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1
Tratamento de Lixiviados de Aterros Sanitários
de Resíduos Sólidos Urbanos em Portugal
Tiago Jorge Sousa da Costa
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Orientador: Professora Filipa Maria Santos Ferreira
Júri
Presidente: Professor António Alexandre Trigo Teixeira
Orientador: Professora Filipa Maria Santos Ferreira
Vogal: Professor João Torres de Quinhones Levy
Outubro de 2015
3
Eu também quero o regresso
à natureza,
mas esse regresso não significa
ir para trás, e sim
para a frente
(Friedrich Nietzsche)
i
RESUMO
A presente dissertação de mestrado tem início com uma breve contextualização histórica e legal
da evolução da gestão dos resíduos sólidos urbanos em Portugal, com destaque para a problemática
associada aos lixiviados. Procede-se seguidamente à caracterização das águas lixiviantes, focando os
elementos que influenciam a produção e a composição do lixiviado, com enfase para os potenciais
impactes negativos que traz ao meio ambiente. A solução para a problemática tem início com a
introdução dos processos de tratamento que melhores resultados têm apresentado no tratamento
dos lixiviados, definindo critérios de dimensionamento, condições de operação e as vantagens e
desvantagens associadas à sua aplicação.
O confronto com a realidade nacional, no que concerne à opções de tratamento, surge através de
um contato direto com as entidades gestoras dos sistemas multimunicipais e dos sistemas
intermunicipais, obtendo informações sobre os atuais processos de tratamento aplicados em
Portugal. É realizada a descrição dos sistemas de tratamento através da definição de diagramas
lineares simplificados, com a respetiva explanação das etapas de tratamento. Efetua-se também a
caracterização do lixiviado afluente a cada estação de tratamento, e determinam-se as eficiências
globais das linhas de tratamento.
Para finalizar, apresenta-se um caso de estudo com o intuito de consolidar os temas abordados ao
longo desta dissertação de mestrado, no qual se procede a um pré-dimensionamento de âmbito
académico, da estação de tratamento de águas lixiviantes do aterro sanitário da Meia Serra, fazendo
uma análise comparativa com a solução existente.
Palavras-chave: lixiviado, poluentes, tratamento, eficiência.
iii
ABSTRACT
The present master thesis begins with a brief historical and legal context of the evolution of
management of municipal solid waste in Portugal, highlighting the problems associated with leachate
production. Then, it is accomplished the characterization of the leachate, centering on the elements
that influence the production and leachate composition, with emphasis to the potential negative
impacts that it brings to the environment. The solution to the problem begins with the introduction
of the treatment processes that better results have presented in the treatment of the leachate,
setting criteria for design, operating conditions and the advantages and disadvantages associated
with their application.
The confrontation with the national reality, with regard to treatment options, comes through
direct contact with the managing entities of multimunicipal and intermunicipal systems, obtaining
information on current treatment processes applied in Portugal. It is realized the description of
leachate treatment systems by defining the linear simplified diagrams, with the respective
explanation of the treatment steps. The leachate, which flows to each treatment plant, it’s also
characterized, and the overall efficiency of the treatment lines it’s determined.
To finalize, it’s presented a case of study that allows to consolidate the topics covered throughout
this master thesis. In this case of study is realized a preliminary design of the leachate treatment
plant installed in Meia Serra, doing the respective comparative analysis with the existing solution.
Keywords: leachate, pollutants, treatment, efficiency.
v
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................1
1.1 Enquadramento...................................................................................................................1
1.2 Objetivos .............................................................................................................................1
1.3 Organização.........................................................................................................................1
2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E LEGAL ......................................................................................3
3 CARACTERIZAÇÃO DO LIXIVIADO .................................................................................................7
3.1 Considerações iniciais ..........................................................................................................7
3.2 Produção .............................................................................................................................7
3.3 Composição ....................................................................................................................... 10
4 PROCESSOS DE TRATAMENTO DO LIXIVIADO............................................................................. 19
4.1 Considerações iniciais ........................................................................................................ 19
4.2 Lagoas de regularização ..................................................................................................... 20
4.3 Processos de tratamento biológicos................................................................................... 21
4.3.1 Considerações iniciais ................................................................................................ 21
4.3.2 Lagoa arejada ............................................................................................................ 24
4.3.3 Lamas ativadas........................................................................................................... 27
4.3.4 Lagoa e digestor anaeróbio ........................................................................................ 30
4.4 Processos físico-químicos .................................................................................................. 33
4.4.1 Considerações iniciais ................................................................................................ 33
4.4.2 Coagulação/floculação ............................................................................................... 33
4.4.3 Oxidação química....................................................................................................... 35
4.4.4 Air stripping ............................................................................................................... 38
4.4.5 Membranas ............................................................................................................... 40
4.4.6 Carvão ativado ........................................................................................................... 45
4.4.7 Filtração ..................................................................................................................... 47
5 SISTEMAS DE TRATAMENTO ADOTADOS EM PORTUGAL ........................................................... 49
5.1 Considerações iniciais ........................................................................................................ 49
5.2 Sistemas multimunicipais .................................................................................................. 51
5.2.1 ALGAR........................................................................................................................ 51
5.2.2 AMARSUL .................................................................................................................. 52
5.2.3 BRAVAL ...................................................................................................................... 53
5.2.4 ERSUC ........................................................................................................................ 54
5.2.5 RESIESTRELA .............................................................................................................. 56
5.2.6 RESINORTE ................................................................................................................. 56
5.2.7 RESULIMA .................................................................................................................. 57
5.2.8 SULDOURO ................................................................................................................ 58
5.2.9 VALNOR ..................................................................................................................... 59
5.2.10 VALORLIS ................................................................................................................... 61
5.2.11 VALORMINHO ............................................................................................................ 62
5.2.12 VALORSUL .................................................................................................................. 63
vi
5.3 Sistemas intermunicipais ................................................................................................... 64
5.3.1 Ambilital .................................................................................................................... 64
5.3.2 Ambisousa ................................................................................................................. 65
5.3.3 Amcal ........................................................................................................................ 66
5.3.4 Ecobeirão ................................................................................................................... 67
5.3.5 Ecolezíria ................................................................................................................... 67
5.3.6 Gesamb ..................................................................................................................... 68
5.3.7 Lipor .......................................................................................................................... 69
5.3.8 Resialentejo ............................................................................................................... 70
5.3.9 Resíduos do Nordeste ................................................................................................ 70
5.3.10 Resitejo ...................................................................................................................... 71
5.3.11 Tratolixo .................................................................................................................... 71
5.4 Região Autónoma da Madeira ........................................................................................... 72
5.5 Região Autónoma dos Açores ............................................................................................ 73
5.5.1 AMIP .......................................................................................................................... 73
5.5.2 AMISM ....................................................................................................................... 73
5.5.3 Câmara Municipal de Vila do Porto ............................................................................ 73
5.5.4 Nordeste Ativo ........................................................................................................... 73
5.5.5 Teramb ...................................................................................................................... 74
5.6 Análise dos dados recolhidos ............................................................................................. 75
6 CASO DE ESTUDO: ETAL DA MEIA SERRA ................................................................................... 81
6.1 Considerações iniciais ........................................................................................................ 81
6.2 Caracterização da ETAL da Meia Serra ............................................................................... 81
6.3 Dados de base e linha de tratamento adotada ................................................................... 82
6.3.1 Produção de lixiviado ................................................................................................. 82
6.3.2 Definição da linha de tratamento ............................................................................... 84
6.4 Pré-dimensionamento da ETAL .......................................................................................... 86
6.4.1 Tanque de regularização ............................................................................................ 86
6.4.2 Lagoa arejada ............................................................................................................ 87
6.4.3 Câmara de mistura rápida .......................................................................................... 88
6.4.4 Câmara de floculação ................................................................................................. 89
6.4.5 Decantador secundário .............................................................................................. 90
6.4.6 Unidade de osmose inversa ....................................................................................... 90
6.4.7 Reservatório de água tratada ..................................................................................... 91
6.5 Apreciação crítica .............................................................................................................. 92
7 CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................... 99
ANEXOS .......................................................................................................................................... 103
Anexo A .................................................................................................................................. 105
Anexo B .................................................................................................................................. 109
Anexo C .................................................................................................................................. 117
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 – Lixeiras ativas em Portugal Continental, em 1995 [3] .......................................................3
Figura 3.1 – Variação da composição do lixiviado e do biogás ao longo das fases de estabilização de
um aterro ......................................................................................................................................... 12
Figura 4.1 – Representação esquemática do processo por lamas ativadas [21] .................................. 27
Figura 4.2 – Representação esquemática de um digestor anaeróbio [21] .......................................... 31
Figura 4.3 – Decantador secundário com alimentação central e sistema de remoção de lamas por
raspador [28] .................................................................................................................................... 34
Figura 4.4 – Esquema de tratamento comum do PAO por reagente de Fenton [32] ........................... 37
Figura 4.5 – Sistema de tratamento por air stripping [25] .................................................................. 39
Figura 4.6 – Configuração típica de um sistema de osmose inversa de duas fases [7] ........................ 42
Figura 5.1 – Sistemas de gestão dos RSU (multimunicipais em letras maiúsculas e intermunicipais em
letras ................................................................................................................................................ 49
Figura 5.2 – Sistemas de gestão dos RSU presentes na região autónoma da Madeira ........................ 50
Figura 5.3 – Sistemas de gestão dos RSU presentes na região autónoma dos Açores ......................... 50
Figura 5.4 – Esquema de tratamento adotado nas ETAL dos aterros sanitários de Portimão e de Loulé
......................................................................................................................................................... 51
Figura 5.5 – Sistema de tratamento existente na EPTAR do aterro sanitário de Palmela .................... 52
Figura 5.6 – Linha de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário da Póvoa de Lanhoso ........... 53
Figura 5.7 – Esquema de tratamento implantado na ETAL do aterro sanitário de Coimbra ................ 54
Figura 5.8 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Aveiro .......................... 55
Figura 5.9 – Linha de tratamento implantada nos CITVRSU de Aveiro e de Coimbra .......................... 55
Figura 5.10 – Linha de tratamento implementado na ETAL do aterro sanitário do Fundão ................ 56
Figura 5.11 – Esquema de tratamento adotado na ETAL dos aterros sanitários de Bigorne, Boticas,
Celorico de Basto e Vila Real ............................................................................................................. 57
Figura 5.12 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Viana do Castelo ........ 58
Figura 5.13 – Linha de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Vila Nova de Gaia ......... 59
Figura 5.14 – Esquema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário de Avis ......................... 60
Figura 5.15 –Sistema de tratamento adotada na ETAL do aterro sanitário de Abrantes ..................... 60
Figura 5.16 – Linha de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Castelo Branco ............... 61
Figura 5.17 – Esquema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Leiria ........................ 62
Figura 5.18 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Valença..................... 63
Figura 5.19 – Linha de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Vila Franca de Xira ......... 63
Figura 5.20 – Esquema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário do Cadaval................... 64
Figura 5.21 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Santiago do Cacém..... 65
Figura 5.22 – Linha de tratamento existente nas ETAL de Lousada e de Penafiel ............................... 65
Figura 5.23 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Cuba .......................... 66
Figura 5.24 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Tondela ...................... 67
Figura 5.25 – Sistema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário de Almeirim ................... 68
Figura 5.26 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Évora ........................ 68
Figura 5.27 – Sistema de tratamento existente da ETAL do aterro sanitário da Maia ......................... 69
Figura 5.28 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Beja ........................... 70
Figura 5.29 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Mirandela ................. 70
viii
Figura 5.30 – Sistema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário da Chamusca ................. 71
Figura 5.31 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Cascais ....................... 72
Figura 5.32 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário da Meia Serra ................. 72
Figura 5.33 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Ponta Delgada............ 73
Figura 5.34 – Linha de tratamento implementada na ETAL do aterro sanitário da Ilha Terceira ......... 74
Figura 6.1 – ETRS da Meia Serra ........................................................................................................ 81
Figura 6.2 – Diagrama linear simplificado do sistema de tratamento ................................................. 86
ix
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 3.1 – Coeficientes de escoamento [12] ...................................................................................8
Quadro 3.2 – Principais elementos resultantes da degradação de alguns resíduos sólidos [1] ........... 11
Quadro 3.3 – Concentrações (mg/l) típicas dos constituintes de um lixiviado [1][17] ......................... 14
Quadro 3.4 – Concentrações (mg/l) típicas dos constituintes de um lixiviado, dependendo da fase de
estabilização [16] .............................................................................................................................. 15
Quadro 4.1 – Processos unitários de tratamento descritos neste capítulo ......................................... 20
Quadro 4.2 – Eficiências de remoção de alguns parâmetros das lagoas de regularização [20] ........... 21
Quadro 4.3 – Classes de bactérias [18] .............................................................................................. 22
Quadro 4.4 – Valores de coeficientes cinéticos referentes a águas lixiviantes, obtidos por diferentes
autores no processo de tratamento por lagoas arejadas [11] ............................................................ 25
Quadro 4.5 – Valores de coeficientes cinéticos referentes a águas lixiviantes, obtidos por diferentes
autores no processo de tratamento por lamas ativadas .................................................................... 28
Quadro 4.6 – Agentes oxidantes e respetivo potencial de oxidação [18] ........................................... 36
Quadro 4.7 – Processos avançados de oxidação mais comuns [34] .................................................... 36
Quadro 4.8 – Valores típicos para os parâmetros de dimensionamento de uma torre de stripping para
remoção de COV e de azoto amoniacal [18] ...................................................................................... 40
Quadro 4.9 – Configuração das membrana e respetiva área de contacto por unidade de volume [26]
......................................................................................................................................................... 41
Quadro 4.10 – Processos de tratamento por membranas mais comuns [1][7][26] ............................. 41
Quadro 5.1 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Portimão ....................................................................................................................... 52
Quadro 5.2 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Loulé3 ............................................................................................................................ 52
Quadro 5.3 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário do Seixal [4] ........................................................................................................................ 52
Quadro 5.4 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário da Serra do Carvalho .......................................................................................................... 53
Quadro 5.5 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Coimbra [4].................................................................................................................... 54
Quadro 5.6 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Aveiro [4] ....................................................................................................................... 55
Quadro 5.7 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do Fundão
[4] ..................................................................................................................................................... 56
Quadro 5.8 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL de Bigorne
[4] ..................................................................................................................................................... 57
Quadro 5.9 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL de Celorico
de Basto [4] ...................................................................................................................................... 57
Quadro 5.10 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Viana do Castelo ............................................................................................................ 58
Quadro 5.11 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Vila Nova de Gaia [4] ..................................................................................................... 59
x
Quadro 5.12 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Avis ............................................................................................................................... 60
Quadro 5.13 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Abrantes6....................................................................................................................... 60
Quadro 5.14 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Castelo Branco ............................................................................................................... 61
Quadro 5.15 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Leiria ............................................................................................................................. 62
Quadro 5.16 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Valença.......................................................................................................................... 63
Quadro 5.17 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Vila Franca de Xira [4] .................................................................................................... 64
Quadro 5.18 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Santiago do Cacém ........................................................................................................ 65
Quadro 5.19 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Lousada ......................................................................................................................... 65
Quadro 5.20 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Penafiel10 ....................................................................................................................... 66
Quadro 5.21 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Cuba .............................................................................................................................. 66
Quadro 5.22 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Tondela ......................................................................................................................... 67
Quadro 5.23 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Almeirim ........................................................................................................................ 68
Quadro 5.24 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Évora ............................................................................................................................. 69
Quadro 5.25 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário da Maia .............................................................................................................................. 69
Quadro 5.26 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário de Mirandela ...................................................................................................................... 70
Quadro 5.27 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário da Chamusca ...................................................................................................................... 71
Quadro 5.28 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário da Meia Serra [43] .............................................................................................................. 72
Quadro 5.29 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro
sanitário da Ilha Terceira ................................................................................................................... 74
Quadro 5.30 – Resumo dos sistemas de tratamento adotados nas ETAL em Portugal ........................ 75
Quadro 5.31 – Concentrações obtidas dos constituintes que caracterizam um lixiviado (os dados para
a sua elaboração estão dispostos no Anexo B) .................................................................................. 77
Quadro 6.1 – Postos udométricos selecionados na área circundante à ETRS da Meia Serra ............... 82
Quadro 6.2 – Precipitações mensais médias (mm) de postos udométricos na área circundante à ETRS
da Meia Serra ................................................................................................................................... 83
Quadro 6.3 – Caudais médios mensais e diários de lixiviados ............................................................ 83
Quadro 6.4 – Valores limite de emissão de acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98 de 1 de agosto...... 84
xi
Quadro 6.5 – Concentrações típicas dos constituintes de um lixiviado proveniente de um aterro
sanitário jovem ................................................................................................................................. 84
Quadro 6.6 – Caraterísticas geométricas do tanque de regularização ................................................ 87
Quadro 6.7 – Condições de funcionamento do tanque de regularização ........................................... 87
Quadro 6.8 – Caraterísticas geométricas das lagoas .......................................................................... 87
Quadro 6.9 – Condições de funcionamento das lagoas arejadas ........................................................ 87
Quadro 6.10 – Características geométricas das câmaras de mistura rápida ....................................... 88
Quadro 6.11 – Condições de funcionamento das câmaras de mistura ............................................... 89
Quadro 6.12 – Caraterísticas geométricas de cada compartimento ................................................... 89
Quadro 6.13 – Gradientes de velocidade e potência dos electroagitadores para cada compartimento
......................................................................................................................................................... 89
Quadro 6.14 – Condições de funcionamento das câmaras de floculação ........................................... 89
Quadro 6.15 – Caraterísticas geométricas dos decantadores............................................................. 90
Quadro 6.16 – Condições de funcionamento dos decantadores ........................................................ 90
Quadro 6.17 – Estimativa para as remoções e eficiência global de alguns dos principais parâmetros
que caracterizam o lixiviado .............................................................................................................. 91
Quadro 6.18 – Caraterísticas geométricas do reservatório de água tratada ....................................... 91
Quadro 6.19 – Condições de funcionamento do reservatório de água tratada .................................. 91
Quadro A.1 – Controlo dos lixiviados produzidos em aterros sanitários em exploração, de acordo com
o Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de agosto ................................................................................... 105
Quadro A.2 – Controlo das águas subterrâneas, de acordo com o Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de
agosto............................................................................................................................................. 106
Quadro A.3 – Valores limite de emissão na descarga de água residuais, de acordo com o Decreto-Lei
n.º 236/98 de 1 de agosto ............................................................................................................... 107
Quadro B.4 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 .................................................................. 109
Quadro B.5 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) ............................................ 110
Quadro B.6 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) ............................................ 111
Quadro B.7 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) ............................................ 112
Quadro B.8 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) ............................................ 113
Quadro B.9 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) ............................................ 114
Quadro B.10 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) .......................................... 115
Quadro B.11 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação) .......................................... 116
Quadro C.12 – Valores dos coeficiente cinéticos ............................................................................. 117
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
RSU – resíduos sólidos urbanos 𝑁𝑂𝑥 – concentração de azoto amoniacal que é
ETAL – estação de tratamento de águas lixiviantes oxidado a nitratos
PERSU – plano estratégico dos resíduos sólidos NOr – nitratos removidos
urbanos SDNR – taxa específica de desnitrificação
VLE – valor limite de emissão V – volume da lagoa ou digestor
ERSAR – entidade reguladora dos serviços de águas e ηCQO – percentagem de remoção de CQO pretendida
resíduos K – constante de reação de primeira ordem
ETAR – estação de tratamento de águas residuais Pe – potência do eletroagitador
R – escoamento superficial G – gradiente de velocidade
c – coeficiente de escoamento µ – viscosidade dinâmica da água
P – precipitação registada no local Vecm – volume efetivo da câmara de mistura
L – quantidade de lixiviado produzido PAO – processos avançados de oxidação
ETR – evapotranspiração Fw – fluxo de lixiviado
ED – água contida nos resíduos kw – coeficiente de transferência de massa para a
HELP – hydrologic evalutation of landfill performance água
HSSWD – hydrologic simulation on solid waste ΔPa – gradiente de pressão médio imposto
disposal sites ΔΠ – gradiente de pressão osmótica
WBM – water balance model Qp – caudal de permeado
CBO5 – carência bioquímica de oxigénio aos cinco dias A – área
COT – carbono orgânico total Pf – pressão no fluxo de lixiviado
CQO – concentração química de oxigénio Pc – pressão no fluxo de concentrado
SST – sólidos suspensos totais Pp – pressão no fluxo de permeado
AOX – adsorbable organic halides Πf – pressão osmótica do lixiviado
TKN – total Kjeldahl nitrogen Πc – pressão osmótica do concentrado
COV – compostos orgânicos voláteis Πp – pressão osmótica do permeado
TRH – tempo de retenção hidráulico Fi – fluxo de soluto
𝐼 – tempo de retenção da biomassa ativa ki – coeficiente de transferência de massa de soluto
Se – concentração teórica de CBO5 (ou CQO) no ΔCi – gradiente de concentração de soluto
efluente Cf – concentração de soluto no lixiviado
KS – concentração de CBO5 (ou CQO) no afluente, a Cc – concentração de soluto no concentrado
metade da taxa máxima de crescimento Cp – concentração de soluto no permeado
kd – coeficiente de decaimento endógeno R – taxa de rejeição
Y – taxa máxima de utilização de CBO5 r – taxa de recuperação
K – taxa máxima de utilização de CBO5 GAC – granular activated carbon
X – concentração de biomassa na lagoa arejada PAC – powdered activated carbon
S0 – concentração de CBO5 solúvel (ou CQO) no Xsa – massa de substância adsorvida
afluente M – massa de carvão ativado
S – concentração de CBO5 (ou CQO) no efluente KF – coeficiente de Freundlich
k – coeficiente de degradação de CBO5 C – concentração da substância a adsorver
RO – quantidade de oxigénio a fornecer n – constante
Q – caudal de lixiviado EBCT – empty bed contact time
PX – produção de biomassa ativa IRAR – instituto regulador de água e resíduos
MLSS – mixed liquor suspended solids ETRS – estação de tratamento de resíduos sólidos
MLVSS – mixed liquor volatile suspended solids
F:M – food to micro-organism ratio
Vnox – volume do tanque anóxico
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento
O processo de tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) mais económico e largamente
utilizado em todo o mundo é o aterro sanitário e, embora se continuem a desenvolver alternativas
para o tratamento dos RSU, os aterros sanitários prevalecem como pilar dos sistemas de gestão
integrada de RSU, quer seja solução única ou solução complementar de outros processos [1]. Da sua
implementação decorrem diversos impactes ambientais cuja minimização resulta de um esforço
multidisciplinar que se concentra nos principais vetores ambientais: água, solo, ar e ruído. Surge,
portanto, a preocupação relativamente ao destino final dos lixiviados gerados nos aterros sanitários,
resultado direto da lixiviação dos agentes poluentes presentes nos resíduos depositados pela
infiltração da água resultante da precipitação [1]. De modo a proporcionar um adequado destino
final às águas lixiviantes têm vindo, nas últimas décadas, a ser adaptados processos de tratamento de
águas residuais para eliminar a carga poluente dos lixiviados, surgindo as estações de tratamento de
águas lixiviantes (ETAL).
1.2 Objetivos
A presente dissertação de mestrado foi desenvolvida no âmbito do Mestrado Integrado em
Engenharia Civil. Os principais objetivos concentram-se no desenvolvimento da problemática
associada às águas lixiviantes produzidas em aterros sanitários de RSU, com foco na legislação
vigente relativa ao destino dos lixiviados em Portugal; na caracterização qualitativa e quantitativa
dos lixiviados; na revisão bibliográfica dos principais processos de tratamento, com definição de
critérios de conceção, de dimensionamento e de operação; na compreensão do panorama nacional
ao nível dos sistemas de tratamento adotados; e no desenvolvimento de um caso de estudo de
acordo com os elementos teóricos abordados.
1.3 Organização
A presente dissertação de mestrado está desenvolvida em sete capítulos, de acordo com o
exposto nos seguintes parágrafos.
No Capítulo 1, Introdução, contextualiza-se a problemática associada ao tratamento de lixiviados
e definem-se os objetivos e organização da dissertação.
O Capítulo 2, Enquadramento Histórico e Legal, visa à discrição da evolução histórica do
tratamento de lixiviados em Portugal, com associação direta à gestão dos resíduos sólidos urbanos,
2
culminando na definição dos tramites legais inerentes à gestão das águas lixiviantes, com análise à
legislação vigente.
No Capítulo 3, Caracterização de Lixiviados, procede-se primeiramente a uma análise dos diversos
fatores que influenciam a produção de lixiviados, com o consequente estudo à sua composição,
introduzindo os principais agentes poluentes e a sua origem, bem como os parâmetros que
caracterização as águas lixiviantes.
No Capítulo 4, Processos de Tratamento de Lixiviados, descrevem-se os processos de tratamento
mais comumente aplicados no tratamento de águas lixiviantes, definindo os principais parâmetros de
dimensionamento, critérios de operação e as vantagens e desvantagens.
No Capítulo 5, Sistemas de Tratamento em Portugal, estabelece-se o estado da arte no que
concerne aos sistemas de tratamento, atualmente, existentes em Portugal Continental e nas Regiões
Autónomas da Madeira e dos Açores, passando pela caracterização dos lixiviados produzidos, assim
como da determinação da eficiência média de cada sistema de tratamento na remoção dos
poluentes, com base nos principais parâmetros que caracterizam as águas lixiviantes. No fim
procede-se a uma análise dos dados recolhidos.
O Capítulo 6, Caso de Estudo: ETAL da Meia Serra, consiste num pré-dimensionamento de um
sistema de tratamento de âmbito académico, com base em dados da ETAL da Meia Serra, com foco
na estimativa da produção de lixiviados, na caracterização da sua composição, nos parâmetros de
dimensionamento, condições de funcionamento e na estimativa das eficiências de remoção obtidas
pelo sistema de tratamento, tendo como critérios os elementos teóricos abordados nos capítulos
antecedentes.
No Capítulo 7, Conclusões, reúnem-se as principais conclusões relativas aos temas desenvolvidos
na presente dissertação de mestrado.
3
2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E LEGAL
Existe registo da preocupação com a recolha e deposição dos RSU em Portugal desde o século XV,
tendo o rei D. João II decretado, “(…) por carta régia de 1486, que nas freguesias da capital fossem
contratadas pessoas, pagas pelos moradores, para a limpeza das ruas” [2]. Contudo não houve muita
adesão a esta medida. Desde então, ao longo da história de Portugal, podem ser identificadas
diversas tentativas para solucionar a questão relativa à gestão dos RSU, no entanto, por falta de
determinação ou conhecimento, as medidas adotadas não se mostraram adequadas e objetivas, não
tendo sido produzida legislação com capacidade suficiente para intervir eficazmente nesta
problemática. Este facto conduziu, por associação, a uma lacuna no que respeita ao tratamento de
lixiviados produzidos resultantes da deposição dos RSU. Como consequência, o destino final de
aproximadamente 76% dos RSU produzidos em Portugal até 1995 eram as cerca de 302 lixeiras a céu
aberto, cuja distribuição espacial exposta na Figura 2.1 permite constatar a gravidade da situação
instalada [1].
Figura 2.1 – Lixeiras ativas em Portugal Continental, em 1995 [3]
4
Em 1993 deram-se os primeiros passos fundamentais na promoção da gestão dos RSU. Assim,
através do Decreto-Lei n.º 372/93, de 29 de outubro, e do Decreto-Lei n.º 379/93, de 5 de novembro,
estabeleceu-se o regime legal que possibilitou a participação de capitais privados, sob a forma de
concessão, em atividades anteriormente da estrita responsabilidade do setor público,
nomeadamente: “(…) captação, tratamento e distribuição de água para consumo público, recolha,
tratamento e rejeição de efluentes, e recolha e tratamento de resíduos sólidos”. Os mesmos
diplomas permitiram a partição do país em sistemas multimunicipais, intermunicipais e municipais,
tornando-se num impulso significativo para a criação de soluções integradas e no desenvolvimento
de economias de escala, o que facilitou o acesso a financiamentos que, de outro modo, não seriam
possíveis [4].
Em julho de 1997, por iniciativa do Ministério do Ambiente, foi elaborado o Plano Estratégico dos
Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), com o objetivo de implementar uma linha de orientação para a
gestão de resíduos [1]. Este documento foi o verdadeiro impulsionador da gestão dos RSU em
Portugal, dado que estabeleceu um limite temporal para o encerramento das lixeiras existentes e
implementação de alternativas viáveis, tendo por base a estratégia de reduzir, reutilizar e reciclar.
Com as novas abordagens na gestão dos RSU, iniciou-se um controlo mais rigoroso dos impactes
que lhes estão associados e, no que concerne aos aterros sanitários, foi desenvolvido o Decreto-Lei
n.º 152/2002, de 23 de maio, o qual permitiu regulamentar através de um conjunto de normas e
critérios aspetos inerentes aos aterros sanitários, nomeadamente a sua instalação, exploração,
encerramento e procedimentos no pós-encerramento. Nesse sentido, estabeleceram-se critérios de
proteção, controlo e monitorização de diversos meios recetores suscetíveis de sofrerem impactes
resultantes, direta ou indiretamente, da presença de um aterro sanitário. Atualmente o Decreto-Lei
n.º 183/2009, de 10 de agosto, revoga o Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de maio.
A água é um dos bens fundamentais à vida, pelo que, a produção de lixiviados em aterros
sanitários torna-se um ponto de elevada importância, uma vez que as suas caraterísticas poluentes
provocam impactes negativos nos meios hídricos e no solo.
Atendendo ao Decreto-Lei n.º 183/2009, de 10 de agosto, os lixiviados devem passar por um
processo de tratamento e terem um destino final apropriado, sendo estas ações um dever do
operador. Segundo o mesmo diploma “(…) As unidades de tratamento dos lixiviados deverão possuir
os órgãos necessários para permiti a interrupção do seu funcionamento para manutenção e avarias.
A capacidade destes órgãos deverá, cumulativamente, ser suficiente para absorver a afluência de
lixiviados associada a condições pluviométricas excecionais típicas do local em causa.”
5
No Anexo III, Parte A e B, do Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de agosto estão definidos os
parâmetros a medir e a monitorizar, relativamente aos lixiviados produzidos, às águas subterrâneas,
às águas superficiais e às bacias de lixiviados, bem como a periodicidade das análises e medições.
Estas devem ser realizadas tanto durante a fase de exploração, como após o encerramento dos
aterros sanitários, sendo da responsabilidade do operador a sua execução. O mesmo diploma indica
que compete também ao operador obter amostras da água dos meios hídricos adjacentes ao aterro
sanitário, tanto subterrâneos como superficiais, antes do início da exploração do mesmo, de modo a
obter valores de controlo dos parâmetros a analisar posteriormente. No Anexo A é possível consultar
os Quadro A.1 e Quadro A.2 que contêm uma síntese dos parâmetros a analisar e a periodicidade das
análises, tanto para controlo dos lixiviados como para controlo das águas subterrâneas. As condições
de monitorização das águas superficiais são definidas pela administração de região hidrológica
competente, sem prejuízo do previsto no Decreto-Lei n.º 183/2009, de 10 de agosto. Após o
encerramento dos aterros sanitários a qualidade dos lixiviados deve ser controlada semestralmente,
sendo os parâmetros a determinar os presentes no Quadro A.1 do Anexo A.
