View
213
Download
0
Embed Size (px)
Fisiologia Vegetal/IB/DCF/UFRuralRJ Transporte Transmembrana 1o semestre 2003
1
UFRRJ
INSTITUTO DE BIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE CINCIAS FISILGICAS
FISIOLOGIA VEGETAL - IB 311
TRANSPORTE TRANSMEMBRANA
1. Introduo
Todas as clulas metabolicamente ativas (procariticas e eucariticas), apesar de
possurem uma enorme diversidade funcional e anatmica, possuem estruturas semelhantes que as
delimitam fisicamente. Estes limites so feitos por uma membrana externa, chamada membrana
plasmtica ou plasmalema, responsvel pelo controle do trnsito de quaisquer substncias entre o
interior e o exterior celular, entre outras funes. Desta forma, as clulas conseguem atingir a
diferenciao bioqumica e estrutural atravs da compartimentalizao interna, dirigida pelas
membranas, formando um sistema metablico complexo e integrado. A compartimentalizao um
princpio funcional geral da organizao celular, servindo para ordenar e direcionar todos os
processos metablicos, evitando redundncia de funes e gastos metablicos desnecessrios.
Dentro da clula, as membranas do retculo endoplasmtico, aparelho de Golgi, mitocndrias e
outras organelas envoltas por membrana, mantm as diferenas caractersticas entre os contedos
de cada organela e o citosol. A presena do conjunto das enzimas do ciclo de Calvin e do ciclo dos
cidos tricarboxlicos (Ciclo de Krebs) nos cloroplastos e mitocndrias, respectivamente, so
exemplos de compartimentalizao.
Apesar das clulas procariticas e eucariticas serem limitadas externamente pela
plasmalema (alguns virus tambm possuem membrana), a clula eucaritica muito mais complexa
que a clula procaritica (e muito maior). A diferena fundamental entre os tipos celulares
procariticos e eucariticos, a existncia de numerosos sistemas de membranas e organelas
(limitadas por membranas) nas clulas eucariticas, muito semelhantes em todos os tipos celulares.
Todas as membranas biolgicas tm uma estrutura geral comum: um filme muito fino de lipdios e
Fisiologia Vegetal/IB/DCF/UFRuralRJ Transporte Transmembrana 1o semestre 2003
2
de protenas mantidas juntas principalmente por interaes no covalentes. Estas membranas
possuem uma tpica estrutura de trs camadas, sendo uma camada hidrofbica central e duas
camadas hidroflicas externas. Esta organizao permite uma permeabilidade seletiva,
caracterstica fundamental das membranas biolgicas, e propriedade funcional que permite a
regulao quantitativa, qualitativa e direcional do transporte de substncias atravs da plasmalema,
do tonoplasto e dos demais compartimentos intracelulares. Porm, devido diversidade de funes
especializadas dirigidas pelas membranas biolgicas, a permeabilidade seletiva no sua nica
funo na clula.
Alm da funo regulatria do movimento de substncias entre os lados das membranas
(transporte transmembrana), as membranas biolgicas so tambm stios de recepo e
traduo de sinais qumicos e fsicos do meio ambiente, e das condies metablicas internas do
organismo. Alm disso, as membranas abrigam enzimas, pigmentos e protenas responsveis por
processos biossintticos vitais como, por exemplo, as enzimas responsveis pela polimerizao
dos glicdios da parede celular, os pigmentos fotossintticos organizados em complexos protico
(antenas) e o sistema de protenas redox vinculadas ao fluxo de eltrons da fotossntese e da
respirao celular.
O modelo que melhor representa as propriedades fsico-qumicas e biolgicas das
membranas denominado Modelo do Mosaico Fluido. De acordo com este modelo, as
membranas so comparadas a uma soluo bidimensional na qual os lipdios e protenas tm um
considervel grau de liberdade para movimentao (Figura 1). As membranas celulares so portanto
estruturas dinmicas, fluidas, e a maior parte de suas molculas so capazes de mover-se no plano
da membrana. Todas as membranas celulares apresentam a mesma estrutura bsica que consiste em
uma bicamada lipdica contnua com cerca de 5nm de espessura, na qual esto embebidas
protenas, muitas das quais se estendem atravs da membrana lipdica, sobressaindo em ambos os
lados da membrana, denominadas protenas integrais da membrana. Outras protenas,
denominadas perifricas se projetam da bicamada lipdica para a superfcie interna ou externa das
membranas. Essa bicamada lipdica fornece a estrutura bsica da membrana e atua como uma
barreira relativamente impermevel passagem da maioria das molcula hidrossolveis. A enorme
diversidade funcional que as membranas celulares apresentam encontra-se associada diversidade
de suas protenas que podem ser estruturais, enzimas, receptores, transportadores, canais ou
bombas eletrognicas (Figura 1).
