36
Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS Texto original: Wikipédia, la enciclopedia libre. Setembro/2013 Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS Selo dos cavaleiros templários com dois membros da ordem montados em um só cavalo, símbolo de sua pobreza. A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (em latim, Pauperes Commilitones Christi Templique Salomonici), também chamada a Ordem do Templo (Ordre du Temple em francês) e cujos membros são comumente conhecidos como cavaleiros templários (templiers em francês), foi uma das mais famosas ordens cristãs da Idade Média. Manteve-se ativa durante quase dois séculos. Foi fundada em 1118 ou 1119 por nove cavaleiros franceses liderados por Hugo de Payens a partir da Primeira Cruzada. Seu propósito original era proteger a vida dos cristãos que peregrinavam a Jerusalém. A ordem foi reconhecida pelo patriarca latino de Jerusalém Garmond de Picquigny, que impôs como regra a dos canônicos agostinianos do Santo Sepulcro.

TRATADO DE TORDESILHAS - rl.art.br expedição militar culminou com a conquista de Jerusalém em 1099 e com ... que o editor pudesse ser sim o seu antecessor, ... de Troyes, durante

  • Upload
    vukhanh

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS

CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

Texto original: Wikipédia, la enciclopedia libre.

Setembro/2013

Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS

Selo dos cavaleiros templários com dois membros da ordem montados

em um só cavalo, símbolo de sua pobreza.

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de

Salomão (em latim, Pauperes Commilitones Christi Templique

Salomonici), também chamada a Ordem do Templo (Ordre du Temple

em francês) e cujos membros são comumente conhecidos como

cavaleiros templários (templiers em francês), foi uma das mais

famosas ordens cristãs da Idade Média. Manteve-se ativa durante

quase dois séculos. Foi fundada em 1118 ou 1119 por nove cavaleiros

franceses liderados por Hugo de Payens a partir da Primeira Cruzada.

Seu propósito original era proteger a vida dos cristãos que

peregrinavam a Jerusalém. A ordem foi reconhecida pelo patriarca

latino de Jerusalém Garmond de Picquigny, que impôs como regra a

dos canônicos agostinianos do Santo Sepulcro.

Garmond de Picquigny Hugo de Payens

Aprovada oficialmente pela Igreja católica em 1129, durante o

Concílio de Troyes (celebrado na catedral da mesma cidade), a

Ordem do Templo cresceu rapidamente em tamanho e poder. Os

cavaleiros templários usavam como distintivo um manto branco com

uma cruz vermelha desenhada nele. Militarmente, seus membros se

encontravam entre as unidades mais bem treinadas que participaram

das Cruzadas. Os membros não combatentes da ordem gerenciavam

uma complexa estrutura econômica dentro do mundo cristão. Criaram,

inclusive, novas técnicas financeiras que constituía uma forma primitiva

de um moderno banco atual. A ordem, além disso, edificou uma série

de fortificações por todo o mar Mediterrâneo e a Terra Santa.

O êxito dos templários se encontra estreitamente vinculado as

Cruzadas. A perda da Terra Santa ocasionou a perda dos apoios da

ordem. Além disso, os rumores gerados em torno da secreta cerimônia

de iniciação dos templários criaram uma grande desconfiança. Felipe

IV da França, consideravelmente endividado com a ordem, começou a

pressionar o papa Clemente V com o objetivo de que este tomasse

medidas contra seus integrantes. Em 1307, um grande número de

templários foi preso, induzidos a confessar sob tortura, e

posteriormente foram queimados na fogueira. Em 1312, Clemente V

cedeu às pressões de Felipe IV e dissolveu a ordem. Sua brusca

erradicação deu lugar a especulações e lendas que têm mantido vivo o

nome dos cavaleiros templários até nossos dias.

Felipe IV da França Papa Clemente V

Antecedentes

A cruz patada vermelha.

Após o controle das invasões muçulmanas e vikings, seja por via

militar, ou por assentamento, iniciou-se na Europa ocidental uma etapa

expansiva. Produziu-se um aumento da produção agrária intimamente

relacionado com o crescimento da população. Assim mesmo o comércio

experimentou um novo renascer.

A autoridade religiosa, matriz comum nessa região e única visível

nos séculos anteriores, conseguira introduzir, no conturbado mundo

medieval, ideias como a paz de Deus ou a trégua de Deus, que

dirigiam o ideal da cavalaria para a defesa dos fracos. Entretanto, não

recusavam o uso da força para a defesa da Igreja. “Já o pontífice João

VIII, no final do século IX, havia declarado que aqueles que

morressem no campo de batalha lutando contra os infiéis teriam seus

pecados perdoados. E mais, se equiparariam aos mártires mortos pela

fé”.

Existia pois um enraizado e exacerbado sentimento religioso que

se manifestava nas peregrinações aos lugares santos, comuns na

época. Roma, como lugar tradicional de peregrinação, foi

paulatinamente substituída, a princípios do século XI, por Santiago de

Compostela e Jerusalém. Estes novos destinos não estavam isentos

de perigos e obstáculos, como assaltantes ou altos tributos para os

senhores locais, porém o sentimento religioso, unido à esperança de

encontrar aventuras e fabulosas riquezas no Oriente, seduziu a muitos

peregrinos, que ao voltar a suas casas relatavam suas aventuras e

penúrias.

Manuscrito em pergaminho selado com nove voltas de fio de seda e lacre vermelho.

É visível o lema: "Sigillum Militum Xpisti" ("selo dos soldados de Cristo").

O pontífice Urbano II, com o intuito de assegurar sua posição à

frente da Igreja, continuou com as reformas de seu predecessor,

Gregório VII. A petição de ajuda realizada pelos bizantinos, junto com

a caída de Jerusalém em mãos turcas, propiciou que no Concílio de

Clermont (em novembro de 1095) Urbano II expusesse, ante uma

grande audiência, os perigos que ameaçavam os cristãos ocidentais e

aos vexames a que se viam submetidos os peregrinos que viajavam a

Jerusalém. A expedição militar proposta por Urbano II pretendia

também resgatar esta cidade das mãos dos muçulmanos.

Papa Urbano II Papa Gregório VII

As recompensas espirituais prometidas, somadas a ânsia de

riquezas, fizeram que príncipes e senhores respondessem prontamente

ao chamamento do pontífice. A Europa cristã se moveu com um

propósito comum sob o grito de “Deus o quer” ("Deus vult"), frase que

encabeçou o discurso do Concílio de Clermont, no qual Urbano II

convocou a Primeira Cruzada.

Tal expedição militar culminou com a conquista de Jerusalém em

1099 e com a formação de territórios latinos na zona: os condados de

Edesa e Trípoli, o principado de Antioquia e o reino de Jerusalém,

onde Balduino I não teve inconveniente em assumir, já em 1100, o

título de rei.

Coroação de Balduino I (da Histoire d'Outremer, século XIII).

História

Fundação e primeiros tempos

Balduino I de Jerusalém cede o Templo de Salomão a Hugo de Payens

e a Godofredo de Saint-Omer.