Dado não existir legislação diretamente aplicável à descarga de lixiviados em meios hídricos, o
Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de agosto, que contém normas e critérios relativos à descarga de águas
residuais nos meios hídricos, torna-se extensível também à descarga de lixiviados em meios hídricos
[4]. Sendo o objetivo deste diploma promover a qualidade dos meios hídricos e a proteção da saúde
pública, no Anexo XVIII do mesmo decreto-lei, estão estabelecidos valores limite de emissão (VLE)
para diversos elementos potencialmente nocivos que podem ser consultados no Anexo A, Quadro
A.3.
De acordo com os regimes legais apresentados, existem bases para uma caracterização detalhada
do lixiviado produzido em cada aterro sanitário, assim como o nível de tratamento a garantir em
cada situação, quer seja descarga em meio hídrico ou em coletor municipal.
Atualmente, a entidade responsável pela regulação do setor dos resíduos é a Entidade Reguladora
dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) que, por sua vez, estabelece os indicadores para avaliação
da qualidade dos serviços proporcionados pela várias entidades gestoras do vetor dos resíduos.
Desta forma, o indicador RU15 procura avaliar percentualmente a qualidade dos lixiviados com base
na legislação aplicável relativa aos parâmetros legais de descarga das águas lixiviantes. O mesmo
define-se como a razão entre o número total de análises requeridas (dRU34) e o número de análises
realizadas aos lixiviados tratados cujos resultados estão em conformidade com a legislação aplicável
(dRU35), tomando como referência os seguintes intervalos de valores: qualidade do serviço boa
entre [95;100], qualidade do serviço mediana [75;95[ e qualidade do serviço insatisfatória [0;75[ [6].
7
3 CARACTERIZAÇÃO DO LIXIVIADO
3.1 Considerações iniciais
O aterro sanitário como destino final dos resíduos sólidos urbanos é uma das formas de
tratamento mais utilizadas, e também uma das mais económicas. Embora pareça ser uma solução
adequada e simples, este tipo de tratamento, muitas vezes denominado confinamento técnico de
resíduos sólidos urbanos, apresenta diversos impactes de cariz preocupante, razão pela qual a sua
implementação deve resultar de um processo criterioso [1][7]. Um aspeto bastante importante a
considerar na sua conceção é a adequada capacidade de reter, captar, tratar e monitorizar o lixiviado
produzido, dado este ser um dos principais causadores dos graves problemas ambientais associados
aos aterros sanitários [8].
No interior de um aterro sanitário ocorrem diversas reações físico-químicas que permitem a
degradação de forma natural dos resíduos depositados, resultando efluentes residuais líquidos (e
gasosos) constituídos na sua essência por compostos orgânicos e inorgânicos. Na sequência de
eventos de precipitação as águas pluviais percolam através da massa de resíduos e arrastam os
efluentes residuais líquidos, como resultado formam-se as águas lixiviantes ou lixiviados, de cor
escura, odor nauseabundo e com elevada concentração de contaminantes [1][7].
3.2 Produção
Em geral, a quantidade de água que percola através da massa de resíduos é diretamente
proporcional à quantidade de contaminantes extraídos, nesse sentido, é importante obter-se uma
estimativa dos lixiviados produzidos. Uma abordagem adotada por diversos autores é a realização de
um balanço hídrico [9]. Vários são os fatores que influenciam o caudal de lixiviados: a precipitação, o
escoamento superficial, a evapotranspiração, a capacidade de retenção de água, a água contida nos
resíduos sólidos urbanos e a possível deposição de lamas provenientes dos processos de tratamento
das ETAL e das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) [8].
A precipitação representa toda a água que, após precipitar da atmosfera, atinge a área abrangida
pelo aterro sanitário, sob a forma líquida ou sólida. A melhor estimativa para a precipitação é obtida
com recurso a medições no local, contudo quando se procede a um cálculo expedito é possível
recorrer a valores de precipitação obtidos em estações meteorológicas, cuja área de influência
abranja o local em estudo. Após ocorrer um evento de precipitação, o balanço hídrico depende de
uma forma simplificada da infiltração, do escoamento superficial, da evaporação e da
evapotranspiração [10].
8
O escoamento superficial representa a fração da precipitação que se escoa à superfície do
terreno, não tendo oportunidade de se infiltrar. A sua ocorrência depende de vários fatores,
incluindo a intensidade e a duração do evento de precipitação, as condições antecedentes de
humidade do solo, a permeabilidade do solo de cobertura, a inclinação do terreno e o tipo de
vegetação de cobertura [10]. De uma forma simplificada, o escoamento superficial pode ser
determinado através do método racional [11]:
𝑅 = 𝑐 × 𝑃 (3.1)
𝑅 – estimativa do escoamento superficial médio mensal;
𝑃 – precipitação média mensal;
𝑐 – coeficiente de escoamento.
O coeficiente de escoamento é um valor empírico que depende da natureza do solo, da inclinação
do terreno. No Quadro 3.1 propõem-se valores para o mesmo [11].
Quadro 3.1 – Coeficientes de escoamento [12]
A utilização de coeficientes de escoamento empíricos deve ser feita com a devida precaução,
dado que a superfície de um aterro sanitário em exploração difere de forma significativa
relativamente a um aterro sanitário encerrado, produzindo efeitos no escoamento superficial que
não podem ser desconsiderados. Desta forma, os coeficientes de escoamento aplicados a um aterro
sanitário em exploração podem induzir uma sobre estimação da quantidade de água que se escoa
superficialmente, e, como consequência, subestimar a percolação [9].
A evapotranspiração consiste na perda de água para a atmosfera através da transpiração da
vegetação, em conjunto com a evaporação que ocorre no solo. Deste modo, depende do tipo de
solo, do tipo de vegetação e das condições de humidade do solo, que por sua vez é influenciada por
fatores climáticos como a precipitação, temperatura e humidade [10]. Dados hidrológicos permitem
constatar que a perda de água por transpiração da vegetação presente na camada de cobertura de
Condições de cobertura Inclinação (%) Tipo de solo
Marga arenosa Argila margosa Argila
Com vegetação
0 – 5 0,10 0,30 0,40
5 – 10 0,16 0,36 0,55
10 – 30 0,22 0,42 0,60
Sem vegetação
0 – 5 0,30 0,50 0,60
5 – 10 0,40 0,60 0,70
10 – 30 0,52 0,72 0,82
9
um aterro sanitário, é superior à perda de água por evaporação que pode ocorrer num solo de
cobertura sem vegetação. Contudo, é importante fazer-se uma distinção entre um aterro sanitário
encerrado e um em exploração, onde não existe possibilidade de aplicar uma cobertura vegetal, pelo
que, de um modo geral, a componente da transpiração apenas entra no balanço hidrológico
realizado para aterros sanitários selados [11]. Em períodos secos constata-se que a
evapotranspiração que ocorre é por norma inferior à evapotranspiração potencial, obtendo a
designação de evapotranspiração real [10]. Os seus valores são usualmente obtidos através das
medições efetuadas nas estações meteorológicas, cuja área de influência abranja o local em análise.
A perda de água por evaporação tem uma determinação complexa, pelo que, simplificadamente,
pode ser estimada através da evapotranspiração real e o tipo de solo [8].
Pode-se assumir, teoricamente, que a percolação da água infiltrada através da massa compacta
de resíduos se assemelha à que ocorre numa camada de solo, apresentando da mesma forma
capacidade de retenção de água. Uma vez atingida a capacidade máxima de retenção de água na
massa de resíduos ocorre a produção significativa de lixiviado na base do aterro sanitário [10], sendo
que, de uma forma aproximada, toda a água infiltrada se converte em lixiviado.
A água contida nos resíduos sólidos urbanos representa cerca de 40% do peso dos resíduos, mas
apenas 6% é efetivamente mobilizada. No entanto, este valor não deve ser desprezado uma vez que
pode atingir ordens de grandeza significativas para o volume total de lixiviados produzidos [1][8].
Existe por vezes a possibilidade de deposição de lamas provenientes dos processos de tratamento
nas ETAL e nas ETAR, em aterros sanitários. Quando este cenário se verifica, deve também entrar no
balanço hídrico o volume de água contido nas lamas depositadas.
O balanço hídrico, para determinação dos lixiviados gerados num aterro sanitário em exploração,
pode ser definido através da expressão(3.2) [1][11]. Os resultados obtidos através deste método
revelam-se ser quase tão precisos como os determinados recorrendo a métodos de análise mais
complexos [11]:
𝐿 = 𝑃 − 𝑅 − 𝐸𝑇𝑅 + 𝐸𝐷 (3.2)
𝐿 – quantidade de lixiviado produzido;
𝑃 – precipitação registada no local;
𝑅 – escoamento superficial;
𝐸𝑇𝑅 – evapotranspiração;
𝐸𝐷 – água contida nos RSU.
10
A equação apresentada exclui a possibilidade de infiltração de água pelos taludes e pelo fundo do
aterro sanitário, uma vez que se assume um aterro sanitário bem projetado, isto é, com uma correta
impermeabilização do fundo e dos taludes.
Na ausência ou insuficiência de informação, é usual considerarem-se valores teóricos que se
baseiam em variáveis de fácil determinação, como por exemplo, a precipitação média anual ou a
quantidade de resíduos depositados no aterro. Num cálculo expedito é aceitável considerar-se que a
produção média anual de lixiviados representa entre 15 a 25% da precipitação média anual [1].
Estudos realizados assumindo que aproximadamente 13% da precipitação sobre um aterro sanitário
se converte em lixiviado, e baseados num aterro sanitário com 20m de profundidade e uma
densidade de resíduos de 1t/m3, concluíram que um valor aceitável para o volume de lixiviados
produzidos é de 0,005m3/dia por cada tonelada de resíduos depositados [13]. Uma estimativa teórica
que relaciona a geração de lixiviados com área de um aterro sanitário, aponta para uma produção de
5m3/dia de lixiviado por cada hectare de ocupação [14].
Quando não é possível aplicar um método mais expedito na estimação do volume de lixiviados,
recorre-se habitualmente a programas computacionais de simulação para o seu cálculo, podendo ser
adotados vários níveis de sofisticação [9]. No âmbito da modelação computacional da geração de
lixiviados em aterros sanitários existem alguns programas de referência:
Visual HELP (baseado no Hydrologic Evaluation of Landfill Performance (HELP), desenvolvido
inicialmente por Paul R. Schroeder entre outros);
Hydrologic Simulation on Solid Waste Disposal Sites (HSSWD), desenvolvido por Eugene R.
Perrier e Anthony C. Gibson;
Water Balance Model (WBM), proposto por Dennis G. Fenn entre outros.
3.3 Composição
A composição de um lixiviado apresenta uma grande variabilidade, dependendo da interação de
diversos fatores como o tipo de resíduos confinados e seu processamento, a profundidade e idade de
deposição, a quantidade de água disponível, a conceção e o modo de operação do aterro sanitário
[9]. O fator mais condicionante para determinar a composição do lixiviado produzido é o tipo de
resíduos depositados no aterro sanitário, dado que da sua degradação resultam compostos que
serão arrastados pela água que percola através da massa de resíduos. No
Quadro 3.2 apresentam-se alguns tipos de resíduos sólidos depositados nos aterros sanitários de
RSU e alguns dos elementos resultantes da sua decomposição [1].
11
Quadro 3.2 – Principais elementos resultantes da degradação de alguns resíduos sólidos [1]
Resíduos Elementos gerados
Madeira ácidos orgânicos, aldeídos, azoto amoniacal, cetonas, dióxido de carbono, fenol, nitratos, nitritos, etc.;
Matérias vegetais ácidos orgânicos, aldeídos, azoto amoniacal, carbonatos, cetonas, dióxido de carbono, fenol, fosfatos, nitratos, nitritos, sulfatos, etc.;
Metais bicarbonatos de ferro, cálcio ou magnésio, dióxido de carbono, óxidos de cobre, estanho ou zinco (em meio ácido), sulfatos de cálcio ou magnésio, chumbo, alumínio, cádmio, etc.;
Papel ácidos orgânicos, aldeídos, azoto amoniacal, dióxido de carbono, fenol, nitratos, nitritos, etc.;
Têxteis ácidos orgânicos, aldeídos, azoto amoniacal, cetonas, dióxido de carbono, fosfatos, nitratos, nitritos, sulfatos, etc..
Os resíduos biodegradáveis, pelas suas caraterísticas, são decompostos gradualmente em
compostos menos complexos por vários grupos bactérias, através de processos aeróbios (na
presença de oxigénio) e anaeróbios (na ausência de oxigénio). Como resultado desta decomposição
obtém-se uma parcela em fase líquida e outra em fase gasosa que contêm elementos com elevado
risco para a saúde pública e para provocar impactes negativos nos meios recetores [11]. Diversos
estudos apresentados na literatura sugerem cinco fases de estabilização dos resíduos num aterro
sanitário, durante as quais a composição do lixiviado varia, assim como, a concentração dos seus
constituintes (Figura 3.1) [11]:
Fase I
Corresponde à degradação aeróbia dos resíduos orgânicos, cuja duração é limitada devido ao
rápido consumo do oxigénio disponível nas reações aeróbias. Contudo, na camada superior
regista-se sempre atividade aeróbia, uma vez que, o oxigénio tem a capacidade de penetrar no
solo. Durante esta fase observa-se a metabolização da matéria orgânica com mais facilidade de
degradação. Neste período predominam as reações exotérmicas, com a consequente subida
de temperatura [1][15].
Fase II
Começam a instalar-se as condições anaeróbias, representando esta a primeira fase
intermédia. Inicia-se o processo de hidrólise que permite a solubilização da matéria orgânica
(hidratos de carbono, lípidos e proteínas) em ácidos gordos de cadeia longa, glucose e
12
Figura 3.1 – Variação da composição do lixiviado e do biogás ao longo das fases de estabilização de um aterro
sanitário [11]
13
aminoácidos, facilmente metabolizados por bactérias. Segue-se o processo de fermentação
onde predominam as bactérias fermentativas e acetogénicas que quebram os compostos
anteriores em ácidos gordos voláteis mais simples como o ácido acético (CH3COOH), o ácido
butanoico (CH3C2H4COOH), o ácido propanoico (CH3CH2COOH) e ácido benzoico (C6H5COOH),
em etanol (CH3CH2OH), em dióxido de carbono (CO2) e algum hidrogénio (H2). A hidrólise e
fermentação de compostos proteicos conduz a uma elevada produção de azoto amoniacal
(NH4). Devido à acentuada formação de ácidos ocorre uma redução significativa do pH,
provocando um aumento da concentração de cálcio, ferro e metais pesados. A concentração
inicial elevada de sulfato (SO4) começa lentamente a diminuir à medida que o potencial de
oxidação-redução diminui, iniciando-se o seu processo de redução a sulfureto (H2S). A
produção de sulfureto pode levar à precipitação de ferro, de manganês e de metais pesados
que foram dissolvidos no início desta fase [11].
Fase III
Ocorre uma segunda fase anaeróbia intermédia denominada acetogénese, onde predomina a
formação de ácido acético, ácido fórmico (HCOOH) e metanol (CH3OH), elementos estes que
são metabolizados numa primeira fase pelas bactérias metanogénicas do grupo acetofílico em
metano (CH4) e dióxido de carbono. A concentração de gás metano aumenta, contrariamente
à concentração de hidrogénio e dióxido de carbono que diminui. A metabolização dos ácidos
gordos voláteis conduz a uma redução da sua concentração, provocando um aumento do pH e
da alcalinidade que, por sua vez, inibe a solubilização do cálcio, do ferro, do manganês e dos
metais pesados [11]. A redução dos sulfatos mantém-se. O azoto amoniacal continua a ser
produzido sem que seja possível a sua metabolização em meio anaeróbio, resultando em
elevadas concentrações deste elemento [1][15].
Fase IV
Esta fase da degradação anaeróbia, designada de metanogénese, onde predominam as
bactérias metanogénicas do grupo acetofílico e hidrogenofílico, caracteriza-se pela elevada
produção de gás metano [11], cuja concentração estabilizará entre 40 a 65% (volume) em
poucas semanas a poucos anos, dependendo das condições mais ou menos favoráveis para as
bactérias metanogénicas. Estas predominam em ambientes com pH entre 6 a 8, pelo que é
expectável que o lixiviado tenha um pH mais neutro, indicando baixas concentrações de ácidos
gordos voláteis que são rapidamente metabolizados. Por norma esta fase dura entre 25 a 50
anos [1][16].
Fase V
Corresponde à fase de estabilização da massa de resíduos em que a atividade bacteriana se
reduz significativamente, permanecendo sobretudo a matéria orgânica refratária. Como
14
consequência a produção de metano diminui para níveis que permitem o aparecimento de
nitrogénio. O lixiviado gerado nesta fase contém usualmente uma concentração mais elevada
de ácidos húmicos e ácidos fúlvicos que se traduzem por substâncias de elevado peso
molecular, as quais dificilmente são reduzidas em compostos menos complexos [1][17].
A duração de cada uma das fases é muito variável, dependendo da distribuição dos compostos
orgânicos no interior do aterro sanitário, da disponibilidade de nutrientes, do grau de humidade
presente na massa de resíduos e do grau de compactação aplicado [11]. Desta forma, é importante
salientar que, devido ao diferencial de idade entre as deposições de resíduos, as fases supra descritas
podem ocorrer em simultâneo, contribuindo para a complexidade da composição do lixiviado
produzido. No Quadro 3.3 e no Quadro 3.4 estão dispostas as concentrações típicas para vários
parâmetros e elementos, dependentes da idade do aterro sanitário e da fase de decomposição dos
resíduos.
Quadro 3.3 – Concentrações (mg/l1) típicas dos constituintes de um lixiviado [1][17]
Parâmetros
Fonte: Tchobanoglous et al. (2002) Fonte: Levy e Cabeças (2006)
Aterro sanitário recente (<2 anos)
Aterro sanitário antigo (>10 anos)
Aterro sanitário
Intervalo Média Intervalo Intervalo Média
CBO5 2000-30000 10000 100-200 500-5000 2000
COT 1500-20000 6000 80-160 1300-20000 6000
CQO 3000-60000 18000 100-500 2000-45000 10000
SST 200-2000 500 100-400 200-1000 500
Azoto orgânico 10-800 200 80-120 10-600 200
Azoto amoniacal 10-800 200 20-40 300-3000 1500
Nitratos 5-40 25 5-10 5-40 25
Fósforo total 5-100 30 5-10 1-70 30
Ortofosfatos 4-80 20 4-8 1-50 20
Alcalinidade em CaCO3 1000-10000 3000 200-1000 1000-10000 3000
pH 4,5-7,5 6 6,6-7,5 5,3-8,5 6
Dureza total em CaCO3 300-10000 3500 200-500 300-10000 3500
Cálcio 200-3000 1000 100-400 200-3000 1000
Magnésio 50-1500 250 50-200 50-1500 250
Potássio 200-1000 300 50-400 200-2000 300
Sódio 200-2500 500 100-200 200-2000 500
Cloretos 200-3000 500 100-400 100-3000 500
Sulfatos 50-1000 300 20-50 100-1500 300
Ferro total 50-1200 60 20-200 50-600 60
1 Exceto o pH que é indicado na escala de Sorensen
15
Quadro 3.4 – Concentrações (mg/l2) típicas dos constituintes de um lixiviado, dependendo da fase de estabilização [16]
Parâmetros
Fonte: Ehrig (1990) Fonte: Kruse (1994)
Fase ácida Fase metanogénica Fase ácida Fase intermédia Fase metanogénica
Intervalo Média Intervalo Média Intervalo Média Intervalo Média Intervalo Média
pH 4,5-7 6 7,5-9 8 6,2-7,8 7,4 6,7-8,3 7,5 7,0-8,3 7,6
CQO 6000-60000 22000 500-4500 3000 950-40000 9500 700-28000 3400 460-8300 2500
CBO5 4000-40000 13000 20-550 180 600-27000 6300 200-10000 1200 20-700 230
COT 1500-25000 7000 200-5000 1300 350-12000 2600 300-1500 880 150-1600 660
AOX 0,54-3,45 1,67 0,52-2,01 1,04 0,26-6,20 2,40 0,26-3,90 1,55 0,20-3,50 1,73
Azoto total 10-4250 600 10-4250 600 - - - - - -
Azoto amoniacal 30-3000 750 30-3000 750 17-1650 740 17-1650 740 17-1650 740
TKN 40-3425 1350 40-3425 1350 250-2000 920 250-2000 920 250-2000 920
Nitritos 0-25 0,50 0-25 0,50 - - - - - -
Nitratos 0,10-50 3 0,10-50 3 - - - - - -
Sulfatos 70-1750 500 10-420 80 35-925 200 20-230 90 25-2500 240
Cloretos 100-5000 2100 100-500 2100 315-12400 2150 315-12400 2150 315-12400 2150
Sódio 50-4000 1350 50-4000 1350 1-6800 1150 1-6800 1150 1-6800 1150
Potássio 10-2500 1100 10-2500 1100 170-1750 880 170-1750 880 170-1750 880
Magnésio 50-1150 470 40-350 180 30-600 285 90-350 200 25-300 150
Cálcio 10-2500 1200 20-600 60 80-2300 650 40-310 150 50-110 200
Fósforo total 0,10-30 6 0,10-30 6 0,30-54 6,80 0,30-54 6,80 0,30-54 6,80
Crómio 0,03-1,60 0,30 0,03-1,60 0,3 2x10-3-0,52 0,16 2x10-3-0,52 0,16 2x10-3-0,52 0,16
Ferro 20-2100 780 3-280 15 3-500 135 2-120 36 4-125 25
Níquel 0,02-2,05 0,2 0,02-2,05 0,2 0,01-1 0,19 0,01-1 0,19 0,01-1 0,19
Cobre 4x10-3-1,40 0,08 4x10-3-1,40 0,08 5x10-3-0,56 0,09 5x10-3-0,56 0,09 5x10-3-0,56 0,09
Zinco 0,10-120 5 0,03-4 0,60 0,05-16 2,20 0,06-1,70 0,60 0,09-3,50 0,60
Arsénio 5x10-3
-1,60 0,16 5x10-3
-1,60 0,16 5,3x10-3
-0,11 0,03 5,3x10-3
-0,11 0,03 5,3x10-3
-0,11 0,03
Cádmio 5x10-4-0,14 6x10-3 5x10-4-0,14 6x10-3 7x10-4-0,53 0,04 7x10-4-0,53 0,04 7x10-4-0,53 0,04
Mercúrio 2x10-4-0,01 0,01 2x10-4-0,01 0,01 2x10-6-0,03 1,5x10-3 2x10-6-0,03 1,5x10-3 2x10-6-0,03 1,5x10-3
Chumbo 8x10-3-1,02 0,09 8x10-3-1,02 0,09 8x10-3-0,40 0,16 8x10-3-0,40 0,16 8x10-3-0,40 0,16
2 Exceto o pH que é indicado na escala de Sorensen
16
Embora todos os parâmetros tenham uma influência direta ou indireta na seleção do sistema de
tratamento mais adequado, dos indicadores apresentados no Quadro 3.3 e no Quadro 3.4 existe um
grupo composto pela carência química de oxigénio (CQO), pela carência bioquímica de oxigénio ao
quinto dia (CBO5), pelo carbono orgânico total (COT), pelo azoto total e pelo azoto amoniacal, ao qual
se deve dar especial atenção, uma vez que apresentam em geral concentrações elevadas e impõem
mais limitações nos processos de tratamento devido à dificuldade associada à sua eliminação [1][16].
A CBO5 representa a concentração de oxigénio dissolvido consumido pelos microrganismos na
oxidação bioquímica da matéria orgânica, durante cinco dias a uma temperatura de 20⁰C. Este
indicador possibilita assim estabelecer uma correlação com a matéria orgânica presente no lixiviado
[18]. A CQO indica a concentração de oxigénio dissolvido utilizado na oxidação química da matéria
orgânica presente no lixiviado, utilizando dicromato de potássio, o qual também reage e oxida
substâncias inorgânicas, tornando-se um parâmetro importante quando relacionado com a CBO5,
através da razão CBO5/CQO, uma vez que permite auferir a potencialidade de aplicação de
tratamentos biológicos às águas lixiviantes [18]. Os valores mais comuns para a relação CBO5/CQO,
apresentados por alguns autores, variam entre 0,4 e 0,7 nos primeiros anos de exploração, indicando
que os processos de tratamento biológicos são adequados para o tratamento dos lixiviados. No caso
de aterros sanitários com mais de 20 anos a relação CBO5/CQO desce para valores entre 0,05 e 0,2 o
que indica uma elevada concentração de elementos de difícil biodegradação e mesmo não
biodegradáveis, pelo que os tratamentos biológicos são pouco eficazes. Desta forma, devem ser
incorporados a jusante processos de tratamento físicos e químicos [17]. O parâmetro COT traduz a
concentração total de carbono orgânico, obtida através da combustão rápida de uma amostra de
lixiviado, com recurso a um aparelho adequado, resultando na oxidação total do carbono orgânico
em dióxido de carbono, medido por um analisador de infravermelhos [18].
O azoto, elemento utilizado como nutriente por diversos microrganismos, divide-se numa fração
orgânica, onde se incluem aminoácidos e proteínas, e numa parcela inorgânica na qual apresenta
vários estados de oxidação, dos quais se salientam o NH3, NH4, NO3 e NO2. O nível de oxidação
dependerá maioritariamente do pH do lixiviado e das reações desenvolvidas pelas bactérias, tanto
em condições aeróbias como anaeróbias [18]. Desta forma, os parâmetros azoto total e azoto
amoniacal permitem obter informações relativas à concentração de nutrientes existente no lixiviado
e sobre o seu grau de estabilização, uma vez que as bactérias decompõe o azoto orgânico em
amónia, sendo esta oxidada pelas mesmas em nitratos e nitritos. A descarga de um afluente rico em
azoto conduz à proliferação de algas no meio recetor, sendo tóxico para os seres vivos,
principalmente quando se encontra sob a forma de nitritos [18].
17
O parâmetro AOX representa o conjunto dos compostos orgânicos halogenados solúveis em água
e adsorvíveis em carvão ativado, que têm na sua constituição cloro, bromo e iodo. Estes elementos,
do grupo 17 da tabela periódica, têm uma elevada facilidade em reagir com os compostos orgânicos
e os compostos aromáticos, presentes em elevadas concentrações nos lixiviados. Como resultado
obtêm-se os compostos orgânicos halogenados, que são altamente tóxicos e cancerígenos, sendo
por isso nocivos para os seres vivos e o ambiente [19]. Devido ao seu carácter bio acumulativo,
apresentam um potencial risco para todos os seres vivos aquáticos [19], pelo que é de extrema
importância minimizar ao máximo a sua concentração durante os processos de tratamento. Por sua
vez, os AOX inserem-se nos compostos orgânicos voláteis (COV) que se caracterizam por terem um
ponto de ebulição igual ou inferior a 100⁰C e possuem uma elevada pressão vapor (superior a 1mm
Hg a 25⁰C). Estes compostos apresentam igualmente um elevado risco para a saúde pública, dado
muitos serem cancerígenos, bio acumulativos, muito estáveis em água e não biodegradáveis. Nos
lixiviados encontram-se frequentemente sob a forma de aldeídos, fenóis, cetonas, hidrocarbonetos,
entre outros [18].
19
4 PROCESSOS DE TRATAMENTO DO LIXIVIADO
4.1 Considerações iniciais
O problema do tratamento das águas lixiviantes deve ser abordado, antes de mais, através da
minimização da produção e da carga poluente. Este é efetivamente um dos itens mais importantes a
considerar quando se concebe e explora um aterro sanitário, uma vez que terá implicações diretas
nos impactes ambientais e nos custos associados a todo o processo de tratamento. Esta minimização
pode ser atingida com [1]:
a valorização dos resíduos sólidos urbanos de modo a reduzir a percentagem de elementos
não biodegradáveis na massa de resíduos do aterro sanitário, contribuindo para a produção de
águas lixiviantes com um índice de biodegradabilidade superior;
a redução da área exposta do aterro sanitário à precipitação, durante a fase de exploração,
através do planeamento de células e alvéolos de menor dimensão, em oposição à forma
tradicional de exploração com células de grandes dimensões;
o correto planeamento de um sistema de drenagem na área envolvente do aterro sanitário,
reduzindo o escoamento superficial sobre o mesmo;
a imposição de uma inclinação de 2% de forma parabólica, na modelação da plataforma final
do aterro sanitário, evitando de modo efetivo a infiltração das águas pluviais;
a implementação da cobertura final a uma cota superior à verificada nos terrenos
circundantes, minimizando a infiltração;
o aumento da perda de água por evaporação e evapotranspiração, planeando uma adequada
coberta final composta por gramíneas e vegetação rasteira.
Contudo, mesmo com a aplicação das ações enunciadas ocorre em geral produção de lixiviados,
pelo que deve estar sempre prevista no projeto do aterro sanitário uma ETAL, dimensionada para
garantir um grau de tratamento concordante com o destino final pretendido para o lixiviado, quer
seja a rede municipal de águas residuais domésticas ou uma linha de água, respeitando os VLE
impostos pela ETAR ou decretados pela legislação em vigor, respetivamente.
A conceção de um sistema de tratamento representa um processo complexo dada a elevada
variação da composição do lixiviado, da concentração dos seus constituintes e do volume produzido,
tanto durante a fase de exploração como no pós-encerramento do aterro sanitário [17], impondo
que o sistema de tratamento adotado tenha uma grande flexibilidade [8]. A experiência tem
mostrado que as soluções com melhores eficiências de remoção dos poluentes resultam da
combinação de processos biológicos e físico-químicos, dado o vasto espetro de contaminantes
20
presentes nos lixiviados [5][9]. No presente capítulo abordam-se os principais processos unitários de
tratamento (Quadro 4.1) através da descrição das suas principais caraterísticas e critérios de
dimensionamento, assim como de aspetos importantes associados à sua operação e conceção,
apresentando-se algumas das vantagens e das desvantagens na sua aplicação.
Quadro 4.1 – Processos unitários de tratamento descritos neste capítulo
Processo de tratamento Aplicação
Lagoas arejadas Remoção da matéria orgânica
Lamas ativadas Remoção da matéria orgânica e do azoto
Lagoas e digestores anaeróbios Remoção da matéria orgânica
Coagulação/floculação Remoção da cor e turbidez, dos sólidos suspensos e
dos metais pesados
Oxidação química Remoção da matéria orgânica e da inorgânica
Air stripping Remoção do azoto e dos COV
Membranas Remoção da matéria orgânica e da inorgânica
Carvão ativado Remoção da matéria orgânica e inorgânica e metais
pesados
Filtração Remoção das partículas em suspensão
4.2 Lagoas de regularização
As lagoas e tanques de regularização são órgãos hidráulicos instalados a montante do sistema de
tratamento e, apesar de não serem considerados um processo de tratamento per si, apresentam
uma contribuição significativa para o desempenho da ETAL, dado que compensam as variações na
produção de lixiviado e permite a homogeneização da sua qualidade. Desta forma, no
dimensionamento dos órgãos a jusante pode admitir-se um caudal constante [5][9]. Este órgão
permite também contemplar situações de avaria e de manutenção da ETAL, ou comportar o caudal
de lixiviados em excesso face ao caudal de dimensionamento do sistema de tratamento [1]. Sempre
que possível, devem ser utilizados tanques de regularização de menor dimensão em detrimento de
lagoas de grande capacidade, uma vez que as últimas libertam odores intensos e pestilentos. Para
tal, é necessário existir um controlo mais rigoroso na exploração dos aterros sanitários, de modo a
minimizar o volume de lixiviados produzidos [1].
