Que o Senhor tenha misericórdia de nossas vidas!

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Capítulo 37

xel estava desnorteado. Olhou para Manoel e encontrou em seus olhos uma expressão de curiosidade. Com certeza estava esperando o

que viria a seguir. Mas o que viria a seguir? O agente se perguntou. O relatório que segurava nas mãos era algo que mudava totalmente o rumo das investigações e talvez era a grande chave para todo o quebra-cabeça que estava pronto para ser montado.

Disse a Manoel: — Bem, acho que você já fez o que devia fazer. Agora é por minha

conta. O jovem chegou mais perto e perguntou entusiasticamente: — O que o senhor vai fazer agora que tem isso nas mãos? — Tenho que pensar um pouco, mas… vou ter que agir rápido. Isto

aqui vai me um trabalho e tanto. — Só espero que tudo se resolva agora que isso está nas mãos

certas. Estava com medo que alguém descobrisse que estava comigo e que eu viesse a ter o mesmo fim que Alberto teve, que Deus o tenha.

Axel estendeu a mão para Manoel e este a tomou fortemente na sua. — Obrigado por ter me entregado isto. É muito importante isso que

você fez. Certamente salvará muitas vidas. Manoel sorriu contente. Declarou: — Era o que Alberto queria. Ele ficará feliz com isso.

A

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Mesmo se lembrando do Salmo 146:4 (Sai-lhe o espírito, e ele volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos). Axel concordou com o jovem. Manoel acenou, deu às costas e saiu cautelosamente da sala, deixando Axel sozinho novamente.

Ele sentou-se um instante e tentou pensar rápido. Fazer alguma coisa era imprescindível. Abriu a porta e caminhou até a sala de Afonso Sander. Entrou na sala do capitão e procurou-o com os olhos, mas ele não estava lá.

Axel foi até a recepção. A moça atrás do balcão olhou para ele e sorriu.

— Boa tarde, agente Brendel. — Oi, Kátia. Viu para onde foi o Capitão? — Oh, não, ele recebeu o telefonema e saiu meio apressado. Não

disse aonde ia. Só pediu para anotar os recados. Axel sorriu agradecido. — Obrigado. Voltou para sua sala, sentou e colocou a cabeça entre as mãos

suadas. Pegou novamente o relatório de Alberto Linhares nas mãos e releu-o pela décima vez. Suspirou fechando os olhos e pensou em quem confiar dali por diante, pois o conteúdo das folhas à sua frente revelava-lhe que muitos ali não eram dignos dos postos em que atuavam. Principalmente…

Capitão Sander… Pensou Axel, com uma pontada de ira no coração, não foi Caroline quem deu o telefonema para que pudessem matar Pablo e sim você. — ele empertigou-se. — Por que o capitão da central de polícia da cidade faria isso? Por que estaria envolvido com a Quadrilha Vip e, principalmente, tentaria matar Pablo Tavares?

Estudou novamente o relatório e viu um número em negrito circulado. Aquilo seria algum recado de Alberto? Levantou-se e dirigiu-se outra vez à recepção.

— Kátia, anote esse número com um círculo ao redor e descubra de onde é, está bem? Quando já souber me avise, por favor.

— Certo, pode deixar. Axel deu as costas para se distanciar, mas então se voltou para a

recepcionista novamente. — Quase ia me esquecendo… Se perguntarem o que está fazendo,

não responda; tente não deixar ninguém ver quando estiver fazendo isso; somente entregue o que descobrir para mim; e se o capitão chegar, avise-me, está bem?

Kátia concordou com a cabeça.

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Axel fitou-a por algum tempo e se afastou, perguntando-se se podia confiar nela.

&&& Carlos olhou para o relógio de pulso e contou as horas. Faltavam

cinco horas para encontrar-se com Vip e… com Nicole. A lembrança dela fez seu coração disparar. Aquilo era inevitável. Respirou fundo tentando recompor as emoções e pensou em todas as possibilidades que tinha de sair daquele encontro ileso e com ela ao seu lado. Tinha consciência de que isso era quase impossível. Podia confiar em Vip e Lucas? Podia ter certeza de que o medo de perderem seu império de crime pudesse fazê-los esquecer a fúria que sentiam por ele e deixá-los partir?

Decidiu que o melhor seria bolar um plano para cada situação adversa que pudesse surgir. Então começou a colocar a mente para funcionar.

Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou

Deus, e não há outro. Droga! Exclamou. Por que não podia esquecer tudo o que leu

naquele livro? Levou as mãos à cabeça e tentou mais uma vez distanciar o versículo da mente.

&&&

— Deus, onde Carlos pode estar nessa hora? O que ele está fazendo? — quis saber Alan, esperando uma resposta do alto.

Fábio, Vitória e Joás estavam a olhá-lo, sem nenhuma resposta para dar. A mulher se sentou ao seu lado e pegou-lhe a mão.

— Alan, não se preocupe com ele. Se Deus tem algo para sua vida certamente o protegerá — disse ela.

— As coisas não funcionam assim, Vitória — replicou Alan. — Já falei da Palavra para ele. Se ele não se convencer de que nada pode sem Deus ao seu lado, talvez venha acontecer algo de ruim a ele, e então o Senhor nada poderá fazer, pois ele já sabe a verdade e mesmo assim não se rende a Ela. Se… pelo menos eu pudesse saber onde ele estava poderia ir ao seu encontro e falar mais sobre o amor de Deus…

— Você já fez tudo o que estava ao seu alcance, Alan — tranqüilizou-o Fábio —, e além do mais, o que poderia fazer no estado em que se encontra?

Uma lágrima rolou dos olhos de Alan enquanto falou:

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— Não sei, meu irmão, mas pelo menos eu estaria fazendo o que o Senhor me mandou: Estar ao lado de Carlos e falar-lhe sobre aquele que pode todas as coisas: Jesus Cristo.

Andrey se agachou à frente do velho amigo e falou com voz suave: — O que resta pra você fazer agora é apenas esperar o que Deus irá

fazer, amigo. Tente compreender que o seu tempo já acabou e que o tempo agora é o de Deus.

Alan abanou a cabeça de um lado para o outro, como se não concordasse com o que o jovem médico acabara de falar.

— Não sei, Andrey, mas ainda acho que o Senhor está me reservando uma última coisa. Não sei exatamente o que é, mas sei que Ele há de me dizer.

&&&

Os olhos de Caroline denunciavam o seu cansaço e desespero. Como podiam acusá-la de tramar a morte do homem a quem amava? Aquilo era impossível! Lágrimas correram novamente pelo seu rosto. Ela fechou os olhos e os limpou. Ao abri-los enxergou Axel à sua frente.

— Como você está? — perguntou ele. — Como acha que estou, trancada aqui por uma coisa que jamais

faria? — As provas caíram sobre você; te incriminam, sem sombra de

dúvida… — Mas eu nunca faria mal a ninguém, Axel, principalmente ao

Pablo… Meu Deus! Como eu poderia querer matar o homem com quem, quero casar e ter filhos!

Axel se interpôs: — Caroline, escute… — Não, Axel! Eu nunca mataria Pablo Tavares, será que ninguém

entende isso!!! — Eu entendo, Carol! — falou ele em voz alta. — Foi para isso que

vim aqui. Tenho uma prova que a inocenta e que incrimina o verdadeiro responsável: o capitão Afonso Sander.

Os olhos da repórter arregalaram ao receber a confidência. — Não acredito… O capitão?! Axel apenas meneou com a cabeça e fez um gesto com a mão para

que ela falasse baixo. — Então agora eu posso sair daqui — comemorou Caroline. — Não é tão fácil assim. Primeiro tenho que levar as provas até

meus superiores e então expedirão um mandado de sua soltura — ele

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esticou a mão para ela, que tomou-a nas suas. Ele falou: — Tenha fé em Deus e tudo se resolverá. Enquanto isso deve manter isso em segredo.

— Tudo bem, pode confiar em mim. Axel… como está Pablo? Axel sorri confortadoramente. — Não se preocupe, ele tem a proteção de um esquadrão inteiro

vinte e quatro horas por dia, agora. Dessa vez a quadrilha se deu mal. Você ficará bem?

— Vou ficar… Por Pablo Tavares.

&&& Vip estava diante de Lucas e demais empregados. Seus olhos

faiscavam de ira e seu semblante transpirava crueldade. De pé, ele apreciava pelo vidro fumê do quarto andar do Quaid’s a movimentação da rua lá embaixo.

— Foi o fim da picada o que Carlos propôs — comentou Lucas. — Você não pode encontrá-lo no meio do restaurante, isso seria loucura! Já pensou se…

Vip levantou a mão e Lucas cessou a fala instantaneamente. — Que outra alternativa eu tenho? — perguntou o cabeça da

quadrilha, fitando-o. Ele mesmo respondeu: — Nenhuma. Tenho que me arriscar. O que não pode acontecer é aquela fita parar na mão da polícia, ou melhor, daqueles que não estão conosco.

— Por falar nisso, já contatei Afonso Sander — informou Lucas, prontamente —, falei-lhe sobre o encontro de logo mais. Ele falou que iria tomar algumas providências e na hora marcada estará presente, e logo que Carlos lhe entregar a fita ele entrará em cena e dará um jeito nele.

— Um jeito definitivo, eu espero. Depois desta, não vou querer nem ouvir falar mais o nome Carlos pelo resto da vida.

Vip mirou outra vez para a rua lá embaixo. Houve uma leve batida na porta e abriram-na. Tito entrou conduzindo Nicole pelo braço e largou-a diante do poderoso traficante. Ele tirou os olhos da janela e pôs sobre ela. Estudou-a dos pés à cabeça.

— Agora entendo porquê Carlos é tão louco por você. Sem dúvida é muito bonita.

— Quem é você? O querem comigo, agora? — Não importa quem realmente sou, mas… é importante saber que

sou seu anfitrião. E o que queremos, é somente lhe dizer que esta noite você verá Carlos e sairá com ele daqui.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Não acredito que nos deixará sair realmente daqui. — Acredite. Ele tem algo de fundamental importância para minha

vida e eu tenho algo de fundamental importância para a vida dele — ele sorriu sarcasticamente. — É… é isso mesmo. Você é tudo o que ele quer na vida. Isso é que é amor.

— O que você entende de amor, para falar de tal sentimento? — Não entendo de amor sentimental, mas entendo muito do amor

ao poder! E isso é tudo para mim. É isso o que realmente importa, é isso o que faz o meu coração disparar e me faz viver dia após dia.

— Você é louco. Você e esses seus amigos que só sabem fazer o mal para as pessoas.

Tito se adiantava para castigá-la pelo que falara, mas Vip ergueu a mão novamente e o fez permanecer onde estava. Falou:

— Talvez tenha razão, talvez eu seja louco. Mas este louco aqui está com a sua vida nas mãos. Fique contente por não matá-la agora mesmo, graças ao seu querido Carlos.

Ele começou a andar de um lado para o outro do grande recinto e todos o seguiam com o olhar. Ele parou subitamente e apontou para Nicole.

— Escute-me, agora. Daqui a algumas horas vamos nos encontrar com Carlos e quero que você se comporte. Se fizer isso poderá sair com ele daqui, mas até lá fique de bico calado ou eu posso perder a paciência.

— Farei tudo o que mandar, contanto que me deixe sair desse maldito lugar — disse ela num tom súplice.

— Vocês sairão. Prometo que sairão. Mas mortos, completou Vip em pensamento.

&&& Axel chegou em casa e procurou imediatamente por Tina.

Encontrou-a no quarto dobrando algumas roupas sobre a cama. Abraçou-a de maneira que a deixou surpresa. Olhou-a nos olhos e falou compassadamente:

— Oh, Tina, meu mundo está tão conturbado ultimamente… Preciso que me escute um pouco e… —ele suspirou. — Vou contar-lhe o que aconteceu hoje na central.

Os dois se sentaram sobre a cama e Axel relatou tudo o que se havia passado em sua sala. A conversa com Manoel, o relatório e todas as provas que incriminavam o capitão Sander.

— Oh, meu Deus, isso é pior do que eu pensei! — exclamou Tina.

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Axel meneou a cabeça, concordando. Apontou o dedo indicador para cima quando afirmou:

— E ainda tem mais, querida. Veio-me um pensamento há instantes atrás e que agora me parece tão óbvio e que antes não encontrava lógica, ou melhor, não queria encontrar a lógica — olhou dentro dos olhos da esposa. — O pensamento é de que o policial Oliver também é corrupto e faz parte da Quadrilha Vip, e que ele e Selton queriam realmente matar os suspeitos quando seguiram para a rodovia 3 ao invés de seguir direto para a Central de Polícia.

Isso fez com que Tina lembrasse de Melina. — Você pensou na mulher do homem que é um dos fugitivos,

Melina Xavier? Isso que acabou de descobrir talvez tenha alguma coisa a ver com o que ela lhe relatou, não?

— Sim, ela me fez pensar em queima de arquivo. E o que ela me falou. Falou para eu pensar no que realmente Oliver e Selton estavam tentando fazer quando desviaram da rota da Central e me disse que ali tinha coisa errada. Ela estava certa.

— Talvez ela esteja certa quando fala do marido também, não acha, querido? Já pensou nisso?

— Mas se ele é inocente, Tina, por que queriam matá-lo também? E por que não nos contatou para dar-nos a sua versão da história e nos ajudar na solução deste caso?

— Não sei, querido, mas acho que ele pode estar empenhado em fazer aquilo que Deus lhe ordenou.