Apenas criado o reino de Jerusalém e eleito Balduino I como seu

segundo rei, depois da morte de seu irmão Godofredo de Bouillón,

alguns dos cavaleiros que participaram na Primeira Cruzada decidiram

ficar para defender os Lugares Santos e aos peregrinos cristãos que

viajavam a Terra Santa. Balduino I necessitava organizar o reino e

não podia dedicar muitos recursos à proteção dos caminhos, já que não

contava com efetivos suficientes para fazê-lo. Devido a isso, e ao fato

de que Hugo de Payens fosse parente do conde de Champanhe (e

provavelmente parente distante do mesmo Balduino), levou o rei a

conceder àqueles cavaleiros um lugar aonde pudesse repousar e

manter seus equipamentos, assim como a outorgar-lhes direitos e

privilégios, entre os quais um alojamento em seu próprio palácio, que

não era se não a mesquita de Al-Aqsa, localizado, no interior do que

uma vez tinha sido o local do Templo de Salomão. E, quando

Balduino abandonou a mesquita e seus arredores como palácio para

fixar o trono na Torre de David, todas as instalações passaram, na

verdade, aos templários, que desta maneira adquiriram não só seu

quartel general, se não seu nome.

Além disso, o rei Balduino se ocupou de escrever cartas aos reis

e príncipes mais importantes da Europa, que prestaram ajuda a recente

ordem, que havia sido bem recebida não só pelo poder político, se não

também pelo eclesiástico, já que forra o patriarca de Jerusalém a

primeira autoridade da Igreja que a aprovou canonicamente. Nove anos

depois da criação da ordem em Jerusalém, em 1129 se reuniu o

chamado Concílio de Troyes, que se encarregaria de redigir a regra

para a recém criada Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo.

Godofredo de Bouillón

O concílio foi encabeçado pelo enviado papal D'Albano, e este foi

assistido pelos bispos de Charters, Reims, Paris, Sens, Soissons,

Troyes, Orleans, Auxerre e demais casas eclesiásticas da França. Houve

também vários abades, como Santo Estevão Harding, mentor de São

Bernardo, o mesmo São Bernardo de Claraval e laicos como os condes

de Champanhe e de Nevers. Hugo de Payens expos perante a

assembleia as necessidades da ordem, que foram decididas, artigo por

artigo, até os mínimos detalhes, desde a forma de jejuar até a de

pentear o cabelo, passando pelos ritos, orações e inclusive armamento.

Santo Estevão Harding

Por tanto, a regra mais antiga de que se tem noticia é a que foi

redigida nesse concilio. Escrita quase seguramente em latim, estava

baseada, até certo ponto, nos hábitos e usos anteriores ao concilio. As

modificações principais vieram do fato de que até aquele momento os

templários estavam vivendo sob a Regra de Santo Agostinho, que no

concílio foi substituído pela Regra Cisterciense (a de São Benito,

porém modificada) e que professava São Bernardo.

A regra primitiva constava de uma ata oficial do concílio e de um

regulamento de 75 artigos, entre estes figuram alguns como:

Artigo X: Do comer carne na semana. Na semana, se não for o dia

de Páscoa, de Natal, da Ressurreição, da festa de Nossa

Senhora, ou de Todos os Santos, basta come-la três vezes, ou dias,

porque o costume de comê-la é entendido como corrupção dos corpos.

Se terça-feira for dia de jejum, na quarta-feira poderá ser consumida

com abundância. No domingo, aos cavaleiros, assim como aos

capelães, dê-lhes sem dúvida duas refeições, em honra da santa

Ressurreição; os demais serventes se contentem com um e deem

graças a Deus.

Uma vez redigida, as regras foram entregues ao patriarca latino de

Jerusalém Estevão de la Ferté, também chamado Estevão de

Charters, embora alguns autores estimassem que o editor pudesse ser

sim o seu antecessor, Garmond de Picquigny, quem a modificou

eliminando 12 artigos e introduzindo 24 novos, entre os quais se

encontrava a referência a que os cavaleiros somente vestissem o

manto branco e os sargentos um manto preto.

Patriarca Latino de Jerusalém

Após receber a regra básica, cinco dos nove integrantes da ordem

viajaram, sob o comando de Hugo de Payens, pela França primeiro, e

pelo resto da Europa depois, com o objetivo de recolher doações e

alistar cavaleiros em suas fileiras. Dirigiram-se inicialmente aos lugares

de onde vieram, com a certeza de que seriam aceitos e que teriam

assegurados grandes donativos. Nesse período conseguiram recrutar,

em pouco tempo, cerca de trezentos cavaleiros, sem contar escudeiros,

homens de armas e pajens.

Foi importante para a ordem a ajuda que na Europa lhes concedeu

o abade São Bernardo de Claraval, que, por seu parentesco e sua

proximidade com vários dos nove primeiros cavaleiros, se esforçou de

sobremaneira em divulga-la através de sua alta influência na Europa,

sobre tudo na Corte Papal. São Bernardo era sobrinho de André de

Montbard, quinto grão mestre da ordem, e primo, por parte de mãe,

de Hugo de Payens. Era também um crente convencido e homem de

grande caráter, de uma inteligência e uma independência admiradas

em muitas partes da França e na própria Santa Sé. Reformador da

Regra Beneditina, seus discursos com Pedro Abelardo, brilhante

mestre da época, foram muito conhecidos.

São Bernardo de Claraval André de Montbard

Desta maneira, era de se esperar que São Bernardo aconselhara

aos membros da ordem, uma regra rígida e que os fizera aplicá-la de

corpo e alma. Participou em sua redação em 1129, no Concilio de

Troyes, durante o qual introduziu numerosas emendas ao texto básico

que havia sido redigido pelo patriarca de Jerusalém Estevam de la

Ferté. Posteriormente ajudou novamente a Hugo de Payens na

redação de uma série de cartas nas quais defendia a Ordem do Templo

como o verdadeiro ideal da cavalaria e convidada as massas a unir-se a

ela.

Os privilégios da ordem foram confirmados pelas bulas Omne

Datum Optimum (1139), Milites Templi (1144) e Militia Dei

(1145). Nelas, de maneira resumida, se dava aos cavaleiros templários

uma autonomia formal e o real respeito dos bispos e os deixavam

unicamente subordinados a autoridade papal. Assim mesmo, eram

excluídos da jurisdição civil e eclesiástica, era permitido terem seus

próprios capelães e sacerdotes pertencentes à ordem e lhes foi

outorgado o poder de coletar bens e dinheiro de várias formas (por

exemplo, tinham direito de arrecadar esmolas — isto é, os donativos

que eram recolhidos nas igrejas — uma vez ao ano). Também, estas

bulas papais, lhes davam direito sobre as conquistas na Terra Santa e

lhes concediam atribuições para construir fortalezas e igrejas próprias,

o que lhes deu grande independência e poder.