A ação de homogeneização do caudal afluente à lagoa de regularização pode ser garantida, se
necessário, por meios mecânicos com recurso a agitadores ou arejadores, existindo também a
possibilidade de se utilizarem difusores de ar comprimido [9]. As caraterísticas do processo de
homogeneização proporcionam alguma remoção da carga poluente (Quadro 4.2), devido à
sedimentação das partículas em suspensão e à introdução de oxigénio que promove reações
aeróbias [1].
21
Quadro 4.2 – Eficiências de remoção de alguns parâmetros das lagoas de regularização [5][20]
Parâmetro Eficiência de remoção (%)
CQO 36 – 71
CBO5 50 – 68
SST 55
Azoto total 4 – 73
4.3 Processos de tratamento biológicos
4.3.1 Considerações iniciais
Os processos de tratamento biológicos passíveis de ser aplicados no tratamento das águas
lixiviantes partilham os mesmos princípios dos processos utilizados no tratamento de águas residuais
urbanas, aproveitando a capacidade das bactérias degradarem a matéria orgânica em compostos
mais simples. A sua aplicação visa também a remoção de nutrientes como o azoto e o fósforo [18].
Contudo, a diferença significativa entre a composição dos lixiviados e das águas residuais implica que
os critérios de dimensionamento das ETAL e das ETAR difiram consideravelmente, devendo existir
especial atenção às substâncias tóxicas para as bactérias [9].
Existem quatro grupos que permitem fazer a distinção entre os processos biológicos de
tratamento, com base nas reações metabólicas desenvolvidas pelos microrganismos: aeróbios,
anaeróbios, anóxicos e facultativos. Os processos de tratamento aeróbios caracterizam-se pela
utilização de oxigénio molecular nas reações químicas, aquando da oxidação da matéria orgânica ou
do azoto amoniacal (NH4+). Contrariamente, nos processos de tratamento anaeróbios a degradação
da matéria orgânica ocorre na ausência de oxigénio. Nos processos anóxicos o oxigénio utilizado
pelas bactérias na degradação de compostos orgânicos encontra-se presente apenas sob a forma de
nitratos (NO3−) ou nitritos (NO2
−). Por último, nos processos facultativos as bactérias atuam tanto na
presença como na ausência de oxigénio [18].
Os processos de tratamento enunciados podem desenvolver-se em biomassa fixa, quando os
microrganismos estão aderentes a um meio inerte, ou em biomassa suspensa, quando os mesmos se
encontram em suspensão no líquido [18]. Quando aplicados ao tratamento de águas lixiviantes, os
processos biológicos por biomassa fixa são desaconselhados, dado que ocorre com frequência a
retenção de elementos tóxicos para as bactérias, inibindo a sua ação ou mesmo destruindo o
biofilme. Da mesma forma, quando o lixiviado provém de aterros jovens com elevadas concentrações
de CBO5 e CQO ocorre a formação de um elevado volume de biomassa durante a degradação da
matéria orgânica, obstruindo constantemente o sistema [7][8].
22
Sendo as bactérias o principal agente interveniente nos tratamentos biológicos é relevante o
conhecimento das famílias de bactérias envolvidas, assim como os fatores intervenientes na cinética
do seu crescimento, para que seja possível: selecionar os grupos de bactérias adequados para
remover poluentes específicos, conhecerem-se os produtos das suas reações e promoverem-se as
condições ideais à sua atividade. No Quadro 4.3 é possível observar as famílias de bactérias mais
comuns [18].
Quadro 4.3 – Classes de bactérias [18]
Tipo de bactéria Reação
associada Fonte de carbono
Substrato oxidado
Recetor de eletrões
Produtos da reação
Aeróbia heterotrófica
Oxidação aeróbia
Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
O2 CO2, H2O
Aeróbia autotrófica
Nitrificação CO2 NH3−, NO2
− O2 NO2−, NO3
−
Oxidação do ferro
CO2 FeO O2 Fe2O3
Oxidação do enxofre
CO2 H2S, S, 𝑆2O32− O2 SO4
2−
Facultativa heterotrófica
Desnitrificação Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
NO2−, NO3
− N2, CO2, H2O
Anaeróbia heterotrófica
Fermentação ácida
Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
Ácidos gordos voláteis
Redução do ferro
Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
Fe2O3 FeO, CO2, H2O
Redução dos sulfatos
Compostos orgânicos
Compostos orgânicos
SO4 H2S, CO2, H2O
Metanogénica Compostos orgânicos
Ácidos gordos voláteis
CO2 Metano
A principal fonte de nutrientes para o crescimento celular das bactérias é o carbono, no entanto
existem alguns elementos inorgânicos que também eles são essenciais, podendo agir como agentes
limitantes quando a sua concentração não é suficiente. Alguns dos principais nutrientes inorgânicos
são: o azoto, o fósforo, o potássio, o enxofre, o cálcio, o ferro, o magnésio, o sódio e o cloro [18].
As bactérias são fortemente influenciadas pela temperatura e pelo pH, apresentando uma maior
taxa de crescimento e de sobrevivência dentro de determinados intervalos. O pH ótimo para o
crescimento bacteriano situa-se entre os 6,5 e os 7,5. A temperatura ideal dependerá do tipo de
bactérias que participam na decomposição da matéria orgânica, situando-se entre os 20⁰C e os 25⁰C
no caso das reações aeróbias, e valores superiores a 25⁰C para reações anaeróbias [18].
Conforme explanado anteriormente, um dos indicadores da aplicabilidade dos tratamentos
biológicos às águas lixiviantes é o rácio CBO5/CQO, o qual deve situar-se entre os 0,4 e os 0,7 para
23
que exista uma maior eficiência de remoção de matéria orgânica, encontrando-se dentro deste
intervalo os lixiviados gerados em aterros mais jovens (<5 anos), cujo valor de CQO supera os
10000mg/l [9], correspondente a um lixiviado produzido na fase acetogénica [7]. As águas lixiviantes
produzidas em aterros sanitários mais antigos (<10 anos) têm um rácio CBO5/CQO menor (0,05 – 0,2)
que indica uma percentagem elevada de matéria orgânica refratária, como os ácidos húmicos e
fúlvicos, a qual não é degradada pelos microrganismos. Este facto conduz a baixas eficiências de
remoção [11], devendo ser implementados a jusante processos de tratamento físico-
-químicos de modo a obter melhores eficiências de remoção. Desta forma, com o envelhecimento
dos aterros sanitários os processos biológicos assumem gradualmente um caráter de pré-
-tratamento.
Nos processos de tratamento biológicos o azoto é removido em duas etapas: nitrificação e
desnitrificação. Na primeira etapa ocorre a oxidação do azoto amoniacal a nitratos através de dois
tipos de bactérias autotróficas, as quais utilizam o carbono inorgânico como fonte de energia [7]. A
reação de nitrificação desenvolve-se em duas fases: na primeira fase intervêm as bactérias
Nitrossomas sp. que convertem o azoto amoniacal em nitritos (NO2−); na segunda fase participam as
bactérias Nitrobacter sp. que, por sua vez, oxidam os nitritos a nitratos [1]. As bactérias são muito
sensíveis às condições envolventes, pelo que ambas as fases podem ser inibidas quando: o pH atinge
valores baixos (<6,5), a concentração de oxigénio dissolvido é inferior a 2mg/l, a temperatura é
inferior a 5⁰C ou superior a 35⁰C e o lixiviado contém elementos tóxicos inibidores, incluindo o azoto
amoniacal e os nitritos, que podem comprometer a segunda fase do processo, sendo importante ter
este fator em consideração, uma vez que os lixiviados apresentam elevadas concentrações de azoto
amoniacal. Outro aspeto condicionante reside no facto de, durante a reação de nitrificação, existir
um decréscimo acentuado do pH devido à elevada produção de iões de hidrogénio, pelo que é
essencial a sua correção sempre que o lixiviado não tenha alcalinidade suficiente [7]. A
desnitrificação é a segunda etapa na remoção do azoto, através da qual bactérias facultativas
heterotróficas (sp. Alcaligenes, Achromobacter, Micrococus e Pseudomonas) reduzem os nitratos a
nitritos e posteriormente a azoto molecular gasoso, em condições anóxicas [1], onde existe apenas
oxigénio combinado quimicamente, sob a forma de nitratos e nitritos [7]. Durante este processo as
bactérias consomem carbono, na sua ausência ou insuficiência, deve serem adicionados nutrientes,
habitualmente metanol. O meio envolvente influência de igual forma as bactérias envolvidas no
processo de desnitrificação, ocorrendo uma diminuição da sua atividade quando: a concentração de
oxigénio supera os 0,5mg/l, a temperatura baixa (idealmente seriam 40⁰C) e o pH toma valores
abaixo de 6 e acima de 8 [7].
24
Os processos biológicos não têm como objetivo decompor a matéria inorgânica, no entanto uma
caraterística transversal a todos eles é a redução da concentração de metais pesados, quer seja por
precipitação ou por adsorção celular dos microrganismos, os quais por terem carga negativa
possibilitam a troca de catiões com os iões metálicos presentes nas águas lixiviantes. Relativamente
aos sulfatos e cloretos não se verifica a redução da sua concentração [9]. No que concerne aos
compostos AOX, as eficiências de remoção rondam os 10%, mostrando inadequabilidade dos
processos biológicos na sua eliminação. Uma vez mais, a solução mais eficaz passa por contemplar
processos físico-químicos que garantam a sua remoção [11].
Na literatura é comum encontrarem-se percentagens de remoção elevadas associadas a
processos de tratamento biológicos, no entanto quando os poluentes a eliminar apresentam
concentrações muito elevadas, como é o caso da CBO5, da CQO e do azoto, apesar dos valores
percentuais de remoção puderem ser elevados, é importante salientar que podem não traduzir uma
redução efetiva que permita a descarga em linha de água ou mesmo em coletor municipal para
tratamento numa ETAR.
4.3.2 Lagoa arejada
A utilização de lagoas arejadas como forma de tratamento das águas residuais urbanas data do
início do século XX, mostrando-se um método eficaz na remoção da matéria orgânica [9], mas apenas
na década de 70 se iniciaram estudos para a aplicação deste processo às águas lixiviantes [7].
As lagoas arejadas aplicadas ao tratamento de lixiviados têm normalmente entre 1m a 5m de
profundidade, com paredes laterais inclinadas, procurando simular o leito de uma lagoa natural
[9][21]. Na conceção de uma lagoa arejada, o tempo de retenção hidráulico (TRH) é, em geral, o
parâmetro que estabelece as suas dimensões, sendo que o mesmo depende de vários fatores,
nomeadamente: a taxa de degradação da matéria orgânica pelas bactérias (temperatura ótima de
20⁰C), a carga orgânica presente no afluente, o período de reposição das bactérias em suspensão
que são transportadas no efluente da lagoa e a acumulação de lamas no fundo da lagoa [11][16][22].
A conjugação destes fatores conduz a TRH geralmente longos para que ocorra uma remoção
significativa da componente orgânica, habitualmente superiores a sete dias, podendo situar-se entre
30 a 60 dias [7][21]. No pré-dimensionamento de uma lagoa arejada podem ser utilizadas as
seguintes expressões base, considerando que o TRH é similar ao tempo de retenção da biomassa
ativa (𝐼), dado não ocorrer recirculação de lamas para a lagoa [11][18]:
𝑆𝑒 =
𝐾𝑠 × (1 + 𝑘𝑑 × 𝑇𝑅𝐻)
𝑇𝑅𝐻 × (𝑌 × 𝐾 − 𝑘𝑑) − 1 (4.1)
25
𝑆𝑒 – concentração teórica de CBO5 (ou CQO) no efluente (mgl-1);
𝐾𝑠 – concentração de CBO5 (ou CQO) no afluente, a metade da taxa máxima de crescimento (mgl-1);
𝑘𝑑 – coeficiente de decaimento endógeno (d-1)
𝑇𝑅𝐻 – tempo de retenção hidráulico (d);
𝑌 – coeficiente de produção;
𝐾 – taxa máxima de utilização de CBO5 (d-1).
𝑋 =
𝑌 × (𝑆0 − 𝑆)
1 + (𝑌 + 𝑘𝑑 × 𝑇𝑅𝐻) (4.2)
𝑋 – concentração de biomassa na lagoa arejada (g/m3);
𝑆0 – concentração de CBO5 solúvel (ou CQO no afluente (mgl-1);
𝑆 =
𝑆0
1 + 𝑘 × 𝑇𝑅𝐻 (4.3)
𝑘 – coeficiente de degradação de CBO5 (=0,075d-1 a 0,08d-1 [11]);
Os coeficientes cinéticos 𝐾, 𝑘𝑑 , 𝐾𝑠, 𝑌 e 𝑘 dependem de diversos fatores entre os quais a
temperatura, a concentração de biomassa ativa (micro-organismos), a presença de substâncias
tóxicas, a concentração de nutrientes, a mistura adequada e a concentração de oxigénio dissolvido,
pelo que deve ser determinado experimentalmente através de testes piloto [22]. No entanto, podem
ser encontrados na bibliografia alguns valores obtidos experimentalmente por alguns autores
(Quadro 4.4) [11].
Quadro 4.4 – Valores de coeficientes cinéticos referentes a águas lixiviantes, obtidos por diferentes autores no
processo de tratamento por lagoas arejadas [11]
Base 𝑌 𝑘𝑑 (d-1) 𝐾 (d-1) 𝐾𝑠 (mgl-1) Autores
CBO5 0,332 0,0025 0,75 21,4 Cook e Foree (1974)
CQO 0,4 0,05 0,6 175 Uloth e Mavinic (1977)
CQO 0,593 0,115 1,83 182 Palit e Qasim (1977)
O fornecimento de oxigénio é vital para o funcionamento de qualquer processo aeróbio, a
oxigenação das águas lixiviantes realiza-se normalmente através da instalação de agitadores de
superfície ou da injeção de ar, de modo a garantir uma adequada concentração de oxigénio
dissolvido. O seu dimensionamento deve prever não só o oxigénio consumido na degradação da
3 Valores calculados com base nos sólidos suspensos, os restantes foram calculados com a partir dos sólidos
suspensos voláteis.
26
matéria orgânica, mas também o oxigénio utilizado na respiração endógena, de acordo com a
expressão 4.4 [18].
𝑅𝑂 = 𝑄 × (𝑆0 − 𝑆) − 1,42 × 𝑃𝑋 (4.4)
𝑅𝑂 – concentração de oxigénio a fornecer (kg/d);
𝑄 – caudal de lixiviado
𝑃𝑋 – produção de biomassa ativa (kg/d).
De acordo com a literatura as eficiências de remoção da CQO e da CBO5 têm uma ampla variação,
podendo situar-se os 22% e os 99%, valores que dependem sobretudo do TRH e da temperatura,
contudo a taxa de arejamento, a carga orgânica presente no lixiviado e os nutrientes disponíveis
influenciam igualmente as eficiências de remoção [7][11][21]. Teoricamente, o TRH ideal deve situar-
se entre os 5 dias a 20⁰C ou os 10 dias a 10⁰C, para que o sistema não falhe, sendo possível obterem-
se percentagens de remoção de CBO5 e de CQO superiores a 90% quando o TRH excede os 10 dias
(para valores de CBO5/CQO>0,4) [11]. Estudos demonstram que a carga orgânica no afluente
apresenta uma maior influência na eficiência de remoção quando os TRH são mais reduzidos, entre
os 10 dias e os 20 dias, devendo a carga orgânica situar-se entre os 0,025kg CBO5/m3 e os 0,05kg
CBO5/m3 por dia [11][23]. Quando o lixiviado apresenta um rácio CBO5/CQO entre os 0,05 e os 0,3 a
concentração de carga orgânica no afluente desce para valores entre os 0,001kg CBO5/m3 e os 0,01kg
CBO5/m3 por dia, para que atinjam taxas de remoção mais elevadas [11]. Durante a operação das
lagoas arejadas deve ser prevista a adição de nutrientes (N e P), normalmente sob a forma de ácido
fosfórico (H3PO4) ou fosfato de amónia ((NH4)2HPO4), de modo a manter um rácio de CBO5:N:P
mínimo de 100:5:1 [18].
A complexidade associada à remoção do azoto através do processo de nitrificação é, geralmente,
sinónimo de baixas eficiências de remoção quando se recorre a lagoas arejadas, dada a dificuldade
em se proporcionarem as condições ideais à atividade das, sensíveis, bactérias autotróficas
responsáveis pela redução do azoto, conduzindo a TRH superiores a 60 dias [11].
A grande vantagem associada a este processo de tratamento é o seu baixo custo de exploração e
de manutenção, comparativamente a outros métodos, tornando-o muito atrativo, contudo, devido a
todos os fatores envolvidos, é complicado atingirem-se taxas de remoção satisfatórias e similares às
apresentadas na bibliografia [24]. Também a elevada área de implantação, a libertação de odores e a
elevada produção de lamas em conjunto com a sua difícil remoção, constituem aspetos negativos
associados a este processo de tratamento [7]. Desta forma, a sua aplicabilidade centra-se em aterros
sanitários jovens e com uma produção de lixiviados mais reduzida [11].
27
4.3.3 Lamas ativadas
Os processos de tratamento por lamas ativadas em biomassa suspensa partilham a mesma base
das lagoas arejadas, ou seja, recorrem a micro-organismos para o tratamento do lixiviado, mas
contrariamente às últimas, permitem um controlo da população de bactérias através da recirculação
de lamas, o que conduz a uma redução significativa do TRH [11]. Este processo realiza-se com
recurso a um reator biológico, geralmente um tanque, equipado com um poderoso sistema de
arejamento [1]. A jusante é instalado um decantador secundário que permite fazer a recirculação das
lamas ao reator (Figura 4.1) [1].
Figura 4.1 – Representação esquemática do processo por lamas ativadas [21]
No reator biológico ocorre o processo de nitrificação com a conversão do azoto amoniacal em
nitratos e, simultaneamente, a oxidação da matéria orgânica. O particulado resultante desta etapa
precipita no decantador e é devolvido ao reator, promovendo desta forma o controlo da
denominada biomassa ativa [1]. Assim, define-se uma taxa de recirculação de lamas ao reator para
que a concentração de micro organismos seja reposta nos valores adequados para a oxidação da
matéria orgânica e para o processo de nitrificação [18]. A biomassa ativa é caracterizada através da
concentração de sólidos suspensos no licor misto (MLSS – mixed liquor suspended solids) ou da
concentração de sólidos suspensos voláteis no licor misto (MLVSS – mixed liquor volatile suspended
solids) (cerca de 70% a 80% do MLSS), devendo a sua concentração no reator biológico situar-se,
respetivamente, entre 3-6 g/l e 2,5-4 g/l [23][25].
Comparativamente às lagoas arejadas, o tempo de retenção hidráulico é mais reduzido, em geral
entre 1 a 20 dias. O 𝐼 encontra-se entre os 0,5 dias e os 60 dias [9][23][25]. As equações base que
permitem o dimensionamento do processo de lamas ativas são similares à utilizadas para as lagoas
arejadas, fazendo-se a ressalva ao facto do 𝐼 ser diferente do TRH [1][18].
𝑆𝑒 =
𝐾𝑠 × (1 + 𝑘𝑑 × 𝐼)
𝐼 × (𝑌 × 𝐾 − 𝑘𝑑) − 1 (4.5)
28
𝑋 =
𝐼 × 𝑌 × (𝑆0 − 𝑆)
𝑇𝑅𝐻 × (1 + 𝑘𝑑 × 𝐼) (4.6)
Os parâmetros cinéticos envolvidos influenciam de forma preponderante o dimensionamento do
processo de lamas ativas, e, uma vez que dependem de diversos fatores como as caraterísticas do
lixiviado, a temperatura, a disponibilidade de nutrientes, a concentração de biomassa ativa, a
presença de substância tóxicas, a mistura adequada e a concentração de oxigénio, devem ser
determinados em testes piloto. Na literatura podem encontrar-se valores para os referidos
parâmetros, obtidos experimentalmente por diferentes autores (Quadro 4.5) [9].
Quadro 4.5 – Valores de coeficientes cinéticos referentes a águas lixiviantes, obtidos por diferentes autores no
processo de tratamento por lamas ativadas
𝑆0 (mgl-1) 𝐾 𝐾𝑠 (mgl-1) 𝑌 𝑘𝑑 (d-1) 𝑇 (⁰C) Autores
36000 0,75 200 0,33 0,0025 23 – 25 Uloth e Mavinic (1977)
13640
0,77 20,4 0,39 0,022 23 – 25
Zapf-Gilje e Mavinic (1981) 0,71 29,5 0,63 0,075 16
0,46 14,6 0,50 0,028 9
0,29 11,8 0,43 0,008 5
8090
1,16 81,8 0,49 0,009 22 – 23
Wong e Mavinic (1984) 1,12 63,8 0,51 0,018 15
0,51 34,6 0,51 0,006 10
0,34 34,0 0,55 0,002 5
1000 4,50 99 0,59 0,040 22 – 23 Lee (1979)
365 1,80 182 0,59 0,115 21 – 25 Palit e Qasim (1977)
2000 0,46 180 0,50 0,100 25 Gaudy et al. (1986)
A carga orgânica que aflui ao tanque arejado deve obedecer a uma proporção adequada face à
concentração de bactérias existente, para tal estabelece-se o rácio F:M (food to micro-organism
ratio) [21][26]. A literatura refere valores típicos de 0,25kg CBO5/kg MLSS a 0,40kg CBO5/kg MLSS por
dia, para uma temperatura entre os 10⁰C e 20⁰C, respetivamente, prevendo-se uma remoção de
CBO5 superior a 90% [21]. Da mesma forma, a concentração de azoto deve ser regulada, uma vez que
pode inibir a ação das bactérias no processo de nitrificação, sendo indicado na literatura uma
completa nitrificação para cargas inferiores a 0,03kg N/kg MLSS por dia [26].
O fornecimento de oxigénio é um aspeto vital no processo por lamas ativadas, dado a intensa
atividade bacteriana na degradação da matéria orgânica, na redução do azoto amoniacal a nitratos
(nitrificação) e na respiração endógena. A determinação da concentração de oxigénio a disponibilizar
pode ser estimada com a Expressão 4.7, no entanto a concentração de oxigénio dissolvido não deve
ser inferior a 2mg/l [18][20][21].
29
𝑅𝑂 = 𝑄 × (𝑆0 − 𝑆) − 1,42 × 𝑃𝑋 + 4,33 × 𝑄 × 𝑁𝑂𝑥 (4.7)
𝑁𝑂𝑥 – concentração de azoto amoniacal que é oxidado a nitratos (kg/d) (≈80% da TKN).
Os objetivos principais do decantador secundário são produzir um efluente devidamente
clarificado, isto é, com uma reduzida concentração de sólidos suspensos, assim como permitir o
adequado espessamento dos sólidos que retornam ao reator biológico [18]. Os parâmetros
habitualmente utilizados no seu dimensionamento são o TRH, a carga hidráulica e a carga de sólidos
que aflui ao tanque. Num pré-dimensionamento pode considerar-se um TRH entre 2 a 3 horas.
Quando o arejamento no reator biológico é mecânico a carga hidráulica deve ser em média entre 16
e 28 m3/(m2.d) e de pico entre 40 e 64 m3/(m2.d), e a carga de sólidos deve situar-se em média entre
4 e 6 kg/(m2.h) e de pico aproximadamente 8 kg/(m2.h). No caso de ser injetado oxigénio a carga de
sólidos pode aumentar para 5 a 7 kg/(m2.h), em média, e de pico para 9 kg/(m2.h). A profundidade
dos tanques de sedimentação varia entre os 3,5 e os 6 metros [18].
De modo a otimizar o processo de decantação, existe a possibilidade de substituir o decantador
por uma unidade de ultrafiltração, constituindo uma variação do processo tradicional denominada
bioreator por membranas [1][7]. O recurso ao processo de ultrafiltração proporciona uma retenção
mais eficaz da biomassa, possibilitando a desagregação do particulado com a consequente melhoria
da eficiência de tratamento, em especial durante a fase de nitrificação. No entanto, a presença de
elevadas concentrações de compostos inorgânicos provoca danos nas membranas e uma diminuição
no fluxo de lixiviado [7].
Comparativamente às lagoas arejadas, num sistema de tratamento por lamas ativadas a atividade
bacteriana no reator biológico ocorre de uma forma mais intensa, obrigando a uma constante
regulação dos nutrientes, pelo que o rácio CBO5:N:P nunca deve ser inferior a 100:5:1 [21]. O pH
também deve ser monitorizado, uma vez que as reações durante a nitrificação causam a sua redução
acentuada, inibindo ou mesmo suspendendo toda a atividade bacteriana [7], sendo importante
manter o pH entre os 6,5 e os 8 [21]. Outro aspeto a salientar reside no facto do intenso arejamento
conjugado com a presença de elevadas concentrações de metais contribuir para a formação de
espuma, pelo que devem ser adicionados agentes para o seu controlo [9]. Um sistema bem
dimensionado e operado, de acordo com a bibliografia, deve proporcionar uma redução da
concentração de CBO5 e de CQO entre 90% a 99% [8][9][11]. No caso do azoto amoniacal são
expetáveis eficiências de remoção geralmente elevadas, atingindo valores entre 90% e 99% [21][25].
Sendo os nitratos um dos produtos finais da nitrificação, a linha de tratamento deve prever um
tanque anóxico para a sua eliminação através do processo de desnitrificação, de modo a manter
30
baixa a concentração de azoto. A desnitrificação pode ser preanóxica ou postanóxica, consoante se
realize a montante ou a jusante do reator biológico, respetivamente [7]. Na primeira vertente do
processo, a biomassa captada no decantador é reencaminhada para o tanque anóxico e para o
tanque arejado, e procede-se a uma recirculação do licor misto do tanque arejado para o tanque
anóxico. Devido à presença de compostos orgânicos no afluente ao tanque anóxico, as bactérias
obtêm desta forma os nutrientes necessários ao processo de desnitrificação [1]. A desnitrificação
postanóxica, sem a adição de uma fonte de carbono, é expetável que seja muito lenta e próxima da
desnitrificação endógena, observada quando não ocorre crescimento bacteriano [27], pelo que,
durante o processo de conversão dos nitratos a azoto gasoso, é importante manter um rácio C:N
superior a 3:1, recorrendo-se habitualmente a fontes como o metanol sempre que ocorra um défice
de carbono [23]. O pré-dimensionamento do tanque anóxico pode ser realizado com base na taxa
específica de desnitrificação (Equação 4.8) [18].
𝑉𝑛𝑜𝑥 =
𝑁𝑂𝑟
(𝑆𝐷𝑁𝑅) × (𝑀𝐿𝑉𝑆𝑆) (4.8)
𝑉𝑛𝑜𝑥 – volume do tanque anóxico (m3);
𝑁𝑂𝑟 – nitratos removidos (g/d);
𝑆𝐷𝑁𝑅 – taxa específica de desnitrificação (g NO3-N/ g MLVSS/ d) (varia entre 0,04-0,42 para tanques
preanóxicos e entre 0,01-0,04 para tanques postanóxicos);
𝑀𝐿𝑉𝑆𝑆 – sólidos suspensos voláteis no licor misto no tanque anóxico (mg/l).
Apesar do processo de tratamento por lamas ativadas apresentar taxas de remoção mais
satisfatórias, comparativamente às lagoas arejadas, não permite contudo per si proporcionar uma
remoção total dos poluentes, principalmente da CQO dura. Situação esta agravada com o
envelhecimento do aterro sanitário ou quando se pretende respeitar os valores limites de emissão,
pelo que é fundamental a complementaridade com processos de afinação físico-químicos [1][9].
4.3.4 Lagoa e digestor anaeróbio
Os processos de tratamento anaeróbios procuram simular de uma forma controlada as reações
que têm lugar no interior dos aterros sanitários, recorrendo a bactérias que proliferam na ausência
de oxigénio dissolvido e têm a capacidade de degradar a matéria orgânica em dióxido de carbono e
metano [21][26]. Estabelecem-se normalmente duas fases distintas: a ácida, onde bactérias
anaeróbias e bactérias facultativas quebram moléculas orgânicas complexas em ácidos gordos
voláteis como o ácido acético, propanoico e butanoico que, por sua vez, são decompostos por
bactérias metanogénicas, durante a fase metanogénica, em metano e dióxido de carbono [11][21]. O
31
processo anaeróbio é controlado maioritariamente pelas bactérias metanogénicas, as quais são
muito sensíveis ao pH, sendo mais ativas quando os valores de pH são superiores a 6,5, pelo que é
importante existir um controlo do pH, uma vez que na fase ácida ocorre a diminuição do seu valor. A
temperatura é outro dos fatores que influenciam a atividade das bactérias metanogénicas, as quais
são mais ativas entre os 25⁰C e os 65⁰C [9].
No tratamento de águas lixiviantes por processos anaeróbios é usual a implementação de lagoas
(ou tanques, dependendo do volume de lixiviado produzido) ou de digestores. O volume de ambos os
órgãos hidráulicos pode ser estimado através da Equação 4.9, sendo que, no caso específico do
digestor, não contempla a recirculação de lamas [26].
𝑉 = −
𝑄 × ln(1 − 𝜂𝐶𝑄𝑂)
𝐾 (4.9)
𝑉 – volume da lagoa ou digestor (m3);
𝑄 – caudal de lixiviado (m3/d);
𝜂𝐶𝑄𝑂 – percentagem de remoção de CQO pretendida;
𝐾 – constante de reação de primeira ordem (d-1) (=0,0317d-1 a 25⁰C).
Fisicamente as lagoas anaeróbias são similares às lagoas arejadas, assemelhando-se a pequenas
lagoas artificiais. O digestor anaeróbio é composto geralmente por dois órgãos (Figura 4.2): um
tanque inicial selado e aquecido, no qual se promove a mistura do lixiviado através da recirculação
do licor ou do gás libertado, e um segundo tanque que permite a separação entre o clarificado e as
lamas [21].
Figura 4.2 – Representação esquemática de um digestor anaeróbio [21]
As principais vantagens dos sistemas de tratamento anaeróbios, face aos aeróbios, são: uma
reduzida produção de lamas, a formação de gás metano que representa uma fonte de energia e a
ausência de equipamento de arejamento [21]. Apesar das aparentes vantagens, estes processos
requerem um elevado tempo de retenção hidráulico, o qual tem uma forte dependência da
temperatura [21]. Para temperaturas entre os 23⁰C e os 35⁰C é possível obter percentagens de
32
remoção na ordem dos 90% a 95% da CQO e CBO5, com TRH entre aproximadamente os 12 dias e os
40 dias. No entanto, quando a temperatura decresce para os 10⁰C, o TRH pode aumentar para os 170
dias, obtendo-se uma percentagem de remoção de CQO e CBO5 de apenas 80% [11][26]. Desta
forma, a implementação das lagoas anaeróbias em países com climas mais frios não será adequada.
Em relação aos digestores anaeróbios para que a sua operação seja mantida a custo reduzido, o
lixiviado deve conter concentrações de CQO superiores a 10000mg/l, desta forma a produção de
metano é suficiente para alimentar o sistema de aquecimento do digestor [7]. Durante a operação de
ambos os órgãos existe uma maior dificuldade em se manterem as condições ideais para uma
adequada atividade bacteriana, devido à sensibilidade das bactérias metanogénicas a baixos valores
de pH, que surgem na fase ácida, assim como a metais pesados e outros elementos tóxicos [11][21].
Uma maior eficiência é alcançada quando existem concentrações elevadas de CQO, superiores a
7000mg/l, sendo por isso mais adequados no tratamento de lixiviados com origem em aterros
sanitários mais jovens [11]. À medida que o aterro sanitário envelhece e a concentração de matéria
orgânica facilmente biodegradável diminui, estes processos deixam de ser eficientes, à semelhança
dos processos aeróbios [26].