Axel levou as mãos ao rosto e esfregou os olhos. Estava cansado demais para pensar em muita coisa. Porém, mais um pensamento tomou-lhe a mente: O recado de Sandra. Tina estava falando algo:

— O que vai fazer agora, Axel? — Agora? — Sim. — Queria que orasse por mim. — Orasse por você? Mas… — Não posso fazer isso sozinho. Acho que no momento não tenho

forças. Sinto que algo muito grande vai acontecer logo mais, e… me sinto fraco e indefeso…

— Não precisa dizer mais nada, querido, vamos orar nesse momento.

E eles oraram.

&&&

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Estacionou o carro perto do hospital NR e caminhou até ficar de frente à fachada. Oliver observou o perímetro de um lado ao outro. Notou que policiais estavam de guarda em cada local em que ele olhasse. Iria ser muito arriscado matar Pablo, mas ele teria que dar um jeito; e o jeito ele daria naquela noite.

&&&

Após a oração de Tina, Axel sentiu-se melhor, ainda que se sentisse sujo e maltrapilho. Ao tentar dormir um pouco recebeu um chamado de Kátia pelo seu pager. Um minuto depois ele estava ligando para ela.

— Alô, Kátia, você me bipou? — Sim, Axel, é que eu queria que soubesse que já descobri de onde

é o número que me deu. — Sim, e de onde é? — É do restaurante típico chinês, Quaid’s.

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Capítulo 38

relógio estava marcando dez e meia da noite na parede da sala. Joás olhou para os ponteiros e perguntou aos amigos sentados no sofá: — Alan já está a um bom tempo trancado no quarto. Depois do que

ele falou, sobre o Senhor estar lhe reservando uma última coisa, ele pôs-se a orar até agora.

— Quem sabe ele esteja certo — especulou Fábio. — Você acha mesmo? — quis saber Vitória. — Claro! — Fábio ergueu-se do sofá e passou a caminhar pela sala.

— Vocês sabem muito bem da intimidade dele com Deus. Se ele sente que o Senhor ainda lhe reserva uma ordem para cumprir, o deve fazer é buscar respostas, e é exatamente isso o que ele está fazendo lá no quarto.

— E por quanto tempo acha que ele pode ficar lá dentro? — Vitória perguntou novamente.

— Não podemos saber — comentou Andrey —, mas provavelmente só sairá de lá quando souber do que se trata.

De repente a porta do quarto se abriu e Alan apareceu. Fábio correu para ajudá-lo a caminhar até o sofá. Sentaram juntos.

— Quero que me levem a um lugar — pediu Alan. — Levá-lo a um lugar? — assustou-se Andrey. — No estado em que

ainda se encontra? — Não interessa como estou. Sei que o Senhor me sustentará aonde

quer que eu vá. — E onde quer que o levemos? — indagou Joás.

O

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Ele olhou para cada um antes de responder: — Ao hospital Norton Ramos.

&&& Passou rapidamente pela entrada e caminhou direto à recepção

onde Kátia já o aguardava. — Tem certeza de que se trata do Restaurante Quaid’s? —

perguntou Axel. — Tenho, sim. O número não se encontrava na lista, então contatei

um amigo na Melmartel. Ele localizou de onde era, mas ele falou algo estranho: falou que esse número deveria estar desativado, pois não constava chamada alguma há mais de um ano.

Axel se lembrou do dia em que esteve na empresa com Alberto Linhares e não conseguiram encontrar o número discado da casa de Edson Kruller. Concluiu:

— Não consta nenhuma chamada porque alguém está manipulando esse número; certamente está apagando as chamadas dadas e recebidas. Mas pelo menos agora sabemos a fonte, graças a Deus e ao Alberto. Se ele não tivesse descoberto isso jamais saberíamos para onde os dois fugitivos tinham telefonado.

— O que você quer que eu faça agora? O agente pensou por um momento. — Reúna alguns policiais e diga que iremos fazer uma diligência,

mas não fale que é nesse restaurante, está bem? Tenho que fazer uma coisa agora, mas logo irei retornar.

&&&

Axel discou o número de Sandra Evans de sua sala e esperou que ela atendesse. Logo uma voz feminina fez ouvir:

— Alô? — Oi, Sandra… é Axel quem está falando. Eu liguei pra dizer que…

que não poderemos nos encontrar hoje… Eu… — Axel, você está bem? — Como? — Você está bem? — insistiu ela. — Desde a última vez em que nos

vimos notei que você estava estranho. Principalmente na hora em que nos despedimos.

Ele pigarreou querendo ter a certeza de que sua voz não sairia fraca. — Estou bem, não se preocupe — tranqüilizou ele. — Então, quando poderá me ver novamente?

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— No momento não posso lhe dizer isso com certeza, mas assim que eu puder irei vê-la.

A voz dela se transformou num timbre sensual. — Você promete isso? Ele hesitou por um momento ante de dizer: — Prometo. Desligou e devolveu o fone no aparelho telefônico. Pensou se

realmente queria ver Sandra Evans e perguntou-se por que sentia que ela já não era tão especial para ele. Foi então que se lembrou da oração de Tina. Suas palavras fluíram fazendo-o ficar mais tranqüilo e amparado por Deus, ainda que se sentisse o mais impuro dos homens. Tina era uma mulher especial; uma mulher de Deus.

Como pude traí-la, meu Deus, Como? Questionou-se por fim.

&&& Oliver se aproximou da entrada principal do hospital Norton

Ramos. Estava acompanhado de outro policial uniformizado e se aproximaram dos tiras que estavam de apostos, de plantão. Oliver e o outro homem apresentaram seus distintivos, mas os homens já os conheciam.

— Ei, Oliver, já de volta à ativa? Sentimos muito por Selton, sabemos o quanto vocês eram amigos.

— Obrigado — o veterano policial falou rápido e com expressão séria.

— O que fazem por aqui? Não me diga que já os colocaram num turno?

Oliver agradeceu mentalmente o policial pela ajuda, aquela era uma boa desculpa para se aproximar de Pablo.

— Isso mesmo — sorriu despistando. — Justo numa noite bonita como estas, maravilhosa pra se curtir com a família, me colocam de guarda num hospital, não é mesmo? — Perguntou para o parceiro que o acompanhava. Este apenas balançou a cabeça concordando.

Um dos homens de guarda ressaltou: — Mas pelo menos estamos preservando a vida de um bom policial

e também um bom amigo. — É, sim — disse apenas Oliver. Mas, assim como Selton, terá que

morrer, articulou caminhando junto ao outro tira na direção do elevador.

&&&

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Joás e sua esposa, Sônia, ficaram em casa orando por Alan. Ele havia saído com os demais jovens para o hospital Norton Ramos há momentos atrás. Falara para um deles ficar e continuar orando por eles, fazendo uma cobertura espiritual, para que o Senhor movesse Sua poderosa mão e removesse todo empecilho. Joás se candidatou e sua esposa ficou ao seu lado.

O casal orava: — Senhor, não sei o que Alan foi fazer naquele lugar, mas estende

Tuas asas e o proteja junto com os demais…

&&& O carro de Andrey parou em frente ao movimentado hospital e

todos espiaram ao redor. — Têm policiais na entrada e com certeza deve haver muito mais lá

dentro — comentou o médico. — É um risco muito grande pararmos aqui, Alan.

Alan estava no banco de trás. Tentava ser forte para se movimentar, mesmo sentido alguma dor que vinha atormentá-lo uma vez por outra. Ao seu lado estava Vitória com o olhar fixo nele, tentando fazer com que se sentisse um pouco melhor. Fábio, ao lado de Andrey no banco da frente voltou-se para trás e fitou Alan.

— O que viemos fazer aqui, Alan? O que quer que a gente faça, agora?

— Não sei o que vocês têm que fazer, mas sei o que eu tenho que fazer: tenho que entrar no hospital e encontrar o agente Pablo Tavares…

O susto foi geral e todos expressaram no rosto a confusão que representou aquelas palavras.

— Do que você está falando? — os três jovens falaram simultaneamente.

— Tenho que ir até ele e orar. Orar por ele, pela sua vida; para que Deus o restaure e o desperte. Quando eu fizer isso, minha hora estará finda e então o Senhor agirá.

— Mas como entraremos lá dentro? — Andrey quis saber. — Fábio e Vitória serão as chaves para que eu possa passar. O casal tocou um olhar sem saber o que viria a seguir.

&&& Caroline estava sentada na cama da cela, com o rosto entre as mãos.

Pensava em Afonso Sander e em como o mataria de milhares de formas

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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diferentes se o encontrasse pela frente. Estava angustiada e ao mesmo tempo exausta por estar ali naquela jaula humana.

Ergueu-se e caminhou até as grades. Olhou para o corredor, mas não viu ninguém. Perguntou-se o que poderia estar acontecendo lá fora enquanto ela estava presa ali. Perguntou-se por que aquilo estava acontecendo com ela, justamente com ela. Perguntou-se por que o capitão Sander acusara-a de ser cúmplice na tentativa de assassinato de Pablo.

Claro… pensou, desta forma encobriria o seu rastro. Subitamente, como num estralo, surgiu em sua mente a especulação

de que Pablo estaria em grande perigo, já que até mesmo o próprio capitão da polícia de Melmar queria-o morto.

Ela gritou: — Oh, Deus, proteja o meu Pablo!!!

&&& Alguns homens do destacamento da central de polícia estavam

diante de Axel prontos para receberem dele uma explicação para uma convocação tão urgente. Alguns ele conhecia; outros nunca tinha tido intimidade nenhuma. Fitou cada um antes de pronunciar:

— Bem… convoquei-os aqui porque tenho algumas coisas para dizer, ou melhor… revelar… — Hesitou por alguns instantes e pensou: Quem dentre aqueles à sua frente poderia estar fazendo “jogo duplo?” Em quem poderia confiar?

Kátia, repentinamente, chamou a atenção de Axel. — Agente Brendel, acabaram de me informar algo estranhíssimo… Axel puxou-a pelo braço e fez um gesto para que os homens lhe

dessem um minuto. Tomava o cuidado para que ela não falasse na frente de todos. Levou-a para sua sala.

— Que coisa estranhíssima é essa? — indagou Axel, curioso. — Dois policiais, Cícero e Diego, acabaram de me informar que

encontraram o corpo de José Nogueira. — José Nogueira? — Axel parecia confuso e cético. — Isso mesmo. — Não pode ser! Ele não é o irmão morto de Antônio Gonzaga?…

Pelo que eu sei ele também foi carbonizado pela quadrilha Vip há meses atrás…

— Exatamente — disse Kátia. — É por isso que disse que era muito estranho.

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Axel não sabia mais o que pensar. A confusão agora em sua mente não dava para se medir ou descrever.

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Capítulo 39

lan pediu o celular de Andrey e pôs-se a ligar o número de sua casa. Seu coração começou a bater descompassado, parecendo que logo

sairia pela boca. Os olhares curiosos e apreensivos dos jovens dentro do carro

estavam sobre ele. Alan apenas levantou o sobrolho e disse: — Essa é uma boa hora para matar as saudades… e além do mais

irei precisar dela para o que farei a seguir. Esperou que atendessem e ao quarto toque uma delicada voz de

menina pode ser ouvida: — Alô, quem fala? — Jéssica parecia rir enquanto falava. Alan deixou que um suspiro escapasse de dentro de si e

emocionado se esforçou para que a fala saísse. — Oi, meu amorzinho, é o papai… — Papaaaiiii!!! — a voz da pequena menina pareceu alterada pelo

contentamento. De ouvir o pai. — Querida Tudo bem? — Sim! Sim! — Meu amor, chame a mamãe pra mim, está bem? E… ouça bem:

eu te amo.

&&&

A

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Melina quase não acreditou quando Jéssica disse que Alan estava ao telefone querendo falar-lhe. Ela correu como nunca tinha antes corrido na vida até a sala e pegou o fone com tanta rapidez que se impressionou consigo mesma.

— Alan? É você mesmo? — Sim, amor. — Oh! Graças a Deus!! — As lágrimas foram fluindo naturalmente

dos olhos de Melina. A emoção e gratidão ao Senhor era algo que não cabia dentro de si. A voz de Alan era música para seus ouvidos. — Como você está, Alan? Meu Deus, como orei por você todos esses dias… Tudo o que tem saído nos noticiários tem me deixado maluca…

— Escute, minha flor, estou muito bem. O Senhor está comigo e é isso que importa. Mas eu queria estar do seu lado agora.

— Oh, meu querido… Como eu gostaria de tê-lo aqui do meu lado também…

Houve alguns segundo de silêncio e Alan pode ouvir um pequeno soluçar de Melina. Ele conteve uma lágrima fechando apertado os olhos.

— Melina, preciso fazer uma última coisa e quero que me ajude. Aquilo pegou-a de surpresa. — Ajudá-lo? Como? Que coisa é essa? — Pode-se dizer que é a última parte da minha missão e… quero

que me ajude orando por mim e por Carlos, Melina. Pode fazer isso por mim?

Ela enxugou as lágrimas do rosto. — Claro que sim, meu querido. — Obrigado, minha flor. Também quero que ligue para o pastor

Nilton Cross e para nossos irmãos na igreja. Preciso da oração de todos eles, entendeu?

— Sim… Alan? — Sim? — Você vai voltar para casa, não vai? — Creio que sim, minha flor, se for isso o que o Senhor realmente

quiser. Tudo vai se esclarecer. — Estamos esperando por você. — Tenho que desligar agora, certo? Não se esqueça do que lhe pedi.