Em 1167 (ou em 1187, segundo alguns estudiosos) se redigiram

os estatutos hierárquicos da ordem, uma espécie de regulamento

que detalhava artigos da regra e desdobrava aspetos necessários que

não haviam sido levados em conta pela regra primitiva (como a

hierarquia da ordem, a relação detalhada do vestuário, da vida no

convento, militar e religiosa ou deveres e privilégios dos irmãos

templários, por exemplo). Consta de mais de 600 artigos, divididos em

seções.

Durante sua permanência inicial em Jerusalém, se dedicaram

unicamente a escoltar os peregrinos que se dirigiam aos Lugares

Santos, e, já que pelo seu escasso número (nove) de membros, não

permitia que realizassem atuações de maior magnitude, se instalaram

no desfiladeiro de Athlit, de onde protegiam os passantes em torno de

Cesárea. Devemos levar em conta que eram apenas nove cavaleiros,

porém, seguindo os costumes da época, não se sabe exatamente

quantas pessoas faziam parte da ordem em principio, já que todos os

cavaleiros tinham um séquito menor ou maior. Imagina-se que por

cada cavaleiro havia que contar três ou quatro pessoas a mais, pelo

que estaríamos falando de umas trinta a cinquenta pessoas entre

cavaleiros, peões, escudeiros, serviçais, etc.

Porém, seu número aumentou de maneira significativa ao ser

aprovada a regra, e esse foi o inicio da grande expansão dos pauvres

chevaliers du temple. Até 1170, uns cinquenta anos depois de sua

fundação, os cavaleiros da Ordem do Templo se espalhavam por terras

das atuais nações da França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e

Portugal. Esta expansão territorial contribuiu ao enorme aumento de

sua riqueza, como a qual não havia outra em todos os reinos da

Europa.

Os templários tiveram uma destacada participação na Segunda

Cruzada, durante a qual protegeram o rei Luis VII da França logo

depois das derrotas que este sofreu dos turcos. Três grandes mestres

caíram presos em combate num período de 30 anos: Bertrand de

Blanchefort (1157), Eudes de Saint-Amand e Gerard de Ridefort

(1187).

Luis VII Bertrand de Blanchefort Brasão de Gerard de Ridefort

O princípio do fim

Mas as derrotas ante Saladino, sultão do Egito, os fizeram

retroceder. Assim, na batalha dos Chifres de Hattin, que teve lugar

em 4 de julho de 1187 na Terra Santa, ao oeste do mar da Galileia, no

desfiladeiro conhecido como Chifres de Hattin (Qurun-hattun), o

exercito cruzado, formado principalmente por contingentes templários e

hospitalários sob o comendo de Guy de Lusignan, rei de Jerusalém, e

de Reinaldo de Châtillon, se enfrentaram com as tropas de

Saladino. Este lhes infligiu uma grande derrota, na qual caiu

prisioneiro o grande mestre dos templários Gerard de Ridefort e

morreram muitos templários e hospitalários. Saladino tomou posse de

Jerusalém e terminou de um golpe com o reino que havia sido fundado

por Godofredo de Bouillón. Embora, a pressão da Terceira Cruzada e

as articulações de Ricardo I da Inglaterra (chamado Coração de Leão)

lograram um acordo com Saladino para converter Jerusalém em uma

espécie de cidade livre para a peregrinação.

Saladino Guy de Lusignan Godofredo de Bouillón

Batalha dos Chifres de Hattin, Rei Ricardo I

em 1187, momento decisivo das Cruzadas

Depois do desastre de Chifres de Hattin, as coisas foram de

mal a pior e, em 1244, Jerusalém caiu definitivamente, a qual havia

sido recuperada 16 anos antes pelo imperador Frederico II por meio

de pacto com o sultão Al-Kamil. Os templários se viram obrigados a

mudar seus quartéis para São João de Acre, junto à outra das grandes

ordens monástico-militares: os hospitalários e os teutônicos.

As cruzadas posteriores (isto é, a Quarta, a Quinta e a Sexta), nas

quais evidentemente se alistaram os templários, não tiveram

repercussões práticas na Terra Santa ou foram episódios insanos (como

a tomada de Bizâncio na Quarta Cruzada).

Frederico II Frederico II e Al-Kamil

Em 1248, Luis IX da França (depois conhecido como São Luis)

decide convocar a Sétima Cruzada, a qual liderou, porém o objetivo

desta não era a Terra Santa, mas sim o Egito. O erro tático do rei e as

pestes sofridas pelos exércitos cruzados conduziram a derrota de

Mansura e a um desastre posterior no qual o próprio Luis IX caio

prisioneiro. Foram os templários, tidos em alta estima por seus

inimigos, quem negociou a paz e emprestaram, ao monarca, a fabulosa

soma correspondente a seu resgate.

Luis IX da França

Em 1291 ocorreu a Caída de Acre, com os últimos templários

lutando junto de seu mestre, Guillaume de Beaujeu, o que constituiu

no fim da presença cruzada na Terra Santa, porém não o fim da ordem,

que mudou seu quartel general para Chipre, ilha de sua propriedade

comprada de Ricardo Coração de Leão, porém tiveram que devolve-

la ao rei inglês devido à rebelião dos habitantes.

Esta convivência de templários e soberanos em Chipre (da família

Lusignan) foi incômoda a tal ponto que a ordem participou da revolta

palaciana que destronou Henrique II de Chipre para entronizar seu

irmão Amalarico II. Este permitiu a sobrevivência da ordem na ilha

por vários anos depois de sua dissolução no restante da cristandade

(1310).

Henrique II de Chipre

Expulsão da Terra Santa

Os templários tentaram reconquistar pontos estratégicos para sua

nova investida no Oriente Médio, a partir de Chipre, sendo a única das

três grandes ordens de cavalheiros que tentou o feito, pois tanto os

hospitalários como os cavaleiros teutônicos dirigiram seus interesses a

diferentes lugares. A ilha de Arwad, perdida em setembro de 1302, foi

a última posessão dos templários na Terra Santa. Os chefes da

guarnição morreram (Barthélemy de Quincy e Hugo de Ampurias) ou

foram capturados (frei Dalmau de Rocabertí).

Este esforço se revelaria inútil, não tanto pela falta de meios ou de

vontade como pelo fato de que a mentalidade havia mudado e a

nenhum poder da Europa lhes interessava a conquista dos Lugares

Santos, com o que os templários se encontraram sozinhos.

História por territórios

Em Aragão

A ordem começou sua implantação na zona oriental da Península

Ibérica na década de 1130. Em 1131, o conde de Barcelona Ramón

Berenguer III pede sua entrada na ordem, e em 1134, o testamento

de Alfonso I de Aragão cede seu reino aos templários, junto a outras

ordens, como os hospitalários ou a do Santo Sepulcro. Este testamento

seria revogado, e os nobres aragoneses, descontentes, entregaram a

coroa a Ramiro II, embora tenham feitas numerosas concessões,

tanto de terras como de direitos comerciais as ordens, para que

renunciassem a mesma. Este rei buscava a união com Barcelona da

qual nasceria a Coroa de Aragão.