Na remoção de azoto amoniacal, os processos anaeróbios não são os mais adequados, dado ser
apenas removido por assimilação bacteriana na produção de células, registando-se por vezes um
aumento da sua concentração através da hidrólise do azoto orgânico em azoto amoniacal. Uma vez
que, a redução do sulfato a sulfureto ocorre de forma natural em condições anaeróbias, esta
proporciona a precipitação de uma grande percentagem de metais pesados, assim como do cálcio
que precipita sob a forma de carbonatos e fosfatos [26].
Pelas suas caraterísticas, os processos de tratamento anaeróbios adequam-se a uma solução de
pré-tratamento do lixiviado, independentemente da idade do aterro sanitário, podendo ser
implementados a montante de outros processos biológicos (lagoas arejadas ou lamas ativadas, por
exemplo) ou de processos físico-químicos. No caso específico das lagoas anaeróbias, estas podem ser
utilizadas como bacias de equalização ou de regularização do caudal afluente, aumentando a
eficiência dos processos de tratamento a jusante. Embora através os digestores anaeróbios se
consigam obter percentagens de remoção superiores, face às lagoas anaeróbias, dado existir um
maior controlo sobre as condicionantes envolvidas, quando se pretendem atingir elevadas eficiências
de remoção surgem associados elevados custos de implementação e operação [11][26].
33
4.4 Processos físico-químicos
4.4.1 Considerações iniciais
Os processos de tratamento físico-químicos surgem como resposta à incapacidade dos processos
biológicos reduzirem as concentrações dos elementos contaminantes para valores que possibilitem a
descarga do clarificado em linha de água, ou mesmo em coletor municipal para o posterior
tratamento em ETAR [11]. São, portanto, um fator chave quando o lixiviado a tratar provém de
aterros sanitários antigos ou quando as normas de descarga são mais restritivas, tornando-se a
principal opção para eliminar compostos orgânicos refratários e micro poluentes como os compostos
AOX, metais pesados e elementos azotados [21].
A sua implementação é, em geral, a jusante de processos de pré-tratamento (usualmente
biológicos), no entanto podem ser aplicados na sua ausência, principalmente quando o lixiviado tem
origem em aterros sanitários antigos [9]. A escolha do tipo de processo a aplicar está estritamente
relacionada com os elementos poluentes que se pretendem remover, resultando de um estudo à
composição do lixiviado através dos vetores de RSU expetáveis de serem depositados no aterro
sanitário [11].
Na sua designação antevêem-se as bases que caracterizam a sua forma de atuar sobre o lixiviado:
os processos físico-químicos tiram proveito, por um lado, das propriedades químicas que
determinados elementos têm para reagir e modificar as caraterísticas de poluentes específicos; o
segundo aspeto reside na utilização de estruturas e elementos físicos com a capacidade de reter ou
eliminar os contaminantes indesejados [9]. Nos capítulos posteriores descrevem-se os principais
processos de tratamento físico-químicos supra indicados (Quadro 4.1).
4.4.2 Coagulação/floculação
No lixiviado estão presentes em suspensão sólidos e partículas coloidais de dimensões muito
reduzidas, entre 1nm e m, que possuem uma fraca capacidade de sedimentação [7]. O objetivo
deste processo de tratamento é permitir a aglomeração destas partículas em suspensão, formando
flocos de maior peso específico de modo a potenciar a sua sedimentação [26]. Para tal, numa câmara
de mistura rápida, é adicionado um coagulante (sais de alumínio, sais de ferro e polieletrólitos) que
destabiliza as partículas coloidais, neutralizando a sua repulsão electroestática e, assim, possibilitar a
sua aglomeração em flocos [26]. A fase descrita corresponde à coagulação que antecede a fase de
floculação, a qual ocorre numa câmara de mistura lenta dividida em compartimentos onde o lixiviado
é submetido a velocidades gradualmente mais lentas propícias à formação de flocos de maiores
dimensões, adicionando-se um floculante, tipicamente sílica ativada, argila ou poliacetato [18][26].
34
Por último, o efluente circula por um tanque de sedimentação de modo a proporcionar a separação
entre o clarificado e as lamas químicas [8].
A quantidade de coagulante varia consoante as caraterísticas do lixiviado, bem como das
percentagens de remoção pretendidas, encontrando-se na bibliografia valores entre 40g/m3 a
1200g/m3. Para otimizar a coagulação o pH deve localizar-se entre 5,5 e 6,5 prevendo-se a sua
correção sempre que necessário. Ambas as câmaras de mistura são equipadas com eletroagitadores,
diferindo no gradiente de velocidade (G) aplicado, assim como no TRH. A sua potência é determinada
com base na seguinte expressão [18]:
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉𝑒𝑐𝑚 (4.10)
𝑃𝑒 – potência do eletroagitador (W);
𝐺 – gradiente de velocidade (s-1)
𝜇 – viscosidade dinâmica da água (0,00157N.s/m2);
𝑉𝑒𝑐𝑚 – volume efetivo da câmara de mistura (m3)
Na câmara de mistura rápida o lixiviado deve experimentar valores típicos de G entre 500s-1 a
1500s-1 e um TRH entre 5s a 30s. Contrariamente, na câmara de mistura lenta o gradiente de
velocidade deve situar-se geralmente entre os 50s-1 e os 100s-1 e o tempo de retenção hidráulico
entre 30 e 60 minutos. O tanque de sedimentação secundário (Figura 4.3) deve permitir um TRH
entre 2 e 4 horas, uma carga hidráulica entre 16 e 24 m3/m2.h e um declive do fundo entre 5 e 8
graus [18]. A conduta de alimentação deve permitir uma velocidade inferior a 1,4m/s, de modo a
evitar que os flocos formados na câmara de floculação voltem a desagregar-se [28].
Figura 4.3 – Decantador secundário com alimentação central e sistema de remoção de lamas por raspador [28]
O sucesso deste processo de tratamento consiste no rigoroso controlo de algumas das variáveis
dominantes, assim para cada tipo de lixiviado tem de ser estabelecida a correta dosagem de
coagulante, assim como o valor de pH ótimo e as adequadas condições de agitação, floculação e
sedimentação [7].
35
O processo de coagulação/floculação apresenta uma maior eficiência na remoção da cor e da
turbidez, na precipitação de metais pesados e na remoção de sólidos em suspensão [1][9]. Devido à
eficiência de remoção das partículas orgânicas ser diretamente proporcional ao seu peso molecular,
estudos mostram que apenas para partículas com peso molecular superior a 50000 existe uma boa
eficiência de remoção, pelo que a sua utilização é mais adequada no tratamento de lixiviados
provenientes de aterros sanitários antigos, com um reduzido rácio CBO5/CQO (<1), ou no caso do
efluente de tratamentos biológicos [26]. A remoção dos sólidos suspensos poderá atingir valores até
75%, em relação à CQO as eficiências de remoção podem variar entre os 40% e os 75%. Na
eliminação dos compostos AOX são expetáveis percentagens semelhantes [26], no entanto, este
processo de tratamento não é eficaz na remoção do azoto amoniacal [11]. Outra desvantagem que
lhe está associada é a elevada produção de lamas e o aumento da concentração de alumínio e ferro
na fase líquida [9][26].
Apesar de não constituir um excelente processo de tratamento per si, pode trazer benefícios
quando aplicado a jusante ou a montante de outros processos de tratamento, promovendo o
aumento da eficiência do sistema como um todo.
4.4.3 Oxidação química
Os processos de tratamento por oxidação química baseiam-se em reações de oxidação-redução
para provocar alterações na estrutura molecular de poluentes orgânicos ou inorgânicos, com o
objetivo de os transformar em subprodutos de menor toxicidade e de fácil remoção [18]. Nas
reações de oxidação-redução ocorre a transferência de eletrões do agente oxidante para o agente
redutor [1]. Dos vários agentes oxidantes possíveis de aplicar no tratamento dos lixiviados, os mais
eficazes são o Ozono (O3) e o Peróxido de Hidrogénio (H2O2). Agentes oxidantes como o Dióxido de
Cloro (ClO2) e o Cloro (Cl2) são de utilização limitada devido aos subprodutos que podem decorrer da
sua aplicação, em particular os compostos organoclorados e halogenados, potencialmente
cancerígenos [7][26].
O campo de aplicação dos processos de tratamento por oxidação química é vasto,
nomeadamente na remoção de vários compostos orgânicos refratários, quer seja através da sua
mineralização ou conversão em elementos de fácil biodegradação, na eliminação ou redução da
toxicidade de determinados compostos orgânicos e inorgânicos responsáveis pela inibição da
atividade bacteriana, no controlo de odores e na remoção da cor [1][18][29]. Desta forma, mostram
ser adequados no tratamento de lixiviados provenientes de aterros sanitários antigos, os quais se
caracterizam por rácios CBO5/CQO inferiores a 0,2 que indicam a presença de uma percentagem
elevada de CQO dura, não removível biologicamente. Surgem, por isso, associados a outros
36
processos de tratamento, maioritariamente biológicos, onde intervêm como processos de afinação
ou de pré-tratamento para melhorar a eficiência dos processos de tratamento a jusante, procurando
nestes casos apenas uma oxidação parcial das substâncias com o intuito de atingir uma melhor
relação custo/benefício [25][30].
Dentro dos processos de tratamento por oxidação química reportados na literatura, os processos
avançados de oxidação (PAO) apresentam-se como os mais eficazes na degradação de uma grande
variedade de compostos orgânicos refratários e inorgânicos [31]. Este facto deve-se a na sua base de
ação estar a formação do radical livre OH• que tem um elevado potencial de oxidação (Quadro 4.6),
permitindo a mineralização de um amplo espetro de compostos orgânicos (fenóis, hidrocarbonetos,
ácidos, AOX, álcoois, aldeídos, cetonas, etc.) em CO2, H2O e iões inorgânicos [25][32].
Quadro 4.6 – Agentes oxidantes e respetivo potencial de oxidação [18]
Agente oxidante Potencial de oxidação (V)
Flúor 3,06
Radical livre OH• 2,80
Oxigénio (atómico) 2,42
Ozono 2,08
Peróxido de Hidrogénio 1,78
Cloro 1,36
Dióxido de Cloro 1,27
Oxigénio (molecular) 1,23
Os radicais livres OH• podem ser produzidos com recurso a vários processos (Quadro 4.7) que têm
por base poderosos oxidantes (O3 ou o H2O2) associados a catalisadores, como metais de transição,
sais de ferro, semicondutores, radiação ou ultrassons [33]. Um dos processos mais comuns é a
oxidação por reagente de Fenton que se caracteriza pela utilização de Peróxido de Hidrogénio e de
sais de ferro (habitualmente Sulfato Ferroso (FeSO4) ou Cloreto de Ferro (FeCl2)) [1].
Quadro 4.7 – Processos avançados de oxidação mais comuns [34]
Processos homogéneos
H2O2 +Fe2+ (Fenton)
O3 + H2O2
O3 + OH-
O3 + Ultravioleta (UV)
H2O2 + UV
Ultrassom (US)
H2O2 + US
UV + US
H2O2 +Fe2+ + UV (foto Fenton)
37
Quadro 4.7 – Processos avançados de oxidação mais comuns [34] (continuação)
Processos heterogéneos
TiO2 + O2 + UV
TiO2 + H2O2 + UV
Electro Fenton
O processo de oxidação por reagente de Fenton divide-se em quatro fases: o ajuste de pH, a
reação de oxidação, a neutralização e coagulação, e a precipitação [31]. O sistema típico pode ser
observado na Figura 4.4. Durante a primeira fase o pH deve ser ajustado para valores entre 2 e 6 para
que o ferro não precipite e, assim, manter-se em solução [1]. A fase de oxidação ocorre no interior
de um reator com agitadores incorporados, à pressão atmosférica e à temperatura ambiente, onde
se adiciona o H2O2 e os sais de ferro. Na fase de neutralização e coagulação o pH é elevado para
valores entre 6 e 9 através da adição de cal (CaO) (por exemplo) para que, na última fase (a
precipitação), seja possível remover o hidróxido de ferro, assim como outros metais pesados [32]. As
lamas produzidas durante todo o processo carecem de posterior tratamento, observando-se
habitualmente elevadas concentrações de ferro [1].
Figura 4.4 – Esquema de tratamento comum do PAO por reagente de Fenton [32]
A eficiência de todo o processo está associada a um conjunto de fatores, dos quais se destacam o
pH, a dosagem de agente oxidante e de catalisador, a temperatura e o tempo de contacto [31]. O pH
deve manter-se baixo para prevenir a precipitação e a instabilidade do H2O2, e, simultaneamente,
potenciar o poder de oxidação dos radicais livres OH• [32]. A concentração de H2O2 é diretamente
proporcional à produção de radicais livres OH•, estimando-se que, teoricamente, 1000mg/l de H2O2
oxidam 470,6mg/l de CQO [29][33]. Contudo, em geral, a quantidade necessária é superior à
determinada teoricamente, devido a diversas variáveis, das quais se destaca a sua dispersão por
outras reações químicas, o seu consumo incompleto e o processo escolhido não ser o adequado
[7][25].
38
O rácio H2O2/Fe2+ define a predominância entre a oxidação e a coagulação química, pelo que
quando a dosagem de Fe2+ excede a de H2O2, prevalece tendencialmente a segunda [31]. A literatura
indica que a razão H2O2/Fe2+ típica se situa entre os 5:1 e os 25:1 [32]. Contudo, é importante a
relação entre ambos os compostos seja o mais baixo possível de modo a evitar a recombinação dos
radicais livres OH• e uma produção excessiva de lamas [29]. As temperaturas elevadas privilegiam a
atuação do reagente de Fenton, no entanto para valores entre os 40⁰C e os 50⁰C o H2O2 tende a
converter-se de forma acelerada em oxigénio e água, conduzindo a uma redução na sua eficiência de
utilização, devendo a temperatura situar-se entre os 20⁰C e os 40⁰C [35]. O tempo de contacto
referenciado por vários autores encontra-se entre os 30 minutos e as 3 horas, podendo atingir
valores inferiores a 30 minutos no caso particular do processo electro Fenton [36].
Diversos estudos que incidem sobre águas lixiviantes provenientes de aterros sanitários
estabilizados, ou lixiviado submetido a processos de pré-tratamento, cujo rácio CBO5/CQO inferior a
0,2 é indicativo da presença de substâncias de difícil degradação, indicam valores percentuais de
remoção de CQO entre os 46% e os 89%, quando se recorre ao processo de oxidação por reagente de
Fenton [30][30][32].
A atratividade da utilização do processo de oxidação por reagente de Fenton, reside na
simplicidade tecnológica e facilidade de operação, comparativamente a processos que recorram a
outros catalisadores ou agentes oxidantes, na baixa toxicidade dos reagentes envolvidos e no baixo
nível de resíduos produzidos [37]. Uma das grandes vantagens associada à utilização dos PAO é a
capacidade de degradação completa dos compostos, em detrimento da transferência de fase
proporcionada por outros processos de tratamento, permitindo uma remoção efetiva das
substâncias poluentes através da sua mineralização [30]. Mas é importante salientar que uma
oxidação incompleta dos compostos pode ocorrer, sendo por vezes de difícil previsão se a toxicidade
dos subprodutos é inferior à das substâncias de origem [1]. Desta forma, a complexidade associada à
composição das águas lixiviantes implica que, no dimensionamento de um sistema de tratamento
que inclua o processo de oxidação química (simples ou com recurso a PAO), seja de elevada
importância o desenvolvimento de projetos piloto de modo a determinar as relações ótimas entre
todos os fatores envolvidos, assim como o processo mais adequado às caraterísticas do lixiviado a
tratar de forma a obter as melhores eficiências de remoção [18][38].
4.4.4 Air stripping
O fenómeno de stripping ocorre quando um gás (geralmente ar) entra em contacto com um fluído
que contém compostos voláteis, os quais são transferidos da fase líquida para a fase gasosa, numa
quantidade proporcional ao diferencial de concentração dos compostos presentes nas duas fases,
39
até ser atingido um equilíbrio. Este fenómeno é governado pela Lei de Henry, sendo a constante da
Lei de Henry diferente para cada composto [25]. Este processo de tratamento é utilizado sobretudo
para remover o azoto amoniacal presente nas águas lixiviantes [15][39], o qual deve ser convertido
em gás amoníaco (NH3) através do aumento do pH, de modo a poder ser removido [18]. A sua
eficiência de remoção depende fundamentalmente de dois fatores: o pH, cujo valor se deve situar
entre 10 e 12, e a temperatura, uma vez que a constante da Lei de Henry é sua dependente
[7][25][40].
O sistema de contracorrente, um dos mais utilizados no processo de tratamento por air stripping,
consiste numa torre onde se promove a passagem de fase dos COV e outros poluentes voláteis
(Figura 4.5). O lixiviado é introduzido no topo de uma torre de stripping que contém no seu interior
material de enchimento (plástico, metálico ou cerâmico) que permite aumentar a superfície de
contacto, por sua vez, na base da torre é injetado ar [9][40]. Desta forma, à medida que o caudal de
lixiviado desce a torre de stripping, o ar ascendente permite que os compostos voláteis se transfiram
para a fase gasosa [9][40]. Deste processo resulta ar contaminado com os compostos provenientes
da fase líquida que deve ser tratado posteriormente devido à sua elevada toxicidade, sendo comum
utilizar-se carvão ativado, Ácido Sulfúrico (H2SO4) e Ácido Clorídrico (HCl) [7][24]. Outra desvantagem
está na acumulação de carbonato de cálcio nas paredes da torre de stripping [24][40]. De modo a
otimizar o processo devem ser tomadas algumas medidas, nomeadamente a equalização do lixiviado,
a remoção dos sólidos suspensos e a eliminação do ferro e dos metais pesados [25].
Figura 4.5 – Sistema de tratamento por air stripping [25]
40
Um aspeto importante a reter no dimensionamento destes sistemas de tratamento é a
percentagem de remoção do azoto amoniacal ser constante para o volume de ar disponível,
independentemente da sua concentração no lixiviado. Este facto condiciona a eficiência de remoção
quando as águas lixiviantes apresentam grandes variações na concentração de azoto amoniacal ao
longo do ano [7].
O dimensionamento de uma torre de stripping baseia-se numa análise do balanço e da
transferência de massas, entre a fase líquida e a fase gasosa, recorrendo à Lei de Fick e à Lei de
Henry, de modo a determinarem-se os parâmetros que a caracterizam, nomeadamente o volume de
ar que garante a percentagem de remoção pretendida, o caudal de lixiviado afluente, a altura e
diâmetro da torre e a profundidade de material de enchimento [18][25]. O tempo de retenção varia
habitualmente entre as 12h e as 24h [24][39]. No Quadro 4.8 estão representados os valores
caraterísticos para os principais parâmetros de dimensionamento de uma torre de stripping para
remoção de COV e de azoto amoniacal.
Quadro 4.8 – Valores típicos para os parâmetros de dimensionamento de uma torre de stripping para remoção
de COV e de azoto amoniacal [18]
Parâmetros Unidades COV Azoto amoniacal
Caudal de lixiviado L/m2.min 600 – 1800 40 – 80
Rácio ar/líquido m3/m3 20 – 60 : 1 2000 – 6000 : 1
Queda de pressão permitida (N/m2)/m 100 – 400 100 – 400
Rácio altura/diâmetro m/m ≤ 10 : 1 ≤ 10 : 1
Profundidade de enchimento m 1 – 6 2 – 6
pH – 5,5 – 8,5 10,8 – 11,5
A eficiência de um sistema de tratamento aplicando air stripping é habitualmente medida pela
remoção do azoto amoniacal, sendo expetável num sistema bem dimensionado atingirem-se
eficiências entre os 85% e os 95%, sem depender aparentemente do estado de estabilização do
lixiviado afluente [24][39][41]. Embora este processo de tratamento não tenha como objetivo a
remoção de substâncias orgânicas, na literatura existem registos da remoção de CQO entre os 15% e
os 47%, relativamente a águas lixiviantes provenientes de aterros sanitários jovens [39].
4.4.5 Membranas
A filtração por membranas explora as propriedades semipermeáveis que algumas membranas
apresentam, com o objetivo de provocar a separação entre o solvente (água) e os compostos
poluentes presentes nas águas lixiviantes [26]. A separação é conseguida com a passagem do
lixiviado sob pressão através de membranas semipermeáveis que são habitualmente compostas por
41
acetato de celulose, poliamida e películas compósitas finas, apresentando quatro configurações tipo:
tubulares, espiraladas, fibras finas ocas e planas simétricas [9][25]. As diferentes disposições
caracterizam-se por proporcionarem uma maior ou menor área de contacto por unidade de volume,
conforme se observa no Quadro 4.9 [26].
Quadro 4.9 – Configuração das membrana e respetiva área de contacto por unidade de volume [26]
Configuração das membranas Área de contacto por unidade de
volume (m2/m3)
Planas simétricas 165
Tubular 335
Espiralada 1000
Fibras finas ocas 16500
A variação da dimensão dos poros das membranas e da pressão de operação definem o grau de
retenção dos poluentes, encontrando-se expostos no Quadro 4.10 os processos de tratamento por
membranas mais comuns [1][7][26].
Quadro 4.10 – Processos de tratamento por membranas mais comuns [1][7][26]
Parâmetros Osmose inversa Nanofiltração Ultrafiltração
Dimensão dos poros (µm) 0,0001 – 0,001 0,001 – 0,005 0,005 – 0,02
Pressão de operação (kPa) 1000 – 10000 500 – 1000 70 – 700
Dos três processos apresentados, somente a osmose inversa permite atingir eficiências de
remoção superiores a 99% para a CQO, a CBO5 e o azoto amoniacal, dependendo do número de fases
incorporadas pode alcançar eficiências de 99,99% [5][7][24][26]. Apesar dos restantes processos não
permitirem uma filtração tão fina quanto a osmose inversa, também eles apresentam vantagens
interessantes do ponto de vista operacional. A nanofiltração pode atingir uma eficiência de remoção
de CQO entre os 60% e os 95%, e de CBO5 perto dos 90%, com um menor consumo de energia,
aproximadamente menos 10%. O concentrado produzido tem uma menor concentração de Cloreto
de Sódio (sal), devido à maior dimensão dos poros, que se traduz numa maior facilidade e economia
de tratamento [1][24]. Por sua vez, a ultrafiltração apresenta um custo de exploração mais reduzido
que os processos anteriores, dado que opera a pressões muito inferiores e os poros são de maior
dimensão, e produz lamas que podem ser depositadas no aterro sanitário após o seu tratamento ou
reencaminhadas para o tratamento biológico, conforme indicado no capítulo 4.3.3. [1]. A
ultrafiltração permite uma retenção quase total dos sólidos suspensos, tornando-a num processo
atrativo como pré-tratamento com o intuito de aumentar a eficiência de outros processos a jusante
como a osmose inversa, a nanofiltração ou o tratamento por carvão ativado [1][24].
42
Contrariamente aos restantes processos por membranas, cujos poluentes são retidos quando a
sua dimensão excede a dimensão dos poros, no caso particular da osmose inversa a retenção ocorre
por inversão do fenómeno de osmose, dado a pressão de operação ser superior à osmótica. Assim, é
possível eliminar não só partículas suspensas no lixiviado, mas também os poluentes solubilizados,
obtendo-se um solvente quase puro (permeado), e uma solução com elevada concentração de
elementos poluentes (concentrado) [1][26]. Habitualmente, os sistemas de osmose inversa são
compostos por duas ou três fases de modo a aumentar a sua eficiência (Figura 4.6), sendo que na
primeira fase é removida a maior percentagem de poluentes, e nas fases seguintes se efetua o
polimento do permeado [7]. A montante deve proceder-se ao pré-tratamento do lixiviado de modo a
reduzir a concentração de partículas de maior dimensão, ajustar o valor pH e adicionar um anti
incrustante, para que desta forma se potencie o aumento da eficiência de remoção e prolongar o
tempo de vida útil das membranas [1][7][25].
Figura 4.6 – Configuração típica de um sistema de osmose inversa de duas fases [7]
A versatilidade deste processo de tratamento estende-se à capacidade do sistema puder
funcionar intermitentemente e de se adaptar a diferentes composições de lixiviado, traduzindo-se
numa vantagem significativa, uma vez que as águas lixiviantes apresentam variações ao longo do ano
tanto a nível do volume produzido como na concentração dos poluentes [1][7].
O dimensionamento de uma unidade de osmose inversa pode ter como base a determinação da
área de membrana que garanta a percentagem de remoção pretendida para os poluentes, para tal
podem ser utilizados diversos modelos que partilham o seguinte conjunto de equações base [18]:
𝐹𝑤 = 𝑘𝑤 × (∆𝑃𝑎 − ∆Π) =
𝑄𝑝
𝐴 (4.11)
𝐹𝑤 – fluxo de lixiviado (kg/m2.s);
43
𝑘𝑤 – coeficiente de transferência de massa para a água (s/m), que depende da temperatura, tipo de
membrana e das caraterísticas do soluto;
∆𝑃𝑎 – gradiente de pressão médio imposto (kg/m.s2);
∆Π – gradiente de pressão osmótica (kg/m.s2);
𝑄𝑝 – caudal de permeado (kg/s);
𝐴 – área (m2).
∆𝑃𝑎 =
𝑃𝑓 + 𝑃𝑐
2− 𝑃𝑝 (4.12)
𝑃𝑓 – pressão no fluxo de lixiviado (kPa);
𝑃𝑐 – pressão no fluxo de concentrado (kPa);
𝑃𝑝 – pressão no fluxo de permeado (kPa).
∆Π =
Π𝑓 + Π𝑐
2− Π𝑝 (4.13)
Π𝑓 – pressão osmótica do lixiviado (kPa);
Π𝑐 – pressão osmótica do concentrado (kPa);
Π𝑝 – pressão osmótica do permeado (kPa).
𝐹𝑖 = 𝑘𝑖 × ∆𝐶𝑖 =
𝑄𝑝 × 𝐶𝑝
𝐴 (4.14)
𝐹𝑖 – fluxo de soluto (kg/m2.s);
𝑘𝑖 – coeficiente de transferência de massa de soluto (s/m);
∆𝐶𝑖 – gradiente de concentração de soluto (kg/m3).
∆𝐶𝑖 =
𝐶𝑓 + 𝐶𝑐
2− 𝐶𝑝 (4.15)
𝐶𝑓 – concentração de soluto no lixiviado (kg/m3);
𝐶𝑐 – concentração de soluto no concentrado (kg/m3);
𝐶𝑝 – concentração de soluto no permeado (kg/m3).
A avaliação do sistema pode ser realizada expeditamente através de dois parâmetros: a taxa de
rejeição (R) referente ao soluto e a taxa de recuperação (r) relativa à percentagem de permeado
obtido face ao caudal de entrada, os quais se traduzem pelas Expressões 4.16 e 4.17,
respetivamente. De modo a minimizar a produção de concentrado, procura-se que a unidade de
osmose inversa funcione com a maior taxa de recuperação possível [18].
𝑅, % =
𝐶𝑓 − 𝐶𝑝
𝐶𝑓× 100 (4.16)
44
𝑟, % =
𝑄𝑝
𝑄𝑓× 100
(4.17)
Os processos indicados apresentam algumas desvantagens transversais, sendo as principais: o
tempo de vida útil das membranas que depende em larga medida do fenómeno de colmatação e de
bio colmatação, e a produção de concentrado e lamas, como consequência da separação da fase
sólida da fase líquida [7][24]. O período de vida útil das membranas varia, aproximadamente, entre
um ano e meio e dois anos, dependendo das caraterísticas das águas lixiviantes e da operação e
manutenção efetuadas [7][25]. A colmatação resulta de vários fatores, nomeadamente: da presença
de partículas coloidais e de sólidos suspensos, e da precipitação de metais e sais. A bio colmatação é
provocada pela presença de matéria orgânica [24][26]. Desta forma, para aumentar o tempo de vida
útil das membranas é fundamental incorporar processos de pré-tratamento para remover as
partículas de maior dimensão, controlar o pH para valores próximos de 6, de modo a evitar a
precipitação dos metais e sais presentes em solução e adição de agentes para prevenir a formação
do biofilme [25][26]. A maioria dos sistemas de filtração por membranas recorre ao processo de
correntes cruzadas para mantê-las sempre limpas. Este consiste numa injeção tangencial à
membrana de concentrado a elevada velocidade [1]. Apesar da aplicação das medidas enunciadas é
sempre necessário proceder-se à limpeza das membranas, quer seja quimicamente com uma solução
adequada ou, no caso das membranas de configuração plana simétrica e tubular, esfregadas
fisicamente com uma escova [7][25].
O concentrado, subproduto comum a todos os processos de tratamento por membranas, é o
elemento que requer uma maior atenção, dado apresentar uma elevada carga poluente [7]. O
destino final do concentrado é o aterro sanitário anexo ou um aterro de resíduos perigosos, podendo
ou não ser submetido a um processo de tratamento, com dependência da legislação em vigor [1]. Por
norma, o concentrado pode passar por um processo de evaporação e secagem com o intuito de
reduzir o volume de água de modo a obter um granulado, ou pode ser inertizado através da adição
de cimento e de produtos químicos [1][42]. Uma terceira opção seria uma recirculação controlada do
concentrado, sem tratamento, para o aterro sanitário, acelerando o processo de degradação da
massa de resíduos [42].
O processo de tratamento por osmose inversa constitui, atualmente, um dos processos mais
eficazes na remoção dos poluentes presentes nas águas lixiviantes, apresentando elevadas taxas de
remoção, quando comparado com processos biológicos ou processos físico-químicos, devido à sua
capacidade de remover a fração não biodegradável da CQO (compostos refratários) e o azoto
[1][5][26].
45
4.4.6 Carvão ativado
O processo de tratamento por carvão ativado utiliza a elevada capacidade de adsorção que este
elemento apresenta para remover os contaminantes presentes no lixiviado, promovendo a sua
passagem da fase líquida para a fase sólida [1]. A adsorção é o fenómeno de atração entre elementos
presentes na fase líquida e a superfície do adsorvente que os retém [25]. Pode ocorrer através de
três mecanismos que, geralmente, atuam em simultâneo: forças elétricas entre a solução e o
adsorvente, forças de Van der Waals (adsorção física) e forças químicas (adsorção química). O
primeiro mecanismo é mais favorável para adsorver iões e os dois últimos para adsorver moléculas
[26].
O carvão ativado é o adsorvente mais utilizado no tratamento de águas lixiviantes, devido à sua
elevada área específica (100 – 1500 m2/g), podendo ser aplicado como carvão granular ativado (GAC
– granular activated carbon) ou pó de carvão ativado (PAC – powdered activated carbon) [1][26]. O
primeiro caracteriza-se por partículas de diâmetro superior a 0,1mm e o segundo por partículas de
diâmetro inferior a 0,074mm [18]. A eficiência de adsorção do carvão ativado é medida através das
isotérmicas de adsorção obtidas em função da interação entre o contaminante e o carvão ativado
[7]. Um dos modelos mais utilizados é conhecido por isotérmicas de Freundlich (Expressão 4.18) que
relaciona a quantidade de substância adsorvida por unidade de peso do carvão ativado, sendo
dependente da concentração inicial do contaminante em equilíbrio e da temperatura [18][26].
𝑋𝑠𝑎
𝑀= 𝐾𝐹 × 𝐶
1𝑛⁄ (4.18)
𝑋𝑠𝑎 – massa de substância adsorvida;
𝑀 – massa de carvão ativado;
𝐾 – coeficiente de Freundlich (a temperatura constante);
𝐶 – concentração da substância a adsorver (em equilíbrio);
𝑛 – constante >1 (a temperatura constante)
A equação 4.13 é normalmente representada graficamente por um diagrama bi-logarítmico,
obtido a partir de ensaios laboratoriais para cada contaminante alvo, de onde é possível extrair o
valor de K e de 1/n [18][26].
