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Treinador de jovens

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Page 1: Treinador de jovens

As crianças e jovens encontram-se, à face da lei,integrados na escolaridade obrigatória pressu-pondo-se, portanto, que seja esta a sua activi-

dade social dominante. Por isso, a sua participação naprática desportiva não pode deixar de regular-se porobjectivos de ordem educativa e formativa quecontribuam para o seu desenvolvimento físico, motor,social e emocional e em que se promova, também, aaquisição dos valores e comportamentos caracteriza-dores do "saber ser" (auto-disciplina, auto-controlo,perseverança, humildade) e do "saber estar" (civismo,companheirismo, respeito mútuo, lealdade).Por outro lado a Especialização e o Alto Rendimentocarecem de alicerces consistentes cuja construção, alongo prazo, começa na etapa da Iniciação Desportivasendo, neste sentido, essencial que o Treinador:

- proporcione às crianças e jovens a vivência de expe-riências agradáveis e entusiasmantes que, desenvol-vendo o gosto pela prática, influenciem a sua adesãoe futura permanência no desporto;

- utilize, no desporto infantil e juvenil, modelos de pre-paração que valorizem a preparação geral e multila-teral, orientada para a aquisição de um vocabuláriomotor alargado, para a formação das capacidadesmotoras e para o ensino das técnicas básicas de umaou várias modalidades.

- compreenda que a continuidade dos jovens prati-cantes no Sistema Desportivo depende, em grandeparte, da natureza e tipo da exercitação selecciona-da, da organização e direcção do processo de ensinoe do estilo de intervenção e relacionamento desen-volvidos no treino e na competição.

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AS RESPONSABILIDADES DO TREINADOR DE JOVENS

Nov.2005

quadrimestral

Page 2: Treinador de jovens

O Treinador de jovens desempenha assim umpapel central na promoção de uma maior adesão e deum menor abandono dos praticantes, assumindo aresponsabilidade de, desde o início, desenvolvernestes o gosto pela aprendizagem e pelo aperfeiçoa-mento, factores determinantes, a longo prazo, doprogresso qualitativo. Ao mesmo tempo cabe-lhe aobrigação de assumir e pôr em prática uma ideia fun-damental: que o Desporto, enquanto instrumento devalorização das crianças e jovens que nele participam,deve harmonizar-se com as outras actividades do seuquotidiano, nomeadamente a actividade escolar e oscompromissos familiares. E recai, ainda, sobre o Trei-nador de jovens a responsabilidade, pela forma comoorganiza e supervisiona as actividades e interage comos praticantes, de concretizar o elevado potencial for-mativo e educativo que, reconhecidamente, a práticadesportiva encerra.O Treinador, pela sua conduta e exemplo, exercesobre as crianças e jovens uma forte influência, querdo ponto de vista do seu desenvolvimento pessoalquer da formação desportiva propriamente dita, sen-do que muitas das atitudes e comportamentos que nofuturo irão manifestar quer como praticantes, técni-cos ou dirigentes, quer ainda como simples cidadãos,resultam do tipo de vivências e aprendizagens que ex-perimentaram nas etapas de Iniciação e Orientaçãodesportivas.Neste contexto, o Treinador não pode deixar de serum agente promotor de valores e atitudes dignifica-doras do praticante e da prática desportiva fomentan-do neles as normas essenciais do espírito desportivo:

- respeitar e cumprir os regulamentos e as decisõesdos juízes;

- reconhecer com naturalidade a superioridade dosopositores e aceitar os resultados das competições;

- ser comedido nas suas manifestações, no caso devitória, evitando humilhar ou diminuir os adversá-rios. Estes, essenciais à realização da competição,em caso algum podem ser vistos como "inimigos";

- cultivar a honestidade e lealdade nos treinos ecompetições.

Enquanto exemplo e modelo o Treinador deve aindatransmitir, porque as pratica, as atitudes e comporta-mentos essenciais à aprendizagem e ao progresso:

- assiduidade e pontualidade; - gosto de aprender, saber fazer e fazer bem;- participação disciplinada nos treinos e competições;- empenho e persistência.