Ramón Berenguer III Alfonso I de Aragão Ramiro II de Aragão

Ramón Berenguer IV, conde de Barcelona e príncipe de Aragão

pronto chegaria a um acordo com os templários para que os mesmos

colaborassem na Reconquista de Gerona, em 1143, pela qual

receberam os castelos de Monzón, Mongay, Chalamera, Barberá,

Remolins e Corbins, junto com a Ordem militar de Belchite de Lope

Sanz, favorecendo-lhes com doações de terras, assim como com

direitos sobre as conquistas (um quinto das terras conquistadas, o

dizimo eclesiástico, entre outras). Também, segundo estas condições,

qualquer paz ou trégua teria que ser consentida pelos templários, e não

somente pelo rei.

Ramón Berenguer IV

Como em toda Europa, numerosas famílias que não podiam dar a

seu filho mais velho, um título de nobreza, buscavam cargos

eclesiásticos, militares, cortesãos ou em ordens religiosas,

enriquecendo assim a ordem.

Em 1148, pela colaboração nas conquistas ao sul, ao Patrimônio

da Casa de Aragão, os templários receberam terras em Tortosa e em

Lérida (onde ficaram em Gardeny e Corbins).

Depois da derrota de Muret, com a suposta perda do império

transpirineuco aragonês, os templários se converteram em guardiões

do herdeiro da coroa, no castelo de Monzón. Este, Jaime I o

Conquistador, contaria com apoio templário em suas campanhas em

Mallorca (onde receberiam um terço da cidade, assim como outras

concessões), e em Valência (onde de novo receberiam um terço da

cidade).

Jaime I de Aragão Pedro II de Aragão

Os templários se mantiveram fieis ao rei Pedro III de Aragão,

permanecendo a seu lado durante a excomunhão que sofreu devido sua

luta contra os angevinos da França, na Itália.

Finalmente os Templários se estabeleceram em Aragão graças a

absorção da Ordem do Santo Redentor, de Teruel, em 1196, que por

sua vez se havia beneficiado da dissolução da Ordem de Monte

Gaudio em 1188, fundada em Alfambra.

Em Castela e Leão

Os templários ajudaram o repovoamento de zonas conquistadas

pelos cristãos, criando assentamentos nos quais edificavam ermitas sob

a invocação de mártires cristãos, como é o caso de Hervás, população

do Senhorio de Béjar.

Dada a invasão dos Almohades, os templários lutaram no

exército cristão, vencendo junto aos exércitos de Alfonso VIII de

Castela, Sancho VII de Navarra e Pedro II de Aragão na batalha de

Las Navas de Tolosa (1212).

Alfonso VIII de Castela Sancho VII de Navarra

Em 1265, colaboraram na conquista de Murcia, que havia se

levantado em armas, recebendo em recompensa Jerez de los

Caballeros, Fregenal de la Sierra, e o castelo de Murcia e Caravaca.

Em Portugal

O castelo de Soure em Portugal O Castelo de Longroiva em Portugal

Os templários entram em Portugal nos tempos da condessa

Teresa de Leão, da qual recebem o castelo de Soure em 1127, em

troca da colaboração na Reconquista. Em 1145 recebem o castelo de

Longroiva por sua ajuda a Alfonso Henriques na tomada de

Santarém. Em 1147 recebem o castelo de Cera, próximo de Tomar,

que se converteria em sua sede regional. Os templários foram uma

ordem bem assentada em Portugal.

Condessa Teresa de Leão Rei Alfonso Henrique de Portugal

Coma a bula papal ordenando a dissolução, os reis portugueses

mudaram o nome da ordem em Portuga, para Ordem de Cristo,

embora com diferenças substanciais da Ordem do Templo original,

especialmente no que dizia respeito à regra, votos e forma de eleição

dos dirigentes.

Na Inglaterra, Escócia e Irlanda

Na Inglaterra, país muito unido à França, dado que na época o

rei inglês era na ocasião (entre outros títulos) Duque da Normandia e

senhor de numerosos feudos franceses, a Ordem se fez presente muito

rápido.

Embora sua presença não atingisse a extensão que possuía na

França, a mesma foi de vital importância, não só territorialmente, se

não politicamente. Na verdade, o rei Ricardo Coração de Leão

(Ricardo I da Inglaterra) foi um benfeitor da Ordem e um magnata

dela, tanto que sua escolta pessoal era composta por templários e que

em sua morte, o mesmo fora vestido com o hábito dos templários.

Tanto é assim, que os historiadores chegaram à conclusão de que

qualquer topônimo inglês, escocês ou irlandês que comece ou acabe em

"Temple" é, finalmente, uma antiga posessão dos templários.

Na Polônia

Os templários não estiveram ativos na Polônia até o século XIII,

quando o príncipe Henryk Brodaty cedeu propriedades aos templários

nas terras de Oławy (Oleśnica Mała) e Lietzen (Leśnica). Mais tarde

Władysław Odoniec lhes daria Myślibórz, Wielka Wieś, Chwarszczany

e Wałcz. O príncipe polaco Przemysł II lhes entregaria Czaplinek. A

Ordem chegaria a ter na Polônia pelo menos doze komandorie, que

segundo alguns historiadores poderia ter sido cinquenta. Apesar de sua

distância da Terra Santa e do Mediterrâneo, que era o centro da

Ordem, chegaram a ter entre cento e cinquenta e duzentos cavaleiros

na Polônia, de procedência majoritariamente germânica. O número de

cavaleiros polacos é difícil de ser estimado. Com a dissolução da

Ordem, a maioria deles passaram a Ordem dos Cavaleiros

Hospitalários ou a dos Cavaleiros Teutônicos.

Príncipe Henryk Brodaty Wladyslaw Odoniec Príncipe Przemysl II

Na Hungria

A presença dos templários na Hungria, assim como na maior

parte da Europa Oriental, foi devido à ânsia colonizadora dos monarcas

daquela região. Os cavaleiros do Templo nunca tiveram grandes

propriedades em solo húngaro, pois ali as ordens Teutônica e do

Hospital foram as mais favorecidas. Porém, contaram com o mínimo

de duas casas na Hungria central, uma em Esztergom e outra em

Egyházasfalu, além de um castelo em Léka. Na Croácia (na época,

parte do reino húngaro) tiveram várias fortalezas, como as de Vrana e

de Kliss, e foi esta a região aonde exerceram mais influência. Os

registros sobre a extinção da ordem sob o reinado de Carlos I da

Hungria são muito escassas, pelo que resulta difícil reconstruir o que

sucedeu. Depois da dissolução da ordem, as propriedades desta

passaram as mãos dos cavaleiros hospitalários, que também herdaram

o título de ispán de Dubica, ostentado até então pelo mestre

templário.

Rei Carlos I da Hungria

O fim da ordem

Ilustração de um manuscrito medieval no qual se acusa

os templários de sodomia.