Quando o processo de tratamento recorre ao GAC utiliza-se, em geral, uma coluna de leito fixo
com injeção das águas lixiviantes no topo da coluna, em sistema a favor da corrente, ou injetadas de
baixo para cima, em sistema de contra corrente. A primeira solução tem a vantagem de permitir
46
simultaneamente a adsorção dos poluentes e a retenção dos sólidos suspensos, prevenindo a
colmatação na base do leito, local de difícil limpeza [1][18]. O dimensionamento dos leitos de carvão
ativado tem como base quatro parâmetros principais: o tempo de contacto (EBCT – empty bed
contact time), a taxa de carga hidráulica, a profundidade da coluna de carvão ativado e o número de
colunas [18]. O tempo de contacto é determinado experimentalmente, variando por norma entre 15
a 60 minutos [23]. A taxa de carga hidráulica deve situar-se entre 5 a 20 m3/h/m2 [23]. Por sua vez, o
volume de carvão ativado pode ser obtido através do produto entre o EBCT e o caudal de lixiviado
[23]. De modo a facilitar o processo de adsorção, o pH do lixiviado deve ser preferencialmente ácido,
assim como a temperatura e caudal de lixiviado devem permanecer constantes [18][26].
As duas principais desvantagens operacionais associadas aos leitos fixos de carvão ativado são: a
colmatação e a degradação do carvão ativado. A solução para o primeiro fenómeno passa por
manter uma concentração de sólidos suspensos inferior a 50mg/l, e incluir um sistema automático
que permita a limpeza à superfície e em contra corrente [1][18][23]. Contudo, a lavagem em contra
corrente causa uma diminuição da frente de adsorção, dado que este processo provoca a expansão
do leito que, por sua vez conduz à colisão das partículas de carvão ativado, libertando partículas finas
[18]. A degradação das capacidades de adsorção do carvão ativado é o resultado da saturação da sua
superfície pelos contaminantes. Quando tal sucede o mesmo deve ser substituído por carvão ativado
novo ou regenerar-se o existente, sendo que, na última opção, ocorre sempre uma redução entre 5%
a 10% na capacidade de adsorção [1].
O tratamento com GAC destaca-se, sobretudo, pela sua utilização como processo de afinação do
lixiviado submetido previamente a tratamentos biológicos, dada a presença no lixiviado bruto de
substâncias orgânicas caracterizadas por um peso molecular fora do intervalo preferencial (100 –
10000), como ácidos gordos voláteis, açucares, etc., devido à sua elevada polaridade ou dimensão
[1][26]. Prevalece, por isso, a sua utilização na remoção de matéria orgânica refratária, a
denominada CQO dura, de compostos halogenados, e quantidades remanescentes de metais
pesados, sulfatos e azoto [1][9][26]. Estudos realizados apontam para eficiências de remoção de CQO
entre 59% a 99%, mostrando uma capacidade efetiva na remoção da turvação do efluente [7][9][23].
O tratamento com PAC caracteriza-se pela sua adição direta nos processos de tratamento
biológicos, físico-químicos ou no efluente final de um processo biológico [1]. Na última opção o PAC
deve ser aplicado num tanque de sedimentação de modo a permitir o tempo de contacto necessário
para a sua ação, e depois sedimentar no fundo. Devido à dimensão das partículas ser muito reduzida
deve adicionar-se um coagulante ou polieletrólitos para que se aglomerem em partículas de maior
dimensão ou, em alternativa, proceder a uma filtração [1][18]. A combinação de PAC com
47
tratamentos biológicos permite um aumento significativo da remoção de matéria orgânica refratária
solúvel. Estudos indicam percentagens de remoção de CQO entre os 34% e os 85% dependendo da
quantidade da dose aplicada [9]. A correta dosagem e o tempo de contacto são fatores que
dependem do tipo de lixiviado e do grau de tratamento pretendido, pelo que devem ser realizados
testes piloto de modo a determinar os valores ideais [18].
4.4.7 Filtração
O processo de tratamento por filtração consiste na passagem do lixiviado através de uma ou mais
camadas de material poroso de modo a reter as partículas suspensas [9][25]. A sua aplicação no
tratamento das águas lixiviantes tem duas vertentes: a afinação do efluente de processos biológicos
e físico-químicos e o pré-tratamento a montante de processos de tratamento avançados, como a
osmose inversa, oxidação química, etc. [7][9]. O processo de filtração ocorre maioritariamente
através dos seguintes mecanismos [18]:
separação mecânica por retenção das partículas de dimensão superior à dos poros do meio
filtrante;
sedimentação através do assentamento dos sólidos suspensos sobre o meio filtrante;
impacto por colisão de partículas mais pesadas que não seguem as linhas de escoamento;
interceção através do contato entre os grãos do material filtrante e os sólidos suspensos;
crescimento biológico através da formação de uma película biológica que provoca uma
redução dos poros do meio filtrante, podendo intensificar os mecanismos anteriores.
As partículas retidas no meio filtrante são removidas por um sistema de lavagem em contra
corrente, o qual pode operar em simultâneo com a filtração (operação continua) ou após a
interrupção da filtração (operação semicontinua). O acionamento do sistema de lavagem é
automático, recorrendo a um temporizador ou a sensores que detetam quando a perda de carga
excede o valor de dimensionamento [7].
Dentro de cada modo de operação existem diversos modelos de filtros, variando nas suas
caraterísticas físicas e de funcionamento (número de camadas, tipo de material filtrante,
profundidade, circulação a favor ou contra corrente e leito fixo ou móvel) [18]. Os filtros de leito fixo,
com uma ou mais camadas, podem ainda funcionar por gravidade ou por pressão. Os materiais
filtrantes mais utilizados são a areia, a antracite e material silicioso (garnet), normalmente sobre uma
camada composta por gravilha ou cascalho de granulometria variável, a qual fornece suporte e
permite a retenção do material filtrante [25].
48
No pré-dimensionamento de um filtro de leito fixo, a operar por gravidade, pode admitir-se uma
taxa de filtração entre 5 e 24 m3/(m2.h), uma espessura entre os 0,30m e os 0,60m para as camadas
de areia ou antracite, e entre os 0,10m e os 0,15m no caso do material silicioso, permitindo uma
expansão do leito entre 25% e 50% durante a lavagem do filtro. A perda de carga pode assumir
valores entre os 0,60m e os 3m [25].
49
5 SISTEMAS DE TRATAMENTO ADOTADOS EM PORTUGAL
5.1 Considerações iniciais
Em Portugal a gestão dos resíduos sólidos urbanos é da responsabilidade de sistemas
multimunicipais, intermunicipais. Os primeiros caracterizam-se, de acordo com o Decreto-Lei n.º
92/2013, de 11 de julho, por servirem pelo menos dois municípios e exigirem “(…) a intervenção do
Estado em função de razões de interesse nacional, sendo a criação destes sistemas de titularidade
estatal precedida de parecer dos municípios territorialmente envolvidos(…)”. Os sistemas
intermunicipais resultam da agregação de municípios que exercem, de forma direta ou indireta, uma
influência dominante no que concerne à gestão dos RSU. Em Portugal Continental existem 12
sistemas multimunicipais e 11 sistemas intermunicipais, representados na Figura 5.1.
Figura 5.1 – Sistemas de gestão dos RSU (multimunicipais em letras maiúsculas e intermunicipais em letras
minúsculas)
50
Na região autónoma da Madeira a gestão dos resíduos sólidos urbanos está concessionada
apenas a uma entidade (Figura 5.2). Na região autónoma dos Açores a gestão dos resíduos sólidos
urbanos é repartida por várias entidades, nesse sentido de acordo com o âmbito desta dissertação,
apenas são referenciadas as responsáveis pela gestão dos aterros sanitários (Figura 5.3), omitindo as
restantes, assim como as situações em que se verifica a existência de lixeira ou vazadouro como
destino final dos RSU. Desta forma, apenas a Ilha do Pico, a Ilha de Santa Maria, a Ilha de São Miguel
e a Ilha Terceira, foram incluídas nesta dissertação, excluindo, portanto, a Ilha do Corvo, a Ilha do
Faial, a Ilha das Flores, a Ilha Graciosa e a Ilha de São Jorge.
Figura 5.2 – Sistemas de gestão dos RSU presentes na região autónoma da Madeira
Figura 5.3 – Sistemas de gestão dos RSU presentes na região autónoma dos Açores
51
A informação existente relativa à gestão e tratamento de águas lixiviantes, geradas nos aterros
sanitários de RSU em Portugal, encontra-se desatualizada uma vez que a última atualização foi
elaborada a pedido do Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR) data de 2008, e contém dados
confirmados até 2006. De modo a preencher esta lacuna realizou-se, no âmbito desta dissertação,
uma pesquisa exaustiva e detalhada dos processos de tratamento aplicados nas ETAL em Portugal,
através do contato direto com as respetivas entidades gestoras. Os principais objetivos desta
pesquisa foram obter resposta às seguintes questões:
Que sistema de tratamento foi implementado na ETAL anexa ao aterro sanitário?
Qual a caracterização das águas lixiviantes à entrada e à saída da ETAL?
A pesquisa realizada permitiu reunir a informação atualizada sobre os sistemas de tratamento
existentes em Portugal, apresentada nos capítulo subsequentes, assim como compreender as
caraterísticas dos lixiviados produzidos e a eficiência dos sistemas de tratamento. Durante o processo
de recolha de informação procurou-se sempre obter dados atualizados, no entanto nem sempre foi
possível, devido à falta de abertura de algumas entidades gestoras no fornecimento de dados,
sobretudo no que concerne à caracterização do lixiviado bruto e tratado.
5.2 Sistemas multimunicipais
5.2.1 ALGAR
A ALGAR gere dois aterros sanitários localizados em Portimão e em Loulé, em exploração desde
julho de 2000 e fevereiro de 1998, respetivamente. Estes integram uma ETAL para o tratamento dos
lixiviados produzidos. De acordo com entidade gestora, o esquema tratamento adotado nas ETAL é
semelhante, e consiste num tratamento biológico com recurso a uma lagoa arejada, seguido de uma
decantação, fazendo, por fim, circular o lixiviado por uma unidade de osmose inversa. O efluente é
armazenado e reutilizado internamente, com possibilidade de realizar a descarga em linha de água
(Figura 5.4). No Quadro 5.1 e no Quadro 5.2 estão representados os valores de alguns dos
parâmetros que caracterizam o lixiviado, antes e após o seu tratamento, e a eficiência do sistema de
tratamento para o aterro sanitário de Portimão e de Loulé.
Figura 5.4 – Esquema de tratamento adotado nas ETAL dos aterros sanitários de Portimão e de Loulé
Decantador Lixiviado afluente Lagoa arejada Unidade de
osmose inversa
Linha de água Tanque final
52
Quadro 5.1 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário de
Portimão4
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 1594 5 99,67
CQO (mg/l de O2) 14288 34 99,76
COT (mg/l de C) 3415 3 99,92
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 7315 13 99,83
Quadro 5.2 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário de
Loulé3
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 1171 5 99,57
CQO (mg/l de O2) 9217 40 99,57
COT (mg/l de C) 1542 5 99,66
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 5557 16 99,72
5.2.2 AMARSUL
A AMARSUL é responsável pela exploração de dois aterros sanitários situados em Palmela e no
Seixal, em funcionamento desde julho de 1995 e desde janeiro de 1997, respetivamente, que
incorporam uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes. Segundo a entidade gestora, o sistema
de tratamento implementado na ETAL de Palmela (Figura 5.5) consiste num tratamento biológico
com recurso a uma lagoa de regularização a montante de duas lagoas arejadas, sucedidas por uma
lagoa para decantação. O lixiviado tratado é por fim encaminhado para a ETAR do Barreiro. No
Quadro 5.3 estão dispostos os valores de alguns dos parâmetros que caracterizam as águas
lixiviantes, antes e após o tratamento, assim como as respetivas eficiências de remoção.
Figura 5.5 – Sistema de tratamento existente na EPTAR do aterro sanitário de Palmela
Quadro 5.3 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário do
Seixal [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 572 88 84,62
CQO (mg/l de O2) 3008 2140 28,86
SST (mg/l) 1000 987 1,30
Azoto total (mg/l de NH4) 1365 1213 11,14
4 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2012
Lagoa arejada I Lagoa de regularização Lixiviado afluente
Lagoa de decantação ETAR
Lagoa arejada II
53
A ETAL do Seixal não estava prevista no projeto inicial do aterro sanitário, tendo em 2005 entrado
em funcionamento um projeto-piloto para o tratamento dos lixiviados. Durante esse período os
lixiviados foram encaminhados diretamente para a ETAR da Quinta da Bomba [4]. De acordo com a
entidade gestora está prevista a entrada em funcionamento de uma nova ETAL para tratamento dos
lixiviados.
5.2.3 BRAVAL
A BRAVAL é a entidade responsável pela gestão e exploração do aterro sanitário da Póvoa de
Lanhoso que está operacional desde julho de 1998, e incorpora uma ETAL para o tratamento dos
lixiviados. O sistema de tratamento implementado (Figura 5.6) reparte-se em duas vertentes: físico-
-químico e biológico. A primeira ocorre com uma etapa de coagulação/floculação, fazendo circular a
jusante o efluente por um filtro de areia com ventilação forçada (filtro EPI). O tratamento biológico
por lamas ativadas é realizado com recurso a um tanque anóxico e um tanque arejado. Por último, o
efluente é afinado através da sua passagem por um filtro de carvão ativado, sendo posteriormente
conduzido para coletor municipal. Os valores de alguns dos parâmetros que caracterizam as águas
lixiviantes, antes e após o seu tratamento, estão representados no Quadro 5.4, assim como a
eficiência de remoção do sistema de tratamento.
Figura 5.6 – Linha de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário da Póvoa de Lanhoso
Quadro 5.4 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário da
Serra do Carvalho5
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 28 –
CQO (mg/l de O2) 5999 85 98,58
COT (mg/l de C) 1273 69 94,61
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 2483 63 97,48
5 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Tanque de coagulação/floculação
Lixiviado afluente Lagoa de receção Filtro EPI
ETAR Tanque anóxico Filtro de
carvão ativado Tanque arejado
54
5.2.4 ERSUC
A ERSUC gere dois centros integrados de tratamento e valorização de resíduos sólidos urbanos
(CITVRSU) sitos em Aveiro e em Coimbra que incorporam dois aterros sanitários de apoio. No âmbito
das responsabilidades da ERSUC está a monitorização de três aterros sanitários encerrados,
localizados em Aveiro, Coimbra e Figueira da Foz. Apenas os aterros sanitários encerrados de Aveiro
e Coimbra dispõem de uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes, sendo que os lixiviados
produzidos no aterro sanitário da Figueira da Foz são encaminhados para a ETAR de Soporcel. Os dois
aterros sanitários de apoio aos CITVRSU dispõem igualmente de uma ETAL para o tratamento das
águas lixiviantes neles gerados.
O esquema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário de Coimbra (Figura 5.7) inicia-se
com a captação do lixiviado para uma lagoa de regularização, o qual é submetido a duas etapas de
tratamento: a primeira consiste num processo por lamas ativadas com recurso a uma vala de
oxidação, equipada com um decantador a jusante; a segunda etapa consiste num processo de
coagulação/floculação, seguindo o clarificado para um segundo decantador, antes de ser
descarregado na rede de coletores municipal para finalizar o tratamento numa ETAR. Os valores de
alguns dos parâmetros que caracterizam as águas lixiviantes afluentes e efluentes da ETAL do aterro
sanitário de Coimbra, estão dispostos no Quadro 5.5, assim como as respetivas eficiências de
remoção.
Figura 5.7 – Esquema de tratamento implantado na ETAL do aterro sanitário de Coimbra
Quadro 5.5 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário de
Coimbra [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 2579 19 99,26
CQO (mg/l de O2) 6249 523 91,63
SST (mg/l) 523 229 42,79
Azoto total (mg/l de NH4) 1351 685 49,67
A ETAL do aterro sanitário de Aveiro tem implementado o sistema de tratamento esquematizado
na Figura 5.8, que consiste num tratamento por lamas ativas composto por uma lagoa anóxica,
Vala de oxidação Lixiviado afluente Lagoa de
regularização Decantador
ETAR Tanque de
coagulação/floculação Decantador
55
seguida de uma lagoa arejada com posterior decantação. O efluente é submetido a um processo de
tratamento físico-químico por coagulação/floculação, sendo decantado a jusante antes de passar por
um processo de filtração. O clarificado é por fim descarregado no coletor municipal para finalizar o
tratamento numa ETAR. No Quadro 5.6 é possível observar as concentrações de alguns dos
parâmetros caracterizantes do lixiviado, assim como as eficiência de remoção associadas.
Figura 5.8 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Aveiro
Quadro 5.6 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário de
Aveiro [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 2065 467 77,38
CQO (mg/l de O2) 4552 2290 49,69
SST (mg/l) 1889 1384 26,73
Azoto total (mg/l de NH4) 1892 1330 29,70
As ETAL presentes em ambos os CITVRSU têm o mesmo sistema de tratamento (Figura 5.9) que se
inicia com a captação do afluente a tratar para uma lagoa de regularização a montante do processo
de tratamento por lamas ativas, composto por lagoa arejada, lagoa anóxica e decantador. O efluente
passa por um filtro, antecedendo uma etapa de ultrafiltração. Por fim, o lixiviado circula por uma
unidade de osmose inversa para depois ser descarregado em coletor municipal.
Figura 5.9 – Linha de tratamento implantada nos CITVRSU de Aveiro e de Coimbra
Lagoa arejada Lixiviado afluente Lagoa anóxica Decantador
ETAR Tanque de
coagulação/floculação Filtro
Lagoa arejada Lixiviado afluente Lagoa de regularização
Lagoa anóxica
ETAR Decantador Filtro Unidade de
ultrafiltração Unidade de
osmose inversa
56
5.2.5 RESIESTRELA
A RESIESTRELA é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário do Fundão, em
exploração desde novembro de 2001, que integra uma ETAL para o tratamento das águas lixiviantes.
O sistema de tratamento adotado (Figura 10) engloba duas lagoas de regularização a montante do
tratamento biológico com as seguintes etapas: pré-desnitrificação em processo anaeróbio em
agitação, nitrificação em processo aeróbio, pós-desnitrificação em processo anaeróbio em condições
anóxicas e rearejamento. Após estas fases o lixiviado é conduzido a uma etapa de ultrafiltração,
sendo o permeado descarregado em coletor municipal. No Quadro 5.7 estão dispostos os valores
para alguns dos parâmetros que caracterização o lixiviado, antes e após o tratamento, assim como as
eficiências de remoção globais.
Figura 5.10 – Linha de tratamento implementado na ETAL do aterro sanitário do Fundão
Quadro 5.7 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do Fundão [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 10 –
CQO (mg/l de O2) 7908 46 99,42
SST (mg/l) – 7 –
Azoto total (mg/l de NH4) – 2 –
5.2.6 RESINORTE
A RESINORTE gere cinco aterros sanitários localizados em Bigorne, Boticas, Celorico de Basto,
Santo Tirso e Vila Real, em funcionamento, respetivamente, desde dezembro de 2001, dezembro de
2001, novembro de 2001, janeiro de 2002 e fevereiro de 2000. Com exceção do aterro sanitário de
Santo Tirso, todos os eles dispõem de uma ETAL própria para o tratamento dos lixiviados produzidos.
No caso do aterro sanitário de Santo Tirso as águas lixiviantes são transportadas diretamente para
uma ETAR municipal. Segundo a entidade gestora, o sistema de tratamento(Figura 5.8), semelhante
em todas as ETAL, consiste num tratamento biológico com recurso a lagoa arejada seguida de um
decantador, procedendo à afinação do efluente através do processo de osmose inversa. Por último, o
lixiviado tratado é descarregado em meio hídrico. No Quadro 5.8 e no Quadro 5.9 estão dispostos
alguns dos parâmetros caracterizantes do lixiviado e as eficiências globais de remoção, da ETAL do
aterro sanitário de Bigorne e Celorico de Basta, respetivamente.
Tanque anaeróbio Lixiviado afluente Lagoas de regularização
Unidade de ultrafiltração ETAR
Tanque arejado
Tanque anóxico Tanque arejado
57
Figura 5.11 – Esquema de tratamento adotado na ETAL dos aterros sanitários de Bigorne, Boticas, Celorico de
Basto e Vila Real
Quadro 5.8 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL de Bigorne [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 7 –
CQO (mg/l de O2) 10586 34 99,68
SST (mg/l) – 3 –
Azoto total (mg/l de NH4) – 18 –
Quadro 5.9 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL de Celorico de Basto
[4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 10 –
CQO (mg/l de O2) 4330 61 98,59
SST (mg/l) – 7 –
Azoto total (mg/l de NH4) – 2 –
5.2.7 RESULIMA
O aterro sanitário situado em Viana do Castelo, em funcionamento desde dezembro de 1998, é
explorado pela RESULIMA, e integra uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes produzidas. De
acordo com a entidade gestora, o esquema de tratamento existente na ETAL (Figura 5.12) reparte-se
em tratamento biológico por lamas ativadas e tratamento físico-químico. Desta forma, o lixiviado
captado é conduzido para uma lagoa de regularização seguindo para duas lagoas anaeróbias
paralelas. A jusante das últimas o efluente circula por um tanque anóxico, para depois ser
encaminhado para duas lagoas arejadas paralelas. O tratamento físico-químico consiste nas etapas
de coagulação/floculação, com posterior decantação. O efluente clarificado é por fim descarregado
em coletor municipal para finalizar o tratamento na ETAR. No Quadro 5.10 estão dispostas as
concentrações de alguns dos parâmetros que caracterizam o lixiviado afluente à ETAL e efluente,
apresentando-se as respetivas eficiências de remoção alcançadas com o sistema de tratamento
adotado.
Decantador Lixiviado afluente Lagoa arejada Unidade de
osmose inversa
Linha de água Tanque final
58
Figura 5.12 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Viana do Castelo
Quadro 5.10 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Viana do Castelo6
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – – –
CQO (mg/l de O2) 5356 560 89,54
COT (mg/l de C) 1400 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 2679 247 90,78
5.2.8 SULDOURO
A SULDOURO é responsável pela gestão do aterro sanitário inserido em Vila Nova de Gaia que
está em exploração desde março de 1999, incorporando uma ETAL para o tratamento dos lixiviados.
Segundo a entidade gestora, o esquema de tratamento presente na ETAL (Figura 5.13) divide-se em
tratamento biológico por lamas ativadas e em tratamento físico-químico. O afluente a tratar é
inicialmente conduzido para duas lagoas de regularização com arejamento. A jusante destas inicia-se
o tratamento biológico com a circulação do efluente por um tanque de arejamento seguido de um
tanque anóxico. O tratamento físico-químico é realizado com recurso a uma câmara de mistura
rápida onde se promove o processo de coagulação/floculação. A jusante, o efluente circula por um
decantador e um flotador. Procede-se por fim ao armazenamento do efluente tratado numa lagoa de
regularização, de modo a ser encaminhado para a ETAR municipal. Os valores dos principais
parâmetros que caracterizam o lixiviado afluente à ETAL e do clarificado efluente estão
representados no Quadro 5.11 e as respetivas eficiências de remoção.
6 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Lagoa anaeróbia I
Lixiviado afluente Lagoa de
regularização Tanque anóxico
Decantador primário
Lagoa arejada I
Decantador secundário
Coagulação/floculação
ETAR
Lagoa anaeróbia II
Lagoa arejada II
59
Figura 5.13 – Linha de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Vila Nova de Gaia
Quadro 5.11 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Vila Nova de Gaia [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 3341 736 77,97
CQO (mg/l de O2) 12151 1746 85,63
SST (mg/l) 2861 668 76,65
Azoto total (mg/l de N) 3290 – –
5.2.9 VALNOR
A VALOR gere o aterro sanitário de Avis, em operação desde maio de 2000, tem adjacente uma
ETAL para tratamento dos lixiviados. A mesma entidade procede ainda à monitorização de quatro
aterros sanitários encerrados (Abrantes, Castelo Branco, Portalegre e Campo Maior), encaminhando
os lixiviados produzidos nos dois últimos para a ETAL de Avis, e nos dois primeiros para as ETAL
anexas aos mesmos. De acordo com a VALNOR, o sistema de tratamento (Figura 5.14) inicia-se com a
passagem do afluente a tratar por um tamisador a montante de dois tanques de equalização. O
tratamento adotado consiste num tratamento biológico composto por duas lagoas anaeróbias,
seguidas de uma lagoa arejada e um tanque de arejamento. O efluente passa depois por um
processo de sedimentação através de três decantadores, antes de ser encaminhado para a unidade
de osmose inversa para afinação final. O lixiviado tratado é descarregado em meio hídrico e, por
vezes, recirculado em certos períodos do verão. Os valores dos parâmetros que permitem
caracterizar as águas lixiviantes, antes e após o tratamento na ETAL do aterro sanitário de Avis, estão
dispostos no Quadro 5.12, assim como as eficiências de remoção obtidas pelo sistema de
tratamento.
Tanque arejado Lixiviado afluente
Lagoa de regularização I
Decantador
Tanque anóxico Flotador
Lagoa de regularização ETAR
Lagoa de regularização II
Tanque de coagulação/floculação
Decantador
60
Figura 5.14 – Esquema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário de Avis
Quadro 5.12 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Avis7
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – – –
CQO (mg/l de O2) 3700 – –
COT (mg/l de C) 1270 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 2100 7 99,7
A ETAL existente no aterro sanitário de Abrantes tem atualmente implementada, segunda a
entidade gestora, o sistema de tratamento representado na Figura 5.15, o qual consiste num
tratamento biológico com recurso a duas lagoas arejadas e a uma lagoa de sedimentação. O efluente
é depois conduzido para ETAL do aterro sanitário de Avis para afinação final através do processo de
osmose inversa. Por vezes, no período de verão, o efluente é recirculado. No Quadro 5.13 podem ser
consultados os valores dos parâmetros que caracterizam os lixiviados, antes e após o tratamento na
ETAL do aterro sanitário de Abrantes, bem como as respetivas eficiências de remoção.
Figura 5.15 –Sistema de tratamento adotada na ETAL do aterro sanitário de Abrantes
Quadro 5.13 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Abrantes6
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 260 –
CQO (mg/l de O2) 1500 1400 6,67
COT (mg/l de C) 646 446 30,96
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 340 – –
7 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Tanque de equalização I
Lixiviado afluente Tamisador
Lagoa anaeróbia I Tanque arejado Lagoa arejada
Decantador Unidade de
osmose inversa Linha de água
Tanque de equalização II
Lagoa anaeróbia II
Lagoa arejada II Lixiviado afluente Lagoa arejada I Lagoa de sedimentação
ETAL de Avis
61
A ETAL do aterro sanitário de Castelo Branco opera com o sistema de tratamento esquematizado
na Figura 5.16 que, de acordo com a entidade gestora, consiste num tratamento biológico por lamas
ativadas em arejamento prolongado, com recurso a uma lagoa inicial arejada e de regularização,
seguida de uma decantação primária. O efluente é novamente submetido a um arejamento no
tanque arejado e decantado. Por último, circula por um filtro “AMIAD” instalado a montante de uma
unidade de osmose inversa, destinada a afinar o afluente antes de ser armazenado numa lagoa para
posterior descarga em meio hídrico ou para aproveitamento interno. As lamas produzidas na etapa
biológica são tratadas e depositadas no respetivo aterro sanitário. O concentrado resultante do
processo de osmose inversa é recirculado para novo tratamento. Os valores das concentrações de
alguns dos parâmetros que caracterizam o lixiviado, antes e após o tratamento, estão representados
no Quadro 5.14, assim como as eficiências de remoção obtidas pelo sistema de tratamento adotado
na ETAL do aterro sanitário de Castelo Branco.
Figura 5.16 – Linha de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Castelo Branco
Quadro 5.14 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Castelo Branco8
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 5 –
CQO (mg/l de O2) 6600 40 99,39
COT (mg/l de C) 1700 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 4000 7 99,83
5.2.10 VALORLIS
O aterro sanitário de Leiria em funcionamento desde setembro de 1998, explorado pela
VALORLIS, dispõe de uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes. Segundo a entidade gestora, o
afluente à ETAL é sujeito a um pré-tratamento que consiste num processo biológico, com recurso a
uma lagoa inicial de homogeneização, que poderá funcionar como lagoa anaeróbia, seguida de duas
lagoas arejadas. O efluente por sua vez é conduzido através de um decantador, para depois circular
8 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Lagoa arejada Lixiviado afluente Tanque de
homogeneização Decantador
Tanque arejado
Linha de água
Filtro “AMIAD” Unidade de
osmose inversa
Lagoa final
Decantador
62
por um leito de macrófitas. Após este pré-tratamento o efluente resultante é encaminhado para
ETAR afim de receber o tratamento final. Na Figura 5.17 pode ser observado o esquema do sistema
de tratamento. No Quadro 5.15 podem ser consultados os valores das concentrações de alguns dos
parâmetros caracterizantes do lixiviado proveniente do aterro sanitário de Leira, antes e após o seu
tratamento, e as respetivas eficiências de remoção atingidas pelo sistema de tratamento.
Figura 5.17 – Esquema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Leiria
Quadro 5.15 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Leiria9
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 455 –
CQO (mg/l de O2) 8245 5536 32,86
COT (mg/l de C) 1790 – –
Azoto total (mg/l de NH4) 3364 – –
5.2.11 VALORMINHO
A VALORMINHO gere um aterro sanitário localizado em Valença, funcionando desde agosto de
1998 integra uma ETAL para tratamento dos lixiviados produzidos. De acordo com a entidade
gestora, o sistema de tratamento (Figura 5.18) tem início com a captação das águas lixiviantes para
uma câmara de mistura para homogeneização do afluente, sendo submetido a jusante a um
processo de tratamento biológico por lamas ativadas, que recorre a um tanque anóxico seguido de
dois tanques arejados em série e um decantador. O efluente posteriormente circulado para um
tanque de regularização é, por fim, descarregado em coletor municipal para ser tratamento numa
ETAR. Os valores das concentrações de alguns parâmetros que permitem caracterizar o lixiviado
estão dispostos no Quadro 5.16, assim como as eficiências de remoção obtidas pelo sistema de
tratamento implementado no aterro sanitário de Valença.
9 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Lixiviado afluente Lagoa de homogeneização Lagoa arejada
Leito de macrófitas ETAR Lagoa arejada Decantador
63
Figura 5.18 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Valença
Quadro 5.16 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Valença10
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 412 94 77,17
CQO (mg/l de O2) 1412 323 77,13
COT (mg/l de C) – – –
Azoto total (mg/l de NH4) 1459 178 87,83
5.2.12 VALORSUL
A VALORSUL explora dois aterros sanitários localizados em Vila Franca de Xira e no Cadaval, que
iniciaram a sua atividade em junho de 1998 e em novembro de 2001, respetivamente, dispondo
individualmente de uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes. De acordo com a entidade
gestora, o sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Vila Franca de Xira (Figura
5.19) consiste num processo biológico, com recurso a duas lagoas arejadas, seguido de um
tratamento físico-químico por coagulação/floculação, após o qual o efluente circula por um
decantador para depois ser encaminhado para o coletor municipal. No Quadro 5.17 estão
representados os valores de alguns dos parâmetros que caracterizam as águas lixiviantes, em bruto e
após tratamento, bem como as eficiências de remoção atingidas pelo sistema de tratamento.