Fisiologia Vegetal/IB/DCF/UFRuralRJ Transporte Transmembrana 1o semestre 2003
3
Domnio lipdico gelatinososem a presena de
protenas
Domnio lipdico fluido comagregaes de protenas de
membrana
Bic
amad
a lip
dic
a
Exteriorcelular
Interior celular(citoplasma)
Protenas perifricasde membrana
Protena integral demembrana
Ramificaes de oligossacardeos deglicoprotenas
Protena ancoradana cadeia lipdica
Plano central dabicamada lipdica
Figura 1 - Representaco esquemtica de uma membrana biolgica - Modelo do Mosaico Fluido, com a dupla camada lipdica e incrustraes proticas (baseado em Buchanan et al., 2000).
A maioria dos lipdios que compem a membrana so fosfolipdios dos quais
predominam: fosfatidilcolina, esfingomielina, fosfatidilserina e fosfatidiletanolamina. Os fosfolipdios
so molculas anfipticas (possuem regies hidroflicas e regies hidrofbicas), com fosfato em
suas molculas. Nestas molculas, duas cadeias de cidos graxos esto ligadas ao glicerol formando
a poro hidrofbica, enquanto o grupo polar se liga cadeia de glicerol por uma ligao
fosfodister. Dependendo da molcula que se liga ao grupo fosfato teremos um determinado tipo de
fosfolipdios. Se for a base nitrogenada colina temos a fosfatidilcolina ou lecitina; se for serina,
fosfatidilserina e se for etanolamina, fosfatidiletanolamina. Os cidos graxos constituintes dos
fosfolipdios so cidos orgnicos, na sua maioria de cadeia longa (em geral com 14 a 24 C sempre
em nmero par) e podem apresentar a cadeia hidrocarbonada saturada ou insaturada. A cadeia
saturada do cido graxo possui apenas ligaes simples entre os carbonos. A cadeia insaturada
pode possuir uma ou mais ligaes duplas. A dupla ligao faz com que haja uma dobra na molcula
por conta dos ngulos que se formam entre os carbonos na dupla ligao (Figura 2).
Fisiologia Vegetal/IB/DCF/UFRuralRJ Transporte Transmembrana 1o semestre 2003
4
H3C
H3CH3C
N+
CCH
HC
HH
OP
OO
OC
HH
CCH
HH
OOC
H2C CH2
C
O
O
H2C
H2C
H2C
H2CH2C
H2C
H2C
CH2CH2CH2CH2CH2
CH2
CHH
H2CH2C
H2C
H2CH2C
HC
CH2CH2CH2CH2CH2
CH
CH2H2CH3C
CH2CH2
Colina
Fosfato
Glicerol
Insaturao(ligao dupla cis)
Grupo polar
Gru
po a
pola
r
Grupo carboxlico
Cadeia dehidrocarbonetos
Figura 2 - Representaco das molculas constituintes dos fosfolipdios e dos cidos graxos, com uma cadeia saturada e outra insaturada (monoinsatursada). Destaque para a insaturao.
2. Transporte de solutos atravs das membranas
Quando procuramos compreender o transporte de uma determinada substncia atravs
das membranas celulares temos que considerar, primeiramente, as propriedades fsico-qumicas das
molculas que sero transportadas, a saber:
polaridade e tamanho da molcula;
presena de cargas;
As membranas biolgicas so barreiras seletivas passagem de elementos qumicos
(ons e molculas sem carga eltrica), e possuem locais especficos (protenas especficas) para o
transporte de cada soluto. Entretanto, molculas apolares de pequeno dimetro (como O2) ou
molculas polares pequenas (como CO2 e H2O) podem atravessar as membranas celulares
livremente por difuso. A observao de que molculas hidrofbicas podiam se difundir facilmente
atravs da membrana plasmtica forneceu a primeira evidncia sobre a natureza lipdica da
membrana. Por outro lado, a maior parte das substncias que as clulas necessitam para manter seu
Fisiologia Vegetal/IB/DCF/UFRuralRJ Transporte Transmembrana 1o semestre 2003
5
metabolismo so polares (ex: glicose, frutose) ou carregadas eletricamente (ons). Para estas
molculas, a matriz lipdica da membrana representa uma barreira significativa.
Nas clulas, o transporte de molculas polares e de ons mediado por protenas
especializadas no transporte. Normalmente a protena transportadora especfica para determinado
on (ex: K+ ou Na+) ou molcula (ex: sacarose ou determinado aminocido), residindo a o carter
altamente seletivo das membranas celulares. A seletividade e acmulo de certas substncias dentro
ou fora das clulas ocorre atravs da ao de protenas (do tipo integrais) relativamente especficas
para determinado elemento on ou molcula. As protenas transportadoras podem ser agrupadas em
trs classes: canais, carreadores e bombas (Figura 3).
Canal
Carreadores
Alto
Gradiente eletroqum
ico
Energia
Difuso facilitada
Difusosimples
Transporte passivo Transporte ativoBaixo