O último grão mestre, Jacques de Molay, se negou a aceitar o

projeto de fusão das ordens militares sob um único rei solteiro ou viúvo

(Projeto Rex Bellator, dirigido pelo grão sábio Ramón Llull), apesar da

pressão papal. Em 6 de junho de 1306 foi chamado a Poitiers pelo papa

Clemente V para um último intento, cujo fracasso, selou o destino da

ordem. Felipe IV da França, ante as dividas que havia adquirido seu

país, entre outras coisas, pelo empréstimo que seu avô Luis IX

solicitou para pagar seu resgate, após ser capturado na Sétima

Cruzada, e seu desejo de um Estado forte, com o rei concentrando todo

o poder (que, entre outros obstáculos, devia superar o poder da Igreja

e as diversas ordens religiosas como a dos templários), convenceu (ou

melhor, intimidou) a Clemente V, fortemente ligado à França, de

instaurar um processo contra os templários acusando-os de sacrilégio a

cruz, heresia, sodomia e adoração a ídolos pagãos (foram acusados de

cuspirem sobre a cruz, renegar a Cristo através da prática de ritos

heréticos, de adorar a Baphomet e de ter contato homossexual, entre

outras coisas).

Neste trabalho contou com a inestimável ajuda de Guillermo de

Nogaret, chanceler do reino, famoso na história por haver sido o

estrategista do incidente de Anagni, no qual Giacomo Sciarra

Colonna havia esbofeteado o papa Bonifacio VIII, com o que o Sumo

Pontífice morreu de humilhação ao cabo de um mês; do Inquisidor

Geral da França, Guillermo Imberto, mais conhecido como Guillermo

de París; e de Eguerrand de Marigny, o qual ao final se apoderara do

tesouro da ordem e o administrará em nome do rei, até ser transferido

à ordem dos Hospitalários.

Jacques de Molay Guillermo de Nogaret Papa Bonifácio VIII

Giacomo Sciarra Colonna Eguerrand de Marigny

Parra isso se serviram das acusações de um tal Esquieu de

Floyran, espião das ordens tanto da Coroa da França como da Coroa

de Aragão.

Parece que Esquieu foi a Jaime II de Aragão com a história de

que um prisioneiro templário, com quem havia compartilhado uma cela,

havia lhe confessado os pecados da ordem. Jaime II não acreditou

nele e o dispensou "com pouca atenção"..., assim Esquieu se foi à

França para contar a história a Guillermo de Nogaret, que não tinha

mais vontade que a do Rei, e que, acreditando ou não acreditando no

mesmo, não perdeu a oportunidade de usá-lo como pedestal para

montar o dispositivo que, finalmente, levou a dissolução da ordem.

Rei Jaime II de Aragão

Felipe enviou correspondência a todos os lugares de seu reino

com ordens estritas de não ser abertas até um dia determinado, o

anterior a sexta-feira 13 de outubro de 1307, no que se poderia dizer

que fora uma operação conjunta simultânea em toda a França. Nesses

manuscritos se ordenava a detenção de todos os templários e a

requisição de seus bens.

Desta maneira, na França, Jacques de Molay, último grão mestre

da ordem, e cento e quarenta templários foram encarcerados e em

seguida submetidos a torturas, método pelo qual conseguiram que a

maioria dos acusados se declarassem culpados das acusações,

inventados ou não. Certo é que alguns efetuaram similares confissões

sem o uso da tortura, porém o fizeram por medo a ela; a ameaça fora

suficiente. Tal era o caso do grão mestre, Jacques de Molay, que logo

admitiu haver mentido para salvar a vida.

Além disso, esta mesma carta papal de 1308 chegou a vários

reinos europeus, incluindo o Reino da Hungria, onde o recém-coroado

Carlos I da Hungria, tinha outros problemas maiores, pois uma série

de altos nobres não reconhecia seu reinado e estava em constante

guerra contra eles. Em 1314 no concílio de Zagrab, o rei húngaro e o

alto clero decidiram finalmente a dissolução da província templária

húngara. Posteriormente se procedeu com o confisco de suas

propriedades na Hungria e na região de Eslavonia (localizada dentro do

reino húngaro nessa época), as quais passaram as mãos do rei

diretamente. Carlos I as deu posteriormente aos nobres e em sua

maioria à ordem Hospitalaria, assunto que se concretizou na década de

1340, pois o rei deixou expresso em um de seus documentos que

entregava momentaneamente as propriedades templárias (a um nobre)

enquanto se esclarecia a situação e o destino da ordem.

Levada a cabo sem a autorização do papa, o qual tinha as ordens

militares sob sua jurisdição imediata, esta investigação era

radicalmente corrupta em quanto a sua finalidade e a seus

procedimentos, pois os templários haviam de ser julgados com

respeito ao Direito canônico e não pela justiça ordinária. Esta

intervenção do poder temporal na esfera de pessoas que estavam

aforadas e submetidas por ele à jurisdição papal, não só originou de

Clemente V um enérgico protesto, se não que o Pontífice anulou o

julgamento integralmente e suspendeu os poderes dos bispos e seus

inquisidores. Não obstante, a acusação havia sido admitida e

permaneceria como a base irrevogável de todos os processo

subsequentes.

Felipe o Belo tirou vantagem do "desmascaramento", e se fez

outorgar pela Universidade de Paris o título de «campeão e defensor

da fé», e, nos Estados Gerais convocados em Tours soube por a

opinião pública contra os supostos crimes dos templários. Mais ainda,

conseguiu que se confirmassem, em frente ao papa, as confissões de

setenta e dois templários acusados, que haviam sido expressamente

eleitos e treinados de antemão. Em vista desta investigação realizada

em Poitiers (junho de 1308), o papa, que até então havia permanecido

cético, finalmente se mostrou interessado e abriu uma nova comissão,

cujo processo ele mesmo dirigiu. Reservou a causa da Ordem a

comissão papal, deixando o julgamento dos indivíduos em mãos das

comissões diocesanas, a qual devolveu seus poderes.

A comissão papal designada ao exame da causa da ordem havia

assumido seus deveres e reuniu a documentação que haveria de ser

submetida ao papa e ao concílio, convocado para decidir sobre o

destino final da ordem. A culpa das pessoas isoladas, que se avaliada

segundo o estabelecido, não envolvia a culpabilidade da ordem. Embora

a defesa da ordem fosse efetuada deficientemente, não se pode provar

que esta, como corpo, professava alguma doutrina herética ou que uma

regra secreta, distinta da regra oficial, fosse praticada. Em

consequência, no Concílio Geral de Viena, no Delfinado, em 16 de

outubro de 1311, a maioria fora favorável a manutenção da ordem,

porém o papa, indeciso e assediado pela coroa da França

principalmente, adotou uma solução salomônica: decretou a dissolução,

não a condenação, e não por sentença penal, se não por um decreto

apostólico (bula Vox clamantis de 22 de março de 1312).