Ore por mim. A ligação foi encerrada e Melina deixou a pequena Jéssica

brincando na sala enquanto se encaminhou ao quarto onde dobrou os joelhos e orou.

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&&& Desligou o celular e o devolveu para Andrey. Respirou

dolorosamente e olhou novamente para o casal Fábio e Vitória. Alertou: — Que Deus esteja conosco daqui para frente como tem sido até

agora, porque até aqui tem nos ajudado o Senhor. Podem ir, vocês já sabem o que devem fazer.

Fábio e Vitória saíram do carro e após alguns instantes Alan seguiu o mesmo caminho.

&&&

A reunião com os homens na central foi adiada por mais algumas horas. Axel pediu que todos os policiais permanecessem ali por mais algum tempo até que ele retornasse do local onde haviam encontrado o corpo de José Nogueira. A murmuração foi geral, mas depois que caíram em si que se tratava de um homem que já havia sido considerado morto, todos queriam saber mais a respeito. Por fim acabaram aceitando ficar a espera de Axel.

O caminho até o local do corpo fora percorrido por Levi. A chegarem lá, já havia algumas pessoas, incluindo repórteres. Axel se lembrou de Caroline trancafiada na central. Levi interrompeu suas lembranças.

— As pessoas aqui da redondeza o conheciam e encontraram o corpo. — comentou Levi. — Dizem que foi dívida.

— Mas como dívida, Levi?! O homem estava morto até… até agora. — Acho que voltou a morrer. — Isso está ficando cada vez melhor — resmungou Axel. — Você acha mesmo? Mas melhor para quem? Porque eu não estou

conseguindo entender mais nada. Uma quadrilha é investigada; os investigadores são atraídos para uma emboscada; os dois morrem; dois suspeitos são pegos no local do crime; são levados para um lugar que não era pra serem levados; conseguem escapar; um dos policiais que os levava morre; um dos investigadores que foi declarado assassinado na verdade está vivo, e novamente queriam matá-lo; agora encontramos outro policial que foi morto pela quadrilha morrendo outra vez. Sem falar nas coisas estranhas que aconteceram como aquele mar sangue sem corpos lá na rua Clintel com a Treze. Bem, até aqui está tudo muito confuso, pelo menos para mim!

— É. É um pouco confuso, sim. — Um pouco? Cara, olhe ao seu redor! Em se tratando dessa

maldita quadrilha nada faz sentido.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Acho que tudo isso é um quebra-cabeça que ainda está faltando peças para ser totalmente montado; poucas peças, creio eu — falou Axel.

Levi olhou por um bom momento o corpo de José Nogueira com quatro tiros no peito e então indagou:

— Acha que pode haver duas pessoas muito… digamos assim… idênticas?

— Por que a pergunta? — Axel quis saber. — Para que o legista venha a dizer que uma pessoa é outra, as duas

têm que ser muito parecidas, não é? — Sim, mas nesse caso ele foi… tinha sido carbonizado. Apenas

poderia fazer o reconhecimento pela arcada dentária. — Exatamente. E uma arcada pode ser idêntica à outra? A pergunta ficou no ar por instantes. Entretanto os dois já sabiam

que a resposta era negativa. — Quem foi o legista que fez esse reconhecimento? — indagou

Axel. — Antônio Ângelo. Como um flash em sua mente, Axel se lembrou do policial Antônio

Gonzaga — irmão de José Nogueira — e o legista conversando no local em que foi encontrado o corpo de Caio.

E foi com o pensamento a vagar que ele achou uma peça fundamental para a montagem daquele jogo. Concluiu:

— Não sei, não, mas algo me diz que esse Ângelo e Antônio Gonzaga, irmão do José Nogueira, estão escondendo alguma coisa importante.

&&&

Vip estava à espera de Carlos no lugar especificado por ele: no meio do seu próprio restaurante, próximo a muitas pessoas que seguramente o reconheceriam se não estivesse disfarçado. Nicole estava ao seu lado, nervosa, apreensiva, quase num colapso. Porém, ela se comportava bem mesmo com uma arma apontada em sua direção por debaixo da mesa.

Ele segurava a arma dentro do bolso do seu casaco preto, mas ainda assim se sentia vulnerável onde se encontrava, como nunca havia se sentido antes. Mas Carlos pagaria caro por aquela insolência. No seu pensamento podia ver o futuro: o corpo de Carlos explodindo numa enorme mancha rubra e a morte vindo encontrá-lo.

Vip conteve o sorriso sórdido e malévolo. Olhou para o relógio na parede. Carlos não iria demorar.

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&&& O casal chegou à entrada principal cambaleando. Fábio sustentava

seu peso em Vitória. Uma mão estava sobre o ombro dela e a outra apertando o peito esquerdo. Aparentava estar agonizando. Ela dava a entender que estava nervosa e aturdida. Ela gritou na direção dos dois policiais de guarda na entrada:

— Ajudem-nos, por favor, meu marido sofre do coração e está tendo um infarto! Ajude-nos!

Num lance teatral, vitória fez parecer que já não agüentava o peso do marido e o largou no chão. Os policiais não se contiveram e correram para ajuda-los. Quando os homens se agacharam para pegar Fábio nos braços, Alan passou sorrateiramente pelas largas portas da entrada principal onde segundos atrás os policiais estavam.

Já dentro do estabelecimento, pôde ver alguns policiais andando pelos corredores e outros ao lado do elevador um deles olhou-o por um momento. Alan baixou a cabeça e pediu para que o Senhor tirasse a visão de todos os que o perseguiam e sem empecilho ou barreiras subiu lentamente pela escadaria.

&&&

Oliver marchou pelo corredor até ficar diante de mais dois homens uniformizados que estavam de guarda à porta do quanto em se encontrava Pablo. Ele olhou para os nomes nos distintivos: Osmar Cunha e Everton Passos. Disse:

— O Capitão Sander me deu ordens para que substituísse você e, pela cara de vocês precisam descansar mesmo. Há quanto tempo estão aqui?

— Quase doze horas — disse um deles. O outro indagou: — Precisam ser dois homens para ficar aqui. Cadê o outro? — Estava meio apertado e teve que ir ao banheiro. Ele já está a

caminho, podem ir tranqüilos. Osmar e Everton trocaram um olhar. Ninguém havia informado

nada a eles sobre uma mudança de turno, mas estavam ali há muito tempo e com um único lanche no estômago. Por fim eles sorriram. Enfim, era um descanso.

— Valeu, Oliver, esse descanso veio bem na hora — agradeceram eles se distanciando com satisfação nos lábios por existirem homens tão bons quando Oliver no distrito.

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Oliver sorria para eles, mas ao dobrarem o corredor e pegarem o elevador, o que era sorriso tornou-se uma seriedade sombria. Ele respirou fundo, preparando-se para o que iria fazer.

&&&

As passadas pela escadaria eram curtas e contidas. O Espírito impulsionava Alan ao andar onde Pablo estava em coma. O ferimento doía, mas tinha que continuar e finalizar a missão. Orava ao Senhor sem cessar para que não houvesse nenhum policial à espreita pelas escadas e até agora estava indo bem. Mais alguns degraus e chegou ao andar correto. É Aqui! Viu quando a porta do elevador se fechou e dois homens em traje policial desapareceram lá dentro. Sentiu-se mais aliviado. Prendeu um pouco a respiração e caminhou pelo corredor sendo guiado para mais adiante. O silêncio era um tanto assustador.

Repentinamente ouviu uma voz familiar balbuciar de dentro de um dos quartos à frente:

— Droga, Pablo! Não queria fazer isso com você, mas não tenho alternativa. Por que você não deixou essa quadrilha de mão enquanto podia? Quem sabe não viveria uma vida feliz com Caroline… teria filhos…

Alan se aproximou e se colocou à entrada do quarto. Viu que a voz era da mesma pessoa que tentara lhe matar junto com Carlos. Ele estremeceu por dentro. Oliver continuou sem notar a presença de Alan:

— Chegou a sua hora, Pablo…— o corpulento policial se precipitou para frente e alcançou o aparelho que fazia o bombeamento de oxigênio para levar o ar até os pulmões de Pablo.

Alan olhou ao redor rapidamente e enxergou uma cadeira ao seu alcance. Calculou que não seria tão pesada para erguê-la e acertar Oliver com ela. Andou lentamente até suas mãos tocarem o acento e ergueu-o. Entretanto, antes que pudesse se mover mais à frente, uma pistola automática foi encostada na sua nuca e então engatilhada.

O barulho chamou a atenção de Oliver, que assustado virou-se rapidamente. Seus olhos se arregalaram ainda mais quando reconheceu o homem com a cadeira erguida na mão.

— Você! Antônio Gonzaga empurrou Alan para frente fazendo-o soltar a

cadeira e disse com ele ainda sob a mira de sua arma: — Você o conhece? Eu o vi quando subiu pela escada e o segui até

aqui.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— O que você veio fazer aqui? O que quer? — perguntou Oliver de maneira ameaçadora a Alan.

Alan declarou sem titubear: — Vim trazer algumas notícias para você: hoje mesmo você verá

que Deus existe, assim como também a justiça divina. Nada do que você fez, faz, ou venha a fazer está oculto dos olhos de Deus, por isso é bom ter cuidado…

Oliver o interrompeu rudemente quando puxou o revolver o coldre em sua cintura e disse:

— Cuidado com o quê, palhaço? Com que direito você entra aqui, sendo procurado pela polícia inteira, e me ameaça desse jeito? — Alan notou que a mão de Oliver parecia tremer um pouco. O veterano tira esbravejou: — E quer saber? Não vou provar droga justiça divina nenhuma; você é que vai provar do chumbo da minha arma. Que tal?

— Vai atirar? Vai atrair a atenção de todos? — discutiu. — Assim não cumprirá as ordens que lhe deram.

Oliver engatilhou o revólver e sentenciou: — Creio que as ordens podem esperar. O importante é que vou

eliminar um dos assassinos de Caio e Pablo. Todos irão me congratular por isso.

Passos apressados romperam pelo corredor e pararam à porta do quarto. Osmar e Everton estavam de volta, ofegantes, e também com as armas em punho.

— O que está acontecendo aqui, Oliver? — perguntou o policial Everton Passos. — Duas pessoas lá fora tentaram enganar o pessoal de guarda e achamos que talvez vocês viessem a ter problemas por aqui.

— Estávamos com razão, pelo que vemos — deduziu Osmar. Oliver engoliu a seco e trocou um olhar com Antônio Gonzaga.

Estava irado e novamente fora do controle da situação. Fôra duplamente impedido de perpetrar seus objetivos: matar Pablo e àquele homem misterioso que teimava em olhá-lo fixo e friamente nos olhos. Tentando esvair toda aquela tensão ódio, caminhou até Alan e desferiu-lhe uma coronhada no maxilar, fazendo com que o homem beijasse o chão com mais essa dor.

— O que você pensa que está fazendo, Oliver? — perguntou Osmar Cunha.

Oliver fitou-o nos olhos. — Não o reconhece? Este é um dos caras que acabou com Caio e

tentou matar Pablo. Acho que ele veio concluir o serviço.

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Os dois policiais mais moços olharam assustados para Alan que cuspia sangue no chão do quarto.

&&&

— Senhor, não sei o que está preparado para a vida de Alan ou de Carlos, mas somente te peço, meu Deus: não deixe que eu venha a perder o meu marido, por favor! Proteja-o, cubra-o com o Teu sangue, salve-o de qualquer cilada do inimigo…

Melina se encontrava ajoelhada, orando com todo o fervor. Sabia que algo estava preste a acontecer. Talvez perigoso, pois, para Alan pedir que orasse por ele e ligasse para o pastor e outros membros da igreja para que fizessem o mesmo, é um sinal de que ele deve estar enfrentando algo ameaçador. Sua oração continuava junto com as dos demais membros espalhados pela cidade. Era uma grande cobertura espiritual.

&&&

Axel rompeu pelas portas da central de polícia e perguntou imediatamente por Afonso Sander. A resposta que lhe deram foi a de que ele ainda não voltara. Observou que todos os policiais que ele mandara permanecer ainda se encontravam à sua espera. Antes que dissesse qualquer coisa a eles Kátia dirigiu-lhe a palavra:

— Axel, acabaram de passar uma mensagem pelo rádio do Norton Ramos. Disseram que capturaram um dos fugitivos. Ele penetrou no hospital e tentou assassinar Pablo.

Todos os policiais presentes balbuciaram preenchendo o lugar de som. Axel perguntou:

— Ainda estão na linha? — Sim. O agente pegou o rádio das mãos dela e o colocou junto à boca. — Atento quem falou do NR, ainda está na escuta? — Sim estamos na escuta. — Quem modula, por favor? — Policial Osmar Cunha, senhor. — Policial Cunha, como vai? Acabaram de me informar que

capturaram um dos fugitivos… Já sabem sua identidade? O policial do outro lado da linha hesitou até que tivesse um

relatório em suas mãos. — O nome é Alan Xavier — respondeu Osmar Cunha.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Subitamente, a conversa com Tina e principalmente as revelações de Melina se passaram como um filme na mente de Axel. Lembrou:

…meu marido poderia fazer qualquer coisa para prejudicar alguém,

entende?… Não sei o que houve, Sr. Brendel, mas se Alan está metido nisso é porque ele quer resgatar esse tal Carlos…

Ele respirou profundamente e proferiu: — Muito bem, Policial Cunha, como foi que o capturaram? Ele

reagiu ou coisa parecida, sob que circunstâncias ele foi pego? — Não sei dizer exatamente, Axel, quando eu, o policial Passos e outros

homens da guarda percebemos que havia algo errado nos encaminhamos ao quarto de Pablo onde Oliver e Antônio Gonzaga estavam de guarda e eles já o haviam rendido…

Axel sentiu uma pontada no coração ao ouvir os dois nomes. — O que foi que você disse? Eu ouvi Oliver e Antônio Gonzaga? — Exatamente. Por quê? Axel não pensou muito ao ordenar: — Eu quero que prendam não somente Alan Xavier, mas também a

Oliver e Antônio Gonzaga. — A Oliver e Antônio Gonzaga? Sob que acusação? — Lhe direi quando chegar aí, mas até você me ver não tire os olhos

dos três. — Entendido, Senhor. Sob o olhar de todos no recinto Axel devolveu o rádio à Kátia e

apontou para alguns policiais que mandara aguardar e disse: — Sigam-me. — Para onde vamos, Axel?— quis saber um deles. — Apenas sigam-me. Vamos entrar em ação — falou ele sem dar

mais explicações.