Ao Treinador de jovens cabe, num sentido amplo,desde as primeiras sessões de preparação, proporcio-

nar as condições de formação e progresso dos prati-cantes:

- contribuindo para promover o desenvolvimento eformação geral das crianças e jovens em todas assuas dimensões, com particular destaque para odesenvolvimento físico e corporal equilibrado eharmonioso;

- despertando o gosto e entusiasmo pela actividadefísica, pelo desporto em geral e por uma modalida-de em particular, que não só potencie uma even-tual carreira desportiva, mas que também promo-va, nas crianças e jovens que não venham a seratletas, o hábito do exercício e dos estilos de vidaactivos e saudáveis;

- promovendo a aprendizagem e o aperfeiçoamen-to das técnicas básicas de uma ou várias modali-dades.

A assunção destas responsabilidades objectivam-seprincipalmente nas opções metodológicas e no estilode intervenção e relacionamento estabelecidos pelotreinador. No que respeita às opções metodológicasestas, para serem adequadas ao desporto infantil e ju-venil, devem garantir que o treino e a competição seintegram numa perspectiva de preparação a longoprazo e que a preparação geral e multilateral e a indis-pensável ênfase no ensino e aperfeiçoamento das téc-nicas fundamentais são devidamente consideradas,desviando-se, deste modo, da tendência para a espe-cialização precoce. Quanto ao estilo de intervenção erelacionamento, o Treinador de jovens deve exibiruma atitude serena e paciente face aos erros e dificul-dades de aprendizagem dos praticantes. Estes proce-dimentos dependem, obviamente, do conhecimentodos argumentos que os justificam, mas a sua aplicaçãodepende, em elevado grau, das convicções do treina-

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dor, a que pais e dirigentes não devem ser persona-gens alheias. Neste sentido, uma atitude correcta doTreinador de Jovens deve construir-se em torno detrês vertentes:

- evitar que a participação nas competições setransforme numa questão de afirmação pessoal,colocando os seus interesses à frente dos inte-resses e necessidades dos praticantes;

- valorizar, em convergência com os grandes objec-tivos do Desporto Juvenil, a aprendizagem e o de-senvolvimento dos praticantes, relativizando a im-portância do resultado das competições;

- ter presente que as dificuldades de aprendizageme os percursos diferenciados dos praticantes têm,

em geral, justificação nas características do pro-cesso de desenvolvimento biológico.

Em resumo ser Treinador de jovens não se reduz ape-nas a intervir no ensino e aperfeiçoamento dos aspec-tos técnicos, tácticos, físicos e regulamentares de umamodalidade desportiva, mas envolve também, obriga-toriamente, a transmissão de atitudes, hábitos de tra-balho e regras de comportamento e convivência quevalorizem o jovem não só como praticante mas, si-multâneamente, como indivíduo e cidadão. E importadestacar que as responsabilidades do Treinador de jo-vens não se esgotam nas suas intervenções junto dospraticantes, no treino e na competição, mas tambémé indispensável que se projectem para os pais, os diri-gentes e demais intervenientes no Desporto infanto-juvenil.

Vou lançar-vos um desafio! Sempre que estiverem atreinar crianças e jovens, não se esqueçam de levarpara o treino, convosco, a lista de preocupações a se-guir referidas. No seu conjunto, elas não são mais doque elementos da escala de medida de um “diversó-metro” ou alegriómetro” (para medir a diversão oualegria da actividade), servindo para avaliar se os in-teresses e os valores da prática desportiva juvenilestão a ser alcançados.Quais são essas preocupações?

� Muita actividade - encontrem estratégias queevitem as “filas de espera”, ou as “colunas” dosexercícios, através da realização de circuitos, pe-quenos jogos, trabalho com parceiros;

� Temas alegres - procurem quebrar a rotina. Ten-tem encontrar ideias novas, partindo das própriascrianças. Recorram à vossa imaginação, sempreque isso for possível. Apelem às imagens que ascrianças e jovens observam na televisão e àquiloque falam na escola;

� Apelo à participação dos jovens - façam pergun-tas e permitam que eles ajudem a resolver os pro-blemas, sem esquecer, no entanto, que nestas eta-pas os jovens necessitam sempre de algum enqua-dramento para os treinos;

� Falem, cumprimentem e comuniquem - façam--no com cada um dos jovens, mesmo que se tratede um desporto de equipa. Para cada um deles de-ve existir uma pergunta, um comentário, um conse-

lho, uma brincadeira, uma forma especial de comu-nicar. Não há fórmulas para isso. Intervenham comcalor e de uma forma pessoal;

� Amizade - mesmo numa sessão de treino intensa,repleta de actividades, há sempre tempo e oportu-nidades para que os jovens convivam uns com osoutros. Para alguns deles este aspecto poderá ser aparte mais valiosa da sua experiência desportiva.Os bons treinadores de jovens estão atentos eapoiam este tipo de relação, tornando assim o des-porto numa actividade ainda mais valiosa para ascrianças e jovens em formação.