O papa reservou, para seu próprio arbítrio, a causa do grão mestre

e de seus três primeiros dignitários. Eles haviam confessado sua culpa

e só faltava reconcilia-los com a Igreja uma vez que houvessem

atestado seu arrependimento com a solenidade acostumada. Para dar

mais publicidade a esta solenidade, defronte da catedral de Notre Dame

de Paris, foi erigida uma plataforma para a leitura da sentença, porém

no momento supremo, Molay recuperou sua corajem e proclamou a

inocência dos templários e a falsidade de suas próprias confissões. Em

reparação por este deplorável instante de debilidade, se declarou

disposto ao sacrifício de sua vida e foi aprisionado imediatamente como

herético reincidente, junto a outro dignatário que escolheu compartir

seu destino, e foi queimado junto a Geoffroy de Charnay atados a

uma estaca em frente às portas de Notre Dame na Île de France no dia

da Candelária (18 de março) de 1314.

Templários condenados à fogueira pela Inquisição

Nos outros países europeus, as acusações não foram tão severas,

e seus membros foram absolvidos, porém, a raiz da dissolução da

ordem, os templários foram dispersos. Seus bens foram repartidos

entre os diversos estados e a ordem dos Hospitalários: na Península

Ibérica passaram para a coroa de Aragão, a Castela no centro e norte,

a Portugal no oeste e aos Hospitalários. Tanto em Aragão como em

Castela surgiram várias ordens militares, como a ordem dos Frates de

Cáceres, Santiago, Montesa, Calatrava ou Álcantara, as que se

concedeu a custódia dos bens requisitados. Em Portugal, o rei D. Dinis

os restitui em 1317 como "Militia Christi" ou Cavaleiros de Cristo,

assegurando assim os pertences (por exemplo, o castelo de Tomar) da

ordem neste país. Na Polônia, os Hospitalários receberam a totalidade

das possessões dos Templários.

Rei D. Dinis de Portugal

Atualmente se encontram nos arquivos do vaticano o

pergaminho de Chinon, que contem a absolvição do papa Clemente

V aos Templários. Este documento tem uma grande importância

histórica, pois demonstra a vacilação do papa. Nunca foi oficial e

aparece com data anterior as Bulas Vox in excelso, Ad providam e

Considerantes, onde se procedeu a dissolução da Ordem e a

distribuição de seus bens. Assim, segundo o texto da Vox in excelso:

"Nos suprimimos (...) a Ordem dos templários, e sua regra, hábito e

nome, mediante um decreto inviolável e perpetuo, e proibimos

inteiramente que qualquer um de Nos entre na Ordem ou receba ou

use seu hábito ou pense em comportar-se como um templário. Se

alguém atuar neste sentido, incorra automaticamente em

excomunhão". Em concreto, o Manuscrito de Chinon está datado de

agosto de 1308. Nesta mesma data (agosto de 1308), o papa emite a

bula Facians Misericordiam, onde confirma a devolução da jurisdição

aos inquisidores e emite o documento de acusação aos templários, com

87 artigos de acusação. Assim também, emite a bula Regnans in

coelis, pela qual convoca o Concilio de Viena. Por tanto, estas duas

bulas, que se foram promulgadas oficialmente, tinham validade desde o

ponto de vista canônico, enquanto que o documento de Chinon é um

mero "borrador" de grande importância histórica, porém escassa

importância jurídica.

Processos contra os Templários

Na quinta-feira, 25 de outubro de 2007, os responsáveis do

Arquivo do Vaticano publicaram o documento Processos contra

Templários, que recopia o Pergaminho de Chinon, ou as atas da

exclusão da Ordem do Templo, do Vaticano, precisamente o ano em

que se comemorava o 700º aniversário do inicio da perseguição contra

a Ordem.

O ato teve lugar na Sala Vecchia do Sínodo, no Vaticano, com a

presença de Raffaele Farina, arquivista bibliotecário da Santa Igreja

Romana; Sergio Pagano, prefeito do Arquivo Secreto do Vaticano;

Bárbara Frale, descobridora do pergaminho e oficial do arquivo;

Marco Maiorino, oficial do arquivo; Franco Cardini, medievalista, e

Valério Massimo Manfredi, arqueólogo e escritor.

Raffaele Farina Sergio Pagano

Os documentos que serviram ao Tribunal papal para decidir a

sorte dos templários se encontram no Arquivo Secreto do Vaticano, e

estavam perdidos desde o século XVI, depois que um arquivista os

guardou em um local errado. Em 2001, a investigadora italiana

Bárbara Frale os encontrou e seu estudo mostrou que o Papa

Clemente V não queria, em principio, condenar os templários, embora

finalmente, cedendo as pressões do rei da França, Felipe IV,

terminaria aprovando.

O "Pergaminho de Chinon", um dos documentos do volume

Processos contra Templários apresentado pelo Vaticano, corrige a

lenda negra sobre a Ordem e mostra que todas as acusações foram

injurias que fez o Papa Clemente V para benefício próprio. Apesar dele,

o "Pergaminho de Chinon" ser anterior a data das bulas papais de

dissolução dos templários, na verdade, isso foi como uma expressão da

consciência pessoal do Papa. Em troca, a postura oficial da Igreja é a

da dissolução da Ordem. De fato, o documento de Chinon data de

agosto de 1308. Nesse mesmo mês de agosto de 1308, o Papa

promulga a bula Facians Misericordiam, pela qual se devolvia os

inquisidores de sua jurisdição. Na segunda sessão do Concilio de Viena,

em 3 de abril de 1312, se aprovou a Bula Vox in Excelso, emitida pelo

próprio Papa Clemente V em 22 de março de 1312, confirmada pela

Bula Ad Providam de 2 de maio de 1312. Em ambas se declara a

dissolução definitiva da Ordem.

Processos contra Templários estabelecem que:

1. O Papa Clemente V não estava convencido da culpabilidade da

Ordem do Templo.

2. A Ordem do Templo, seu Grande Mestre Jacques de Molay e o

resto dos templários presos, muitos deles condenados

posteriormente, foram absolvidos pelo Santo Padre logo de serem

condenados ou queimados vivos.

3. A Ordem nunca foi condenada, se não dissolvida, fixando a pena

de excomunhão a quem quisesse reorganiza-la.

4. O Papa Clemente V não acreditava nas acusações de heresia e por

ele permitia aos templários condenados receber os Sacramentos,

apesar do qual, foram condenados na forma em que a jurisdição

canônica estabelecia para os hereges relapsos (aqueles que depois

de confessar, recuavam atrás de suas confissões).

5. Clemente V negou as acusações de traição, heresia e sodomia com

as que o Rei da França acusou aos templários, não obstante,

convocou o Concilio de Viena para confirmar ditas acusações.

6. O processo e martírio dos templários foi um “sacrifício” para evitar

um cisma na Igreja Católica, que não compartilhava, em sua

grande parte, as acusações do Rei da França, e muito

especialmente da Igreja francesa.

7. As acusações foram falsas e as confissões conseguidas sob

tortura.