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Capítulo 40

e onde estava pôde observar do outro lado das janelas de vidro do restaurante Quaid’s cada movimento das pessoas lá dentro. Tudo

parecia normal, como havia combinado com Vip. Seus olhos avistaram Nicole ao lado do poderoso traficante numa mesa central do restaurante. Seu coração disparou. Afinal, dali em diante era tudo ou nada.

Levou a mão à arma e destravou-a sem tirá-la da cintura. A hora chegara. Seus passos começaram a conduzi-lo na direção da entrada do recinto. Sua respiração estava desritmada e os pensamentos meio que em desordem. Tinha que se concentrar e tirar Nicole das mãos de Vip de qualquer forma.

&&&

— Senhor, a vida do meu marido e Teu servo está em Tuas mãos! Acampa Teus anjos ao redor dele, meu Pai, proteja-o — a súplica de

D

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146

Melina era constante desde o telefonema de Alan. Não descansaria até que a vitória viesse através de uma notícia ou que tudo se resolvesse. — Traga-o de volta para mim com saúde, Senhor, e que tudo se resolva…

&&&

Alan, Vitória e Fábio estavam mais uma vez reunidos num só lugar. Eles se entreolhavam enquanto estavam sendo fuzilados pelo olhar de Oliver. Alan podia notar a expressão de intranqüilidade em Vitória, enquanto o marido da moça continuava de feição inalterada. Estava frio como há muito tempo atrás, quando ainda era líder de gangue. Alan sentia seu ferimento doer e dificultar-lhe a respiração. O senhor tinha que o sustentar.

Oliver estava inquieto. Começou a caminhar de um lado para o outro e então, não agüentando mais a aflição que se acumulava dentro de si, falou:

— Por que não levamos estas pessoas logo para a cadeia. Eles estão juntos num complô para matar Pablo e não podem ficar aqui!

Antônio Gonzaga se adiantou e num tom sutil disse: — Nós podemos levá-los e depois voltamos para tomar nosso posto. — Não sairemos ninguém daqui até que o Osmar retorne — disse

Everton Passos. — Ele está falando com o agente Brendel para saber o que devemos fazer…

Oliver se interpôs: — Que droga! Nós já sabemos o que devemos fazer, policial Passos.

Eles são assassinos e… — Não somos assassinos — interrompeu Alan, atraindo os olhares

para si. — Não viemos aqui para matar Pablo Tavares; viemos para fazê-lo despertar do coma.

A incredulidade no rosto dos policiais tornou-se incrivelmente visível.

— Não seja louco! — exclamou Oliver. — Não precisam acreditar. Quero apenas colocar minha mão sobre

ele e orar. Se querem o bem dele e querem saber a verdade, deixem-me fazer isso.

— Cuidado, isso pode ser um truque! — alertou Antônio Gonzaga demonstrando um quê de nervosismo.

Osmar Cunha passou pela porta e olhou para todos. — O que Axel falou? — indagou Oliver. — Creio que ele mandou

levarmos estes assassinos para a cadeia, não? Osmar meneou a cabeça.

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— Não, ele não deu esta ordem. Disse para todos o esperarmos aqui. Mas… há mais uma coisa que devo fazer.

— O quê? — quis saber os demais policiais. — Oliver e Antônio Gonzaga… — Osmar puxou a arma do coldre.

— Vocês estão presos e não devem sair deste quarto. Bem devagar, coloquem suas armas no chão.

Alan sorriu às vistas de todos e disse: — Justiça Divina. Deus é fiel.

&&& Ele rompeu pelas portas de vidro automáticas e, atento a qualquer

movimento à sua volta, caminhou até a mesa central do restaurante. Os olhos estavam agora fixos nos de Vip. Sua vontade era de exterminá-lo com um só tiro bem entre os olhos. Conteve-se.

Fitou Nicole e avaliou sua condição emocional. Ela estava um caco e aquilo lhe doeu o coração. Tinha que levá-la para longe, não importando o que viesse a fazer. Aquele era seu objetivo nem que tivesse que morrer para deixá-la escapar.

Ele fixou o olhar em Vip, que se mantinha sombrio e frio, temendo ainda por sua verdadeira identidade. Carlos puxou uma cadeira e se sentou.

— Onde está a fita? — indagou Vip rapidamente. — Solte-a e lhe entregarei a droga dessa fita. Vip olhou mais uma vez ao redor e tentou se encolher mais ainda

na sua cadeira. — Apenas mostre-me para saber que realmente está com ela.

&&& Lucas estava de olho em seis pequenas telas de sete polegadas onde

Vip e Carlos apareciam em todas elas. Uma agora estava com o foco fechado em Carlos. Lucas estava apreensivo e ansioso para vê-lo tirando a fita do terno. Ele apertou um pequeno botão no painel perto das telas de vigilância e falou:

— Fiquem atentos à minha ordem. Quando ele mostrar a fita entramos.

Todos os capangas da quadrilha estavam na espreita. Alguns deles estavam disfarçados, sentados à mesa como se fossem clientes normais. Outros estavam aguardando na escadaria. Lucas também podia vê-los pelo sistema. Ele sorriu diabolicamente e disse:

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— Hoje será o seu fim, Carlos Lacerda.

&&& A velocidade do carro estava muito acima da permitida. A sirene

berrava e fazia com que os carros à sua frente abrissem para lhes dar passagem Axel estava com os olhos vidrados na pista e pensava em ritmo frenético dando a impressão que estava em transe. Olhou subitamente para Levi.

— Tudo bem aí? — Nunca pensei que esse carro pudesse chegar a essa velocidade

algum dia. Axel abriu um leve sorriso. — E você, como está? Estou vendo que anda meio pensativo. Não

falou nada desde que saímos da central! — Estou estudando as possibilidades. Tentando pegar o fio da

meada, entende? Mas ainda está um pouco confuso… ainda não consigo…

Axel parou de repente e estreitou os olhos. Seu sobrolho ergue-se rapidamente.

— O que foi? — Acho… acho… — Acha o quê, homem? — Achou que montei o quebra-cabeça. — Como assim, Axel? — Levi parecia não acreditar. — Explica isso. Axel respirou fundo e voltou o olhar para a pista, tentando manter

o volante firme e equilibrado enquanto esclarecia. — Tudo isso me pareceu um quebra-cabeça desde o princípio. Pablo

e Caio recebem uma informação que levava a um traficante da Quadrilha Vip. A esperança deles era a de que Vip aparecesse, pois se sabia que ele fazia questão de fazer as maiores transações. Ele não apareceu e Caio foi assassinado; Pablo, por um milagre, não. Permaneceram no local do crime dois homens que logo foram taxados como suspeitos. Quando dois policiais os levavam para a central desviaram o caminho misteriosamente para fora da cidade e então bateram o carro. Os dois suspeitos se tornaram fugitivos.

“Mais tarde os suspeitos reaparecem e travam uma batalha ninguém sabe com quem. Há sangue no lugar para abastecer um hemocentro inteiro, porém não há corpos. Nem um sequer.

Levi continuava de ouvidos atentos. Axel continuava:

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Mais tarde o corpo de Caio é achado carbonizado como todos os outros policiais que morreram pelas mãos da quadrilha. Naquele dia vi o legista Ângelo Tellez conversando com Antônio Gonzaga.

— Você ouviu o que eles conversavam? — perguntou Levi. — Não. E isso não me pareceu nada suspeito na hora. Mas agora

tudo se encaixa. — Deixe de enrolação, Axel. Conte logo o que sabe! — Comecei a colar as peças quando recebi um envelope na minha

sala por um amigo de Alberto Linhares. Os documentos contidos no envelope incriminam o Capitão Afonso Sander de participar da tentativa de assassinato de Pablo lá no hospital. — ele deu uma pausa até acrescentar: — A última peça se encaixou quando recebi a informação de que José Nogueira havia sido encontrado morto. Mas como, se ele já tinha morrido carbonizado pela quadrilha também?

— E qual a sua conclusão? — Minha conclusão é que a Quadrilha Vip é composta pelo menos

em sua maioria por policiais. Levi ficou sem palavras de repente. — O truque da quadrilha era “arrebatar” os tiras no meio de uma

batida policial e depois enviar um recado onde revelava onde estava um corpo carbonizado. Era simples.

— Mas e o exame da arcada dentária?… — Lembra que lhe falei que a conversa de Antônio Gonzaga e

Ângelo Tellez não me pareceu nada? Agora faça a ligação. Ângelo Tellez falsificava os laudos para a quadrilha. Antônio Gonzaga era a ligação de comunicação entre as duas partes.

Levi levou a mão à boca entreaberta. — Então podemos supor que Vip é um tira. Axel apontou para Levi, dando a entender que ele havia

compreendido seu raciocínio. — Exatamente. — Mas quem? Qualquer um pode ser ele. Inclusive o próprio

Capitão Sander… e até… até Caio Vieira! — Você chegou ao ponto aonde eu iria chegar. Eu conhecia a

maioria dos tiras que supostamente morreram carbonizados pela quadrilha, mas Caio era uma incógnita. Ele passava mais tempo com Pablo do que com qualquer outro agente. Só sabíamos que era bom no que fazia porque sempre resolvia os casos de narcóticos ao lado de Pablo. Pelo que sei ele veio da divisão de entorpecentes da cidade de São Paulo, sendo algumas vezes condecorado por lá. Pelo que diziam, ele fez

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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muitas apreensões de carregamentos de drogas na capital e então se transferiu para cá. Pablo foi logo apresentado para ser seu parceiro.

— Quando foi que a quadrilha começou a atuar na cidade? — indagou Levi, tentando fazer suas próprias conclusões.

— Um pouco antes de Caio chegar. — Você está querendo dizer que Caio Vieira é o Vip? — Quem mais poderia ter o controle da situação do que ele? Ele

estava mais a par das rotinas de apreensões do que ninguém. Certamente ele veio de São Paulo para ganhar uma liberdade maior; coisa que não tinha lá. Pablo foi a maior sorte que lhe aconteceu. Juntos eles faziam mais apreensões do que ninguém. Sabe por quê? Pelos contatos que Caio tinha com outros traficantes. Com certeza ele sempre dava um jeito de enganar Pablo o ficar com alguns quilos para si. Ele sabia que Pablo era sua maior ameaça aqui na cidade, então tratou de logo ganhar sua confiança. Caio podia matar dois coelhos com uma cajadada só: aumentava seus negócios e ainda vigiava Pablo sem este saber.

— Mas por que planejar sua própria morte? — induziu Levi para Axel responder.

— Essa foi a pergunta que Caroline me fez: por que deixar Pablo ali e levar Caio? Por que não carbonizar os dois ali mesmo? A resposta é que Caio tinha que desaparecer para viver apenas como Vip. A quadrilha já estava bem forte e poderosa. Ele não precisava mais das batidas para conseguir drogas. Seus recursos já lhe rendiam fábricas próprias. Então, para quê se arriscar no meio de tiras trabalhando na central? A quadrilha já estava formada e já contava com policiais experientes. Caio não precisava mais de nada. Mas para ele viver em paz, pelo menos por algum tempo, teria que se livrar de Pablo e foi o que quase aconteceu.

— Nossa! — exclamou Levi, excitado com aquelas revelações. — Então, se a quadrilha é basicamente de tiras o que podemos supor dos fugitivos? Que eles são tiras também?

O olhar de Axel se tornou distante. Lembrou de Melina e como descreveu seu marido e Carlos. Os dois obviamente não eram policiais e agora se dava conta de que não eram culpados de coisa alguma.

— Eles não são tiras, Levi, e acho que não são culpados pelo que aconteceu ao Pablo. Talvez por isso tenham voltado à cidade em vez de fugir naquela noite em que foram levados por Oliver e Selton para a rodovia 3. Eles voltaram para tentar esclarecer as coisas e provar sua inocência.

Levi acenou com a cabeça ao declarar:

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Agora tudo faz sentido. — O passo seguinte é pegar Caio Vieira e o resto da quadrilha. Só

espero que possamos pegá-los de surpresa desta vez.

&&& — Vamos… mostre-me a fita — pediu Vip novamente. Carlos pareceu não ligar para o pedido imediatamente. Voltou-se

para Nicole e fitou-a nos olhos. Como queria levá-la daquele lugar, ampará-la em seus braços e acariciar-lhe o rosto…

— Você está bem? — perguntou-a. — Sim — reservou-se ela a dizer mordendo os lábios demonstrando

inquietação e nervosismo. Carlos puxou de dentro do bolso o cassete e pôs à vista. — Muito bem, Caio Vieira, estou aqui com sua valiosa fita. Agora

deixe que ela parta… — Atenção — anunciou Lucas —, ele está entrando agora. Fiquem

nas posições.