Figura 5.19 – Linha de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Vila Franca de Xira
10 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2014
Tanque anóxico Lixiviado afluente Câmara
de mistura Tanque arejado I
ETAR Decantador Tanque arejado II Tanque de
regularização
Tanque de coagulação/floculação
Lixiviado afluente Lagoa arejada I
Decantador ETAR
Lagoa arejada II
64
Quadro 5.17 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Vila Franca de Xira [4]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 525 279 46,86
CQO (mg/l de O2) 1719 923 46,31
COT (mg/l de C) – – –
Azoto total (mg/l de NH4) – – –
Na ETAL do aterro sanitário do Cadaval, o afluente a tratar, conforme representado na Figura
5.20, é conduzido para uma lagoa de homogeneização seguida de uma lagoa de regularização. O
efluente é submetido a um tratamento físico-químico através de um processo de
coagulação/floculação, com posterior decantação. A jusante procede-se a um tratamento biológico
com recurso a uma lagoa arejada, complementado a jusante por uma decantação secundária. Por
fim, o clarificado é encaminhado para o coletor municipal para finalizar o tratamento em ETAR.
Figura 5.20 – Esquema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário do Cadaval
5.3 Sistemas intermunicipais
5.3.1 Ambilital
A Ambilital gere o aterro sanitário localizado em Santiago do Cacém, o qual está em
funcionamento desde março de 2000, dispondo de uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes.
De acordo com a entidade gestora, o afluente a tratar na ETAL é submetido ao sistema de
tratamento ilustrado na Figura 5.21, que consiste num processo de torres sequenciais de
evaporação/condensação, seguido de uma secção de stripping/scrubber e finda com um tratamento
biológico com recurso a um tanque arejado. O efluente tratado é reutilizado na refrigeração do
sistema de condensação. No Quadro 5.18 apresentam-se os valores de alguns parâmetros que
caracterizam o lixiviado bruto e após o seu tratamento, bem como a eficiência do sistema de
tratamento na sua remoção.
Lagoa de regularização
Lixiviado afluente Lagoa de
homogeneização Tanque de
coagulação/floculação
ETAR Decantador Lagoa arejada Decantador
65
Figura 5.21 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Santiago do Cacém
Quadro 5.18 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Santiago do Cacém11
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 10 –
CQO (mg/l de O2) 4293 71 98,35
COT (mg/l de C) 25800 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 1208 99 91,81
5.3.2 Ambisousa
Os dois aterros sanitários existentes em Lousada e em Penafiel são explorados pela Ambisousa,
estando em funcionamento desde novembro de 1998 e em julho de 1999, respetivamente, dispõem
individualmente de uma ETAL para tratamento dos lixiviados produzidos. Segundo a Ambisousa, o
sistema de tratamento adotado em ambas as ETAL (Figura 5.22) constitui um pré-tratamento com
recurso a um processo biológico através de lagoas de homogeneização com arejamento, sendo
depois transportado para ETAR de modo a finalizar o tratamento. Os parâmetros que permitem
caracterizar os lixiviados brutos e tratados provenientes dos aterros sanitários de Lousada e de
Penafiel, estão dispostos no Quadro 5.19 e no Quadro 5.20, respetivamente, estando também
representadas as eficiências de remoção atingidas por ambas as ETAL.
Figura 5.22 – Linha de tratamento existente nas ETAL de Lousada e de Penafiel
Quadro 5.19 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Lousada12
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 3679 3167 13,92
CQO (mg/l de O2) 9976 7622 23,60
COT (mg/l de C) – – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) – – –
11
Os valores dos parâmetros indicados datam de 2012 12 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Torre de evaporação
Lixiviado afluente Tanque de
alimentação
Torre de condensação
Sistema de refrigeração
Torre de stripping
Tanque arejado
Efluente tratado Scrubber
Lixiviado afluente Lagoa de homogeneização
com arejamento ETAR
66
Quadro 5.20 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Penafiel10
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 3489 2627 24,71
CQO (mg/l de O2) 8772 6523 25,64
COT (mg/l de C) – – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) – – –
5.3.3 Amcal
A Amcal é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário de Cuba, em exploração desde
junho de 1999, integra uma ETAL para tratamento das águas lixiviantes. De acordo com a entidade
gestora, o afluente à ETAL é sujeito a um sistema de tratamento biológico (Figura 5.23) composto por
várias etapas. O lixiviado captado é conduzido para uma bacia de homogeneização, para ser
bombado para a lagoa anaeróbia e seguidamente para a lagoa facultativa, a qual é utilizada como
transição para duas lagoas arejadas. A jusante o efluente é submetido a uma processo de
decantação. Para afinação final são utilizados dois leitos de macrófitas que, atualmente, se
encontram desativados. O efluente é, por fim, armazenado antes de se proceder à recirculação para
o aterro sanitário. No Quadro 5.21 apresentam-se os valores de alguns dos parâmetros que
caracterizam o lixiviado produzido no aterro sanitário de Cuba, tanto para o lixiviado bruto como
após o seu tratamento, sendo também possível observar as eficiências de remoção obtidas pela
ETAL.
Figura 5.23 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Cuba
Quadro 5.21 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Cuba13
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 1329 862 35,13
CQO (mg/l de O2) 3389 2222 34,43
COT (mg/l de C) 785 689 12,23
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 750 122 83,75
13 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Lagoa anaeróbia Lixiviado afluente Bacia de
homogeneização Lagoa facultativa
Lagoa arejada I Decantador Leito de macrófitas I
Aterro sanitário
Lagoa arejada II
Leito de macrófitas II Tanque de armazenamento
67
5.3.4 Ecobeirão
O aterro sanitário de Tondela em exploração desde julho de 1998, gerido pela Ecobeirão,
incorpora uma ETAL para o tratamento dos lixiviados. Segundo a entidade gestora, o sistema de
tratamento (Figura 5.24) inicia-se com a captação do lixiviado para duas lagoas de regularização,
sendo depois submetido a um processo de decantação com recurso a dois decantadores. Para a
afinação do lixiviado são utilizadas duas unidades de osmose inversa. As eficiências de remoção
atingidas pela ETAL, assim como as concentrações de alguns dos parâmetros caracterizantes das
águas lixiviantes, antes e após o seu tratamento, estão dispostos no Quadro 5.22.
Figura 5.24 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Tondela
Quadro 5.22 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Tondela14
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 10 –
CQO (mg/l de O2) 13317 12 99,91
COT (mg/l de C) 4050 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 5333 9 99,84
5.3.5 Ecolezíria
A Ecolezíria explora o aterro sanitário de Almeirim que está em exploração desde 1998,
integrando um ETAL para tratamento dos lixiviados produzidos. Segundo a entidade gestora, o
sistema de tratamento, ilustrado na Figura 5.25, tem início após a captação do lixiviado para uma
lagoa de regularização, circulando a jusante por um decantador primário, seguido de tratamento
biológico com recurso a um tanque arejado. O efluente é conduzido através de um decantador
secundário, para ser submetido a um processo de afinação por osmose inversa. O permeado é
descarregado em linha de água. No Quadro 5.23 é possível observar os valores de alguns dos
parâmetros que caracterizam o lixiviado produzido no aterro sanitário de Almeirim, antes e após o
seu tratamento, e as respetivas eficiências de remoção obtidas pelo sistema de tratamento.
14 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2012
Lixiviado afluente
Lagoa de regularização I
Decantador I Unidade de
osmose inversa I
Lagoa de regularização II
Decantador II Unidade de
osmose inversa II
Linha de água
68
Figura 5.25 – Sistema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário de Almeirim
Quadro 5.23 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Almeirim15
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 10 –
CQO (mg/l de O2) 10692 30 99,72
COT (mg/l de C) 1500 1,4 99,91
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 3225 9 99,72
5.3.6 Gesamb
A Gesamb é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário de Évora que se encontra
operacional desde janeiro de 2002. O mesmo dispõe de uma ETAL para tratamento das águas
lixiviantes que, de acordo com a entidade gestora, tem implementado o sistema de tratamento
representado na Figura 5.26. Este é composto por cinco lagoas de regularização a montante dos
filtros de areia e dos filtros de microcartucho, os quais antecedem a unidade de osmose inversa,
como forma de pré-tratamento. O permeado resultante é descarregado em linha de água e o
concentrado é reencaminhado para as lagoas iniciais. No Quadro 5.24 encontram-se os valores de
alguns dos parâmetros que permitem caracterizar as águas lixiviantes, antes e após o tratamento na
ETAL do aterro sanitário de Évora, assim como as respetivas eficiências de remoção atingidas pelo
sistema.
Figura 5.26 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Évora
15 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Decantador primário
Lixiviado afluente Lagoa de
regularização Tanque arejado
Linha de água Unidade de
osmose inversa Decantador secundário
Filtros de areia Lixiviado afluente Lagoas de
regularização (5)
Filtros de microcartucho
Unidade de osmose inversa Linha de água
69
Quadro 5.24 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Évora16
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 1799 131 92,70
CQO (mg/l de O2) 4771 60 98,74
COT (mg/l de C) 2146 1 99,97
Azoto total (mg/l de NH4) 1238 – –
5.3.7 Lipor
A Lipor gere o aterro sanitário da Maia em exploração desde junho de 2001, o qual está equipado
com uma ETAL para o tratamento dos lixiviados produzidos. De acordo com a entidade gestora, o
sistema de tratamento (Figura 5.27) inicia-se com a captação do lixiviado para uma lagoa de
regularização, sendo posteriormente submetido a um tratatamento biológico através de um
processo de lamas ativadas com recurso a um tanque arejado e um tanque anóxico. O efluente é
então encaminhado para a unidade de ultrafiltração, antecedendo a unidade de osmose inversa para
afinação. O permeado é descarregado em linha de água ou reutilizado no sistema de rega e
manutenção dos espaços verdes adjacentes. Os valores das concentrações de alguns dos parâmetros
caracterizantes do lixiviado, antes e após o tratamento, assim como as respetivas eficiências de
remoção atingidas pela ETAL do aterro sanitário da Maia, estão reunidos no Quadro 5.25.
Figura 5.27 – Sistema de tratamento existente da ETAL do aterro sanitário da Maia
Quadro 5.25 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
da Maia17
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 6 –
CQO (mg/l de O2) – 6 –
COT (mg/l de C) – – –
Azoto total (mg/l de NH4) – 6 –
16
Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013 17 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Tanque arejado Lixiviado afluente Lagoa de
regularização
Unidade de osmose inversa
Linha de água
Tanque anóxico
Unidade de ultrafiltração
70
5.3.8 Resialentejo
A Resialentejo é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário de Beja, em
funcionamento desde dezembro de 2001, conta com uma ETAL para o tratamento das águas
lixiviantes. Segunda entidade gestora, uma percentagem significativa do caudal tratado na ETAL tem
proveniência externa ao aterro sanitário, pelo que o lixiviado que aflui à ETAL encontra-se
descaracterizado. Desta forma, não foram incluídos os valores dos parâmetros que o caracterizam.
De acordo com a Resialentejo, o sistema de tratamento implementado na ETAL (Figura 5.28) engloba
uma lagoa de homogeneização e uma unidade de osmose inversa, sendo o clarificado descarregado
em linha de água.
Figura 5.28 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Beja
5.3.9 Resíduos do Nordeste
O aterro sanitário de Mirandela, operacional desde setembro de 1997, é gerido pela Resíduos do
Nordeste e contempla uma ETAL para tratamento dos lixiviados produzidos. De acordo com a
entidade gestora, o sistema de tratamento existente (Figura 5.29) consiste na aplicação do processo
de osmose inversa, tendo uma lagoa de homogeneização a montante da unidade de osmose inversa.
No Quadro 5.26 estão dispostas as concentrações de alguns dos parâmetros caracterizantes do
lixiviado gerado no aterro sanitário de Mirandela, antes e após o seu tratamento, assim como as
eficiências de remoção.
Figura 5.29 – Sistema de tratamento existente na ETAL do aterro sanitário de Mirandela
Quadro 5.26 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
de Mirandela18
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 5 –
CQO (mg/l de O2) 11238 35 99,68
COT (mg/l de C) 2660 0,74 99,97
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 3934 6 99,85
18 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Lagoa de homogeneização
Lixiviado afluente Linha de água Unidade de
osmose inversa
Unidade de osmose inversa
Lixiviado afluente Lagoa de
homogeneização Linha de água
71
5.3.10 Resitejo
A Resitejo explora o aterro sanitário da Chamusca, em funcionamento desde 1999, que dispõe de
uma ETAL para tratamento dos lixiviados produzidos. Segundo a entidade gestora, o sistema de
tratamento (Figura 5.30) tem por base a unidade de osmose inversa, existindo a montante desta três
lagoas de armazenamento. Os valores dos parâmetros que caracterizam a águas lixiviantes, antes e
após o seu tratamento, estão representados no Quadro 5.27, bem como as eficiências de remoção
atingidas pela ETAL do aterro sanitário da Chamusca.
Figura 5.30 – Sistema de tratamento presente na ETAL do aterro sanitário da Chamusca
Quadro 5.27 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
da Chamusca19
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 12 –
CQO (mg/l de O2) 7655 22 99,71
COT (mg/l de C) 2100 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 1336 27 98,01
5.3.11 Tratolixo
A Tratolixo gere dois aterros sanitários localizados em Mafra e em Cascais, o primeiro em
exploração desde 2013 e o segundo atualmente encerrado, no entanto regista produção de
lixiviados, tendo uma ETAL para tratamento dos mesmos. Segundo a Tratolixo, o sistema de
tratamento (Figura 5.31) resume-se à unidade de tratamento da EVAPOTECNIC. O lixiviado é captado
e conduzido para um tanque de armazenamento, a jusante deste circula por um tamisador.
Seguidamente o efluente é submetido a um processo de aquecimento, num permutador de calor,
para depois passar por um processo de condensação por crionização (este processo permite eliminar
os COV). A jusante, o efluente passa por um processo de evaporação forçada e de evaporação por
vácuo, sendo posteriormente condensado no permutador de calor e armazenado num tanque, antes
de ser descarregado em linha de água.
De acordo com a entidade gestora, a ETAL que servirá o aterro sanitário de Mafra está em fase de
conceção/construção, razão pela qual não existiu possibilidade de fornecer informações sobre o
sistema de tratamento a adotar.
19 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Unidade de osmose inversa
Lixiviado afluente Lagoas de
armazenamento Linha de água
72
Figura 5.31 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Cascais
5.4 Região Autónoma da Madeira
A VALOR AMBIENTE é a entidade responsável pela gestão da estação de tratamento de resíduos
sólidos da Meia Serra, em exploração desde 1991, dispõe de uma ETAL para tratamento dos
lixiviados produzidos. Na Figura 5.32 está representado o sistema de tratamento adotado, composto
por tratamento biológico através a uma lagoa arejada, a jusante aplica-se um tratamento físico-
químico com recurso a um tanque de coagulação/floculação, complementado com um processo de
sedimentação. O efluente é, por fim, afinado com o auxílio de uma unidade de osmose inversa, para
depois ser descarregado em linha de água. No Quadro 5.28 estão dispostas as concentrações de
alguns dos parâmetros caracterizantes do lixiviado gerado no aterro sanitário da Meia Serra, antes e
após o seu tratamento, assim como as eficiências de remoção.
Figura 5.32 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário da Meia Serra
Quadro 5.28 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
da Meia Serra20
[43]
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) 123 3 97,56
CQO (mg/l de O2) 914 6 99,34
SST (mg/l) 118 1 98,81
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 1108 5 99,55
20 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2006
Tamisador Lixiviado afluente Tanque de
armazenamento
Tanque de descarga
Permutador de calor
Torre de evaporação forçada
Evaporador de vácuo
Unidade de crionização
Linha de água
Tanque de coagulação/floculação
Lixiviado afluente Lagoa
arejada Decantador
Unidade de osmose inversa
Linha de água
73
5.5 Região Autónoma dos Açores
5.5.1 AMIP
A AMIP é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário localizado em Lajes do Pico, o
qual dispõe de uma ETAL para o tratamento dos lixiviados gerados no mesmo, no entanto nunca
entrou em funcionamento.
5.5.2 AMISM
A AMISM explora o aterro sanitário existente em Ponta Delgada, em funcionamento desde
novembro de 2001). Os lixiviado produzidos no aterro sanitário são encaminhados para a ETAL anexa
que, segundo a entidade gestora, tem implementado um tratamento biológico com recurso a duas
lagoas arejadas em série, esquematizado na Figura 5.33, para posteriormente ser encaminhado para
o coletor municipal e assim finalizar o processo de tratamento na ETAR.
Figura 5.33 – Sistema de tratamento adotado na ETAL do aterro sanitário de Ponta Delgada
5.5.3 Câmara Municipal de Vila do Porto
A gestão do aterro sanitário da Vila do Porto é da responsabilidade da Câmara Municipal de Vila
do Porto. Este está equipado com uma ETAL para o tratamento dos lixiviados produzidos, no entanto,
segundo a entidade gestora, está desativada devido ao caudal a tratar ser muito reduzido, estando a
ser estudada uma alternativa aos quatro leitos de macrófitas que constituem atualmente o sistema
de tratamento desativado.
5.5.4 Nordeste Ativo
A Nordeste Ativo é a entidade responsável pela gestão do aterro sanitário de São Miguel, o qual
dispõe de uma ETAL para o tratamento dos lixiviados produzidos, no entanto, de acordo com
informações cedidas pela entidade gestora a ETAL nunca entrou em funcionamento, procedendo-se
à recirculação dos lixiviados para o aterro sanitário, sem tratamento.
Lixiviado afluente Lagoa
arejada I ETAR
Lagoa arejada II
74
5.5.5 Teramb
A Teramb é a entidade que gere o aterro sanitário da Ilha Terceira, em exploração desde janeiro
de 2008, tem em anexo uma ETAL para o tratamento dos lixiviados produzidos. O sistema de
tratamento adotado (Figura 5.34) reparte-se em tratamento biológico e tratamento físico-químico. O
primeiro consiste num processo por lamas ativadas com recurso a uma vala de oxidação, com um
decantador a jusante. O segundo inicia-se com o processo de coagulação/floculação com posterior
sedimentação, para ser submetido a jusante a uma processo de oxidação química. Por fim, o
clarificado é descarregado em coletor municipal para finalizar o tratamento na ETAR, ou recirculado
para a lagoa de regularização. No Quadro 5.29 constam os valores de alguns dos parâmetros que
caracterizam as águas lixiviantes, assim como as respetivas eficiências de remoção. No Quadro 5.29 é
possível observar os valores de alguns dos parâmetros que caracterizam o lixiviado produzido no
aterro sanitário da Ilha Terceira, antes e após o seu tratamento, e as respetivas eficiências de
remoção obtidas pelo sistema de tratamento.
Figura 5.34 – Linha de tratamento implementada na ETAL do aterro sanitário da Ilha Terceira
Quadro 5.29 – Caracterização do lixiviado e eficiência global média de tratamento da ETAL do aterro sanitário
da Ilha Terceira21
Parâmetros Afluente Efluente Eficiência (%)
CBO5 (mg/l de O2) – 22 –
CQO (mg/l de O2) 1231 654 46,84
COT (mg/l de C) 460 – –
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 1334 723 45,81
21 Os valores dos parâmetros indicados datam de 2013
Vala de oxidação Lixiviado afluente Lagoa de
regularização Decantador
ETAR Tanque de
coagulação/floculação Decantador
Câmara de oxidação
75
5.6 Análise dos dados recolhidos
A recolha de informação relativa ao tratamento de lixiviados em Portugal permitiu analisar um
total de 40 ETAL incorporadas em aterros sanitários de RSU, distribuídos pelas 29 entidades gestoras
compreendidas entre sistemas multimunicipais e intermunicipais. No Quadro 5.30 apresenta-se um
resumo dos aterros sanitários analisados com o respetivo sistema de tratamento implementado na
ETAL, destino final dado ao efluente tratado e entidade gestora. Entre as ETAL analisadas, cinco
encontravam-se inativas, nomeadamente as ETAL presentes nos aterros sanitários geridos pela
AMARSUL (Seixal), AMIP, Nordeste Ativo, RESINORTE (Santo Tirso) e Câmara de Vila do Porto, pelo
que não foram incluídas no grupo analisado. O lixiviado proveniente dos aterros sanitários
enunciados é encaminhado para uma ETAR ou recirculado para o aterro sanitário de origem, no caso
da Nordeste Ativo e da Câmara de Vila do Porto.
Quadro 5.30 – Resumo dos sistemas de tratamento adotados nas ETAL em Portugal
Entidade gestora Aterro Sanitário Sistema de tratamento Destino final
ALGAR Barlavento
Lagoa arejada + decantação + osmose inversa Linha de água Sotavento
AMARSUL Palmela Lagoas arejadas + decantação ETAR
Seixal ETAL inativa ETAR
Ambilital Santiago do
Cacém Torres de evaporação + tanque arejado
Sistema de refrigeração
Ambisousa Lousada
Lagoa arejada ETAR Penafiel
Amcal Cuba Lagoa anaeróbia + lagoa facultativa + lagoas arejadas + decantação + leitos de macrófitas
Recirculado para aterro
AMIP Lajes do Pico ETAL inativa ETAR
AMISM Ponta Delgada Lagoas arejadas ETAR
BRAVAL Serra do Carvalho
Coagulação/floculação + filtração + lamas ativadas + carvão ativado
ETAR
C.M. de Vila do Porto
Vila do Porto ETAL inativa Recirculado para
aterro
Ecobeirão Tondela Lagoa de regularização + decantação + osmose
inversa Linha de água
Ecolezíria Almeirim Decantação + lagoa arejada + decantação +
osmose inversa Linha de água
ERSUC Aveiro
Lamas ativadas + coagulação/floculação + filtração
ETAR
Coimbra Lamas ativadas + coagulação/floculação ETAR
Gesamb Évora Lagoas de regularização + filtro de areia + filtro
de microcartucho + osmose inversa Linha de água
Lipor Maia Lamas ativadas + ultrafiltração + osmose inversa Linha de água
Nordeste Ativo Nordeste ETAL inativa Recirculado para
aterro
Resialentejo Beja Lagoa de regularização + osmose inversa Linha de água
76
Quadro 5.30 – Resumo dos sistemas de tratamento adotados nas ETAL em Portugal (continuação)
Entidade gestora Aterro Sanitário Sistema de tratamento Destino final
Resíduos do Nordeste
Mirandela Lagoa de regularização + osmose inversa Linha de água
RESIESTRELA Fundão Tanque anaeróbio + tanque arejado + tanque
anaeróbio-anóxico + ultrafiltração ETAR
RESINORTE
Bigorne
Lagoa arejada +decantação + osmose inversa Linha de água Boticas
Celorico de Basto
Santo Tirso ETAL inativa ETAR
Vila Real Lagoa arejada + osmose inversa Linha de água
Resitejo Chamusca Lagoa de regularização + osmose inversa Linha de água
RESULIMA Viana do Castelo Lagoas anaeróbias + lamas ativadas +
coagulação/floculação ETAR
SULDOURO Vila Nova de
Gaia Lamas ativadas + coagulação/floculação +
flotação ETAR
Teramb Ilha Terceira Lamas ativadas + coagulação/floculação +
oxidação química ETAR
Tratolixo Cascais Torres de evaporação Linha de água
VALNOR
Abrantes Lagoas arejadas + lagoa de sedimentação ETAL de Avis
Avis Lagoas anaeróbias + Lagoa arejada + tanque
arejado + decantação + osmose inversa Linha de água Castelo Branco Lamas ativadas + filtração + osmose inversa
VALOR AMBIENTE
Funchal Lagoa arejada + coagulação/floculação + osmose
inversa Linha de água
VALORLIS Leiria Lagoa arejada + decantação + leito de macrófitas ETAR
VALORMINHO Valença Lamas ativadas ETAR
VALORSUL Cadaval
Coagulação/floculação + lagoa arejada + decantação
ETAR Vila Franca de
Xira Lagoas arejadas + coagulação/floculação
Os dados da monitorização do lixiviado permitiram a obtenção de valores médios relativos aos
parâmetros que caracterizam o lixiviado atualmente a ser tratado nas ETAL em Portugal (Quadro
5.31). Os aterros sanitários que possibilitaram esta análise têm um período de exploração superior a
10 anos. Observando as concentrações dos principais parâmetros que caracterizam as águas
lixiviantes, ou sejam, a CQO, CBO5, azoto amoniacal e COT, verifica-se o envelhecimento dos aterros
sanitários, embora não coincidentes com os valores sugeridos pela bibliografia, o rácio de CBO5/CQO
situa-se em média abaixo dos 0,4 valor caraterístico de aterros sanitários mais antigos.
Os sistemas de tratamento analisados dividem-se, sobretudo, em duas vertentes as quais dependem
do destino final pretendido para as águas lixiviantes tratadas: descarga em coletor municipal, com
posterior tratamento em ETAR, e descarga em linha de água. Além destes, ocorrem duas outras
77
soluções: a recirculação para o aterro sanitário quando o caudal é muito reduzido, ou a ETAL está
inoperacional, e a reutilização do lixiviado.
Quadro 5.31 – Concentrações obtidas dos constituintes que caracterizam um lixiviado (os dados para a sua
elaboração estão dispostos no Anexo B)
Parâmetros Intervalo Média
pH 5,5 – 8,9 8,1
CQO (mg/l O2) 450 – 24000 7150
CBO5 (mg/l O2) 273 – 4000 1293
COT (mg/l C) 180 – 25800 2640
SST (mg/l) 27 – 2490 523
Azoto total (mg/l N) 500 – 13000 3056
Azoto amoniacal (mg/l NH4) 270 – 18200 2879
Fósforo total (mg/l P) 11 – 51 22
Sulfatos (mg/l SO4) 10 – 5000 845
Ferro (mg/l Fe) 0,6 – 56 13
Magnésio (mg/l Mg) 4 – 150 66
Mercúrio (mg/l Hg) 0,0002 – 0,08 0,01
Níquel (mg/l Ni) 0,05 – 0,88 0,40
Potássio (mg/l K) 23 – 11300 2260
Sódio (mg/l Na) 550 – 6400 2373
Zinco (mg/l Zn) 0,07-6 0,85
Quando as entidades gestoras optam pela descarga em coletor municipal verifica-se a
implementação de sistemas de tratamento menos complexos, uma vez que os VLE são, em geral,
menos restritivos, face aos indicados no Decreto-Lei n.º 236/98 de 1 de agosto. Os sistemas adotados
configuram-se como um pré-tratamento, com recurso a processos de tratamento biológicos,
complementados quando necessário por processos físico-químicos. Desta forma, verifica-se que
cerca de 46% das ETAL procede à descarga do efluente tratado em coletor municipal para posterior
tratamento em ETAR. Desta fração cerca de 44% recorrem a processos biológicos e 56% aplicam,
além dos últimos, também processos físico-químicos, de forma a garantir os valores limite de
emissão impostos pela autarquia na qual se inserem as ETAL. O processo físico-químico mais
utilizado nos sistemas de tratamento é o processo de coagulação/floculação, adotado em cerca de
89% das ETAL, dos quais 38% utiliza adicionalmente processos físico-químicos como a filtração ou a
oxidação química.
Os sistemas de tratamento compostos apenas por processos biológicos apresentam uma elevada
amplitude para os valores da eficiência de remoção (para os principais parâmetros: CBO5, CQO e
azoto amoniacal), refletindo a dificuldade de aplicação destes processos no tratamento dos lixiviados
78
gerados em aterros sanitários de RSU. Registam-se percentagens de remoção de CBO5 entre os 14% e
os 85%, para a CQO os valores variam entre os 7% e os 77%, por último as percentagens de remoção
do azoto amoniacal balizam-se entre os 11% e os 88%. No entanto, verifica-se que o processo de
tratamento por lamas ativadas é o que permite obter melhores resultados, face às restantes opções.
Os valores observados ficam aquém das percentagens de remoção indicadas pela literatura para
processos de tratamento biológicos, no entanto estes resultados são expectáveis dada a dificuldade
em controlar os parâmetros que afetam diretamente a capacidade de degradação biológica da
matéria orgânica, assim como da impossibilidade das bactérias decomporem os compostos
recalcitrantes, e a presença de substâncias tóxicas que inibem a sua ação.
A adição de processos de tratamento físico-químicos conduz a um aumento das percentagens de
remoção, atingindo valores máximos de 99% para a CBO5 e CQO e de 97% para o azoto amoniacal,
contudo, os valores mínimos situam-se nos 47% no caso da CBO5 e nos 46% para a CQO, isto é,
continua a registar-se uma amplitude elevada. Por falta de dados relativos às percentagens de
remoção de azoto amoniacal, não foi possível concluir se o valor mínimo de remoção de 91% será
realista. Apesar de se observarem percentagens de remoção mais elevadas, os sistemas de
tratamento que recorrem simultaneamente a processos biológicos e processos físico-químicos (onde
se incluem: coagulação/ floculação, oxidação química, carvão ativado, filtração e ultrafiltração), não
conseguem garantir os VLE presentes na legislação em vigor para descarga em linha de água.
Quando o objetivo das entidades gestoras coincide com a descarga do efluente tratado em linha
de água os VLE a respeitar são mais restritivos, facto que conduz a sistemas de tratamento mais
complexos, isto é, que permitem uma remoção quase total dos poluentes presentes nas águas
lixiviantes, sendo comum a conjugação de processos de tratamento biológicos e físico-químicos que
garantam a adequada afinação do efluente final. No panorama nacional 48% das ETAL efetuam a
descarga em linha de água, destas cerca de 94% recorrem a unidades de osmose inversa para atingir
os VLE na legislação, os restantes 6% utilizam sistemas de torres de evaporação (que correspondem
aos aterros sanitários geridos pela Ambilital e pela Tratolixo). No entanto, em todos os sistemas de
tratamento por osmose inversa é executado um pré-tratamento ao lixiviado, sendo que em 75% dos
casos são utilizados apenas processos biológicos, e nos restantes 25% os últimos são
complementados com processos físico-químicos como a coagulação/floculação, a filtração ou a
ultrafiltração.
Os sistemas de tratamento que integram unidades de osmose inversa apresentam percentagens
de remoção muito elevadas para os principais parâmetros que caracterizam o lixiviado, registando-se
percentagens máximas de remoção de 99,7%, 99,9% e 99,8% para a CBO5, CQO e azoto amoniacal,
79
respetivamente. Os valores mínimos de remoção situam-se entre os 92,7% e os 98,7% para os
parâmetros indicados. Através dos valores observados é clara a elevada capacidade que os sistemas
de tratamento que incorporam unidades de osmose inversa têm em reduzir a carga poluente a
valores compatíveis com a descarga em linha de água.
De igual forma, os dois sistemas de tratamento que integram torres de evaporação conseguem
atingir uma redução significativa da carga poluente do lixiviado, cerca de 98,4% para a CQO e de
91,8% para o azoto amoniacal, valores referentes à Ambilital, e, apesar da Tratolixo não ter facultado
os dados relativos à monitorização do lixiviado, garantiu que o efluente final do sistema de
tratamento respeita os VLE presentes na legislação.
81
6 CASO DE ESTUDO: ETAL DA MEIA SERRA
6.1 Considerações iniciais
O presente capítulo tem como objetivo a coesão dos capítulos antecedentes, através de um caso
de estudo, nomeadamente a ETAL existente no aterro sanitário da Meia Serra, fazendo uma análise
comparativa entre as soluções adotadas para o sistema de tratamento e os elementos teóricos
abordados anteriormente. O interesse em estudar a ETAL da Meia Serra surgiu da conjugação do
acesso a dados de estudos anteriores, relativos a campanhas de monitorização que abrangeram a
caracterização dos lixiviados, e da procura de uma nova abordagem quanto à linha de tratamento.