A vista dos documentos históricos cabe resumir que, ainda que o

Papa Clemente V tentara em seu foro interno evitar a condenação dos

templários, sua debilidade frente a Felipe IV da França fez com que

continuasse com o processo de dissolução da Ordem. Este processo de

dissolução acabou em 1312. Apresentamos nesse ponto o que a bula

Ad Providam, que não foi no dia de hoje, revogada, diz a respeito:

"... Faz pouco, Nos, suprimimos definitivamente e perpetuamente a

Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém devido a causa dos

abomináveis, mesmo impronunciáveis, atos de seu Mestre, irmãos e

outras pessoas da Ordem em todas as partes do mundo... Com a

aprovação do sacro concilio, Nos, abolimos a constituição da Ordem,

seu hábito e nome, não sem amargura no coração. Nos, fizemos isto

não mediante sentença definitiva, pois isto seria ilegal em

conformidade com as inquisições e processos seguidos, se não

mediante ordem ou provisão apostólica."

Fragmento da bula Ad Providam

Economia da Ordem

Cem anos mais tarde de sua fundação oficial, até 1220, era a

maior organização do Ocidente, em todos os sentidos (desde militar até

econômico), com mais de 9.000 parcelas dispersas por toda a Europa,

uns 30.000 cavaleiros e sargentos (mais os servos, escudeiros,

artesãos, camponeses, etc.), mais de 50 castelos e fortalezas na

Europa e Oriente Próximo, uma frota própria ancorada em portos

próprios no Mediterrâneo (Marselha) e em La Rochelle (na costa

atlântica da França).

Todo este poder econômico se articulava em torno de duas

instituições características dos templários: a parcela e a bancária.

O banco

Um dos aspectos em que a ordem se destacou, de uma maneira

extremamente rápida e marcante, foi a hora de afiançar todo um

sistema socioeconômico sem precedentes na história. A dura tarefa de

ter uma frente em ultramar os fez prover-se de uma incrível frota, uma

rede de comércio fixa e estabelecida, assim como de um bom número

de possessões na Europa, para manter em pé um fluxo de dinheiro

constante que permitiria subsistir ao exército defensor na Terra Santa.

Na hora de dar donativos, as pessoas o faziam de bom grado; uns

interessados em ganhar o céu; outros, pelo fato de se dar bem com a

Ordem. Desta maneira a mesma recebia posses, bens imóvel, parcelas,

terras, títulos, direitos, porcentagens em bens, e inclusive povoados e

vilas inteiras com os direitos e deveres que sobre elas caiam. Muitos

nobres europeus confiaram neles como guardiães de suas riquezas e

inclusive muitos templários foram usados como tesoureiros reais, como

no caso do reino de França, que dispunha de tesoureiros templários

que tinham a obrigação de participarem das reuniões do palácio nas

quais se discutiria o uso do tesouro.

Para manter um fluxo constante de dinheiro, a Ordem tinha que

ter garantias de que o capital não fosse usurpado ou roubado nas

longas viagens. Com este fim se estabeleceu, na França, uma série de

redes de comércio dispersas por praticamente toda a região francesa e

que não se distanciavam, umas das outras de mais que um dia de

viaje. Com esta ideia se assegurava de que os comerciantes dormiriam

sempre em baixo de um teto e assim poder garantir sempre a

segurança de seus caminhos.

Não só souberam criar todo um sistema de mercado, se não que

se converteram nos primeiros banqueiros desde a caída de Roma. E o

fizeram sabendo da escassez de moedas nas viagens pela Europa.

Ofereciam em seus tratos juros muito menores que os oferecidos pelos

mercadores judeus. Assim, criaram livros de contas, a contabilidade

moderna, as notas e inclusive a primeira letra de câmbio. Nesta

época pesava muito a ideia de transportar dinheiro em metal pelos

caminhos, e a Ordem dispunha de documentos com crédito para

poder trocar uma quantidade, anteriormente entregue em qualquer

outro posto da Ordem. Só precisava de assinatura ou, quando aplicável,

o selo.

A “encomenda”

A encomenda era um bem imóvel, territorial, localizado em

determinado lugar, que se formava graças a doações e compras

posteriores, e que era comandada por um Preceptor. Assim, a partir

de um moinho (por exemplo) os templários compravam o bosque

adjacente, logo umas terras para plantio, depois adquiriam os direitos

sobre um povoado, etc., e com tudo isso formavam uma encomenda,

a maneira de um feudo clássico. Também podiam formar-se

encomendas reunindo, sob um único preceptor, várias doações mais

ou menos dispersas. Temos notícia de encomendas rurais (Mason

Dieu, na Inglaterra, por exemplo) e urbanas (o "Vieux Temple",

recinto murado em plena capital francesa).

Aos pouco, sua rede de encomendas derivou para uma série de

redes de comércio a grande escala, desde a Inglaterra até Jerusalém,

que ajudada por uma potente frota de barcos no Mediterrâneo,

conseguiu fazer concorrência aos mercadores italianos (sobre tudo, de

Genova e Veneza). As pessoas confiavam na Ordem, sabiam que seus

donativos e seus negócios estavam assegurados e por ele não deixaram

nunca de ter clientela. Chegaram até o ponto de fazerem empréstimos

aos reis da França e Inglaterra.

Comerciantes de relíquias

Os templários tiveram um de seus mais lucrativos negócios na

comercialização de relíquias. Os templários distribuíam o óleo do

milagre de Saidnaya, um santuário a 30 km de Damasco a cuja

Virgem se atribuía o milagre de exudar um líquido oleoso. Os

templários o engarrafavam em pequenos frascos e o distribuíam no

Ocidente. Parece também que comercializavam numerosos fragmentos

do Lignum Crucis, a Santa Cruz na qual se dizia que havia estado

crucificado Jesus Cristo e que diziam ter sido encontrada por eles.

Embora, suas operações econômicas sempre tiveram como meta

dotar a Ordem de fundos suficientes como para manter, na Terra

Santa, um exército em pé de guerra constante. E por isso o lema da

Ordem:

Non nobis, Domine, non nobis,

sed Nomini Tuo da gloriam

Não a nós, Senhor, não a nós

se não a Teu Nome de Glória.

Templários na atualidade

Cavaleiro templário talhado no tronco de uma árvore em

Priaranza del Bierzo (Leão).

Devido ao mistério com que foi rodeada a história da Ordem do

Templo, após a sua dissolução foram aparecendo autoproclamados

sucessores da mesma.

A princípios de 1981, a Santa Sé tomou o trabalho de confeccionar

uma lista de organizações que se declaravam sucessoras dos

templários e encontrou mais de quatrocentas.

Certo de que a imensa maioria delas não é se não grupos de

aproveitadores com outros fins, com práticas que bordejam o limite do

lícito, e, algumas outras, com um claro comportamento sectário (como

a famosa seita Ordem do Templo Solar).

Algumas associações desta lista, entretanto, dedicam seu trabalho

a fins altruístas (os Cavaleiros da Aliança Templária, por exemplo) ou a

fins menos práticos, porém inócuos (a Ordem dos Cavaleiros do Templo

e da Virgem Maria e sua dedicação a alquimia) ou algumas

"Irmandades ou Maestrazgos", que em definitivo não são de linhagem

templário, se não mais de projetos pessoais.