&&& Alan, Vitória, Fábio, Oliver e Antonio Gonzaga estavam todos

literalmente sob a mira das armas de Osmar Cunha e Everton Passos. Agora todos se entreolhavam.

— Ora, isso é ridículo! — exclamou Oliver diante a ordem de prisão. — Quem vocês tem que prender são esses três aí, que são os assassinos de Caio e Pablo, e não nós, que somos tiras como vocês.

— São ordens de Axel, Oliver. Até ele chegar aqui temos que ficar de olho em vocês. Todos vocês.

Subitamente uma pequena mancha de sangue começou a aparecer na camisa de Alan. Vitória observou aquilo e com cautela chamou a atenção dos policiais.

— Ele foi operado recentemente, de modo precário, há pouco tempo e acho que os pontos abriram. Precisa de cuidados médicos — alertou ela.

— Ninguém pode sair desta sala, moça — falou Passos. — Então mande chamar alguém, pelo amor de Deus! — suplicou

Vitória. Oliver deu um passo à frente e foi parado pela mira da arma de

Osmar Cunha. Ele recuou novamente e disse: — Deixe-o morrer. Assim receberá o que merece pelo que fez a Caio e

Pablo.

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— A justiça do meu Deus está próxima, Oliver. Você verá o quanto Ele é poderoso. — falou Alan enquanto levava a mão ao ferimento, de onde parecia sair mais sangue agora. Ele fechou os olhos e começou uma oração silenciosa por si mesmo e por Carlos.

Onde ele estiver, ó Deus, cuide dele. E que Teu Espírito Santo possa fazer germinar a semente que lancei…

&&& — Dê-me essa fita! — ordenou Caio Vieira voltando uma das mãos

para debaixo da mesa. — Não tente nada, Vip. Estou com uma arma debaixo da mesa

apontada para você, então é melhor acalmar seus ânimos. Essa fita não vai sair das minhas mãos antes de você soltar a garota. Também sei do que é capaz. Nem seu parceiro escapou dessa sua escalada sangrenta ao poder, e veja só, nem você mesmo escapou.

— Se não matasse Pablo ele continuaria desmantelando meus negócios, e quanto ao policial Caio Vieira, ele fez sua parte que era fazer negócios com outros traficantes que “prendia”, desviar quilos e mais quilos de entorpecentes, fazer negócios direto da fonte… Bem, então chegou o momento em que eu não precisava mais disso, da rotineira vida de tira de Caio Vieira. Tornei-me Vip de uma vez por todas da maneira mais ilusionista possível, planejando a própria morte.

— Mas lhe digo que não foi tão fácil colocar a culpa pra cima de mim, não é mesmo?

— Tenho que admitir que não. Você tem sido uma pedra no meu sapato desde então. Você me surpreendeu.

— E estou aqui agora aponto de arruinar sua vida. — Arruinar minha vida? — Vip fez cara de incredulidade. — Qual

é! Você nem ninguém será capaz de fazer com que meu mundo caia. Carlos riu sarcasticamente e sussurrou: — Algum dia, Vip, todo esse seu império irá ruir e creio que esse

dia não está longe. Se não for por minhas próprias mãos será pelas de outra pessoa.

Subitamente, um frio cano de revólver calibre 38 foi pressionado contra a nuca de Carlos, deixando-o imóvel. A voz do capitão Sander soou grave pelo recinto:

— Está tudo sob controle. Sou capitão da polícia da cidade de Melmar — ergueu o distintivo ao alto onde todos puderam visualizar. —

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Este é um homem procurado e peço que todos se retirem tranqüilamente do restaurante para evitar quaisquer transtornos. Obrigado.

— Como eu disse, Carlos, nem você nem ninguém será capaz de fazer com que meu mundo caia.

Sander levou a mão até debaixo da mesa e tomou da mão de Carlos a arma que carregava, enquanto um murmúrio geral tomava conta do Quaid’s quando todos se levantavam ligeiramente das mesas e deixavam o estabelecimento. Carlos notou que os clientes dos andares superiores também estavam descendo e deixando o restaurante. Certamente os empregados de Vip já os haviam alertado do que estava acontecendo. Logo ele estaria só ali, afugentado, acuado e sem expectativa de fuga.

Vip sorriu para Afonso Sander que acenou de volta com a cabeça. A situação para eles agora estava sob controle.

— Não é todas as vezes que um peixe consegue escapar da rede do pescador, Carlos — comentou novamente Vip.

Carlos olhava para Nicole e notava o visível terror dentro dela através de seus olhos. Ela estava trêmula e pálida. Era como se algo dissesse que a morte estava às portas.

Afonso Sander tomou a fita da mão de Carlos e jogou-a para Vip. — O que faremos agora? — indagou o robusto capitão. — É simples, você atira nele e ainda consegue as congratulações dos

seus superiores por ter pegado um dos assassinos de Caio Vieira. Outras explicações são por sua conta.

Os homens da quadrilha que antes permaneceram escondidos esperando as ordens de Lucas agora orientavam as pessoas a continuar caminhando o mais rápido possível para fora.

— Vip… — Carlos fez uma última tentativa — eu suplico: mate-me… agora mesmo, se quiser, mas deixe-a ir…

— Mas que droga! — explodiu o traficante em fúria, erguendo-se. — Você não para de falar isso! Gosta mesmo dessa vadia, não é? — não obteve resposta dos lábios dele, mas podia ver o amor estampado em seus olhos enquanto ele olhava para ela. — Muito bem. Já que gosta tanto dela eu faço uma coisa por você. Prometo matá-la logo depois que você morrer, assim poderão aproveitar o inferno juntos. — Ao findar estas palavras virou-se para ela e, com violência, socou-lhe o rosto. Ela caiu no chão imediatamente aos prantos. Carlos ergueu-se num segundo, mas uma coronhada no meio da cabeça o fez sentar novamente. O sangue começou a descer.

Vip disse:

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— Isso é por você ter me dado tanto trabalho. Lucas apareceu por detrás dos ombros de Vip, sorrindo. — Ora, ora, até que enfim estamos frente-a-frente de novo. Mas vejo

que desta vez você se deu mal. Carlos apenas o olhou furiosamente. Voltou-se então para Nicole

que permanecia no chão e chorava em silêncio. Ele fechou os olhos tentando se controlar para não cometer uma loucura. Mas afinal, o que lhe restava fazer? Suspirou sentindo a agonia sufocar-lhe no seu interior.

Jesus te ama e quer que você o ame também… Ele quer te ajudar… Para que fazer justiça com as próprias mãos, quando se tem alguém que faz isso

por você? Este é o meu Deus, Carlos. O Deus verdadeiro, capaz de tirar o mais vil

homem do fundo do poço e erguê-lo… As mensagens de Alan acenderam como flashes na mente de Carlos

e por um momento deixaram-no paralisado. Despertou apenas quando Vip propôs:

— Vamos leva-los para cima. Há pessoas curiosas lá fora e o que está acontecendo aqui pode chamar a atenção de todos.

Afonso Sander pegou Carlos pelo colarinho e o fez erguer-se enquanto Lucas levantou Nicole. Dois capangas de Vip mais Tito se juntaram ao pequeno grupo e todos se puseram a caminhar em direção à escadaria.

&&&

Os pastores Nilton e Tatiane Cross estavam ainda de joelhos e sabiam que uma corrente de oração estava sendo feita por alguns membros da Igreja. O pastor suplicava enquanto sua esposa louvava.

— Glória ao Teu nome, Senhor! — glorificava Tatiane. — Pai, dê graça a Alan e que ele venha a obter vitória em sua vida.

No que estiver acontecendo agora com ele… que Tu estejas ao seu lado. Opera através de sua vida…

&&&

O policial Passos se sensibilizara e acionara o chamado da enfermagem. Alan agora estava sendo atendido ainda sob a mira dos dois tiras por uma jovem enfermeira com a idade na casa dos vinte anos. Alan leu no crachá seu nome: Isadora Andrade.

— Isso é uma idiotice — reclamou Oliver. — Deixar que um assassino seja atendido numa situação dessas…

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— Já disse, não somos assassinos — falou Alan. — Já viram, por acaso, assassinos agirem sem arma alguma?

A enfermeira olhou para os tiras armados. — Realmente ele não está com arma nenhuma. Osmar Cunha lembrou que Vitória e Fábio já haviam sido

revistados lá embaixo quando foram pegos. — Os outros dois já foram revistados. — Já acabou, enfermeira? — indagou Everton Passos. — Sim. Os pontos haviam arrebentado, mas já consegui parar o

sangramento e dei-lhe uma injeção para a dor. — Obrigado — agradeceu o policial Cunha. Ela deu uma última olhada em Alan e caminhou para a porta, mas

parou subitamente. Voltou-se e observou-o mais atentamente. — Algum problema, enfermeira? — quis saber Everton Passos. — Não, apenas… — fitou Alan por breves segundos. Perguntou-o:

— Você não é Alan Xavier? — Como? — Alan não estava entendendo. — Alan Xavier, certo? Everton Passos deu um passo à frente, apreensivo. — Enfermeira… — Espere um momento — disse Isadora. — Este homem não pode

ser um assassino… Todos ficaram estáticos com a declaração. — Como assim? — quis saber os policiais. Isadora não tirou os olhos de Alan enquanto falou: — Não sou evangélica, mas minha irmã é, e uma vez ela levou-o lá

em casa. Minha mãe estava muito doente, quase sem forças para viver. Já não agüentávamos vê-la naquela situação. Ele orou por ela de uma maneira que nunca havia visto antes. Quando a oração acabou minha mãe dormiu e ele falou para crermos em Deus, pois ela logo estaria curada. Ele foi embora e uma hora depois minha mãe estava de pé e sorrindo, pois já não sentia enfermidade alguma em seu corpo. Perguntei qual o nome dele e minha irmã me respondeu: Alan Xavier. Nunca consegui esquecer esse nome ou seu rosto, não sabia por qual razão, mas agora acho que sei. Este homem não é assassino e posso apostar minha vida nisso.

Alan glorificou o nome do Senhor em espírito. Deus havia feito aquela jovem gravar sua feição e nome justamente para aquele momento. Aleluia, Jeová Jiré!

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Um momento de silêncio se instalou no quarto e pareceu uma eternidade.

— Isso é uma besteira. Vocês não podem dar ouvidos para uma coisa dessas…

— Cale a boca, Oliver — disse Everton Passos, — minha mulher é evangélica e coisas assim não podem ser consideradas coincidência.

Oliver jogou as mãos para cima, se rendendo; Alan louvou a Deus. Passos indagou a Alan: — Você falou que veio até aqui para quê mesmo? — Não para matar Pablo Tavares, mas para fazê-lo despertar do

coma colocando minha mão sobre ele e orando. Everton Passos trocou um olhar com Osmar Cunha e engoliu a seco.

&&& O quarto andar do Quaid’s foi invadido apenas por Carlos, Nicole,

Vip, Lucas e Afonso Sander, enquanto os demais homens permaneceram fora do recinto de guarda. Carlos olhou em volta. Era a sala de conferências de Vip, ou melhor, Caio Vieira. Não havia como escapar dali diante da mira de Afonso sander. A voz de Alan surgiu numa viva lembrança mais uma vez:

— Preste atenção: Não há nada que você possa fazer… para tentar sair

desse inferno em que está sem que venha reconhecer que você não é nada sem Deus e que sem Ele não conseguirá escapar das garras do inimigo. Deus te ama, Carlos, e… Ele quer te ajudar a sair da cova que você cavou para si mesmo. Ele está com as mãos estendidas para você, mas não pode fazer nada enquanto você não fizer nada. Ele irá mover a mão dEle quando você mover a sua e pedir-lhe que tome conta da sua vida, reconhecendo que sem Ele você não é nada, e com Ele você é mais que vencedor!

— Sabe o que fazer, capitão — disse Vip. — Infelizmente não

podemos fazer o serviço, mas você sim. Carlos voltou-se para Nicole. Agora ela estava soluçando de agonia,

pois sabia que ia morrer. Talvez nunca mais a tomaria nos braços ou beijaria sua face. O que eu fiz da minha vida? Questionou-se. Mais uma lembrança aflorou-se em sua mente:

— … Fábio e Vitória é o casal mais feliz que conheço. Enfim, são pessoas

livres e felizes como muitos não podem ser. Agora… me responda com sinceridade: você não quer que estas duas qualidades básicas, mas essenciais entrem em sua vida?

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— Ei, Carlos — chamou Lucas. Puxou do bolso da calça a

correntinha de ouro com o anel de noivado engatado e jogou-a na direção dele. — Não precisarei mais disso. Quero que olhe bem pra ela e quero lhe garantir que ela vai ser enterrada junto a vocês dois.

Lucas gargalhou como um vitorioso enquanto Afonso Sander aproximou-se de Carlos, que por sua vez sentiu sua respiração acelerada. Engoliu a seco e fechou os olhos. Numa fração de segundos ainda se lembrou:

— Sem Ele não conseguirá escapar… Ele quer te ajudar… Ele irá mover a mão dEle quando você mover a sua e pedir-lhe que tome conta da sua vida.