Se um treino atingir valores elevados na escala deste“diversómetro”, então o treinador merece um pré-mio, por conseguir que, ao mesmo tempo, o seu trei-no seja divertido, favoreça a condição física, desen-volva os fundamentos da modalidade e crie oportuni-dades para que se estabeleçam laços de amizadeentre os praticantes.

DEIXEMOS OS JOVENS DIVERTIREM-SE(texto publicado em Coaching Austrália (2003, vol. 6, n.º 2), da autoria de Gene Schembri, que já participou como prelector noSeminário Internacional de Treino de Jovens)

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ASSIM NÃO VALE!

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Boletim do Programa Jovens no Desporto • Um Pódio para TodosEdição do Instituto do Desporto de Portugal

Av. Infante Santo, 76 1399-032 Lisboa Tel. 213 95 32 71Design: Raimundo Santos • Paginação: Albuquerque & Bate, Lda.Depósito Legal nº 210187/04 • 12 000 exs. • Distribuição Gratuita

No caso de pretender ser informado da publicação de cada novonúmero do boletim, acedendo ao seu conteúdo na Internet, queiraenviar uma mensagem para [email protected], com a indicaçãodo endereço electrónico onde pretende receber essa informação.

ASSIM NÃO VALE!� Encarar as crianças e os jovens como adultos mais pequenos

e fazer com eles o mesmo que se faz com atletas seniores;� Não ensinar correctamente as técnicas e privilegiar os fac-

tores específicos da condição física, sem dar o devido rele-vo à condição física geral;

� Procurar desenvolver os pontos fortes e desprezar os as-pectos que necessitam de desenvolvimento ou de aperfei-çoamento;

� Criticar mais do que elogiar;� Desprezar a componente lúdica da prática desportiva em

prol da preparação individual e individualista;� Usar apenas a recompensa externa (medalhas, taças, di-

nheiro) como motivação;� Desprezar os jovens que não ganham, elogiando apenas

aqueles que obtêm vitórias;� Transformar o desporto na única preocupação da vida do

jovem;� Desenvolver no jovem a ideia de “ganhar a qualquer pre-

ço” como garante de uma boa atitude� Definir objectivos para o treino de jovens esquecendo os

jovens e as suas necessidades e interesses.

Quem proceder deste modo, está a transformar o desportonum instrumento perverso, que pode mesmo chegar a “fazermal” aos jovens que a ele aderem.

Re c o n h e c e r o m é r i t od e Tr e i n a d o r e s e C l u b e s

N ú m e r o e s p e c i a l s o b r et r e i n o d e j o v e n s

Na linha do que vemacontecendo desde1998, irá ser publicadomais um número espe-cial da revista TreinoDesportivo exclusiva-mente construída comtextos de autores portu-gueses sobre a prepara-ção desportiva juvenil.Pedro Almeida, RaulDias, Fernando Malheiro.Alberto Carvalho, Antó-nio Manuel Fonseca, Pedro Pezarat, FernandoTavares, Pedro Sarmen-to, José Pedro Ferreira eDuarte Araújo, foram os

autores convidados, que aceitaram transmitir aos treinadoresportugueses de jovens o seu conhecimento, a sua experiênciae o seu estudo, proporcionando assim mais alguns momentosimportantes de reflexão para aqueles que se dedicam a estaactividade.

Terminou no final de Setembro o prazo para que as FederaçõesDesportivas, seguindo os critérios estabelecidos pelo IDP, no âm-bito do seu programa JOVENS NO DESPORTO - UM PÓDIOPARA TODOS, nomeassem os seus treinadores e os seus clubesque realizam um trabalho de maior qualidade no âmbito do des-porto juvenil, vendo assim reconhecida publicamente essa sua par-ticipação e recebendo do Estado, uma prova simbólica do seu em-penho e da qualidade do trabalho que realizaram.

No sítio do IDP na Internet está disponível a lista com todos osnomeados, aguardando-se apenas a definição dos locais, das datase da metodologia para a entrega daqueles galardões.

O Instituto do Desporto de Portugal, através deste boletim, felicitatodos os nomeados.

REVISTA TREINO DESPORTIVO