Algumas correntes maçônicas também dizem descender dos

templários, como o Rito Maçônico Templário e a Estrita Observação

Templária do Barão d'Hund, e alguns ritos maçônicos tem graus

relacionados com os templários. Na verdade, Andrew Mitchell

Ramsay, considerado o pai da maçonaria escocesa, como a

conhecemos hoje em dia, em seu "Discurso" afirmaria sem

circunlóquios que os cruzados haviam fundado a maçonaria na Terra

Santa, e que dita maçonaria não era se não a Ordem do Templo.

Assim, a famosa Capela de Rosslyn seria atribuída aos templários,

dando inicio as lendas nas quais se diz que esconderam em sua

ornamentação as chaves de seu suposto saber e do lugar de seu

tesouro.

Capela de Rosslyn - Escócia

Porém nenhuma das organizações existentes hoje em dia podem

provar sua efetiva e legal descendência da Ordem fundada por Hugo

de Payens e seus Pobres Cavaleiros de Cristo.

Para terminar, foi o imortal Dante em sua magna obra La Divina

Comédia, no «Livro do Paraíso», Capítulo XXX, versos 127-129, quem

deu a última notícia real dos Templários:

"Como al que quiere hablar y no halla acento me llevó Beatriz y dijo:

Mira de estolas blancas este gran convento"

Templários notáveis

Os nove fundadores

1. Hugo de Payens

2. Godofredo de Saint-Omer

3. Godofredo de Bisol

4. Payen de Montdidier

5. André de Montbard

6. Arcimbaldo de Saint-Amand

7. Hugo Rigaud

8. Gondemaro

9. Arnoldo

Grandes mestres da ordem

Jacques de Molay, o último grande mestre da ordem.

1. Hugo de Payens (1118-1136)

2. Robert de Craon (1136-1146)

3. Evrard des Barrès (1147-1151)

4. Bernard de Tremelay (1151-1153)

5. André de Montbard (1154-1156)

6. Bertrand de Blanchefort (1156-1169)

7. Philippe de Milly (1169-1171)

8. Eudes de Saint-Amand (1171-1179)

9. Arnaud de Torroja (1180-1184)

10. Gérard de Ridefort (1185-1189)

11. Robert de Sablé (1191-1193)

12. Gilbert Hérail (1193-1200)

13. Phillipe de Plaissis (1201-1208)

14. Guillaume de Chartres (1209-1219)

15. Pedro de Montaigú (1219-1230)

16. Armand de Périgord (1232-1244)

17. Richard de Bures (1245-1247)

18. Guillaume de Sonnac (1247-1250)

19. Renaud de Vichiers (1250-1256)

20. Thomas Bérard (1256-1273)

21. Guillaume de Beaujeu (1273-1291)

22. Thibaud Gaudin (1291-1292)

23. Jacques de Molay (1292-1314)

Templários na literatura

Na novela El Señor de Bembibre, de Enrique Gil e Carrasco,

recorre-se a história, usos e costumes dos templários.

Um dos personagens do livro O pêndulo de Foucault, de Umberto

Eco, chamado Casaubon, prepara sua tese de doutorado sobre os

templários.

Iacobus de Matilde Asensi.

A trilogia O cavaleiro templário de Jan Guillou, cujo protagonista é

Arn Magnusson.

A Irmandade do Santo Sudário de Julia Navarro.

A sombra do templário de Núria Masot.

1305: Corvos e Espadas de Mark Schindler.

O Último Templário de Edward Burman.

A salvação dos Templários de Raymond Khoury

A Catedral de César Mallorquí.

O Templário de Paul Doherty.

O fim dos templários de Andreas Beck

A Ordem do Templo de Raymond Khoury (2006)

O cavaleiro do templo de José Luis Corral (2006)

Também se fala dos templários nas novelas O código Da Vinci de

Dan Brown, O enigma sagrado e A lápide templária, do novelista

Nicholas Wilcox (pseudônimo do escritor espanhol Juan Eslava Galán).

Bibliografia

Barber, M. 1993. The Trial of the Templars. Cambridge. Canto Edition. (Barber, Malcolm (1999). El juicio de los templarios. Editorial Complutense. ISBN 978-84-89784-76-5.)

Bordonave, G. 1975. La vie quotidienne des Templiers au XIIIe Siècle. París. Librarie Hachette. Hay Traducción al Castellano. De la serie "La vida cotidiana". ISBN 978-84-7880-751-2

Burman, E. 1986. The Templars. Knights of God. Crucible. ISBN 0-89281-221-4 Claraval, B.de. 1994. Elogio de la Nueva Milicia Templaria. Madrid. Ediciones Siruela. ISBN

84-7844-867-5 Domínguez, J., Ferrer, R., & Montesinos, J.(editores). 2004. Palacio del Temple. Real y Sacro

Convento de Nuestra Señora de Montesa y Santa María del Temple, Ministerio de

Administraciones Públicas, Universitat de València, Universidad Politécnica, CAM, Televisión Española. Libro + CD interactivo + Audiovisual. Carece de ISBN.

Duby, G. 1997. Guillermo el Mariscal. Madrid. Alianza Editorial, colección El Libro de Bolsillo. ISBN 978-84-20-63502-2

Garrido, L. 2003. 1001 preguntas y respuestas sobre los templarios. Ediciones Libro Hobby. ISBN 978-84-9736-469-0

Gobry, I. 1995. Le procès des Templiers. París. Perrin. ISBN 2-262-00041-7 Lamy, M. 1999. La otra historia de los templarios. Editorial: MR 1999. Título original: Les

Templiers. ISBN 978-84-270-3110-4 Martínez Díez, G. 1993. Los Templarios en la Corona de Castilla. Burgos. Editorial La Olmeda. Mestre Godes, J. 1999. Los Templarios. Trd. de Antoni Cardona. Círculo de Lectores. ISBN

978-84-226-8153-6 Partner, P. 1987. El asesinato de los magos: los templarios y su mito. Barcelona. Martínez

Roca. ISBN 978-84-270-1164-9 Pascual, F. 2007. “Los templarios, más allá de la leyenda” (Revista Ecclesia 21, pp. 91-106) Pascual Martínez, L. 1981. "Los Templarios en el Reino de Murcia". Artículo en el Anuario de

Estudios Medievales, nº 11. Barcelona. Reznikov, R. 1991. Cathares et Templiers. Porte-sur-Garonne. Editions Loubatières. ISBN

978-2-86266-158-2 Robinson, J. 1994. Mazmorra, hoguera y espada. Editorial Planeta, título original: Dungeon,

Fire and Sword. ISBN 978-84-08-01150-7 Runciman, S. 1985. Historia de las Cruzadas. Madrid. Alianza Editorial, colección Alianza

Universidad. ISBN 978-84-206-2059-6 (Vol. I) e ISBN 978-84-206-2060-2 (Vol. II) Upton-Ward, J.M. 2000. El Código Templario. Barcelona, Ediciones Martínez-Roca. ISBN 978-

84-270-2593-9 Walker, M. 1973. Historia de los Templarios. Barcelona. Edicomunicación. ISBN 978-84-7672-

503-0