Ainda de olhos fechados, Carlos não viu quando o capitão apontou

a arma para sua fronte. — …pedir-lhe que tome conta… Peça… Peça… Peça… PEÇA!!! Sentindo uma imensurável força dentro do coração, intimamente ele

clamou: — Deus… Sei que não valho nada e não sei o que você quer comigo, mas…

se me quer tanto assim e se pode me ajudar… esse é o momento. Eu… eu estou pedindo… Implorando. Ajuda-me!

Afonso Sander engatilhou o revólver e encostou-o na cabeça de Carlos.

— Ajuda-me! AJUDA-ME!! Puxou o gatilho.

&&& A arma de Osmar Cunha estava engatilhada e apontada para Alan,

enquanto este caminhou com certa dificuldade até o leito de Pablo. Oliver suava frio ao lado de Antonio Gonzaga que tentava disfarçar

o nervosismo demasiado. A enfermeira Isadora estava ao lado de Alan enquanto Everton

Passos olhava-os atentamente, mas continuava atento aos movimentos de Oliver e seu parceiro.

Alan parou sobre o leito de Pablo e fitou-o por algum tempo. Então estendeu a mão direita e tocou a testa de Pablo. Fechou os olhos e pronunciou brandamente:

— Senhor, estou aqui, onde Tu querias. Faz a Tua obra e opera através da minha mão. Tua és a ressurreição e a vida; quem crê em Ti,

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ainda que morra, viverá. E como um dia Tu falaste: “Dou-te graças, porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves; mas por causa ‘da multidão’ que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste”. Senhor, assim como a tua glória foi vista no passado, faça que seja vista hoje por cada um de nós, em Teu nome, Senhor Jesus.

Aos olhos de todos Alan falou: — Pablo Tavares, acorde.

&&& Os olhos de Afonso Sander e dos demais presentes não

compreenderam porque o revólver não funcionou. O capitão apertara o gatilho, mas ele não havia acionado o tambor nem a bala.

— O que você está fazendo? — indagou Vip impacientemente. — Minha arma não está funcionando — disse o capitão apertando

mais vezes. O tambor não girava. De olhos ainda fechados, as lágrimas começaram a descer pelos

olhos de Carlos de forma espontânea e irreprimível. Sabia que aquilo estava acontecendo por causa do que havia pedido. Abriu os olhos e olhou para cada um dos traficantes ali presente. Falou audaciosamente:

— Sinto muito, pessoal, mas creio que hoje não será o meu dia de morrer.

Ao ouvir aquilo Lucas se precipitou à frente e puxou sua arma automática 9mm.

— Vamos ver, então, se isso é verdade — disse. Apontou a arma para Carlos e sorriu. — Adeus.

Naquele mesmo instante, subitamente, uma voz metálica se fez ouvir lá fora:

— Aqui é a polícia de Melmar, o prédio está cercado… A voz fez com que os reflexos de todos fossem acionados. Eles se

voltaram para uma grande janela de vidro que permanecia entreaberta no fundo da sala de reuniões do quarto andar. Era o momento de que Carlos precisaria.

Num movimento rápido segurou a arma ainda na mão de Lucas e se ergueu levando a mão fechada no meio do nariz do traficante. Lucas se desnorteou por um instante, tempo bastante para que Carlos tomasse a arma de sua mão.

Alguns tiros foram disparados lá embaixo. Os tiras estavam invadindo o quartel-general de Vip. A voz de um policial ressoou novamente de um alto-falante:

— Não há como escapar. Entreguem-se!

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Com a arma em seu poder, Carlos se afastou dos três foras-da-lei mantendo-os em sua mira e olhou para Nicole que ainda tremia de medo e chorava.

— Venha, Nicole, vamos dar o fora daqui. Repentinamente a porta da sala foi rompida por dois homens de

terno e Carlos reconheceu Tito no rosto de um deles. Os dois homens sacaram instantaneamente suas armas, mas Carlos não deixou que as usassem. Ele disparou contra eles que caíram no chão, vivos, mas impossibilitados de reagir.

Da mesma forma Lucas se lançou sobre Carlos aproveitando sua ligeira falta de atenção. Um soco acertou o rosto de Carlos e os dois caíram sobre o chão encarpetado. Lucas estava por sobre Carlos e segurava a arma com uma mão enquanto tentava estrangular seu oponente com a outra. Com uma joelhada entre as pernas do traficante Carlos tomou a posição de cima, mas a luta ainda permanecia árdua e sem um vencedor momentâneo.

Nicole sentiu a mão de Vip puxar-lhe para junto de si e sentiu uma lâmina de canivete encostar-se a seu pescoço. Estava novamente em perigo eminente.

— Que droga! Acho que isso já está saindo do controle, Vip — disse Afonso sander já se esgueirando pela parede em direção à porta. — Creio que é hora de eu sumir por algum tempo. Tempo indeterminado, eu diria.

— Seu covarde! — bradou Vip. —Volte aqui ou acabo com você! O olhar de Vip e Nicole estavam ainda sobre os dois homens que

rolavam no chão na disputa pela vida. — Vamos, Lucas, acabe com ele! — torceu Caio Vieira. Um tiro foi disparado e os dois homens permaneceram imóveis por

algum tempo. Uma poça de sangue se formou rapidamente debaixo dos dois homens. Um deles se mexeu e empurrou o corpo do outro para o Lado.

— Que droga! — praguejou Vip quando viu Carlos se erguendo com a arma ainda em punho.

&&&

Afonso Sander desceu alguns lances de escada até que se deparou

frente-a-frente com Axel. Os dois se entreolharam por dois segundos. Sander falou:

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— Graças a Deus vocês estão aqui. Eles estão lá em cima… Eu estava à espera de reforços e…

— Afonso Sander, você está preso por ligação com a Quadrilha Vip. Imediatamente dois tiras o seguraram e o algemaram. — O que você está fazendo! Quem pensa que é! Axel fez um gesto com a fronte para os dois homens fardados. — Levem-no para fora e algeme-o dentro do meu carro. Montem

guarda e não deixe ninguém se aproximar dele.

&&& A porta dupla da sala de reuniões foi novamente rompida. Desta

vez Axel e outro tira estavam com as armas em mãos. Ambos viram Carlos apontando a arma para Vip que ameaçava cortar a garganta de Nicole. Notaram no seu olhar o ódio e rancor.

— Largue a arma! — ordenou o tira ao lado de Axel. — Não a menos que ele a largue — berrou Carlos. — Largue essa arma! — NÃO!!

&&& — Acorde, Pablo — disse Alan mais uma vez. O silêncio e incredulidade no recinto foram quebrados quando as

pálpebras de Pablo mexeram. — Para a Tua glória, Senhor. Para a Tua glória — proclamava Alan. Uma respiração profunda saiu das narinas do agente sobre o leito. — Eu não acredito nisso — balbuciou Oliver. Os dedos das mãos de Pablo se moveram e então os pulsos. Enfim,

seus olhos se abriram lentamente. — Meu Deus! — exclamou Osmar Cunha. — Esse é o Senhor que eu sirvo, que prova a fé do justo e dá a

vitória aos seus servos — proferiu Alan. — Somos inocentes e essa é a prova.

Pablo fitou a todos com expressão de quem não estava compreendendo o que se passava à sua volta. Esfregou os olhos e indagou:

— Onde estou?… O que está acontecendo? — uma luz de lembrança de acendeu em sua mente. — Caio… como ele está? Ele está bem?

Everton Passos se adiantou:

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— Sinto muito, Pablo, ele está morto. — Não — acrescentou Alan. — Caio não está morto. Ele está vivo.

— voltou-se para Oliver e Antonio Gonzaga. — E eles sabem disso. Agora todos fitavam os dois tiras corruptos.

&&& — Largue a arma! — gritava o policial para Carlos. — Eu quero apenas que ele a largue, droga!!! — bradou Carlos

novamente. Axel pediu para que o policial tivesse calma. Tentou transmitir

calma e sobriedade quando falou para Vip: — Acabou, Caio. Largue a garota e esse canivete e tudo ficará bem

pra você. — Não vou largar coisa nenhuma! — gritou Vip. — Vou sair daqui,

e se tentarem me impedir ela morre! Ela morre! — Antes eu acabo com você, desgraçado — garantiu Carlos. Axel deu mais um passo à frente tentando se aproximar mais dos

dois. Olhou para o tira ao seu lado e fez um gesto com a mão para que relaxasse. Ele entendeu o recado. Um outro policial se aproximou da porta e sacou a arma. Axel acenou para que ele permanecesse onde estava. Voltou-se para Carlos e Vip.

— Escutem — disse o agente negro tentando atenuar o momento tenso instalado no ar, — por que os dois não esfriam a cabeça e ambos abaixam as armas. Ninguém mais precisa sair ferido daqui hoje, então… para o bem de todos joguem as armas no chão… agora.

Com a mão firme no canivete pressionando-o contra o pescoço de Nicole, Vip estava com respiração ofegante e transparecia frieza incondicional em seus atos. Apertou mais ainda a lâmina contra a refém e um filete de sangue escorreu ao encontro da camisa da jovem mulher. Nicole retorceu o rosto de dor.

— Droga! Droga! — desesperava-se Carlos, incapaz de pôr Nicole a salvo. — Não! Não faça isso!

— Caio, não faça isso — falou Axel, tentando ganhar tempo. — fale suas reivindicações e faremos o possível para que elas sejam cumpridas…

Os olhos penetrantes de Vip estavam vidrados em Axel. Ele abanou com a cabeça e proferiu:

— Você não pode fazer mais nada por mim. Ninguém mais pode. Está tudo acabado. Sei que não há mais esperança.

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Rapidamente Carlos refletiu no que Alan lhe falara e no que havia se passado consigo nos últimos minutos e então proferiu:

— Você está enganado, Vip. Sempre pode haver esperança… O olhar congelante de Vip voltou-se para Carlos como uma flecha. — Quem você acha que é pra falar isso para mim? Você é o culpado

de todo o meu mundo estar desmoronando. Se você não tivesse aparecido em minha vida nada disso estaria acontecendo! Minha única esperança agora seria vê-lo morrer, miserável!

Houve um instante de silêncio e desconforto no ar. A respiração de cada uma das pessoas ali podia der ouvida.

Carlos engoliu a seco e falou por fim: — Já que você me quer morto… solte-a e então você poderá me

matar. É uma troca justa. Ela não te fez nada, e eu sim — disse ele baixando a arma e colocando a seguir no chão. — Vamos, solte-a e pode enfiar a lâmina toda dentro de mim. — deu um passo à frente.

Vip olhou rapidamente para trás e seus olhos se depararam com a janela de vidro entreaberta. Caminhou lentamente de costas em direção a ela, esboçou um pequeno sorriso e declarou secamente:

— Pensando bem, Carlos, eu adoraria acabar com você da forma mais cruel possível, mas… — ele sorriu mais abertamente. — acho que a morte seria pouco pra você.

— Como assim? Do que está falando… — Já pensou em viver até o último dia da sua vida pensando que

sua noivinha morreu por sua causa, hein? — Caio, não faça isso! — gritou Axel já sabendo qual seria o

próximo passo do ex-tira. Os policiais puseram suas armas novamente de prontidão.

Carlos tentava se aproximar caminhando lentamente na direção dos dois, mas Vip continuava indo em direção à janela. Nicole agora se debatia tentando se livrar. Sabia que a morte estava próxima mais do que nunca.

— Larga ela, Vip! Larga ela! — implorava Carlos. — Você será o culpado! — implicava Vip. Ao se aproximar da janela Vip suspendeu Nicole pela cintura e

pulou impulsionando o corpo contra o vidro, quebrando-o no mesmo instante em que puxou a moça consigo para a queda.

— NÃÃÃÃÃÃÃO!!! — gritou Carlos correndo e saltando na direção dos dois rapidamente.

Os corpos de Vip e Nicole começaram a cair como que em câmera lenta. Nicole estendia as mãos na direção de Carlos. Seus gritos eram

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horrendos. Ela sabia que ele não iria alcançá-la. Isso seria possível apenas por um milagre.

Deus, ajude-me! Rogou ela intimamente. A gravidade puxava-a para baixo. Já não existia qualquer esperan…

— SEGURE-SE! Como um relâmpago as mãos de Carlos apareceram e segurou-a

firme pelo colarinho da sua jaqueta. — Segure firme nos meus braços! — gritou Carlos. O peso era demais. Ele olhou para baixo. Vip estava pendurado nas

pernas de Nicole e fazia força para puxá-la para a morte juntamente consigo.

— Deus! Não! — bradou Carlos. Uma gargalhada incomum saiu da boca de Vip. Ele pôs à mostra a

lâmina do canivete. — Vai ter que ser do jeito mais difícil, Carlos! — berrou ele

erguendo o canivete para cravar nas costas de Nicole. Repentinamente um vulto apareceu ao lado de Carlos empunhando

uma arma que foi apontada rapidamente para Vip. Um estrondoso tiro fez com que o braço do ex-policial se tornasse em puro sangue. O canivete voou para longe. A dor súbita o fez largar Nicole e seu corpo despencou até o chão. Todos viram quando a cabeça de Caio Vieira se abriu quando bateu violentamente contra o asfalto.

Carlos puxou Nicole para dentro do prédio e abraçou-a fortemente. Ficaram assim por um longo tempo até que ele a afastou um pouco de si e mostrou-lhe sua corrente com o anel de noivado preso a ela. Ela pegou a jóia por entre os dedos, sorriu e abraçou Carlos novamente.

— Nicole… Desculpe-me pelo que fiz… — sussurrou Carlos com emoção impregnada na voz.

— Não tem do que se desculpar — falou ela. — Tudo já passou. Eu te amo, e mais ainda porque você fez tudo para me salvar.