No entanto, por motivos de confidencialidade não foi possível à entidade gestora facultar dados
relativos às dimensões dos órgãos hidráulicos, caudal de dimensionamento, entre outros elementos
essenciais para uma correta análise. Na ausência dos referidos elementos, optou-se por realizar o
pré-dimensionamento do sistema de tratamento de âmbito académico.
6.2 Caracterização da ETAL da Meia Serra
A ETAL da Meia Serra está inserida na ETRS da Meia Serra (Figura 6.1) que abrange toda a Região
Autónoma da Madeira. Inaugurada em 1991, dispõe de diversas infraestruturas para receber os
resíduos sólidos produzidos, nomeadamente uma estação de incineração de resíduos sólidos
urbanos, uma estação de incineração de resíduos hospitalares e de matadouro, uma instalação de
compostagem de resíduos sólidos urbanos e aterros sanitários. As infraestruturas principais são
Figura 6.1 – ETRS da Meia Serra
82
complementadas por instalações de apoio onde se enquadra a ETAL, um parque de armazenagem,
trituração e acondicionamento de pneus usados, uma plataforma de armazenagem, trituração e
acondicionamento de madeiras e embalagens, um edifício de compactação de metais ferrosos e um
edifício de armazenamento de escórias, além dos edifícios administrativos e socais.
A ERTS integra cerca de 15,9ha de aterro sanitário selado (1ª e 2ª fase) e de 16ha de aterro
sanitário (3ª fase) em exploração desde 2014, pelo que os lixiviados constituem a principal fatia
percentual do volume anual tratado na ETAL. O sistema de tratamento adotado na ETAL encontra-se
representado no Capítulo 5.4.1 na Figura 5.32.
6.3 Dados de base e linha de tratamento adotada
6.3.1 Produção de lixiviado
O conhecimento do caudal de lixiviado a tratar é fundamental no dimensionamento de uma ETAL,
contudo a sua determinação pode ser complexa, conforme explanado no Capítulo 3.2. Num pré-
-dimensionamento pode ser obtida uma estimativa de uma forma expedita com base nos registos da
precipitação média anual, considerando que corresponde entre 15% a 25% da precipitação média
anual [1].
Nesse sentido, selecionaram-se alguns postos udométricos na área circundante à ETRS a uma cota
aproximada (cerca de 1140m) e com períodos de registos que permitissem obter uma caracterização
da precipitação média mensal. O resumo dos valores obtidos está exposto no Quadro 6.1 e no
Quadro 6.2. O valor determinado para a precipitação média anual de 2362,2mm reparte-se ao longo
de um ano hidrológico (em média) de acordo com a última coluna do Quadro 6.2, pelo que o caudal
de lixiviado afluente à ETAL apresentará, aproximadamente, igual distribuição tendo em
consideração que pode ocorrer um delay inerente ao processo de infiltração da água precipitada.
Determinados os valores das precipitações médias mensais extraíram-se os caudais médios de águas
lixiviantes produzidas, considerando que correspondem a 20% das primeiras (Quadro 6.3).
Quadro 6.1 – Postos udométricos selecionados na área circundante à ETRS da Meia Serra
Posto Altitude (m)
Chão das Feiteiras 1170
Poiso – Posto Florestal 1360
Montado do Pereiro 1360
Meia Serra 1120
83
Quadro 6.2 – Precipitações mensais médias (mm) de postos udométricos na área circundante à ETRS da Meia
Serra
Mês Postos udométricos
Média Chão das Feiteiras Poiso – Posto Florestal Montado do Pereiro Meia Serra
Outubro 297,7 292,5 260,9 328,5 294,9
Novembro 352,2 366,9 369 281 342,3
Dezembro 561,5 382,8 300,2 437,4 420,5
Janeiro 293,7 295 324,8 374,5 322,0
Fevereiro 270,0 349,8 237,3 212,7 267,5
Março 247,4 250,8 238,3 303,1 259,9
Abril 134,2 141,2 171,2 84,8 132,9
Maio 141,1 105,2 71,5 148,5 116,6
Junho 46,2 42,1 21,9 50,9 40,3
Julho 20,6 11,6 12 5,8 12,5
Agosto 36,2 36,7 28,5 12,9 28,6
Setembro 191,7 118,6 94,4 93,1 124,5
Quadro 6.3 – Caudais médios mensais e diários de lixiviados
Mês Precipitação mensal
média (mm) Caudal mensal médio de
lixiviados (m3/mês) Caudal diário médio de
lixiviados (m3/dia)
Outubro 294,9 9378 313
Novembro 342,3 10884 363
Dezembro 420,5 13371 446
Janeiro 322,0 10240 341
Fevereiro 267,5 8505 283
Março 259,9 8265 275
Abril 132,9 4225 141
Maio 116,6 3707 124
Junho 40,3 1281 43
Julho 12,5 398 13
Agosto 28,6 909 30
Setembro 124,5 3958 132
Média anual 196,9 6260 209
Do conjunto de valores obtidos verificou-se que, de acordo com a estimativa, o mês com maior
caudal de lixiviados será dezembro, com uma produção de 446m3 diários, correspondendo a um
caudal de ponta (Qp) de 18,6m3/h. O caudal diário médio anual de águas lixiviantes estimou-se em
209m3, que equivale a 8,7m3/h. O caudal de dimensionamento (Qd) adotado foi de 10m3/h.
84
6.3.2 Definição da linha de tratamento
Na escolha do conjunto de processos unitários de tratamento que constituem o sistema de
tratamento a adotar estão envolvidos diversos fatores, contudo o destino final pretendido para as
águas lixiviantes tratadas, em conjugação com os valores limites de emissão definidos na legislação,
condicionam a seleção dos processos de tratamento a implementar. No caso particular da ETAL da
Meia Serra, o destino dos lixiviados tratados é o meio hídrico ou reutilização interna, pelo que a
exigência de tratamento é elevada, impondo um sistema de tratamento mais robusto, capaz de um
elevado grau de descontaminação. No Quadro 6.4 estão dispostos os valores limite de emissão, a ser
respeitados, para os principais parâmetros de caracterização.
Quadro 6.4 – Valores limite de emissão de acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98 de 1 de agosto
Parâmetros Unidades VLE
CBO5, 20⁰C mg/l O2 40
CQO mg/l O2 150
SST mg/l 60
Azoto amoniacal mg/l NH4 10
Para efeitos de pré-dimensionamento assumiram-se os valores médios que caracterizam um
lixiviado produzido num aterro sanitário jovem ou em início de exploração (<2 anos), representados
no Quadro 6.5.
Quadro 6.5 – Concentrações típicas dos constituintes de um lixiviado proveniente de um aterro sanitário jovem
Parâmetros Unidades Valores médios
CBO5, 20⁰C mg/l O2 10000
CQO mg/l O2 18000
SST mg/l 500
Azoto orgânico mg/l N 200
Azoto amoniacal mg/l NH4 800
TKN mg/l 1350
Fósforo total mg/l P 30
Alcalinidade em CaCO3 mg/l CaCO3 3000
Através dos valores indicados no quadro anterior verificou-se que o lixiviado apresenta elevadas
concentrações de matéria orgânica e de componentes azotados, obrigando a recorrer a mais de uma
etapa para atingir os valores de emissão pretendidos. A aplicação de um processo de tratamento
terciário por osmose inversa afigura ser uma solução vantajosa, na medida em que permite uma
elevada percentagem de remoção dos poluentes, fator essencial para respeitar os VLE. Para
melhorar a capacidade de tratamento da unidade de osmose inversa, assim como aumentar a
85
longevidade das membranas, deve ser realizado o pré-tratamento das águas lixiviantes. O rácio
CBO5/CQO situa-se aproximadamente em 0,6 demonstrando a forte carga orgânica caraterística de
um aterro sanitário jovem, pelo que se optou por um processo de tratamento biológico com recurso
a lagoas arejadas, de modo a reduzir a concentração da matéria orgânica. Uma vez que o lixiviado
será afinado na unidade de osmose inversa, o processo biológico escolhido permite atingir os
objetivos para a fase inicial do tratamento. Sendo um dos principais problemas associados à osmose
inversa a colmatação das suas membranas, é importante existir um processo de decantação
controlado, através do qual seja possível potenciar a agregação das partículas de menor dimensão
que, por si só, não sedimentariam num tanque de decantação convencional. Desta forma, optou-se
pela aplicação de um processo físico-químico por coagulação/floculação, o qual permite uma
decantação assistida, com a possibilidade de controlar as doses de coagulante e de floculante a
adicionar, de modo a aumentar a capacidade de remoção dos sólidos em suspensão no decantador,
proporcionando um efluente de melhor qualidade para posterior tratamento na unidade de osmose
inversa. O efluente desta será posteriormente encaminhado para um reservatório de água tratada.
Dadas as caraterísticas topográficas do terreno, assumiu-se a possibilidade do escoamento ocorrer
graviticamente, sem intervenção de bombas elevatórias.
A produção de lixiviado apresenta uma variação significativa ao longo do ano, tanto em volume
como em composição, assim a montante da linha de tratamento optou-se por instalar um tanque de
regularização. Da mesma forma, definiram-se duas linhas de tratamento paralelas, repartindo o
caudal efluente do tanque de regularização. Esta escolha prevê tanto as situações de manutenção ou
avaria de equipamentos, bem como os períodos em que o caudal afluente é muito inferior ao caudal
de dimensionamento, minimizando os impactes negativos no tratamento. Sabendo que a capacidade
de receção de um aterro sanitário é finita, a ETAL a implementar deve prever a expansão do mesmo,
deixando em aberto a possibilidade de aumentar o número de linhas de tratamento, se necessário.
As lamas produzidas durante o processo de coagulação/floculação e o concentrado, subproduto
do tratamento por osmose inversa, podem ser depositados no aterro sanitário, uma vez que, de
acordo com elementos teóricos, permite uma otimização na capacidade de estabilização do aterro
sanitário. O diagrama linear simplificado do sistema de tratamento adotado na ETAL da Meia Serra
(Figura 6.2) esquematiza a sequência de operações e processos unitários de tratamento do lixiviado,
bem como os circuitos de reagentes e das lamas.
86
Figura 6.2 – Diagrama linear simplificado do sistema de tratamento
6.4 Pré-dimensionamento da ETAL
6.4.1 Tanque de regularização
Para o tanque de regularização, instalado a montante do sistema de tratamento, foi definido um
TRH de um dia para o caudal de dimensionamento de 10m3/h, minimizando os odores intensos e
pestilentos. As caraterísticas geométricas do tanque de regularização estão definidas no Quadro 6.6
e as suas condições de funcionamento no Quadro 6.7.
Tanque de coagulação
Lixiviado afluente
Lagoa arejada
Decantador
Unidade de osmose inversa
Utilização interna ou descarga em linha de água
Tanque de floculação
Lamas
H3PO4
FeCl3 Ca(OH)2
Concentrado
Tanque de regularização
Lagoa arejada
Tanque de coagulação
Tanque de floculação
Decantador
Unidade de osmose inversa
Reservatório de água tratada
Aterro sanitário
87
Quadro 6.6 – Caraterísticas geométricas do tanque de regularização
Nº de tanques 1
Comprimento (m) 12,6
Largura (m) 10,6
Altura (m) 2,9
Espessura das paredes (m) 0,3
Espessura da laje de fundo (m) 0,4
Bordo livre (m) 0,5
Área (m2) 133,6
Volume total efetivo (m3) 240
Quadro 6.7 – Condições de funcionamento do tanque de regularização
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/h) 10,0 18,6
TRH (h) 24 12,9
6.4.2 Lagoa arejada
O caudal efluente do tanque de regularização é repartido para duas lagoas arejadas, recebendo
cada uma metade do caudal de dimensionamento, ou seja, 5m3/h. O TRH foi definido em 40 dias,
estimando-se uma percentagem de remoção do parâmetro CBO5 de aproximadamente 76%.
Relativamente aos sólidos suspensos espera-se um redução entre 40% a 60%. Embora não seja
objetivo remover o azoto amoniacal, devido ao elevado TRH estima-se que a sua redução possa
atingir entre 30% a 60%. As caraterísticas geométricas e as condições de funcionamento de cada
lagoa estão dispostas no Quadro 6.8 e no Quadro 6.9, respetivamente.
Quadro 6.8 – Caraterísticas geométricas das lagoas
Comprimento do topo (m) 55,0
Largura do topo (m) 35,0
Comprimento da base (m) 49,0
Largura da base (m) 29,0
Profundidade (m) 3,5
Bordo livre (m) 0,5
Área por lagoa (m2) 1925
Volume efetivo por lagoa (m3) 5000
Quadro 6.9 – Condições de funcionamento das lagoas arejadas
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/d) 120 223
TRH (d) 41,7 22,4
88
O oxigénio consumido na degradação da matéria orgânica e na respiração endógena foi estimado
em 611kg/d, devendo cada lagoa estar equipada com arejadores mecânicos de superfície que
garantam o devido fornecimento de oxigénio e mantenham os sólidos em suspensão. Para tal, como
pré-dimensionamento optou-se por dois arejadores de 30KW com um débito de 1,7kgO2/KW.h,
funcionando alternadamente 6,5 horas diárias cada um. Da análise da composição do lixiviado
verificou-se que a razão CBO5/P é inferior a 100:1, registando-se um défice fósforo (P) em cerca de
8,4kg/d, pelo que o mesmo pode ser reposto através da adição de 26,6kg/d de ácido fosfórico
(H3PO4). Uma vez que, o lixiviado apresenta variações na sua composição ao longo do ano, a dose de
ácido fosfórico poderá ser alterada consoante a carência verificada de nutrientes.
6.4.3 Câmara de mistura rápida
O pré-dimensionamento das câmaras de mistura rápida para o processo de coagulação pressupõe
o cálculo do seu volume, da potência dos eletroagitadores e das dose de coagulante a adicionar. De
acordo com elementos teóricos o TRH deve situar-se entre os 5s e os 60s. Para determinar a potência
de rotação de cada eletroagitador admitiu-se um gradiente de velocidade de 1500s-1, conduzindo a
uma potência de 442W. Segundo elementos teóricos a concentração de coagulante a adicionar
apresenta um grande intervalo, nesse sentido como pré-dimensionamento optou-se por adicionar
600mg/l de cloreto férrico, deixando em aberto a possibilidade de efetuar ajustes tanto na dose de
coagulante (consoante a composição do lixiviado) como acrescentar outro tipo de reagente, por
exemplo, polieletrólitos. O emprego de cloreto férrico conduz ao consumo de CaCO3, pelo que,
sempre que necessário, deve ser realizada a correção do pH para valores entre 5,5 e 6,5 através da
adição de cal hidratada. As características geométricas das câmaras de mistura rápida tão dispostas
no Quadro 6.10 e as suas condições de funcionamento no Quadro 6.11. Por razões construtivas
fixou-se um volume interno de 0,125m3, de modo a não comprometer o TRH, dado o reduzido caudal
de dimensionamento.
Quadro 6.10 – Características geométricas das câmaras de mistura rápida
Comprimento (m) 0,90
Largura (m) 0,90
Altura (m) 1,20
Espessura das paredes (m) 0,20
Espessura da laje de fundo (m) 0,30
Bordo livre (m) 0,40
Área (m2) 0,81
Volume total efetivo (m3) 0,125
89
Quadro 6.11 – Condições de funcionamento das câmaras de mistura
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/h) 5,0 9,3
TRH (s) 90 48
6.4.4 Câmara de floculação
O pré-dimensionamento da câmara de floculação, à semelhança do procedimento para as
câmaras de mistura rápida, inclui a definição do volume dos compartimentos onde ocorrerá a
floculação e a potência dos eletroagitadores. O volume de cada compartimento foi determinado com
base no TRH que deve situar-se entre os 30 e os 60 minutos, de modo a propiciar a formação de
flocos. Definiram-se 4 compartimentos de floculação, onde o lixiviado experimenta uma gradual
diminuição da velocidade. No Quadro 6.12 estão dispostas as caraterísticas de cada compartimento,
no Quadro 6.13 encontram-se os gradientes de velocidade para cada compartimento, assim como a
potência do respetivo eletroagitador. No Quadro 6.14 estão representadas as condições de
funcionamento da câmara de floculação.
Quadro 6.12 – Caraterísticas geométricas de cada compartimento
Comprimento (m) 1,50
Largura (m) 1,50
Altura (m) 1,80
Espessura das paredes (m) 0,20
Espessura da laje de fundo (m) 0,30
Bordo livre (m) 0,40
Volume efetivo por compartimento (m3) 1,33
Área total (m2) 6,75
Volume total efetivo (m3) 5,32
Quadro 6.13 – Gradientes de velocidade e potência dos electroagitadores para cada compartimento
Compartimento 1 2 3 4
G (s-1) 87,5 75 62,5 50
Potência (W) 16 12 9 6
Potência total (W) 41
Quadro 6.14 – Condições de funcionamento das câmaras de floculação
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/d) 5,0 9,3
TRH (min) 63,9 34,3
90
6.4.5 Decantador secundário
No pré-dimensionamento dos decantadores secundário de secção circular fixaram-se alguns dos
parâmetros, nomeadamente o TRH em 4 horas, a carga hidráulica em 18m3/m2.h e o declive do
fundo entre 5⁰ e 8⁰, de modo a definirem-se as caraterísticas geométricas e as condições de
sedimentação, apresentadas no Quadro 6.15 e no Quadro 6.16. As lamas sedimentadas no fundo do
decantador deverão ser devidamente tratadas, por exemplo, com recurso a um espessador de lamas,
com posterior a sua desidratação antes de serem depositadas no aterro sanitário.
Quadro 6.15 – Caraterísticas geométricas dos decantadores
Diâmetro interno superior (m) 3,00
Diâmetro interno inferior (m) 0,35
Profundidade líquida – parte cilíndrica (m) 2,90
Profundidade líquida – parte cónica (m) 0,15
Bordo livre (m) 0,50
Declive do fundo (⁰) 6,5
Área (m2) 10,18
Volume efetivo (m3) 20,90
Quadro 6.16 – Condições de funcionamento dos decantadores
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/d) 5,0 9,3
TRH (h) 4,18 2,25
Carga hidráulica (m3/m2.d) 17 32
6.4.6 Unidade de osmose inversa
A unidade de osmose inversa tem por objetivo a afinação do efluente proveniente do decantador,
através da eliminação dos componentes azotados e dos compostos refratários não eliminados
biologicamente, ou no processo físico-químico de coagulação/floculação. Face às caraterísticas
iniciais do lixiviado, é estima-se que os processos de tratamento a jusante da unidade de osmose
inversa permitam alcançar as eficiências de remoção apresentadas no Quadro 6.17, de acordo com
elementos teóricos e dados recolhidos nas monitorizações do lixiviado noutras linhas de tratamento.
Embora aparentemente a eficiência global seja positiva, os dois processos de tratamento conjugados
não permitem respeitar os exigentes VLE.
O dimensionamento de uma unidade de osmose inversa é um processo complexo, normalmente
desenvolvido por empresas especializadas, as quais apresentam as soluções mais adequadas às
caraterísticas do afluente a tratar.
91
Quadro 6.17 – Estimativa para as remoções e eficiência global de alguns dos principais parâmetros que
caracterizam o lixiviado
Parâmetros Lixiviado
bruto Saída das lagoas
arejadas Saída do
decantador Eficiência
global
CBO5 (mg/l de O2) 10000 2400 1080 89%
CQO (mg/l de O2) 18000 8100 3645 80%
SST (mg/l) 500 230 46 91%
Azoto amoniacal (mg/l de NH4) 800 320 262 67%
6.4.7 Reservatório de água tratada
O efluente da ETAL tem como destino final a reutilização interna e/ou a descarga em linha de
água, nesse sentido definiu-se um TRH de 24 horas, de modo a evitar possíveis condições
anaeróbicas que pudessem comprometer a qualidade do efluente, e considerou-se um caudal
afluente de 9m3/h (arbitrando uma taxa de recuperação na unidade de osmose inversa de 90%). No
Quadro 6.18 e no Quadro 6.19 estão dispostas as caraterísticas geométrica e as condições de
funcionamento do reservatório de água tratada, respetivamente.
Quadro 6.18 – Caraterísticas geométricas do reservatório de água tratada
Nº de tanques 1
Comprimento (m) 12,6
Largura (m) 9,6
Altura (m) 2,9
Espessura das paredes (m) 0,3
Espessura da laje de fundo (m) 0,4
Bordo livre (m) 0,5
Área (m2) 120,96
Volume total efetivo (m3) 216
Quadro 6.19 – Condições de funcionamento do reservatório de água tratada
dimensionamento ponta
Caudal afluente (m3/d) 9,0 16,7
TRH (h) 24 12,9
92
6.5 Apreciação crítica
O dimensionamento, conceção e operação de uma estação de tratamento de águas lixiviantes é
um processo desafiante, na medida em que a elevada variabilidade existente tanto na composição
do lixiviado como no caudal produzido, obrigado a uma monitorização em tempo real dos principais
parâmetros caracterizantes do lixiviado, facto este que proporciona um desafio diferente das
habituais estações de tratamento de águas residuais ou de uma estação de tratamento de água para
consumo. Desta forma, durante o pré-dimensionamento de uma ETAL deve procurar-se obter uma
solução de tratamento flexível, capaz de lidar com as variações que ocorrem diariamente.
As flutuações de caudal e de qualidade das águas lixiviantes diárias, impõem como boa prática a
instalação de um tanque de regularização a montante da linha de tratamento, o qual permita
salvaguardar os processos de tratamento a jusante, procurando maximizar as eficiências de
tratamento através da descarga de um efluente com caudal constante e equalizado.
As opções para o tratamento das águas lixiviantes são diversas, todas elas visando a obtenção de
um efluente de maior ou menor pureza, consoante o seu destino final. O caso analisado prevê a
descarga em linha de água, pelo que os VLE impõem um etapa terciária no tratamento do lixiviado, o
que condicionou em certa medida as opções a aplicar, uma vez que apenas os processos por
membranas, mais concretamente por osmose inversa, oferecem uma redução real na concentração
dos agentes contaminantes para valores que se enquadrem com a descarga em meio hídrico. Apesar
da eficiência que este processo de tratamento permite alcançar, a sua aplicação per si também não
seria comportável devido às elevadas concentrações de matéria orgânica e de sólidos suspensos.
Nesse sentido, optou-se por um tratamento biológico que permitisse uma redução da fração
biodegradável da matéria orgânica, tendo-se selecionado as lagoas arejadas, pela facilidade e baixo
custo de operação, com a vantagem de poder ser otimizada com a recirculação de biomassa ativa. As
lagoas arejadas são um órgão hidráulico que não permite um controlo eficaz dos sólidos em
suspensão, este facto tem implicações no desempenho da unidade de osmose inversa, pelo que se
impôs a aplicação de um processo de sedimentação. Devido às caraterísticas dos sólidos em
suspensão, partículas de reduzidas dimensões e baixo peso específico, a sua sedimentação num
decantador convencional não apresentaria uma eficiência de remoção compatível com o processo de
osmose inversa. Desta forma, a solução passou pela implementação de uma decantação assistida,
através de um processo de coagulação/floculação que permite um adequado controlo dos sólidos
suspensos.
93
Durante a vida útil de um aterro sanitário podem ocorrer dois cenários que provocam alterações
significativas nas características do lixiviado a tratar: o seu envelhecimento e a sua ampliação. À
medida que um aterro sanitário envelhece, caminhando para a sua selagem, tem o efeito de produzir
um lixiviado com uma reduzida fração orgânica (CBO5/CQO < 0,2), assim como um menor volume de
águas lixiviantes. A ETAL deve prever esta condicionante através da instalação de duas linhas de
tratamento paralelas, comportando benefícios para a sua operação, no sentido de permitir manter
sempre a ETAL em funcionamento dentro dos parâmetros de dimensionamento, nas situações de
manutenção e avaria, assim como lidar com a redução no caudal de lixiviado que ocorre anualmente
pela variação de precipitação, e devida à selagem contínua das células em exploração. Desta forma,
quando o volume de caudal decresce para valores que possam comprometer a capacidade de
tratamento dos órgãos hidráulicos, existe a possibilidade de operar apenas uma linha de tratamento.
A opção de instalar duas linhas de tratamento traz ainda uma vantagem associada à dificuldade em
estimar o caudal que irá afluir à ETAL, podendo os órgãos hidráulicos da ETAL serem sobre ou
subdimensionados, o que produzirá efeitos negativos na qualidade do efluente.
Em muitos casos, na conceção dos aterros sanitários está prevista a sua ampliação a longo prazo,
este facto conduz a um aumento do volume de lixiviados, o qual pode não ser compensado pela
redução do volume que eflui das áreas de aterro seladas. Na situação em que ocorre o aumento do
volume de águas lixiviantes, deve estar prevista a ampliação da ETAL, de modo a comportar mais
uma ou duas linha de tratamento, optando por um faseamento construtivo consoante a projeção
realizada para a expansão do aterro sanitário. No caso em estudo, o aterro sanitário foi
intervencionado resultando na sua ampliação a longo prazo para uma área de, aproximadamente,
32ha. A expansão do aterro sanitário para o dobro da sua área conduzirá a um aumento na produção
do volume anual de lixiviado, facto este que pode comprometer a qualidade do efluente da ETAL,
impondo a realização de estudos sobre a capacidade de tratamento da mesma a longo prazo.
95
7 CONCLUSÕES
A história mostra uma clara evolução na nossa capacidade de lidar com os RSU, através da
implementação de soluções integradas que permitem uma gestão mais eficiente e eficaz dos RSU,
distribuindo-os pelas várias infraestruturas de valorização. Contudo, a utilização do aterro sanitário
com destino final dos RSU mantém-se a opção mais aplicada mundialmente, razão pela continua a
ser pertinente o desenvolvimento estudos direcionados a todos os vetores ambientais afetados por
este processo de tratamento. Em Portugal, apenas nas últimas duas décadas se abandonaram as
lixeiras como solução para o destino final para os RSU, tendo sido substituídas gradualmente pelos
aterros sanitários e, como tal, o tratamento dos lixiviados é um tema que requer especial atenção
pela potencial contaminação das linhas de água, solo e aquíferos.
Os processos de tratamento existentes na atualidade oferecem uma capacidade de tratamento
compatível com o destino final pretendido para as águas lixiviantes. Apesar de se mostrar eficaz no
tratamento de águas residuais domésticas, os processos de tratamento biológicos quando aplicados
aos lixiviados devem ser entendidos apenas como um pré-tratamento, uma vez que a maioria dos
aterros sanitário produz águas lixiviantes com uma relação CBO5/CQO muito reduzida, indicando a
presença de baixas concentrações de compostos biodegradáveis. No entanto, quando o destino final
do lixiviado é o coletor municipal exigência de tratamento é compatível com um pré-tratamento com
recurso a processos biológicos, e quando necessário, assistidos por processos físico-químicos
simples, como por exemplo a coagulação/floculação. A realidade nacional assim o demonstra, uma
vez que, todas as ETAL que descarregam o lixiviado no coletor municipal aplicam processos de
tratamento biológicos, e cerca de 56% aplicam adicionalmente processos de tratamento físico-
-químicos, como processos por coagulação/floculação, filtração, oxidação química ou carvão ativado.
Quando se impõe a descarga em linha de água, ou se pretende reaproveitar o lixiviado tratado para
reutilização interna, os processos de tratamento biológicos, mesmo quando complementados por
processos físico-químico enunciados, não conseguem garantir um grau de pureza compatível com as
exigências do meio recetor. Os dados analisados permitiram concluir que apenas o processo por
osmose inversa, a par com os processos por evaporação múltipla, conseguem garantir um efluente
de qualidade superior, pelo que todas as ETAL que descarregam o lixiviado tratado nas linhas de água
(ou o reutiliza internamente) recorrem aos processos indicados, com maior incidência no primeiro,
cerca de 94%, sendo que apenas duas optaram pelo segundo processo. Contudo, ocorre sempre o
pré-tratamento do lixiviado a montante, com menor ou maior grau de complexidade consoante a
composição do lixiviado.
96
O problema transversal a todos os processos de tratamento está no facto da componente
poluente que o lixiviado transporta não ser realmente eliminada, ocorrendo apenas a transferência
da fase líquida para a fase sólida. Este facto é mais preocupante no caso do processo de tratamento
por osmose inversa, dado ser o único que remove quase a 100% todos os componentes poluentes
que, ao serem transferidos de fase, geram um concentrado altamente tóxico. Os restantes processos
de tratamento que não permitem uma remoção tão elevada da carga poluente ocultam esta
problemática, uma vez que, não transferindo os contaminantes para a fase sólida, mantêm-nos em
fase líquida no lixiviado, passando posteriormente o problema para a ETAR quando são
descarregados no coletor municipal. Desta forma, torna-se pertinente o continuo desenvolvimento
de outros processos de tratamento que possibilitem a estabilização dos compostos presentes no
lixiviado, não os transferindo de fase, mas sim neutralizando a sua capacidade de reagir com o meio
ambiente.
A recolha de todos os dados que permitiram a definição dos sistemas de tratamento adotados nas
ETAL de aterros sanitários portugueses, a elaboração do Quadro 5.31 onde estão dispostos o
intervalo de valores e os valores médios das concentrações para os parâmetros que caracterizam um
lixiviado proveniente de aterros sanitários antigos, assim como os dados de monitorização que
possibilitaram a determinação das eficiência de remoção médias dos principais parâmetros que
caracterizam as águas lixiviantes, representou um processo moroso e complexo, devido à dificuldade
em conseguir obter as informações solicitadas junto das 29 entidades gestoras.
No Capítulo 6 – Caso de Estudo: ETAL da Meia Serra, o objetivo inicialmente definido foi realizar
uma análise comparativa entre o sistema de tratamento adotado e os elementos teóricos abordados
nos capítulos anteriores, para tal seria necessário obter junto da entidade gestora dados como o
caudal de dimensionamento, dimensões dos órgãos hidráulicos que constituem a ETAL e dados de
monitorizações recentes ao lixiviado bruto e após cada etapa de tratamento. No entanto, por
motivos de confidencialidade a entidade gestora não facultou dados recentes que permitissem fazer
a análise de âmbito académico. Não obstante, optou-se por realizar um pré-dimensionamento de
raiz de uma ETAL genérica, partindo de dados meteorológicos obtidos de postos udométricos na área
circundante à ETRS da Meia Serra, e uma caraterização média para o lixiviado a tratar.
Quanto aos processos de tratamento aplicados, os mesmos encontram-se de acordo com o
objetivo pretendido para o destino final do lixiviado tratado, ou seja, o tratamento terciário por
osmose inversa, procedendo a montante a um pré-tratamento biológico com recurso a uma lagoa
arejada e a um processo de tratamento por coagulação/floculação, possibilita a obtenção de um
efluente de elevada pureza, compatível com a descarga em linha de água ou com a reutilização
97
interna, assim o demonstram os dados recolhidos das monitorizações realizadas em 2006. Contudo,
a opção de instalar apenas uma linha de tratamento, em detrimento de repartir o caudal de
dimensionamento por duas linhas de tratamento paralelas, pode comprometer a eficiência do
sistema de tratamento quando o caudal a tratar for muito inferior ao caudal de dimensionamento. A
inexistência de um tanque de regularização a montante da linha de tratamento pode, de igual modo,
ser prejudicial para as operações de tratamento, dado que se afluir um volume de lixiviado muito
superior ao dimensionado conduz a uma redução no TRH que pode dificultar a degradação dos
compostos orgânicos pelas bactérias, comprometendo os restantes processos de tratamento a
jusante. A ampliação do aterro sanitário para, aproximadamente, o dobro da sua atual capacidade
conduz, a médio/longo prazo, a um aumento significativo no volume de lixiviado produzido, pelo que
deve estar contemplada a possibilidade de ampliar a ETAL existente, de modo a encaixar o volume de
águas lixiviantes em excesso. De modo a compreender os impactes que advêm do aumento da
capacidade do aterro sanitário, é recomendável a realização de um estudo à ETAL atualmente em
funcionamento.