Eles se beijaram mais uma vez mas foram interrompidos quando Axel falou:

— Carlos… você está preso.

&&& — Não posso acreditar no que você está falando! — exclamou Pablo

quando ouviu de Alan todo o verdadeiro relato. — Eu vi Caio ser morto pela quadrilha Vip.

Alan balançou a cabeça, compreendendo que não era fácil para ninguém compreender.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

164

— Sei que é algo que não posso provar agora, mas tudo já está sendo esclarecido e logo todos saberão a verdade. Mas… queremos que nos responda agora duas coisas…

— Duas coisas? — Sim. Por favor, responda se fui eu quem tentou mata-lo ou ao seu

parceiro, Caio Vieira? Pablo fitava Alan sem ao menos piscar. Respondeu: — Não. Lembro que você apareceu e gritou para que aquele

homem… Carlos não atirasse em mim. Alan apenas virou para encarar Oliver. Indagou novamente: — Carlos atirou em Caio ou em você? Pablo estreitou os olhos e abanou com o cenho negativamente. — Não. E pela conversa dele com Lucas deu para perceber que

estava sendo chantageado para atirar em mim, mas não fez isso. Alan se aproximou de Oliver e falou com convicção. — Nada há encoberto, que não haja de ser descoberto; nem, que não

haja de ser conhecido. Aprenda uma coisa, Oliver, o Senhor é Deus e grande é a Sua justiça.

&&&

— Vasculhem os outros cômodos do andar — ordenou Axel para os dois policiais que estavam com ele dentro da sala de reuniões.

Eles saíram com arma em punho e deixaram o agente a sós com Carlos e Nicole. Axel estava com a algema nas mãos. Fitou Carlos sem saber o que falar. Não sabia se ele era culpado de algo, pois não tinha prova alguma de que ele pudesse estar realmente envolvido com a Quadrilha Vip. Mas o fato de ele estar ali, no lugar errado e na hora errada já era um atenuante para ao menos detê-lo para averiguações. Fitou o casal e viu o imenso amor que existia entre os dois. Era algo irrefutável e que saltava aos olhos. Carlos certamente não ficaria abalado simplesmente em ir preso, mas sim em ter que deixar Nicole mais uma vez só.

Deus, o que faço? Perguntou Axel. Ouviu-se um barulho vindo de fora da sala de reuniões até que Levi

entrou alvoroçado no recinto com um rádio-comunicador na mão. Sua respiração era acelerada quando falou:

— É Everton Passos no rádio. Você não vai acreditar, mas Pablo Tavares acabou de acordar do coma.

— O quê? — indagou Axel.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

165

Os olhos de Carlos subitamente brilharam. Aquilo seria mais um milagre? Perguntou-se.

— Ele contou uma história estranha dizendo que um homem chamado Alan Xavier fez uma oração e Pablo saiu do coma… Você tem que falar com ele!

Axel olhou na direção de Carlos e Nicole e, juntamente com Levi, afastaram-se até a porta para falarem ao rádio.

Carlos ainda fitava o agente quando este se distanciou. Ele fitou os olhos de Nicole. Disse em tom baixo:

— Vamos sair daqui. — Como? — sussurrou Nicole. — O restaurante está cercado! — Apenas esteja pronta ao meu sinal. Ela abanou a cabeça com um aceno. Axel perguntou no rádio: — Policial Passos, conte-me o que aconteceu aí no hospital. — Tudo começou quando um dos prisioneiros, Alan Xavier, disse que ele

não era assassino e conseqüentemente não estava ali para matar Pablo, mas sim para o acordar do coma impondo as mãos sobre ele. Depois apareceu uma enfermeira aqui para cuidar de um ferimento que ele tinha e então o reconheceu e disse que ele era um desses evangélicos e que havia orado pela mãe dela, que ficou curada. Bem… resumindo, o policial Cunha e eu deixamos que o prisioneiro Alan Xavier orasse por Pablo. E depois que ele fez isso Pablo milagrosamente acordou do coma.

— E como ele está agora? — quis saber Axel. — Os médicos o estão examinando, mas ele me parece muito bem. Nem

parece que esteve tanto tempo desacordado. Os médicos estão se perguntando como ele acordou sem ao menos uma seqüela sequer. Disseram que é algo inexplicável aos olhos da medicina.

Levi sorriu e sussurrou: — Isso é incrível! Axel deu mais uma olhada em Carlos e Nicole. O casal estava de

mãos dadas e pareciam tranqüilos. Ele virou as costas para eles e perguntou novamente:

— Ele falou alguma coisa? — Sim. Disse que Alan Xavier não tentou matá-lo nem a Caio. Disse

também que o outro suspeito… ahmm… — Everton Passos tentou lembrar do nome. — Carlos… talvez estivesse sendo chantageado pela quadrilha. Em outras palavras parece que os dois são inocentes.

— Inocentes? Tem certeza disso? — Axel quis se certificar. — Absoluta, senhor — respondeu o policial Passos. — Ok, aguarde-nos onde estão. Logo estarei aí. Câmbio e desligo.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Da porta onde estava, Axel virou-se novamente para o casal dizendo: — Bem, Carlos e Nicole… — Ele estancou subitamente e ficou perplexo. A sala de reuniões que segundos antes estava ocupada pelo casal agora estava vazia. Os dois haviam sumido.

— Para aonde eles foram? — indagou Levi, sem saber o que acontecia direito. — Como conseguiram sair sem passar pela porta?

— Você não ficou de olho neles? — perguntou Axel. — Sim, mas tirei os olhos deles apenas por alguns segundos quando

o Passos começou a dizer que os dois suspeitos eram inocentes. Os dois tiras caminharam até a janela e olharam para baixo. Lá no

chão o corpo de Caio estava sendo ensacado pelos legistas. Eles não poderiam ter saltado, muito menos voado. Mas como poderiam ter sumido assim de uma hora para outra?

— Deve haver alguma passagem secreta nesta sala — concluiu Axel. — Com certeza. Eles voltaram o olhar para a grande mesa no centro da sala e

caminharam ao redor. Axel se abaixou e engatinhou por debaixo da mesa batendo com os nós dos dedos no chão procurando um piso falso. Mais dois passos e ali estava. Havia uma falha mínima do carpete. Ele ergueu o piso e enxergou uma pequena escada que dava para um túnel. Rapidamente ele desceu a escada, mas algo o deteve antes de disparar pelo túnel ao encontro do casal. Uma fita cassete estava no chão. Axel o apanhou nas mãos, olhou para a imensidão do túnel adiante.

A essa altura já devem estar com uma boa distância, deduziu. Balançou a fita entre os dedos e subiu a escada retornando à sala.

— O que houve? — perguntou Levi ao ver Axel de volta. Ele mostrou a fita cassete. — Creio que Carlos nos deixou um presente de despedida. — E agora, o que faremos já que eles fugiram? — Você não ouviu que eles são inocentes? Se são inocentes

conseqüentemente eles não fugiram, apenas foram embora. Venha vamos ao hospital.

&&&

Axel entrou pela porta do quarto junto com Levi e logo avistou Pablo ainda sentado na cama ladeado por um médico e uma enfermeira. Passos e Cunha estavam de guarda enquanto Oliver, Antonio Gonzaga, Alan, Vitória e Fábio estavam num canto do aposento.

Oliver adiantou-se rapidamente. — Axel, você não sabe o que está acontecendo aqui…

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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Axel o interrompeu abruptamente dizendo: — Sei sim, Oliver. Tanto sei que você agora está preso juntamente

com Antonio Gonzaga. — O quê? Você só pode estar brincando… Axel apontou para os policiais Passo e Cunha. — Podem algemá-los e levá-los direto para a cadeia sob a acusação

de envolvimento e cumplicidade com a Quadrilha Vip e tentativa de assassinato de Pablo Tavares, Alan Xavier e…

— Carlos Lacerda — pronunciou-se Alan. — Carlos Lacerda. — concluiu Axel. Oliver e Antonio Gonzaga foram algemados e conduzidos

imediatamente para a Central de polícia. — Quando eles tentaram me matar? — quis saber Pablo. — Quando eu cheguei no quarto Oliver já iria fazer o serviço —

disse Alan aos presentes —, mas o outro policial me imobilizou com a arma. Ganhei um pouco de tempo até que os policiais Passos e Cunha chegaram e os detiveram.

— Então devo a minha vida mais uma vez a você — disse Pablo. — Não, senhor. Deve a vida a Deus, Pai do Salvador Jesus Cristo.

Não fui eu quem o livrou todas as vezes que fez uma batida policial ou foi ao encalço da Quadrilha Vip, mas o Senhor. Deus o ama, e por isso me enviou naquela noite da negociação e também hoje para despertá-lo do coma e dizer que alguém se importa muito com você e quer que você o guarde para sempre no seu coração e o siga. Seu nome é Jesus.

Todos puderam observar as lágrimas tomarem conta dos olhos de Pablo. Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Sim… Eu quero segui-lo — pronunciou ele. — Sei que sem Deus eu certamente já estaria morto.

Alan completou olhando para os demais no quarto: — O que falei para Pablo não se destina única e exclusivamente

para ele. Deus ama a cada um de vocês também. Em todos os momentos da vida Ele tem estado ao lado de cada um e tem vos amado. Por que não amá-lo também e entregar sua vida nas mãos dEle? Deixar que Ele tome conta do viver de vocês? Façam isso e não se arrependerão. Esse momento também é de cada um de vocês que estão aqui.

Houve um momento de espera até que o primeiro a dar um passo à frente foi Axel.

— Fui usado nas mãos do Senhor um dia, mas me afastei, Alan. Quero retornar e sei que este é o momento certo para fazer isso.

Transformação – Parte 3 (Descobrindo a Verdade) - Naasom A. Sousa

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— Com certeza, agente Axel. E esteja certo de que a magia negra que a advogada fazia para te seduzir não funcionará mais.

Axel arregalou os olhos diante da revelação de Deus e então chorou. Sentiu todo o peso do adultério sobre suas costas como se fosse um imenso fardo e no mesmo instante se ajoelhou não suportando mais permanecer de pé.

A Enfermeira Isadora Andrade, que estava com o médico atendendo Pablo também se ajoelhou se rendendo a Deus naquele mesmo momento. Pablo desceu da cama e ajoelhou-se também às vistas do médico e de Levi que permaneceram em pé.

Vitória e Fábio se curvaram no chão em seguida e começaram a adorar o Rei.

Alan olhou para Levi e o médico e apenas sorriu para eles. Não podiam entender o que Deus queria fazer em suas vidas. Mesmo assim pediu para que eles fechassem os olhos.

O que se seguiu foi um grande momento de oração pelas vidas ali presentes. Alan intercedeu pelas vidas de Pablo, Isadora e Axel. Dois que entregavam suas vidas a Cristo e o outro que retornava ao aprisco. Pediu para que o Senhor escrevesse seus nomes do Livro dos Justos e que os sustentasse. Alan também pediu a bênção do Senhor para Levi e para o médico de plantão ali presente, e, por fim, agradeceu pela vida de Vitória e Fábio. Ainda em contato direto ao Trono do Criador agradeceu pela oportunidade de fazer a obra de Deus incondicionalmente e pelas grandes maravilhas que o Senhor operara.

Todos disseram “Amém”.

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Epílogo

os dias seguintes as manchetes dos jornais impressos e televisivos trouxeram várias notícias relacionadas ao caso da Quadrilha Vip. A

Gazeta de Melmar destacava em letras garrafais:

CHEFÃO DAS DROGAS MORRE E QUADRILHA É DESMANTELADA.

O Diário da Cidade trazia na primeira página:

FALSAS MORTES ESCONDIAM IDENTIDADES DE MEMBROS DA QUADRILHA VIP, INCLUSIVE A DE SEU COMANDANTE,

CAIO VIEIRA.

O jornal O Mensageiro confeccionou um caderno especial só com matérias sobre o caso. As principais foram:

SUSPEITOS SÃO INOCENTADOS E VERDADEIROS CULPADOS MORREM EM CONFRONTO COM A POLÍCIA.

FITA CASSETE DEIXADA POR UM DOS SUSPEITOS REVELA

DIÁLOGOS COM TODOS OS ENVOLVIDOS COM A QUADRILHA.

N

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ENVOLVIDOS DESCOBERTOS ATRAVÉS DE FITA SÃO PRESOS. A LISTA É EXTENSA E VAI DA CENTRAL DE POLÍCIA ATÉ

FUNCIONÁRIO DA MELMARTEL.

LEGISTA É PRESO POR FALSIFICAR LAUDOS PARA A QUADRILHA VIP.

CARLOS LACERDA, MESMO INOCENTADO, CONTINUA

DESAPARECIDO.

O AGENTE AXEL BRENDEL É NOMEADO O NOVO CAPITÃO DA CENTRAL DE POLÍCIA DE MELMAR.

&&&

O noticiário do Canal Sete anunciou através de Caroline Lima: —Alan Xavier, um dos suspeitos, fará cerimônia religiosa como ação de

graças. Segundo ele, é uma forma de agradecimento a Deus. O culto será realizado amanhã…

&&&

Axel desta vez estacionou o carro em frente à casa amarela com jardim florido e grama viçosa que se localizava no meio do quarteirão da rua 12 do conjunto Orquídea. Eram 18:00 hs. Ele estava à paisana, mas bem vestido dentro de um terno azul-marinho. Como de costume bateu na porta e foi recebido por Sandra Evans. Ela usava uma sensual camisola de seda.

— Estava com saudades — disse ela à porta. — Entre. Ele fitou nos olhos da advogada por um momento antes de dizer: — Não vamos mais nos encontrar, Sandra. Passei aqui apenas para

lhe dizer isso. Acabou. Uma expressão de espanto se acendeu no rosto dela. — O quê? O que aconteceu? É assim… você me usa e depois me

joga fora? Axel estreitou os olhos. — Como assim? Deixei-me seduzir por você! A culpa foi de

ambos… — Não podemos terminar agora! Não depois de… — De você ter feito magia negra para acabar de vez com o meu

casamento? Eu já sei de tudo, Sandra. — cortou ele. Sandra Evans estremeceu. — Como… como você soube?

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— Isso não vem ao caso, Sandra. Adeus — ele virou as costas para ela, mas foi seguro pela manga do terno.

— Se você me deixar, Axel, eu vou contar tudo para sua mulher. Eu acabo com o seu casamento do mesmo jeito!

Axel suspirou e conscientizou-se ainda mais da idiotice que havia feito ao trair sua esposa. Ele fixou o olhar em Sandra, deu um passo para o lado e então apontou na direção do carro estacionado na frente da casa.

Sandra enxergou Tina no banco do passageiro olhando para os dois. Leonardo estava no banco de trás.

— Eu já contei tudo a ela, Sandra — disse Axel. — Minha esposa já me perdoou e nada que você venha a acrescentar para ela irá mudar o que ela sente por mim.

A advogada ficou sem palavras. — Estamos indo à Primeira Igreja Evangélica de Melmar. Quer vir

com a gente? Se quiser te levamos. Isso é idéia da Tina, ela… Sandra não deixou que Axel continuasse. Entrou mais que depressa

para a sala e bateu a porta se trancando dentro da casa.

&&& A Primeira Igreja Evangélica de Melmar estava repleta de pessoas.

Ilustres e não-ilustres aos olhos da sociedade. A imprensa encontrava-se em peso com suas câmeras e microfones para registrar aquele momento. O pregador da noite, como não poderia ser diferente, era Alan Xavier.

&&&

Alan estava no escritório do pastor Nilton Cross. Este o chamara rapidamente antes do culto começar.

— Chamei-lhe aqui no escritório por três motivos, Alan — confessou Nilton Cross sorridente.

— Pode dizer, pastor. O pastor pigarreou e sentou em sua poltrona atrás da escrivaninha.

Ofereceu uma cadeira para Alan e este se sentou também. O pastor começou.

— Bem… o primeiro motivo é que quero lhe agradecer por ter conseguido trazer tanta gente até nosso templo. Sinto que hoje vai haver muitas conversões, e também… — Nilton começou a rir do que ele próprio iria dizer em seguida. — uma boa oferta!

Alan não pode conter a risada e então falou:

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— Devo isto a Deus e às orações de todos vocês enquanto tudo acontecia. Pude sentir a intercessão dos irmãos sobre minha vida.

Nilton Cross retomou a palavra: — O segundo motivo era que uma pessoa queria muito vê-lo e

entregar-lhe uma coisa. Repentinamente a porta do escritório foi aberta e Tatiana Cross

conduziu Bete até Alan. — Bete? É você mesmo! — reconheceu ele emocionado. — Que bom

que veio mesmo para cá. Vejo que você está ótima! Bete estava bem vestida e alimentada. Em nada parecia com aquela

senhora que Alan encontrara algumas noites atrás. Lágrimas começaram a rolar dos olhos de todos dentro do escritório.

— Sr. Alan, obrigada por ter me enviado para cá. — falou Bete com voz trêmula pela emoção. — O senhor é realmente um homem bom e fiel a Deus. Aqui eu aprendi muito sobre fé e esperança em Cristo e nunca poderei lhe pagar por isso, mas… — ela estendeu a mão e Alan pode ver um papel enrolado e envolto numa fita vermelha. Ele o pegou nas mãos. Bete concluiu: — Aqui está um gesto de agradecimento. Um poema especialmente feito para você com todo o meu carinho.

Sem dizer uma só palavra, Alan puxou Bete contra seu corpo e abraçou-a calorosa e demoradamente.

Após isso Tatiane e Bete deixaram os homens a sós novamente. O pastor Nilton falou:

— E o terceiro motivo, meu irmão, é que estou me aposentando. — O quê, pastor? — assustou-se Alan. Ergueu-se da cadeira. — o

senhor não pode fazer isso! Essa igreja precisa de um pastor como o senhor. Uma pessoa íntegra, boa, fiel a Deus, amável e experiente…

— Calma, Alan — interrompeu Nilton. Fez um gesto para que o mais moço sentasse. Alan obedeceu. — Já tenho um outro pastor com essas mesmas características para o cargo. E o mais importante: Já tem a aprovação do Senhor.

Ainda um tanto contrariado Alan indagou: — E quando ele chega? — Hoje mesmo — disse o pastor. — Ah! Ia me esquecendo. Já até

mandei fazer uma pequena placa pra ele colocar aqui na escrivaninha pra quando eu tirar a minha.

Nilton Cross retirou uma pequena placa em madeira onde estava escrito “PASTOR NILTON CROSS” de cima da mesa, abriu a gaveta e jogou-a lá dentro. Levou a mão lá no fundo e trouxe uma nova placa,

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limpou-a e colocou na escrivaninha virada para si. Fitou-a por um momento e disse:

— É… ficou bom. O que acha? Virou-a para que Alan visse. Estava escrito: “PASTOR ALAN

XAVIER”. Alan abriu a boca, mas nada saiu dela. Piscou os olhos e levou a

mão ao queixo. Por fim perguntou: — O senhor está brincando, não é? — Eu até poderia brincar com outra coisa, meu filho, mas não com a

obra de Deus. Enquanto orávamos por você depois que Melina nos telefonou, o Senhor me deu a visão de que havia chegado sua ora de apascentar as ovelhas. Esta é a sua recompensa.

Alan sorriu. Era muita alegria para caber dentro de si. Ele se ergueu com um pulo e bradou: — ALELUIAAAA!!!

&&&

O culto de ações de graça começou com uma breve oração e depois com um grande momento de louvor com os músicos e adoradores locais. Depois de meia hora de pura festa a palavra foi dada ao pastor Nilton Cross. Este fez um breve comentário sobre a alegria que sentia por todas aquelas pessoas estarem ali presentes, principalmente o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Pediu para que todos se sentissem à vontade e abrissem o coração para Deus e Suas palavras que seriam transmitidas através do pregador daquela noite. Em seguida chamou a Alan para subir ao púlpito.

Houve um grande aplauso para o momento em que Alan segurou o microfone e falou que aquelas palmas eram para o Senhor.

Alan olhou as primeiras filas dos bancos da igreja. Pode ver que ali estavam Melina e seus filhos. Ao lado deles estavam Leonardo com seus pais Axel e Tina Brendel. Ele sorriu para cada um deles.

No banco logo atrás estavam Pablo e Caroline que certamente estava de férias, pois do contrário estaria por detrás de uma câmera do lado de fora da igreja. Alan sorriu para eles também. Em outro banco os olhos de Isadora Andrade cintilaram.

Foi naquele momento que Alan procurou dentre os demais bancos uma pessoa em especial. Vasculhou rápida, mas cautelosamente cada banco, mas ela não estava presente.

Deus, onde ele estará? Perguntou-se Alan. Traze-o até Tua presença. O culto decorreu de forma magnífica. A mensagem escolhida por

Alan foi tirada de Marcos 4:35-41, onde Jesus cessou a tempestade e fez o

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mar se acalmar. As palavras fluíram livremente, como o Senhor quisera. Alan falou que as tempestades que a vida certamente traria a cada um eram espantosamente pequenas em comparação à bonança que Jesus conseguia dar para cada pessoa que se chegasse a Ele e disse como os discípulos: “Mestre, ajuda-nos. Estamos para perecer”. Assim como Jesus fora no passado Ele ainda é hoje, por isso, quem estiver ao lado de Cristo não afundará jamais, mas caminhará com a cabeça erguida. De vitória em vitória.

Ao final da pregação Alan fez o apêlo. Várias vidas vieram à frente. Entre elas estavam Caroline e Levi. Uma oração foi feita para que o Senhor conduzisse aquelas vidas dali por diante e escrevesse seus nomes no Livro da Vida.

Muitos aplausos para o Senhor surgiram depois do amém. A alegria era sem igual.

— ESPEREM! — surgiu a voz masculina em alto som na entrada da igreja. —Alan Xavier!

Um silêncio inesperado. Todos os olhares se voltaram para as duas figuras de mãos dadas em pé à porta de entrada do templo.

— Carlos! Nicole! — exclamou Alan. Obrigado, Senhor! Tu és fiel, ele agradeceu. O casal adentrou o tempo sob o olhar de toda a multidão e da

imprensa. Os flashes espocaram registrando a imagem que certamente seria capa de jornal.

Carlos e Nicole caminharam até Alan, enquanto este correu ao encontro dos dois e os abraçou.

— Que bom que estão bem e que estão aqui! Só Deus sabe a aflição que eu estava sentido por não lhes ver enquanto pregava…

Nicole se pronunciou: — Se você soubesse o quanto Carlos falou de você não teria ficado

tão aflito. Carlos e Alan se entreolharam. Carlos sorriu de um jeito como Alan

nunca tinha visto antes. — Eu tinha que vir, pastor — disse Carlos. — tudo o que você falou

pra mim aconteceu no Quaid’s. Bastou apenas eu chamar por Deus e Ele me ouviu… a mim que… sou um nada.

— Era um nada, Carlos — consertou Alan. — Ele livrou-me da morte mais uma vez — Carlos respirou fundo.

— Eu não posso mais negar isso, não posso mais dar as costas para Deus… Por esse motivo estou aqui. Quero entregar a minha vida a Ele.

— Eu também — disse Nicole olhando para Carlos e sorrindo.

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Toda a congregação glorificou a Deus por aquelas duas almas. A festa então foi maior e completa. Uma nova oração foi realizada. Alan pediu para que o Senhor perdoasse os pecados daquele casal e que desse as forças que eles necessitassem para prosseguir sempre em frente. Por fim mais aplausos e brados de alegria foram dados.

Alan e Carlos se abraçaram pela primeira vez e o novo pastor disse ao novo filho de Deus com os olhos cheios de lágrimas:

— Estou tão feliz que não estou agüentando essa emoção dentro de mim, Carlos. Você é muito especial para Deus. Seja bem-vindo à família de Deus.

Carlos esboçou um enorme sorriso e concluiu: — Obrigado, pastor, mas tenho também que lhe agradecer por não

desistir de mim. Por estar a disposição de Deus e fazer sua vontade. Quem dera que houvesse mais pessoas como você. Muitas vidas seriam resgatadas do mundo das drogas e desilusões assim como eu vivi.

Alan sorriu e falou mansamente com os olhos lagrimejando. — Temos que orar, Carlos, e pedir para que mais servos se

coloquem nas mãos do Senhor para a obra, pois a ceara é enorme. — ele olhou para fora e observou cada câmera e repórter. Concluiu: — Só espero que aqueles que ouçam ou leiam nossa história aprenda algo sobre submissão ao Senhor e paixão pela alma do próximo.

— Eu também, pastor — disse Carlos abraçando Alan mais uma vez. — E eu também quero fazer assim… Falar desse Deus maravilhoso para muitas pessoas que necessitam dEle.

— Sei que uma nova história vai escrita na sua vida junto à Nicole, Carlos, e quem sabe o que lhe aguarda?

— Quem sabe, pastor? — Carlos deu de ombros e sorriu. — Quem sabe…

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O Autor

aasom A. Sousa nasceu no dia 7 de janeiro de 1978 na capital cearense,

Fortaleza. Aos 13 anos mudou-se para Belém do Pará e logo após para Ananindeua, no mesmo estado. Foi ali que se encontrou verdadeiramente com o Cristo Salvador e se interessou pela leitura depois de ler “Este Mundo Tenebroso II” de Frank E. Peretti. Daí então passou a escrever ficções evangélicas. Também se tornou compositor e cantor gospel.

Atualmente, Naasom A. Sousa está

casado com Ivone Sousa e mora em Paragominas, município à 300km da capital paraense. Seu e-mail para contato é [email protected] / [email protected] e seu site na rede é: www.letrassantas.hpg.com.br

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Outras Obras Publicadas:

“O Amor da Minha Vida” — Nova roupagem de sua novela romântica escrita em meados de 1996, e este também é seu primeiro trabalho integral distribuído pela Internet. “Do Deserto ao Oásis” — Novela que foi inspirada nas tantas dificuldades e tribulações que enfrentamos no dia-a-dia e que muitas vezes pensamos que vamos perecer. Porém, por mais que pensemos que estamos desamparados pelo Criador, Ele sempre tem um jeito de provar-nos o contrário. “Transformação” – Parte 1 (A Missão) — Ficção que retrata a obediência de um simples servo para com o seu Deus. Alan Xavier recebe um chamado de Deus para pregar a Palavra para Carlos Lacerda. Porém, Carlos é traficante de drogas. Os dois se envolvem num assassinato e são procurados pelo crime que não cometeram. “Transformação” – Parte 2 (Reencontos) — Segunda parte da ficção. Alan, Carlos e Nick Gradino (amigo de Carlos) tentam resgatar Nicole (noiva de Carlos), mas tudo sai errado. Alan reencontra antigos amigos, que faziam parte de uma terrível gangue e que agora são remidos e lavados pelo Sangue do Cordeiro.

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