99
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105
Anexo A
Quadro A.1 – Controlo dos lixiviados produzidos em aterros sanitários em exploração, de acordo com o
Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de agosto
Parâmetros Frequência das determinações
Quinzenais Mensais Trimestrais Semestrais
Controlo do nível dos lixiviados X
Monitorização do volume dos lixiviados
X
pH
X
Condutividade
X
CQO
X
COT
X
Carbonatos/bicarbonatos
X
Cianetos
X
Cloretos
X
Fluoretos
X
Amónio
X
Nitratos
X
Nitritos
X
Sulfatos
X
Sulfuretos
X
Alumínio
X
Bário
X
Boro
X
Cobre
X
Ferro
X
Manganésio
X
Zinco
X
Antimónio
X
Arsénio
X
Cádmio
X
Crómio total
X
Crómio VI, se aplicável
X
Mercúrio
X
Níquel
X
Chumbo
X
Selénio
X
Cálcio
X
Magnésio
X
Potássio
X
Sódio
X
Índice de fenóis
X
AOX22
X
Hidrocarbonetos totais
X
22
Se a concentração de AOX for superior a 10mg/l deve ser apurada a presença de compostos orgânicos clorados definidos pela entidade licenciadora.
106
Quadro A.2 – Controlo das águas subterrâneas, de acordo com o Decreto-Lei n.º 183/2009 de 10 de agosto
Parâmetros Frequência das determinações
Antes do início de exploração Mensais Semestrais Anuais
Medição do nível X X 23
pH X X
Condutividade X X
COT 24 X X
Carbonatos/ bicarbonatos X X
Cianetos X X
Cloretos X X
Fluoretos X X
Amónio X X
Nitratos X X
Nitritos X X
Sulfatos X X
Sulfuretos X X
Alumínio X X
Bário X X
Boro X X
Cobre X X
Ferro X X
Manganésio X X
Zinco X X
Antimónio X X
Arsénio X X
Cádmio X X
Crómio total X X
Crómio VI, se aplicável X X
Mercúrio X X
Níquel X X
Chumbo X X
Selénio X X
Cálcio X X
Magnésio X X
Potássio X X
Sódio X X
Índice de fenóis X X
AOX X X
23
Quando os níveis freáticos são variáveis, esta frequência deve ser aumentada, devendo ser efetuadas medições sempre que se justifique. 24
Se a concentração de COT for superior a 15mgl/ deve ser apurada a presença de hidrocarbonetos.
107
Quadro A.3 – Valores limite de emissão na descarga de água residuais, de acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98 de 1 de agosto
Parâmetros Expressão dos
resultados VLE 25
pH Escala de Sorensen 6,0 – 9,0 26
Temperatura ⁰C Aumento de 3⁰C 27
CBO5, 20⁰C mg/l O2 40
CQO mg/l O2 150
SST mg/l 60
Alumínio mg/l Al 10
Ferro total mg/l Fe 2,0
Manganês total mg/l Mn 2,0
Cheiro
Não detetável na diluição 1:20
Cor
Não detetável na diluição 1:20
Cloro residual disponível
Livre mg/l Cl2 0,5
Total mg/l Cl2 1,0
Fenóis mg/l C6H5OH 0,5
Óleos e gorduras mg/l 15
Sulfuretos mg/l S 1,0
Sulfitos mg/l SO3 1,0
Sulfatos mg/l SO4 2000
Fósforo total mg/l P
10
3 (em águas que alimentem lagoas ou albufeiras)
0,5 (em lagoas ou albufeiras)
Azoto amoniacal mg/l NH4 10
Azoto total28 mg/l N 15
Nitratos mg/l NO3 50
Aldeídos mg/l 1,0
Arsénio total mg/l As 1,0
Chumbo total mg/l Pb 1,0
Cádmio total mg/l Cd 0,2
Crómio total mg/l Cr 2,0
Crómio hexavalente mg/l Cr (VI) 0,1
Cobre total mg/l Cu 1,0
Mercúrio total mg/l Hg 0,05
Níquel total mg/l Ni 2,0
Cianetos totais mg/l CN 0,5
Óleos minerais mg/l 15
Detergentes (sulfato de lauril e sódio) mg/l 2,0 29
30
25
Valor limite de emissão, entendido como média mensal, definida como média aritmética das médias diárias referentes aos dias de laboração de um mês, que não deve ser excedido. O valor diário, determinado com base numa amostra representativa da água resi dual descarregada durante um período de vinte e quatro horas, não poderá exceder o dobro do valor médio mensal (a amostra num período de vinte e quatro horas deverá ser composta tendo em atenção o regime de descarga das águas residuais produzidas). 26
O valor médio diário poderá, no máximo, estar compreendido no intervalo 5,0 - 10,0. 27
Temperatura do meio recetor após a descarga de água residual, medida a 30m a jusante do ponto de descarga, podendo o valor médio exceder o valor médio mensal do 2º. 28
Soma do teor de azoto orgânico e amoniacal (obtido pelo método de Kjeldahl) com o teor de azoto contido nos nitratos e nitritos 29
O valor médio diário não poderá exceder o dobro do valor médio mensal. 30
Valor relativo à descarga da unidade industrial para a produção de HCH extração de lindano ou, simultaneamente, produção de HCH e extração de lindano.
109
Anexo B
Quadro B.4 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31
Parâmetros
ALGAR – BARLAVENTO
ALGAR – SOTAVENTO
pH
8,6 8,5 8,4 8,1 8,1 8,1 7,9 8,0
7,9 7,9 8,1 7,9 7,9 7,9 8,1 7,9 8,1 8,0 8,0 7,9
CQO (mg/l O2)
20900 16700 13000 12200 12800 14500 13100 11100
9000 9700 7000 7500 11900 12000 12200 11800 9600 7700 6400 5800
CBO5 (mg/l O2)
1600 1100 1000 1050 2000 2000 2100 1900
1100 1100 1150 1200 1200 1200 1200 1200 1300 1000 1100 1300
COT (mg/l C)
3600 3500 3260 3300
208 1160 3300 1500
AOX
1,70 1,00
1,41 1,60 1,00
Azoto total (mg/l N)
13000 3200 4000 4000 4000
13000 3000 4400 2000
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
18200 16400 720 5100 3600 4900 5500 4100
17200 16800 2800 780 800 4400 4900 5400 4600 3600 2300 3100
SST (mg/l)
2490 2370 1595 933 600 671
976 681 1427 751 1243 1267 996 895 397 460 460 324
Nitritos (mg/l NO2)
1,90 0,54
0,88 0,97
Nitratos (mg/l NO3)
724
373
Sulfatos (mg/l SO4)
3000 2100
5000 682
Cloretos (mg/l Cl)
9800 8800 10800 6800 7700 8400 7400 7600
6900 7200 9100 7000 8700 10100 8300 8000 7300 6200 4700 5800
Sódio (mg/l Na)
6400 4200
2500
Potássio (mg/l K)
5700 11300 3600 3400
3100 3200 1600
Magnésio (mg/l Mg)
150 122
95
Cálcio (mg/l Ca)
83 115
86
Fósforo total (mg/l P)
34 19 31 51 30
36 29 28
Crómio (mg/l Cr)
2,50 3,50 0,60 0,80
1,60 0,90 0,61
Ferro (mg/l Fe)
11,40 5,70
24 10
Níquel (mg/l Ni)
0,68 0,43
0,69 0,67 0,59 0,27
Cobre (mg/l Cu)
0,05 0,10
0,09 0,05
Zinco (mg/l Zn)
0,12 0,38
0,48 0,07 0,44 0,30
Arsénio (mg/l As)
0,77 0,10 1,25 0,40
0,50 1,25 0,25
Chumbo (mg/l Pb)
0,00 0,00 0,01 0,01
0,00 0,00 0,01 0,08
Mercúrio (mg/l Hg)
0,02 0,01 0,08 0,02
0,02 0,02 0,02 0,02
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,06 0,26 0,20 0,35
0,07 0,15 0,03 0,12
Alumínio (mg/l Al)
1,10 5,30
3,43
110
Quadro B.5 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
BRAVAL
RESULIMA
pH
7,9 7,9 7,6 7,8 8,1 8,0 8,2 8,2 8,2 7,8 8,2 8,0
8,3 8,2 8,1 8,2 8,1 8,3 8,1 8,4 8,8 8,4 8,4 8,2
CQO (mg/l O2)
7760 8070 811 8360 3970 8150 5933 9518 8360 4510 2660 3880
5300 6275 4800 4600 6500 4900 5900 4000 6400 3300 6800 5500
CBO5 (mg/l O2)
COT (mg/l C)
1600 945
1420 1380
AOX
2,60 0,75
1,11 0,96
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
2206 3619 527 3660 1563 3647 2323 3839 3819 1117 1110 412
3400 3800 1900 3900 3800 3600 3200 1400 1700 550 1500 3400
SST (mg/l)
Nitritos (mg/l NO2)
0,02 0,05
0,02 0,20
Nitratos (mg/l NO3)
32 25
130 230
Sulfatos (mg/l SO4)
10 121
150 100
Cloretos (mg/l Cl)
2289 2488 527 2589 1513 3008 2033 3206 3357 993 683 680
4190 4300 4000 3911 7154 3404 3309 3646 3149 4640 1707 4103
Sódio (mg/l Na)
910 613
570 3000
Potássio (mg/l K)
360 2200 1900 565
1500 2800 2600 2000
Magnésio (mg/l Mg)
5 48
45 61
Cálcio (mg/l Ca)
31 184
140 58
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
0,25 2,35 2,34 0,37
1,20 1,30 2,00 0,60
Ferro (mg/l Fe)
7,22 4,56
4 6
Níquel (mg/l Ni)
0,20 0,15
0,50 0,70
Cobre (mg/l Cu)
2,19 0,12
0,30 0,30
Zinco (mg/l Zn)
2,45 0,78
0,62 0,65
Arsénio (mg/l As)
0,06 0,24 2,86 0,01
0,13 0,02 0,26 0,02
Chumbo (mg/l Pb)
0,02 0,02 0,05 0,05
1,00 1,00 1,00 1,00
Mercúrio (mg/l Hg)
0,00 0,00 0,00 0,01
0,00 0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,16 0,14 0,97
0,01 0,01 0,01 0,01
Alumínio (mg/l Al)
8,02 1,78
5 5
111
Quadro B.6 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros VALNOR
VALORLIS
Abrantes Avis Castelo Branco
pH
8,3 8,2 8,1
8,0 8,1 7,9 8,1 8,2 8,1 8,3 8,2 8,3 8,2 8,1 8,2
CQO (mg/l O2)
1500 3700 6600
6800 5900 4500 8300 7500 8700 9100 10000 9400 8500 12000
CBO5 (mg/l O2)
COT (mg/l C)
646 1270 1700
2600 980
AOX
1,04 1,29 1,31
0,28 0,05
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
340 2100 4000
2800 2700 970 2600 6100 3500 3200 3700 8200 2100 2700 1800
SST (mg/l)
Nitritos (mg/l NO2)
0,04 0,04 0,74
0,15 0,02
Nitratos (mg/l NO3)
4 12 4
4 4
Sulfatos (mg/l SO4)
12 13 12
640 270
Cloretos (mg/l Cl)
750 5100 2400
2900 5100 2300 3200 2900 5200 1900 4000 4100 2700 1900 3100
Sódio (mg/l Na)
623 2080 2600
1800 3400
Potássio (mg/l K)
477 1410 2120
1800 2200 1800 2400
Magnésio (mg/l Mg)
23 83 48
120 110
Cálcio (mg/l Ca)
42 93 48
150 63
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
0,35 0,73 1,55
0,77 1,00 1,50 1,40
Ferro (mg/l Fe)
6 11 17
21 7
Níquel (mg/l Ni)
0,09 0,33
0,24 0,56
Cobre (mg/l Cu)
0,81 0,14 0,11
0,10 0,10
Zinco (mg/l Zn)
0,21 0,65 0,96
0,65 0,85
Arsénio (mg/l As)
0,04 0,29 0,24
0,12 0,14 0,16 0,18
Chumbo (mg/l Pb)
0,05 0,03 0,05
0,10 0,10 0,10 0,10
Mercúrio (mg/l Hg)
0,01 0,01 0,01
0,00 0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,02 0,03 0,37
2,40 0,67 0,90 3,70
Alumínio (mg/l Al)
2,79 1,07 4,49
4,90 2,60
112
Quadro B.7 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
VALORMINHO
Ambilital
pH
7,0 7,4 7,6 7,4 7,6 7,6 7,7 7,6 7,7 7,7 7,5
7,3 7,8 8,1 8,1 8,4 5,5 8,2 8,3 8,1 8 8,1 8,8
CQO (mg/l O2)
937 946 1507 1382 951 1488 979 1583 1880 1945 1933
450 940 1190 1900 2400 9800 8200 14000 4000 740 3600
CBO5 (mg/l O2)
273 276 439 403 277 434 286 462 548 567 564
COT (mg/l C)
25800
AOX
0,03
1,19
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
462 1141 1839 1387 1659 1774 1144 2072 1781 1660 1131
270 870 930 1700 1600 2000 1200 920 1500 270 2551 690
SST (mg/l)
120 268 326 140 58 102 140 94 190 245 160
Nitritos (mg/l NO2)
0,01
Nitratos (mg/l NO3)
5
1600
Sulfatos (mg/l SO4)
19
1100
Cloretos (mg/l Cl)
397 980 1370 1129 1505 1702 1127 1838 1647 1720 1095
360 1000 1210 2800 3000 4700 4700 4800 4300 850 4700 6400
Sódio (mg/l Na)
1193
Potássio (mg/l K)
978 844 1841
680 1900 3000
Magnésio (mg/l Mg)
82
Cálcio (mg/l Ca)
101
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
0,20 0,20 0,20
0,20 0,20 0,70
Ferro (mg/l Fe)
14
0,60
Níquel (mg/l Ni)
0,20
Cobre (mg/l Cu)
0,20
Zinco (mg/l Zn)
0,10
Arsénio (mg/l As)
0,06 0,10 0,09
0,07 1,00 0,15
Chumbo (mg/l Pb)
0,02 0,01 0,04
1,00 1,00 1,00
Mercúrio (mg/l Hg)
0,00 0,00 0,00
0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,01 0,01 0,01
0,01 0,01 0,01
Alumínio (mg/l Al)
0,27
5
113
Quadro B.8 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
Amcal
Ecobeirão
pH
8,6 8,6 8,6 8,2 8,8 6,9 8,6 8,6 8,5 8,4 8,4 8,6
8,1 8,2 8,1 8 8,3 8,3 8,4 8,6 8,2 8,4 8,3 8,5
CQO (mg/l O2)
2500 3900 1700 2800 3100 3600 5000 3400 4500
11000 16000 3400 10000 12000 24000 18000 17000 18000 11000 14000 5400
CBO5 (mg/l O2)
1100 1300 690 1400 1200 1400 1700 2100 1400 1000
COT (mg/l C)
1100 1400 460 180
6900 1200
AOX
0,52
3,54 1,44
Azoto total (mg/l N)
710 1000 500 1000 1100 1400 1300 1300 1200 920 2200 940
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
800 900 520 1200
1200 1100 600 490 1100 1000
4100 5100 1300 3100 4800 8900 6400 5300 8000 5400 6700 4900
SST (mg/l)
69 1100 520 180 260 210 250 630 1000 320
Nitritos (mg/l NO2)
0,05 0,05 0,05 1
0,30 0,54
Nitratos (mg/l NO3)
1,00 1,00 1,00 1,00 1,90 1,00 28 28 1,00
1,00 12
Sulfatos (mg/l SO4)
430 390
5000 240
Cloretos (mg/l Cl)
2100 2700 1500 2700 2700 3000 3800 3100
2250 4530 1250 3400 5160 2480 4320 4880 3150 4810 4240 4900
Sódio (mg/l Na)
1400
5300 1500
Potássio (mg/l K)
2600 2700
740 5300 5700 1400
Magnésio (mg/l Mg)
120
110 23
Cálcio (mg/l Ca)
94 84
54 27
Fósforo total (mg/l P)
17 13 19 14 12 12 11 11 14 11
Crómio (mg/l Cr)
0,30 0,20 0,40 0,40
0,43 4,10 4,90 1,10
Ferro (mg/l Fe)
4,8 41 27 13 24 19 13 15 14 6 10 12
15 7
Níquel (mg/l Ni)
0,30 0,30 0,40 0,50
0,88 0,22
Cobre (mg/l Cu)
0,20 0,40 0,30
0,19 0,10
Zinco (mg/l Zn)
0,30 0,30 0,40 0,29
0,83 0,19
Arsénio (mg/l As)
0,01 0,01 0,06 0,05
0,10 1,30 1,40 0,18
Chumbo (mg/l Pb)
0,30 0,30 0,30 1,00
0,05 0,05 0,05 0,05
Mercúrio (mg/l Hg)
0,00 0,01 0,00 0,01
0,00 0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,25 0,30
0,30 0,31 0,30 0,29 0,33 0,28 0,29
0,17 1,50 0,70
Alumínio (mg/l Al)
0,86 1 5
3,90 1,70
114
Quadro B.9 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
Ecolezíria
Gesamb
pH
8,3 8,1 8 8,6 8,6 7,8 8 8,9 8,2 8,6 8,2 8,1
8,2 8,3 7,9 8,3 8,3 8,3 8,1 8,5 8,4 8,3 8,6 8,5
CQO (mg/l O2)
8500 11000 18000 8100 4700 4600 10000 15000 11000 8400 18000 11000
2611 4250 4380 1817 6527 8534 7539 8653 6950 5212
680
CBO5 (mg/l O2)
1863
719 2196 4000 3623 3324 2407 2529 300 350
COT (mg/l C)
2280 4420
681 3612
AOX
1,79 1,00
2,16 2,07
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
3400 4200 3000 3100 1900 2900 3300 1800 3200 2400 4200 5300
1382
1356 1098
1679 2777 2516 514 1394 481 1600
SST (mg/l)
52 27 79 80 76 260 220 139 151 271 140 240
Nitritos (mg/l NO2)
0,20 1,70
2,50 3,90
Nitratos (mg/l NO3)
170 10
Sulfatos (mg/l SO4)
1800 50
312 419
Cloretos (mg/l Cl)
4600 4300 2900 2600 1900 4700 5700 5800 6100 4700 9500 5700
2587 3743 2874 1837 6192 8700 5500 9500 6900 4800 400 5400
Sódio (mg/l Na)
3600 3300
1350 2444
Potássio (mg/l K)
3800 5400 6500 5200
1125 755 1980 208
Magnésio (mg/l Mg)
56 23
56 91
Cálcio (mg/l Ca)
56 26
46 48
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
1,10 0,80 2,00 1,30
0,20 0,30 0,70
Ferro (mg/l Fe)
9 7
2,90 5,60
Níquel (mg/l Ni)
0,32 0,24
0,50
Cobre (mg/l Cu)
0,05 0,05
0,08
Zinco (mg/l Zn)
0,85 0,80
0,20 0,50
Arsénio (mg/l As)
0,01 0,01 0,01 0,01
0,02 0,02 0,02
Chumbo (mg/l Pb)
0,05 0,05 0,08 0,05
Mercúrio (mg/l Hg)
0,01 0,01 0,01 0,01
Fenóis (mg/l C6H5OH)
15 7 10 10
1,10 1,20 1,00 1,20
Alumínio (mg/l Al)
0,63 1,90
1,10 1,70
115
Quadro B.10 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
Resíduos do Nordeste
Resitejo
pH
8,3 8,1 8,0 8,1 8,3 8,2 8,2 8,3 8,2 8,2 8,3 8,4
8,3 8,4 8,4 7,8 8,1 8,3 8,6 8 8,3 8,3 8,5 8,7
CQO (mg/l O2)
12800 16200 11800 9600 9590 12000 14000 9310 9230 9530 11900 8900
7000 5200 7500 5100 7300 8000 9000 9700 8200 9000 6400 9800
CBO5 (mg/l O2)
COT (mg/l C)
3010 2310
1800 1900 2300 2400
AOX
3,16 1,59
1,93 1,88
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
3460 4190 3380 3870 3840 5130 4420 3460 4130 2830 4720 3780
1600 2800 1300 770 1300 1300 1300 1100 1100 1100 1700 630
SST (mg/l)
Nitritos (mg/l NO2)
0,01 0,01
0,30 0,30
Nitratos (mg/l NO3)
1180 73
1,00 1,00
Sulfatos (mg/l SO4)
287 209
670 1400
Cloretos (mg/l Cl)
5140 6210 55300 5930 5780 8390 7580 5170 7840 4760 6890 5500
4620 3290 3350 3180 4600 4760 5110 5940 5840 4270 4270 4390
Sódio (mg/l Na)
1160 5350
2600 2600
Potássio (mg/l K)
42,4 183 22,8 396
2400
2200 2400
Magnésio (mg/l Mg)
3,97 30
64 66
Cálcio (mg/l Ca)
52 31
76 110
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
2,50 3,00 3,70 2,50
1,10 0,05 1,00 1,10
Ferro (mg/l Fe)
9 56,1
18 24
Níquel (mg/l Ni)
0,62 0,50
0,46 0,43
Cobre (mg/l Cu)
0,25 0,25
1,60 1,20
Zinco (mg/l Zn)
1,03 0,49
5 6
Arsénio (mg/l As)
1,08 1,93 1,61 1,03
0,14 0,05 0,07 0,14
Chumbo (mg/l Pb)
0,50 0,50 0,50 0,50
0,74 0,05 0,54 0,34
Mercúrio (mg/l Hg)
0,00 0,00 0,00 0,00
0,00 0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
1,38 0,67 0,39 0,08
0,60 0,10 0,31 0,10
Alumínio (mg/l Al)
5,06 3,19
3 5
116
Quadro B.11 – Dados para a elaboração do Quadro 5.31 (continuação)
Parâmetros
Teramb
pH
8,2 7,9 8,1 8,2 8,1 7,9 8,2 8,2 8,1 7,9 8,2 8,2
CQO (mg/l O2)
887 993 1223 1068 897 1152 1449 1566 2014 848 1233 1440
CBO5 (mg/l O2)
COT (mg/l C)
410 510
AOX
Azoto total (mg/l N)
Azoto amoniacal (mg/l NH4)
930 814 590 1051 1091 1516 1356 1703 2481 415 1059 1156
SST (mg/l)
Nitritos (mg/l NO2)
1 36
Nitratos (mg/l NO3)
104 30
Sulfatos (mg/l SO4)
10 51
Cloretos (mg/l Cl)
570 493 470 764 609 830 1100 1400 1400 402 652 647
Sódio (mg/l Na)
550 657
Potássio (mg/l K)
217 192 740 330
Magnésio (mg/l Mg)
49 35
Cálcio (mg/l Ca)
74 93
Fósforo total (mg/l P)
Crómio (mg/l Cr)
0,10 0,10 0,28 0,11
Ferro (mg/l Fe)
8 7
Níquel (mg/l Ni)
0,05 0,07
Cobre (mg/l Cu)
0,05 0,09
Zinco (mg/l Zn)
0,10 0,39
Arsénio (mg/l As)
0,01 0,00 0,00 0,00
Chumbo (mg/l Pb)
0,00 0,00 0,01 0,03
Mercúrio (mg/l Hg)
0,00 0,00 0,00 0,00
Fenóis (mg/l C6H5OH)
0,31 0,03 0,07 0,07
Alumínio (mg/l Al)
0,53 2,10
117
Anexo C
Tanque de regularização
O volume de tanque de regularização foi pré-dimensionado para um TRH de 24 horas e para um
caudal de dimensionamento (Qd) de 10m3/h:
𝑉 = 𝑄𝑑 × 𝑇𝑅𝐻 = 10 × 24 = 240𝑚3
Lagoa arejada
O objetivo das lagoas arejadas é a redução da carga orgânica, nesse sentido para pré-dimensionar
as lagoas arejadas definiu-se inicialmente uma percentagem de remoção de CBO5 pretendida para
esta fase de tratamento, de cerca de 75%, o que conduziu ao seguinte TRH:
𝑆 =𝑆0
1 + 𝑘 × 𝑇𝑅𝐻⇔ 𝑇𝑅𝐻 =
𝑆0 − 𝑆
𝑘 × 𝑆=
10000 − 2500
0,075 × 2500≅ 40𝑑
O caudal efluente do tanque de regularização é divido igualmente pela duas linhas de tratamento
paralelas, assim partindo do TRH e do Qd determinou-se o volume de cada lagoa arejada:
𝑉 =𝑄𝑑
2× 𝑇𝑅𝐻 =
240
2× 40 = 4800𝑚3
Após se definirem as características geométricas de cada lagoa, o seu volume foi corrigido para
5000m3, o que provocou um aumento do TRH para:
𝑇𝑅𝐻 =𝑉
𝑄𝑑2⁄
=5000
2402⁄
≅ 41,7𝑑
Na estimativa do consumo de oxigénio durante a degradação da matéria orgânica utilizaram-se o
coeficientes cinéticos presentes no Quadro C.12.
Quadro C.12 – Valores dos coeficiente cinéticos
Parâmetro base Y kd (d-1) K (d-1) Ks (g/m3)
CBO5 0,332 0,0025 0,75 21,4
Para estimar a quantidade de oxigénio (RO) a fornecer estimou-se a concentração de biomassa (X),
a concentração teórica de CBO5 no efluente (S) e a produção de biomassa PX:
𝑆 =𝑆0
1 + 𝑘 × 𝑇𝑅𝐻=
10000
1 + 0,075 × 41,7≅ 2424𝑔/𝑚3
118
𝑋 =𝑌 × (𝑆0 − 𝑆)
1 + (𝑌 + 𝑘𝑑 × 𝑇𝑅𝐻)=
0,332 × (10000 − 2424)
1 + (0,332 + 0,0025 × 41,7)≅ 1751𝑔/𝑚3
𝑃𝑥 = 𝑋 ×𝑄𝑑
2× 10−3 = 1751 ×
240
2× 10−3 ≅ 210𝑘𝑔/𝑑
𝑅𝑂 = 𝑄 × (𝑆0 − 𝑆) − 1,42 × 𝑃𝑋 = 120 × (10000 − 2424) × 10−3 − 1,42 × 210 ≅ 611𝑘𝑔/𝑑
Para fornecer a quantidade de oxigénio estimada, optou-se por instalar 2 arejadores de superfície
de 30KW por cada lagoa, com um débito de 1,7kg O2/KW.h, trabalhando durante 6,5h cada um
fornecem a seguinte quantidade de oxigénio:
2 × (30 × 1,7 × 6,5) ≅ 663𝑘𝑔 𝑂2/𝑑
A razão entre o oxigénio consumido e a redução da concentração de CBO5 foi estimada em:
𝑂2𝐶𝐵𝑂5
⁄ =𝑅𝑂
𝑄𝑑
2 × (𝑆0 − 𝑆)=
611
2402 × (10000 − 2424) × 10−3
≅ 0,67𝑘𝑔 𝑂2/𝑘𝑔 𝐶𝐵𝑂5
A carga orgânica estimada para a concentração inicial de CBO5 foi de:
𝑄𝑑2⁄ × 𝑆0
𝑉=
2402⁄ × 10000
5000× 10−3 ≅ 0,24𝑘𝑔 𝐶𝐵𝑂5/𝑚3. 𝑑
O rácio F:M foi estimado em:
𝐹: 𝑀 =
𝑄𝑑2⁄ × 𝑆0
𝑋 × 𝑉=
2402⁄ × 10000
1751 × 5000≅ 0,14𝑔 𝐶𝐵𝑂5/𝑔 𝑀𝐿𝑉𝑆𝑆. 𝑑
Câmara de mistura rápida
Para o pré-dimensionamento das câmaras de mistura rápida, fixou-se inicialmente um TRH de
30s, o que conduziu ao seguinte volume:
𝑉 =𝑄𝑑
2⁄ × 𝑇𝑅𝐻 =10
2 × 3600× 30 ≅ 0,042𝑚3 = 42𝐿
Por razões construtivas não é possível adotar uma câmara com apenas 42L, nesse sentido
definiram-se as características geométricas de modo a atingir um volume mínimo de 0,125m3,
corrigindo-se o TRH para:
𝑇𝑅𝐻 =𝑉
𝑄𝑑2⁄
=0,125
102 × 3600
= 90𝑠
119
Para estimar a potência do eletroagitador definiu-se um gradiente de velocidade de 1500s-1,
obtendo-se a seguinte potência:
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉 = 15002 × 0,00157 × 0,125 ≅ 442𝑊
Câmara de floculação
No pré-dimensionamento das câmaras de floculação definiu-se inicialmente um TRH de 60
minutos, estimando-se o volume total de:
𝑉 =𝑄𝑑
2× 𝑇𝑅𝐻 =
10
2 × 60× 60 = 5𝑚3
De modo a proporcionar uma desaceleração gradual das partículas em suspensão, consideraram-
se 4 compartimentos de volume idêntico, pelo que após definidas as características geométricas o
volume obtido foi de 5,32m3, alterando o TRH para:
𝑇𝑅𝐻 =𝑉
𝑄𝑑2⁄
=5,32
102 × 60
≅ 63,9 𝑚𝑖𝑛𝑢𝑡𝑜𝑠
Para estimar a potência do eletroagitador definiram-se os seguintes gradientes de velocidade de
87,5s-1, 75s-1, 62,5s-1 e 50s-1, obtendo-se as seguintes potências para compartimento 1, 2, 3 e 4,
respetivamente:
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉 = 87,52 × 0,00157 ×5,32
4≅ 16𝑊
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉 = 752 × 0,00157 ×5,32
4≅ 12𝑊
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉 = 62,52 × 0,00157 ×5,32
4≅ 9𝑊
𝑃𝑒 = 𝐺2 × 𝜇 × 𝑉 = 502 × 0,00157 ×5,32
4≅ 6𝑊
Decantador secundário
No pré-dimensionamento dos decantadores secundários de secção circular considerou-se
inicialmente um TRH de 4 horas e uma carga hidráulica de 0,75m3/m2.h, o que conduziu ao seguinte
volume total:
𝑉 =𝑄𝑑
2× 𝑇𝑅𝐻 =
10
2× 4 = 20𝑚3
120
As características geométricas foram determinadas com o objetivo de permitir que o fundo dos
decantadores tivesse entre 5⁰ e 8⁰. Desta forma, as dimensões obtidas conduziram a um volume
total de 20,90m3 e uma carga hidráulica de 0,72m3/m2.h, o que implicou um ligeiro aumento do TRH
para:
𝑇𝑅𝐻 =𝑉
𝑄𝑑2
⁄=
20,90
102⁄
≅ 4,18ℎ
Reservatório de água tratada
O reservatório de águas tratada foi pré-dimensionado para permitir um TRH de 24h. Arbitrando
que a unidade de osmose inversa tem uma taxa de recuperação de 90%, o caudal de
dimensionamento passa para 9m3/h, pelo que o volume obtido foi o seguinte:
𝑉 = 𝑄𝑑 × 𝑇𝑅𝐻 = 9 × 24 = 216𝑚3